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Branquinho, Vone Petson Pereira Alegoria ao Tocantins/ Vone Petson - Palmas: s.n, 2015. Catálogo de exposições realizada no Espaço Cultural José Gomes Sobrinho, Palmas, TO, 06 de maio a 10 de agosto de 2015. Textos: Norma Bruggüer e Vone Petson
1. Arte – intervenção urbana. 2. Tocantins – simbologia. 3. Exposição. I. Título.
CDD 711.6
Exposição de 06 de maio a 10 de agosto de 2015 Espaço Cultural de Palmas
Palmas - Tocantins - Brasil
Apresentação Norma Brügger
Acreditamos que as intervenções artísticas urbanas vêm acontecendo como que um remendo em contraponto ao olhar opaco das cidades contemporâneas que persistem na superficialidade e na desagregação de qualquer valoração estética à obra de arte, priorizando apenas o espaço de habitação, criando uma irreversível tendência a descontextualização dos monumentos, das obras de arte e até mesmo dos usuários de seus espaços, transformando-se em verdadeiros desertos culturais. Atualmente, as revitalizações de espaços públicos, estão sendo pensadas para os chamados “espaços livres” para minimizar esta problemática tanto com intervenções arquitetônicas como intervenções artísticas. Um dos embasamentos desta arte está na perspectiva de mudança/solução na vida cotidiana das cidades contemporâneas. Aqui, nas circunstâncias transformadoras do mundo da arte, encontramos a inserção nestes espaços das intervenções artísticas como uma performance no planejamento urbano destas cidades, propiciando, em
geral, uma arte acessível que influencia esteticamente o olhar do espectador e uma nova oportunidade de interação e aproximação com os espaços urbanos, antes degradados e agora revitalizados. Falar sobre a obra “Alegoria do Tocantins” é constelar a ressurreição da tradição e da agitação da memória coletiva dentro do espaço urbano. Esmero na visão de redesenho entre o passado e o presente com elementos característicos do desenvolvimento e da transformação deste povo, Vone define e redefine com alegoria o ambiente. Olhar experiente e crítico, vela a salvaguarda dos aspectos culturais locais como via de inscrição simbólica provocativa e, ao mesmo tempo, exigente, alterando e requalificando o espaço a qual sua obra foi materializada. Aquele que ali passa, imprime fotograficamente como marca a pertença àquela imagem que o incita, resposta a esta intervenção - nova contextualização para este espaço.
Monumento ao Bandeirante criado em 1942 pelo artista plåstico Armando Zago. Goiânia - GO
Lavagem do ouro, Minas Gerais, 1880. (Foto: Marc Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles).
PAUL EHRENREICH Índios da tribo Carajás, c. 1888 Ilha de Bananal - MT Acervo Instituto Moreira Salles / Leibniz-Institut für Länderkunde
Alegoria ao Tocantins Vone Petson
Enquanto obra de arte “Alegoria ao Tocantins” é uma forma de questionamento e reflexão acerca da construção de nossa identidade social, cultural e histórica auxiliando no desenvolvimento de um pensamento crítico da realidade e ampliando a visão de mundo. Toda construída em azul como as azulejarias portuguesas a obra, “Alegoria ao Tocantins” faz uma reflexão acerca da formação do Tocantins enquanto estado da federação, de seus aspectos históricos e da incorporação de símbolos que lhe foram atribuídos nesse período tanto pelo poder religioso quanto pelo poder político. São símbolos importados de outros contextos e aqui estabelecidos por aqueles que escreveram a História oficial. A obra resgata e evidencia a figura do índio e do negro que ficam em segundo plano em uma História que é escrita de forma positivista privilegiando somente as figuras políticas, os “pseudo-heróis”. Dessa
forma, a colocação do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido também como Anhanguera (Diabo Velho) é uma forma de refletirmos sobre estes “pseudo-heróis” apresentados pela história positivista, uma história escrita pelos dominadores, pelos “vencedores”. Bueno (1986) em Brasil: uma história sugere que Bartolomeu Bueno da Silva recebeu o nome “Anhanguera” da tribo dos inhanguera, índios do Tocantins que teriam sido escravizados por ele em suas incursões por estas terras. Esse questionamento também se encontra na base da pintura mural com várias flores de Girassol, símbolo importado pelo primeiro governador e que representa nosso Estado. O girassol (Helianthus annu) planta anual, pertencente à família das Compostas e originária da América do Norte, sendo assim, não pertencente à nossa flora, não é cultivado em nossas terrar ou faz parte da nossa cultura simbólica. É um símbolo imposto de forma autoritária como tantas outras coisas que são tidas como características culturais e simbólicas do Tocantins.
