Viva! outubro 2014

Page 1

W W W.V I VA - P O R T O . P T

Revista gratuita trimestral, outubro 2014

MIGUEL ARAÚJO O contador de estórias

SUBTERRÂNEOS DO PORTO A magia da cidade oculta

ATENEU COMERCIAL DO PORTO De coração aberto à cidade


Santander Totta, o seu Banco de Confiança • A Fitch melhorou o rating do Banco Santander Totta para BBB, tendo também alterado o outlook para positivo, reforçando assim a posição do Banco no sistema financeiro português. • O Banco Santander Totta foi, mais uma vez, distinguido pela revista Euromoney como o Melhor Banco em Portugal, em 2014.

Melhor Banco em Portugal

Banco do Ano

desde 2002 até 2014

em 2002, 2003, 2006 e de 2008 a 2013

Melhor Banco em Portugal

Best Private Banking Services Overall

desde 2010

desde 2012

Estes prémios são da exclusiva responsabilidade das entidades que os atribuíram. A revista Euromoney volta a distinguir o Banco Santander Totta como o Melhor Banco em Portugal, agora em 2014. Um prémio que nos distingue pela rentabilidade, pelo crescimento, pela eficiência e capacidade de adaptação às condições de mercado e necessidades dos Clientes. Um prémio que tem ainda mais significado num momento em que a agência Fitch melhorou o rating do Banco Santander Totta para BBB. Reconhecimento de um trabalho que começa e termina nos nossos Clientes.

www.santandertotta.pt


E D I T O R I A L

Dormidas de estrangeiros no Porto ultrapassam o milhão em seis meses A percentagem de dormidas de estrangeiros no Porto e Norte de Portugal aumentou 15,8 por cento no primeiro semestre deste ano, cifrando-se em 1.183.800, o que representa um aumento de 161 800 dormidas. No período anterior, e segundo a Associação de Turismo do Porto (ATP), entidade responsável pela promoção internacional da região, tinham-se registado 1.022.000. Com efeito, os principais indicadores do primeiro semestre de 2014 demonstram um crescimento internacional continuado do destino, fortemente demonstrado pelos prémios e nomeações que este tem recebido e que representam o reconhecimento internacional da autenticidade, qualidade e diversidade do Porto e Norte de Portugal. Os estrangeiros representam 51,5% das dormidas no Porto e Norte de Portugal. De acordo com a ATP, e com base em dados do Instituto Nacional de Estatística, o mês de abril — que coincidiu com o período de Páscoa — registou a maior subida (33,6%). O mês de junho ascendeu a 7,9% relativamente ao mesmo período do ano anterior, um incremento que se deve à aposta da cidade do Porto nos grandes eventos para atração de turismo (foi o caso das festividades de S. João e do festival NOS Primavera Sound). Os principais mercados estratégicos e de desenvolvimento para a promoção internacional do Porto e Norte como destino turístico são Espanha, França e Brasil, logo seguidos da Alemanha, Reino Unido e Itália. O top 10 dos mercados emissores fica completo com a Holanda, os EUA, a Bélgica e a Escandinávia, por esta ordem. Para promover a região Porto e Norte como destino de eleição no exterior, a ATP tem realizado um trabalho intenso a nível de ações com a imprensa internacional e compradores internacionais do destino. Produziu campanhas de comunicação em canais online e na imprensa escrita e concebeu novos vídeos sobre este destino turístico, para além de campanhas de marketing com companhias aéreas e operadores turísticos. A ATP participa ainda em feiras e workshops nos mercados estratégicos e de desenvolvimento do Porto Norte de Portugal e promoveu e apoia a realização de congressos e eventos internacionais no destino. Este ano, foram já promovidos internacionalmente os principais eventos da cidade e região, nomeadamente a Semana Santa em Braga, o S. João, o NOS Primavera Sound, no Porto, o Cais do Fado e a Viagem Medieval em Sta. Maria da Feira. Em plena promoção encontram-se as vindimas no Douro e as festas de fim de ano em toda a região. José Alberto Magalhães Diretor de Informação

REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


PUB


PUB


S U M Á R I O

008 Miguel Araújo PERFIL

014 Rádios Piratas DESTAQUE

020 Porto Subterrâneo À DESCOBERTA

024 Projetos de sucesso CCDR-N

030 Engraxadores UM DIA COM...

Ateneu Comercial do Porto

052 Rumo à Liga FC PORTO

056 Baixa do Porto NOITE

080 Em movimento MATOSINHOS

084 Apostar na diferença GAIA

042

MÁQUINA DO TEMPO


7

Revista gratuita trimestral, outubro 2014

ÍNDICE

FICHA TÉCNICA Propriedade de: ADVICE - Comunicação e Imagem Unipessoal, Lda. Sede de redação: Rua do Almada, 152 - 2.º - 4050-031 Porto NIPC: 504245732 Tel: 22 339 47 50 - Fax: 22 339 47 54 advice@viva-porto.pt adviceredacao@viva-porto.pt www.viva-porto.pt Diretor Eduardo Pinto Diretor de Informação José Alberto Magalhães Redação Mariana Albuquerque Fotografia Rui Oliveira Marketing e Publicidade Eduardo João Pinto Célia Teixeira Produção Gráfica Diogo Oliveira Impressão, Acabamentos e Embalagem Multiponto, S.A. R.D. João IV, 691-700 4000-299 Porto

003 EDITORIAL 036 ATUALIDADE 048 MEMÓRIAS 064 PORTO CANAL 068 PORTO EM RUÍNAS 074 MÚSICA 076 PORTO D’ARTE 090 METROPOLIS - UF ALDOAR/FOZ/NEVOGILDE 094 METROPOLIS - PARANHOS 096 HUMOR 098 CRÓNICA

Distribuição Mediapost Tiragem Global 140.000 exemplares Registado no ICS com o nº 124969 Membro da APCT Depósito Legal nº 250158/06 Direitos reservados

REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


P E R F I L


MIGU E L A RAÚJ O

9

O

contador estórias de

Texto: Mariana Albuquerque Fotos: Rui Oliveira/ Paulo Bico (em concerto)

Nunca sonhou ser músico, mas a força do sangue talvez o tenha impedido de combater “o bichinho”. Pé ante pé, entre uma e outra aventura musical, movida por pura diversão, Miguel Araújo chegou mais longe do que alguma vez imaginou. Além de integrar a banda Os Azeitonas, decidiu apostar também numa carreira a solo, com dois discos editados. Planos para o futuro? Evita fazê-los porque o que importa mesmo é pegar na guitarra e ter uma estória para contar. Sentado, confortavelmente, num banco de jardim, com o à-vontade de quem se sente em casa, é assertivo nas palavras, doce nos gestos e profundo no olhar, que, às vezes, parece fugir, para bem longe, em voos mais altos. O semblante, esse, tão sério, leva menos de um segundo a quebrar-se em bons sorrisos, ao ritmo de uma conversa espontânea e bem disposta. E, de repente, o primeiro verso da música “Reader’s Digest” – “quero a vida pacata que acata o destino sem desatino” – parece assentar-lhe como uma luva, naquele espaço verde “à beira-mar plantado”: o jardim do Passeio Alegre, na Foz do Douro, bem perto da sua casa. Conhecido como Miguel AJ (o J é de Jorge), gui-

tarrista da banda Os Azeitonas, Miguel Araújo, que se aventurou, entretanto, numa carreira a solo, com dois discos lançados, dispensa apresentações, mas faz questão de continuar a seguir um conselho que lhe deram em tempos: não esperar feitos megalómanos, não se comparar a ninguém e concentrar-se apenas no trabalho. “Se não estivermos constantemente a imaginar como é que vai ser o filme daqui para a frente, as conquistas vão surgindo”, sublinhou o músico e compositor português. Aliás, esta é a filosofia que utiliza tanto na música como na vida. E foi assim mesmo, de um conjunto de felizes coincidências e muito trabalho à mistura, que Miguel foi construindo o seu percurso profissional e REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


P E R F I L

alimentando uma paixão que só Santas até aos dez anos, mudescobriu aos 11 anos, por força dando-se, posteriormente, para da genética. a cidade do Porto, mais concretamente para os Pinhais da Foz. A CASA DOS AVÓS COMO De uma infância “normal”, vivida VERDADEIRO “NINHO” entre as correrias da escola (freDE ARTISTAS quentou, na primária, o Colégio Nascido na Maia, em 1978, Luso-Francês, ingressando, deMiguel Araújo viveu em Águas pois, no do Rosário, já no Porto) e

os momentos passados em casa dos avós, recorda com especial cuidado um momento que viria a mudar para sempre a sua vida. “A fase mais marcante talvez tenha sido por volta dos 11 anos, quando comecei a interessar-me por música”, reconheceu, explicando que, nessa altura, os tios decidiram revitalizar uma banda de covers que tinham tido, nos anos 60, retomando os ensaios lá em casa dos avós. “Foi assim que fiquei com o bichinho”, admitiu. “O gosto pela música é algo que se herda. Não conheço ninguém que se tenha interessado por iniciativa própria, com a parada de êxitos do seu tempo”, frisou, defendendo que, regra geral, os tops de música “são sempre coisas não muito aliciantes”. Assim, foi ao som de Beatles, Bob Dylan e Eric Clapton, nomes “que já tinham sido ‘mainstream’ e que, na altura, eram alternativos”, que Miguel embarcou numa série de despreocupadas aventuras musicais. Os primeiros passos neste mundo novo foram dados juntamente com os primos. “Criámos uma banda e, rapidamente, estavamos aí a tocar em vários palcos”, contou. Depois, já a frequentar a Escola Secundária Garcia de Orta, alinhou noutros grupos, criados com amigos. Um deles – os Tsé Tsé – chegou mesmo a gravar um disco pela BMG, mas não sobreviveu muito mais tempo. “Éramos muito novos para estas lides discográficas. Eu tinha 18 anos!”, constatou Miguel. Entretanto, numa altura em que se dedicava à licenciatura em Administração e Gestão de Empresas, na Universidade Católica,


MIGU E L A RAÚJ O

já “meio desligado” da música – achava ele! – o maiato percebeu que, afinal, um novo desafio poderia estar a surgir. “Eu levava a guitarra para as férias e fazia algumas músicas por brincadeira, um pouco a abusar dos clichês da música romântica. Isto foi na altura da Operação Triunfo e nós brincávamos com a forma como o pessoal cantava nesse tipo de concursos. Tinha duas ou três músicas feitas nessa onda da piada e, juntamente com amigos da faculdade, criámos uma banda com um único objetivo: o de nos rirmos”, contou. Estariam, assim, lançadas as bases d’Os Azeitonas, quarteto portuense composto por Miguel Araújo, Mário “Marlon” Brandão, Luísa “Nena” Barbosa e João “Salsa” Salcedo, criado em 2002, que soma cinco álbuns editados e muitos, muitos quilómetros percorridos, em concerto, por todo o país. QUANDO RUI VELOSO ALINHA NA “BRINCADEIRA” Os dois primeiros concertos da banda – irremediavelmente associada a temas como “Quem És Tu Miúda”, “Anda Comigo Ver os Aviões” e “Tonto por Ti” – foram realizados no Pop Bar (anteriormente designado D. Urraca), na Rua Padre Luís Cabral (Foz), e no Via Rápida, este para um público maior. Mas as editoras, os contratos e concertos nunca fizeram parte da lista de preocupações d’Os Azeitonas, tanto que alguns elementos da banda chegaram a passar temporadas no estrangeiro. Contudo, um convite inesperado feito na altura certa veio “abalar” um pouco o futuro dos artistas portuenses. “Foi muito

marcante o momento em que o Rui Veloso nos convidou para gravar um disco no estúdio dele [Maria Records]. Não esperávamos tal coisa. Aliás, a banda até já estava desmembrada. O Marlon tinha ido viver para o México e o Salsa tinha ido para Nova Iorque estudar música. Por sorte, ambos haviam acabado de voltar”, relatou. Assim nasceu “Um Tanto ou Quanto Atarantado” (2005), disco ao qual se seguiram “Rádio Alegria” (2007), “Salão América” (2009), “Em Boa Companhia Eu Vou” (2011) e “AZ” (2013). Agendado para o início de 2015 está já o lançamento do CD e DVD ao vivo dos concertos que a banda deu, no ano passado, nos Coliseus. AVENTURAS A SOLO… COM A GUITARRA Mas em 2012 - novamente sem grandes expectativas e com os pés bem assentes no chão – Miguel decidiu tirar da gaveta algumas músicas que

11

escreveu e “que não cabiam no conceito d’Os Azeitonas” para apostar num projeto em nome próprio. O álbum de estreia, “Cinco Dias e Meio” (que integra temas bem conhecidos, como “Os maridos das outras”, “Fizz Limão” e “Reader’s Digest”) atingiu a marca de Disco de Ouro, sendo considerado pela revista Blitz um dos álbuns do ano. O irónico single “Os maridos das outras” valeu-lhe, aliás, duas nomeações: para “Melhor Canção” nos Prémios da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) e para um Globo de Ouro na categoria de “Melhor Música”. Depois de um primeiro trabalho muito centrado em si mesmo - “muito direto, muito cru, eu sozinho com uma guitarra e poucos intrumentos à minha volta” – o músico apresentou, em abril deste ano, “Crónicas da Cidade Grande”, um disco “mais produzido”, com arranjos de João Martins. “Uma salada engraçada” que conta com as participações REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


P E R F I L

especiais de António Zambujo, Inês Viterbo e Marcelo Camelo. Apesar de um trabalho que envolve a tripla tarefa de compor, tocar e cantar, é na composição que o músico entende dintinguir-se. “Não estou a dizer que sou um excelente compositor, mas vozes como a minha e gente a tocar como eu toco deve haver aí aos pontapés”, sublinhou, explicando que não teve formação musical “formal e académica”. “Fui autodidata, encontrei a minha formação nos discos, nos concertos gravados ao vivo, em VHS, na televisão, nos amigos e nas revistas de música”, referiu. Escrever é, para Miguel Araújo, uma ação livre, não envolvendo propriamente um método. “Na maior parte das vezes, o que acontece é que crio uma melodia e depois coloco as palavras

em cima. E isto pode acontecer três anos, três dias ou até meia hora depois”, explicou. Utilizar a língua mãe é, isso sim, algo de que não abdica nas suas canções, muito marcadas pela ironia. “Se eu cantasse em inglês seria qualquer coisa como brincar aos cowboys com esta idade e não estou interessado nisso”, reconheceu, entre gargalhadas. Ouvir as suas letras na voz de outros artistas é quase “inacreditável”. “Pensar que a minha ‘Reader’s Digest’ já foi cantada [por Zambujo] no Carnegie Hall [sala de espetáculos em Nova Iorque] é uma super honra”, disse. E é com o mesmo orgulho que define os três concertos mais marcantes da sua carreira: com Os Azeitonas no Coliseu do Porto (2013), a solo na Casa da Música (em abril passado) e no-

vamente com a banda, em plena Avenida dos Aliados, por altura do último São João. Segundo defendeu, atuar, ao ar livre, no coração da sua cidade foi “impressionante”. “Em tantos anos de carreira nunca o tínhamos feito. Isto não é nenhuma laracha política, que eu não me meto em nada disso, mas, na altura do Rui Rio, não havia concertos assim”, notou. Controlar o nervoso miudinho e aceitar os habituais enganos e lapsos de memória durante as atuações foram desafios que aprendeu a superar. “No outro dia, o Rogério (baterista d’Os Azeitonas) teve uma quebra de tensão em palco; teve de sair e fizemos tudo sem que ninguém notasse. Tocámos a ‘Anda comigo ver os aviões’ e a ‘Nos Desenhos Animados’, duas


MIGU E L A RAÚJ O

Miguel Araújo vai atuar no Coliseu do Porto a 29 de novembro

músicas nas quais ele não toca, enquanto lhe estiveram a dar água com açúcar”, contou, confessando ainda que já chegou a atuar para “um mar de gente”, no Rock in Rio, num pico de rinite alérgica, “quase sem conseguir respirar”, em reação à presença abundante de gramíneas no recinto.

da estadia na capital, ter conseguido levar uma vida calma, sem carro e com as tão apreciadas idas à mercearia, é perentório na hora do balanço: prefere viver no clima menos quente do norte, perto dos amigos e da família. Aos portuenses reconhece uma ética de trabalho mais vincada. “Aqui há uma entrega maior”, “HÁ UMA GENTILEZA NO constatou, identificando ainPORTO QUE NÃO EXISTE da nas gentes nortenhas “uma EM MAIS SÍTIO NENHUM” gentileza” única, “muito menos A descontração com que re- filtrada”. “Um amigo meu brasicorda os momentos caricatos leiro foi à Ribeira, entrou num vividos em palco revela-lhe o café e achou-se ‘insultado’. E só caráter assumidamente norte- para aí ao terceiro dia é que pernho. Casado e com dois filhos cebeu que essa era a forma de (um deles de poucos meses), ser tratado com gentileza, como Miguel chegou a viver dois anos se fosse filho da senhora que o em Lisboa, no Bairro Alto, mas atendeu. As pessoas cá tratam regressou “à sua praia” logo que os que chegam de fora como possível. E apesar de, ao longo irmãos, nem que isso envolva

13

dizer coisas como: ‘queres um cafezinho? Ai que já me estás a lixar e a dar muito trabalho!’ Parecem grosserias, mas não são, são exatamente o oposto. Essa é a diferença do norte para o resto do país”, constatou. Sair da cidade onde se sente bem não faz, por isso, parte dos planos do músico. “Viver aqui [na Foz] é sair de casa descalço e voltar descalço”, dada a proximidade da praia, que tanto aprecia. E é nesta sua zona de conforto que gosta de estar, entre o verde do Jardim do Passeio Alegre e a Rua da Senhora da Luz, “que tem tudo”, até “senhoras a vender peixe fresco, todas as manhãs”. Ainda assim, não descarta a beleza dos passeios pela baixa portuense, com a família. Para contrariar a adrenalina das fases mais agitadas, com concertos pelo país, o compositor procura um dia a dia calmo, onde não faltem as corridas matinais. Não vibra com futebol, mas vê no presidente do FC Porto, Pinto da Costa, uma das maiores personalidades da cidade, ao lado de Rui Veloso. “São os dois grandes símbolos da minha geração, ninguém cresceu indiferente a estas duas figuras”, notou. De resto, não precisa de muito mais para ser feliz: a família e a guitarra são o seu porto de abrigo, os principais acordes de uma balada que o músico promete, em nome próprio, cantar à cidade no dia 29 de novembro, naquela que considera ser uma das “mais míticas” salas de espetáculo do mundo: o Coliseu do Porto. REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


D E S T A Q U E

Clandestinas Recusavam o estatuto de “piratas” (preferiam ser conhecidas como “livres”) e assaltavam as ondas hertzianas por um bem maior: o da liberdade. Em Portugal, as rádios clandestinas mostraram a sua força na década de 80, num importante movimento que rompeu com o duopólio das estações oficiais. E se alguns projetos começaram com uma simples brincadeira entre amigos, no sótão lá de casa, a verdade é que alguns deles deram origem a importantes rádios que ainda hoje fazem parte do dia a dia dos ouvintes. Texto: Mariana Albuquerque Fotos: Rui Oliveira

“Há trinta anos, um punhado de jovens planeava invadir o futuro, via éter com um kit-emissor de dois watts e, se mal o planeou melhor o executou. Com mais ou menos teoria e toda a prática de impossível lá engravidámos as ondas eletromagnéticas, libertando o bipolar sistema de radiodifusão”. São estas as palavras escolhidas pelo chamado “Bando do Imaginário” para descrever, à distância do tempo, um projeto que viria a ficar gravado para sempre na memória e no coração daqueles que, um dia, decidiram lutar pelas rádios livres com uma única arma (e talvez a mais poderosa): a voz. A Rádio Caos, criada no início dos anos 80, no sótão de um velho prédio do Porto, por elementos desse tal bando –

que comunicavam de dia e se encontravam pela noite – foi a primeira rádio pirata a emitir na cidade Invicta e uma das primeiras emissoras clandestinas em Portugal. E, de um momento para o outro, já eram centenas de projetos a brotar em vãos de escada, cozinhas, quartos de banho e onde quer que fosse, de modo a provar aos ouvintes que existiam, de facto, alternativas às duas rádios existentes na altura: a RR (Renascença) e a RDP (Radiodifusão Portuguesa). “NUNCA SE FEZ TÃO BOA RÁDIO COMO NA DÉCADA DE 80” Tal como aconteceu no resto da Europa, também em Portugal houve a intenção de se criar “espaços” de liberdade que ser-

vissem os interesses do povo. “O caso português tem, no entanto, algumas particularidades. Teve um caráter sobretudo localista, não teve a dimensão político-ideológica que se verificou, por exemplo, em Itália”, explicou Luís Bonixe, professor universitário e investigador da área. Mas a verdade é que as rádios piratas mereceram, desde logo, a vigilância das emissoras oficiais. “As rádios nacionais olharam para este fenómeno com muita atenção. Por um lado, perceberam que iria terminar a sua hegemonia no setor da rádio e, por outro, entenderam que era preciso fazer alguma coisa, em particular junto das populações locais, criando delegações ou apostando mais na informação local”, acrescentou.


