Caderno Festival de Cinema de Vitória - Dira Paes

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Dira Paes

HOMENAGEADA NACIONAL

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MinistĂŠrio da Cultura Apresenta

Dira Paes

Homenageada Nacional VitĂłria - ES, novembro de 2016



A história do cinema brasileiro das últimas três décadas reserva, sem dúvida, um lugar de destaque para o trabalho de Dira Paes. Dona de papéis inesquecíveis no cinema, no teatro e na televisão, a artista é a grande homenageada do 23º Festival de Cinema de Vitória. Foi aos 15 anos que ela, pela primeira vez, esteve em um set de cinema, atuando na produção britânica A Floresta das Esmeraldas, de John Boorman. De lá pra cá, integrou o elenco de aproximadamente 40 filmes e outros 15 trabalhos na televisão, o que lhe rendeu cerca de 30 prêmios. Com mais de 30 anos de carreira, essa paraense conquistou o coração do público brasileiro com interpretações cômicas e dramáticas, emprestando sua beleza mestiça e seu carisma a personagens marcantes, como a cangaceira Dadá no filme Corisco e Dadá, de Rosemberg Cariry, ou a ingênua e engraçada Solineuza, do seriado A diarista. Graças ao seu talento e à sua versatilidade, Dira já foi dirigida por grandes nomes do cinema nacional, a exemplo de Cláudio Assis, Silvio Tendler, Sérgio Silva, Walter Lima Júnior, Jorge Furtado, Breno Silveira, Alvarina Souza Silva, Betse de Paula, entre outros. Interpretando personagens bem diversos, sempre foi em busca de boas histórias sem se importar em ir aonde elas estivessem. Espelhando-nos nessa trajetória, é com muito orgulho que prestamos homenagem à mulher, mãe e atriz maravilhosa Dira Paes! Lucia Caus Diretora do 22º Festival de Cinema de Vitória



Sumário Apresentação · 9 Uma infância compartilhada · 15 Um teatro espaçado · 25 Uma atriz de cinema · 33 Uma querida na TV · 47 Trabalhos e prêmios · 53 Depoimentos · 69 Legendas e créditos das imagens · 77



Apresentação

Dirigida por importantes diretores brasileiros do cinema, teatro e televisão, Dira Paes construiu uma carreira diversificada que se confunde, em certa medida, com o chamado cinema de retomada, interpretou personagens dramáticos e cômicos que povoam o nosso imaginário cinematográfico e participou de trabalhos junto a importantes nomes da dramaturgia nacional. Foi graças à sua perspicácia e inteligência que ganhou o papel de Kachiri, seu primeiro personagem na telona no longa-metragem britânico The Emerald Forest, de John Boorman, em 1985. Até então, Dira só havia interpretado na escola e não pensava em ser atriz. A personagem que é um marco de sua carreira no cinema foi a cangaceira Dadá em Corisco & Dadá, de Rosemberg Cariry, em 1996, filme também protagonizado por Chico Diaz no papel de Corisco, ator com o qual irá contracenar em outros trabalhos, entre eles, o filme seguinte de Rosemberg Cariry: Lua Cambará, Nas Escadarias Palácio (2002). Em 1992, integrou o elenco da peça Capitães da Areia, uma adaptação do texto de Jorge Amado com direção de Roberto Bomtempo. Também atuou nas montagens de O Capataz de Salema, direção de Sérgio Mamberti (1997); de O Avarento, direção de Amir Haddad (2000); de Meu Destino é Pecar, direção de Gilberto Gawronski (2002); de Caderno de Memórias, direção de Moacyr Góes (2010); e de Caligrafia de Dona Sofia, direção de Luciana Buarque (2014). Na década de 1990, ainda participou dos filmes Anahy de las Misiones, direção de Sérgio Silva; Lendas Amazônicas, de Ronaldo Passarinho Filho e Moisés Magalhães; e Castro Alves – Retrato Falado do Poeta, de Silvio Tendler. Em comédias, atuou para dois filmes da Betse de Paula: O Casamento de Louise (2001) e Celeste & Estrela (2005). Ainda no gênero cômico, também integrou o elenco de Ó Paí, Ó, de Monique Gardenberg; e A Grande Família – O Filme, de Maurício Farias, ambas de 2005. Também participou de dois filmes do pernambucano Cláudio Assis: Amarelo Manga (2002) e Baixio das Bestas (2006). Sob a direção do gaúcho Jorge Furtado atuou no longa-metragem Meu Tio Matou um Cara (2004) e no curta Até a Vista (2011).

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2004 foi o ano em que estreou o trabalho no cinema de maior repercussão pública para Dira: a cinebiografia 2 Filhos de Francisco, de Breno Silveira, obra que está na lista das dez maiores bilheterias do cinema brasileiro. Sob a direção de Breno Silveira também atuou em À Beira do Caminho, trabalho que lhe rendeu a premiação de Melhor Atriz do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 2013. Ainda estão em seu currículo A Festa da Menina Morta, de Matheus Nachtergaele (2002); Estamos Juntos, de Toni Venturi (2011); Sudoeste, de Eduardo Nunes (2011); Encantados, de Tizuka Yamazaki (2014), O Segredo dos Diamantes, de Helvécio Ratton (2014), Os Amigos, de Lina Chamie (2015) e Órfãos do Eldorado, de Guilherme Coelho (2015). Sua última participação na telona foi em Redemoinho, filme de José Luiz Villarim lançado no Festival do Rio deste ano. Foi na TV Globo onde construiu, majoritariamente, sua carreira na televisão. Porém sua estreia na telinha se deu na TV Bandeirantes em 1986 com a minissérie Carne de Sol. Quatro anos depois, atuou em seu trabalho inaugural na TV Globo em Araponga, novela de Dias Gomes. Em 1995, interpretou Potira na novela Irmãos Coragem, e, em 1999, foi Palmira na novela A Força de Um Desejo.

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Em 2003, voltou à telinha como Solineuza no seriado A Diarista. Graças a esse trabalho recebeu prêmio de Melhor Humor na TV pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Atuou na minissérie Um Só Coração (2004) e na série Casos e Acasos (2008). Em 2009, ela estreou em horário nobre como a popular Norminha em Caminho das Índias, novela de Glória Perez, trabalho que também rendeu alguns prêmios. Em 2010, atuou na novela Ti Ti Ti, dirigida por Jorge Fernando, e, no ano seguinte, em Fina Estampa, obra de Agnaldo Silva. Em 2012, viveu a batalhadora Lucimar Ribeiro na novela Salve Jorge. Em 2014, atuou sob a direção de Luiz Villamarim em dois trabalhos: na minissérie Amores Roubados e na novela O Rebu. Seu último trabalho na televisão foi como a professora Beatriz na novela Velho Chico, folhetim que foi ao ar de março até setembro deste ano. Nesta novela, ela fez par romântico com Irandhir Santos, ator e parceiro em outros trabalhos no cinema.


“Minha vida sempre foi rodeada de muita gente, experimentei pouco essa questão de exclusividade que as pessoas têm como, por exemplo, ter o seu próprio quarto. Eu me criei muito nesse ambiente onde tudo era compartilhado com os meus irmãos”.


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Uma infância compartilhada Ecleidira Maria Fonseca Paes, Dira Paes, nasceu no alvorecer do dia 30 de junho de 1969 em Abaetetuba, município do nordeste paraense. Seu parto foi feito pela prima mais velha, que na época tinha 16 anos. Seu pai, Edir Paes, havia ido em busca da parteira, mas não chegou a tempo. Sua mãe, Dona Florzinha, foi quem orientou a adolescente durante o próprio trabalho de parto. E Dira nasceu. “Ela ficou uns 20 minutos esperando para cortar o cordão umbilical. Tive aquela transição da respiração umbilical para atmosférica feita de uma maneira muito natural, eu na barriga dela”, relata a atriz. Seu pai, hoje já falecido, atuou na política no interior do Pará, trabalhou com torrefação de café e foi fiscal do Departamento de Estradas e Rodagens do Pará. Sua mãe se dividia entre os afazeres domésticos, os trabalhos como costureira e uma loja de roupas cearenses. A pequena Dira teve uma infância vivida entre Belém, uma cidade com uma vida cultural efervescente e diversa, e Abaetetuba, local de seus ancestrais e sua terra natal acidental, pois seus pais estavam por lá em um passeio de final de semana no dia de seu parto heroico. Uma vida passada entre as brincadeiras nos igarapés e o contato com referências europeias, especialmente francesas, que são bem presentes em Belém. Com residência no bairro de Batista Campos, Dira estudou no Colégio Marista Nossa Senhora do Nazaré. Nesse ambiente escolar, e junto com sua família, foi estimulada a ser pessoa solidária e preocupada com causas coletivas. “E eu sempre vi a minha mãe com essa atitude. Na minha casa sempre havia primos que estavam estudando ou pessoas que estavam precisando tirar documentação. Minha mãe sempre foi, e é assim até hoje, uma pessoa orientadora. Eu digo que ela é uma assistente social nata. Sempre desempenhou esse papel de fazer currículos, de tirar documentos e conseguir consultas. Essas coisas de quem ampara a quem não sabe por onde começar. Isso sempre esteve presente na nossa família”. Dira é a sexta filha de uma família de sete irmãos: quatro homens e três mulheres. “Minha vida sempre foi rodeada de muita gente,

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experimentei pouco essa questão de exclusividade que as pessoas têm como, por exemplo, ter o seu próprio quarto. Eu me criei muito nesse ambiente onde tudo era compartilhado com os meus irmãos que eram muito estudiosos, inteligentes e foram um exemplo pra mim”. Aos 15 anos, já falava inglês que havia aprendido graças a um de seus irmãos e, nessa idade, foi escalada para seu primeiro trabalho no cinema como a personagem Kachiri na produção britânica The Emerald Forest, de John Boorman.

