Correnteza

Clรกudio Montanari - Marina Boaventura - Pablo Marquinho - T. Beraldi

Cláudio Montanari - Marina Boaventura - Pablo Marquinho - T. Beraldi

Exposição de 15 de agosto a 27 de setembro de 2018 Galeria Sesc de Artes

Palmas - Tocantins - Brasil

©Sesc - Serviço Social do Comércio no Tocantins Quadra 502 Norte, Avenida Lo 16, Conjunto 02, lotes 21 ao 26 CEP 77.006-562, Palmas - Tocantins Telefone: (63) 3212 9922 www.sescto.com.br Distribuição gratuita Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem autorização prévia por escrito do Serviço Social do Comércio no Tocantins, sejam quais forem os meios e mídias empregados: eletrônicos, impressos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

Correnteza - Palmas/ Sesc - Serviço Social do Comércio no Tocantins. Palmas: Sesc Serviço Social do Comércio, 2018.

57 p. Edição português.

Arte. 2. Gravura no Tocantins. 3. Artistas tocantinenses.

4. Xilogravura. 5. Monotipia. 6. Serigrafia. I. Sesc. II. Galeria Sesc de Artes. III. Título CDD 760

Esta exposição foi contemplada pelo edital de ocupação da Galeria Sesc de Artes - 2018 Galeria Sesc de Artes - Centro de Atividades do Sesc 502 Norte, Aveida Lo 16, Conjunto 02, lotes 21 ao 26 CEP: 77006-562 - Palmas - Tocantins - Brasil.

correnteza /ê/ Substantivo feminino 1.fluxo de água ger. forte e contínuo.

2.série ordenada de pessoas ou coisas.

Correnteza O título da exposição, Correnteza, faz uma referência ao trabalho de cada artista gravador, que busca em sua própria “correnteza” trabalhos que envolvam o fluxo, que forte e contínuo dialoga com o tempo e as experiências individuais de cada um deles. Nos trabalhos vemos impressões de fluxos de água, sangue ou de rotina, que assim como uma forte correnteza, carrega, empurra e arrasa nosso cotidiano.

Correnteza é uma palavra que define bem a exposição por se tratar de trabalhos em gravura de um grupo formado por quatro artistas que estão sempre em movimento tanto no sentido físico quanto metafórico. Estes artistas são levados pelas correntes de emoções, paixões ou sentimentos ainda não definidos, mas que estão presentes em seus trabalhos.

O grupo é formado pelos artistas Marina Boaventura, Cláudio Montanari, Tiago Beraldi e Pablo Marquinho, Um grupo com diferentes experiências, mas com um objetivo comum, imprimir em imagens suas correntezas.

Clรกudio Montanari

Cláudio Romário Montanari Antunes, natural de Alegrete RS, vive e trabalha em palmas. Bacharelado em Desenho e Plástica pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em 1994, finalizou sua graduação com pesquisa em gravura, serigrafia. Em 1996, concluiu curso de Especialização em Design para Estamparia, com o trabalho intitulado “Criação de Design para Estamparia a partir das Fórmulas Estruturais de Substâncias Químicas”, que explorava as relações entre arte e ciência.

Em 1998, transferiu-se para Florianópolis (SC), onde atuou na área de estamparia e começou sua carreira artística participando de salões e exposições.

R a d i c a d o e m P a l m a s d e s d e 20 0 5 , v e m d a n d o continuidade à sua pesquisa estética, tendo como base a serigrafia, por meio da exploração de suportes e materiais alternativos como o papelão, que é objeto de seus estudos atualmente. Dedica-se, também, às instalações artísticas, aos cenários e às ilustrações.

CORRENTE, CORRE, COR, ENTE e TEZ

As obras retratam a Correnteza contemporânea que inunda o planeta em movimento contínuo de tensão, dor, desespero e esperança.

Inspirado em fluxos e deslocamentos de pessoas e multidões, baseados em situações, ora coordenadas, como um desfile de tropas militares, ora totalmente desordenadas como dezenas de refugiados amontoados em uma embarcação lançada ao mar; ou mulheres carregando seus pertences na fronteira da Venezuela com o Brasil; ou mexicanos enfrentando uma barreira de aço, em uma praia, na fronteira com os Estados Unidos; ou ainda enormes filas de Brasileiros à busca de emprego.

