Sumário
SBOO 4 6
15
21 24 26 34 37
43 45 49
52 52
EDITORIAL ARTIGO CIENTÍFICO • Sensibilidade ao contraste: uma ferramenta subestimada na consulta de optometria ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO • Prevalência de ametropias na microrregião de Salvador, Estado da Bahia, entre 2012 e 2013 ENSAIO • Optometria e Oftalmologia: os dois “olhos da sociedade” ENTREVISTA • Deputado José de Arimatéia ARTIGO CIENTÍFICO • A importância de avaliar a função acomodativa no exame optométrico ENTREVISTA • Aldo Martinato ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO • Prevalência de ametropias na Microrregião de Vitória da conquista, Bahia, em 2013 ENSAIO • ...E o que o filósofo Spinoza tem haver com tudo isso? ARTIGO CIENTÍFICO • Síndrome de Duane: classificação e diagnóstico NORMAS E PROCEDIMENTOS • Procedimentos para abertura e funcionamento de estabelecimento óptico PERGUNTAS E RESPOSTAS • A adaptação de lentes de contato é ato médico? • Avaliação visual: qual deve ser a sua periodicidade?
Presidente: Jasiel Araújo Oliveira Filho Vice-Presidente: Marcia de Freitas Teles Secretário: Wagner Teófilo da Paixão Diretor Financeiro: Cleiton Nascimento de Oliveira COMISSÃO EDITORIAL Wellington Sales Silva Jasiel Araújo Oliveira Filho Marcia de Freitas Teles Joyce Keroli de Almeida Menezes Murilo Melo Christino COMISSÃO CIENTÍFICA Dra. Catherine Mejía Arenas Dra. Fanny Anyul Sánchez Díaz Dra. Lady Viviana Argüello Salcedo CONSELHO CONSULTIVO Dr. César Patiño Cáceres Juarez Gonçalves da Hora EDIÇÃO DE ARTE César Arturo Patiño Sánchez SOCIEDADE BAIANA DE ÓPTICA E OPTOMETRIA – SBOO Av. 7 de setembro, 400, Edf. Fundação Politécnica, bloco B, sala 55, São Pedro, Salvador, Bahia. CEP: 40.060-001 Tel. (71) 3322-8671 / 3321-3939 Cel: (71) 9337-3896 (Tim) E-mail: sboo4@hotmail.com Skype: sboo012 CNPJ 17.031.453/0001-88 Todos os direitos reservados. É expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio ou processo, sem prévia autorização do autor (Lei nº 9.610, de 19.02.1998, DOU de 20.02.1998).
Editorial
Jasiel Araújo Oliveira Filho Presidente
Marcia De Freitas Teles Vice-Presidente
Ficamos muito felizes com a receptividade e o sucesso da primeira edição da Optometria em Revista. Atingimos o nosso primeiro objetivo que era mobilizar a classe optométrica em prol de um projeto comum: a primeira revista de optometria de que se tem noticia no Brasil. Foi muito gratificante ver o entusiasmo em muitos colegas procurando informações de como ter um artigo publicado na revista. A resposta é simples: “o primeiro passo é escrevê-lo!” A partir desta edição sempre traremos as Instruções aos Autores para publicação de textos na revista. Nesta segunda edição chamamos a atenção para um tema importante na nossa pratica diária, porém, muito pouco ou nada percebido por nós: A Sensibilidade ao Contraste, um dos parâmetros quando se fala em qualidade visual que deve sempre ser lembrado e levado em conta no nosso dia -a-dia; apresentamos, também, uma revisão sobre a Síndrome de Duane, um dos transtornos congênitos em casos de estrabismos, para estarmos atentos e mais preparados na hora da avaliação pediátrica. Relembramos a Importância da Função Acomodativa e como o conhecimento desse mecanismo pode elevar e diferenciar a qualidade do nosso trabalho. Dando continuidade aos estudos das Prevalências de Ametropias no Estado da Bahia, apresentamos nesse número duas microrregiões: Salvador e •4• optometria em revista
Vitória da Conquista. Além disso, tivemos a alegria de entrevistar duas personalidades importantes para o setor: o primeiro, o deputado estadual José de Arimatéia, que desde o primeiro contato com a optometria abraçou nossa causa e tem nos dado grande apoio incluindo a optometria em grande parte dos seus projetos sociais; o segundo, o Sr. Aldo Martinato, um ícone do ramo óptico-optométrico que, de forma muito simpática, nos abrilhantou com uma entrevista contando sua história com a óptica e a optometria e, ainda, nos presenteou com um artigo! O Perguntas e Respostas trata de Adaptação de Lentes de Contato e sobre a Periodicidade do exame de vista. Na seção Normas e Procedimentos orientamos sobre como abrir um estabelecimento óptico. Voltando aos artigos. Para finalizar, convidamos o leitor a duas importantes viagens: a primeira trata-se de uma interessante comparação entre a binocularidade visual e social no que diz respeito à saúde visual como um todo. A segunda é uma deliciosa viagem ao passado, no tempo em que foram inventadas as primeiras armações, as primeiras técnicas para confecção de lentes e para o tempo em que nascia a profissão do óptico-optometrista. E o que o filósofo Spinoza tem haver com tudo isso? Quer descobrir? Então... Boa leitura!
Artigo Científico
Sensibilidade ao contraste:
uma ferramenta subestimada na consulta de optometria Catherine Arenas Mejia
Optômetra. Especialista em Ortóptica e Terapia Visual pela Fundación Universitaria Del Área Andina. E-mail: cathe1904@hotmail.com
Resumo Em uma consulta normal de optometria, sem dúvida alguma, o ponto de partida é a acuidade visual, um dado inicial que faz o profissional de saúde visual suspeitar se o paciente padece de algum defeito refrativo, alguma patologia ou anomalia que possa dar uma ideia do possível diagnóstico. No entanto, este dado não é tudo, uma vez que se tem minimizada a importância da sensibilidade ao contraste, item que define a qualidade da imagem que os pacientes observam em sua vida diária e, portanto, se converte em um dos parâmetros que se deveria ter em conta no momento da consulta, já que é uma ferramenta que complementa o exame e oferece valiosa informação sobre a funcionalidade visual do paciente. Isto demonstra que tão certa quanto a acuidade visual 20/20, que normalmente se lê na tabela de Snellen, a sensibilidade ao contraste serve como exame complementar para pacientes com baixa visão e pode evidenciar alterações até então não diagnosticadas. O presente artigo tem como objetivo fazer conhecer a importância da sensibilidade ao contraste como exame complementar, pois é um teste clínico que oferece informação mais completa e real da função visual. Palavras-Chave: sensibilidade ao contraste, acuidade visual, ondas sinusoidais, freqüência espacial. •6• optometria em revista
Introdução A sensibilidade ao contraste é uma ferramenta que avalia a qualidade visual dos pacientes. Nessa revisão de tema foram estudados os princípios básicos da sensibilidade ao contraste e sua importância clínica. Tem como propósito definir o valor clínico que tem este teste na consulta de optometria, tendo em conta seus princípios físicos e fisiológicos para podermos entender sua grande importância quando as conquistas dos pacientes não alcançam os resultados esperados. O conhecimento isolado da acuidade visual não pode ser utilizado como medida de qualidade visual. Por isso, se faz necessário complementá-lo com o teste de sensibilidade ao contraste, uma vez que parece difícil aceitar que com uma acuidade visual de 20/20 um paciente possa reportar má visão, fato que indica que quantidade não significa qualidade. A sensibilidade ao contraste está relacionada com as tarefas cotidianas, pois não vemos em preto e branco, como mede a tabela de Snellen (em alto contraste). O mundo está rodeado de contrastes diferentes, pois muitas das tarefas visuais da vida cotidiana não requerem a identificação de pequenos objetos de alto contraste, mas, sim, de objetos grandes de baixo contraste como, por exemplo, observar um avião no céu nublado ou reconhecer o rosto de uma pessoa.6 É de suma importância clínica quantificar a magnitude de redução do contraste que ocorre no sistema visual para observar, assim, a qualidade das imagens que o paciente observa.
1. Processo da informação do sistema visual 3, 4 As evidências fisiológicas fornecidas por Hubel & Wiesel, ao comprovarem a existência no córtex visual de células que respondem seletivamente à orientação
A sensibilidade ao contraste está relacionada com as tarefas cotidianas, pois não vemos em preto e branco, como mede a tabela de Snellen. O mundo está rodeado de contrastes diferentes
•7• optometria em revista
e à freqüência de uma rede de estímulos, demonstraram como o sistema visual constrói representações complexas da informação visual das características simples de um estímulo. Isto sugere que o sistema visual processa a informação através de distintos canais de freqüência espacial, ou seja, se realiza uma análise de Fourier (análise espectral ou harmônica). Esta análise consiste em permitir decompor qualquer objeto periódico em uma soma de termos senoidais com freqüências crescentes e amplitudes determinadas, quer dizer, que se pode decompor em freqüências espaciais. Também se considera que o sistema visual do cérebro pode atuar mediante a fragmentação dos padrões e cenas observados em ondas senoidais de freqüências diferentes. Depois, o cérebro torna a juntá-las para dar lugar à impressão mental de uma imagem completa. A transformação de Fourier pode ser o método através do qual o sistema visual codifica e registra as imagens retinianas. Desta forma, se tem demonstrado que na retina, no corpo geniculado lateral e no córtex visual existem células ou canais diferentes que transportam de forma seletiva freqüências espaciais distintas. Até o momento se tem identificado 6 ou 8 canais e se tem demonstrado que todos eles respondem ao contraste.6 Tem-se mostrado que a percepção dos objetos deriva-se principalmente de dois processos do sistema visual. A maioria das projeções corticais se deriva através de duas vias paralelas (Livinstong & Hubel, 1987). Uma via é a magnocelular que tem como função a sensibilidade ao contraste alta, sensibilidade de freqüência espacial baixa, tempo de transmissão neuronal rápida, especialmente a visão periférica, a detecção de movimento e a sensibilidade de freqüências temporais altas (processamento simultâneo). A ou-
Artigo Científico
tra é a via parvocelular que responde pela sensibilidade ao contraste baixa, sensibilidade a freqüências alta, tempo de transmissão neuronal lenta, responsável pela visão de detalhes e sensibilidade a freqüências temporais baixas. 8, 10
2. Redes para avaliar a sensibilidade ao contraste 2.1 Ondas sinusoidais Uma onda é uma perturbação de um meio que viaja por este transportando energia e impulso. A forma de onda mais simples é a onda harmônica ou também conhecida como onda sinusoidal, na qual o perfil é uma curva de seno ou cosseno que representa funções periódicas contínuas (repetitivas no tempo). O uso de ondas sinusoidais é utilizado para avaliação de sistemas ópticos, porque sua imagem através do sistema continuará sendo uma função sinusoidal. As ondas sinusoidais podem se somar para criar qualquer imagem visual que o olho mire. O sistema visual opera decompondo os padrões e cenas, observadas as ondas sinusoidais.2 Para avaliar a sensibilidade ao contraste é necessário apresentar ao paciente estímulos repetitivos em forma de redes, orientadas verticalmente em vários níveis de contraste. Essas podem ser redes de ondas sinusoidais e estão desenhadas de forma que a luminância média é constante para todas as redes.5 A sensibilidade ao contraste se mede utilizando um estímulo visual em grades chamado Grating (grade em inglês).2
Um Grating é uma seqüência repetitiva de faixas claras e escuras intercaladas. Ao transformar em gráfico os níveis de luminosidade de um Grating se obtém uma onda sinusoidal e isso é feito com mudanças graduais na intensidade luminosa entre as partes claras e escuras com bordas indistintas.2 Cada par de barras (uma clara e uma escura) forma um ciclo. A espessura da barra determina quantos ciclos ocorrem em uma unidade de longitude. O número de ciclos por unidade de longitude se denomina freqüência espacial e é dada em ciclos por grau.2 Fala-se de alta freqüência espacial quando em um grau entram um grande número de faixas ou a rede é fina. Quando a rede se amplia, em um grau entram menos faixas e, por tanto, a freqüência espacial é menor.11 Os padrões de grades sinusoidais são particularmente importantes e agora amplamente utilizados em investigação visual, devido ao fato de qualquer padrão visual, por mais complexo que seja, pode ser decomposto em elementos primordiais de diferentes freqüências (Fourier).12 O uso de um sistema de grades com padrões sinusoidais tem vantagens importantes: o desenfoque óptico não muda a forma ou a aparência do padrão da grade, muda unicamente a percepção subjetiva do paciente a respeito da quantidade de contraste. Dessa forma, somente um atributo do estímulo é alterado pelo desenfoque. As freqüências espaciais transmitem informação diferente a respeito da aparição de um estímulo. As altas freqüências espaciais representam mudanças
•8• optometria em revista
na imagem tais como bordas que, em geral, correspondem à informação configuracional e detalhes finos; freqüências espaciais baixas, que representam a informação global sobre a forma, a orientação e, finalmente, as proporções.12, 15
Figura 1: Aplicação da análise de Fourier à visibilidade das grades (Campbell & Robson, 1968).
2.2 Sensibilidade ao contraste Contraste: diferença entre a luminância de um objeto e a do fundo onde este objeto está situado.6 Para definir o contraste se utiliza a fórmula de Michelson, onde: C = Luminância max - Luminância min / Luminância max + Luminância min. Para que um objeto possa ser detectado visualmente, deve haver uma diferença em sua luminosidade em relação à luminosidade de seu fundo. Se não for assim, a informação não pode ser decifrada. Umbral de contraste: é a menor quantidade de contraste necessário para poder enxergar um objeto.15 Sensibilidade ao contraste (SC): é o inverso da porcentagem do umbral de contraste. Um nível umbral de 1 equivale a uma SC de 100.
cias espaciais (4 a 5 ciclos/grau). A sensibilidade ao contraste diminui progressivamente até as freqüências altas, devido a fenômenos como a difração e aberrações ópticas que dificultam a discriminação dos detalhes mais finos.6, 12 A função da sensibilidade ao contraste (FSC) reflete a sensibilidade ou a capacidade de detecção por parte do sistema visual de todos os tamanhos de imagem, não somente dos tamanhos menores.11 O nível umbral de contraste em diferentes freqüências e contrastes determina a FSC e pode ser representada graficamente em uma curva de sensibilidade ao contraste. A freqüência espacial é representada no eixo das abscissas e a sensibilidade ao contraste (valor recíproco de umbral de contraste) no eixo das ordenadas. A curva tem forma de ‘U’ invertido, alcançando a sensibilidade ao contraste um pico de aproximadamente 3-6 ciclos por grau e vai diminuindo gradualmente nas freqüências tanto baixas quanto altas.15 A área acima da curva representa a região de baixa sensibilidade na qual o sistema visual não é capaz de detectar um objeto, enquanto que a área abaixo da curva representa a região de alto contraste na qual os objetos são visíveis. A intersecção da FSC com o eixo das abscissas supõe uma estimação bastante aproximada da acuidade visual.15 A FSC é um método preciso, pelo qual se pode efetuar o acompanhamento de certas enfermidades.
Devido ao fato do mundo ser um lugar visualmente complexo, os objetos podem 3. Função da sensibilidade ao con- variar em muitas dimensões incluindo traste tamanho, brilho e contraste. A acuidade 3.1 Gráfico de dados de sensibilidade visual só proporciona informação sobre ao contraste Um sistema óptico normal tem uma resolução de alto contraste. maior sensibilidade para baixas freqüên•9• optometria em revista
Artigo Científico
Figura 2: Gráfico de dados de sensibilidade ao contraste. Disponível em: <http://www.contrastsensitivity.net/es/swg.html>. Acessado em: 01/06/2014.
do olho para transferir o contraste do objeto para a imagem.3 A FTM descreve o contraste para cada freqüência espacial. Normalizado geralmente ao grau zero, representa o gris (ausência de contraste) e ao grau 1 representa o contraste perfeito entre branco e preto. Quanto maior o emborronamento pela óptica do olho, mais se afasta a FTM de 1 e se aproxima de zero. Em outras palavras, a FTM quantifica a capacidade do sistema óptico para criar uma imagem nítida e fiel na retina.3, 10 É notório que o olho é um filtro no qual se perde contraste ao aumentar a freqüência espacial.10 A FTM é uma medição extremamente sensível da degradação da imagem.2
5. Função de transferência de fase
Figura 3: Formato proposto para a avaliação da sensibilidade ao contraste. Instituto de Oftalmologia Conde de Valenciana, México. Disponível em: <http://www.insp.mx/rsp/articulos/articulo.php?id=001666>. Acessado em: 01/06/2014.
Além da mudança no contraste da imagem, as grades também sofrem mudança de fase, isto é, muda a localização da imagem na grade, em relação à localização do objeto. O que ocorre em termos de ondas é um deslocamento lateral da fase da onda que faz com que o objeto seja visto em uma localização diferente. Nesses casos, geralmente, o indivíduo vê as bordas dos objetos borradas ou apresenta alteração na leitura.2 A medida de mudança na fase da grade denomina-se Função de Transferência de Fase e é um parâmetro que captura o deslocamento prismático induzido pelas imperfeições ópticas.
