ABRIL DE 2017
ANO I - NÚMERO 4
Descobrimento do Brasil? Cuidado. HISTÓRIA DO BRASIL Há 517 anos, em 22 de abril corrente do ano de 1500, aprendemos desde crianças que os portugueses descobriram o Brasil, território que, na ocasião, era habitado pelos povos indígenas. Na verdade, nem podemos falar de “Brasil”, porque seus habitantes não o denominavam assim. Ao colonizar o território descoberto, os historiadores atuais preferem chamá-lo de “América portuguesa”, já que a palavra “Brasil” só faz sentido histórico a partir da Independência, em 1822. É que a necessidade de se estabelecerem marcos fundadores para explicar a formação de um país é comum a todos os Estados, daí muitos falarem de “invenção do Brasil” (ler a entrevista com o historiador Fernando Novais, disponível em http://www. teoriaedebate.org.br/materias/nacional/invencao-do-brasil?page=full). Assim, o marco fundacional do Brasil, por muitos anos, vem sendo a chegada dos portugueses em 1500 - que é uma visão centrada nos valores europeus, como se nosso território não existisse antes de 22 de abril de 1500 - o que seria falacioso. Isso para não mencionar a tese ultrapassada de que foram ventos que desviaram as caravelas comandadas por Pedro Álvares Cabral, como me foi ensinado quando eu era estudante - como sabemos, a tese de que não foi por acaso o “Descobrimento do Brasil” já está consagrada. Da mesma forma, ao denominarmos os primeiros séculos da dominação portuguesa de “período colonial”, igualmente estamos estudando nosso país à luz da percepção do europeu. Um nova proposta, em vez de tentar compreender o Descobrimento apenas à luz da percepção do europeu, seria utilizar um marco que nos faça mais sentido, como buscar compreender a “América indígena”. Seja como for, o tema é controverso. Mesmo que no edital do CACD seja cobrado o “período colonial”, a “América portuguesa”, entender o tema da percepção dos que aqui estavam, de suas dores, pode ser instigante e, até mesmo, permitir que você entenda com maestria os contextos tradicionais cobrados em edital. O período colonial requer muita atenção do ceacedista para não correr o risco de usar termos inadequados, como chamar a América portuguesa de Brasil, o que muitos ainda fazem. O maior desafio é pensar o passado não tendo por base o que temos e somos hoje, mas, sim, à luz do contexto da época estudada. Analisar um fato do passado com conceitos da atualidade é anacrônico, portanto, inadequado. O ceacedista precisa estar ciente para não cair nessa armadilha. O mundo dos europeus e dos indígenas encotraram-se por ocasião do Descobrimento. O fenômeno do encontro dos dois mundos até hoje gera debates calorosos entre os historiadores. Muitos povos originários de nossa terra desapareceram, com pesquisadores chegando a garantir que o número de índios exterminados chegariam a cem milhões. Assim, há o termo “América indígena”, que faz referência ao nosso território antes e durante o tal período colonial.
Futuro diplomata, futura diplomata, Tenho, hoje, uma notícia boa e outra ruim. Quem assistiu ao meu vídeo publicado na Fanpage em 25 de março último sabe bem que sua aprovação no CACD, que está por vir, não terá sido um fato isolado na sua vida. Não terá acontecido como passe de mágica, da noite para o dia. A notícia boa é que a sua aprovação terá sido, isso sim, reflexo de seu altíssimo desempenho no dia da prova, aquele desempenho que nem você acreditava ser capaz. Quando eu deixava o recinto de prova do ano em que fui aprovada (2006), parecia que eu acabara de sair de uma aula de duas horas de academia pesada, mas exercitando o cérebro. Cansaço extremo e satisfação ainda maior. Saí de minha zona de conforto. É que o desempenho do candidato que consegue ser aprovado é altíssimo, fora do comum. Um esforço físico até. Para que isso aconteça, você deve ter sido capaz de ter desenvolvido seu potencial ao máximo - o que ocorre por meio de microvitórias diárias. A notícia ruim é que essas microvitórias - que representam o desenvolvimento gradativo de seu potencial - são constantemente ameaçadas por forças adversas. É o tema do texto da seção Cartas ao ceacedistas desta edição. Boa leitura!
Compreender ideias tão complexas, ao mesmo tempo essenciais para entender Brasil, como o período colonial, cujo marco tradicional é o Descobrimento, e saber explicar esse momento da história à luz de diferentes teses é obrigação de todo ceacedista. Deixo aqui uma provocação, que reformula a forma de pensar o período colonial da nossa história: curso gratuito da TV USP, com 29 aulas, intitulado “A história do Brasil colonial I”, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=l4683aqImi0&list=PLxI8 Can9yAHcBEu81oZa84rTzUW-IqId4. Cuidado com os termos que usará para dissertar a respeito do período colonial e bom curso!
Os europeus também aprenderam com os índios, mas a relação sempre foi hierarquizada e de dominação daqueles sobre estes. No livro “Caminhos e Fronteiras”, Sergio Buarque de Holanda mostra como os europeus se valeram de conhecimento indígna e sobreviveram nos trópicos: aprenderam o hábito da caminhada, reconheceram onde havia mel, água e outros alimentos, reconheceram caminhos na mata. Na obra, Sergio Buarque sugere o aculturamento do português, não do índio ao europeu, por causa do meio hostil e instável que encontraram nas novas terras, fazendo que o português renunciasse a vida sedentária e nobre, assimilando os costumes do gentio para sobreviver. Daí talvez advenha a romantização do elemento indígena pelo português.
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