Revista A/O | Ed. 01 - Dez. 2015

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APRESENTAÇÃO A moda é uma forma de expressar a personalidade individual. Para as crianças não é diferente. Desde muito tempo na história da humanidade, as crianças são vestidas pelos seus pais, levando em conta sua praticidade da escolha e de locomoção. A partir da Revolução Industrial, a moda infantil passou a ter influência do marketing para a distinção de gênero, o que acarreta em problemáticas futuras, onde o indivíduo se vê mais distante da imagem de pessoa, e passa a distinguir tudo e todos pelo sexo. A Revista A/O, feita pelos acadêmicos Mauricio Rodrigues e Vitor Abreu, para a disciplina de Metodologia de Projeto, na segunda fase do curso de Design Bacharelado, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), visa trazer informações básicas do que é se vestir no século XXI. A necessidade da informação no cotidiano de quem cria uma criança, faz com que a forma de educação seja diferente. Uma convivência com menos distinção de gênero desde a infância, fará com que os futuros adultos sejam mais passíveis e que criem mais respeito pelo o que é diferente do eu.

ÍNDICE Hora da Aventura: Uma conversa sobre gênero | Menino estrela comercial da Barbie | Alter Ego | Educação de gênero | O sexismo limita as crianças |

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HORA DA AVENTURA

UMA CONVERSA SOBRE GÊNERO Uma das animações seriadas de maior sucesso atualmente é Hora de Aventura. Esse seriado animado traz algo muito bacana em meio à sua trama. Um dos personagens, o Rei Gelado é autor de um Fanzine, história em quadrinhos feita por um fã desse gênero textual por puro prazer. Nesse fanzine, todo o universo apresentado na série tem gêneros trocados; obviamente, as personagens masculinas se tornam femininas e as personagens femininas, masculinas. E as crianças - e vários adultos fãs da série adoram! Compreendem que é um universo diferente do que elas estão acostumadas e que nesse universo o Finn - o herói da série - não é mais Finn, é Fiona. Logo, assim a chamam, compreendem também que Fiona sempre fora mulher, embora sua base inicial tenha sido Finn. Além disso, compreendem que Fiona, uma garota, tem tanta força, garra, heroísmo e sonhos quanto tem Finn. Não é preciso mencionar que crianças têm preconceitos devido à reprodução social do meio em que vivem, ou seja, reproduzem conceitos transmitidos pelos pais e seus educadores. Inclusive, várias das medidas socio-educativas são tomadas através de mudanças e campanhas na educação. Foi e ainda é assim com os negros e as mulheres, por exemplo. Afinal, antes não era compreensivo negros frequentando a mesma igreja que outros grupos étnicos, ou as mesmas escolas e, ainda, o pejorativo discurso

era de que se envolver com negros era ruim, pois se criaria uma geração inteira de mulatos. Mas olha só, negro é gente! Depois, as mulheres foram rechaçadas quando começaram a impôr seus pensamentos e revindicar uma posição na sociedade. Escolas separadas, trabalhos direcionados só para mulheres e esteriótipos pejorativos circulavam pela mídia. Mas, mesmo com esses dois exemplos, hoje a maior parte das crianças e adolescentes crescem entendendo que negros e mulheres são seres humanos e precisam estar presentes em nossa sociedade, logo, desempenham papeis sociais importantes para a formação e evolução coletiva. Tudo isso graças à educação e a mídia, que se envolveram e se envolvem em prol de uma evolução humana em coletividade. Salvo que ainda existem os preconceitos com esses e outros grupos, mas advindos do âmbito familiar, ou de grupos conservadores extremos, o que foge da evolução da sociedade vista como um todo. Ainda vale lembrar que toda a sociedade em total acordo é uma utopia - bonita! O que chamam de ideologia de gênero - e que outros chamam de 'câncer social' - e que pode ser anexada nos currículos escolares é divulgado de maneira sensacionalista e pejorativa, devido às crenças e desejos pessoais de certos grupos, com a intenção de desmerecer um trabalho que pode ajudar na construção de uma sociedade civil mais tolerante.