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Em sua infância e adolescência, frequentou salas de cinema, mas sem muita assiduidade. Ela se recorda da impressionante imagem do mar se abrindo na versão americana de Os 10 Mandamentos, filme em cartaz, provavelmente, por ocasião da Semana Santa e que ela assistiu na companhia da mãe. Em suas memórias há também sessões de O Cangaceiro Trapalhão, de Daniel Filho, e de Flash Gordon, de Mike Hodges. Quanto a interpretar, até então Dira só havia experimentado fazer teatro enquanto uma atividade escolar. “Para não fazer as provas de literatura, preferia participar de pequenas montagens de teatro, mas não tinha nenhuma pretensão em me tornar atriz. Foi um professor de Artes meu que, depois de me assistir em uma peça de fim de ano, falou sobre uma seleção para o filme. Chegando lá, o José Possi Neto fez uma foto Polaroid minha, olhou pra mim e falou que eu tinha um rosto muito interessante. Daí, ligaram-me para fazer um teste às sete horas da manhã e eu falei ‘isso é hora de atriz fazer teste?’. Aí, fui. Tinha umas 300 ‘Diras’ candidatas! Pensei em ir embora, mas minha irmã insistiu ‘você me fizeste acordar cedo, agora vai ficar!’. O Boorman fez uma seleção visual e depois foi perguntando o nosso nome. Na minha vez, claro, respondi em inglês e ele arregalou o olho! Ele falou ‘você fala inglês?’ e eu respondi ‘Yes, a little bit!’. Ainda mandei um ‘a little bit’! Ele escolheu cinco meninas para o teste de vídeo. Saí desse teste com um papel no filme. Na sequência, fizeram a seleção para o mocinho e acabou que participei de vários outros testes. No final desse processo, o Boorman disse que o papel principal feminino do filme era meu. Aí foi aquela coisa: ‘vou ser atriz mesmo? É isso mesmo?’. Mas, naquele momento, também percebi que uma porta que se abria e eu não poderia hesitar. No filme eu interpretaria uma índia, iria ficar com os seios de fora. Mas minha


família foi muito democrática, pois lá em casa a gente sempre conversa sobre tudo de maneira aberta. Uns se dividiram nessa hora e meu pai falou: ‘Se você aguentar seus colegas de colégio, você pode fazer esse filme’. Aí eu entendi tudo quando ele disso isso. Toda a dimensão do que isso significava. Tudo ia mudar. Mas foi a melhor coisa que eu fiz pra mim. Reencontrei o Boorman 18 anos depois, a gente se deu um abraço longo de quase dois minutos que parecia uma eternidade. Eu disse pra ele ‘se não fosse você eu não teria me descoberto e seria engenheira’. Aí ele disse ‘Eu não descobri você, eu reconheci você’”. The Emerald Forest foi filmado inteiramente no Brasil com locações no Rio de Janeiro, São Paulo e Pará. Foi uma produção de porte internacional, o Cinemão, com todo aquele glamour que se credita ao ethos da Sétima Arte. “Eu fui super bem tratada, tinha um trailer só pra mim, era toda aquela ideia de Hollywood e mais um pouco porque era uma produção inglesa. Até os chás servidos no set eram ingleses! Tinha toda uma realidade inglesa ali. Tenho muita facilidade de entender o sotaque inglês porque meu ouvido foi ficando amaciado durante o período das filmagens. Para se ter uma ideia, na última gravação, pousou uma borboleta no meu cabelo e o Boorman disse: ‘Eu gostaria que tivessem borboletas no cabelo da Dira’. E em 15 minutos tinham várias borboletas! Foram quatro semanas no Copacabana Palace antes das filmagens. Essa foi minha porta de entrada no cinema”. Dira estava no último ano do Ensino Médio e, como as filmagens duraram sete meses, acabou sendo reprovada na escola. No ano seguinte, concluiu os estudos e passou no vestibular para o curso de Física: “Já estava nas Ciências Exatas e preferi tentar um curso menos concorrido. Queria mostrar para os meus pais que eu poderia fazer a graduação e eu gostava muito de bacharelado em Física. Eu tinha minha independência financeira e já havia decidido que iria pro Rio de Janeiro”. Aos 17 anos, mudou-se para a Cidade Maravilhosa e ingressou no curso de teatro da Cal – Casa de Artes de Laranjeiras, instituição dirigida, na época, por Yan Michalski. “Eu havia perdido o período de matrículas, aí o Marcos Flaksman me levou até o Yan e disse: ‘Ela perdeu a matrícula, mas você tem que aceitar essa menina no curso’”.

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Passados dois meses de curso, a atriz fez um teste de elenco para o longa Ele, o Boto, de Walter Lima Jr. Dessa seleção, Dira diz recordar-se que falou bastante enquanto o diretor do filme só balançava a perna, fazendo-lhe pensar que havia se saído mal no teste. Mas estava enganada; sendo convidada para interpretar a personagem Corina. “Fiquei muito feliz! Ali sim percebi que tinha dado um passo para uma direção irrevogável, que era impossível voltar. Ali eu vi que não era uma questão de escolha e sim de ofício”.

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A partir daí, Dira mergulhou na arte dramática. Logo depois, graduou-se em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). O cinema foi sem dúvida a arte com a qual mais se identificou e com a qual mais trabalhou. “Tenho uma trajetória que foi sendo construída passo a passo. Um trabalho trazia outro trabalho. E foi uma coisa muito especial. Olhando para trás nesses 32 anos, percebo um desejo que se realizou: o de nunca parar de fazer cinema. Nos primeiros 20 anos fiz praticamente só cinema e nos últimos 12 anos tenho feito televisão de uma maneira contínua, mas não deixei de fazer cinema em nenhum momento. Isso me deixa muito feliz porque o cinema é um berço onde se deu a minha formação. Até uma formação de personalidade, porque eu era uma menina quando fiz o meu primeiro filme e me tornei uma mulher fazendo cinema. Tive a ajuda de pessoas muito inteligentes nesse processo. Pessoas que eu admirava, inteligentes emocionalmente, inteligentes dentro de suas simplicidades. Tive a oportunidade de viajar muito pelo Brasil, pelos festivais de cinema do mundo. Isso me deu uma amplitude e me aproximou de muitas pessoas, além de me fazer assistir a muita gente diferente e de me expor a todas essas influências. Hoje, olhando pra esse volume de trabalho, vejo que ele é composto de todo tipo de filme, desde as comédias até os filmes mais densos. Eu gosto de transitar por esses mundos”. Atualmente, Dira está em seu segundo relacionamento, casada com o cinegrafista Pablo Baião. Dessa união nasceram Inácio, em 2008, e Martim, em 2015. Sua casa é um pequeno paraíso: um sítio cravado numa ilha na Barra da Tijuca e construído com muito afeto. Lá, a atriz consegue manter uma vida mais sustentável e mais integrada com a natureza. “Eu estava com muita saudade de ter sol,


pois quando se mora em apartamento não há um sol e um céu pra chamar de seus. Um chão, um céu e um sol, sabe? Eu queria isso. Moro em um lugar lúdico que me permite ter contato com o verde, que dá pra plantar, colher, viver de uma forma ecologicamente correta. Conseguimos aproveitar a água da chuva, fazer uso da energia solar e o reúso de água, separar o lixo, fazer coleta seletiva e manter uma horta orgânica”. Sobre a rotina de atriz, esposa e mãe, Dira diz ter consciência de que é a mulher que acaba vivendo mais intensamente esse cotidiano doméstico: “Principalmente se é mãe, você acaba impondo seu ritmo dentro da casa, mas tenho um marido muito participativo e presente nesse sentido. Ele, assim como eu, tenta ter um novo olhar sobre a vida contemporânea e que é preciso ter novos comportamentos para sobrevivermos. E isso não é tão difícil quanto parece. Quando moramos em uma casa, é preciso ter mais disciplina. Não é só bater a porta e ir embora, né? Há uma rotina a ser considerada, mas que acaba dando muito prazer, pois passamos a ter mais consciência do espaço. Estamos tentando, sem ser piegas, ter um comportamento em coerência com as necessidades desse mundo em que vivemos”. Mesmo morando no Rio de Janeiro, Dira sempre manteve forte vínculo com o Pará, seu estado de origem. Atenta às questões coletivas e preocupada com o acesso democrático aos bens culturais, de 2004 até 2010, produziu o Festival de Belém do Cinema Brasileiro/ Circuito Festcine Belém. Ela se sentiu motivada a criar essa janela para o cinema nacional quando percebeu que, muitas vezes, os filmes nos quais atuava não vistos no norte no país. “Em 2003, me dei conta de que não havia nenhum festival contínuo de cinema na região norte, existiram esporadicamente tempos atrás, mas naquele momento não. O Emanuel Freitas foi o meu grande parceiro nesse projeto. A partir de 2004, começam a surgir mostras e festivais por conta de uma política de distribuição cultural nacional, pra se possibilitar uma representatividade regional no cinema e em outras áreas. O festival tinha um diferencial, que era uma certa novidade na época: levar cinema para comunidades sem salas de cinema. Havia o Festival de Belém do Cinema Brasileiro e o Circuito Festcine Belém, com filmes adequados para serem exibidos em praça

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pública e que faziam parte daquela edição do Festival. Exibimos em comunidades ribeirinhas e nos interiores, fomos a Marajó, a Ilha do Combu, Abaetetuba... Não pude ir a todas, mas estive presente em várias sessões. Levávamos uma tela 8x5 metros, 500 cadeiras, um som dolby stereo. Nas primeiras edições, fizemos projeções com película ainda. Nas sessões, tínhamos dois pipoqueiros. Aí virava cinema na floresta na veia! Tudo se estabelecia, porque uma sala de cinema é uma sala de cinema em qualquer lugar”.

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Desde a adolescência, Dira percebeu-se engajada na causa dos Direitos Humanos. Na escola, envolvia-se com as discussões sobre os conflitos fundiários que acometem principalmente a região sul do Pará, problemática social intensificada pelos interesses econômicos gerados pela proximidade da Rodovia Transbasiliana (BR-153) e pela possibilidade de escoamento de mercadorias do Porto de Belém. Nos anos de 1990, ela conheceu o Padre Ricardo Rezende, aguerrido militante da Pastoral da Terra que atua contra o trabalho escravo e a grilagem de terras, motivo pelo qual foi jurado de morte. Ciente do poder da imagem para a mobilização política e social dos tempos atuais, Dira passou a usar de seu espaço enquanto artista para apoiar essa luta e, em 2008, atuou e foi produtora associada do documentário Esse Homem Vai Morrer, de Emiliano Gallo, filme que expõe essa injusta realidade das questões de terra no Pará e narra a trajetória do Padre Ricardo Rezende. Dira também já se aventurou na criação literária. Em 2008, ela lançou, a convite da Editora Língua Gerals, o livro infantil Menina Flor e o Boto. Ela conta que essa obra foi uma espécie de homenagem à infância de sua mãe: “é uma das histórias de família que eu nunca esqueci, a minha avó materna contava que tinha visto o boto. Isso é o máximo, poder conhecer uma testemunha ocular de uma lenda dentro de sua própria casa. Isso nunca saiu da minha cabeça. Por isso, me inspirei na infância de minha mãe, que tem uma memória e uma capacidade linda de lembrar do passado”.