4. Função de Transferência de Modulação (FTM)
6. Acuidade visual e sensibilidade ao contraste
É a medida quantitativa da perda de contraste quando a imagem é processada pelo sistema visual. É a relação entre o contraste da imagem com respeito ao contraste do objeto medido com grades de diversas freqüências espaciais. Em outras palavras, descreve a capacidade
Devido ao fato do mundo ser um lugar visualmente complexo, os objetos podem variar em muitas dimensões incluindo tamanho, brilho e contraste. A acuidade visual só proporciona informação sobre resolução de alto contraste, ou seja, o objeto de alto contraste de menor tamanho
• 10 • optometria em revista
que se pode ver. A sensibilidade de contraste proporciona informação adicional sobre o mundo visual. Isto inclui informação sobre a visibilidade dos objetos que variam em tamanho, contraste e orientação. A medição da sensibilidade ao contraste avalia a capacidade visual para discriminar pequenos detalhes sob diferentes condições de contraste do objeto. Também é útil para avaliar os efeitos de algumas patologias sobre a visão do paciente. Em casos de catarata, por exemplo, é possível quantificar a perda de visão causada pela opacidade. Uma pessoa pode ter uma boa acuidade visual, mas sua curva de sensibilidade ao contraste pode estar diminuída e, por este motivo, pode apresentar problemas em certas situações visuais da vida real.8 A acuidade visual mede como uma pessoa pode identificar uma letra negra sobre um fundo branco. Ver a linha 20/20 está relacionado unicamente a um objeto de certo tamanho e alto contraste. A sensibilidade ao contraste utiliza grades para medir o desempenho visual no grau completo de tamanhos e contrastes necessários para desempenhar tarefas visuais da vida diária, tais como identificar pessoas e ler sinais.2, 14
7. Importância clínica da sensibilidade ao contraste O teste de sensibilidade ao contraste apresenta informação valiosa sobre o sistema visual do paciente em uma forma integral. A importância clínica desse teste reside no fato de que, graças a ele, se pode detectar não somente como um paciente normal vê o mundo, mas também o quanto a visão de um paciente com determinadas patologias está afetada. Como já foi dito, a função da sensibilidade ao contraste é um método preciso, através do qual se pode efetuar o seguimento de certas enfermidades. Por exemplo, se observa uma diminuição da sensibilidade ao contraste em pacientes com catarata ou edema corneano devido à dispersão da luz. Uma vez que a função da sensibilidade ao contraste depende do funcionamento do sistema nervoso central, não é surpreendente o fato de enfermidades como a neurite óptica e os tumores hipofisários também darem lugar, de maneira característica, a uma diminuição das funções de sensibilidade ao contraste.6
É cada vez maior o número de investigações que utilizam a medida da sensibilidade ao contraste no estudo e no acompanhamento de diversas patologias oculares, as quais envolvem desde problemas refrativos, enfermidades corneais, cataratas, lentes intraoculares, até processos de envelhecimento ocular relacionado à idade, por um aumento nas aberrações secundárias ao cristalino, mudanças na relação de aberração da córnea, cristalino, lentes de contato e, inclusive, olho seco.2, 12 Além disso, um novo caminho se abre com relação às aplicações da medida da sensibilidade ao contraste e cirurgia refrativa, pois é evidente a melhora da acuidade visual de Snellen em pacientes pós-cirurgia refrativa. No entanto, a degradação na qualidade visual que experimentam estes pacientes tem sido bem documentada. As queixas principais são alterações na visão noturna, a presença de halos em volta das luzes e a redução da sensibilidade ao contraste. Geralmente, são sintomas transitórios, mas se faz necessário fazer um acompanhamento. Igualmente, em muitos casos a sensibilidade ao contraste permite fazer um acompanhamento mais próximo da função visual e o comportamento da patologia de base. A perda da sensibilidade ao contraste pode ser classificada em três padrões diferentes:1,11
TIPO DE PERDA
FREQÜÊNCIAS ESPACIAIS AFETADAS
PATOLOGIAS RELACIONADAS
Tipo I
Freqüências espaciais altas com SC normal em baixas freqüências
Catarata, defeitos refrativos, degeneração macular, ambliopia.
Tipo II
Todas as freqüências espaciais
-
Tipo III
Redução em baixas freqüências espaciais
Neurite óptica, esclerose múltipla, glaucoma, papiledema, lesões da via visual, diabetes.
Tabela 1: Classificação da sensibilidade ao contraste
• 11 • optometria em revista
Artigo Científico A função de sensibilidade ao contraste apresenta uma sensibilidade suficiente para detectar alterações visuais, mas uma baixa especificidade, que impede relacionar um padrão de perda de sensibilidade ao contraste com uma alteração ou patologia visual concreta. Além disso, dessas patologias que podem ser guiadas pela sensibilidade ao contraste, em uma consulta de optometria encontram-se diariamente muitas pessoas que podem ler a linha 20/20 na tabela de Snellen, mas se queixam de dificuldades visuais sob condições de baixo contraste, como dirigir à noite, ou se queixam de visão embaçada em condições normais. É nesse momento que os profissionais da saúde visual devem dar o melhor diagnóstico, explicação e tratamento, pois esse pobre desempenho visual pode ser causado por uma variação normal, pela idade, por enfermidades oculares ou patologias. Somente realizando o teste de sensibilidade ao contraste se pode ter um guia para descartar patologias graves ou simplesmente dar a melhor opção de correção para os sintomas do paciente. Seja correção óptica com algum filtro especial ou controle em diferentes alterações, o tratamento se dará de acordo com o diagnóstico do paciente, podendo-se ter em conta como um exame de controle e seguimento. A capacidade para detectar o contraste se avalia freqüentemente em pacientes com deficiência visual. Usa-se para identificar pacientes que reportam uma acuidade visual relativamente normal, mas manifestam problemas visuais subjetivos, por exemplo, diminuição da visão pela tarde ou noite, dificuldade ao detectar objetos grandes.7 Uma sensibilidade ao contraste diminuída em um paciente com acuidade visual Snellen normal pode explicar seu problema de tropeçar em degraus e calçadas. O objeto pode ter um tamanho suficientemente grande para ser detectado, mas a diferença sutil de contraste entre um degrau e o seguinte pode estar abaixo do umbral do paciente e por isso este é incapaz de vê-lo.7
evocados e a forma subjetiva que é a mais utilizada.15 Atualmente, existem vários testes para a avaliação da sensibilidade ao contraste de forma subjetiva, desde telas com mudanças no contraste até instrumentos com tecnologia de última geração com softwares especializados. A seguir, temos os testes mais conhecidos e utilizados:6,15
8. Métodos de medição da sensibilidade ao contraste
• Tabela de Pelli Robson e Tabela de Regan
Existem duas formas de medir a sensibilidade ao contraste: a forma objetiva com potenciais visuais
• Functional Acuity Contrast Test (FACT)
Figura 4: Teste de Contraste para Acuidade Funcional. Disponível em: <http://www.contrastsensitivity.net/es/swg.html>. Acessado em: 01/06/2014.
• Test CSV 1000
Figura 5: Teste CSV 1000. Disponível em: < http://www.ophthalmetry.com/contrast-glaretester-csv-1000vs-cgt-1000/>. Acessado em: 01/06/2014.
A diferença chave entre os testes está no tipo de objetivo. Por exemplo, a tabela de Pelli-Robson determina o contraste requerido para ler letras
• 12 • optometria em revista
grandes de um tamanho fixo. O contraste varia enquanto o tamanho das letras permanece constante. A tabela de Regan, uma tabela de baixo contraste com diferentes tamanhos de letras, reduz os níveis de contraste de uma tabela de acuidade visual padrão de tipo Snellen.14
• Optec 6500 – Contrast Sensitivity View-in Tester & CST 1800 – Digital Avaliador de Sensibilidade de Constraste de Visão
Os modelos mais atuais em tomada de sensibilidade ao contraste encontrados no mercado são o Optec 6500 Contrast Sensitivity View-in Tester e o CST 1800 Digital Avaliador de Sensibilidade de Contraste de Visão. São instrumentos de alta tecnologia que conferem diferentes funções desde a tomada da sensibilidade ao contraste em condições de alta e baixa iluminação, até a possibilidade de manejar um software que ilustra uma imagem da vida cotidiana de um paciente e, de acordo com os resultados do teste, mostrar a realidade do que o paciente está vendo com o software de análise ilustrativo Eye View.14
Figura 6: Optec 6500. Disponível em: <http://www.contrastsensitivity.net/es/swg.html>. Acessado em: 01/06/2014.
• 13 • optometria em revista
9. Discussão Este artigo buscou colocar em evidência a importância de conhecer as bases do funcionamento da sensibilidade ao contraste no sistema visual, dando a conhecer os principais resultados da literatura referente ao tema de forma detalhada para alcançar o entendimento do teste que é uma ferramenta importante na valoração da qualidade visual dos pacientes que chegam à consulta, não satisfeitos com sua visão. Tem demonstrado uma opção mais além da acuidade visual de Snellen. Uma opção mais completa para avaliar a funcionalidade do sistema visual ao examinar um paciente em condições normais e cotidianas; não só observar sua capacidade de ver em alto contraste mas, também, como é o mundo real cheio de contrastes diferentes. Esta revisão incluiu a quantificação da sensibilidade ao contraste com o fim de contribuir para a compreensão das queixas visuais manifestadas pelos pacientes ao se depararem com as cenas da vida diária. Demonstra-se que a sensibilidade ao contraste é muito mais do que um simples teste que indica a representação gráfica, de maneira fiel, de como o olho vê uma cena visual cotidiana e demonstra que a sensibilidade ao contraste pode estar afetada em múltiplas condições, tanto ópticas como de transmissão nervosa dos estímulos visuais. São necessários mais estudos investigativos sobre o tema que ajudem a concluir com maior claridade os diferentes padrões nas curvas de sensibilidade de contraste para determinar exatamente que condições se alteram. A avaliação da sensibilidade ao contraste proporciona detecção precoce de enfermidades e/ou condições oculares sérias que uma acuidade visual regular de 20/20 pode não detectar até que a condição esteja mais avançada.
Artigo Científico A avaliação da função visual com a sensibilidade ao contraste acrescenta uma dimensão importante na avaliação das capacidades visuais de uma pessoa. Ela deve ser uma parte da avaliação da visão na saúde e nos serviços de baixa visão, assim como em todos os trabalhos de diagnóstico.
Bibliografia 1. Consulta Oftalmológica Dra Laguna. Investigación sensibilidad al contraste. Disponível em: «http:// www.e-oftalmologia.com/area_formacion/investigacion/sensibi1.html». Acessado em novembro de 2010. 2. DELA TORRE, B. A; BAUTISTA, T. A; NUÑEZ, G. M; BLANCO, M, C. Sensibilidad de contraste como medida de calidad visual. SCO Revista 2005; 38:126-138. 3. DIMITRI, T. Cirugia Refractiva. 2a ed. Madrid: Elsevier; 2008. 4. ESQUEDA, J; PALATOX, L. Fundamentos de procesamiento de imágenes. California: Universidad autónoma de baja California; 2005. 5. GROSVENOR, T. Optometria de atención primaria. Barcelona; Masson; 2004 6. KAUFMAN, P; ALM, A. Fisiologia del ojo. 10a ed. Madrid: Elseiver;2004 7. MACNAUGHTON, J. Evaluación en baja visión. Barcelona: Elsevier; 2006. 8. ROSAS, M.Z.; LÓPEZ, U. M. Efecto De Los Filtros En La Sensibilidad Al Contraste En Personas Seniles Con Catarata, En La Ciudad De Aguascalientes. (Internet). Disponível em: «http://www.imagenoptica.com.mx/pdf/». Acessado em novembro de 2010. 9. MOSHE, B.Frecuencias espaciales y la información que trasmiten. Nature Riview Neuroscience. 2004; 5, 617-629 10. RAMÍREZ, S.; CASTILLAS, E.; BERNAL, J.CYT(En línea) 2010 (Fecha de acceso 11 diciembre de 2010). Disponível em: «http://publicciones.lasalle.edu.co/ images/openacces/Revistas/optometria/cienciaytecnolo gia8_1.pdf». Acessado em novembro de 2010. 11. HERRANZ, R. M.Sensibilidad al contraste. Disponível em: «http://www.unalmed.edu.co/fisica/ paginas/cursos/paginas_cursos/analisis_sena-
les_sistemas/mtf_50/T02SC.pdf». Acessado em novembro de 2010. 12. ROSAS, A. Una aproximación a la tecnología de Frentes de onda: Medidas de cuantificación visual: cantidad y calidad visual (2ª parte). SCO Revista 2005; 38:83-92. 13. SCHEIMAN, M.; WICK, B. Symptoms can also be relieved with the use of base-in prisms or occluding one eye, which treats the symptoms but not the underlying pro: TratamientoClínico de la visión binocular. Editorial Ciagami, Madrid, 1994. 14. Vision Sciences Research Corporation, Contrast sensitivity. Disponível em: «http://www.contrast sensitivity.net/es/references.html». Acessado em novembro de 2010. 15. FERRER, Y. I. Sensibilidad al contraste tras Lasik convencional y personalizado. Disponível em: «http://www.tdr.cesca.es/TESIS_UB/AVAILABLE/TDX-1106106-123346/01.YIF_INTRODUCCI%D3N.pdf». Acessado em novembro de 2010.
• 14 • optometria em revista
Artigo de Investigação
Prevalência de ametropias na microrregião de Salvador, Estado da Bahia, entre 2012 e 2013 Márcia de Freitas Teles
Bacharelanda em Optometria pela Fundación Del Área Andina. Vice-Presidente da Sociedade Baiana de Óptica e Optometria – SBOO. Técnica em Óptica e Optometria. E-mail: marciadefreitasteles@gmail.com
Cleiciara Guirra Gonçalo
Bacharelanda em Optometria pela Fundación Del Área Andina. Membro da Comissão Científica de Ensino da SBOO. Técnica em Óptica e Optometria. E-mail: cleiciara_guirra@hotmail.com
Gleice da Silva Oliveira Sousa
Bacharelanda em Optometria pela Fundación Del Área Andina. Membro da Comissão Científica de Ensino da SBOO. Técnica em Óptica e Optometria. E-mail: gleiceoliveira1405@hotmail.com
• 15 • optometria em revista
Resumo Este artigo tem o objetivo de contribuir com a investigação sobre a prevalência de ametropias no Estado da Bahia, como parte do Projeto Consciência em Optometria da Sociedade Baiana de Óptica e Optometria, apresentando dados sobre a prevalência na Microrregião de Salvador. A pesquisa foi realizada entre os anos de 2012 e 2013 e foram examinadas 826 pessoas com idade entre os 9 meses e 98 anos de idade de ambos os sexos. Constatou-se que as mulheres são as que mais procuram por exame de vista e a ametropia de maior prevalência é o astigmatismo, com 60% do total, seguido da hipermetropia com 23% e da miopia com 14%. Os emétropes somaram 2% dos casos. A presbiopia não contraria as pesquisas que mostram sua prevalência a partir da 5a década de vida, ou seja,
Artigo de Investigação após os 40 anos de idade. A procura por cuidados visuais é mais acentuada entre a 5a e 6a décadas de vida. Pessoas entre a 8a e a 1a décadas de vida são as que menos procuram atendimento visual. Os dados obtidos nesta pesquisa sinalizam a necessidade de incentivar e promover a conscientização da população em geral sobre a importância da avaliação visual e os cuidados preventivos com a saúde visual e ocular em todas as idades. Palavras-chave: Ametropias, Prevalência, Microrregião Salvador.
Introdução Em qualquer ciência é de fundamental importância a produção de conhecimento para sua consolidação, identificação, avanços e descoberta de novos caminhos. Com a ciência optométrica não é diferente. Enquanto profissão, a optometria no Brasil é relativamente nova e ainda luta pela sua regulamentação. No que tange a área do conhecimento, a optometria brasileira tem avançado muito nos últimos anos e muitas escolas de nível superior vêm surgindo no país. Como consequência, vão surgindo novas pesquisas, ao mesmo tempo em que profissionais e acadêmicos buscam desenvolver seus trabalhos e descobrir formas de investigar a realidade da saúde visual brasileira, segundo a óptica da optometria.
A hipermetropia é a focalização dos raios de luz e a formação da imagem, após a retina. A miopia é a focalização dos raios de luz e formação da imagem antes da retina. A miopia é a focalização dos raios de luz e formação da imagem antes da retina Em 2011, surgiu no Estado da Bahia, o Projeto Consciência em Optometria (PCO). Um projeto idealizado por alu• 16 • optometria em revista
nos da 4ª turma de Salvador do curso de formação em Optometria da Fundación Universitária Del Área Andina, que tem como objetivo, entre outras coisas, a produção de conhecimento, realizando estudos estatísticos sobre a saúde visual da população do Estado da Bahia. O PCO iniciou seus passos em um grande evento no município de Jacobina, região Centro-Norte do Estado da Bahia, no ano de 2012, onde se deu inicio o trabalho de mapeamento da prevalência de ametropias no Estado, o primeiro de que se tem notícia dentro da optometria brasileira.
Objetivo Na primeira edição da Optometria em Revista foi publicado o artigo “Prevalência de Ametropias na Microrregião de Jacobina, Estado da Bahia, entre 2011 e 2012”. No presente artigo pretendemos dar continuidade a essa investigação, apresentando dados sobre a Microrregião de Salvador, contribuindo com o mapeamento das ametropias no Estado. É importante lembrar que: “...estimar a prevalência das ametropias em uma comunidade especifica determina tão somente sua importância em um momento concreto e não tem fins de prever ou generalizar estatísticas sobre esta ou aquela anomalia”5. Assim, não temos a pretensão de estabelecer regras ou ditar padrões para esta ou aquela região, muito menos estabelecer condições fixas ou generalizadas sobre ametropias. Nosso intuito é único e exclusivo mapear uma condição numa determinada região em um determinado momento, apresentando os resultados em percentual4. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (senso de 2010), a microrregião de Salvador possui 3.350.523 de habitantes, compreendendo os municípios de Camaçari, Candeias, Dias D’Ávila, Itaparica, Lauro de Freitas,
Madre de Deus, Salvador, São Francisco do Conde, Simões Filho e Vera Cruz.
Metodologia A pesquisa foi realizada entre os anos de 2012 e 2013, com pacientes dos municípios de Salvador, Camaçari, Dias D’Ávila, Itaparica e Simões Filho. A metodologia utilizada foi o estudo observacional transversal, levando em conta a determinação da presença de ametropias de forma simultânea2. O levantamento dos dados epidemiológicos foi realizado através da aplicação de protocolos de atendimento contendo sexo, idade e tipo de ametropia em exames realizados em consultórios de Optometria. Foram examinados 843 pacientes. Desse total, 17 pacientes foram desconsiderados por apresentarem patologias oculares que foram encaminhados a outros profissionais da saúde. Assim, nossa pesquisa leva em consideração 826 pacientes. A faixa etária destes está entre os 9 meses de vida e os 98 anos de idade de ambos os sexos. Foi atendida uma população diversa, tanto da zona urbana como da zona rural. Foram considerados erros refrativos a partir de 0,25D. O método utilizado foi a retinoscopia, com retinoscópio e autorefrator, sem a utilização de cicloplegia. A medida da acuidade visual foi tomada com tabelas de optotipos do tipo Snellen.
Ametropias Para que o sentido da visão seja estimulado é necessário, antes de tudo, que haja luz. Muitos estudos já foram realizados ao longo da historia da humanidade para se chegar à conclusão de que “tudo o que nossos olhos podem ver é essencialmente uma fonte de luz.”6. Na antiguidade, filósofos como Platão e Aristóteles, ainda não tinham ideia da conexão entre os olhos e o cérebro. A importância do cérebro para a formação da imagem visual só começou a ser desvendada na Alexandria quando começou a haver um interesse pelos mecanismos sensoriais humanos e sua inter-relação com o cérebro. O fato é que os raios luminosos que emergem dos objetos adentram o globo ocular que, em condições normais, vão convergir na fóvea centralis localizada na retina onde se reproduz a imagem mais nítida6.
