Caderno de Homenagem do Festival de Cinema de Vitória - Homenageada Capixaba Margarete Taqueti

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Ministério do Turismo apresenta

CADERNO DO FESTIVAL DE CINEMA DE VITÓRIA

Margarete Taqueti HOMENAGEADA CAPIXABA 11ª EDIÇÃO


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Margarete Taqueti


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Fotografia de Vitor Nogueira / Acervo IBCA-Galpão (2021).


Com um percurso múltiplo na área cultural do Espírito Santo, Margarete Taqueti é um dos melhores exemplos do talento feminino em terras capixabas. Artista e profissional com inúmeras facetas, ela empreendeu seus trabalhos com muita excelência e presenteou a cultura de seu estado com um legado inestimável. Ainda na década de 1970, quando era estudante de Odontologia – curso em que se formou e profissão que exerceu –, estreou como atriz sob a direção de Claudino de Jesus. Com uma gestão marcante, Taqueti foi presidente do Centro de Estudos Ludovico Persici (Celp), onde contribuiu com a fundação do Cineclube Penedo, a criação do jornal Trippé e a realização dos Noitões de Cinema no Centro Cultural Carmélia de Souza, além de ter sido secretária da primeira diretoria da ABD Capixaba. Sua estreia nos sets de filmagem foi como roteirista e assistente de direção ao lado de Amylton de Almeida. Seu primeiro trabalho como diretora foi o documentário A Lira Mateense, sobre a banda musical homônima e o seu maestro Datan Coelho. O média-metragem sinaliza uma marca comum em quase todos os trabalhos de Margarete Taqueti como realizadora: a pesquisa e a memória. Ao lado da jornalista, atriz e diretora Glecy Coutinho, parceria recorrente em seus trabalhos, Margarete realizou algumas produções com este foco na pesquisa e na memória, como Festa na Sombra, documentário sobre a Haydée Nicolussi (em que dividiram a direção); e Relicário de Um Povo, biografia da escritora Maria Stella de Novaes (em que Glecy foi produtora) – trabalhos que apresentam um resgate de movimentos e figuras fundamentais na construção da identidade capixaba. Além disso, Taqueti foi produtora executiva da ficção Eu Sou Buck Jones, curta dirigido por Coutinho, e da ficção A Passageira, com direção e roteiro da dupla. Esses são alguns dos trabalhos dessa importante realizadora que segue mais ativa do que nunca. Seu projeto mais recente, que está em fase de finalização, é o longa documental Memórias do Esquecimento, que conta com a co-direção de Adriana Jacobsen, e joga luz sobre acervos e sítios arqueológicos indígenas do município de São Mateus para discutir o apagamento da memória cultural local e nacional. Esta publicação é uma oportunidade de transformar em memória a imensa contribuição de Margarete Taqueti para a cultura do nosso Estado. Além de ser uma das maneiras que encontramos para homenagear uma das artistas mais criativas, talentosas e fundamentais do – e para a história do – Espírito Santo. Viva Margarete! Lucia Caus Diretora do 28º Festival de Cinema de Vitória

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“(...) uma intelectual de primeira qualidade, uma mente investigativa, extremamente sensível para entender cinema (…)”. Essa é Margarete Taqueti, conforme a descrição de Amylton de Almeida, no artigo Considerações políticas e estéticas (à margem do naturalismo), publicado na edição nº 30 da Revista Você/Ufes, de 30 de maio de 1995. As palavras do crítico de cinema explicam um pouco sobre a artista, evidenciando atributos de seu pensamento-ação que originaram um significativo legado para as gerações atuais. Com 67 anos completos em 2021, Taqueti construiu uma trajetória político-cultural diversa e engajada na luta pela preservação e pela difusão da memória artístico-cultural do Espírito Santo. Diretora de filmes, pesquisadora, produtora, atriz de teatro, dramaturga, cineclubista, gestora pública de cultura, muitas foram as ocupações exercidas pela mineira natural de Aimorés, radicada em terras capixabas desde a adolescência. Margarete iniciou seu envolvimento com o fazer artístico quando era estudante de Odontologia, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), no final dos anos 70, ao integrar o grupo de teatro experimental e de vanguarda Phantasias de Assucar. Na companhia dessa trupe formada por estudantes universitários, estreou como atriz nos palcos no espetáculo As Interferências (1976) e atuou em outras três montagens, cujas dramaturgias foram criadas coletivamente. Para o teatro, ela também escreveu o espetáculo de sucesso na época, Boca Padrão: Uma fantasia Transreal por trás de cada Sorriso, montado pelo Grupo de Teatro Ponto de Partida, entre 1981 e 1988.

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Figura de um percurso biográfico familiarizado com diversas frentes do fazer cultural, foi sobretudo no audiovisual que Taqueti desenvolveu suas principais criações, promovendo importantes contribuições para a história cultural do Espírito Santo. Suas primeiras investidas na sétima arte foram na companhia do jornalista, escritor, dramaturgo, cineasta e crítico de cinema Amylton de Almeida – seu amigo pessoal, com quem foi roteirista e assistente de direção nos documentários Piúma: Conchas (1988), Incêndio nas Mentes (1990) e Nasce uma Cidade (1992). A jornalista, atriz e diretora Glecy Coutinho é outra parceria recorrente em seus trabalhos. Margarete foi a produtora executiva de Eu Sou Buck Jones (1997), curta ficcional dirigido por Coutinho, e dividiu com ela a direção de dois curtas-metragens: o documentário Festa na Sombra (2005) e a ficção A Passageira (2006). Em seu currículo, constam cerca de dez obras audiovisuais nos gêneros documentário, ficção e videoarte, em que atuou como diretora, e outras oito produções, em que exerceu diferentes funções: roteirista, continuísta, assistente de direção, produtora executiva e finalizadora. Em sua filmografia, fica evidente a preocupação em promover o resgate das biografias de mulheres que foram emblemáticas para a vida cultural do Espírito Santo, como Maria Stella de Novaes, Haydée Nicolussi e Lycia DeBiase. A preservação da memória é uma temática que também está presente em seu mais recente trabalho para o cinema, o documentário Memória do Esquecimento. Obra ainda inédita, esse longa-metragem contou com a co-direção de Adriana Jacobsen e investiga a destruição de um cemitério indígena pré-colonial no Espírito Santo para denunciar o descaso com a memória coletiva no Brasil.


Entre a segunda metade dos anos 1980 e o início dos anos 1990, Margarete foi a presidente do Centro de Estudos Ludovico Persici (Celp), onde empreendeu inúmeras ações voltadas para a difusão cinematográfica, que movimentaram a programação cultural local, envolvendo outras linguagens, como o teatro e a literatura. De 2002 a 2009, foi servidora pública na Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo (Secult), onde atuou diretamente no desenvolvimento e na execução da política pública de cultura para o setor audiovisual, com ações voltadas para o fomento, a difusão, a formação de público e a preservação da memória audiovisual capixaba. Taqueti também foi uma das fundadoras da ABD Capixaba, entidade criada para defender os interesses dos realizadores locais de audiovisual, além de ter participado da implantação da TV Guarapari. Após morar em algumas das cidades da Grande Vitória, em 2011, Margarete mudou-se para o balneário Guriri, em São Mateus, passando a residir a casa que foi de seus pais. Engajada na luta pela preservação do ecossistema costeiro local, a artista procura manter um cotidiano cercado de bichos, plantas e fungos. “Acho difícil imaginar a minha vida sem esses seres afetivos à minha volta. Cães, gatos, perus, galos, pássaros e abelhas diversas. Posso dizer que sou mais bicho e planta do que gente. Se tivesse uma outra vida me dedicaria inteira à produção de solo, ao cultivo de florestas, aos jardins pulsantes e à produção de alimentos”. Em 2015, Margarete foi homenageada pela ABD Capixaba na 10ª Mostra Produção Independente - O Lugar da Memória. Cinco anos depois, foi condecorada com a Comenda Maurício de Oliveira, honraria concedida pela Prefeitura Municipal de Vitória a cidadãos que contribuíram com a movimentação cultural da cidade. Sobre ser homenageada pelo 28º Festival de Cinema de Vitória, Margarete diz que esse reconhecimento foi um motivo para reviver e reavaliar momentos importantes de sua carreira. “Tenho só agradecimentos por essa homenagem e a todas as pessoas que trabalharam comigo, que me acompanharam ao longo desses anos e que, muitas delas, estão comigo até hoje. Isso foi algo bem poderoso pra mim. Tive a possibilidade de avaliar o que foi construído e de não sofrer tanto, pois me punia com alguns eventos da minha história. Estou apreciando esse momento como se fosse um doce cuja calda é um néctar que revela as coisas boas que realizei”.

