Revista viva dez 2014

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Revista gratuita trimestral, dezembro 2014

MARIA CERQUEIRA GOMES Genuテュno sorriso portuense

ARTISTAS DE RUA Palcos da vida real

LIVRARIA LELLO & IRMテグ

Memテウria de um tesouro portuense



E D I T O R I A L

A CAÇA AO TESOURO Aproveitando o “boom” turístico que a cidade do Porto atravessa há já algum tempo, com dezenas de milhares de turistas a demandarem a cidade que, por inúmeras vezes, e merecidamente, tem visto reconhecidas as suas enormes potencialidades, talvez fosse o momento de dar alguma serventia aos destroços meio submersos do bar flutuante Zoo Lounge, que ocupam parte significativa do Cais do Douro, na margem direita do rio. Bem sei que, em março, foi dali retirada a plataforma do Maré Alta que, ao lado do ainda ativo Porto Rio e do monte de chapas e ferros em que se transformou o Zoo Lounge, fariam o conjunto ideal para uma “caça ao tesouro” nas águas do rio Douro, um chamariz turísitico como qualquer outro... Agora a sério: que espera a Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL), entidade responsável pela jurisdição daquele local e a Câmara do Porto, por razões mais que óbvias, para obrigar a Inersel, empresa que fez uma proposta e se comprometeu a proceder à remoção das plataformas sem qualquer tipo de custos, a cumprir o prometido e libertar aquele local do que constitui um grande perigo para a navegação, para a segurança e saúde públicas? É que, às vezes, o barato pode sair caro… dado que um acidente pode ocorrer, a qualquer momento... A imagem não podia ser mais degradante: dois ferros podres ao alto, um deles de grande envergadura, anunciam os restos da barcaça, totalmente submersos. Este perigo para as pessoas e, principalmente, para a segurança dos pescadores que atracam os seus pequenos barcos, paredes meias com aquele monte de sucata, já devia ter levado as autoridades a serem muito mais céleres. Se não puderem caçar com gato (a Inersel), cacem com o rato (meios próprios)... Tal como rebocaram a plataforma do Maré Alta, as ruínas do Zoo Lounge devem ser rapidamente removidas, ainda que burocracias legais ou eventual necessidade de licenças compliquem um desfecho adequado. Depressa e rápido, seja lá por quem for...

José Alberto Magalhães Diretor de Informação

REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


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S U M Á R I O

008 Maria Cerqueira Gomes PERFIL

016 Afetos DESTAQUE

022 Livraria Lello & Irmão À DESCOBERTA

026 Boas práticas do ON.2 CCDR-N

032 Artistas de rua UM DIA COM...

De olhos postos no “hepta”

044 Teatro Nacional São João MÁQUINA DO TEMPO

060 Eskada NOITE

076 “Cidade Criativa” MATOSINHOS

080 A pensar no futuro GAIA

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FC PORTO


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ÍNDICE

FICHA TÉCNICA Propriedade de: ADVICE - Comunicação e Imagem Unipessoal, Lda. Sede de redação: Rua do Almada, 152 - 2.º - 4050-031 Porto NIPC: 504245732 Tel: 22 339 47 50 - Fax: 22 339 47 54 advice@viva-porto.pt adviceredacao@viva-porto.pt www.viva-porto.pt Diretor Eduardo Pinto Diretor de Informação José Alberto Magalhães Redação Mariana Albuquerque Fotografia Rui Oliveira Marketing e Publicidade Eduardo João Pinto advicecomercial@viva-porto.pt Célia Teixeira Produção Gráfica Diogo Oliveira Impressão, Acabamentos e Embalagem Multiponto, S.A. R.D. João IV, 691-700 4000-299 Porto Distribuição Mediapost

003 EDITORIAL 038 HIPERJANELAS 052 ATUALIDADE 058 MEMÓRIAS 068 PORTO CANAL 070 MÚSICA 072 PORTO D’ARTE 086 MERCADO DE NATAL 088 METROPOLIS - SANTO TIRSO 090 METROPOLIS - UF ALDOAR/FOZ/NEVOGILDE 094 METROPOLIS - PARANHOS 096 HUMOR 098 CRÓNICA

Tiragem Global 140.000 exemplares Registado no ICS com o nº 124969 Depósito Legal nº 250158/06 Direitos reservados

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P E R F I L

Genuíno sorriso

portuense

Apaixonada pela vida, gosta de “pôr os pontos nos i’s”, de sinceridade, de comer e de comunicar. No Porto Canal desde o início do projeto televisivo, Maria Cerqueira Gomes conduz as “Grandes Manhãs” e as “Grandes Conversas”, conjugando espontaneidade, seriedade e muita, muita vontade de evoluir. Texto: Mariana Albuquerque Fotos: Rui Oliveira

Sentada, descontraidamente, com o pé apoiado no banco e as mãos sobre os joelhos, diz o que tem a dizer, muitas vezes ao som de divertidas gargalhadas, e não hesita em levantar-se – de um salto só – para encenar ali mesmo o episódio que está a contar. Talvez seja por isso que Maria Cerqueira Gomes, rosto bem conhecido do Porto Canal, não tem dúvidas quanto à natureza da sua personalidade: é o sangue de uma “rapariga do norte” que lhe corre nas veias. “Há características minhas que fazem com que isto seja muito fácil de identificar”, constatou. “Sou muito descontraída em determinadas situações – se calhar até de mais! – muito genuína, gosto de ‘pôr os pontos nos i’s’ e não gosto que as coisas fiquem por dizer”, descreveu a apresentadora de televisão, de 31 anos, frisando ainda que acredita profundamente nos valores do trabalho, do empenho e da transparência. Além

disso, sente que tem facilidade em ‘chegar’ às pessoas. “É uma capacidade que eu tenho mas que também trabalho. Numa altura em que andamos tão desligados parece-me importante desenvolver um pouco esse lado”, defendeu. De resto, o segredo parece ser apenas um: a espontaneidade com que gosta de encarar a vida. A COZINHA DA AVÓ DULCE E AS AVENTURAS EM INGLATERRA Natural da Foz – zona que, aliás, adora e onde continua a viver – a atual apresentadora dos programas “Grandes Manhãs” e “Grandes Conversas” considera que existem determinados aspetos que talvez a diferenciem um pouco daqueles com que habitualmente convive. “Se há características que me identificam enquanto pessoa do Porto, há outras que me distinguem claramente das pessoas da Foz”,


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frisou, explicando, entre gargalhadas, que nem sempre segue “as regras”. E é com boa disposição que associa este seu lado mais rebelde e a coragem de arriscar a momentos vividos na infância, que não consegue descrever sem recordar a magia da cozinha da avó, onde desenvolveu o gostinho por cozinhar – “e comer!”. “Passava horas na cozinha da minha avó Dulce. Ia lá para casa quando saía da escola e dormia lá todas as semanas”, contou, lembrando, com saudade, rituais “tão simples” como o de rapar as taças onde se preparava a massa dos bolos e o de comer “os cantinhos”, aparados pela avó, quando a obra-prima saía do forno. “Por acaso a minha mãe cozinha e, por isso, a minha filha também tem algo disso, mas, hoje em dia, são raríssimas as crianças que têm a oportunidade de viver estes momentos”, notou, com a expressão de quem ainda hoje sente os cheiros e sabores do passado. Durante o seu percurso escolar, a portuense passou pela creche de Nevogilde, pelos colégios Flori e Horizonte, pelo Torrinha e pelo Garcia, mas também chegou a ter aulas em Inglaterra, onde passou algumas temporadas, a primeira delas com apenas dez anos. “Foi na altura em que os meus pais se separaram e eu era mesmo pequenina! A minha filha tem 11 anos e eu ainda questiono como é que o meu pai me conseguiu enviar assim”, referiu, reconhecendo, contudo, que foi das experiências que mais marcou a sua “forma de estar na vida”. “Ajudou-me a saber estar completamente fora do meu ambiente. Tinha dez anos, andava há três no Instituto de Inglês, é certo, mas estava numa família


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onde não conhecia ninguém, com outras crianças de diferentes nacionalidades e isso fez-me crescer muito”, garantiu, acrescentando que essa foi a primeira de uma mão cheia de aventuras que acabou por viver em Inglaterra. O “desconforto inicial” sentido nessas viagens – sublinhou – foi fundamental para que, hoje, consiga encarar situações incómodas com alguma naturalidade. “Sofro com antecedência, mas quando chega aquele momento em que sei que não posso falhar fico mesmo calma e não hesito”, garantiu. AS PASSERELLES, A EXPERIÊNCIA EM DIREITO E A ESTREIA EM TV Entretanto, em 1998/99, estreou-se no mundo da moda que, apesar de lhe ter proporcionado alguns instantes divertidos, “não é, de todo”, a sua praia. Integrou o Elite Model Look (maior concurso internacional de modelos, realizado desde 1983 pela agência Elite Model Management), esteve ligada à Elite e, depois, à Best Models. “Deu-me jeito, ganhei uns trocos, mas foi só isso”, afirmou, recordando com especial carinho a oportunidade de desfilar no Portugal Fashion para o estilista Miguel Vieira, com quem mantém, atualmente, uma grande amizade. Terminado o ensino secundário, a jovem portuense (que pertence a uma família de advogados) iniciou o curso de Direito e, aos 19 anos, engravidou. “Fiz o primeiro ano, tive a Francisca e andava assim meia perdida”, contou, acrescentando que, sendo uma “rapariga que adora comunicar”, nunca chegou a descartar a hipótese de construir um percurso ligado à comunicação. E assim foi. Inscreveu-se no IPAM - The Marketing

School e começou a trabalhar no jornal Record para pagar a licenciatura em Gestão de Marketing. “O meu pai pagou-me o primeiro ano de Direito e disse-me ‘agora não te vou pagar mais nada enquanto não me provares qual é o curso que realmente queres’”, explicou Maria, acrescentando que os dois primeiros semestres em Marketing foram suficientes para convencê-lo de que estava efetivamente na área certa. Ainda durante o curso decidiu fazer um casting para o Porto Canal e, seis meses depois, embarcou na aventura do “Porto de Abrigo”, programa no qual ia conhecer instituições de solidariedade social do norte. “Aí reparei que, de facto, vivia numa redoma. Apesar de não ter feito as coisas certinhas,

apercebi-me de que existiam vidas realmente complicadas”, frisou, recordando que, muitas vezes, ao chegar a casa, sentia necessidade de ligar à melhor amiga para partilhar as histórias com que era confrontada e que “foram importantes” para o seu crescimento como pessoa. Aliás, ainda hoje há quem lhe chame “solidary Mary”, tal foi o empenho com que ‘abraçou’ o projeto, durante um ano. A ligação ao Porto Canal, essa, nunca mais foi quebrada. Em 2007, acabou por ser desafiada a conduzir um programa em direto, ao final da tarde, e estavam lançadas as bases do “Porto Alive”, que Maria Cerqueira Gomes só deixou de apresentar há cerca de seis meses. “La fui REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


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eu! Não fazia ideia do que era um direto, por isso, olha, comecei a falar. O primeiro convidado foi o Manuel Serrão, o que foi bastante positivo porque ele ajuda muito”, realçou. “Estive seis anos a fazer o ‘Porto Alive’, todos os dias. Foram horas e horas de entrevista. Nem consigo contabilizar, mas gostava de saber quantas horas passei, em direto, naquele programa”, afirmou, de sorriso estampado no rosto. Neste momento, Maria Cerqueira Gomes tem em mãos outros dois desafios: faz dupla com Ricardo Couto nas “Grandes Manhãs”, explorando diariamente a sua vertente mais espontânea e descontraída, e conduz as “Grandes Conversas” (transmitidas às quartas-feiras à noite), onde re-

vela o seu “lado mais certinho e direitinho, que ainda existe!”. “São duas Marias reais, não faço papel em nenhuma delas”, garantiu. “NÃO GOSTO DE BONECOS MUITO ESTUDADOS EM TELEVISÃO” Ligada ao Porto Canal desde o início do projeto televisivo, Maria confessa que, em direto, já lhe aconteceu “um pouco de tudo”. “Um dia, no Porto Alive, uma convidada desmaiou”, contou, frisando que a senhora acabou por ser levada, em braços, para o hospital. Mesmo em situações de nervosismo, a apresentadora afirma conseguir manter a calma necessária a contornar a situação. “Sou tão descontraída que acho que não há nada que me possa

apanhar muito desprevenida. E se me dá uma ‘branca’ ainda sou capaz de perguntar à produção o que é que eu ia dizer”, referiu, bem-disposta. “Acredito muito na televisão feita de forma espontânea. Acho que as pessoas lá em casa se divertem muito mais e acreditam mais naquilo que estamos a dizer e a fazer se perceberem que eu sou uma pessoa real”, constatou, referindo que, se no programa da manhã consegue privilegiar a espontaneidade – contando sempre com o “rigor” do Ricardo ‘Google Couto’, como chama ao colega e amigo – nas “Grandes Conversas” sabe que “as coisas têm de ser mais sérias e investigadas”. A apresentadora mantém, por isso, bem presente aquilo que não gosta de ver no grande ecrã. “Não gosto de bonecos muito estudados em televisão. Acho que as pessoas também não gostam e que, mais dia ou menos dia, aquilo cai”, referiu. “E é por isso que eu vejo mal, não uso lentes e, apesar de saber que há programas em que é preciso teleponto – até nos dá um ar muito mais inteligente! – nunca uso porque irrita-me ver pessoas que estão ali apenas a lê-lo”, sustentou. De resto, é com satisfação que afirma já sentir o carinho do público em relação ao Porto Canal, que considera “um caso raríssimo da forma como se faz televisão” no país. “SAEM VERDADEIRAS ‘DELÍCIAS’ DA BOCA DOS PORTUENSES” Adepta das idas a Serralves e dos momentos de relaxamento vividos no Passeio Alegre, na Avenida Brasil (onde anda muitas vezes de bicicleta com a filha) e no Parque



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da Cidade, mesmo ao lado de dos”, sublinhou, reconhecendo casa, é com entusiasmo que Ma- ainda que a evolução cultural ria Cerqueira Gomes visita cada portuense tem sido visível. É por vez mais vezes a baixa portuense, isso que, apesar de estar conszona que considera “confortável”. ciente de que “já não existem Os portuenses, esses, “são espe- empregos para a vida”, podendo, taculares”. “Não há outra cidade assim, vir a ter de mudar de cino país tão espetacular para se dade por motivos profissionais, andar num transporte público prefere viver o Porto sem grandes porque saem verdadeiras delícias preocupações. da boca das pessoas”, garantiu, Organização e qualidade de vida assegurando que, muitas vezes, são dois dos ingredientes semprefere “ouvir aquelas bojardas, pre presentes no seu dia a dia. que têm tanta graça”, do que “Não me posso queixar muito!”, lidar com pessoas altivas. Para referiu, entre gargalhadas, asa apresentadora, o Porto tem a sumindo valorizar os pequenos vantagem de conseguir conciliar momentos de tranquilidade. características de uma aldeia – “Tomo sempre o pequeno-almoço “aquela proximidade do vizinho” sentada. Quantas pessoas podem – com as de uma grande cidade. fazê-lo?”, questionou, contan“Mas temos oportunidade de ser do que chega ao canal às 9h00, muito mais”, notou. “Temos as permanecendo em direto das características naturais necessá- 10h00 às 13h00. Da parte da rias, monumentos incríveis, um tarde prepara os temas para a rio que faz inveja a muita gente, manhã seguinte e faz desporbares de praia que outros locais to, conciliando, obviamente, os não têm, somos considerados um seus afazeres com as rotinas da destino europeu e começamos Francisca, sua “maior crítica”. “Às agora a dar importantes passos, vezes saio do programa e tenho mas podemos ser mais divulga- uma mensagem a dizer: ‘mãe, por

favor, não cantes!’”, confessou, sublinhando que a filha adora acompanhá-la ao Porto Canal e estar nos estúdios. Viajar é outra das grandes paixões da portuense, que já esteve em África, na Ásia e nas Américas. Numa das suas últimas aventuras foi conhecer o Dubai, que, aliás, achou “horrível”, “sem alma nenhuma”. Ainda assim, apaixonou-se pela Tailândia, assegurando que Banguecoque é surpreendente. “Se passares lá cinco dias, é certo que estarás cinco dias de boca aberta”, garantiu, afirmando ter adorado a comida tailandesa. “Claro, do que é que eu não gosto?”, brincou. Apesar de, nessa ocasião, ter viajado sem a Francisca, “dar-lhe a conhecer o mundo” é um dos maiores objetivos de Maria. “É das grandes heranças que lhe posso deixar. Tive a sorte de o meu pai fazer isso comigo e tenho feito um esforço para levar a minha filha a conhecer vários locais”, realçou, acrescentando que a menina já visitou, por exemplo, Moçambique e África do Sul. “Um mês depois dessa viagem ela viu um sem-abrigo a mexer no lixo e disse-me: ‘mãe, a única vez que eu tinha visto isto foi em África e agora estou a ver aqui’. Começou a associar estas realidades e acho que lhe fez bem”, frisou. Questionada em relação ao futuro, a apresentadora, apaixonada “pela vida” – e pelo FC Porto, do qual é sócia desde que nasceu – é perentória. “Quero continuar a fazer televisão, que é das coisas que mais prazer me dá”, reconheceu, assumindo que “não há nada melhor” do que ter a capacidade de “estar sempre a aprender”.



