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GERAL
SÁBADO E DOMINGO 12 e 13 de julho de 2014
Gazeta do Sul
JEITO DE SER
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Pessoas que exigem demais de si mesmas – a chamada síndrome da perfeição – podem sofrer com frequente frustração
luisa@gazetadosul.com
Ser o melhor aluno da classe, o melhor funcionário da empresa ou manter um relacionamento sem briga alguma. A busca desenfreada por ser, fazer e dar o melhor possível em tudo parece ter, cada vez mais, um único fim: a frustração. Basta parar para pensar. Você realmente conhece alguém perfeito? Sem nenhum defeito? Que só tenha acertos na vida? Segundo a coaching Jaqueline Weigel, é impossível. Isso porque, lembra a santa-cruzense, o próprio dicionário afirma que a perfeição é “um atributo de Deus”. “Não é para nós, humanos imperfeitos.” Essa busca, no entanto, tira o sono de tantas pessoas que já se tornou conhecida por “síndrome da perfeição”, o que, seria uma grande defeito e não uma virtude, como já se pensou. “A vida, cada vez mais complexa, nos fez acreditar que poderíamos nos tornar super pessoas, capazes de buscar 100% em todas as ocasiões e jornadas”, diz. “Parece fantasioso, mas é com essa falsa verdade que tomamos decisões pessoais e profissionais e nos colocamos em ciclos de extremo sofrimento.”
■ ■ Jaqueline:
“atributo de Deus”
A coaching – que possui especialização em Gestão de Pessoas e Gestão por Competências pela Fundação Getúlio Vargas, é formada em Empreendedorismo pelo Empretec e atua no desenvolvimento estratégico de pessoas – salienta que a mania pode es-
Especialista alerta que as pessoas não precisam seguir regras para serem socialmente aceitas tar diretamente relacionada à insegurança, baixa autoestima, dúvida de capacidade real e desejo imenso de ser aceito, aprovado e reconhecido pelos outros. “A necessidade de ser perfeito emerge do desejo de dar certo como pessoa e como profissional. De saber
aque tem valor, relevância e capacidade”, afirma. Mas Jaqueline destaca que as epessoas não precisam seguir reigras para serem socialmente aceitas – nem para mostrarem, de fato, seus valores, relevâncias e re capacidades. “Padrões sempre oforam tentativas sociais de coloas car as pessoas dentro de caixas ipré-determinadas. Hoje, precio samos nos libertar disso mais do que nunca. Não existe forma dee opadronizar seres humanos. Soamos unidades diferentes, com cairacterísticas comuns, mas com similaridades.” Assim, o grande desafio, de iacordo com a consultora, é se lio” bertar dos conceitos de “certo” o e “errado” – até porque eles são erelativos – e de padrões considerados ideais. “A necessidade de o ser perfeito e de ser reconhecido ié algo negativo. Mostra imaturins dade, insegurança e talvez alguns nproblemas que deveriam ser entendidos com maior profundidade numa terapia ou num processo de coaching”, alerta. E, por isso, é preciso estar atento aos limites. “Quando minha necessidade é um desejo de validar minha percepção, tudo bem. Quando não é isso, vira dependência e nos leva a uma zona de sofrimento que ativa emoções negativas e afeta nossa performance como pessoa
O mundo colorido das redes sociais Jaqueline lamenta que um dos fatores da contemporaneidade que potencializam a busca pela perfeição sejam as redes sociais, onde um mundo perfeito – recheado de momentos felizes e pessoas boas – é colocado na vitrine. “Se permitirmos, as redes sociais ativam nosso processo ansioso. Elas usam as mesmas estratégias que o marketing, nos seduzindo com vidas falsamente coloridas”, explica. “O verdadeiro colorido da vida está na imperfeição. Ser feliz não é um estado de alegria temporário, é sentir-se bem, em paz e satisfeito com a jornada na maior parte do tempo.” E se engana quem pensa que tais sentimentos,
sobressaltados com o uso do Facebook, do Instagram ou do Twitter, sejam exclusivos de adolescentes ou de adultos que ainda iniciam suas carreiras profissionais, engatam o primeiro relacionamento sério e afins. Jaqueline frisa que não existe alguma faixa etária ou sexo mais suscetível a desenvolver a “síndrome da perfeição”. “É claro que a maturidade vai criando consciência. Mulheres têm essa tendência mais aguçada que os homens, porque são estimuladas a isso desde crianças”, reitera. “Homens desenvolvem muito conflito entre o certo e o errado e no fundo também mostram muito receio em errar.”
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e como profissional.” A santa-cruzense ainda diz que, sim, o desejo de ser percebido, de ser importante para alguém ou para alguma história, é algo natural no ser humano. “Essa é a nossa natureza. Ter a opinião do outro para comparar com minhas percepções me ajuda a crescer. Mas depender dis-
so chega a ser patológico em algumas pessoas”, frisa. Portanto, nada adianta o elogio se você tem dúvidas. “O verdadeiro reconhecimento vem de dentro, de você, e ele surge quando sabemos que fizemos o melhor que poderíamos ter feito em cada situação, tanto na vida profissional quanto na pessoal.”
Perfeccionista assumida diz que isso, às vezes, atrapalha Aline Schultz é uma perfeccionista assumida. “Nunca fui o tipo de pessoa que ficava feliz com a média na escola ou na faculdade. Se eu tirar menos do que 8,5 eu fico muito chateada”, conta a servidora pública. “Eu cobro muito de mim mesma, a ponto de ficar acordada as madrugadas inteiras, fazendo tudo com o máximo de antecedência e ainda assim ficar com o coração na mão antes de receber as notas.” No trabalho, a situação se repete. A jovem, que é natural e mora em Candelária, faz horas extras para entregar o serviço da melhor maneira possível. Aline conta que o hábito surgiu ainda na infância e que, com o passar dos anos, aumentou. No último domingo a estudante, que cursa Produção e Mídia Audiovisual na Unisc, passou por mais uma situação que prova o quanto ela busca dar o seu melhor. “Saí da universidade à 1h30 da madrugada. Tinha um trabalho para entregar na terça-feira e, por ser em grupo, acabou atrasando um pouco. Para que eu pudesse entregar um trabalho 100% benfeito, passei o fim de semana inteiro dentro da universidade.”
Reprodução Facebook
Luísa Ziemann
Divulgação/GS
“O verdadeiro reconhecimento vem de dentro”
■ ■ Aline:
“cobro de mim mesma”
É claro que ela reconhece que isso, muitas vezes, atrapalha. “Essa cobrança excessiva gera sofrimento. Noto que cobro a perfeição dos outros também, o que é horrível, pois crio expectativas em relação a eles. Cada um tem uma forma de agir, de estudar, de trabalhar, mas eu sempre espero mais.” Além disso, em relacionamentos afetivos, a síndrome também é um empecilho. “Eu detesto meio termo. Ou faço o melhor que posso ou nem começo. Isso também acaba muitas vezes em sofrimento, pois me entrego de corpo e alma e muitas vezes a pessoa não faz o mesmo.” ■