Um infância ribeirinha Margarete Lírio Taqueti é natural de Aimorés, cidade mineira, situada às margens do Rio Doce, onde morou até os doze anos. Filha de Marieta Lírio Taqueti e de Alexandre Taqueti, ela é a caçula de uma família de três irmãos. Seu nascimento, no dia 3 de junho de 1954, trouxe algumas complicações de parto para sua mãe, mas ao final tudo deu certo. Seu pai era filho de imigrantes italianos vindo de Pádova para a região de Alfredo Chaves. Nos anos 30, a família se mudou para Aimorés. Alexandre começou a vida profissional como auxiliar do comércio e chegou a ser proprietário do Armazém Taqueti, no ramo de secos e molhados. Ele também

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atuou como atacadista de alguns itens, chegando a ser o maior fornecedor de arroz da cidade durante um período. Era leitor costumeiro de jornais e possuía inclinações políticas progressistas para a época. Já sua mãe, pela família paterna, descendia de indígenas puris que foram catequizados no Sul do Espírito Santo. “Meu avô materno, Manoel Pinto Lyrio, nasceu em Biriricas, no município de Viana, em 1883. Era escrivão e migrou para Aimorés. Um homem letrado que alfabetizou todos os filhos e acumulou um grande conhecimento de plantas medicinais. Fui descobrir sua origem há pouco tempo, quando identifiquei seu retrato. Era segredo ou um assunto não comentado”. Além dos afazeres como dona de casa, Marieta Lírio Taqueti era empreendedora, atuava no comércio junto com o marido, fazia trabalhos como costureira da família, dava aulas de corte e costura, vendia plantas e fazia jardins, além de trabalhar como cozinheira e confeiteira. “Minha mãe era uma figura especial, entendia de plantas, fazia hortas como ninguém, fazia enxertos de rosas, tinha coleções de diversas plantas como antúrios, violetas e avencas. Isso é uma das coisas que eu aprendi com ela, não tudo, né? Eu era muito pequena para esse tudo que ela praticava, mas eu estava sempre ao lado dela durante a minha infância e adolescência. Ela era a pessoa mais forte da minha casa, sempre tomou todas as frentes, meu pai sempre olhava pra ela antes de assumir qualquer coisa e nós também. Adorava o rádio, a televisão, os seus próprios discos, as coleções de revistas de moda, enciclopédias, cinema e dançar com meu pai. Foi à Brasília com uma irmã, na inauguração da Nova Capital. Amava Juscelino Kubitschek”.

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Desde cedo, Taqueti teve proximidade com animais de estimação, especialmente com gatos. Ainda na primeira infância, era visitada por um gato da vizinhança que, vez ou outra, entrava pela claraboia da casa para ir aconchegar-se no berço enquanto ela dormia. “Minha mãe era supersticiosa e via aquilo como bruxaria. Nunca gostou de gatos. Vivia narrando essa história da Casa da Venda, onde eu nasci. Vivíamos rodeados de bichos domésticos e de alguns silvestres. No entanto, lá estavam os felinos, sempre por perto”. Outras encantarias que marcaram essa época referem-se às lendas que faziam parte da vida ribeirinha e às transformações que o Rio Doce imprimia na paisagem, com suas cheias e secas.“Eu era fascinada pelas histórias de caboclinhos d’água, criaturas encantadas que, segundo relatos apavorantes, chegavam a virar as canoas para proteger o rio”. Além da mitologia ribeirinha, sua vida em Aimorés foi um momento de aproximação com a iconografia católica – o que irá repercutir em suas futuras criações para o cinema. “Estudei em colégio de freira, fiz a primeira comunhão e participava de coroações. Fui a muitas procissões, eu achava esses autos maravilhosos, aquelas indumentárias, os adereços, os cheiros... Por isso, eram bem presentes no meu cotidiano a figura dos santos e os eventos do calendário católico. Há uma estética presente nessas liturgias católicas que eu acabei levando para alguns trabalhos meus, como em O Fantasma da Mulher de Algodão”. Na infância, uma de suas brincadeiras era ser artista: “Eu fazia meus teatrinhos em um espaço da minha casa onde era possível pendurar colchas e lençois para


fazer as cortinas e cenários, e trazia todas as cadeiras da casa para a plateia. Ia ao guarda roupa da minha irmã e à casa dos vizinhos para pegar peças emprestadas e, às vezes, era em função desse figurino que eu criava a personagem e a própria peça. Daí chamava os vizinhos, que apoiavam o espetáculo, geralmente os pais das atrizes, minha mãe e as amigas de minha irmã para assistirem, ali a gente se apresentava”. No domingo, depois da missa das nove da manhã, ela também vestia uma saia calhambeque e participava de um programa de auditório na Rádio Aymores, um programa ao vivo para adolescentes, onde cantava as músicas de Denise Barreto ou dublava a cantora italiana Rita Pavone, de quem era fã. Dessa época, ela não esquece das idas aos circos, aos parques de diversões, dos trens fantasmas e shows transformistas da Mulher Gorila. E lembra com nitidez as sessões de filmes curtos nos acampamentos ciganos, muito pobres, que faziam temporadas em Aimorés. O domingo era um dos dias mais aguardados da semana, pois era o dia de maratonar filmes, hábito que repercutiu na cultura cinéfila de sua vida adulta. “Ir ao cinema era um presente, uma recompensa pelo bom comportamento que tive durante a semana. Eu ia nas três sessões: primeiro nas matinês, que geralmente era um filme de faroeste, Tarzan ou da Atlântida; depois acompanhava a minha irmã com o namorado dela – pois moça de boa família não podia ir acompanhada apenas do namorado para o cinema – na sessão das seis. Quando saíamos do cinema, meus pais já estavam na fila aguardando para a sessão das oito. Dependendo do título e da livre pressão, eu assistia à outra sessão com os meus pais. Geralmente, os filmes de Sissi, a Imperatriz, Sarita Montiel ou filmes bíblicos. Minha irmã ficava impressionada, porque eu lia todas as legendas e sabia contar o roteiro do filme com detalhes, que ela dizia: nem eu tinha dado conta”.

Ser comunista quando crescer Margarete tinha como melhor amiga a filha do porteiro e projecionista do cinema, o Seu Urano. Por isso, várias vezes ela subiu até a cabine de projeção durante as sessões. “Antes de começar o filme, havia uma mise en scène, uma cerimônia que abria a sessão: tocava um sinal grave como um navio, apagavam-se as luzes da platéia e tocava uma música (Bésame Mucho), acendiam luzes coloridas no procênio, as cortinas abriam expondo a tela branca que recebia os primeiros fachos da projeçao (mágica). Na entrada do cinema, havia a baleira, onde a gente comprava e trocava revistinhas e figurinhas de álbuns e heróis do cinema. Eu aprendi a ler com as revistinhas de faroeste motivada pelo desejo de entender a história dos filmes, cresci com essa alfabetização visual. Por isso, quando eu fui enviada para escola aos cinco anos, eu já estava alfabetizada, mas não sabia escrever, só sabia ler”. Margarete também ficou muito amiga de outras duas crianças que eram da família vizinha, cuja residência possuía uma imensa biblioteca. Logo após a instauração do Golpe Militar de 1964, o pai dessas crianças, que era um advogado e