Quando a morte bate à porta lhe entregamos girassóis Um manifesto pelas Artes Visuais no Tocantins Vone Petson
Tocantins, Estado sol, Estado luz, Estado do verde, do cerrado, da água, até a Amazônia em ti habita. Sinônimo de crescimento, oportunidade, acolhida, tantas vezes lembrado nos versos do poeta, acordes do cantor, nos slogans governamentais. Tocantins, de braços abertos te vejo para negociantes, investidores, visionários. Te enxergo de braços e coração aberto para povos de etnias culturais das mais diversas partes do mundo. Mas tu, oh Tocantins, conhece e respeita a cultura e o fazer artístico do teu povo? Em uma definição breve de Ferreira Gullar no artigo “Para que serve a arte?”, Gullar nos mostra o quanto a arte é intrínseca ao ser humano. “A arte não tem um papel concreto, mas em toda a sua abstração decifra, representa e legitima os mais diversos sentimentos humanos”. Portanto, somos seres genuinamente artísticos e a arte está presente em nossas vidas, manifestada das mais diversas formas, como expressão da individualidade em relação com o todo. Como disse o artista Cláudio Pastro: "A beleza é um dos mais importantes e esquecidos direitos humanos". Ter acesso à cultura é um direito previsto pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo 27: “Toda a pessoa tem
e de participar do progresso científico e de seus benefícios”. Se teoricamente a cultura e a arte é algo tão importante assim, lhes pergunto: quando as Artes Visuais serão, de fato, respeitadas? Quando ações culturais como exposições de obras de arte, intervenções urbanas e demais ações das Artes Visuais serão realmente vistas como cultura? Quando as obras de arte em nosso Estado serão vistas como “arte substantivo ” e não “arte adjetivo”? Quando teremos espaços dignos e exposições montadas com a devida dignidade? Esses e outros questionamentos povoam o meu pensamento. Pensemos por um instante: como seriam as formas dos carros, dos móveis, dos objetos de sua casa, seus adereços, as estampas, cores e cortes de roupas, os livros, a música, o teatro, a televisão, a arquitetura, as embalagens? Isso mesmo, querido leitor, você é seduzido constantemente pela arte, inclusive no supermercado. Além de tudo isso, a arte é um ato político que auxilia o observador a refletir sobre sua realidade. Por isso, ofereço girassóis mortos para as políticas “culturais” de morte. Quando a morte bate à porta do artista lhe entregamos girassóis, murchos, pálidos e com uma caveira em seu centro. Aqui os girassóis de Vincent van Gogh já nasceriam mortos, largados à margem. Pois, lugar de artista pelas políticas públicas culturais é à margem (Mas até quando???). Basta de corredores, cavaletes, obras de artes expostas de forma
improvisada! Chega de cantinhos, beiradas e espaços insalubres! As Artes Visuais merecem respeito. Queremos Galerias adequadas, profissionais capacitados e acima de tudo queremos respeito para as obras de arte, que não é patrimônio somente do artista, mas, de toda a comunidade. Tenho vergonha das políticas e ações culturais do Estado e municípios para as Artes Visuais, principalmente quando sou interrogado por gestores culturais de outros Estados. O que falar para eles? Quais ações estão sendo feitas? Quantas exposições foram realizadas ao longo de 2014 e em 2015? Em todo o Estado só existe uma única Galeria de Artes adequada, funcionando regularmente e pasmem, ela não é pública. Devemos pintar “Guernica” novamente? Devemos gritar nas tintas e pinceladas como Edvard Munch? Devemos refazer "Bandeira Branca" de Nuno Ramos ou espalhar sacos de carnes e ossos como Artur Barrio pela cidade? Para que os gestores das políticas culturais acordem dessa letargia que causa morte cultural. Então, quando o ceifeiro chegar lhe ofertemos girassóis mortos como ato político. Que seja exercido o princípio da equidade em todas as políticas públicas culturais. Que as Artes Visuais não permaneçam à margem, vista simplesmente como a cereja do bolo (arte adjetivo). Que está lá só para enfeitar e não é parte constituinte da massa. Que os artistas sejam protagonistas e não meros expectadores. Ouçam um conselho de um grande fomentador da cultura
brasileira: "Dê valor à cultura! Dê valor às artes! Tornem os artistas mais protagonistas em suas cidades. (...) e assim vamos transformar nossa sociedade através da arte." - Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc em São Paulo.
Alegoria ao Tocantins 06 de maio a 10 de agosto de 2015 Concepção e Execução Vone Petson Pereira Branquinho Assistente de arte Sérgio Lobo da Rocha Textos Norma Bügger Vone Petson Revisão Geovana Lima Fotografias Sérgio Lobo Vone Petson Realização
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