Um olho cujos raios luminosos, oriundos de objetos situados a qualquer distância compreendida entre 25 cm e o infinito, convergem para um mesmo ponto retiniano – fóvea centralis – é considerado um olho emétrope. Quando os raios luminosos convergem para um ponto que não possui seu foco exatamente na retina, temos um olho amétrope. Ametropia vem do grego ametros que significa medida desproporcional, ou seja, nas ametropias os raios luminosos convergem para focos que estão situados fora da retina. Com relação à potência dióptrica, as ametropias podem ser divididas em dois grandes grupos: as ametropias esféricas – a miopia e a hipermetropia – e as ametropias cilíndricas – o astigmatismo. A presbiopia também foi analisada neste estudo, apesar desta não ser considerada uma ametropia. A hipermetropia é a focalização dos raios de luz e a formação da imagem, após a retina. Praticamente, todos os olhos são hipermetropes ao nascimento e, com o desenvolvimento do organismo, a tendência natural é tornarem-se emétropes. A miopia é a focalização dos raios de luz e formação da imagem antes da retina. É uma condição oposta à hipermetropia e, segundo pesquisas, é a ametropia de maior prevalência no mundo3. O astigmatismo é a condição em que os raios de luz, vindos de diferentes meridianos do olho, não podem ser focados no mesmo ponto da retina e, sim, em dois focos diferentes, impossibilitando a formação de uma imagem nítida mesmo quando um desses focos se localize na retina. Já a Presbiopia, como já foi dito, não se constitui erro refrativo. A palavra deriva do grego presby que significa velho + tes que significa próprio de, significando, portanto, próprio da idade. A presbiopia é uma redução fisiológica da amplitude de acomodação. Com o avanço da idade, diversos fatores combinam-se e vão diminuindo o poder de acomodação, fazendo com que se torne cada vez mais difícil ver objetos situados a uma distância próxima.
Resultados e discussão Este estudo contemplou 826 pacientes, o que equivale a 1.652 olhos examinados. Foi notória a predominância feminina quando se trata da procura por exame visual.
• 17 • optometria em revista
Artigo de Investigação Ametropias e emetropia por gênero Masculino
Feminino
Total
Miopia
4,5%
9,7%
14,2%
Hipermetropia
7,5%
15,4%
22,9%
Astigmatismo
22,5%
38,0%
60,5%
Emetropia
1,0%
1,4%
2,4%
Total
35,6%
64,4%
100,0%
Tabela 1: Prevalência de ametropias e emetropia por gênero c/percentual total Fonte: Projeto Consciência em Optometria – Microrregião Salvador, BA, 2012 e 2013.
Observamos na tabela 01 que 532 das pessoas examinadas (ou 1.064 olhos) eram do sexo feminino e representavam 64,4% do total e, apenas, 294 pessoas (ou 588 olhos) eram do sexo masculino e representavam 35,6% do total. A maior procura por exame optométrico foi pelas pessoas do sexo feminino, representando 68,1% dos míopes, 67,2% dos casos de hipermetropia, 62,8% dos astigmatas e 57,5% dos emétropes. O astigmatismo foi o erro refrativo mais prevalente com 60,5% dos casos, seguido da hipermetropia com 22,9%, da miopia com 14,2% dos casos e da emetropia com 2,4%, conforme aponta o gráfico 2.
Gráfico 2: Prevalência de ametropias e emetropia Fonte: Projeto Consciência em Optometria – Microrregião Salvador, BA, 2012 e 2013.
Considerados separadamente, tanto pessoas do sexo masculino quanto do sexo feminino, apresentaram o astigmatismo como a ametropia mais prevalente. Apenas 3% dos pacientes examinados apresentaram-se emétropes, tanto no sexo feminino quanto no sexo masculino, conforme mostram os gráficos 3 e 4. • 18 • optometria em revista
Gráfico 3: Prevalência de ametropias e emetropia no sexo masculino Fonte: Projeto Consciência em Optometria – Microrregião Salvador, BA, 2012 e 2013
Gráfico 4: Prevalência de ametropias e emetropia no sexo feminino Fonte: Projeto Consciência em Optometria – Microrregião Salvador, BA, 2012 e 2013.
Observando o Gráfico 5, percebemos que a predominância feminina também é facilmente notada nas diferentes faixas etárias. Percebemos que da 1ª faixa etária (de 0 a 9 anos de idade) à 6ª década de vida (de 50 a 59 anos de idade) as mulheres foram maioria nas consultas e a procura por cuidados visuais foi mais acentuada entre a 5ª e 6ª décadas de vida em ambos os sexos, sendo maior no grupo feminino.
Gráfico 5: Comparação da procura por exame visual por sexo e faixa etária Fonte: Projeto Consciência em Optometria – Microrregião Salvador, BA, 2012 e 2013.
As pessoas que menos procuraramm por exame de vista estavam compreendidas na 8ª década (70 anos de idade ou mais) seguidas pelas pessoas da 1ª década de vida (de 0 a 9 anos). Analisando isoladamente cada ametropia, observamos no gráfico 6 que a miopia foi prevalente nas 2ª e 3ª décadas de vida, de 10 a 19 anos e de 20 a 29 anos, respectivamente.
Gráfico 6: Prevalência de miopia por faixa etária (década de vida). Fonte: Projeto Consciência em Optometria – Microrregião Salvador, BA, 2012 e 2013.
No caso dos astigmatismos sua prevalência se equivale ao mesmo perfil da procura por exame visual, conforme o gráfico 8. Temos maior prevalência de astigmatismo entre os 40 a 49 anos e entre os 50 a 59 anos.
Gráfico 8: Prevalência de astigmatismo por faixa etária (década de vida). Fonte: Projeto Consciência em Optometria – Microrregião Salvador, BA, 2012 e 2013.
No caso da hipermetropia o quadro muda totalmente. A hipermetropia foi mais prevalente, tanto em homens quanto em mulheres, nas 5ª e 6ª décadas de vida, conforme aponta o gráfico 7.
Gráfico 7: Prevalência de hipermetropia por faixa etária (década de vida). Fonte: Projeto Consciência em Optometria – Microrregião Salvador, BA, 2012 e 2013.
Na curva do astigmatismo percebemos certo equilíbrio entre as faixas etárias compreendidas entre a 2ª e a 6ª década de vida, diferentemente da miopia e da hipermetropia. No caso das pessoas emétropes, estas representaram, em ambos os sexos, 3% das pessoas examinadas. Com relação à condição fisiológica da presbiopia, quase a metade da população que procurou exame de vista era présbita. O gráfico 9 demonstra o perfil da presbiopia por faixa etária e década de vida, onde podemos observar maior procura por exame visual de pessoas com idade correspondente à 5ª e 6ª décadas de vida.
• 19 • optometria em revista
Artigo de Investigação dade de patologias oculares se torna mais evidente. São necessários estudos mais profundos sobre essa questão para o desenvolvimento de campanhas incentivadoras e de conscientização da importância da avaliação visual para esses dois públicos.
Bibliografia
Gráfico 9: Perfil da presbiopia por faixa etária. Fonte: Projeto Consciência em Optometria – Microrregião Salvador, BA, 2012 e 2013.
Considerações Neste estudo o astigmatismo possui a maior prevalência entre os erros refrativos nesta microrregião, representando 60,7% do total das ametropias em ambos os sexos. Sua prevalência encontra-se distribuída entre a 2ª e 7ª décadas de vida. A miopia, com 14,2% dos casos, é mais prevalente nas primeiras décadas de vida, 32,3% deste total apenas na 2ª década de vida (10 a 19 anos) e 27,2% na 3ª década de vida. Em comparação, Borish1 constatou que a miopia representa 22% dos casos na 3ª década de vida e Sales5 constatou uma prevalência de 30,5% na mesma faixa etária. A hipermetropia, com 22,5% dos casos, é mais prevalente nas últimas décadas de vida. A presbiopia não contraria as pesquisas que mostram sua prevalência a partir da 5ª década de vida, após os 40 anos de idade, mostrando apenas 3,4% que se manifestam présbitas antes desta faixa etária. De acordo com os dados avaliados, percebemos que as faixas etárias que menos procuram exame de vista estão entre os menores de 10 anos e os maiores de 70 anos de idade. Essas pessoas requerem maiores cuidados. O primeiro grupo por se tratar de uma faixa etária em que o funcionamento ocular ainda está em desenvolvimento e maturação necessitando, portanto, mais atenção profissional. O segundo grupo por se tratar da senilidade aonde a probabili-
1. GROSVENOR, Theodore. Optometría de Atención Primaria. Bascelona: Masson, 2004. p.7;63-95. 2. LOZADA, Diana García. Investigación epidemiológica em optometria. In: Andina Visual. Ano 3. Nº 4. 2008. Fundación Universitária Del Área Andina – FUAA. Bogotá, Colômbia. p.20-21. 3. MARTINS, Jorge Manuel. Preditores das alterações visuais em jovens Universitários. Tese de Doutoramento em Ciências. Universidade do Minho. Novembro de 2006. p.36-41 4. MONTÉS-MICÓ, Robert. Optometría: principios básicos y aplicación clínica. 1ª ed. Elsevier, Barcelona - España. 2011. p. 47. 5. SALES, Wellington Silva. Prevalência de ametropias na microrregião de Jacobina, Estado da Bahia, entre 2011 e 2012. Optometria em Revista: Sociedade Baiana de Óptica e Optometria. Ano 1, Nº 1, JAN/JUN de 2014. 6. SILVA, Noé Marinho. Pratica em Optometria Preventiva – Lages: Norte, 2000.
• 20 • optometria em revista
Ensaio
Optometria e Oftalmologia:
“ ” os dois olhos da sociedade
Murilo Melo Christino
Poeta. Membro da Comissão Científica de Ensino da SBOO. Bacharelando em Optometria pela Fundación Universitária Del Área Andina. Licenciado em Biologia pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB. E-mail: murilo_meloc17@hotmail.com
Os profissionais de saúde comungam do mesmo ideal: aplicar seus conhecimentos a fim de promover a saúde bio-psicosocial do indivíduo. O conceito ampliado de saúde que possuímos hoje admite a contribuição da Biologia, Economia, Engenharia, Psicologia, Química, etc. A saúde acordou seu sentido de atenção individual e consigo trouxe essa necessidade “interprofissionalizante”, que associando diversas áreas do conhecimento, atende de forma mais completa as necessidades do sujeito. O que vale destacar, é a atual dissociação, antes impossível, de saúde e medicina. Visto que a medicina é saúde, mas a saúde não é e nunca foi (partindo-se do princípio de integralidade) apenas medicina. A saúde integral é conseguida através da conciliação entre as diferentes especialidades. E as profissões da área da saúde, por mais que se aproximem pelas suas semelhanças, não são concorrentes, mas complementares. A Medicina Oftalmológica não foge a regra, associada à Optometria passa a • 21 • optometria em revista
Ensaio atender uma gama de necessidades, que sozinhas, essas profissões não contemplam eficazmente. A Optometria é uma ciência da saúde que tem a física como norteadora. É uma alternativa eficaz no combate a baixa qualidade de visão. O profissional Optometrista está apto a avaliar e medir o sentido da visão em aspectos funcionais e comportamentais, propondo soluções ópticas (óculos de grau e de proteção, lentes de contato, terapia visual etc.) nos casos de miopia, hipermetropia, astigmatismo, presbiopia, estrabismo, ou seja, quando a alteração visual não é de ordem patológica ocular ou sistêmica, esses procedimentos resumem basicamente os direitos e deveres da profissão, pois não há na atividade desse profissional nenhum procedimento invasivo. As técnicas de avaliação são qualitativas e quantitativas, de caráter, sobretudo, preventivo. A profissão de optometrista já é reconhecida em mais de 130 países e mostra-se como essencial no rendimento visual da população. A Optometria admite subdivisões, assim como algumas outras áreas da saúde, encontramos optometristas pediátricos, geriátricos, especializados em ortóptica, contatologia, ou em neuro-optometria, entre outros. Essa profissão, reconhecida em outros países como fundamental, ergue-se no Brasil com um ar promissor, aquele de quem caminha para o título de profissão indispensável. A Oftalmologia, por sua vez, aparece como uma especialidade médica responsável pelo diagnóstico, estudo e tratamento de doenças do sistema visual. O médico Oftalmologista detém o conhecimento, a preparação e a capacidade para tratamentos farmacológicos e intervenções cirúrgicas de todas as doenças oculares. Esses são os seus direitos e
deveres. Toda avaliação, visual ou ocular, sensorial, morfofisiológica, anatômica etc., que necessite de intervenção cirúrgica ou medicamentosa, é exclusiva do médico oftalmologista. A relação estreita entre essas profissões, se alarga à medida que tiramos o foco de atuação da saúde e o direcionamos para um ponto de vista mercadológico. A “briga” pelo mercado que os profissionais oftalmologistas e optometristas travam entre si, é inteiramente capitalista. A desaprovação da optometria por parte da medicina é justificada por argumentos como o ato médico e a falta de preparação do profissional Optometrista, pois, no Brasil, boa parte dos profissionais tem apenas formação técnica. Por parte da Optometria o descontentamento segue uma ordem defensiva, pois aqui esses profissionais reconhecem a importância da oftalmologia brasileira para a saúde visual, no entanto, desagregam dos médicos Oftalmologistas, funções como prescrição de correções óticas, por exemplo, uma função que no mundo inteiro é do Optometrista e, no Brasil, é uma área de mercado bastante lucrativa. Esquecem-se, ambos, dos princípios de honestidade, caridade e ciência, tão carecidos à saúde. O mercado deve ser reconhecido como amplo, pois de fato é. E a necessidade de saúde bio-psico-social, deve ser colocada em primeiro plano. Eu farei agora uma analogia para propor um novo entendimento dessas profissões da saúde visual. Pensemos na visão binocular. Para termos visão binocular precisamos de Percepção Simultânea, Fusão e Estereopsia (visão de profundidade). Para vermos de forma monocular precisamos de acuidade visual, acomodação e fixação. Pois bem, como o nome já diz, para que possamos ter uma visão binocular precisamos necessariamente de dois • 22 • optometria em revista
As profissões da área da saúde, por mais que se aproximem pelas suas semelhanças, não são concorrentes, mas complementares.
olhos. Dentro destas circunstâncias darei a cada um deles um nome. Imaginemos, então, que a sociedade tenha dois olhos e que um deles é a Oftalmologia e o outro a Optometria. Da mesma forma que na visão binocular, as suas especialidades distintas complementam-se a ponto de se conseguir uma perfeita Percepção Simultânea, Fusão e Estereopsia. Se fosse assim, a sociedade enxergaria perfeitamente, sem ametropias ou patologias pois, ambos os olhos “conversariam” entre si, trabalhariam juntos e extinguiriam qualquer chance de comprometimento visual. A afetação da funcionalidade de qualquer um dos olhos provoca um desgaste considerável no sistema visual, ou seja, a Optometria sem a Oftalmologia ficaria com limitações de caráter secundário, pois qualquer problema de ordem patológica sofreria limitações drásticas. O mesmo acontece com a oftalmologia que, sem a Optometria, carece do conhecimento que lhe é inerente e sofre limitações de ordem primária e preventiva. O fato é que a sociedade não quer enxergar apenas de forma monocular, o mundo evolui para cada vez “mais dimensões”, percebidas binocularmente, sem supressões. Ou seja, não espera ser bem aten-
dida com apenas uma das profissões. A sociedade brasileira não pode sofrer limitações no atendimento visual por causa de questões mercadológicas, nem por parte da Oftalmologia nem da Optometria. A sociedade almeja ser contemplada com atenção visual e ocular completa, sem supressões. A relação tão complementar com a qual essas profissões são caracterizadas é que me remetem a essa analogia. A sociedade necessita de dois olhos, quer dois olhos. A conciliação entre esses profissionais de saúde é mais que natural, é necessária. A Optometria precisa evoluir, o nível da maioria dos profissionais precisa subir, a profissão clama por espaço. A Oftalmologia já tem o seu espaço e o correto seria usá-lo para alavancar o avanço da Optometria. A parceria entre essas profissões atende as expectativas de integralidade em saúde visual, pois todas as necessidades visuais podem ser eficazmente atendidas dentro desta união. O mercado da saúde é amplo, há espaço de sobra para todos os profissionais e a visão capitalista do país deve ser extinta para que a sociedade perceba a realidade de forma simultânea, com profundidade e consiga fazer uma fusão entre as duas profissões tão necessárias. Desta forma a saúde visual só tem a evoluir, e ascender para uma via visual completa, congruente, associativa, complementar e funcional. Que é como deve ser.