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A ideia mais pregada é a de que as crianças serão ensinadas a não se importarem com seu sexo, que frequentarão o mesmo banheiro e serão induzidas e/ou confundidas em relação a conformidade com seu gênero. O que é um erro! A ideia de se discutir o que chamam de ideologia de gênero em escolas é desmitificar o universo LGBT e reforçar a igualdade social dos gêneros, fazendo com que crianças e adolescentes aceitem melhor o grupo citado. Além de orientar melhor pessoas trans e gays em sua fase púbere. Afinal, é importante lembrar que ser gay ou lésbica independe da identidade de gênero. Ou seja, uma pessoa trans - seja ela trans-homem, ou trans-mulher - pode ser gay ou lésbica. Assim, uma educação que oriente adolescentes a entenderem que o gay não quer ser mulher e nem a lésbica quer ser homem, e que orienta adolescentes a entenderem que a pessoa trans nasce fisicamente com um

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sexo, mas mentalmente se reconhece como do sexo oposto, fará com que a criança compreenda o que ela compreende assistindo Hora de Aventura: A Fiona sempre fora mulher, embora sua base tenha sido o Finn. E ajudará adolescentes gays e trans a se compreenderem melhor, a buscarem uma orientação mais apropriada para o que têm vivido. Existem dois gêneros comuns, o masculino e o feminino. As pessoas nascem fisicamente de uma forma, mas algumas, mentalmente, não correspondem ao seu corpo físico. Isso nada interfere no seu posicionamento sexual: se é gay, lésbica, bissexual ou heterossexual. Uma mulher trans pode ser lésbica ou bi, como qualquer outra mulher. Assim como um homem trans pode ser gay ou bi, como qualquer outro homem. Além disso, a discussão de gênero reforçará o que a Fiona também reforça em Hora de Aventura, que é o papel da mulher como um ser

humano tão igualmente capaz e livre para mudar o mundo quanto o homem é. Embora a mulher esteja introjetada na sociedade, quando olhamos com atenção, ainda há misoginia pra todo o lado. E toda a misoginia, todo preconceito com LGBTs e com a ideia de esclarecer gêneros e sexualidades às crianças e adolescentes, são praticados por adultos. Pois as crianças e adolescentes recebem as diferenças com tolerância e entendem melhor do que os adultos que respeitar as diferenças não as influenciará a viver como se vivem os grupos dos quais elas não fazem parte. As crianças crescem rodeadas de heróis como Finn e Fiona, que as ensinam de diversas maneiras como tornar o mundo menos hostil. É uma pena que muitos adultos matem-nos! http://goo.gl/2m5x8O


UM MENINO É ESTRELA DO NOVO COMERCIAL DA BARBIE! Em uma parceria com a marca Moschino, a Mattel lançou uma nova Barbie. Com acessórios da grife italiana, a boneca vem em diferentes modelos, que se esgotaram nas lojas poucas horas após o lançamento, segundo o siteHollywood Reporter. Mas o destaque do novo brinquedo é o comercial que o anuncia: nele, duas meninas e um menino brincam com suas Barbies. É a primeira vez que um garoto aparece em uma propaganda da boneca de Malibu, mostrando que brincar de boneca também é coisa de menino. A Mattel tem tentado mudar a imagem da Barbie em seus comerciais. Recentemente, a marca fez uma propaganda na qual meninas apareciam em cargos de poder, de acordo com o que gostariam de ser. No divertido comer-

cial, meninas aparecem no papel de professora, médica, executiva e até técnica de futebol, com um plot twist no final. É uma forma simpática de dizer que Barbie também é capaz de empoderar as garotas, permitindo que elas escolham que papéis desejam desempenhar. As próprias atrizes mirins que participaram do vídeo é que escolherem que profissão gostariam de interpretar. O conceito “You can be anything” deve ser estendido para diversas plataformas e conteúdos de Barbie nos próximos meses, inclusive com ações regionalizadas. http://goo.gl/Uyi2f2 | http://goo.gl/W3PhgD