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atuava como gerente bancário na cidade, foi preso pela polícia, durante a madrugada. “Aquilo acordou todo mundo lá em casa, minha mãe ficou impressionada e papai foi na delegacia pra saber o que aconteceu. A esposa do advogado ficou lá em casa esperando papai chegar e ela chorava muito. Quando papai chegou, ele e mamãe foram pro quarto conversar de portas fechadas. Na manhã seguinte, mamãe falou pra gente que o advogado foi preso porque era comunista. Eu fiquei questionando ‘o que seria um comunista?’. Eu comparava a casa do advogado com a dos meus pais, via o que tinha lá e o que não tinha na nossa casa e pensava: aquelas estantes cheias de livros, todos aqueles quadros espalhados pelas paredes, a quantidade de informações que circulava naquela casa… Tudo isso era coisa de comunista. Aí eu pensei ‘quando eu crescer quero ser comunista?’ [risos]. Tenho esse fato bem marcado, porque eles mudaram logo em seguida para Belo Horizonte e nunca mais retornaram. A partir daí, toda vez que eu ia à casa de alguém e via muita informação, eu pensava: ‘são comunistas’. Pra mim, comunista era um adjetivo positivo e, ao mesmo tempo, algo muito perigoso”. Em 1966, a família de Margarete mudou-se para o bairro de Itaquari, em Cariacica. Enquanto o comércio funcionava no térreo, a residência ocupava o primeiro andar com vistas para a maré. Para dar continuidade aos estudos, ela ingressou na Escola São Vicente de Paula e, um ano depois, foi para a Escola Normal Pedro II, que funcionava no edifício onde hoje é a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Maria Ortiz, ao lado do Palácio Anchieta. “Foi uma maravilha voltar a conviver com aquele monte de mulheres de saia e bolerinho, era aquele tititi, aquela alegria”. Em seguida, foi cursar o ensino médio no Colégio Estadual do Espírito Santo, espaço onde fez amizades cultivadas até os dias atuais.

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Nessa época, ela também chegou a frequentar aulas de teatro com Gilson Sarmento e tinha o hábito de escrever poesias. “Eram coisas próprias dessa idade, dessa busca, dessa procura, mas sem talento algum” [risos]. Na metade do último ano do ensino médio, a jovem Margarete viveu um momento definidor de seus engajamentos artísticos e políticos. Ela ingressou no Colégio Americano, no Parque Moscoso, em horário noturno, onde se aproximou de pessoas de uma cena artístico-cultural de esquerda que frequentavam a escola, como Claudino de Jesus e Merly Alves dos Santos. “Foi ali, com os meus amigos “hippies” – como bradava meu irmão – que me percebo fazendo uma outra leitura de mundo e ouvindo um certo tipo de música que eram influenciadas pelos festivais, pelo jazz, pelo rock, pelas bossas nova e a baiana, que não eram usuais às garotas da minha idade. Eu virei leitora de jornais alternativos de esquerda ou contrários à Ditadura, como O Pasquim, o Jornal Opinião, O Movimento, o Le Monde. Eu ficava procurando nos jornais tudo que se relacionava à política social e à redemocratização. Por exemplo, quando ocorreu a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro. Essa era uma forma de eu me apropriar do mundo comunista, pois, pra mim, a informação era comunista. Meu irmão, fervoroso estudante de medicina, me dizia ‘você não vai passar nesse vestibular, não estuda, só anda com hippie’. Isso me estimulava mais ainda a andar com pessoas irreverentes, porque eu as via como comunistas, afinal, elas eram intelectuais, diferentes de tudo aquilo que estava estabelecido, e exerciam forte


influência sobre mim. Eu tirava boas notas, só não estudava muito. Os meus pais nunca foram de direita, nem tão pouco de esquerda, minha familia não fazia essa distinção política e não carregava esse meu fantasma, de virar comunista”.

Uma atriz odontóloga Mesmo com uma certa insegurança, Margarete se inscreveu no vestibular para o curso de Odontologia, na Ufes, em 1971. “Eu queria fazer jornalismo, mas meu irmão me incentivou para o biomédico e acabei mudando. Havia duas amigas que iam fazer odontologia, a Bete e a Mara, que também me influenciaram. Eu conversei com o meu pai e falei: ‘vou fazer esse vestibular e não vou passar, ano que vem eu estudo melhor pra passar’. Porque eu não tinha nem 17 anos completos quando fiz o danado do vestibular. Pra que que eu precisava entrar na faculdade tão cedo? Mas aí eu fiz, acabei sendo aprovada em terceiro lugar e comecei a cursar a Ufes, em 1972”. Margarete ingressou na Ufes em momento no qual o Centro Biomédico, atual Centro de Ciências da Saúde (CCS), vivia clima de temor e inércia advindo de uma investida do poder ditatorial: alguns anos antes, o campus de Maruípe fora invadido pela polícia da Ditadura, ocasionando o fechamento do Diretório Acadêmico, além da prisão e da tortura de estudantes e de professores. Boa parte dos professores que lecionavam também eram velhos conservadores. Tal contexto tornava o espaço acadêmico angustiante e, devido a isso, Margarete desejava mudar de curso ou simplesmente sair da universidade. Percebendo essa falta de motivação, Rômulo Augusto Penina, que era professor do Curso de Odontologia, incentivou os estudantes a realizarem atividades artístico-culturais no campus. A partir de 1974, Margarete se envolveu nessa mobilização artístico-cultural que empreendeu diversas ações no campus de Maruípe, forjadas por um núcleo artístico que contou com a atuação de Magno Godoy, Claudino de Jesus, Elisa Lucinda, Zanandré Avancini, Hugo Brandião e Luciano Cola – além de Margô Dalla, Ubiratã Medeiros, Adalto Emerich, Marta Tristão, Creso Euclides, entre outros, que fazem participações efetivas em espetáculos encenados. Tendo como principal base o pátio do Hospital das Clínicas, eles vivenciaram experimentações nas artes cênicas, no vídeo, na música e nas artes plásticas. Parte dessas pesquisas irão desembocar no grupo de teatro Phantasias de Assucar que, por meio de laboratórios de teatro e dança, desenvolveu espetáculos que foram apresentados nas Mostras de Teatro da Ufes, organizadas por Gilson Sarmento. Ela relembra dessa experiência teatral universitária como um momento de muita criatividade, alegria e potência. “Considero o Phantasia a minha verdadeira e única passagem pelo teatro. Foi uma coisa extremamente agradável e me possibilitou suportar a Ufes naquela época. Eu falei para o professor Penina que era preciso criar alguma coisa no campus para que a gente suportasse o espaço acadêmico. No

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No espetáculo teatro As Interferências, Teatro Carlos Gomes, Vitória-ES (1976). Da esquerda para direita: Martha Tristão, David Silveira, Marta Baião, Adalto Emerich, Margarete Taqueti, Magno Godoy e Zanadré Avancini. Acervo pessoal de Margarete Taqueti.

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grupo, todos os integrantes davam conta de todas as áreas e aquele teatro nos dava a possibilidade de ultrapassar os nossos limites e nos despia enquanto sujeitos. Era um teatro minimalista e pobre, que eu gosto muito. A gente ensaiava o ano inteiro nos laboratórios experimentais dentro de uma salinha do Diretório Acadêmico. Quando chegava a época das Mostras, definíamos a peça que seria montada e íamos ensaiar”. Geralmente, os ensaios para as Mostras aconteciam na Escola que fica ao lado do Parque Moscoso, a atual Escola da Ciência-Física. Quase sempre, o Phantasias de Assucar apresentava trabalhos autorais que resultavam das várias pesquisas e experimentações realizadas pelo grupo ao longo do ano. Margarete fez sua estreia nos palcos em 1976, no espetáculo que abriu a primeira Mostra de Teatro da Ufes, As Interferências, de Maria Clara Machado, sob a direção de Claudino de Jesus. Nos anos seguintes, ela atuou como atriz e dramaturga em outras três peças que foram criações coletivas do Phantasias de Assucar: Meu nome é Isaulino, Mas Todos me Conhecem como Neném (1977) e Bumba Meu Bucho (1978), dirigidos por Magno Godoy, e São Mateus Colônia (1980), com direção coletiva. Na época, o patrulhamento da censura da Ditadura acompanhava as apresentações, porém a estética transgressiva com falas propositadamente truncadas e um elenco que interpretava diversos personagens simultaneamente num mesmo espetáculo,


