![](https://assets.isu.pub/document-structure/230419203913-65b73cefe3617aa94ff69c1910a1a602/v1/8fe63de665c2f4ffa64e6f7e22aa01d4.jpeg?width=720&quality=85%2C50)
4 minute read
TERESA ANDRESEN: “A Terra é um objeto frágil”
A 22 de abril, o mundo comemora o dia da Terra, e neste sentido o VivaCidade esteve à conversa com a arquiteta paisagística, Teresa Andresen.
![](https://assets.isu.pub/document-structure/230419203913-65b73cefe3617aa94ff69c1910a1a602/v1/c1eb78bc420782210f52fdcfcbc53b65.jpeg?width=720&quality=85%2C50)
Advertisement
Qual é a importância do Dia Mundial da Terra?
Começaria por dizer que todos os dias são dias da Terra. Refiro-me à Terra, o nosso planeta, o planeta que quando dizemos ‘nosso’ é de todas as suas manifestações de vida. É um dia que nos interpela e, sobretudo, é um dia feito para a ação. Temos de atuar. Este atuar tem por trás uma ideia de mudança. Porquê mudança? Não é mudar por mudar, é mudança porque nós temos vindo a assistir a um conjunto profundo de alterações em diferentes escalas e isto tem tudo a ver com a globalização que a sociedade humana empreendeu e a velocidade estonteante que trouxe aos dias de hoje. Uma velocidade sobre vários aspetos, não é só a velocidade com que nos deslocamos, é, também, a velocidade com que comunicamos.
Quando fala que temos de atuar em prol da Terra, estamos a falar de que tipo de ações?
Esta ideia da ação, tem como slogan o “Take Action”. Vamos atuar, tem que ver com o grupo como comunidade e também como indivíduo. A comunidade divide-se entre aqueles que acreditam que a nossa resposta e a nossa adaptação a estas alterações ambientais, económicas, sociais que vivemos se consegue mudando cada um o seu padrão de vida, outros não acreditam que o caminho seja por aí, mas que é apenas pela inovação tecnológica. A Terra é um objeto muito frágil. Nós não temos essa noção, só temos quando vemos as imagens do espaço e vemos que afinal a Terra é de facto um grão de areia numa realidade maior a que chamamos Universo.
![](https://assets.isu.pub/document-structure/230419203913-65b73cefe3617aa94ff69c1910a1a602/v1/142e062ec7fc01e6b38d2f1539f10cc6.jpeg?width=720&quality=85%2C50)
Acha que, efetivamente, não há perceção que os recursos da Terra são finitos?
Obviamente que não. Acho que a imagem mais traiçoeira de todas é aquela criada pela expetativa de encontrar as prateleiras do supermercado cheias, não falta nenhuma maçã na caixa das maçãs, não falta nenhum saco de arroz nas prateleiras do arroz, não falta nenhum detergente na prateleira dos detergentes. Sem nos apercebermos adquirimos esta ideia que tudo é garantido em abundância. Mas isto é assim porque temos toda uma logística e todo um sistema a funcionar assim. Contudo é um sistema em que o desperdício é elevado. Fomos criados nesta expectativa e nem pensamos porque entramos no supermercado e tudo está à disposição e que isso não é a realidade. A natureza não é assim. Temos de gerir o des- perdício, porque se não o fizermos damos menos valor àquilo que temos e isso apenas contribui para o aumento do desperdício. E, portanto, acho que o “Take Action” subjacente ao dia mundial da Terra é um apelo que se pode traduzir em pequenas coisas que cada um faz ou cada um assume, tanto na forma como se desloca, como na forma como faz a escolha da sua residência em relação aos transportes públicos, se isso obriga a utilizar automóvel ou se pode prescindir de automóvel. A grande mudança é no nosso padrão de consumidor. Sou defensora disso, embora sabendo que não resolve tudo, mas nenhuma solução pode prescindir deste caminho.
As pessoas só vão ter consciência de que as coisas são finitas quando chegarem ao supermercado e este ou aquele produto não existir?
