Festival ES de Dança 2012

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Festival ES de Dança junho de 2012

O Festival ES de Dança em sua segunda edição demonstra a força desta linguagem e qualidade de sua produção em nosso Estado. A participação de grupos consolidados de outros Estados estimula o intercâmbio e a troca de experiências tão necessárias para a evolução desta prática artística milenar. As mesas de debates e os encontros entre profissionais da área incentivam a reflexão sobre o presente e o futuro da dança em nosso Estado e no Brasil. Companhias renomadas compuseram a programação ao lado de companhias locais e de coreógrafos independentes durante cinco dias intensos, nos quais a dança tornou-se o centro das atenções de um público variado e ativamente presente. Neste ano demos relevo à prática da dança nas ruas, praças e espaços públicos da capital e de diversos bairros da Grande Vitória. Grupos de dança de rua e espetáculos para espaços abertos ingressaram no cotidiano de parte significativa da população com sua capacidade de mobilização e de celebração da vida e da arte. É a dança em toda a sua diversidade encantando as pessoas e abrindo novos caminhos para se inserir no imaginário e no horizonte de fruição de um público cada vez mais numeroso. A coreógrafa alemã Pina Bausch, uma das criadoras mais importantes da dança no século XX, afirmou certa vez: “Se cada um for ao fundo de si mesmo, perceberá que há uma linguagem comum a todos, que todos falamos e através da qual nos entendemos e nos identificamos.” O Festival ES de Dança tem dado então a sua significativa contribuição para o aprimoramento e a ampliação do acesso a esta linguagem tão próxima de todos nós. Preparemo-nos agora para a terceira edição do Festival ES de Dança! Maurício José Silva Secretário de Estado da Cultura


Conexões, fe s t i va lCia. e s Enki de dança de Dança Primitiva Contemporânea

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sumário

Apresentação Mais um passo rumo ao futuro, 4 Homenagem A plateia é o tempo, 8 Dança de Rua As danças de rua ganham destaque, 13 Enquanto o ônibus não vem, 16 Cidadania pela dança, 18 Espetáculos Theatro Carlos Gomes Diversidade e emoção nos movimentos, 22 Guia de Idéias Correlatas, 26 Quinteto, 27 Insone, 28 Nega Lilu, 29 Inumeráveis Estados do Ser, 30 Via Sacra, 31 Conexões, 32 Ballet 101, 33 A Distância entre uma Esquina e outra, 34 Traduzir-se, 35 As canções que você dançou para mim, 36 Coreógrafos Independentes Liberdade para criar, 38 Mesas e Relatos Espaço aberto para a reflexão, 46 Perfil Marcelinho Back Spin Os passos para a afirmação, 56 Espetáculo Infantil Uma história divertida da dança, 58 Primeiro Ato Primeiro Ato e sua colcha de detalhes, 60 Artigos O ser contemporâneo e a dança, 64 Um ótimo exemplo de política pública para a dança, 66 Programação, 68 Ficha Técnica, 70


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Markus Konkรก

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a p r e se nt a ç ã o

mais um passo rumo ao futuro Maior e mais plural, a segunda edição do Festival ES de Dança consolida a busca por uma programação inovadora norteada pela democratização do acesso às danças

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eria injusto abrir esse texto de apresentação da segunda edição do Festival ES de Dança com pormenores que desviassem o foco das questões centrais. A principal dessas é fácil apontar: a afirmação de um evento de porte nacional que já integra o calendário anual do Estado e é um passo importante na continuidade das políticas públicas culturais. Afirmação esta fundamentada na busca por uma programação plural, pautada tanto na diversificação de linguagens, sem perder o foco da qualidade, quanto na expansão dos limites geográficos, sem relegar a segundo plano os principais palcos da cultura estadual. As manhãs, tardes e noites dos dias 20 a 24 de junho de 2012 foram preenchidas por atividades intensas, promovidas em espaços ricos em multiplicidade, abrangendo praças de bairros na periferia da Grande Vitória, parques, terminais de ônibus, a praia, uma instituição de internação de adolescentes, além do Teatro Rubem Braga, em Cachoeiro de Itapemirim, e dos teatros do Sesi e Carlos Gomes, em Vitória.

Foram nada menos que 33 apresentações promovidas nesses espaços, por 20 companhias convidadas, além das mesas-redondas e relatos das experiências de criação que reuniram no auditório do Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio del Santo (MAES) bailarinos e coreógrafos em uma valiosa troca de ideias e oxigenação da produção. “Colocar um artista diante de outros artistas para discutir e dialogar sobre processos criativos é pouco comum e muito valioso”, comentou Paulo Caldas, coreógrafo, professor da Universidade Federal do Ceará e curador do festival Dança em Foco. O diálogo estreito com a linguagem das ruas foi outra questão central dessa edição. Seja ao ampliar a participação dos grupos de danças de rua, ao promover flashmobs ou ao dar voz a bailarinos como o paulista Marcelinho Back Spin, da Back Spin Crew, em uma mesa de debate, o festival deu mais um passo firme rumo à equalização das diferenças. “A rua é um dos temas mais importantes para se debater. É onde a dança começou, como celebração

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Traduzir-se, Cia. de Dança Mitzi Marzzuti

da própria vida e do cotidiano”, afirmou a convidada Cristina Castro, coreógrafa e bailarina, coordenadora do Núcleo Vila Dança do Teatro Vila Velha (BA), e diretora do Festival Internacional de Dança de Salvador – Viva Dança. Para Marcelo Gomes, o Marcelinho Hip Hop, coordenador da Central Única das Favelas (CUFA-ES), uma das parceiras do festival, esse é um momento histórico para o movimento hip hop e as danças de rua. “Viemos para ficar, para aprender com os grandes profissionais e também para ensinar. Finalmente chegamos ao ponto de ter a nossa visibilidade. Tem coisas que a gente planta para outros colherem”, afirmou. A Secretaria de Estado da Cultura (Secult) reafirmou o caminho da pluralidade como referência. “Essa é a função do festival, buscar o diálogo, a diversidade que nos enriquece. Isso já está acontecendo”, disse o subsecretário Erlon José Paschoal em um dos debates no MAES. O Festival ES de Dança 2012 também buscou a integração com ações estruturais de combate à violência e à marginalização ao realizar apresentações nos territórios do Programa Estado Presente, do Governo do Espírito Santo. Foram oito apresentações do circuito Cultura Presente, em bairros dos municípios de Viana, Vila Velha, Serra, Vitória e Cariacica. A rua também foi palco para o Grupo de Dança

Primeiro Ato, que de volta ao Festival realizou seis apresentações do espetáculo Pequenos Atos de Rua, criado como celebração aos espaços abertos e ao contato direto com o público. Ω Da rua ao palco A seção Coreógrafos Independentes apresentou, mais uma vez, obras curtas de criadores independentes em atividade no Espírito Santo. Foram sete coreografias selecionadas por meio de edital e exibidas em duas noites no Teatro do Sesi, em Jardim da Penha. Quem abriu as portas do nosso palco mais tradicional, o Theatro Carlos Gomes, no Centro da Capital, para os espetáculos, foi o ator e bailarino Markus Konká. Em sua performance poética corporal, Konká guiou o público da Praça Costa Pereira até o foyer do teatro. A noite de abertura também contou com a exibição de um vídeo produzido especialmente para a homenagem ao bailarino, diretor e coreógrafo Magno Godoy. Nas cinco noites do Festival ES de Dança 2012, os espetáculos apresentados consolidaram o espaço de intercâmbio entre o público e as companhias locais com as pesquisas e propostas estéticas de companhias de relevância nacional, como a Cena 11, de Santa Catarina, que pelo segundo ano abriu o festival; a São Paulo Cia.


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de Dança; a Staccato | Paulo Caldas; e a Focus Cia. de Dança, ambas do Rio de Janeiro. “Eu não tinha, até agora, notícias de festivais e companhias do Espírito Santo. Era uma ignorância de minha parte, mas creio que isso é sintomático”, afirmou Paulo Caldas, da Staccato, criada em 1993, e que retornou ao Estado depois de sete anos. A afirmação do Festival no calendário anual, aliada a outras políticas públicas de cultura para a dança, como os editais do Funcultura (Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo) e as ações e prêmios promovidos pela Funarte, parceira do Festival, também estimulam a pesquisa e a produção permanente das companhias locais. Coube ao Festival criar os espaços de exibição para essas produções. Nessa edição foram seis espetáculos de cias. capixabas, com propostas trafegando, por exemplo, entre a pesquisa contemporânea das matrizes afrobrasileiras, como é o caso da Cia. Enki de Dança Primitiva Contemporânea, o diálogo entre dança, teatro

e vídeo proposto pela Cia. Teatro Urgente, e o vigor físico nas partituras e gestos da Homem Cia. de Dança. As ações do Festival ES de Dança continuaram a se desdobrar após o encerramento, no dia 24 de junho, quando a Focus Cia. de Dança apresentou As Canções que você Dançou pra Mim, com coreografias construídas a partir da trilha sonora formada exclusivamente por músicas de Roberto Carlos. A etapa itinerante do festival, com oficinas e apresentações, percorreu cinco cidades do interior. Em Guaçuí, nos meses de julho e agosto, a oficina de dança de rua realizada em parceria com o grupo Bioshock Crew reuniu jovens bailarinos no Teatro Municipal Fernando Torres e no Ponto de Cultura Guaçuí em Cena. As outras etapas ocorrem em Castelo, Itaguaçu, Afonso Cláudio e Montanha. Como forma de perpetuar as ações, espetáculos e conversas realizadas por ocasião do Festival ES de Dança, a Revista do Festival chega também a sua segunda edição. Boa leitura!

Ω Números do festival 2012

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espetáculos

Público

20

1.190

4.790

100

Companhias convidadas

Theatro Carlos Gomes

Espetáculos de rua

Mesas e relatos no MAES

08

900

850

6.830

Coreógrafos independentes

Teatro do Sesi

Flashmobs

público total

Ω Investimento em dança 2011

R$

2012

140.000,00

Edital de Residência em Artes Cênicas

R$

84.000,00

Edital de Circulação de Espetáculos de Dança

R$

200.000,00

Festival ES de Dança

R$

424.000,00

investimento total

R$

210.000,00

Edital de Residência em Artes Cênicas

R$

135.000,00

Edital de Circulação de Espetáculos de Dança

R$

379.000,00

Festival ES de Dança

R$

125.000,00

Festival ES de Dança Itinerante (convênio com a FUNARTE)

R$

849.000,00

investimento total


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FOTO:

Carla Falce

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A plateia é o tempo Festival homenageia o bailarino e coreógrafo Magno Godoy, fundador da Cia. Neo-Iaô, referência nacional da dança contemporânea produzida no Espírito Santo

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oi raspando a cabeça com máquina zero que Magno Godoy se converteu à dança contemporânea. E como um “novo iniciado” da Cia. Neo-Iaô de Dança, ele escreveu um capítulo importante da história da dança brasileira criando, a partir de elementos dissonantes, uma linguagem única para a dança. Esse bailarino, coreógrafo, artista plástico e compositor capixaba, precursor da dança contemporânea no Espírito Santo, falecido em 2008 após uma apresentação de Manguezal, na Escola de Teatro, Música e Dança Fafi, em Vitória, é o homenageado do Festival Es de Dança 2012. Nascido em Marataízes, na região litorânea do sul do Estado, em 1952, Carlos Magno Ribeiro de Godoy se consagrou primeiro como ator e criador teatral nas Mostras de Teatro da Ufes, como integrante do Grupo Opus Tupiniquim, com destaque para o espetáculo

El Gran Nanica Circo (1982), e do Grupo Terra em Mamãe Desce ao Inferno (1982), este com texto de Amylton de Almeida e direção de Renato Saudino. A partir de 1985 passou a desenvolver uma pesquisa em dança e teatro que culminou com uma viagem a São Paulo, juntamente com o também bailarino Marcelo Ferreira, para assistir ao mestre do butô Kazuo Ohno em sua primeira visita ao Brasil, em 1986. Em uma época na qual o Espírito Santo não tinha nenhuma tradição em dança contemporânea, onde apenas as companhias de balé se destacavam, o contato com Ohno e o butô indicou a certeza de que estavam trilhando o caminho certo. A identificação com o mestre japonês, nas palavras de Ferreira, foi “catártica”. Apesar da influência do butô, a Cia. Neo-Iaô, que estreou em 1986 e continou na ativa até o ano 2000, extrapolou


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os limites do universo da dança em sua trajetória. “Embora o butô fosse uma referência, o que a Neo-Iaô fazia não era especificamente butô, mas uma dança que continha o butô e também o candomblé, um grande referencial para nossa estética”, conta Marcelo Ferreira. Stultifera Navis, apresentada na Oficina Internacional de Dança Contemporânea, no Teatro Castro Alves em Salvador (BA), em 1986, projetou a companhia para o Brasil, causando certo alvoroço entre crítica e público. Além das referências estéticas pouco convencionais, aquela geração trazia consigo marcas da ditadura militar e vivia sob os reflexos dos anos de chumbo que teimavam em não terminar. “Os movimentos em retrocesso e o figurino longo na frente e curto na parte de trás eram metáforas para os retrocessos do nosso país de terceiro mundo”, lembra o bailarino, parceiro de Magno Godoy ao longo da vida. A Neo-Iaô, com sua dança, foi além das fronteiras do Espírito Santo, apresentando temporadas em espaços importantes como o Teatro Nacional, em Brasília, o Teatro Cacilda Becker, no Rio de Janeiro, o Palácio das Artes, em Belo Horizonte, o Teatro Guaíra, em Curitiba, e o Centro Cultural San Martin, em Buenos Aires, na Argentina. Obras como Stultifera Navis – A Nau dos Loucos (1986), Mephisto (1987) e Casulo (1994) marcaram a dança contemporânea produzida no Estado. Minimal Drop (1996), por exemplo, foi apresentada no V Panorama da Dança Contemporânea. A importância da Cia. Neo-Iaô também fica evidente pelos talentos que revelou. Além de Marcelo Ferreira, com sua Cia. Teatro Urgente, que concilia a estreia de novas obras com constantes releituras da obra imortal de Magno

Godoy, o bailarino Paulo Fernandes, da Cia. Enki de Dança Primitiva Contemporânea, também começou a dançar com Godoy e mantém viva a pesquisa de referências complexas iniciada pelo mestre, nesse caso provocando o diálogo do butô com linguagens da matriz afrobrasileira. “A dedicação obsessiva deste mestre ultrapassava o seu tempo, com sua proposta de criar um candomblé futurista sem perder os aspectos culturais da nossa brasilidade”, diz Fernandes. Ω Novos rumos Inquieto, Magno Godoy experimentou novas linguagens, como a vídeodança, nas obras Via Sacra (1988), Criação do homem (1990), Último Jesuíta (1998) e Quitungo (2000). Também viveu períodos de reclusão em Itaúnas, vila no extremo norte do Espírito Santo, onde instalou uma sala de dança e ateliê. Em 2001 houve a transição da Cia. Neo-Iaô para a Cia. Magno Godoy de Dança e Teatro, cujo principal trabalho é o espetáculo Cabaret Affair (2003), citado na Cartografia Rumos Itaú Cultural - Dança 2006/2007 como um “giro por referências teatrais”. O argumento do espetáculo: um cabaré mantido por um político corrupto de um certo país em desenvolvimento. Certa vez, de Itaúnas, Magno Godoy enviou uma carta a Marcelo Ferreira. Entre os apontamentos, havia ali uma espécie de mantra, uma mensagem tranquilizadora para ele próprio e os artistas companheiros de vanguarda. Diziam aquelas linhas: “Nossa plateia é o tempo... e está de casa cheia!”.

Na página oposta, ensaio fotográfio de 1987 para o espetáculo Sodoma, projeto que não chegou a ser montado. Em sentido horário, a partir do alto à esquerda, Magno Godoy, Paulo Fernandes, Marcelo Ferreira e Carlos Délio. Acima, cena do espetáculo Cangaço (2001) em temporada no Theatro Carlos Gomes, com Marcelo Ferreira, Magno Godoy e Tadeu Schneider.

