Jornal Dicas da Diplomata - Abril 2018

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ANO II - NÚMERO 4

ABRIL DE 2018 por claudia assaf

Este jornal não reflete opinião do Itamaraty.

PLANEJAMENTO

1º ABRIL

A palavra de ordem

ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO INDÍGENA

Quando temos uma meta bem definida, tal como a de obter a aprovação em um dos consursos mais exigentes do serviço público federal, o planejamento de sua rotina de vida, em todas as áreas, deve ser tratado com extrema seriedade. Deixar a vida nos levar permitirá que você siga para todos os lados, menos rumo à consecução de suas metas desafiantes. O “deixar a vida nos levar” poderá ajudar para ter uma vida livre, leve e solta, sem estresses, mas também sem qualquer autossuperação para seus desafios. Se o assunto é atingir metas e realizar sonhos, disciplina e planejamento caminham lado a lado. Só assim você combinará uma vida sem estresse e com possibilidades reais de atingir suas metas, mesmo aquelas aparentemente mais irrealizáveis como pode ainda parecer para você a meta de ser aprovado no CACD.

ECONOMIA SEM MEDO

Muitos acreditam que a busca pela realização do sonho é tarefa estressante, mas não necessariamente. É aí que entra o PLANEJAMENTO da sua rotina. O planejamento existe precisamente para permitir que você caminhe rumo à realização de seu sonho em meio à PAZ. Planeje até mesmo aqueles minutos que não produzirá nada, mas tomará as rédeas de sua consciência em suas mãos tema do vídeo estratégico deste mês. Ao mapear os assuntos a serem estudados por meio de planejamento bem definido de curto, médio e longo prazos, que contemple suas obrigações da vida pessoal e profissional, tudo ficará mais palatável. Para que seu planejamento seja seu aliado, antes, você precisará de segurar as rédeas de sua mente: é a tomada da consciência de cada ação que estiver fazendo em prol de seu objetivo.

Por Bruno Moura

O exemplar deste mês buscará contribuir com a retirada de sua mente do piloto automático, para viabilizar o planejamento estratégico de seu processo preparatório.

Professor de Economia e CACDista

CARTAS AO CEACEDISTA a rt ig o e x c l us i vo aos l e i to res do di c as da di p l o mata

Boa leitura a todos!

www.dicasdadiplomata.com.br

Claudia Assaf 01


ANO II - NÚMERO 4

TOMADA DE CONSCIÊNCIA Retire sua mente do piloto automático

Não deixe a sua mente na mão do nada. Você precisa estar consciente de seus atos, de seus pensamentos, de cada palavra durante suas leituras de estudo. Essa tomada de consciência não é fácil. Requer concentração. Requer que você segure as rédeas de sua mente. O imediatismo e a busca por resultados rápidos a qualquer preço trazem o estresse e o automatismo de nossas ações, resultando na perda da consciência. Retome o comando de sua consciência para seguir o seu planejamento. Em um artigo de psicologia que li, intitulado Não deixe as rédeas da sua mente nas mãos de nada,

o nem de ninguém, autor insta o leitor para que deixe de ser “seu plano B”. E explica: “Na cultura do imediatismo, os mais afetados são o esforço e a perseverança. Queremos muitas coisas e as queremos agora. Sem planejamento, sem

intervalo de descanso. Lembre-se de que é na capacidade de adiar recompensas e regalias que os sonhos se diferenciam dos caprichos. Perseverar é fazer o necessário no tempo necessário. Para que sejamos nosso plano A, temos que viver para nós mesmos deixando de lado o que podem vir a dizer sobre o nosso comportamento. Se levarmos em consideração todos os pontos de vista de outras pessoas, nunca escutaremos a opinião que realmente importa: a nossa. Não se trata de tomar uma postura arrogante, mas de não deixar que os outros nos causem constrangimento com seus comentários ou comportamentos. Tomar as rédeas da nossa vida envolve autoconhecimento e uma grande convicção de que devemos seguir nossos próprios interesses, tentando, na medida do possível, não causar danos aos outros. Lembre-se de que se você viver a vida para agradar aos outros, as chances de sucesso serão menores”.