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Lola veste uma jaqueta militar, Stella McCartney Kids. Um top, Bobo Choses. Uma calรงa listrada, Mini Boden. Cole usa uma jaqueta militar, Stella McCartney Kids. Um top, Bobo Choses. Uma calรงa listrada, Molo.

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Lola veste um mai么, Bobo Choses. Um jeans, Little Remix. Cole veste uma camiseta, Bobo Choses. Um jeans, Lee.

SET DESIGN: ANGUS MACINHES, SAM WINDETT ET CAROLYN TRANT ASSISTENTE DE FOTOS: HARRIEY TURNEY ASSISTENTE DE ESTILO: ANNA MORRIS MODELOS: COLE, MALIK @URBANANGELS: EDIE, ESME @KIDSOFLONDON: CHARLIE @BRUCEANDBROWN: ALESSIA @GRACIA&GALOR: LOLA, BETTIE, JOSEPH @LOLJOHNSON: CHARLIE @HARFLEET. UM GRANDE OBRIGADO LOL JOHNSON ET WILL DANIELS POR CEDER SUA BELA CASA. Fotos retiradas da Milk Magazine, Ed. 48.

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Joseph veste uma camisa, Billy Bandit. Calรงas listradas, Wolf & Rita. Botas de estampa de leopardo, Chapter 2. Bettie vestindo uma camisa, Billy Bandit. Uma saia listrada, Wolf & Rita. Meias, H&M. Botas de estampa de leopardo, Chapter 2.

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Bette veste uma camisa listrada, Wolf & Rita. Uma saia com estampa de peixes, Mini Rodini. Joseph está vestindo uma camisa listrada, Wolf & Rita. Uma calça com estempa de peixes, Mini Rodini. Botas de couro polonês, Dr. Martens. Lola usa um colar de couro, Rokit. Um conjunto, Little Remix. Um colar de couro, Rokit. Um jeans, Lee. Tênis, Converse.

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Charlie veste uma camisa de brim, Flying Horse. Um rel贸gio, Ben Sherman. Edie est谩 vestindo uma camisa de brim, Little Remix. Uma tatuagem de rel贸gio, Tiger. Em esmalte branco, Topshop.

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Edie veste uma regata, River Island. Uma saia longa e meias, American Apparel. Mocassins de couro, River Island. Charlie usa uma camisa de gola alta, American Apaparel.

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Esme usa um vestido, No Added Sugar. Meias, H&M. Charlie usa uma camisa, No Added Sugar. Uma jardineira jeans, Ralph Lauren.

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EDUCAÇÃO DE

GÊNERO Por um ensino sem “coisa de menina” e “coisa de menino”

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A escola tem que acreditar que pode ser parceira da família. Você não vence o preconceito de uma hora pra outra. Eleutéria Amora da Silva – Casa da Mulher Trabalhadora para o portal Terra

Ouvir que “meninas são melhores nisso” e “meninos são melhores naquilo” é um desestímulo para as crianças, fazendo com que elas percam o interesse por determinadas matérias.