D E S T A Q U E

Quando o amor acontece Se é certo que a solidão anda a rondar a nossa sociedade – exigindo um cuidado especial sobretudo com os mais velhos – também é verdade que, independentemente da idade, “o amor acontece”. Por falta de tempo ou de determinadas competências sociais, por relacionamentos passados que deixaram certas “marcas” ou simplesmente por insegurança e baixa autoestima muitos são os portugueses que permanecem sozinhos, numa altura em que, dizem os entendidos, “ainda existe muito desconhecimento” quanto à procura de ajuda na área dos afetos. Texto: Mariana Albuquerque Fotos: Rui Oliveira

Vistas bem as coisas, o segredo parece ser apenas um: descomplicar. A tarefa de conhecer alguém capaz de despertar aquele “friozinho na barriga” nem sempre é fácil, mas as opções disponibilizadas aos cidadãos são variadas, dependendo dos seus próprios objetivos: há eventos de “speed dating” (encontros rápidos, como o próprio nome indica) e agências matrimoniais (que ajudam a ‘encontrar o amor’ através da afinidade de perfis), começando agora a afirmar-se um novo conceito de apoio – igualmente baseado na psicologia – que se centra principalmente na análise da razão pela qual a pessoa está sozinha, dando-lhe as ferramentas necessárias para que, mais tarde ou mais cedo, possa vir a encontrar a cara metade. Assim,

como defendeu Joana Diz, psicóloga da Amore Nostrum (que se assume como líder no mercado de agências matrimoniais em Portugal), há que continuar “a acreditar no amor”. “Em qualquer idade, sejam solteiros, viúvos ou divorciados, perguntem-se: ‘por que não arriscar em algo diferente? Se hoje eu não sou feliz, tentarei uma outra via’. E a hora é agora”, garantiu. O AMOR À ESPREITA… “NUMA BASE DE DADOS PERTO DE SI” Criada em 2003, com a abertura da primeira agência no Porto e sede em Vila Nova de Gaia, a Amore Nostrum (AN) trabalha “para unir casais”, estudando o perfil de cada cliente de forma a encontrar alguém compatível. “O amor na sua expressão mais

séria” – para ser vivido “com estabilidade e realização pessoal” – é a grande meta da agência, que já foi procurada por mais de 12 mil pessoas. E de acordo com a sua diretora-geral, Liliana Duarte, contrariamente ao que se poderia esperar num momento de crise, “a afluência de clientes tem aumentado de modo regular, com a entrada de cerca de 100 novos casos a cada mês”. Nesta busca pela “outra metade”, os cidadãos têm oportunidade de decidir qual o perfil físico, psicológico e social da pessoa que querem conhecer, assim como a idade, habilitações, profissão, signo, zona de residência ou estilo de vida. “Dirigimo-nos a clientes que não querem deixar ao acaso o tipo de pessoa que vão conhecer”, constatou, informan-


Amore Nostrum

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do que o processo envolve uma consulta preliminar, consultas de psicologia e apresentações realizadas nas próprias agências da Amore Nostrum (nove em Portugal – Braga, Porto, Coimbra, Leiria, Lisboa, Setúbal, Faro, Vila Real e Viseu – e uma em Espanha - Vigo), por questões de confidencialidade. Aliás, garantiu, os dados pessoais dos clientes nunca são fornecidos. “São as duas pessoas que, na apresentação, decidem se fornecem os contactos, no caso de acharem que há empatia e desejarem começar a sair juntas”, referiu Liliana Duarte. De resto, é deixar que “a magia” aconteça, sendo que a taxa de sucesso da Amore Nostrum se situa nos 85%. “Temos verificado que a união de duas pessoas compatíveis e com objetivos de vida comuns se tem mostrado duradoura e feliz”, reconheceu a psicóloga, adiantando que, em alguns casos, “a nossa cara-metade pode estar muito perto”. Num dos casais que a agência uniu, no Porto, os dois elementos moravam na mesma urbanização “e nunca se tinham cruzado”. Atualmente vivem juntos. Mas há outras “histórias engraçadas e reais” reveladas pela responsável. Também no Porto, duas pessoas divorciadas que procuraram a AN “aprovaram os perfis de ambos, porque correspondiam exatamente às características pedidas e não quiseram ver as fotos”. “Conclusão: quando foram apresentados presencialmente na agência descobrimos que eram divorciados um do outro. E não é que deram uma segunda REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


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oportunidade ao amor? Voltaram a casar-se”, contou. Em Lisboa, outras duas pessoas reconheceram-se de imediato, no momento do primeiro encontro, explicando, depois, aos psicólogos que “haviam namorado por correspondência no tempo do Ultramar”, com o destino a separá-los desde então. “Mais de 20 anos depois, adivinhe quem os voltou a unir”, sublinhou. Os divorciados representam mais de 50% dos clientes da agência matrimonial, mas “as faixas etárias variam”. “A pessoa mais jovem que tivemos tinha 19 anos e a mais velha 87”, realçou. Depois, há solteiros que pretendem casar pela igreja (20-35 anos); divorciados com filhos pequenos (32-42 anos); divorciados com filhos adolescentes (40-50 anos); idosos com mais de 65 anos que sentem que a família não lhes dá atenção e idosos

ativos que querem algo mais do que o cuidado familiar. De referir ainda uma pequena percentagem de clientes homossexuais, que procuram uma relação duradoura. As inscrições (abertas apenas a pessoas completamente livres, divorciadas ou viúvas), apresentam um custo variável, “desde os 350 euros”, consoante as características de cada caso. A HARMONIA INDIVIDUAL E A DOIS Com uma abordagem distinta, o Sentimental Mood é, acima de tudo, um espaço de psicologia que também está vocacionado para intervir a nível relacional e sentimental. Aberto há cerca de dez meses, trabalha com clientes de Coimbra a Bragança, incidindo na terapia de casal, na consultoria sentimental e nos conhecimentos interpessoais. Segundo explicou Telma Pinto

Loureiro, psicóloga fundadora do projeto, o gabinete nasceu da constatação do elevado número de cidadãos com dificuldade em conhecer alguém. “Mesmo à minha volta via muito isso: pessoas que consideramos bonitas, com profissões estáveis, inteligentes e que andavam desanimadas porque realmente não conseguiam conhecer alguém interessante”, referiu. Estavam, assim, lançadas as bases do Sentimental Mood, que visa ajudar a reorganizar a vida sentimental dos cidadãos. Mas, segundo explicou, o mais importante é perceber o verdadeiro motivo que os leva a pedir ajuda. “O caminho certo para ajudarmos alguém é compreendermos primeiro a pessoa. E é importante darmos-lhe ferramentas para que, se não for aqui [no gabinete], possa conhecer alguém lá fora”, sublinhou, acrescentando que muitos


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dos que a procuram “nem estão em condições de avançar” logo para uma relação. “Queremos traballhar competências para que depois possam usá-las no seu meio”, frisou. Aliás, para além do atendimento (que, dependendo dos casos, envolve um estudo de personalidade, consultas de psicologia, cruzamento de dados e o conhecimento propriamente dito), o Sentimental Mood está também a preparar uma série de eventos, que decorrerão nas suas próprias instalações – nomeadamente as “Conversas com chá” – para que as pessoas possam conhecer-se de forma descontraída. “Pode haver algum clique, mas isso eu deixo ao critério de cada um”, afirmou, notando que ainda é com bastante admiração que a sociedade encara a existência de serviços de apoio na área dos afetos. “Somos educados com a

ideia de que ‘para cada panela há um testo’. Mas, de facto, não é assim e estas ideias culturais e sociais acabam por prejudicar”, acrescentou, justificando que nem todos nascem com as mesmas competências e com a mesma predisposição para encontrar alguém. “Por isso é que há um certo secretismo à volta disto. Raras são as pessoas que dizem onde se conheceram e algumas até têm dificuldade em aceitar isso para si mesmas”, notou, defendendo que é necessário “desmistificar a área”. “Isto é como ir a um dermatologista quando se tem um problema de pele. Aqui, estamos com um problema numa área central da nossa vida: os relacionamentos, os afetos”, constatou. Regra geral, os homens surgem “mais determinados a abrir o jogo”. “As mulheres têm mais dificuldade em admitir uma traição,

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por exemplo”, contou, revelando que os senhores acabam por se emocionar mais, talvez pelo facto de procurarem o espaço numa atitude de “pedido de ajuda”. Os divorciados (entre os 45 e os 65 anos) são os que mais recorrem ao gabinete: pessoas que já tiveram relacionamentos, com filhos, que frequentam sempre os mesmo locais e que acabam por questionar: “onde é que eu vou conhecer alguém?”. Se muitos procuram apenas um relacionamento social (companhia para ir passear, alguém a quem ligar) – neste caso sobretudo mulheres com formação superior – outros chegam determinados a constituir família. É o caso da pessoa mais nova que está a ser acompanhada por Telma Pinto Loureiro, uma jovem de 25 anos cujo objetivo é casar pela igreja e ter filhos. E a provar que a idade pode, por vezes, ser apenas um REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


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número, há uma senhora de 80 anos que também procurou o gabinete. “É a solidão”, constatou a especialista, recordando a premissa de Aristóteles de que todos somos seres sociais. A AVENTURA DOS “ENCONTROS-RELÂMPAGO” A conquistar um número crescente de fãs estão também os eventos de “speed dating”: uma espécie de “encontros-relâmpago”, criados nos Estados Unidos, durante os quais é possível conhecer cerca de 15 pessoas, conversando quatro minutos com cada uma delas. O conceito chegou a Portugal em 2005, pela mão da SpeedParty.net (da empresa Big Eventos), que organiza ainda outras atividades para pessoas descomprometidas, nomeadamente jantares, viagens e festas temáticas. De acordo com Miguel Moreira, responsável da empresa, cinco mil pessoas já alinharam nestes desafios,

que geram um “feedback excelente”. “Os ritmos e estilos de vida estão cada vez mais acelerados. Temos o nosso dia a dia preenchido com compromissos e obrigações e não nos resta tempo para conhecer e conviver com pessoas novas”, constatou, informando que o objetivo do projeto “é facilitar a apresentação e a interação entre pessoas, olhos nos olhos”. “Isto é completamente diferente dos chats na internet e encontros online, onde as pessoas se escondem atrás de um ecrã, com personalidades inexistentes, muitas vezes criando expectativas que são irreais”, frisou. Segundo o responsável, para além das amizades, há também “vários

casamentos e muitos namoros” resultantes destes eventos, que atraem sobretudo pessoas entre os 28 e os 50 anos. No final de contas, nada é 100% garantido – salvaguardam os especialistas – mas no que à felicidade diz respeito, “tudo é válido”. Então, por que não arriscar?



À D E S C O B E R T A

Memória de um tesouro portuense Texto: Mariana Albuquerque Fotos: Rui Oliveira

Todos a conhecem, mas poucos são os que têm bem presente na memória a sua evolução. O que é que sabe sobre a Livraria Lello & Irmão?

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ercorrer a Rua das Carmelitas, na portuense freguesia da Vitória, e não parar, nem que seja por breves instantes, em frente à Livraria Lello – Prólogo Livreiros, S.A. não é tarefa fácil. O ambiente mágico do espaço, onde repousam 120 mil livros, desperta a curiosidade de portugueses e turistas, principalmente estes apanhados, muitas vezes, de nariz no ar, simplesmente a contemplar aquela que é considerada uma das mais belas livrarias do mundo. E é ao som do tão tradicional fado – num volume suave, a inundar, com frequência, todo o edifício, situado no número 144 – que cidadãos das mais diversas nacionalidades procuram e encontram os seus livros (porque mesmo que não existam no momento, a equipa encarregar-se-á de encontrá-los). Os elogios internacionais são mais do que muitos

e, na verdade, não há quem fique indiferente à icónica escadaria do espaço – que convida os mais de três mil visitantes diários a conhecerem o primeiro piso – aos bustos dos escritores Antero de Quental, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Teófilo Braga, Tomás Ribeiro e Guerra Junqueiro – esculpidos nos pilares interiores – e ainda ao grande vitral existente no teto, onde é visível a divisa da livraria: “Decus in Labore” [Honestidade no Trabalho]. O que muitos não saberão, talvez, é que o mesmo espaço que, hoje, continua a perspetivar um crescimento de vendas e a fazer parte de qualquer roteiro turístico da cidade (como um dos grandes ex-libris do Porto), estava, há duas décadas, em falência técnica e em risco de fechar. Ainda se lembra de quem é que agarrou a livraria, ‘com unhas e dentes’, evitando o seu desaparecimento?


L IVRAR I A LE LLO & I R M ÃO

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ANTERO BRAGA: O LIVREIRO “ESPERANÇA” QUE VÊ O FUTURO COM APREENSÃO De gravata vermelha impecavelmente colocada sobre a camisa, Antero Braga desloca-se agilmente pelas estantes da livraria, fundindo-se com os próprios visitantes. Minutos depois, é na caixa que o encontramos porque ser livreiro é isso mesmo: estar em contacto com o público, “partilhar, privilegiar uma via de dois sentidos”, na qual se dá e se recebe. Natural do Porto, mais concretamente da freguesia do Bonfim, o responsável pela Livraria Lello – Prólogo Livreiros, S.A apaixonou-se pelos livros por mero acaso. Perspetivava seguir uma carreira ligada à contabilidade e, em resposta a um anúncio, acabou por começar a trabalhar nos escritórios da Bertrand (que existia na Rua de 31 de janeiro), transformando-se, entretanto, “no diretor comercial mais novo, no diretor-geral mais novo e REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


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no administrador mais novo” da empresa. “Fui para os escritórios porque, como andava no Instituto Comercial, iria, supostamente, ser contabilista, formado em economia ou algo do género. Mas, depois, pediram-me para vigiar a loja, na época do natal, e como eu não tinha jeito para polícia acabei por me apaixonar pelos livros”, contou, bem disposto. No final da década de 60, Antero Braga teve oportunidade de escolher entre permanecer na contabilidade ou iniciar funções como livreiro (opção mais vantajosa em termos monetários). “Acabei por ir para livreiro [já lá vão 46 anos!] e em boa hora o fiz porque amo a minha profissão”, confessou. Depois de cumprir serviço militar, tomou conta de uma loja que a Bertrand abriu em Aveiro e, com 28 anos, tornou-se chefe de departamento de lojas e agências. Entretanto, esteve algum tempo a trabalhar como diretor de marketing da Editora Abril Cultural, mas acabou por regressar à Bertrand, “que estava mal”, integrando a equipa que conseguiu salvá-la da falência. Em 1993 – e contrariamente à opinião de muitos, que o consideraram “louco” – Antero Braga assumiu o desafio de ficar com a Livraria Lello

& Irmão, que, na altura, se dedicava à atividade de editora e se encontrava em decadência, criando-se, assim, a Prólogo Livreiros, S.A. “Quando cá cheguei, isto estava para fechar. Por isso, penso que os portuenses e o povo português devem muito não só a mim mas aos trabalhadores da livraria pelo facto desta casa ainda hoje existir, caso contrário teria falido como faliu tudo o que era Lello”, garantiu. O livreiro constatou, assim, que o espaço da Rua das Carmelitas como hoje conhecemos – muitas vezes com enormes filas de turistas à porta – é fruto do trabalho da Prólogo, que se dedicou a uma livraria que fazia, muitas vezes, “zero escudos por dia”. “Alguns dizem que foi sorte. Eu cá acho que sou como o Gastão [o primo sortudo do Pato Donald, desenho animado da Walt Disney], que só faz disparates mas ganha sempre”, ironizou. “Estivemos 11 meses encerrados, fizemos obras, metemos pessoas novas, de grande qualidade, que não tinham experiência nenhuma de livros e que foram aprendendo. E o que eu posso dizer é que, de 2008 até ao presente – na sequência de um processo de instalação, criação, implementação


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público procura, trazer novas correntes e ter um stock completamente diferente daquilo que é a massificação”. E é por se sentir sozinho na tarefa de lutar pela formação de cidadãos conscientes e críticos, através da leitura, que Antero Braga vê o futuro “com muita apreensão”.

e consolidação – conseguimos somar 14 prémios. Nem o FC Porto conseguiu ter 14 prémios seguidos, não é?”, acrescentou. Aliás, só este ano, foram três as distinções conquistadas: Antero Braga recebeu o diploma “Livreiro da Esperança 2014” pelo seu trabalho efetuado em prol do livro; a CNN considerou-a a livraria “mais cool” [fixe] do mundo e a APEL (Associação Portuguesa de Editores e Livreiros), da qual a Livraria Lello – Prólogo Livreiros, S.A não é sócia, preferindo demarcar-se, atribuiu-lhe o melhor ambiente para a compra do livro. “É por causa dos aviões? [ação das companhias aéreas low-cost]? É pelo edifício ser muito bonito? Já não era antes, quando fazia zero escudos por dia? É por causa do Gastão?”, questionou o livreiro, garantindo que o segredo é “estar permanentemente atento ao que o

LUTAR CONTRA A “COLONIZAÇÃO CULTURAL” Ao Governo, aos jornalistas (que considera “companheiros de estrada”) e aos próprios cidadãos, o livreiro pede apenas que reflitam e tenham a coragem de “admitir o que está a acontecer no país”. “Em relação à indústria do livro, neste momento, Portugal está cingido a dois grandes grupos: à LeYa e à Porto Editora. Os portugueses estão sujeitos a serem colonizados culturalmente por dois grupos, ou seja, adivinho que cartéis estejam aí à porta para decidir o que o povo português deve ler”, afirmou, lamentando que, tal como aconteceu com as distribuidoras e editoras, também as livrarias independentes estejam a desaparecer. “Cada um deve ter a sua função: o editor deve editar, o autor deve criar, a gráfica deve imprimir, o distribuidor deve distribuir e o livreiro deve estar em contacto com o público. Isto está tudo misturado e quem vai ser prejudicado é o povo português”, alertou. “Vou sair da minha atividade [para a reforma] desgostoso e com poucas esperanças porque não vejo força dos mais novos, dos homens e das mulheres que gostam de cultura em Portugal, para lutarem pela liberdade. Vamos ser todos condicionados: vamos ler o que eles querem, como querem e quando quiserem”, sustentou. O proprietário da livraria saudou ainda a decisão da Câmara do Porto de acabar com a Feira do Livro organizada pela APEL, evento que “merece uma grande discussão para sabermos por que razão continua a ser feita, em Lisboa, pelos editores, em nome de outros interesses”. “Mas isto é quase pregar o ‘Sermão de Santo António aos Peixes’, ninguém me ouve. Já basta que os cidadãos não tenham grandes fontes de rendimento para investir na cultura, quanto mais serem colonizados”, realçou. O “Livreiro da Esperança 2014” apelou, assim, aos cidadãos que não desistam da sua liberdade, recordando que “os países são mais ricos quanto maior for o seu índice de leitura”. REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


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BOAS PRÁTICAS DO ON.2

O “ON.2 – O Novo Norte” (Programa Operacional Regional do Norte 20072013) está em fase de encerramento e é tempo de efetuar o balanço de mais um ciclo de fundos comunitários que chega ao fim. De acordo com dados da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), Autoridade de Gestão do ON.2, este programa conta com a mais relevante dotação financeira global dos programas operacionais regionais – 2,7 mil milhões de euros – o que representa 12,5% do orçamento do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN). Ao longo dos últimos anos, o ON.2 funcionou, assim, como um importante instrumento de apoio à concretização de iniciativas privadas e públicas na Região do Norte. Conheça, de seguida, algumas das áreas que beneficiaram deste apoio comunitário.

Texto: Mariana Albuquerque

INTERNACIONALIZAÇÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS No âmbito da comparticipação destinada à afirmação de micro e pequenas empresas no estrangeiro, o Programa Operacional Regional do Norte apoiou 1770 projetos, orçados em 321 milhões de euros e cofinanciados em 128 milhões.