(Fonte: https://amenteemaravilhosa.com.br/nao-deixe-redeas-mente-maos-ninguem/)

PARA QUEM COMEÇOU O PROJETO CACD RECENTEMENTE As dez macroestratégias simultaneamente decisivas para o CACD. Porque apenas estudar não basta. Planejar-se é tão fundamental quanto estudar. Um sem o outro não levará à aprovação. São interdependentes. Se ainda não leu, considere ler na íntegra o meu e-book As dez macroestratégias simultaneamente decisivas para o CACD - Porque apenas estudar não basta, disponível gratuitamete em: http://www.dicasdadiplomata.com.br/ebook/ebook-3

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ANO II - NÚMERO 4

Ceacedista Pigmalião e o efeito Galateia Convença-se de que seu objetivo será alcançado (mesmo que ao final ele não seja; isso será apenas um detalhe)

Conta a mitologia grega que o rei Pigmalião, de Chipre, não havia casado porque não encontrara a mulher perfeita. Assim, esculpiu ele mesmo a sua mulher perfeita, por fora e também com os valores que ela deveria ter - uma escultura a quem chamou de Galateia. Afrodite, vendo Pigmalião apaixonado por Galateia, transformou a estátua em gente. Pigmalião e Galateia casaram-se e viveram felizes para sempre.

Quanto mais convencidos estamos de nossa capacidade em realizar uma meta, haverá maior probabilidade de acontecer. Claro, não está se falando aqui ficar rezando para os deuses e os santos ajudarem, nada disso! Tal convencimento na sua prórpia capacidade em alcançar metas deve estar presente em cada uma de sua ação em prol dessa meta - é a sua consciência em cada ação.

Há diversas interpretações da história mitológica Pigmalião e Galateia, sendo uma delas a de que, tal como o sonho de Pigmalião se tornou realidade, embora parecesse impossível, mas por causa de sua contínua insistência na crença de uma “impossível possibilidade”, também cada um de nós deverá agarrar-se aos seus sonhos e lutar por eles. Talvez seja essa a verdade por trás do mito, de que tudo poderá ser vencido ou conseguido se sinceramente acreditarmos.

Muitos estudam, viram noites, mas ainda são, no fundo, descrentes de que obterão a aprovação. Cumprem planejamento de forma automática, sem tomada de consciência ou esforço interdisciplinar. Não pode. Faça sua parte com consciência e, paralelamente, acredite que dará certo. Como? Tendo consciência de cada ato seu. Seja um ceacedista Pigmalião!

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HISTÓRIA EM ARTE “ÍNDIOS SOLDADOS DA PROVÍNCIA DE CURITIBA ESCOLTANDO PRISIONEIROS NATIVOS”

Autor: Jean-Baptiste Debret | Técnica: Pintura a óleo / tela Onde ver: Pinacoteca de São Paulo-SP | Ano: 1830

Abolição da Escravidão Indígena: 1680 ou 1755?

“Alguns sites apresentam o dia 1o de abril de 1680 como o Dia da Abolição da Escravidão Indígena. Nesta data, o rei de Portugal publicou mais uma lei que acabava com o cativeiro dos índios no Brasil. Para o professor José Ribamar Bessa Freire, a lei foi mais uma “pegadinha” de 1o de abril e fez parte da luta entre colonos e jesuítas pelo controle da mão-de-obra nativa. Para Bessa, do Programa de Estudo de Povos Indígenas da Uerj (Pró-Índio), a abolição da escravidão indígena ocorreu somente de forma definitiva depois, por iniciativa do marquês de Pombal. Primeiro, por lei de 6 de junho de 1755, válida para o Estado do Grão-Pará e Maranhão. Depois, em 1758, a medida foi ampliada por alvará para o Estado do Brasil”. Íntegra do texto disponível na fonte citada abaixo.

