Jornal Dicas da Diplomata - Setembro 2017

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SETEMBRO DE 2017

ANO I - NÚMERO 9 Por Claudia Assaf

SEGUNDA FASE DO CACD 2017 (E DO CACD 2018)

DICA ESPECIAL DO MÊs p.2

REDAÇÃO PARA MATAR

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O jornal de setembro do Dicas da Diplomata é dedicado a dois grupos específicos de candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD): (i) os que passaram na primeira fase do CACD 2017; e os que, muito provavelmente, passarão na primeira fase do CACD 2018. Ao primeiro grupo, gostaria de dar meus parabéns e desejar muita serenidade para executar as provas de segunda e terceira fases. Queria que soubesse que estarei aqui para vocês para o que eu puder ajudar, no que estiver a meu alcance. Neste caso, bastará me escrever para dicas.da.diplomata@ gmail.com para conversarmos. Preparei algumas dicas que considero importantes para a segunda fase. Ao segundo grupo - composto pelos que pontuaram nota alta na primeira fase, mas não alcançaram a nota de corte -, igualmente, gostaria de dar meus parabéns. Saibam que muitos estão a léguas de distância para atingirem o patamar que você conseguiu pontuar. Compara-se consigo em certames de anos anteriores e poderá ver claramente a evolução que teve por causa dos estudos e do esforço de diversa natureza dos últimos meses. O momento é de contabilizar o aprendizado que a reprovação lhe trouxe e já focar no CACD 2018, porque você, que quase pontuou a nota de corte em 2017, é candidato ou candidata natural para realizar a segunda fase no CACD 2018, se mantiver o foco. Seja como for, para ambos os grupos, o momento é de persistir e continuar.

Rafael Galera, diplomata

CARTAS AO CEACEDIsTA

Boa leitura, Claudia Assaf

artigo exclusivo aos leitores do dicas da diplomata

p.7 www.dicasdadiplomata.com.br

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ANO I - NÚMERO 9

DICA ESPECIAL DO MÊS DICA ESPECIAL DO MÊS DICA ESPECIAL DO MÊS DICA ESPECIAL DO MÊS

MENSAGEM AOS APROVADOS

NA PRIMEIRA FASE DO CACD 2017 Eu sei, não foi fácil. Como você esperou por este momento! Independentemente do resultado final, considere-se vitorioso. Um grande passo foi dado rumo à consecução da meta maior, de ingressar na carreira de diplomata. O momento é de focar no seu repertório argumentativo, com vistas a elaborar excelentes textos dissertativo-argumentativos, seja em português, na redação, seja em inglês, na composition. É momento de investir nas fraquezas, e não fugir delas. Se seu problema está em tradução, treine, intensivamente, traduções, e assim sucessivamente. É o momento do tudo ou nada.

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REDAÇÃO PARA MATAR

Elementos que não poderão faltar na sua redação A banca examinadora quer saber se você apresentará duas habilidades no seu texto de redação: habilidade em posicionar-se diante do tema proposto e de sustentar sua posição por meio de argumentos irrefutáveis. Só isso.

ideias, logicamente encadeadas, de forma até mesmo didática - qualquer pessoa minimamente educada deverá ser capaz de ler sua redação e compreender o que tentou transmitir, esse é o truque.

O seu posicionamento claro será materializado na sua tese, a ser manifestada logo no parágrafo de introdução. Busque elaborar uma tese original, só sua. Quanto mais próxima à forma como realmente você percebe a questão, mais facilmente será o processo de sustentação da sua tese, a segunda habilidade a que a banca examinadora estará atenta.

Como bem comentou nosso convidado da seção “cartas ao ceacedista” desta edição, o Rafael Galera, que teve a proeza de obter da rigorosa banca examinadora a nota máxima tanto no quesito de análise quanto no de argumentação: “…a banca aprecia que o candidato assuma posições, que tenha coragem de defender o que pensa, que demonstre senso crítico e que seja capaz de se diferenciar dos outros candidatos”.