Finalista do Prémio Douro Empreendedor 2013, o projeto Douro Skincare, que consiste em conceber, desenvolver, fabricar e comercializar linhas de produtos de cosmética seletiva, de marca própria, baseados em matérias-primas emblemáticas da Região Demarcada do Douro, beneficiou do apoio do ON.2 no processo de penetração da marca em mercados externos. Atualmente em fase de lançamento da sua primeira linha de produtos, intitulada DVINE (que chegará às lojas no início de 2015), a marca já exporta para o Brasil, Canadá, Rússia, Alemanha, Roménia, Nigéria e Turquia, estimando-se que, no próximo ano, consiga atingir o Japão, Reino Unido e África do Sul. A aposta na internacionalização, num investimento superior a 302 mil euros, foi comparticipada em mais de 168 mil por fundos europeus. Tal como explicou Mariana Andrade, impulsionadora da iniciativa, “o Douro serve de inspiração a este projeto de cosmética e beleza pela sua paisagem monumental, pela sua unicidade e pela luta que as plantas têm de travar para se desenvolver num ecossistema com particularidades excecionais a nível mesológico”. E acrescenta: “os solos das encostas de xisto são pedregosos, o ambiente, apesar da feição mediterrânica, caracteriza-se por um microclima quente e seco do vale vinhateiro, que contrasta com as terras frias circundantes. A flora nativa que ali se consegue desenvolver tem uma notável vivacidade e, logo, para as plantas e a vegetação autóctone vingarem têm de se


Fotos: Douro Skincare

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sobretudo na presença em feiras internacionais da área, na criação e desenvolvimento da rede de comercialização e na procura de oportunidades de mercado. “Neste momento estamos a preparar o nosso reforço nos mercados dos EUA e Canadá, que são extremamente importantes e com um grande potencial de crescimento. Para além da presença na maior feira de tecnologia do mundo, em Las Vegas, que decorrerá em janeiro de 2015, estamos também a reforçar a nossa atuação direta local, aumentando a equipa nos EUA, para dar um maior apoio aos clientes”, acrescentou, recordando, “com agrado”, a conquista de “um cliente internacional em particular”, o proprietário do Chelsea FC, Roman Abramovich. “Ele encontrou na Edigma a solução para

Fotos: CCDR-N

dotar de substâncias que as fortaleçam, com o respetivo potencial de transmitir essas propriedades aos cosméticos”. A linha integra, para já, onze referências de produtos de rosto focados na ação antienvelhecimento e todos eles apresentam “uma fragrância exclusiva” – designada “Douro Nuclear Aroma” – conquistada a partir do primeiro vinho do Porto de origem totalmente orgânica. Agendada para setembro de 2015 está a extensão da linha de produtos a outras tendências. Ainda que o vinho do Porto seja a matéria-prima da marca, por excelência, a Douro Skincare está a estudar outros produtos do Douro com potencial para a cosmética como a azeitona/azeite, as amêndoas e os figos. Também a Edigma, empresa localizada em Braga, que tem vindo a desenvolver uma tecnologia capaz de transformar os ecrãs de LCD em interfaces “touchscreen”, semelhantes aos de um tablet, foi apoiada pelo ON.2, no âmbito da sua estratégia de internacionalização. Num investimento superior a 754 mil euros (cofinanciados em mais de 342 mil por fundos comunitários), a entidade dedicou-se à conquista dos mercados externos, sendo que, atualmente, já exporta para quase todos os países da Europa, para a Ásia, Américas e Médio Oriente. “Na verdade, a internacionalização é um dos nossos pilares do crescimento do negócio, a par da Investigação, Desenvolvimento & Inovação e Marketing”, reconheceu Miguel Oliveira, responsável da empresa, explicando que a expansão da Edigma assenta

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Fotos: Formato Verde

poder ter um enorme globo terrestre multitoque, que depois foi instalado num dos seus barcos”, contou. O mais recente produto da empresa, intitulado “DISPLAX Skin Ultra”, foi lançado por altura do seu 10.º aniversário, no passado mês de outubro, consistindo, muito sucintamente, “numa película transparente que, depois de aplicada por trás do vidro de um televisor, por exemplo, permite que se possa interagir com o ecrã, a partir de movimentos semelhantes ao que usamos nos telemóveis com os dedos”, frisou, acrescentando que, devido à arquitetura eletrónica e ao software desenvolvido, “a película permite que um televisor seja utilizado como um tablet e com uma velocidade de resposta três vezes maior do que as atuais tecnologias ‘touchscreen’ existentes no mercado”. O responsável assumiu que a empresa declarou “guerra ao comando de televisão”, pretendendo “transformar cada LCD num mega-tablet”. Em Portugal, a tecnologia Edigma pode ser encontrada, por exemplo, nos museus do Futebol Clube do Porto e da Presidência da República, no Centro de Educação Ambiental de Esposende, em algumas das Lojas Interativas de Turismo do Porto e Norte de Portugal e nas Lojas de Turismo do Alentejo e Ribatejo.

Especializada na educação para o desenvolvimento sustentável, a Formato Verde também beneficiou do apoio do Programa Operacional Regional do Norte para chegar a novos mercados estrangeiros. Através de um investimento de 133 mil euros (cofinanciado em quase 60 mil), a empresa dedicou mais recursos humanos e financeiros à sua atividade externa, que representa, atualmente, mais de 65% da sua atividade. Segundo explicou Miguel Laranjo, responsável da entidade, o estabelecimento de parcerias com instituições estrangeiras, a participação em eventos como seminários, congressos, missões empresariais e feiras, a subscrição de bases de dados de oportunidades de negócio, o investimento em comunicação digital e a criação de suportes de comunicação e de um website multilingue são as principais estratégias utilizadas. “Resultante também do apoio do ON.2 e do esforço de internacionalização, a Formato Verde tem projetos em desenvolvimento ou já desenvolvidos em França, Suíça, Estados Unidos da América, Espanha, Brasil, Angola, Haiti, Índia, Zimbabué, em diversos países da Europa central e de leste e em cinco países MENA (Oriente Médio e Norte da África)”, informou. CRIAÇÃO OU MODERNIZAÇÃO DE UNIDADES DE ALOJAMENTO TURÍSTICO Ainda no âmbito do “ON.2 – O Novo Norte”, foram apoiados cerca de 400 projetos de construção ou modernização de empreendimentos hoteleiros, orçados em 210 milhões de euros e comparticipados em 118 milhões. No edifício da antiga Bolsa do Pescado do Porto, classificado como Património Cultural (Imóvel de Interesse Público) vai ser inaugurado, em fevereiro de 2015, um novo hotel, de 4 estrelas, do grupo espanhol Vincci, num investimento superior a oito


Fotos: Hotel Vincci Porto

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num só dia, uma visão sobre a foz do rio Minho e o Monte de Santa Tecla, em Espanha. Tal como frisou Ana Simões, da unidade hoteleira, o equipamento dispõe de 23 quartos temáticos, uma enoteca e um restaurante que reinterpreta receitas antigas do Alto Minho, sendo que, em breve, terá também um SPA, “para os clientes poderem relaxar durante a estadia”. Orçado em 2,8 milhões de euros (e cofinanciado em 2,1 milhões), o hotel pretende “crescer cada vez mais”, transformando-se num “ponto de referência na Região Norte” e surpreendendo o cliente. GESTÃO ATIVA DE ESPAÇOS PROTEGIDOS E CLASSIFICADOS Com vista à conservação e valorização do património natural, o ON.2 apoiou também dois geoparques do Norte de Portugal: o Geopark Arouca e o Geopark Terras de Cavaleiros.

Fotos: Design & Wine Hotel

milhões de euros, cofinanciado em mais de cinco milhões por verbas europeias. De acordo com Nelson Azevedo, a unidade hoteleira, cujo projeto de arquitetura é da autoria de José Carlos Cruz, terá 95 quartos, quatro suites, um restaurante, bar, terraço panorâmico, sala de reuniões e parque de estacionamento para clientes. “Será de referir a excelente localização na cidade, na primeira linha em frente ao Rio Douro com uma vista privilegiada, próxima das principais vias de acesso ao Porto e dos mais importantes pólos de interesse, como o edifício da antiga Alfândega do Porto, o Museu do Carro Elétrico e o Museu do Vinho do Porto”, frisou o responsável do equipamento. Também construído com mais de um milhão de euros de fundos comunitários, o LBV House Hotel é a mais recente unidade hoteleira da vila do Pinhão, num investimento de cerca de 1,7 milhões. O equipamento, de três estrelas, está rodeado de algumas das mais importantes propriedades do Alto Douro Vinhateiro, como as quintas da Foz, Eira Velha, Carvalhas, Roeda, Bomfim e Noval, apostando nos sabores da região, através do seu Restaurante Harvest, com uma ampla sala voltada para o rio. Em maio de 2012 foi inaugurado o Design & Wine Hotel, construído num solar do século XVIII do centro de Caminha, conciliando inovação e tecnologia, com a instalação de um sistema que permite a rotação de alguns dos quartos, proporcionando ao cliente,

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de Capacitação Institucional, designadamente o Congresso Internacional de Geoturismo - Arouca 2011, juntando pela primeira vez a National Geographic e as redes de Geoparques para se debater o conceito e a importância do Geoturismo à escala mundial”. “O terceiro projeto aprovado, denominado Gestão Ativa do Arouca Geopark, visa a criação, qualificação e divulgação da Rota dos Geossítios”, por exemplo com o lançamento de um novo portal Web e de aplicações para Smartphones interativas. O “ON.2 – O Novo Norte” apoiou ainda dois projetos promovidos pela Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros (um dos associados da Associação Geoparque Terras de Cavaleiros) “que foram cruciais” para o arranque daquela estrutura: o “Macedo Natura” e o “Percorra Milhões de anos geológicos nos 12878 hectares do Sítio de Morais”. “Com estes dois projetos foi possível munir o território de infraestruturas e de material de apoio à visitação, que agora permite que o Geopark Terras de Cavaleiros tenha visibilidade a nível nacional e internacional, já que pertence, desde setembro de 2014, à Rede Europeia e Global de geoparques sob os auspícios da UNESCO”, sublinhou Sílvia Marcos, coordenadora executiva do equipamento. A verba europeia concedida foi superior a 1,2 milhões de euros (num investimento de 1,4 milhões), beneficiando um território que apresenta vestígios de dois continentes e de um oceano desaparecidos.

Geopark Arouca

Geopark Terras de Cavaleiros

Reconhecido desde 2009 pelas Redes Europeia e Global de Geoparques, o espaço de Arouca apresenta um património geológico singular de relevância internacional, “para o qual o apoio comunitário do ON.2 contribuiu decisivamente”, tal como reconheceu António Duarte, coordenador executivo da AGA (Associação Geoparque Arouca). “Com este apoio [superior a 389 mil euros, num investimento de quase 556 mil] foi possível apostar na valorização e qualificação da Rota dos Geossítios, bem como na capacitação institucional por via da internacionalização da sua estrutura de gestão e, simultaneamente, do seu destino turístico”, explicou. Em declarações à Viva, o responsável informou que, na prática, foram três os projetos que a AGA viu aprovados no Programa Operacional Regional do Norte, “dois deles no âmbito do Programa



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Palcos da vida real Ao final da manhã e nas tardes soalheiras, lá estão eles, camaleónicos, em sítios estratégicos da cidade, à espera de sorrisos… e de moedas. Tem a certeza que consegue imaginar o que está por trás do olhar de um artista de rua? Texto: Mariana Albuquerque Fotos: Rui Oliveira

UM PROTESTO DE EMOÇÕES São 53 anos de vida quase tão oscilantes como as bolinhas de sabão que lança, de manhã, nestes ares de outono. De rosto e corpo branco, Gary Wilmer “veste-se” de estátua, sempre que as condições meteorológicas o permitem, e petrifica-se na portuense Praça da Liberdade, na mira dos turistas, empenhados em conhecer aquilo que a Invicta tem para dar. E é quase impossível não parar uns segundos para admirar a facilidade com que o londrino resiste à tentação do movimento. A cada “plim” resultante das moedas que lhe lançam aos pés, é assumida uma nova posição, antecedida de um gesto de agradecimento, ao ritmo de um robô. Wilmer está em Portugal há já

23 anos, mas não há como não identificar, de imediato, o ‘british accent’ que lhe molda as palavras. É escultor, apaixonado por gárgulas e dragões, gosta de desenhar e, curiosamente, odeia estar parado (a não ser nas horas de trabalho, nos Aliados). E se em Londres a vida não era fácil, quando chegou ao Algarve (primeira cidade lusa onde trabalhou) estava longe de saber as voltas que a vida iria dar. Então na casa dos 30, permaneceu no sul do país dois ou três anos e, entretanto, rendeu-se aos encantos de uma portuguesa. Casou e, de 93 a 97, percorreu o “retângulo à beiramar plantado”, na companhia da esposa, também artista de rua. Em modo “estátua”, faziam “uma espécie de ballet, num movimento

lento”, e davam um beijo “ao estilo Romeu e Julieta”. “Foi um grande sucesso, ganhei muito dinheiro”, recordou, contando que o trabalho realizado na rua despertou, na altura, o interesse de vários jornais. Da união nasceu um filho (dos “vários” que Gary tem, “por todo o lado), que acabou por ficar entregue ao pai, na sequência da separação do casal. E para abrir um novo capítulo, pôs mãos à obra e fundou a “Big Bang Balloons”, uma empresa voltada para a organização de festas de aniversário para crianças. “É que também sou palhaço, faço magia, sou um artista de fundo”, constatou, de sorriso rasgado. O negócio deu frutos, sendo conhecido em centros comerciais “de Viana do Castelo a Lisboa”, e REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


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personagem, completamente muda, ligada ao fado, que é, para o escultor, algo “fundamentalmente triste”. “As pessoas não devem guardar as emoções cá dentro e nós, artistas, precisamos ainda mais de as libertar”, sublinhou, com doçura e melancolia no olhar.

permitiu ao escultor dar ao filho “tudo aquilo que nunca teve”: uma casa no Mindelo, “três carros, uma vida muitíssimo boa”. Ainda assim, a empresa do londrino foi uma das que não conseguiu resistir à crise. Faliu, em 2011, ao ritmo com que rebentam, hoje, as bolas de sabão do homem-estátua dos Aliados. Wilmer decidiu, assim, “deixar tudo” e partir, com o filho, para o Algarve, voltando a trabalhar na rua, “sem sucesso”. “No sul, quem trabalha na rua morre à fome, sabias? Não se consegue nada”, assegurou. Em 2012, viu-se obrigado a entregar o miúdo (com 15 anos) à Segurança Social. “Vivi na praia, dei tudo ao meu filho. Agora, ele está a viver num lar do Estado e eu no único carro que não tive de vender. Ridículo, não é?”, questionou, de voz arrastada. Com os 178 euros do Rendimento Social de Inserção (RSI) que recebe, Gary paga 40 euros pela renda de uma garagem onde guarda as esculturas (que tenta vender no inverno) e 30 euros pelo passe do metro (o carro onde dorme fica no

parque de estacionamento de uma estação), destinando o que resta à alimentação. “É impossível viver com isto, só me dá para comer durante duas semanas”, contou, frisando que os dez ou 15 euros que junta na rua são fundamentais para o dia a dia. “Mantenho-me em Portugal por causa do meu filho, que, em 2015, faz 18 anos, vai sair do lar e precisa de mim”, sublinhou, reconhecendo, contudo, que adora Portugal e, “sobretudo, as gentes do norte, mais humanas”. “O Estado não apoia as pessoas, é esse o problema do país. Quantos prédios estão vazios nesta cidade? Há muita gente a dormir na rua”, lamentou. E é também esta “tristeza”, quase revolta, que pretende transmitir em “estátuas” futuras. “Quero abrir os olhos das pessoas para os problemas do mundo”, frisou, adiantando que, um dia, trabalhará na rua “vestido” de papel, entregando um alerta – que ele próprio escreverá – a cada pessoa que lhe der uma moeda. Nos seus planos está também a interpretação de uma

O TROMPETISTA ENÉRGICO QUE QUER “SALVAR AS ALMAS PERDIDAS” E a poucos metros de Gary, mas em frente à estátua de D. Pedro IV, está, quase todas as manhãs, Alex Kyyylenko, “o artista dos Aliados”, como gosta de se apresentar, com toda a energia. O ucraniano, de 45 anos (e “espírito de 25”), já trabalhou em vários países, nomeadamente na Bélgica, Rússia e Espanha (em áreas desde a restauração à construção civil), mas é com a fiel amiga trompete que faz planos para o futuro. Atualmente desempregado, pretende “organizar a vida” e começar a tocar em restaurantes, sonhando participar num festival de jazz. “Voltar para a construção civil é que não”, sublinha, agitado, entre pequenos intervalos durante os quais demonstra a confiança com que atua para a cidade. Do repertório do trompetista fazem parte músicas bem conhecidas do público, nomeadamente “What A Wonderful World”, de Louis Armstrong, o tema do filme norte-americano “The Godfather”, dirigido por Francis Ford Coppola, e “La cucaracha”. “Salvar as almas perdidas” nestes tempos difíceis é o grande objetivo de Alex, que, num dia de trabalho, não consegue juntar mais de 15 euros. “Agora vou trabalhar mais para comprar um Mercedes descapotável. Já só


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faltam 50 mil euros!”, brincou, assegurando que os portuenses ainda vão ouvir falar da “estrela dos Aliados”. “NÓMADA DOS TEMPOS MODERNOS” Pintado e vestido de preto, com os olhos muito azuis a darem vida à sua “estátua”, Manuel Lourenço é artista de rua por necessidade e não por paixão. Sentado, literalmente, no ar, surpreende quem passa, na Rua de Santa Catarina, não sendo propriamente fácil descortinar o sistema que lhe permite estar naquela posição. “É um truquezinho na perna”, segredou, numa pausa para o cigarro, explicando que encara a personagem como “um pobrezinho que está a pedir esmola”. “Como ninguém dá nada, o sujeito não tem dinheiro para comprar uma cadeira e está tão cansadinho que se senta no ar”, referiu. Natural de Viana do Castelo, Manuel, de 42 anos, trabalhou como rececionista e carpinteiro e viveu uma longa temporada em Paris. Hoje – após ter ficado sem trabalho – é “um nómada do tempo moderno”, percorrendo o país com as suas personagens REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


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estátua. “Vim para a rua porque não tinha outra solução para viver”, contou, revelando que descobriu a arte “através de um amigo”, com o qual trabalhou 12 meses, na Corunha. Entretanto, para “fugir” aos assuntos do coração, veio parar ao Porto, há dois anos, permanecendo em Santa Catarina ou na Ribeira. “Era um espetáculo, todos paravam para ver e queriam tirar fotografias”, frisou, reconhecendo

que, agora, “a novidade passou”. É por isso – e por outra paixão mal sucedida – que, a esta hora, o artista se encontra já noutro ponto do país, planeando regressar à Invicta “com novas ideias e projetos”. Mesmo em tempo de crise, o vianense garante sentir o “carinho dos que percebem” como é difícil “permanecer assim estático”. “Neste momento, é muito complicado para mim fazer

isto”, assumiu, frisando que os problemas pessoais enfrentados lhe roubam a concentração exigida pelo trabalho. Desta forma, não consegue estar na rua mais de duas, três horas, quando já conseguiu aguentar em modo estátua cerca de sete ou oito. “Claro que nem todos têm dinheiro para dar. Mas, às vezes, é um pouco constrangedor ver pessoas sentadas na esplanada a tirar fotografias. Se todos tirarem

fotos e ninguém deixar nada, um dia vão ter de fotografar as paredes porque os artistas de rua acabam”, lamentou. As condições meteorológicas também nem sempre ajudam. “Nos dias em que não chove temos de ganhar para os dias em que chove”, realçou, informando que não recebe qualquer subsídio estatal. E lá permanece, por derradeiros momentos, parado e mergulhado nos seus pensamentos, entre o


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vai e vem das vidas que se deslocam, apressadas, quando o dia já vai longo. O CANTOR QUE AGRADECE COM O CORAÇÃO Depois de ter pisado, recentemente, o palco do programa televisivo The Voice Portugal, o jovem cantor André Carneiro está de regresso às plateias da Rua de Santa Catarina, onde se estreou com 18 anos. “É um modo de expressão, uma forma de ganhar dinheiro a fazer aquilo que eu realmente gosto: música”, referiu. Nunca teve formação na área, mas facilmente aprendeu a tocar os primeiros acordes na

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Internet. Depois, foi só juntar a voz e deixar crescer o bichinho. Apesar de ter sido eliminado “bastante cedo” do concurso musical, no qual teve como mentor Mickael Carreira – que conquistou com o tema “Cannonball”, de Damien Rice – o jovem portuense, de 22 anos, encara a experiência de forma “positiva”, recordando com carinho a primeira audição realizada. Ainda assim, garante, nunca esperou encontrar ali a sua “salvação, sobretudo em Portugal, onde tudo é mais difícil”. É por isso que quem passa pelo Majestic consegue facilmente reparar no sorriso com que atua, levando a mão ao coração sempre que lhe elogiam a voz, em jeito de aplauso.