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Ω Realizações Cia Neo-Iaô de Dança

Latino-Americano de Arte e Cultura, no Teatro Nacional, Brasília/DF Concerto, temporada na Capela Santa Luzia, Vitória/ES e

1986

apresentação no Congresso da SBPC, Vitória/ES

Admirando Kazuo Ohno, temporada no Theatro Carlos Gomes,

Fatamorgana, apresentação no Teatro Municipal de São

Vitória/ES

Paulo/SP

Stultifera Navis, temporada no Theatro Carlos Gomes, Vitória/ES

Criação do Homem (vídeodança), gravado nas Dunas de Itaúnas, Conceição da Barra/ES

1987 Stultifera Navis, apresentação na Oficina Internacional de Dança

1991

Contemporânea, no Teatro Castro Alves, Salvador/BA e temporada

Concerto, apresentação no Festival Vitória Brasil de Dança, no

no Teatro Nacional, Brasília/DF

Theatro Carlos Gomes, Vitória/ES

Via Láctea, temporada no Centro Cultural San Martin, Buenos Aires (ARG) e temporada no Teatro Dulcina, Rio de Janeiro/RJ

1992

Mephisto, apresentação na Mostra Capixaba de Dança, no

Concerto, apresentação no Horto Municipal de Maruípe, Vitória/

Teatro José Carlos de Oliveira, Vitória/ES

ES e apresentação na Arena de Camburi, Vitória/ES

Stultifera Navis, Caatinga, Heliogábalus & Eldorado, temporada

Uroborus, apresentação no Festival Vitória Brasil de Dança, no

no Teatro Nacional, Brasília/DF

Theatro Carlos Gomes, Vitória/ES

1988

1993

Via Sacra (vídeodança), gravado nas Ruínas de Tiwanaku (BOL),

Hibernatus, apresentação no Festival Vitória Brasil de Dança,

Igreja do Pilar, Ouro Preto/MG e Catedral de Brasília/DF

no Teatro José Carlos de Oliveira, Vitória/ES Concerto, apresentação na Oficina Internacional de Dança

1989

Contemporânea, no Teatro Castro Alves, Salvador/BA,

Concerto, apresentação no Festival Nacional de Dança, no

temporada no Teatro Guaíra, Curitiba/PR e apresentação na

Teatro Municipal de Presidente Prudente/SP

Mostra de Butoh, no Centro Cultural São Paulo, São Paulo/SP, e no Teatro Nacional, Brasília/DF

1990 Iniciação, temporada no Palácio das Artes, Belo Horizonte/MG,

1994

temporada no Teatro do Sesc Pompéia, São Paulo/SP, temporada

Casulo, apresentação no Festival Vitória Brasil de Dança, no

no Teatro Villa Lobos, Rio de Janeiro/RJ e apresentação no Festival

Theatro Carlos Gomes, Vitória/ES


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Espetáculo Cangaço (2001) em temporada no Theatro Carlos Gomes. Marcelo Ferreira é arrastado por Magno Godoy e Tadeu Schneider.

1995

2000

Seringal, temporada no Teatro José Carlos de Oliveira, Vitória/

Quitungo (vídeodança), gravado em Conceição da Barra/ES e

ES, temporada no Theatro Carlos Gomes, Vitória/ES e apre-

no Teatro José Carlos de Oliveira e exibido no Festival de Teatro

sentação no Fórum Latino Americano de Dança, na Casa de

de São Mateus/ES e no IX Festival Vitória Cine Vídeo

Cultura Laura Alvin, Rio de Janeiro/RJ

Voodoo, apresentação no VIII Festival Vitória-Brasil de Dança, no Teatro do Sesi, Vitória/ES

1996

Concerto, apresentação na Arena de Camburi, Vitória/ES

Minimal Drop, apresentação no V Festival Vitória Brasil de Dança, no Teatro José Carlos de Oliveira, Vitória/ES, temporada no

Cia. Magno Godoy de Dança e Teatro

Theatro Carlos Gomes, Vitória/ES, apresentação no Panorama de Dança, no Espaço Sérgio Porto, Rio de Janeiro/RJ e apresentação

2001

na abertura do Festival de Teatro de São Mateus/ES

Cangaço, temporada no Teatro José Carlos de Oliveira, Vitória/ ES, temporada no Teatro Edith Bulhões, Vitória/ES e temporada

1997

no Theatro Carlos Gomes, Vitória/ES

Floresta da Amazônia, participação Especial em concerto da

O Banquete, temporada no Teatro Edith Bulhões, Vitória/ES e

Orquestra Filarmônica do Espírito Santo, no Ginásio do Clube

temporada no Teatro José Carlos de Oliveira, Vitória/ES

Álvares Cabral, Vitória/ES

Concerto, apresentação na Arena de Camburi, Vitória/ES

Works, apresentação no VII Festival Vitória Brasil de Dança,

Banquete, temporada no Teatro Cacilda Becker, Rio de Janeiro/RJ

no Theatro Carlos Gomes, Vitória/ES 2002 1998

Voodoo e Hibernatus, apresentação na Oficina Cultural Oswaldo

Voodoo, Festival Dança-Brasil, no Centro Cultural Banco do

de Andrade, São Paulo/SP

Brasil, Rio de Janeiro/RJ e temporada no Teatro José Carlos de

Manguezal, apresentação no Teatro José Carlos de Oliveira, Vitória/ES

Oliveira, Vitória/ES

Voodoo, apresentação no Teatro José Carlos de Oliveira, Vitória/ES

Último Jesuíta (vídeodança), gravado nas Cataratas do Iguaçu,

Concerto, apresentação na Arena de Camburi, Vitória/ES

Redución de Jesus (PAR) e Igreja dos Reis Magos, Nova Almeida, Serra/ES. Prêmio Especial do Júri no VII Festival Vitória Cine Vídeo

2003 Cabaret Affair, estreia no Theatro Carlos Gomes, Vitória/ES e

1999

apresentação no IX Festival Vitória Brasil de Dança, no Theatro

Manguezal, apresentação na Semana do Meio Ambiente, Vitória/ES

Carlos Gomes, Vitória/ES


Flashmob Nossa Senhora da Penha fe s t i va l na e s Avenida de danรงa

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D a nças de rua

As danças de rua ganham destaque Em sua segunda edição, o Festival promove flashmobs pela cidade, amplia o número de espetáculos em espaços abertos e reflete sobre o papel das danças de rua na contemporaneidade

S

ão 11h na Avenida Nossa Senhora da Penha e um sol escaldante se ergue sobre um dos pontos mais movimentados de Vitória, a famosa reta de onde se avista, no alto do morro do outro lado da baía, o Convento. No asfalto quente onde caminham apressados funcionários e patrões, autônomos e desempregados, todos invariavelmente apressados, uma turma de garotos surge embalada por uma batida que logo rouba a atenção. São mais de 30 dançarinos na coreografia encenada como flashmob — termo que descreve a mobilização para uma performance rápida em um espaço público — pela coreógrafa Yuriê Perazzini. De todas as idades e origens diversificadas, os meninos e meninas se destacam da multidão de anônimos e dançam com a despretensão do momento, como se o corpo saudasse o asfalto e os prédios da avenida. Nas caixas de som, uma mistura de funk, soul, rap, house e dance music ecoa por alguns minutos, cortando a rotina dos transeuntes ao meio em um convite à descontração pela dança. Rapidamente a agitação se desfaz e resta apenas o barulho do trânsito intenso da capital.

Assim como a Reta da Penha, vários pontos de Vitória receberam flashmobs durante o Festival ES de Dança 2012. No mesmo dia, em frente à Assembléia Legislativa, os dançarinos se misturavam a quem esperava no ponto de ônibus até ouvirem os primeiros acordes da trilha sonora, transformando tudo em dança. O vendedor de picolés Tiago Oliveira chegou mais perto. “Não consegui vender muito, mas valeu a pena ver essa arte que não acontece todo dia”, opinou. Na Praça Costa Pereira, Centro da capital, enquanto esperava a carona chegar, a vendedora Érica do Nascimento, 23 anos, se admirava com as acrobacias que os meninos praticavam ao som de Check it out, dos Beastie Boys. “É dança de rua, né? A gente vê na Internet que tem lá nos Estados Unidos, mas aqui é a primeira vez que eu vejo”. De origem norte-americana, a street dance reúne uma série de ritmos da música negra nascida nos guetos das grandes cidades. Como uma forma de expressão autêntica do espaço urbano, o que esses estilos de dança têm de mais forte é a potência da interação com

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o público e a capacidade de envolver crianças, jovens e adultos nos movimentos. “A dança de rua é para todo mundo, não importa se você veio do funk, do break ou do balé. Tudo se mistura e vira algo instintivo, algo que contagia”, comenta Yuriê. Na mesma semana, o público ainda teria a oportunidade de ver e interagir com a dança em outros espaços públicos da Grande Vitória. Em parceria com a Central Única das Favelas no Espírito Santo (CUFA-ES), o Festival ES de Dança 2012 conseguiu aproximar ainda mais a cultura das ruas de outras formas de dança. Para o coordenador geral da CUFA-ES, Marcelo Gomes, o Marcelinho Hip Hop, o festival deu um importante passo rumo ao intercâmbio cultural entre a periferia e o centro. “Pra gente foi muito importante trazer esses jovens das comunidades para se apresentarem e serem reconhecidos em outro espaço. Dessa forma, os movimentos urbanos vão mostrando que estão organizados para entrar em todo o tipo de mercado”, defende. Ω Da marginalidade à linguagem artística 14

As danças de rua, em grande parte calcadas na cultura hip hop, têm um importante papel nas comunidades de maior vulnerabilidade social da Grande Vitória, onde aparece como oportunidade propondo a participação dos jovens, principais afetados pela violência. Os projetos sociais desenvolvidos pelas prefeituras em conjunto com o Governo do Estado e a CUFA-ES são celeiros de novos talentos da dança. São jovens que ganham o mundo com arte e contribuem para equilibrar a batalha contra a desigualdade social e a criminalidade. Segundo Marcelinho, são incontáveis os dançarinos que estiveram frente a frente com a realidade do crime e escaparam graças à presença de atividades culturais que os valorizaram como cidadãos. “O hip hop é muito forte nas comunidades porque é a linguagem deles. Então, quando você apresenta um b-boy que faz sucesso, você agrega novas referências aos jovens, que passam a se projetar na história de sucesso desses caras”, afirma o coordenador geral da CUFA-ES. Tarzan, b-boy ídolo no bairro Nova Rosa da Penha, em Cariacica, confessa que perdeu três anos de prática do break por ter se envolvido com o tráfico. “O break foi muito importante pra eu conseguir largar aquela vida. Eu acho que a dança, de todos os tipos, pode ser um tipo de resgate. Pra mim foi”, conta. Assim como ele, muitos outros meninos e meninas escapam de um destino cruel ao enxergar novas possibilidades de vida nas danças de rua. Para Marcelinho, no entanto, ainda há muito a ser feito. “É preciso levar esses jovens para se apresentarem também no teatro, assim como é preciso levar o balé para a comunidade, porque só assim todos vão ter igualdade de oportunidades”, conclui.

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d a nรงas de rua

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Enquanto o ônibus não veM Terminais de ônibus da Grande Vitória se transformam em palcos para a cultura hip hop e as pessoas correm para acompanhar os espetáculos sem perder a hora


d a nças de rua

U

ma fila espetacular se forma em uma das plataformas do Terminal de Campo Grande. Faltam ainda quinze minutos para que o 509 encoste, recolha os passageiros, deixe Cariacica e cruze de ponta a ponta a capital Vitória até que, finalmente, estacione no Terminal de Carapina, na Serra. Mas hoje o tempo morto da espera é suficiente para que uma movimentação incomum atraia a atenção de todos que transitam ansiosos pelo local. Em plena hora do almoço, o grupo Bioshock Crew encanta a todos com sua dança de rua repleta de piruetas e passos rápidos. A empregada doméstica Marilza Moreira, 40, se admira com a habilidade do b-boy Tarzan, que rodopia com o corpo suspenso no ar e a cabeça no chão. “Acho tão bonito! É uma terapia pro corpo, uma forma das crianças ocuparem a mente”, diz. Dezenas de pessoas assistem ao espetáculo de dança que acontece ali, no intervalo do trabalho, no retorno da escola ou no caminho para casa. O break, o grafite e o DJ estão lá, elementos que traduzem a cultura hip hop para o povo e que revela a dança como uma arte muito mais próxima do que se imagina. Desde a primeira edição, em 2011, o Festival ES de Dança se empenha em apresentar a dança como um elemento presente no cotidiano das pessoas, aproximando bailarinos de admiradores e proporcionando o acesso universal dos mais variados públicos a todas as apresentações. Em 2012, a segunda edição do Festival promovido pela Secretaria de Estado da Cultura levou esse propósito ao extremo com a presença dos grupos de dança em alguns terminais rodoviários urbanos do Sistema Transcol espalhados em toda a Região Metropolitana da Grande Vitória. Além de Campo Grande, os grupos Vitória Break e Bioshock Crew, dois dos mais representativos grupos de dança de rua do Estado, se apresentaram também nos terminais de Laranjeiras, na Serra, e de Itaparica, em Vila Velha, sempre em horários de pico, quando os espectadores foram pegos de surpresa a caminho de atividades tão rotineiras quanto cansativas. “A gente sempre dança em locais abertos, mas dessa vez foi diferente porque o festival oferece estrutura, divulgação e nos abriu muitas portas. Além disso, o público nem esperava e os grupos já começavam dançando e impressionando geral”, conta Tarzan, b-boy que há quase dez anos integra o corpo de dança do grupo Bioshock Crew.

t e rm in a is de ô n ib u s

Ω História Há alguns anos, em todo segundo sábado do mês, o Terminal de Laranjeiras é palco de um grande evento de dança de rua. B-boys e b-girls de todo o Estado — e às vezes também convidados de fora do Espírito Santo — se reúnem na batalha de dança que inclui várias modalidades, como o breaking, o popping e o looking, derivações formuladas na cultura hip hop. Foi o grupo Vitória Break que, ainda em 2000, escolheu o espaço como ideal para a prática do breaking. O piso é bom, o espaço é amplo, e ainda tem a vantagem de ser um local de fácil acesso a dançarinos de toda a Grande Vitória. “A gente começou a ir pra lá pra treinar e se divertir também, era onde o grupo se encontrava. Vários dançarinos começaram a frequentar até se tornar um grande evento como é hoje”, explica o b-boy Clayton, do grupo Vitória Break. Hoje o Encontro de B-boys e B-girls é reconhecido nacionalmente como um espaço de formação de dança de rua e é lá, em meio às pessoas que esperam nas filas dos ônibus, que surgem os talentos posteriormente incorporados aos grupos e às oficinas de projetos sociais nas comunidades. O terminal já é o point para desenvolver também outros elementos além da dança, como as práticas do MC, do DJ, do grafite, além do beat box, transformando o local em uma grande mostra da cultura hip hop capixaba. A dança de rua tem o poder da linguagem corporal universal que está presente em todas as classes sociais. Popular e envolvente, a habilidade dos b-boys contagiou o público em todas as apresentações nos terminais do Sistema Transcol nesse Festival ES de Dança 2012. Maravilhadas, pessoas aplaudiam de dentro dos ônibus, nas filas, ou enquanto corriam para não perder a cena. Nem o ônibus.

Mais informações sobre as ações desenvolvidas pela CUFA-ES:  cufa-es.blogspot.com.br

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Cidadania pela dança Festival promove as danças de rua em territórios incluídos no Programa Estado Presente, que conta com ações integradas das secretarias de governo nas periferias da Grande Vitória

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postando na oferta de cultura e lazer no combate à violência social, o Festival ES de Dança 2012 direcionou uma parte especial de sua programação aos territórios da Região Metropolitana da Grande Vitória incluídos no Programa Estado Presente. O objetivo foi permitir o acesso a oportunidades de cidadania que se apresentem como alternativas à injustiça social nessas regiões e indicar caminhos de expressão para as juventudes. Em parceria com os municípios, ONGs e iniciativa privada, o Festival levou os mais importantes grupos de dança de rua do Estado e do país às praças das comunidades de Nova Rosa da Penha, em Cariacica, Vila Bethânia, em Viana, Terra Vermelha, em Vila Velha, Feu Rosa, na Serra, e São Pedro, em Vitória. Não apenas uma caravana de dançarinos e produtores desembarcaram nos bairros, como os próprios moradores foram convocados a participar das atividades culturais ocupando o palco principal. Boa parte dos integrantes dos grupos Bioshock Crew, Vitória Break, Vila Velha Força Break, Atos Crew, Ultimate B.Boys e Face da Luz Break cresceram nos cinco territórios contemplados pelo festival. “Foi muito bom ter voltado a me apresentar aqui na praça, porque a comunidade abraça o nosso trabalho, participa e dança junto. É muita satisfação!”, comenta o b-boy Abnael, do grupo Vila Velha Força Break, cujos dançarinos foram aplaudidos como heróis na praça de Terra Vermelha. Para Abnael foi um momento inesquecível, que representa o respeito do poder público pela dança e pela população das comunidades. “O público sempre responde muito bem, eles querem isso, estão esperando para ter mais acesso a todo tipo de atração cultural. Infelizmente não tem todo dia”, conclui. Assim como em Terra Vermelha, nos demais bairros não faltou empolgação do público, que também assistiu

de perto a uma das lendas do hip hop nacional. O paulista Marcelinho e a Back Spin Crew, na ativa há mais de vinte anos, percorreram os territórios apresentando o melhor do breaking, locking e popping. Na performance, o grupo passa por vários estilos da música negra americana, do rap ao funk, terminando em um baile charme no qual convoca a plateia a repetir os passos coreografados na pista provisória, montada sempre na praça central dos bairros. A praça pública, aliás, é espaço para todo tipo de espontaneidade do público que aceita o desafio proposto pela Back Spin Crew e participa dançando. Em Nova Rosa da Penha, o show de talentos premiou o estudante Douglas da Silva, 14 anos, com uma tela pintada ao vivo pelo artista Ed Braun, um dos nomes do grafite local. No intervalo da aula, Douglas correu para a concentração de pessoas na praça e não teve vergonha de mostrar sua habilidade com o footwork, o drop e o toprock. “A gente tinha um grupo de dança aqui na escola, aí eu fui aprendendo. A gente faz break pra se divertir”, conta abraçado ao prêmio e com expressão de felicidade.

estado presente Em 2011, o Governo do Espírito Santo identificou trinta territórios como sendo as áreas de maior índice de violência do Estado. O Programa Estado Presente foi então criado para direcionar atividades de diversas secretarias de governo para esses locais, com o intuito de modificar a situação, principalmente em relação ao combate à criminalidade e à redução das desigualdades sociais.


d a nças de rua

pro g ra m a e st a do pre se n t e

Ω IASES

acompanhado do violão, instrumento que aprendeu a tocar recentemente nas oficinas oferecidas aos jovens atendidos pela instituição. O gerente da unidade, Gustavo Badaró, explica que o Iases tem investido em atividades culturais e profissionalizantes para que os adolescentes possam desenvolver habilidades pessoais e conhecer outros universos. “Nosso maior desafio é a ação continuada, ou seja, passar da atividade pontual para ações que os envolvam numa ideia de tolerância”, analisa Badaró. Acostumado a trabalhar em projetos sociais que buscam a reintegração por meio da cultura, Marcelinho Gomes, coordenador da CUFA-ES, avalia este momento como um marco na vida dos adolescentes. “Essa é a linguagem em que eles se sentem valorizados e, a partir daí, começam a agregar outras ideias, planejar outras histórias além do passado difícil, de violência e exclusão, que a maioria carrega”, avalia. A tensão do espaço aos poucos desapareceu e se transformou em sorrisos de satisfação. Entre os funcionários do centro de atendimento, o comentário era o mesmo. “Só há problemas aqui quando não há nenhuma atividade, quando eles não conseguem aprender nada de novo”, disse uma funcionária. A ressocialização e a reintegração desses jovens em sociedade de forma harmônica e saudável passa impreterivelmente pelas ações culturais, que trazem, além do lazer, o exercício da cidadania. É um aprendizado de sociabilidade pautado no respeito às diferenças para a construção das noções de caráter e dignidade humana. “O mais importante para eles é aprender a conviver e superar essa cultura de repressão. Tentamos transformar a unidade em comunidade”, conclui Badaró.