contribuía para burlar a ação dos censores, como foi o caso de Bumba Meu Bucho: “o espetáculo começava com todo o elenco vestido de malha e, no cenário, havia um varal de arame farpado onde pendurávamos algumas peças do figurino que íamos trocando. O Magno [Godoy] criou um totem que era a Vaca Capitalista e eu entrava em cena como a Fada Madrinha Capitalista, usando um figurino meio Mulher Maravilha, usando uma cartola igual a do Tio Sam. Eu abria uma garrafa de Coca-Cola, tomava o refrigerante, dava um arroto, erguia a garrafa e dizia ‘o que nos traz a cena é fome’, que é uma adaptação do Oswald de Andrade. Eu nem gostava de Coca-Cola, era macrobiótica e nos ensaios nunca tinha Coca-Cola, mas ali, no palco, tomava com a maior empolgação. Elisa Lucinda interpretava a Chapeuzinho Vermelho, que era presa como revolucionária comunista, estuprada pelo carcereiro (Lobo Mal), que a engravida. Então, eu interpretava a Enfermeira que fazia o parto (o banquete antropofágico) e Odócia, uma comadre de Chapéu. Assim, o elenco ia trocando de personagens para poder contar essa fábula. Era uma loucura. A gente encenava para os censores e eles tentavam acompanhar, mas não conseguiam, porque era bem minimalista e muito rápido”. Sob a orientação da professora do curso de Educação Física da Ufes, Adelzira Madeira dos Santos, São Mateus Colônia teve como base as pesquisas do jornalista Rogério Medeiros. Foi graças a essa montagem que Margarete aproximou-se do folclorista Hermógenes da Fonseca. “Ele assistiu ao espetáculo e gostou da minha personagem, ficou impressionado por eu ser jovem e estar interpretando um velha negra, depois foi até o camarim me parabenizar e me convidou para ir à sua casa que ficava em Santana, em Conceição da Barra e, até então, eu não conhecia o norte do Espírito Santo”. O que Margarete não imaginava é que o dia de sua visita coincidiria com as filmagens do documentário Mestre Pedro de Aurora - Pra Ficar Menos Custoso, de Orlando Bomfim Netto, que tiveram a casa de Hermógenes como locação. “Só fui entender o que tinha acontecido, quem eram aquelas pessoas e a importância delas depois. Guardo detalhes dessa ‘longa jornada noite adentro’. Por isso, me senti muito honrada. Tempos depois, eu e Adélia Maria de Souza fizemos a coordenação editorial do livro Tradições Populares no Espírito Santo, do folclorista, ilustrado com fotos do jornalista e fotógrafo Rogério Medeiros. O livro foi produzido pela Divisão de Memória do Departamento Estadual da Cultura, sob a direção de Alcione Dias”. Margarete concluiu sua graduação em Odontologia em 1976. Logo ao sair da universidade, montou um consultório em que atendia prioritariamente crianças e adolescentes, e que ficou em funcionamento por cerca de uma década. Mesmo trabalhando como uma profissional da área da saúde, ela continuou atuando na cena artístico-cultural local. Pouco antes de encerrar sua carreira como dentista, escreveu a peça Boca Padrão, uma fantasia trans real por trás de cada sorriso, dramaturgia na qual Margarete tem a vivência no consultório como material de criação. Voltado para o público infantil, esse espetáculo no formato de musical narra as tensões políticas do órgão bucal durante a perda da dentição de leite e a chegada da dentição definitiva.

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Boca Padrão circulou de 1981 até 1988, em uma montagem feita pelo Grupo Ponta de Partida, que foi uma das companhias mais atuantes no Espírito Santo, nas décadas de 70 e 80. “Fiz o texto e mostrei para o ator Creso Euclides, membro do Grupo, e ele apresentou para o restante do grupo. Depois, eu fiz uma leitura pra eles e eles gostaram. Inicialmente, havia duas músicas, então eles acharam que a proposta podia ser transformada num musical, que determinados acontecimentos narrados no texto soariam melhor se fossem musicados”. Quem fez as composições e arranjos para as letras do musical foi Rogerinho Borges. Boca Padrão repercutiu bem junto à crítica e ao público da época, e foi premiado como Melhor Espetáculo Infantil em uma das edições do Festival de Teatro de Ponta Grossa, no Paraná, o que acabou promovendo a aproximação de Margarete com a escritora infanto-juvenil e educadora Fanny Abramovic e outros pensadores sobre o teatro como feramenta em sala de aula. A última contribuição de Margarete para o teatro foi Mulher e Perfume, obra ainda inédita nos palcos que foi escrita juntamente com Glecy Coutinho, em 1998. Tendo como fonte de pesquisa a memorabília da escritora e radialista capixaba Arlete Cypreste de Cypreste, essa dramaturgia é ambientada na Era do Rádio, apresentando comerciais, notícias e receitas mediados pela performance radiofônica com o uso de recursos da sonoplastia, evidenciando os bastidores do rádio.

Cineclubista e produtora de TV

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Assim que entrou na Ufes no início dos anos 70, Margarete encontrou um espaço onde pode dar vazão à sua verve cinéfila: o movimento cineclubista. “Lembro da primeira vez que eu fui num cineclube. Eu estava no Restaurante Universitário de Maruípe e recebi um mosquitinho sobre uma sessão de cinema que iria acontecer na Faculdade de Engenharia. Essas atividades culturais eram clandestinas, aconteciam meio que por debaixo dos panos por conta da Ditadura. Eu peguei meu bandejão, sentei ao lado do Tião Sá, irmão do hoje cineasta Ricardo Sá, e falei pra ele sobre a sessão, aí ele falou pra mim ‘Eu sei. Eu conheço as pessoas que estão fazendo’. Aí nós fomos assistir à exibição. Fomos andando. Quando chegamos, o filme já havia começado, abrimos uma porta e demos de cara com a projeção. A gente tentando se acomodar no escuro, sentamos no chão, entre pernas, sem termos ideia de quem estava lá dentro e as pessoas nos orientando: ‘Psiu, sente aí!’. Era um filme americano com legenda em espanhol (Sombras, John Cassavetes). Quando o filme acabou e as luzes acesas, vi que estava em uma sala pequena e velha, com paredes amareladas pelo tempo. Achei maravilhoso! Nunca tinha visto aquilo e fiquei impressionada. Percebi que não era necessário ter uma sala, ou uma tela como as dos cinemas convencionais, eu podia fazer aquilo na parede da sala da minha própria casa, bastava o projetor (me apaixonei)”. O movimento cineclubista brasileiro foi um dos primeiros a reagir de forma organizada às restrições impostas pela Ditadura. Assim, o Cineclube Univer-


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Acima, frames da ficção O Fantasma da Mulher de Algodão. Abaixo, bastidores das bastidores e stills desse mesmo filme. Fotografia de Canário Calliari (1995).


sitário Cláudio Bueno Rocha, que Margarete viu nascer e foi assídua frequentadora, era um ponto de encontro dos diversos segmentos que lutavam pela redemocratização do país. “Sempre gostei muito de cineclubes. Eu saía lá do Conjunto Militar, em Vila Velha, onde eu morava, pegava dois ônibus e ficava horas no trânsito para ir até Ufes e assistir a uma sessão. Às vezes, só havia eu de público e os meninos tinham a maior consideração comigo, tamanho era o meu envolvimento com a programação do cineclube”. Esse engajamento fez com que Margarete participasse da fundação do Centro de Estudos Ludovico Persici (Celp), em 1986. Organização cultural de origem cineclubista, o Celp tinha a finalidade de promover estudos e o fomento do audiovisual no Espírito Santo. Margarete foi a sua primeira presidente, função que exerceu até o início dos anos de 1990. Uma das primeiras ações do Celp foi a criação do Cineclube Penedo que ficava sediado na extinta Casa da Cultura, no Centro de Vitória, e realizava exibições de filmes em 16 milímetros com foco na literatura e no teatro. “Começamos uma programação diferenciada de tudo que era apresentado nos outros cineclubes e nas salas de cinema. Era um diálogo com a própria Casa da Cultura e presenciávamos uma cena teatral capixaba efervescente, por isso era um cinema voltado para autores como Gean Genet, Antonin Artaud e Bertolt Brecht, e tudo que envolvia o Teatro Brasileiro, em documentários e ficção que existiam em cópias de 16mm da Dina Filmes”.