Leonardo Soares Quirino da Silva Fonte: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/historia/0036.html

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[

Temática associada: abolição da escravidão indígena


ABRIL DE 2018

ANO II - NÚMERO 4

HISTÓRIA EM ARTE Fonte: Dissertação de Mestrado de AGLA MENDES DE MELO LESSA, apresentada, em 2014, ao Programa de Pós-Graduação em História da África, da Diáspora e dos Povos Indígenas da – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia para obtenção do título de Metre em História. Prof.º Dr.º Emanoel Luís Roque Soares, disponível em https://www.ufrb.edu.br/mphistoria/images/Disserta%C3%A7%C3%B5es/ Turma_2014/Agla_Mendes_de_Melo_Lessa.pdf, acesso feito em 30 de março de 2018, às 9h.

Descrição da obra:

A imagem apresenta mulheres indígenas e crianças sendo escoltadas por três homens armados. Aos homens, Debret dá o nome de índios; às mulheres e crianças, o termo selvagem. A escravidão e matança de índios no sul do Brasil no século XIX foram intensas, principalmente após a chegada de imigrantes europeus. Homens conhecidos por “bugreiros” (termo utilizados por serem estes caçadores de indígenas, que era chamados de “bugres”), eram homens caboclos, conhecedores do mato e que serviam em troca de dinheiro. Sobre os ataques no sul do Brasil, [Luisa Tombini] Wittman cita: ‘A arma de fogo não era o único recurso utilizado pelos bugreiros. Após o momento inicial do ataque, quando a pólvora era disparada, causando pandemônio, o facão entrava em cena. As lembranças do ex-bugreiro Ireno Pinheiro, reveladas ao antropólogo Sílvio Coelho dos Santos, chocam tanto pela crueldade quanto pela

franqueza com que fala de uma chacina: “Primeiro disparavase uns tiros. Depois passava-se o resto no fio do facão. O corpo é que nem bananeira, corta macio. Cortavam-se as orelhas, cada par tinha um preço. Às vezes, para mostrar, a gente trazia algumas mulheres e crianças’(*) Trabalhar com estas informações apresentando a pintura de Debret, mesmo dentro de um estilo estético clássico, unido ao relato, permite ao estudante assimilar a imagem, a fala e a ação. O caboclo, este mestiço de traços indígenas, distanciavase de sua origem ao se apresentar como algoz, mas o artista o classifica como indígena pela estética do corpo. O conceito de formação nacional de Debret tocava na mesma tecla que muito outros artistas-viajantes criam: a dizimação indígena e o surgimento da nova nação através do processo de dizimação e escravidão”.

(*) (WITTMAN, Luisa Tombini. Relações interétnicas no sul do Brasil Artigo publicado. p.04-05. Disponível em https://books.google.com.br/ 05


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DO

PENSAMENTO

mÊS

Seu planejamento deve estar para você assim como o espinafre está para o Popeye.

DICA DO

mÊS

A atleta suíça Gabriele Andersen, hoje com 71 anos de idade, esforça-se para cruzar a linha de chegada durante maratona nas Olimpíadas de 1984, indo além de seu suposto limite, e consegue!

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FILMES ESTRATÉGICOS

Tudo que é preciso

são 10 minutos consciente

Sinopse: “Quando foi a última vez que você ficou sem fazer nada por 10 minutos? Sem enviar mensagens de texto, conversar or mesmo pensar? O especialista em meditação, Andy Puddicombe, descreve o poder transformador de fazer apenas isso: Revigorar a sua mente com 10 minutos por dia, simplesmente estando consciente e experienciando o momento presente. (Sem precisar de incenso ou sentar em posições estranhas)”. Fonte: https://www.ted.com/talks/andy_ puddicombe_all_it_takes_is_10_mindful_ minutes?language=pt-br#t-356169

Link para acessar o vídeo: https://www.ted.com/talks/andy_puddicombe_all_ it_takes_is_10_mindful_minutes?language=pt-br

FICHA TÉCNICA Gênero: Palestra TED Ano: 2012 Duração: 9 min 18 seg

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ANO II - NÚMERO 4

CARTAS AO CEACEDISTA arti g o ex c lusivo aos leitor es d o d ica s da d iplomata

P-L-A-N-E-J-A-R Seu game changer Afinal, o que é PLANEJAR? Por Claudia Assaf

Caros leitores, futuros diplomatas, Planejar começa com P, de PAUTAR suas metas de longo prazo, mé-

