www.odontomagazine.com.br
Coluna Pacientes Especiais
Ano 4 - N° 42 - Julho de 2014
Você quer dinheiro, sucesso ou paz no coração?
comunicação integrada
comunicação integrada
R$ 20,00
C
M
Y
CM
MY
CY
MY
K
Editorial Edição: Ano 4 • N° 42 • Julho de 2014
Presidência & CEO Victor Hugo Piiroja e. victor.piiroja@vpgroup.com.br t. + 55 (11) 2424.7732 Publicidade - Gerente Comercial Christian Visval e. christian.visval@vpgroup.com.br t. + 55 (11) 2424.7740 Publicidade - Gerente de Contas Ismael Pagani e. ismael.pagani@vpgroup.com.br t. + 55 (11) 2424.7724 Editora Vanessa Navarro (MTb: 53385) e. vanessa.navarro@vpgroup.com.br t. + 55 (11) 2424.7734 Financeiro Rodrigo Oliveira e. rodrigo.oliveira@vpgroup.com.br t. + 55 (11) 2424.7727 Assistente Administrativo Michelle Visval e. michelle.visval@vpgroup.com.br Marketing Tomás Oliveira e. tomas.oliveira@vpgroup.com.br Designers Cristina Yumi e. cristina.yumi@vpgroup.com.br t. + 55 (11) 2424.7737 João Corityac e. joao.corityac@vpgroup.com.br Flávio Bissolotti e. flavio.bissolotti@vpgroup.com.br Web Designer Robson Moulin e. robson.moulin@vpgroup.com.br Analista de Sistemas Fernanda Perdigão e. fernanda.perdigao@vpgroup.com.br Sistemas Wander Martins e. wander.martins@vpgroup.com.br Conselho Científico Augusto Roque Neto, Danielle Costa Palacio, Débora Ferrarini, Diego Michelini, Éber Feltrim, Fernanda Nahás Pires Corrêa, Francisco Simões, Henrique da Cruz Pereira, Helenice Biancalana, Jayro Guimarães Junior, José Reynaldo Figueiredo, José Luiz Lage Marques, Júlio Cesar Bassi, Lusiane Borges, Maria Salete Nahás Pires Corrêa, Marina Montenegro Rojas, Pablo Ozorio Garcia Batista, Regina Brizolara, Reginaldo Migliorança, Sandra Duarte, Sandra Kallil Bussadori, Shirlei Devesa, Tatiana Pegoretti Pintarelli, Vanessa Camilo, Wanderley de Almeida Cesar Jr. e William Torre. A Revista A Odonto Magazine apresenta ao profissional de saúde bucal informações atualizadas, casos clínicos de qualidade, novas tecnologias em produtos e serviços, reportagens sobre os temas em destaque na classe odontológica, coberturas jornalísticas das mais importantes feiras comerciais e eventos do setor, além de orientações para gestores de clínicas. O periódico é distribuído em todo o território nacional, em clínicas, consultórios, universidades, associações e demais instituições do setor.
O que nos faz amar tanto a Odontologia?
A
profissão que nos conduz por inúmeros caminhos, como pesquisadores, professores, clínicos gerais, especialistas de mais de 23 áreas de atuação, a cada dia nos desperta mais interesse, impulsionando-nos ao conhecimento, a estudar mais e inovar mais. A ciência, imensurável nos seus recursos, possibilita obter resultados que propiciam dezenas de trabalhos que nos inquietam e estimulam a buscar novos objetivos. O exercício da Odontologia se tornou muito mais dinâmico nos últimos tempos. Tirou o clínico geral da zona de conforto, que se sentiu motivado e estimulado a se especializar e se atualizar continuamente, para se manter no mercado de trabalho, que é muito mais competitivo e qualificado em técnicas, materiais, recursos humanos, aspecto físico do ambiente de trabalho, divulgação, etc. O cotidiano profissional daqueles que se dedicam à Odontologia exige o conhecimento científico, a destreza e habilidade manual, a delicadeza e sensibilidade de coração, o bom senso e a calma nos momentos críticos, de decisão e, certamente, a paciência, mas, além de todos esses predicados tão especiais, é necessário ter fé, acreditar que não estamos sozinhos. Somos guiados e regidos por uma força maior, uma força que nos impulsiona para fazermos sempre o que é melhor, com eficiência, qualidade e, sobretudo, responsabilidade. Dentre as inúmeras possibilidades criadas pela Odontologia, a relação humana deva ser uma das mais relevantes, porque o foco de todo a evolução técnica-científica é oferecer ao paciente melhores condições de tratamento, na prevenção, reabilitação, manutenção e acompanhamento. Tarefa que o cirurgião-dentista deve desempenhar com muita atenção e dedicação, tendo a confiança como uma linha muito resistente e, ao mesmo tempo, tênue, que se fortalece com o passar do tempo. Significativamente, percebemos que fidelizar é criar e oferecer oportunidades, valorizando as qualidades da equipe de trabalho e do paciente. A vivência profissional se fortalece com os elos de amizade que dão o verdadeiro significado das conquistas e vitórias que cada um constrói constantemente, ao longo de toda a jornada, em que a felicidade pode ser encontrada nos mais diferentes momentos. Família e amigos se envolvem na Odontologia à medida que as histórias e “causos” são compartilhados, diariamente, com entusiasmo, algumas insatisfações, muitas alegrias, enfim, histórias que fazem a nossa carreira ser tão brilhante e amada.
Odonto Magazine Online s. www.odontomagazine.com.br Periodicidade: mensal Tiragem: 37.000 exemplares Impressão: HR Gráfica
Helenice Biancalana
Membro de Conselho Científico Alameda Madeira, 53, 9o andar - conj. 92 Alphaville - Barueri – SP - 06454-010- + 55 (11) 4197 - 7500 www.vpgroup.com.br
Julho de 2014
3
Sumário
Julho de 2014 • Edição: 42
pág.
18
Reportagem
24
Entrevista
30
3
Editorial
6
Programe-se
8
Notícias
12
Odontologia Segura
14
Produtos e Serviços
24
Cuidados bucais ao cardiopata Atendimento odontológico ao paciente com doença de Parkinson Eduardo Hebling
pág.
Ponto de vista
38
Cirurgiões-dentistas no Simples Nacional Claudio Yukio Miyake
32
Colunistas
Pacientes Especiais José Reynaldo Figueiredo
36
Odontologia do Trabalho Marcos Renato dos Santos
38
Odontopediatria Sandra Kalil Bussadori e Monica da Consolação Canuto Salgueiro
Casos Clínicos 42
Transformando sorrisos sem desgaste dentário: lentes de contato dental Weider Silva, Larissa Quesada, Gil Montenegro, Lêndiel Olímpio, Paulo Frederico Pereira e Tarcísio Pinto
46
Fluorescência Óptica na Odontologia Hérica Adad Ricci, Sebastião Pratavieira, Aldo Brugnera Júnior, Vanderlei Salvador Bagnato e Cristina Kurachi
50
Normas para publicação
Os artigos e as entrevistas são de inteira responsabilidade do autor e/ou entrevistado, e não refletem, obrigatoriamente, a opinião do periódico. 4
Julho de 2014
1
Conferência
Odontologia
estética
Um dia inteiro para conhecer o que há de mais moderno e avançado no segmento. Além das seis palestras, você ainda será presenteado com uma aula especial, ministrada pelo ícone da Odontologia Estética, Dr. José Carlos Garófalo.
20/09/2014 Mercure Jardins Al. Itu, 1151 - São Paulo - SP INSCRIÇÕES: R$330,00 conferencia.odontomagazine.com.br
Apoio:
Programe-se
Julho XX CORIG – Congresso Odontológico Rio-Grandense 9 a 12 de julho de 2014
A comissão organizadora já tem planejada a grade científica do evento, que terá a participação de ministrantes nacionais e internacionais. O evento contará com a temática “Odontologia: abrindo novos horizontes”.
Porto Alegre – RS
www.corig.com.br
discutirão lançamentos, tendências e inovadoras técnicas durante o evento.
Curitiba – PR
vanessa.navarro@vpgroup.com.br
8º SBO Ortopremium
19º Congresso Brasileiro de Ortodontia
13 a 16 de agosto de 2014
A programação científica do evento foi elaborada visando oferecer um evento diversificado e inovador com cursos de treinamento prático (hands on), cursos de credenciamento, curso internacional, simpósio multidisciplinar e palestrantes nacionais renomados.
Rio de Janeiro – RJ
23 a 26 de julho de 2014
17º Congresso Latino-Americano ALOP
Campina Grande – PB
São Paulo – SP
www.talmax.com.br/encontro
XXII Congresso Brasileiro de Estomatologia e Patologia Oral Com o tema principal “Avanços biológicos e tecnológicos no contexto do diagnóstico oral”, o evento visa oportunizar a estudantes, profissionais e pesquisadores, discussões acerca dos avanços e práticas integrativas em saúde; fomentar a divulgação científica e o intercâmbio entre estudantes, profissionais e pesquisadores e instituições interessadas na temática central do evento; e estimular a produção de conhecimento na perspectiva da transdisciplinaridade.
ícone da Odontologia Estética, Dr. José Carlos Garófalo.
www.aborj.org.br
21 a 23 de agosto de 2013
A realização da 17ª edição do Congresso ALOP está a cargo da Associação Paulista de Odontopediatria (APO-SP), filiada a ABO-Odontopediatria. O congresso contará com uma programação científica que abrange todas as necessidades atuais dos profissionais.
São Paulo – SP
25 a 27 de setembro de 2014
Durante três dias serão oferecidas aos participantes visões, ciências e experiências clínicas com o melhor da tecnologia mundial.
São Paulo – SP
www.ortociencia.com.br/Orto2014
Outubro 12º CIOMIG - Congresso Internacional de Odontologia de Minas Gerais 8 a 11 de outubro de 2014
Com o tema “O que nós conhecemos, o que pensamos que conhecemos e o que não conhecemos”, o evento reunirá renomados profissionais da Odontologia.
www.congressoalop2014.com.br
Belo Horizonte – MG
Setembro
CIOBA - Congresso Internacional de Odontologia da Bahia
eventos@abomg.org.br
www.sobep2014.com.br
12º OdontoRio 24 a 26 de julho de 2014
O evento se caracteriza como a maior jornada de Odontologia do Rio de Janeiro, e reúne renomados profissionais da saúde bucal para discutirem o que há de mais moderno no segmento. Serão três dias de disseminação de conteúdo para mais de 1.000 participantes.
Rio de Janeiro – RJ www.sbo.org.br
Agosto 2º Encontro Latino-Americano Zirkonzahn & Friends 1 e 2 de agosto de 2014
A Talmax e a Zirkonzahn reúnem-se, novamente, para trazer ao mercado odontológico nacional um evento exclusivo. Visando o aprimoramento profissional e a integração do universo clínico-laboratorial, consagrados especialistas nacionais e internacionais
6
Julho de 2014
6º Encontro de Ortodontia do Distrito Federal 5 e 6 de setembro de 2014
Um encontro científico que tem como objetivo proporcionar intercâmbio intelectual, estabelecer redes de relacionamentos e até mudanças na direção do conhecimento. O Brasil se encontra em Brasília para celebrar os 20 anos da Associação Brasileira de Ortodontia do Distrito Federal em uma grande reunião.
Brasília – DF
www.abordf.com.br
1ª Conferência Odonto Magazine Odontologia Estética 20 de setembro de 2014
Um dia inteiro para conhecer o que há de mais moderno e avançado no segmento. Além das seis palestras, você ainda será presenteado com uma aula especial, ministrada pelo
29 de outubro a 1 de novembro de 2014
O evento, que será realizado na capital baiana, contará com a presença de grandes nomes da Odontologia nacional e mundial.
Salvador – BA
www.abo-ba.org.br
Novembro 20º Congresso Internacional da SBOE 5 a 8 de novembro de 2014
O congresso discute a Odontologia Estética e os detalhes que fazem a diferença. Além de contar com renomados palestrantes nacionais e internacionais, o evento traz o que há de mais moderno no mercado através da feira comercial.
Florianópolis - SC www.sboe.com.br
Notícias A saúde bucal das crianças
Escovar os dentes não é uma das coisas preferidas da maioria das crianças, mas, é fundamental que elas tenham uma boa higiene bucal para evitar cáries e o desenvolvimento de doenças, além de levarem esse hábito para a vida toda. Existem quatro dicas essenciais que os profissionais de saúde bucal devem dar aos pais dos pequeninos contrariados.
Uma questão ambiental É importante deixar tudo ao alcance da criança, para que ela mesma manuseie a escova, a pasta, o fio dental e possa usar a água e alcançar a pia. O ambiente deve estar sem risco para o pequeno, mas de maneira que ele faça tudo sem a ajuda constante dos pais, ganhando autonomia, com o tempo. Além disso, é necessário possuir itens de higiene bucal que estimulem o imaginário ou aproximem a criança de algo que ela gosta, como o personagem de desenho favorito. Isso tornará a escovação um processo agradável, quase como uma brincadeira.
Os motivos da escovação Qualquer coisa feita por meio de ordens, sem nenhuma explicação que justifique a tarefa, torna-se muito chata, ainda mais para a criança. A chance de ela rejeitar fazer isso, ou fazer malfeito por ter sido obrigada, é muito maior.
8
Julho de 2014
Portanto, é preciso explicar por que é necessário escovar os dentes. Não é bom assustar a criança, pois ela poderá até desenvolver algum trauma, dependendo da forma com que receber a explicação ou como visualizar imagens relacionadas à higiene bucal.
O exemplo é fundamental Não adianta pedir para a criança fazer algo que nem os pais fazem. O exemplo é uma boa ferramenta para estimular seu pequeno a escovar os dentes. Se ele vir os pais fazendo isso da maneira correta, sempre após as refeições, ao acordar e antes de dormir, de maneira prazerosa e feliz, perceberá que pode fazer isso também e que não há nenhum problema; pelo contrário, é uma coisa legal que todo mundo faz.
O dentista é um parceiro Muitas crianças podem ter medo do dentista. O ambiente pode não ajudar muito, com aqueles instrumentos metálicos, a roupa branca e o local um tanto quanto sério, mas o profissional não precisa ser visto como um monstro assustador que arrancará os dentes do pequeno com uma máquina barulhenta. O Odontopediatra possui o jeito para lidar com elas e pode ensiná-las a escovar os dentes com o uso de uma linguagem simples, fantoches ou outros elementos que se aproximem do universo infantil. Fonte: TePe
08
Notícias Integração e aprimoramento profissional A Talmax e a Zirkonzahn reúnem-se, novamente, para trazer ao mercado odontológico nacional um evento exclusivo. Visando o aprimoramento profissional e a integração do universo clínicolaboratorial, consagrados especialistas nacionais e internacionais discutirão lançamentos, tendências e inovadoras técnicas durante o evento, que acontece nos dias 1 e 2 de agosto de 2014, no Clube Três Marias, em Curitiba, Paraná. Serão mais de 30 horas com o melhor conteúdo científico, em um evento que valoriza o aprimoramento profissional e integração entre CD’s e TPD’s. Além das palestras que serão apresentadas, as novidades para esta edição ficam por conta dos Workshops e da Arena Científica. O primeiro workshop, que acontecerá em um pré-evento no dia 31 de julho, dará ênfase na obtenção de resultados previsíveis através do Articulador Virtual, apresentado pelo TPD mexicano Alan Quiñones Ortiz. O segundo, orientado pelo TPD brasileiro Ginetom Rodrigues, irá mostrar a importância do planejamento correto das estruturas dental e gengival para conseguir um efeito natural na estratificação. Na Arena Científica, um debate durante uma hora com CD’s e TPD’s especialistas em prótese dentária, oferecerá aos participantes a oportunidade de esclarecer as vantagens da zircônia nas restaurações odontológicas. www.talmax.com.br/encontro
Julho de 2014
9
Notícias
Gestação e a saúde da boca
Desde o começo da gravidez, a gestante deve visitar o cirurgião-dentista para realizar profilaxia e um exame clínico apurado em busca de alterações gengivais ou dentárias. O controle da saúde gengival é importante, devido à associação entre infecções gengivais severas e o aumento do risco de parto prematuro e pré-eclâmpsia. O refluxo constante, comum no primeiro trimestre da gravidez, aumenta a chance de erosão dentária. Além disso, a dificuldade de escovar os dentes aliada à má alimentação de muitas gestantes, pode propiciar maior risco de cárie. Os hormônios liberados durante a gestação também podem afetar a dentição da gestante, por se acumularem no tecido da gengiva, predispondo a sua inflamação. Apesar da importância, a procura de gestantes pelo tratamento dentário diferenciado ainda é rara, e muitas mulheres não sabem dos riscos.