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DE OLHOS POSTOS NO “HEPTA” Revolucionou o andebol português – com a conquista de seis campeonatos consecutivos – e não tem medo de admitir que, para ganhar, é preciso, muitas vezes, sofrer. O FC Porto Vitalis já só pensa em ser heptacampeão e em continuar a mostrar, em campo, de que fibra se fazem os vencedores. Texto: Mariana Albuquerque Fotos: Rui Oliveira


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um dado curioso. A mais longa saga de vitórias conseguidas na modalidade teve início precisamente quando o clube – que até então utilizava o Pavilhão Américo de Sá – se mudou para a sua nova “casa”: o Dragão Caixa, em 2009. “Não quero dizer que o FC Porto tenha estado mal no espaço anterior, mas jogar em casa é diferente. A força do clube também se vê pela força dos seus adeptos”, constatou.

“Agora temos de ganhar o ‘hepta’ porque já há quem tenha conquistado o hexacampeonato”, afirmou Pinto da Costa, presidente do clube azul e branco, em conversa com José Magalhães (diretor-geral do andebol), minutos depois de o FC Porto Vitalis entrar para a história da modalidade, ao conquistar o 6.º título consecutivo. As palavras, proferidas no final da época passada, estão, hoje, mais vivas do que nunca na mente dos jogadores, que seguem firmes na liderança do campeonato. “Partimos com a confiança no máximo, sempre com a expectativa de melhorar em relação ao passado”, defendeu Ricardo Moreira, capitão da equipa, realçando que, apesar da saída de alguns atletas, os reforços deste ano chegaram “com a mesma vontade de vencer” e de continuar a agitar o andebol português. E o andebolista acrescenta

“NÃO NOS CONFORMÁMOS, QUISEMOS SEMPRE MAIS” A maratona de vitórias do FC Porto Vitalis começou em 2008/09, com Carlos Resende no comando técnico. Na época seguinte, Ljubomir Obradovic ‘pegou’ na equipa e nunca mais a deixou sair do topo. Hoje, após seis anos de conquistas, é com orgulho que Ricardo Moreira, Gilberto Duarte e Hugo Laurentino recordam um percurso de trabalho árduo, sempre na presença de José Magalhães, uma “figura fulcral” tanto para o treinador como para os jogadores. O capitão entende, assim, que o sucesso do conjunto é indissociável da ação do diretor-geral da modalidade, que usa o seu conhecimento e uma rede alargada de “informadores” para captar futuros talentos. “Foi ele que me foi buscar, quando eu era miúdo; foi buscar o Laurentino e uma série de atletas, muito jovens, juntando-os num só grupo”, frisou o jogador, que chegou ao conjunto azul e branco em 1997, proveniente dos ermesindenses do CPN. E também Obradovic sublinha a importância de José Magalhães ter depositado total confiança no seu trabalho. “Conseguimos, juntos, fazer tudo isto e agora só pensamos em continuar”, reconheceu o sérvio. Para além do profissionalismo e esforço exigido diariamente aos atletas, a deteção precoce de jogadores “com os requisitos de que o FC Porto precisa e gosta de ter” é, assim, um dos grandes segredos do emblema, segundo reconheceu o diretor-geral. “A melhor forma de fazer com que REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


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os atletas se identifiquem com o clube é trazê-los para cá bastante jovens”, frisou, acrescentando que a tarefa do treinador da equipa sénior se torna bastante mais fácil quando os comandados estão moldados “à Porto”. De resto, Obradovic e Magalhães não têm dúvidas: a “entrega total” e a “paixão” da equipa são das “maiores vitórias” da estrutura portista. É esta ânsia de ir mais além que move os atletas, jogo após jogo. “Ainda no outro dia estava a confidenciar com um colega que já cá não está (mas que também esteve por dentro destes seis títulos) que, efetivamente, ao longo do tempo, nós mostrámos muito mais sede de ganhar do que qualquer clube. Nunca nos conformámos com as vitórias sucessivas, quisemos sempre mais”, sublinhou Ricardo Moreira. Mesmo quando se sente “pouco reconhecido”, o FC Porto Vitalis não hesita em concentrar-se apenas no futuro. “Tenho a certeza absoluta de que se este feito [a conquista do hexacampeonato] tivesse acontecido noutro sítio do país era logo reconhecido nas primeiras páginas. Felizmente, são estas pequenas coisas que nos dão força para continuar a reescrever a nossa história”, assegurou o capitão. TREINOS “INTENSOS” QUE RESULTARAM EM “MELHORES ATLETAS” Com a chegada de Obradovic, o sistema de treinos do FC Porto Vitalis sofreu uma revolução.

A intensidade dos trabalhos diários e a exigência e rigidez do técnico surpreenderam os jogadores, que reconhecem, hoje, a inegável importância das alterações introduzidas pelo sérvio. “Os treinos são muito intensos, sempre no nível máximo. No início custou-nos um pouco, mas agora já estamos habituados”, confessou Gilberto Duarte, “recrutado” em 2007, com 17 anos, em Lagoa, no Algarve. Segundo contou, a ajuda dos colegas, “quando ainda não tinha um papel muito importante na equipa”, foi decisiva para o seu crescimento individual. Outra característica apontada pelos “hexa” ao atual treinador é o facto de tratar todo o plantel de forma igual, “sem fazer qualquer diferenciação”. De resto, tal como apontou Hugo Laurentino, o profissionalismo do técnico é a sua grande ferramenta de sucesso. “Só assim é possível continuarmos a ganhar”, notou o guarda-redes, descoberto em Évora, em 2000, quando tinha apenas 16 anos. À distância do tempo, o capitão da equipa considera que foi graças a elevadas doses de rigor e dureza que todos se transformaram em “melhores atletas”, daqueles que fazem ‘das tripas coração’ para defender a marca FC Porto. E o mérito dos andebolistas é confirmado pelo treinador, segundo o qual, no grupo, só há lugar para elementos 100% focados no andebol, talentosos, apaixonados e que gostem muito de trabalhar. Numa altura em que já só pensam na conquista do


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sétimo título, os três jogadores não têm dificuldade em identificar os jogos mais marcantes dos últimos seis anos. Para Laurentino, um dos mais importantes foi, “sem dúvida”, a final do ano passado, frente ao Benfica (que os azuis e brancos derrotaram por 24-19), numa jornada em que o guardião efetuou 16 defesas, mostrando as suas “mãos de ferro”. “Em termos individuais correu-me muito bem, foi quase perfeito, e, além disso, foi o momento em que fizemos história”, apontou. Opinião partilhada por Gilberto Duarte que, durante a partida (na qual assinou sete golos), foi surpreendido com a presença da mãe e da irmã, que apareceram no Dragão Caixa, sem avisar, para apoiarem o conjunto portista. Já Ricardo Moreira recorda com especial carinho o último jogo do pentacampeonato, em casa, também frente ao Benfica. “Em primeiro lugar porque estávamos prestes a igualar um marco histórico [conseguido pelo Sporting] e, em segundo, porque eu tinha estado muito tempo lesionado e falhado quatro jogos”, contou. “Já tínhamos feito as contas e, na altura, o treinador disse-me: ‘só te quero bom para o jogo com o Benfica. Nós vamos ganhar as outras partidas e só te quero apto para aquele jogo’. E era difícil para mim imaginar-me a jogar dali a cinco semanas porque estava mesmo mal, nem sequer conseguia saltar”, reconheceu, admitindo que as previsões técnicas foram completamente acertadas. Num

ambiente de extrema emoção, o capitão entrou em campo com os colegas e marcou dez golos. “Durante cinco semanas penei, mas senti, depois, uma recompensa enorme”, sublinhou. SABER JOGAR “À PORTO” Adepto da velocidade, da defesa agressiva e do contra-ataque demolidor, Obradovic explicou que, quando começou a trabalhar em Portugal, uma das primeiras tarefas foi a de ensinar os jogadores a serem menos egoístas e a esquecerem o impulso de “apanhar a bola e rematar à baliza”. “Mudámos isso e vamos continuar a fazê-lo junto dos novos atletas. Estamos muito contentes que, hoje, a equipa conheça bem a melhor forma de jogar e a importância de criar boas oportunidades para, depois, festejarmos todos”, sublinhou. Jogar “à Porto” é, para Moreira, não reagir com naturalidade às derrotas. “Foi isso que me ensinaram ao longo da formação no clube e é isso que eu passo aos mais novos. Havia aqui um atleta que me dizia que, quando perdia, tinha vergonha de sair de casa e é um pouco isto. Se um jogador reage da mesma forma quando ganha e quando perde algo não está bem”, defendeu. E José Magalhães conclui: “a única forma de conseguirmos ter sucesso é trabalhando ao mais alto nível e não é por acaso que o FC Porto tem sempre muitos atletas nas seleções nacionais”. REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


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ALMA DO TEATRO PORTUENSE

Texto: Mariana Albuquerque Fotos: TNSJ/TUNA

É um edifício “de rara beleza”, situado na portuense Praça da Batalha, cuja história nos fala da própria evolução da cidade. No passado mês de setembro, o Teatro Nacional São João (TNSJ) foi “devolvido” ao Porto, “na sua magnificiência”, depois de um período “sombrio”, de cinco anos, no qual permaneceu “escondido” entre telas de proteção. De 1798 a 2014 sabe quantos teatros ‘habitaram’ neste Monumento Nacional?


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UMA “BELA ESCOLA DE COSTUMES E DE CIVILIDADE” É possível explicar, mas não há como entrar no TNSJ e testemunhar a imponência da sua sala de espetáculos: o coração do equipamento, que parece sussurar-nos histórias de outros tempos. Construído pelo arquiteto e cenógrafo italiano Vicenzo Mazzoneschi, o edifício original do teatro – então designado Real Teatro de São João, em homenagem ao príncipe regente da época, futuro D. João IV – nasceu para dotar a cidade de “uma bela escola de costumes e de civilidade”. Assim, a 13 de

maio de 1798, o Porto deu as boas-vindas ao primeiro edifício, construído de raiz, exclusivamente dedicado à apresentação de espetáculos. Em 1908, mais concretamente na noite de 11 para 12 de abril, um incêndio viria a destruir por completo o equipamento. “Foi um ano fatídico. No entanto, a cidade e, sobretudo, a sociedade proprietária do espaço uniram imediatamente esforços para reerguer um novo edifício”, contou José Matos Silva, responsável pelo pelouro da Comunicação e das Relações Externas do TNSJ. Em outubro do ano seguinte, foi lançado um concurso público para a reconstrução da estrutura, do qual sairia vencedor um anteprojeto assinado por José Marques da Silva. Encarado como “o último arquiteto clássico e o primeiro moderno do Porto”, o responsável procurou reunir na

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sua proposta um conjunto de formas e sinais que dialogavam “com a memória do edifício desaparecido”, deixando ainda transparecer as influências absorvidas na École des BeauxArts de Paris, onde se formou. Assim, a 7 de março de 1920, a cidade Invicta aplaudiu a inauguração do Teatro de São João, como hoje o conhecemos. Mas a história do espaço cultural não terminaria aqui. “Até 1932, manteve a sua atividade como casa de espetáculos, maioritariamente de teatro e de ópera. A partir desse ano, o teatro começou a entrar em decadência na cidade do Porto e o equipamento foi transformado em cinema, alterando a sua denominação para São João Cine”, frisou José Marques da Silva. Entretanto, na década de 90, o edifício acabou por ser adquirido pelo Estado, sendo reinaugurado, a 28 de novembro de 1992, com REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


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a designação oficial de Teatro Nacional São João. Restaurado, remodelado e reequipado ao longo dos três anos seguintes, de acordo com um projeto do arquiteto João Carreira, o TNSJ voltou, então, a ter uma programação regular, dando largas à sua personalidade artística. Hoje, para além da “casa mãe”, localizada na Batalha, o equipamento gere ainda o Teatro Carlos Alberto e o Mosteiro de São Bento da Vitória. A “GRANDE BATALHA” DE RECUPERAR O “ANTIGO ESPLENDOR” Em 2006, as inevitáveis marcas da passagem do tempo ditaram uma nova fase enfrentada pelo Teatro Nacional São João. A dilatação das juntas do edifício

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começou a provocar a queda de blocos de betão e, por questões de segurança, optou-se por entaipar a estrutura. “Foi um período complicado para o TNSJ. As obras de restauro exterior só tiveram início em 2013 e era muito entristecedor ver a casa ‘escondida’”, referiu o responsável, reconhecendo que, ainda assim, o público nunca abriu mão dos serões dedicados à performance teatral. “No início do passado mês de setembro, esse período sombrio finalmente terminou, com a devolução do equipamento ao Porto”, acrescentou. “O edifício é de uma rara beleza e é com muito orgulho que o vemos recuperado e entregue à cidade”, realçou também Francisca Carneiro Fernandes, presidente

do Conselho de Administração do espaço, assegurando que a união de esforços entre instituições foi “absolutamente decisiva”. A intervenção de restauro foi cofinanciada em 85% pelo “ON.2 – O Novo Norte” (Programa Operacional Regional do Norte 2007/2013), integrado no Quadro de Referência Estratégico Nacional. A obtenção de financiamento para o projeto surgiu de um trabalho articulado entre a Sociedade de Reabilitação Urbana do Porto, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte e a autarquia portuense, às quais se aliaram a Direção Regional de Cultura e a Faculdade de Engenharia das universidades do Porto e de Aveiro. “Foi uma grande batalha conseguir devolver este esplendor à cidade”, defendeu José Marques da Silva, garantindo que não são raras as vezes em que locais e turistas aproveitam para registar fotograficamente ‘a nova cara’ da instituição. Mas o interior do edifício, esse, também não deixa ninguém indiferente. “Tem uma magia muito própria e a sala de espetáculos apresenta uma sonoridade extraordinária! Todas as companhias que cá vêm apreciam o local, que é o coração do TNSJ”, frisou, convidando o público a aventurar-se nas visitas guiadas à instituição, que podem ser realizadas às terças e sábados, às 12h00, com o objetivo de desvendar o que está por trás de uma peça de teatro.



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ATENTOS AOS MAIS PEQUENOS O t r a b a l h o d e s e nv o l v i d o junto dos mais novos, com vista à sensibilização para a importância do teatro, é uma das estratégias do TNSJ. Para além das oficinas de Páscoa e de verão, o equipamento portuense disponibiliza atividades criativas destinadas a entreter os miúdos enquanto os pais estão a assistir a uma peça. Despertar a sensibilidade destes pequenos espectadores, através de ações ligadas aos fugurinos, cenários e ao próprio texto dos espetáculos, é a grande meta da instituição. “Faz

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parte da nossa missão de serviço público”, assumiu, sublinhando que o público escolar tem um importante peso na venda de bilhetes. De resto, apesar das dificuldades económicas enfrentadas pelo país, é com satisfação que Francisca Carneiro Fernandes vê a sua equipa a conseguir “vencer os obstáculos” que vão surgindo, com “trabalho, empenho e, às vezes, a ajuda de outras instituições”. “Claro que, como sabemos, a crise instalou-se em Portugal e o TNSJ, como entidade pública, tem vindo a ser confrontado com dificuldades orçamentais, como

qualquer empresa”, defendeu, reconhecendo que o balanço dos esforços empreendidos nos últimos anos “não podia ser mais positivo”. E a provar que, efetivamente, “as pessoas estão mais sensibilizadas para a mais-valia que a cultura pode trazer à vida de cada um”, o espaço nunca registou “uma acentuada crise de público”. “Obviamente que as dificuldades acabam sempre por influenciar um pouco, mas a nossa taxa de ocupação de sala foi, no ano passado, de 81% e também já ultrapassámos os objetivos para 2014”, informou o responsável pela Comunicação.