A apresentação do Festival ES de Dança 2012 no Centro Socioeducativo de Atendimento ao Adolescente em Conflito com a Lei (CSE), em Tucum, Cariacica, é um capítulo especial nessa história. O local, uma das unidades do Instituto de Atendimento Sócio-Educativo do Espírito Santo (Iases), mantém adolescentes em conflito com a lei em regime de internação integral, trabalhando a reabilitação dos internos por meio de processos pedagógicos e socioterapêuticos que ampliem as possibilidades de desenvolvimento social e econômico. No pátio da instituição, os grupos de dança Bioshock Crew (ES) e Back Spin Crew (SP) interagiram com os adolescentes que, depois de um início tímido, aos poucos entraram em êxtase com as performances. “‘Responsa’ demais a apresentação, faz a gente ter vontade de dançar sempre”, comenta André, 16 anos, que também teve seu momento no palco. Junto com alguns colegas, ele forma o Bonde dos Atrevidos, recém-criado grupo de dançarinos de funk carioca do CSE que apresentou seu “passinho dos atrevidos”. Para Flaviano, 17, dançar é uma forma de se divertir com os amigos. “Sempre curti break na rua, e aqui dentro tento continuar com o funk, que eu gosto muito também. Podia ter sempre esse tipo de apresentação, porque a galera se amarra”, defende ele. O show de talentos improvisado pelo Festival ES de Dança 2012 no pátio do CSE de Tucum continuou também com outros elementos da cultura hip hop. O MC da ocasião foi Vinícius, 17, que além de cantar suas rimas apresentou também uma composição romântica

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Bastidores das apresentaçþes no Theatro Carlos Gomes

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Diversidade e emoção nos movimentos Do diálogo com as tecnologias até a inspiração no cancioneiro de Roberto Carlos , o Festival ES de Dança 2012 teve cinco noites de casa cheia e pluralidade no Theatro Carlos Gomes

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nze espetáculos de cinco Estados brasileiros foram as atrações do espaço nobre do Festival ES de Dança 2012. O Theatro Carlos Gomes, o mais antigo e tradicional palco capixaba, situado no Centro Histórico de Vitória, recebeu companhias de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Santa Catarina e Espírito Santo em cinco noites, com entrada franca e casa cheia. Pautado novamente pela diversidade, o festival promoveu o retorno ao Estado da Staccatto Cia. de Dança, do coreógrafo carioca Paulo Caldas, apresentou novamente antigos conhecidos, como os catarinenses da Cena 11 Cia. de Dança, coreografados por Alejandro Ahmed, além de receber espetáculos inéditos de seis grupos que pesquisam e produzem no Espírito Santo. A Cena 11 Cia. de Dança, convidada mais uma vez para abrir o Festival ES, apresentou em Guia de Ideias Correlatas o vigor físico, o estranhamento não-humano e as interações entre corpo e tecnologia que fazem parte de sua trajetória. O espetáculo é construído a partir de um olhar livre e bastante peculiar sobre o repertório da

Cia. nos últimos quatorze anos, em espetáculos como Skinnerbox (2005), Pequenas Frestas de Ficção sobre a Realidade Insistente (2006) e Embodied Voodoo Game (2009), este apresentado no Festival ES 2011. Guia de Ideias Correlatas é encenado a partir de exposições teóricas e práticas. As projeções de textos que embasam a pesquisa do grupo e de imagens em vídeo do arquivo da Cia. dialogam com os movimentos dos coreógrafos no palco. Como parte da programação de lançamento do edital Rumos Dança Itaú Cultural 2012-2014, o coreógrafo Alejandro Ahmed conversou com a plateia ao final da apresentação e deixou clara a intenção do Guia. “A cada obra criamos novas ferramentas e perdemos outras. Como poderíamos trabalhar nossa trajetória sem tornar aquilo uma palestra e sem cair na armadilha de que a técnica que a gente criou se cristalize?”, refletiu. A segunda noite apresentou Quinteto, da carioca Staccatto Cia. de Dança, dirigida e coreografada por Paulo Caldas. O espetáculo apresenta partituras de movimento


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Traduzir-se, Cia. de Danรงa Mitzi Marzzuti


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As canções que você dançou para mim, Focus Cia. de Dança

sob uma trilha executada em sua maior parte no piano com forte marcação em acordes tensos, em que os bailarinos apenas por breves instantes alcançam o que comumente chamamos sincronia. A luz desempenha um papel fundamental, compondo a cenografia. A trilha de Rodrigo Ramalho apresenta músicas de John Cage e dos compositores estonianos Lepo Sumera e Erkki-Sven Tüür, além de obras do próprio Ramalho. Insone, do Grupo Z, abriu a programação do Theatro Carlos Gomes na quinta-feira. O colchão, superfície instável em que se dá a coreografia, reúne a sensação de desconforto que perpassa a encenação e os movimentos — a luz, que coordena a passagem do tempo, e a citação do Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, contribuem para o espírito geral, acompanhado de perto pelo público, que assiste do palco. O duo goiano formado por Flora Maria e Valeska Gonçalves, que também assina a coreografia e a direção, apresentou Nega Lilu. A obra, inspirada em um conto de Larissa Mundim, é construída como um diálogo entre dança e

teatro, com trilha sonora pop (que vai do samba ao rock) e intervenções textuais nos corpos das bailarinas. Com uma composição cênica envolvente, Conexões, da Cia. Enki de Dança Primitiva Contemporânea, propõe um novo olhar sobre a história negra. Com influência da dança butô e utilizando elementos da cultura afrobrasileira, o diretor, coreógrafo e bailarino Paulo Fernandes cria uma atmosfera impactante. Também influenciada pelo estilo butô, mas resignificado de modo distinto daquele proposto pela Cia. Enki, a Cia. Teatro Urgente, do diretor e coreógrafo Marcelo Ferreira, apresentou Via Sacra. O espetáculo é uma coreografia criada e encenada a partir do vídeodança homônimo realizado por Magno Godoy — falecido em 2008 e homenageado do Festival ES de Dança 2012 — entre 1988 e 1990 em Tiwanaku (Bolívia), Ouro Preto e Brasília. O vídeo é projetado em três partes, intercaladas pelos movimentos de Ferreira, cujo figurino e partituras são análogos ao do personagem na tela. Foi a primeira exibição pública da obra em vídeo e estreia da coreografia ao vivo.


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Encerrando a terceira noite, a Cia. de Dança In Pares apresentou Inumeráveis Estados de Ser, coreografia de Gil Mendes e Bianca Corteletti. Com uma pesquisa inspirada na loucura, o espetáculo propõe o contato intenso entre os bailarinos em cena, em três atos muito bem demarcados. A São Paulo Cia. de Dança, que tem direção artística de Inês Bogéa, abriu a quarta noite de apresentações no Carlos Gomes de forma ágil, estabelecendo um pacto com o público. Ballet 101, coreografia de Eric Gauthier, é um solo curto e intenso com uma abordagem irreverente dos passos do balé clássico. A explosão final que deixa o bailarino em pedaços levou o público ao delírio. A Distância entre uma Esquina e outra, coreografia de Elídio Neto apresentada pela Homem Cia. de Dança Contemporânea, segue o caminho trilhado pelo grupo na pesquisa dos anseios e questionamentos do ser humano na contemporaneidade. Com cinco bailarinos em cena, o espetáculo tem partituras que se aproximam de movimentos das danças de rua. O coreógrafo carioca Alex Neoral e a música popular

brasileira foram os principais personagens das duas últimas apresentações do festival no Theatro Carlos Gomes. Como coreógrafo convidado da Cia. de Dança Mitzzi Marzzuti, Neoral criou Traduzir-se, belo trabalho inspirado em obras gravadas por Chico Buarque, entre elas Construção, Morena de Angola e Sinal Fechado. À frente da Focus Cia. de Dança, Neoral dança e assina a coreografia de As Canções que você Dançou pra mim. A partir das canções de Roberto Carlos, organizadas por temas afins e ligadas por palavras que ecoam outras composições, a Cia. propõe um baile romântico no qual os bailarinos seduzem a plateia e a música parece nunca ter fim. O público é convidado a participar de diversas formas, seja quando os bailarinos o encaram de cima do palco ou quando quebram a parede imaginária que os separa dançando sobre as cadeiras e corredores. A Cia. rompe outras barreiras, levando os bailarinos a se beijarem em cena nesse baile promovido com as músicas do Rei, que encerraram a segunda edição do Festival ES de Dança.


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Guia de Ideias Correlatas

Cena 11 Cia. De Dança (SC)

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(2011, 60') Através de exposições teórico-práticas embasadas nas últimas produções da Cia., o Cena 11 disseca as ideias que estruturam as definições de corpo investigadas para tornar dança as questões propostas pela Cia. a cada trabalho. Os bailarinos transitam nas ações de Violência, Skinnerbox, Pequenas frestas de ficção sobre realidade insistente e Embodied Voodoo Game construindo as cenas com uma complementação multimídia, com o objetivo de propor a dança como uma estratégia cognitiva.

Direção Artística e Coreografia

Alejandro Ahmed

No Grupo Cena 11, um núcleo de criação com formação em várias áreas compõe a base para uma produção artística em que a ideia precisa ganhar expansão num corpo e se organizar como dança. Em 1994, sob direção de Alejandro Ahmed, produziu seu primeiro espetáculo: Respostas sobre dor e a partir de 1998 começou a atuar como uma companhia profissional. Recebeu vários prêmios e tem circulado pelos principais festivais de dança no Brasil, sendo convidado para festivais na Alemanha e em Portugal.

Elenco e Coreografia

Adilso Machado, Aline Blasius, Cláudia Shimura,

Hedra Rockenbach, Jussara Belchior, Karin Serafin, Marcos Klann, Maria Carolina Vieira e Mariana Romagnani Trilha sonora e coordenação de montagem  Fotos e operação de câmera  Figurinos

Karin Serafin

Cristiano Prim

Cabelos

Hedra Rockenbach

Operação de luz e vídeo

Alejandro Ahmed e Hedra Rockenbach

Efeitos de vídeo desenvolvidos para “PFdFSRi” (2006)

Robson Vieira

Interlocução teórico-prática

Tiago Romagnani

Fabiana Dultra Britto (PPG-Dança UFBA)


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Quinteto

Cia. de Dança Staccato | Paulo Caldas (RJ)

(2008, 50') Quinteto, diferentemente de obras anteriores do coreógrafo, não se remete a nada exterior aos acontecimentos da cena de dança: nenhum investimento em elementos das artes plásticas ou do cinema, nenhuma narrativa insinuada, nenhum tema senão o corpo e o movimento. São partituras coreográficas quase separáveis como peças autônomas e nascidas de uma mesma base de pesquisa corporal. É o corpo em movimento, sua dramaturgia, que produz os vetores do espaço, as tensões no tempo e a arquitetura da cena.

Direção artística

Paulo Caldas

Coreografia  Paulo

Renata Versiani e Toni Rodrigues

Figurino  Ticiana

Caldas  Passos

O percurso artístico da Staccato, hoje um núcleo estável de pesquisa e criação composto por seis bailarinos, iniciou-se em 1993. São quase 20 anos de um trabalho cotidiano e ininterrupto e que, através de uma consistente pesquisa de linguagem, estabeleceu um universo de movimento próprio e em contínua exploração, tanto em sua dimensão expressiva quanto técnica. Seu repertório, singularizado por uma bem sucedida aproximação com a linguagem cinematográfica, inclui obras que vêm marcando a dança carioca desde os anos 90.

Bailarinos  Maíra

Maneschy, Natasha Mesquita, Paula Maracajá,

Trilha sonora  Paulo

Caldas


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Insone

Grupo Z de Teatro (ES)

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(2011, 35') Em Insone, o Grupo Z dá prosseguimento às investigações acerca dos três eixos que norteiam seu trabalho: o desenvolvimento de dramaturgia própria, o corpo como instrumento de criação e o uso de espaços diversos. O espetáculo, que se utiliza da linguagem da dança-teatro, não tem uma narrativa linear. Debruça-se sobre os estados de sono e vigília, os sonhos, pesadelos e a insônia, mostrando o homem contemporâneo entre a necessidade de descanso e repouso e as exigências de um mundo cada vez mais vertiginoso.

Direção artística  Fernando

Luciano Rios

Marques e Carla Van Den Bergen

Figurino  Francina

Flores

O Grupo Z de Teatro foi criado em 1996 por artistas que acreditam no teatro de grupo como caminho para a realização de um trabalho contínuo, que privilegie, além da montagem de espetáculos, a pesquisa de linguagem que, a um só tempo, seja fruto do fazer coletivo e engendre sua identidade.

Bailarinos  Alexsandra

Bertoli, Daniel Boone, Ivna Messina e


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Nega Lilu

Projeto Esfinge (GO)

(2011, 50') Um comentário sobre a essência da vida e a plenitude do amor inspira o espetáculo Nega Lilu. Na montagem de seu primeiro espetáculo, Valeska Gonçalves propôs a materialização de estados emocionais que rondam a breve história romântica de Nega e Lilu. A movimentação concebida pela coreógrafa valoriza as sutilezas dos detalhes, a riqueza dos signos gravados no corpo, mantendo contato com a narrativa do conto Sem Palavras sem, necessariamente, cumprir o papel de contá-lo ou recontá-lo.

Direção artística

Valeska Gonçalves

Participação especial  Lucas

Shayara

Coreografia  Mateus Figurino  Ana

Dutra

Coreografado por Valeska Gonçalves, o duo de estilo contemporâneo é uma ação do Projeto Esfinge, um coletivo de obras artísticas que comentam, transformam e difundem o conto Sem Palavras, de autoria da jornalista Larissa Mundim. O processo criativo do projeto teve base no conteúdo de domínio do conto Sem Palavras. Trabalhando de forma coletiva e autônoma, a equipe buscou detalhes pessoais de Nega e Lilu, fazendo a observação do comportamento das personagens de ficção no contato com o outro.

Bailarinos  Flora

Christina da Rocha Lima

Maria e Valeska Gonçalves


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Inumeráveis estados do ser

InPares Cia. de Dança (ES)

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(2009, 35') O espetáculo aborda a loucura e tenta captar, por um filtro muito particular, os limites entre aquilo que nos torna equilibrados ou desequilibrados, sãos ou insanos, e explora as possibilidades de criar a partir do colapso subversivo da loucura. Explora as alucinações sensíveis de alguns artistas e também expõe as peculiaridades dos doentes mentais que habitam as ruas de nossas cidades e que são espécies de profetas das verdades implícitas das relações sociais.