Cuidados O atendimento a essas pacientes requer alguns cuidados específicos. O dentista deve aferir a pressão arterial, agendar a gestante em horários específicos e posicionála na cadeira odontológica de forma correta. Segundo a professora Maria Salete Nahás Pires Corrêa, o profissional também deve abordar os aspectos psicológicos e as complicações que podem advir da ansiedade e medo na vida do feto na vida intrauterina. Após o nascimento do bebê, o acompanhamento com o Odontopediatra deve ser mantido. Segundo a especialista, a primeira visita ao dentista deve ser feita com seis meses de
10
Julho de 2014
idade, quando erupcionam os primeiros dentes. O profissional deve ensinar aos pais como escovar os dentes, qual a pasta adequada (acima de 1.000ppm de flúor), qual a quantidade ideal a ser utilizada e a técnica correta de escovação. Não há necessidade extrema de higienizar a boca do bebê sem dentes, mas se ele for alimentado com leite artificial, a limpeza pode ser feita a partir dos três meses, com o uso dos lenços específicos, gaze ou fralda umedecida em água filtrada, uma vez ao dia. O Odontopediatra também deve orientar a mãe sobre possíveis mudanças que acontecem na boca de recémnascidos, como alterações no freio da língua, que podem dificultar aleitamento e mesmo cistos. “A orientação sobre os riscos e os benefícios do uso de chupeta e da mamadeira é muito importante, de modo que, logo após o nascimento, os pais possam tomar a decisão baseados em informações corretas”, afirma Maria Salete.
Odontopediatria no sistema público de saúde Programas municipais e estaduais se desenvolvem com o intuito de ampliar a atuação odontológica em gestantes e bebês. Além disso, as universidades públicas também atuam nesse sentido e oferecem tratamento curativo e preventivo. Apesar de não ser o ideal, o Brasil caminha bem nesse atendimento. “Essa consciência dos programas de governo não são raras como se imagina. O mais difícil é conscientizar e preparar os profissionais para tomarem as condutas corretas sem receios”, ressalta a Odontopediatra. Fonte: Faculdade de Odontologia da USP
Odontologia Segura
Cuidados e responsabilidades em Odontologia Lusiane Borges Biomedicina - UNISA / UNIFESP. Odontologia – UMESP. Especialização em Microbiologia – Faculdade Oswaldo Cruz. Especialista em Controle de Infecção em Saúde – UNIFESP. MBA em Esterilização - FAMESP. Pós-Graduanda em Prevenção e Controle de Infecção em Saúde – UNIFESP, São Paulo. Coordenadora de Cursos de ASB/TSB desde 2000. Membro do Conselho Científico da Odonto Magazine, São Paulo. Autora-coordenadora do livro “AST e TSB – Formação e Prática da Equipe Auxiliar”. Consultora em Biossegurança em Saúde – Biológica. Consultora Científica da Oral-B, Fórmula & Ação, Sercon/Steris e outros. Representante do Brasil na OSAP (Organization for Safety, Asepsis and Prevention), EUA. Responsável pelo site www.portalbiologica.com.br.
O
PGRSS (Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde) é um documento exigido, atualmente, pelas autoridades sanitárias para clínicas odontológicas em todo território nacional, e deve ser elaborado para que a clínica possa manejar, adequadamente, todos os resíduos gerados, atendendo as legislações em vigor (RDC 306/04; Conama 358/05), e contribuindo, assim, com a saúde pública e o meio ambiente. O documento aponta e descreve as ações relativas ao manejo dos resíduos sólidos, observadas suas características no âmbito dos estabelecimentos, contemplando os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e destinação final. Acompanhe um resumo das partes que compõem um PRGSS de clínica odontológica.
» Equipe de trabalho do PGRSS: nome de todos os profissionais da clínica que participaram da elaboração do PGRSS, incluindo o nº CRO. » Caracterização do estabelecimento: edificação, área total do terreno em m² e organograma da estrutura administrativa. » Caracterização dos aspectos ambientais: descrever local em que os resíduos são gerados e as características dos resíduos sólidos, efluentes líquidos, etc. » Classificação dos resíduos de serviços de saúde: descrever todos os resíduos gerados na unidade de saúde por área (Grupo A, B, D e E). » Segregação, acondicionamento e identificação: ações que devem ser realizadas no local de geração dos resíduos.
12
Julho de 2014
Constar os grupos e seus respectivos recipientes de acondicionamento. » Armazenamento temporário: consiste na guarda temporária dos recipientes contendo os resíduos já acondicionados, por exemplo, abrigo: armário identificado pelo símbolo do grupo B, localização. » Armazenamento: Como exemplo: resíduos Grupo A e E. Abrigo de metal, tipo caixa, identificado com símbolo para A e E, localizado em tal local (externo ou específico). » Coleta interna: da fonte de geração para o local de armazenamento temporário. » Programa de reciclagem: tipo de resíduos, local e forma de armazenagem, destino, e frequência da coleta. » Coleta externa: todos os detalhes, como: Grupo A, D, E; veículo/equipamento: caminhão da companhia de coleta pública; frequência (diária/semanal) e hora; distância até a disposição final; custo da coleta; empresa responsável. Sempre anexar cópia da licença de operação. » Tratamento externo: grupo e empresa que realizam o tratamento externo para cada tipo de resíduo. » Disposição final: Grupo: A, B, D, E; resíduo: descrever; disposição final: aterro sanitário, aterro controlado, disposição a céu aberto, destino desconhecido. Mais informações sobre o PGRSS podem ser obtidas por meio do site www.portalbiologica.com.br. Até a próxima!
Produtos Sanifill lança escova multicolorida Infinite Com design inovador, a nova escova possui um cabo ergonômico e com desenho contínuo que evita o acúmulo de resíduos e umidade. A cabeça compacta e a configuração dos tufos permitem uma quantidade superior de cerdas, se compararmos aos modelos tradicionais cabeça compacta, que proporcionam uma escovação mais suave e eficiente. Sanifill Infinite possui 39 tufos concentrados, que promovem maior contato das cerdas com os dentes, resultando em uma limpeza eficiente, adequada para o cuidado de cada dente. Disponíveis no tamanho P e na versão macia, as escovas dentais Sanifill Infinite podem ser encontradas nas cores: amarelo com laranja, verde com roxo, rosa com verde, laranja com verde, azul com laranja e roxo com amarelo. www.sanifill.com.br
Novidade 3M ESPE Pentamix ™ Lite é o mais novo equipamento de automistura de material de moldagem da 3M ESPE. Seu grande diferencial é a facilidade de manuseio: para preencher a moldeira basta apertar um único botão. Desta forma, garante-se um procedimento rápido e um fluxo de trabalho mais eficiente para maior produtividade. Com o Pentamix™ Lite é possível obter misturas homogêneas, livre de porosidades; sem desperdício, uma vez que o aparelho dispensa a quantidade exata de material; e de forma higiência, já que não há contato com as mãos, evitando contaminação cruzada. Com design inovador, o aparelho economiza bastante espaço quando está na posição de espera (vertical). Além disso, o equipamento chega ao mercado brasileiro com preço mais atrativo que as versões anteriores. www.3mespe.com.br
Vendendo sorrisos As máscaras da Fun Mask possuem diversos tipos de sorrisos e desenhos lúdicos, e podem ser utilizadas em qualquer situação clínica, seja com adultos, crianças e também para pessoas em tratamentos médicos. A empresa possui como foco principal o marketing de relacionamento entre as pessoas, quebrando barreiras e tornando as relações mais espontâneas e felizes. Para isso acontecer, a Fun Mask aposta na humanização das consultas, colocando sorrisos que se encaixam no rosto dos usuários. A máscara cirúrgica é tripla e de alta qualidade, e além dos sorrisos, coelhos, palhaços e muitos outros desenhos, as máscaras podem ser personalizadas para campanhas e ações de relacionamentos em empresas, hospitais e clínicas. www.funmask.com.br
14
Julho de 2014
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
odonto_magazine_julho_ortoSPO.pdf
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
1
26/06/2014
16:14:43
Produtos Novidade no mercado brasileiro A Nightspark Brasil Comercialização de Produtos Odontológicos lança, no Brasil, a linha Megasonex®, marca de produtos profissionais de higiene bucal. Os produtos Megasonex® já são vendidos em muitos países do mundo e, agora, pela primeira vez, estará disponível no Brasil. A tecnologia de ultrassom dentro da Megasonex® foi aprovada pela FDA dos Estados Unidos, em 1992; e, ao longo dos últimos 20 anos, milhões de escovações foram feitas e têm ajudado muitos a desfrutar dos benefícios da higiene oral eficaz, sem abrasão. O ultrassom gerado pela escova de dentes Megasonex® torna as bactérias inofensivas. Age de modo diferente das escovas manuais, elétrica ou até mesmo os sônicos, que limpam principalmente por abrasão. Recomendado para o uso diário, o Megasonex® é a solução mais suave, eficaz para o controle do biofilme e é, especialmente recomendada para as pessoas com sensibilidade ou com aparelhos ortodônticos, além de implantes, coroas, restaurações ou obturações, onde a escovação eficaz é mais difícil. Além da escova de dentes ultrassônica Megasonex®, a Nightspark lança no mercado o primeiro limpador de língua ultrassônico do mundo. O instrumento é extremamente útil, pois metade de todas as bactérias patogênicas na cavidade oral vive sobre a língua, não apenas nos dentes. O terceiro lançamento da linha Megasonex® é a pasta de dente especialmente concebida para escovas elétricas ou com ultrassom, ou até mesmo para usuários de escova manual que não gostam de muita espuma na boca. Megasonex Creme Dental® contém um ingrediente bio-idêntico pequeno chamado nano-hidroxiapatita, o mesmo ingrediente que compõe o esmalte e, ao contrário do flúor, na verdade, ele remineraliza os dentes, tornando-os lisos, brilhantes e naturalmente mais brancos. Além disso, o produto não contém conservantes, como parabenos ou detergentes agressivos como SLS (causador de úlceras amphthous ou estomatite) ou agentes mascarantes fortes, necessários para ocultar a presença de ingredientes amargos. Livre de flúor, Megasonex® é seguro, mesmo para crianças pequenas. O Megasonex® só será comercializado por meio de profissionais de Odontologia selecionados e em sites que ofereçam produtos de higiene oral. http://megasonex.com/pt-br
Nutrição artificial para os pequenos Em ano de Copa do Mundo no Brasil, ninguém quer ficar de fora da torcida do país do futebol. Pensando naqueles que vão passar por este evento pela primeira vez, a NUK, pioneira no desenvolvimento de bicos de mamadeira ortodônticos, lança uma coleção para homenagear o maior evento esportivo do mundo. A coleção Pequenos Torcedores chega para dar ainda mais estilo para os baixinhos que sentirão, pela primeira vez, a emoção de ser um torcedor. Com decoração inspirada na bandeira brasileira, a coleção conta com a mamadeira First Choice Style de 300ml e também com o copo de treinamento NUK First Choice Style de 150ml. A empresa trabalha com produtos inovadores, de alta qualidade, cientificamente comprovados, e é comprometida com o desenvolvimento seguro e saudável nos diferentes estágios do desenvolvimento da criança, do nascimento à idade escolar. Apoiado por uma equipe dedicada de especialistas, os produtos são projetados para combinar a ciência com estilo, mantendo a máxima qualidade. www.nuk.com.br
16
Julho de 2014
Reportagem
Cuidados bucais ao cardiopata O Brasil está entre os 10 países com maior taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares. Por: Vanessa Navarro
A
s mudanças econômicas e sociais, decorrentes da revolução industrial e tecnológica, trouxeram consigo a alteração do perfil de morbidade e mortalidade da população. Hoje, é possível perceber o predomínio das patologias crônicas não transmissíveis, como o câncer e as doenças cardiovasculares (DCV). Segundo informações do Ministério da Saúde, o Brasil ocupa posição privilegiada no ranking dos 10 países com maior taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares. Em 2002, o país registrou um número alarmante de óbitos causados por DCV. Foram 267.496 mortos vítimas das ‘armadilhas do coração’. De acordo com a Dra. Itamara Lucia Itagiba Neves*, cirurgiãdentista da Unidade de Odontologia do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), dados atuais assinalam que as doenças cardiovasculares são responsáveis por 29,4% das mortes registradas em um ano no Brasil, sendo o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC) as principais causas. “A prevalência das DCV apresenta tendência
18
Julho de 2014
de crescimento nos próximos anos, pelo aumento da população idosa, pelos hábitos inadequados de alimentação, tabagismo e baixa atividade física. Ou seja, idosos apresentam condições que predispõem maior chance de desenvolver uma DCV. São os chamados fatores de risco, que podem ser divididos nas conhecidas classes de imutáveis e mutáveis”, explica. Sobre as interações possíveis entre a boca, o coração e a saúde geral, a especialista explana que ocorrem influências nos dois sentidos, ou seja, doenças bucais podem causar doenças cardíacas, e estas podem causar manifestações bucais. “Como exemplo, os focos infecciosos bucais levam à bacteremia, que pode ser responsável pela Endocardite Infecciosa em pacientes portadores de doenças das valvas cardíacas. Da mesma forma que um paciente transplantado em episódio de rejeição terá a prescrição de corticosteroides e imunossupressores aumentada, propiciando o aparecimento de infecções oportunistas na cavidade bucal. Outro exemplo é a queixa de ‘secura bucal’ em pacientes em uso de determinados antihipertensivos. Em relação à saúde geral, podemos mencionar
Reportagem a resposta imunológica diminuída em idosos diante de um abscesso dental, culminando em septicemia; ou o alto de risco de hemorragia após exodontia realizada em um paciente hepatopata pela falta de planejamento pré e transcirúrgico. Outra manifestação bucal bastante difundida, atualmente, é a mucosite em diferentes graus decorrente de radioterapia. Nossos sistemas atuam em consonância e simultaneamente, portanto, sempre haverá algum tipo de interação ao realizarmos procedimentos e prescrevermos drogas. E sempre ocorrerão repercussões bucais quando houver problemas de saúde geral”. O cirurgião-dentista precisa estar atento a todos os sinais de DCV apresentados pelo paciente. Para isso, é preciso que o profissional de saúde bucal conheça sobre todas as cardiopatias. “O conhecimento sobre todas as DCV é fundamental para que o dentista possa intervir com segurança. O desconhecimento pode gerar a falta ou o excesso de cuidados e criar ou ignorar riscos. Casos mais complexos irão exigir discussão do caso com o médico, interpretação - ainda que superficial - de exames específicos, assim como conhecer possíveis interações medicamentosas com nossas prescrições e a ação dessas drogas no organismo. Isto nos remete à importância da anamnese ser completa e bem direcionada para detecção de doenças cardíacas e outras. Importante salientar que devemos atualizar as informações a cada retorno do paciente, pois, são pacientes, na sua maioria, passíveis de instabilidade do quadro. Podemos destacar entre as principais doenças cardiovasculares: as doenças das valvas cardíacas, as doenças isquêmicas, as miocardiopatias, as arritmias cardíacas e as doenças cardíacas congênitas. Lembrando que estas podem se apresentar em grau discreto, moderado ou grave, estável ou instável, dependendo do grau de insuficiência cardíaca que a doença esteja apresentando. Pacientes têm tido aumento de sobrevida graças ao conhecimento aprofundado das doenças cardiovasculares, mas, ressaltamos que continuam sendo pacientes que exigem planejamento para seu atendimento, diante dos quais devemos prever intercorrências, evitando ou estando prontos para atuar diante delas”, esclarece a Dra. Itamara Lucia Itagiba Neves.