CORRENTEZA desdobra-se em CORRENTE, CORRE, COR, ENTE e TEZ, palavras que estão relacionadas às circunstancias abordadas, que refletem situações condicionadas à origem, classe, condição econômica e social.

Parto de imagens pesquisadas e coletadas na web, que recebem tratamento e intervenções digitais até tornaremse artes-finais, que dão origem às matrizes serigráficas. Então começa o processo de impressão/criação onde exploro a versatilidade da serigrafia por meio de recursos como a repetição, sobreposição e rebatimento das imagens, dando origem à obras de tiragem única e também impressões seriadas.

ESPERANÇA I - Cláudio Montanari - Serigrafia sobre papel - 42X29,7cm - 2018

ESPERANÇA II - Cláudio Montanari - Serigrafia sobre papel - 42X29,7cm - 2018

ESPERANÇA III - Cláudio Montanari - Serigrafia sobre papel - 42X29,7cm - 2018

ESPERANÇA IV - Cláudio Montanari - Serigrafia sobre papel - 42X29,7cm - 2018

ORDEM? - Cláudio Montanari - Serigrafia sobre papel - 42X29,7cm - 2018

CORRENTEZA I - Cláudio Montanari - Serigrafia sobre papel - 42X29,7cm - 2018

CORRENTEZA II - Cláudio Montanari - Serigrafia sobre papel - 42X29,7cm - 2018

CORRENTEZA I Cláudio Montanari Serigrafia sobre papel 42X29,7cm 2018

TEZ - Cláudio Montanari - Serigrafia sobre papel - 42X29,7cm - 2018

COR - Cláudio Montanari - Serigrafia sobre papel - 42X29,7cm - 2018

ENTE Cláudio Montanari Serigrafia sobre papel 42X29,7cm 2018

CORRE Cláudio Montanari Serigrafia sobre papel 42X29,7cm 2018

CORRENTE - Cláudio Montanari - Serigrafia sobre papel - 42X29,7cm - 2018

Marina Boaventura

Marina Teixeira Boaventura, artista visual e Arteeducadora. Mineira de nascimento, desde 2002 Marina Boaventura vive e trabalha em Palmas, Tocantins.

Formada em Artes Visuais e Filosofia, a artista tem experiência na área de Artes Visuais, com ênfase em performance, site specific, instalação, objeto e assemblage. Participou de importantes Salões de Arte, exposições coletivas e realizou várias exposições individuais.

Correnteza

A xilogravura, provavelmente originária da China, é uma técnica milenar que sobrevive à passagem do tempo.

Utiliza-se como matriz um pedaço de madeira que imprime no papel a imagem gravada em negativo pelo artista.

Estudei gravura na Universidade Federal de Uberlândia nos anos 80 com os professores Naciej Babinski e Maurício Nacif. Foi um período intenso de muita produção e criatividade, mas que durou pouco, só o tempo de estudante universitária. Depois quase não retornei à gravura, a não ser esporadicamente.

Com a criação do coletivo Nugrato (Núcleo de Gravura do Tocantins) voltei à xilogravura com entusiasmo e disposição para cavar na madeira bruta a imagem que eu idealizava. Aos poucos redescobri o prazer de criar sulcos naquela matéria dura a fim de dar luz às minhas inspirações.

Para a exposição “Correnteza” busquei incansavelmente na natureza circundante imagens de água. Eu pretendia gravar na superfície da sólida madeira a maleabilidade da água e seus efeitos luminosos captados ao ar livre.

Caminhei nas margens do lago com águas calmas, dos riachos e rios com correntezas, em busca da cena perfeita de água e luz, numa inesgotável procura de enxergar e apreender o belo e intangível reflexo da luz na água.

Nada obstante, todo estudo que fiz ao ar livre foi uma rica experiência, quase uma investigação pictórica diária, colhendo reflexos luminosos do sol sobre a água transparente. Inspirações estas que eu trouxe para o atelier a fim de gravar na madeira.

No studio passei para a tarefa de gravar com as cortantes goivas na madeira firme a maleabilidade da água, o movimento das correntezas, o quase intangível reflexo do sol. Desejava aprisionar na madeira a fugidia correnteza, a beleza tremeluzente da água salpicada de luz do sol, a transparência que anula a forma... Mergulhei fundo.

E finalmente, passei à surpreendente tarefa de imprimir e aprisionar no papel a imagem resultante da luta travada com a madeira. A pretensão era gravar o impalpável, o fugidio e o intangível, tais como reflexos, transparências, movimentos e a luz inebriante do sol na água.