Direção artística  Gil

Luciano Rios

Mendes

Figurino  Jader

Coreografia  Gil

Montes

A InPares é uma cia. de dança contemporânea com sede em Vitória que tem como filosofia a unidade da diversidade. O primeiro trabalho da cia. estreou no 7° Festival Nacional de Monólogos no ano de 2004, no qual o bailarino Mauro Marques recebeu o prêmio de Melhor Intérprete. Concebido inicialmente no formato solo, a cia. ganhou a forma de duo com o bailarino Marcelo Vitor. A Cia. InPares trabalha com ensaios regulares e cada um dos seus membros busca aprimoramento técnico e artístico com outros profissionais.

Mendes e Bianca Corteletti

Trilha sonora  Ludvig

Schneider

Bailarinos  Mauro

Marques, Marcelo Vitor e


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Via Sacra

Cia. Teatro Urgente (ES)

(2012, 30') Via Sacra é uma encenação a partir do vídeo homônimo dirigido e interpretado por Magno Godoy, gravado em 1988. A peregrinação de um sacerdote por três templos significativos na formação cultural da América Latina. O ameríndio, gravado em Tiwanaku na Bolívia, o barroco, nas igrejas do Pilar e São Francisco, em Ouro Preto/MG, e o moderno, na Catedral de Brasília (DF). Trata-se da primeira exibição pública dessa obra de vídeodança, em homenagem ao coreógrafo e bailarino capixaba Magno Godoy, falecido em 2008.

Encenação, Performance  Câmera

e Marcelo Ferreira  Foto

Marcelo Ferreira

Marcelo Ferreira e Mauro Paste  Iluminação

Jussara Martins

Maquiagem

Roteiro, Direção e Performance em Vídeo  Músicas

Sonoplastia e Operação Vídeo

Ana Lúcia Ferreira – CRAFI

Apoio Cultural

Magno Godoy

Jaceguay Lins, J.S.Bach e Magno Godoy

Everaldo Nascimento

Design Gráfico

David Scárdua

Iniciou suas atividades em 2003, dirigida por Marcelo Ferreira, ator, bailarino e professor da Faculdade de Música do Espírito Santo (FAMES). Desenvolve pesquisa dos processos criativos em artes cênicas e formação de intérpretes-criadores, revelando em seu estilo referências estéticas do expressionismo, da dança butô japonesa e dança neo-iaô (Cia. de dança onde atuou com o diretor e coreógrafo Magno Godoy de 1986 a 2001), situando-se no limiar do teatro-dança. Na encenação da Cia., destaca-se o rigor na interpretação, exigindo dos performers uma atuação programada e improvisada em tempo real. A estética na composição das cenas evidencia um apuro na montagem visual do espetáculo, que se utiliza de recursos audiovisuais.

Figurino

Produção Vídeo

Raphael Coutinho

Magno Godoy

Sempre Viva Produtos Naturais e COPY SHOW - Vila Velha

Ernandes Zanon


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Conexões

Cia. Enki de Dança Primitiva Contemporânea (ES)

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(2012, 65') O espetáculo explora os resultados de estudos elaborados a partir das expressões e técnicas das danças africanas e afrobrasileiras, bem como suas impressões simbólicas, reatando uma linguagem de códigos, na qual os gestos (re)significam, buscando remontar uma cartografia do corpo brasileiro propondo diálogos e paradigmas da contemporaneidade. O corpo é “o lugar das ocorrências”, a catedral das virtudes.

Direção artística

Paulo Fernandes

Coreografia  Paulo

e Leane Barros

Trilha sonora  Luiz

Furlane

Com 12 anos de atuação, a Cia. Enki de Dança Primitiva Contemporânea dedica seu trabalho à história da dança nacional e internacional em solo capixaba. O nome Enki surgiu da junção de outras duas palavras da mitologia suméria, da antiga Mesopotâmia, hoje Oriente Médio. “En” significa céu, e “Ki” significa Terra. O homem é o intercessor entre esses dois espaços. E o corpo é a fonte vital enquanto a dança se reitera com a Natureza.

Fernandes

Bailarinos  Paulo

Fernandes, Hebert Gonçalves


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Ballet 101

São Paulo Cia. de Dança (SP)

(2006, 8') Solo de oito minutos que brinca com a dança clássica. Com base nas cinco posições do balé, o coreógrafo narra outras 96 possíveis variantes, fazendo referência a outros coreógrafos — Wiliam Forsythe, George Balanchine, Glen Tetley, Marius Petipa, John Cranko e o próprio Eric Gauthier — e a balés consagrados — como Romeu e Julieta e Onegin. “É um balé vibrante, que tem uma explosão no final”, comenta Renato Arismendi, remontador da obra.

Direção artística  Remontagem

Inês Bogéa

Coreografia

Renato Arismendi

Eric Gauthier

A São Paulo Companhia de Dança foi criada em janeiro de 2008 pelo Governo do Estado de São Paulo. Seu repertório contempla remontagens de obras clássicas e modernas, além de peças inéditas, criadas especificamente para o seu corpo de bailarinos. A Companhia é um lugar de encontro dos mais diversos artistas — como fotógrafos, professores convidados, remontadores, escritores, artistas plásticos, cartunistas, músicos, figurinistas, e outros — para que se possa pensar em um projeto brasileiro de dança.

Bailarino

Yoshi Suzuki

Narrador

William Moragas


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A Distância entre uma Esquina e outra

Homem Cia. de Dança (ES)

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(2012, 25') A Distância entre uma Esquina e outra foi criada pelo coreógrafo Alexandre Franco e continuada pelo intérprete Elídio Netto para a Homem Cia. de Dança. É inspirada livremente em seu título, refere-se às relações entre seis homens e o espaço ocupado por eles. Uma quadra e muitas vezes um único verso para seis corpos num diálogo com a música barroca e contemporânea de H. Purcell e Fábio Calazans.

Fundada em fevereiro de 1999, a Homem Companhia de Dança nasceu da vontade de fazer uma dança que expressasse a crise, os questionamentos e os anseios do homem contemporâneo. Desenvolvendo um trabalho com técnica e expressão, pesquisa de movimento, plasticidade e teatralidade. A companhia vem destacando-se desde sua fundação pela ousadia e determinação de seus empreendimentos artísticos, trazendo para Vitória diversos prêmios.

Direção artística

Franco

Elídio Netto

Coreografia e Pesquisa  Alexandre

Montagem  Elídio

Netto

Filipe Corsino Leite, Jordan Fernandes, Luciano Mello, Messias Matias, Patric Leris e Niobio Filiol Trilha sonora  Fábio

Calazans

Bailarinos  Elídio

Netto,


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Traduzir-se

Cia. de Dança Mitzi Marzzuti (ES)

(2011, 50') Traduzir-se traz um momento de mergulho na teatralidade e genialidade que o coreógrafo Alex Neoral (RJ) imprime à sua movimentação, gerando uma potência capaz de provocar sensações e sentimentos em quem assiste e executa. Delicado e poético, o espetáculo acontece sem ferir as poesias musicadas de Chico Buarque de Hollanda. O espetáculo explora o corpo utilizando a técnica clássica que é desarticulada com harmonia e leveza.

Direção artística

Mitzi Mendonça

Coreografia  Alex

Neoral

Saleme, Maitê Bumachar, Paloma Tauffer e Layli Rosado

A Cia. é precursora do movimento profissional da dança no Espírito Santo, com 26 anos de trajetória. A intenção de expor os pensamentos coreográficos e fazer dos espetáculos uma marca de rigor na experiência de vida, e não apenas mais um tipo de entretenimento. Além das coreografias da diretora e coreógrafa Mítzi Marzzuti, a Cia. recebeu coreógrafos para montagens e oficinas, entre eles: Ciro Barcellos (RJ), Victor Navarro (Espanha), Sylvio Dufrayer (RJ), Renato Vieira (RJ), Sueli Machado (BH) Mário Nascimento (BH), Claudia Palma (SP), Sandro Borelli (SP) entre outros.

Bailarinos  Gabriela

Figurino  Mitzi

Camargo, Flavia Dalla Bernardina, Marcos

Mendonça

Trilha sonora  Chico

Buarque


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As canções que você dançou pra mim

Focus Cia. de Dança (RJ)

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(2011, 80') Quatro casais são embalados por um grande pot-pourri com 72 canções interpretadas pelo cantor e compositor Roberto Carlos. O trabalho revisita seus grandes sucessos como: Detalhes, Outra vez, Desabafo, Cama e mesa, O calhambeque, entre outros eternos clássicos. A dança e a música aparecem num casamento perfeito que envolve o público em um grande baile.

Direção artística

Alex Neoral

Coreografia  Alex

Neoral

A Focus Cia. de Dança é hoje uma das mais atuantes companhias de dança carioca. Dirigida e coreografada por Alex Neoral, a cia. tem o apoio do SESC Rio, e por dois anos consecutivos fez parte do Projeto de Residência Artística SESC Rio. Entre 2010 e 2011, a Cia. se apresentou em 32 cidades francesas destacando a aclamada Bienal da Dança de Lyon, em setembro de 2010. No exterior já levou sua arte também para Alemanha e Panamá. No Brasil, já dançou em quase 50 cidades, entre capitais e cidades do interior.

Bailarinos  Alex

Neoral, Carol Pires, Clarice Silva, Marcio Jahú,

Marisa Travassos, Mônica Burity, Rodrigo Werneck e Thiago Sancho  Figurino  André Vital

Trilha sonora  Rodrigo

Marçal


Intençþes, e d i t o ri ade Nerdim Montenegro Alvarez

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co r e ó gra fos i nde p e nd entes

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Liberdade para criar Na seção Coreógrafos Independentes, o Festival abre espaço para a experimentação e para o talento de profissionais criando de maneira autoral fora de companhias

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uito mais que uma técnica ou uma forma de expressão temporal, a dança contemporânea é um conjunto de ideias que dão liberdade ao movimento e transformam a dança e o corpo em diversas possibilidades, inclusive no diálogo com outras artes, como o cinema, o teatro e a literatura. No Festival ES de Dança 2012, a liberdade de criação e expressão teve espaço na seção Coreógrafos Independentes, que ocupou duas noites do Teatro do SESI. Fruto da experimentação de técnicas e poéticas na dança, a seção, composta por sete coreografias de até 15 minutos de duração, é uma vitrine da recente produção capixaba, representada por coreógrafos que se inscreveram no processo seletivo e tiveram suas propostas escolhidas por um júri especializado. “Não conheço muito a cena daqui, mas gostei muito de tudo que eu vi. Achei os bailarinos muito técnicos e ainda jovens, com potencial pra crescer muito”, comentou Gilsamara Moura, bailarina e professora na Universidade Federal da Bahia (UFBA),

convidada pela organização para acompanhar o festival. O público, em sua maior parte composto por interessados em dança ou profissionais da área, ficou impressionado com a qualidade da pesquisa na expressão. “Já conhecia o festival. Por isso, houve uma expectativa grande quando vim assistir esse ano e não me desapontei. Tem bailarinos muito bons aqui no Estado”, disse a estudante de artes plásticas Maria Inês Barreto. Entre movimentos suaves e partituras dramáticas, entre tons de azul brisa e cinza industrial, os espetáculos coreografados e dirigidos por Armando Aurich, Jordan Fernandes Santos, Nerdin Montenegro, Liliani Barbosa Cunha, Luciana Zanandréa Borgo e Patrícia Miranda de Azevedo, refletiram no público as sensações e sentimentos evocados pelos bailarinos em seus movimentos. Na busca pelo contemporâneo, que flerta com o clássico, o moderno e o extraordinário, continuam as imagens do corpo como instrumento de pesquisa e reflexão.


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01. Intenções 02. Rumos 03. Maresia 04. Inquieto Vazio 05. Diálogo 06. Destino e Acaso 07. Experimento

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Diálogo, de Luciana Zanandréa e Patrícia Miranda

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Destino e Acaso, de Armando Aurich, com Jordélio Vieira, Isabela Medeiros e Marina Marinho, 6'50"

Maresia, de Jordan Fernandes Santos, com Jordan Fernandes e Inara Novais, 10'

Trata do encontro, da partida e de um triângulo amoroso. O processo de criação foi desenvolvido através dos experimentos vivenciados pelos intérpretes abordando a proposta conceitual do tema. A intenção é revelar através dos sentidos e movimentos uma plasticidade e intensidade com a expressividade de uma dança que tange a alma.

Maresia é um termo genérico que pode se referir ao forte odor que se desprende do mar, bem como ao movimento das marés. A coreografia trata das sensações que traz a brisa do mar e os sentimentos, lembranças, recordações que temos ao sentí-las. Tendo como referência primordial o mar, reverenciado pela figura do candomblé da deusa Iemanjá, os bailarinos vão recordando lendas, criando romances e festejando a própria vida.

Trabalhou durante 28 anos ininterruptos com o Tucson Metropolitan Ballet, nos Estados Unidos, com a Cia. de Dança Rio, Cia. de Dança de Minas Gerais, Cisne Negro Cia. de Dança, República da Dança e Balé da Cidade de São Paulo. Dançou nos Estados Unidos, Inglaterra, Argentina, Uruguai, Canadá, França, Alemanha, Portugal, Suiça, Áustria e Israel. Aplica sua prática de ensino “O Corpo Expressivo” em aulas de Dança Contemporânea e Clássica e coreografa para Grupos e Cias. de Dança. É reconhecido pela crítica especializada no Brasil e no exterior. Recebeu, dentre vários prêmios, o Lei Sarney como Intérprete, o da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) como Melhor Bailarino e o Estímulo S.M.C. como Coreógrafo.

Inquieto Vazio, de Armando Aurich, com Armando Aurich, 7' O criador-intérprete trabalha com rigor e consistência a qualidade e a poesia do movimento. Apresenta questões subjetivas como “O que eu vim fazer aqui?”, “Que lugar é este?”, “O que eu quero?”, “Que papel ocupo?” e “Qual o sentido do que faço?”. O trabalho destaca o corpo como superfície a ser lida, lugar da individualidade, o movimento associado à poética do corpo.

Jordan Fernandes formou-se no curso de qualificação profissional da Escola de Teatro e Dança FAFI, em Vitória/ES, onde participou de diversos espetáculos, inclusive, como integrante da Homem Cia de Dança.

Intenções, de Nerdim Montenegro Alvarez, com Marcos Gomes, Marina Abelha, Carla Bruno de Assis, Izabelly Barbosa Possatto e Paloma Tauffer, 13' Dois quadros diferentes que mostram um pouco do nosso cotidiano e das nossas diferenças. No primeiro quadro um encontro de duas pessoas que se cruzam e resolvem experimentar uma relação conturbada, para depois cada uma seguir seu próprio caminho. No segundo quadro há a leveza de três corpos e seus diferentes estados de ser. Nerdim Montenegro Alvarez, nascido na cidade de Camaguey, em Cuba, onde começou sua carreira ainda em 1985 onde adquiriu título de mestre e bailarino profissional. A partir de então, integrou companhias de balé em Havana, e depois em Trujillo e Lima, ambas no Peru. Em 1997 chegou ao


co r e ó gra fos i nde p e nd entes

t e a t ro do se si

Brasil por meio de intercâmbio cultural, desempenhando seu trabalho como bailarino e professor em escolas do Espírito Santo e Minas Gerais. Atualmente é professor e coreógrafo da Escola de Ballet Espaço da Dança.

que nos reserva a viagem da vida ainda incompleta, nos guiam e nos levam a seguir e a prosseguir na nova estrada que marca e refaz toda a nova viagem da vida.

Diálogo, de Luciana Zanandréa e Patrícia Miranda, com Rodrigo Soares e Luiza Campagnaro Ramos, 6' Em Diálogo, dois corpos expressam seus desejos e inquietações. Reconhecem-se e se estranham, num esforço para encontrar o sentido de estarem juntos. A técnica clássica se mistura com outros canais de conhecimentos para a construção de uma expressão alinhada às tendências contemporâneas.

Iniciou os estudos de balé no Conservatório de Dança do Rio de Janeiro, onde permaneceu como bailarina e professora do método vaganova. Continuou os estudos na Escola Cubana de Balé, e após regressar ao Brasil, co-fundou a Escola de Ballet Espaço da Dança. Integrou durante onze anos a Cia de Dança Mitzi Marzzuti onde participou de grandes festivais.

Experimento, de Patrícia Miranda de Azevedo, com Rodrigo Soares, 5'

Luciana Zanandréa iniciou seus estudos de balé clássico no Conservatório de Dança no Rio de Janeiro e hoje possui mais de vinte premiações como coreógrafa. Também foi coordenadora do Curso de Dança da Escola de Teatro e Dança FAFI, (2003-2004) e desde 1997 atua como membro da Comissão Organizadora do ENESDANÇA (Encontro de Escolas de Dança do Estado do Espírito Santo), em Vitória/ES.

O ato de experimentar foi o ponto de partida para a construção coreográfica, onde a disponibilidade corporal do bailarino na contemporaneidade permite a criação de variadas formas de movimento. Em “Experimento”, a ocupação do espaço cênico está ligada a qualidades diferenciais de movimentos, ora cortantes, diretos, descontínuos; ora fluidos, circulares e contínuos. O corpo exprime suas potencialidades e propõe a complexidade que a dança contemporânea admite.