Equipe multidisciplinar em ação Muito material tem sido publicado na literatura científica nacional e internacional sobre um protocolo ideal de atendimento odontológico para os pacientes cardiopatas. Utilizando descritores, como heart disease e dentistry em bases de dados, como o PubMed, centenas de artigos estarão disponíveis, gratuitamente, sobre os mais diferentes aspectos de importância para o cirurgião-dentista. “Os protocolos de atendimento odontológico são balizados nestes estudos, somados à experiência do grupo que atua diretamente com esses pacientes. Por exemplo, nosso grupo da Odontologia do Instituto do Coração do HCFMUSP tem experiência clínica que foi adquirida no dia a dia, baseada no conhecimento científico das indicações e características da lidocaína 2% como anestésico local e da epinefrina 1:100.000 como vasoconstritor.
Utilizamos, com resultado positivo, a lidocaína 2% sem vasoconstritor para procedimentos de curta e média duração. Você poderá ouvir de outros grupos, que baseados em vários artigos publicados, a não associação do vasoconstritor inviabiliza seu uso em qualquer procedimento odontológico. Por que esta contradição entre duas expertises no assunto? Porque um grupo adquiriu experiência com uma solução anestésica e o outro por utilizar outra opção, que certamente é segura e ofereceu resultados positivos, defende o seu ponto de vista. O que enriquece e nos faz repensar nossas condutas, é a contínua troca de conhecimentos. Tais acontecimentos deixam claro que é preciso ler, selecionar e aplicar na clínica aquilo que a literatura nos oferece, além de sempre pesquisar, buscando respostas às perguntas, para encontrar o protocolo que nos deixe confortáveis e seguros”, explica a Dra. Itamara. Uma equipe multidisciplinar qualificada de profissionais de saúde precisa estar bem entrosada para promover o atendimento odontológico com total segurança e qualidade. “Trabalhar em equipe multidisciplinar é ouvir e falar. Você deve ouvir o ponto de vista e aprender com o outro, assim como deve saber expressar o seu ponto de vista e transmitir o seu conhecimento. Não invadir a área de atuação do outro e ter perspicácia para que não interfiram na sua. É preciso entender que todos precisam de todos para atingir o objetivo: o bemestar, a cura e a qualidade de vida do paciente. E, sem dúvida, além de conhecimento, é preciso ter postura adequada, respeito e bom humor”, enfatiza a Dra. Itamara Lucia, que também é coordenadora da Comissão de Ensino em Odontologia Hospitalar do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). A equipe, também chamada de pluridisciplinar, a qual envolve o cirurgião-dentista, não está livre de se deparar com alguma situação emergencial que exija a necessidade de intervenção odontológica mais invasiva. A cirurgiã-dentista ressalta que todo profissional de saúde bucal deve ser capacitado em Suporte Básico da Vida, para saber atuar diante de uma parada cardiorrespiratória (PCR). Este treinamento é oferecido por centros e associações ligadas à Cardiologia. Outras situações de urgência e de emergência podem ocorrer no consultório, para as quais o dentista deve estar preparado para reconhecer e agir, como síncope vasovagal, síncope cardiogênica, hipoglicemia, hiperglicemia, alergia, edema de glote, anafilaxia, arritmia cardíaca, crise hipertensiva, angina pectoris, infarto agudo do miocárdio, crise asmática, convulsões, queimaduras, entre outras. “A presença de alguns itens é fundamental no consultório odontológico, como cilindro ou concentrador de oxigênio, bombinha de salbutamol, comprimidos de dinitrato de isossorbida, dexametasona, hidrocortisona, entre outros. No atendimento de uma PCR, o desfibrilador externo automático (DEA) é imprescindível nos primeiros minutos da ocorrência. Hoje, é possível ter um DEA na clínica ou no prédio do seu consultório, pois o preço se tornou bem acessível”. Efetuar um tratamento mais invasivo requer a avaliação inicial do tempo necessário para realizá-lo, da dificuldade do acesso
*Dra. Itamara Lucia Itagiba Neves é doutora em Ciências da Saúde. Especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais. Especialista em Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde. Cirurgiã-dentista da Unidade de Odontologia do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Coordenadora da Comissão de Ensino em Odontologia Hospitalar do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Coordenadora Técnica da Residência em Odontologia Hospitalar do HCFMUSP. Cirurgiã-dentista associada da clínica odontológica Odontocardium, com foco no atendimento de pacientes com necessidades especiais.
Julho de 2014
19
Reportagem
O inter-relacionamento é uma necessidade, para que possamos oferecer atendimento ao nosso paciente com segurança, eficiência, eficácia e efetividade
cirúrgico, do desconforto causado ao paciente, da técnica anestésica indicada, do nível de colaboração do paciente, da urgência desse tratamento e, sem dúvida, do estado geral do paciente. “A sedação consciente implica na capacitação do profissional e equipe, do cumprimento às normas da Vigilância Sanitária do local onde será utilizado, da resposta do paciente ao óxido nitroso e do tratamento que será feito. Caso o paciente responda positivamente a esta sedação, a extensão do procedimento e a anamnese é que determinarão sua viabilidade. Algumas cardiopatias que mantêm a saturação periférica de oxigênio abaixo do nível normal contraindicam sedação consciente. A anestesia geral, feita somente em centro cirúrgico, por vezes, torna-se mais segura, pois, a monitorização é realizada continuamente pelo anestesiologista capacitado para medicar e agir rapidamente diante de uma parada cardiorrespiratória. Mesmo que o cirurgião-dentista tenha treinamento, este tipo de socorro não faz parte da nossa rotina, portanto, dificilmente teremos experiência para agir rápido e corretamente”, ressalta a Dra. Itamara. “Vale lembrar que alguns anestésicos são contraindicados para cardiopatas, como a bupivacaína. Porém, o que sempre há que se considerar é o tempo anestésico necessário, o peso do paciente, seu estado geral e a técnica anestésica indicada. A lidocaína 2% é segura para cardiopatas, como demonstrado na literatura. Nosso grupo apresentou cinco teses de doutorado com esse tema. A associação da epinefrina 1:100.000 como vasoconstritor pode ser utilizada quando indicada, aplicando-se lentamente e respeitando o volume de 0,036 mg (2 cartuchos) por sessão para pacientes graves. Havendo a necessidade de complementação, utilizar a lidocaína 2% sem vasoconstritor, respeitando a dose de 4,4 mg/kg de peso (dose máxima de lidocaína = 300 mg), aplicando com intervalos mínimos de cinco minutos”, completa.
A conhecida e temida Endocardite Infecciosa De acordo com a cirurgiã-dentista especialista em atendimento aos cardiopatas, a Endocardite Infecciosa (EI) é uma doença grave, de rápida evolução e de difícil diagnóstico. Resulta de uma complexa interação entre o patógeno presente na corrente sanguínea (bacteremia) com uma matriz de moléculas e plaquetas, originando um tipo de vegetação que colonizará locais onde há danos às células do endocárdio. Além disso,
20
Julho de 2014
muitas das manifestações clínicas de EI derivam de resposta imunológica do hospedeiro ao microrganismo infectante. Acredita-se que ocorra a seguinte sequência de eventos para resultar em EI: formação de um trombo isento de bactérias sobre a superfície de uma valva cardíaca ou outra área do endocárdio previamente lesado, ocorrência de bacteremia, adesão dessas bactérias ao trombo e multiplicação dessas bactérias dentro de uma vegetação. Esses danos em valvas cardíacas ou em outras áreas do endocárdio ocorrem quando há passagem anômala do fluxo de sangue de uma câmara cardíaca de maior pressão para a câmara de menor pressão, por meio de orifícios ou estreitamentos, produzindo turbulência desse fluxo, traumatizando o endotélio, causando o que chamamos de doença valvar adquirida. Ou quando há má formação desses tecidos endocárdicos durante a gestação, que são as doenças congênitas valvares. Uma das causas mais frequentes dos danos originados no endocárdio é a resposta imunológica de cerca de 1/3 das pessoas que adquirem infecção na orofaringe causada pelo Streptococcus ß-hemolítico do Grupo A, que têm o tecido valvar lesado, porque o organismo começa a fabricar autoanticorpos que reagem contra o tecido das valvas cardíacas. “Isto predispõe à deposição de plaquetas e de fibrina sobre essa superfície, resultando na formação dos trombos ainda isentos de bactérias. Quando ocorre a disseminação de determinadas espécies bacterianas na corrente sanguínea com potencial patogênico para colonizar estes locais, a EI pode ocorrer. Como sabemos, bacteremias são transitórias e ocorrem quando mucosas povoadas por uma microflora endógena sofrem algum tipo de trauma, como sangramento no sulco gengival ao redor dos dentes, na orofaringe, no trato gastrointestinal, uretra ou vagina, liberando diferentes espécies microbianas na corrente sanguínea. Bacteremias transitórias causadas por estreptococos do grupo viridans e outras comuns na microflora bucal, ocorrem durante extrações dentárias ou outros procedimentos odontológicos, assim como durante a escovação dental ou na mastigação. A frequência e a intensidade das bacteremias estão relacionadas com a natureza e magnitude do trauma tecidual, com a densidade da microflora e grau de inflamação ou infecção no local do trauma”, acrescenta. A especialista explica que as diferentes espécies bacterianas apresentam distinta capacidade de adesão, desempenhada
Reportagem pelos mediadores de adesão bacteriana, que determinarão a virulência na patogênese da EI. Esses mediadores estão localizados na superfície das bactérias e funcionam como adesivo da bactéria ao endocárdio lesado. Alguns estreptococos do grupo viridans possuem uma proteína de adesão que é um antígeno do receptor de lipoproteína I, que age como cola para o trombo isento de bactérias. Muito tem sido pesquisado no intuito de criar uma vacina contra estreptococos, o que seria de grande importância na prevenção da EI. “Os microrganismos, que se aderiram à vegetação, estimulam uma deposição ainda maior de fibrina e plaquetas em sua superfície, proliferando, agora, dentro da vegetação, o que favorece sua multiplicação em um curto período de tempo. Assim, prevenindo as doenças bucais, estaremos prevenindo bacteremias e, prevenindo também a EI, pois, os estreptococos do grupo viridans são responsáveis por mais de 40% dos casos de EI”, completa. Sobre a incidência da doença, é possível constatar que, nos Estados Unidos, a EI em adultos varia de cinco a sete casos por 100.000 pessoas ao ano que desconheciam ser portadoras de doença valvar. Quando submetidas à troca da valva nativa doente por uma prótese valvar, o risco calculado é de 630 em 100.000 pessoas ao ano. Entre os que já tiveram EI, o risco é de 740 em 100.000 pessoas ao ano. A troca de uma prótese por outra prótese valvar eleva o risco para 2.160 em 100.000 pessoas ao ano. “Entre portadores de doença congênita da valva aórtica, o risco é de 271 em 100.000 pessoas ao ano, enquanto que defeito do septo ventricular apresenta um risco de 145 em 100.000 pessoas ao ano. Quando analisado o risco entre portadores de doença reumática valvar, o número se encontra entre 380 e 440 em 100.000 pessoas ao ano, número próximo do risco de EI entre os portadores de prótese valvar mecânica ou biológica que é de 308 a 383. Não existem estudos nacionais que nos permita comparar com os EUA”, elucida a Dra. Itamara. A importância do uso racional de medicamentos, defendida por entidades de saúde do mundo inteiro, também se destaca no caso da EI. A American Heart Association (AHA) estabeleceu e atualizou, ao longo dos anos, os regimes profiláticos para prevenção da endocardite infecciosa (EI), com base em estudos sobre o assunto. O consenso publicado em 1997 incluía entre os pacientes de risco para EI aos quais profilaxia antibiótica era recomendada, aqueles com doença cardíaca em valva nativa, além daqueles que possuíam prótese valvar. Em 2007, o consenso excluiu deste grupo os portadores doença em valva nativa, citando que, no passado, doença em valva nativa derivada de doença cardíaca reumática era a condição que comumente predispunha à Endocardite e que ainda é comum em países em desenvolvimento. Em países desenvolvidos, a frequência de doença cardíaca reumática diminuiu, e o prolapso da valva mitral é agora a condição mais comum em pacientes com Endocardite Infecciosa. Neste consenso de 2007, também foi afirmado que apenas um número restrito de casos de EI poderia ser prevenido por meio da profilaxia com antibióticos, ainda que fosse comprovada eficácia de 100% dessa profilaxia. “Os grupos do InCor da Odontologia, de Doença Valvar, de Cardiopatias Congênitas e a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, por meio de consenso, concluíram que a doença cardíaca reumática é uma realidade brasileira, sendo responsável pela maioria dos casos de EI que chega ao InCor, e ainda que não haja estudos que comprovem a eficácia da profilaxia antibiótica, um único caso de EI deve e precisa ser considerado em virtude da gravidade da doença. A AHA, ao selecionar somente as cardiopatias de alto risco para resultados adversos da EI para continuar a receber profilaxia antibiótica, permite-nos concluir que, para eles, existem casos de EI cujo quadro é menos agressivo. Isto não é a realidade, pois toda EI é grave, envolvendo risco de morte se não diagnosticada e tratada rapidamente. Desta forma, mantivemos como protocolo e as recomendações da AHA de 1997”, afirma Dra. Itamara.
Cuidados odontológicos às crianças cardiopatas O cirurgião-dentista precisa estar atendo ao tratamento em crianças cardiopatas, pois elas necessitam de acompanhamento odontológico na prevenção e na eliminação de focos infecciosos dentários.
Julho de 2014
21
Reportagem Na atualidade, o número de crianças portadoras de cardiopatia congênita corrigida é bem maior do que há 20 anos, pois, diagnósticos e operações precoces são realizadas, até mesmo no dia do nascimento da criança. Isto tem reduzido o número e a gravidade das cardiopatias congênitas cianogênicas, onde ocorre baixa saturação periférica de oxigênio (SpO2), causando cianose importante. “Recentemente, nosso grupo finalizou um estudo com essas crianças, submetendo-as a exodontia com anestésico com e sem vasoconstritor, tendo a SpO2 monitorada antes durante e depois do procedimento. As variações da SpO2 não foram significantes e não houve intercorrência clínica”, comemora a especialista. Um dos fatores determinantes no sucesso do cuidar dos pequenos cardiopatas é o vínculo de confiabilidade e compreensão do comportamento da criança e familiar. “O acompanhamento periódico é fundamental, evitando instalação de doenças bucais e prevenindo EI. Havendo presença de inúmeros focos e a não colaboração da criança para o atendimento ambulatorial com anestesia local, o tratamento sob anestesia geral está indicado, com a participação de um anestesiologista experiente e avaliação do cardiologista antes e depois da intervenção”, esclarece a Dra. Itamara.