“O teatro requer um compromisso com o tempo e não dá pra dividir esse tempo com o cotidiano. É preciso de uma imersão. Quando faço teatro, gosto de parar e de não dividir minha atenção com outro trabalho”


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Um teatro espaçado Para Dira, na vida, algumas vezes se escolhe, em outras se é escolhido. No caso dela, o cinema a escolheu: “eu tive muitos convites irrecusáveis para o cinema o que fez que eu dedicasse menos tempo aos projetos de teatro. Mas sempre tive o desejo de estar no palco. Sabia que isso ia me fazer muito bem como atriz. Todas as vezes em que pude fazer teatro, eu fiz”. No final da década de 1990, Dira fez suas primeiras incursões nos palcos em uma peça experimental produzida por ela mesma. Essa montagem foi feita a partir da obra de Kall Valentin, autor cômico alemão do início do século XX e contemporâneo de Bertholt Brecht. Com influências dadaístas, o texto desse teatrólogo estrutura-se a partir de jogos de palavras, onde praticamente uma nova língua é inventada, mas, ainda assim, todo mundo compreende o que é dito. Em seu currículo, constam menos de dez espetáculos de teatro. Entre alguns desses trabalhos, constam intervalos de até oito anos. O número é pequeno, se comparado com o volume de filmes e trabalhos na televisão. Mas Dira sabe do quão importante é a prática teatral na formação do ator e procurou viver profundamente os processos de criação nas montagens em que atuou. “Fiz teatro espaçadamente, mas o teatro é uma presença constante na minha vida, não me sinto longe dele. Além de absorver muito ao assistir peças, as minhas experiências foram muito viscerais e intensas, tanto de ensaios quanto de dedicação às montagens. O teatro traz muito conhecimento sobre a alma, sobre literatura, sobre a filosofia. Nos faz perceber e conhecer melhor o corpo, nos ensina a construir o corpo inteligente que o ator precisa ter. Mas no teatro requer um compromisso com o tempo e não dá pra dividir esse tempo com o cotidiano. É preciso de uma imersão. Quando faço teatro, gosto de parar e de não dividir minha atenção com outro trabalho”. Em 1992, fez a assistência de direção e atuou em Capitães de Areia, adaptação da obra de Jorge Amado dirigida por Roberto Bomtempo. O espetáculo ficou em cartaz por três anos e Dira chegou a interpretar diversos personagens “Conheci o Bomtempo no cinema, era uma produção independente que me trouxe a capoeira e a brasilida-

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de do Jorge Amado. Circulamos o Brasil todo com a peça, chegamos a ir na minha cidade natal”. Cinco anos depois o diretor e ator Sérgio Mamberti a convidou para integrar o elenco de O Capataz de Salema, obra barroco-regionalista do pernambucano Joaquim Cardozo que foi o calculista do Oscar Niemeyer na construção de Brasília. Também fizeram parte do elenco Chico Diaz e Ítala Nandi. A montagem foi apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. “Tenho tanto orgulho de ter feito essa peça que trazia uma estética e poesia muito fortes. As apresentações aconteciam ao meio dia, por isso tínhamos um público muito selecionado. Foi um projeto lindo!”.

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Em 2000, se juntou a outros atores de sua geração e constituíram um grupo, a Refinaria de Atores. Com atividades sediadas em uma casa no bairro carioca de Santa Teresa, estabeleceram uma rotina de estudos: aulas de teatro com Amir Haddad, estudo sobre a tragédia com Camila Amado, filosofia nietzschiana com Roberto Machado e curso de ritmo com Lucas Ciavatta. “Era como se a gente tivesse começando de novo. Durante três anos, três vezes por semana, nos reuníamos. Foi muita dedicação, muita felicidade, muitos encontros, muita coisa boa! O Amir convidou a mim e a Alessandra Negrini, que também fazia parte desse grupo, para fazer O Avarento. Foi a segunda peça que eu fiz com o André Gonçalves, que fazia o Pedro Bala em Capitães de Areia. Era um espetáculo maravilhoso, um Moliére lindo, um Moliére livre, com música, com vestidos rodados de seda que flutuavam no ar, uma coisa linda. Muito universal, no sentido amplo do teatro. Um espetáculo que poderia ser feito no meio da rua”. Em 2002, Dira substituiu a atriz Suzi Ribeiro em Meu Destino é Pecar, de Nelson Rodrigues, montagem da Cia dos Atores com a direção de Gilberto Gawronski. “Foi assim tateando ao longo da temporada que comecei a emplacar momentinhos e o público começou a reagir ao que eu estava propondo. A gente se encontrou rápido, eu me encontrei com eles rápido. E fizemos uma temporada muito bacana”. Somente oito anos depois, ela voltou aos palcos, dessa vez para atuar na peça Caderno de Memórias, uma adaptação do texto do autor francês Jean Claud Carrière, com direção de Moacyr Góes.


A montagem narra as dificuldades amorosas e o inusitado encontro de um casal interpretado por Dira e Otto Jr.. “Eu estava louca atrás de um texto interessante para o teatro, mas estava envolvida com outros projetos e não tinha tempo pra ficar pesquisando. Coincidiu de o Moacyr Góes me convidar para esse projeto em um momento de intervalo de trabalhos na TV e no cinema. Foi um casamento perfeito. O texto da peça é bem surrealista, mas ao mesmo tempo traz uma humanidade profunda, com uma narrativa emocional bem possível e sem cair na obviedade. Apresenta personagem aparentemente naturalistas e capazes de fazer coisas totalmente controversas. Foi uma temporada bacana, por um ano e meio viajamos pelo Brasil inteiro”. Seu último trabalho no teatro foi no infantil A Caligrafia de Dona Sofia, espetáculo escrito, produzido e dirigido por Luciana Buarque. Nessa montagem, Dira foi a protagonista, uma simpática professora aposentada que espalha seus poemas prediletos pela casa. “Fala da história dessa despedida da escrita no papel que a gente tá vivendo. A personagem é apaixonada por poesia e, com sua linda caligrafia, fica distribuindo cartões poéticos para as pessoas, para tornar a vida mais linda”. Essa peça foi apresentada no final de 2014 e também contou com os atores Carlos Careqa e Flávio Bauraqui no elenco. Embora não tenha feito parte de nenhuma companhia teatral, Dira acredita que sempre que os seus trabalhos no teatro tido a energia dos grupos teatrais. “Acho que, de certa forma, vivenciei essa experiência de companhia. Principalmente no teatro. E também no cinema da década de 1990. Havia muito esse sentimento, porque a gente vivia muito junto. Eu sinto falta disso hoje em dia. Eu sempre me senti dentro das companhias, esse é um sentimento que o teatro te ensina. Fazendo cinema a gente também tinha esse sentimento. Hoje em dia é tudo muito mais corrido”.

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“O cinema é um berço onde se deu a minha formação. Até uma formação de personalidade, porque eu era uma menina quando fiz o meu primeiro filme e me tornei uma mulher fazendo cinema”


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Uma atriz de cinema No final da década de 1980, após atuar para seus dois primeiros filmes, Dira participou de duas produções estrangeiras: Land, docudrama dirigido por David Wheatley para a BBC de Londres, e Au Bout du Rouleau, do diretor francês Gilles Béhart, onde contracenou como Chico Dias e Enrique Diaz. Por conta dessa última, ela entrou para um curso de francês a fim de ter fluência na língua para compreender as orientações da direção. Para o cinema brasileiro, a década de 1990 foi um período crítico devido ao fim da Embrafilme. Dira se recorda que muitos realizadores investiram em obras mais experimentais devido às limitações de produção da época e algumas produções eram feitas com sobras de negativo de filmes de Os Trapalhões e da Xuxa. Os trabalhos seguintes foram Corpo em Delito, de Nuno César Abreu, e Obra do Destino, de Alvarina Souza Silva. O primeiro foi estrelado por Lima Duarte e Regina Dourado, Dira e Carlinhos de Jesus interpretam os vizinhos misteriosos do casal protagonista. O roteiro desse filme falava sobre pouco da vida de um médico legista da ditadura após redemocratização. Já esse último trabalho foi uma produção realizada ao longo de anos. “Éramos uma equipe de amigos, o filme pronto mais tarde, pois o que a gente mais queria era poder rodar o filme. Era o momento de exercitar e de errar, de ter um outro tipo de compromisso com o cinema. Esses foram filmes que não ganharam distribuição, ficaram mais nos festivais”. No início dos anos 2000, integrou o elenco de outra produção da cineasta Alvarina Souza Silva, o drama Vida e Obra de Ramiro Rodrigues, filme protagonizado por Tuca Andrada. Em 1996, estrelou o segundo longa-metragem de ficção do cearense Rosemberg Cariry e uma das obras mais importantes do chamado cinema de retomada: Corisco & Dadá. Dira encarnou Dadá, a companheira do temido cangaceiro e vice-chefe do cangaço Corisco, interpretado por Chico Diaz. “Eu e o Chico nos ajudamos muito. Ele é muito estudioso e atento. Nós fomos à Biblioteca Nacional, levantamos todos os livros sobre o cangaço, indicados pelo Rosemberg e por outros estudiosos. Um deles é um livro com a

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transcrição das memórias de Dadá, que é uma fonte rica sobre os detalhes do cotidiano que ela viveu. Foi um livro que eu devorei. Não não cheguei a conhecer a Dadá, pois ela morreu pouco antes depois de ser convidada para fazer o filme. E foi muito bom ter feito esse personagem sob a direção do Rosemberg Cariry. O nome já diz tudo, né? ‘Cariri’ diz muito sobre um sertão de cultura, da pele, da alma, da temperatura... A gente foi para Exu, terra do Luiz Gonzaga e eu fiquei hospedada na casa dele”. Esse também foi o trabalho no cinema que mais lhe rendeu premiações, entre eles o de Melhor Atriz no 29º Festival de Brasília. Seis anos depois, sua parceria com Chico Diaz e Rosemberg Cariry se repetiu em Lua Cambará, Nas Escadarias Palácio, o filme sequencial do diretor. Dira interpretou a própria Lua Cambará, personagem título e inspirada em uma lenda do nordeste brasileiro. “Esse filme fala das mulheres e das crianças, da formação da étnica do nordeste, sobre os filhos frutos de estupro. Lua Cambará não aceita a sua sorte nem a sua identidade não europeia e, por isso, maltrata as pessoas da sua própria etnia. A personagem é uma pessoa meio seca que mamou no seio de sua mãe morte. Isso tem uma simbologia que é muito bonita e diz muito sobre os misticismo do sertanejo”. 34

Do sertão do Ceará, ela foi até os pampas gaúchos para atuar em Anahy de Las Misiones. Filme de 1997, esse épico sobre a Revolução Farroupilha foi dirigido por Sérgio Silva. Dira viveu a personagem Luna, mulher que esconde sua beleza sob bandagens e perambula pelos campos de batalha. Também fizeram parte do elenco a dama do teatro gaúcho e protagonista Araci Esteves, Giovanna Gold, Paulo José, Marcos Palmeiras, Cláudio Gabriel, Matheus Nachtergaele e Fernando Alves Pinto. Com esse filme Dira recebeu dois prêmios: como Melhor Atriz Coadjuvante pelo 30º Festival de Brasília e pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Dira também atuou no filme seguinte de Sérgio Silva: Noite de São João, produção de 2003. Nesse longa, ela interpretou Joana, personagem que lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no 33º Festival de Gramado. “Amo esse universo do Sérgio Silva, ele era um cara que gostava muito de ópera e de teatro, tinha uma coisa rebuscada e clássica em seus filmes”.