A sociedade brasileira não pode sofrer limitações no atendimento visual por causa de questões mercadológicas, nem por parte da Oftalmologia nem da Optometria • 23 • optometria em revista
Entrevista
Deputado José de Arimatéia “Nós apoiamos a optometria com veemência e olhamos para todo o segmento com bons olhos. Não tenho dúvida do respaldo desses profissionais para a população.” O Deputado Estadual José de Arimatéia iniciou sua carreira política por volta de 1999 no PMDB, onde integrou importantes comissões, como a de Direitos Humanos, Educação, Esportes e Serviços Públicos; Finanças e Orçamento; Especial Para Assuntos da Comunidade Afrodescendente – além de integrar o Conselho Deliberativo do PROVITA-BA, da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, como titular, representando a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado da Bahia. Em 2004, foi eleito vereador pelo Partido Social Liberal (PSL) e em 2008 concorreu à reeleição para vereador já como candidato do Partido Republicano Brasileiro (PRB), e conquistou o primeiro lugar do seu partido, sendo o terceiro vereador mais votado dos 21 vereadores eleitos em Feira de Santana. Em 2011, José de Arimatéia retorna à Assembléia Legislativa do Estado da Bahia eleito pelo PRB. Além de seguir empenhado na luta pelo direito dos idosos, o meio ambiente, o esporte, a saúde e a juventude são questões que lhe interessam debater, sempre mantendo o espírito democrático para que, ao fim, a sociedade baiana
seja beneficiada. »SBOO: Como o Senhor conheceu a optometria? »Deputado: Como presidente da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa do Estado da Bahia (ALBA) tive acesso há algumas peculiaridades e demandas da área por conta de uma ampla conversa com a categoria. Tenho uma postura favorável ao diálogo e ao contato direto, e graças a isso pude despertar em torno da real situação e necessidades dos optometristas no estado da Bahia. No entanto, acredito que seja necessário popularizar o conceito de que a optometria tem atuação distinta da oftalmologia para que mais pessoas possam conhecer e entender a importância dessa profissão. »SBOO: A que lhe motivou a apoiar o livre exercício da optometria? »Deputado: Para responder a esta questão, faço uso neste momento da nossa “Carta Magna” na seção dos direitos e garantias fundamentais, que acrescenta no seu Art.5º, inciso xiii: “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão atendidas as qualificações profissionais, que a lei estabelecer” e do Art. 196 ao 200, que • 24 • optometria em revista
legitima ao cidadão o direito à saúde desde a atenção básica. Nessa perspectiva podemos inserir a optometria como ação preventiva a cegueira; até a mais alta complexidade. »SBOO: O senhor promoveu um dia de palestras na ALBA sobre saúde visual, com uma ação social para comunidades carentes, aonde foram realizados exames de vista por optometristas e doação de óculos. Qual foi a repercussão desse evento? »Deputado: Naquele dia estávamos realizando um ato comemorativo ao dia mundial da saúde, celebrado todos os anos no dia sete de abril. No ensejo, também iniciamos a campanha já instituída pelo Governo Federal “década da prevenção de 2012 a 2022”. Nossa intenção foi contemplar a população com informações referentes à necessidade de se adotar uma mentalidade preventiva às doenças. Acredito que conseguimos alcançar nossa meta, e promover um evento de magnitude com o exercício da cidadania, ou seja, prestar um serviço a população, e os optometristas fizeram e fazem toda a diferença neste sentido. »SBOO: O que mais o senhor tem feito a favor da implantação definitiva da optometria no Estado da Bahia? »Deputado: Ainda há muito a ser feito, mas já apresentei a Indicação 20574/2013 ao Go-
vernador Jaques Wagner para regulamentar a profissão, baseada na legislação brasileira. Torço pela aprovação do documento. Seria uma expressão de progresso, pois em outros países a optometria já é regulamentada, a exemplo dos países da Europa, Estados Unidos, Colômbia, Argentina e Cuba. O Brasil apenas mantém um termo de cooperação técnica, o qual importa profissionais de saúde através do Programa “Mais Médicos”. »SBOO: Em sua opinião o que está faltando para a optometria ser definitivamente implantada no Brasil? »Deputado: É fundamental que informações referentes ao tema sejam veiculadas com freqüência na mídia, na tentativa de informar melhor a comunidade baiana. Destaco ainda a relevância de uma legislação específica para motivar o consenso nos entes federados, Ministério da Educação e Ministério da Saúde. Neste sentido, vale ressaltar que o curso técnico e superior de optometria é regulamentado pelo Ministério da Educação e reconhecido pela Organização Mundial da Saúde. Em contrapartida, lamentavelmente, no Brasil, a mesma ainda não é tida como profissão da saúde. »SBOO: Como é a aceitação da optometria no meio parlamentar? Há alguma resistência? »Deputado: Quando apresentei a Indicação a esta Casa Legislativa, todos os pareceres foram favoráveis. Não acredito que façam objeção. »SBOO: Quais partidos políticos na Bahia apoiam a optometria hoje? »Deputado: Não posso responder pelas outras legendas que compõe o parlamento baiano, mas garanto a participação ativa do Partido Republicano Brasileiro (PRB). Nós apoiamos a optometria com veemência e olhamos para todo o segmento com bons olhos. Não tenho dúvida do respaldo desses profissionais para a população. »SBOO: O senhor vem apoiando a optometria há algum tempo e é candidato à reeleição este ano. Sendo reeleito, o senhor já tem um novo projeto para ajudar a optometria na Bahia? »Deputado: Continuarei lutando pela regulamentação da profissão e vou sugerir ao executivo a ampliação da rede de atendimento. • 25 • optometria em revista
Artigo Científico
A importância de avaliar a função acomodativa no exame optométrico Wellington Sales Silva
Bacharelando em Optometria pela Fundación Universitária Del Área Andina. Presidente da Comissão Científica de Ensino da SBOO. Bacharel em Administração de Empresas. Técnico em Óptica e Optometria. E-mail: wellsal@gmail.com
Resumo A importância de avaliar a função acomodativa no exame optométrico reside no fato de se poder identificar oportunamente alterações no sistema acomodativo, a fim de manejá-las adequadamente e proporcionar a máxima eficácia acomodativa e visual ao paciente. Uma avaliação estritamente refrativa pode revelar inúmeras anomalias visuais, mas não é suficiente para identificar disfunções acomodativas. Há pacientes que, após passarem pelo exame de refração e terem seus erros refrativos corrigidos, ainda reportam sintomas como fadiga ocular, dificuldade em mudar a distância de foco, sonolência ao ler, visão embaçada, dores de cabeça, dentre outros. Isto revela que tais pacientes, apesar de terem seus erros refrativos corrigidos, po• 26 • optometria em revista
dem estar sofrendo alguma disfunção do sistema acomodativo. Somente uma avaliação da função acomodativa é capaz de identificar a real condição visual e, desta forma, diagnosticar as anomalias da acomodação, as quais afetam grande parte da população. A avaliação da função acomodativa inclui, dentre outras análises, a medida da amplitude de acomodação, a flexibilidade e a resposta acomodativa. As principais disfunções que podem ocorrer na acomodação são: o excesso de acomodação, a insuficiência de acomodação, o espasmo acomodativo e a inflexibilidade de acomodação. Este artigo tem como objetivo revisar esse tema, sinalizando a importância de avaliar a acomodação e seu perfeito funcionamento, tendo em vista oferecer ao paciente a melhor condição visual. Palavras-chave: Acomodação visual, mecanismo acomodativo, avaliação da função acomodativa, disfunções acomodativas.
Introdução A acomodação é a capacidade que tem o cristalino de adaptar sua forma, aumentando e diminuindo seu poder dióptrico, através da contração dos músculos ciliares. Sua ação provoca a vergência dos raios luminosos e faz com que as imagens sejam focadas nitidamente na retina a diferentes distâncias. É uma ação monocular e, também, binocular2. Antes do século XVII não se sabia que o olho modificava sua potência focal para observar objetos situados a diferentes distâncias. Em 1619, Scheiner11 utilizou um cartão com furos estenopeicos para demonstrar a existência da acomodação. Em 1677, uma referência sobre o poder de acomodação do cristalino foi proposta por Descartes. Em 1801, Young17 demonstrou este processo, através das variações produzidas nas imagens catóptricas de Purking, formadas pela córnea e pelo cristalino. Até hoje a acomodação é tema de muitas pesquisas científicas e, na prática clínica de optometria, constitui-se elemento de investigação indispensável para o optometrista, tendo em vista identificar quaisquer anomalias decorrentes do mau funcionamento de seu mecanismo.
Uma avaliação estritamente refrativa pode revelar inúmeras anomalias visuais, mas não é suficiente para identificar disfunções acomodativas.
Mecanismo da acomodação Muitas teorias explicam o mecanismo da acomodação. A teoria mais aceita foi proposta por Helmholtz, em 1855. Seu estudo demonstrou que a contração do músculo ciliar faz diminuir a tensão das zônulas de Zinn, alterando a forma do cristalino. Assim sendo, ao fixar objetos distantes, o músculo ciliar relaxa aumentando a tensão nas zônulas de Zinn e fazendo o cristalino ficar mais delgado. Ao fixar objetos próximos, quando ocorre a acomodação propriamente dita, o músculo ciliar se contrai e diminui a tensão nas zônulas de Zinn31, aumentando o diâmetro sagital do cristalino.
Quando um estímulo visual provoca uma imagem embaçada na retina, a via aferente (entrada) do sistema neurofisiológico é ativada, transformando o estímulo visual num estímulo neurológico, fazendo-o chegar às áreas 17, 18 e 1910 do córtex visual através da via óptica. Na área 19 dá-se início à via eferente (saída), que leva o impulso neurológico ao núcleo de Edinger-Westphal26 para, depois, por meio do nervo oculomotor, através do gânglio ciliar, levar a resposta até o corpo ciliar. Quando ocorre acomodação o mecanismo produz um movimento de convergência acomodativa, para permitir que a imagem que está sendo mirada seja vista de forma binocular. Também ocorre miose pupilar, para controlar a entrada de luz, diminuir as aberrações ópticas periféricas e aumentar a profundidade de foco. Esses três processos juntos formam a tríade acomodativa. O cristalino modifica sua forma como resposta não só ao embaçamento, mas a vários outros estímulos visuais, tais como: modificação da imagem retiniana; proximidade, tamanho e movimentação dos objetos; distância aparente dos objetos; redução do contraste; aberração cromática. O mecanismo acomodativo busca sempre ajustar a nitidez da imagem, processo que ocorre em frações de segundo. O processo de acomodação inicia-se muito cedo. Aparece na quinta semana de gestação para um olho e na sétima semana para os dois olhos. Entre os três primeiros meses de vida é estável. No sexto mês depois do nascimento ela se desenvolve totalmente1 e vai deteriorando-se gradativamente ao longo da vida27.
Componentes acomodativos O mecanismo da acomodação pode ser dividido em 5 componentes que possuem • 27 • optometria em revista
Artigo Científico papéis distintos no processo acomodativo; são fenômenos que ocorrem de forma interligada e indissociável. De acordo com Heath12, a acomodação possui quatro componentes: acomodação reflexa, acomodação por convergência, acomodação proximal e acomodação tônica. Mas, outros autores acrescentam a estes componentes a acomodação voluntária. A acomodação reflexa é o ajuste involuntário do cristalino diante de uma imagem embaçada, fazendo com que esta imagem seja focalizada e mantida na retina. Estímulos pequenos podem acionar a acomodação reflexa em até 2,00 Dioptrias (D)8. Além dessa potência o sistema vai requerer uma acomodação voluntária5. São os movimentos oculares sacádicos e de seguimentos que contribuem para que a acomodação reflexa ocorra. Esses movimentos produzem gradientes na iluminação da imagem, a partir dos quais se percebem os sinais de embaçamento que ativam a acomodação30. A acomodação por convergência é a acomodação exercida pela estimulação da convergência, ou em decorrência dela. Essa relação recebe o nome de Relação Acomodação-Convergência (AC/A). Os movimentos de convergência ativam a acomodação e os movimentos de divergência relaxam a acomodação. Para cada dioptria prismática de convergência, o cristalino acomoda 0,40 dioptrias esféricas e para cada dioptria prismática de divergência, o cristalino relaxa 0,40 dioptrias esféricas23. Por isso, problemas de binocularidade, certamente vão implicar em problemas acomodativos e, da mesma forma, problemas na acomodação podem desencadear disfunções na visão binocular. Isto ocorre porque, tanto o músculo ciliar quanto a íris e os músculos extra-oculares retos mediais, compartilham da mesma inervação. Já a acomodação proximal é causada apenas pela sensação, conhecimento ou aparência de proximidade de um determinado objeto14. Mesmo sabendo que a imagem se encontra focada no infinito óptico, o efeito psicológico de saber que o objeto está próximo provoca a resposta acomodativa. Mas, isso só acontece quando os objetos estão distantes em até 3 metros20. A acomodação tônica é o componente resultante do tônus do músculo ciliar que ocorre na ausência de estímulos visuais, quer seja borrosidade, disparidade ou proximidade. Este componente representa o estado de repouso da acomodação. O seu valor pode variar entre 0,00 e 2,00D19. Finalmente, a acomodação voluntária, é a que ocorre independente de estímulos, ou seja, quando se pode modificar a acomodação de forma voluntária.
• 28 • optometria em revista
Avaliação da função acomodativa Avaliar a função acomodativa significa avaliar a capacidade que tem o cristalino de ativar, relaxar, flexionar e dar respostas aos estímulos visuais. Pode ser avaliada a partir de três pontos de vista clínicos principais: amplitude, flexibilidade e resposta acomodativa. Mas, também, há outros pontos importantes a avaliar como a acomodação relativa positiva e negativa e a relação AC/A, que tem grande importância clínica, uma vez que, mediante seu equilíbrio, é possível manter uma perfeita visão binocular.
Amplitude de acomodação A amplitude de acomodação - extensão total de acomodação que o sistema visual é capaz de realizar - é conhecida como o grau máximo de acomodação; a diferença entre a mímima e a máxima potência exercida pelo cristalino para manter a nitidez de imagem; a diferença entre o ponto remoto e o ponto próximo. Após o nascimento, a amplitude de acomodação tem, aproximadamente, 20,00D. Seu poder vai diminuindo com a idade em decorrência do estado fisiológico e do envelhecimento do músculo ciliar
medir a amplitude de acomodação é o de Sheard. Mas, independente do método, valores de amplitude de acomodação menores em relação aos valores médios esperados conforme a idade do paciente apontam para alguma disfunção acomodativa.
Flexibilidade de acomodação
e do cristalino, podendo chegar a zero aos 75 anos6. Vários autores estudaram métodos para medir a amplitude de acomodação, dentre os quais se destacam o método de aproximação de Donders e a utilização de lentes negativas de Sheard. O método de aproximação de Donders21 consiste em aproximar optotipos diante do paciente emetropizado, até a distância em que ele permaneça vendo nitidamente uma linha acima de sua melhor acuidade visual, de forma monocular e também binocular. O inverso da distância encontrada equivale ao valor da amplitude. Para cada idade Donders encontrou valores normativos distintos. Já o método de Sheard22 consiste em colocar a tabela de optotipos a uma distância próxima do paciente emetropizado e estimular a acomodação adicionando lentes negativas até o limite em que o paciente consiga ver com nitidez. Ao valor encontrado soma-se a dioptria equivalente à distância empregada. Sheard propôs valores para a amplitude de acomodação parecidos com os de Donders. Os valores normativos mais utilizados são os propostos por Donders. Em contrasenso, o método mais utilizado para
A capacidade que tem o cristalino de mudar a acomodação de forma rápida e eficaz diante dos estímulos visuais, tanto em visão de longe quanto em visão de perto, durante um determinado período de tempo também deve ser avaliada. A essa capacidade chamamos de flexibilidade de acomodação. O objetivo de medir a flexibilidade de acomodação é avaliar a quantidade de acomodação, a velocidade da mudança da acomodação e a qualidade dessa mudança, bem como sua resistência num dado período de tempo28. A forma mais comum para medir a flexibilidade de acomodação é utilizando lentes esféricas positivas e negativas na forma de flipers, de +2,00D/-2,00D, para relaxar e estimular a acomodação respectivamente. Em visão de perto, com o paciente emetropizado, alterna-se as lentes positivas e negativas (um ciclo), até o limite em que ele consiga ver com nitidez. O resultado considera a quantidade de ciclos por minuto (cpm) com que o paciente consegue ver nítido, tanto com as lentes positivas quanto com as negativas, de forma monocular e, também, binocular. Os valores normativos geralmente aceitos para pacientes adultos, estão entre 8 e 12 cpm na forma monocular e 9 cpm na forma binocular33. Uma resposta de flexibilidade acomodativa diferente dos valores normais esperados indicam um mau funcionamento do sistema acomodativo.
Acomodação relativa Como já dito anteriormente, tanto o músculo ciliar quanto os músculos extra-oculares retos mediais compartilham da mesma inervação. Isto faz com que, quando ocorre acomodação, ocorre, também, convergência. A acomodação pura, sem a manifestação da convergência, é chamada de Acomodação Relativa15. Existe a acomodação relativa positiva (ARP) e a negativa (ARN). Ambas devem ser avaliadas. A ARN é a capacidade do cristalino de responder aos estímulos esféricos positivos. Já a ARP é a capacidade do cristalino de responder aos estímulos esféricos negativos de forma gradual, controlando, ou melhor, sem alterar a convergência. Para avaliar a ARP utiliza-se lentes esféricas negativas, adicionando-as em passos de 0,25D, de forma binocular, no paciente emetropizado, com optotipos de perto até que o pacien• 29 • optometria em revista
Artigo Científico te veja embaçado as letras de uma linha acima da sua melhor acuidade visual18. De forma semelhante, a ARN se faz com o uso de lentes esféricas positivas. O valor considerado normal para a ARP é de -2,25D e para a ARN é de +2,00D. Valores diferentes, tanto da ARP quanto da ARN, podem indicar problemas de hipoacomodação ou hiperacomodação do cristalino. A convergência acomodativa é estimulada de forma indireta para manter a visão binocular. Desta forma, ao avaliar a relatividade da acomodação, indiretamente também se avalia o estado das vergências fusionais.
Relação AC/A As vergências fusionais são um outro ponto importante a ser avaliado, pois elas têm relação com a acomodação. Esta relação, como já foi dito, é chamada de relação AC/A e representa a variação entre as dioptrias prismáticas de convergência e as dioptrias esféricas de acomodação16. Cada dioptria esférica empregada na acomodação arrasta uma quantidade de dioptrias prismáticas de convergência. A relação AC/A é muito importante para manter o equilibrio do sistema acomodativo, mas principalmente do sistema vergencial, contribuindo para a qualidade da visão binocular28.
Resposta acomodativa Nem sempre a quantidade de acomodação requerida para focalizar uma determinada imagem a determinada distância é equivalente à quantidade que realmente o sistema acomodativo dá como resposta. Isso ocorre porque, ao focalizar objetos próximos, acontece a miose induzida que permite uma maior profundidade de foco, não necessitando, portanto, que se utilize toda a acomodação do sistema4. Tem-se comprovado que a resposta acomodativa é menor que o estímulo • 30 • optometria em revista
acomodativo na ordem de 0,50 a 0,75D24, em pacientes não présbitas. A medida dessa resposta é feita por vários métodos. O método mais utilizado é a Retinoscopia de MEM (Monocular Estimate Method), um tipo de retinoscopia dinâmica que utiliza as Cartas de MEM adaptadas ao retinoscópio. De forma binocular, em distância próxima, o paciente emetropizado olha para as Cartas de MEM, enquanto se neutraliza as sombras horizontais. Valores mais positivos do que o normal indicam um retardo ou lag acomodativo e é sinal de hipoacomodação. Já valores mais negativos do que o normal indicam avanço ou lead acomodativo e é sinal de hiperacomodação.
Disfunções acomodativas Tendo como ponto de partida a amplitude de acomodação, muitos pacientes ainda podem apresentar sintomas de astenopia, dores de cabeça, visão embaçada e diminuição do rendimento visual, mesmo com os valores de amplitude normais. São problemas que afetam a resistência, a flexibilidade e fadigam a acomodação17, constituíndo-se em disfunções acomodativas específicas. Em geral, as disfunções acomodativas afetam de 69% a 85% da população9. Clinicamente, são classificadas em disfunções hiperacomodativas e hipoacomodativas. No grupo das disfunções hiperacomodativas encontram-se o excesso de acomodação e o espasmo de acomodação. No grupo das hipoacomodativas encontram-se a insuficiência de acomodação, a paralisia de acomodação, a inflexibilidade de acomodação e a fadiga de acomodação.
Excesso de acomodação O excesso de acomodação é uma condição em que o paciente apresenta dificuldade para relaxar a acomodação, tendo
como consequência uma resposta excessiva do sistema visual25. O paciente apresenta dificuldade em realizar tarefas de longe, e também os testes que requerem o relaxamento da acomodação. Apresenta uma amplitude de acomodação maior do que a esperada em relação à idade e pouca flexibilidade de acomodação. Representa apenas 15% das disfunções acomodativas9.