Independentemente do nível de dificuldade do tema proposto, sua tese deve ser inteligente, original, transmitida por meio de uma linguagem simples e inteligível. Nada de rebuscamentos. Ah! E o principal: SUA TESE DEVERÁ ESTAR INTEGRALMENTE RELACIONADA AO COMANDO DA REDAÇÃO. A sustentação de sua tese deverá ocorrer mediante um texto que necessariamente apresentará três características imprescindíveis, a saber: maturidade intelectual, o cérebro de sua redação, que lançará os argumentos irrefutáveis de defesa da tese, capacidade essa desenvolvida ao longo de seu processo preparatório por meio do estudo das demais disciplinas; domínio da variação culta da modalidade escrita da língua portuguesa, a ser avaliado como aspectos microestruturais; e excepcional capacidade de organizar suas

Tudo isso elaborado à luz de rigoroso controle do tempo. No meu curso on-line, já fora do ar por motivo de mudança de hospedagem do meu portal, trabalhamos passo a passo como controlar o tempo a cada tarefa da elaboração textual. Se assim proceder, não há o que temer. Só a redação vale mais que a metade da pontuação total da prova, portanto vale a pena investir na excelência, na REDAÇÃO PARA MATAR! Seja rigoroso no tempo, intelectualmente maduro, escrevendo de forma simples, porém com base na coerência e em ideias logicamente encadeadas para a comprovação de sua tese, transmitindo esse conhecimento utilizando a variação culta. Essa é a fórmula da sua redação de excelência. Quem treinou bastante, não terá o que temer. Ah, não custa repetir: controle o tempo!

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EXERCÍCIOS DE INTERPRETAÇÃO O segredo para a resposta de excelência.

Acrescentaria o seguinte: cronometre o tempo e faça, antes, o plano de ação a respeito do que e como comentará.

Se houvesse uma única dica para fornecer ao leitor a respeito dos exercícios de interpretação, análise ou comentário da prova escrita de português do CACD, minha dica seria essa: cuidado para não ser induzido a falar de algum aspecto apresentado nos textos a serem comentados, só

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porque você domina aquele aspecto, sob pena de fuga ao tema; foco ABSOLUTO no comando da questão. RESPONDER AO QUE SE PERGUNTOU. Simples assim.

No curso que ministrei no Gran Cursos Online (GCO) eu tratei em seis videoaulas como bem elaborar seus exercícios. Recomendo fortemente que assista a minha explicação por lá. Não estou fazendo propaganda, não ganho nada por divulgar aqui. Apenas digo para lhe ajudar. Veja maiores informações na página eletrônica do GCO, onde você poderá também acessar minha aula demonstrativa. Acesse aqui.


ENGLISH Aqui caberá uma boa dose de realismo. Se você já domina a modalidade escrita do inglês, é momento de reler a matéria acima, a respeito da redação de português, e aplicar as mesmas regras para sua “composition”. Poderá focar, de agora até o dia da prova, na escrita mais próxima ao inglês de um nativo, por mei odo uso do dicionário de collocation, como já expliquei diversas vezes, tanto no meu livro Diário de Bordo, quanto nos meus posts semanais do Facebook. A tradução para o português deverá soar português, mas sem fugir do texto original, esse é o desafio. O mais desafiante será a tradução para o

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inglês, afinal não somos nativos. Deixe essa tarefa por último, porque, mesmo que dedique muito tempo a isso, não deverá ser a questão que mais lhe trará pontos. Assim, talvez valha mais a pena dedicar mais massa crítica de seu cérebro para as questões sobre as quais você tem maior poder de reverter o jogo - na composition, no resumo e na tradução para o português. Last but not east, do not worry, be happy. Afinal, você já fez sua parte. É chegado o momento de deixar a serenidade dominar para que seu conhecimento se manifeste na totalidade.

F.A.I.L. - First Attempt in Learning

Para quem não passou no TPS e vinha estudando com afinco O fracasso no TPS não pode ser traduzido como derrota pessoal, fim de linha, sentimento de subestima, entre tantas outras balelas. Só acerta quem cai; só passa quem foi massacrado com a realidade dos desafios e conseguiu superá-los depois de muito sacrifício, mas muito mesmo. Não tenha autopiedade e lute com forças ainda mais intensas. Você pode e vai conseguir se superar. Para os que ficaram a poucos pontos da nota de corte, saibam que outros passaram com décimos a mais. Pura conta de loteria. Poderia ter sido você, mas não foi, simplesmente porque a pontuação não deu, só por isso; não porque você sabe menos, estudou errado ou algo parecido. Apenas não foi sua vez, mas poderia ter sido. Simples assim. Continue focado, porque você precisará estar pronto para o ano em que a nota de corte for atingida.

