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O estabelecimento do eterno reino de Cristo

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Desafios culturais

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O ESTABELECIMENTO DO ETERNO REINO DE CRISTO

Certa vez um pai surpreendeu-se ao ver por entre a porta entreaberta do quarto do seu filho, a expressão preocupada do menino ao ler a história do seu herói predileto. Enquanto roía as unhas, ele angustiava-se diante das páginas coloridas daquele pequeno livro. Após esquivar-se por alguns instantes daquela cena, o pai retornou ao quarto do garoto e percebeu que agora ele estava com o semblante sereno, despreocupado e esboçava um largo sorriso no rosto. O pai, agora mais curioso ainda, perguntou: – Filho, há poucos instantes eu olhei por entre a porta do seu quarto e vi que você estava angustiado com a história. Mas agora você está sorrindo. O que aconteceu na história?

O menino, sorrindo, respondeu: – É o seguinte, pai. Quando o senhor me viu pela primeira vez, eu estava lendo a parte da história que mostrava a prisão do meu herói e das torturas que ele sofreu. Eu fiquei muito preocupado e tive uma ideia. Fui até ao final da história para ver o que aconteceria com ele. Quando li a última página, percebi que o meu herói saiu da prisão, derrotou o inimigo e saiu vencedor! Por isso estou feliz agora!

Quando lemos algumas páginas da nossa história, percebemos que o mal tem dominado e o reino das trevas tem alcançado a supremacia neste mundo. É bom lembrar que o final da história ainda está por vir.

198 Segredos da Profecia

O nosso Herói sairá vencedor. Afinal, Ele venceu na cruz do Calvário e já nos garantiu o reino! Neste último capítulo relembraremos a nossa maior esperança, quando o sonho de reinarmos com Deus será uma realidade.

IMAGEnS DO REInO

No livro de Daniel se encontram várias imagens que falam do estabelecimento do eterno reino de Cristo. De fato, todos os relatos são construídos em direção ao estabelecimento dele. Nas visões registradas, cada uma alcança seu clímax quando “o Deus do céu” levanta “um reino que não será destruído” (Daniel 2:44), quando o “Filho do Homem” recebe “domínio eterno” (Daniel 7:13 a 14), quando a oposição ao “Príncipe dos príncipes” será quebrada “sem esforço de mãos humanas” (Daniel 8:25) e quando o povo de Deus será liberado para sempre de seus opressores (Daniel 12:1). Vamos agora analisar algumas dessas imagens.

A PEDRA

Em Daniel, capítulo 2, no sonho do rei Nabucodonosor, aprendemos sobre uma estátua com quatro metais. A cabeça de ouro simbolizando o império da Babilônia (Daniel 2:38), o peito e braços de prata representando a Média-Pérsia (Daniel 2:39), o quadril de bronze a Grécia (Daniel 2:39) e as pernas de ferro simbolizando o férreo império de Roma (Daniel 2:40). Depois de contemplar essa assustadora estátua, Daniel disse ao rei que uma pedra, sem auxilio de mãos, foi cortada e lançada contra a estátua, destruindo todos os reinos, e ela cresceu e encheu toda a terra (Daniel 2:44, 45). Essa pedra simboliza o eterno reino de Cristo, que em breve Ele virá estabelecer (Isaías 28:16; Lucas 20:17, 18; Mateus 24:30; Apocalipse 1:7). A Volta de Jesus é a “bendita esperança” (Tito 2:13) que motiva e impulsiona a nossa vida (2 Pedro 3:12).

Quando chegará esse reino eterno? Jesus advertiu: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe...” (Mateus 24:36). No entanto, Daniel foi muito claro em suas palavras: “nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído” (Daniel 2:44). De que reis Daniel está falando? Dos dez reis representados pelos artelhos dos pés da estátua e pelos dez chifres do quarto animal (Daniel 7:24), ou seja,

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as modernas nações da Europa. Logo, será em nossos dias que chegará o eterno reino de Cristo. Na cadeia profética não existe um quinto reino terrestre, mas um reino celestial que será implantado trazendo justiça e paz a todos os seus cidadãos (Isaías 65:17-25; Apocalipse 22:3, 4, 12, 17).

A QUEDA DE bAbIlônIA

A queda da antiga Babilônia é outra imagem, com paralelo em Apocalipse, do estabelecimento do reino de Cristo. Assim como a grande Babilônia “caiu” em 539 a.C. pelo rei persa Ciro, a Babilônia espiritual também cairá e receberá o juízo de Deus nos últimos dias (Apocalipse 16:12). Há na Bíblia dois salmos que contam um pouco dessa história. Um funciona como contraponto do outro.