Fazer tudo isso só será possível se você puser em prática um verbo

dio prazo e curto prazo. É pautar cada hora de sua semana com

que começa com a letra seguinte, o N, que para o ceacedista deve

uma ação específica, seja a leitura de um determinado capítulo, seja

ser o verbo NEGAR. Escolher significa dizer não para a procrasti-

a revisão de um ponto já estudado, seja o lazer com a família ou

nação, dizer não às tarefas fora daquilo cuidadosamente pautado

sozinho, seja a hora do descanso, seja o áudio que escutará quando

por você para sua semana. Lembre-se de que você não precisará

estiver em deslocamento para seu compromisso ou na fila do cinema.

dizer não àquela festinha, àquele passeio ou àquele lazer para todo o sempre. Lembre-se de que se trata de sacrifício necessário e temporário para a consecução de uma meta extremamente desafiante

Planejar também precisa do L, de LER, mas não é ler aleatoriamente

que traçou para si. Saiba que, ao negar a ida a um compromisso que

ou ler por ler, só para anunciar a todos que você leu isso ou aquilo.

não acrescentará muito ao cumprimento de seu objetivo, mesmo que

Nada disso! Ler é ter sempre em mente a letra seguinte ao L do ver-

não esteja previsto o estudo, você poderá ficar serenamente em casa

bo planejar, que é a letra A. Ler só terá serventia se você ABSORVER

colocando em prática o verbo que começa com a letra seguinte.

aquilo que leu. O verbo é agora EXPLICAR. Explicar para si, sem consultar nada, sem ABSORVER o conteúdo lido passa pela definição de estratégias muito

ler nada, apenas usando sua mente, algum ponto estudado recen-

pessoais objetivando a internalização do tema estudado. Uns usam

temente ou no passado. É explicar alguma interdisciplinaridade, us-

mapas mentais - há até aplicativos incríveis que ajudam a você elab-

ando temas correlatos estudados em pontos distintos do programa.

orar seu mapa mental. É viciante e extremamente eficaz, para uns, na absorção do tema estudado. Outros, como eu, possui memória

O que o espera após esse sacrifício de alguns anos será maravilhosa,

auditiva: gravava meus resumos ou lia parágrafos contendo ideias

tenha certeza disso, independentemente do resultado. Para que con-

centrais das obras lidas e voltava a escutar esses áudios naqueles

siga negar tentações de lazer não planejado, você precisa lembrar do

momentos em que não podia estudar: durante a higiene matinal,

verbo iniciado pela letra seguinte, o J.

esperas, deslocamentos e até refeições.

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ANO II - NÚMERO 4

JURAR para si que está firme no objetivo traçado, independen-

de recuperar o conhecimento estudado, você não será capaz de usar

temente de qual seja o resultado é crucial para ter chances

esse conhecimento no dia da prova. Esteja consciente daquilo que

de dar certo. Pelo dicionário Houaiss, jurar significa “assegurar

estudou. Até indo dormir, faça um recuo mental para tentar recuper-

ou prometer sob juramento”. Encare-se no

ar um ponto que tenha estudado há alguns meses

espelho e prometa, olhando dentro dos seus

e veja se será capaz. Faça mnemônicos, escute seus

próprios olhos, sob juramento de sua consciência, que você se dará essa chance para tentar algo que acredita que é capaz. Só você, com você mesmo, poderá energizar-se dessa forma e ficar imbatível. Os outros a sua volta, até mesmo aqueles que o amam, poderão pensar que você está sofrendo e desincentivá-lo de seu sonho. Só você, compromissado consigo próprio, será capaz de pelo menos tentar, agindo pelo sonho, saindo de sua zona de segurança e conforto. Mas nada do que foi dito anteriormente será possível sem a letra mágica seguinte, que abre o verbo AMAR. Tudo na nossa vida só dará certo se o amor estiver envolvido. Se você estiver estudando o tema elasticidade preço da demanda, de microeconomia, com ódio, saiba que sua mente se bloqueará para aquele ensinamento. Ame o que estiver estudando; interesse-se genuinamente por aquilo que estiver estudando; troque ideias com alguém que ame o ponto que você estiver estudando e se contamine com esse amor. Durante seus estudos, leia por amor, entendendo