Nesse ano, você deverá estar pronto para encarar a segunda e a terceira fase. Daí a necessidade de manter o sonho vivo, ainda que precise dar um tempo para relaxar e recomeçar. Quem leu meu diário de Bordo sabe bem: foi depois de três decepções com as reprovações de primeira fase que resolvi dar um tempo, relaxei, e, voilà, fui aprovada neste momento. Esse é o recado para os que estão quase lá na nota de corte. É com base nos nossos fracassos que aprendemos, tentamos novas maneiras de estudar e construimos novas metodologias, até alcançarmos o sucesso - que será tanto mais prazeroso quanto mais desafiante tiver sido a caminhada. Tenha sempre presnete de que “FAIL” faz parte de suas tentativas em aprender.

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ANO I - NÚMERO 9

PENSAMENTOS DO MÊs PENSAMENTO DO MÊS PARA OS QUE

NÃO TIVERAM

O NOME NA LISTA DO RESULTADO

PENSAMENTO DO MÊS PARA OS QUE

QUASE

ATINGIRAM A NOTA DE CORTE

PENSAMENTO DO MÊS PARA OS QUE

FORAM APROVADOS

NA PRIMEIRA FASE

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ANO I - NÚMERO 9

CARTAS AO CEACEDIsTA arti g o ex c l usi vo aos leitor es d o d ica s da d iplomata

Por Rafael Galera*

DEZ! NOTA DEZ!

ARguMEnTAÇãO: 10/10; AnÁlIsE: 10/10 QuAnDO A BAnCA COnCEDEu nOTA MÁXIMA AO quEsITO “CApACIDADE ARguMEnTATIvA” DE uMA

REDAÇãO nO CACD…NãO ACREDITA? BEM, ACOnTECEu EM 2016, COM O AuTOR DO ARTIgO DEsTE MÊs.

Caros leitores, futuros diplomatas, Todo candidato ao CACD acaba por

temas e teses mais originais.

possuir, em virtude de seus estudos para

Não considero que os avaliadores valorizem

o concurso, uma cultura amplíssima. A

candidatos com grande capacidade de

segunda fase do concurso é o momento

citação e que reproduzam argumentos de

em que o candidato precisará organizar

autores famosos, mas, sim, os candidatos

esse

ter

que sejam capazes de produzir teses

sucesso. Ao contrário das outras fases,

robustas e sólidas, com senso crítico e

em que as questões são direcionadas e

capacidade de argumentação. Isso torna

mais restritas, a segunda fase permite

ainda mais importante o planejamento da

muitas argumentações diferentes e é

redação. O candidato deve, se possível,

onde o candidato precisa demonstrar essa

dedicar pelo menos 20 minutos para buscar

capacidade de criar ligações entre esse

no imenso conhecimento adquirido durante

amplo

conhecimento

para

amplo conhecimento e o enunciado da questão.

a preparação(se você passou no TPS, tem um amplo conhecimento) uma tese ou linha de argumentação, sem ter medo de ser ousado mas

A redação de 2016, por exemplo, permitia ao candidato dissertar

sempre tomando cuidado para seguir o comando da redação. Nesse

sobre qualquer fato da história mundial ou da cultura brasileira

rascunho, é importante definir os tópicos frasais e os argumentos de

ocorrido no século XX, desde que relacionando esse fato com a frase

cada paragrafo antes de começar a escrever a redação.

““antes cair das nuvens, que de um terceiro andar ”. Nesse sentido,

Um erro que cometi em minha preparação foi negligenciar o estudo

para a obtenção de uma alta nota em macroestrutura, o candidato

dos aspectos microestruturais. Como cada erro microestrutural custa

precisou gerar uma tese com senso crítico e capacidade de análise.

1 ponto, gabaritar microestrutura – algo bem plausível com a devida preparação - pode garantir uma nota competitiva mesmo que o

A produção de uma tese relativamente original na redação é

candidato não vá tão bem assim em macroestrutura.

essencial. Em 2016, muitos candidatos optaram por um caminho

Mais importante do que tudo isso é o candidato manter a calma

relativamente fácil – falar sobre a semana de arte moderna ou o

na hora de fazer a redação. Por ter chego na segunda fase, ele já

modernismo no Brasil. Ao escolher uma tese que muitos outros

comprovou que conteúdo é o que não falta. O que fará diferença

candidatos irão seguir, acabou sendo bem mais difícil se destacar.

na aprovação é fazer a prova com tranquilidade e ser capaz de

Entre os 31 aprovados, 12 escolheram falar sobre a semana de arte

organizar seu conhecimento em uma tese robusta, sustentada por

moderna. Apesar de serem aprovados, esses candidatos tiveram, em

vários argumentos e, se possível, que não seja uma tese defendida

média, notas macroestruturais menores do que os que optaram por

por muitos outros candidatos.