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A proposição de que ainda existe sexismo atualmente é rechaçada pela maioria das pessoas – e, no entanto, quem já não ouviu que “meninos são mais agitados”, “meninas são organizadas e caprichosas” ou que determinadas brincadeiras são mais apropriadas para determinado gênero? Falas como essa contêm um preconceito velado que costuma ser repassado sem que os adultos tenham consciência do que estão propagando. Pesquisas já mostraram que o sistema educacional é um fator relevante no estabelecimento de uma ordem social – que pode, inclusive, já estar obsoleta. Por isso, é preciso cuidado na hora de dar instruções aparentemente inofensivas às crianças. “Nós fazemos perguntas simples, como por que separar meninos de meninas em algumas atividades, e ninguém sabe responder. As meninas precisam ser protegidas? Os meninos são incontroláveis? São coisas simples, mas os profissionais de sala de aula não se dão conta” contou Eleutéria Amora da Silva ao portal de notícias Terra (veja notícia completa abaixo). Eleutéria é professora de história e coordenadora geral da Casa da Mulher Trabalhadora, uma instituição que defende a educação não sexista. Declarar alguns esportes como “masculinos” – o futebol, por exemplo, sempre muito ligado à virilidade dos alunos – é uma forma silenciosa de julgar as meninas incapazes nas atividades motoras. O caminho

Mesmo em áreas com predominância feminina, como saúde e educação, a remuneração das mulheres ainda é inferior a dos homens.

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inverso também ocorre: o carinho, o cuidado e a linguagem são tidos como áreas tipicamente femininas. Isso se reflete nos resultados das crianças e em seu desenvolvimento adulto. Em 2014, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) constatou que as meninas apresentam um desempenho inferior em matemática quando comparadas aos garotos da mesma série – e que isso se deve principalmente à falta de confiança que elas possuem em si mesmas em relação aos números. Em geral, eles ficaram na frente por uma diferença de 11 pontos, o equivalente a três meses de aula. Enquanto isso, as garotas se destacaram na leitura, com 38 pontos a mais (quase um ano escolar inteiro) do que os colegas. Fica claro que as crianças crescem para se tornar aquilo que se espera delas, e agarram-se a esses rótulos como um modelo a ser seguido. Marília Pinto de Carvalho, professora e membro do Grupo de Estudos de Gênero, Educação e Cultura Sexual da USP, disse à revista Educar para Crescer: “os meninos são socializados para serem mais desobedientes e agitados, é o perfil de gênero que se espera deles”. Se o discurso não fosse repetido insistentemente, talvez o comportamento fosse outro.


DA ESCOLA PARA VIDA ADULTA

Justamente por causa do tratamento diferenciado e suas consequências durante a idade escolar, há nichos profissionais totalmente dominados por um ou outro sexo. Segundo a Associação Brasileira de Enfermagem, a vasta maioria dos trabalhadores da área, por exemplo, é composta por mulheres – dos 2 milhões totais de enfermeiros contabilizados em 2011, 1.4 milhão (ou 87%) eram mulheres. O efeito é reverso nos cursos ligados à engenharia: em 2012, apenas 23% dos formados eram do sexo feminino, de acordo com a Associação Brasileira de Educação em Engenharia. Elas também são minoria em cargos de chefia e sofrem com a disparidade de salários. Exercendo funções iguais, uma mulher recebe cerca de 70% do pagamento que um homem receberia por hora – e a desigualdade salarial cresce proporcionalmente ao nível da posição ocupada; ou seja, a diferença de rendimento entre gerentes é maior que entre funcionários. Além disso, as tarefas domésticas continuam sendo majoritariamente femininas. O IBGE confirmou que as mulheres dedicam 20.8 horas ao serviço de casa por semana. Para os homens, no entanto, esse total não passa de 10.