RÁD I OS P I RATA S

15

vozes de luta Com a abertura dos microfones das estações piratas, “ideias novas e irreverentes” começaram a circular um pouco por todo o país. Aliás, segundo garantiu Jorge Guimarães Silva, que trabalhou 17 anos na TSF, tendo passado pelas clandestinas RCN – Claquete Emissora do Norte, Placard e Nova Era, em Portugal, “nunca se fez tanta e tão boa rádio como na década de 1980”. “Até ao aparecimento das rádios piratas (a que muitos chamavam, e bem, de livres) existia um duopólio entre o Estado (RDP) e a Igreja (RR). Se existiam bons programas nas estações oficiais, a diversidade musical não era muita”, sublinhou, frisando também que as emissoras da RDP e da RR emitiam quase exclusivamente desde Lisboa e do Porto.

“As rádios piratas vieram modificar esta situação. Finalmente, alguém que morasse numa terra do interior do Alentejo, das Beiras e do Minho tinha na rádio da sua localidade um espaço de discussão do que lhe interessava realmente”, constatou, referindo que estas estações “vieram trazer proximidade, companhia, discussão pública local livre e maior escolha, algo que, nos dias de hoje, já falta na nossa rádio”. “UMA ESCOLA DE JORNALISMO” O aparecimento das rádios locais representa, para Luís Bonixe, “a primeira grande mudança na paisagem mediática portuguesa”. “De repente, passámos de duas ou três rádios para quatro centenas. Foi um fenómeno que

gerou profundas alterações quer nos média em geral, na rádio em particular e também no jornalismo. É deste fenómeno que nascem projetos como a TSF que, como todos sabemos, modificou o jornalismo em Portugal”, notou. Aliás, alguns dos jovens que iniciaram funções nas estações clandestinas são, hoje, jornalistas com carreiras de sucesso. João Paulo Meneses, jornalista da TSF, por exemplo, foi diretor da Rádio Vila do Conde, de 1987 até ao seu encerramento. Antes de assumir o cargo já havia trabalhado na RDP Porto, mas reconhece que aquela foi a sua grande escola. “Estive lá sete anos, o que significa que quando fui o primeiro chefe de redação da Rádio Nova (Porto), em 1989, era na Rádio Vila do Conde Conde REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


D E S T A Q U E

(entretanto designada Linear) que aprendera alguma coisa”, afirmou, recordando com carinho “os tempos mais divertidos” da sua vida profissional. “Tínhamos uma programação muito variada, muitos colaboradores, alguns pagos outros não, gente que trabalhava por paixão e descoberta e sem qualquer experiência; tempos impossíveis de repetir”, constatou. Nas ondas clandestinas dos 102 MHz, a Rádio Caos também serviu de casa a “muita malta do jornalismo”. O projeto da estação, cujas bases nasceram, sem qualquer intenção, das intervenções culturais realizadas no café Majestic, ganhou forma no verão de 81, tendo passado por diversos locais. O mais fixo foi, contudo, na Rua Costa Cabral, num consultório de psiquiatria de uma amiga do “Bando do Imaginário”, como se intitulavam os dinamizadores da estação. “É a Internet que define a atual geração. Naquela altura foi a rádio. Encostámos o poder político à parede”, defendeu António Oliveira, uma das vozes da Caos, contando que, na luta pela legalização, a estação foi recebida duas vezes na Assembleia da República. E, durante oito anos, ninguém calou estes homens – que procuraram transformar o movimento das rádios livres num movimento literário dos anos 80 – porque um determinado juiz entendeu que o trabalho do “bando” mais não era do que… cultura, rejeitando, por isso, assinar a intervenção que lhes silenciaria o microfone.

“Foi esse milagre que nos fez aguentar aqueles anos. Hoje, muita gente se lembra da Caos como um espaço de liberdade e esse é o conceito todo, não vale a pena estarmos aqui com mais adjetivos ou jogos de palavras”, reconheceu António, conhecido no universo literário como A. Dasilva O. Com o fim das emissões piratas, em 1988, na sequência da abertura do concurso para a atribuição dos alvarás de cobertura local, a Caos (que contava, então, com 52 colaboradores) não conseguiu voltar a sussurrar as suas mensagens aos ouvintes. “Antigamente havia radialistas. Agora, há ‘gajos’ que se esforçam para ter piada. É um mendigar

de atenção. As pessoas já não acordam com [a radionovela] ‘Correspondência Amorosa entre Salazar e Marilyn Monroe’, com que eu abria as manhãs, obrigando a Renascença, na altura, a esforçar-se para me abafar”, recordou António, cuja paixão pela Caos lhe valeu um calo na glote, fruto das intermináveis horas de emissão. Surgida na vaga das rádios piratas, a TSF esteve na linha da frente da pressão ao Governo para a legalização das emissoras locais. Aliás, em 88, foi dos seus estúdios nas Amoreiras que partiu uma emissão em cadeia com cerca de 200 rádios, em protesto contra a imposição le-


RÁD I OS P I RATA S

gal das rádios piratas terem de suspender a emissão enquanto decorria a avaliação do concurso público para a atribuição dos referidos alvarás. “ERA UMA AUTÊNTICA ODISSEIA, TUDO PODIA ACONTECER” Para além das já referidas Caos, Claquete e Placard, na região do Porto, a história da rádio ficaria também irremediavelmente marcada pela Festival, Rádio Clube de Matosinhos e Nova Era (Vila Nova de Gaia). “A Rádio Festival, por exemplo, é a herdeira do Posto Emissor Eletromecânico, fundado em 1933, e que na década de 1960

e 1970, inserido nos Emissores do Norte Reunidos, transmitia o programa ‘Festival’, gravado ao vivo, primeiro no cinema Vale Formoso e depois no Teatro Sá da Bandeira”, contou Jorge Guimarães Silva. Depois, a Claquete e a Placard “tinham a experiência adquirida na RR e nos Emissores do Norte Reunidos”. A Nova Era, por sua vez, “era a emissora preferida dos jovens”, conquistados pelo seu estilo informal, escolha musical e pela novidade de tratar o ouvinte por “tu”. As aventuras vividas nestas horas de “assalto” ao espaço hertziano eram mais do que muitas. “Uma autêntica odisseia, tudo podia acontecer. A nossa inexpe-

17

riência contrastava com a grande vontade de fazer, ainda que, muitas vezes, não muito bem. No entanto, havia uma grande disponibilidade de sacrifício e vontade de aprender”, admitiu Alberto Rocha, coordenador geral da Rádio Festival, cujas emissões piratas eram feitas do local onde ainda hoje se encontra a estação, na portuense Rua da Alegria. O contacto inicial com o ouvinte, a utilização de meios técnicos rudimentares e os momentos passados a tentar decifrar o projeto que tinham em mãos constituíram “momentos inesquecíveis”, segundo referiu. Na verdade – assumiu Jorge Guimarães Silva – “nas emissoras piratas, quase tudo era uma aventura”. “Ter de trabalhar com cassetes para difusão de jingles e spots era uma grande aventura. Acertar com uma caneta ou lápis o ponto correto para entrar o áudio sem silênREVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


D E S T A Q U E

cios, estar atento ao final de um registo para largar a pausa de outro leitor... enfim. Eram muitas as peripécias”, referiu. Alberto Rocha também não esquece a dificuldade em reunir notícias. “Não havia Internet, canais informativos nem telemóveis. Íamos às instalações da ANOP [Agência Noticiosa Portuguesa], aos Clérigos, buscar os químicos/cópias das notícias que recebiam do dia anterior e aproveitávamos a viagem de autocarro para fazer uma triagem do que seria para ler, à partida tudo pois não havia outra fonte”, contou, relembrando outro episódio caricato: o de um colega que adormeceu na cabine. “Ao mexer-se, abriu o microfone e os ouvintes puderam deliciar-se com o seu ressonar, o som da campainha do técnico desesperado que se tinha ausentado e não tinha chave, os telefones que não paravam de tocar e a agulha do gira-discos que, continuamente, batia no final da faixa do disco. Foram minutos únicos e, claro, no dia seguinte houve dispensados”,

revelou. Ainda que tenham chegado ao nosso país um pouco mais tarde, comparativamente com o resto da Europa, na sequência do regime ditatorial de Salazar, as emissoras piratas surgiram numa altura em que a rádio preenchia uma grande parte do quotidiano dos portugueses. “Não existia Internet nem televisão por cabo. Aliás, TV, em Portugal, só mesmo os dois canais da RTP, que tinham poucas horas diárias de emissão e encerravam pouco depois da meia-noite. Neste contexto, era a rádio que preenchia a grande parte do dia e praticamente toda a noite”, relembrou Jorge Guimarães Silva. Assim, em 88, quando o Governo decidiu que, para se candidatarem a uma frequência, as rádios teriam de suspender as suas emissões, seguiram-se momentos de muita incerteza e contestação. “É preciso notar que, nesta altura, muitas rádios já possuíam ouvintes, algumas em número considerável, e até contratos de publicidade com

empresas locais”, referiu Luís Bonixe. A Placard (que tinha uma forte componente desportiva, fruto de ter sido a concessionária do desporto da RR), a Nova Era e a Festival conseguiram um alvará de radiodifusão sonora, a Claquete (forte em noticiários, programas de Jazz e outros dirigidos aos agricultores) e a Caos calaram-se para sempre. Aventuras e dificuldades à parte, as rádios piratas contribuíram (e, hoje, algumas locais ainda o fazem) para a divulgação e discussão dos assuntos regionais, transformando-se num “importante instrumento de participação e cidadania. “Não é possível conceber, mesmo nos tempos da Internet, uma sociedade democrática sem que exista a diversidade mediática que as rádios locais podem representar. O que é importante é garantir que continuem a preservar essa sua função de ligação às comunidades locais, situação que, infelizmente, nem sempre está a ser assegurada”, lamentou Luís Bonixe.


Estes prémios são da exclusiva responsabilidade das entidades que os atribuíram.

O BPI saiu da crise financeira mais forte e mais preparado. Nos últimos três anos, apresentou sempre indicadores de capital, liquidez e risco entre os melhores da Península Ibérica. Apesar da crise, não reduziu os seus programas de responsabilidade social. E construiu com os clientes e a sociedade uma sólida base de confiança para encarar o futuro com serenidade e ambição.


À D E S C O B E R T A

A MAGIA DA CIDADE OCULTA Texto: Mariana Albuquerque Fotos: Rui Oliveira

São espaços construídos há centenas de anos que marcam profundamente a história de um povo. A Viva partiu à descoberta do Porto subterrâneo, numa viagem capaz de surpreender miúdos e graúdos. “Não avances sem mim! Sei lá se aqui existem fantasmas!”, gritou, com a voz um pouco trémula, enquanto media, religiosamente, cada movimento. De pedra em pedra, com a água mesmo ali ao lado a desafiar a concentração humana – ao estilo: “até podes achar que não, mas, na primeira desatenção, vais, literalmente, pôr o pé na poça” – pequenos grupos de miúdos tiveram oportunidade de conhecer parte de um segredo guardado há vários séculos e que a maioria dos portuenses ainda não sabe. E se lhe dissermos que existe um Porto oculto, subterrâneo, em locais que tão bem conhece como a Avenida dos Aliados, a Rua de Santa Catarina e o Jardim de Arca d’Água? Pois bem, os dois primeiros, de difícil acesso, não se abrem ao público, mas tempos houve em que o túnel de água que começa no Jardim de Arca d’Água (recentemente visitado, a título excecional,

pelos tais pequenotes, no âmbito do Dia Internacional da Juventude), foi percorrido, em visitas previamente organizadas. Nos últimos anos voltou a fechar-se à luz do dia. Ainda assim, quer saber outro segredo? No início de 2015, esta “obra de engenharia”, construída no século XVII e alvo de ampliações no século XIX, vai voltar a abrir-se à cidade, talvez mensalmente, em aventuras organizadas pela empresa municipal Águas do Porto.

ARCA D’ÁGUA: UM TESOURO CONSTRUÍDO AO LONGO DE 90 ANOS

Quem percorre a Praça de Nove de Abril, na freguesia de Paranhos, está longe de imaginar que, bem debaixo dos seus pés, existe uma verdadeira “Arca de Água”. Com efeito, é precisamente naquela zona que um alçapão, à partida insignificante para os transeuntes,


S U BTERRÂNEOS D O P ORTO

assinala a porta de entrada para o mundo subterrâneo do manancial de Paranhos (composto por três nascentes), cuja água deu de beber ao Porto durante mais de três séculos, correndo ao longo de três quilómetros e meio, até à Praça dos Leões, e abastecendo fontes e um tanque de água. Autorizada pelo rei Filipe I em 1597, esta obra, que custou 22.800.000 reis, demorou 90 anos a ficar concluída. “Inicialmente, a água vinha a céu aberto, o que causava alguns problemas porque os lavradores puxavam-na para os campos, os animais pisavam as calhas, partiam-nas e a água acabava por não chegar ao destino nas melhores condições. Decidiram, então, encaná-la”, explicou Germano Silva. O jornalista (profundo conhecedor da cidade do Porto) já percorreu aquelas galerias subterrâneas diversas vezes, salientando o “trabalho notável” de construção ali realizado,

21

tendo em conta as condições da altura. E em relação aos restantes subterrâneos espalhados pela cidade, Germano é perentório: “este é uma autoestrada”. Ainda assim, há algumas décadas, percorrer aquelas condutas “era difícil”. Isto porque, a certa altura, instalaram no Quartel do Bom Pastor, em Arca d’Água, um regimento de transmissões, utilizando os túneis para a instalação de cabos. “Colocaram lá os ferros e, por isso, ou íamos com muita atenção ou podíamos magoar-nos”, contou. Mais tarde, a situação ficou resolvida, “até porque, hoje, as comunicações fazem-se por satélite, já não andam escondidas debaixo da terra”, atirou o cronista, bem disposto. E há outro aspeto curioso associado àquele subterrâneo: ‘não fosse o diabo tecê-las’, por altura do Campeonato Europeu de Futebol 2004, realizado em Portugal, a polícia vistoriou as condutas, encerrando-as devidamente, de forma REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


À D E S C O B E R T A

a prevenir ataques terroristas. Depois de se entrar neste tesouro escondido no subsolo portuense – através do alçapão ‘mágico’, aos olhos de miúdos e graúdos – é possível sair logo na Rua de Monsanto, junto ao antigo lavador público. Mas as galerias subterrâneas prosseguem, num ambiente ainda mais escuro e misterioso, com a luz do dia a voltar a surgir apenas junto ao Carvalhido, perto do antigo matadouro. “Anda-se, depois, mais um pouco e sai-se na Rua dos Burgães”, referiu Germano Silva, confessando que, neste ponto do percurso, a reação dos visitantes é “interessante”. “As pessoas sobem pelas escadinhas de ferro e ficam intrigadas porque não sabem onde estão. Pouca gente passa na Rua dos Burgães. Vê-se as torres de uma igreja, que é a da Lapa, mas os visitantes questionam sempre a localização”, reparou o cronista, que não esconde o desejo de voltar, uma vez mais, “ao seio da terra”.

PELOS CAMINHOS ESCONDIDOS DO CORAÇÃO PORTUENSE E apesar de os subterrâneos de Arca d’Água

serem os mais conhecidos (e fáceis de visitar), existem “muitos outros” nesta cidade oculta. “Há o túnel do Marquês, que vem por baixo de Santa Catarina até ao Bolhão, e há um desde o cimo da Rua de Santos Pousada, da Praça da Rainha Dona Amélia até ao Campo 24 de Agosto”, enumerou Germano Silva. A atual estação de metro do Campo 24 de Agosto é outro espaço que denuncia histórias dos séculos passados. Aliás, basta passar lá para reparar no achado arqueológico que foi encontrado no local e que retrata a chamada “Arca de Água de Mijavelhas”. “Havia lá muita água. Na Idade Média chamavam-lhe ‘Mijavelhas’. Diz a história que as mulheres que vinham de Valongo vender regueifas para as praças do Porto e aquelas que vinham de Gondomar com hortaliças e frutas, antes de irem vender, passavam lá e aliviavam-se”, contou o jornalista, que também já percorreu o túnel de Santa Catarina, na altura em que decorriam os estudos para a construção do metro do Porto. “Andava aí o espeleólogo Manuel Alegre a fazer


S U BTERRÂNEOS D O P ORTO

o levantamento dos veios de água por causa dos túneis do metro e, então, avisava-me quando tencionava descer. Era sempre à noite”, revelou o aventureiro. “O de Santa Catarina é mais baixo e estreito. Os respiros são mais dispersos e, quando se anda lá, a certa altura, começa a sentir-se calor, que é a falta de oxigénio”, frisou, assegurando que, ainda assim, o percurso foi concluído com sucesso (e adrenalina à mistura). Mesmo em plena Avenida dos Aliados também há “muitos canais, muitas nascentes que vêm das Carvalheiras”. Aliás, segundo contou Germano Silva, as entradas para a estação de metro dos Aliados foram construídas lateralmente porque Eduardo Souto Moura encontrou, no centro da avenida, uma estrutura de granito que não quis destruir. Um pouco mais abaixo, em frente à estação de S. Bento, há três ribeiros que se juntam para formar o chamado Rio da Vila, que desagua no Douro e onde a cidade foi depositando todo o tipo de imundices, ao longo dos séculos, transformando-o num verdadeiro esgoto a céu