Formação e prática odontológica Na opinião da Dra. Itamara, o profissional de saúde bucal não precisa saber tudo sobre uma determinada doença, mas ele deve entender sobre como o seu procedimento pode ter interação com o quadro da patologia, os medicamentos que o paciente está ou esteve utilizando e outras particularidades julgadas relevantes. “O curso de graduação em Odontologia deveria ser integral e com duração mínima de seis anos, tendo no 5o e 6o ano, estágio obrigatório em hospital, considerando a residência em hospital após a graduação, um pré-requisito para qualquer especialização ou carreira acadêmica. Exponho
isso, pois somente em um hospital ocorrerá a vivência com pacientes graves e agudos, e com equipes multiprofissionais. Também defendo a inclusão de maior número de horas na graduação nas disciplinas de Fisiologia, Microbiologia, Histologia, Farmacologia e Patologia Geral”, manifesta-se a também especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais. “Acredito também que deveria haver a obrigatoriedade do dentista em ter treinamento em suporte básico da vida. Estudos apontam que cerca de 7% dos profissionais entrevistados já precisaram aplicar manobras de ressuscitação cardiorrespiratória em seu consultório ou em outro local”, sustenta a cirurgiã-dentista. Na prática odontológica, as pendências psicológicas apresentadas pelo portador de cardiopatia também podem contar com o auxílio do profissional de saúde bucal. O paciente portador de doença cardiovascular e o seu familiar esperam encontrar no profissional a solução do seu problema, esperança de cura e segurança. “Quando se está doente, você se sente sozinho, como se somente você no mundo padecesse daquele mal. Quando seu filho está doente, você quer que tudo acabe rápido, porque seu sofrimento também é único. Por isso, a melhor forma de auxiliar seu paciente é sempre se colocar no lugar dele. Avaliar o fato de que aquela pessoa não pode trabalhar por causa da doença, muitas vezes não pode praticar seu esporte que tanto gostava, não pode ir fazer aquela viagem dos sonhos por conta do tratamento que terá que fazer. Outra forma de minimizar esses sentimentos é demonstrando segurança nas suas condutas, explicando o que e o porquê deve ser feito este ou aquele procedimento”, explica. A Dra. Itamara ainda lembra que os pacientes cardiopatas, na grande maioria dos casos, são temerosos em relação às intervenções, preocupam-se com os efeitos adversos do anestésico, com a dor e com o desconforto. Demonstrar segurança, ter um ambiente calmo e trabalhar com bom humor são receitas primordiais para a excelência no atendimento.
O mal do século A Síndrome Metabólica foi considerada, recentemente, o mal do século nas grandes cidades, e pode aumentar em 2,5 vezes o risco de mortalidade por um problema cardiovascular. O dentista pode, e deve, avaliar casos de pacientes que sofram deste mal, adotando uma postura adequada no que tange a anamnese total e absoluta. A Síndrome Metabólica corresponde a um conjunto de doenças cuja base é a resistência insulínica. Doenças frequentes, como hipertensão, alterações na glicose e no colesterol muitas vezes estão associadas à obesidade. Observa-se que, em muitos casos, essas condições estão ligadas à resistência insulínica, constatando-se que essa síndrome guarda íntima relação com as doenças cardiovasculares. A insulina, além de transportar a glicose para as células do organismo, participa, também, do
22
Julho de 2014
metabolismo das gorduras. A Dra. Itamara esclarece que esta síndrome está relacionada com uma taxa de mortalidade duas vezes maior em relação à mortalidade da população normal. Entre portadores de doença cardiovascular, aumenta o risco de mortalidade em três vezes. “Portanto, quando o cirurgião-dentista estiver diante de um paciente com obesidade central (circunferência da cintura superior a 88 cm na mulher e 102 cm no homem), ele deve verificar a pressão arterial e observar níveis acima do considerado normal (120 x 80 mmHg). Ao medir a glicemia, também deve analisar o valor >110mg/dL, considerando a hipótese de síndrome metabólica. Sendo portador de diabetes melittus, há o risco de hipoglicemia, hiperglicemia e problemas com a cicatrização, além de chance de doença cardiovascular associada”.
Entrevista
Atendimento odontológico ao paciente com doença de Parkinson O mal de Parkinson - doença degenerativa progressiva crônica do sistema nervoso central e com avanço lento - está presente em todas as regiões do globo, atingindo homens e mulheres de todas as raças e de todas as classes socioeconômicas. Dados estatísticos mostram que de 7 a 10 milhões de pessoas no mundo sofrem com a presença da doença. A entrevista com o especialista em Odontogeriatria, Eduardo Hebling, apresenta um pouco mais sobre a doença de Parkinson e a sua relação com a saúde bucal do portador.
Por: Vanessa Navarro
Eduardo Hebling Cirurgião-dentista. Mestre e Doutor em Periodontia. Especialista em Odontogeriatria. Professor Associado da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Coordenador do Curso de Especialização em Odontogeriatria da FOP/UNICAMP. Especialista em Odontogeriatria. Membro da Câmara Técnica de Odontogeriatria do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo – CROSP. Vice-presidente da Sociedade Latino-americana de Odontogeriatria (SOLAGE).
Odonto Magazine - O que o cirurgião-dentista precisa saber sobre essa doença neurológica que causa a degeneração das células situadas na região do cérebro chamada substância negra? Eduardo Hebling - A doença de Parkinson (DP) é uma patologia neurodegenerativa lenta, progressiva e irreversível, até o presente momento, do sistema nervoso central. Foi descrita, pela primeira vez, em 1817, por James Parkinson, que a denominou de paralisia templorosa e, posteriormente, a doença levaria o seu nome. Essa doença é idiopática, ou seja, sua etiologia é desconhecida. A doença é caracterizada pela degeneração e morte progressivas dos neurônios situados na região do cérebro denominada de substância negra (base do mesencéfalo), resultando em uma diminuição do neurotransmissor Dopamina, envolvido na transmissão dos sinais nervosos, no controle de movimentos, no aprendizado, no humor, nas emoções, na cognição, no sono e na memória. Essa diminuição da Dopamina nos núcleos basais dos neurônios produz uma disfunção na regularização das principais estruturas cerebrais implicadas no controle dos movimentos. Essas alterações motoras estão relacionadas com a diminuição da secreção da Dopamina pelos centros dopaminérgicos e por um aumento da atividade das vias da Acetilcolina, outro neurotransmissor, responsável, sobretudo, pela contração muscular. A DP é caracterizada pela combinação de três sinais e sintomas clássicos: tremor de repouso, bradicinesia (lentidão anormal dos movimentos) e rigidez muscular.
24
Julho de 2014
Além desses sinais e sintomas, o paciente pode também apresentar: micrografia (redução do tamanho das letras na escrita), instabilidade postural (dificuldade em manter-se em pé), alterações na marcha (há dificuldade em iniciar e parar a marcha, e as mudanças de direção são custosas, com numerosos pequenos passos), postura encurvada para frente, deterioração da fluência da fala (gagueira), depressão e ansiedade, dificuldades de aprendizagem, insônias, perda do sentido do olfato (o que diminui o apetite, podendo levar a fragilidade). Odonto Magazine - Após o aparecimento dos sintomas, quais são as expectativas em relação à progressão da doença? Eduardo Hebling - Após o aparecimento dos sintomas, o curso da doença é progressivo ao longo de 10 a 25 anos. O agravamento da doença pode levar a alterações no humor, a depressão e, em cerca de 10% dos casos, a demência. As pessoas com DP não morrem por serem portadoras da doença, mas devido às consequências da evolução desta, pois o paciente fica fragilizado e predisposto a outras patologias, como a pneumonia de aspiração (o fraco controle dos músculos pode predispor à deglutição de restos alimentares para os pulmões) e outras infecções, devido à imobilidade. O diagnóstico médico é realizado pelo exame clínico, com a detecção dos sinais característicos e testes musculares e de reflexos. Normalmente, não há alterações em exames, como a tomografia computadorizada cerebral, eletroencefalograma ou na composição do líquido cefalorraquidiano. Técnicas da
Entrevista
A incidência da doença aumenta com o avanço da idade, sendo a média de idade de surgimento da doença aos 60 anos; contudo, 4% das pessoas com DP são diagnosticadas antes dos 50 anos
Julho de 2014
25
Entrevista Medicina Nuclear, como SPECTs e PETs podem ser úteis para avaliar o metabolismo dos neurónios dos núcleos basais. Na DP, a degeneração neuronal afeta vários grupos de neurônios no sistema nervoso central, sobretudo, os neurônios dopaminérgicos da pars compacta da substância negra. A perda celular nesse núcleo é acentuada, chegando a uma redução de 60-80% do número normal de células nervosas, quando a doença se manifesta de maneira inequívoca. Essas células dopaminérgicas, especialmente susceptíveis, dão origem à via nigroestriatal. Os corpos celulares na substância negra projetam os seus axônios diretamente ao estriado, onde liberam dopamina, como neurotransmissor. Há uma correlação nítida entre a perda de dopamina no estriado e os sintomas motores da síndrome parkinsoniana, especialmente com a bradicinesia. Além da degeneração acentuada da substância negra, a perda celular ocorre em vários outros núcleos subcorticais do sistema nervoso central e, inclusive, no sistema autonômico periférico. Nas fases avançadas da doença, há alterações no córtex cerebral. Essas anormalidades patológicas justificam a observação de que os pacientes com DP apresentam muitas outras manifestações clínicas não motoras, como: constipação intestinal, urgência miccional, impotência sexual, sudorese excessiva, hipersonolência diurna, insônia, outros distúrbios do sono (distúrbio comportamental do sono REM), depressão, ansiedade, perda cognitiva, demência, apatia, delírios e alucinações e dermatite seborreica. Assim, muitos outros problemas clínicos irão se apresentar durante o curso da doença. Nas fases avançadas, as alterações cognitivas assumem uma importância até maior que os próprios problemas motores. A história familiar positiva é um fator que eleva o risco para o desenvolvimento da doença, indicando uma predisposição genética. Odonto Magazine – Como e em qual estágio a doença de Parkinson pode interferir na saúde bucal? Eduardo Hebling - A DP pode ser classificada nos seguintes estágios (Escala de Hoehn & Yahr, 1967): 0= ausência de doença; 1= presença de sintomas motores apenas; 2= sintomas motores bilaterais; 3= sintomas bilaterais e moderada instabilidade postural, paciente é independente; 4= incapacidade funcional grave, ainda fica em pé e anda com ajuda; 5= restrito ao leito e à cadeira de rodas. Até o estágio 3, o paciente pode ser atendido,normalmente, no ambiente ambulatorial do consultório. Nos estágios 4 e 5, por vezes, o paciente necessitará de atendimento domiciliário ou, em casos que exijam maiores intervenções, de atendimento hospitalar. As consultas devem ser planejadas previamente, de forma a serem eficientes, eficazes e de curta duração. O melhor período de atendimento é pela manhã, cerca de 1,5 horas após o uso da medicação para a doença. O uso de mordedores ou pinças pode facilitar a abertura e o controle dos movimentos da boca. O uso de isolamento absoluto com lençol de borracha pode prevenir a deglutição involuntária de restos de restaurações ou de água das canetas. O sugador de alta potência deve ser sempre utilizado, para prevenir engasgos, bem como o uso de dois sugadores, para o isolamento absoluto, sendo um posicionado de forma constante abaixo do lençol de borracha. O paciente deve ser sentado em posição semissupina, posicionado com o encosto da cadeira reclinado em torno de 450 em relação ao solo e com o conjunto da cadeira em posição mais baixa, de modo a prevenir a hipotensão postural e permitir uma postura
26
Julho de 2014
de trabalho mais ergonômica da equipe de atendimento. O trabalho em equipe, com uso de técnicas de trabalho de quatro a seis mãos (uma a duas auxiliares), deve ser priorizado para que o atendimento seja realizado com eficiência e qualidade. Almofadas ou rolos de campos de tecido podem ser utilizados para apoiar os braços, pernas e pescoço do paciente com movimentos involuntários. Para pacientes idosos, o uso de mantas ou cobertores pode permitir um controle da temperatura corporal em salas climatizadas com uso de aparelhos de ar condicionado ou em regiões de temperatura fria. O controle dos sinais vitais deve ser aferido antes, durante e depois de cada intervenção. Estando o paciente com sinais vitais controlados e com frequência respiratória adequada, todos os tipos de procedimentos odontológicos podem ser realizados. Odonto Magazine - Como o dentista pode orientar o paciente e a família na questão da prevenção das doenças bucais? Eduardo Hebling - O planejamento do atendimento odontológico desses pacientes deve considerar o estágio e a evolução da doença. Para cada paciente, medidas individualizadas podem ser propostas para cuidados de reabilitação (com escolha de procedimentos mais simples, de menor complexidade técnica), cuidados paliativos (para os casos avançados da doença) e cuidados preventivos. O envolvimento do paciente (enquanto se mantiver o domínio cognitivo), dos familiares e dos cuidadores é fundamental para o sucesso do tratamento, tanto das doenças bucais quanto da DP. Consultas rotineiras de avaliação da condição de saúde bucal devem ser realizadas, bem como a instituição de medidas preventivas para o controle e prevenção das principais doenças bucais, a doença cárie (sobretudo, a cárie radicular) e as doenças periodontais. O aprimoramento dos conhecimentos sobre cuidados bucais dos familiares e cuidadores é essencial nesse contexto. Odonto Magazine – Qual é a relação da doença de Parkinson com uma possível disfagia, que pode ocorrer em até 50% dos casos? Eduardo Hebling - A disfagia, ou seja, a alteração da deglutição que dificulta a formação e o transporte do bolo alimentar, bem como da saliva, da boca para o estômago, é um dos sinais de alterações neurológicas, como é o caso da Doença de Parkinson. O processo da deglutição requer a coordenação de seis nervos cranianos, do tronco cerebral, do córtex e de 26 músculos da boca, faringe e esôfago. Os nervos cranianos que participam da deglutição são o trigêmeo (V par), o facial (VII par), o glossofaríngeo (IX par), o vago (X par), o acessório (XI par) e o hipoglosso (XII par). Os nervos sensoriais levam o estímulo até o cérebro. Os músculos que participam da deglutição recebem os impulsos mandados pelo córtex. O tronco cerebral é responsável pela organização e decisão da deglutição. Ele decide se a deglutição é necessária ou não, inibe todos os movimentos desnecessários quando existe a decisão para deglutir e ativa os reflexos. Quando todos os processos para a deglutição forem elaborados, ela ocorre de forma automática, sem decisões voluntárias. Na DP, a disfagia está associada às desordens neuromusculares, com alterações na musculatura ou na sensibilidade do processo de deglutição. Mesmo ocorrendo a hipossalivação induzida pela medicação para a DP, a dificuldade de deglutição pode gerar o acúmulo de saliva na cavidade oral do paciente, fazendo com que ele babe pelos cantos da boca ou induza a movimentos de engasgos. Essa dificuldade de de-