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O êxito na condução do Cineclube Penedo rendeu o convite por parte do Departamento Estadual de Cultural para que o Celp implantasse e assumisse a gestão do Cineclube Ludovico Persici no Centro Cultural Carmélia de Souza. “Chegamos a manter os dois cineclubes funcionando em paralelo por um tempo, mas acabamos ficando apenas no Centro Cultural Carmélia de Souza, pois era uma programação diária de filmes, o que demandava uma maior dedicação da diretoria do Celp”. Em suas gestões, Margarete promoveu os Noitões de Cinema, que eram verdadeiras maratonas cinematográficas que viravam a madrugada. “Até hoje as pessoas lembram dos Noitões. Eram fantásticos! A programação começava às 18 horas, e encerrava às seis da manhã do dia seguinte. Ocupávamos todo o Centro Cultural Carmélia de Souza, pois envolvíamos todas as outras linguagens para fazerem parte da programação: o teatro, as artes plásticas, a divisão de memória”. Para além da audiência de filmes, a cultura cinéfila gosta de discutir sobre aquilo que assistiu na telona. Compreendendo essa necessidade, outro projeto capitaneado por Margarete no Celp foi a criação e veiculação de um impresso cultural independente: o jornal Trippé. “Constatamos que precisávamos ter mais do que aqueles flyers com a programação dos filmes, precisávamos de um espaço para refletirmos sobre o cinema, sobre os diretores e suas filmografias, e também voltado para a fotografia e a propaganda”. Com duas edições lançadas, o Trippé foi financiado com a venda de anúncios e trazia matérias e textos críticos sobre cinema de colaboradores convidados. No final dos anos de 1990, Margarete participou da implantação da TV Guarapari, onde atuou como produtora de diversos programas, como o Guarapari em Foco,


que era apresentado por Patrícia Vallin, e o Nosso Estilo, que era um programa onde o Alfredo Gini apresentava receitas culinárias executadas por chefs e cozinheiros de restaurantes locais. Para essa emissora, ela também produziu clipes com os músicos locais para serem veiculados no horário do almoço. Eram produções simples com uso de chroma key, que atendiam a uma demanda de exibição dos trabalhos da cena cultural local. “Foi uma ótima experiência. Cheguei no momento em que se discutia qual seria o tipo de programação da emissora. A TV foi mobilizando o meio cultural a fim de conseguir a audiência na cidade, já que o sinal da emissora era captado apenas por antenas pé de galinha e competia com as parabólicas. Nos programas da emissora tratamos de pautas importantes para a cidade: a poluição sonora, o conflito entre os moradores idosos e um perfil de turismo jovem que chegava, os impactos trazidos pelo aumento no fluxo turístico, entre outros”.

Gestora pública de cultura Margarete sempre atuou para a construção de políticas públicas de cultura voltadas para o audiovisual, participou da comissão que elaborou a Lei Rubem Braga do município de Vitória e fez parte do Conselho Estadual de Cultura como representante da área do cinema. Em 2000, ela participou da fundação e foi a primeira secretária da ABD Capixaba, organização criada para defender as demandas dos realizadores de audiovisual. Pouco tempo depois, graças ao seu trabalho como formuladora de projetos na área do cinema, ela passou a integrar a Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo (Secult), onde trabalhou até 2009, sempre na formulação, no desenvolvimento e execução da política estadual de cultura voltada para o setor audiovisual. Ao longo de sua atuação como servidora pública, Margarete esteve à frente de iniciativas muito importantes, especialmente para a preservação da memória cinematográfica capixaba e para a difusão do audiovisual local entre os próprios capixabas. Foi graças ao seu empenho que a Secult promoveu a restauração e digitalização de obras de grande valor para a história cultural do Espírito Santo, como o filme Cenas de Família, que o pioneiro do cinema capixaba Ludovico Persici realizou de 1926 a 1929, e o acervo de cinejornais feitos por Júlio Monjardim, entre os anos de 1950 e 1970. O Museu de Arte do Espírito Santo – Dionísio Del Santo foi um espaço que sediou alguns dos projetos idealizados por Margarete: o CineMaes, que consistia em uma programação trimestral de filmes com a presença de especialistas convidados para discutiren sobre temas variados como música, literatura e ciências humanas; o 10 Maes Vídeos, que exibiu 143 vídeos de 80 realizadores, a maioria deles capixabas, que foram produzidos nas décadas de 80 e 90, construindo o mais expressivo acervo da produção videográfica do Estado; e a Mostra Universitária de Vídeos no Museu de Arte do Espírito Santo (MuvMaes) que chegou à 3ª edição como uma janela competitiva para produção nacional de vídeos.

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Folheteria e impressos de projetos desenvolvidos por Margarete Taqueti no Celp (1986 a 1990 a 1992) e na Secult (2002 a 2009). Acervo pessoal de Margarete Taqueti.


Outro projeto significativo que ela concebeu e desenvolveu enquanto atuou na gestão pública estadual foi a MoVa – Mostra de Vídeos Ambientais, cuja primeira edição aconteceu no Teatro Municipal de Guaçuí, em 2004. Nesse primeiro ano, a Mova atendeu diretamente jovens de 11 municípios da região capixaba do Parque Nacional do Caparaó com ações de formação audiovisual, além de contar com mostra competitiva e paralela com filmes premiados no Festival Nacional de Cinema e Vídeo Ecológico (Ecocine) e no Festival Internacional de Vídeo Ambiental (Fica). Essa iniciativa foi tão exitosa que chegou a envolver 53 municípios capixabas constituindo uma rede de jovens realizadores de audiovisual. Por envolver diferentes agentes do poder público e entidades da sociedade civil, e por articular políticas de diferentes áreas (cultura, educação, turismo, juventude e meio ambiente), a MoVa recebeu o Prêmio Nacional Cultura Viva, na categoria Gestão Pública, realizado pelo Ministério da Cultura, em 2006.

Uma realizadora de cinema A figura de Margarete Taqueti é fundamental para apontar a presença feminina no audiovisual capixaba. A artista fez parte de importantes movimentos, alguns deles inaugurais, no universo cinematográfico do Espírito Santo e trabalhou com diversas gerações. A experiência faz dela uma profissional que enxerga no audiovisual um espaço fundamental para a construção da sociedade. “A linguagem do cinema tinha que ser uma coisa corriqueira. Porque a partir do momento que você trabalha com ela desde a infância, como uma matéria curricular, pode acontecer algo que eu pensava na década de 1980: a possibilidade das pessoas terem afinidade com a linguagem do audiovisual como ferramenta de desenvolvimento”. Depois de atuar em movimentos de difusão, no final da década de 1980, Margarete entrou para o universo da produção cinematográfica, primeiro como roteirista e assistente de direção de Amylton de Almeida – nos documentários Piúma: Concha (1988), Nasce uma Cidade (1989) e Incêndio Nas Mentes (1990), além de ter participado da adaptação de duas obras literárias para roteiros de cinema: My Funny Valentine, Quinta-Coluna e América, América. Sua estreia na direção de filmes foi o documentário A Lira Mateense (1992), sobre a banda musical homônima criada no município de São Mateus, que, durante anos, teve à frente o maestro Datan Coelho. “Era um maestro, descendente de indígenas, um dos maestros mais fantásticos que eu conheci”, relembra ela. A ideia para fazer esse primeiro filme aconteceu de forma totalmente casual, quando Margarete levou um cachorro de estimação para passear na Prainha, em Vila Velha, que sediava um concurso de bandas marciais. “Passei lá, dei de cara com aquilo. Comecei a assistir aquele monte de bandas. Aí sobe aquela figura indígena no palco com sandália de dedo, uma calça de carne seca, uma camisa pior do que as minhas. Jamais imaginei que ele fosse o maestro Datan Coelho. Aí daqui a pouco começa a subir aquele povo que eu gosto... aquele monte de

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Acima, parte da equipe do documentário Piúma: Conchas: da esquerda para a direita, Josephina Guimarães (pesquisadora), Margarete Taqueti (roteirista e assistente de direção), Amylton de Almeida (diretor), Adélia de Souza (diretora de produção), José Lúcia Campos (fotógrafo). Fotografia de Lam Shuk Yee (1988). Abaixo, Alcione Dias (atriz) e Margarete Taqueti (roteirista e diretora) no set de filmagem de O Fantasma da Mulher de Algodão (1995). Fotografia de Canário Calliari.