23

aberto. “Já na Idade Média era um rio muito pouco conceituado. Foi já no Liberalismo, quase no final do século XIX, que o cobriram, formando-se a Rua Mouzinho da Silveira”, adiantou o apaixonado pela história do Porto. Não será, assim, de estranhar que Germano Silva também já tenha partido à descoberta do “enorme túnel” da Mouzinho da Silveira. “Ao contrário dos outros, onde se pode andar à vontade porque a água é limpa, neste não, é um esgoto. Já lá desci várias vezes. É preciso um fato, umas luvas e uma moca porque andam lá ratazanas e elas atacam!”, garantiu, entre gargalhadas. E para além dos diversos túneis de água, há outro, ferroviário, que também despertou a atenção do jornalista. “É o que vai de Campanhã à Alfândega, um túnel largo que eu não sei como é que ainda está desativado”, confessou, sublinhando que, com a sua reabertura, poderia encontrar-se ali uma boa alternativa para fugir ao trânsito do centro da cidade. Construída pelo Visconde de Barreiros, no século XIX, a obra viria a revelar-se mais complicada do que parecia inicialmente devido à presença abundante de rochas. “Não tinham os mecanismos que hoje existem e ele acabou por falir”, informou, acrescentando que chegou a completar aquele percurso com o antigo presidente da Câmara do Porto Fernando Gomes, que ponderava, na altura, apostar no seu aproveitamento turístico. O projeto nunca chegou a ser concretizado, mas ainda é possível ver, na Alfândega, junto ao parque de estacionamento, a porta de entrada para este trajeto subterrâneo. Será que lá existem fantasmas? REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


CCDR-N

PROJETOS DE SUCESSO DE UM NOVO NORTE Numa altura em que se ultima a estrutura dos apoios comunitários para o período 2014-2020, enquadrados no Portugal 2020, há ainda projetos relevantes em fase de concretização no âmbito do “ON.2 – O Novo Norte” (Programa Operacional Regional do Norte 2007-2013). Apresentamos-lhe, de seguida, cinco iniciativas emblemáticas realizadas ao abrigo deste estímulo europeu e destinadas a promover o desenvolvimento socioeconómico da região norte. Texto: Mariana Albuquerque

I3S: UM “SUPER CENTRO DE INVESTIGAÇÃO” A NASCER NO PORTO Com a estrutura exterior já bem visível, a sede do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S), situado no Pólo Universitário da Asprela (Rua Alfredo Allen), deverá ficar concluída no próximo ano. Promovido pela Universidade do Porto, num investimento superior a 21 milhões de euros e comparticipado em 18 milhões por

fundos comunitários, o projeto do centro de investigação nasce de uma colaboração entre o Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), o Instituto de Engenharia Biomédica (INEB) e o Instituto de Patologia e Imunologia Molecular (IPATIMUP), entidades que decidiram unir esforços com vista à criação de uma instituição de dimensão internacional. Tal como explicou Raul Santos, da U.Porto, na prática, o I3S vai reunir especialistas de diversas vertentes, “da biologia mais básica até à prática clínica”, num trabalho assente na partilha de serviços e na articulação com empresas, hospitais e outros agentes. “Com a possibilidade de vir a integrar, em rede, outras unidades de investigação e entidades do sistema de saúde, espera-se que o I3S sirva de estímulo à criação de um campus para o conhecimento em Saúde, onde se localizariam novas infraestruturas de investigação, inovação e desenvolvimento”, sublinhou. Para além da construção de um edifício de 14 mil metros quadrados, inteiramente dedicado a laboratórios e serviços de investigação, o projeto prevê ainda a sua ligação ao atual edifício do IPATIMUP, que será reconvertido em


25

Imagens virtuais do futuro edifício do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde

salas de aula de mestrados e doutoramentos, auditórios e serviços administrativos. A principal missão do I3S será, segundo esclareceu Raul Santos, “desenvolver a investigação aplicada, a investigação clínica e a transferência de tecnologia nas áreas das Ciências da Vida e da Saúde, ao

mais alto nível internacional”. O instituto, que vai reunir mais de 700 colaboradores (250 dos quais investigadores doutorados), pretende centrar a sua atividade na criação de respostas para novos desafios de áreas chave da saúde: doenças infeciosas e neurodegenerativas, cancro e medicina regenerativa.

MANGA DE COMPRESSÃO TESTADA COM SUCESSO EM UTENTES DO SÃO JOÃO Desenvolvido pela empresa Barcelcom Têxteis, situada em Barcelos, o projeto Pradex consiste na criação de uma manga de compressão para o tratamento de uma patologia que resulta do cancro da mama, o linfedema. Idealizada em parceria com a Universidade do Minho, num investimento total de quase 700 mil euros (comparticipados em mais de 367 mil por verbas europeias) a manga, “extremamente leve e respirável”, chegou ao mercado em setembro, com a função de comprimir o braço (evitando que este inche mais) e de substituir a drenagem linfática afetada pelo tratamento cirúrgico ou médico. Aliás,

o Pradex foi testado, recentemente, em utentes do Centro Hospitalar de São João, que comprovaram, “de forma muito vincada, a leveza e o conforto da manga”. “Até agora, quando as pacientes precisavam REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


de colocar uma manga necessitavam da ajuda de terceiros. Com o Pradex, para além de colmatarmos essa situação, conseguimos promover uma maior respirabilidade da peça”, referiu Nuno Mota Soares, da Barcelcom Têxteis. De sublinhar que, ao longo do ensaio clínico efetuado, as pacientes mostraram-se satisfeitas com a pequena espessura da manga, que facilita a sua utilização com qualquer peça de vestuário. “Esta foi uma das nossas preocupações, aliviar o estigma que estas doentes padecem, muitas vezes, no seu dia a dia”, frisou o responsável da empresa barcelense. O projeto integra ainda o desenvolvimento de uma segunda manga – cuja comercialização deverá arrancar até ao final de 2014 – que está equipada com vários sensores e um módulo destinado a avaliar de forma contínua vários parâmetros das utentes, permitindo ao clínico uma avaliação exata do desenvolvimento do linfedema. Tal como explicou Nuno Mota Soares, o módulo integrado na manga “adquirirá dados a cada cinco segundos, que serão descarregados, posteriormente, para um computador (com um software próprio) que irá mostrar ao clínico a evolução do linfedema durante o período de tempo que este desejar avaliar”.

12,7 MILHÕES INVESTIDOS EM EQUIPAMENTOS CULTURAIS DO NORTE De 2007 a 2013, o Programa Operacional Regional do Norte destinou 12,7 milhões de euros à comparticipação da construção ou ampliação de um conjunto de equipamentos culturais, apoiando, assim, um investimento total de 15,5 milhões em bibliotecas que cobrem 17 concelhos da região. Uma das intervenções em curso é a ampliação da Biblioteca Municipal de Celorico de Basto Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, que deverá estar concluída em junho de 2015. Situada na Quinta de S. Silvestre, onde se encontra o Centro Documental e Bibliográfico (cujo nome serve igualmente de homenagem ao professor catedrático), a biblioteca

Imagens: Pradex

CCDR-N

possui uma coleção de cerca de 235 mil documentos nos mais diversos formatos: livros, revistas, jornais, manuscritos, panfletos, VHS, CD, material de propaganda, teses de licenciatura, mestrado e doutoramento e fotografias. No entanto, por uma questão de sobrelotação das instalações do equipamento cultural, há ainda 85 mil documentos, dispersos em corredores, à espera de serem colocados em depósito. Neste contexto – e como é conhecida a intenção de Marcelo Rebelo de Sousa de continuar a doar o seu espólio a Celorico de Basto, quer por razões familiares quer pelos cargos políticos que desempenhou – a autarquia local decidiu avançar com a obra de ampliação, orçada em 1,5 milhões de euros (comparticipados em 1,3 milhões pelo ON.2). De acordo com informações disponibilizadas


27

pelo departamento de planeamento e serviços socioculturais da autarquia, a nova construção localizar-se-á num terreno em declive, junto ao centro bibliográfico. Composto por um piso, o edifício terá uma sala de exposições e uma pequena zona de ligação aos novos arquivos. Nos objetivos da ampliação está ainda a criação de um espaço destinado à realização de eventos, uma vez que a sala polivalente da biblioteca disponibiliza apenas 30 lugares sentados. O auditório do novo espaço terá, assim, capacidade para acolher 158 pessoas, sendo apoiado por uma sala técnica de controlo de som e luz.

Obras de ampliação da Biblioteca Municipal de Celorico de Basto (fotografias cedidas pela autarquia local)

Em fase de desenvolvimento estão também duas intervenções de “extrema relevância” para o município de Santo Tirso: a construção da sede do Museu Internacional de Escultura Contemporânea (MIEC), com os trabalhos no terreno prestes a arrancar, e a requalificação do Museu Municipal Abade Pedrosa. Orçados em 4,6 milhões de euros (comparticipados em 85% por verbas europeias), os projetos foram assinados pelos conhecidos arquitetos Siza Vieira e Souto Moura. Segundo explicou Joaquim Couto, presidente da autarquia tirsense, as duas obras “assumem um cariz especial” porque representam a concretização

Fotos: CM Santo Tirso

PROJETOS MUSEOLÓGICOS DE PESO AFIRMAM-SE EM SANTO TIRSO

de uma iniciativa que começou a nascer na década de 90. “O MIEC é o único museu de escultura ao ar livre em Portugal e nasceu em 1990, na sequência de uma sugestão do escultor Alberto Carneiro ao município, para a realização de um simpósio de escultura”, informou, realçando que o equipamento foi formalmente constituído em 1996. “Volvidos 18 REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


CCDR-N

anos, temos 47 esculturas espalhadas por cinco pólos principais da cidade, da autoria de escultores de renome nacional e internacional. Avançar, agora, com a construção da sua sede é ver este projeto finalizado. Assim, estas são duas obras de extrema relevância para Santo Tirso, que permitirão projetar

o que de melhor existe no concelho, nomeadamente do ponto de vista cultural, patrimonial e turístico”, constatou. De referir que a sede do MIEC vai ser construída, de raiz, junto ao Museu Municipal Abade Pedrosa, cuja requalificação deverá estar concluída em junho do próximo ano. Tal como descreveu Álvaro Moreira, diretor daquele equipamento cultural, do ponto de vista museológico, a obra de requalificação garantirá “condições expositivas verdadeiramente adequadas ao espaço, quer ao nível do dimensionamento do mobiliário e, consequentemente, das coleções, como ao nível da iluminação, monitorização e conservação do acervo”. Além disso, acrescentou, a intervenção arquitetónica permitirá “ampliar significativamente o programa de atividades educativas e pedagógicas do espaço, designadamente com a implementação de ateliês formativos e a criação de equipas de investigação interdisciplinares, de forma a permitir que a ação do museu no domínio científico se desenvolva de forma mais profícua”.

UM PASSAPORTE PARA O EMPREENDEDORISMO Num investimento total de 5 milhões de euros, suportado integralmente pelo ON.2, o IAPMEI Agência para a Competitividade e Inovação lançou a medida Passaporte para o Empreendedorismo, que, desde 2013, já apoiou mais de mil jovens no desenvolvimento dos seus projetos empresariais. Evitar a emigração forçada dos quadros jovens, criar condições de facilitação institucional e acompanhamento para projetos de maior potencial, definir mecanismos de apoio à aceleração da entrada das inovações no circuito económico e melhorar a visibilidade e a apetência pelo empreendedorismo enquanto escolha de vida ambiciosa são as principais metas da iniciativa. Este verdadeiro “passaporte” destina-se a jovens licenciados, com idade até aos 30 anos ou até aos 34, no caso de os candidatos possuírem mestrado ou doutoramento. Segundo dados do IAPMEI, os distritos do Porto (com 289 jovens apoiados) e de Braga (com 227) são dos que apresentam maior dinamismo no conjunto dos empreendedores associados ao programa.

Mostra de projetos organizada pelo IAPMEI (imagem cedida pela agência)

Os setores de atividade dos projetos, esses, são variados, com especial destaque para o setor industrial, as indústrias criativas, as Tecnologias da Informação e Comunicação, biotecnologia, saúde e turismo. Em termos de apoios, os beneficiários da medida têm acesso, durante quatro meses, a uma bolsa mensal de 691,70 euros, destinada a fortalecer a sua ideia de negócio, que pode ser prolongada por mais oito meses, mediante uma avaliação intercalar do projeto. Além disso, os jovens passam também a desfrutar do acesso privilegiado a uma rede nacional de mentores, disponíveis para dar aconselhamento na formatação inicial das propostas.



U M

D I A

C O M

Mestres em extinção Outrora figuras incontornáveis da cidade, os engraxadores do Porto lutam, hoje, pela sobrevivência de um ofício prejudicado pelo avançar dos tempos. Os clientes escasseiam, assim como os próprios homens da graxa, mas há no rosto dos ‘resistentes’ um grito mudo de apelo à comunidade – “salvem a nossa profissão”. Texto: Mariana Albuquerque Fotos: Rui Oliveira

O relógio marca as 9h00 e, quem por lá passa, a poucos metros da conhecida estátua do ardina, na portuense Praça da Liberdade, é bem capaz de reparar nele. Entre pequenas nuvens de fumo de um cigarro – que saboreia calmamente, ao ritmo de quem espera – quase que se contam histórias de uma arte que é sua desde menino. Mas o “estaminé” está montado e no segundo em que o primeiro cliente aparecer – se aparecer – fazem-se deslizar as escovas com a mestria de quem engraxa sapatos não só por necessidade mas, essencialmente, por paixão. Mário Morais tem 58 anos de vida e 42 de ofício. A profissão foi-lhe apresentada pelo pai, no tempo de “outros governos”, numa altura em que os dedos de duas pequenas mãos eram suficientes para ilustrar a sua idade. “Meu filho, se queres comer, tens de ganhar”, ouviu, ainda miúdo, aceitando o desafio, talvez em espírito de brincadeira. Partiu, então, à descoberta de um mundo novo, onde escovas, latas

de pomada e panos se conjugam, sem atropelos, entrando ‘em ação’ apenas na hora certa. E não tardou até que “os cavalheiros” começassem a achar piada “ao menino engraxador”. “TENHO ORGULHO EM SER A SEGUNDA FIGURA TÍPICA DA CIDADE” Hoje, o fervor com que defende esta atividade, em perigo de extinção, é diretamente proprocional ao brilho dos sapatos que acaba de polir. Rigorosamente situado em frente ao antigo café Imperial, mesmo na mira de uma comerciante bem disposta (e nada dada a entrevistas!), Mário é já um rosto da Praça, onde permanece há 15 anos. E se num ou noutro dia da semana a chuva for demasiado intensa, impedindo-o de trabalhar, é vê-lo também aos sábados, de caixa montada, entre turistas de mapa na mão. Mas os Aliados nem sempre foram a sua ‘segunda casa’. Os primeiros passos como engraxador foram dados em Gaia,


E N G RA X A D O R E S

na estação das Devesas, ainda com a supervisão do pai, sendo que, posteriormente, passou para o mais antigo jardim municipal do Porto, o de São Lázaro. “Dediquei-me completamente a esta arte, fui-me aperfeiçoando e sinto-me um profissional”, confessou, satisfeito. É por isso que não tem qualquer tipo de problema em afirmar, para quem quiser ouvir, que é “um dos melhores engraxadores do Porto”. No repousa pés da sua caixa pisaram “doutores, advogados, juízes e outras personalidades”. Saber lidar com o cliente, independentemente da sua proveniência e estatuto social, é, segundo frisou Mário Morais, o maior desafio da profissão. “Trabalhei com muitos banqueiros que, antes de entrarem ao serviço, tinham de assegurar que o calçado estava limpo”, afirmou, com o entusiasmo de outros tempos no olhar. Hoje, “tudo está diferente”. O ‘fantasma’ das sapatilhas paira a toda a força sobre os engraxadores, mas Mário

31

recusa baixar os braços e dar-se por vencido. “Já não nos procuram tanto, mas tenho muito orgulho em ser a segunda figura típica da cidade, logo a seguir à do ardina”, disse, apontando na direção da conhecida estátua portuense, em homenagem ao homem que fazia correr as notícias da cidade. Os movimentos firmes com que trabalha confirmam as palavras deste “menino engraxador”: “eu já limpo sapatos de olhos fechados”. Da lista de materiais de que não prescinde fazem parte dois panos, quatro palas (para colocar no calçado de forma a não sujar as meias), quatro latas de pomada (castanha, preta, branca e azul), 12 escovas especiais (feitas de pêlo de rabo de cavalo) e dois pincéis. De resto, é colocar mãos à obra. “Limpa-se o pó, coloca-se uma camada de pomada, a tinta, passa-se o pano, depois começam a trabalhar as escovas” e vai o sapato como um espelho. Mas além de caprichar no trabalho técnico, também é preciso “saber cativar REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


U M

D I A

C O M

jurando que o facto de trabalhar ao lado de outros engraxadores não o incomoda minimamente. “Já estive instalado em cafés e numa engraxadoria, por isso, não me pressiona estar ao lado dos meus colegas. O que interessa é servir bem o cliente porque, digam o que disserem, ele nota as diferenças”, realçou, de sorriso rasgado.

o cliente para poder tê-lo certo no pé de ferro da caixa”. E é com nostalgia que Mário recorda um desses fregueses: Fernando Gomes, antigo presidente da Câmara Municipal do Porto. “Vinha cá [à praça] bastantes vezes e elogiava muito o meu profissionalismo”, contou, saudoso. Ainda assim, reconhece que este não é um ofício “para qualquer pessoa”. “Apanha-se muito frio, muito calor e é preciso ter muita paciência”, confessou. A certa altura, quando decorria a campanha eleitoral para as últimas eleições autárquicas, Mário decidiu apelar à criação de condições dignas para estes profissionais, nomeadamente através da construção de plataformas que os resguardassem do sol e da chuva e onde pudessem guardar os materiais. “Tive oportunidade de falar com o atual presidente da autarquia, Rui Moreira. Coloquei-lhe o caso e ele disse-me que, ganhando as eleições, iria debruçar-se sobre

o tema para tentar fazer algo pelos engraxadores”, informou, acrescentando que gostaria de se deslocar ao gabinete do autarca independente para uma nova conversa. “Precisamos de ter condições para conseguirmos ser melhores naquilo que fazemos”, defendeu, com os olhos espelhados, num misto de tristeza e de esperança. “Também estive a falar com responsáveis da Santa Casa que disseram que iam ajudar-nos. Até hoje não fizeram nada”, constatou. Casado e com duas filhas, Mário Morais não depende de nenhum subsídio da Segurança Social. Com a esposa reformada, os dois euros cobrados pela limpeza de cada par de sapatos são fundamentais para as despesas do dia a dia. É por isso que, apesar das dificuldades, tenciona continuar a lutar para que esta atividade não acabe. “Gostava de receber a ‘visita’ de mais pessoas. Espero sempre, dia após dia, hora a hora, minuto a minuto, que os clientes cheguem”, assegurou,

“SINTO QUE AINDA É UMA PROFISSÃO RESPEITADA” E se, há cerca de 50 anos, os engraxadores do Porto não tinham mãos a medir, espalhando-se por diversos espaços da cidade, hoje, o desafio é mesmo o de saber onde param os resistentes. José Oliveira começou a trabalhar numa das muitas engraxadorias que existiam na Invicta (localizada na Rua do Loureiro) com pouco mais de 20 anos. Nessa época, as pausas para o almoço eram quase uma miragem. “Comia uma sanduíche e ia logo trabalhar”, garantiu. Comparar o atual volume de trabalho ao de antigamente fá-lo levar as mãos à cabeça. “Quem me dera ter, agora, os clientes que tinha na altura”, confessou. Num dia normal, José engraxa dois ou três pares de sapatos, tendo a sua caixa montada na zona de restauração do Via Catarina, onde permanece desde a inauguração do shopping, em setembro de 1996. Antes de aceitar o desafio de mudar a sua caixa para o centro comercial, esteve sete anos e meio a trabalhar na Rua Sampaio Bruno, onde também existia uma engraxadoria. “Quando