P L A N E J A R

áudios, explique para si seus mapas mentais. Você não faz ideia de como nossa mente se assemelha a

autar

um elástico: há informações adormecidas ali que só precisam de um estímulo mínimo para entrarem no seu sangue e ficarem em seu piloto automático no

er

dia em que estiver realizando a prova do ano em que será aprovado.

bsorver

Não há almoço grátis. Conseguir algo grandioso não acontecerá se não fizermos o esforço hercúleo rotineiramente. Aquele instante em que você lerá o

egar

resultado do concurso e seu nome estiver na lista dos aprovados, embora dure apenas alguns pouquíssimos segundos, marcará a sua vida para toda

xplicar

eternidade. Não porque a carreira diplomática seja a melhor coisa do mundo, longe disso; mas porque você terá provado para si que saindo de sua zona

urar

de conforto, usando múltiplas técnicas e maximizando a produtividade no tempo de nossa rotina diária, você é capaz de transpor o que achava ser impossível. Foi precisamente o que eu senti duran-

mar

te meu preparatório, que narrei no meu Diário de Bordo, um voo com destino à carreira diplomática

ecuperar

(www.claudiaassafdiariodebordo.com.br).

o que lê, não apenas para passar na prova

Convido o leitor a assistir ao meu vídeo que postei, em

de um concurso, tal como o truque dos mil-

16 de novembro de 2016, na fanpage do Facebook

ionários: se trabalhar pelo dinheiro ele não

DICAS DA DIPLOMATA, intitulado “Nossa metáfora”.

vem; dê seu amor no que faz, que o dinheiro virá em abundância

Mesmo que você não tenha conta de Facebook, está disponível para

como consequência natural.

todos, no link https://www.facebook.com/DicasDaDiplomata/videos/vb.633871383295816/1486693194680293/?-

Por fim, o R representa sua capacidade em RECUPERAR o que estu-

type=3&theater. Ali, eu mostro a você que, mesmo tendo todo

dou ao longo dos anos. Se absorveu como deveria, a recuperar a in-

apoio de coaches, de cursinhos etc., ao fim e a cabo, é você e só

formação será um processo elementar. Como sabe, a missão “passar

você que definirá o resultado desse projeto, para também entrar

no CACD” é de médio a longo prazo. Se não desenvolver métodos

nesse trem metafórico do referido post.

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ECONOMIA SEM MEDO! Essa é a nova coluna do Jornal Mensal do Dicas da Diplomata. A seção surgiu por oferta voluntária do ceacedista Bruno Moura, que contribuiu com a seção Cartas ao Ceacedista de março de 2018. Mesmo sendo ele mesmo um candidato ao CACD, mas tendo claro o objetivo de ajudar a outros ceacedistas que buscam a aprovação, decidiu compartilhar seu vasto e profissional conhecimento em ciências econômicas especialmente com os seguidores do Dicas da Diplomata. A cooperação gera a sinergia e todos ganham. Teoria dos jogos! Aproveitem essa oportunidade. Registro aqui minha gratidão ao Bruno pelo seu desprendimento e espírito solidário. No seu texto de estreia da coluna, Bruno Moura identificará as cinco áreas amplas nas ciências econômicas à luz de avaliação feita por ele das últimas cobranças de Noções de Economia nas provas do CACD. Boa Leitura!

BRUNO TADEU LOPES SIQUEIRA DE MOURA foi professor de Crescimento Econômico e Economia Internacional na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); doutorando em Ciências Econômicas pela mesma instituição; e CACDista. Pode ser contatado pelo correio eletrônico: brunomoura.alv@gmail.com.