Rumos, de Liliani Barbosa Cunha, com Carla Bruno de Assis, Nathália Schiavon, Marcela Rayane Nezadri e Mariana Rodrigues de Almeida, 5'40"

Natural de Vitória-ES, Patrícia Miranda passou pelos principais grupos de dança do Estado, dançando como solista de importantes balés de repertório. Estudou na Paluca Schule Dresden (Alemanha) e na Escola Nacional de Arte em Havana (Cuba), além de acumular premiações nos principais festivais de dança do Brasil. Atualmente desenvolve trabalho em balé clássico junto ao mestre cubano Ernesto Ulácia.

Rumos que nos levam a caminhos e nos reportam ao futuro. Nosso rumo é lento, porém concreto. No passado que deixamos, encontramos esquecido algo que nos deixa forte rumo aos caminhos da sorte. Rumo aos caminhos

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Rumos, de Liliani Barbosa Cunha

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Espaço aberto para a reflexão Pensadores da dança brasileira, bailarinos e coreógrafos relataram seus métodos de trabalho e discutiram, com a participação da plateia, temas caros à criação artística contemporânea

A

geração de conhecimento, a reflexão sobre o cenário da dança e os movimentos dessa cadeia produtiva no Brasil e no Espírito Santo foram contempladas nos espaços de discussão criados pelo Festival ES de Dança 2012. As mesas-redondas e os relatos de métodos de trabalho aconteceram no auditório do Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo (Maes) e estimularam também o intercâmbio entre os profissionais da dança e o público local, que compareceu de forma interessada e ativa, estimulando os debates. Promover essa reflexão é um dos objetivos do festival desde sua formulação, que remete ao Fórum ES de Dança, realizado em 2010 na Escola de Teatro, Música e Dança Fafi, em Vitória. Nos Relatos: Métodos de Trabalho, os coreógrafos Mitzi Marzutti, Alex Neoral, Gil Mendes, Paulo Caldas, Marcelo Ferreira e Suely Machado abordaram experiências teóricas e práticas de pesquisa e produção.

Já nas mesas-redondas, a atenção recaiu sobre temas pautados pela contemporaneidade e a relação da dança com o espaço urbano. Coube ao coreógrafo Alejandro Ahmed e à coreógrafa e pesquisadora Gilsamara Moura debater As redes sociais e a difusão da dança contemporânea, em mesa mediada pelo jornalista Paulo Gois Bastos. Já o ativista cultural Marcelo Gomes, coordenador da CUFA-ES, mediou o debate Dança na rua - Significados e reflexões na contemporaneidade, do qual participaram o dançarino Marcelinho Back Spin e a coreógrafoa Cristina Castro. No sábado, encerrando essa seção do festival, a escritora e bailarina Flavia Dalla Bernardina fez a mediação da conversa entre Fabiano Carneiro, da Funarte, apoiadora do Festival ES de Dança, e a diretora artística da São Paulo Cia. de Dança, Inês Bogéa, na mesa Perspectivas da dança contemporânea.


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01. Alex Neoral (RJ) Iniciou seus estudos em dança no Rio de Janeiro, em 1994, aos 15 anos, em um curso de jazz. Na dança contemporânea, passou por várias companhias, como Cia. Nós da Dança (Regina Sauer), Grupo Tápias (Giselle Tápias), Cia. de Dança Deborah Colker, Cia. Vacilou Dançou (Carlota Portella), entre outras. Em 1996 criou sua primeira obra, Vértice, para a Focus Cia. de Dança, que foi fundada em 1997 e surgiu de um grupo de amigos bailarinos. Em 2000 a companhia apresenta seu primeiro espetáculo profissional e desde então já se apresentou em diversos países, como Alemanha, Panamá, Itália e França (35 cidades). No Brasil foram mais de 45 municípios. Como professor de dança contemporânea, já ministrou aulas na escola City Dance, em Washington DC, e na Escola de Dança Maria Taglione, na Itália. 02. Mítzi Marzutti (ES) Bailarina e coreógrafa, dirige há 26 anos a Cia. de Dança Mítzi Marzzuti, um dos primeiros grupos profissionais de dança contemporânea do Espírito Santo. Produziu festivais e fóruns de dança nos anos de 1990. Atualmente, promove intercâmbios entre a Cia. e outros coreógrafos e criadores, como Alex Neoral e Renato Vieira, entre outros. 03. Gil Mendes (ES) Bailarino e coreógrafo. É professor da Escola de Teatro, Música e Dança Fafi, sediada em Vitória (ES). Atua como

diretor artístico e coreógrafo da Cia. InPares desde 2004, com a qual circulou por diversos festivais nacionais. Também desenvolveu trabalhos de criação na Cia. Negraô, com a qual criou os espetáculos Furdúncio e Ticumbi, e Homem Cia. de Dança, fundada em 1999. Também ministra oficinas de composição coreográfica pelo interior. 04. Paulo Caldas (RJ) Idealizador e diretor artístico do Dança em Foco – Festival Internacional de Vídeo & Dança, é coreógrafo formado em dança contemporânea pela Escola Angel Vianna (RJ) e bacharel em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atualmente, é professor dos cursos de dança da Universidade Federal do Ceará e diretor da companhia de dança contemporânea Staccato | Paulo Caldas. Suas obras já foram apresentadas em diversas cidades no Brasil, e também nos EUA, Japão, Itália, Alemanha e França. Foi professor dos cursos de graduação em dança da UniverCidade e da Faculdade Angel Vianna, onde coordenou o curso de pós-graduação “Estéticas do Movimento: Estudos em Dança, Videodança e Multimídia”. 05. Alejandro Ahmed (SC) É coreógrafo e diretor artístico da Cena 11 Cia. de Dança, fundada em 1992. O trabalho como coreógrafo surgiu de forma autodidata, respondendo à necessidade do artista de integrar o seu pensamento sobre o mundo e a dança


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que experimentava. Junto ao Cena 11, promoveu o desenvolvimento de uma técnica que objetiva produzir a dança em função do corpo. Esta técnica, nomeada de “percepção física”, é um dos pontos que estrutura o seu trabalho. 06. Paulo Gois Bastos (ES) Graduado em Comunicação Social pela Ufes, atua como colaborador junto a coletivos e redes locais de artistas e produtores culturais. Desenvolve conteúdos sobre temáticas artístico-culturais e dos direitos humanos para as mídias impressa, online e audiovisual. Integrou a equipe do Programa Rede Cultura Jovem, iniciativa da Secult, onde respondia como editor da revista Nós. Faz parte da ABD Capixaba e do Plur@l – Grupo de Diversidade Sexual. 07. Gilsamara Moura (BA) Fundadora e diretora do Grupo Gestus, criado em 1990 na cidade de Araraquara (SP). Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP (2008), com pesquisa sobre Políticas Públicas em Dança. Atua como curadora, bailarina, coreógrafa e consultora de projetos culturais. Vicecoordenadora do Programa de Pós-Graduação em Dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Professora Adjunta da Escola de Dança da mesma instituição. É membro da Red Sudamericana de Danza. 08. Suely Machado (MG) É bailarina, professora, coreógrafa, fundadora e diretora do Primeiro Ato Cia. de Dança, com quase 30 anos de carreira. Formada em Dança Moderna, graduada em Psicologia (PUC/MG), com especialização em Coreoterapia e Psicomotricidade e curso de extensão em Pedagogia do movimento para o ensino da dança (Escola de Belas Artes/UFMG). Ela também dirige os projetos Primeiro Ato Centro de Dança, centro de formação em dança; Projeto Dançando na Escola, ação social no Grupo Estadual D. Augusta, na Barragem Santa Lúcia, em Belo Horizonte; e o EACC – Espaço de Acervo e Criação Compartilhada, em Nova Lima. 09. Marcelo Ferreira (ES) Ator, coreógrafo, bailarino e professor da Faculdade de Música do Espírito Santo (FAMES). Com a Cia. Neo-Iaô (ES), de Magno Godoy, Ferreira apresentou-se em importantes teatros do Brasil, além de ter desenvolvido trabalhos em diversos países da América Latina. Apresenta influências estéticas do expressionismo e da dança butô. Atua como encenador e bailarino da Cia. Teatro Urgente, fundada em 2003, que já apresentou os espetáculos Metrópolis, PlayBeckett, e mais recentemente Via Sacra. 10. Marcelo Gomes (ES) Conhecido como Marcelinho Hip Hop, é presidente da Central Única das Favelas no Espírito Santo (CUFA-ES),

organização reconhecida nacionalmente pelas esferas políticas, sociais, esportivas e culturais no desenvolvimento de projetos culturais para jovens das comunidades de periferia. 11. Marcelinho Back Spin (SP) Dançarino de breaking e popping desde 1983. Fundou em 1985 a Back Spin Crew, na Estação São Bento do metrô paulistano, o berço do hip hop no Brasil. É responsável também pela criação do projeto Casa do Hip Hop, em Diadema (SP), sede do ponto de cultura A cultura Hip Hop construindo a cidadania juvenil. É diretor e coreógrafo de espetáculos e apresentações diversas, inclusive para a Fundação Roberto Marinho. Em 2006 foi jurado do campeonato mundial de breaking RED BULL BC ONE, um dos mais consagrados da modalidade. 12. Cristina Castro (BA) Diplomada pela Universidade Federal da Bahia no curso de Licenciatura em Dança. Como coreógrafa, criou 15 espetáculos e recebeu diversos prêmios, entre eles o do Ministério da Cultura (Troféu Mambembe/1998) e o da Unesco (Prize for the Promotion of the Arts/2004). Como produtora cultural e curadora, fundou, em 1998, a Cia. Viladança, do Teatro Vila Velha de Salvador (BA), que dirige e coreografa, e criou, em 2006, o VIVADANÇA - Festival Internacional. Como dançarina, integrou o elenco do Grupo Viravolta e do Balé Teatro Castro Alves (BTCA). 13. Inês Bogéa (SP) É diretora da São Paulo Companhia de Dança. Doutora em Artes (Unicamp, 2007), é professora no curso de especialização em Linguagens da Arte da Universidade de São Paulo/Maria Antônia e escritora. De 1989 a 2001 foi bailarina do Grupo Corpo (Belo Horizonte). Foi crítica de dança do jornal Folha de S.Paulo de 2001 a 2007. Na área de arte-educação foi consultora da Escola de Teatro e Dança Fafi (2003/2004). É autora de mais de vinte e cinco documentários sobre dança, entre eles Renée Gumiel, a vida na pele (2005) e Maria Duschenes – o espaço do movimento (2006). 14. Fabiano Carneiro (DF) Coordenador de Dança da Fundação Nacional das Artes (Funarte) do Governo Federal, responsável pelos projetos da área de dança e pelo Teatro Cacilda Becker (RJ). 15. Flavia Dalla Bernardina (ES) Advogada especialista em Propriedade Intelectual pela FGV/Direito Rio, bailarina profissional, escritora, em 2008 cursou extensão em Economia da Cultura pela Universidade Cândido UCAM/Rio, publicou em 2009 o livro de prosa “Além de Todo Gesto”, contemplado pela Lei Cultura e Arte de Vila Velha – ES, contribui para o suplemento “Pensar”, do jornal A Gazeta, atualmente é pós graduanda do curso de Arte e Cultura pela UCAM/Rio.

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01. Relatos

O carioca explica seu método de criação como esse traço excessivamente contemporâneo de inspirar personagens nas personas reais. E a partir da descoberta da identidade de cada bailarino, a coreografia do grupo vai aflorando com a espontaneidade dos movimentos. Neste ponto, o público levanta questionamentos sobre os formatos da dança contemporânea que nasce livre de enquadramentos e que, segundo Mitzi, vai se encaminhando para um lugar onde as regras estão delimitadas. “A dança contemporânea é investigativa, não deve ter códigos. Observo que o desenvolvimento do processo criativo está focado no improviso quando o ponto é o movimento, mas caminha junto com o conceito para uma estrutura física da idéia”, defende Mitzi. O debate sobre as carências do mercado da dança capixaba ganharam uma lente de aumento com as comparações que o coreógrafo carioca fez com o resto do país. Na sua fala ele lembrou que a dança ainda é uma atividade segmentada na sociedade pois o acesso do público, principalmente à dança contemporânea, é muito limitado. E isso vale para todas as regiões do país.

Métodos de Trabalho: Teoria e Prática

Mitzi Marzzuti & Alex Neoral

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A coreógrafa e diretora capixaba Mitzi Marzzuti abriu o espaço de relatos do Festival ES de Dança 2012, no Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo (MAES), na tarde de quarta-feira, percorrendo sua trajetória na dança. Logo depois, foi a vez do coreógrafo carioca Alex Neoral, da Focus Cia. de Dança, apresentar as etapas de seu envolvimento com a dança contemporânea. Ambos estimularam o debate sobre fomento e mercado da dança no Espírito Santo e no Brasil. Segundo Mitzi, ainda criança ela entendeu que todos os movimentos eram expressões dos sentimentos e que provocavam novas sensações ao público. Diretora de uma das primeiras companhias profissionais de dança contemporânea do Estado, a Cia. de Dança Mitzi, a coreógrafa começou despretensiosamente a dançar na infância e logo estava se apresentando dentro e fora do país. Um dos objetivos da companhia foi trabalhar para a profissionalização da dança capixaba, produzida de forma independente. “As dificuldades são muitas. Manter uma Cia. profissional com ritmo e sem patrocínio é uma loucura. Os próprios artistas falam, ‘você é doida!’”, afirmou Mitzi. O relato da coreógrafa ressaltou a importância do incentivo do poder público para se criar um cenário forte e autônomo. Da sua experiência de quase três décadas, ela acredita que ainda faltam incentivos locais para promover a manutenção das companhias profissionais, assim como editais específicos para atender escolas que estão formando novos profissionais. “Venho investindo e apostando na diversidade, faço isso há 26 anos, desde quando iniciamos o movimento da dança profissional no Espírito Santo”, comentou. Nessa longa jornada, Mitzi teve oportunidade de entrar em contato com diversas companhias e profissionais de renome da dança, além de desenvolver trabalhos que conectaram a cultura capixaba às tendências nacionais e internacionais. Um deles foi Alex Neoral. O bailarino, coreógrafo e professor que começou seus estudos de dança no Rio de Janeiro passou alguns anos atuando como bailarino em companhias consagradas como a Cia. de Dança Deborah Colker e Grupo Tápias, de Giselle Tápias, antes de se dedicar exclusivamente à Focus Cia. de Dança, e só então passou a entender os desafios de gerir uma companhia. Com uma mistura de estilos, Neoral traduz o contemporâneo, como uma tendência que absorve a essência dissonante de cada bailarino como um dado de expressão importante. Para ele, “a coreografia recria a identidade de cada bailarino. É isso que influencia a dança contemporânea a ser o que ela é”.

02. Relatos

Métodos de Trabalho: Teoria e Prática

Paulo Caldas & Gil Mendes

Os coreógrafos Paulo Caldas e Gil Mendes guiaram a primeira rodada de relatos do Festival ES de Dança a partir de suas experiências à frente de grupos heterogêneos de produção, as companhias que cada um deles dirige e coreografa. Paulo Caldas, atualmente vivendo em Fortaleza, onde é professor da Universidade Federal do Ceará, mantém à distância a criação permanente da Staccato | Paulo Caldas Cia. de Dança, que fundou em 1993 como um duo e que conta hoje com um corpo de seis bailarinos. Apesar da próxima produção estar sob o efeito desse distanciamento, ele enfatizou a necessidade de tempo extensivo para desenvolver o trabalho com os diversos corpos que formam a companhia. “Cada montagem dá início a um processo diferente. Buscamos uma assinatura corporal que é menos individual do que construída a cada trabalho por cada um de nós. Todos os bailarinos pesquisam”, afirmou Paulo Caldas. Não obstante a característica plural e abrangente da criação, o coreógrafo fez questão de distanciar a Staccato do conceito de coletivo, evidenciando o papel do criador na solução para as partituras de movimento e concepções estéticas dos espetáculos. “A Staccato tem uma estrutura pouco hierarquizada, o nível de diálogo e de horizontalidade é muito grande.