Corremos o risco de que seja só nesse dia. O “Take Action” é comunicar, é alertar as pessoas, é preparar para esse dia em que não há porque construímos uma sociedade no ocidente que assenta no ‘saber ter’, mas não assenta no ‘saber não ter’, e temos de nos educar para saber ter e temos de nos educar para saber não ter.
Motociclismo no Parque das Serras é possível?
O parque ainda não está infraestruturado para acolher essa quantidade de pessoas que eu acredito que venha a atrair dentro de 10, 15, 20 anos. O parque há-de estar então mais infraestruturado e há-de ter mais espaços de recreio, de piquenique, de acolhimento de visitantes, etc. Há-de ter esses equipamentos que as pessoas procuram quando se deslocam a parques desta natureza e também os conflitos hão-de ser maiores. Estamos numa zona densamente povoada onde coabitam vários interesses e por isso é importante que exista uma entidade gestora como a Associação de Municípios. São interesses que colidem entre si e já há muita gente a manifestar-se sobre o motociclismo no parque e compreendo. Tenho sido defensora que se definam áreas em que não se tenha acesso ao motociclismo para garantir às pessoas que visitam o parque que realmente usufruam da proximidade com a natureza e não ter a perturbação do impacto causado pelo motociclismo sobre a paisagem e o ambiente.
Havendo bom senso, é possível conciliar as duas atividades, a natureza e o lazer em si (motociclismo)?
Podem ser compatíveis, mas primeiro temos de nos por de acordo sobre os valores em causa e definir as prioridades.
E como é que conservamos um par-
que desta natureza?
Faz-se avaliando, nós estamos num parque metropolitano com uma presença de espécies exóticas bastante significativa que encontram aqui condições ótimas para o seu desenvolvimento. Por outro lado, temos a vontade de que o parque se cumpra como uma paisagem protegida onde se valorizam outro tipo de espécies. É um processo moroso mas que progressivamente se tem vindo a fazer. O parque já tem intervenção em mais de 200 hectares, se é muito ou pouco, é o que foi possível pois implica negociação e concertação, recursos técnicos e financeiros. Mas tem-se conseguido e tem sido fundamental para podermos avaliar estas práticas. A paisagem tem de ser trabalhada e desenvolvida e estamos num processo de a construir e de relacionamento com as várias partes interessadas. Temos de encontrar soluções em que uns ganham e outros perdem mas tudo em prol de um interesse comum. ■
Se não reconhece esta figura, talvez queira voltar à segunda página deste jornal. Não só desta edição mas de uma boa centena delas, onde o Dr. Paulo Amado tem o seu lugar cativo, presenteando os estimados leitores com as suas crônicas. Não chegaria esta síntese introdutória para apresentar o seu percurso. Em qualquer plataforma de saúde, numa breve pesquisa, podemos constatar que a extensão do seu currículo não caberia nesta página. Mas nem por isso que à conversa com Dr. Paulo, deixa de nos simplificar com leveza como de miúdo a dissecar rãs em ciências naturais, a paixão por motores e desporto, brincar com legos e estudar arquitetura detectou o seu galho na Ortopedia, onde se tornou nas suas palavras "Artesão". Com toda a minúcia e mestria que possa caber e transbordar nessa designação mais o valioso contributo para a história da medicina das suas investigações do Joelho, Pé e Tornozelo. É inspiradora e lisonjeante a importância que atribui ao manter a ligação à terra onde já mencionou ser "incapaz de sair". Preserva as suas raízes e acima de tudo representa este Concelho. "Dizem que santos da terra não fazem milagres mas se calhar... Ajudam!" ■
![](https://assets.isu.pub/document-structure/230419203913-65b73cefe3617aa94ff69c1910a1a602/v1/14874fc31576c1e46e49533c1e1219d0.jpeg?width=720&quality=85%2C50)
![](https://assets.isu.pub/document-structure/230419203913-65b73cefe3617aa94ff69c1910a1a602/v1/c83e2c0d87d729a8f86fd3aa6d085ec5.jpeg?width=720&quality=85%2C50)