gente morena de todos os tipos e padrões, com suas flautinhas nas mãos, com seu metais, e vão tomando o lugar e tudo mais. Aconteceu a apresentação. fiquei impressionada, aí fui conhecer quem era Datan Coelho e entrei numa de que queria fazer um filme com ele. Eu saí de lá chorando e minha cadela também”. Margarete optou por dedicar o roteiro do documentário à figura do maestro e também da história do lugar e da Lira Mateense. “Eu entrei numa de um trabalho que era praticamente sobre Datan enquanto maestro de uma banda. Aí vem seu Oraldo, que era o pai dele, que foi o primeiro maestro. E Datan, muito original, entrou numa de me mostrar São Mateus inteiro, todas as periferias, todos os buracos, as belezas de São Mateus, que nutria a musicalidade dele. E eu lá fui registrar tudo”. Após a finalização, A Lira Mateense foi exibido em São Mateus e na TV Educativa do Espírito Santo, emissora que co-produziu o curta, 100 cópias em VHS do filme foram distribuídas para cineclubes e outras instituições culturais do Espírito Santo. O segundo documentário dirigido por Margarete foi Danúbio Azul, curta que fala sobre a história do cineclubismo na Ufes, e foi o trabalho final para um curso de extensão na universidade, sobre história do cinema, que foi conduzido pelo professor Arlindo Castro. Com câmera e edição de JB Souza, o filme contava com uma série de entrevistas feitas com importantes protagonistas do movimento cineclubista, usava trechos de filmes clássicos como o Cidadão Kane, 2001 Uma Odisseia no Espaço e outros, trazendo o registro do mural de Raphael Samú, que fica na entrada do campus de Goiabeiras. A sua estreia na direção de ficções foi em O Fantasma da Mulher de Algodão, cujo roteiro é de coautoria de Tião Sá. O filme resgata uma lenda urbana capixaba da década de 70, para falar sobre as transformações da adolescência, sobre o quanto o banheiro representa um dos últimos refúgios para a privacidade nessa idade, enquanto uma metáfora sobre a repressão da Ditadura Militar brasileira. Parte desse imaginário foi colhido por Margarete junto aos seus pacientes adolescentes no consultório de dentista. “A lenda contava que uma professora foi degolada por um aluno que ela havia reprovado. O fantasma dela aparecia nos banheiros toda suja de sangue, era uma coisa assustadora. Fiquei trabalhando esse negócio na minha cabeça: ‘Por que no banheiro? O que significava isso no banheiro? Por que os adolescentes não iam mais pro banheiro sozinhos e apenas em turmas?’. Nos anos 70, os professores eram extremamente vigiados e considerados como ideológicos, por isso eram silenciados e muitos deles estavam fugindo do país. Então o filme apresentava essa professora degolada e silenciada. Fui vendo que aquilo tinha um caldo muito interessante e podia ser uma referência daquela época”. O curta-metragem foi feito em um esquema de cinema de guerrilha, filmado em 16 milímetros e com orçamento enxuto, mas com uma equipe disposta a dar vida ao fantasma. “O dinheiro que a gente tinha era da Lei Rubem Braga para fazer um VHS. Claudino [de Jesus, produtor e amigo de Margarete] fala para mim: ‘não senhora, este roteiro é maravilhoso, nós vamos fazer cinema ‘. Eu nem sabia como é que era isso, como era difícil, por exemplo, fazer uma iluminação de interiores para

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um filme. Era diferente do vídeo. Aquela loucura, aquele monte de cabo, aquele calor que as luzes geravam. Era exaustivo. Eu gosto mais da sala de montagem. Tenho dificuldades com multidão, e multidão, eu começo a contar a partir de 3. Não sei se eu estava preparada, quer dizer, a gente nunca está. Uma coisa que eu sei hoje é que é preciso trabalhar com uma equipe profissional, com o mesmo filme na cabeça, quanto mais enxuta a equipe, melhor”. Apesar da experiência intensa, ela guarda memórias afetuosas e também muito engraçadas da época das filmagens. “Foi lindo, muita gente querida, e trabalhar com aqueles adolescentes. Eu morria de medo do Fantasma da Mulher de Algodão, porque a gente estava filmando em um colégio muito escuro e sombrio e tinha muita cena de banheiro. Sempre que eu queria ir ao banheiro, alguém tinha que ir comigo e ficar conversando do outro lado”. O filme seguinte de Margarete, Eu Não Sou Buck Jones, solidifica uma das parcerias profissionais e pessoais mais constantes da vida da realizadora, com a multitalentos Glecy Coutinho, que havia sido continuísta em O Fantasma da Mulher de Algodão. Eu Não Sou Buck Jones foi filmado na Antiga Estação Ferroviária Pedro Nolasco, que se tornaria o Museu Vale alguns anos depois. “Quando a gente chegou lá para poder ver a estação, o meu olhar era o de produtora: o que se aproveita aqui? o que vamos recortar do lugar? De repente, Glecy segura a minha mão e começa a chorar. Eu pergunto ‘o que foi Glecy?’. Ela responde: ‘já beijei muito neste lugar’. Eu larguei tudo e sentei para rir. Pedi pra ela contar mais, porque o resto ficava pequeno diante da história dela. Como não amar uma pessoa dessas? [risos]”.

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Em Eu Não Sou Buck Jones, ela teve dupla função na equipe. “Eu fiz a produção executiva e praticamente a produção inteira do filme, além de montar o curta no Rio de Janeiro”. Como produtora, Margarete promoveu o intercâmbio de diversos profissionais para a realização do filme. “Trouxe o Jacaré [Alaerson Nonô Coelho] do Rio de Janeiro para ser assistente de direção da Glecy, porque ele era um profissional que conhecia o dia a dia de uma filmagem, e precisávamos de alguém experiente assim. Ele trabalhou com os melhores diretores de cinema, tem o pique da produção, tem toda aquela noção do set, ele segurou toda essa dinâmica da gravação”. Depois das filmagens, Margarete funcionou como uma espécie de ghost writer de Glecy Coutinho, auxiliando a amiga a levar todas as ideias para a sala de edição. “O filme, a Glecy tinha na cabeça. Eu passei para o papel quase como uma co-roteirista. Para elaboração do roteiro contamos com a colaboração de Paulo Tardin e de Paulo Barretti, que são colecionadores de filmes de faroeste e cederam cópias do seriado Cavaleiros Heróicos, que muito nos ajudaram a contar a história. Depois de filmado, nós fomos para uma montadora, que foi Vera Freire, no Rio, no CTAV. E foi uma loucura! Eu fiquei na casa de uma amiga de Glecy, lá no alto em Botafogo, a Celinha, uma figura maravilhosa e que me recebeu na casa dela, sem nunca ter me visto, mas amava Glecy e abriu portas e corações pra mim”. Outra história inusitada sobre o processo de montagem está relacionada à trilha sonora. “O vizinho de Vera Freire, o Augusto Licks, foi quem fez a música do filme e gravou na casa dele. Ele era guitarrista do Engenheiros do Hawaii. Dessas coisas que você não tem explicação. Eu amo esse filme”.