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CONTINUAR A MOSTRAR LÁ FORA “O QUE DE MELHOR SE FAZ NO TEATRO PORTUGUÊS” O esforço de internacionalização do TNSJ começou a dar frutos em 2000, quando o espaço levou ao Brasil a peça “Madame”, encenada por Ricardo Pais. Desde então, a apresentação, em Portugal, de espetáculos estrangeiros e a promoção da produção nacional além-fronteiras tem vindo a marcar a lista de prioridades da instituição. Aliás, em 2003, o equipamento aderiu à União dos Teatros da Europa (UTE), sendo o único membro português desta organização, que congrega alguns dos mais importantes teatros públicos do espaço

europeu. Logo no ano seguinte ao da adesão, acolheu o XIII Festival da UTE, promoveu intercâmbios com alguns dos seus membros e apresentou produções próprias em todos os festivais realizados pelo organismo. “Claro que, atualmente, estamos um pouco condicionados pelos meios: quando temos orçamentos mais restritos, é difícil dar continuidade à internacionalização. Mas é um objetivo sempre presente. Prova disso é o último espetáculo que levámos a Moscovo, ‘Sombras’, que foi um sucesso extraordinário, depois de já ter passado por Paris e pelo Brasil”, sublinhou José Marques da Silva. Encenada

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por Ricardo Pais, a peça marcou presença, em 2013, no Festival Internacional de Teatro Tchékhov, na Rússia, apresentando-se ao lado de criações com assinatura de nomes maiores das artes de palco, como são os coreógrafos William Forsythe, Bill T. Jones, Matthew Bourne e Joseph Nadj e os encenadores Robert Lepage e Emmanuel DemarcyMota. “Esperamos, no próximo ano, voltar a ter uma digressão internacional. Queremos continuar a mostrar o que de melhor se faz em teatro no nosso país”, reconheceu. De resto, tal como frisou Francisca Carneiro Fernandes, o histórico TNSJ está focado num único objetivo: o de “manter a excelência da produção teatral”. “Precisamos de recuperar um pouco da capacidade financeira que tivemos e de fazer produção própria, que é o cerne da nossa missão”, sublinhou, garantindo que toda a equipa está diposta a entregar-se, de corpo e alma, ao teatro. REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014




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O sucesso do iTechstyle Innovation Business Forum O 4.º iTechstyle Innovation Business Forum, recentemente realizado na Alfândega do Porto, ficou marcado por um inegável aumento do fluxo de visitantes. Segundo reconheceu Helder Rosendo, subdiretor geral CITEVE e coordenador da iniciativa, esta foi “uma das melhores edições dos últimos tempos”, tanto em termos de procura como no entusiasmo revelado pelo público. “Uma edição particularmente simpática pelo facto de termos apresentado os vencedores do Prémio INOVATÊXTIL 2014!”, acrescentou, reconhecendo que a criatividade foi, efetivamente, um dos ingredientes presentes. No rol de surpresas esteve ainda a forte afluência de compradores estangeiros, desde mercados mais longínquos como os japoneses e russos, passando pelos vizinhos europeus (ingleses, holandeses, espanhóis, entre outros). O espaço iTechstyle Innovation Business Forum, que reúne o que de mais inovador se faz na área têxtil, apresentou desde casacos multifunções a coletes com apetrechos eletrónicos ou tecidos anti mosquito. Um dos produtos em destaque (desenvolvido pela empresa Damel), é um casaco de vela que, aparentemente, se assemelha a tantos outros, mas incorpora um colete salva vidas, que se auto-insufla quando há uma queda na água. A inovação pode ser aplicada no setor das pescas e salvar a vida de muitos pescadores. No centro das atenções esteve ainda uma


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camisola da Seleção Nacional bastante mais quente do que as atuais e com a qual Humberto Coelho marcou imensos golos. No tempo do ex-jogador, o material usado era essencialmente a lã, sendo que, nas camisolas de hoje, a escolha recai no algodão e nos sintéticos. Será que a lã é uma matéria-prima de outros tempos? A inovação revela-nos um polo para desporto outdoor produzido em lã, com características multifuncionais ao nível da repelência à água, à sujidade e ainda aos mosquitos. Uma combinação absolutamente inovadora tendo em conta a matéria-prima

utilizada. Também a LMA (Leandro Manuel Araújo), empresa portuguesa produtora de malha, percebeu que a criatividade é o caminho de futuro. Já ganhou vários prémios internacionais e, por norma, está em destaque num dos fóruns mais cobiçados da indústria do desporto – o ISPO Textrends Awards – no âmbito da ISPO, a maior feira de desporto do mundo. Nesta edição do iTechstyle Innovation Business Forum, apresentou a malha ideal para o desporto em condições extremas, sendo à prova de vento e de água, com regulação térmica e capacidade para deixar a pele respirar. E será possível existir uma camisa que se lava sozinha? Sim. É a mais recente aposta da Arco Têxteis, que impregnou tecidos com nano partículas que limpam a roupa quando estão em contacto com raios ultravioleta. O i Te c h s t y l e I n n o v a t i o n Business Forum está inserido no projeto Portuguese Fashion News, que é co-financiamento pelo SIAC, através do COMPETE – Programa Operacional Fatores de Competitividade, do QREN.

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Capturado o Melhor Filme de Moda português Mais de cem projetos concorreram ao título de Melhor Filme de Moda Português. O veredicto do júri foi anunciado na I edição do Fashion Film Festival em Portugal. O I Fashion Film Festival (FFF) nacional assumiu o desafio de encontrar o Melhor Filme de Moda português e, depois de uma cuidadosa análise das propostas a concurso, foram seis as obras distinguidas. Na verdade, procuravam-se os filmes que mais se destacassem nas categorias de Moda de Autor e de Marca, nas áreas de melhor fotografia, melhor filme e melhor realizador. A organização do FFF reservava ainda uma distinção para o Melhor Filme de Moda em competição, prémio a ser atribuído pelo público. Mas comecemos pelos filmes de Moda de Marca. A qualidade das propostas obrigou a um empate técnico entre “Backward”, de José Lemos para Júlio Torcato, e “SS13”, de Studio RGB/XYZ para Xperimental Shoes. O melhor realizador foi Carlos Carneiro, com o filme “Homonima SS15” para a marca Sr. Prudêncio. O filme “V Lookbook AW13”, de Studio RGB/XYZ para Diana Matias, arrecadou


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o troféu de Melhor Fotografia. Na categoria de Filmes de Moda de Autor, a história conta-se de forma mais rápida: “Bonnie”, de Márcio Simões, foi o vencedor absoluto, sendo descrito por José Pedro Sousa (elemento do júri que entregou o prémio de Melhor Realizador) como “absolutamente maravilhoso”. Com a obra, realizada “praticamente sem orçamento”, Marcio Simões arrecadou 4000€, acumulando cada um dos três prémios. “Give me a break”, de José Lemos para Dr. Kid, foi o vencedor unânime do prémio do público. A votação esteve aberta durante os dias 24 e 25 de setembro, ao longo de todo o Modtíssimo e ainda durante a tarde do dia 26, já no Rivoli, onde decorreu a cerimónia de entrega de prémios. Centenas de pessoas, entre profissionais de filmes de moda e figuras públicas, marcaram presença neste espaço incontornável da cidade. Manuel Alves e José Manuel Gonçalves, José Pedro Sousa, Justin Anderson, Fred Sweet e Paula Martinho da Silva foram alguns dos elementos do júri que entregaram os prémios aos vencedores, reiterando a qualidade das propostas que estiveram a concurso. “O sucesso do I Fashion Film Festival aumenta as expectativas para a II edição, em data a agendar durante o próximo ano 2015”, reconheceram Manuel Serrão e Daniel Deusdado, os responsáveis pela organização da iniciativa, a cargo da Associação Seletiva Moda em parceria com a produtora Farol de Ideias. O evento será uma vez mais integrado na Porto Fashion Week.

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Mike Davis… uma marca renascida

Prestes a assinalar o seu 40.º aniversário, a Mike Davis está a apostar numa nova fase de expansão, intensamente marcada por uma imagem jovem, diferenciadora e mais adaptada às exigências dos consumidores. No arranque de mais uma etapa, a Mike Davis inaugurou, no passado mês de outubro, a sua nova loja no Norteshopping, um espaço de tamanho redobrado e com uma imagem mais moderna e inspirada na história da marca. Num estilo Casual Sport, a entidade apresenta uma forte ligação a desportos de elite, o que acabou por influenciar e inspirar as lojas, através do uso de materiais inovadores como telas iluminadas, mobiliário em metal e montras em formato digital. Mas a nova estratégia não surge por acaso. Em junho de 2013, uma nova equipa de gestão, liderada por Luís Aranha, assumiu o desafio de recuperar o nome e a notoriedade da Mike Davis, tarefa essa que está a ser cumprida com sucesso, já que “os resultados têm sido claramente positivos. “Registámos um aumento de 54% no volume de negócios e prevemos encerrar este ano com cerca de 7 milhões de euros de faturação”, adiantou o responsável. Comunicação e marketing são outras áreas de grande investimento da Mike Davis, associada a eventos como o Portugal Open e os torneios de Padel ou a figuras como o tenista João Sousa e o apresentador Hélder Reis. Além do espaço do Norteshopping, a marca remodelou sete lojas e abriu mais quatro, totalizando 25 pontos de venda espalhados pelo país.


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Empreendedores “Born Global” A 17.ª Feira do Empreendedor, realizada entre os dias 27 e 29 de novembro, no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, apresentou oportunidades de networking, formação, coaching, investimento e internacionalização. O evento recebeu a visita de mais de 20 mil pessoas, que foram medir o pulso aos empreendedores portugueses. Num altura em que as novas ideias de negócio brotam à velocidade da luz, é possível conciliar, por exemplo, as áreas da gastronomia, moda e eventos de uma forma inovadora. Aliás, essa é a estratégia utilizada pela No More, empresa organizadora de eventos, para cativar os seus clientes. “Aproveitámos a Feira do Empreendedor para dar a conhecer o nosso trabalho e angariar novos clientes” explicou o diretor da empresa. A Nicles, que também opera na área, aproveitou o momento para avaliar como está o mercado e trocar informações com outros empresários. O MUUDA, concept store que faz parte do Circuito Cultural de Miguel Bombarda, esteve representado na mostra nas vertentes de joalharia, moda e produtos gourmet. A viagem prossegue com o stand da Multitema, uma empresa consagrada na área da impressão, que apresentou na feira uma nova área de negócio, a internet mobile. “Com as nossas APPS, a comunicação das empresas fica mais acessível aos clientes, em todo lado, de forma económica, integrada, organizada e intuitiva”, descreveu Sebastião Magalhães, CEO da instituição. Para a Quality Impact, uma presença habitual na iniciativa, esta edição foca-se, sobretudo, na importância do programa paralelo sobre a internacionalização.

“Trabalhamos muito no mercado internacional e é muito importante acompanhar as novidades nesta área”, sublinhou Luís Figueira de Sousa, diretor da empresa. De olhos postos no mercado internacional está também a Fifty Paiva. “Começamos a preparar a internacionalização aos poucos e estamos a olhar atentamente para alguns mercados”, reconheceu. Sob o lema “Born Global” e cada vez mais focada no empreendedorismo qualificado, a Feira do Empreendedor complementou a exposição multissetorial de 110 empresas, distribuídas por dois mil metros quadrados. REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


M E M Ó R I A S

HistOrica rua de oitocentos Berço de elegantes alfaiatarias, sapatarias e luveiros, a Rua Nova de Santo António/31 de Janeiro ficou inevitavelmente marcada por um episódio revolucionário que viria a culminar, anos mais tarde, na Implantação da República em Portugal. Texto: Mariana Albuquerque Foto atual: Rui Oliveira

Com vista privilegiada para a Torre dos Clérigos e a Igreja de Santo Ildefonso, a Rua de 31 de Janeiro ficou assinalada nas páginas da história do Porto como uma das mais elegantes da cidade, tendo sido palco da revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891, em reação ao Ultimato britânico de 1890. Construída, em grande parte, sobre estacaria e arcos em pedra, de forma a vencer o enorme declive entre as extremidades, a artéria foi meticulosamente planeada por João de Almada e Melo, grande obreiro da expansão urbana da

cidade do Porto no século XVIII. A criação de uma ligação cómoda entre o bairro de Santo Ildefonso e o bairro do Bonjardim (na zona da atual Praça de Almeida Garrett) foi o motivo que esteve na origem da criação da rua, projetada pelo arquiteto Teodoro de Sousa Maldonado, entre 1787 e 1793. Em 1805 ficou totalmente aberta, tendo sido batizada como Rua Nova de Santo António (“Nova” porque já existia uma rua com a mesma designação na Picaria e “Santo António” devido ao santo homenageado pela Igreja dos Congregados).


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PALCO DE UM ACONTECIMENTO QUE MARCOU A HISTÓRIA DE PORTUGAL E quem começa a subir a conhecida artéria portuense pode visualizar (do lado direito) a placa que remete para uma ocorrência histórica recordada não apenas na história do Porto, mas também na do país. A 31 de Janeiro de 1891, a cidade Invicta acolheu o primeiro movimento revolucionário que teve como objetivo a implantação do regime republicano em Portugal. Os revoltosos desceram a Rua do Almada, até à atual Praça da Liberdade, em frente ao antigo edifício da Câmara Municipal do Porto, e ouviram o republicano Alves da Veiga a proclamar, da varanda, a Implantação da República. Depois de hasteada uma bandeira vermelha e verde, e ao som da fanfarra, de foguetes e vivas à República, a multidão decidiu subir a Rua de Santo António, em direção à Praça da Batalha, com o objetivo de tomar a estação de Correios e Telégrafos. Contudo, o cortejo festivo foi barrado por um forte destacamento da Guarda Municipal, posicionada

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na escadaria da Igreja de Santo Ildefonso, no topo da rua. O capitão Leitão, que acompanhava os revoltosos, esperava conseguir convencer a guarda a juntar-se à celebração, mas dois tiros que partiram, segundo se pensa, da multidão, terão despoletado uma cerrada descarga de fuzilaria que vitimou revoltosos e simpatizantes civis, ‘sufocando’ esta primeira revolta. Anos mais tarde, com a implantação da República, a 5 de outubro de 1910, a rua assumiu o nome de 31 de Janeiro. Importa ainda referir que esta era uma das ruas mais elegantes do Porto, onde imperavam alfaiatarias, sapatarias, cabeleireiros de moda e luveiros, numa época em que a luva era quase um adereço obrigatório no vestuário. Um dos estabelecimentos mais célebres que lá funcionava era a mercearia fina “Casa Prud’homme”, que vendia queijos e champanhes e que era frequentada por importantes figuras portuenses como o escritor Camilo Castelo Branco. REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


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NOITES COM REQUINTE Prestes a assinalar o seu segundo aniversário, o Eskada Porto mantém-se como uma referência nas noites portuenses, seguindo as mais recentes tendências internacionais e inspirando-se em espaços de animação nortuna de Miami, Abu Dhabi, São Paulo ou Saint-Tropez. Com uma imagem de marca baseada no glamour, está aberto quatro noites por semana, apostando na relação de proximidade com o cliente e na disponibilização de espaços com ambientes distintos, cuidadosamente pensados para públicos heterogéneos. As noites de quarta-feira são direcionadas a um escalão mais jovem, com o novo mote de

animação “Biba Boyfriends Out” (numa fusão dos antigos conceitos “Biba a Baixa” e “My Boyfriend is Out of Town”, bem conhecidos na cidade). Às quintas-feiras, os serões são diversificados, seguindo a tendência da “música MTV”, sendo que, ao fim de semana, o divertimento abrange todas as idades. Uma vez por mês, ao sábado, das 23:00h às 02:00h, o Eskada Porto lança a “Salsa Party”, uma tendência que está, definitivamente, na moda. E para a passagem de ano que se aproxima, o espaço preparou uma mão cheia de surpresas, de forma a garantir que todos vão entrar em 2015 da melhor forma possível. Entretanto, o Eskada prepara-se para fazer um pequeno upgrade em termos de instalações e serviços, prometendo voltar a surpreender o público durante o primeiro trimestre do próximo ano. Vai resistir à tentação?

Eskada Porto | Rua da Alegria, 611 | www.eskadaporto.com.pt | www.facebook.com/eskadaporto | email para info e reservas: grupoeskada@gmail.com


E SK A DA P ORTO

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BAIXA DO PORTO

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Surpresas da baixa Abriram recentemente para fazer as delícias de turistas e portuenses, pessoas tranquilas ou mais rebeldes. A Viva foi espreitar dois dos novos espaços da animação noturna (e diurna!) da cidade Invicta. Está preparado para conhecê-los?

A PAIXÃO LUSITANA DA NOVA CAFETARIA DA BAIXA Localizada no número 110 da Rua Cândido dos Reis, a “Essência Portuguesa”, nova cafetaria gourmet do coração do Porto, tem uma mão cheia de surpresas preparadas para o público. Com dois pisos disponíveis, o espaço oferece boa música, convidando portuenses e turistas a experimentarem as suas tostas, gelados, quiches, tartes, bolos ou apenas a saborearem um café. Na pequena “mercearia” gourmet é possível comprar compota, azeite ou até licor. À noite, a cafetaria transforma-se, à semelhança do que acontece pela Europa, apostando num serviço rápido, à porta, destinado a reconfortar o estômago dos notívagos. A “Essência Portuguesa” funciona de segunda a quarta-feira das 8h00 às 18h30 e de quinta a sábado até às 2h00, fechando apenas ao domingo. REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


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“HD BAR TO BE WILD”: O PONTO DE ENCONTRO DOS MOTOCICLISTAS

É um espaço pensado para o convívio entre amigos, ao som de boa música, num ambiente personalizado com a temática Harley-Davidson. O “HB Bar to be wild”, situado na Rua da Galeria de Paris, abriu recentemente, desafiando harlistas e motociclistas em geral a partilharem a sua paixão pelo mundo das motas. Além de caipirinhas, mojitos, cocktail’s e outras bebidas, o espaço já começou a conquistar o público com os seus menus, onde sobressaem os vistosos hambúrgueres. De 15 em 15 dias, o HD Bar promove exposições de motas especiais, de diversas marcas.

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DAR NOVA VOZ AO NORTE Já em funções, a nova diretora de Informação do Porto Canal, Ana Guedes Rodrigues, quer que a estação se dedique, cada vez mais, às gentes, empresas e projetos de sucesso do Norte, fornecendo informação “de qualidade” aos que procuram uma visão diferente da que é dada nas restantes televisões. Texto: Mariana Albuquerque Fotos: Rui Oliveira

Conhece “muito bem” o Porto Canal, as suas limitações e ambições, os profissionais que fazem parte da equipa e o trabalho desempenhado por cada um deles. Ana Guedes Rodrigues, a nova diretora de Informação da estação televisiva, já lançou mãos à obra com vista à introdução de algumas alterações destinadas a reforçar a qualidade dos conteúdos fornecidos pela estação. A sua grande meta? “Dar às pessoas do norte algo que elas não encontram nas outras televisões”.