Em 1998, participou do docudrama biográfico Castro Alves: Retrato Falado do Poeta, de Silvio Tendler. “Eu fazia a Leocádia, que era o amor dele da fazenda, e ele tinha outro amor na cidade. Eu lia dois poemas do Castro Alves e fazia umas cenas com o Bruno Garcia, que interpretava o Castro Alves. Eu sou fã da cinematografia do Tendler. Ele é muito original, tem uma linguagem muito própria, tem uma visão muito boa de como passar a intenção dele durante a feitura do filme. Ele nos faz enxergar o que há de humano em nós e não fala só para poucos. É super acessível na mais pura inteligência”. A projeção gerada por esses primeiros filmes, em especial Corisco & Dadá e Anahy de Las Misiones, contribuiu para que Dira fosse convidada para inúmeros outros projetos de cinema. Desde então, ela manteve um ritmo ininterrupto de trabalhos com uma média de dois filmes por ano. Em 2000, contracena com Umberto Magnani no contundente Cronicamente Inviável, de Sérgio Bianchi. No ano seguinte, atua em sua primeira comédia O Casamento de Louise, de Betse de Paula. “A Betse foi uma mestra. Ela é muito engraçada, e ao mesmo tempo meio ‘durinha’, tem um humor requintado que está na veia da família. Esse filme me trouxe muitos bons frutos e prêmios, pois eu era reconhecida por trabalhos intensos. Aí veio um filme leve, engraçado. Foi muito bom me ver desta maneira também”. Um ano depois, Dira atuou em outra comédia dirigida por Betse de Paula: Celeste & Estrela. Com um roteiro metafílmico, esse filme narra os percalços de uma diretora de cinema no Brasil. “É uma certa biografia da diretora, sobre cinema guerrilha né? Aquele que a gente usa nossa própria residência como locação. É uma cineasta que quer filmar, sobre suas as agruras pra botar seu filme na lata”. Em 2002, Dira saiu do set de Lua Cambará no sertão do Ceará para a Pernambuco para interpretar Kika em Amarelo Manga, primeiro longa-metragem de Cláudio Assis. “Era como se eu estivesse entrado numa cidade avançada, onde as pessoas eram mais livres, no sentido da liberdade do pensamento e da criatividade. Foi um banho cultural muito grande com aquelas artistas de diversas áreas reunidos todos em só lugar. Amadureci muito, com aqueles dez dias de produção. Eu e o Claudio tivemos uma comunicação direta, toda

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a equipe do filme era feita de amigos e de pessoas que buscaram muito estar ali. Foi muito prazeroso e muito sincero, marcante e dilacerante, no melhor sentido! Filmamos com horas limitadas película. Foi feita uma trucagem em uma cena minha com o Matheus Nacthergaele. Tínhamos que acertar, pois só havia duas chances de fazer bem”. Três anos depois, contracenou novamente com Matheus Nachtergaele em Baixio das Bestas, o filme seguinte de Cláudio Assis. “Uma das cenas principais em que atuo é construída de modo que as sombras dos atores são projetadas como em um teatro japonês. O filme faz essa analogia entre a exploração da mulheres e da terra, pois a zona da mata pernambucana é um lugar com alto índice de violência contra a mulher. A terra dessa região também sofre queimada há 500 anos devido a cultura de cana”, Dira também recebeu prêmios em diferentes festivais com os esses dois trabalhos do diretor pernambucano.

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2004 foi um ano intenso para Dira, pois ela produziu a primeira edição do Festival de Belém do Cinema Brasileiro/Circuito Festcine Belém, atuava na televisão no seriado A Diarista e ainda participou do lançamento de três produções no cinema. Interpretou uma rendeira alagoana em um dos episódios que integra o filme Mulheres do Brasil, de Malu Martinho, obra que faz uma homenagem ao Brasil com histórias de mulheres de diferentes lugares. Fez parte do elenco de Meu Tio Matou Um Cara, de Jorge Furtado. “Sou uma admiradora do Jorge. Eu tinha uma vontade de trabalhar com ele e quando pintou o convite fiquei muito feliz. Acho o filme muito divertido, bem adolescente e muito bem feito”. Sete anos depois, ela atuou em um outro trabalho do diretor gaúcho, dessa vez no curta-metragem Até a Vista. Nessa ficção, um cineasta quer comprar os direitos de uso de um livro de um escritor argentino, que deseja reencontrar uma belenense, seu amor do passado. “Foi um deleite fazer filme, pois é o tipo de história que a gente encontra na vida real”. Sobretudo, 2004 foi o ano em que estreou o trabalho no cinema de maior repercussão pública para Dira: a cine biografia 2 Filhos de Francisco, de Breno Silveira, obra que consta na lista das dez maiores bilheterias do cinema brasileiro. “O Breno, muito discretamente, falou pra mim ‘tem um filme sobre um pai, que eu acho


que você deveria fazer o papel da mãe’. Só que ele não me contou mais detalhes. Dona Helena veio para mim e eu ainda não era mãe nessa época, e convivi com muitas crianças e bebês. Tudo deu certo, todas as cenas a gente fazia com muita felicidade. Tive um encontro com a Dona Helena no final da filmagem, ela me abraçou e passou a mão na minha barriga, e falou ‘eu era assim que nem ela, mais magrinha’. Ela é a mãe universal, essa mãe-coragem. Na composição do personagem, busquei a minha verdade sobre essa mulher e sobre amor desse homem sonhador, que era o Francisco”. Seis anos depois, Dira atuou novamente de uma produção de Breno Silveira, dessa vez em À Beira do Caminho, trabalho que lhe rendeu a premiação de Melhor Atriz do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. “É um filme sobre quando os sentimentos não estão alinhados e daí você perde o ritmo, a carona, o momento. Há uma cena narrada apenas com o olhar, cena de diálogos, que é muito bonita. O Prêmio da Academia Brasileira de Cinema me surpreendeu, porque eu não tinha muito volume de cenas. Mas as pessoas comentaram bastante essa cena”. Em 2005, participou do drama Incuráveis, de Gustavo Acioli, trabalho pelo qual foi premiada como Melhor Atriz no Festival Brasileiro de Paris. “Foi um presente fazer um filme que se passa dentro de um quarto. Foi a primeira fotografia do Lula Carvalho em uma ficção. Eu e o Fernando Eiras num embate desse texto do Marcelo Pedreira, que é um texto adaptado do teatro. Tive essa sorte de poder ter esses momentos onde o compromisso era com a intenção do diretor, com a sua linguagem, com a sua narrativa. Gosto muito de ser dirigida nesse sentido. Tenho um grande prazer em poder fazer partes dessas propostas cênicas”. Ainda sob a direção Gustavo Acioli, mais recentemente, Dira integrou o elenco da comédia Mulheres no Poder, obra que trata das disparidades sociais entre homens e mulheres. “O filme mostra que, para além dos gêneros, temos qualidades e defeitos que são universais. Mulheres podem ser tão autoritárias e ruins quanto os homens. A história mostra uma Brasília onde as mulheres são maioria no poder, fala da transição de uma jovem candidata ao Senado entrando para o mercado dos corruptos”.

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Em 2006, atuou em mais uma comédia como a romântica Psilene de Ó Pai Ó, de Monique Gardenberg, trabalho que Dira diz ter se divertido durante as filmagens. “Adoro aquela coreografia no bar, amo aquela cena com todas as minhas forças! A Psilene quer que todos acreditem que está retornando por cima da carne seca, mas, na verdade, nada deu certo na tentativa dela se dar bem fora do Brasil. Aí ela finge que tudo deu certo. Quero mais ‘Ó pai ó’!”. Outro trabalho seu de comédia lançado nesse mesmo ano foi A Grande Família: O Filme, de Maurício Farias, em que contracenou, quase que exclusivamente, com Marco Nanine. “Quando fui chamada me senti tão honrada, porque eles são um clã. E ser convidada para fazer parte do clã é uma aceitação pública de você. Me senti muito honrada, fiz cenas lindas com o Nanine, esse ator que nós todos admiramos, que tem filmes maravilhosos também. Me senti tão reconfortada de ter tido ele por perto”.

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No ano seguinte, Matheus Nachtergaele lançou seu primeiro longa-metragem: A Festa da Menina Morta. Gravado em Barcelos, município localizado a mais de 600 Km de Manaus através do Rio Negro, o filme fala sobre o sincretismo brasileiro e tem o ator Daniel de Oliveira como protagonista. “Falei para o Matheus que queria fazer filme. Ele me deu uma participaçãozinha em uma cena. E como eu já estava namorando o Pablo Baião, que era assistente do Lula Carvalho, diretor de fotografia do filme, eu fui ficando e participando de outras cenas e meu personagem acabou ganhando uma história no roteiro. Gosto muito de uma cena inicial com o Juliano Cazarré em que estamos de costas. Faço a mãe de uma criança com hidrocefalia e a criança que atuou realmente tinha hidrocefalia. Eu ainda não era mãe, mas o cinema me trouxe esse contato com a vida real de uma forma muito intensa. E Mateus é um grande diretor… Mateus é grande em tudo que ele faz. Não podia ser diferente como diretor. Ele é muito especial”. Outra produção de diretor estreante em longas em que atuou foi Sudoeste, de de Eduardo Nunes, filme lançado em 2011. “Já conhecia o Eduardo de festivais de cinema, dos curtas incríveis que ele tinha feito. Eu fiquei maravilhada com aquele preto e branco, com aquele mundo irreconhecível e que poderia ser qualquer lugar. Poderia ser numa época medieval, poderia ser numa época atual.