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MARÇO DE 2018

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ECONOMIA E INTERDISCIPLINARIDADE

As cinco amplas áreas cobradas pelo CACD Por Bruno Moura

Prezados leitores CACDistas, é um prazer imenso estar novamente neste jornal, compartilhando conselhos, conhecimentos e, acima de tudo, destacando pontos que julgo relevantes para alcançar bom desempenho nas provas de economia do CACD das primeira e terceira fases. A economia, de um modo geral, é vista por muitos como um dos grandes entraves para a aprovação no CACD; não só pelos jargões técnicos, próprios da ciência econômica, como também por suas especificidades qualitativas e quantitativas. Como prometido em meu artigo da edição anterior do jornal mensal do Dicas da Diplomata, pretendo, nesta coluna, fornecer algumas indicações bibliográficas voltadas para a prova de economia e escolhidas com base em minha experiência como economista e acadêmico e nas demandas de editais recentes, em especial o de 2017, que apresentou novidades em relação aos editais anteriores. Inicialmente, vale a pena salientar que, se dividirmos o assunto dos editais por “áreas de estudo”, poderemos observar a existência de um padrão bem definido na economia, o qual poderemos descrevê-lo em cinco campos amplos de estudo, quais sejam: microeconomia, macroeconomia, economia internacional, história econômica geral e história econômica do Brasil. Mesmo tendo presente essas cinco áreas, o candidato ao CACD deverá estar sempre atento à interdisciplinaridade. Isso porque muitos dos tópicos que enquadro em história econômica estão diluídos nos trechos do edital correspondentes a outras disciplinas cobradas no concurso, tais como história mundial e história do Brasil. Como se sabe, o estudo de história econômica, tanto a geral como a do Brasil – por meio de leituras especializadas de manuais econômicos adequados e de grandes clássicos da economia brasileira mundial, como Formação Econômica do Brasil, História Econômica da América Latina (ambos de Celso Furtado), História da industrialização no século XIX (Vania Maria Cury), Os anos de chumbo: Economia e política internacional no entre guerras (Frederico Mazzuccelli), entre

outros, trarão ao candidato significativo conhecimento adicional e relevante para responder com mais propriedade as questões de pontos específicos de outras disciplinas cobradas no concurso, mas que, ao mesmo tempo, estão diretamente ligadas a conjunturas econômicas localizadas em espaços e períodos diferentes. Sendo assim, a interdisciplinaridade deverá estar na mente do candidato atento. A atenção deverá se voltar não apenas aos pontos de economia brasileira cobrados na prova, mas também à internalização de conhecimento que, a priori, está distribuído no conteúdo programático de outras disciplinas. Nessa linha, para aqueles candidatos que, por razões as mais diversas, não tiverem acesso às obras mencionadas anteriormente, eu recomendaria o manual de história econômica geral que julgo ser completo, detentor de uma linguagem clara, além de didático e rico em referências a outros autores, que, até mesmo inclui debates historiográficos: História Econômica Geral, dos professores da USP Flávio Azevedo M. Saes e Alexandre Macchione Saes. Este deve ser livro de cabeceira para temas afeitos à história econômica mundial. No tocante à história econômica do Brasil, para estudantes em início de preparação, mostram-se obrigatórias as leituras clássicas da literatura de Celso Furtado, Caio Prado Júnior e Evaldo Cabral de Melo, assim como dos excelentes livros de Fábio Giambiagi. Para estudantes mais avançados, estão disponíveis Desenvolvimento em crise: a economia brasileira no último quarto do século XX, de Ricardo Carneiro; e o manual A Ordem do Progresso: dois séculos de política econômica no Brasil, organizado por Marcelo de Paiva Abreu, sendo que recomendo a 2ª edição, já atualizada até o ano de 2010 e que opino ser o manual mais completo disponível sobre economia brasileira. Por fim, é importante frisar que boa parte da bibliografia recomendada até aqui não é comumente vista ou conhecida