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UMA NOVA ABORDAGEM

Para evitar que tais atitudes se perpetuem e garantir uma criação mais livre, é preciso reformular alguns hábitos já intrincados à nossa sociedade. “Para a construção de uma sociedade baseada na igualdade precisamos que esse princípio seja inserido na educação, tanto na escola quanto em casa. A educação tem o poder de ajudar a mudar os valores de uma sociedade”, afirmou a ministra-chefe da Secretaria de políticas para as Mulheres, para a revista Educar para Crescer. E isso vai desde o ensino no ambiente escolar até a educação em casa – por isso, é essencial que a instituição mantenha diálogo com as famílias sobre a importância da igualdade de gênero e da abordagem não sexista. A princípio, é preciso oferecer um leque amplo de opções para os alunos quanto aos seus interesses e brincadeiras. Não é obrigatório que um menino brinque de boneca se ele não mostrar vontade de fazê-lo, mas, caso ele tenha a iniciativa, isso deve ser estimulado. Afinal, ele também pode optar por ser pai, no futuro, e está apenas imitando a realidade. Brincar de casinha é uma ótima prática para se iniciar uma discussão sobre o trabalho doméstico – se ambos convivem juntos, por que uma pessoa cuida mais do que a outra? Como todos podem ajudar? Educadores devem lembrar que, durante a infância e a adolescência, as crianças ainda estão em processo de formação – e isso inclui sua sexualidade. Catalogar objetos, cores, roupas como “para meninos” e “para meninas” acaba por gerar uma distorção na compreensão da realidade dos pequenos. Mesmo maquiagens e vestidos não precisam ser banidos entre os garotos: é comum usar da fantasia e dos personagens para superar si-

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tuações reais, assim como usar batom ou esmalte pode ser uma expressão artística. Isso não irá “transformar” a criança em hétero ou homossexual – essa será uma descoberta que ela fará no futuro, sem qualquer relação com os brinquedos que utilizou quando menor. O saudável é permitir que ela explore suas alternativas sem julgamento. “Os pais devem saber entender e estimular as escolhas dos filhos”, diz Quezia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia. A mudança não passa somente pelo âmbito da ficção: com a família, as crianças devem dividir responsabilidades desde cedo, independentemente do sexo. “Não é para o menino ir jogar futebol enquanto a menina ajuda a mãe na cozinha”, explica a ministra, “ambos devem ajudar na cozinha e ambos podem jogar futebol”. Outro cuidado a ser tomado é quanto à linguagem empregada pelos adultos. As crianças aprendem pelo exemplo e replicam atitudes que observam nos pais e professores. Portanto, expressões como “gay”, “de mulherzinha” ou “como uma menina” não devem ser utilizadas com sentido pejorativo ou como xingamento. Caso ouça alguma delas entre os alunos, o professor pode organizar uma conversa em grupo para esclarecer o porquê de isso ser um preconceito – mulheres e homossexuais são pessoas como qualquer outra, não um motivo de vergonha, e devem ser respeitados. http://goo.gl/MfjrUP


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COMO DESCOBRIR SE UM BRINQUEDO É PARA MENINOS OU MENINAS

PARA BRINCAR, PRECISA USAR OS ÓRGÃOS GENITAIS?

SIM

NÃO

NÃO É BRINQUEDO DE CRIANÇA

É PARA AMBOS OS SEXOS

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“O SEXISMO LIMITA AS CRIANÇAS” diz psicólogo e autor de livros sobre gênero

Autor do best-seller Criando Meninos (1997), traduzido para 32 idiomas e com 4 milhões de exemplares vendidos, Steve Biddulph acaba de lançar, no Brasil, Criando Meninas. O psicólogo radicado na Austrália repassa as diferentes etapas da infância e da adolescência e chama a atenção dos pais para aspectos fundamentais do desenvolvimento do sexo feminino. – O principal objetivo dos meus livros é acabar com o sexismo. Temos de libertar as crianças desses limites ultrapassados – comenta o escritor. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida por e-mail. Quais são as principais diferenças na criação de meninas e meninos? Como essas distinções podem impactar na vida adulta? Não são grandes, mas ainda importam muito. Para criar uma sociedade igualitária, temos de trabalhar para reduzir os efeitos dessas diferenças. Por exemplo, meninas são muito receptivas ao contato, percebem os sentimentos das pessoas – então, temos de nos certificar de que elas não se acostumem a sempre agradar aos outros, ou que não se tornem muito sensíveis e preocupadas com a opinião alheia. Temos de fortalecê-las. Meninos desenvolvem mais devagar as habilidades manuais e com as palavras. Temos de ser mais pacientes para ajudá-los, e não empurrá-los para a escola e querer que se tornem tão jeitosos quanto as meninas. Os principais fatores de risco para meninos são violência, morte prematura por acidente de trânsito e crimes. Eles correm um risco três vezes maior de morrer, e nove vezes maior de ir para a cadeia. Os maiores fatores de perigo para meninas são ansiedade e depressão, transtornos alimentares e exploração e agressão sexual. Especialmente no Brasil, acredito que ainda precisamos de muito feminismo para que as mulheres acreditem nelas mesmas e para que os homens as respeitem. Temos um longo caminho pela frente no mundo todo.