Acho um filmaço. Quando assisto, penso que não sou eu fazendo o filme. Não é que eu esteja transformadíssima na tela, mas não consigo criar uma identificação com aquela mulher, aquele lugar, aquelas pessoas. É muito legal ter essa sensação. Ele é um grande cineasta e uma das pessoas mais inteligentes cinematograficamente falando que conheço”. Nesse mesmo ano, Dira integrou o elenco do drama Estamos Juntos, de Toni Venturi. Nesse filme, ela interpreta uma líder comunitária dos sem-teto de São Paulo, uma personagem real que a atriz chegou a conhecer na vida real. “É muito bom poder interpretar personagens femininos que não estão envolvidas em tramas amorosas apenas. São Paulo possui milhares de imóveis embargados devido a débitos com a Prefeitura e várias famílias desabrigadas. É uma realidade pra ser discutida e visibilizada. É muito importante dar voz para essas pessoas e acho que isso é transmitido no filme”. Em 2012, integrou o elenco E aí... Comeu?, de Felipe Joffily. A trama foi uma adaptação de uma peça de teatro homônima de Marcelo Rubens Paiva, que assina o roteiro. Dira interpreta Leila, esposa de Honório, personagem de Marcos Palmeira. “Marquinhos Palmeira é uma pessoa muito presente na minha vida. Eu lembro da peça, porque eu assisti a peça. Foi muito bom de ver a peça. Todo mundo estranha o nome do filme, que agora virou uma série né? As minhas cenas nem são tão engraçadas, mas é um filme que fala de pessoas mais reais, mais cotidianas, tem seu charme e sua graça”. Desse mesmo ano, O Segredo dos Diamantes, de Helvécio Ratton, é outra produção com a atuação de Dira. “Sou fã do cinema do Helvécio. É muito importante a gente buscar o público jovem, sabe? E era um filme juvenil, eu achei muito bom estar presente num projeto como esse. Tem a fotografia do Lauro Scorel, daí não deu pra resistir”. Na sequência, Dira viveu a personagem Majú em Os Amigos, da diretora paulista Lina Chamie. “A Lina tem uma inteligência muito fina, muito de quem é musicista, de quem luta esgrima, ou seja, de uma pessoa ímpar. Ela me deu uma chance de fazer um filme em um cenário onde não fui muito pouco enquadrada, que é São Paulo. Tenho um desejo profundo de trabalhar mais por lá. Depois de assistir ao filme, você entende melhor o brilhantismo de Lina.

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Confiando totalmente nela. Foi um presente trabalhar com a nossa ídola-mór, que é a Sara Silveira. Tudo que Sara fala está certo”. Em 2013, reencontrou o ator Daniel de Oliveira no set de Órfãos do Eldorado, de Guilherme Coelho, filme lançado dois anos depois. “Foi meu reencontro Belém, com a minha terra, com essa dramaturgia amazônica que tem encanto e símbolos da natureza que me dizem totalmente a respeito”. Em 2014, também foi lançando Encantados, de Tizuka Yamazaki, filme cujas filmagens foram feitas em 2008 e conta com Dira no elenco. No currículo da atriz ainda constam outros curtas-metragens: Matinta, de Fernando Segtowick, e Ribeirinhos do Asfalto, de Jorane Castro, filmados entre 2009 e 2010. Essas duas produções contam com a condução de diretores paraenses e também lhe trouxeram prêmios: com a primeira, foi escolhida como a Melhor Atriz no 43º Festival de Cinema de Brasília e, com o segunda, recebeu o Kikito de Melhor Atriz no 39º Festival de Gramado. No último semestre deste ano, atuou para outro curta paraense: Além do Portão, de Annie Pace. Com filmagens em Abaetetuba, cidade natal da atriz, essa ficção é inspirada na vida do pai da diretora, cuja mãe é mexicana.

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O último longa-metragem estrelado por Dira foi Redemoinho, de José Luiz Villamarim, cuja sessão de estreia foi no Festival do Rio deste ano. “A minha experiência com esse filme é a de como se a personagem também me quisesse. É uma honra estar à serviço da criatividade das pessoas desse ‘trem cinema’. Ser mais um naquela função que é fazer cinema, onde não há estrelismo e somos todos partes de uma engrenagem para achar o melhor momento. Fomos para Cataguazes, que é a cidade do Humberto Mauro, fazer esse filme baseado na obra do Luis Ruffato, que é tão densa tão bem escrita. Apesar da gente não contracenar, eu e o Irandhir Santos somo um casal no filme, mas não quero contar muito da história porque o filme acabou de estrear”.


“A televisão é uma aceleração de sua capacidade de fazer várias cenas por dia, diferente do cinema que tem um limite bem razoável de cenas por dia. Isso realmente é um grande diferencial”


o ã ç ar e l e c a a m u é o ã s i v e l e t A“ ed edadi cap ac au s ed , a i d r o p s a n e c s a i r áv r e z af m et e u q a m e n i c o d et n er ef i d e d l ev á o z ar m e b et i m i l m u et n e m l a er o s s I . a i d r o p s a n e c ” l a i c n er ef i d e d n ar g m u é




Uma querida na TV Assim como no cinema, Dira interpretou papéis igualmente diversos na televisão, atuou em produções de autores e diretores consagrados e viu sua imagem se popularizar com o sucesso de personagens que caíram no gosto dos telespectadores. “Tudo muda de um dia para o outro quando você faz um personagem de uma novela das 9. É saber que amanhã as pessoas vão olhar pra você. A televisão ganhou muita qualidade nos últimos anos. Acho que ela produz com muita qualidade e vem evoluindo nesse sentido. Para esse desenvolvimento, absorveu muito da cinematografia brasileira, pois temos muitas pessoas que atuam na televisão que fazem cinema e vice-versa”. Foi na TV Globo onde Dira construiu, majoritariamente, sua carreira na televisão. Porém sua estreia na telinha se deu na TV Bandeirantes em 1986 com a minissérie Carne de Sol, na verdade, esse foi seu primeiro e único trabalho fora da emissora carioca. Dividida em quatro capítulos, essa obra dramatúrgica era de Orlando Senna e teve a direção de Dilma Lóes e Mário Márcio Bandarra. Também fizeram parte do elenco Carlos Vereza, Angela Leal e Jonas Bloch. Para imprimir uma estética documental, muitas cenas eram gravadas com a câmera escondida em lugares públicos sem que os atores fossem reconhecidos. “É engraçado porque foi uma estreia na televisão, mas com pessoas totalmente ligadas ao cinema. A minissérie foi feita de maneira bem cinematográfica, com uma câmera, a maioria eram cenas externas e em ambientes reais. Era um drama sobre a migração do homem do campo para a cidade, sobre as agruras e o preconceito que essas famílias enfrentam, sobre os conflitos morais que a vida urbana traz. A minissérie tocava nesses temas, sobre se corromper, sobre preço que a cidade cobra. Todo migrante entende um pouco isso: que sua raiz não está naquele lugar, que é preciso construir uma história, optar e fazer escolhas. Esse é um tema que tem muitas inspirações. Não é à toa que ele é sempre revisitado”. Quatro anos depois, atuou em seu trabalho inaugural na TV Globo em Araponga, novela de Dias Gomes. O convite para integrar o elenco dessa produção partiu de Cecil Thiré, um dos diretores da

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novela, que conhecia Dira de um curso de teatro na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro. “Ele gostou muito do meu jeito no curso e acho que ele não tinha assistido alguma coisa minha, e ele me convidou para fazer parte da novela, que ele era um dos diretores da novela. E foi uma experiência maravilhosa, a trama era muito divertida e inconsequente. Eu fazia uma professora virgem, a Nininha, que era constantemente assediada por Tuco Maia, interpretado pelo Taumaturgo Ferreira”. Em relação ao ritmo de trabalho imposto pela TV, Dira conta que esse tempo de criação contribui para o desenvolvimento de competências importantes no ator. “A televisão é uma aceleração de sua capacidade de fazer várias cenas por dia, diferente do cinema que tem um limite bem razoável de cenas por dia. Isso realmente é um grande diferencial. É muito bom desenvolver essa habilidade de estar pronto para fazer várias cenas, entender o desenho de uma novela e de um personagem nesse tipo de narrativa. Não está tudo escrito, então não existe um domínio pleno do destino do personagem, diferente de uma série. Esses elementos aguçam um outro tipo de inteligência, o que é legal para o ator”.

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Cinco anos depois, Dira atuou como Potira irmã dos personagens protagonistas de Irmãos Coragem, sua segunda novela de autoria de Dias Gomes, e com a direção de Luiz Fernando Carvalho. “Foi meu segundo trabalho junto com Marcos Palmeira, com quem eu havia atuado no filme Ele, o Boto, de Walter Lima Jr.. E ainda recebi o presente de poder contracenar com a Laura Cardoso”. Em 1998, interpretou a personagem Celeste em outra obra assinada por Dias Gomes: Dona Flor e Seus Dois Maridos, uma adaptação da obra de Jorge Amado com direção de Mauro Mendonça Filho. “Fiz a parte da história que não está no livro do Jorge Amado. Era a briga entre duas famílias de bicheiros e eu contracenava com a Cyria Coentro, a gente namorava, era um caso de amor entre duas mulheres”. No ano seguinte, Dira fez uma breve participação junto com o ator Cláudio Jaborandy em Chiquinha Gonzaga, minissérie de Lauro César Muniz com direção de Jayme Monjardim. Nesse mesmo ano, interpretou Palmira em A Força de Um Desejo, seu terceiro


personagem telenovelas. Escrita por Gilberta Braga e Alcides Nogueira, essa produção contou com direção geral de Marcos Paulo e de Mauro Mendonça Filho. “Meu personagem era a amante do Reginaldo Faria, com quem eu mais contraceno. Era uma novela de época e de uma beleza extrema. Fiz muitos amigos nessa novela que duram até hoje”. Em 2003, Dira voltou à telinha como a cativante e abobalhada Solineuza, uma das amigas de Marinete, personagem da comediante Cláudia Rodrigues que foi a protagonista do seriado A Diarista. De autoria de Glória Perez, tinha direção de José Alvarenga Jr. e Cininha de Paula e foi ao ar até junho de 2004. “Solineuza foi ganhando esse lugar claunesco na minha vida e até hoje as pessoas me param muito na rua por causa dela. Era muito bom de fazer, pois a personagem mobilizava público de todas as idades com aquele humor. Era a composição do absurdo, era tudo exagerado, as piadas dela eram muito absurdamente legais tipo ‘amiga, você se machucou? você se bateu? você morreu?’ e essas coisas tolas tipo ‘quero pizza de queijo e mussarela’. É algo muito poderoso poder aguçar o lado infantil das pessoas, e isso acontece quando fazemos as pessoas rirem, percebi isso na televisão. O público passa a se sentir muito íntimo de sua vida”. Graças a esse trabalho recebeu prêmio de Melhor Humor na TV pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Durante o período em que atuou nesse seriado, Dira também fez parte do elenco de Um Só Coração, minissérie de Maria Adelaide Amaral com direção de Carlos Manga exibida em 2004. Quatro anos depois e grávida de seu primeiro filho, ela viveu a personagem Gisele na série Casos e Acasos, dirigida por Marcos Schechtman. Um ano depois ela estreava em horário nobre como a popular Norminha em Caminho das Índias, novela de Glória Perez. “O Inácio tinha seis meses de nascido e eu estava vivendo uma vida bem diferente da Norminha, que era uma mulher muito italiana, uma mulher no gerúndio! Ela não olhava pra baixo, tinha um salto imenso e tudo era muito legal de fazer, saía sem o menor esforço. Ela dominou muito cedo o pedaço. Ao assistir à primeira cena dela na novela foi que ouvi a música tema da personagem. A música virou um hit, trouxe muita força para a personagem, foi um casamento! Quando terminou a novela, como eu não me ligava nas redes sociais, não

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tinha dimensão do quanto eu tinha ido longe com a personagem. As pessoas me ligavam do Brasil inteiro, quadrilhas se vestiam de Norminha e Abel, as crianças da Apae queriam cantar pras mães ‘você não vale nada mas eu gosto de você’. Tinha esse movimento lindo em torno dessa personagem que era aceita publicamente. Era a Glória Perez de novo né? Ela é muito importante na minha vida”. Esse foi o trabalho na televisão com o qual Dira mas recebeu prêmios.