As principais mudanças ainda estão a ser definidas, mas, segundo adiantou a jornalista, de 32 anos, a crescente aposta na região Norte do país será a máxima do canal. “É óbvio que vamos continuar a dar informação nacional, não vamos escapar às notícias que dizem respeito a todos os portugueses – como por exemplo o Orçamento do Estado – mas queremos imprimir-lhes um caráter mais regional e ouvir a opinião de mais pessoas, não só de figuras políticas e grandes empresários, mas também da gente do Norte”, frisou. Assim sendo, acrescentou, os jornais passarão a ser “mais

curtos, condensados” e focados na região. “Vamos tentar fazer melhor o nosso trabalho – que é cobrir o Norte – com os meios de que dispomos”, referiu, sublinhando que, neste momento, o Porto Canal está a tentar estabelecer parcerias com vista ao aumento do número de delegações. Aliás, a estação televisiva não descarta até a hipótese de apostar num trabalho articulado entre as diferentes regiões com vista à apresentação de alguns dos projetos candidatos ao novo pacote de fundos comunitários (enquadrados no Portugal 2020). “Seria muito interessante, mas é


P ORTO CA N A L

um desafio quase megalómano, que implica muitas equipas e, por isso, ainda estamos a ver de que forma podemos fazê-lo”, afirmou Ana Guedes Rodrigues. A ideia seria a de alongar o programa “Territórios” (que aborda alguns dos principais assuntos que marcam o dia a dia das várias regiões), incorporando “pequenos jornais feitos a partir das diferentes delegações”. “Nesses jornais, se cada região se centrar em dois ou três projetos e conseguir acompanhá-los será uma grande mais-valia para nós”, apontou, reiterando que a estação televisiva está ainda a analisar a disponibilidade dos vários distritos. Além disso, nos próximos tempos, o setor de informação do canal portuense pretende ainda investir em novas caras, “não em gente de fora, para já”, mas em jornalistas que, neste momento, estão a fazer reportagem e que serão desafiados a apresentar jornais. Ocupados, “no terreno”, a fazer contactos com vista à criação de novas delegações, Ana Guedes Rodrigues e Júlio Magalhães

passam a apresentar os jornais às segundas e sextas-feiras (intercaladamente), com um reforço da opinião e das vozes locais (autarcas, grandes empresários e figuras de relevo da região a abordarem temas da atualidade). De referir igualmente a aposta em debates semanais – em formato frente-a-frente e “não ao estilo dos programas ‘Parlamento da Região’ ou ‘Pena Capital’” – sobre temas que marcam a semana. DESPERTAR O POSITIVISMO COM EXEMPLOS DE SUCESSO DO NORTE E segundo realçou a nova diretora de Informação (que assume o cargo na sequência da saída de Domingos Andrade para um novo desafio profissional), outra alteração passará pela introdução de um bloco, no fim de cada jornal, com notícias “vincadamente positivas”, ligadas à região. A medida surge – esclareceu – na sequência do feedback dos telespectadores, “cansados de ver, em televisão, notícias más, do início ao fim”. “É claro que, sendo boas ou más, as notícias

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têm de ser dadas. Mas a economia está a dar sinais de retoma e nós queremos puxar pelo positivismo dos portugueses”, mencionou, adiantando que a estação televisiva vai, assim, investir em reportagens sobre empresas de sucesso, com ganhos significativos nas exportações, descobertas científicas de relevo internacional (assinadas, por exemplo, pelo IPATIMUP - Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto) e portugueses que, apesar de afetados pela crise, conseguiram criar um negócio de sucesso. “Vamos ser a voz de todas essas pessoas”, frisou. De resto, “qualidade” continuará a ser a palavra de ordem da estação. “Não é com os canais nacionais que queremos competir. Aliás, nós não temos com quem competir porque somos únicos e a nossa preocupação é a de fazer bem o nosso trabalho enquanto canal regional”, realçou, defendendo que, por isso, fará todo o sentido “ouvir mais a região e menos os grandes líderes nacionais, que já têm voz nos restantes canais informativos”. Ana Guedes Rodrigues recordou, contudo, que a concretização dos objetivos do Porto Canal implica “uma grande vontade política e económica”. “Às vezes elogiam o nosso trabalho e dizem que precisam de nós, mas quando chega a hora de realmente apostarem no projeto as portas fecham-se. Não bastam palmadinhas nas costas, só se ganha força quando se unem esforços”, concluiu a diretora de Informação. REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


M Ú S I C A

Concertos, lanсamentos, curiosidades NTS PREPARA NOVO DISCO O rapper portuense NTS (“Não Tem Significado) – que vê na palavra o poder da revolução e da desconstrução das assimetrias sociais – já está em estúdio com o coletivo Recarga, sob a alçada do produtor Alpha, para a criação do seu primeiro álbum. O novo trabalho deverá conhecer a luz do dia no primeiro trimestre de 2015. Considerado um fenómeno do Youtube (com mais de 100 mil fãs e vídeos vistos por mais de 1,5 milhões de pessoas), o artista assinou dois EP’s, tendo saltado das redes sociais para a televisão com a participação no programa “Pancas da Semana”, do comediante Alexandre Santos, transmitido às sextas-feiras, pelas 23h45. “Rimas Grátis” é o nome da rubrica do rapper, cujo domínio linguístico foi descoberto bem cedo. Com o coletivo Recarga gravou o primeiro single, “Liberdade”, que o catapultou para as luzes dos grandes palcos.

GISELA JOÃO APRESENTA NOVO ESPETÁCULO A 23 DE JANEIRO Reconhecida como uma das mais importantes intérpretes do panorama musical português da atualidade – e vencedora dos prémios Blitz, Público, Time Out, Expresso e de um Globo de Ouro para melhor intérprete nacional – a fadista Gisela João vai atuar no Coliseu do Porto a 23 de janeiro de 2015. Após ter passado pelo grupo Atlanthida, estreou-se em nome próprio com um álbum homónimo, que rapidamente a tornou numa das vozes mais promissoras do atual panorama fadista. O preço dos bilhetes para o concerto varia entre os 17,50 e os 30 euros.


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ANTÓNIO ZAMBUJO LEVA “RUA DA EMENDA” AO COLISEU EM FEVEREIRO No dia 21 de fevereiro, António Zambujo vai levar o seu novo álbum, intitulado “Rua da Emenda”, ao Coliseu do Porto. O single de apresentação do sucessor de “Quinto” (2012) é o tema “Pica do 7”, com letra e guitarra acústica de Miguel Araújo e a participação especial da Banda de Música dos Empregados da Carris. Internacionalmente, António Zambujo viu os últimos anos trazerem-lhe o estatuto de uma das maiores referências da cultura portuguesa, com espetáculos realizados em todos os continentes, nas mais importantes salas. A cereja no topo do bolo foi a apresentação no mítico Carnegie Hall, em Nova Iorque, já no início deste ano. Os bilhetes custam entre 20 e 35 euros.

NOISERV EDITA PRIMEIRO DVD AO VIVO O músico David Santos lançou, recentemente, o seu primeiro registo ao vivo. O DVD foi gravado num concerto em março deste ano, no Teatro Diogo Bernardes, em Ponte de Lima, tendo chegado às lojas a 17 de novembro. “Ao fim de quase dez anos de ‘Noiserv’, achei que fazia sentido ter um registo em vídeo daquilo que têm sido os concertos. Por outro lado, a especificidade do meu projeto – um conjunto de muitos instrumentos de pequenas dimensões – não se torna, às vezes, percetível numa sala de concerto, por isso, achei que um registo em vídeo, com muitas câmaras e com base nos pormenores, podia ser importante, como se as pessoas pudessem assistir a um concerto mais perto do que é normal”, explicou o artista, em declarações à Viva. Criado em meados de 2005, o projeto deste “Homem-orquestra” (como já lhe chamaram) tem vindo a afirmar-se como um dos mais criativos que surgiu em Portugal na última década. REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


P O R T O

D ´ A R T E

Três, dois, um… ação! Performances teatrais que prometem mexer com as emoções, exposições dedicadas aos jovens talentos nacionais e a artistas estrangeiros e solos assinados por nomes incontornáveis da dança portuguesa são algumas das propostas dos equipamentos culturais portuenses para os próximos tempos.

Paulo Nuno Silva

Até ao dia 7 de dezembro, o Teatro Carlos Alberto (TeCA) vai acolher “O Feio”, do dramaturgo alemão Marius von Mayenburg. A peça, produzida pela ASSéDIO – Associação de Ideias Obscuras, retrata a história de Lette, um homem “normal” que, convencido da sua fealdade, decide procurar um cirurgião plástico que o transforma num irresistível objeto de desejo. Ainda assim, rapidamente o entusiasmo se transforma em desespero, ao descobrir que o seu implante facial é igual ao de tantos outros homens. Em palco, quatro atores vestem a pele de sete personagens, num “jogo de máscaras, sem máscaras”, como descreve o encenador João Cardoso, recordando que a nossa individualidade pode estar ameaçada por um assustador conformismo. Entretanto, prestes a completar três décadas de existência, o Teatro da Rainha levará ao Teatro Nacional São João (TNSJ) uma jornada dupla inspirada no dramaturgo inglês Martin Crimp, que arrancará com “Definitivamente as Bahamas” (de 4 a 6 de dezembro). “É lá que vamos encontrar Milly e Frank, um casal de sessentões aprisionado num diálogo circular e oblíquo que vai revelando um fascismo de classe-média, doméstico e domesticado”, descreveu o equipamento cultural. Dias depois, de 11 a 13 de dezembro, “O Estranho Corpo da Obra”

Paula Afonso

TNSJ: JOGOS DE MÁSCARAS “SEM MÁSCARAS” E A “ESTRANHA CRUELDADE” DE MARTIN CRIMP


EXPOSIÇÕES/ESPETÁCULOS

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Margarida Araújo

colocará em sequência “Contra a Parede” (2002) e “Menos Emergências” (2001), peças que se situam “num terreno incerto entre a narração e a representação, sem personagens, confiando a um coro anónimo de vozes o relato de histórias terríveis”. “Na primeira, parecem recuperar a memória difusa de um homem ‘normal’ que mergulha na loucura e se entrega ao mais abominável dos crimes: o assassínio de crianças; na segunda, ensaiam a distópica antevisão de um mundo ‘seguro’, inquietado pelos ecos de uma revolta das periferias segregadas. Um díptico violento e austero para tempos de violenta austeridade”, avançou o TNSJ. E no dia 16 de dezembro, as “Leituras no Mosteiro”, coordenadas por Nuno Cardoso e Paula Braga, voltam a centrar atenções num dramaturgo, desvendando “os seus argumentos, inquietações e propósitos”. Com o espírito natalício a falar mais alto, a iniciativa (realizada no Mosteiro de São Bento da Vitória) convida a mais um regresso à sua “casa de partida”: a dramaturgia portuguesa contemporânea e os seus autores. Curiosos?

SERRALVES: “NOVA TERRA” DE OTOLITH GROUP E OS JOVENS TALENTOS NACIONAIS

Serralves

Até ao dia 11 de janeiro de 2015, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves apresentará ao público a primeira exposição em Portugal dedicada ao trabalho do Otolith Group, como parte da sua nova série de “Projetos Contemporâneos”. O nome da exposição, “Novaya Zemlya” (expressão russa que, em português, significa “Nova Terra”), ilustra um arquipélago de ilhas remotas, localizado a norte do Círculo Polar Ártico, que a União Soviética usou como local de testes nucleares durante a Guerra Fria. Segundo explicou Serralves, a trilogia de filmes apresentada na exposição “centra-se na política e na estética da água, revelando a hidropolítica e a hidropoética dos recursos naturais”. Fundado em 2002 por Anjalika Sagar e Kodwo Eshun, o Otolith Group explora, em exposições, vídeos, publicações e programas REVISTA VIVA,DEZEMBRO 2014


P O R T O

D ´ A R T E

públicos, não só futuros especulativos e ficções científicas mas também o papel da imagem em movimento na sociedade contemporânea. De passagem por Serralves será também possível ver, até 11 de janeiro, a mostra “Novo Banco Revelação 2014 – Jovem Fotografia em Portugal”, que reúne trabalhos de quatro artistas nacionais, aos quais foram atribuídas bolsas de produção e a oportunidade de verem os seus trabalhos apresentados no Museu. De referir que a exposição revela a forma como os jovens artistas portugueses têm explorado “o fotográfico e cinemático”. O júri do prémio, constituído, este ano, por Maria Inés Rodriguez (Diretora do Musée D´Art Contemporain de Bordeaux), Andre Bellini (Diretor do Centre d´Art Contemporain de Genève) e Joe Scotland (Diretor do Studio Voltaire em Londres), escolheu, por unanimidade, os projetos apresentados por Patrícia Bandeira, Pedro Henriques, Sofia Lopes Borges e Lúcia Prancha.

RIVOLI: DOS SOLOS QUE MARCARAM A DANÇA PORTUGUESA À MÚSICA DOS DEAD COMBO Ao longo do mês de dezembro, o programa “O Rivoli já dança!” – que marcou a reabertura do Rivoli como teatro municipal – promete continuar a agitar a cidade. Entre os dias 3 e 7, o equipamento cultural, situado bem no coração da cidade, vai acolher o projeto “Solos Icónicos”, da Companhia Instável, que visa revisitar alguns dos solos que foram fundamentais “para a afirmação e expansão da dança portuguesa a nível nacional e internacional”. As obras escolhidas representam importantes momentos

das carreiras de Olga Roriz, Paulo Ribeiro, Vera Mantero e Francisco Camacho, “coreógrafos e intérpretes sem os quais não seria possível escrever a história da dança contemporânea nacional”. No arranque da iniciativa, a 3 de dezembro, a bailarina e coreógrafa Olga Roriz apresentará “Os Olhos de Gulay Cabbar”, “solo particularmente tocante e intimista” que apresentou pela primeira vez em 2000, no

Jorge Gonçalves

Paulo Homem de Melo


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José Figueiroa

EXPOSIÇÕES/ESPETÁCULOS

Festival Citemor, e ao qual regressa, no momento em que está prestes a assinalar os seus 40 anos de carreira. Dois dias depois, o Rivoli testemunhará “Modo de Utilização”, coreografia de Paulo Ribeiro que funciona como uma verdadeira metáfora da juventude: “a dança como puro prazer de dançar, sem a preocupação de criar um léxico e de respeitar equações técnicas”. Também no dia 5 de dezembro, o público poderá assistir a “uma misteriosa coisa, disse o e.e. cummings”, solo marcante de Vera Mantero criado em 1996 para “Homenagem a Josephine Baker”, programa da Culturgest dedicado à cantora e atriz afro-americana da primeira metade do século XX. Nua em palco, e com o corpo pintado de preto, a performer convoca “uma vitória do espírito” contra a pobreza civilizacional e a cegueira moral. A encerrar o ciclo, no dia 7, estará Francisco Camacho, com

“O Rei no Exílio – Remake”, solo inspirado em D. Manuel II, último rei de Portugal, que se exilou em Inglaterra em 1910. Entretanto, a 12 de dezembro, o palco do Rivoli receberá Dead Combo, duo que não precisa de uma voz (apenas de uma guitarra e de um contrabaixo) para cantar o Tejo e Lisboa, Portugal e o Mediterrâneo, uma África idealizada e uma vasta América. E a encerrar “O Rivoli já dança!”, Ana Borralho e João Galante vão juntar em palco cem pessoas, de diferentes profissões, idades e classes sociais, que falarão sobre as suas experiências e preocupações laborais, políticas e quotidianas. A performance dos dois artistas, intitulada “Atlas”, pretende reforçar a individualidade e, ao mesmo tempo, criar um forte sentido de coletividade e resistência, tendo já percorrido diversos países.

25 ANOS AO SERVIÇO DA “CIDADE DE DENTRO”

São textos que partem da própria realidade, das constatações obtidas no dia a dia, no terreno, ou simplesmente da inspiração. Hélder Pacheco apresentou recentemente o livro “Porto: Crónicas da Cidade de Dentro”, assinalando, assim, 25 anos de crónicas no Jornal de Notícias. Um quarto de século ao longo do qual o portuense deu atenção aos “sentimentos e segredos, auscultados por aí, um pouco onde calha e a cidade acontece, interpretando o pensamento e aspirações da gente comum”. A abrir a obra está precisamente o primeiro artigo publicado pelo cronista, em 1989 – “Esta voz, este pregão discreto” – dedicado aos vendedores de castanhas. “A fechar o livro está o texto mais conflituoso que escrevi até hoje, que fez correr rios de tinta”, contou, esclarecendo tratar-se de uma crítica à Expo 98, numa altura

em que o país estava “quase de tanga”. O recente trabalho de Hélder Pacheco conta também com alguns textos mais recentes e incisivos, “mas nem por isso menos fiéis aos objetivos que norteiam o pensamento e a caneta do cronista”. REVISTA VIVA,DEZEMBRO 2014


Susana Neves

M E T R O P O L I S

“Matosinhos, Cidade Criativa” Com a inovação sempre presente como fator estratégico rumo ao desenvolvimento sustentável, a Câmara de Matosinhos vai candidatar-se, em 2015, à Rede de Cidades Criativas da UNESCO, estrutura criada em 2004 para fomentar a cooperação internacional entre urbes que pretendem apostar na diferença. Neste sentido, há uma mão cheia de iniciativas ‘em ebulição’ no concelho: a Quadra – Incubadora de Design já está em pleno funcionamento, no mercado municipal; o espaço Quadra Brito Capelo, futuro centro de investigação e inovação na área do Design, deverá estar concluído em maio do próximo ano e as obras de requalificação da antiga Real Vinícola, que vai acolher a Casa da Arquitetura, estão prestes a arrancar. Entretanto, o Quarteto de Cordas de Matosinhos, distinguido, recentemente, com um importante prémio, já começou a conquistar algumas das mais importantes salas de concerto europeias, seguindo as pisadas da Orquestra de Jazz, que é, atualmente, uma referência internacional. Assim, segundo defendeu o presidente da autarquia local, Guilherme Pinto, à conhecida fórmula “M2C” [Mar+Movimento+Cultura], habitualmente associada ao município, será possível acrescentar a criatividade, formando-se uma nova equação: “MC2” [Matosinhos, Cidade Criativa]. Texto: Mariana Albuquerque Fotos: Francisco Teixeira (CMM)


M ATOSI N H OS

MERCADO MUNICIPAL: ESPAÇO DE TRADIÇÃO E DE MODERNIDADE Integrada num projeto mais amplo e ambicioso – o da Quadra Design District, que abrange toda a quadra marítima da cidade, associando o mar e a gastronomia às indústrias criativas – a Incubadora de Design, inaugurada em julho, no mercado municipal, alberga 13 empresas de diversos setores, da arquitetura à joalharia. A estrutura, que concilia diferentes tipologias de incubação, nomeadamente nas vertentes de start-up e coworking, foi também pensada para dar um novo fôlego ao comércio tradicional. “Tal como todos os mercados tradicionais, o Mercado de Matosinhos estava a atravessar uma crise e o que fizemos [em colaboração com a ESAD - Escola Superior de Arte e Design] foi definir uma estratégia de revitalização do espaço”, explicou Fernando Rocha, responsável pelo pelouro da