Entrevista glutição pode reduzir a adesão a uma dieta correta, podendo levar a uma fragilidade do paciente, ou pode, ainda, induzir a aspiração de alimentos, causando até a morte do paciente. A atuação conjunta com fonoaudiólogos, aplicando exercícios específicos para estimular a musculatura, e de nutricionistas, indicando uma dieta correta de alimentos fáceis de serem deglutidos e ricos em recursos energéticos, pode prevenir essas ocorrências. Odonto Magazine – A bradicinesia é um fator comum em pacientes que sofrem com a doença de Parkinson, e, frequentemente, envolve a musculatura orofacial. Quando o dentista deve perceber a interferência dessa hesitação do movimento e como definir o tratamento adequado? Eduardo Hebling - Os testes de diagnóstico da bradicinesia, mencionados anteriormente, podem identificar esse sinal da doença. O uso de medicação específica (principalmente a levodopa) minimiza esses efeitos. A terapia conjunta com fonoaudiólogos pode reduzir esses efeitos na musculatura facial do paciente. Odonto Magazine – Existe algum tipo de capacitação e/ou treinamento para o cirurgião-dentista responsável pelo tratamento bucal de pessoas portadoras do mal Parkinson, segunda doença neurodegenerativa mais comum, depois da doença de Alzheimer? Eduardo Hebling - Sim, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) do Brasil reconhece duas possíveis especialidades para o atendimento de pacientes portadores de DP: o especialista em Pacientes com Necessidades Especiais (principalmente para os casos precoces da doença, em pacientes com idade abaixo de 50 anos) e o especialista em Odontogeriatria (para a maioria dos pacientes portadores de doenças neurodegenerativas, com as doenças de Alzheimer e de Parkinson, com idade acima dos 60 anos). O Brasil é um dos países pioneiros no reconhecimento dessas especialidades. Muitos países desenvolvidos, com é o caso dos EUA, ainda não conseguiram o reconhecimento dessas especialidades. O reconhecimento de uma especialidade é importante para estimular a busca de conhecimentos específicos e para capacitar profissionais para o atendimento e prevenção das doenças bucais nessa população. Odonto Magazine - Existe um protocolo de atendimento odontológico determinado por autoridades em saúde bucal para os pacientes portadores da doença de Parkinson? Eduardo Hebling - Protocolos de atendimento odontológico para pacientes portadores de DP são estabelecidos na literatura científica, mas não ainda por órgãos e entidades representativas da Odontologia no Brasil. A Câmara Técnica de Odontogeriatria do Conselho Regional de Odontologia do Estado de São Paulo (CROSP), da qual faço parte, tem iniciado a elaboração de protocolos de atendimento para diversas morbidades que afetam os idosos e exigem manejos odontológicos específicos. Contudo, a elaboração desses protocolos é abrangente e detalhista, o que faz com que esse processo seja moroso e demore a ser posto em prática. Por isso, o processo de educação continuada por parte de todos os profissionais que atuam com pacientes idosos é fundamental para se obter tais conhecimentos. A realização de uma anamnese bem elaborada e direcionada para detectar as várias alterações ou doenças sistêmicas que podem ocorrer em pacientes idosos, permite o diagnóstico e previne as possíveis dificuldades de tratamento
desses pacientes. Não é incomum que o cirurgião-dentista seja o primeiro profissional a detectar os sinais da DP em pacientes, alertando-os ou a seus familiares sobre a presença da doença. Odonto Magazine - Como o cirurgião-dentista pode auxiliar nas questões psicológicas apresentadas pelos pacientes vítimas deste mal? Eduardo Hebling - O tratamento multidisciplinar é fundamental para o controle da doença e manutenção da saúde e qualidade de vida do paciente. A ajuda de um psicólogo pode aliviar os sinais de depressão, quando necessário. O cirurgião-dentista, que atuará nessa equipe, pode trocar informações com os vários profissionais envolvidos sobre as condições de saúde do paciente, bem como orientar a família na busca de profissionais específicos e qualificados, sejam médicos, fonoaudiólogos, nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos. Como profissional de saúde, o cirurgião-dentista deve estimular o paciente, cuidadores e familiares na adesão aos tratamentos propostos. Odonto Magazine – Quais são os passos a serem seguidos pelo cirurgião-dentista para realizar um atendimento de qualidade junto aos outros profissionais de saúde? Eduardo Hebling - O cirurgião-dentista que atuará na equipe multidisciplinar de atendimento do paciente portador de DP deve interagir com os demais profissionais de saúde, trocando informações de saúde e estimulando o paciente e seus cuidadores ou familiares a aderirem às recomendações de cada profissional. Em relação aos médicos (neurologistas ou psiquiatras), o profissional de saúde bucal deve estar atento na identificação dos principais efeitos colaterais da medicação (hipossalivação, aumento da bradicinesia, hipotensão ortostática, entre outras) que afetam nos cuidados e manejo do paciente. A comunicação entre esses profissionais pode permitir a troca de alguns fármacos, refletindo em menores efeitos colaterais, facilitando o tratamento e a manutenção da qualidade de vida do paciente. Odonto Magazine - Como o cirurgião-dentista deve proceder, caso surja a necessidade de uma intervenção odontológica mais invasiva? Eduardo Hebling - Para os casos avançados da doença que exijam intervenções odontológicas mais invasivas, o atendimento hospitalar deve ser realizado. Para tanto, os profissionais que não estiverem inseridos em um quadro clínico de hospital, podem atuar em conjunto com a equipe de Odontologia Hospitalar ou de especialistas em Bucomaxilofacial. Esses profissionais, em conjunto com a equipe médica de anestesistas do hospital, poderão intervir na melhor logística para o atendimento do paciente. Odonto Magazine - Como o profissional de saúde bucal deve agir para auxiliar na qualidade de vida do paciente portador da doença de Parkinson? Eduardo Hebling - A qualidade de vida do paciente portador de DP é prejudicada pela perda dentária ou impossibilidade de uso de próteses removíveis. Na prevenção da perda dentária, é fundamental o controle rotineiro dos agentes etiológicos e dos fatores predisponentes para as principais doenças bucais, a doença cárie e as doenças periodontais. A redução e controle do biofilme bacteriano pelo paciente ou seus cuidadores pode ser realizada com uso de escovas elétricas, de
Julho de 2014
27
Entrevista
A doença é encontrada em todas as raças e grupos étnicos. Em relação ao gênero, a prevalência é maior nos homens, os quais apresentam de 1,5 a duas vezes mais chances de terem DP do que as mulheres
escovas com os cabos modificados (para facilitar a apreensão da mesma pelo paciente), de furquilhas (para o uso do fio dental) e de aplicações de antissépticos bucais na forma de spray. O uso de bochechos e de aparelhos de irrigação pode ser contraindicado em casos mais avançados da doença, devido à dificuldade de controle da deglutição, podendo levar a complicações de aspiração involuntária dos produtos. A profilaxia profissional e o uso de substâncias fluoretadas, na forma de gel ou verniz, por parte do profissional, e de dentifrício com alta concentração de flúor (5.000 ppm, confeccionado em farmácia de manipulação), por parte do paciente, são medidas a serem realizadas de forma rotineira ou periódica, dependendo do risco apresentado pelo paciente. Em casos avançados da doença, onde a incapacidade de locomoção a um consultório dentário pode ocorrer, o atendimento domiciliário pode ser realizado pelos profissionais capacitados. Em casos de intervenções odontológicas maiores, o atendimento hospitalar deve ser escolhido. A hipossalivação induzida pela terapia medicamentosa da doença, a qual pode predispor às doenças bucais e à falta de retenção de próteses removíveis, pode ser controlada pelo uso de substitutos salivares em spray e pelo estímulo da ingestão de água. A falta de retenção de próteses removíveis pode ser prevenida com uso de adesivos ou pela inserção de implantes osseointegrados e de sistemas de retenção de próteses, nos estágios iniciais da doença. Nos portadores dessas próteses (parciais ou totais) sem sistemas de retenção, com o avanço da doença, é frequente a recomendação de não uso das mesmas, para evitar possíveis acidentes nos pacientes, gerando dificuldades mastigatórias, fonatórias e sociais, prejudicando a qualidade de vida e podendo levar a quadros de fragilidade. Odonto Magazine - Por se tratar de uma doença hereditária, engana-se o profissional de saúde bucal que pensa que o Parkinson acomete apenas os idosos. Os jovens também podem apresentar os sintomas negativos trazidos pela enfermidade. Os cirurgiões-dentistas brasileiros, independentemente da
28
Julho de 2014
especialidade, estão preparados para o iminente crescimento do número de casos de pessoas portadoras de tal mal? Eduardo Hebling - A história familiar positiva é um fator que eleva o risco para o desenvolvimento da doença, indicando uma predisposição genética. Embora existam famílias com grande concentração de casos de parkinsonismo, a grande maioria não apresenta história familiar positiva ou o número de parentes afetados é muito pequeno. Os avanços recentes nas técnicas de genética molecular permitiram a busca por genes associados com a doença. Em 1997, foi identificado em uma família greco-italiana o primeiro gene responsável pelo aparecimento de um de tipo de parkinsonismo familiar com herança autossômica dominante que foi designado PARK1. Pouco tempo depois, foi identificado o PARK2, responsável pelo aparecimento de um parkinsonismo juvenil ou precoce (antes dos 21 anos de idade) com herança autossômica recessiva. Até o presente momento, a lista de genes associados aos casos de parkinsonismo familiar chegou ao PARK15. Entretanto, apenas as mutações nos genes da PARK5, PARK7 e PARK8 já foram identificadas. Essas formas de parkinsonismo genético são chamadas de monogênicas, porque dependem de anormalidades em apenas um gene. Análises realizadas em população de pacientes com doença de Parkinson demonstraram que uma pequena porcentagem de pessoas era portadora dessas mutações. Atualmente, os achados genéticos indicam uma teoria que a maioria dos pacientes tenha uma causa poligênica para a sua doença. Os cirurgiões-dentistas devem apresentar conhecimento da doença, seus sinais e sintomas, sua evolução e sua interação com a saúde bucal do paciente, desenvolvendo as técnicas de manejo adequadas na prevenção e tratamento das doenças bucais e interagindo com os demais profissionais de saúde, familiares e cuidadores, que suportam a rede de saúde e social na terapia e controle da doença. Para tanto, a educação continuada é fundamental, com a participação de cursos e palestras sobre o assunto e/ou no desenvolvimento de capacitação ampliada, em cursos de especialização em Odontogeriatria, por exemplo.
1º
20 DE OUTUBRO 2014 SÃO PAULO CENTER DENTÍSTICA · ENDODONTIA · IMPLANTODONTIA · LABORATÓRIO · ORTODONTIA
PROGRAME-SE PARA UM GRANDE ENCONTRO DA ODONTOLOGIA. Venha participar de conferências e hands on com grandes nomes da odontologia. Palestras PROFESSOR
HORÁRIO
TEMA
Markus Haapasalo
9h - 13h
Instrumentação e irrigação: chaves para o sucesso na endodontia.
Walter Dias
9h - 12h
A nova geração de técnicas restauradoras inteligentes que combinam sistema de matriz avançado e materiais exclusivos para resultados melhores, mais rápidos e impressionantes.
Ricardo Lenzi
14h - 16h
Gestão e Marketing em odontologia.
Ronaldo Hirata
14h - 16h
Atalhos em resinas compostas: resinas de baixa contração.
Carlos Bueno
16h30 - 18h
Inovações em endodontia: o que realmente auxilia o nosso dia a dia?
Marcelo Nunes
16h30 - 18h30
Manipulação Tecidual Perimplantar: da explantação à implantação com provisionalização imediata.
Valdir Muglia
16h30 - 18h30
Colocação imediata de coroa provisória em implante colocado em alvéolo recém extraído usando um abutment definitivo.
PROFESSOR
HORÁRIO
TEMA
Flávio Cotrim
9h - 13h
O sistema Essix Clear Aligner na contenção e recidiva ortodôntica.
Ronaldo Hirata
9h - 12h
Prática simplificada: técnica de utilização de resina de baixa contração.
Carlos Bueno
14h - 16h
Workshop Protaper Next.
Markus Haapasalo
14h - 16h
Workshop Protaper Next.
Manoel Machado
16h30 - 18h30
Workshop Protaper Next.
Walter Dias
16h30 - 18h
Hands on Surefil SDR flow - “Class II - state of the art” - Inovação ao seu alcance.
Hands On
Teórico Demonstrativo PROFESSOR
HORÁRIO
Lutz Ketelaar
8h30 - 12h
Rogério Moraes
13h - 16h
Raimundo Nonato
16h30 - 18h
TEMA
CAD/CAM - Combinação de técnicas tradicionais com soluções digitais de alta precisão: foco em coroas e pontes confeccionadas com Cercon HT, fresagem em cera para fundição, fresagem em cera para prensagem. DUCERAM LOVE: Utilização de novos conceitos e efeitos exclusivos de massas para confecção de um trabalho simples com excelente resultado natural. Conceito KISS, a versatilidade e eficiência de um sistema cerâmico.
Inscrições e informações, acesse: www.VantagensReais.com.br. Vagas limitadas!
Ponto de Vista
Cirurgiões-dentistas no Simples Nacional
Claudio Yukio Miyake Graduação em Odontologia pela Universidade de Mogi das Cruzes. Mestrado em Odontologia – Área de atuação em Materiais Dentários – Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo – USP. Especialista em Ortodontia – Escola de Aperfeiçoamento Profissional da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas - APCD – Central. Presidente do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo
30
Julho de 2014
Ponto de Vista
A grande importância para a classe odontológica será a inserção dos especialistas na definição de microempresa ou de empresa de pequeno porte
A
recente decisão, unânime, do Plenário da Câmara dos Deputados, pela inclusão dos cirurgiões-dentistas no Simples Nacional (Supersimples), é fruto de uma árdua batalha dos cirurgiões-dentistas e de suas principais representações, como o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo, Conselho Federal de Odontologia, assim como todas as entidades nacionais. Esse importante passo nos deixa otimistas quanto a uma conquista definitiva para os profissionais da Odontologia e outras categorias a serem contempladas com o novo regime tributário. Nesta importante questão, temos, também, a participação do SEBRAE-SP, que nos mantêm informados e nos orienta. O Projeto de Lei (PL) segue agora para votação no Senado e à sanção presidencial. É necessária mobilização máxima de todos nós para que seja aprovado no Parlamento e tenha o aval da Presidência da República, etapas indispensáveis para a Lei entrar em vigor. O Simples Nacional consiste em um sistema de tributação que consolida em um só tributo diversos impostos federais (Imposto de Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL, Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - COFINS, Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI e Contribuição Previdenciária Patronal), estaduais (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços - ICMS) e municipais (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISS). A aprovação da Lei promoverá, assim, a tão pleiteada universalização do Simples, inserindo empresas no regime especial de tributação apenas por critério de faturamento bruto (até R$ 3,6 milhões ao ano), independentemente da categoria profissional, incluindo, desta forma, os cirurgiões-dentistas. Ainda, agilizará
os processos de abertura e fechamento de empresas e a revisão da substituição tributária. A grande importância para a classe odontológica será a inserção dos especialistas na definição de microempresa ou de empresa de pequeno porte, portanto os mesmos podem se beneficiar das facilidades anteriormente previstas na Lei Complementar 123/06, conhecida como Estatuto da Micro e Pequena Empresa. Há outras vantagens, por exemplo: quanto mais colaboradores o consultório odontológico tiver em seu quadro de funcionários, mais vantajoso será, pois a Contribuição Previdenciária Patronal, que incide sobre os salários e variáveis, de em média 26,8%, está inclusa nas alíquotas da nova tabela do Simples Nacional. Além dos cirurgiões-dentistas, os outros mais de 140 segmentos que antes não eram contemplados serão beneficiados pela medida, entre eles estão: Medicina (inclusive laboratorial e Enfermagem); Medicina-Veterinária; Psicologia; Psicanálise; Terapia Ocupacional; Jornalismo e Publicidade, apenas para citar alguns exemplos. É indispensável reafirmar, contudo, que ganhamos uma batalha, mas ainda continuamos na guerra. O CROSP e demais entidades de classe, assim como o SEBRAE-SP, permanecerão agindo ativamente junto às autoridades até que se dê a sanção da Lei. Também queremos a revisão da tabela, para que os novos setores incluídos sejam tributados com alíquotas mais favoráveis, pois, atualmente, estes pagarão impostos que podem ir de 16,93% a 22,45%, de acordo com o faturamento acumulado nos últimos 12 meses. Ficou acordado que será criado um grupo de trabalho para rever, no prazo de 90 dias desde a aprovação do PL, a lógica das tabelas e faixas de enquadramento. Estamos atentos.