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Ainda em 2009, fez participações breves nos programas de humor Zorra Total, Casseta&Planeta, Urgente! e no especial Chico e Amigos. No ano seguinte, interpretou a personagem Marta Moura em seu segundo trabalho na TV de autoria de Maria Adelaide Amaral: o ramake da novela Ti Ti Ti, produção dirigida por Jorge Fernando. No ano seguinte, integrou o elenco de sua sexta telenovela: Fina Estampa, obra de Agnaldo Silva com direção de Wolf Maia. Nessa produção, viveu a personagem Celeste que era amiga confidente de Griselda, interpretada por Lília Cabral. Em 2012, fez uma participação na série As Brasileiras interpretando a dedicada e romântica Cleonice no episódio Doméstica de Vitória que contou com a direção de Tizuka Yamazaki. Nesse mesmo ano, viveu a batalhadora Lucimar Ribeiro moradora do Complexo do Alemão e que era mãe de Morena, personagem de Nanda Costa e protagonista da novela Salve Jorge. Esse foi o seu terceiro trabalho tendo Glória Perez na autoria e Marcos Schechtman na direção. Em 2014, em mais um texto de Maria Adelaide Amaral, atuou em Amores Roubados, minissérie de dez capítulos dirigida por José Luiz Villamarim. Sua personagem foi a rica e charmosa Celeste Cavalcanti que viveu cenas picantes junto com o ator Cauã Reymond que interpretou o Leandro Dantas, personagem protagonista da trama. Nesse mesmo ano, ela engatou um outro trabalho na televisão com a direção de José Luiz Villamarim, dessa vez como a inspetora de polícia Rosa Nolasco na novela das 11 O Rebu, de autoria de George Moura e Sérgio Goldenberg. Para a composição dessa personagem Dira chegou a fazer aula de tiro. Seu último trabalho na televisão foi como a professora Beatriz na novela Velho Chico, folhetim que foi ao ar de março até setembro deste ano. Nesse novela, ela fez par romântico com Irandhir San-


tos, ator parceiro em outros trabalhos no cinema. Com texto de Benedito Ruy Barbosa e Edmara Barbora, essa novela contou com a direção de Luiz Fernando Carvalho, com quem Dira já havia trabalhado dez anos antes em Irmãos Coragem. “Velho Chico é um trabalho muito autêntico e original na história da nossa teledramaturgia devido à construção artística de sua narrativa e à proposta cênica do Luiz Fernando Carvalho que nos municiou com tantos ingredientes ricos e densos para fazermos a nossa interpretação. Essa novela trouxe um olhar barroco, mas ao mesmo tempo fiel sobre Nordeste, criando um Nordeste atemporal. Também ficará marcada pela perda trágica do Domingos Montagner. O tempo inteiro a novela falou de um herói, um herói que a gente reconhece, que a gente já viu, o Domingos era o símbolo desse herói. Eu ganhei um personagem cuja trajetória tem muito a ver com o que seria a solução de parte de nossos problemas sociais que é ter pessoas representando realmente os interesses dos cidadãos. Os textos e os diálogos de Velho Chico nunca eram uma conversa fortuita, poderiam até começar como uma conversa fortuita, mas havia sempre uma densidade, pois eles retratavam o cotidiano real e os problemas reais daquela comunidade. E, ao falar daquela comunidade, estávamos falando do Brasil, do mundo. A novela falou sobre agrotóxico, falou sobre energia solar, sobre o coronelismo, diferenças sociais, lutas de classes, sobre cooperativas onde os interesses de vários podem ser unidos em torno de um interesse comum, a união das pessoas, plantação, migração. É um mundo que se resumiu em Velho Chico”.

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Teatro

1992 - Capitães da Areia Baseado na obra de Jorge Amado Várias personagens e assistente de direção Direção de Roberto Bomtempo

1997 - O Capataz de Salema Texto de Joaquim Cardozo Personagem: Luzia Direção de Sérgio Mamberti

2000 - O Avarento Texto de Molière Personagem: Mariana Direção de Amir Haddad

2002 - Meu Destino é Pecar Texto de Nelson Rodrigues, sob o pseudônimo Suzana Flag Personagem: diversos Direção e adaptação de Gilberto Gawronski para Cia dos Atores

2010/ 2011 - Caderno de Memórias Texto de Jean Claude Carrière Personagem: Suzanne Direção de Moacyr Goés

2014 - Caligrafia de Dona Sofia Baseado no livro de André Neves Personagem: Dona Sofia Direção de Luciana Buarque

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Cinema

1985 - The Emerald Forest (A Floresta das Esmeraldas) Personagem: Kachiri / Direção de John Boorman

1987 - Ele, o Boto Personagem: Corina / Direção de Walter Lima Jr

1987 ou 1988 - Au Bout du Rouleau (TV Francesa) Personagem: Prostituta / Direção de Gilles Béhart

1988 - Land (BBC London) Personagem: Maria / Direção de David Wheatley

1990 - Corpo em Delito Personagem: Vizinha / Direção de Nuno César de Abreu

1994 - Obra do Destino Personagem: Alva / Direção de Alvarina Souza Silva 57

1996 - Corisco & Dadá / Personagem: Dadá Direção de Rosemberg Cariry

1997 - Anahy de las Misiones Personagem: Luna / Direção de Sérgio Silva

1998 - Lendas Amazônicas Personagem: Cabocla / Direção de Ronaldo Passarinho Filho e Moisés Magalhães


1999 - Castro Alves - Retrato Falado do Poeta Personagem: Leocádia / Direção de Silvio Tendler

2000 - Cronicamente Inviável Personagem de Amanda / Direção: Sérgio Bianchi

2000 - Vida e Obra de Ramiro Miguez Direção de Alvarina Souza Silva

2001 - O Casamento de Louise Personagem: Luiza / Direção de Betse de Paula

2002 - Amarelo Manga Personagem: Kika / Direção de Cláudio Assis

Lua Cambará - Nas Escadarias do Palácio Personagem: Lua Cambará/ Direção de Rosemberg Cariry 58

2003 - Noite de São João Personagem: Joana / Direção de Sérgio Silva

2004 - Meu Tio Matou um Cara Personagem: Cleia / Direção de Jorge Furtado

2005 - Celeste & Estrela Personagem: Celeste Espírito Santo / Direção: Betse de Paula


2005 - Incuráveis Personagem: Uma prostituta / Direção de Gustavo Acioli Dois Filhos de Francisco - A História de Zezé Di Camargo & Luciano Personagem: Helena Siqueira de Camargo / Direção de Breno Silveira

2006 - Baixio das Bestas Personagem: Bela/ Direção de Cláudio Assis Mulheres do Brasil Personagem: Júlia / Direção de Malu de Martino

2007 - Ó Paí, Ó Personagem: Psilene/ Direção de Monique Gardenberg

A Grande Família - O Filme Personagem: Marina / Direção de Maurício Farias 59

Esse Homem Vai Morrer (documentário) Participação como ela mesma / Direção de Emílio Gallo

2009 - A Festa da Menina Morta Personagem: Diana / Direção de Matheus Nachtergaele

2011 - Estamos Juntos Personagem: Leonora / Direção de Toni Venturi Sudoeste Personagem: Conceição / Direção de Eduardo Nunes


2012 - E Aí... Comeu?

Personagem: Leila / Direção de Felipe Joffily

2012 - À Beira do Caminho Personagem: Rosa / Direção de Breno Silveira

2014 - Encantados (obra ainda não lançada no circuito comercial) Personagem: Cotinha / Direção de Tizuka Yamazaki

2014 - O Segredo dos Diamantes Personagem: Mãe de ngelo / Direção de Helvécio Ratton Os Amigos Personagem: Maju / Direção de Lina Chamie

2015 - Órfãos do Eldorado Personagem: Florita / Direção de Guilherme Coelho 60

2016 - Saias Personagem: Maria Pilar / Direção de Gustavo Acioli Redemoinho Personagem: Toninha / Direção de José Luiz Villarim


Curtas-metragens 2010 - Matinta Personagem: Walkíria / Direção de Fernando Setgowick

2011 - Até a Vista Personagem: Aneci / Direção de Jorge Furtado

2009 - Ribeirinhos do Asfalto Personagem: Rosa / Direção de Jorane Castro

2016 - Além do Portão Personagem:

/ Direção: Annie Pace

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TV Bandeirantes 1986 - Carne de Sol / Personagem: Minissérie de Orlando Senna Direção Dilma Lóes e Mário Marcio Bandarra

TV Globo 1990 - Araponga / Personagem: Nina (Nininha) Telenovela de Dias Gomes, Lauro César Muniz e Ferreira Gullar Direção Cecil Thiré, Lucas Bueno e Fred Confalonieri

1995 - Irmãos Coragem / Personagem: Potira Telenovela de Dias Gomes, Marcílio Moraes, Antônio Mercado e Margareth Boury com a colaboração de Ferreira Gullar e Lílian Garcia Direção de Luiz Fernando Carvalho e Mauro Mendonça Filho

1998 - Dona Flor e Seus Dois Maridos / Personagem: Celeste 62

Minissérie de Dias Gomes, adaptação do romance homônimo de Jorge Amado, e com a colaboração de Ferreira Gullar e Marcílio Moraes Direção Geral de Mauro Mendonça Filho e também contou com a direção de núcleo de Guel Arraes.