Espasmo de acomodação O que difere o excesso de acomodação do espasmo de acomodação é a gravidade da condição. No excesso de acomodação os sinais e sintomas são mais leves. Enquanto que o espasmo de acomodação apresenta características clínicas mais fortes. O diagnóstico do espasmo de acomodação é mais difícil, sendo necessário fazer uma comparação entre a retinoscopia estática e dinâmica e realizar uma refração sob cicloplegia, tendo em vista bloquear completamene a ação do músculo ciliar e, desta forma, confirmar o diagnóstico. Alguns autores consideram tanto o excesso quanto o espasmo de acomodação como uma só disfunção acomodativa.
Insuficiência de acomodação A insuficiência de acomodação se caracteriza por ser uma condição em que o paciente tem dificuldade para estimular sua acomodação. Apresenta uma amplitude de acomodação baixa em relação ao valor esperado para a idade32. Não deve ser confundida com presbiopia, pois um paciente présbita apresenta amplitude de acomodação normal para a idade que possui. Os sintomas mais comuns dos pacientes com insuficiência de acomodação se referem às tarefas realizadas em visão de perto, que aparecem depois de poucos minutos de leitura; visão embaçada; dores de cabeça; sonolência ao ler;
leitura lenta e incapacidade para manter a concentração3. A insuficiência de acomodação é a mais frequente e representa de 55% a 84% das disfunções acomodativas13.
Paralisia de acomodação A paralisia de acomodação é a perda da capacidade acomodativa total ou parcial secundária a uma etiologia orgânica. Normalmente vem acompanhada de alterações pupilares. Não existe uma diferença clara entre insuficiência e paralisia de acomodação. Geralmente, o termo paralisia se aplica em situações em que aparece uma lesão tóxica ou orgânica que afeta o III par craneano e provoca tal disfunção. O paciente reporta fotofobia por midríase pupilar, diplopia por estar afetado o III par, micropsia e dores de cabeça. A amplitude de acomodação segue diminuida. É uma condição rara.
Inflexibilidade de acomodação A inflexibilidade de acomodação é uma condição em que o paciente tem dificuldade para mudar a resposta acomodativa de um nível de estimulação para outro, ou seja, dificuldade para mudar o enfoque de longe para perto ou de perto para longe. Neste caso, a amplitude de acomodação é normal, mas a capacidade para utilizá-la de maneira rápida e por um período maior de tempo é deficiente. Apresenta baixo resultado no teste de flexibilidade de acomodação com flippers. Alguns autores a denominam acomodação tônica ou inércia de acomodação. Sua prevalência fica em torno de 15% a 30% dos problemas acomodativos.
Avaliar a função acomodativa significa avaliar a capacidade que tem o cristalino de ativar, relaxar, flexionar e dar respostas aos estímulos visuais. • 31 • optometria em revista
Artigo Científico Fadiga de acomodação A fadiga de acomodaçãoé a incapacidade do músculo ciliar manter-se contraído de forma constante em visão de perto1829. É uma condição em que a amplitude de acomodação se encontra dentro dos valores esperados para a idade na hora do exame, mas o paciente não pode manter a acomodação durante um período de leitura mais prolongado. É um estágio inicial à insuficiência de acomodação7.
Anisoacomodação
Em geral, as disfunções acomodativas afetam de 69% a 85% da população. A acomodação visual não deve ser desprezada pelos profissionais da saúde visual primária.
A amplitude de acomodação deve ser semelhante em ambos os olhos. A amplitude de acomodação binocular pode ser ligeiramente maior do que a monocular, na ordem de 0,50D a 1,00D, dependendo da idade17. Uma diferença maior pode indicar anisoacomodação, ou seja, acomodação diferente em ambos os olhos, uma disfunção também rara.
Considerações Avaliar a função acomodativa no exame optométrico é de suma importância, tendo em vista obter a máxima eficácia do sistema acomodativo e visual dos pacientes que, muitas vezes, chegam à consulta com alguns dos sintomas já mensionados. A avaliação do sistema acomodativo não se constitui como algo opcional ou desejável na prática clínica, mas numa ação indispensável e efetiva no combate às disfunções da acomodação que afetam a frequentemente população. A acomodação visual tem sido motivo de investigações e pesquisas durante muito tempo e não deve ser desprezada pelos profissionais da saúde visual primária. Os estágios iniciais de muitas disfunções aqui mencionadas podem facilmente ser identificados pelo optometrista, evitando seu possível avanço para os estágios mais graves. Problemas refrativos também costu• 32 • optometria em revista
mam estar relacionados com problemas funcinoais da acomodação ou também com problemas binoculares. Por conta disso, na avaliação optométrica se deve considerar, além da refração, a avaliação da função acomodativa, não obstante a avaliação da função binocular. Esperamos com este artigo despertar este cuidado e o interesse pela investigação. Pois, procuramos apenas relembrar o funcionamento do mecanismo acomodativo, apresentando suas funções e disfunções, que podem ser facilmente identificadas, para se poder buscar tratamentos adequados (os quais podem ser temas de outros artigos), tendo em vista oferecer aos pacientes uma condição visual cada vez melhor.
Referências 1. ABOLMAALI, A. T.; SCHACHAR, R. A. Sensitivity study of human crystalline lens accommodation. Computer Methods and Programs in Biomedicine. 85(1): 77-90, 2007. 2. ÁLVAREZ, A. L.; PULGARÍN, C. A. Relación entre el AC/A medido con el método del gradiente y el de las heteroforias en Pereira. Investigaciones Andina. No. 16 Vol. 10 – p.108. 3. CACHO, P., et all. 2002. Estudio de las disfunciones acomodativas y binoculares no estrabicas en la clínica optométrica diaria. Archivos Optométricos, 9-17. 4. CIUFFREDA, K. J. Accommodation, the pupil, and presbyopia, In: (Editor: Benjamin, W. J.) Borisch’s clinical refraction (2006) Butterworth-Heinemann, 2ªed. St Louis, pp. 93-144. 5. CIUFFREDA, K. J.; KRUGER, P. B. Dynamics of human voluntary accommodation, Am J Optom Physiol Opt (1985) 365-370. 6. DONDERS, F. C. (1864). On the anomalies of accommodation and refraction
of the eye. In: Optometría. Ediciones Científicas y Técnicas (eds K. Edwards and R. Llewellyn), New Sydenham Society, London, 1993, p.173-235. Ed. Masson-Salvat, Barcelona. 7. DUKE-ELDER, S. 1971. Paresis of accommodation. System of Ophthalmology. Vol XII, Neuro-ophthalmology. HenryKimpton, London, UK. 8. FINCHAM, E. F. Then accommodation reflex and its stimulus, Br J Ophthalmol (1951) 381-393. 9. GARCÍA, R. B. (Org.).Visión binocular: diagnóstico y tratamiento. Cap. 2. Cataluña, España. Ediciones UPC: 1998. p.49-106 10. GLASSER, A. Accommodation mechanisms and measurement, Ophthalmol Clin North Am (2006) 1-12. 11. GROSVENOR, T. Optometría de atención primaria. – Barcelona, Espanha: Masson, 2004; p. 7;105110. 12. HEATH, G. G. Components of accommodation, Am J Optom Arch AcadOptom (1956) 569-579. 13. HOKODA, S. C. General binocular dysfuncion in an urban optometry clinic. Am J Optom Assoc. 1985; 56:560-562. 14. HOKODA, S. C.; CIUFFREDA, K. J. Theoretical and clinical importance of proximal vergence and accommodation. In: (Editors: SCHOR, C. M.; CIUFFREDA, K. J. Vergence eye movements: basic and clinical spects (1983) Butterworth, Boston, pp. 75-97. 15. KAUFMAN, P. L.; ALM, A. (2004). Adler. Fisiología del Ojo: Aplicación Clínica. Décima edición, Madrid: Mosby Elsevier España. (11):315-335. 16. MANNY, R. E; FERN, K. D. Binocular function, In: (Editor: Zadnik, C.) The ocular examination, measurements and findings (1997) Saunders Company, Filadelfia, pp 123-201. 17. MARTÍN, R. H.; VECILLA, G. A. Manual de optometría. Madrid: Médica Panamericana, 2010. 18. PIGION, R. G.; MILLER, R. J. 1985. Fatigue of accommodation: changes in accommodation after visual work. Am. J. Optom. Physiol. Opt. 62(12):853–63. 19. POST, R. B.et all. Comparison of laser and infrared techniques for measurement of resting focus of accommodation: Mean differences and longterm variability, Ophthalmic Physiol (1984) 437-
332. 20. ROSENFIELD, M.et all.The linearity of proximally – induced accommodation and vergence, Invest Ophthalmol Physiol Opt (1993) 266-284. 21. ROSENFIELD, M.; COHEN, A. S. Push-up amplitude of accommodation and target size. Ophthalmic Physiol Opt. 1995: 231-232. 22. ROSENFIELD, M.; COHEN, A. S. Repeatability of Clinical Measurements of the Amplitude of Accommodation. Ophthalmic and Physiol Opt. vol. 16, Nº 3, 1995: 247-249. 23. ROSENFIELD, M.; GILMARTIN, B. Assenment of the CA/A ratio in a myopic population, Am J Optom Physiol Opt (1988) 168-173. 24. ROUSE, M. W.et all. An evaluation of the monocular estimate method of dynamic retinoscopy. Am J Optom Physiol Opt. 1982; 59:234-239. 25. RUTSTEIN, R. P, et all. Accommodative spasm: a study of 17 cases. J. Am. Optom, 1988. RUTSTEIN, R. P.; DAUM, K. M. Anomalies of binocular vision: diagnosis & management. St. Louis: Mosby; 1998. 26. SCHACHAR, R. A. The mechanism of accommodation and presbyopia. International Ophthalmology Clinics. p.39-61, 2006. 27. SCHACHAR, R. A.et all. The effect of human in vivo accommodation on crystalline lens stability. British Journal of Ophthalmology. 91(6): 790-793, 2007. 28. SCHEIMAN, M.; WICK, B. Clinical Management of Binocular Vision. 3.ed. Lippincott Willians & Wilkins, Philadelphia, USA, 2008. 29. SCHOR, C. M., TSUETAKI, T. K. 1987. Fatigue of accommodation and vergence modifies their mutual interactions. Invest. Ophthalmol. Vis. Sci. 28(8):1250-9. 30. STARK, L.et all. Accommodative disfacility presenting as intermittent exotropia, Ophthalmic Physiol Opt (1984) 233-244. 31. VON HELMHOLTZ, H. L. F. Hand buchder Physiologischen Optik Leipzig: Leopold Voss. 1867. 32. VON NOORDEN, G. K.et all. (1973). Associated convergence and accommodative insufficiency. Doc. Ophthalmol. p.393-403. 33. ZELLERS, J. A.et all. A review of the literature and a normative study of accommodative facility. J Am Optom Assco. 1984; p.31-37.
• 33 • optometria em revista
Entrevista
Aldo Martinato “Meu sonho é ver o complexo óptico-optométricooftalmológico trabalhar em consonância, em mútua colaboração. Que seus profissionais contribuam conscientemente para que tenhamos uma assistência o mais otimizada possível na área da visão!” A historia de Aldo Martinato no ramo óptico vem de berço. De uma familia de imigrantes italianos. Seu pai, Guerino Martinato, iniciou os negócios da família em 1912, com o comércio de jóias, relógios, perfumes franceses e óculos importados da Alemanha. A pequena empresa contava com outro sócio, Sr. Abramo Eberle e tinha o nome de Eberle, Martinato & Cia Ltda., sediada em Caxias do Sul, mas logo o Sr.Guerino comprou a parte do sócio, transformando-a em um negócio familiar. Em 1946, o primogênito Aldo Martinato conclui seus estudos no Rio de Janeiro como técnico em óptica e de 1947 a 1949 vai para a França em busca de aperfeiçamento. Ao voltar para o Brasil, por dificuldades de importar máquinas necessárias à profissão, resolve ele mesmo fabrica-las e ao mesmo tempo abre a primeira escola de óptica de que se tem notícia no Brasil, para formar profissionais capacitados a manusea-las. Aliado a isso, escreve o livro “O Laboratório de Óptica”, primeiro material de apoio técnico para quem busca formação. O
trabalho letivo durou mais de 20 anos e formou mais de 300 técnicos em óptica provindos das mais remotas cidades dos Estados do Sul do Brasil. Em 1970, funda a ICOSA-Indústria Caxiense de Óptica voltada à fabricação de máquinas e hoje continua com a Martinato Máquinas de Precisão sob a direção de seu filho Miguel, formado em Engenharia Mecânica e Óptica e que, sempre fiel aos ideais de seu pai e avô, lidera as pesquisas e desenvolvimento de novos produtos ligados ao ramo. O parque industrial da Martinato ocupa uma área de 7.000m2 e se destaca inclusive, além da qualidade de seus produtos, na área de representação de diversas empresas de renome internacional e, na área da Optometria opera com a marca Optho Martinato sendo seus produtos aprovados pela Anvisa. SBOO: O trabalho da família Martinato no ramo óptico brasileiro acompanhou as mudanças político-econômicas pelas quais nosso país passou nos últimos cem anos e teve a competência de resistir, reinventar-se e continu• 34 • optometria em revista
ar crescendo ao longo da história brasileira tornando-se a grande empresa que é hoje. Qual é o segredo? Martinato: Nosso Brasil é cheio de oportunidades. Nele, o crescimento empresarial depende apenas do elan de cada um. A Clã dos Martinato sempre foi empreendedora e tenho a sorte de meus filhos terem essa mesma índole e continuarem unidos em nosso ideal. SBOO: Hoje, qual a principal meta da Martinato Equipamentos? Martinato: Nossa meta, claro, é continuar crescendo e cada vez mais colaborar para o fortalecimento da área não só no campo da óptica, mas principalmente do ramo da optometria e ortóptica em nosso país. SBOO: Desde quando o Senhor conhece a optometria e por quanto tempo atuou como optometrista? Martinato: Conheci a optometria na França, onde estudei, em 1947/1949 e desde 1962 venho defendendo a legalização da profissão em nosso país. Felizmente e enfim, ela foi reconhecida oficialmente no final do ano passado. Minha atuação como optometrista ocorreu com meu voluntariado em um campo de refugiados na Tailândia, sob a administração das Nações Unidas, em 1975.
SBOO: Como era a optometria naquela época? Martinato: Na Europa e Estados Unidos era uma profissão normal, exercida a centenas de anos, desde antes de 1850 e, quando estudei, só se aprendia a prescrever óculos e nada mais. SBOO: E o que o senhor acha da optometria atual do Brasil? Percebe muitas mudanças? Martinato: Atualmente há muito entusiasmo, principalmente entre os ópticos que estão animados com a oportunidade de aliar as duas profissões, óptica e optometrtia. Só para registrar, como disse a pouco, há 160 anos, em meados de 1860, já existia na Europa a Association d’Optique et Optometrie Europeene e hoje, já temos nosso Conselho Brasileiro de Óptica e Optometria (CBOO). SBOO: Em sua opinião, o que falta para a optometria brasileira se igualar à Optometria de outros países? Martinato: Mais Faculdades, bem mais, pois o Brasil é tão extenso quanto toda a Europa e aqui temos apenas umas duas ou três. Precisamos muitos professores que ainda sequer foram formados. Se queremos acelerar a expansão de nossa profissão, inicialmente será necessário, temporariamente, trazer professores de outros países. Nossos atuais professores são ótimos. Abnegados, dedicados, com um verdadeiro e entusiástico amor à profissão. Em minhas andanças tenho conhecido muitos deles. Eles sacrificam seu convívio familiar para ensinar seus alunos que apenas em fins de semana podem estudar. SBOO: “A medida da visão – optometria – é praticada no comércio varejista de óptica no mundo inteiro, mas no Brasil os ópticos estão condenados a mais crassa e permanente ignorância, sem regulamentação profissional condigna, submetidos a um triste estado de subserviência”. Esta frase foi dita por Alexis Fedosseeff. O Senhor Concorda com esta afirmação? Martinato: Concordei quando foi dita. Hoje, a lei já permite a prática da profissão optométrica que agora apenas falta ser regulamentada. SBOO: Em sua opinião, o que falta para optometristas e oftalmologistas brasileiros trabalharem de forma multidisciplinar, a exemplo do que acontece em muitos países? • 35 • optometria em revista
Entrevista Martinato: A boa e profícua relação entre as duas profissões é uma questão de bom senso. Profissões paramédicas existem em quase todas as especialidades da medicina. Sem elas, seria impossível o bom atendimento aos pacientes. SBOO: A empresa Martinato lançou há poucos anos uma linha de produtos destinados ao exame de vista para profissionais da saúde visual em geral: a linha Optho Martinato. A criação dessa linha foi uma aposta no crescimento da Optometria ou foi um reflexo do próprio mercado em expansão? Martinato: As duas razões. A análise do mercado e a liberação legal da demanda reprimida. Finalmente o Governo deu-se conta da imensa quantidade de pessoas, cerca de 40 milhões, com baixa produtividade por deficiência visual. Quarenta milhões de brasileiros a mais que vierem a usar óculos elevará uma significativa percentagem no PIB nacional. SBOO: O senhor foi o fundador da primeira escola de Óptica do Brasil e, ainda hoje, sua empresa tem as portas abertas para visitação e palestras voltadas para escolas de formação em óptica. Como o senhor avalia o mercado óptico hoje? Os técnicos em óptica estão realmente conscientes do seu papel como profissionais voltados para a saúde visual? Martinato: Sim, e muito. Nas palestras que venho fazendo nas escolas e faculdades em todo o país, sempre pergunto aos alunos se eles têm ópticas. É muito grande a percentagem deles que respondem afirmativamente. São proprietários ou filhos deles, principalmente mulheres, que já formados em óptica, estudam optometria. O sexo feminino, em nossa profissão, está ocupando seu merecido lugar.
É claro que a optometria exigirá cada vez mais dos ópticos seu aperfeiçoamento na confecção de óculos corretores. Na verdade, um óculos perfeito não é muito fácil de ser confeccionado. Precisa de técnica, muita técnica. SBOO: O senhor continua atuante no mercado óptico, não só participando de grandes eventos como Abióptica, Fenóptica, CIETICOO etc, como também, ministrando palestras e cursos. Existe alguma coisa no ramo óptico que o senhor ainda não fez e gostaria de realizar? Martinato: Sim, meu sonho é ver o complexo óptico-optométrico-optalmológico trabalhar em consonância, em mútua colaboração, que seus profissionais dessa forma contribuam conscientemente para que tenhamos uma assistência o mais otimizada possível na área da visão. SBOO: Um de seus projetos atuais é a publicação de um livro. Qual o tema? Já tem data para a publicação? Martinato: Não, ainda não, mas certamente não será na área da Óptica ou Optometria. Atualmente temos alguns muito bons mestres em ambas profissões que se destacam, e muito, em seus conhecimentos e publicam ensinamentos técnicos profissionais tanto em revistas quanto em livros. A literatura nacional sobre essas duas profissões já é muito extensa e de muito boa qualidade. Quanto a mim, desde muitos anos meus livros tem versado sobre assuntos como religiões, o Bem e o Mal, a sensualidade, a sexualidade, o amor, paradigmas, consciência, ética, etc. O próximo, provavelmente será sobre a Virtude.