E N G RA X A D O R E S

33

aos sapatos de um dos diretores da instituição. É por isso que, apesar de viver em Macieira da Maia (Vila do Conde), gastando quase nove euros por dia nas deslocações, não abre mão da sua arte. Já depois de ter aprendido o ofício, José Oliveira aventurou-se na área da construção civil, mas uma fratura na coluna viria a retirá-lo, em definitivo, do setor. Voltou, então, a pegar na sua caixa de engraxador e já lá vão 45 anos. A reforma que recebe é totalmente canalizada para o pagamento das despesas básicas: renda, água, luz e gás. “Não dá para rigorosamente mais nada”, referiu. Assim, com o dinheiro que vai ganhando ao sabor da dança das suas escovas sempre consegue levar um miminho para a esposa, impedida de trabalhar por motivos de saúde. “Gosto muito de estar aqui. Ficar em casa é, para mim, um ‘bicho de sete cabeças’ porque já estou habituado a este ambiente”, reconheceu, sublinhando que, apesar do o shopping abriu, decidiram arranjar um engraxador. Foi então que um amigo meu, que veio trabalhar para aqui como empregado de balcão, me perguntou se eu estaria interessado”, contou José, de 73 anos. Transformou-se, assim, no único ‘artista da graxa’ instalado num local do género, onde os lojistas são já “uma família”. “Gosto mais de estar aqui do que a trabalhar na rua. Construímos uma grande amizade”, reconheceu, minutos depois de ter restituído o brilho REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


U M

D I A

C O M

número escasso de clientes, a profissão de engraxador “ainda é respeitada”, talvez pela força da tradição, que multiplicava os ‘homens da graxa’ pelas artérias do Porto. O REGRESSO AOS TEMPOS DE MENINICE Natural de Campanhã, Fernando Leite não é de muitas falas mas não passa despercebido aos transeuntes. De chapéu de palha cuidadosamente encaixado na cabeça, o portuense, que

completa 57 anos em novembro, voltou a dedicar-se a este ofício há poucos meses, para atenuar os efeitos do desemprego. “Homem de muitas artes”, começou a engraxar com 14/15 anos, em frente à estação de comboios de Campanhã. “Saía da escola e vinha logo para aqui”, contou. Filho de um sapateiro, que trabalhava em casa, Fernando deixou-se conquistar por este ofício, mas avisa: “não copiei pelo meu pai, apenas gostei da arte”. Naquela altura, tudo

parecia uma aventura. “Havia 15 engraxadores só nesta zona. Os clientes, esses, até faziam fila!”, contou, recuando no tempo. “Agora não, é tudo à base de sapatilhas. Atualmente não se engraxa, vai-se engraxando”, atirou. Mas as dificuldades não parecem intimidar-lhe o sorriso. É por isso que, até às 11h30, e, depois, durante a tarde, o engraxador do chapéu de palha monta a caixa e alinha as escovas, junto à estação ferroviária. Os turistas também já procuraram os seus serviços, recompensados monetariamente de uma forma especialmente simpática. “Um deles deu-me seis euros e meio, quando eu levo um euro e meio por engraxar sapatos”, contou. Para além de ganhar algum dinheiro, voltar ao local onde trabalhava, ainda menino, permite-lhe reviver alguns momentos felizes. “Uma vez estava ali a engraxar, a minha mãe chegou e mandou-me um estalo tão grande que até me assustei. Desatei a correr e deixei aqui tudo. Ela não gostava que eu andasse a engraxar”, relembrou, entre gargalhadas. Ainda assim, Fernando Leite não perdeu “o bichinho” da profissão. “Gosto desta atividade e foi por isso que vim cá parar outra vez”, constatou. De resto, nada mais tem a dizer. Arranja o chapéu, volta a sentar-se, ao lado dos panos e das tintas, e espera, pacientemente. Não sabe bem quando, mas o próximo cliente há-de estar a chegar.



A T U A L I D A D E

“Diving In… Luxury!” sobe ao palco da Covilhã

A

proximar a indústria das Escolas de Moda é um dos objetivos do Concurso Jovens Criadores, inserido no projeto Portuguese Fashion News (PFN) da Associação Seletiva Moda que, nesta edição, foi organizado em parceria com a Universidade da Beira Interior. Sob o mote “Diving In… Luxury!”, foram apresentadas, recentemente, no Complexo Desportivo da Covilhã, as 16 propostas a concurso. O júri desta edição foi constituído por António Simões (estilista Dielmar), Pedro Pinto (representante da Empresa Dielmar), Florinda Palha Ruivo (representante da Empresa Palha Ruivo) e Vânia Carvalho (jornalista Portal de Moda), que avaliaram a combinação de novos materias, a originalidade e criatividade dos jovens estilistas. Após diferentes fases de avaliação, com desfiles à mistura, os grandes vencedores foram Pilar Pastor (Escola Profissional Cenatex – tecidos Somelos Tecidos), em 1.º lugar, Gonçalo Peixoto (Escola Profissional Cenatex – tecidos A Têxtil de Serzedelo), em 2.º, e David Pinto (Universidade da Beira Interior – tecidos Gierlings Velpor), na 3.ª posição. De realçar que o PFN facilita a interação entre estes jovens e os fabricantes nacionais de tecidos e acessórios que, gentilmente, cederam a matéria prima, viabilizando a iniciativa. A cada edição, o Concurso Jovens Criadores PFN contribui para estimular a capacidade criativa e empreendedora das novas gerações, numa iniciativa da Associação Seletiva Moda.


37

REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


A T U A L I D A D E

UM DOMINGO DE PARTILHA Mais de 300 pessoas deram o primeiro passo e, juntando-se à AGAVI (Associação para a Promoção da Gastronomia, Vinhos, Produtos Regionais e Biodiversidade), fizeram da primeira edição da Festa da Partilha um verdadeiro êxito. O evento destina-se a homenagear os portuenses, encontrando inspiração no ato de solidariedade e empreendedorismo que, no ano de 1415, os cidadãos da Invicta protagonizaram, dando toda a carne que existia na cidade a D. João I, no momento da partida rumo às Descobertas. Desta forma, e ficando apenas com as vísceras, os portuenses criaram o mais famoso e tradicional prato da cidade - as Tripas à Moda do Porto. É precisamente este sentimento de solidariedade que a AGAVI recuperou, iniciando uma rede de partilha, através desta e de outras ações que realizará durante o ano. A primeira Festa da Partilha juntou mais de três centenas de pessoas num almoço de Tripas à Moda do Porto, com destaque para as presenças de Cláudia Jacques, Cristina Alves, Hélio Loureiro, Lígia Santos, Manuel Serrão, Sebastião Feyo, Paulo Nunes de Almeida Feyo, entre outras figuras portuenses de relevo. O evento funcionou como uma preparação para a grande Festa da Partilha de 2015, altura em que se celebram os 600 anos do início das Descobertas. Mas, mais do que isso, a AGAVI teve na edição deste ano o ponto de partida para uma festa anual que pretende sensibilizar cada vez mais cidadãos para a importância da solidariedade. Segundo realçou António de Souza-Cardoso, presidente da AGAVI, este foi o “momento de relembrar o caráter solidário e empreendedor dos portuenses e, assim, de uma forma simbólica, convocar representantes da cidade do Porto para, uma vez mais num tempo de carestia e dificuldade, mostrarem o valor da solidariedade, da partilha ativa, da permanente preocupação com o outro, da luta contra o desperdício”. Na sequência da Festa da Partilha, a AGAVI aproveitou para lançar um desafio a todos os portugueses, em forma de Manifesto, para que numa altura de tantas dificuldades se faça “das tripas coração” e se assuma a mesma atitude criativa e empreendedora dos que há 600 anos partiram à conquista de novos mundos.


39

RENDIDOS À OBRA “Por Amor de Deus” Depois do sucesso do seu primeiro livro, “Contos Consentidos”, lançado em abril de 2012, António de Souza-Cardoso está de volta à escrita, rendendo-se, desta vez, ao romance. “Por Amor de Deus” foi apresentado no passado dia 4 de setembro na ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários, à qual o autor dedicou 18 anos da sua vida. O lançamento da obra foi da responsabilidade de Manuel Serrão e Jorge Reis-Sá, que confessaram ter-se apaixonado de imediato pelas palavras e pelo enredo deste romance, que vem mostrar uma nova faceta de António de Souza-Cardoso. “Por Amor de Deus” baseia-se na vida de Mateus, um homem do Norte, como o autor, “a quem um drama camiliano levou a um périplo pelo mundo”. Nas palavras de Rui Zink, responsável pelo prefácio, este “é um livro puro, como só os primeiros romances sabem ser”. A apresentação da obra contou com a presença de várias figuras da cidade, que não quiseram deixar de fazer parte deste novo desafio. Nascido em Lisboa, o autor é, ainda assim, um verdadeiro homem do Norte. Licenciou-se em Direito na Universidade Católica Portuguesa, no Porto, especializando-se, mais tarde, em Economia Europeia. Exerceu, durante 18 anos, o cargo de Diretor-Geral da ANJE e, atualmente, divide o seu tempo entre a coordenação e a liderança de muitos outros projetos empresariais.

REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


A T U A L I D A D E

CELEBRAR O VINHO DO PORTO O Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) realizou, no passado dia 10 de setembro, a primeira edição do Port Wine Day. O objetivo da instituição é fazer com que esta celebração seja efetuada anualmente, no dia em que foi criada, em 1756, a primeira região demarcada e regulamentada do mundo, o Douro Vinhateiro. “O Port Wine Day é uma homenagem ao vinho do Porto e à Região Demarcada do Douro, aos produtores, aos comerciantes e a todos os intervenientes que, ao longo da história, consolidaram o vinho do Porto como embaixador da região, da cidade e do país. Esta é uma grande festa que celebra a denominação de origem Porto e que gostaríamos de realizar anualmente”, realçou Manuel de Novaes Cabral, presidente do IVDP, informando que o evento juntou, na Alfândega do Porto, vários especialistas, jornalistas e produtores nacionais e internacionais. A manhã foi preenchida por um seminário onde se debateu, no primeiro painel, os “Desafios do mercado vinícola asiático”, moderado pelo jornalista Manuel Carvalho e que reuniu especialistas como a “Master of Wine” e sétima mulher mais influente do mundo dos vinhos Debra Meiburg, de Hong Kong; o fundador e CEO da distribuidora Altavis Fine Wines, David Chow, e o diretor da Miguel Torres, Jordi Franch. O segundo painel foi dedicado ao “Futuro da harmonização da gastronomia e vinhos”. Ferrán Centelles, especialista de vinhos espanhóis, Vitor Claro, produtor de vinho com a marca Dominó e empresário de restauração, Pedro Araújo, Chef Executivo no Hotel Fábrica de Chocolate, em Viana do Castelo, e João Pires, Master Sommelier, discutiram o tema sob a moderação de Ryan Opaz, fundador do Blog Catavino. Durante a tarde, 30 produtores e 78 vinhos integraram a Prova de Vinhos do Porto Vintage da primeira década do século XXI, sob a coordenação do enólogo Bento Amaral. Depois do Port Wine Day, o IVDP lançou também a primeira edição da Port Wine Night, uma ação de promoção do vinho do Porto junto de um público mais jovem, e que envolveu, no dia seguinte, vários bares da baixa portuense.


41

I FASHION FILM

FESTIVAL CONQUISTA A CIDADE DO PORTO “Encontrar o melhor filme de moda português” foi o desafio que a Seletiva Moda assumiu, em parceria com a produtora audiovisual Farol de Ideias, quando decidiu avançar para a organização do primeiro Fashion Film Festival português. O Fashion Film Festival invadiu o Rivoli, no Porto, para apresentar o resultado da campanha que, ao longo de quase meio ano, procurou filmes de moda com qualidade para funcionarem como poderosas ferramentas de marketing no panorama do marketing digital. Fred Sweet, diretor do La Jolla Fashion Film Festival, Jorge Teixeira, diretor criativo da AgenciaClick Isobar Brasília, José Cabaço, português que ocupa o lugar de Global Concept Creative Director da Nike, nos EUA, José Pedro Sousa, realizador de alguns dos mais notáveis anúncios publicitários de Portugal, Justin Anderson, realizador internacional de fashion films, a dupla de estilistas Manuel Alves e José Manuel Gonçalves e a jornalista da RTP Paula Martinho da Silva foram os responsáveis por “capturar” os melhores filmes de moda portugueses. Mas a meta final do Fashion Film Festival vai muito além de premiar estes filmes: a iniciativa pretende promover e estimular a utilização desta ferramenta de comunicação tão poderosa. “Hoje em dia, os filmes de moda são uma forma especial e moderna de se fazer marketing de moda”, referiu Manuel Serrão, da Seletiva Moda, acrescentando que, ainda assim, poucas são as marcas portuguesas que os utilizam. Aproveitar cada vez mais o filme de moda para comunicar com os consumidores é, assim, a ideia principal do Fashion Film Festival, que, nesta primeira edição, incide exclusivamente em filmes portugueses. “Temos em Portugal empresas têxteis com produtos de alta qualidade, com tecnologia evoluída e design inovador, mas a comunicação

é feita de forma pouco eficaz. Digamos que somos CEO’s na produção e quase estagiários na comunicação”, referiu Estela Rebelo. E sem fazer previsões, a diretora do Fashion Film Festival mostrou-se muito satisfeita com este primeiro evento. “Os dados concretos apontam para mais de uma centena de filmes de moda a concurso, a maior parte com muita qualidade. O júri não teve um trabalho fácil e isso demonstra não só que Portugal está a começar a abrir os olhos para as potencialidades desta ferramenta mas também que está a fazê-lo com grande competência”, sublinhou. REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


M Á Q U I N A

D O

T E M P O

De coração aberto à cidade Texto: Mariana Albuquerque Fotos: António Amen

Conquistou a cidade do Porto há 145 anos, afirmando-se como um espaço de convívio e livre partilha de ideias, e nunca mais desistiu de cimentar relações de afeto e solidariedade entre os seus associados. Acompanhou as diferentes épocas históricas, recebeu muitos dos seus protagonistas e, hoje, o Ateneu Comercial do Porto orgulha-se de manter o espírito de pluralismo e o gosto pela instrução cultural que estiveram na sua génese.

À entrada uma majestosa escadaria num convite claro a um percurso repleto de história. Percorrer o Ateneu Comercial do Porto, espaço cultural e de convívio situado no número 44 da Rua Passos Manuel, é quase embarcar numa viagem pelo tempo. Desde as origens modestas das sociedades recreativas de caixeiros até às extravagâncias de um clube burguês, esta casa – porque é assim que os seus associados

a encaram e sentem – nunca deixou de se identificar com a própria cidade e com os seus movimentos cívicos e culturais. E o respeito pelas diferentes sensibilidades sempre esteve na génese do clube, cuja história começou a ser escrita pela Sociedade Nova Euterpe, fundada em 29 de agosto de 1869. A cultura da pluralidade é, assim, o maior património do Ateneu, que acolheu, nas suas salas, monárquicos e

republicanos, salazaristas e democratas, socialistas e conservadores, católicos e ateus. A importância histórica do edifício – que serviu de esconderijo a Camilo Castelo Branco e foi palco da apresentação da Liga Patriótica do Norte, que viria a dar origem ao 31 de Janeiro de 1891 – e a beleza das suas instalações – a biblioteca, quase mágica, possui mais de 40 mil títulos


ATE NEU CO M ERCIAL DO PORTO

– não permitem compreender o reduzido número de sócios do espaço. “É um sítio singular e a verdade é que, neste momento, quem está a garantir a continuidade do Ateneu são os pouco mais de 300 associados.

Temos pouca gente na casa dos 30 anos, por exemplo, o que é, para mim, cada vez mais incompreensível, atendendo ao movimento da baixa do Porto”, reconheceu Paulo Lopes, presidente da direção

43

do Ateneu. A acumulação de défices de exploração tem vindo a dificultar a gestão deste espaço de cultura, instrução e recreio. Aliás, há alguns meses, chegou a ser equacionada a alienação de algum património da instituição para colmatar uma dívida de 110 mil euros. Ainda assim, os associados decidiram dar as mãos e avançar com um empréstimo ao clube, de forma a assegurar a manutenção do seu espólio. REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


M Á Q U I N A

D O

Despertar o interesse dos cidadãos pelo Ateneu Comercial do Porto está, assim, na lista de prioridades da instituição, que tem vindo a firmar protocolos com diferentes entidades e a apostar num reforço da programação cultural. Tudo para mostrar à cidade que existe um espaço privado, equipado com salas de leitura, de jogos, de visitas e de exposições, restaurante, bar e biblioteca, onde é possível relaxar, entre amigos, em ambiente de amena cavaqueira.

O TRABALHO “COMO VIRTUDE ENOBRECEDORA DO CARÁTER HUMANO”

A Sociedade Nova Euterpe, que deu origem ao Ateneu, resultou da fusão de outras instituições congéneres que não vingaram, fundadas por comerciantes e caixeiros da cidade do Porto. “Quiseram ter um sítio onde se juntar, onde conviver e defender o trabalho como uma virtude enobrecedora do caráter humano”, frisou Paulo Lopes, acrescentando que foi nas instalações do clube (localizadas na Rua da Porta do Sol antes da mudança para

T E M P O

a Rua Passos Manuel) que aqueles cidadãos encontraram “o seu canto”, um local para ler as várias publicações e encontrar parceiros de negócio. A divisa da sociedade, “Inter Foli Fructus”, refletia claramente o seu objetivo de “promover e cimentar relações de benevolência e boa sociedade entre os associados e proporcionar-lhes um passatempo honesto e civilizador por meio de reuniões ordinárias, dança e leitura, conversação e jogo lícito”. E é neste ambiente “de generosa entrega” que a Nova Euterpe (presidida por Bernardino Alves Costa e, depois, por Alves de Azevedo, Xavier da Mota e Agostinho Leão) vai crescer, frutificar

e transformar-se num pólo do desenvolvimento cultural portuense, com reflexo em todo o país. O Gabinete de Leitura da instituição, que contava, em 1869, com 326 volumes, quase todos provenientes de ofertas dos sócios, foi um dos espaços que mais carinho e esforços de expansão mereceu pelas sucessivas direções. Em 1884, 15 anos depois da fundação, o número de associados atingia já os 416. No ano seguinte, foi com entusiasmo que os jornais da época noticiaram a inauguração do novo edifício social do Ateneu Comercial do Porto, como passou a designar-se a Nova Euterpe, na sequência de uma alteração dos estatutos. Entre 1885 e 1910, a sede do clube privado foi



M Á Q U I N A

D O

T E M P O

Busto de Camões, existente no Ateneu. Escultura da autoria de Soares dos Reis.

alvo de um conjunto de obras de melhoramento. Nos anos que se seguiram à abertura do novo edifício (cujo terreno foi adquirido a D. Antónia Adelaide Ferreira), alterou-se, por exemplo, o aspeto da sala de bilhar e, nos andares térreos, algumas salas foram adaptadas a gabinete de leitura, sala de receção, cartório e sala escolar. As alterações visavam dar mais amplitude e independência ao museu e biblioteca. Ao longo dos anos, o Ateneu Comercial do Porto reuniu um espólio de importância assinalável, que integra, por exemplo, a primeira edição de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, obra doada em 1904 por um associado que a comprou por 100 mil reis. “O facto de nós, portuenses, guardarmos, orgulhosamente, uma obra destas na cidade deve-se ao gesto desse associado e à existência

d o Ate n e u ” , co n stato u o presidente da direção. Mas as preciosidades do espaço não se esgotam aqui. O clube mantém ainda uma edição da Bíblia datada de 1500, alguns escritos do cronista Fernão Lopes e as pinturas a óleo “Vacas no Ribatejo”, de José Malhôa, e “Um rapaz pescador de Olhão”, de Henrique Pousão. A biblioteca do espaço, a “jóia da coroa”, é considerada uma das melhores da Península Ibérica, com um espólio superior a 40 mil títulos e 80 mil volumes. “Somos muitas vezes consultados por pessoas exteriores à associação que procuram determinada obra que nós

temos”, realçou Paulo Lopes. De resto, as últimas direções têm procurado também diversificar e multiplicar as manifestações culturais no teatro, na música, nas letras e nas artes plásticas, não esquecendo o importante papel que o Bridge, o Núcleo Filatélico e o Bilhar conservam na instituição. UM GRANDE PALCO DO NORTE A programação cultural do Ateneu tem sido marcada pela presença de reconhecidos oradores em conferências e jantares que os participantes vivem de forma diferente, “porque se sentem em casa”. “Gera-se sempre


ATE NEU CO M ERCIAL DO PORTO

47

Primeira edição de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões.