1999 - Chiquinha Gonzaga / Personagem: Vitalina Minissérie de Lauro César Muniz e Marcílio Moraes, Direção de Jayme Monjardim, Luiz Armando Queiroz e Marcelo Travess Força de Um Desejo / Personagem: Palmira Telenovela de Gilberto Braga, Alcides Nogueira e Sérgio Marques Direção geral de Marcos Paulo e Mauro Mendonça

Televisão


Filho e também com direção de Carlos Araújo, Fabrício Mamberti e João Camargo

2003 - 2007 - A Diarista / Personagens: Solineuza/Sônia Neiva Seriado de Glória Perez, Bruno Mazzeo Direção de Cininha de Paula e José Alvarenga Jr.

2004 - Um Só Coração / Personagem: Magnólia Cavalcanti Minissérie de Maria Adelaide Amaral, Alcides Nogueira e Lúcio Manfredi Direção geral de Carlos Araújo e núcleo de Carlos Manga, e também com direção de Marcelo Travesso Ulysses Cruz e Gustavo Fernandez

2008 - Casos e Acasos / Personagem: Gisele Série de Daniel Adjafre e Marcius Melhem Direção de geral de Carlo Milani, núcleo de Marcos Schechtman e Jayme Monjardim 63

2009 - Caminho das Índias / Personagem: Norma (Norminha) Telenovela Glória Perez Direção de Fred Mayrink, Leonardo Nogueira, Luciano Sabino, Roberto Carminatti e Marcelo Travesso, com núcleo e direção geral de Marcos Schechtman Casseta & Planeta, Urgente / Personagem: Norma (Norminha) Programa humorístico do grupo Casseta&Planeta Direção de Cacá Diegues, Snir Wein e José Lavigne Zorra Total / Participação especial como ela mesma Programa humorístico Direção de Maurício Farias, Eduardo Miranda e Vicente Burguer


Chico e Amigos/ Personagem: Nair Programa Especial de Chico Anysio

2010 - Ti Ti Ti / Personagem: Marta Moura Telenovela de Maria Adelaide Amaral, Direção de Marcelo Zambelli, Maria de Médicis e Ary Coslov, e direção geral e de núcleo à Jorge Fernando

2011 - Fina Estampa / Personagem: Celeste Souza Fonseca Telenovela de Aguinaldo Silva, Maria Elisa Berredo, Nelson Nadotti, Patrícia Moretzsohn e Rui Vilhena Direção de Marcelo Travesso, Ary Coslov, Cláudio Boeckel, Marco Rodrigo e Marcus Figueiredo, com direção geral e núcleo de Wolf Maya

2012 - As Brasileiras / Personagem:Cleonice (episódio: “A Doméstica de Vitória”) 64

Série inspirada em As Cariocas, livro de Sérgio Porto que foi adaptado para TV com a supervisão de texto de Euclydes Marinho Direção de Daniel Filho Salve Jorge / Personagem: Lucimar Ribeiro Telenovela de Glória Perez, Direção de Luciano Sabino, Alexandre Klemperer, Adriano Melo, João Boltshauser e João Paulo Jabur, com direção geral de Fred Mayrink e Marcos Schechtman e direção de núcleo de Marcos Schechtman

2014 - Amores Roubados/ Personagem: Celeste Cavalcanti Minissérie de Maria Adelaide Amaral, direção geral de José Luiz Villamarim e núcleo de Ricardo Waddington


O Rebu / Personagem: Rosa Nolasco Telenovela de George Moura e Sérgio Goldenberg Direção de Paulo Silvestrini, Luisa Lima e Walter Carvalho e direção geral e de núcleo de José Luiz Villamarim

2015 - Babilônia/ Participação especial como ela mesma Telenovela de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga Direção geral de Maria de Médicis e direção de núcleo de Dennis Carvalho Criança Esperança / Apresentadora Campanha nacional de mobilização social promovida pela Rede Globo em parceria com a Unesco Direção de Rafael Dragaud

2016 - Velho Chico / Personagem: Beatriz Telenovela de Benedito Ruy Barbosa e Edmara Barbosa Direção de Luis Alberto de Abreu; direção de Carlos Araújo, Gustavo Fernandez, Antônio Karnewale, Philipe Barcinski e Luiz Fernando Carvalho, que também assina como diretor artístico da obra Criança Esperança / Apresentadora Campanha nacional de mobilização social promovida pela Rede Globo em parceria com a Unesco Direção de Rafael Dragaud

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Prêmiações

1987 - Ele, o Boto • Melhor Atriz Coadjuvante no I Festival de Natal 1996 - Corisco e Dadá • Melhor Atriz no XXIX Festival de Brasília Melhor Atriz no V Festival de Cuiabá Melhor Atriz no I Festival de Florianópolis 1997 - Anahy de Las Misiones Melhor Atriz Coadjuvante no XXX Festival de Brasília Melhor Atriz Coadjuvante pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) 2001 - O Casamento de Louise Melhor Atriz no XI Festivai de Cuiabá Melhor Atriz no XV Festival de Natal 2003 - Amarelo Manga Melhor Atriz no XIII CineCeará Melhor Atriz no VIII Festival de Santa Maria da Feira/Portugal Prêmio Especial do Júri no XXXVI Festival de Brasília 2003 - Noite de São João Melhor Atriz Coadjuvante no XXXIII Festival de Gramado 2005 / 2006 - Dois Filhos de Francisco Melhor Atriz em cinema pelo público e crítica - Revista Set Melhor Atriz em cinema - Prêmio Qualidade Brasil Melhor atriz – CINEPORT/Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa 2006 / 2007 - Baixio da Bestas Melhor Atriz Coadjuvante – XXXIX Festival de Brasília Melhor Atriz de Cinema – I Prêmio Revista Quem Acontece 2007 - Mulheres do Brasil Melhor Atriz- CINEPORT/Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa

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2007 - A Diarista Melhor Humor na TV pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) 2008 - Incuráveis Melhor Atriz – X Festival de Cinema Brasileiro de Paris 2009 - Homenagem Festival de Cinema de Gramado 2009 - Homenagem Festival de Recife- Cine PE 2009 - 2010 - Caminhos das Índias Melhor atriz coadjuvante com a personagem Norminha no Prêmio Arte Qualidade Brasil Melhor atriz coadjuvante com a personagem Norminha no Prêmio Extra de TV Melhor atriz coadjuvante com a personagem Norminha no 12º Prêmio Contigo! de TV Melhor atriz coadjuvante com a personagem Norminha no Melhores do Ano, realizado no programa Domingão do Faustão 2010 - Matinta Melhor Atriz – Festival de Cinema de Brasília 68

2011 - Ribeirinhos do Asfalto Melhor Atriz- Festival de Cinema de Gramado 2013 - A Beira do Caminho Melhor atriz - Grande Prêmio Brasileiro de Cinema 2014 - Amores Roubados Melhor Atriz Coadjuvante – Prêmio Contigo de TV 2014 - Trip Transformadores 2014 - Diretora-geral do MHuD, A Ordem do Mérito - Supremo Tribunal do Trabalho 2014 - Mulheres Extraordinarias - Elseve L’Oréal Paris 2015 - Ordem do Mérito Jus et Labor, no Grau Cavaleiro 2015 - Homenageada - 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes


Depoimentos

Nossa primeira indiazinha a atravessar as fronteiras de sua floresta natal, no Pará e, aos 16 anos, na superprodução Florestas das Esmeraldas, do consagrado John Boorman, em 1985, arrebatou-nos a todos, seus fãs cara-pálidas que vimos ali o desabrochar de um talento que só se confirma a cada ano. Dira, dona de legítima beleza brasileira, nos brinda com sua inteligência e carisma, a cada filme, a cada novela, em cada entrevista, mostrando sempre o que de melhor o Brasil pode ter. Merece nossos mais carinhosos aplausos! Patrícia Pillar, atriz Dira é uma atriz maravilhosa, cheia de força, talento, beleza e com grande repertório. Além de ser uma colega e amiga ética e generosa, que atua e apoia movimentos humanitários. Viva Dira!!! Leona Cavalli, atriz A atriz do Brasil sonhado Seria o encontro, na arte de nos representar, dos fluxos de sangue todos daqui. Seria uma mulher forte, porém mãe. Seria linda e culta, sexy e bugra. Teria a possibilidade das mídias todas dos tempos de agora, e faria o laço entre o popular e o erudito. Teria força de voz, mas não a voz dos vendilhões. Seria uma ‘moça de respeito’, apesar de afirmar a liberdade. Teria a cor dos brasileiros, o axé dos pagés, os óculos do leitor, a ginga do samba. Nos olhos rasgados de índia marajoara, uma sabedoria de dor, e nos lábios de morena, o sorriso do amor. A atriz do Brasil sonhado por mim existe. É a Dira. Matheus Nachtergaele, ator Dira, companheira de longa estrada! Já fomos irmãos, amantes, rivais, cada trabalho uma surpresa. Aprendo sempre com ela!Uma amiga amada e querida! Impossível de ser rotulada! Uma atriz que começou lá atras, ainda menina, e que trilha uma carreira sólida e ampla de possibilidades, nunca caindo no lugar comum. Tenho muita honra de fazer parte dessa história! Mulher generosa, companheira, ética e

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grande mãe, um papel que a vida lhe deu e, assim como na arte, ela desempenha lindamente! Salve Dira, Viva Dira!” Marcos Palmeira, ator Dira é puro feitiço! Com seu talento e beleza, nos embriaga e entorpece, feito cachaça de jambu. É moça onça daquelas terras lá de cima, onde o Brasil é encantado e nos delicia vertiginosamente com suas lendas, cores, texturas e sabores... Mulher com camadas profundas de Rios e Florestas. Dira é Guerreira Amazônica que brilha pro mundo inteiro sem perder a humildade e o grande caráter. Traz em sua essência, bons sentimentos e o primordial da vida; seus olhos brilham de amor enxergando à todos. Mulher paraense, musa cinematográfica... Artista. Dira é um planeta místico. Que nossos sonhos se cruzem um tanto mais ao longo da jornada. Parabéns... Sempre! Daniel Oliveira, ator 70