• 36 • optometria em revista
Artigo de Investigação
Prevalência de ametropias na Microrregião de Vitória da conquista, Bahia, em 2013. Jasiel Araújo Oliveira Filho
Presidente da Sociedade Baiana de Ótica e Optometria. Bacharelando em Optometria pela Fundación Universitária Del Área Andina. Técnico em Óptica e Optometria. E-mail: j-optica@hotmail.com
Breno Sergio de Albuquerque
Bacharelando em Optometria pela Fundación Universitária Del Área Andina. E-mail: breno@hotmail.com
Lucas Assunção da Costa Gomes da Rosa
Bacharelando em Optometria pela Fundación Universitária Del Área Andina. E-mail: lucasrosa@hotmail.com
Resumo A avaliação precoce de cada distúrbio ou disfunção visual, bem como a compensação adequada de acordo com as necessidades de cada indivíduo, são fatores preponderantes para sua • 37 • optometria em revista
interação na sociedade, o que implica de forma direta na sua qualidade de vida. O optometrista tem a função de facilitar o acesso das pessoas a uma avaliação visual e o dever de identificar os problemas que molestam cada paciente, uma comunidade ou até mesmo uma região. É importante conhecer quais são os problemas mais frequentes numa determinada população. A Optometria como qualquer ciência tem, também, a função de investigar, pesquisar para conhecer, para intervir, para prevenir. Neste sentido, buscamos neste artigo identificar o perfil refrativo de pacientes atendidos da Microrregião de Vitória da Conquista, Estado da Bahia no ano de 2013. Foram considerados neste estudo 251 pacientes com idade entre as faixas etárias compreendidas entre o quinto ano de vida e os 90 anos de idade. Palavras-Chave: Ametropias, Prevalência, Microrregião Vitória da Conquista.
Artigo de Investigação Introdução Milhares de pessoas buscam todos os dias uma avaliação visual. Em todo o mundo, essas pessoas são atendidas primeiramente por um optometrista, profissional de atenção primária, com a intenção de obterem uma avaliação específica e efetiva desse tão importante sentido que é a visão. Os motivos para essa busca são os mais variados. Basta pensarmos nas inúmeras necessidades visuais do nosso cotidiano. Precisamos a todo instante desenvolver habilidades visuais para interagirmos com o meio onde vivemos. Qualquer distúrbio ou disfunção na visão estará comprometendo nosso convívio e, consequentemente, nossa vida social. Esta pesquisa se propõe a fazer uma pequena relação das condições refrativas avaliadas, buscando entender a predominância de tais distúrbios visuais na Microrregião de Vitoria da Conquista, Estado da Bahia, no ano de 2013, levando em consideração idade, gênero e localidade (zona rural ou urbana). Queremos contribuir para o aumento da estereopsia social e falar ao poder público sobre erros refrativos e as complicações sociais que podem ocorrer se essas condições levarem um povo a ter limitações de ordem social, produtiva e econômica, devido ao acesso deficiente a saúde visual.
Refração O sistema visual (refrativo) é dinâmico e sua mudança é relativamente natural ao longo da vida, seja por condições fisiológicas como no período em que o individuo se torna “emétrope” ou quando surge a presbiopia, que se manifesta após os 40 anos de idade ou, ainda, por maus hábitos visuais que podem gerar disfunções visuais. A miopia é um defeito refrativo aonde • 38 • optometria em revista
o ponto focal de luz que chega ao olho se forma antes da retina de forma que a imagem para longe fica borrada. Somente a imagem de objetos vistos pela visão de perto é que se apresentam nítidos.5 A hipermetropia é um defeito de visão aonde o olho apresenta um déficit de convergência formando a imagem do objeto depois da retina. Para compensar a hipermetropia, nos casos de dioptrias baixas, o olho se adapta continuamente através da acomodação para criar uma imagem nítida na retina. Essa capacidade de acomodação vai se debilitando com a idade. Assim, a hipermetropia pode passar despercebida durante a adolescência, mas com o avanço da idade, os sintomas vão tornando-se mais notados pela diminuição da capacidade de acomodação.3 O astigmatismo é um defeito refrativo provocado por diferenças na curvatura natural da córnea. A luz que se projeta sobre o olho não se refrata em um ponto único da retina, em vez disso, forma uma linha de pontos focais.4 A presbiopia ou vista cansada não é considerada erro refrativo, trata-se da perda da capacidade da visão de perto devido ao envelhecimento natural do olho quando o cristalino – estrutura responsável pela focalização da imagem a diferentes distâncias – perde a sua elasticidade.6 A prevalência dessa condição refrativa que, na realidade, é uma alteração fisiológica não foi diferente de outras pesquisas no mundo e foi predominante em pacientes com idade igual ou maior a 40 anos.
Metodologia Foi realizado um levantamento epidemiológico através de atendimento de pacientes no ano de 2013 na Microrregião de Vitória da Conquista, Bahia. Esta pesquisa contou com pacientes dos municípios de Bom Jesus da Serra, Mirante, Caetanos, Barra do Choça, Planalto, Poções
e Vitória da Conquista que foram atendidos com protocolos de atendimento contendo os seguintes parâmetros: gênero (masculino ou feminino), idade (de 05 a 98 anos), tipo de ametropia (miopia, hipermetropia e astigmatismo) e localidade (zona urbana ou rural). A Microrregião de Vitoria da Conquista possui, segundo o IBGE, senso de 2010, mais de 306,8 mil habitantes. Foram atendidos 278 pacientes sendo que 27 pacientes foram desconsiderados nesta pesquisa por necessitarem de encaminhamento para outros profissionais, leos 251 pacientes restantes, a amostra dessa região representou, aproximadamente, 1% da população. Todos os atendimentos aconteceram sob os mesmos critérios, utilizando a Retinoscopia (método objetivo de refração), Auto-refrator (equipamento automatizado que também tem o objetivo de realizar a refração), sem utilização de cicloplégico – substância química que, instilada sob a superfície ocular, inibe a contração do músculo ciliar, bloqueando o mecanismo de acomodação. Consideraram-se erros refrativos a partir de 0,25D. A ametropia de cada paciente foi estabelecida mediante exame de acuidade visual com tabela de optotipo do tipo Snellen e refrator de Greens.
gião de Jacobina4. A miopia fica em segundo lugar com 17%, e por último, a hipermetropia com 13%. 10% dos pacientes examinados eram emétropes.
Gráfico 1: Prevalência de ametropias e emetropia Fonte: Projeto Consciência em Optometria –Microrregião Vitória da Conquista, BA, 2013.
Separando os dados por gênero, observamos que o sexo masculino apresenta a seguinte prevalência: astigmatismo representa 68%, a hipermetropia 13% e a miopia com 2%, como mostra o gráfico 2.
Resultados e discussão Dos 251 pacientes, 167 eram do gênero feminino e 84 do gênero masculino. Observou-se que a frequência entre zona urbana e zona rural foi bem diferente. Tivemos 75% de pacientes da zona urbana, e contamos apenas com 25% de pacientes da zona rural. De acordo com o gráfico 1, o astigmatismo é a ametropia que mais prevalece nesse levantamento, correspondendo a 72% do total. Esse resultado reforça a primeira pesquisa realizada na Microrre-
Gráfico 2: Prevalência de ametropias e emetropia no sexo masculino Fonte: Projeto Consciência em Optometria – Microrregião Vitória da Conquista, BA, 2013.
Já no gráfico 3, no grupo feminino a prevalência é de 73% para o astigmatismo; 18% para a hipermetropia e 2% para miopia. • 39 • optometria em revista
Artigo de Investigação os gêneros masculino e feminino, mas, também, representou a faixa etária com menor numero de procura por exame de vista.
Gráfico 03: Prevalência de ametropias e emetropia no sexo feminino Fonte: Projeto Consciência em Optometria – Microrregião Vitória da Conquista, BA, 2013.
Observando esses três primeiros gráficos, percebe-se facilmente a predominância em grande escala do astigmatismo em detrimento das outras condições refrativas. No grupo masculino temos mais emétropes do que no grupo feminino. No grupo feminino, temos mais hipermetropes do que no grupo masculino. Já a miopia teve pouca incidência, resultando em apenas 2% da população atendida em ambos os sexos. A procura por exame de vista demonstrou mais prevalência no gênero feminino em relação ao masculino, como mostra o gráfico 4. Essa maioria feminina é observada em quase todas as décadas de vida com uma diferença acentuada. Só na primeira década de vida é que a prevalência do gênero masculino superou o gênero feminino sendo que, a primeira década representa crianças dos 0 aos 9 anos de idade e esses indivíduos não têm iniciativa ou qualquer tipo de autonomia, ao contrário, são levados pelos seus pais ou responsáveis. Além disso, a diferença nessa década entre os gêneros é bem pequena. A última década, que representa os pacientes a partir dos 70 anos, foi a única que manteve com o mesmo índice de procura por exame de vista entre • 40 • optometria em revista
Gráfico 4: Comparação da procura por exame visual por sexo e faixa etária Fonte: Projeto Consciência em Optometria – Microrregião Vitória da Conquista, BA, 2013.
O astigmatismo teve maior prevalência na 3ª década de vida (dos 20 aos 29 anos) e, depois, na 2ª década (dos 10 aos 19 anos), seguida pela 6ª década (dos 50 aos 59 anos). A hipermetropia é mais prevalente na 5ª década de vida (dos 40 aos 49 anos) depois na 1ª e 2ª décadas. A miopia tem maior índice de prevalência entre a 2ª e 5ª décadas de vida, conforme observado nos gráficos 5, 6 e 7.
Gráfico 5: Prevalência de astigmatismo por faixa etária. Fonte: Projeto Consciência em Optometria – Microrregião Vitória da Conquista, BA, 2013.
ficou entre as 5ª e 6ª décadas de vida, em Vitoria da Conquista, a maior prevalência ficou na 2ª e 3ª décadas de vida. Na hipermetropia houve também cera semelhança, pois, a predominância fica entre 5ª e 6ª décadas em Jacobina. enquanto que, em Vitoria da Conquista, essa predominância ficou distribuída entre a 6ª, 1ª e 2ª décadas. Finalmente, para a miopia as duas primeiras regiões apontaram prevalências distribuídas entre 3ª e 2ª décadas e, em Vitoria da Conquista, entre 2ª e 5ª décadas de vida.
Considerações Gráfico 6: Prevalência de hipermetropia por faixa etária (década de vida). Fonte: Projeto Consciência em Optometria – Microrregião Vitória da Conquista, BA, 2013.
Gráfico 7: Prevalência de hipermetropia por faixa etária (década de vida). Fonte: Projeto Consciência em Optometria – Microrregião Vitória da Conquista, BA, 2013.
Além disso, observa-se claramente nestes três gráficos que entre astigmatismo e hipermetropia existe certo equilíbrio de prevalência, cada qual prevalecendo numa faixa etária diferente, mas, ambas presentes em todas as décadas de vida. Com a miopia o quadro é diferente. Essa ametropia está presente só em metade das décadas de vida pré-determinadas. Comparando esta pesquisa com aquela realizada na Microrregião percebe-se que a prevalência das ametropias tem pouca semelhança. No Astigmatismo, por exemplo, aonde esta diferença é mais facilmente percebida, enquanto a predominância • 41 • optometria em revista
Neste estudo observou-se que, contrariando a maioria das pesquisas já realizadas em vários países, a miopia não aparece como a ametropia mais prevalente. Em vez disso, na Microrregião de Vitoria da Conquista, essa ametropia ocupou o último lugar. Diante da grande prevalência do astigmatismo na microrregião estudada, é importante lembrar que, normalmente, as pessoas com esta ametropia geralmente reportam astenopia – conjunto de sintomas como dor de cabeça, ardência ocular, visão borrosa momentânea etc - que pode produzir fotofobia, “olhos que se cansam” com trabalhos precisos como ler por muito tempo e cefaléias frontais. Essa sintomatologia dificulta grandemente o rendimento do individuo em qualquer tarefa, seja ela social, profissional ou escolar. Assim, é de suma importância o apoio ao trabalho dos optometristas que levam à população o atendimento necessário para a saúde visual aonde se identificam e compensam todas as ametropias, além de todo um trabalho preventivo e de informação dedicado à visão. É necessário desenvolver o aprimoramento da avaliação visual e, oportunamente, desenvolver ações dentro da realidade dos pacientes.
Artigo de Investigação Bibliografia 1. BORICH, I. M. Clinical Refraction. 3ª. Chicago: Professional Press, 1970. p.184-186. 2. Conselho Regional de Óptica e Optometria do Estado de São Paulo – CROO-SP. Disponível em: «http://www. croosp.org.br/work/noticias/index24.html». Acessado em 30/06/2014. 3. Disponível em: «http://www.onmeda.es/enfermedades/ astigmatismo-definicion-1206-2.html». Acessado em 01/07/2014. 4. Disponível em: «http://www.onmeda.es/enfermedades/ hipermetropia-definicion-1208-2.html». Acessado em 01/07/2014. 5. Disponível em: «http://www.onmeda.es/enfermedades/ miopia-definicion-1214-2.html». Acessado em 01/07/2014. 6. Disponível em: «http://www.onmeda.es/enfermedades/ presbicia-definicion-18481-2.html». Acessado em 01/07/2014. 7. FURLAN, W.; MONREAL, J. G.; ESCRIVÁ, L. M. Fundamentos de Optometría: Refracción ocular. 1ª ed. Madrid, España. Universidad de Valencia, 2000.
8. GARCÍA, M. R. B.; PARRA, J. C. O. Optometría: manual de exámenes clínicos. Terrassa, Espanha: Universidad Politécnica de Catalunya - UPC, 2000. p.206. 9. GROSVENOR, T. Optometría de atención primaria. – Barcelona, Espanha: Masson, 2004. 10. MARTÍN, R. H.; VECILLA, G. A. Manual de optometría. Madrid: Médica Panamericana, 2010. 11. MARTINS, Jorge Manuel. Preditores das alterações visuais em jovens Universitários. Tese de Doutoramento em Ciências. Universidade do Minho. Novembro de 2006. p.36-38;41. Disponível em: «http://repositorium.sdum.uminho.pt/ bitstream/1822/5945/3/Preditores%20das%20altera%C3%A7%C3%B5es%20visuais%20em%20 jovens%20universit%C3%A1rios.pdf». Acessado em 02/07/2014. 12. WORLD COUNCIL OPTOMETRY. Disponível em: «http://www.worldoptometry.org/en/ membership/our-members/index.cfm». Acessado em 30/06/2014.
• 42 • optometria em revista
Ensaio
...E o que o filósofo Spinoza tem haver com tudo isso? Aldo Martinato
Escritor. Óptico-Optometrista. Diretor Emérito da Martinato Máquinas de Precisão. E-mail: amartinato@martinato.com.br
Tarefa difícil, mas vou encurtar ao máximo esta crônica começando pelo início da Idade Média. Então, naquele tempo muitos monges dos conventos, letrados, eram denominados de copistas. Gutenberg ainda não tinha inventado a imprensa e os poucos livros que os professores universitários escreviam eram lidos em sala de aula para os alunos que, não tendo tempo para sequer anotar algo, apenas os decoravam. Alguns tinham recursos suficientes para encomendar a um copista uma cópia emprestada do exemplar. Um desses copistas, o monge Giordano de Pisa, para facilitar a visão dos rabiscos dos professores, resolveu unir duas lentes de aumento em uma armação improvisada e fixá-las no nariz. Nascia o pincenez (pince - pinçar, prender e nez - nariz) que significa prender no nariz. Isso aumentou muito a produtividade e logo-logo outros monges também fixaram as lentes pendendo do gorro que usavam; outros o usavam com uma tira amarrada atrás da cabeça e, finalmente, um monge de Veneza reivindicou a invenção dos óculos por fixar as lentes nas orelhas. Nascia então a nossa moderna armação. Muitos anos depois, Gutenberg inventou a imprensa com os tipos móveis entalhados em madeira; hoje em dia já superada • 43 • optometria em revista
Ensaio pelo computador. Havia-se passado uma centena de anos, os livros já eram comuns e os óculos também a ponto de serem vendidos em feiras de rua. As lentes eram mais perfeitas em qualidade sendo as mais caras aquelas fabricadas com o Legítimo Cristal de Rocha Brasileiro. Para ser conciso, pulemos para o ano de 1850 quando encontramos em pleno exercício a profissão de óptico-optometrista na Europa a ponto de os profissionais estarem unidos pela Union Europee d´Optique et Optometrie. Um Século e meio mais tarde, ou mais precisamente, cento e sessenta e cinco anos mais tarde, finalmente, em nosso país é aprovado o exercício desta profissão com a sua inscrição no Ministério do Trabalho e Emprego, o qual cataloga as atribuições de ópticos, optometristas e ópticos-optometristas. Estes dois últimos com a faculdade de emitir laudos, ou seja, prescrever correções oculares. E, para concluir, aqui vem a resposta do título deste artigo: O que Spinoza tem haver com tudo isso? É que Baruch Spinoza, apelidado de Lixador de Lentes, pelos anos de 1600, era renomado pela qualidade de seu trabalho que consistia em lixar vidro à mão, sobre fôrmas de ferro fundido. Trabalho monótono, com muito tempo para pensar. Ele pensava e anotava. Daí surgiu seu livro A Ética, explicando esse conceito como nunca antes havia sido analisado. Seu livro, criticado, queimados exemplares, proibido, resultou em uma verda-
A felicidade só se encontra na prática da ÉTICA e com ela, mas só com ela, podemos dizer com todo nosso orgulho e dignidade: Somos Ópticos-Optometristas.º • 44 • optometria em revista
deira revolução por combater conceitos até hoje válidos por serem totalmente condizentes com a moral em si mesma e não com a moral apenas religiosa. Ética, ainda em nossos dias estudada, se constitui na base do comportamento de toda pessoa que exerça alguma profissão. Em nossa especialidade óptico-optométrica nós temos a Ética elencada, mas nem precisaríamos catalogá-la, pois temos a consciência do bem que nossa profissão faz à humanidade, proporcionando uma melhor visão com um simples par de óculos apropriado a cada pessoa que dele necessita. Mas esse simples par de óculos tem o efeito milagroso de aumentar a produtividade de quem o usa, possibilitando ao seu usuário ver melhor as coisas que o rodeiam e aumentar seu poder criativo; fazê-lo sentir-se mais igual, mais livre, fazê-lo sentir-se mais e mais feliz, sentir-se com mais dignidade. Todos nós, profissionais, sabemos e muito bem o quanto é gratificante proporcionar a outras pessoas todas essas benesses. Não é por uma remuneração abusiva que exercemos nossa profissão. Não a exercemos para contemplar agrados ou atender outros interesses que deturpam nossa dignidade. Mas, exercemos nossa profissão sim, por querer contribuir com o aumento da produtividade das pessoas para fazê-las sentirem-se mais felizes, apenas por uma justa e merecida remuneração. Desta forma, progrediremos e continuaremos sempre com dignidade praticando este Bem, seguindo os ditames preconizados pelo nosso “lixador de lentes”. A felicidade só se encontra na prática da ÉTICA e com ela, mas só com ela, podemos dizer com todo nosso orgulho e dignidade: Somos Ópticos-Optometristas.