O cinema como memória A parceria com Glecy está presente em outros seis projetos, quatro deles dedicados a levantar as biografias e os legados de importantes personagens da cena artístico-cultural do Espírito Santo: Relicário de Um Povo (2003), Festa da Sombra (2005), A Passageira (2006), Bidart - Lycia DeBiase (obra inconclusa) e Alma de Congo (2017). Este último, no qual Margarete trabalhou na finalização, apresenta uma entrevista com o Mestre de Congo Antônio Rosa e tem a direção de Glecy. O primeiro deles, o documentário de média-metragem Relicário de Um Povo, foi dirigido por Margarete e apresenta a biografia da escritora, professora e pesquisadora Maria Stella de Novaes, a Dona Stellinha, uma das personalidades mais atuantes da intelectualidade capixaba do século passado. Esse filme foi fruto de uma intensa pesquisa que Margarete fez junto ao acervo de Stellinha, no Arquivo Público do Espírito Santo, de 2000 a 2002, com a participação da professora e historiadora Juçara Luzia Leite como co-roteirista e pesquisadora. Com roteiro e direção de Glecy e Margarete, o curta-metragem Festa da Sombra é um documentário que faz um retrato da poeta e revolucionária Haydée Nicolussi, para o qual as cineastas contaram com a participação de Francisco Aurélio Ribeiro e Ivone Amorim como pesquisadores. Também com a direção e roteiro das duas, Bidart - Lycia DeBiase é a proposta de um documentário que versa sobre a vida e a obra dessa compositora e instrumentista, que foi uma das primeiras mulheres a reger uma orquestra no Brasil, ainda nos anos de 1930. No entanto, esse projeto não foi gravado, tendo sido concluídas apenas as etapas de pesquisa e de elaboração do roteiro. Para o filme, chegou-se a ser realizada a gravação de uma música composta por Lycia DeBiase, que é o único registro fonográfico da musicista capixaba. A gravação, que ocorreu enquanto Margarete conduzia o documentário Relicário de Um Povo, teve a direção de Helder Trefzger e a participação dos instrumentistas Mosineide Schulz (oboé) e Edilson Schultz (piano). 23

Ainda influenciada pela verve historiográfica e catalogadora de Maria Stella de Novaes, Margarete foi fotógrafa e diretora do documentário de curta-metragem Por Quem os Sinos Dobram. Trata-se de um registro da cerimônia de Nossa Srª da Boa Morte e Assunção que acontece na Igreja de São Gonçalo e na Catedral Metropolitana de Vitória. As imagens, gravadas de maneira despretensiosa, apresentam o ritual católico que é conduzido pela secular Irmandade da Boa Morte. Com a duração de dois dias, esse auto religioso tem os seus momentos marcados por distintas badaladas dos sinos das igrejas por onde uma imagem em tamanho natural de Nossa Senhora é levada em procissão. Sua segunda incursão na direção de obras ficcionais foi no curta A Passageira, filme realizado em parceria com Glecy Coutinho, cujo roteiro foi vencedor do 5º Concurso de Roteiro do Festival de Cinema de Vitória, em 2002. “Quase uma história sobre a vida, o amor e a morte”, como diz sua sinopse, o curta, com sua narrativa onírica que atualiza o mito grego de Caronte, receberia ainda o prêmio de Júri Popular, pelo mesmo festival, em 2006. As filmagens de A Passageira con-


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Acima, frames dos documentário Festa na Sombra (2005), Por Quem os Sinos Dobram (2002) e Relicário de Um Povo (2003).


taram com a supervisão do fotógrafo Dib Lufti e do cineasta Ruy Guerra, que são importantes nomes do cinema nacional. Fizeram parte do elenco: Mariângela Pellerano, Janine Corrêa, Pietra de Lima Cortelleti, José Augusto Loureiro, Cilmar Franscisqueto, Willer Vilaças, Gilson Moraes Martins e Nardo de Oliveira. A produção executiva do filme foi feita por Beatriz Lindenberg e Lucia Caus. Sob a direção de diretores capixabas, Margarete teve participação em outros dois curtas ficcionais de diretores capixabas: ela fez a assistência de direção e de finalização de O Ciclo da Paixão (2000), de Luiz Tadeu Teixeira; e foi a continuísta de Mundo Cão (2002), de Saskia Sá. Ela também realizou a produção local e pesquisa para Mapa da Minha 3: Ferrovia, documentário de curta-metragem da TV Zero com direção de Roberto Berliner. Em seu currículo ainda constam três videoartes realizados em parceria com diferentes artistas: os registros performáticos Dietriste e Menestrel, ambos de 2001, co-dirigidos respectivamente por Ian Prashker e Lobo Pasolini; Ter = Ver + Comer, de 2003, que registra a ação criativa do artista César Cola. O trabalho mais recente da realizadora é o documentário Memória do Esquecimento, longa-metragem dirigido em parceria com Adriana Jacobsen, que está em fase de pós-produção. O filme trata da memória coletiva e da possibilidade de reconexão com o passado através da arqueologia da ancestralidade indígena. A partir da descoberta de vestígios arqueológicos no município de São Mateus, o filme investiga a destruição de um cemitério indígena pré-colonial no Espírito Santo e propõe uma reflexão sobre o descaso com a história dos povos originários e com as memórias do próprio país. “Eu convidei a Adriana, que já tinha feito um trabalho em Resplendor, com os Krenaks. E gostei muito do documentário histórico Um Outro Sertão (2013) sobre Guimarães Rosa na Alemanha nazista, entre 1938 e 1942. Quando enviei o argumento e o projeto, ela estava morando em Berlim, em 2015. De lá pra cá realizamos o curta As Urnas dos Neves, e agora estamos finalizando o longa Memória do Esquecimento, num contexto maior. Ambos com a produção executiva de Beatriz Lindenberg, através do Instituto Marlin Azul”. A vontade e a ideia de fazer o filme surgiu há mais de 15 anos, quando ela assistiu a uma reportagem na televisão, na época do achado das urnas. Margarete acabou mudando-se para São Mateus, em 2012, onde reside a sua familia. “Quando eu vim para cá, eu já tinha essa perspectiva de documentar a descoberta. No Museu Municipal de São Mateus ainda havia alguns recortes de jornal ao lado das peças cerâmicas e não foi muito difícil seguir as pistas deixadas e dar significados ao imenso sítio arqueologico indígena invisível em toda cidade. O que eu mais sofria era perceber que, apesar dos traços indígenas que são evidentes nos ribeirinhos daqui, todos negam qualquer ascendência indígena, a exceção da comunidade de Barreiras – na vizinha Conceição da Barra, onde as pessoas se colocam como descendentes da tradição indígena”.

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TEATRO Grupo de Teatro Experimental Phantasias de Assucar (1975 a 1984) ·

atriz e dramaturga

As Interferências – dramaturgia de Maria Clara Machado/ direção de Claudino de Jesus – atriz (1976) Meu nome é Isaulino, Mas Todos me Conhecem como Neném – dramaturgia de autoria coletiva/ direção de Magno Godoy – atriz e dramaturga (1977) Bumba Meu Bucho – dramaturgia de autoria coletiva/ direção de Magno de Godoy – atriz e dramaturga (1978). São Mateus Colônia – dramaturgia e direção coletiva – atriz e dramaturga (1980 a 1981) Boca Padrão: Uma fantasia Transreal por trás de cada Sorriso – dramaturgia de Margarete Taqueti com a adaptação e montagem do Grupo de Teatro Ponto de Partida/ direção de Beto Costa (1981 a 1988). ·

Prêmio Melhor Espetáculo Infantil Festival de Teatro de Ponta Grossa Paraná (1981).

Mulher e Perfume – dramaturgia inédita de Glecy Coutinho e Margarete Taqueti Coautoria com Glecy Coutinho escrita em (1998).

ENSAIOS DIRIGIDOS 26

Prometeu Acorrentado – tragédia grega de Ésquilo/ com Elisa Lucinda, Zanandré Avancini, Virginio Lima, Isaura Serpa e grande elenco (1988). As Criadas – dramaturgia de Jean Genet/ com as atrizes Alcione Dias, Branca Santos Neves e Eussa Gil (1990).

AUDIOVISUAL Piúma: Conchas – média-metragem/ direção de Amylton de Almeida/ roteiro e assistência de direção: Margarete Taqueti (1988). Nasce Uma Cidade – média-metragem/ direção de Amylton de Almeida/ roteiro e assistência de direção: Margarete Taqueti (1989). Incêndio nas Mentes – média-metragem/ direção de Amylton de Almeida/ roteiro de Amylton de Almeida e Margarete Taqueti (1990).