Julho de 2014
31
Coluna - Pacientes Especiais
Você quer dinheiro, sucesso ou paz no coração? José Reynaldo Figueiredo Cirurgião-dentista. Doutor em Odontologia Social. Mestre em Odontologia Legal e Deontologia. Especialista em Odontopediatria e em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais. Vice-presidente da Associação Brasileira de Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais (ABOPE). Membro do Conselho Científico da Revista Odonto Magazine.
E
u gosto de ganhar dinheiro. Gosto mesmo. Adoro chegar ao fim do dia e saber que aquele rico dinheirinho foi conquistado com trabalho, com suor e com dedicação. É bom saber que pude dar o melhor de mim para cada um dos meus pacientes. Estudei muito para chegar aonde cheguei e, claro que meu trabalho tem que ser recompensado. Isso é natural. Porém, como profissionais de saúde, vivemos o dilema de cobrar honorários justos de nossos pacientes. Mas, afinal, o que é justo? Todo mundo, isso é histórico e já estigmatizado, acha que os serviços odontológicos são caros. Imaginem, então, como é difícil trabalhar com pessoas com necessidades especiais, pacientes às vezes com a saúde debilitada, com condições socioeconômicas a desejar e que necessitam de um atendimento especializado, algumas vezes em ambiente hospitalar, com custo elevado e que, nem sempre, o serviço público consegue atender. Ufa! Pois é, trabalhar com especiais não é complicado apenas do ponto de vista “cuidar do paciente”. Precisamos saber cobrar também, ou vai acontecer, como disse uma amiga minha e especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais: “é simples, quando vou ao supermercado e com meu carrinho de compras cheio, eu olho bem para os olhos da moça do caixa e digo ‘eu atendo PNE’, e está tudo resolvido”. A ironia da minha amiga é justificável, e eu explico. Por incrível que pareça, rotineiramente costumo ser abordado por colegas que me perguntam se não posso ou não conheço um lugar para atender um paciente especial, porque a família é pobre, o pai fugiu, a criança não anda e por aí vai. Já vi várias instituições que têm todo tipo de atendimento clínico, menos dentista. “Não, dentista é caro” é a justificativa. Vai que eles não encontram profissionais experientes para atender os PNE, afinal, a Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais é uma das especialidades oficialmente normatizadas pelo Conselho Federal de Odontologia com menos especialistas. Portanto, os que forem contratados devem receber dignamente seus honorários, se assim receberem outros profissionais da área da saúde. Tendo esclarecido meu pensamento sobre a atuação profissional de quem trabalha com “especiais”, bate aquele sentimento que vem lá do fundo da alma, ali do lado direito da cabeça, e que me obriga a dizer: com pacientes especiais é diferente. De maneira geral, agimos motivados por dois componentes da natureza humana: a razão e a emoção. A Odontologia como ciência deve ser balizada pela razão. Precisamos de técnica apurada em um preparo cavitário ou endodôntico, carecemos da frieza em uma cirurgia, e precisamos ser pragmáticos em nossas decisões, então, usamos o lado esquerdo do nosso cérebro. O relacionamento humano, como vivência, deve ser balizado pela emoção. Aí, vamos usar o lado direito do cérebro, aquele que olha com mais
32
Julho de 2014
Coluna - Pacientes Especiais
No final de nossas vidas, não seremos julgados pelos muitos diplomas que recebemos, por quanto dinheiro ganhamos ou por quantas grandes coisas realizamos. Seremos julgados pelo ‘eu tive fome e você me deu de comer. Estava nu e você me vestiu. Eu não tinha casa e você me abrigou’. Madre Teresa de Calcutá
Julho de 2014
33
Coluna - Pacientes Especiais paciência para nossos pacientes, entendendo suas angústias e preocupações. Por isso, a OPNE precisa ter um equilíbrio para ser exercida com capricho. Falo disso, porque tenho, durante muitos anos, acompanhado a atuação de pessoas que parecem ter o lado direito do cérebro mais desenvolvido. Os exemplos são muitos e sensibilizadores. Algumas semanas atrás, meu filho me disse que iria participar de um projeto interessante e que iria construir casas populares para pessoas necessitadas junto com uma ONG chamada TETO (http://www. techo.org), Iriam, inicialmente, arrecadar doações espontâneas e depois participar do levantamento das moradias. O local era uma favela totalmente desprovida de recursos. Foram em um final de semana, dormiram em escolas da região e, ao final do domingo, o grupo - com aproximadamente 300 jovens levantou mais de 40 casas populares. Também conheci o Centro de Apoio à Criança com Câncer Marta Kuboiama (http://www.cmk.org.br) que recebe crianças de todo o Brasil quando estas precisam tratamento oncológico e/ou hematológico em São Paulo, e não têm onde se hospedar. As crianças e suas famílias recebem apoio nos hospitais e contam com o auxílio da Dra. Dirce Kuboyama. ONGs e casas de apoio existem muitas, algumas sérias, outras nem tanto, que nos fazem desconfiar de seus gestores, mas destes nem vale a pena comentar. Precisamos, isso sim, apoiar e valorizar quem faz com carinho, desprendimento e amor. E na Odontologia? Como estamos? Há mais de duas décadas, alguns dentistas, capitaneados pelas Dras. Nadia Mello e Martha Issa resolveram criar, no interior do Paraná, o Grupo de Estudo para o Desenvolvimento e Tratamento Odontológico ao Excepcional de Londrina – GETEXCEL (http://www. getexcel.org). Essa turma desenvolve um trabalho espetacular sem fins lucrativos, destinado ao atendimento odontológico gratuito de pacientes portadores de necessidades especiais e é o único da região. Contam com seis dentistas voluntários, proveem tratamentos em todas as áreas da Odontologia e, ainda, capacitam, continuadamente, seus profissionais. Atualmente, quatro mil pacientes estão cadastrados. Em 2001, no interior de Goiás, na cidade de Itumbiara, nasceu o NAPEO – Núcleo de Atendimento ao Paciente Especial em Odontologia (http://www.napeo.com.br), tendo como idealizadores e fundadores o Dr.Tulio Spini e a Dra. Marta Spini. De uma simples cadeira odontológica, evoluiu para uma instituição com os títulos de utilidade pública municipal, estadual e federal, sem fins lucrativos. Hoje, não abrange apenas a Odontologia, mas também todas as especialidades correlatas que dão suporte ao atendimento de pacientes com necessidades especiais, como Fisioterapia, Psicologia, Nutrição, Fonoaudiologia e Assistência Social. Tornaram-se um centro de reabilitação. A turma do NAPEO recebe pacientes de mais de 29 cidades da região e promove atendimento nas principais áreas da Odontologia. Os profissionais atendem, mensalmente, mais de mil pacientes, e contam com mais de 20 profissionais. Criado em julho de 2007, por iniciativa da dentista Marisa Helena de Carvalho, motivada pelo seu histórico de enfrentamento de câncer, o Instituto Sorrir para Vida (http://www.sorrirparavida. org.br) vem atendendo pacientes oncológicos de baixa renda em tratamento quimioterápico e/ou radioterápico, por consequência de algum tipo de câncer. Em 2013, o instituto iniciou o atendimento odontológico aos pacientes com necessidades especiais carentes, com deficiências físicas, doenças sistêmicas, doenças infectocontagiosas e alterações
34
Julho de 2014
C
M
Y
CM
comportamentais. Nesse ano, foi declarado de utilidade pública estadual e foi, novamente, reconhecido e certificado pelo Centro de Voluntariado de São Paulo por ter um programa de voluntariado atuante, organizado e transformador. Atualmente, o instituto conta com a colaboração de 10 profissionais dentistas que trabalham, voluntariamente, em prol desta causa, oferecendo os seguintes tratamentos: laserterapia, cirurgia, endodontia, periodontia, dentística, prevenção e ortodontia. Bem, o que faz cirurgiões-dentistas saírem de seu conforto profissional, mudando seu status quo em busca de desafios na atenção ao próximo? Eu não sei dizer, cada um tem uma história, uma verdade ou muitas, mas, todos têm em comum um sentido de desprendimento que cativa, oferece o seu precioso tempo e nos faz perguntar: por que não eu? São entidades sérias, respeitadas, muitas vezes sem o devido apoio da sociedade e, principalmente de autoridades. Existem várias espalhadas pelo Brasil, mas o Brasil é grande e os serviços públicos ou não dão conta, ou estão desprovidos de recursos para essa população. Aí eu volto com algumas questões que vivem martelando, não sei se no hemisfério direito ou esquerdo do meu cérebro: precisamos sempre receber para produzirmos um serviço? Qual é nossa capacidade de doar? Como podemos atuar para que a mesmice de nossa vida seja chacoalhada? Como podemos terminar o mês, às vezes, com dinheiro apertado, mas esbanjando um sentimento de dever cumprido? Cada um sabe onde aperta o calo, mas muitos nem imaginam como existem calos muito mais dolorosos por aí. Para terminar o texto volto com outra frase, também brilhante e doce de Madre Teresa: “A paz começa com um sorriso”. E aí? O que você está esperando para conquistar sorrisos especiais e a paz no seu coração?
MY
CY
CMY
K
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
Coluna - Odontologia do Trabalho
A Odontologia do Trabalho sob um olhar multidisciplinar Marcos Renato dos Santos Cirurgião-dentista. Especialista em Odontologia do Trabalho. Presidente da Associação Brasileira de Odontologia do Trabalho – Seccional Mato Grosso ABOT – MT. Pós-graduando em Gestão em Saúde. Pós-graduado em MBA Gestão Executiva de Negócios. Representante do CRO- MT – Regional Sapezal. www.oralmedsst.com.br
O
absenteísmo, por causas odontológicas, traz consequências danosas tanto para os trabalhadores, quanto às empresas e ao Estado brasileiro. Estes danos podem ser minimizados por meio da implantação de um serviço de Odontologia do Trabalho nas organizações. É preciso incorporar a Odontologia do Trabalho nas empresas, fazer a integração com a Medicina do Trabalho, bem como com as demais especialidades que compõem a equipe de SST (conforme o que cita o item 4.4) e que fazem parte da NR4 (Norma Regulamentadora) do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem lutado para que a Odontologia do Trabalho fique fora do escopo da NR4, e não faça parte da área de SST (Saúde e Segurança do Trabalhador). A bancada de deputados federais aliados da CNI, assim como os empresários que ela representa, ainda não entenderam o que significa a Odontologia doTrabalho, nem as vantagens que ela pode trazer para as organizações. Infelizmente, a visão da CNI é míope, só pensando no impacto financeiro imediato que a incorporação da especialidade pode acarretar para as empresas. O conceito de visão holística da saúde do trabalhador, cada vez mais em pauta no mundo todo, deve ser o foco das organizações modernas, do Estado, bem como dos profissionais de saúde envolvidos na equipe de saúde e segurança do trabalhador (SST). No que diz respeito à saúde do trabalhador, é dever do Estado, das empresas, dos profissionais envolvidos em SST e de toda a sociedade, lutar para que o ser humano possa ser visto de forma integral, ou seja, “como um todo, e não em pedaços”, de forma segmentada, como vem acontecendo, principalmente na área de saúde, em que cada especialidade trata o indivíduo dividindo-o em partes. É premente a necessidade de trabalhar com uma equipe multidisciplinar em todas as áreas da saúde. Ganha o paciente (o trabalhador), a empresa e o setor público. A mercantilização que ocorre, hoje, na área da saúde, compromete não só os trabalhadores ou as empresas, mas também o Estado Brasileiro. Esta visão neoliberal “Maquiavélica” e errônea da saúde, do “lucro pelo lucro” ou dos “fins que justificam os meios”, faz
36
Julho de 2014
com que as ações trabalhistas para reparar danos decorrentes do processo laboral, e os processos impetrados na Justiça do Trabalho sejam, cada vez mais, pleiteadas pelos colaboradores das empresas. O conjunto dos afastamentos decorrentes de acidentes, ou mesmo patologias relativas ao ambiente laboral, movimenta, ainda mais, os escritórios do MTE e do INSS e alimenta a indústria das indenizações trabalhistas, que lesam o patrimônio das empresas, bem como do Fundo de Previdência do INSS, pois a concessão de benefícios pelo Estado, por meio do INSS, corrói o sistema de seguridade social, gerando um déficit enorme e desnecessário para o Estado. Muitas empresas contratam uma equipe de SST para dar conta, tão somente, dos documentos exigidos pelo MTE, como PCMSO, LTCAT, PPRA, dentre outros. Querem apenas o documento, seja ele qual for, pensando somente em estar “de acordo” com a legislação vigente e as fiscalizações. As Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs) fazem a fiscalização de forma aleatória e, geralmente, por conta de denúncias, pois têm poucos fiscais, demonstrando a ineficiência do Estado Brasileiro nesta área. As corporações, por conta da “ignorância” e falta de discernimento, correm um risco enorme e, muitas vezes, inconsciente, de acontecer eventos como os já citados (indenizações trabalhistas), além de multas e sanções, advindas dos órgãos que controlam e dão suporte à SST, como o MTE, por exemplo. O risco que estas ações imediatistas, inconscientes, desvanecidas e impensadas por parte das empresas que querem o documento pelo documento, o papel pelo papel, o ASO por que o contador pede, o PCMSO, PPRA, LTCAT, pois o MTE exige, são enormes. A escolha equivocada dos profissionais de SST, feitas pelos dirigentes das empresas ou mesmo por integrantes do RH, simplesmente porque cobram menos pelos documentos, o que diminui seus custos imediatos, é uma enorme falácia. Ao pensar na minimização de custos imediatos, o empresário se ilude, tem uma visão distorcida de realidade, pois o que parece economia para a empresa hoje, num futuro próximo, poderá representar uma grande dor de cabeça. O gestor comete um erro fatal, pois correrá um risco enorme de ver
Coluna - Odontologia do Trabalho
sua “economia” escorrer pelo ralo, devido ao aumento das indenizações trabalhistas e de reparação de dano causado, pela suposta “economia” que julgou ter feito na escolha incorreta do profissional ou empresa de SST que ao invés de prevenir os problemas, acarretou um custo maior, simplesmente porque escolheu um profissional ou empresa que onerava menos. Então, em SST, como em outras áreas da saúde, ou mesmo em nossas vidas, não há milagres. Airton Senna já dizia: “No que diz respeito ao empenho, ao compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe meio termo. Ou você faz uma coisa bem feita ou não faz”. Vejam que o que parece economia em um primeiro momento, pode se transformar em um “monstro” que você mesmo criou e alimentou, e que irá assombrar e aterrorizar sua empresa ao longo de muitos e muitos anos. Em se tratando de Saúde e Segurança do Trabalho, não podemos brincar de preencher ASO, assinar e bater carimbo, como vemos normalmente, ou fazer uma cópia rápida de um PCMSO, no estilo do CTRL/C – CTRL/V, tendo somente o trabalho de trocar o nome e o endereço das empresas. Os gestores das empresas, gerentes de RH e os profissionais que atuam em SST, precisam aprender e atentar que em SST não se brinca, e ao contrário do que muitos acham, e possa parecer, trabalhar em nossa profissão não é, e nunca será, um meio fácil ou uma “fábrica de dinheiro”, e que tudo o que se faz tem consequência, seja ela imediata ou tardia.