O povo de Israel esteve unido como doze tribos apenas durante os reinados de Saul, Davi e Salomão. Quando este morre, o reino é dividido, ficando dez tribos ao Norte, lideradas por Jeroboão, com capital em Samaria, e duas tribos ao Sul, lideradas pelo filho de Salomão, Roboão, com capital em Jerusalém.

No ano 722 a.C., as dez tribos do Norte foram escravizadas e destruídas pelo Império Assirio. Isso deveria ter servido de advertência para Judá, o que não aconteceu. Devido aos pecados e recusa em ouvir a voz dos profetas, o cativeiro chegou também para Judá. Em 605 a.C., o reino de Judá foi invadido por Nabucodonosor e os filhos de Deus foram levados para Babilônia. No entanto, Deus não abandonaria Seu povo. Mesmo antes da chegada de Nabucodonosor, a voz profética se levantou e trouxe esperança para os futuros cativos. Deus antecipou o nome do libertador, Ciro (Isaías 45:1;13), a estratégia militar que ele usaria (Isaías 44:27, 28), e mesmo quantos anos eles ficariam escravos em Babilônia (Jeremias 25:11,12). Esses textos nos impressionam pelo amor, cuidado e preocupação de Deus com Israel, a despeito dos pecados deles. Deus não deixou que fossem para o cativeiro sem uma esperança.

O Salmo 137 registra o lamento dos judeus agora cativos em Babilônia. Mas eles se apegavam a uma esperança: o libertador virá. No século 19, várias escavações arqueológicas começaram a revelar algo extraordinário sobre Babilônia. Era uma tremenda cidade, com grandes universidades, protegida com muros enormes, com um sistema de canais de irrigação

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avançados, templos magníficos, e ainda, uma das maravilhas do mundo antigo – os jardins suspensos construídos por Nabucodonosor.

Diante de tantas maravilhas, o que aconteceu ao povo de Deus? Diferente de Daniel e seus amigos, as novas gerações começaram a contemplar a beleza, a felicidade, o progresso e a pensar: Isto sim que é vida; isto que é cidade! Os judeus fundaram em Babilônia, casas de comércio, e foram os precursores dos bancos modernos. O Salmo 137 ficou no passado, apenas como palavras de pais idosos.

Os 70 anos se cumpriram assim como o profeta havia dito. Ciro surge no cenário político e derrota a grande Babilônia, secando o rio Eufrates (Isaías 44:27, 28). Depois de uma batalha cósmica, registrada no capítulo 10 de Daniel, o decreto é assinado por Ciro e o povo de Deus pode voltar para casa, Jerusalém. No entanto, não foi isso que aconteceu. Entre as centenas de famílias judias cativas em Babilônia, apenas alguns milhares voltaram para Jerusalém. Estes que voltaram também compuseram um cântico (Salmo 126), que falava da alegria do retorno e das bênçãos de Deus sobre o povo. Em tempos difíceis eles reconstruíram a cidade e o templo e, no dia da reinauguração, se ouviu mais uma vez a voz profética: “A glória desta última casa será maior do que a da primeira [...] e, neste lugar, darei a paz, diz o Senhor dos Exércitos” (Ageu 2:9). Os sacrifícios voltaram a acontecer, as festas voltaram a ser celebradas e, como a profecia não falha, no tempo aprazado o Messias veio (Gálatas 4:4). Quantas lições podem ser tiradas dessa história hoje?

Ciro é um tipo de Cristo. A Babilônia antiga torna-se símbolo da atual Babilônia mística (Apocalipse 17:5). O secamento do rio Eufrates voltará a acontecer (Apocalipse 16:12) e os reis do Oriente, Cristo e Seus anjos, voltarão para libertar Seu povo do cativeiro espiritual de Babilônia. Temos uma festa a celebrar na Nova Jerusalém, mas a triste notícia é que a história vai se repetir e muitos não desejarão ir para o céu, pois criaram laços, raízes com Babilônia.

Por isso o último convite de Deus: “Retirai-vos dela, povo Meu” (Apocalipse 18:4). Muitos estão contemplando Babilônia e não Jerusalém. Estamos dando muita atenção às coisas do mundo e quase nada às coisas de Deus. Estamos esquecendo o conselho de Cristo:

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“Buscai, pois, em primeiro lugar, o Seu reino e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33).

No silêncio dessa leitura, pergunte ao seu coração: há em minha vida hábitos, práticas, costumes, vícios que desagradam o céu e me roubam a paz? Neste mesmo silencio da alma, abra o coração a Jesus, pois o nosso Salvador é o Deus que nunca rejeita, mesmo o maior dos pecadores. Só Ele pode oferecer o perdão e a paz de que tanto precisamos!