A Lira Mateense – média-metragem/ direção e roteiro de Margarete Taqueti (1992). Danúbio Azul - 20 Anos de Cineclubismo da Ufes – curta-metragem/ direção e fotografia de Margarete Taqueti (1995). O Fantasma da Mulher de Algodão – curta-metragem/ direção de Margarete Taqueti/ roteiro de Margarete Taqueti e Tião Sá (1995). Eu Sou Buck Jones – curta-metragem/ direção e roteiro de Glecy Coutinho/ produção executiva e pós-produção: Margarete Taqueti (1997). O Ciclo da Paixão – curta-metragem/ direção de Luiz Tadeu Teixeira/ assistência de direção e produção de finalização de Margarete Taqueti (2000). Dietriste – curta-metragem / direção de Ian Prashker e Margarete Taqueti/ co-direção, fotografia e produção executiva de Margarete Taqueti (2001) Menestrel – curta-metragem / direção de Lobo Pasolini e Margarete Taqueti/ co-direção, fotografia e produção executiva de Margarete Taqueti (2001). O Mapa da Mina 3 - Ferrovia – curta-metragem/ direção de Roberto Berliner/ pesquisa e produção local de Margarete Taqueti (2001). Mundo Cão – curta-metragem/ direção de Saskia Sá/ continuidade de Margarete Taqueti (2002). Por Quem os Sinos Dobram – documentário/ curta-metragem/ direção e fotografia de Margarete Taqueti (2002). Ter = Ver + Comer – curta-metragem/ direção, direção de arte e fotografia de Margarete Taqueti (2003). Relicário de Um Povo – média-metragem/ direção de Margarete Taqueti/ Roteiro de Juçara Luzia Leite e Margarete Taqueti/ Produção Executiva de Glecy Coutinho e Margarete Taqueti (2003). Festa na Sombra – curta-metragem/ direção e roteiro de Glecy Coutinho e Margarete Taqueti/ Pesquisa de Margarete Taqueti, Francisco Aurélio Ribeiro e Ivone Amorim (2005). A Passageira – curta-metragem/ direção e roteiro de Glecy Coutinho e Margarete Taqueti (2006). Alma de Congo – curta-metragem/ direção de Glecy Coutinho/ montagem, finalização e projeto gráfico de Margarete Taqueti (2017). Memória do Esquecimento – longa-metragem/ direção de Adriana Jacobsen e Margarete Taqueti (2021).

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AUDIOVISUAL/ Roteiros Inéditos Quinta-Coluna – longa-metragem/ proposta de ficção baseada em argumento de Amylton de Almeida/ Roteiro de Amylton de Almeida e Margarete Taqueti (1987). My Funny Valentine – longa-metragem/ proposta de ficção criada a partir da livre adaptação da peça teatral de Amylton de Almeida/ Roteiro de Amylton de Almeida e Margarete Taqueti (1988). Vozes da Primavera – curta-metragem/ proposta de docudrama com comentários de Paulo Tardin, colecionador de filmes de seriados produzidos nos anos 50/ Roteiro de Margarete Taqueti (1989). América, América – longa-metragem/ proposta de docudrama baseado em pesquisa orientada pelo escritor Máximo Zandonadi, sobre os primeiros italianos que chegaram a Venda Nova do Imigrante (ES) com a produção executiva de Amylton de Almeida/ Roteiro de Margarete Taqueti (1990). Hay un Niño en la Calle – curta-metragem/ proposta de ficção baseada em argumento de Glecy Coutinho/ Roteiro de Glecy Coutinho e Margarete Taqueti (2001). O Telefone de Deus – curta-metragem/ proposta de ficção inspirada no livro de poemas Bundo e Outros Poemas, do escritor e poeta Waldo Motta/ Roteiro de Margarete Taqueti (2003). Bidart – Lycia DeBiase – curta-metragem/ proposta de documentário sobre a vida e obra da musicista capixaba Lycia DeBiase, considerada uma das primeiras maestrinas do país / Roteiro de Glecy Coutinho e Margarete Taqueti (2004).

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TV Guarapari Atuou na implantação da emissora e como produtora em diversos programas (1998 a 2000).

PRODUÇÃO EDITORIAL Trippé – jornal cultural sobre cinema, vídeo, fotografia e publicidade (1990 a 1991) Magarete Taquete como editora responsável. Tradições Populares no Espírito Santo – livro de Hermógenes da Fonseca com fotos de Rogério Medeiros (1991). Coordenação editorial de Margarete Taqueti. Armadilha Para Pássaros Vermelhos – livro de Isabel Serrano (1992). Coordenação editorial de Margarete Taqueti. “... Ai da incoerência, se não fossemos nós”. O Cinema Brasileiro por Amylton


de Almeida – Ensaio literário baseado nas críticas de cinema publicadas por Amylton de Almeida, no Caderno 2 do Jornal “A Gazeta”, durante o período de 1974 a 1995 – capítulo do livro A Múltipla Presença: Vida e Obra de Amylton de Almeida, organizado por Deny Gomes (1996). Autoria de Margarete Taqueti.

INSTITUIÇÕES PÚBLICAS Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo ·

Coordenadora de Cinema e Vídeo (2002 a 2004).

·

Subgerente Audiovisual (2004 a 2007).

·

Assessora Especial de nível 1/ Coordenação de Incentivo à Produção Artística e Cultural (2007 a 2009).

Secretaria Municipal de Esportes, Turismo e Cultura de Fundão ·

Subsecretária de Cultura e Turismo (2011).

ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (Sbat) – Membro (1982). Centro de Estudos Ludovico Persici (Celp) – Sócia-fundadora e presidente (1986 a 1992). Sociedade Musical Lira Mateense – Sócia benemérita (1992). Associação Brasileira dos Documentaristas e Curtas-Metragistas do Espírito Santo/ ABD Capixaba – Sócia-fundadora e primeira secretária (2000 a 2002). Coletivo Arboriza Guriri – Membro-fundadora (2019).

TÍTULOS E HOMENAGENS Prêmio Cultura Viva do Ministério da Cultura/ Categoria Gestão Pública pelo projeto da MoVA Caparaó (2006). Homenageada pela ABD Capixaba na 10ª Mostra Produção Independente - O Lugar da Memória (2015). Comenda Maurício de Oliveira/ Prefeitura Municipal de Vitória (2020). Homenageada Capixaba/ 28º Festival de Cinema de Vitória (2021).

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Fotografia de Lam Shuk Yee / Material de divulgação do filme Piúma: Conchas, de Amylton de Almeida (1988).


CADERNO DO FESTIVAL DE CINEMA DE VITÓRIA HOMENAGEADA CAPIXABA / 11ª Edição Projeto Editorial - Leonardo Vais e Paulo Gois Bastos Reportagem e Edição - Leonardo Vais e Paulo Gois Bastos Redação e edição - Paulo Gois Bastos Assistência de edição - Leonardo Vais Projeto Gráfico - Paulo Prot Diagramação - Gustavo Binda Revisão de Texto - Guilherme Medeiros Fotos - Capa e Segunda Capa: Fotografias de Vitor Nogueira / Acervo IBCA-Galpão Produções. Folha de Rosto: Fotografia de Lam Shuk Yee / Material de divulgação do filme Piúma: Conchas, de Amylton de Almeida. Especificações Gráficas Tipografia - Gandhi Serif (opensource) Papéis - Offset 180 g/m² para miolo e Supreme 250g/m² para a capa Impresso em Vitória|ES O Caderno do Festival de Cinema de Vitória - Homenageada Capixaba é uma publicação do 28º Festival de Cinema de Vitória, evento realizado de 23 a 28 de novembro de 2021 em Vitória-ES. O Festival é uma realização da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte. Nosso endereço e contatos: Rua Professora Maria Candida da Silva, nº 115-A Bairro República - Vitória/ES, CEP 29.070-210 Tel: +55 27 3327 2751 / producaofcv@ibcavix.org.br www.festivaldecinemadevitoria.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bastos, Paulo Gois Caderno do Festival de Cinema de Vitória : Claudino de Jesus / Paulo Gois Bastos. -- 11. ed. --Vitória, ES : Galpão Produções Artísticas e Culturais, 2021. -- (Caderno do Festival de Cinema de Vitória : homenageada Capixaba ; 11) ISBN 978-651. Cinema - Festivais 2. Documentário (Cinema) 3. Festivais de cinema - Brasil 4. Festivais de cinema - Vitória (ES) 5. Festival Nacional de Cinema 6. Taqueti, Margarete, ????-2021 I. Título. II. Série. 20-49278

CDD-791.4309

Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

APOIO

REALIZAÇÃO

APOIO INSTITUCIONAL

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