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Mas não é um coletivo”, definiu. “É tão precioso pensar a diferença! Mas como essas tensões podem ser moduladas? Esse é um pensamento de diretor de companhia”. Sobre Quinteto, mais recente trabalho a compor o repertório da cia., Caldas explicou que a ideia de restrições para guiar os caminhos da pesquisa o interessam. “Esse espetáculo propõe a atenção dos bailarinos nos bailarinos o tempo todo”, afirmou. Ele citou a Oulipo (Oficina de Literatura em Potencial), corrente de vanguarda da poesia francesa dos anos de 1960 em que os autores se propunham desafios, como escrever um romance inteiro usando uma única vogal — exercício que resultou na obra Les Revenentes, de Georges Perec. “As obras poéticas são recortes sobre o infinito”, disse o coreógrafo. E completou comentando os elementos que regem o espetáculo da Staccato apresentado no Festival. “Quinteto não tem um tema, sua unidade vem a partir de uma lógica de movimento”, disse. “Parece quase conservador procurar unidade em uma obra de arte, mas não tenho medo de parecer conservador.” Já o coreógrafo Gil Mendes, diretor artístico da InPares Cia. de Dança, grupo de pesquisa em novas linguagens da dança contemporânea fundado em 2004, definiu sua trajetória como pautada na diversidade. Em Salvador, ele entrou em contato com as matrizes africanas e aplicou esses elementos à dança. No retorno a Vitória, recebeu o convite para trabalhar com a Cia. Negraô. “Na Cia. Negraô tive a experiência de explorar características da cultura popular do Espírito Santo”, explicou, citando, por exemplo, o ticumbi, manifestação cultural do extremo norte do Estado. Com a InPares, Gil Mendes agora desenvolve um trabalho que sinaliza para a pesquisa de movimentos. “No momento de coreografar, as perguntas são: que coerência eu posso dar a esse pensamento-corpo? E que corpo é esse que estamos trabalhando?”, refletiu. Sobre a criação coletiva, o coreógrafo definiu uma contaminação entre os diversos corpos e experiências. “As pessoas vão se contaminando pela convivência e pela produção conjunta e tematizada. Dessa forma criamos a unidade”, afirmou. Assim como Paulo Caldas, Gil Mendes também acredita no papel central do autor. “Eu trabalho interferindo, propondo provocações, intervindo no que os bailarinos produzem e sugerindo novos movimentos. Esse é o meu processo”, disse. Sobre Inumeráveis Estados do Ser, apresentado no Festival, Gil Mendes acentuou as peculiaridades do processo de criação. “Foi doloroso para os bailarinos porque partiu de um tema que foge da sequência de trabalhos que vínhamos fazendo. O processo se baseou na ideia de labirinto e contou com uma visita a um hospital psiquiátrico que deu uma guinada na pesquisa”, afirmou.

03. Relatos

Métodos de Trabalho: Teoria e Prática

Suely Machado & Marcelo Ferreira

Duas longas trajetórias dedicadas à dança. Suely Machado, diretora artística e coreógrafa que há 30 anos fundou o Grupo de Dança Primeiro Ato, e Marcelo Ferreira, um dos precursores da dança contemporânea no Espírito Santo hoje à frente da Cia. Teatro Urgente. A mineira e o capixaba dividiram com o público seus métodos de criação na segunda mesa de relatos do Festival ES de Dança 2012. Suely começou a dançar quando o Grupo Corpo abriu suas portas em Belo Horizonte, no ano de 1975. A dança chegou como meio de unir a música, a poesia e o esporte. “Meu método de trabalho tem muito a ver com a minha história particular, porque foi com esse olhar que passei a criar. A minha história de vida está nas coreografias, na minha dança”, disse a coreógrafa. O Primeiro Ato, formado em 1982 por bailarinos de escolas e estilos diferentes, surge com o desejo da criação compartilhada, já como grupo e escola de dança, trabalhando no limiar da dança com o teatro, o circo e a música. É esse desejo de criação coletiva e experimentada em grupo que permanece ainda hoje. “Sempre procurei trabalhar com coreógrafos que permitissem a participação do bailarino na criação, como o Tuca Pinheiro, que é um grande encenador. O Tuca criou no Primeiro Ato as obras Beijo nos olhos... na alma... na carne, inspirado em Nelson Rodrigues, e Sem Lugar, inspirado em Carlos Drummond de Andrade”, afirmou Suely Machado. Nessas duas obras, Suely destaca a participação ativa dos bailarinos na apreensão do universo dos escritores, suas vidas e escritos. “Trabalhar as biografias de Nelson e de Drummond, ler todas as obras, visitar as ambiências. O que ficou mais evidente e o que tocou cada um dos intérpretes, é isso o que dançamos”, destacou. Após esse período em que coreógrafos trabalharam em conjunto com a cia., Suely voltou a escrever e encenar, processo que resultou nos espetáculos Geraldas e Avencas e Adorno, no último apresentado no Festival ES de 2011. O trabalho de criação de Suely Machado se pauta na observação do cotidiano da cia. e seus bailarinos, nos temas abordados nas pausas do trabalho diário. “Começamos, eu e os oito bailarinos, a prestar atenção às inquietações, às conversas nos intervalos, no que está ficando urgente. A partir daí, pesquiso os assuntos e eles vão sendo alterados”, afirmou. Para ela, a força vital da dança reside na criação coletiva das cias. “Eu sou uma defensora dos grupos. Trabalhar em grupo é conviver com as diferenças, abrir o tempo da escuta para o que não é parecido comigo. Isso é educativo. Eu saio da minha bolha. Trabalhar em grupo é escolher o nós”, disse.

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O coreógrafo e bailarino Marcelo Ferreira iniciou seu relato lembrando de suas origens no interior do Espírito Santo e da influência do circo, para ele uma grande referência. Mais tarde, como estudante da Universidade Federal do Espírito Santo, Ferreira experimentou o contato com o teatro e a dança. “Quando comecei a dançar, o Espírito Santo não tinha tradição em dança contemporânea, existiam apenas as cias. de balé”, lembrou. Em 1986, com Magno Godoy, fundou a Cia. Neo-Iaô (mais informações sobre a história da cia. e a homenagem do Festival a Magno Godoy na página 8), precursora da dança contemporânea no Estado, influenciada pela dança butô japonesa do mestre Kazuo Ohno e pelo candomblé. “Esses eram grandes referenciais para nossa estética”, afirmou. A partir de 2003, Marcelo Ferreira continua sua pesquisa com a Cia. Teatro Urgente, que com Mefisto atinge a marca de dez espetáculos encenados. “Tenho escrito muito. São espetáculos com textos e também imagens em vídeo. Não há um grande tema. O legado do Magno na minha trajetória, e que eu tenho muito prazer em realizar, é pesquisar e criar espetáculos”, disse. Segundo ele, o conceito de uma obra aberta a novas possibilidades torna os espetáculos da Cia. Teatro Urgente pulsantes. “Adoro ter que desenvolver soluções e possibilidades em locais onde não há muito ou mesmo nada, como em alguns espaços em cidades do interior quando circulamos com nossos espetáculos”, afirmou.

01. mesa-redonda

as redes sociais e a difusão da dança contemporânea

Alejandro Ahmed, Gilsamara Moura & Paulo Gois Bastos

Um dado incontestável e algumas perguntas guiaram a primeira mesa-redonda do Festival. O dado: as redes (ou mídias) sociais são instrumentos cada vez mais presentes no cotidiano do público consumidor de arte. As perguntas: quais são as potências das novas mídias e quais seriam as potencialidades que esse tipo de comunicação direta com as plateias poderia oferecer à dança? O coreógrafo Alejandro Ahmed, da Cena 11 Cia. de Dança, de Santa Catarina, e Gilsamara Moura, coreógrafa paulista e professora-adjunta do curso de dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA) compartilharam com o público presente no auditório do Museu de Arte do Espírito Santo apontamentos e, por que não, angústias, em conversa mediada pelo jornalista e produtor cultural Paulo Gois Bastos. Ahmed, que há quase 20 anos explora com o grupo Cena 11 as possibilidades múltiplas da interface entre o corpo e a tecnologia, demarcou, a princípio, duas das diversas interações entre a dança e a internet. A primeira sendo o uso da rede como ferramenta de

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divulgação e marketing. “O que eu tento é fugir da ideia de divulgação como marketing. A rede social é um meio de aparência. Atinge as pessoas através da marca e não pelo que é de fato”, declarou. Outro ponto possível de diálogo entre as duas instâncias seria uma criação pautada, de fato, pela e para a internet. “Qual é esse lugar? Como criar dança pela internet? Por que produzir dança para a internet?”, indagou o coreógrafo, citando adiante o exemplo das produções que integram a dança à linguagem audiovisual com a proposta de uma nova linguagem. “Vídeodança não é só registro de dança, é a relação de dois corpos, o corpo da câmera e o do bailarino”. Para Alejandro Ahmed a internet pode ajudar a dança a ter acesso a algo que não esteja na esfera do palco, nem na presença física da plateia nos espetáculos, mas ainda estamos no início desse processo de compreensão. “Precisamos entender melhor as ferramentas e também como a dança pode sobreviver a essas mudanças ainda sendo dança. A internet e as mídias sociais não são apenas uma ferramenta, são uma extensão do agora”, disse. Gilsamara Moura buscou discutir as questões propostas pela mesa por outra vertente, a da difusão da dança pelos novos meios. Para ela, a dança contemporânea, em constante transformação e adaptação, deve se apropriar dos novos meios. “As reclamações do tipo ‘não tem público’ são recorrentes. Mas como divulgar os espetáculos? E por que apenas divulgar? É simplesmente para anunciar ou para propor algum tipo de troca com o público? Onde estão os pontos de encontro, o comum entre essa vida offline e a online?”, problematizou. Do seu ponto-de-vista, a dança é uma arte da vida offline, desplugada e presencial. “É preciso ter movimento para existir vida. A dança é uma manifestação que tem a necessidade dessa troca ativa entre o corpo que dança e o público”, disse, em seguida propondo ir além das camadas externas das redes sociais. “Temos que quebrar a crosta da superfície, ver onde existem as pequenas fissuras para descobrir se há algo embaixo. Eu acho que há muita coisa embaixo ainda a ser descoberta”, completou. Sobre a transmissão de espetáculos ao vivo pela internet (em livestream), técnica que já foi utilizada, por exemplo, no Teatro Vila Velha, de Salvador — o que não ocasionou a redução de público presente na casa —o coreógrafo Alejandro Ahmed ressaltou a importância das criações ao vivo e citou o exemplo das transformações promovidas na indústria fonográfica, no início dos anos 2000, a partir do surgimento do Napster, plataforma de compartilhamento de arquivos online. “Há ainda uma dificuldade técnica. Mas é sempre bom que pessoas assistam ao seu trabalho”, afirmou Ahmed. “Trazer o ‘ao vivo’ é importante. O que pode acontecer é que esse registro se torne também parte da obra e não apenas registre. Precisamos valorizar o ao vivo, isso já aconteceu com a música.


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02. mesa-redonda

dança de rua: significados e reflexões na contemporaneidade

Marcelo Gomes, Marcelinho Back Spin & Cristina Castro

O presidente da CUFA-ES, Marcelo Gomes, ou Marcelinho Hip Hop, abriu a mesa-redonda sobre danças de rua com uma sequência de frases emblemáticas, palavras que ressaltam o longo trajeto percorrido tanto no tempo, pois lá se vão mais de três décadas, quanto na escala de valores sociais, pois foi longo o caminho desde a marginalidade até a consagração como arte de todas as linguagens do movimento hip hop, como o rap, o grafite e a dança de rua. “Viemos para ficar, para aprender com os grandes profissionais e também para ensinar. Eu queria ter dezoito anos hoje”, disse Marcelinho, com um misto de orgulho do trabalho feito até agora e ansiedade pelo que virá. Sua fala inicial foi seguida de observações pertinentes sobre a relação das diversas danças com o espaço urbano, depoimentos da bailarina e coreógrafa Cristina Castro, da Cia. Viladança, sediada em um espaço formal, o Teatro Vila Velha, em Salvador (BA), e o também bailarino e coreógrafo Marcelo Francisco do Nascimento, o Marcelinho Back Spin, um dos pioneiros da dança de rua no Brasil. Cristina Castro, cuja formação é de bailarina clássica de repertório, tem experimentado, com a Cia. Viladança, os limites extra palco e recentemente desenvolveu um trabalho com o Bando de Teatro Olodum. “Me sinto saindo daquela torre de palácio para o mundo real”, afirmou, em referência ao isolamento no qual esteve,

por muitos anos, dançarina de balé clássico. Segundo ela, a rua é um dos temas mais importantes a se debater, “é onde a dança começou, como celebração da própria vida e do cotidiano”. “Nunca fui dançarina de rua, mas era muito física. Depois, já em uma Cia., tive a experiência de apresentar peças concebidas para o palco mas colocadas na rua”, contou. Compreendendo os espaços públicos como locais generosos, grande mananciais e ótimos observatórios para a arte, Cristina decidiu colocar as danças de rua na pauta do Teatro Vila Velha, um dos espaços mais tradicionais da capital baiana. “Coloquei como prioridade aproximar a dança de rua do Teatro Vila Velha e tenho encontrado preciosidades. A gente precisa criar atritos, porque a arte é feita disso”, afirmou. Para Marcelinho Back Spin a dança surgiu na rua e a relação entre os dois sempre foi profunda. Influenciado por James Brown, o papa do funk norte-americano, Marcelinho juntava sua turma para dançar em lugares como o Parque do Ibirapuera, a Galeria Olido e a Estação São Bento, em São Paulo. “Em 1993, chegamos a um ponto crítico na São Bento. Então fiz a proposta: ‘Vamos fazer um encontro com o pessoal de outros estados, um festival?’”, lembrou. Os convites foram enviados por telegramas, como o que o b-boy capixaba Ciborg recebeu e guarda até hoje. A Mostra Nacional de Hip Hop, que aconteceu em 13 de março de 1993, contou com o apoio de gente como Thaíde e DJ Hum, ícones do hip hop brasileiro. “A gente começou a articulação de um movimento. A gente não sabia que estava criando uma história, só queria dançar”, lembrou Back Spin. “Em cada lugar em que o hip hop existe, há uma história de resistência”.


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Para ele, o momento atual é outro ponto crítico fundamental para a história do movimento. “Respirar com as pessoas na rua isso a gente fez a vida inteira. Agora a gente também quer e tem que estar no espaço do teatro”, disse e completou lembrando a importância de ocupar os espaços dos prêmios e editais públicos. “Precisamos aprender a linguagem que se usa para aprovar os projetos. Nesses anos todos, minha companhia nunca fez espetáculos com dinheiro de fomento”, lembrou. Marcelinho Hip Hop emendou reforçando a demanda urgente das danças de rua. “Esse é o nosso grito, queremos mostrar nossas qualidades”, disse. Da plateia, a coreógrafa Suely Machado, do Grupo de Dança Primeiro Ato, enfatizou o valor de um espaço como este e a importância dos movimentos de dança de rua ocuparem os teatros. “Acho louvável. Todos nós temos que aprender a comunicação, essa arte de se fazer entender”, afirmou.

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Perspectivas da dança contemporânea

Flavia Dalla Benardina, Inês Bogéa & Fabiano Carneiro

A mesa de encerramento do Festival ES de Dança 2012 ocorreu no sábado e foi mediada pela bailarina e escritora Flavia Dalla Bernardina, com a participação de Inês Bogéa, diretora da São Paulo Cia. de Dança, bailarina, documentarista e professora do curso de especialização em Linguagens da Arte da Universidade de São Paulo, e de Fabiano Carneiro, coordenador de dança da Fundação Nacional das Artes (Funarte). Guiada pelo tema Perspectivas da dança contemporânea, Flavia lançou algumas perguntas com o objetivo de fundamentar a conversa. “O que é ser contemporâneo? Que modo é esse de fazer dança que é considerado contemporâneo?”, questionou. Inês Bogéa buscou o recorte da sua experiência à frente da São Paulo Cia. de Dança desde 2008, ano de fundação do grupo, para abordar as propostas da mesa-redonda. “O adjetivo contemporâneo começa a ser usado nos anos de 1970. Então já é uma chave de leitura velha. Será que precisamos renomeá-la?”, ponderou. Sua grande questão seria determinar qual o papel de uma cia. de dança mantida com verba pública no

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século XXI. “Basicamente, é uma instituição que produz e circula com os espetáculos. Mas que também busca responder a perguntas como ‘quais são os desafios e as possibilidades da dança no Brasil’ ao trabalhar a memória da dança”, disse, citando como exemplo os 21 documentários produzidos por ela em que se busca reconstruir a história da dança brasileira. Além disso, a cia. também atua na formação de plateia e de novos profissionais. “A São Paulo realiza uma média de 70 a 80 espetáculos por ano, tem uma programação contínua. Se o bailarino não está se apresentando ele está aprendendo algum novo repertório. Essa variedade implica que o artista saiba falar várias línguas de dança. Acredito que isso é possível”, afirmou. Hoje são 34 bailarinos no corpo de dança, 80 funcionários e uma média de 100 profissionais contratados anualmente. A São Paulo Cia. de Dança já foi vista por mais de 200 mil pessoas. “Acho que existe sim público para a dança, basta que a gente entenda qual é esse público”, analisou. Inês Bogéa concluiu compartilhando o que para ela é o grande papel das companhias de dança hoje no Brasil. “Promover o encontro das pessoas que resolveram pensar e olhar o mundo através da dança. Essa é a maior missão de quem faz dança hoje”, disse. Fabiano Carneiro, coordenador de dança da Funarte, apoiadora do Festival ES de Dança 2012, apresentou um panorama consistente do incentivo à dança promovido pelo Governo Federal. A apresentação consistiu em um apanhado amplo das políticas de incentivo à dança, como prêmios, editais, bolsas, realização de oficinas, apoio a festivais e a publicações de obras relacionadas ao universo e à história da dança brasileira. Para além desse panorama, Fabiano Carneiro identificou dois caminhos ainda a serem desbravados pelas políticas públicas de dança no Brasil. “A manutenção do grupo ou da cia. ainda é um problema, não há um modelo ideal”, afirmou. “Também estamos buscando formas de fomentar novos talentos”. A respeito dos projetos implementados e do modo de acompanhar seus impactos e resultados, Inês Bogéa citou o exemplo da São Paulo Cia. de Dança e lamentou o fato de que indicadores sobre, por exemplo, formação de plateia ainda não são mensurados de uma forma eficaz. “Ainda são poucas as pesquisas. Na São Paulo nós mantemos contato com as escolas que participam dos nossos espetáculos para mensurar o resultado dos programas”, lembrou.