Mesmo que em um dado momento o observador não se aperceba de tal riqueza, ainda assim, permanece a preciosidade do fazer artístico e a busca da plasticidade no mais simples e elementar da vida.

COMO GOTAS NO OCEANO - Marina Boaventura - Xilogravura com intervenções sobre papel - 59 cm x 42 cm - 2018

O BELO É O EXPLENDOR DA VERDADE Marina Boaventura Xilogravura com intervenções sobre papel 59 cm x 42 cm 2018

CORRENTEZA - Marina Boaventura - Xilogravura sobre papel 20 cm x 25 cm - 2018

CORRENTEZA - Marina Boaventura - Xilogravura sobre papel 20 cm x 25 cm

CORRENTEZA - Marina Boaventura - Xilogravura sobre papel 20cm x 25 cm - 2018

REFLEXOS - Marina Boaventura - Xilogravura sobre papel 25 cm x 34 cm - 2018

MERGULHO - Marina Boaventura - Xilogravura sobre papel 18,5 cm x 27,5 cm - 2018

BAMBUZAl Marina Boaventura SerigraďŹ a sobre papel 42X29,7cm 2018

Pablo Marquinho

Pablo Marquinho Pessoa Pinheir é artista visual, graduado em Licenciatura em Educação Artística com Habilitação em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Piauí (U F P I). Mestre em Performances Culturais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO). Desenvolve pesquisas e produções em artes plásticas, teatro animação e pocket movies. Seu trabalho se caracteriza pela busca do entendimento das relações do homem com a própria cultura e as reverberações desta na vida social e cotidiana. Atualmente tenta imprimir estas inquietações em desenhos, pinturas e xilogravuras.

Rotina

As imagens de seres transmutados, misturados entre peixes e humanos, fazem uma referência ao cotidiano, mais precisamente às transformações que somos submetidos para seguir nadando mesmo com força da rotina diária. Esta rotina é como vejo a correnteza, uma força que leva, empurra, arrasta e sem muito esforço pode destruir o que se opõe ao seu ciclo. Os seres transmutados seguem o ciclo de diferentes correntezas que se repetem diariamente, transformando as pessoas em diferentes seres que nadam por esses fluxos, buscando um corpo que adapte ao meio em que são arrastados diariamente, na tentativa de seguir na corrente sem ser destruído por ela.

Me aproprio de Carlos Drummond de Andrade, reconhecidamente um poeta do cotidiano, para expressar graficamente os sentimentos que impulsionam meu olhar sobre a correnteza que oprime o meu fazer diário. Esta opressão muitas vezes vem da estupidez de outros seres, que de tão emaranhados pelas coisas do dia-a-dia estão condenados ao absurdo da padronização e ausência de perspectivas, mas que questionam um pobre José sobre respostas de um agora sofrido.

Os seres, peixe/homem, esgueiram pela correnteza fugindo do padrão, buscam uma ordenação própria no mundo, esquivam de questionamentos opressores na tentativa de reinscrever uma linha diagonal para fora do cotidiano.

NEM ÁI PRA VOCÊ - Pablo Marquinho - Xilogravura sobre papel 33 x 41 cm - 2018

HOJE NÃO TÔ BOA - Pablo Marquinho - Xilogravura sobre papel 33 x 41 cm - 2018

DIA RUIM - Pablo Marquinho - Xilogravura sobre papel 33 x 41 cm - 2018

NO TRABALHO - Pablo Marquinho - Xilogravura sobre papel 33 x 41 cm - 2018

E AGORA JOSÉ? - Pablo Marquinho - Xilogravura sobre papel 60 x 85 cm - 2018

T. Beraldi

Tiago Beraldi é ex-aluno da Universidade de Brasília – UnB, atua como professor de ensino básico, desenvolve pesquisas nas áreas de serigrafia, gravura, escultura, forja e fundição.

"Eu, que sempre fui politicamente incorreto, caminhei na direção do artisticamente inviável.

No desespero de não traduzir para o mundo real o que me assombra, passei ao auto-exorcismo por meio da construção de inutensílios visuais.

Objetos sem função estabelecida, mas indispensáveis à minha própria sanidade.

Ações geradas sem nenhum por quê, mas recheadas de: por que não?

Puro cinismo, puro deboche, pura ironia. Apenasmente engenharia artística. Ou qualquer outra bobagem..."