* Rafael Galera é diplomata. Foi aprovado no CACD de 2016. www.dicasdadiplomata.com.br

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CARTAS AO CEACEDIsTA arti go exclusivo aos leitor es d o d ica s da d iplomata

Por Rafael Galera*

TEMA DA REDAÇãO DO CACD DE 2016 A partir de sua interpretação da citação de Machado de Assis(“Antes cair das nuvens, que de um terceiro andar ”), comente um fato relevante da cultura brasileira ocorrido no século XX; ou, alternativamente, um fato relevante da história mundial ocorrido no mesmo período; e relacione o fato escolhido à citação.

COMEnTÁRIO InICIAl DO RAfAEl,

AuTOR DA REDAÇãO:

Nessa redação, optei por falar sobre as diferenças entre as esquerdas “anacrônicas” - comunistas e totalitárias - e as esquerdas “pragmáticas”, que adotam posições liberais em economia, buscando atenuar os problemas do sistema capitalista ao invés de subverte-lo. Nesse sentido, minha tese principal era de que as esquerdas pragmáticas “cairam das nuvens”, uma vez que abandonaram o sonho da utopia comunista, adotando, inclusive, medidas liberais. As esquerdas comunistas e anacrônicas, entretanto, “cairam do terceiro andar”, uma vez que a falha em perceber as falhas do sistema comunista levou esses países a uma implosão ou à miséria.

A escolha da minha tese, mesmo ela sendo polêmica e ousada – tratando-se de uma defesa clara de posições liberais e capitalistas - foi muito bem recebida pela banca. Retiro disso a lição de que a banca aprecia que o candidato assuma posições, que tenha coragem de defender o que pensa, que demonstre senso crítico e que seja capaz de se diferenciar dos outros candidatos.

As redações da segunda fase do CACD são corrigidas por um grupo de seis corretores. Três deles para os aspectos gramaticais e três deles para os aspectos macroestruturais (apresentação, análise e argumentação).

POnTuAÇãO DADA pElA BAnCA: Apresentação: 9,40/10 Análise: 10/10 Argumentação: 10/10

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CARTAS AO CEACEDIsTA

ANO I - NÚMERO 9

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arti g o ex clusivo aos leitor es d o d ica s da d iplomata

Por Rafael Galera*

-No segundo paragrafo, exemplifiquei o fato histórico escolhido, chegando a citar a possibilidade da economia planificada ser uma alternativa viável ao capitalismo para, em outros paragrafos, contraargumentar essa tese. Essa estratégia: citar um argumento em um paragrafo para, logo em seguida, apresentar sua antítese, pode ser um método muito efetivo de demonstrar senso crítico e capacidade de analisar o mesmo fato por diversas perspectivas. No terceiro paragrafo, apresentei a antitese ao segundo paragrafo. Esse crescimento econômico veio ao custo da violação em massa de direitos individuais. A citação de Orwell foi breve, pois considero que a banca prefere ouvir seus argumentos ao invés do de outros autores. Contextualizar a obra de Orwell nesse período histórico como uma crítica vinda da própria esquerda ao stalinismo também demonstrou conhecimento da obra do autor e do período histórico de uma forma mais efetiva que caso eu simplesmente explicasse algo sobre o livro 1984. No quarto paragrafo, citei novas antíteses ao primeiro paragrafo, com exemplos históricos. Considero que não é necessário explicar e descrever exageradamente os fatos históricos, o candidato deve enfatizar sua própria análise e argumentação que é mais importante que as descrições. Também deixei claro em que sentido as esquerdas reformistas, que adotaram ideias liberais, “cairam das nuvens”. É muito importante sempre demonstrar que entendeu o comando da questão, que solicitou a associação do evento histórico com a frase de Machado de Assis. No quinto parágrafo, exemplifiquei como a esquerda “anacrônica” “caiu do terceiro andar, finalizando a descrição do fato histórico escolhido por mim – ascensão e queda do socialismo soviético. -Em um brevíssimo paragrafo, optei por deixar ainda mais claro a analogia que criei entre o fato histórico e a frase de Machado de Assis. Nesse penultimo parágrafo argumentativo, optei por reforçar toda a metáfora do fato histórico e da frase de Machado. A ideia de que as esquerdas que não se adaptaram e adotaram ideias liberais “caíram do terceiro andar”, fracassando completamente em seus objetivos, enquanto que as esquerdas mais pragmáticas, ao adotar políticas que buscam tornar o capitalismo mais justo ao invés de tentar subvertelo, apesar de terem caído das núvens(abandonando a utopia socialista), conseguiram se adaptar ao século XXI e terem sucesso eleitoral.