Cultura, acrescentando que, para além das obras realizadas com vista à instalação de empresas, privilegiou-se a criação de novos negócios, capazes de despertar o interesse de um público mais jovem. “Estamos numa fase muito inicial, mas os resultados são já bastante interessantes”, r e c o n h e c e u o v e r e a d o r, sublinhando que o número de candidaturas aos espaços foi superior às vagas disponíveis, “o que representa, desde logo, um bom sinal”. E a provar as suas novas potencialidades, o mercado foi escolhido para acolher o Super Bock Laboratório Criativo/ Prémio Nacional Indústrias Criativas, galardão que, em 2013, foi anunciado no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. “Num ano em que Matosinhos está a comemorar os quinhentos anos do seu foral e em que a Unicer comemora os cinquenta anos da sua mudança para Matosinhos, não havia melhor

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sítio do que a nossa casa para fazer esta festa”, notou João Abecassis, presidente executivo daquela empresa. Também para a autarquia, a escolha do mercado como palco da cerimónia foi “verdadeiramente feliz” e adequada ao lema da edição deste ano do Super Bock Laboratório Criativo: “Enraizar”. “O nosso mercado mantém as raízes e a identidade de Matosinhos, mas faz também uma forte aposta na criatividade e na formação de novos públicos. Queremos que seja um local muito criativo”, frisou o vice-presidente da câmara, Eduardo Pinheiro. A sexta edição do prémio distinguiu a WESO (Western European Symphony Orchestra), projeto vocacionado para a criação de bandas sonoras para a área do entretenimento multimédia e que já conta, no seu currículo, com a produção musical do filme “A Vida Secreta de Walter Mitty”, do ator Ben Stiller. REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


M E T R O P O L I S

BRITO CAPELO: UM CENTRO DE INVESTIGAÇÃO COM ZONA DE RESIDÊNCIA Numa vertente “um pouco diferente” da do mercado, o Espaço Quadra Brito Capelo – que deverá ficar concluído em maio de 2015 – funcionará como um equipamento multifacetado, incluindo uma área de exposições, zonas dedicadas à formação e investigação, uma residência destinada ao acolhimento de artistas, uma “concept store” e uma cafetaria, aberta à cidade. O futuro centro de investigação e inovação nascerá da reabilitação dos antigos edifícios da Caixa Geral de Depósitos e da Casa de Crédito e Previdência, situados entre as ruas Brito Capelo e França Júnior. O projeto arquitetónico, da autoria de Maria Milano, manterá algumas das “mais interessantes” características do imóvel, nomeadamente os revestimentos em mármore e as imponentes salas de entrada pelas duas ruas. “Toda a área de investigação da ESAD vai ser transferida para lá e, por isso, a existência de uma zona de acolhimento para os estudiosos é fundamental”, apontou Fernando Rocha, sublinhando que a estrutura servirá igualmente de “montra” de design (especialmente do que é produzido na instituição de ensino superior). A obra, orçada em 750 mil euros, representará, assim, “uma peça-chave do Quadra Design District, que visa transformar a cidade de Matosinhos num centro de referência nacional e internacional”.

Prestes a arrancar estão também as obras de recuperação do edifício da antiga Real Vinícola, que já teve “diversas funções” e que acolherá, agora, a Casa da Arquitetura, disponibilizando-lhe espaço para exposição e tratamento de espólios e ainda para a realização de fóruns ligados a diversas temáticas. E tal como frisou Fernando Rocha, o espaço contará igualmente com instalações e um estúdio de gravação/auditório para a Orquestra de Jazz de Matosinhos. “Vamos concentrar ali diferentes áreas ligadas à criatividade”, constatou o vereador.

QUARTETO DE CORDAS EM DIGRESSÃO PELAS MAIORES SALAS EUROPEIAS Enquanto uns projetos nascem e outros se consolidam, o Quarteto de Cordas de Matosinhos (QCM) já iniciou a tournée internacional resultante da conquista do prémio Rising Stars, uma iniciativa da ECHO - European Concert Hall Organisation. A formação, composta por Vítor Vieira (violino), Juan Maggiorani (viola), Jorge Alves (viola) e Marco Pereira (violoncelo) percorrerá, assim, entre 2014 e 2016, algumas das mais importantes salas de concerto europeias (nomeadamente o


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Susana Neves

M ATOSI N H OS

Concertgebouw de Amesterdão e o Muzikverein de Viena). Segundo reconheceu Fernando Rocha, trata-se “de um grande v eíc u l o de prom o ç ão d a nossa música e da marca de Matosinhos”. “E há um aspeto muito interessante: na estrutura do Rising Stars, cada país compra os concertos das formações que mais lhe interessam, sendo que todos decidiram comprar os do QCM. Neste momento, o quarteto tem 15 concertos, mas podia ter seis, sete ou outro número qualquer”, explicou o vereador da Cultura, destacando a qualidade do grupo, criado pela autarquia através de um concurso público. “Está a ser uma aposta completamente ganha”, reconheceu, apesar da complicada tarefa de construir uma formação do género. “É uma área difícil, para a qual nem há um repertório assim tão alargado porque os grandes compositores

sempre tiveram a ideia de que é muito difícil criar para quartetos de cordas e nós decidimos, por isso, apostar nesta estrutura, por não haver nenhuma do género em Portugal”, apontou. Desde a sua criação, o QCM tem efetuado temporadas regulares de música erudita em torno de grandes compositores internacionais e do património musical português, “porque é isso que acaba por lhe dar dinâmica e dimensão”. “A maior parte dos quartetos são formados por músicos de orquestra que se juntam esporadicamente para dar um concerto, ou seja, o seu trabalho não é desenvolvido em torno do grupo e, por isso,

nunca chegam a atingir a excelência de uma formação de referência”, frisou, reiterando o “orgulho” com que o município encara o percurso traçado pelo quarteto e pela Orquestra de Jazz de Matosinhos, igualmente impulsionada pela autarquia. REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


M E T R O P O L I S

A pensar no futuro A crescente afirmação, no estrangeiro, da estratégia e posicionamento da empresa municipal Gaiurb, a aposta na satisfação das necessidades dos munícipes e o modelo de proteção da orla costeira são algumas das ações que marcam a agenda da Câmara de Gaia, que conseguiu, ao longo dos últimos 12 meses, reduzir o passivo em mais de 32 milhões de euros, permitindo excluir-se do alcance do Fundo de Apoio Municipal. Fotos: Câmara Municipal de Gaia

AÇÃO DA GAIURB NA MIRA DAS COMUNIDADES INTERNACIONAIS A aposta da Gaiurb – empresa municipal dedicada a áreas como a habitação social e o planeamento urbanístico – na promoção dos seus serviços junto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) tem vindo a apresentar resultados positivos. Assumindo a diplomacia económica como uma das suas funções primordiais em prol do desenvolvimento do concelho, a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia cria as condições necessárias para atrair investimentos que permitam implementar e alicerçar essa nova visão de progresso. A título de exemplo, a replicação do trabalho de consultadoria de reconversão urbanística que está a ser desenvolvido em Angola pela


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referida entidade municipal foi uma das opções apresentadas à comitiva de Moçambique, no âmbito de uma visita de autarcas daí provenientes ao município gaiense. Segundo defendeu David Simango, presidente do município de Maputo, “é possível explorar muitas coisas”. “Estou certo de que nas nossas diferenças podemos encontrar valores para a nossa coperação”, sublinhou. Também presente na visita empresarial realizada ao concelho - promovida pela Associação Cultural LusoMoçambicana – o responsável do município de Quissico, Abílio Paulo, destacou “a necessidade de criação de oportunidades que comecem e não terminem”. No centro das atenções – e a inspirar parcerias futuras – está o serviço de consultoria na Sistematização Organizativa e Operativa prestado, desde 2013, pela Gaiurb ao Gabinete

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Técnico de Reconversão Urbana do Cazenga e Sambizanga (GTRUCS). O equipamento africano foi criado com o objetivo de reconverter o espaço urbano, através da demolição de ‘musseques’ (locais semelhantes a favelas). O projeto, cujo contrato foi recentemente renovado devido ao sucesso dos últimos 12 meses de trabalho, foi, desta forma, pensado para beneficiar cerca de 2,5 milhões de habitantes, exigindo “uma fase profunda de diagnóstico” com idas ao terreno e a vinda de técnicos angolanos a Portugal para formações. No fundo, segundo frisou Bento de Soito, administrador do GTRUCS, o gabinete encontrou no modelo da Gaiurb o exemplo “a seguir” em Angola. Em termos práticos, o projeto destina-se a criar “novas centralidades à volta do centro de Luanda”, estando prevista a criação de equipamentos básicos. REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


M E T R O P O L I S

Ate ao final deste ano, a entidade prevê realojar cerca de 500 famílias. “Houve a necessidade de perceber concretamente o que estava em causa para que fosse possível alcançar os objetivos primordiais da ação: planear e ordenar o território, proceder à gestão e fiscalização urbanística do mesmo e ainda garantir a reabilitação e regeneração urbana e socio-habitacional destes municípios”, sublinhou Daniel Couto, presidente do Concelho de Administração da Gaiurb. Para o autarca gaiense Eduardo Vítor Rodrigues, a renovação do contrato entre as duas entidades vem reforçar a ligação ao povo angolano. “Portugal e Angola são dois países independentes mas com uma história em comum e pretendemos que essa ligação se traduza em evolução conjunta no futuro”, realçou o socialista.

Reabilitar é, assim, a prioridade do município, mas com “a identidade local bem presente”. É um duplo caminho que tem, por um lado, a reabilitação estrutural e do edificado, mas, por outro,

a necessidade de olharmos para a qualidade de vida dos cidadãos e para a sua identidade, ajustando-se também a relação entre o Homem e a Natureza”, apontou.

“SOS VIAS” DESAFIA CIDADÃOS A REPORTAREM OCORRÊNCIAS NA VIA PÚBLICA A pensar na segurança e na satisfação dos gaienses, o município decidiu criar um serviço de proximidade que permitirá aos cidadãos alertarem a autarquia sobre determinadas ocorrências na via pública. Através do “SOS Vias” é possível reportar situações que necessitem de intervenção em áreas como a manutenção das vias, avarias na iluminação pública, semáforos, parques infantis e sinalização, entre outros. Os munícipes poderão trasmitir as suas indicações através do endereço de email sosvias@cm-gaia.pt ou do contacto telefónico 808 222 628 (custo de chamada local). De salientar que, sendo a reabilitação da rede viária secundária do concelho uma das prioridades do executivo, a câmara municipal prevê efetuar, até ao final do ano, um investimento total de 3,8 milhões de euros em obras de reabilitação de vias públicas.



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A 2.ª FASE DE UMA INTERVENÇÃO DESTINADA A PROTEGER A ORLA COSTEIRA Após ter apostado, ainda durante o verão, na reconstrução dos passadiços das praias de Vila Nova de Gaia, a autarquia avançou, recentemente, com a reconstrução dos regeneradores dunares da orla costeira, gravemente afetados pelas tempestades que assolaram o país no início do ano. A praia da Granja foi o palco do arranque dos trabalhos, que vão prolongar-se pelos 15 quilómetros da costa gaiense. A obra, resultante de uma candidatura ao Programa Operacional Regional do Norte, implica um investimento de 481 mil euros, desembolsados desde já pela câmara municipal e que serão, posteriormente, restituídos aos cofres do município. Segundo explicou Eduardo Vítor Rodrigues, trata-se de uma empreitada “de enorme importância para proteger a nossa costa, já que os regeneradores são o primeiro obstáculo à erosão das dunas”. A intervenção deverá estar concluída até ao final do ano e, de acordo com um compromisso firmado com a Agência Portuguesa do Ambiente e o Ministério da Educação, a verba investida será

ressarcida ao município, numa data ainda por definir. De referir que as dunas do litoral gaiense – assim como a generalidade das dunas atlânticas – se encontram sobre grande pressão, devido a fatores que vão desde a subida do nível médio da água do mar a causas antrópicas. “São fundamentais para abrandar o avanço do mar e representam o habitat de muitas espécies animais e vegetais, algumas endémicas e raras; e ainda importantes pelo papel que desempenham na migração das aves, na pesca costeira e no turismo e lazer”, recordou a autarquia. Segundo esclareceu Tiago Braga, administrador da Águas de Gaia, a consolidação dunar está a ser feita através de “um sistema de paliçadas”, estando ainda previsto o reposicionamento dos passadiços, com o objetivo

de minimizar eventuais estragos causados pelo avanço do mar. O responsável informou ainda que, preferencialmente, serão utilizadas estruturas naturais, com recurso a “soluções mais pesadas” em determinados pontos da orla costeira, nomeadamente junto à praia de Valadares, onde será construído um “muro de proteção frontal” para salvaguardar uma escola.

GAIA ESCAPA AO FUNDO DE APOIO MUNICIPAL Entre as “vitórias” assinaladas por Eduardo Vítor Rodrigues no fim do primeiro ano de mandato estão a redução do passivo da autarquia em mais de 32 milhões de euros e a diminuição do prazo médio de pagamento de 206 para 111 dias, permitindo ao município escapar ao Fundo de Apoio Municipal. O presidente da câmara destacou ainda o facto de terem sido criados mil postos de trabalho no concelho.



M E R C A D O

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Cores, aromas e sabores de natal Entre os dias 4 e 14 de dezembro, a portuense Avenida dos Aliados vai ser palco de um evento de natal que promete reunir os melhores aromas e sabores da ĂŠpoca festiva. Fotos: EV-EssĂŞncia do Vinho


AL I AD OS

A oitava edição do “Mercado de Natal – Essência do Gourmet” surge, este ano, num novo local – bem no coração do Porto – e com um conceito renovado. “Aromas de sempre da cozinha dos nossos avós”, vanguardistas técnicas de confeção culinária, produtos gourmet, degustações, restaurantes, aulas de cozinha e música ao vivo vão transformar a conhecida Avenida dos Aliados num “tentador” mercado de natal. Promovida pela Essência do Vinho, com o apoio da autarquia portuense, a iniciativa terá 70 expositores com vários produtos gastronómicos disponíveis para venda e degustação, entre “azeites, chás, cervejas, compotas, conservas, chocolates, enchidos, doçaria tradicional, licores e vinhos”. O mercado terá seis restaurantes em

funcionamento contínuo, com uma mão cheia de surpresas gastronómicas que prometem fazer as delícias dos visitantes. Num conceito de interação com o público, proporcionará diariamente a possibilidade de aprendizagem de truques e dicas culinárias, em seis espaços com aulas de cozinha, onde os visitantes são desafiados a acompanhar o receituário proposto pelos mestres. De forma mais criativa, chefes de cozinha convidados subirão ao palco do evento para protagonizarem sessões de show cooking alusivas ao natal. E para harmonizar com gastronomia, os visitantes poderão selecionar uma extensa gama de vinho a copo, em dois wine bars, e cervejas artesanais, no beer bar. Haverá também uma área destinada

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a expositores livreiros, com títulos inevitavelmente ligados à enogastronomia. VIVER O NATAL EM FAMÍLIA E como a quadra natalícia faz mais sentido na companhia da família, o “Mercado de Natal – Essência do Gourmet” terá igualmente uma componente de animação, que contempla duas atuações de um coro de natal, a presença do Pai Natal e ainda a instalação de um carrossel. O evento funcionará entre as 12h00 e as 23h00. De segunda a sexta-feira, no período de almoço (12h00-17h00), a entrada no recinto terá o custo simbólico de um euro. Depois, até às 23h00 e ao longo do fim de semana, a entrada custará cinco euros, com oferta de um copo de provas. REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


M E T R O P O L I S

ADMIRAR OS MELHORES PRESÉPIOS DA CATALUNHA A Exposição Internacional de Presépios pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 09h00 às 23h00, e aos fins de semana, das 10h00 às 23h00, no átrio da autarquia tirsense. Fotos: Câmara de Santo Tirso

P

ela primeira vez, 50 dos melhores presépios da Catalunha vão poder ser vistos em Portugal. Até ao dia 4 de janeiro, o átrio da Câmara Municipal de Santo Tirso está a acolher uma mostra internacional que reúne alguns dos mais notáveis artesãos do mundo. “Santo Tirso tem tradição na área do artesanato. Não é por acaso que a Confraria do Caco está sedeada no nosso concelho e que um dos melhores artesãos de Portugal é de Santo Tirso. Neste contexto, parece-nos que fazia todo o sentido promover uma exposição de cariz internacional, tendo como mote os presépios, símbolo da época natalícia”, frisou o autarca local, Joaquim Couto. A iniciativa apresenta ao público presépios que contam a história da Catalunha. Retratam as cenas bíblicas, mas as figuras estão inseridas em ambientes da vida quotidiana e da paisagem

daquela região, conciliando a época natalícia com as tradições locais. O maior ocupa um espaço de seis metros quadrados e o mais caro custa cerca de 30 mil euros. Os 50 presépios em destaque no concelho tirsense fazem parte do espólio do grupo “Pessebristas de

Castellar Del Vallès”, associação catalã fundada em 1951 e reconhecida a nível internacional. “Estamos perante os melhores e mais representativos presépios desta região”, assegurou Delfim Manuel, presidente da Confraria do Caco, garantindo que os visitantes


SA N TO T I RSO

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vão ficar surpreendidos “com a beleza das peças”. “Muitos destes presépios são animados, o que torna a exposição ainda mais interessante”, acrescentou, realçando que a iniciativa “será complementada com uma mostra de escultores de figuras catalãs e com um grande presépio popular feito em cortiça e musgo”. Nos dias 28, 29 e 30 de novembro, a exposição foi enriquecida com uma feira de artesanato, onde alguns dos melhores artesãos nacionais (como Luciano Duarte, Patch Mimo, Duarte Morgado e Júlia Ramalho, entre outros) estiveram a trabalhar ao vivo. O evento teve mais de mil peças à venda, dos mais diversos materiais: de cerâmica, granito e barro a tecido, eucalipto e conchas.