Artigo Científico
Síndrome de Duane: classificação e diagnóstico Danilo Franco Viana
Bacharelando em Optometria pela Fundación Universitária Del Área Andina. Técnico em Óptica e Optometria. E-mail: danilofrviana@hotmail.com
Resumo A Síndrome de Duane se constitui num transtorno congênito pouco frequente dentre os casos de estrabismo, mas possível de encontrar-se no dia a dia da optometria clínica, apresentando-se de forma variável. É comum que, ao encontrar principalmente em crianças, esse tipo de transtorno oculomotor, ele seja confundido com outros transtornos oculomotores como a paralisia do VI Par craneano, por exemplo. Por isso merece ser revisada, tendo em vista diferenciá-la e, assim, facilitar seu possível diagnóstico. Este artigo tem o objetivo de revisar a Síndrome de Duane, relembrando seu conceito, causas, classificações, sinais, sintomas, bem como seu diagnóstico e tratamento. Palavras-chave: Síndrome de Duane, tipos 1, 2 e 3, adução, abdução, músculos extraoculares.
Definição A Síndrome de Duane é um transtorno oculomotor congênito raro. Foi descrita por Jakob Stilling
em 1887, posteriormente por Türk Siegmund em 1896 e, finalmente, por Alexander Duane em 1905 que, após estudar 40 pacientes, descreveu a síndrome com mais detalhes. Também é conhecida como Síndrome de Retração Congênita ou Síndrome de Stilling-Türk-Duane. Caracteriza-se, principalmente, por ser uma oftalmoplegia não progressiva que se manifesta em graus variáveis tais como: abdução limitada ou ausente com adução normal ou limitada; retração do globo ocular; estreitamento da fenda palpebral em adução e aumento da fenda palpebral ao tentar a abdução; movimentos verticais anômalos conhecidos como downshoot (movimento rápido de depressao do globo ocular) e upshoot (movimento rápido de elevacao do globo ocular) na tentativa de adução, aumento da pressão-intra-ocular secundária a retração do globo ocular. É importante ressaltar que, por se tratar de uma sindrome, cada paciente manifesta os sinais e sintomas de forma particular, não apresentando obrigatoriamente todas as caracteriscas para todos os casos.
Prevalência Trata-se de uma condição rara, responsável por 1% a 5% dos casos de estrabismo congênito, sendo 53% em mulheres e 47% em homens. A doença é mais comum no olho esquerdo com 79% dos casos e é bilateral em 15% dos casos. Não existe predispo-
• 45 • optometria em revista
Artigo Científico sição de raça. A maioria dos pacientes é diagnosticada com aproximadamente 10 anos de idade. É uma condição que surge isolada em 70% dos casos, mas pode estar associada a outras anomalias do tronco encefálico, orelhas, sistema nervoso, rins e do trato urinário.
abertura palpebral em adução; movimentos verticais anômalos à adução, downshoot e upshoot . Este tipo é o mais frequente, cerca de 69% dos casos.
Etiologia Ocorre ausência ou hipoplasia do nucleo do VI par craneano (abducente) ipisilateral com inervação anômala dos músculos reto lateral e reto medial provocando a retração do globo ocular e a diminuição da fenda palpebral. A ação de agentes teratogênicos entre a quarta e a oitava semana de gestação, quando os nervos craneanos e os músculos extraoculares ainda estão se desenvolvendo, tem sido associada à doença e suspeita-se que os genes SALL4 (cromossomo 20q 13) e 3FOXL2 (cromossomo 3q23) podem estar envolvidos. Além disso, a talidomida é um dos agentes que provocam a mutagênese. Assim, varios fatores podem estar envolvidos e torna-se dificil estabelecer uma causa específica para a Síndrome de Duane.
Figura 1: Síndrome de Duane tipo 1. Fonte: WRIGHT, 2007, p. 61.
Síndrome de Duane Tipo 2 Deficiência maior para a adução do que para a abdução simulando paralisia do reto medial. Na verdade, o músculo extraocular ipsilateral está presente, mas há dupla inervação do reto lateral. Cursa normalmente a exotropia e outros sinais semelhantes ao tipo 1. Este tipo ocorre em 11% dos casos.
Classificação Há várias classificações possíveis. A classificação mais conhecida é a de Huber, feita em 1970, adotando critérios de eletromiografia, que a classifica em 3 tipos:
Síndrome de Duane Tipo 1 Caracterizada pela deficiência para abdução acentuada e nenhuma ou leve deficiência para adução, simulando paralisia do reto lateral. A maioria cursa com esotropia. Há uma aplasia ipsilateral do músculo reto lateral que é inervado por um ramo do IV par (troclear); uma enoftalmia em adução e um estreitamento da
Figura 2: Síndrome de Duane tipo 2. Fonte: WRIGHT, 2007, p. 61.
Síndrome de Duane Tipo 3 Neste tipo ocorre uma limitação ou ausência de adução e abdução. É idêntica ao tipo 1, porém a descarga nervosa chega simultaneamente a ambos os músculos retos horizontais. • 46 • optometria em revista
Há uma potencialização de todos os sinais por co- contração, como grande endoftalmia, estreitamento da abertura palpebral e movimentos verticais anômalos amplos e bruscos. Normalmente apresenta exotropia em posição primária. Ocorre downshoot e upshoot mais frequentes que nos outros tipos. É o tipo menos frequente e ocorre em 2% dos casos.
Normalmente os sintomas são enrijecimento ou alterações cervicais devido ao torcicolo podendo apresentar diplopia caso o desvio se modifique por desenvolvimento da contratura muscular. A queixa estética é comum devido à retração do globo ocular e a diminuição da fenda palpebral em adução pelo estrabismo ou pelo fato de um olho sumir abruptamente sob a pálpebra superior ou inferior em adução (upshoot ou downshoot).
Diagnóstico
Figura 3: Síndrome de Duane tipo 3. Fonte: WRIGHT, 2007, p. 61.
Sinais e sintomas A abdução está sempre comprometida e a adução, geralmente, encontra-se normal ou limitada em graus variados. Há uma retração do globo ocular e estreitamento da fenda palpebral na tentativa de adução com aumento da rima de abdução. Pode ocorrer ortoforia, esotropia ou exotropia em posição primaria de mirada (PPM), sendo mais comum esotropia no tipo 1 e exotropia no tipo 2. Quando há binocularidade com desvio na PPM surge o torcicolo compensatório como forma de evitar a diplopia consequente. Quando não há binocularidade ocorre desvio manifesto. Quando o olho afetado for o fixador, poderá haver torcicolo para posicioná-lo. Nos casos de estrabismo convergente, a cabeça gira para o mesmo lado do olho que desvia. Se o desvio é divergente, a cabeça gira para o lado oposto ao olho desviado. A perda da binocularidade pode fazer com que o individuo desenvolva ambliopia, que se for tratada em tempo hábil pode ser revertida. Pode ocorrer aumento da pressão intraocular em adução. Estrabismo, ambliopia e anisometropia são mais comuns nos casos de bilateralidade do que nos casos unilaterais pelo desvio ser pequeno havendo possibilidade de fusão através de torcicolo. Em aproximadamente 70% dos casos a Síndrome de Duane é a única anomalia que o paciente possui, apresentando-se apenas com a manifestação oculomotora. Mas, ela pode estar acompanhada de outras anomalias oculares como heterocromia, colobomas, fenômenos de Marcus-Gunn e outras síndromes como a Síndrome de Goldenhar, Sindrome de Wildevank, Síndrome de Okihiro, Síndrome de Holt-Oram, Klippel-Feil. • 47 • optometria em revista
O diagnóstico é feito através do exame clínico e, suspeitar desta sindrome normalmente não oferece dificuldade. É importante que o optometrista realize muito bem os testes clinicos. Uma anamnese criteriosa deve ser realizada, para que o examinador certifique-se de que não haja causas que possam produzir limitações de musculos extra oculares como os traumas durante o parto, patologias sistêmicas como o diabetes, dentre outros. A acuidade visual pode ser similar em ambos os olhos, todavia, a sindrome de Duane pode produzir uma ambiopia estrabica, sendo imprescindível o acompanhamento rigoroso e periódico, principalmente, durante o periodo de plasticidade visual. O Hirshiberg tambem é importante, podendo o optometrista encontrar Hirshiberg centrado, tropia ou ainda tropia intermitente segundo cada tipo da sindrome. O grau da descentração do Hirshiberg na sindrome de duane é sempre menor que 15°. Deve ser realizado os teste das ducções que mostrará resultados que simulam paresias ou paralesias em um dos músculos que realiza abdução ou abdução no olho afetado, revelando uma alteração a nivel neurológico. É no teste das versões que a assimetria dos movimentos revela com mais clareza a sindrome de Duane. Neste teste é observado a maior parte das características de cada tipo desta síndrome. Além disso, podem
Artigo Científico ser observados movimentos verticais conhecidos como downshoot e upshoot e o estreitamento da fenda palpebral do olho afetado. O exame de fundo de olho não apresenta alterações e a fixação pode ser centrada se o paciente não manifesta estrabismos em posição primária de mirada. O teste das ducções forçadas mostrará resistência à adução bem maior que nas paralisias do VI par craneano. A eletromiografia mostra redução da velocidade sacádica de adução devido à co-contração do músculo reto lateral que somente é obtida através de pequenos movimentos sacádicos (hipometria). Também no olho normal encontra-se tal redução de velocidade. Ocorre, ainda, um sinal específico para s Síndrome de Duane que é a presença de movimento lento de leve abdução ao retornar à posição primaria do olhar. A ressonância magnética mostra ausência do nervo abducente entre 40% (tipo III) e 100% (tipo I) dos casos. Os casos em que o nervo está presente não significa que sua função esteja normal.
Tratamento
Diagnóstico Diferencial
Referências
É necessário diferenciar a Síndrome de Duane da Paralisia do Nervo Abducente. Nesta última, o olho, geralmente, apresenta esotropia maior que 30 dioptrias prismáticas, tendendo a aumentar. Na Síndrome de Duane o desvio costuma ser menor que 30 dioptrias prismaticas ou pode ser orthofórico ou nem existir esotropia. A Síndrome de Moebios tem sua manifestação tambem no VII PAR que manifestam outros sinais que não aparecem na Sindrome de Duane. A Paralisia Congênita do VI Nervo é rara, logo, casos congênitos devem ser considerados como Duane em primeira hipótese, pois o planejamento cirúrgico é diferente e as ducções forçadas mostram contratura muito maior do reto medial nos casos de Duane. A Síndrome de Duane do tipo 1 bilateral pode ser confundida com a Síndrome de Ciância em crianças pequenas que não permitem o exame das versões, pois em ambas não há contratura acentuada do reto medial. Quando a Síndrome é adquirida, denomina-se Pseudo-Duane, como nos casos de tumor de órbita, pseudotumor orbitário, celulite orbitária, miosite aguda orbitária, fratura de assoalho ou de parede medial de órbita, entre outras.
1. BILLSON, F. Fundamentals of Clinical Ophthalmology. Series Editor: Susan Lightman. BMJ Books: London, UK: 2003. 2.DAVIS,H.;MEIN,J.DiagnosisandManagementofOcularMotility Disorders. 3ed. Blackwell Science, Oxford, UK: 2006. 3. LÓPEZ SOBRINO, G. Síndrome de Duane. Hospital infantil: maio 2013, Madrid. Disponível em: «http://www.webpediatrica.com/ index.php?PAG=casosped/cp_caso_diagnostico&ID=123». Acessado em: 10/07/2014. 4. MARTÍN, R. H.; VECILLA, G. A. Manual de optometría. Madrid: Médica Panamericana, 2010. 5. PONÇA, E. Síndromes especiales de La motilidad ocular: síndrome de Duane e síndrome de Mobius. Disponível em: «http:// www.juntadeandalucia.es/averroes/caidv/intered visual/ ftp_p_/sindromes_especiales_de_la_motilidad_ocular.pdf». Acessado em: 10/07/2014. 6. VIEIRA, L. Síndrome de Duane: algunos aspectos clínicos, in: “Acta Estrabológica”. 1990. 7. VON NOORDEN, G. K. Binocular Vision and Ocular Motility: Theory and Management Strabismus. 4ª. Sant Louis : Mosby, 1990. 8. VON NOORDEN, G. K. Recession of both horizontal recti muscles in Duane's retraction syndrome with elevation and depression of the adducted eye, Am J Ophthalmol 11:311, 1992. 9.WRIGHT,K.W.ColorAtlasofStrabismusSurgery:Strategiesand Techniques. 3.ed. Los Angeles, CA, USA, 2007.
O mais importante, antes de decidir por um tratamento, é realizar um diagnóstico preciso. Relevar sua magnitude, se há prejuízos ao desenvolvimento da visão ou da postura do paciente. Quando o paciente não manifesta estrabismos em posição primária de mirada e outros fatores como erros refrativos, ambliopia e torcicolos não prejudicam a visão, não é necessário realizar tratamento, basta realizar controle com a finalidade de intervenção caso se faça necessário em algum momento. Todavia, pode ser necessário compensar suas manifestações com o uso de óculos ou lentes de contato para erros de refração; oclusão ou penalização do olho de melhor acuidade visual no caso de ambliopia secundária. Em casos de torcicolos se podem utilizar prismas de baixa potência para melhorar ou corrigir a posição de cabeça. Em casos de estrabismos em posição primária de mirada é indicada a cirurgia ocular para melhorar o alinhamento dos olhos.
• 48 • optometria em revista
Normas e procedimentos
PROCEDIMENTOS PARA
ABERTURA E FUNCIONAMENTO DE ESTABELECIMENTO ÓPTICO Todo estabelecimento comercial de óptica precisa de um responsável técnico, conforme preconiza o Decreto Nº 12.479 de 18 de outubro de 1978. Assim sendo, é dever da SBOO orientar seus filiados, os técnicos que respondem perante as autoridades civis e sanitárias pelos estabelecimentos que comercializam produtos óticos. Os procedimentos a seguir são dirigidos aos técnicos em óptica e também aos empresários do ramo, tendo em vista contribuir para a profissionalização do varejo óptico, o que, sem dúvida, se converterá em prestação de serviços de
Todo estabelecimento comercial de óptica precisa de um responsável técnico, conforme preconiza o Decreto Nº 12.479 de 18 de outubro de 1978.
saúde mais eficazes e seguros para a população. Muitos empresários no Estado da Bahia têm adentrado nesta seara sem estar munidos das informações necessárias e específicas, bem como das orientações sanitárias e normas legais que regem o funcionamento desses estabelecimentos comerciais. As orientações aqui descritas são de caráter geral, o que, certamente, se aplica à grande maioria dos municípios baianos, constituindo-se em pontos básicos para quem deseja iniciar ou quer dar continuidade ao seu negócio, de forma legal e ampara pela Sociedade Baiana de Óptica e Optometria – SBOO.
Ambiente e instalações Para o empresário que pretende in-
• 49 • optometria em revista
Normas e procedimentos gressar no ramo óptico o primeiro passo é a escolha do local onde funcionará o estabelecimento. O ambiente e as instalações devem ser muito bem estudados por se tratar de um comércio que lida com a saúde visual das pessoas. Os primeiros detalhes que devem ser observados são o fácil acesso das pessoas e o tamanho da loja. Se for uma loja apenas para venda e dispensação de óculos (receituário e solar), o salão de vendas deve ter, no mínimo, 20m2, conforme a Portaria N° 2.101/90 da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia. Para cada serviço adicional, como adaptação de lentes de contato, laboratório de montagem etc., deverão ser acrescidos 10m2 para cada departamento, de acordo com a Lei 12.479/78. Por se tratar de um estabelecimento diretamente ligado à saúde, ele deve ter piso, forro e paredes de cores claras e de material liso e lavável. Não é permitido o uso de grafiato (texturas) em função das ranhuras que juntam poeira. Deve conter banheiro e pias com torneiras de fechamento automático ou por acionamento com os cotovelos ou pés, toalheiro com toalhas de papel descartáveis, lixeiras com tampa acionada por pedal, e álcool gel para higienização das mãos à disposição dos clientes em lugar visível e de fácil acesso. Caso a loja conte com departamentos de lentes de contato, montagem etc., deve haver uma pia em cada um desses departamentos, separados com divisórias de material liso, lavável e de cores claras também. A iluminação deve ser adequada e as paredes, teto e piso devem estar livres de mofo. As normas de segurança, higiene e limpeza devem ser observadas. Deve-se ainda conter extintor de incêndio apropriado e em local de fácil acesso.
Técnico Óptico Responsável
Ao contratar o Técnico Óptico Responsável, a SBOO emitirá o Certificado de Regularidade Técnica – CRT. O CRT certifica que o estabelecimento possui um técnico responsável e que está inscrito no CBOO, que no Estado da Bahia é representado pela SBOO
• 50 • optometria em revista
Toda óptica deve ter um profissional Óptico para se responsabilizar tecnicamente pelo estabelecimento. Este profissional deve ser registrado no Conselho Brasileiro de Óptica e Optometria – CBOO e deverá ter vínculo empregatício, contrato de prestação de serviços ou ser sócio constante no contrato social da empresa. A sua remuneração deve ser mensal e ter valor não inferior a um salário mínimo. O Técnico Óptico poderá assinar por até três estabelecimentos. Dentre as funções do Técnico Óptico está a responsabilidade de efetuar o registro das receitas oftálmicas em livro próprio o qual deve ser numerado e assinado por ele, para ser apresentado aos órgãos fiscalizadores quando necessário. Para poder se responsabilizar por um estabelecimento óptico o Técnico Óptico deve possuir diploma registrado no CBOO, possuir Carteira de Registro Profissional e estar em dias com sua anuidade junto à SBOO.