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ANO II - NÚMERO 4

ECONOMIA E INTERDISCIPLINARIDADE por CACDistas em fóruns, tampouco citados como indicação de leitura para a prova de economia do CACD. Reafirmo que o critério utilizado por mim baseia-se em minha experiência própria de anos como profissional das ciências econômicas e que julgo particularmente úteis e completos, tendo em conta a análise criteriosa que fiz dos mais recentes editais do CACD. Observo que minhas recomendações acima eu as faço sem prejuízo das excelentes leituras recomendadas por professores de cursos particulares especialistas na prova do CACD, por guias de estudo ou por bibliografias não oficiais divulgadas em sites especializados nesse concurso. Ao contrário. Trata-se de recomendações de pessoas experientes em provas passadas e, em sua maioria, sumamente relevantes. Meu objetivo é apenas expandir o universo de opções para o candidato que busca conhecimentos em materiais adicionais ou síntese do que eu priorizaria em meio a vasto universo de opções de leitura. No que respeita especificamente à microeconomia, é interessante pontuar que a totalidade do conteúdo cobrado, por um lado, não se mostra tão ampla em termos de leitura, mas, por outro, exige do candidato rigorosa habilidade técnica no entendimento de modelos microeconômicos, como aquele que se baseia no comportamento econômico do “homem racional” da microeconomia moderna, como reza a teoria do consumidor, entre tantos outros modelos. A maior dificuldade da microeconomia para o candidato que não está familiarizado com as ciências econômicas talvez esteja exatamente na necessidade de possuir o poder de abstração sem o qual um modelo não pode ser compreendido. Nesses modelos estão os tópicos mais abstratos do conteúdo programático de microeconomia, em termos de sua interpretação, a apreensão dos conceitos e sua aplicação em situações reais – veja, por exemplo, a ideia de curva de utilidade ou mesmo de utilidades marginais decrescentes. Algumas abstrações são mais “empiricamente visíveis”, como a teoria da firma e o estudo dos tipos de organização dos mercados, além de conceitos básicos de economia do setor público, tais como definição de bem público, bens rivais etc. Todos esses tópicos de microeconomia podem ser abordados por diversos manuais disponíveis no mercado. Para estudantes mais avançados, já familiarizados com 12

conceitos básicos e introdutórios de micro e macroeconomia, que gostam de material mais direto e intuitivo, recomendo o manual Microeconomia – uma abordagem moderna, do autor Hal Varian. No caso dos candidatos que preferem livro mais aplicado, com ilustrações de situações reais e repleto de exemplos matemáticos, recomendo o Microeconomia – uma abordagem completa, dos autores David Besanko e Ronald Braeutigan. Há também famoso manual americano, de Pyndick e Rubinfeld, o qual recomendo apenas para aqueles candidatos que apresentarem extrema dificuldade de absorção dos conteúdos abordados em microeconomia. Deixo registrado que não indico esse último livro para os demais candidatos, porque poderá ser uma obra cansativa em muitos pontos, haja vista a extensa carga de leitura colocada pelos autores com o objetivo de facilitar o entendimento de conceitos que, nos livros já mencionados, são apresentados de forma igualmente completa e objetiva. Opino ser interessante e recomendável estudar o conteúdo de Teoria dos Jogos, incluído no conteúdo programático a partir do edital do CACD de 2017. Cabe recordar que alguns livros de microeconomia dedicam um capítulo ao tema. Teoria dos Jogos aplicada à economia é uma área de estudo bastante intensa, de modo que, um conhecimento introdutório dos principais conceitos – equilíbrio de Nash, matriz de Payoff etc. – já se mostra suficiente para a demanda cobrada no conteúdo programático do CACD. Lembre-se de que a matéria cobrada pelo CACD não é economia, e, sim, noções de economia. Sendo assim, cuidado para não perder foco ou desanimar, caso decida estudar temas desnecessários para o nível cobrado pelo CACD. Nada de se aprofundar em variações de probabilidade, teoremas de equilíbrio e outras temáticas mais matematizadas. O concurso é claro ao exigir do candidato o entendimento da utilização dessa ferramenta em situações de conflito bélico, político e econômico, mas tal entendimento pode ser adquirido serenamente, em livros como o Teoria dos Jogos: uma abordagem introdutória, de Ronaldo Fiani; ou, para quem lê em língua inglesa, o livro Game Theory for Applied Economists, de Robert Gibbons. Quanto à macroeconomia, podemos afirmar que é a parte mais longa do edital. É imperativo estar familiarizado com conceitos de variáveis macroeconômicas, tais como produto interno bruto (PIB), inflação, câmbio, desemprego etc. O candidato deve inicialmente estar seguro de que compreende a base de