A ascensão e a queda do comunismo soviético são dois dos fenômenos mais relevantes do século XX. O otimismo da primeira metade do século foi lentamente sendo substituído pelo pessimismo. A frase de Machado de Assis, “antes cair das nuvens, que de um terceiro andar”, aplica-se ao processo de transformação das esquerdas devido à decadência e ao fim da URSS. As esquerdas que abandonaram posições idealistas, ”caindo das nuvens”,foram mais bem sucedidas que as que não se adaptaram a tempo e, portanto, causaram danos concretos aos países que governaram. Nos anos imediatamente posteriores à 2ª Guerra Mundial, havia um grande otimismo a respeito do futuro do comunismo. A economia da URSS crescia a um ritmo significativo e o sistema de economia planificada era uma alternativa viável ao capitalismo. Muitos especialistas ocidentais admitiam que era uma questão de tempo até o socialismo triunfar. O apoio aos movimentos de descolonização, enquanto os EUA cooperavam com o regime do apartheid da África do Sul, colocava a URSS em uma posição moralmente superior. As esquerdas estavam, de fato, “nas nuvens”. O processo de desestalinização, entretanto, começou a mostrar que mesmo que a economia soviética tivesse crescido muito, o estado soviético havia cometido inúmeros crimes contra sua própria população. A URSS começou, então, a receber críticas significativas da própria esquerda. A obra 1984 de George Orwell enquadra-se nesse contexto de crítica ao totalitarismo e ao stalinismo. O fracasso do “grande salto avante”, tentado por Mao, na China e os horrores do regime de Pol-Pot, no Camboja, pareciam demonstrar que o comunismo era incompatível com a democracia e com os direitos humanos. Muitas vertentes da esquerda, então, passaram a “cair das nuvens”, adotando, aos poucos, posturas mais pragmáticas e menos idealistas, participando do jogo democrático e buscando formas de tornar o capitalismo mais justo. A incapacidade das economias planificadas dos países socialistas de acompanhar os avanços tecnológicos do ocidente enfraqueceu ainda mais as teses da esquerda comunista. Os fracassos do sistema totalitário e do planejamento econômico eram tão evidentes que um de seus críticos chegou ao poder na própria URSS. Gorbatchev buscou reformar o sistema soviético, liberalizando as áreas políticas e econômicas. Essas reformas, entretanto, foram tardias e mal implementadas, levando à fragmentação da URSS e ao fim do comunismo como ideologia capaz de competir com o capitalismo. A frase “antes cair das nuvens, que de um terceiro andar”, de Machado de Assis, é uma ótima analogia para as diferentes formas que as esquerdas lidaram com o fim das URSS. Os países do antigo Pacto de Varsóvia, de fato, “caíram do terceiro andar”. O fim do comunismo representou não só o caos político mas também forte regressão econômica, especialmente na Rússia. As esquerdas desses países foram incapazes de se recuperar desse acontecimento. Mesmo a insatisfação popular com o sistema capitalista e com a globalização tem sido manifestada por meio do apoio a partidos conservadores e populistas, como as últimas eleições na Polônia e na Hungria demonstram. Não há mais, de fato, uma esquerda significativa na maioria dos países do antigo bloco soviético. As esquerdas da maior parte do resto do mundo, inclusive do Brasil, adotaram posições mais pragmáticas. Elas “caíram das nuvens”, adotando posturas reformistas e abandonando qualquer idealismo de acabar com o capitalismo, buscando, ao contrário, atenuar seus problemas por meio de políticas que respeitem o livre mercado, das quais o bolsa família é um exemplo. As esquerdas que se adaptaram a tempo foram mais bem sucedidas, enquanto as que permaneceram no idealismo não se recuperaram até hoje. Esses fatos comprovam o valor da frase de Machado de Assis: antes abandonar uma posição idealista e utópica, adotando, então, uma visão pragmática, do que sofrer consequências reais e trágicas, como a crise de transição dos países da antiga URSS, que demoraram para “cair das nuvens”, e a permanência de um regime anacrônico na Coréia do Norte, que, ainda hoje, é a principal causa da miséria de sua população. Na conclusão, retomei a tese implícita ao longo do texto: abandonar uma utopia, mesmo que doa, é melhor que permanecer nela até tarde demais. Também citei um exemplo que não havia sido citado nos paragrafos argumentativos(Coreia do Norte) e, por isso, creio que a ideia de que o candidato não pode apresentar novos argumentos na conclusão não deve ser interpretada de maneira tão rígida.

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