PROGRAMAÇÃO CULTURAL

uma dinâmica maior, um diálogo mais personalizado”, a s s e g u r o u Pa u l o L o p e s , recordando, por exemplo, uma conferência que contou com a presença de Raquel Varela, investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. O clube tem vindo, igualmente, a assumir uma postura mais ativa nos fenómenos eleitorais, convidando as listas candidatas a participarem em sessões durante as quais possam expor as suas ideias e projetos. Com vista à diversificação das propostas apresentadas aos cidadãos, a instituição tem vindo a apostar num conjunto

de protocolos com diversas entidades, nomeadamente a Academia de Ciências de Lisboa, que encontra no clube um palco para os seus eventos. De destacar ainda a parceria estabelecida com o Hospital-Escola da Universidade Fernando Pessoa, em Gondomar, que criou condições preferenciais de atendimento aos associados, e ainda com os serviços de terra da Lufthansa. “Estamos a tentar dar mais razões às pessoas para se deixarem conquistar pela nossa casa”, sublinhou o responsável de uma instituição presente no ADN portuense há já 145 anos.

OUTUBRO 4 de outubro, 16h00 - Abertura da exposição de cartazes do Estado Novo (Gráfica do Bolhão), em colaboração com a Associação Portuguesa de Design; 4 de outubro, 17h30 - Início das comemorações do 5 de Outubro: “Poesias da Monarquia e da República”, com a participação do arquiteto José Luís Tinoco como declamador convidado; 10 de outubro, 21h30 Concerto da pianista Maria Manuel Rito; 11 de outubro, 16h30 Lançamento do livro o “5.º Império”, de Jacinto Alves; 11 de outubro, 17h30 Conferência “A Carbonária e o 5 de Outubro”, por Maria Estela Guedes; 30 de outubro, 21h00 Concerto do Ensemble Português de Metais “Massive Brass Atack”. NOVEMBRO 1 de novembro, 09h00 - Leilão do Núcleo Filatélico; 4 de novembro, hora a designar - Encerramento da exposição de cartazes do Estado Novo. DEZEMBRO 12 de dezembro, 12h30 Almoço de comemoração da fundação da Biblioteca do Ateneu; 13 de dezembro, 20h00 - Grande Gala do Ateneu Comercial do Porto; 31 de dezembro, 20h00 Reveillon Jantar “Passagens de Ano do Mundo” (Heritage V). REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


M E M Ó R I A S

NO CORAÇÃO DA “SEMPRE LEAL E INVICTA CIDADE DO PORTO” Não são raras as vezes em que, de passagem pelo coração da baixa da cidade, turistas e visitantes, de máquina fotográfica em riste, apelam, na Praça da Liberdade, à simpatia dos transeuntes, pedindo-lhes que eternizem aquele momento em fotografia. O enquadramento, esse, é quase sempre o mesmo: o imponente edifício da Câmara Municipal do Porto acaba por ser o grande protagonista da imagem, erguendo-se, magistralmente, no topo da Avenida dos Aliados, “sala de visitas” da cidade. Texto: Mariana Albuquerque Foto: Rui Oliveira

Projetado pelo arquiteto e antigo diretor da Escola Superior de Belas Artes do Porto, Correia da Silva, o edifício dos Paços do Concelho começou a ser construído em 1920. Ainda assim, depois de várias interrupções e alterações ao projeto inicial, introduzidas pelo arquiteto Carlos Ramos, as obras só foram retomadas em 1947, terminando oito anos depois. Em 1957, os ser-

viços camarários foram, finalmente, instalados no edifício. Constituída por seis pisos, uma cave e dois pátios interiores, a obra surge inspirada arquitetonicamente nos grandes palácios comunais do norte de França e da Flandres. Na fachada, de granito (retirado das pedreiras de S. Gens e de Fafe no início do século XX), identificam-se 12 brasões com as armas da cidade: os quatro centrais, mais antigos, revelam a figura de um


CÂ M A RA D O P ORTO

dragão e os oito laterais contêm a imagem de Nossa Senhora da Vandoma (evocação sinónima à Virgem Maria). A frontaria do edifício apresenta ainda doze esculturas femininas, as Cariátides, que tiveram a sua origem, reza a lenda, na ilha de Cária. Apesar de se tratar de um território grego, os habitantes da ilha decidiram apoiar os persas na guerra travada com os gregos. Como castigo pela traição, os residentes – Cariátides – foram condenados a suportar simbolicamente o peso dos telhados das suas casas. As figuras surgem, assim, na fachada da Câmara do Porto, a suportar as urnas que decoram a balaustrada do edifício. Muitos não saberão também que cada Cariátide representa uma atividade ligada desde sempre ao Porto: a navegação, a pesca, a agricultura, viticultura, construção civil, indústria, ciências, arquitetura, escultura, pintura, música e literatura.

49

A “INFÂME ESCADARIA” QUE MUITOS NÃO CONHECERAM

A torre central do edifício, decorada por quatro paredes e colunas dóricas, com um relógio elétrico de carrilhão e uma cúpula metálica no topo, teria, no projeto inicial, 76 metros de altura, mas Carlos Ramos optou por mandá-la edificar com apenas 70. Outra alteração introduzida pelo arquiteto foi a eliminação da sólida escadaria de pedra de acesso à câmara, rapidamente substituída pelas rampas laterais que hoje conhecemos, com o objetivo de facilitar a deslocação de cidadãos com deficiências motoras. Mesmo em frente à câmara municipal está o monumento em homenagem ao portuense Almeida Garrett, realizado pelo escultor Salvador Barata Feyo e inaugurado em 1954 para assinalar o centenário da morte do poeta.

REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014




F C P O R T O

Rumo à Liga

Chegaram de mansinho, concentrados na formação, mas rapidamente fizeram história no basquetebol português. Comandados por Moncho López, os atletas do FC Porto Dragon Force treinam diariamente com paixão, assumindo o desejo de conquistar títulos e de chegar à Liga, onde os adeptos os querem aplaudir. Texto: Mariana Albuquerque Fotos: adoptarfama/nunolopes/fcporto; Rui Oliveira


53

Quem os vê, em amena cavaqueira, a terminar o lanche antes do segundo treino diário quase não imagina o rigor e a exigência com que vestem as camisolas azuis e brancas dentro do campo. E se, nos primeiros tempos, tudo era uma experiência, nesta época, os objetivos do FC Porto Dragon Force Basquetebol estão plenamente definidos: vencer é a palavra de ordem de um balneário 100% unido. O projeto (sucessor do FC Porto, depois de o clube liderado por Pinto da Costa ter suspendido a equipa sénior por divergências com a Federação Portuguesa de Basquetebol), foi apresentado em 2012/13, à imagem do que já havia no futebol, com a ambição de ser uma das melhores escolas da Europa, sob o lema “formar atletas, competindo”. Nessa mesma época, os jovens sagraram-se Campeões Nacionais de Sub-20 e subiram de divisão. Em 2013/2014, a garra demonstrada nos treinos no Dragão Caixa não demoraria a dar frutos: com novos reforços, a equipa foi às meias-

-finais da Taça de Portugal, voltou a ser Campeã Nacional de Sub-20, venceu a fase regular da Proliga (garantindo o direito desportivo de disputar a Liga Portuguesa na temporada seguinte) e foi Campeã Nacional da Proliga. Apesar de ter conquistado o direito de jogar na Liga, o Dragon Force optou por permanecer no segundo escalão. Contudo, o desejo dos adeptos de verem os seus “miúdos” em ‘altos voos’ está mais vivo do que nunca, assim como a vontade que o clube tem de lhes fazer a vontade. “Continuamos na segunda divisão, mas estamos a pedir aos nossos jogadores para darem um passo em frente, assumindo a vontade de conquistar títulos. Agora conhecemos o campeonato, sentimos que somos bons e espero que, dentro de um ano, estejamos a fazer a pré-época da Liga”, confessou o treinador do Dragon Force, Moncho López. A necessidade de continuar a apostar no crescimento técnico dos jogadores foi um dos aspetos que motivou a permanência na Proliga, atiçando ainda mais o espírito guerreiro dos atletas. “O facto de termos pensado em trabalhar com este grupo durante três anos sem a pressão de competir no primeiro escalão teve muita influência” na decisão, reconheceu o espanhol, acrescentando que muitos dos jovens precisam de mais tempo para evoluir técnica e intelectualmente. “Queremos melhorar algumas coisas, reestruturar o sistema competitivo”, apontou, garantindo que os jovens estão a preparar-se para dar esse salto.

“HÁ MUITA HONESTIDADE NA NOSSA RELAÇÃO COM OS ATLETAS”

Os jogadores ficaram, “obviamente, tristes”, mas rapidamente se uniram em torno dos objetivos traçados para o futuro. “Eles respeitam muito as nossas opiniões e eu penso que tenho alguma influência no seu estado de espírito. Há muita honestidade na nossa relação com os atletas e eles ouviram o que a equipa técnica tinha a dizer. Como treinador, quero o FC Porto na Liga, mas transmiti-lhes que o meu estado de espírito REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


F C P O R T O

também era de máxima motivação e que não era pelo facto de não estarmos que íamos ter menos vontade de trabalhar”, referiu. E é, realmente, com determinação que os jogadores encaram os próximos meses de trabalho. “Temos um grande leque de atletas com todas as características necessárias no basquetebol. O principal objetivo da época passada era formar para ganhar e, este ano, a meta é mesmo vencer”, sustentou João Gallina, recentemente promovido a sub-capitão da equipa. Para o jovem, que integra o Dragon Force desde o início, “todos os jogos da Proliga vão ser difíceis”. “Na época passada fomos campeões e a tendência é a de relaxar, mas ninguém quer que isso aconteça. O maior perigo somos nós próprios e estamos a trabalhar para vencer”, garantiu, realçando que o conjunto sente “muito respeito pela equipa técnica” com que trabalha diariamente, encarando-a como uma família. De saída do FC Porto, por empréstimo, rumo ao Sampaense, José Miranda é outro dos jogadores que testemunhou a experiência Dragon Force desde a sua criação. “O projeto está a ser muito bom para mim, como jogador e como pessoa. Transformou-me num homem

mais forte”, frisou, contando que, em algumas situações, quando jogava menos tempo, agarrava os treinos ‘com unhas e dentes’ para mostrar ao treinador que merecia mais confiança. E é dessa relação de profissionalismo e amizade que o atleta vai sentir mais saudades. “Somos muito unidos, remamos para o mesmo lado e lutamos uns pelos outros”, garantiu, confessando ter bem presente na memória o momento em que se sagraram Campeões de Sub-20, na Luz, há dois anos. Determinação, união, ambição e luta são, assim, as palavras que, segundo José Miranda, melhor definem o FC Porto, clube que leva “no coração” para uma nova aventura, esperando poder voltar a “casa”. Depois do desempenho na última temporada, o capitão André Bessa (antigo jogador do FC Porto que esteve fora duas épocas, regressando como reforço no ano passado) não tem dúvidas de que a equipa só pode estar otimista. “O grupo de trabalho é bastante ambicioso, queremos conquistar tudo o que for possível e trabalhamos para isso. Somos muito rápidos e temos uma grande intensidade de jogo, o que fez toda a diferença na época passada”, sublinhou, frisando que o momento mais


marcante que viveu foi, “sem dúvida, a conquista do campeonato da Proliga”. E é para poderem continuar a fazer história na modalidade que os jogadores dão tudo por tudo nos treinos. “Não poderia ser de outra forma e nós não poderíamos ter melhor treinador”, confessou André Bessa, assumindo a responsabilidade de transmitir a sua experiência aos mais novos. Voltar a conquistar o direito desportivo de integrar a Liga, vencer a Proliga e o troféu António Pratas e chegar o mais longe possível na Taça de Portugal são, assim, os objetivos que o Dragon Force definiu para este ano.

DELICIAR OS ADEPTOS COM UM “BASQUETEBOL BONITO”

Constantemente atento à progressão dos jogadores, Moncho López sabe que é importante desafiá-los, mas sempre “com bom senso”. “Quando nos parece que subiram um degrau no seu nível, colocamo-los imediatamente no seguinte”, frisou, reconhecendo que o seu atual conjunto é “muito versátil”. “É uma equipa alta para o que é habitual em Portugal e, acima de tudo, tem talento. Tenho dito que estou convencido de

que vamos pôr em prática um basquetebol bonito, que o adepto vai gostar”, afirmou, realçando que não há palavras para descrever o “apoio absoluto” das pessoas ao projeto. “Só neste clube se consegue estar na segunda divisão e encher o pavilhão”, notou. Além disso, o técnico salientou ainda o trabalho efetuado pelos seus adjuntos. “Dos cinco melhores treinadores portugueses eu tenho dois na minha equipa: o João Tiago Silva e o Rui Gomes”, assegurou, reiterando que toda a estrutura trabalha para que o Dragon Force seja uma excelente escola de formação de jogadores, contribuindo para dar força a uma modalidade em declínio. “Portugal devia ter destes centros de formação espalhados pelo país. Neste momento só existe um masculino e um feminino. O Basquetebol é uma modalidade que está a perder terreno e nós somos um importante alicerce”, sublinhou. De resto, a “magia azul e branca” fala por si. “Muitos atletas de outros clubes querem vir para cá, quando não somos o que melhores propostas financeiras pode oferecer. Temos, por exemplo, o caso do António Monteiro, vindo de Angola, que teve outros convites e que podia estar a ganhar dez ou 15 vezes mais do que vai ganhar aqui”, contou, frisando que, no FC Porto, os jogadores conseguem conciliar a sua vida familiar e académica com o desporto de alto rendimento. E ver a entrega e a paixão com que se dedicam ao projeto, mesmo num país onde a modalidade não dá grandes perspetivas de carreira, é, para Moncho López, “uma lição de humildade e de compromisso”. “Vê-los alimenta permanentemente a minha motivação”, confessou o espanhol, com o orgulho cravado no rosto. REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


N O I T E

HOJE À NOITE, À MESMA HORA

São espaços diversificados, pensados para públicos distintos que, ainda assim, apresentam um elemento em comum: a paixão pelos momentos de convívio, ao final da tarde ou à noite, numa cidade onde é fácil trocar boas gargalhadas (ou não fosse o Porto o Melhor Destino Europeu de 2014!). E no que diz respeito a bares, parece que há sempre lugar para mais um. A Rua da Picaria, bem no coração da Invicta, é uma das moradas da diversão noturna. E mais acima, a chegar ao Largo Mompilher, a concentração de portuenses e turistas nos passeios, de copo na mão e sorriso no rosto, (porque as esplanadas enchem em poucos segundos) denuncia de imediato a especificidade dos estabelecimentos (e, porque não dizê-lo, das bebidas). Há champanhe, gins, sangrias, petiscos, música e espaço para dançar, mesmo que improvisado. A Rua do Almada, ali ao lado, também tem vindo a revelar-se um atrativo ninho de novos projetos, com conceitos inovadores. Está preparado para se surpreender? Fotos: Rui Oliveira


P ORTO

SERROTE: A GALERIA DE ARTE QUE TAMBÉM É BAR

No número 9 da Rua da Picaria, onde antigamente funcionava uma loja de móveis, há um bar que alia música, vinhos, gins, tapas e petiscos a um ingrediente muito especial: a arte. De portas completamente escancaradas – a tentar despertar a atenção de quem passa – o Serrote é um espaço calmo, com meia dúzia de mesas onde se pode degustar vinho a copo, em amena cavaqueira entre amigos. Ainda assim, também sabe adaptar-se aos notívagos. Por isso, quando o dia já vai longo, arrumam-se “as madeiras” (mesas e cadeiras) e abre-se a pista de dança, onde imperam sonoridades funk, jazz e soul. E ao fim de semana, como não poderia deixar de ser, há DJs convidados na cabine do Serrote. Na decoração do bar, há dois elementos que captam especial atenção: o balcão, com ripas de madeira, e os três candeeiros que o iluminam. No entanto, é a vasta parede da direita

57

(na visão de quem entra) que mais caracteriza o espaço, dada a sua função de galeria de arte. E todos os meses os visitantes podem apreciar uma nova exposição, ao sabor de um gin ou de uma sangria de espumante, que estão no topo das preferências dos portuenses. O Serrote está aberto às segundas entre as 15h00 e as 20h00, de terça a sexta-feira das 15h00 às 2h00 e aos sábados entre as 20h00 e as 2h00.

REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


N O I T E

BRINDAR À CIDADE NA CHAMPANHERIA DA BAIXA

No topo da Rua da Picaria, junto ao Largo Mompilher, o Porto começa a borbulhar. Inaugurada em 2002, a Champanheria da Baixa foi o primeiro sítio da cidade com uma variada oferta de champanhe. Desde então, não parou de crescer. Para além dos espumantes, cavas e champanhes a copo, taça ou flute, o bar conta ainda com famosas sangrias (a de morango é a mais requisitada) e cocktails especiais. “E porque atrás de uma música vem uma conversa e de uma conversa vem mais um copo, a fome acaba por chegar. Aí, basta pedir”, anuncia o próprio espaço, que apresenta uma ementa de refeições “simples, mas cuidadas, que deixam até os menos vorazes a salivar por mais”. Assim, tapas, ‘fingerfood’, bruschettas, tábuas de enchidos e alguns pratos mais consistentes são algumas das opções para um almoço, uma tarde ou um serão bem passado. O ambiente, esse, tem um toque boémio, enriquecido por ilustrações que remetem para uma estética Toulouse Lautrec. Para além da esplanada, a champanheria esconde um recatado espaço lounge e está aberta de segunda a quinta-feira entre as 12h00 e as 00h30 e ainda às sextas e sábados das 12h00 às 02h30.

CANDELABRO: TOMAR UM COPO AO SABOR DO LUSCO-FUSCO

E mesmo ao lado da Champanheria da Baixa, na esquina da Rua da Conceição com o Largo Mompilher, há um café idealizado a pensar na luz de um fim de tarde. O Candelabro, aberto em 2009, nasceu de uma antiga livraria alfarrabista do Porto e ainda hoje mantém a sua “alma”. Nas estantes e nas montras encontram-se livros, sobretudo de cinema e fotografia, e um gira-discos no qual é impossível não reparar. O espaço interior foi recuperado de forma a respeitar o seu caráter original e “salpicado” com toques de contemporaneidade, de que são exemplo os candeeiros de design moderno e a parede iluminada, situada atrás do balcão, com prateleiras repletas de garrafas com bebidas coloridas. Muitos são os que aproveitam a tranquilidade do café para trabalhar (o Candelabro tem internet wireless) ou para desfrutar de uma bebida ao entardecer.