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Os passos para a afirmação Marcelinho Back Spin cultiva há quase trinta anos o prazer de dançar. Das origens na Estação São Bento até o Festival ES 2012, ele é um dos expoentes do hip hop no Brasil


perfil

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o Brasil do final dos anos 1970, as festas de música black atraíam a atenção nas periferias e Marcelo Francisco do Nascimento era mais um adolescente paulista frequentando assiduamente os bailes. Mais de trinta anos depois, a cultura que se desenvolveu nas periferias a partir da música e da dança negras norte-americanas é um movimento de bases sólidas e futuro promissor, e Marcelo, alguns anos depois conhecido como Marcelinho Back Spin, tornou-se um dos principais expoentes do hip hop no Brasil. Com a Back Spin Crew, Marcelinho participou do Festival ES de Dança 2012 se apresentando em diversas comunidades nos territórios de paz do Estado Presente. Ele também compartilhou sua experiência de quase 30 anos na dança de rua em uma das mesas realizadas no Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo (Maes). “Passei por todas as fases do hip hop. Sempre escutei que era uma cultura norte americana, alguns dançarinos inclusive diziam que com o tempo o movimento iria acabar, mas eu fazia questão de dizer que o melhor ainda estava por vir”, afirma o coreógrafo e dançarino. Marcelinho pertence à primeira geração das danças urbanas no Brasil. Influenciado pelo funk de James Brown e por outros ritmos que ouvia nos bailes em Taboão da Serra, onde foi criado, ele se familiarizou desde cedo com o balanço da música negra norte-americana, primeiro passo antes de se jogar na cultura hip hop. Naquele período as possibilidades das danças de rua ainda eram pouco disseminadas no país. “A partir de l983 chegaram os clipes e filmes sobre e com a dança de rua. Foi quando eu assisti Flash Dance, principalmente, no qual aparecia o pessoal da Rock Steady Crew dançando o b-boying. Fiquei maluco! Pensei: ‘eu quero isso’”, revela Marcelinho. Tomado pela urgência da dança de rua importada das ruas de Nova York, Marcelinho dedicou a vida inteira à dança de rua. Começou como b-boy e depois desenvolveu estudos de popping e locking — variações também ligadas à cultura do asfalto. Em l985 ele articulava batalhas de b-boys na estação de metrô São Bento, no centro de São Paulo, reconhecido berço da cultura hip hop no Brasil. Foi na São Bento que Marcelinho conheceu Thaíde, na época b-boy e depois um dos mais importantes rappers do país, além de outros personagens da história do movimento que ajudaram a fundar a Back Spin Crew, grupo que até hoje é referência na dança de rua. “Eu e alguns outros dançarinos não achávamos que aquilo era moda, acreditávamos que o hip hop era uma cultura que tinha vindo para ficar. Então a gente se encontrava na São Bento nos sábados à tarde pra dançar, treinar e trocar ideia sobre a cultura e o fortalecimento dessas danças”, recorda.

Ω Difusão Na primeira fase, a Back Spin Crew contava com vinte e cinco dançarinos, circulava carregando o som a todo volume no ombro e promovia batalhas de dança em bailes e parques da cidade pelo puro prazer da dança. Com o tempo, outros grupos surgiram ajudando a multiplicar a cultura hip hop por todo o país. Marcelinho se orgulha da parcela de responsabilidade que tem na difusão do movimento. “Eu continuo articulando. Da primeira geração da São Bento, talvez eu seja um dos poucos ainda na ativa. Mas ajudei a difundir a dança de rua junto com toda a comunidade e vieram muitos frutos deste trabalho”, reconhece. Já em meados dos anos 1990, Marcelinho era um personagem importante também como produtor de festivais e como arte-educador em projetos sociais nas periferias de São Paulo. Compreendendo a cultura de rua como peça chave no desenvolvimento social e cidadão de jovens, ele defende a valorização de projetos que apresentem outra dimensão de vida para as comunidades. “A educação de crianças e jovens passa pela família, escola e também pelos projetos sociais. Quando tudo isto está interligado, você consegue resultados fantásticos”, avalia o dançarino. Atualmente, a cultura hip hop — não somente as danças, mas também o grafite, o DJ, o rap e os demais elementos — representa a linguagem que perpetua a voz das comunidades da periferia nos centros urbanos. Mas não só isso. Reconhecidas como expressão cultural, as danças de rua não estão apenas nas estações de metrô, mas também nos teatros, nos palcos de festivais e na televisão. “Naquela época, não tínhamos outra opção, hoje há o espaço nas salas de dança”. Desde os anos 1980, muita coisa mudou: multiplicaram-se os projetos sociais e os grupos de dança, a sociedade em geral passou a conhecer e a valorizar as danças de rua, e hoje o hip hop é difundido em todos os cantos do país. Entretanto, Marcelinho está atento ao fato de que, para a profissionalização do mercado, ainda há muito que melhorar. “Não existe fomento para as danças de rua”, critica. Após passar os primeiros dez anos dividindo a carreira da dança com empregos que garantiam sua subsistência, Marcelinho consegue hoje se dedicar exclusivamente à dança. A Back Spin Crew circula o país fazendo workshops, se apresentando em festivais e coordenando oficinas de dança. “Muitos conseguem viver de dança dando aulas, mas poucos conseguem viver de dança criando e realizando espetáculos”, comenta. Apesar de ter trilhado uma caminhada difícil, não há obstáculos que o impeçam de seguir cultivando o prazer de dançar.

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Uma história divertida da dança Da Ponta da Língua à Ponta do Pé, da Cia. Viladança do Teatro Vila Velha, de Salvador, usa uma linguagem bem-humorada para narrar ao público infantil o desenvolvimento da dança

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undada em 1998 pela bailarina e coreógrafa Cristina Castro, a Cia. Viladança obteve reconhecimento internacional com espetáculos que usam a linguagem contemporânea para traduzir a dinâmica da atualidade. Um dos grandes trunfos do repertório da Cia. é o espetáculo Da Ponta da Língua à Ponta do Pé, que estreou em 2004 e já foi visto por mais de 40 mil pessoas. O espetáculo, em linguagem divertida e acessível para crianças e adultos, foi apresentado no Festival ES de Dança 2012 em quatro sessões destinadas ao público jovem e realizadas no Teatro do Sesi, em Vitória. Nas apresentações da Cia., a plateia foi preenchida com os risos e comentários alegres das crianças, que ocuparam todos os assentos. Não poderia ser melhor para um espetáculo direcionado especialmente a eles. No camarim, antes das apresentações, os bailarinos podiam sentir o burburinho antes mesmo de subirem ao palco. Durante as apresentações, foi possível perceber o nível de atenção dedicado ao espetáculo. Da Ponta da Língua à Ponta do Pé, mistura teatro, música e dança de forma bem-humorada. O enredo conta a história de Zé, um garoto que adora andar de skate e quando se apaixona pela bailarina Isadora começa a descobrir o universo da dança. A partir daí, o espetáculo apresenta de forma didática a história da dança no Ocidente. Para as crianças, o show de cores, figurinos, movimentos e as músicas que vão da MPB ao pop, coreografadas e cantadas pelos bailarinos no palco, é como uma festa. A plateia vibra, torce pelos personagens e até dança junto, deixando os assentos como meros adereços do teatro. O espetáculo foi criado com o objetivo de difundir a linguagem da dança para as novas gerações, atuando na

formação de público e na educação para a arte desde os primeiros anos. A iniciativa deu tão certo que ganhou o reconhecimento internacional da Unesco pelo seu valor educacional e cultural. Descobrindo a dança da pré-história aos dias de hoje, passando pelas diversas transformações até o estabelecimento da dança como profissão, as crianças são embaladas por uma divertida trama que se posiciona dentro do universo juvenil, para quebrar preconceitos e levar informação às crianças, que respondem ao estímulo em êxtase. Leve e encantador, Da Ponta da Língua à Ponta do Pé apresenta novas referências a um público ávido por conhecimento.

da ponta da língua à ponta do pé Direção  Cristina Castro Coreografias  Cia. Viladança Texto  Cristina Castro e João Sanches, com a colaboração da Cia. Viladança a partir da pesquisa histórica de Lúcia Matos Assistente de coreografia  Jairson Bispo Elenco  Bárbara Barbará, Danilo Bracchi, Janahina Santos, Jairson Bispo, Leandro de Oliveira, Sérgio Diaz & Mariana Varjão Vozes dos bonecos  Camilo Fróes & Jarbas Bittencourt Músicas  Jarbas Bittencourt

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Primeiro Ato e sua colcha de detalhes Grupo de Dança Primeiro Ato, que há 30 anos dialoga com diversas linguagens artísticas, apresenta seus Pequenos Atos de Rua em seis espaços da Grande Vitória

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arde de sábado com vento sul no balneário de Jacaraípe, na Serra. Manhã ensolarada de domingo no Parque Pedra da Cebola, em Vitória. Em ambos, o movimento costumeiro de ciclistas e pedestres ganha o colorido diferente de oito bailarinos com os rostos pintados feito palhaços e movimentos tão leves como em um balé. O público acompanha, no centro da cena, duas bailarinas repetirem movimentos sinuosos enquanto um bailarino pedala alegremente em torno de uma escada, onde, por sua vez, apóia-se outra personagem. Enquanto um casal se espalha melancolicamente pelo chão no fundo do palco improvisado, outro bailarino ensaia movimentos circulares que serão encenados ao longo desses Pequenos Atos de Rua, do Grupo de Dança Primeiro Ato, uma das principais atrações do Festival ES de Dança 2012. Inspirado em contos do realismo fantástico, o espetáculo encontra na cena cotidiana a matéria-prima para quadros que se movem e transformam o cenário urbano em ambiente de sonhos e possibilidades. Criado exclusivamente para espaços públicos, Pequenos Atos de Rua foi apresentado em seis áreas livres da Grande Vitória, entre praças e parques, rompendo as barreiras entre o palco e a rua e reinventando a experiência do tempo e do espaço cotidianos dos transeuntes de Vitória, Vila Velha, Cariacica e Serra. São pessoas como Gerônimo Barbosa, vendedor ambulante que todos os dias monta sua pastelaria na Praça Encontro das Águas, em Jacaraípe. “Adorei! É o tipo de coisa diferente que faz a gente esquecer por um instante as coisas ruins da vida e tudo fica mais leve”, disse entre sorrisos. O que o senhor Gerônimo não sabe é que a peça a que ele acaba de assistir ali, por acaso, pertence a um

dos mais importantes grupos de dança profissional do Brasil. Fundado em Belo Horizonte, o Grupo de Dança Primeiro Ato tem 30 anos de experiência na sintonia da dança com teatro, música, literatura, circo, artes plásticas e outras linguagens. Segundo a fundadora, diretora e coreógrafa da companhia, Suely Machado, o grupo nasceu da vontade de unir diversas vertentes da dança em busca de um novo estilo. “Éramos quatro bailarinas de áreas diferentes: de jazz, de clássico e de contemporâneo. E tínhamos o desejo de criar uma assinatura coletiva a partir do encontro dessas ideias”, explica. Assim surgiu o Grupo de Dança Primeiro Ato, presença constante nos principais eventos de dança do país e da América Latina e pelo segundo ano no Festival ES de Dança. Ω Referência O primeiro espetáculo encenado era uma homenagem aos heróis das histórias em quadrinhos, algo completamente impensável no cenário conservador da dança brasileira em 1982. Isso aqui não é Gothan City é reconhecido como um marco para a dança contemporânea, além de ter influenciado bailarinos e coreógrafos pelo país. Trinta anos depois, o espetáculo ainda é reencenado pela companhia. Nos dias atuais, a experimentação de linguagens do Primeiro Ato está assimilada pela dança contemporânea brasileira, mas o grupo não cansa de se reinventar. “Seria arrogância dizer de onde vêm as influências das pessoas, mas não tenho dúvidas que nós somos referência desse estilo no Brasil”, aponta Suely Machado. Outro elemento que coloca o Primeiro Ato em destaque entre as demais companhias é a gênese coletiva de cada trabalho do grupo. Todos os bailarinos são


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colaboradores no processo criativo e também atuam nos outros eixos relacionados ao grupo profissional: o Centro de Formação Primeiro Ato, o projeto social Dançando na Escola e o EACC – Espaço de Acervo e Criação Compartilhada, local onde estão armazenados os equipamentos do grupo transformados em instalação e no qual funciona um ateliê de residência artística. Mesmo com tantas atribuições, a equipe trabalha com rigor exemplar, ensaiando até oito horas por dia, o que faz do Primeiro Ato um dos poucos grupos profissionais em atividade no país com dez espetáculos em repertório, prontos para serem encenados a qualquer momento. O grupo é tão versátil que passeia tanto pelas grandes produções para palcos majestosos quanto em esquetes menores influenciadas pelo teatro de rua, o circo e a performance. Nas palavras de Ana Virgínia, bailarina de longa data do Primeiro Ato, existe um diálogo muito amplo para compor o trabalho. “Não somos bem uma Cia. de dança. Somos mais um coletivo de artistas que trabalham em conjunto”, afirma a bailarina. A dinâmica do coletivo também possibilita que o processo de criação seja compartilhado. “A gente escolhe um tema que é discutido incansavelmente entre todos para depois cada bailarino ir a campo observar a realidade e entender como o corpo reage a cada situação”, explica a diretora e coreógrafa Suely Machado. Com a contribuição de cada um, a coreografia é montada como se costura uma colcha de retalhos, algo que os espectadores de Pequenos Atos de Rua puderam perceber durante as apresentações do festival.

pequenos atos de rua Direção artística  Suely Machado Coreografia  Suely Machado Bailarinos  Alex Dias, Ana Virgínia Guimarães, Danny Maia, Lucas Resende, Marcela Rosa, Pablo Ramon, Verbena Cartaxo & Verónica Santos Figurino  Pablo Ramon Trilha Sonora  pesquisa do Grupo de Dança Primeiro Ato

A peça é um pequeno jogo de rotinas convencionais redesenhadas pelos bailarinos que congelam as sensações e as desfazem em detalhes simultâneos, permitindo a cada encenação uma percepção diferente ao espectador. A simplicidade e a precisão do tempo e espaço são levados ao extremo, trazendo o lirismo à melodia do cotidiano. A coreógrafa Suely Machado é a maestra de uma sinfonia de movimentos. “A minha dança é uma dança do detalhe”, diz sobre as pequenas sutilezas que estão fora do foco principal e que vão se alternando de acordo com o ponto de vista. “Como um arco-íris, com um leque imenso de cores e, como tudo na vida, o tom depende do ângulo em que se está vendo”, conclui.


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Pequenos Atos de Rua, Grupo de Danรงa Primeiro Ato

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O ser contemporâneo e a dança

“Um corpo quer outro corpo/uma alma quer outra alma e seu corpo.” (Adélia Prado)

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De quem e do que somos contemporâneos? Antes de tudo, o que significa ser contemporâneo? Com essas perguntas, o filósofo italiano Giorgio Agamben inicia seu texto “O que é o contemporâneo?”, alinhando, inicialmente, sua resposta com o pensamento de Roland Barthes: o contemporâneo é o intempestivo. Intempestivo é aquilo que está fora do prazo, fora do tempo. Intempestivo é o inoportuno. Essa visão de Barthes faz ainda mais sentido quando Agamben cita Nietzsche em suas “Considerações intempestivas”, de 1874. Para ele, pertence ao seu tempo aquele que não coincide com este, nem está adequado às suas pretensões. É justamente esse anacronismo, essa não aderência, que torna o ser contemporâneo inatual a ponto de perceber e apreender o seu tempo, mais do que aqueles que estão ocupados demais em se orgulhar da sua cultura histórica. Como num túnel do tempo, deslizo para uma das mesas de debate do Festival ES de Dança 2012, especificamente a que trata da difusão da dança e sua relação com redes sociais e a internet — uma temática evidentemente contemporânea. Ali foram colocadas questões que parecem justamente traduzir esse deslocamento com relação ao nosso próprio tempo: como quebrar a aparente superficialidade da rede e perfurar sua casca dura em busca de algo mais consistente? Como fazer dança na internet, como divulgá-la sem se tornar redundante? Como ir além do que nos é oferecido? Aceitar as informações como são fornecidas pode nos tornar meros repetidores de ideias, apenas mais um perfil no livro dos rostos (o facebook). Na dança, poderíamos dizer que essa deglutição sem reflexão nos torna meros reprodutores de passos. Informação não é sinônimo de conhecimento e pensar com profundidade numa época de tantas velocidades é ser, no mínimo, intempestivo.

