Jornada do Patrimônio 2019 OFICINA CULTURAL ALFREDO VOLPI Oficina "Tecendo memórias de Itaquera"

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Relatoria dos encontros nos dias 18 e 19 de Agosto de 2019 na Oficina Cultural Alfredo Volpi Tecendo Memórias em Itaquera Equipe – Elaine Mineiro, Marcel C. Couto e Queila Rodrigues

Sábado 18 de agosto de 2019

Projeção do Mapa de Itaquera sobre o algodão para desenhar e bordar. Foto de Marcel C. Couto Fizemos o mapa sobre o tecido e a roda de conversa com três moradores de Itaquera – Mercedes, Eunara e Rita. Marcel foi responsável pelas entrevistas, Elaine captou os vídeos e Queila fotografou mas no fim todas as funções se misturaram um pouco. Foram horas de uma longa conversa captadas em áudio, vídeo e fotografia no jardim da Oficina Cultural Volpi. Sob um sol agradável e imensas árvores ouvimos relatos dessas três mulheres que passaram pelos anos 70, 80 e 90 sobretudo. Dos relatos contemporâneos e reflexões de como gostam do bairro e o que poderia ser melhorado nele hoje como a iluminação, a limpeza e a construção de mais passarelas na Radial Leste.


Dona Eunara foi artesã na infância, casou e veio da Paraiba criar a família em São Paulo. Foto Marcel C. Couto Ficamos abismadas em saber que em 1982 houve um grande acidente de trem em Itaquera com muitos feridos e mortos e que dona Eunara escapará por pouco com os filhos de tal tragédia.Vinda da Paraíba, veio com marido para construir a vida na cidade do sudeste. Não pode trabalhar por muito até que venceu as barreiras e foi trabalhar nas fábricas do Brás. Criou os filhos com liberdade - “não existe brincadeira de menino ou menina” . Lindo foi escutar suas memórias de menina subindo em pé de fruta e fazendo artesanato do de barro com a mãe na Paraíba. Aprendemos sobre o saber fazer de seu artesanato - “tem o barro certo de fazer se não quebrava no forno”

Dona Mercedes mostra um dos livros onde contribui com suas poesias. Foto de Marcel C. Couto


Regorgizamos em notar como Mercedes é uma senhora ativa, que escreve, borda, dança e tem o riso solto. Faz vários cursos. Vindo do interior de São Paulo, primeiro viveu em Suzano e depois em Itaquera por volta de 1974. Desde então viveu entra as duas localidades. Está sempre na Volpi e nos mostrou algumas de suas obras como bordados e um livro com poesias, frutos de oficinas oferecidas pela instituição.

Rita hoje pesquisa a memória do região de Dom Bosco em Itaquera. Foto Elaine Mineiro.


Rita era a mais nova, chegou nos anos 80. Estranhou o bairro que para ela só tinha mato. Nos lembrou como faltava ônibus quando chegou e tinha medo de andar pelas ruas que mal tinham iluminação. Nos emocionou como enfrentou o impedimento do pai e foi trabalhar – “não avisei, consegui o trabalho primeiro e depois avisei”, e foi trabalhar e ser independente. Hoje Rita também investiga a história do bairro na escola onde trabalha.

Marcel desenhando o mapa no tecido que será bordado. Foto Marcel C. Couto


O transporte é algo que apareceu em todas as falas. Todas se lembram da antiga estação de trem, das antigas linhas de ônibus – “os poerinhas”, apelido que veio do pó que levantavam ao passarem numa estrada não asfaltada. - memória afetiva que liga muitos bairros da zona leste. Da inauguração da radial leste, da Jacu pêssego e das novas estações de trem e a chegada do metrô. Viram o antigo bairro de chácaras virar um imenso nascedouros de COHAB, e sistemas de transporte. Um bairro que antes mal se conectava com a cidade de repente tinha muitas linhas de ônibus, trens metros e uma radial .

Exercício de escuta e aprendizagem . Foto Marcel C. Couto Lembraram de lideranças locais como os padres da associação Dom Bosco que ajudaram a levar educação, arte e cultura para a juventude da região. Como as igrejas católicas e seus projetos tiveram um papel importante nas lutas por melhorias no bairro. Se divertiram no antigo cinema (hoje Pernambucanas), nos antigos bailes, no mítico Parque Marisa de Itaquera de 1987 , talvez o último da cidade! E no SESC Itaquera e seu parque ao lado. Por fim Mercedes nos leu uma poesia sua sobre Itaquera


Leitura de Mercedes que nos transportou para outros tempos do bairro


] Registros. Foto Marcel C. Couto


Elaine, Marcel e Queila também compartilharam lembranças do bairro e da zona leste e entre palavras, imagens, vídeos, fomos compondo um acervo de memória afetiva de nós seis. Com as que vieram antes de nós. Três mulheres da zona leste, três memórias costurada sem um só bairro – Itaquera

Equipe feliz com o dever cumprido. Elaine, Queila e Marcel. Foto Queila Rodrigues


Domingo Foram captadas mais fotografias e feitos mais alguns vídeos das pessoas envolvidas. Queila comandou o bordado com a ajuda de Caio e Mercedes.

Bailes, uma das lembranças de dona Mercedes. Foto de Queila Rodrigues Apareceram mais pessoas para ajudar a tecer. Evaristo e Berenice, casal velhas guarda da produção e luta cultural nas periferias . Evaristo é do movimento de Cultura e Berenice do movimento de saúde e “pensam a cultura como saúde”. Trouxeram muitas referencias de movimentos que construíram a zona leste, Itaquera. Ajudaram a bordar o Mapa. Neste tecer Avaristo foi trazendo história de bairros adjacentes como Itaim Paulista, do Fala Negão.


As mãos que tecem memórias e constroem histórias, muitas gerações de mulheres da zona leste – Foto de Queila Rodrigues As imagens aqui dizem mais que as palavras.


Elaine descobre mais sobre as histórias de Evaristo. Foto Queila Rodrigues Foi uma tessitura a muitas mãos, o mapa foi todo bordado entre conversas, causos, lembranças e risadas. O sol agradável e a música ao fundo do violão de José Elias. O jardim virou ateliê de memórias.


Mapa bordado do bairro de Itaquera no domingo. Foto de Caio

Agradecemos a colaboração de Gerson e Caio, funcionários sem o qual este encontro não teria sido possível. Agradecemos também as todas e todos da equipe de funcionários e funcionárias da Volpi permitem o lugar existir e funcionar adequadamente. Agradecemos especialmente a dona Mercedes, Rita Eunara, Evaristo e Berenice que aceitaram participar das atividades e compartilhar com nós suas vivencias. Agradecemos a Equipe da Jornada do Patrimônio, que venham mais! O acervo criado será todo editado e oferecido à Oficina Alfredo Volpi como parte de seus arquivos de memória. O mapa deve ficar em exposição com projeções das imagens captadas por nós até o fim do ano. Texto: Marcel C. Couto – 27 de agosto de 2019


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