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Os pais tendem a proteger mais as filhas do que os filhos. Essa é uma atitude boa ou ruim, considerando os adultos que eles se tornarão no futuro? Temos de educar as meninas para serem fortes e ensiná-las a se proteger. Um adulto se protege, sabe que existem pessoas más e perigosas. Mas não queremos assustar as crianças quando são tão novinhas. É importante respeitar a faixa etária e protegê-las quando são pequenas, protegê-las menos quando vão crescendo, e dar às meninas as ferramentas para que aprendam a circular entre meninos e homens, no sentido prático também. Que diferenças devem ser mantidas na criação dos dois sexos? Eu não diria que devemos preservar ou estimular diferenças, mas, sim, acrescentar o que estiver faltando. Queremos as mesmas coisas para todas as crianças: que sejam íntegras, tenham um bom coração. A natureza provê as diferenças, mas temos de equilibrá-las. O mundo moderno exige que homens e mulheres tenham as mesmas habilidades, o máximo possível. Muitos pais reproduzem comportamentos há décadas: meninas usam vestidos cor-de-rosa, meninos brincam com carrinhos, meninas ajudam a mãe com as tarefas da cozinha, meninos auxiliam o pai a consertar algo no quintal no final de semana. As pessoas deveriam refletir mais sobre isso? O principal objetivo dos meus livros é acabar com o sexismo. Isso limita as crianças. E se um menino é mais amável e gentil e quiser ter uma boneca? É algo bom, ele se tornará um pai melhor. E toda menina deveria ser estimulada a se sujar, a brincar no barro, a subir em árvores, para que seja menos medrosa e ame a natureza. Ela pode se tornar uma grande cientista, artista, atleta. Temos de libertar as crianças desses limites ultrapassados.

Sua carreira esteve focada no universo masculino por mais de 20 anos. Você diz que os meninos precisavam desesperadamente de ajuda, enquanto as meninas estavam indo muito bem. Por quê? Os meninos corriam perigo – além do risco maior de morte, também o risco de fracassar na escola e profissionalmente. O cenário de crimes e abuso de drogas era dominado pelos homens. Havia uma crise masculina que estávamos simplesmente aceitando. Há oito anos, a saúde mental das meninas começou a se deteriorar de maneira severa. Era uma combinação de pressão corporativa, roupas de marcas famosas e dietas para meninas cada vez mais jovens, ausência das mães e de outras figuras femininas. Elas estavam desamparadas, tinham apenas a orientação do grupo da mesma idade, que é naturalmente competitivo e cruel. Uma em cada cinco meninas hoje tem um problema psicológico, e uma em cada 12 sofre de um distúrbio alimentar. É muito sério. http://goo.gl/nGaumv

Criando Meninas Steve Biddulph 236 páginas Editora Fundamento R$ 39,40 Criando Meninos Steve Biddulph 168 páginas Editora Fundamento R$ 39,40

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http://sexismoinfantil.esy.es/

Para conhecer todo o processo de desenvolvimento da revista e ainda ter acesso a vers達o digital desta, acesse:

SEXISMOINFANTIL.ESY.ESS


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