Hidrografia Interior

HIDROGRAFIA [De hidr(o). + grafia] S.f. 1. Topografia marítima que tem por objeto levantar a planta das costas, ilhas, etc. 2. O conjunto das águas correntes ou estáveis de uma região. 3. Descrição da parte líquida do globo. 4. Ciência que ensina a conhecer o regime das águas duma região.”

(Novo Aurélio. Dicionário da Língua Portuguesa)

Na obra “Hidrografia Interior” existe uma tentativa pueril de realizar um levantamento topográfico emocional. Um experimento que objetiva uma espécie de mapeamento sentimental.

A partir do tema correnteza iniciei minhas investigações tentando fugir do óbvio (falar de águas, por exemplo) e me perguntei que outros tipos de correnteza podemos perceber à nossa volta. Algum tempo depois percebi a existência de nossas correntes interiores, como a corrente sanguínea... Pronto! Nesse ponto a obra já fluía a partir de sua origem: o indivíduo.

Comecei a imaginar de que maneira essa ideia de correnteza interior poderia ser traduzida em imagens. Em meio a esse processo, depois de muitas especulações uma frase surgiu na minha cabeça: “(...) e a criatura não passava de um emaranhado de tripas e surtos.” A frase não saía do meu pensamento. Era uma autodescrição precisa de quem sou: tripas e surtos.

Resolvi assumir uma imagem que era recorrente em minha imaginação, a imagem de uma criatura vivente que havia passado por uma profunda transformação anatômica. Uma criatura que apresentava um coração no lugar do cérebro, e, no lugar do coração tinha uma bigorna. Depois de chegar a essa conclusão, a tarefa seguinte era transformar essa ideia

numa imagem.

Fiquei buscando uma solução e nesse exercício lembrei de quando eu era criança, e numa aula ciências fui apresentado à uma espécie de mapa do corpo humano, que mostrava a localização dos órgãos internos. Questão resolvida, eu precisava inventar um mapa de uma criatura anatomicamente modificada. Nesse momento, por conta da ideia de mapeamento, me ocorreu o nome da obra – “Hidrografia Interior”. Um mapa imaginário do relevo e topografia internos onde ficariam evidentes o fluxo e as correntezas emocionais de um bizarro mutante imaginário que representasse fidedignamente o que sou (ou o que imagino que sou).

A linguagem pela qual essa história seria contada era a gravura, mas eu ainda não sabia qual seria a técnica empregada. Quase por acidente a técnica de gravura conhecida como MONOTIPIA caiu no meu colo (acho que era o cosmos me ajudando...). Na técnica da monotipia produzimos imagens que são únicas... era o casamento perfeito, produzir gravuras únicas para falar de uma criatura singular, um indivíduo. Daí pra frente foi muito trabalho braçal, imaginar, testar, retestar, fazer, refazer até me convencer que eu estava diante de um mapa.

Todo esse experimento artístico só foi possível por ter sido estimulado e provocado por meus parceiros de arte, meus companheiros do coletivo artístico, do qual me orgulho muito de fazer parte, o primeiro Núcleo de Gravura do Tocantins – NUGRATO. Existe um ditado africano que diz: “sozinhos vamos mais rápido, mas juntos vamos mais longe”.

HIDROGRAFIA INTERIOR T. Beraldi Monotipia e nanquim sobre papel Detalhe 2018

HIDROGRAFIA INTERIOR T. Beraldi Monotipia e nanquim sobre papel Detalhe 2018

HIDROGRAFIA INTERIOR T. Beraldi Monotipia e nanquim sobre papel Detalhe 2018

HIDROGRAFIA INTERIOR T. Beraldi Monotipia e nanquim sobre papel Detalhe 2018

HIDROGRAFIA INTERIOR T. Beraldi Monotipia e nanquim sobre papel Detalhe 2018

HIDROGRAFIA INTERIOR T. Beraldi Monotipia e nanquim sobre papel 55cm x 195cm 2018

EXPOSIÇÃO CORRENTEZA

Cláudio Montanari, Pablo marquinho, Marina Boaventura e Tiago Beraldi

Vone Petson

Vone Petson

Marina Boaventura

Textos: Claúdio Monatani, Marina Boaventura, Pablo Marquinho e Tiago Beraldi Editoração eletrônica: Vone Petson Revisão: Geovana Lima Fotografias: Marina Boaventura

Realização