P ORTO

59

REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


N O I T E

AS EXPLOSÕES DE SABOR DO ALMADA MINHA

Podia ser uma loja de bolachas, mas o efeito não era o mesmo. No Almada Minha combinam-se bolachas artesanais com cafés, vinhos e chás para proporcionar verdadeiras explosões no paladar. As bolachas de amendoim rimam com cerveja e as de cacau e pimenta rosa casam, na perfeição, com vinho do Porto, mas no número 291 da Rua do Almada há uma mão cheia de surpresas (bem doces) para descobrir. Com um ambiente de tranquilidade, o “cookie bar”

disponibiliza refeições ligeiras, ao som de jazz e blues, assegurando a boa disposição também com Dj sets e música ao vivo. Um espaço para visitar de segunda a sábado das 10h00 à meia-noite e aos domingos entre as 14h00 e a meia-noite.



N O I T E

CASTELO OFFICE&BAR: TERMINAR O DIA DE TRABALHO COM UM SORRISO NO ROSTO Não é só bar nem é só Office. Recentemente inaugurado no número 315 da Rua do Almada, o Castelo Office&Bar junta o melhor destes dois mundos num espaço requintado, “feito de pessoas reais para pessoas reais”. Em cima é escritório. No R/C dá-se as boas-vindas aos visitantes num ambiente de charme que convida a boas conversas de fim de tarde. E no fundo a ideia é mesmo essa: oferecer à cidade do Porto um sítio no qual seja possível terminar um dia de trabalho, seja com conversas que ficaram pendentes, reuniões ou simples momentos de descontração, fundamentais para controlar os níveis de stress. A decoração do espaço surge plenamente adequada aos seus objetivos: há um terraço acolhedor e cadeirões confortáveis, sempre com candeeiros e fichas de eletricidade nas proximidades. A sangria de espumante, o gin e o cocktail old fashioned (lembra-se da bebida preferida do carismático Don Draper da série Mad Men?) são algumas das estrelas do Castelo Office&Bar, que faz questão de oferecer um petisco a quem pede uma bebida. O novo espaço funciona de segunda a quinta-feira das 14h00 à 01h00 e às sextas e sábados das 14h00 às 02h00.


P ORTO

63

REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


T V

GRANDES

regressos As primeiras surpresas já começaram a chegar aos telespectadores e, a partir de outubro, vai ser “sempre a acelerar”. A nova grelha de programação do Porto Canal, recentemente inaugurada, inclui o reforço dos espaços com a marca FC Porto (refira-se, por exemplo, o regresso dos programas “Portistas no Mundo”, “Invictus”, “Cadeira de Sonho”, “Azul e Branco” e “Pensadores”), a aposta na informação, nas grandes reportagens e entrevistas. Num claro investimento na diversificação de conteúdos, a estação televisiva prepara-se para estrear a 3.ª temporada de “Estação de Serviço”, espaço dedicado à adrenalina e emoção do desporto automóvel. Texto: Mariana Albuquerque Fotos: Virgínia Ferreira e Rui Oliveira


P ORTO CA N A L

CONTEÚDOS FC PORTO E INFORMAÇÃO GANHAM NOVO FÔLEGO

Numa altura de consolidação dos efeitos da intensa revolução editorial e tecnológica operada nos últimos dois anos, o Porto Canal aceitou o desafio de continuar a surpreender os telespectadores, apostando, desta vez, numa grelha intensamente marcada pelo regresso de programas “de peso” e pelo reforço dos conteúdos FC Porto. A estação televisiva, que é já uma “marca do norte”, caminhando a passos largos para a crescente afirmação a nível nacional, decidiu, assim, investir no alargamento das transmissões pré-match e pós-match de todos os grandes jogos realizados no Dragão, tanto da Champions como do campeonato nacional. E como não poderia deixar de ser, a aposta na transmissão das provas das diferentes modalidades, no Dragão Caixa,

que já se revelaram “um sucesso de audiências”, segundo realçou Domingos Andrade, diretor de programação e de informação do Porto Canal, também foi uma das prioridades definidas para os próximos meses. Os períodos de debate associados ao universo azul e branco foram alargados e, para além do já habitual programa diário “45 Minutos à Porto”, a estação televisiva inaugurou o “90 Minutos à Porto”, que entra no ar às segundas e sextas-feiras, às 21h30, com análises detalhadas da semana desportiva e antevisões das próximas jornadas. Entre as grandes novidades da nova grelha está também o regresso das reportagens assinadas pelo repórter Ricardo Amorim, no âmbito dos tão apreciados programas “Portistas no Mundo”, “Invictus”, “Cadeira de Sonho”, “Azul e Branco” e “Pensadores”, este último baseado na forma “peculiar” como algumas figuras da cidade, das mais diversas

65

proveniências, olham para o universo do futebol. De realçar também o alargamento do programa informativo diário “Flash Porto” para 30 minutos, entre as 19h30 e as 20h00. O setor da Informação generalista também foi recentemente reforçado. O Jornal Diário, emitido às 20h00, foi alargado até às 21h30, recuperou-se o espaço das grandes entrevistas e das grandes reportagens, que são, lembrou Domingos Andrade, “uma marca distintiva do canal”, e registou-se o regresso de comentadores como Júlio Machado Vaz, Pedro Arroja, Jorge Sequeira e Luís Filipe Menezes que, à sexta-feira (às 23h00), analisa a semana política com Júlio Magalhães. O mês de outubro trará mais surpresas à estação televisiva, nomeadamente o incremento do noticiário regional (graças à abertura de uma delegação em Bragança), a estreia de “Vida de Cão”, um programa sobre REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


T V

animais apresentado por Rute Braga, a expansão do “Caminhos da História” a outras zonas de atuação, para além do Grande Porto, e o regresso de “Saúde no Tacho”, espaço dedicado à culinária saudável com apresentação da nutricionista Ana Bravo.

“ESTAÇÃO DE SERVIÇO”: SEMPRE A ACELERAR RUMO À 3.ª TEMPORADA

A partir de outubro, o Porto Canal promete voltar a elevar os níveis de adrenalina dos

telespectadores, com o arranque da terceira temporada de um programa bem conhecido, o “Estação de Serviço”. Dedicado ao setor automóvel, trata-se de um espaço no qual se testam super-carros, fazendo as delícias de entendidos e leigos na matéria com as mais diversas histórias sobre clássicos e com entrevistas a conhecidos pilotos. E desenganem-se aqueles que julgam que nesta “Estação de Serviço” só há espaço para homens. Carina Nunes da Silva e Marta Marques vão juntar-se, uma vez mais, a José Pedro Fontes, Gonçalo Gomes e João Luís Claro para uma temporada “completamente diferente”. Segundo adiantou Miguel Vaqueiro, coordenador do

programa, o conceito vai manter-se, “mas haverá muitas surpresas”. “A primeira temporada era muito estática, feita em estúdio, tínhamos poucas peças porque o budget era apertado e isso trazía-nos algumas limitações. Na segunda, os sponsors já entraram de uma forma mais ativa, perceberam o nosso conceito e conseguimos evoluir”, descreveu, sublinhando que a equipa conseguiu surpreender o público por testar carros “de uma forma diferente, como as pessoas nunca viram noutros canais de televisão, com paisagens do norte, automóveis diferentes e brincadeiras à mistura”. Nesta terceira temporada, o programa semanal (de 50 minutos) passará a


P ORTO CA N A L

67

CINEMA NAS NOITES DE DOMINGO

ser feito totalmente fora do estúdio, de forma a responder às solicitações das pessoas, “que querem ver mais carros”. Outras novidades? “Só vendo o ‘Estação de Serviço’”, respondeu o coordenador, assegurando, contudo, que a constante picardia entre os elementos da equipa (sobretudo entre José Pedro Fontes e Gonçalo Gomes), que é, já, uma imagem de marca do programa, continuará a ser o grande combustível do trabalho desenvolvido em cada semana. E todos eles têm um papel bem definido. João Luís Claro é, como descreve a apresentadora Carina Nunes da Silva, “a enciclopedia de clássicos”, José Pedro Fontes, conhecido piloto da atualidade, testa os carros e

realiza entrevistas, colidindo com o também piloto Gonçalo Gomes, igualmente envolvido na análise dos super-desportivos. Marta Marques é a voz-off do programa, sendo que também exerce funções de repórter, tal como aconteceu quando o “Estação de Serviço” foi feito diretamente do carismático C i r c u i t o d e Vi l a R e a l . A espontaneidade que existe em cada edição é, para Carina, um dos elementos-chave de todo o trabalho, “que vale muito pela equipa”. “As pessoas percebem logo a picardia que há entre os ‘meus pilotos’, como eu costumo dizer. E, depois, eu própria também fomento um pouco isso”, reconheceu, com boa disposição. “As pessoas em

O Porto Canal está a fazer uma forte aposta no cinema, nas noites de domingo, “com filmes de qualidade e blockbusters recentes”, numa parceria firmada com a Prisvideo. “As pessoas querem ver grandes atores, bons filmes e encontram aqui uma alternativa aos programas que marcam o restante panorama televisivo”, notou Domingos Andrade, garantindo tratar-se de uma das apostas ganhas da estação. casa sentem esta energia. O programa vive da adrenalina do automobilismo mas também d o n o s s o l a d o g e n u í n o” , acrescentou, confessando que nunca pensou que a tarefa de “dominar pilotos” fosse tão complicada. “Estou sempre a dizer-lhes que, em estúdio, eles são os meus co-pilotos!”, referiu, assegurando que as gravações acabam por ser “uma aventura”, ou não estivesse a apresentadora na companhia “dos mais aventureiros do desporto automóvel”. REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


F O T O R R E P O R T A G E M

Fotos: Sérgio Magalhães

PORTO em ruínas


P O RTO EM RU Í N AS

69

A Nova Empresa Industrial de Curtumes, situada na área urbana da cidade do Porto, que tinha como objetivo a indústria de curtumes e o comércio de compra e venda de produtos desta natureza, foi constituída em 1920. O seu mercado principal nas primeiras décadas foi o

REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


F O T O R R E P O R T A G E M


P O RTO EM RU Í N AS

71

exército e, durante muito tempo, ocupou um lugar proeminente no setor. No início, a empresa produzia sola para sapatos, tendo terminado com a produção deste artigo nos finais dos anos 60. Após ter sofrido um incêndio, no início da década de 70, a empresa passou por algumas dificuldades que se prolongaram até ao 25 de Abril. Depois, e durante alguns anos, a Empresa Industrial de Curtumes começou

REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


F O T O R R E P O R T A G E M

a afirmar-se com o fabrico de alguns artigos de renome internacional. Foi solicitada por grandes marcas de calçado como a Rockport, do grupo Reebock, Decathlon e Plaxe. Devido a razões económicas e, principalmente, higieno-ambientais, a instituição foi encerrada, há cerca


P O RTO EM RU Í N AS

73

de cinco anos, e deslocalizada, encontrando-se agora em total abandono, restando apenas decrépitas carcaças do que foi uma notável empresa que aguarda por uma urgente demolição e limpeza dos terrenos.


M Ú S I C A

CONCERTOS, LANÇAMEN As “guitarras sonhadoras” d’O Abominável Depois de avançar com o single “Nada Passa Sem Ficar” (2012), retirado do EP “Que só o Amor me Estrague” (editado no ano seguinte), O Abominável lançou mãos à obra com vista à preparação das canções do seu primeiro álbum. E o trabalho desenvolvido pela banda portuense já deu frutos. Intitulado “Enteléquia”, o novo disco do grupo de rock alternativo, apresentado recentemente em formato digital, é um misto de influências, cujo processo de produção, captação e mistura foi desenvolvido no estúdio “O Silo”, contando com as participações de Elísio Donas (Ornatos Violeta), Maze (Dealema), Nelson Graf Reis (Blackjackers) e Francisco Rua. O trabalho de estreia da banda de João Losa, Rui Correia, Vítor Pinto, Leonardo Rocha e David Félix é descrito por Tiago Moreira (colaborador da Terrorizer, Roadie Crew e MUSIC&RIOTS) como “muito mais do que a soma das partes, neste caso as nove faixas que compõem o disco”. “Há um inegável efeito sinergético, resultado de uma encadeação engenhosamente planeada onde cada pormenor se assume como sendo imprescindível para alcançar o próximo passo e o tão esperado resultado final. Tal como a água a escorrer pelo corpo, a música d’O Abominável em Enteléquia tem a facilidade de se adaptar e transformar, movendo-se suavemente em movimentos progressivos e não circulatórios”, referiu. Às “guitarras sonhadoras, atmosféricas mas incisivas” junta-se “uma secção rítmica inteligente e bastante familiar com o conceito de dinamismo”, utilizando-o a seu bel-prazer. “A cereja no topo do bolo chega em forma de palavras com declarações tão inusitadas como ‘Não quero que a morte seja um favor’ ou ‘Lá em cima há quem nos queira chamar por cima de nós e bem por baixo de nós’”, acrescentou.

As “Cores” de Luís Represas no Coliseu em outubro O cantor e compositor português Luís Represas vai apresentar o seu mais recente trabalho, “Cores”, no Coliseu do Porto a 24 de outubro, num concerto intimista agendado para as 21h30. Em 37 anos de carreira, o fundador dos Trovante guarda na bagagem um repertório invejável, “uma História dentro de muitas estórias refletidas em discos, composições e canções, que se tornaram êxitos intemporais da música popular portuguesa”. Desde cedo rendido ao “bichinho” da música, Represas comprou a sua primeira guitarra com apenas 13 anos, revelando sinais daquilo que viria a ser a sua relação com o público. O preço dos bilhetes varia entre os 15 e os 30 euros.


NTOS, CURIOSIDADES

75

Paulo de Carvalho celebra 52 anos de canções Em plena fase de criatividade artística, Paulo de Carvalho tem encontro marcado com o público do Coliseu do Porto no dia 6 de novembro para um espetáculo especial, no qual celebrará, juntamente com a sua banda, 52 anos de canções. Inevitavelmente associado a temas como “E Depois do Adeus”, “Os Meninos do Huambo”, “10 Anos”, “Gostava de Vos Ver Aqui”, “O Meu Mundo Inteiro” e “Nini dos Meus 15 Anos”, o cantor, músico e compositor português é dono de um timbre único, conferindo a todas as suas criações um cunho próprio, que o leva a descobrir e a cruzar géneros e influências musicais. Os bilhetes para o concerto custam entre 18 e 25 euros.

“Sonic Highways”, dos Foo Fighters, editado a 10 de novembro O novo disco de originais do grupo norte-americano Foo Fighters, “Sonic Highways”, vai ser editado a 10 de novembro. O novo trabalho da banda liderada por Dave Grohl terá oito temas, cada um deles gravado numa cidade diferente dos Estados Unidos da América. Coproduzido por Butch Vig, responsável pela produção dos emblemáticos “Nevermind”, dos Nirvana, e “Gish”, dos Smashing Pumpkins, “Sonic Highways” terá uma edição especial com um documentário sobre a gravação do disco. Segundo adiantou a publicação inglesa New Musical Express, entre as novas canções estão “Congregation”, “In the Clear”, “I Am a River” ou “Something From Nothing”.

REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


P O R T O

D ´ A R T E

Ver, ouvir e ler

De energias renovadas, os equipamentos culturais portuenses têm uma mão cheia de surpresas preparadas até ao final do ano. A primeira grande exposição dedicada ao Serviço de Apoio Ambulatório Local, o Festival Internacional de Marionetas do Porto, uma mostra que desvenda as melhores imagens captadas através de dispositivos móveis e o lançamento de obras assinadas pela conhecida poetisa portuense Sophia de Mello Breyner são algumas das propostas a ter em conta nos próximos meses.

Entre os dias 9 de outubro e 11 de janeiro, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves vai mostrar à cidade do Porto “Shahroudy Farmanfarmaian: Infinita Possibilidade. Desenhos e Obras com Espelhos 1974-2014”, a primeira exposição antológica de obras geométricas com espelhos e desenhos da reputada artista iraniana Monir Shahroudy Farmanfarmaian. O certame centra-se na obra escultórica e gráfica de Monir ao longo de mais de quarenta anos de carreira. Ainda que a sua prática artística também se apresente sob a forma de pintura narrativa, é a abordagem distintiva à abstração geométrica “que melhor permite uma entrada cativante numa obra em que conceitos de repetição e de progressão, aliados às tradições estéticas da arquitetura e da decoração islâmicas, proporcionam, nas palavras da artista, uma ‘infinita possibilidade’”, destacou

Imagens: Serralves

SERRALVES: AS “INFINITAS POSSIBILIDADES” DA IRANIANA MONIR

Serralves. De referir ainda que as obras em exposição pertencem à coleção da própria artista, não sendo vistas publicamente desde os anos 70. A mostra inclui, assim, alguns dos seus primeiros relevos em espelho sobre gesso e madeira e uma série de obras geométricas com espelhos em grande escala que

fizeram parte de uma exposição organizada por Denise René nas suas galerias de Paris, em 1977, e Nova Iorque, no mesmo ano. A 31 de outubro, o museu portuense receberá a primeira grande exposição dedicada ao SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local), um projeto arquitetónico e político criado


EXPOSIÇÕES/ESPETÁCULOS

77

poucos meses depois do 25 de Abril de 1974. O certame integrará dez trabalhos que englobam maquetas, fotografias históricas, gravações sonoras, documentários e filmes de 8 e 16mm. Comissariada pelo curador independente Delfim Sardo, diretor artístico da Trienal de Arquitetura de Lisboa de 2010, a mostra também promove uma reflexão contemporânea sobre as repercussões do SAAL, incluindo uma série de encomendas fotográficas realizadas pelos fotógrafos André Cepeda, José Pedro Cortes e Daniel Malhão, que desvendam o estado atual de alguns dos projetos mais emblemáticos do Serviço de Apoio Ambulatório Local.

De 10 a 18 de outubro, o Teatro Nacional São João vai acolher a edição comemorativa dos 25 anos do Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP), com uma mão cheia de espetáculos, o primeiro deles em estreia absoluta. Pela ação do Teatro de Marionetas do Porto chegará, por exemplo, “Agapornis”, que desvia para a cena as fantasias eróticas das personagens femininas que habitam a obra de Anaïs Nin, autora de “Uma Espia na Casa do Amor” ou “A Casa do Incesto”. O certame incluirá também o espetáculo “Olo”, que nasce da demorada convivência de Igor Gandra

Polina Borisova

TNSJ: DAS MARIONETAS AO UNIVERSO DE SAMUEL BECKETT

com uma marioneta num espaço vazio. Entre 24 de outubro e 16 de novembro, o TNSJ voltará à peça “Ah, os dias felizes”, baseada na obra de Beckett e encenada por Nuno Carinhas, depois do sucesso que conquistou na temporada anterior. Entretanto, a 31 de outubro, o Mosteiro de São Bento da Vitória REVISTA VIVA,OUTUBRO 2014


D ´ A R T E

TUNA

P O R T O

reflete o encontro de vários povos de uma mesma cidade, “na construção de um mapa mais humano”. E de 7 a 16 de novembro, o universo Beckett volta a estar em evidência na cidade do Porto, com a estreia absoluta de “CAIXA 3 BOBINA 5

Patrícia Barbosa

receberá a estreia absoluta de “MAPA – O Jogo da Cartografia”, numa coprodução com o Serviço Educativo da Casa da Música e com o Espaço PELE. Tal como explica o equipamento cultural portuense, este é o ponto de chegada de um projeto que

– A Última Bobina de Beckett”. Neste espetáculo, o dramatugro Jorge Palinhos, a encenadora Ana Saltão e o ator Rui Oliveira partem de “A Última Gravação de Krapp”, encarada como um dos cumes do teatro essencial e cerimonial do dramaturgo irlandês, parafraseando-a, de forma a construirem uma peça de marionetas onde Beckett se reencontra com o seu passado. Por fim, de 28 a 30 de novembro, o TNSJ acolherá “Timber!”, performance colorida e enérgica, cujas façanhas remetem para os feitos dos primeiros lenhadores, madeireiros e agricultores da América do Norte. Quem tem medo de machados voadores?