Após esta breve reflexão, em que foram postos à tona os prós e os contras de uma gestão responsável por parte da equipe de SST das empresas, é visível e notável, a grande responsabilidade que é imputada ao setor de RH das organizações, gestores e CEOs, pois são estes profissionais que coordenam e contratam a mão de obra que atua em SST. Conclamamos aos empresários, principalmente, os ligados a CNI, para refletir com relação ao que foi exposto. Quem sabe e, oxalá, estas breves palavras, possam transformar sua percepção equivocada quanto à saúde e segurança do trabalhador e, assim, orientar sua bancada de Deputados Federais para votar a favor do PL 422/2007, que se encontra na CCJC da Câmara dos Deputados. Reitero também a necessidade de mudança do voto do relator do PL 422/2007, Deputado Paes Landim, que, equivocadamente, proferiu voto pela inconstitucionalidade do PL. Aproveito para clamar, para que o nobre deputado vá ao encontro dos 22 votos em separado proferidos por seus pares, que manifestaram voto contrário ao do relator, em uma clara atitude de entendimento do que é a Odontologia do Trabalho e os benefícios que a especialidade pode aduzir a todos os profissionais que atuam em SST, especialmente aos cirurgiões-dentistas do trabalho, e brindar nossa nação, com uma medida que só trará benesses às empresas, aos trabalhadores, bem como ao Estado brasileiro. Pensem nisso!!
Julho de 2014
37
Coluna - Odontopediatria
MIH (Hipomineralização Molar-Incisivo): você sabe o que é e o que fazer?
O
Monica da Consolação Canuto Salgueiro
Sandra Kalil Bussadori
Cirurgiã-dentista. Especialista em Odontopediatria. Especialista em Ortodontia - Residência Odontológica em Odontopediatria-FORP-USP. Mestrado em Clínicas Odontológicas FOP-UNICAMP. Coordenadora do Curso de Especialização em Odontopediatria ABO-AL. monicasalgueiro@globo.com
Cirurgiã-dentista. Mestre em Materiais Dentários. Doutora em Ciências Odontológicas (Odontopediatria). PósDoutorado em Pediatria. Professora do Programa de Mestrado e Doutorado em Biofotônica Aplicada às Ciências da Saúde da Universidade Nove de Julho. sandra.skb@gmail.com
termo MIH (Molar Incisor Hypomineralization) foi usado, pela primeira vez, em 2001, para descrever opacidades branco/pérolas, amarelas ou marrons que afetam o esmalte dos primeiros molares e incisivos permanentes. Esse defeito de esmalte esteve mascarado ao longo dos anos, devido à lesão cariosa e, com o advento da fluorterapia, que contribuiu para a redução do índice de cárie, a condição ficou mais evidente1. Esta hipomineralização, de origem sistêmica, envolvendo de um até quatro primeiros molares permanentes é, frequentemente, associada à opacidade dos incisivos permanentes (EAPD 2010). O primeiro caso documentado de hipomineralização molar-incisivo foi no ano de 19702. Várias são as nomenclaturas utilizadas para descrever, entre elas: hipomineralização idiopática em primeiros molares permanentes, opacidade de esmalte não relacionada ao flúor, hipoplasia interna do esmalte, manchamento não endêmico do esmalte, cheese molars” (molares de queijo) ou aplasia do esmalte3. A MIH vem ganhando atenção especial no dia a dia clínico do Odontopediatra, devido às necessidades repetidas do tratamento restaurador, pois o esmalte é pobre e a adesividade comprometida. Os dentes se apresentam manchados e enfraquecidos e com dificuldade de adesão do material restaurador. As crianças apresentam alterações no comportamento, com relato de grande sensibilidade ao frio, ao calor, ao ar, ao doce e aos estímulos mecânicos, inclusive à escovação. A ação do anestésico é deficiente4. A sua prevalência no mundo varia de 3,6 a 25% e, no Brasil, entre 12,3% a 15,4%, e parece diferir em certas regiões3,5. Não há predileção de sexo ou raça, como também a condição socioeconômica. Os defeitos observados no esmalte são resultados de uma variedade de fatores ambientais que
38
Julho de 2014
atuam em nível sistêmico. Nestes, incluem-se todos os fatores presentes no período pré-natal, perinatal e durante a infância, que podem interferir com o normal desenvolvimento dentário. No total, são descritos mais de 120 fatores associados com a opacidade no esmalte em dentes permanentes, sendo os mais importantes: problemas respiratórios, episódios de febre alta, prematuridade, contato com dioxina, enfermidades nefrológicas, infecções, desnutrição, diarreias, medicações entre outras6. Alguns autores acreditam que as doenças da infância, assim como o seu tratamento, possam ter um papel etiológico importante1,2,7. Um erro muito comum é designar a todos os defeitos do esmalte como hipoplasias, mas, de acordo com a FDI Comission on Oral Health Research and Epidemiology, eles são melhores classificados em duas categorias distintas: hipomineralizações e hipoplasias8,9. As hipomineralizações ou opacidade são definidas como defeitos qualitativos dos tecidos dentários, identificados visualmente como uma anormalidade na sua translucidez, que se caracterizam por áreas de coloração branca, creme, castanhas ou amarelas de superfícies lisas e espessura normal do esmalte6,10-12. As hipoplasias são definidas como defeitos quantitativos do esmalte, nas quais há o envolvimento da superfície do dente (defeito externo). Estas estão associadas a uma menor espessura do esmalte na área afetada, apresentando-se como fossas profundas, sulcos horizontais ou verticais, bem como áreas com ausência parcial ou total de esmalte9,11. Inicialmente, o objetivo do tratamento deve ser a redução da dor, seguida por considerações sobre a viabilidade desses dentes no arco em longo prazo. Materiais adesivos, como as resinas compostas e o cimento de ionômero de vidro, são utilizados nas restaurações, cujas bordas, preferencialmente devem estar localizadas em esmalte normal12. Pode ser difícil
FRETE GRÁTIS PARA TODO BRASIL. **
PARCELAMOS em até 10 vezes sem juros no boleto ou cartão *
A DENTAL QUE ENTREGA OS PRODUTOS ONDE VOCÊ ESCOLHER
Adesivo Clearfil | Kota Combo Whiteness HP 35% + Necessaire Ganhe um Dessensibilizante Nano P
R$ 143,68
Apenas R$ 109,00
Kit Optosil com 2 Activadores | Heraeus Kulzer
R$ 164,00
Comprando 10 Pontas Diamantadas FG - Kg Sorensen, ganhe um Broqueiro de Alumínio FG 15 Furos. Apenas R$ 8,50 cada ponta
Televendas: 0800.77.44.006 | www.rnldental.com.br
Promoções válidas apenas para o mês de Junho ou enquanto durarem os estoques. ** Consulte a política para frete grátis. * Parcelamento em até 10x para pedidos acima de R$ 1.000,00. Parcela mínima R$ 100,00. Verifique outras ofertas em nosso site e televendas.
Coluna - Odontopediatria
visualizar onde se inicia o esmalte sadio, resultando em repetidas restaurações, devido à desintegração do esmalte adjacente ou a presença de outras áreas afetadas8,9. Em casos de grandes destruições, as coroas de aço podem ser utilizadas até que a criança tenha a oclusão estabelecida e possa receber o tratamento reabilitador. Previamente, o protocolo de vernizes fluoretados deve ser realizado para o tratamento remineralizador da estrutura dentária. Quando a alteração é muita severa, a extração do dente e o fechamento ortodôntico do espaço são os tratamentos indicados. Para devolver a estética dos dentes anteriores, a microabrasão associada ao clareamento pode ser efetiva em defeitos superficiais1,8. Uma vez diagnosticada a MIH, o Odontopediatra deve esclarecer à família sobre todos os aspectos inerentes a condição, pois estes pacientes devem ser considerados com alto risco de desenvolvimento de cárie, devendo, por isso, contar com monitoramento frequente, necessitando da elaboração de um programa específico, incluindo, também, o aspecto psicossocial.
Referências 1. Wheijeijm KL,Jälevik B,Alaluusua S. Molar incisor hypomineralisation.Caries Res. 2001 sep-oct;35(5);390-1. 2. Koch G,Hallonsten AL,Ludvigsson N,Hansson BO,Holst A,Ulbro C. Epidemiologic study of idiopathic enamel hypomineralization in permanent teeth of Swedish children. Community Dent Oral Epidemiol. 1987;15:279-85. 3. Weerheijm KL Hypomineralisation Molar Incisivo (MIH). Eur J Paediatr Dent. 4 (3):115-20 2003.
40
Julho de 2014
4. Garcia L.; Martínez, EM. Hipomineralización Incisivo-Molar. Estado Actual. Cient Dent. v. 7, n.1, abril. 2010. p. 19-28. 5. Costa-silva CM,Jeremias F,de Souza JF,Cordeiro R de C,Santos-Pinto L,Zuanon AC.Molar incisor hypominera lization:prevalence,severity and clinical consequences in Brazilian children.Int J Paediatr Dent.2010 Nov;20(6):426-34. 6. Canela, Alfredo C. Hipomineralización Incisivo Molar (HIM), una revisión crítica. Revista Proa Latinoamerica; OctubreNoviembre; 2012. 7. Jalevik B,Noren JG.Enamel hypomineralization of permanent first molars: a morphological study and survery of possible aetiolgical factors.Int J Paediatr Dent.2000;10(4):278-89. 8. Jeremias, Fabiano et al. M.I.H (Hipomineralização MolarIncisivo)-Um dos defeitos de esmalte mais desafiadores na Odontopediatria. Revista ABO Nacional, vol. XX, n. 6, p. 376-379, 2012. 9. Basso AP,Ruschel HC, Gatterman A,Ardenghi, TM.Hipomineralização Molar-Incisivo.Rev.Odonto Ciênc.,Porto Alegre,v. 22,n. 58,p.371-376,out./dez.2007. 10. Sulking GW.Developmental defects of enamel historical and present day perspectives of their pathogenesis.Adv Dent Res 1989;3(2):87-94. 11. FDI Comission on Oral Health,Research and Epidemiology An epidemiological index dental of developmental defects of dental enamel (DDE Index).Int Dent J 1982;32(2):159-67. 12. Bussadori, SK, Masuda, M. Odontohebiatria. Editora Santos. 2005.
Publique
seu caso clínico na
Aceitamos casos clínicos de todos os segmentos odontológicos. Os trabalhos, que não precisam ser inéditos, serão publicados após a aprovação do conselho científico.
Vanessa Navarro
Editora Odonto Magazine vanessa.navarro@vpgroup.com.br +55 11 99933.0653 • +55 11 2424.7734 Skype: vanessa.navarro83
www.odontomagazine.com.br
Caso Clínico
Transformando sorrisos sem desgaste dentário: lentes de contato dental
Weider Silva
Larissa Quesada
Gil Montenegro
Especialista em Implantodontia, Dentística e Prótese Dentária. Professor do Curso de Especialização de Implantodontia ABO/DF. Professor dos Cursos de Especialização de Dentística e Prótese ABO/TAG/DF. weidersilva@hotmail.com
Aluna do Curso de Especialização de Dentística e Prótese ABO/TAG.
Professor dos Cursos de Especialização de Dentística e Prótese ABO/TAG/DF.
Lêndiel Olímpio
Paulo Frederico Pereira
Professor dos Cursos de Especialização de Dentística e Prótese ABO/TAG/DF.
Professor dos Cursos de Especialização de Dentística e Prótese ABO/TAG/DF.
Tarcísio Pinto
Professor dos Cursos de Especialização de Dentística e Prótese ABO/TAG/DF.
A
tualmente, na Odontologia, observa-se uma constante evolução nos procedimentos estéticos, uma vez que os pacientes estão inseridos em uma sociedade extremamente exigente com relação à aparência estética. A busca por materiais que permitam alterar cor, forma, posição e tamanho dental, aliada a resistência e a um mínimo ou nenhum desgaste da estrutura dentária, tem sido o objetivo dos profissionais da área. As cerâmicas puras reforçadas com dísilicato de lítio tem sido a primeira escolha de material para as reabilitações que necessitam mínimo desgaste dental, alta resistência e estética de excelência. Aliadas aos materiais adesivos de cimentação, é possível, em poucas sessões clínicas, transformar o sorriso de um paciente, devolvendo estética e função aliados à longevidade clínica.
42
Julho de 2014
Caso clínico Paciente jovem, do sexo masculino, buscava um tratamento que “melhorasse” sua estética dental. Através de minucioso exame clínico multidisciplinar e de um planejamento prévio com modelos de estudo inicial, modelo encerado, além de radiografias e fotografias, foi definido, como plano de tratamento, a utilização de lentes de contato sem desgaste dental, uma vez que o prognóstico era bastante favorável, pois os dentes apresentavam boa posição, tamanho e cor. A cerâmica escolhida para a reabilitação foi a reforçada com dísilicato de lítio e o cimento foi o resinoso fotopolimerizável, por aliar excelentes propriedades físicas, além de não alterar sua cor.
Caso Clínico
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Aspecto inicial do sorriso do paciente.
Vista frontal evidenciando os diastemas e a diferença de altura das incisais dos dentes homólogos.
Vista lateral esquerda.
Vista frontal em oclusão.
Vista lateral direita.
Uma sessão de clareamento com Peróxido de Hidrogênio 35% por uma hora.
Julho de 2014
43
Caso Clínico
Figura 7
Inserção de duplo fio afastador número 000 – sem nenhum desgaste dental.
Figura 8
Remoção do fio superficial contínuo e obtenção do molde.
Figura 10
Condicionamento das peças com ácido fluorídrico 12% por 20 segundos.
Figura 9
Verificação da espessura das peças (0,5mm).
Figura 11
Após lavagem com água, aplicação de silano por um minuto.
Figura 12
Aplicação de adesivo sem realizar fotopolimerização.
44
Julho de 2014
Figura 13
Condicionamento dos dentes com ácido fosfórico 37% por 20 segundos.
Caso Clínico
Figura 14
Figura 15
Figura 16
Figura 17
Figura 18
Figura 19
Aplicação de adesivo sem realizar a fotopolimerização.
Vista frontal final das peças cimentadas.
Vista lateral esquerda – close-up.
Aplicação do cimento resinoso fotopolimerizável.
Vista lateral direita – close-up.
Aspecto final do sorriso do paciente.