OS 1290 E 1335 DIAS

O livro de Daniel apresenta dois últimos períodos proféticos. “Depois do tempo em que o sacrifício diário for tirado, e posta a abominação desoladora, haverá ainda mil duzentos e noventa dias” (Daniel 12:11) e, “bem-aventurado o que espera e chega até mil trezentos e trinta e cinco dias” (Daniel 12:12).

O evento chave para a compreensão dessa profecia é a retirada do “sacrifício diário” e a implantação da “abominação desoladora”. De que evento a profecia está falando? Alberto Timm elucida: “A expressão “sacrifício diário” é a tradução do termo hebraico tamid, que significa “diário” ou “contínuo”, ao qual foi acrescentada a palavra “sacrifício”, que não se encontra no texto original de Daniel 8:13 e 12:11. Esse termo (tamid) é usado nas Escrituras em relação não apenas com o sacrifício diário do santuário terrestre (ver Êxodo 29:38, 42), mas também com vários outros aspectos da ministração contínua daquele santuário (ver Êxodo 25:30; 27:20; 28:29, 38; 30:8; 1 Crônicas 16:6). No livro de Daniel, o termo se refere, obviamente, ao contínuo ministério sacerdotal de Cristo no santuário / templo celestial (ver Daniel 8:9-14). Já a expressão “transgressão assoladora” ou “abominação desoladora” subentende o amplo sistema de contrafação a esse ministério, construído sobre as teorias anti-bíblicas da imortalidade natural da alma, da mediação dos santos, do confessionário, do sacrifício da missa, etc”.1

Esse “amplo sistema de contrafação” nada mais é do que a pretensão papal de ser um mediador entre Deus e os homens. Na passagem acima,

1 TIMM, Alberto R. “Os 1.290 dias e 1.335 dias de Daniel 12”. Revista Kerygma, v. 1 – Número 1 – 1º Semestre de 2005, p. 3-7.

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é declarado que depois de ser tirado o contínuo, ou “sacrifício costumado, haverá mil e duzentos e noventa dias”. A substituição de Cristo por um sistema falso foi sendo introduzida aos poucos, até que nos anos 503-508 tomou forma mais definida. As prerrogativas e atribuições inerentes a Cristo foram cada vez mais sendo reclamadas pelo bispo de Roma. No ano 508 a igreja medieval reforçou seu prestigio político com a ajuda de Clodoveu, rei dos francos (481-511), e desde então “o papado podia proceder sem obstáculos para assegurar sua influência política”.2

Partindo então do ano 508, e viajando na história 1.290 dias/anos, chegamos a 1798, ano da prisão do papa Pio VI e do fim dos 1260 anos de supremacia papal. Se viajarmos a partir da mesma data 1335 anos, chegaremos ao ano 1843/1844, quando terminam as 2300 tardes e manhãs e Jesus dá início ao Grande Dia da Expiação, que irá terminar somente quando Ele sair do santuário para vir à Terra.

UMA PROMESSA A DAnIEl

O anjo Gabriel ordenou que Daniel selasse o livro “até ao tempo do fim” (Daniel 12:4), quando muitos o estudariam e a ciência, ou seja, o conhecimento deste livro, se multiplicaria. Só a eternidade vai revelar quantas pessoas foram beneficiadas pelas profecias e admoestações do livro de Daniel. Daniel recebeu o selo da aprovação divina e sua vida estava protegida em Deus. Ele havia passado por provas e sofrimentos, mas nunca deixara de confiar em Cristo. Próximo ao fim de sua vida, com cerca de 90 anos de idade, ele ouve as palavras de consolo: “Tu, porém, segue o teu caminho até ao fim; pois descansarás.” Essa é uma referência a sua morte, que não estava muito distante. O anjo lhe garante a vida eterna ao dizer que “ao fim dos dias (período que ele vira tantas vezes em visão), te levantarás para receber a tua herança” (Daniel 12:13). Para os

508 1798 1.290 508 1.335 1843/1844

2 ULLMANN, Walter. A Short History of the Papacy in the Middle Ages. Londres: Routledge, 1972, p. 37. apud DOUKHAN, p. 189.

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salvos, a morte é apenas um breve sono, pois aquele que morre salvo, “ao fim dos dias”, ressuscitará e receberá a herança eterna (João 11:24, 25).

Que grande oportunidade existe hoje para todos nós! Se formos fiéis como foi Daniel, um dia poderemos conhecê-lo, e mais, poderemos ouvir de sua própria boca as experiências e maravilhas que viveu em sua experiência terrestre narradas em seu livro. No entanto, nada se iguala ao privilégio de estarmos face a face com o Senhor Jesus e ouvirmos de seus lábios: “Vinde, benditos de Meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mateus 25:34).

Gostaria você de ser um cidadão desse reino eterno?

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