Imagem vencedora do MIRA Mobile Prize 2014, da autoria de Janine Graf.

PARA VER NO MIRA FORUM De terça a sábado, das 15h00 às 19h00 Entrada livre

Até ao dia 1 de novembro, a galeria MIRA, situada no número 155 da Rua de Miraflor, em Campanhã, vai mostrar ao público as 50 imagens vencedoras do prémio internacional MIRA Mobile Prize. Trata-se de um concurso

organizado pelo espaço cultural portuense que visa eleger a melhor imagem captada e editada por dispositivos móveis (smartphones ou tablets) subordinada ao tema “As festas”, numa lógica de que não há cultura sem festas públicas, privadas, íntimas, e sem momentos de celebração, associados à alegria, ao júbilo, à contemplação. A seleção das propostas foi efetuada por um júri

constituído por doze reputados artistas de vários países. A fotógrafa americana Janine Graf foi a grande vencedora desta edição do prémio. OUTROS ARTISTAS PRESENTES NA EXPOSIÇÃO COLETIVA: Andrea Bigiarini; Andrew Lucchesi; Arjan; Barbara duBois; Brett Chenoweth; Cedric Blanchon; Cindy Buske; Connie Rosenthal;


EXPOSIÇÕES/ESPETÁCULOS

79

José Vaz e Silva

David-de-Franceschi; Dixon Hamby; Dohmen Maktub; Eloise Capet; Emanuel Faria; Fabio D’Andrea; Giancarlo Beltrame; Gina Costa; Hans Borghorst; Jessika Johansson; Joanne Carter; Karen Divine; Lee Atwell; Luísa Sequeira; Marian Rubin; MaryJane Sarvis; Maurizio Zanetti; Michelle Robinson; Melissa Jane Harrison; Neil Atkinson; Nettie Edwards; Pamela H. Viola; Robin Pope; Roger Guetta e Sarah Jarrett.

NAVEGAR PELA OBRA DE SOPHIA DE MELLO BREYNER

“Geografia” é o oitavo livro de poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen, publicado pela primeira vez em 1967, pelas Edições Ática. Segundo descreveu Frederico Lourenço, no prefácio da edição agora avançada pela Assírio&Alvim, trata-se de um livro no qual “se encontram alguns dos momentos mais extraordinários de toda a história da poesia em língua portuguesa”. “Digo mais,

‘Geografia’ contém enunciados poéticos que disputam com famosos versos de Virgílio, de Racine e de Keats, a palma do verso mais belo da literatura universal”, acrescentou. Publicado pela primeira vez em 1972, “Dual” retoma a admiração da autora portuense pelo mar, um tema muito frequente na sua obra. Os poemas do livro (editado em outubro) evocam uma luta dramática contra a

injustiça, opondo a um real turvo e opaco um outro, idealizado como um espaço claro e transparente. Nascida a 6 de novembro de 1919, na cidade do Porto, Sophia foi uma das maiores poetas de língua portuguesa e recebeu, entre outros, o Prémio Camões 1999, o Prémio Poesia Max Jacob 2001 e o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana. REVISTA VIVA,OUTUBRO 2014


M E T R O P O L I S

Em movimento A inauguração do centro de produção da Unicer e do novo edifício do CEIIA são alguns dos destaques do município de Matosinhos, “território que se revela cada vez mais atrativo para as empresas”. Texto: Mariana Albuquerque


81

Unicer

M ATOSI N H OS

Novas instalações do CEIIA, em Matosinhos

UM CONCELHO “A EXPLODIR DE INICIATIAVAS”

A par da criação do espaço “Quadra - Incubadora de Design”, no Mercado Municipal, e da aposta no Centro de Inovação (CIM), media parque situado no antigo matadouro, Matosinhos tem sido palco de importantes intervenções destinadas a assinalar o regresso do município às atividades produtivas. A prová-lo está a recente inauguração do novo centro da Unicer e a conclusão do novo edifício do CEIIA (Centro para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel), que deverá estar em pleno funcionamento em outubro. “São estruturas que, para além de valorizarem o território, contribuem, sobretudo no caso do CEIIA, para a criação de postos de trabalho”, realçou Eduardo Pinheiro, vice-presidente da autarquia, defendendo que a crescente capacidade de

atracão de empresas ao concelho é a prova de que as políticas traçadas pela câmara estão a gerar frutos. Com a altura de um prédio de dez andares, o novo armazém robotizado da Unicer (situado na Via Norte), tem capacidade para movimentar mais de 12 mil paletes por dia e armazenar mais de 40 mil, representando a última fase do investimento de 100 milhões de euros que a maior empresa portuguesa de bebidas refrescantes concretizou naquele espaço. Graças ao aumento da capacidade produtiva na fábrica de Leça do Balio, concluído no ano passado, é possível produzir, atualmente, 450 milhões de litros de cerveja anuais. Aumentar a competitividade e eficiência (com ganhos operacionais de 18 milhões por ano), melhorar a sustentabilidade (ambiental e económica) e gerar REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


M E T R O P O L I S

EXPLORAR AS POTENCIALIDADES DO MAR, DAS PRAIAS E DO SENHOR DE MATOSINHOS

crescimento foram os motivos que estiveram na origem do grande investimento da Unicer em Matosinhos. Aliás, a empresa e a autarquia firmaram, recentemente, um protocolo, no valor de 100 mil euros, com vista à concretização de diversos projetos de âmbito cultural, desportivo, educativo, recreativo e de lazer. Em destaque está também a entrada em funcionamento do edifício que servirá de base tecnológica do cluster aeronáutico nacional. A nova infraestrutura do CEIIA (que manterá as instalações da Maia) apresenta uma área de 14 mil metros quadrados e está preparada, de raiz, para responder às especificidades do trabalho em setores de alta-tecnologia, como o aeronáutico. As instalações de Matosinhos foram, por isso, idealizadas a pensar no processo de desenvolvimento aeronáutico, desde a fase de engenharia até ao fabrico, teste e certificação de aeroestruturas de grandes dimensões. Em declarações à Viva, Helena Silva, diretora-geral do CEIIA, sublinhou que a aposta neste centro de investigação e engenharia resulta na “atração de mais e melhores projetos para Portugal, possibilitando, por um lado, o envolvimento das empresas nacionais nas cadeias de fornecimento dos grandes construtores e, por outro, o desenvolvimento de uma base de engenharia altamente qualificada composta por engenheiros portugueses, desde os recém-formados até aos mais experientes que já participaram em grandes programas de desenvolvimento internacionais nestas áreas”.

E numa altura em que, segundo defendeu o presidente da autarquia de Matosinhos, Guilherme Pinto, o essencial no município “já está feito”, a câmara encomendou um estudo de notoriedade destinado a conhecer a perceção que os cidadãos têm do concelho. O desafio lançado aos 1617 inquiridos do Grande Porto, da Grande Lisboa, dos distritos de Braga e de Vila Real e da Galiza foi, assim, o de refletirem sobre os aspetos que mais distinguem Matosinhos, sendo que as praias, o mar, o peixe e a tão apreciada festa do Senhor de Matosinhos continuam a ser os principais cartõesde-visita. “Se relativamente ao mar e às praias os resultados não nos surpreenderam, os dados

relativos às festas foram uma agradável surpresa”, reconheceu Eduardo Pinheiro. A gastronomia, com especial destaque para o peixe (ou não fosse Matosinhos um concelho associado ao slogan “World´s Best Fish” - Melhor Peixe do Mundo), o desenvolvimento e o crescimento organizado foram outros elementos mencionados. Na sequência das conclusões da análise efetuada pela empresa DOMP, a autarquia já reconheceu a intenção de reforçar a aposta no Senhor de Matosinhos, nomeadamente no que diz respeito ao turismo. Assim, segundo explicou, em comunicado, a estratégia poderá passar pela criação de uma associação com os municípios que veneram imagens semelhantes, “atribuídas ao fariseu de São Nicodemos (segundo a lenda, o apóstolo teria esculpido 15 imagens semelhantes depois de ter assistido aos últimos momentos da vida de Jesus Cristo; uma das imagens estará na Igreja do Bom Jesus de Matosinhos, construída especialmente


83

Fotos: Francisco Teixeira (CMM)

M ATOSI N H OS

para acolhê-la)”. Além disso, o município pondera ainda apostar numa aliança com as várias cidades brasileiras onde se presta culto ao Senhor de Matosinhos. A importância atribuída pelos portugueses ao mar e às praias é, para a autarquia, o reconhecimento de um “investimento considerável” na requalificação da orla marítima. “Bastará recordar que as marginais de Matosinhos e Leça da Palmeira foram desenhadas por Souto Moura e Álvaro Siza, os dois prémios Pritzker portugueses”, realçou a câmara, na mesma nota de imprensa, adiantando que 78% dos entrevistados de Vila Real, 41% dos lisboetas e 50% dos galegos já se deslocaram às praias do concelho. A Praia da Boa Nova está entre as preferidas dos habitantes da Grande Lisboa, o que parece estar associado à visibilidade da Casa de Chá ali existente, onde funciona o novo restaurante do Chef Rui Paula. A manutenção da aposta na conservação do património arquitetónico é outro compromisso assumido pela Câmara de Matosinhos no âmbito do estudo, “até porque o Mosteiro de Leça do Balio, as quintas de Santiago e da Conceição e a Piscina das Marés surgem claramente destacadas como locais que os entrevistados gostariam de conhecer”.

À DESCOBERTA DOS “15 TESOUROS DA HISTÓRIA DE MATOSINHOS” Para assinalar os cinco séculos do Foral atribuído pelo rei D. Manuel I a Matosinhos, em 1514, a Galeria Nave, situada no edifício da autarquia, será, nos próximos tempos, uma verdadeira máquina do tempo, graças à exposição “15 Tesouros da História de Matosinhos”. A mostra, que integra quinze objetos representativos de diferentes épocas, tem como elemento central o Foral de 1514, peça que, apesar de pertencer ao espólio da Biblioteca Pública Municipal do Porto, pode, pela primeira vez, ser apreciada na cidade a que deu origem. Vasos pintados do período da Idade dos Metais e da romanização, uma placa funerária de bronze do Mosteiro de Leça do Balio e a chave do cofre do Obelisco da Memória (que remete para o desembarque dos liberais no século XIX) são algumas das surpresas reveladas na exposição. Além disso, a iniciativa dedica também uma galeria a matosinhenses notáveis, de frei Esteves Vasques Pimentel, responsável pela construção do Mosteiro de Leça do Balio, a Florbela Espanca. REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


M E T R O P O L I S

Apostar

na diferença As salas de aula já voltaram a encher-se de alunos e, este ano, a Câmara de Gaia apostou numa mão cheia de estratégias destinadas a facilitar a vida das famílias. As escolas públicas passaram, assim, a estar em funcionamento das 7h30 às 19h30, num reforço das Atividades Extracurriculares e do serviço de apoio familiar, e a proporcionar aos mais novos um primeiro contacto com disciplinas e atividades lúdicas diferentes, nomeadamente Francês, Natação, Xadrez, Expressão Dramática e Karaté. A experiência, atualmente em fase de teste, poderá, no futuro, ser alargada a um maior número de alunos. Texto: Mariana Albuquerque Fotos: Rui Oliveira

GAIA JÁ “APRENDE MAIS”

A pensar nas dificuldades que muitas famílias sentem na compatibilização dos seus horários laborais com os das escolas, o município de Vila Nova de Gaia idealizou uma estratégia que permite aos pais respirarem de alívio no início deste ano letivo. Com o arranque do novo ano escolar, as 120 escolas primárias públicas do concelho passaram a estar abertas entre as 7h30 e as 19h30, permanecendo em funcionamento com diversas atividades nas interrupções letivas e nas férias de verão. O programa dinamizado pela autarquia, denominado “Gaia Aprende Mais”, abrange dez mil alunos do pré-escolar e do 1.º

ciclo. Ainda assim, segundo referiu o presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, se o projeto tiver o sucesso esperado poderá, posteriormente, ser alargado ao 2.º ciclo. Ao abrigo do novo programa, os pais podem deixar os seus filhos na Componente de Apoio à Família (CAF) entre as 7h30 e as 9h00. Após o horário letivo, as crianças continuam a ter direito a 45 minutos de Atividades Extracurriculares (AEC) gratuitas. Neste período, há Desporto, Música e Inglês e mais duas atividades, entre Ciência Viva, Literacia Infantil, Capoeira, Francês, Expressão Dramática, Educação Cívica e Património Local, Prevenção Rodoviária e Artes Plásticas, definidas


GA I A

pelo Agrupamento de Escolas. Nas horas da CAF (comparticipada pelos pais), tal como explicou Vítor Rodrigues, existe espaço para apoio ao estudo (duas vezes por semana), onde pode ser incluída a preparação para os exames nacionais ou a conclusão de trabalhos; e um período para a realização de trabalhos de casa (duas vezes por semana, alternada com o apoio ao estudo), além de atividades culturais e desportivas. Neste período, está contemplado um reforço alimentar com a introdução da fruta escolar. No ensino pré-escolar, as Atividades de Animação e Apoio à Família (AAAF) funcionam das 7h30 às 9h00 com a receção das crianças e, depois, das 15h30 às

85

19h30, ora na modalidade gratuita, com atividades enquadradas por monitores contratualizados pelo município, ora na modalidade comparticipada, que permite a estas crianças beneficiarem de algumas horas com atividades lúdico-desportivas. O “Gaia Aprende Mais” (que tem um orçamento total de 5,4 milhões de euros: 3 milhões provenientes dos cofres municipais, 1,5 milhões do Ministério da Educação e 900 mil comparticipados pelos pais) pretende, assim, sublinhou o autarca gaiense, “dar resposta a uma necessidade das famílias mas sobretudo das crianças”, através do reforço da sua aprendizagem. A prová-lo estão as novas disciplinas e atividades colocadas à disposição REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


M E T R O P O L I S

OFERTA DE MANUAIS ESCOLARES REFORÇADA No regresso às aulas, a Câmara de Gaia continuou ainda a apostar na oferta de manuais escolares aos alunos das Escolas Básicas do 1º Ciclo do Concelho. O apoio chegou ainda ao 2.º ciclo dos estabelecimentos públicos, com a disponibilização dos livros de Língua Portuguesa e História e Geografia de Portugal. Neste caso, a oferta não cobriu a totalidade das disciplinas do 2º ciclo, por incapacidade financeira do município. No total, a autarquia de Vila Nova de Gaia investiu 830 mil euros, beneficiando mais de 17 mil estudantes. Segundo explicou Eduardo Vítor Rodrigues, oferecer os restantes manuais aos 5.º e 6.º anos significaria “um esforço adicional de 700 mil euros”. Mas os alunos que, por alguma razão, já tinham os três livros, herdados de familiares ou de amigos, usufruíram do apoio noutras disciplinas. Para o presidente da autarquia gaiense, a manutenção da medida é fundamental para aliviar um pouco o peso do início do ano letivo no orçamento familiar da classe média, “que tem sido muito sacrificada”. “Está numa situação em que paga tudo e nada recebe. Se, uma vez por ano, tiver uma ajuda, não é muito”, constatou o socialista. De sublinhar ainda que os oitocentos alunos com necessidades educativas especiais receberam um cheque-oferta de igual valor dos livros, para a compra de algum material especifico necessário para as aulas. dos alunos no período da CAF, nomeadamente Francês, Voleibol e Judo. E para apoiar outro tipo de habitantes de Gaia – os de quatro patas – a autarquia está também a tentar sensibilizar a comunidade para a importância do não-abandono e da adoção de animais, prevendo investir nas instalações do Centro de Reabilitação Animal (CRA) do município. Entre os meses de maio e junho deste ano, foram entregues e capturados cerca de cem animais que aguardam, agora, por novas famílias. O trabalho desenvolvido no CRA consiste, assim, na recuperação física e comportamental destes pacientes especiais, para que possam ser adotados já em plenas condições de saúde. Quando uma família decide acolher algum membro do centro, a entidade faz o acompanhamento de todo o processo, nas primeiras semanas de adoção, de modo a assegurar-se de que tudo está a correr

Foto: CM Gaia

PELA DEFESA DOS ANIMAIS



M E T R O P O L I S

dentro da normalidade. Ainda assim, até que esse passo seja dado, os animais podem ter de passar vários meses com os tratadores e veterinários. De acordo com António Dias, chefe da Divisão Municipal de Higiene Pública, nos últimos três anos, foram adotados ou restituídos às respetivas famílias 50% dos animais que deram entrada no centro, inaugurado em 2009 pelo anterior executivo. Atualmente, as instalações do CRA (com dois pavilhões, 38 jaulas para cães e um espaço para gatos) estão a revelar-se pequenas para o trabalho que os responsáveis pretendem desenvolver com os animais. Para além da falta de celas, o espaço carece de uma zona lúdica mais ampla onde os moradores de quatro patas possam circular livremente e onde seja possível fazer determinado tipo de treino. Assim, para dar resposta às necessidades destes bichinhos, a Câmara de Gaia prepara-se para avançar com a criação de uma nova solução – a Plataforma

de Acolhimento e Tratamento Animal (PATA), dependente da atribuição de verbas comunitárias. A intenção do executivo com este projeto será a de apostar não só na vertente de centro animal, mas também na componente educativa, através de ações de sensibilização sobre animais de estimação e sobre a importância de dizer não ao abandono. Entretanto, enquanto o espaço PATA não ganha forma, a autarquia gaiense está a promover uma campanha de consciencialização, tanto na sua página oficial da Internet como numa rede social, com vista a alertar os cidadãos para o respeito pelo seu companheiro de quatro patas. “Não o abandone porque ele nunca o faria”, recorda. E para incentivar a adoção de animais, o Centro de Reabilitação Animal estará excecionalmente aberto no dia 11 de outubro (sábado), para receber as pessoas que estiverem interessadas em conhecer os seus habitantes.