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AO LADO DOS CIDADÃOS Com a ação social e o reforço da aposta cultural na lista de prioridades do executivo, a União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde intensificou o apoio concedido aos seniores, através do projeto Trajetórias, impulsionou o Re-Food Foz do Douro, cedendo-lhe um espaço, e assumiu o desafio de revolucionar culturalmente o território, atraindo novos públicos. Texto: Mariana Albuquerque Fotos: Rui Oliveira


U F AL DOAR , FOZ DO D O U R O E N EVOG I LD E

É uma iniciativa na qual a energia, a entrega e a vontade de aprender vencem largamente a idade física. E é vê-los, satisfeitos, no Centro Sociocultural da Foz do Douro (situado na Rua Diogo Botelho, junto à Universidade Católica), onde dão provas de que nunca é tarde para aprender Inglês, Informática ou Introdução à Conservação e Restauro, para tirar partido dos benefícios da Ginástica e do Yoga e para dar boas gargalhadas nas aulas de Danças de Salão ou de Folclore. Ciente da importância que o projeto Trajetórias desempenha, desde

2006, na criação de oportunidades de educação, formação e lazer para a população sénior local, a União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde decidiu “dar-lhe robustez”, aumentando o número de disciplinas disponibilizadas aos cidadãos e permitindo inscrições a partir dos 55 anos. O novo executivo da junta tem vindo a “rechear” o espaço que acolhe o projeto e que, atualmente, funciona entre as 10h00 e as 17h30, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas mais velhas, partindo da premissa de que a

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velhice é uma mais-valia e não um problema. Tal como explicou Nuno Ortigão, presidente da União das Freguesias (UF), a participação nas atividades implica o pagamento de dez euros trimestrais (para além de uma inscrição do mesmo valor), mas nem o reforço dos preços (proporcional à aposta na diversificação da oferta) afastou estes “alunos especiais”. “Temos até mais seniores envolvidos no projeto [cerca de 110], o que prova que o barato nem sempre é mais atrativo”, referiu, frisando que a sua maior preocupação é a ocupação destes cidadãos, “extremamente dinâmicos, engraçados e de uma entrega total”. Palavras confirmadas por Marisa Madeira, educadora social que trabalha diariamente com os dinamizadores do Trajetórias. “São os meus meninos e aprendo imenso com eles. É bom vir para cá todos os dias e sair com um sorriso, a pensar que valeu a pena”, afirmou, confessando que as atividades são sempre vividas em clima de festa. E para REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


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além das aulas e conferências sobre os mais diversos temas, os seniores do projeto estão ainda envolvidos num ciclo de visitas que conta com a participação de José Manuel Tedim, docente da Universidade Portucalense, que lhes apresenta um panorama da história do Porto até aos nossos dias. A aposta no Trajetórias surge no âmbito de uma carência de apoio social detetada pela união das freguesias na zona da Foz, tal como em Nevogilde. “Em Aldoar existem, por exemplo, três serviços de ATL e dois lares da terceira idade”, indicou Nuno Ortigão, realçando que é necessário procurar combater as assimetrias registadas no território. Também a pensar no apoio aos mais carenciados, o executivo da junta decidiu ceder gratuitamente a zona da cozinha do Centro Sociocultural ao projeto Re-Food Foz do Douro, que procurava um local para se instalar. A iniciativa, cujo lema é “Aproveitar para alimentar” foi criada em Lisboa, há três anos, pela mão de Hunter Halder, que assumiu o desafio de recolher e distribuir a

comida cedida por restaurantes e outras instituições às famílias em dificuldades. E é este duplo combate – do desperdício e da fome – que vai começar, agora, a ser travado também no Porto, com o arranque do trabalho do núcleo da Foz. O programa é 100% voluntário e destina-se a “acabar com o desperdício de alimentos preparados e com a fome nos meios urbanos”, ao mesmo tempo que contribui para “reforçar os laços comunitários locais”, segundo explicou Francisca Mota, uma das dinamizadoras. No âmbito desta aposta na componente social, a união das freguesias

está a estudar a construção de um edifício capaz de acolher o Trajetórias, o Re-Food e outras valências. “Ficámos com um lote de terreno que vai desde a Rua Burgal de Baixo até à Escultor Henrique Moreira e estamos a ponderar criar lá um edifício moderno, polivalente, que dê dignidade a estes projetos”, frisou Nuno Ortigão, acrescentando que o local é também o indicado para a instalação de um parque infantil, por estar perto de uma concentração urbana e de uma escola. Entre as ações previstas para 2015 estão também a requalificação da junta de freguesia da Foz e a criação de um parque infantil em Aldoar. De referir ainda que, neste momento, a união das freguesias está a ultimar um regulamento destinado a apoiar os alunos das EB1 S. João da Foz e de Nevogilde que frequentam Atividades de Tempos Livres privadas. “Como não temos ATL público nestas áreas, decidimos criar um fundo de apoio para apoiar 20 crianças de cada escola, juntamente com as associações de pais”, acrescentou.


João Figueiredo

U F AL DOAR , FOZ DO D O U R O E N EVOG I LD E

COLOCAR A UNIÃO DAS FREGUESIAS “NO MAPA TURÍSTICO DA CIDADE” A par do reforço social, o executivo pretende ainda dinamizar culturalmente todo o território que, entre os meses de maio e outubro” de 2015 “não vai parar”, tendo em agenda o Festival de Bandas Filarmónicas, o São João, as Festas de São Bartolomeu, o São Miguel de Nevogilde e o São Martinho de Aldoar. “A Foz não está a captar o turismo como devia e, por isso, temos de fazer alguma coisa”, frisou, adiantando que a união das freguesias vai associarse a um evento promovido pela instituição Quadrante, que celebrará os 600 anos da conquista de Ceuta. “Estamos nomeadamente a pensar que o próximo Cortejo do Trajo do Papel

CICLO FOZ LITERÁRIA

seja alusivo a essa temática”, afirmou, referindo igualmente a aposta na recuperação da Festa da Cerveja e o lançamento de um festival internacional de folclore. ORFEÃO DA FOZ: UMA “PAIXÃO” QUASE CENTENÁRIA Intimamente ligado à história e à cultura da UF, o Orfeão da Foz foi criado em 1916 por um grupo de apaixonados por música, que ditou a formação de um Grupo Coral, atualmente constituído por 30 pessoas do sexo masculino. Tal como frisou o presidente da coletividade, Eduardo Oliveira, o grande objetivo do orfeão é “preservar todas as vertentes culturais em plena atividade”, para que seja possível manter a participação nas “tradições enraizadas” da união das freguesias, nomeadamente

O Ciclo Foz Literária é um conjunto de Conferências, Tertúlias e Exposições sobre os autores da nossa literatura que “viveram” a Foz, na sua realidade, ou através das suas obras. Magalhães Basto, Vasco Graça e Moura, Padre Luís Cabral, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, António Pinheiro Caldas, Raúl

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nos Cantares das Janeiras pelas ruas da Foz e na Igreja Matriz e também no famoso Cortejo do Trajo de Papel. Apesar de a dinâmica e o propósito do grupo terem estado um pouco “perdidos durante alguns anos”, é de espírito renovado que o Orfeão da Foz está já a “trabalhar em todas as frentes, sendo considerado um lugar de excelência”. Para além do Grupo Coral, a coletividade integra o Grupo de Cantares e de Teatro, o Subbuteo (um jogo de futebol de mesa relativamente antigo) e o Clube de Cicloturismo. “Temos ainda outras atividades ao longo do ano, tais como noites de baile, de anedotas e de fados”, acrescentou o responsável. No futuro, a instituição pretende “dar continuidade a tudo aquilo que conseguiu conquistar” até hoje. “Um marco bastante importante será a comemoração, em 2016, do centenário do Orfeão, que queremos que seja inesquecível”, garantiu Eduardo Oliveira, realçando que os grupos culturais em funcionamento permanecem “empenhados em novas conquistas”, nomeadamente na gravação de um segundo CD do Grupo de Cantares e na apresentação de uma nova performance pelo Grupo de Teatro.

Brandão e muitos outros. Assim, uma vez por mês, será apresentada uma conferência sobre um autor diferente, podendo ser acompanhada de exposições, saraus ou outras atividades e também por Roteiros Literários, cuja apresentação teve lugar no passado dia 21 de novembro, às 18h30, no Forte de S. João da Foz. REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


M E T R O P O L I S

PARANHOS JÁ É UMA FREGUESIA ZERO DESPERDÍCIO Num trabalho articulado com cantinas escolares, restaurantes e instituições de solidariedade, a junta de Paranhos prepara-se para reforçar o apoio alimentar dado aos cidadãos carenciados da freguesia, no âmbito do movimento Zero Desperdício (que já serviu mais de 1,3 milhões de refeições em todo o país). Texto: Mariana Albuquerque Fotos: Rui Oliveira

O lema é simples e nasce de uma conjugação entre a vontade de ajudar e a necessidade de ser ajudado: “Portugal não se pode dar ao lixo”. Neste momento, a freguesia de Paranhos já aderiu ao movimento Zero Desperdício, um projeto da Associação Dariacordar, que parte de uma simples pergunta: por que razão é proibida, em Portugal, a doação dos alimentos que sobram das refeições confecionadas em restaurantes, cantinas e outros locais? A questão, levantada por António Costa Pereira, presidente da Dariacordar, acabou por sensibilizar a ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica), que reinterpretou a legislação existente, dando luz verde ao arranque do projeto. Assim, numa altura em que cerca de 360 mil portugueses passam fome (estimando-se que, diariamente, sejam desperdiça-

das 50 mil refeições de norte a sul do país), o movimento está a aproveitar bens alimentares que acabavam no lixo (que não saíam das cozinhas, cujo prazo de validade se aproximava do fim ou que não estavam em contacto com o público), fazendo-os chegar aos mais carenciados. “A lei foi reinterpretada, admitindo-se que a comida que é confecionada e que não é utilizada pode ser reaproveitada desde que se cumpram todas as regras de higiene e segurança alimentar”, explicou o presidente da Junta de Freguesia de Paranhos, Alberto Machado. Com a reinterpretação legislativa, António Costa Pereira conseguiu reunir o apoio de diversas entidades, nomeadamente do Banco de Portugal, da Assembleia da República e das grandes cadeias de supermercados do país. Já implementado em Lisboa, Cas-

cais, Sintra e Loures (e em vias de arrancar também em Paranhos), o Zero Desperdício conseguiu, em dois anos e meio, entregar mais de 1,3 milhões de refeições a famílias sinalizadas pelas instituições de solidariedade e juntas de freguesia dos municípios onde opera. Todos os eventos realizados na área de Lisboa, nomeadamente os Casamentos de Santo António e o Rock in Rio são, já, Zero Desperdício, assim como as cantinas escolares, cujos excedentes são igualmente canalizados para o apoio aos mais necessitados. UNIVERSIDADE DO PORTO É A GRANDE PARCEIRA Tal como referiu Alberto Machado, a ideia será, assim, a de estender o modelo utilizado na zona de Lisboa à freguesia de Paranhos. “Queremos que os excedentes dos eventos, dos restaurantes e das


PA RA N H OS

cantinas sejam canalizados para o projeto”, frisou, destacando que a iniciativa se encontra em fase de implementação. “Já temos um acordo com a Universidade do Porto para que o Zero Desperdício arranque nas cantinas da UP”, afirmou, sublinhando que a instituição de ensino superior será a grande parceira da junta neste desafio. “Temos, depois, as universidades privadas, escolas secundárias e primárias e os pequenos doadores – os res-

taurantes locais – que também poderão contribuir”, acrescentou. O processo de recolha dos alimentos será conduzido pela junta de freguesia e pelas IPSS locais, havendo, depois, uma redistribuição em unidoses e, por fim, a entrega aos cidadãos com dificuldades. “No momento que

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estamos a viver, em que as necessidades básicas estão ameaçadas, tudo o que pudermos fazer para apoiar os agregados familiares carenciados será fundamental”, reconheceu Alberto Machado, seguro de que a estratégia de combate ao desperdício alimentar será bem sucedida. REVISTA VIVA, DEZEMBRO 2014


H U M O R

Carneiro

Touro

21/03 a 20/04

21/04 a 20/05

Congele um litro de leite magro com Arranje um parceiro e aprenda a extra cálcio e depois rale-o bem fininho dançar o corridinho. Apanhe todas as para fazer leite em pó. Vá ao jardim folhas caídas na sua rua enquanto zoológico e atire-o às marmotas. usa uma touca amarela e cinzenta.

Gémeos 21/05 a 20/06

Coma 100 gramas de manjericão sem açúcar com uma colher de chá. Alugue um smoking e vá ao cinema.

Caranguejo

Leão

21/06 a 22/07

23/07 a 22/08

Virgem 23/08 a 22/09

Ordene os livros que tem na cozinha em degradê. Mascare-se de palhaço e vá para a rua dentro de um carrinho de supermercado.

Descubra qual (e quando) é a festa em honra da Nossa Senhora dos chuveiros empenados e marque presença. Deixe o casaco no bengaleiro.

Solte-se um pouco. Valorize a sua liberdade. Procure moedas antigas com um detetor de metais na praia de Espinho enquanto veste fraldas.

Balança

Escorpião

Sagitário

23/09 a 22/10 Compre meia dúzia de peixinhos dourados e alimente-os com cebolinho e noz-moscada. Pergunte ao senhor da loja se gosta de bolos de arroz.

23/10 a 21/11 Compre uma bola de discoteca e coloque-a no teto da casa de banho das visitas. Coma mais caju e cuide dos joanetes.

22/11 a 21/12 Bata as claras em castelo com um garfo de sobremesa. Beba chá de coelho ao acordar e jogue mini-golf com uma colher de pau.

Capricórnio

Aquário

22/12 a 19/01

20/01 a 18/02

Pratique canoagem na piscina municipal Coloque-se de gatas e ponha um mais próxima da sua residência. Não micro-ondas nas costas e um se esqueça de telefonar para a Dulce chapéu de viking na cabeça. Vá ao enquanto tem rodelas de pepino nos olhos. centro comercial mais próximo.

Peixes 19/02 a 20/03

Vá à praia com um balde gigante e recolha vinte quilos de areia molhada. Coloque a cabeça no congelador durante cinco minutos sempre que tiver sede.


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C R Ó N I C A

Hugo Sousa Comediante de stand up

A LEGIONELLA VAI MATAR 36 MILHÕES DE PESSOAS Optei por este título para cativar a atenção dos prezados leitores porque, na realidade, não tenho nada de interessante para dizer, mas se esta estratégia resulta com o Correio da Manhã, aqui também vai resultar. Eu próprio também me deixo levar por títulos sensacionalistas/alarmistas e chamo a atenção para o seguinte: está provado que quase todas as pessoas que se deixam levar por estes títulos sabem (pausa para um momento de suspense…) ler. E saber ler é bom porque se não escrevíamos um lembrete e depois não sabíamos o que estava lá escrito. Corríamos o risco de faltar ao batizado do filho dum primo afastado com quem não falámos há 10 anos, onde há putos com varicela a tossir para cima do bolo, outros a correr pela sala com restos de gelado nas mãos e terra nos pés, e ainda, um terceiro bando que dá pontapés a todo o tipo de objetos, incluindo as nossas canelas. Ia ser muito triste faltar a este belo evento e ficar no sofá a ver televisão e a beber uma cerveja. Ser iletrado nem sempre é uma desvantagem. Sim, claro que vou falar dos jogadores de futebol. O cerne da questão é que, por muito que se esforcem, nunca vão ter o reconhecimento, não acredita? Vou dar um exemplo: O Tarantini do Rio Ave concluiu um mestrado na Universidade da Beira Interior com 18 valores. É um dos casos raros de um atleta que conseguiu conciliar o desporto de alta competição e os estudos. Não se deixou ficar por uma licenciatura mas seguiu para um mestrado. Abdicou de horas com a família e amigos para concretizar um sonho de ser alguém respeitado, não só pelo mundo do futebol, mas também por uma instituição académica. Tanto trabalho e aposto que, se na próxima jornada, a bola lhe bate no fundo das costas e entra na baliza adversária, alguém vai dizer: “Eh pá, o gajo marcou um golo sem saber ler nem escrever!”. É triste. O Ébola vai matar 232 milhões de pessoas. Ainda aí está? Ainda bem! Isto resulta mesmo! No percurso escolar, toda a gente teve problemas no processo de aprendizagem da língua portuguesa mas o mais comum (sim, é esse!) era desenhar o “q” maiúsculo. Ninguém sabia desenhar o “q” maiúsculo.

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Eu acho que nem mesmo a professora sabia desenhar o “q” maiúsculo. E reparem que refiro “desenhar” e não “escrever” porque é preciso ter um curso superior de belas artes para saber desenhar aquilo. Quando Leonardo Da Vinci pintou a Mona Lisa, ela estava com aquela cara de gozo porque estava a pensar: “queres pintar um quadro famoso e não sabes desenhar o “q” maiúsculo! Ah ah!” Lembro-me que era um grande martírio, era pior que desenhar o “h” maiúsculo. Como o meu nome é Hugo tinha vantagem porque sabia e praticava todos os dias o desenho do “h” maiúsculo, o que me trazia um grande estatuto. Dava bastantes autógrafos na escola. Só mais tarde percebi que eles queriam o autógrafo para pousá-lo no caderno, carregar no “H” com a caneta de modo a que este ficasse marcado na sebenta e desenharem sobre a marca. Grandes animais! Mas nunca consegui desenhar o “q” maiúsculo e, por causa disso, passei por casos de indisciplina que envolviam sempre bastantes reguadas… A certa altura fui chamado ao conselho diretivo e aí tive de mudar a minha atitude e parei de dar reguadas no totó da turma para ele me desenhar o “q” maiúsculo. Na escola fiz bastantes amigos. Um dos meus melhores amigos da turma era cigano e chamava-se Zé. Ele era muito inteligente e até me ajudava nos trabalhos de casa. Em troca só tinha de lhe comprar t-shirts por 5 euros. Não me importava porque eram de marca (Ribock, Naike e Pluma), ficavam-me muito bem e, assim, também o ajudava porque ele dizia que o dinheiro lhe fazia falta para acabar de pagar a carta de condução. Outro bom amigo daquele tempo era o Jorge. Era um puto fixe, mas com um grande defeito… Era aquele rapaz franzino que dizia palavrões a toda a hora, desenhava pénis gigantes nas paredes da escola e, quando a professora se virava de costas, dava arrotos de 15 segundos. O defeito é que era mau aluno. O Jorge tinha muitas negativas, principalmente a matemática. Um dia decidiu inverter o rumo da situação, mas foi apanhado pela professora a tirar cábulas com a tabuada do meio das pernas. Foi grave, em primeiro lugar, porque o teste era de português. Em segundo, porque as pernas eram da colega de carteira dele. Apesar de encantador, ninguém dava nada pelo Jorge, era daqueles miúdos que toda a gente pensava que ia virar arrumador ou ia acabar a limpar escadas, mas a vida dá muitas voltas. Encontrei-o há 3 anos cá em Portugal na época natalícia e foi um choque. Descobri, com grande orgulho, que o meu amigo de longa data tinha um alto cargo na Google na Irlanda e faturava milhares! E a parte melhor é que esse amigo deu emprego de motorista ao Jorge…


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