Essa foi apenas uma das questões colocadas nos ricos diálogos que se estabeleceram nos cinco dias de festival. As trocas de experiências entre coreógrafos locais e de outros estados ressignificaram as noções de fronteiras e reforçaram a importância dos programas de residência e do intercâmbio artístico. Além disso, os diálogos sobre os significados e perspectivas da dança contemporânea, e a voz — em claro e bom tom — da cultura hip hop trouxeram à tona as diferentes versões da contemporaneidade na dança. Veja que aqui não se fala de uma dança contemporânea, mas de um ser contemporâneo que dança. Isso está evidente na dança de rua que busca atingir espaços além da margem, que almeja falar a palavra certa, escrever o texto certo, na expectativa de ocupar tantos outros lugares, como o teatro. É interessante perceber que para a dança de rua, o teatro é o outro lugar desejado. As diversas formas de investigação que prescindem de guias de ideias correlatas sugerem que nos posicionemos como um vírus, constantemente mutável, assumindo essa condição como virtude para romper com o paradigma que ser contemporâneo é unicamente ser superficial. A dança existe para não ter poder, o corpo funciona como cultura, é preciso ter vontade com discernimento e autonomia para romper com verdades prontas, reduções e generalizações. Já a dança na rua — seja ela um flashmob ou uma performance, uma dança de rua ou contemporânea — oferece um curativo à fenda que se instituiu nos modos de existir, que inscreve poesia nos terminais, parques e praças, no vento, no tempo, no silêncio, e nos convida a ampliar as noções de espaço e a sair do próprio lugar como uma das formas de conhecê-lo. Também faz parte do jogo a fluidez divertida nos movimentos de uma dança que tem a legítima intenção de se comunicar. Assim como a pesquisa detalhada do gesto, que confere a cada parte do corpo uma função a cumprir, sem, por isso, destacá-la do todo. A dança como pesquisa, comunicação ou poesia traz nos corpos os motivos mais diversos para criar: a restrição, o espaço, os objetos.


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Ballet 101, São Paulo Cia. de Dança

A perfeição estética chama o bailarino a cumprir funções múltiplas, a alcançar uma virtuose de movimento, o que muitas vezes lhe dá como recompensa alguns dilemas de adequação. Nesse contexto, vieram à tona as competições, concursos e premiações, como forma de atender a um mercado. Talvez seja esse o drama do bailarino clássico contemporâneo. Nos debates, outro ponto que mereceu atenção tratou da sustentabilidade nos modos de fazer a dança, seja no respeito com o próprio corpo, seja na diversificação das formas de captação de recursos. Autoria é responsabilidade, o compartilhamento gera autonomia e a liberdade é, de fato, uma escolha. Ser livre é justamente escolher. Hoje questionamos nossa capacidade de presença — em experiências ao vivo, não nos descolamos do twitter, facebook e instagram — como se na rede reforçássemos nossa existência. O ser contemporâneo precisa disso: acertar as contas com seu tempo, tomar posição em relação ao presente, como afirmou Nietzsche. Agamben, de forma acertada, prossegue dizendo que o ser contemporâneo é aquele que mantém o olhar no seu tempo, não para ver as luzes, mas o escuro. Ainda segundo o filósofo, é por isso que ser contemporâneo é uma questão de coragem: porque significa ser capaz

não apenas de manter fixo o olhar no escuro da época, mas também de perceber nesse escuro uma luz que, dirigida para nós, distancia-se infinitamente de nós. Ou ainda: ser pontual num compromisso que se pode apenas faltar. (p.65) Sentada em frente ao mapa das extravagantes meditações do artista plástico capixaba Nenna, no MAES, que abrigou os relatos e as mesas redondas dessa edição, ouvi de uma voz doce, numa conversa absolutamente despretensiosa, que a dança funciona como uma acupuntura para os lugares por onde passa. Dizem que ela deve atingir o maior número possível de pessoas. Talvez esse seja um projeto ousado demais — não cabe todo mundo em tudo. Mas se existe uma propriedade que a dança de fato opera é a de alterar o padrão de energia do que está ao seu redor. Mesmo que na plateia haja meia dúzia de pessoas ou uma cidade inteira. Talvez isso também queira dizer que enxergar as coisas sob a luz é para todos, enxergar a luz no escuro é para os contemporâneos. Flavia Dalla Bernardina, bailarina, advogada, cronista e ensaísta. flaviadallabernardina@gmail.com


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Um ótimo exemplo de política pública para a dança

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Se o objetivo era apresentar a diversidade da dança, levá-la a diferentes espaços, reunir pessoas para conversar e refletir, gerar polêmicas e controvérsias, democratizar o acesso, discutir sobre investimento, financiamento, sustentabilidade, difusão e fomento, posso afirmar que a missão foi cumprida. O Festival ES de Dança, que aconteceu entre 20 e 24 de junho de 2012, nas cidades de Vitória, Cachoeiro de Itapemirim, Vila Velha, Serra, Viana e Cariacica, é um bom exemplo que pode e deve ser tomado como uma referência nacional a ser estabelecida nos próximos anos para a dança. Ao receber o convite para acompanhar o festival, participar de uma mesa e escrever este breve texto, não hesitei em aceitar. Interessava-me conhecer um pouco do cenário da dança e da cultura do Espírito Santo e as tão famosas terras capixabas. Como pessoa atenta às políticas públicas para a área da dança — tanto pela preocupação que carrego como artista militante, quanto porque me debrucei para escrever e defender uma tese de doutorado sobre este tema —, pude observar que o Festival ES de Dança democratiza esta linguagem. Flashmobs, relatos de experiências coreográficas, mesas de debates, bate-papos, espetáculos infantis, apresentações de coreógrafos independentes, performances urbanas, oficinas, espetáculos de companhias locais e nacionais, todas estas atividades se configuraram como espaços de troca, aprendizado e descoberta, além de atingir plateias diversas como a infantil, a juvenil, a de transeuntes pegos de surpresa na rua, artistas,estudantes e profissionais. Outra boa surpresa foi ver a cena hip hop, sempre engajada e organizada politicamente. A mesa sobre o movimento, que vem crescendo de forma impressionante e conquistando palcos e espaços em festivais de todo o país, foi emocionante. Jovens e adultos demonstraram dedicação à dança, além da esperança em conquistar mais espaço para as danças de rua e, sobretudo, muita determinação em estabelecer pontes constantes com profissionais já reconhecidos no cenário nacional. A presença do coordenador de Dança da Funarte, Fabiano Carneiro, também marcou um importante momento na

mesa “Perspectivas da Dança Contemporânea”, com a exposição dos projetos e programas de políticas públicas para a dança em nível nacional. Muitas outras ocorrências são dignas de destaque, como os relatos, com diferentes doses de emoção nas palavras de coreógrafos e dançarinos de vários estados como: Alex Neoral (RJ), Paulo Caldas (RJ), Gil Mendes (ES), Marcelo Ferreira (ES), Suely Machado (MG) e Marcelinho Back Spin (SP). A mesa da qual participei, compartilhada com o coreógrafo da Cena 11 Cia. de Dança, de Florianópolis, Alejandro Ahmed, também merece atenção. Neste encontro foram discutidos temas relevantes sobre a difusão da dança contemporânea, os desafios, as maneiras de colaboração e a possibilidade de usar a web como ferramenta de divulgação. Quero finalizar parabenizando a iniciativa do Governo do Estado do Espírito Santo, bem como a toda equipe que nos recebeu e, principalmente, o público que compareceu aos teatros e que interagiu nas ruas. Pensar políticas públicas para a dança, em nosso país, não é uma tarefa fácil e de simples soluções. Os gestores e responsáveis por esta tarefa devem permanentemente ouvir a classe, apresentar propostas coerentes e que contemplem vários segmentos, saber adaptar, transformar e recriar, receber as críticas e refletir sobre elas, conhecer outros modelos, compartilhar experiências e tentar, principalmente, consolidar ações e programas para que tudo isso não se torne refém da história política e cultural brasileira que é partidária, de desmanche e sucateamento. Nós, artistas e gestores culturais, temos uma missão sem fim: a de estarmos atentos permanentemente e de entendermos que somos agentes políticos, responsáveis pela construção de nossa área de conhecimento, de nossa profissão e de nossa paixão que é a dança. Vida longa ao Festival ES de Dança. Gilsamara Moura, artista da Dança; docente da Escola de Dança/UFBA; diretora do Grupo Gestus e do Gestus Cidadãos. gilsamaramoura@gmail.com / www.gestus.com.br


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Theatro Carlos Gomes

Programação Quarta-feira, 20 FlashMob  Yuriê Perazzini  ·  Reta da Penha, Vitória FlashMob  Yuriê Perazzini  ·  Em frente à Assembléia Legislativa, Vitória FlashMob  Yuriê Perazzini  ·  Pça. Costa Pereira, Vitória Cultura Presente  Grupo Vitória Break  · Terminal de Laranjeiras, Serra Relatos  Alex Neoral & Mitzi Marzzuti  ·  MAES, Vitória Coreógrafos Independentes  Armando Aurichl, Jordan Fernandes Santos, Nerdin Montenegro Alvarez, Luciana Zanandréa & Patrícia Miranda  · Teatro do SESI, Vitória Espetáculo de Rua  Markus Konká  ·  Pça. Costa Pereira, Vitória espetáculo  Guia de Ideias Correlatas Cena 11 Cia. de Dança · Theatro Carlos Gomes, Vitória

Quinta-feira, 21 espetáculo infantil  Da ponta da língua à ponta do pé Núcleo Vila Dança  · Teatro do SESI, Vitória

Cultura Presente  Grupo Bioshock Crew  · Terminal de Campo Grande, Carapina Cultura Presente  Grupo Bioshock Crew  · Terminal de Vila Velha, Vila Velha espetáculo infantil  Da ponta da língua à ponta do pé Núcleo Vila Dança  · Teatro do SESI, Vitória Relatos  Paulo Caldas & Gil Mendes  ·  MAES, Vitória Mesa  As redes sociais e a difusão da dança contemporânea  Alejandro Ahmed, Gilsamara Moura & Paulo Gois Bastos ·  MAES, Vitória Coreógrafos independentes  Armando Aurich, Liliani Barbosa Cunha & Patrícia Miranda  · Teatro do SESI, Vitória espetáculo  Quinteto  Stacatto | Paulo Caldas Cia. de Dança  · Theatro Carlos Gomes, Vitória

Sexta-feira, 22 cultura presente  Grupo Bioshock Crew & Marcelinho Back Spin Crew  · IASES, Cariacica espetáculo infantil  Da ponta da língua à ponta do pé Núcleo Vila Dança  · Teatro do SESI, Vitória espetáculo de rua  Pequenos atos de rua  Grupo Primeiro Ato  ·  Pça. Duque de Caxias, Vila Velha Cultura presente  Grupo Bioshock Crew & Marcelinho Back Spin Crew  ·  Nova Rosa da Penha I, Cariacica


p r o g ra ma ç ã o

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espetáculo infantil  Da ponta da língua à ponta do pé Núcleo Vila Dança  · Teatro do SESI, Vitória Relatos  Marcelo Ferreira & Suely Machado  · MAES, Vitória Mesa  Danças na rua, significados e reflexões na contemporaneidade  Cristina Castro, Marcelo Gomes & Marcelinho Back Spin Crew  ·  MAES, Vitória espetáculo de rua  Pequenos atos de rua  Grupo Primeiro Ato  ·  Parque da Cidade, Jacaraípe, Serra espetáculo  Insone  Grupo Z de Teatro  · Theatro Carlos Gomes, Vitória espetáculo  As cançoes que você dançou para mim Grupo Focus  · Teatro Rubem Braga, Cachoeiro de Itapemirim espetáculo  Nega Lilu, Inumeráveis Estados do Ser, Via Sacra & Conexões  Valeska Gonçalves, Cia. In Pares, Cia. Teatro Urgente & Cia. Enki de Dança Primitiva Contemporânea · Theatro Carlos Gomes, Vitória

Sábado, 23 espetáculo de rua  Pequenos atos de rua  Grupo Primeiro Ato  ·  Pça. Av. Expedito Garcia, Cariacica cultura presente  Grupo Vila Velha Force e Break & Marcelinho Back Spin Crew  · Terra Vermelha, Vila Velha espetáculo de rua  Pequenos atos de rua  Grupo Primeiro

Ato ·  Pça. Encontro das Águas, Jacaraípe, Serra mesa  Perspectivas da dança contemporânea  Inês Bogéa, Fabiano Carnerio & Flavia Dalla Bernardina  · MAES, Vitória Cultura presente  Bioshock Crew & Marcelinho Back Spin Crew  ·  Vila Bethânia, Viana flash mob  Yuriê Perazzini  ·  Praia de Camburi, Vitória espetáculo  Ballet 101, A distância entre uma esquina e outra & Traduzir-se  São Paulo Cia. de Dança, Homem Cia. de Dança & Cia. de Dança Mitzi Marzzuti  · Theatro Carlos Gomes, Vitória

Domingo, 24 espetáculo de rua  Pequenos atos de rua  Grupo Primeiro Ato  ·  Parque Pedra da Cebola, Vitória Cultura presente  Ultimate B. Boys & Marcelinho Back Spin Crew  ·  Pça D. João Batista, Vitória Cultura presente  Grupo Vitória Break, Face da Luz Break & Marcelinho Back Spin Crew  ·  Pça. Central, Feu Rosa, Serra espetáculo de rua  Pequenos atos de rua  Grupo Primeiro Ato  ·  Parque Barreiros, Vitória espetáculo  As canções que você dançou para mim  Focus Cia. de Dança  · Theatro Carlos Gomes, Vitória


fe s t i va l e s de dança

2 0 12

Festival ES de Dança junho de 2012

governo do estado do Espírito Santo

programação visual

Governador

Renato Carniato

Renato Casagrande Vice-governador

Givaldo Vieira

Theatro Carlos Gomes Diretora

Secretaria de Cultura do Espírito Santo

Maria de Fátima Pimentel Assessora Especial

70

Secretario de Estado da Cultura

Dayse Mara Maciel

Maurício José da Silva

Luz

Sub-secretário de Estado da Cultura

Erlon Jose Paschoal

Alcides Pereira Alan M. Neves

Sub-secretária de Estado de Patrimônio Cultural

som

Joelma Consuêlo Fonseca e Silva

Eudes Roberto Soares

Gerente de ação cultural

Palco

Christiane Wigneron Gimenes

Luiz Claudio Siqueira Bilheteria

Coordenação de Formação Artística e Cultural

José Carlos Damasceno Luciana R. Lucas Camareira

Coordenador

Ana Ortelã

Luiz Carlos Almeida Lima

Recepção

Assessoria

João Carlos Nepomuceno

Marcelo Siqueira Elza Filgueiras

Técnico Administrativo

Carlos Augusto Brotas Corrêa

Estagiários

Rayssa Reis Renan Oaks

museu de arte do espírito santo (maes) Diretora

Coordenação de Difusão e Intercâmbio de bens culturais

Maria Inês Loureiro Assessora Especial

Coordenadora

Rosane Baptista

Rita Sarmento

Supervisor de Espaço

Assessoria

Joaquim Galdino de Oliveira Raquel Baelles

Rita de Cassia Rodrigues Simone Devens Vinicius Fabio Andrea Buenes Herialdo Plotegher


f i ch a t é c ni c a

instituto de ação social e cultural sincades

produção executiva - believe eventos

presidente

produtora executiva

Idalberto Luis Moro

Julyana Gobbi

gerente executivo

Coordenador de produção - theatro carlos gomes

Dorval de Assis Uliana

Leandro Bacellar

coordenador administrativo financeiro

Coordenador de produção - teatro do sesi

Patrícia de Castro Henrique

Bruno Machado

coordenadora de programas e projetos

Coordenador de produção - apresentações

Ivete Paganini

em espaços abertos

Analista de projetos

Keedmar Bragança

Lívia Caetano Brunoro

Coordenadora de receptivo e logística

assistente de projetos

Ivone Carvalho

Daphne Quinelato Jornalista

Silvana Sarmento Costa

técnicos - teatro do sesi

coordenador administrativo

Danilo Pacheco

luz

Fábio Prieto som programa rede cultural jovem

Gustavo Rosse

coordenadora

Kênia Lyra

Apoio Técnico e Administrativo

gestores de projeto

Amanda Brommonschenckel Francinardo de Oliveira Muriel Falcão Robyson Vilaronga Thaís Apolinário

Sesi Thiago Bossois Silvia Bassini

jornalista

Revista

Leonardo Lopes programador

Textos

Murilo Polese Designer

Vitor Graize Carolina Ruas

Paulo Roberto Oliveira Teixeira

edição

Vitor Graize projeto gráfico e diagramação

Wérllen Castro Fotógrafos

Ariny Bianchi  pg. 14-16, 19, 37-38, 40-41, 44-45, 55, 56, 67 Carlos Antolini  pg. 02, 04-06, 20-36, 58-59, 61, 65, 68-69, 72 Damon Almeida  pg. 12, 47-48, 62-63, 53

71


Insone, Grupo Z de Teatro


e d i t o ri a

in f o

73

TRANSPORTANDO CIDADANIA


fe s t i va l e s de danรงa

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2 0 12


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