Diva, amada, amiga, amante, mulher, mãe, moleca, maravilhosa, talentosa, sofisticada, popular, gentil, solidária, sensível, humana, amável, generosa, ufa!! E tantas outros adjetivos que ficaria aqui ocupando linhas e linhas sem conseguir definir você ! “Dirita”, como eu a chamo. Sei que a vida faz coisas incríveis com a gente e sei também que os encontros da vida muitas vezes não tem explicação, por isso, minha amiga, agradeço todos os dias por ter passado momentos maravilhosos ao seu lado, momentos pessoais e profissionais! Às vezes na nossa profissão a gente fala “eu adoraria ter trabalhado com essa pessoa”, pois eu tenho orgulho de dizer que TRABALHEI COM VOCÊ! Aprendi coisas, mudei de opinião e, principalmente descobri a importância de uma parceria, e


isto levo para resto de minha vida . Amor, esta homenagem é mais do que merecida. Você é uma estrela do cinema e da arte brasileira! Evoé , evoé, evoé!!!!! Parabéns e que todas as energias da natureza te iluminem cada vez mais! Te amo, muito, muito, muito! Anderson Muller, ator Dira é não só uma de nossas maiores atrizes, como uma das pessoas mais queridas do cinema brasileiro. Como não amar Dira? Linda, talentosa, inteligente, boa amiga, defensora incansável dos direitos humanos... Dira é uma luz e um exemplo para todos nós. Wagner Moura, ator Dira Paes: alquimista de Brasis Ecleidira Maria Fonseca Paes – a nossa Dira Paes – é do Pará, assim como Sônia Braga é do Paraná, Glauce Rocha é do Mato Grosso do Sul, Dina Sfat é de São Paulo, Anecy Rocha é da Bahia, Marcélia Cartaxo é da Paraíba, Hermila Guedes é de Pernambuco, Marieta Severo e Fernanda Montenegro são do Rio de Janeiro. Tudo Brasil. Dira Paes tem um corpo bonito de índia, uma cara de índia, uns olhos de índio, uma alma de índia e poderia ser “condenada” a representar apenas o que ela é em sua ancestralidade étnica: uma bela índia. Mas, reparando bem, Dira Paes é mulata, melhor dizendo é uma morena ou, quem sabe, uma cafuza... Se lhe colocarem umas roupas orientais, estaremos diante de uma bela indiana, filha de um rico marajá. E se a chamarem para fazer o papel de uma poderosa senhora de engenho, branca e arrogante, em Casa Grande da Zona da Mata pernambucana, iremos encontrá-la transfigurada e não teremos dúvida em atestar a sua ascendência da nobreza ibérica. Talvez pela leve morenice das mulheres mediterrâneas e magrebinas, em um

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lugar onde todas as misturas aconteceram, (antes mesmo de se misturarem aos americanos, asiáticos e africanos de outras paragens, na época das grandes viagens de conquistas). Descoberta bem jovem pelo cinema, ela já foi muita coisa: índia, suburbana carioca, favelada, baiana do Pelourinho, nordestina, cangaceira, burguesa/dondoca de altas rodas, operária... Profunda e verossímil em cada personagem que abraça, com talento e rigor, por meio de palavras, gestos e sentimentos, Dira Paes faz todos esses papéis com facilidade, porque ela tem na alma todas “essas vidas”. Isto é possível pela simples razão de ser ela uma brasileira: brejeira, sensual, inteligente, inquieta, plural. Tendo pertença brasileira, ela é herdeira universal de etnias, de culturas, de gestos, de saberes, de mundos... Mestra na arte de representar, Dira Paes tem essa capacidade alquímica de transmutar-se em todos os Brasis femininos.

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Dira Paes é uma das pessoas mais queridas que eu conheço no cinema brasileiro. No chamado “Renascimento do Cinema Brasileiro”, a partir de 1996, na qualidade de expressão da diversidade de Brasis, de culturas e de olhares, Dira Paes foi escolhida como a grande atriz, capaz de encarnar esse novo momento. Por sua graça e natural talento, foi reconhecida como musa desse novíssimo cinema. Feliz escolha, acontecida ao acaso, pelo bater do coração. Tenho por esta atriz e mulher uma grande admiração e diria mesmo um fascínio. Uma amizade sólida (coisa rara neste “mundo líquido”, na expressão de Zygmunt Bauman), que alcança maioridade, pois já se passaram mais de 18 anos, desde que fizemos o primeiro filme, nas marcianas caatingas do Pernambuco e do Ceará. Dira Paes fez o papel da inesquecível Dadá (a bela e insubmissa Dadá – a onça sussuarana), ao lado de Chico Diaz, que tão bem encarnou o papel do capitão Corisco, com seu admirável engenho criativo. Com este filme, vieram os primeiros prêmios em papéis solos, para os dois, e um reconhecimento que não parou mais de crescer, graças ao talento e profissionalismo de cada um e da comovente e forte parceria dramatúrgica que souberam tecer com muitos diretores. O Brasil tem em Dira um lindo presente! Ela ainda saberá nos


brindar com muitos outros papéis e encenações criativas de suas histórias plurais e cheias de belezas e encantamentos, entre o riso e a tragédia. Afinal, o simples nome dela já nos dá a certeza de qualidade artística de uma peça cinematográfica, porque, além de artista singular, ela faz as escolhas que a dignificam em sua carreira e estabelece sempre uma parceria generosa. Hoje, Dira Paes e eu nos vemos poucos, atribulados com os compromissos profissionais e separados por tantos sertões e tantos mares – um no norte outro no sul. Nada importa, nossa amizade tem resistido ao tempo e às distâncias, às venturas e às desventuras da vida, porque é feita da mesma substância do sertão: uma coisa sem fim. Texto de Rosemberg Cariry, cineasta e escritor Dira Paes… Desde que a conheci, há muitos anos atrás, eu admirei a sua postura como mulher e como atriz. É uma batalhadora, uma guerreira, uma menina que não esmoreceu em momento algum e seguiu seu sonho de ser atriz, de ser uma mulher maravilhosa como ela é. Tive o prazer de trabalhar com Dira Paes em os Irmãos Coragem. Enfim, acho que Dira Paes merece o nome de musa do cinema brasileiro. Quero que Dira seja muito feliz, que receba muitas homenagens e que saiba que sempre a respeitei e amei. Laura Cardoso, atriz

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Legendas e créditos das imagens Capa - Filme Matinta, de Fernando Setgowick (2010). Fotografia de Marcelo Lelis. Pág. 3 - Filme Lua Cambará - Nas Escadarias do Palácio, de Rosemberg Cariry (2002). Fotografia de Kim/ Cariri Produções. Pág. 5 - Filme Amarelo Manga, de Cláudio Assis (2002). Imagem Divulgação. Pág. 7 - Com o ator Lima Duarte no filme 2 Filhos de Francisco, de Breno Silveira (2004). Imagem divulgação Globo Filmes. Pág. 8 - Novela Caminho das Índias, de Glória Perez com direção geral de Marcos Schechtman Pág. 13 - Junto com sua família no aniversário de 80 de sua mãe, Dona Florzinha . Acervo pessoal de Dira Paes. Pág. 14 - Com o esposo Pablo Baião e os filhos Inácio e Martim. Acervo pessoal de Dira Paes Pág. 23 - Filme The Emerald Forest, de John Boorman (1985). Acervo pessoal de Dira Paes. Pág. 24 - Com o ator Marco Ricca no filme Os Amigos, de Lina Chamie (2014). Imagem divulgação Imovision. Pág. 28 - Filme Órfãos do Eldorado, de Guilherme Coelho (2015). Imagem acervo pessoal de Dira Paes. Pág. 31 - Filme Baixio das Bestas, de Cláudio Assis (2006). Fotografia de Gilvan Barreto. Pág. 32 - Filme Corisco & Dadá, de Rosemberg Cariry (1996). Imagem divulgação Kariri Produções. Pág. 38 e 39 - Com o ator Nivaldo Pedrosa no filme O Segredo dos Diamantes, de Helvécio Ratton (2014). Fotografia de Bianca Aun. Pág. 45 - Novela Irmãos Coragem, de Dias Gomes e direção de Luiz Fernando Carvalho e Mauro Mendonça Filho (1995). Imagem acervo pessoal de Dira Paes. Pág. 46 - Novela Araponga, de Dias Gomes e direção de Cecil Thiré, Lucas Bueno e Fred Confalonieri (1990). Imagem acervo pessoal de Dira Paes. / Personagem: Nina (Nininha)

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Pág. 52 - Na série As Brasileiras, de Euclydes Marinho (2012). Fotografia Globo/Acervo. Pág. 54 e 55 - Com o ator Irandhir Santos na novela Velho Chico (2016). Fotografia Globo/ Caiuá Franco. Pág. 56 - Com o ator Marcos Palmeira no filme E Aí... Comeu?, Felipe Joffly (2012). Fotografia acervo pessoal de Dira Paes. Pág. 66 - Novela O Rebu, George Moura e Sérgio Goldenberg com direção geral de José Luiz Villamarim (2014). Fotografia Globo/Acervo. Pág. 74 e 75 - Filme À Beira do Caminho, Direção de Breno Silveira (2012). Fotografia acervo pessoal de Dira Paes. Pág . 76 - Novela Irmãos Coragem, de Dias Gomes e direção de Luiz Fernando Carvalho e Mauro Mendonça Filho (1995). Fotografia Globo/ Acervo.

Para a produção da reportagem desta publicação a atriz Dira Paes concedeu entrevista por telefone ao jornalista Paulo Gois Bastos em outubro de 2016. Agradecimentos à Stratosfera Comunicação e a Cris Gullo, responsáveis pela produção da atriz Dira Paes.

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CADERNO DO FESTIVAL DE CINEMA DE VITÓRIA HOMENAGEADO NACIONAL / 16ª Edição Projeto Editorial - Lucia Caus Delbone e Paulo Gois Bastos Reportagem e edição - Paulo Gois Bastos (MTB/ES 2530) Projeto Gráfico e Diagramação - Paulo Prot Transcrição de entrevistas: Igor Maia e Leonardo Vais Revisão de Texto: Luiz Cláudio Kleaim Especificações Gráfica Tipografia – Chaparral Pro para títulos e Gandhi Serif para texto Papéis – Couchê Fosco 115g/m 2 , Clear Plus 180g/m 2 e Cartão Supremo 250g/m 2 Impresso em Vitória-ES

O Caderno do Festival de Cinema de Vitória - Homenageado Nacional é uma publicação do 23º Festival de Cinema de Vitória, evento realizado entre 14 e 19 de novembro em Vitória-ES. O Festival é uma realização da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte. Nosso endereço e contatos: Rua Professora Maria Cândida da Silva, nº 115 - Bairro República - Vitória/ES. CEP 29.070-210. Tel.: 27-3327-2751 / producao@ibcavix.org.br

FICHA CATALOGRÁFICA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C122 CADERNO DO FESTIVAL DE CINEMA DE VITÓRIA HOMENAGEADO NACIONAL. Paulo Gois Bastos (Editor). Vitória: 23° Festival de Cinema de Vitória, Nov 2016. Anual. 80p.: il. (23º Festival de Cinema de Vitória, 7ª Edição). 1. Dira Paes 2. Teatro. 3. Cinema. 4. Filmografia 5. Televisão 7. Literatura. 8. 23º Festival de Cinema de Vitória. I. Bastos, Paulo Gois. (Editor).



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