M E T R O P O L I S

Preparar o futuro Depois de uma fase de uniformização contratual e de reconhecimento das mais-valias do território, a União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde já está concentrada nos projetos de futuro, nomeadamente na requalificação do Mercado da Foz, que terá uma nova vida, na construção de um novo lar da terceira idade e na criação de dois parques infantis. Texto: Mariana Albuquerque Fotos: João Figueiredo


U F AL DOAR , FOZ DO D OU R O E N EVO G I LD E

N

um momento de balanço da ação desempenhada ao longo do primeiro ano de mandato, o presidente da União das Freguesias (UF) de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, Nuno Ortigão, é perentório: se as eleições estivessem agendadas para hoje não hesitaria em candidatar-se novamente. Após doze meses de um trabalho assente, sobretudo, na uniformização em termos de gestão contratual e de recursos humanos e no conhecimento da realidade das três antigas freguesias, agora unidas, é com a sensação de dever cumprido

que o autarca considera que, já com “a casa arrumada”, vai ser possível, nos próximos tempos, começar a concretizar os projetos pensados para a união das freguesias. “Tem sido gratificante. Além desta uniformização tivemos de manter aquilo que se fazia nas juntas e conseguimos cumprir todos esses objetivos, o que para nós foi muito bom”, realçou, frisando com especial orgulho o investimento efetuado em todo o processo de preparação das Festas de São Bartolomeu, da Foz do Douro, que pintaram a cidade de cor e de alegria. O tradicional Cortejo do Trajo do Papel – que contou, pela

91

primeira vez, com a presença do presidente da autarquia portuense – foi o momento alto da celebração, apresentando aos portuenses os trajes em papel concebidos por diversas associações e coletividades da freguesia e terminando com o ritual do banho santo no mar. Ainda assim, segundo recordou Nuno Ortigão – eleito pela lista independente Rui Moreira: Porto O Nosso Partido – foi necessário centrar atenções em tarefas com efeitos menos visíveis para os cidadãos, mas fundamentais em termos de organização e de liderança de uma união de freguesias. “Aos poucos, tivemos de descobrir que tipos de contratos existiam”, contou o autarca, sublinhando que as realidades encontradas em cada uma das três juntas extintas foram “muito diferentes”. Seguiu-se um trabalho de reconhecimento do território, através do qual foi possível identificar as singularidades da UF de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, que conta com três cemitérios, três balneários assegurados, em acordo com a APDL (Administração dos Portos do Douro e Leixões) e as Águas do Porto, na praia do Molhe, a gestão do Mercado da REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


M E T R O P O L I S

Foz, o Teatro da Vilarinha e a concessão do Molhe. “Ao longo deste ano, tentámos perceber a situação e o que se fazia nas antigas juntas para que possamos fazer melhor”, afirmou o autarca, destacando que entre as surpresas “desagradáveis” que a equipa encontrou estão a situação do ATL de Aldoar (que estava ameaçado na sequência do corte de verbas atribuídas pela Segurança Social e cujo financiamento já foi assegurado por mais um ano); a renovação da concessão do Molhe por mais 30 anos (concretizada a poucos dias das eleições) e uma dívida de água referente ao Mercado da Foz. Para além de identificar os principais problemas a resolver, a nova equipa também já começou a cumprir alguns dos seus objetivos traçados inicialmente: animou a Praça de Liége com o Mercado Porto Belo e iniciou um conjunto de trabalhos de recuperação do Mercado da Foz (que, durante o verão, foi já palco de inúmeras ações musicais) e que vai continuar a ser alvo de uma “revolução”, nomeadamente com a reformulação da primeira

loja do espaço (que é o seu cartão-de-visita). E de acordo com Nuno Ortigão, há outras metas bem delineadas para o futuro: continuar a investir nas Festas de São Bartolomeu, “que são únicas no país”, fazer com que o São João regresse à Foz “com a força que tinha”, apostar num “bom São Martinho” em Aldoar - com uma programação mais abrangente - lançar as bases para um novo lar da terceira idade (em Nevogilde ou na Foz) e criar dois parques infantis, um na Foz e outro em Aldoar. De referir que, a partir de 31 de outubro, o atendimento ao público de Nevogilde passará a ser feito nos pólos da Foz e de Aldoar, dada a fraca procura das instalações da extinta junta.

“INVESTIR ESSENCIALMENTE NAS PESSOAS”

A prioridade para os próximos tempos é, assim, a de apoiar os cidadãos. “Temos o património que herdámos intacto, temos vindo a aumentá-lo e, por isso, agora que ‘arrumámos a casa’, podemos começar a investir nas pessoas”, referiu o presidente da união das freguesias, frisando

até que a negociação efetuada no âmbito da primeira Feira do Livro do Molhe já cumpriu essa função. Com efeito, na sequência de um acordo estabelecido entre a UF de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde e a Calendário de Letras (entidade organizadora do certame literário, realizado entre os dias 17 de julho e 24 de agosto), definiu-se que a receita apurada no evento reverteria a favor dos Pauliteiros de Nevogilde e do Centro Social Paroquial São Miguel de Nevogilde. “Queremos que estas iniciativas apoiem as coletividades e, sobretudo, as paróquias porque entendemos que são as que mais facilmente conseguem chegar às pessoas que precisam”, defendeu Nuno Ortigão. A entrega dos donativos recolhidos durante a Feira do Livro foi realizada no passado dia 9 de setembro, numa cerimónia presidida pelo autarca e que contou com a presença de Francisco Curralo, da Calendário de Letras, Joaquim Cunha, representante dos Pauliteiros de Nevogilde, e do padre Manuel Valente, do Centro Social Paroquial São Miguel de Nevogilde. A cada uma das instituições foi entregue uma verba de 1602 euros, que, “numa


U F AL DOAR , FOZ DO D OU R O E N EVO G I LD E

93

altura difícil, em que o país está a sair de um enquadramento económico desfavorável”, se revela “essencial para apoiar a atividade das coletividades que prestam um importante serviço comunitário”.

ALP: HÁ 27 ANOS A ZELAR PELO DESENVOLVIMENTO HUMANO

Segundo defendeu Nuno Ortigão, o trabalho desempenhado pelas coletividades da união das freguesias é de uma importância inegável. Uma delas, a Associação de Ludotecas do Porto, funciona há já 27 anos, com a missão de contribuir para o desenvolvimento das crianças, jovens e famílias na defesa e promoção dos seus direitos, numa vertente social, lúdica e comunitária. Com sede na Rua Alcaide Faria, em Aldoar, a IPSS possui várias áreas de intervenção, funcionando como Centro Comunitário (onde funcionam a Ludoteca “Oficina de Animação”, para crianças entre os 6 e os 14 anos, o Centro de Inclusão Digital, destinado a crianças, jovens e adultos que queiram aprender a lidar com as novas tecnologias, um Grupo de Jovens e um Gabinete de Apoio

às Famílias) e distinguindo-se na Consultadoria e Formação (sobre a temática do lúdico) e na organização de animações em espaços públicos da cidade. A entidade dispõe ainda do Centro Lúdico de Imagem Animada (CLIA), a funcionar, atualmente, na Ribeira do Porto. Em declarações à Viva, Dulce Guimarães, presidente da associação, reconheceu que o balanço da atividade da ALP “é positivo”. “Os projetos educativos da instituição sempre foram pensados em função do público com quem se trabalha e promovendo o lúdico como fator de desenvolvimento humano. A constante adequação do trabalho e avaliação do mesmo determinou o sucesso da intervenção da ALP que, apesar dos contratempos que foram surgindo, se mantém em crescimento e com uma intervenção bastante sólida”, referiu. Uma das grandes conquistas da IPSS prende-se, reconheceu, “com a sensibilização da população

com quem se trabalha para a importância da atividade lúdica no desenvolvimento humano”. E apesar dos constrangimentos financeiros que a maioria das IPSS’s tem vivido, é com satisfação que a ALP vê assegurado o seu trabalho enquanto Centro Comunitário, apesar de reconhecer que, “se houvesse uma maior margem, poderiam criar-se mais respostas e chegar a mais públicos”. Ainda assim, os responsáveis da Associação de Ludotecas d o Po r t o n ã o t e n c i o n a m baixar os braços. É por isso que as metas para o futuro já estão plenamente traçadas. A mudança da valência CLIA_ ANILUPA para o espaço físico cedido pela autarquia é uma das ambições da associação, que pretende ainda continuar a lutar para conseguir recolocar em funcionamento o espaço de interação mãe/bebé que esteve em exercício no período em que a ALP coordenou o Contrato Local de Desenvolvimento Social de Aldoar. REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


M E T R O P O L I S

Primeiro ano de mandato em balanço A criação do Orfeão de Paranhos, a adesão ao Movimento “Zero Desperdício” (destinado a combater o desperdício alimentar e a ajudar os cidadãos em dificuldades) e a criação da valência de ATL em mais três escolas primárias da freguesia foram alguns dos objetivos concretizados em Paranhos, nos últimos tempos. Texto: Mariana Albuquerque Fotos: JFParanhos

Um ano depois de ter iniciado o seu segundo mandato na Junta de Freguesia de Paranhos, Alberto Machado mantém o programa eleitoral traçado inicialmente bem presente no dia a dia do Executivo, de forma a assegurar total empenhamento no cumprimento das metas definidas para o mandato. De acordo com o autarca, fazendo o balanço dos últimos doze meses de trabalho, há diversas propostas do manifesto eleitoral já concretizadas e outras em fase de realização. Entre os objetivos cumpridos está, por exemplo, a criação de um Orfeão, que já se apresentou à freguesia, com a atuação inaugural. Constituído por cerca de 30 paranhenses, o grupo é dirigido pelo maestro Sérgio Martins. Na lista de prioridades da junta está um projeto de combate ao desperdício alimentar, assente na criação de um serviço de take-away. Segundo explicou Alberto Machado, trata-se de uma iniciativa já

implementada em Lisboa, Cascais, Sintra e Loures, cidades que decidiram aderir ao movimento “Zero Desperdício”, voltado para o aproveitamento das refeições confecionadas em restaurantes e outras instituições que não chegam a ser utilizadas. Neste momento, Paranhos também já é uma freguesia “Zero Desperdício”, estando a reunir parceiros com vista ao arranque do serviço. De referir que o movimento a que a junta aderiu tem como promotor a Associação Dariacordar, parceira da ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica). “Até há pouco tempo, os restaurantes deitavam ao lixo a comida que não era servida. Neste momento, fruto do trabalho da Associação Dariacordar, a ASAE reinterpretou a lei e colocou a sua atuação num patamar diferente, permitindo que a comida que não chega às mesas possa ser utilizada, desde que cumpra todas as condições de higiene e segurança alimentar”, esclareceu Alberto Machado. “Tem de ser acondicionada no transporte e tratada, depois, na divisão em refeições individuais por pessoas habilitadas, de forma a evitar riscos de contaminação”, acrescentou, realçando que, até ao momento, o projeto já recolheu mais de um milhão de refeições, naqueles quatro concelhos. A Junta de Paranhos já contactou as cantinas escolares e a Universidade do Porto, estando a ultimar o lançamento do take-away, serviço que, “para os cidadãos em dificuldades, revelar-se-á muito menos melindroso do que o recurso a uma cantina social”.


PA RA N H OS

Em execução está também a obra de construção do crematório de Paranhos, inserido num projeto maior – o do Tanatório da Freguesia – que teve de ser adiado, por questões orçamentais. Já concretizada está também a parceria com a PSP – Esquadra do Bom Pastor, no âmbito das iniciativas “Idosos em Segurança” e “Comércio Seguro”, nas quais é possível aos agentes associados a estes projetos terem um telemóvel disponível com um número público de acesso facilitado aos seus beneficiários. De salientar igualmente o trabalho de sensibilização efetuado junto da Câmara do Porto com vista à criação de um parque infantil/zona verde na Areosa, projeto pelo qual a Junta de Freguesia vem lutando desde 2009.

METADE DAS ESCOLAS PRIMÁRIAS COM HORÁRIO ALARGADO

Ainda no âmbito da concretização dos objetivos definidos no programa eleitoral, a Junta de Paranhos conseguiu, já este ano letivo, ter metade das suas escolas primárias a funcionar em horário de pontas. “No mandato anterior, abrimos um ATL de pontas na EB1 do Bom Pastor e, atualmente, estendemos o projeto a mais três escolas: EB1 do Covelo, EB1 de Augusto Lessa e EB1 de Costa Cabral”, informou Alberto Machado, acrescentando que as referidas valências funcionam das 8h00 às 19h30 em período de pausas letivas e ainda das

95

8h00 às 9h00 e das 17h30 às 19h30 em período letivo. Se o projeto correr como esperado, a junta pretende alargá-lo aos restantes estabelecimentos de ensino básico. Outras preocupações demonstradas por Alberto Machado foram a de manter o Pelouro da Ação Social sobre a sua alçada, de modo a reforçar o cuidado a ter com os mais carenciados com o “peso institucional” do cargo do presidente, a de apostar na atribuição de um prémio anual aos melhores alunos da freguesia e a de manter a articulação com o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), que vai reabilitar dois bairros de Paranhos, nos próximos três anos. Segundo frisou o autarca, o trabalho desenvolvido ao longo dos últimos meses visa demonstrar “que é possível cumprir aquilo que se promete, tendo conhecimento da situação real da junta e da própria freguesia”. “É por isso que a nossa prioridade sempre foi a de dizer a verdade às pessoas, explicando-lhes o que se passa em Paranhos e alertando-as para os nossos constrangimentos financeiros”, afirmou, reconhecendo que a freguesia teve de se adequar aos sucessivos cortes de orçamento enfrentados nos últimos tempos. “Trabalhamos para servir a população e cumprir os nossos compromissos eleitorais dentro do quadro financeiro que temos, procurando sempre uma forma de encontrar soluções boas e adequadas aos interesses da freguesia e das populações”, concluiu. REVISTA VIVA, OUTUBRO 2014


H U M O R

Carneiro

Touro

21/03 a 20/04

21/04 a 20/05

Gémeos 21/05 a 20/06

Escreva até 3109, em numeração romana, num caderno pautado. Beba sumo de beringela com pouco gelo e cante uma música do Toy no duche, enquanto lava as orelhas.

Sente-se na rua, com uma boina aos pés, usando calções aos quadrados, suspensórios, meias brancas e sandálias e coloque as moedas que receber num parquímetro à escolha.

Use bastante laca no cabelo e faça um penteado arrojado. Coma mais milho e vá a um parque aquático de sunga lilás.

Caranguejo

Leão

Virgem

21/06 a 22/07

23/07 a 22/08

23/08 a 22/09

Adote um hamster e batize-o de Carlinhos. Durma com ele e lave-lhe os dentes com uma mistura de óleo vegetal, fermento e canela, todos os dias pares.

Faça rasgões numas calças de ganga e entre na moda. Às quatro da manhã, bata com tachos e panelas na sala até alguém aplaudir. Peça palitos num restaurante de fastfood.

No dia 18 de outubro saia de casa com dois guarda-chuvas. Adquira 53 saquinhos de rebuçados de cereja e desentupa o lavatório da casa de banho.

Balança

Escorpião

Sagitário

23/09 a 22/10 Jogue três paciências todas as manhãs. À tarde, opte por correr descalço em paralelo enquanto procura trevos de quatro folhas.

23/10 a 21/11 Vá ao circo. Escreva uma carta ao Pai Natal a pedir cigarros de mentol e envie por correio azul. Abuse do picante e leia mais revistas cor-de-rosa.

22/11 a 21/12 Desligue o frigorífico antes de dormir. Assista a todas as telenovelas que conseguir enquanto se delicia com um batido de figo, abóbora e repolho.

Capricórnio

Aquário

22/12 a 19/01

20/01 a 18/02

Peixes 19/02 a 20/03

Aprenda a tocar flauta só com uma mão. Tire todas as senhas da secção charcutaria do supermercado mais próximo de sua casa e, quando chamarem pelo último número que tem, peça duas galinhas vivas.

Acenda e apague as luzes do quarto dezassete vezes antes de se deitar. Abra a lista telefónica, marque um número à sorte e diga “Hoje não me chames André”.

Passe o dia todo a mentir. Vá à padaria e peça noventa e nove pães, seis rissóis de camarão e dois palmiers. Compre uns óculos para ver ao longe.


PUB


C R Ó N I C A

Deixe o seu comentário em www.viva-porto.pt

João Seabra Humorista

Sempre que passo na Avenida Fernão de Magalhães, já quase a chegar à Areosa, revejo a minha escola primária, não consigo visualizar bem os meus tempos de escola, parece que vejo tudo enublado, não é que me tenha esquecido, era nevoeiro mesmo, entrávamos na sala e estava ali a professora a bater com os apagadores. Aquilo fazia ficar tanto giz no ar que quando respirávamos, ficávamos com tectos falsos de placas de pladur no céu-da-boca e estalactites calcárias nas fossas nasais. Mas tinha a parte boa, todas as crianças tinham os ossos fortes, cheios de cálcio… A escola antes era diferente, a coisa mais tecnológica que tínhamos na sala de aula era o quadro de ardósia! O quadro era uma maravilha, porque dava para escrever e… apagar! E escrever outra vez! A melhor prenda que os pais naquela altura podiam dar a uma criança no natal era um quadro de ardósia e uns paus de giz. Lá ficávamos nós a olhar para o quadro e a escrever… e a apagar… e a escrever… e a apagar… horas e horas sossegadinhos. As crianças de agora não sabem o que isso é. Não sabem qual era o barulho que fazia quando raspávamos as unhas no quadro! Estamos no tempo das consolas. Naquele tempo não havia consolas, a nossa consola era a caneta bic, dava para tudo, coçar os ouvidos, chupa-chupa, roer a tampa, atirar grãos de arroz, pedacinhos de casca de laranja… de vez em quando a carga arrebentava e lá ia um de nós com a língua azul, com aquele gosto a tinta azul cheia de chumbo e a bata toda borrada. Ainda me lembro do choque tecnológico que foi quando um dos colegas da turma chegou à escola todo orgulhoso com um relógio digital! Um Casio, com 3 botões, se carregássemos nos botões, um dava luz, o outro a data e o outro… não fazia nada era só para enfeitar. A partir desse dia ele ficou o meu maior amigo, todos nós queríamos

ser amigos do rapaz do relógio digital. Só deixou de ser o meu maior amigo quando, passado uns tempos, chegou outro colega da turma com um relógio digital e… com maquina de calcular! Naquele tempo todos nós precisávamos de um relógio porque parecia que o Universo tinha duas velocidades, eu tenho quase a certeza que naquela altura havia duas velocidades temporais. Lembro-me que quando estávamos no intervalo das aulas, tudo à nossa volta parecia um episódio do Benny Hill, tudo passava muito rápido, eram 3 segundos para comer, 5 segundos para jogar futebol e 2 segundos para ir à casa de banho e já tinham passado 15 minutos. Pelo contrário, quando entrávamos na sala de aula, todo o nosso universo ficava a 18 rotações e o que parecia demorar 3 horas eram apenas 2 minutos. Eu gostava da escola e a parte que eu mais gostava era quando faltavam 5 minutos para acabar e começávamos a arrumar o estojo e os cadernos, que felicidade! Felicidade essa muitas vezes desfeita quando a professora, a 15 segundos do final da aula, dizia: - Ah! Já quase que me esquecia de vos dar os trabalhos de casa. Ahhhhhh que dor! Foi quase! Pior do que isto, só mesmo quando, a 15 segundos do fim da aula, o nosso coleguinha da carteira do lado, de cabelo lambido e óculos de fundo de garrafa, dizia: - Professora… hoje não há trabalhos de casa? Ahhhhhh! *Este texto não foi escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico


Santander Totta, o seu Banco de Confiança • A Fitch melhorou o rating do Banco Santander Totta para BBB, tendo também alterado o outlook para positivo, reforçando assim a posição do Banco no sistema financeiro português. • O Banco Santander Totta foi, mais uma vez, distinguido pela revista Euromoney como o Melhor Banco em Portugal, em 2014.

Melhor Banco em Portugal

Banco do Ano

desde 2002 até 2014

em 2002, 2003, 2006 e de 2008 a 2013

Melhor Banco em Portugal

Best Private Banking Services Overall

desde 2010

desde 2012

Estes prémios são da exclusiva responsabilidade das entidades que os atribuíram. A revista Euromoney volta a distinguir o Banco Santander Totta como o Melhor Banco em Portugal, agora em 2014. Um prémio que nos distingue pela rentabilidade, pelo crescimento, pela eficiência e capacidade de adaptação às condições de mercado e necessidades dos Clientes. Um prémio que tem ainda mais significado num momento em que a agência Fitch melhorou o rating do Banco Santander Totta para BBB. Reconhecimento de um trabalho que começa e termina nos nossos Clientes.

www.santandertotta.pt


W W W.V I VA - P O R T O . P T

Revista gratuita trimestral, outubro 2014

MIGUEL ARAÚJO O contador de estórias

SUBTERRÂNEOS DO PORTO A magia da cidade oculta

ATENEU COMERCIAL DO PORTO De coração aberto à cidade


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.