Julho de 2014
45
Caso Clínico
Fluorescência Óptica na Odontologia
Hérica Adad Ricci Doutora em Ciências Odontológicas pela Faculdade de Odontologia de Araraquara FOAr-UNESP. Pósdoutora pelo Instituto de Física de São Carlos, IFSC-USP. hericaricci@yahoo.com.br
Sebastião Pratavieira
Aldo Brugnera Júnior
Vanderlei Salvador Bagnato
Cristina Kurachi
Doutorando no Laboratório de Biofotônica - Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos. prata@ifsc.usp.br
Doutor em Física - Professor titular do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos. vander@ifsc.usp.br
A
Óptica é a parte da ciência que estuda os fenômenos da luz e, desde o princípio da humanidade, tem sido usada para beneficiar o homem. Atualmente, com o avanço da tecnologia, é cada vez maior o desenvolvimento de novas tecnologias ópticas. E uma das aplicações é no diagnóstico e tratamento de diferentes patologias, em distintos setores da saúde. A Odontologia, em muito, tem sido beneficiada1-3. Existem diversos tipos de fontes de luz, desde os mais simples, como uma chama de um fogareiro ou uma lâmpada incandescente, até os mais complexos, como LASERs (do inglês Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation, ou seja, Amplificação da Luz por Emissão Estimulada de Radiação) e LEDs (do inglês Light Emitting Diode, ou seja, Diodo Emissor de Luz). Algumas fontes possuem emissão de várias cores (por ex.: lâmpadas incandescentes, fluorescentes), e outras possuem apenas emissão de uma única cor (por ex.: LASER). Entretanto, independente da fonte de luz, sempre que incidimos luz em um material, por exemplo, nossa boca, temos a ocorrência de diversos fenômenos. Dentre esses, podemos citar a reflexão (ou espalhamento) e a absorção como sendo os principais, pois são os responsáveis pela cor do material. Contudo, existem outros fenômenos que não são tão comuns, mas, são igualmente importantes, como a fluorescência, e a fosforescência. A forma mais simples de luz no diagnóstico bucal é a inspeção utilizando luz branca convencional. No entanto, para revelarmos melhor algumas características de
46
Julho de 2014
Doutor em Clínicas Odontológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. Professor Doutor da Pós-graduação da Universidade Camilo Castelo Branco, Parque Tecnológico, São José dos Campos, SP. aldo.brugnera@gmail.com
Doutora em Ciências e Engenharia de Materiais. Professora Doutora do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos. cristina@ifsc.usp.br
lesões bucais, podemos usar outros tipos especiais de fonte de luz e olharmos apenas para alguns dos fenômenos ópticos que ocorrem durante a interação da luz com o tecido. E com isso, podemos obter um diagnóstico mais preciso e, até mesmo, preventivo, de algumas patologias3. Uma das técnicas desenvolvidas para auxiliar na detecção de lesões é a visualização da fluorescência óptica emitida pelos constituintes dos tecidos biológicos. A fluorescência óptica é um fenômeno físico que ocorre em determinadas moléculas, denominadas fluoróforos. Várias moléculas que compõem nosso organismo são fluoróforos naturais que, ao serem excitados por uma fonte emissora de luz, ou seja, iluminados, absorvem a energia e, em seguida, emitem-na também na forma de luz, porém, com uma cor diferente1-9. Nesse sentido, a técnica de visualização da fluorescência óptica emitida pelos constituintes dos tecidos biológicos tem se tornado um método auxiliar no exame clínico odontológico. Uma das vantagens de técnicas ópticas é a resposta rápida, pois a informação é coletada em tempo real. E ainda, a visualização pode ser feita a olho nu ou por meio de simples câmeras fotográficas ou de vídeo. Outra vantagem é que se trata de um procedimento não invasivo e não destrutivo, e sem a utilização da radiação ionizante (raios-X). Para a excitação do tecido biológico, diferentes fontes de luz podem ser empregadas, sendo comumente utilizada a luz ultravioleta, violeta e/ou azul, pois a absorção dos fluoróforos
Caso Clínico
As figuras 1a e 1b são representativas de coroas totais em metalocerâmica dos dentes 21 e 22, enquanto que as figuras 2a e 2b representam uma restauração indireta de cerâmica pura na superfície oclusal do dente 36. As figuras 3a e 3b demonstram a facilidade de detecção de restaurações de resina composta nos dentes anteriores, enquanto que as figuras 4a e 4b demonstram a presença de selantes resinosos nos dentes posteriores, facilitando, não somente a visualização do material, mas, também, a sua extensão e adaptação, fato indispensável durante o acompanhamento clínico.
O método, além de ser útil para o exame clínico, é também importante durante a remoção de materiais restauradores, possibilitando a visão do material, de forma a permitir a completa remoção deste, e mantendo a estrutura dental sadia. Em Ortodontia, após a remoção dos braquetes ortodônticos, o uso da fluorescência se torna indispensável para detectar os resíduos dos agentes adesivos, como demonstrado nas figuras 5a e 5b, onde praticamente em todas as superfícies vestibulares apresentam tais resíduos. Tal situação pode vir a comprometer tratamentos futuros, como o clareamento dental, técnica frequentemente realizada em paciente jovens, após o tratamento ortodôntico. Em determinadas situações clínicas, como na placa bacteriana, cálculo dental e em lesões incipientes em esmalte dental, a presença de bactérias resulta na produção de porfirinas, substância produzida durante o metabolismo bacteriano, que quando excitada emite fluorescência na cor alaranjadovermelha. Assim, tais condições clínicas podem ser facilmente detectadas pelo cirurgião-dentista frente à intensidade da coloração vermelha e, ainda, quando feito o registro das imagens, permite o paciente ser alertado quanto a sua condição bucal, auxiliando, dessa forma, nos métodos preventivos e educativos de orientação aos cuidados com a higiene bucal. As figuras 6a e 6b demonstram a presença de placa e cálculo dental na superfície lingual dos dentes anteriores inferiores, detectada pela cor vermelha nas áreas interproximais. Já nas figuras 7a e 7b, a coloração vermelha é sugestiva de infiltração marginal, por se tratar de uma região de limite entre o dente e a restauração de resina composta na superfície oclusal do 37. Todos os exemplos seguem o princípio de que alterações no material modificam sua fluorescência emitida em regiões dentais, por exemplo, a perda de mineral resulta em uma diminuição da fluorescência, fazendo com que elas sejam observadas como manchas escuras na imagem. No desenvolvimento de uma cárie, além da desmineralização, há os produtos metabólicos provenientes de bactérias que fazem com que exista um contraste entre uma região saudável e uma alterada4-8.
Figura 1a
Figura 1b
naturais nessa região é maior. Essa luz pode ser gerada por uma lâmpada, por um LASER ou por um LED. A fluorescência óptica permite ao cirurgião-dentista visualizar e identificar muitas alterações nos tecidos duros dentais, como manchas, presença de placa bacteriana, cálculo dental, lesões incipientes e infiltrações marginais. Essa fluorescência, igualmente, pode ser usada na detecção, de modo simples e rápido, de materiais restauradores estéticos, como resina composta e cerâmica e, ainda, permite a diferenciação entre os materiais restauradores, pois diferentes materiais apresentam distintas intensidades e cores de fluorescência.
Metodologia Imagens de luz branca seguidas de imagens de fluorescência foram realizadas para exemplificar diferentes situações clínicas envolvendo os tecidos duros dentais. Para a visualização por fluorescência da cavidade bucal utilizou-se o sistema de imagem de campo amplo por fluorescência óptica EVINCE (MMOptics, São Carlos, SP, Brasil). O sistema é basicamente composto por arranjo de LEDs, emitindo na região violeta-azul do espectro eletromagnético, e por um conjunto de filtros ópticos que permite a visualização da fluorescência. O equipamento apresenta três níveis de irradiância (intensidade) de iluminação: alto, médio e baixo. Para a aquisição das imagens foi acoplada ao equipamento uma câmera fotográfica digital Nikon D90 (Nikon, Bangkok, Tailândia) com o auxílio de um adaptador rosqueável, confeccionado especialmente para este estudo.
Resultados e discussão
Coroas totais em metalocerâmica nos dentes 21 e 22 (luz branca).
Coroas totais em metalocerâmica nos dentes 21 e 22 (imagem de fluorescência).
Julho de 2014
47
Caso Clínico
Figura 2a
Figura 2b
Figura 3a
Figura 3b
Figura 4a
Figura 4b
Restauração indireta de cerâmica pura na superfície oclusal do dente 36 (luz branca).
Restaurações de resina composta nos dentes anteriores superiores (luz branca).
Presença de selantes resinosos nos dentes posteriores inferiores (luz branca).
48
Julho de 2014
Restauração indireta de cerâmica pura na superfície oclusal do dente 36 (imagem de fluorescência).
Restaurações de resina composta nos dentes anteriores superiores (imagem de fluorescência).
Presença de selantes resinosos nos dentes posteriores inferiores (imagem de fluorescência).
Caso Clínico
Figura 5a
Figura 5b
Figura 6a
Figura 6b
Figura 7a
Figura 7b
Detecção de resíduos dos agentes adesivos após remoção dos braquetes ortodônticos (luz branca).
Presença de placa e cálculo dental na superfície lingual dos dentes anteriores inferiores (luz branca).
Infiltração marginal na região de limite entre o dente e a restauração de resina composta do dente 37 (luz branca).
Detecção de resíduos dos agentes adesivos após remoção dos braquetes ortodônticos (imagem de fluorescência).
Presença de placa e cálculo dental na superfície lingual dos dentes anteriores inferiores, detectada pela cor vermelha nas áreas interproximais (imagem de fluorescência).
Infiltração marginal na região de limite entre o dente e a restauração de resina composta do dente 37, em destaque pela coloração vermelha (imagem de fluorescência).
Julho de 2014
49
Caso Clínico Conclusão Como demonstrado, o uso de imagens de fluorescência óptica - que utilizam diferentes formas da interação luz-tecido biológico - é mais uma ferramenta para o cirurgião-dentista no diagnóstico preventivo, especialmente de lesões em estágios iniciais. Estes métodos podem ser utilizados pelo profissional, na realização de procedimentos de rotina, como um coadjuvante na detecção de possíveis alterações que não seriam facilmente identificadas somente com a iluminação padrão e com os procedimentos convencionais.
Referências 1. Kurachi, C.; Vollet-Filho, J. D.; Bagnato, V. S. . Detecção óptica no diagnóstico. In: Vanderlei Salvador Bagnato. (Org.). Novas técnicas ópticas para as áreas da saúde. 1ed.São Paulo: Livraria da Física, 2008. p. 81-95. 2. Pratavieira S, Kurachi C, Cosci A, Andrade CT. Diagnóstico óptico em odontologia. ImplantNews. 2012; 9(1): 20-3. 3. Pratavieira, Sebastião. Desenvolvimento e avaliação de um sistema de imagem multiespectral para o diagnóstico óptico de lesões neoplásicas [dissertação]. São Carlos: Universidade de São Paulo, Instituto de Física de São Carlos; 2010 [acesso 2013-05-25]. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/76/76132/ tde-01042010-131029/. 4. Gomez J, Zakian C, Salsone S, Pinto SC, Taylor A, Pretty IA et al. In vitro performance of different methods in detecting occlusal caries lesions. J Dent. 2013; 41(2): 180 -6. 5. Jablonski-Momeni A, Liebegall F, Stoll R, Heinzel-Gutenbrunner M, Pieper K. Performance of a new fluorescence camera for detection of occlusal caries in vitro. Lasers Med Sci. 2013; 28(1): 101-9. 6. Medeiros GC, Oliveira PGN, Catão MHCV. Associação entre diferentes métodos de detecção de lesões de cárie oclusal. R Bras Ci Saúde. 2010; 14(3): 33-40. 7. Pretty IA. Caries detection and diagnosis: novel technologies. J Dent. 2006; 34(10): 727-39. 8. Ribeiro AA., Vasconcellos AB, Purger FPC, Souza GGSPR. Métodos de detecção de cárie Rev Bras Odontol. 2012; 69(1): 84-9. 9. Ricci HA, Pratavieira S, Brugnera Jr, A, Bagnato VS, Kurachi C. Ampliando a visão bucal com fluorescência óptica. Rev APCD. 2013; 67(2):129-35.
NORMAS PARA PUBLICAÇÂO
A seção CASO CLÍNICO da ODONTO MAGAZINE tem como objetivo a divulgação de trabalhos técnico-científicos produzidos por clínicogerais e/ou especialistas de diferentes áreas odontológicas. Gostaríamos de poder contar com trabalhos originais brasileiros, produzidos por cirurgiões-dentistas, para divulgar esse material em nível nacional por meio da revista impressa e pelo site: www.odontomagazine.com.br Os trabalhos devem atender as seguintes normas: 1) Ser enviados acompanhados obrigatoriamente de uma autorização para publicação na ODONTO MAGAZINE, assinada por todos os autores do artigo. No caso de trabalho em grupo, pelo menos um dos autores deverá ser cirurgião-dentista. Essa autorização deve também dar permissão ao editor da ODONTO MAGAZINE para adaptar o artigo às exigências gráficas da revista ou às normas jornalísticas em vigor. 2) O texto e a devida autorização devem ser enviados para o e-mail: vanessa.navarro@vpgroup.com.br. As imagens precisam ser encaminhadas separadas do texto, em formato jpg e em altaresolução. Solicitamos, se possível, que o artigo comporte no mínimo três imagens e no máximo 30. As legendas das imagens devem estar indicadas no final do texto em word. É necessário o envio da foto do autor principal do trabalho. 3) O texto deve seguir a seguinte formatação: espaço entre linhas simples; fonte arial ou times news roman, tamanho 12. As possíveis tabelas e/ou gráficos devem apresentar título e citação no texto. As referências bibliográficas, quando existente, devem estar no estilo Vancouver. 4) Se for necessário o uso de siglas e abreviaturas, as mesmas devem estar precedidas, na primeira vez, do nome próprio. 5) No trabalho deve constar: o nome(s), endereço(s), telefone(s) e funções que exerce(m), instituição a que pertence(m), títulos e formação profissional do autor ou autores. Se o trabalho se refere a uma apresentação pública, deve ser mencionado o nome, data e local do evento. 6) É de exclusiva competência do Conselho Científico a aprovação para publicação ou edição do texto na revista ou no site. 7) Os trabalhos enviados e não publicados serão devolvidos aos autores, com justificativa do Conselho Científico. 8) O conteúdo dos artigos é de exclusiva responsabilidade do(s) autor (res). Os trabalhos publicados terão os seus direitos autorais guardados e só poderão ser reproduzidos com autorização da VP GROUP/Odonto Magazine. 9) Cada autor do artigo receberá exemplar da revista em que seu trabalho foi publicado. 10) Qualquer correspondência deve ser enviada para: Vanessa Navarro - Odonto Magazine Alameda Madeira, 53 – conj. 92 - 9º andar Alphaville – Barueri - SP CEP: 06454-010 11) Ao final do artigo, acrescentar os contatos de todos os autores: nome completo, endereço, bairro, cidade, estado, CEP, telefones e e-mail. 12) Informações: Editora-chefe e Jornalista responsável Vanessa Navarro (MTb: 53385) e. vanessa.navarro@vpgroup.com.br t. + 55 (11) 2424.7734
50
Julho de 2014
PARCERIA COM RECONHECIDAS INSTITUIÇÕES: EXCELENTES RESULTADOS EM SUAS MÃOS. Junto com as instituições mais reconhecidas do Brasil, a Neodent investe em parcerias para disseminar técnicas e conceitos inovadores. Milhares de profissionais participam de mais de 600 cursos parceiros em que a Neodent está presente. Além disso, a empresa compartilha seus conhecimentos através dos NeoEventos.
neodent.com.br/neoeventos SAC - Consultoria Técnica: 0800 725 6363 Televendas: 0800 707 2526