Certificado de Regularidade Técnica Ao contratar o Técnico Óptico Responsável, a SBOO emitirá o Certificado de Regularidade Técnica – CRT. O CRT certifica que o estabelecimento possui um técnico responsável. Certifica também que o estabelecimento está inscrito no CBOO, que no Estado da Bahia é representado pela SBOO. O CRT tem validade anual e deve ser renovado mesmo em caso de mudança de endereço, mudança de técnico responsável ou de proprietário da empresa. O CRT deve ser afixado em local visível para facilitar a fiscalização dos órgãos competentes e é item de grande importância para emissão de alvarás de funcionamento e sanitário.
Equipamentos e instrumentos
Alvará de Funcionamento
Os equipamentos exigidos num estabelecimento óptico são: lensômetro; pupilômetro; aquecedor de areia ou ventilete; ultrasom; escalas milimétricas; tabelas de compensações de medidas; chaves de fenda e de porcas e alicates de diversos tamanhos para manipulação de armações de óculos e acessórios; kit de demonstração de colorações de lentes oftálmicas. Caso a loja tenha departamento de lentes de contato, é necessário ter: ceratômetro; lâmpada de Burton ou lâmpada de fenda; tabela de optotipos de longe e perto; caixa de provas de lentes oftálmicas; armação de provas; Caixa de provas de lentes de contato rígidas esféricas; Caixa de provas de lentes de contato hidrofílicas; caixa de provas de lentes de contato descartáveis; lavabo, espelhos de parede e mesa; insumos para realização dos testes de quantidade e qualidade de lágrima (Schirmer e BUT), bancada para orientação e adaptação das lentes de contato.
O próximo passo é solicitar no município o Alvará de Funcionamento. Esta solicitação deve ser feita com protocolo na Secretaria de Serviços Públicos da Prefeitura, após o pagamento do Documento de Arrecadação Municipal (DAM), tendo feita a Inscrição Fiscal de pessoa jurídica, devendo o empresário consultar profissional de contabilidade para melhor orientação. Junto ao pedido de Alvará de Funcionamento o empresário deve anexar a seguinte documentação: 1-RG, 2-CPF, 3-Título de Eleitor, 4-Comprovante de residência, 5-Carteira de Registro Profissional do óptico respónsável, 6-contrato de aluguel do imóvel comercial, 7-comprovante de pagamento de Anuidade do Óptico junto à SBOO, 8-Diploma do Óptico, 9-Certificado de Regularidade Técnica, 10-Certificado de Desinsetização e Combate às Pragas, oferecido por empresa química autorizada, 11-Plano Operacional Padrão das principais atividades a serem realizadas em limpeza e higienização, 12-Certidão de Ocupe-se do imóvel, 13-IPTU pago, 14-Atestado de Saúde Ocupacional de funcionários. Ao receber o Alvará de Funcionamento o empresário deve afixá-lo em local visível para fiscalização dos órgãos competentes.
Plano Operacional Padrão O Plano Operacional Padrão (POP) é uma ferramenta de gestão que prevê todas as atividades a serem realizadas no gabinete ou consultório, no que se refere à organização e limpeza diária do espaço físico, móveis, coleta de lixo, manutenção de aparelhos de ar condicionado, manutenção e aferição de equipamentos e instrumentos. O POP é um plano a ser executado e acompanhado pelo responsável do estabelecimento, tendo em vista a melhor administração possível dos recursos disponíveis. O POP é exigência de órgãos de saúde fiscalizadores. Esse plano é um relatório simples que o próprio profissional ou lojista pode fazer listando todos os equipamentos que possui e sua utilidade, assim como todas as atividades realizadas pelo profissional dentro do seu ambiente de trabalho. Além disso, será necessário contratar um técnico de manutenção para certificar que os equipamentos e instrumentos ópticos estão calibrados em perfeitas condições de uso. Essa certificação tem que ser feita por escrito.
Alvará Sanitário Após receber o Alvará de Funcionamento expedido pela prefeitura municipal, o empresário deve solicitar também o Alvará Sanitário na sede da Vigilância Sanitária ou diretamente na prefeitura do município, tendo anexada a mesma documentação utilizada para solicitar o Alvará de Funcionamento, o qual, inclusive, deve ser anexado junto ao pedido do Alvará Sanitário. Para esta solicitação também se faz necessário o pagamento de Documento de Arrecadação Municipal (DAM), referente à inscrição na Vigilância Sanitária. Ao receber o Alvará Sanitário o empresário também deve afixá-lo em local visível, tendo em vista facilitar a fiscalização dos órgãos competentes.
• 51 • optometria em revista
Perguntas e Respostas
Avaliação visual: qual deve ser a sua periodicidade?
A adaptação de lentes de contato é ato médico?
A avaliação visual deve ser realizada desde o nascimento e acompanhar toda a vida do sujeito. Ao nascer, toda criança deve ser submetida à uma avaliação da função visual, que contemple aspectos relacionados com o funcionamento do sistema neurosensorial, particularmene da retina do olho. Esta avaliação é de fundamental importância, pois é capaz de detectar alterações do sistema visual que podem se agravar e comprometer a visão precocemente. O exame é simples, rápido e indolor. Na faixa etária entre 1 e 2 anos de idade é importante fazer avaliações periódicas a cada seis meses para acompanhar o desenvolvimento do sistema visual da criança. Mesmo que sejam detectados problemas refrativos, a depender de sua magnitude, não será necessário corrigí-los, apenas acompanhá-los. Em determinados casos, no entanto, opta-se pela correção para evitar problemas como ambliopia ou estrabismo. A partir dos 3 anos de idade, quando a criança entra na fase pré-escolar, é importante fazer avaliações anuais para detectar possíveis erros refrativos que venham interferir no comportamento da criança e afetar seu interesse pela vida escolar. A partir da idade adulta, é importante manter a periodicidade anual na realização dos exames, tendo em vista o surgimento de doenças silenciosas como o glaucoma, por exemplo. Depois dos 40 anos de idade, as pessoas entram na fase da presbiopia (vista cansada), o que reforça a necessecidade de manter uma periodicidade anual na avaliação da visão, tendo em vista dentre outras coisas atualizar a correção óptica para perto e monitorar alterações em fundo de olho em decorrência da senilidade. Acima de 60 anos é muito comum surgirem doenças oculares degenerativas. O envelhecimento do sistema visual pode causar catarata, retinopatia e alterações da córnea, sendo por isso imprescindível o acompanhamento preventivo, tendo em vista precocemente a tomada de medidas necessárias, encaminhando os casos patológicos aos profissionais adequados para proceder o seu tratamento.
A adaptação de lentes de contato não é ato médico, apesar de alguns profissionais defenderem essa questão e divulgarem para seus clientes a restrição da atividade. Na verdade, não existe nenhuma lei federal que afirme ser privativo de médicos a adaptação de lentes de contato. No mundo a adaptação de lentes de contato é função do Optometrista que entre suas funções exerce a contatologia. A contatologia, por sua vez, é um ramo da ciência óptica e optométrica. Quer seja em nível técnico ou superior, a contatologia é responsável pela adaptação das lentes de contato no olho. O profissional óptico-optometrista que tem em sua formação acadêmica a contatologia é um profissional da área de saúde preparado com conhecimento técnico e científico para exercer tal função. A profissão de Contatólogo é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, pela Organização das Nações Unidas, pelo Ministério da Saúde e pela Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho e Emprego mediante o código 3223-05. Sua atuação é garantida pela Constituição Federal, no capítulo dos direitos individuais, art. 5º, inciso 13, o qual garante o livre exercício de toda e qualquer profissão, desde que diplomada por instituições autorizadas pelo Ministério da Educação. A adaptação de lentes de contato pode ser realizada em centros de adaptação de lentes de contato, em ópticas que possuam departamento para adaptação de lentes de contato, em consultórios e clínicas especializadas.
• 52 • optometria em revista
Instruções aos autores para apresentação de textos para a Optometria em revista A Optometria em Revista é uma publicação da Sociedade Baiana de Óptica e Optometria – SBOO, de caráter institucional, científico e cultural. Sua publicação é semestral e se destina aos ópticos, optometristas e contatólogos filiados à SBOO, bem como a estudantes e demais profissionais da saúde visual da Bahia e de outros Estados. Seu objetivo é publicar resultados de investigações realizadas nas diferentes áreas e disciplinas da saúde visual, promover a expressão de ideias, opiniões e reflexões que possam fortalecer a optometria, a contatologia e a óptica como ciências da saúde visual, tendo como finalidade melhorar a qualidade de vida das pessoas. A Optometria em Revista publicará artigos científicos (revisão de temas); artigos de investigação (pesquisa, estudo de casos clínicos); artigos literários (ensaios de reflexão, crítica e exposição de pontos de vista); resumos e resenhas (de monografias, dissertações e teses, livros); entrevistas; transcrição e reprodução (de fóruns, conferências, simpósios, congressos); bem como normas e procedimentos (inerentes ao exercício das profissões representadas pela SBOO). As instruções a seguir têm o ob-
jetivo de padronizar a apresentação dos textos a serem submetidos ao processo de avaliação por parte da Comissão Editorial da Optometria em Revista.
ARTIGO CIENTÍFICO / REVISÃO DE TEMA Considera-se artigo científico, ou uma revisão de tema, uma “publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento” (ABNT, NBR 6022, 2003, p.2), podendo ser escrito por até três autores. Deve conter até no máximo 5.000 palavras, incluindo referências bibliográficas e notas de rodapé. Deve, obrigatoriamente, possuir resumo com no máximo 500 palavras e 5 palavras-chave; e também resumo e as palavras-chave escritos em uma língua estrangeira (espanhol ou inglês). A estrutura do artigo deve conter: título; nome completo do(s) autor(es); breve currículo do(s) autor(es) abaixo do nome; e-mail do(s) autor(es); resumo e tradução; palavras-chave e tradução; introdução; revisão da literatura; desenvolvimento; discussão; considerações ou conclusão; anexos e/ou apêndices; bibliografia.
ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO / PESQUISA / ESTUDO DE CASO CLÍNICO A investigação, pesquisa ou caso clínico pouco ou nada difere do artigo científico, mas deve estar centrado principalmente na descrição das bases metodológicas e resultados. Pode conter até no máximo 5.000 palavras, incluindo referências bibliográficas e notas de rodapé. Deve, obrigatoriamente, possuir resumo com no máximo 500 palavras e 5 palavras-chave; e também resumo e as palavras-chave escritos em uma língua estrangeira (espanhol ou inglês). A estrutura desse texto deve conter: título; nome completo do(s) autor(es); breve currículo do(s) autor(es) abaixo do nome; e-mail do(s) autor(es); resumo e tradução; palavras-chave e tradução; introdução; revisão da literatura; desenvolvimento; resultados; discussão dos resultados; conclusão; anexos e/ou apêndices; bibliografia.
ENSAIO Nesta categoria estão incluídos textos literários breves, situados entre o poético e o didático, que exponha ideias, críticas e reflexões éticas e/ou filosóficas a res-
peito de certo tema; ou ainda, que defenda um ponto de vista pessoal ou coletivo, subjetivo, sobre temas afins, consoante à finalidade da SBOO e ao que a Optometria em Revista propõe. Pode ser menos formal e mais flexível. Deve ter no máximo 3.000 palavras, incluído referências bibliográficas e notas de rodapé se houver. Não precisa de resumo, nem de palavras-chave. Pode ser escrito por até três autores também. Deve conter: título; nome completo do(s) autor(es); breve currículo do(s) autor(es) abaixo do nome; e-mail do(s) autor(es). Sua estrutura deve seguir a linha de raciocínio de: introdução, exposição/argumentação/fundamentação, e conclusão. A inclusão de tópicos ou subdivisões no texto é opcional.
RESUMO / RESENHA Nesta categoria estão inseridos os resumos de monografias, dissertações e teses, bem como resenhas de livros. Deve conter até 3.000 palavras, incluído referências bibliográficas e notas de rodapé. A estrutura do resumo ou resenha deve conter: título; nome completo do autor do resumo/ resenha; e-mail do autor do resumo/resenha; dados catalográficos da obra e de seu autor (autor da obra; título; subtítulo; editora; local de publicação; ano da obra; volume; coleção; instituição responsável pela publicação; número de páginas; idioma; dados catalográficos) conteúdo da obra; opiniões (no caso da resenha) e considerações.
TRANSCRIÇÃO / REPRODUÇÃO São transcrições ou reproduções de palestras, fóruns, seminários, congressos, conferências sobre certo tema que tenha relação com a Saúde visual. Podem ser comentadas ou não, com até 3.000 palavras. Deve ter a autorização do autor. Em sua estrutura deve conter: título; subtítulo; nome completo do transcritor/ reprodutor; e-mail para contato; dados sobre o evento e seu autor transcrito; local e data onde ocorreu o evento; conteúdo abordado.
ENTREVISTA Esta categoria de texto está reservada apenas para a SBOO, a qual poderá publicar entrevistas com o objetivo de informar, esclarecer, fazer conhecer certo tema e autor, apresentando as credenciais e propondo perguntas. Poderá conter até 2.000 palavras.
NORMAS / PROCEDIMENTOS Esta categoria de texto também está reservada à SBOO. São textos relacionados à normalização de conduta e procedimentos que envolvem os profissionais da ótica e da optometria, observada a finalidade estatutária da SBOO e o que lhe é direito.
ESPECIFICAÇÕES PARA APRESENTAÇÃO DO TEXTO O texto a ser enviado deve ser produzido em página de formato A4, em editor compatível com o Word for Windows, em uma única coluna, com margem superior e esquerda de 3,0 cm, e inferior e direita de 2,0 cm. A fonte deve ser Calibri, de ta-
manho 11. O espaçamento entre as linhas deve ser de 1,5 cm, e entre os parágrafos deve haver espaçamento de 6 pontos. O recuo da primeira linha do parágrafo deve ser de 1,25 cm, e os parágrafos devem ter alinhamento justificado. Não deve haver numeração de páginas. O trabalho pode ter tantas seções quantas forem necessárias. Os títulos das seções devem vir em negrito, e devem trazer apenas a primeira inicial em letra maiúscula. As notas de rodapé devem vir no corpo do texto e não podem consistir em simples referências bibliográficas, segundo o padrão da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. As notas de fim devem vir no corpo do texto indicando as referências bibliográficas. As referências bibliográficas devem constar no final do trabalho, também segundo o padrão da ABNT, e devem estar em ordem alfabética de sobrenome. Os gráficos, quadros, tabelas e figuras devem ser encaminhadas no corpo do texto e em arquivos em separado, numerados e titulados corretamente, com a devida referência (se produzidos de outra fonte) e com a indicação do local de sua inserção no texto. As imagens devem constar em arquivos com resolução de, no mínimo, 300 dpi, de maneira a permitir sua reprodução direta. As URLs para as referências bibliográficas devem ser devidamente informadas quando neces-
sário. As citações devem acompanhar o padrão da ABNT (NBR 10520). Citações diretas curtas, de até 3 linhas, devem vir isoladas por aspas duplas e devem vir incorporadas ao parágrafo, em fonte normal. Citações diretas longas, de mais de 3 linhas, são apresentadas em parágrafo isolado, utilizando-se recuo de margem à esquerda de 4 cm , com a mesma fonte, de corpo tamanho 9, sem as aspas. Exemplo de citação direta curta (de até 3 linhas): O profissional que é desenhado é mediador que atua “nos processos constitutivos da cidadania dos alunos, para o que concorre a superação do fracasso e das desigualdades escolares” (PIMENTA, 2000, p. 35) Exemplo de citação direta longa (com mais de 3 linhas): A ênfase na tecnologia e inovação não significa, pelo menos no discurso oficial, o menosprezo à ciência. De acordo com Cylon Gonçalves da Silva, um dos coordenadores do documento,
a razão desta escolha prendese à percepção de que o grande desafio, hoje, reside mais na necessidade de incrementar a capacidade de inovar e de transformar conhecimento em riqueza para a sociedade brasileira como um todo, do que no potencial do sistema de C&T brasileiro para gerar novos conhecimentos (SILVA; MELO, 2001, p. xvi)
Em todos os casos, o sistema de chamada é o autor-data, em que a referência à fonte do original no corpo do texto é feita pelo sobrenome do autor, em letras maiúsculas, seguido do ano de publicação e da página, entre parênteses, após a citação literal. As referências bibliográficas devem ser feitas ao final do texto (e não em nota de rodapé), em uma seção própria, intitulada “Referências”. As referências bibliográficas devem vir em ordem alfabética, em espaçamento simples, e devem acompanhar o padrão da ABNT (NBR6023), conforme os exemplos: a) De monografias em geral, consideradas no todo: MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Trad. Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. b) Partes de monografia DAVIES, Nicholas. Desvendando o orçamento da educação. In: ______ .O Fundef e as verbas da educação. Prefácio de João dos Reis Silva. São Paulo: Xamã, 2001. p. 49-92. MOURA, Maria Cecília de. Compreendendo a surdez: um caminho possível. In: MASINI, Elcie F. Salzano (Org.). Do sentido... pelos sentidos... para o sentido. Niterói: Intertexto; São Paulo: Vetor, 2002. p. 193-200. c) Documentos eletrônicos OLIVA, Filipe Pereira. Do braille à braillologia: necessidade de formação braillológica. Lisboa: Comissão de Braille, 2000. Disponível em: <http://www.lerparaver.com.br/braille_braillologia. html>. Acesso em: 18 maio 2002.
ACEITAÇÃO DOS TEXTOS A pertinência dos textos enviados para publicação será avaliada pela Comissão Editorial da Optometria em Revista no que diz respeito à sua relevância e adequação ao perfil e linha editorial da Revista, e por características ad hoc (conhecimento específico) no que se refere ao conteúdo e qualidade das contribuições. Os textos deverão ser enviados para o e-mail optometriaemrevista@ sboo.org.br, e devem ir acompanhados de carta na qual se outorga permissão para reproduzir o texto. Os comentários e opiniões expressadas nos textos serão de responsabilidade dos autores. A carta deve conter os seguintes aspectos: 1. Todos os autores estão de acordo com o conteúdo, a organização e a forma de apresentação do texto. 2. O texto nunca foi publicado, não foi enviado nem será enviado para publicação em outra revista nacional ou internacional, enquanto se encontrar em revisão pela Comissão Editorial de Optometria em Revista. 3. Os autores não possuem conflitos de interesses. Com a publicação da Revista, a autoria do trabalho será informada de sua publicação por e-mail. O envio de trabalhos originais implica na cessão automática de direitos autorais e de publicação à revista. Para maiores informações consultar a Comissão Editorial da Optometria em Revista junto à SBOO.