ABRIL DE 2018

ANO II - NÚMERO 4

ECONOMIA E INTERDISCIPLINARIDADE contabilidade social, em especial balanço de pagamentos, o que economistas costumam chamar de uma “pré-macro”, que nada mais é que o estudo das contas nacionais e do país com o exterior. Sugiro a leitura do manual específico de contabilidade social da Leda Maria Paulani e do Márcio Bobik Braga, intitulado A Nova Contabilidade Social: uma introdução à Macroeconomia. É importante o candidato não menosprezar essa parte de contabilidade, uma vez que, por duas ocasiões recentes, a temática foi abordada em questões da terceira fase envolvendo cálculos. Para os demais assuntos de macroeconomia, é comum se falar em cursos e fóruns do livro Macroeconomia, do conhecido economista francês Olivier Blanchard. Considero um livro, de fato, muito didático, principalmente nos modelos de economia aberta, trazendo ao leitor interpretações diretas e muito claras, embora sem muitos exemplos práticos. O maior “pecado” do livro é o fato de ser incompleto e até falho ao cobrir os principais modelos de crescimento econômico – temática que, opino, se tornará cada vez mais relevante – além de claramente ignorar o papel importante das instituições na economia. Especificamente na temática das instituições, há um livro muito completo e de leitura breve, chamado Por que as nações fracassam: as origens do poder, da prosperidade e da pobreza, de Daron Acemoglu, professor do MIT e potencial candidato ao Nobel de economia; e James Robinson, professor da Universidade de Harvard. A parte de Desenvolvimento Econômico, que, cabe recordar, foi incluída recentemente no edital, pode ser muito bem compreendida pelo livro de Nali Jesus de Souza – Desenvolvimento Econômico -, cuja riqueza de conteúdo se mostra na diversidade das linhas de desenvolvimento abordadas, iniciando por autores de economia política, perpassando teorias alternativas de desenvolvimento, utilizadas em diferentes partes do mundo, e finalizando com modelos ortodoxos modernos que abrangem até a temática ambiental. Não posso encerrar meus comentários a respeito de bibliografia para macroeconomia sem indicar um manual pouco mencionado fora das universidades, mas que considero completo no que se refere ao conteúdo programático do CACD para macroeconomia. Trata-se do manual Macroeconomia,

de Richard T. Froyen. É uma obra densa se comparada ao livro de Olivier Blanchard, porém inclui introdução aos modelos de crescimento econômico e aborda conteúdos de forma mais detalhada e com uma apresentação de variações, que permeiam o livro de forma bastante completa e didática. Sem dúvidas, é o meu favorito para o concurso do CACD. Por fim, apresento minhas indicações para economia internacional. São dois livros que se complementam e abordam de forma rigorosa todo o conteúdo pertinente a essa área. Trata-se do clássico Economia internacional – dos autores Paul Krugman e Maurice Obstfeld. Na obra, o candidato encontrará de forma didática e bem explicada, gráfica e verbalmente, os principais modelos de comércio internacional, assim como toda a parte política das instituições que fazem parte da macroeconomia global. A segunda opção é o manual de Dominick Salvatore intitulado Introdução à Economia Internacional. O livro é mais curto e apresenta o passo a passo da abordagem microeconômica dos modelos de comércio internacional, porém com linguagem mais “matematizada”. Registro que não recomendado a obra para discussões acerca dos mercados globais e suas instituições. Estou certo de que ao menos boa parte dos materiais mencionados, senão todos, será de grande valia para abordar questões da prova de economia do CACD à luz de conhecimento mais bem lapidado, utilizando-se de jargões e conceitos sempre presentes nos modelos econômicos. Além disso - o que considero mais importante –, ao estudar por essas obras, você será capaz de transportar a matemática e a geometria dos modelos estudados para situações do seu dia a dia, de complexidade real, valendo-se de raciocínio lógico e verbal, seja no estudo do consumidor ou dos mercados, seja na análise das instituições, seja no papel do governo nas economias. Lembre-se de que o maior desafio dos estudantes de economia é ser capaz de relacionar a abstração dos modelos estudados com situações vividas no mundo real pelos agentes micro ou macroeconômicos. Desejo a todos os leitores do jornal do Dicas da Diplomata um excelente mês de abril, com estudos focados, e até a próxima edição, quando daremos continuidade a temáticas da prova de economia do CACD.

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