ISSN 2236-0425
N Ó S N º. 0 3 • J u n h o d e 2 0 1 1
A revista Nós chega a seu terceiro número e se consolida como um importante veículo de comunicação das juventudes do Espírito Santo. Dentre as várias ações implementadas pelo Programa Rede Cultura Jovem (PRCJ), a repercussão alcançada pela revista tem sido especialmente relevante e nos estimula a investir cada vez mais em políticas que fomentem a participação ativa dos jovens na construção de uma sociedade mais igualitária e que fortaleçam as diversas expressões culturais das novas gerações. A partir deste número, a Nós desdobra-se por meio de conteúdos multimídias disponibilizados no Portal YAH!. Desse modo, é ampliada a participação dos leitores que podem acessar, sugerir e comentar textos, fotos e vídeos que compõem a publicação. Vale mencionar que a equipe do PRCJ incentiva o envolvimento de jovens de todo o Estado na elaboração dos temas e em todo o processo de criação da revista. Acreditamos que o trabalho contínuo em prol das juventudes realizado pela Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo, com foco na arte e na cultura, tem contribuído para o avanço social, político e cultural de nosso Estado. Boa leitura a todos!
José Paulo Viçosi Secretario de Estado da Cultura do Espírito Santo
Caro Leitor, A partir da ação colaborativa, a revista Nós promove a visibilidade das diversas expressões das juventudes do Espírito Santo. Um corpo de 28 colaboradores foi mobilizado para criar abordagens nos mais diferentes formatos. O resultado é uma publicação recheada de entusiasmo e inventividade. Nessa terceira edição, temas como trabalho, participação e experimentação estão presentes em quase todas as pautas. Aqui, a produção artístico-cultural protagonizada por jovens capixabas é abordada por meio de textos, fotos e ilustrações cuja autoria pertence a articulistas e criadores igualmente jovens. Com mais páginas, a Nós também irá estender a sua ação editorial para o ambiente web. Em breve, além de ser disponibilizada na internet, a construção da publicação também poderá ser acompanhada pelo meio virtual. Com isso, o processo editorial da revista estimula uma permanente atmosfera de colaboratividade por meio da veiculação de conteúdos multimídia. Repercurta a Nós e contribua com a expansão desse espaço dedicado à arte e à cultura jovem capixaba!
EDITORIAL
NOVELO · 5
SUMÁRIO
06, Colaboradores 08, Circuito 11, Crochê Literário 15, Novelo 30, Entrevista 33, Crítica Emaranhada 39, Costura a dois 42, PRCJ 47, Observatório 48, Artigo 50, Nossa Galeria 58, Arremate
6 · COLABORADORES
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01. André Arçari 02. Ariny Bianchi 03. Brunella França 04. Dayane Freitas 05. Fabiano de Oliveira (Alemão) 06. Felipe Puff Gomes 07. Felipe Mourad 08. Filipe Mecenas 09. Gustavo Senna Azeite 10. Henrik Carpanedo 11. Isabella Mariano 12. Ivo Godoy 13. Karina Viega 14. Laíssa Costa Gamaro 15. Lívia Corbellari 16. Lorena Regattieri 17. Luara Monteiro 18. Marianna Schmidt 19. Natássya Carvalho 20. Nina Uyttenhove 21. Paula Dorsch 22. Rafael Lobo 23. Rodrigo Hipólito 24. Saulo Pratti 25. Savya Alana 26. Sthefany Frassi 27. Wérllen Castro 28. Yury Aires
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* Os perfis e os contatos dos colaboradores desta edição estão na página 55.
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CIRCUITO
foto Luara Monteiro
A CULTURA CAPIXABA ESTÁ DENTRO DO FORA DO EIXO foradoeixoes.wordpress.com Sustentabilidade, colaborativismo, produção cultural e economia solidária são os elementos básicos que regem o Circuito Fora do Eixo. Atualmente, o Circuito articula e gera visibilidade para iniciativas espalhadas em cidades que estavam à margem da circulação artísticocultural do Brasil. Faz um ano que essa rede fortalece sua atuação no Espírito Santo e tem desenvolvido diversas ações com
um grande poder de mobilização. Por aqui, foi aberta a sede do Escritório FDE/ES e realizado o Festival Grito Rock Vitória já nos primeiros meses de 2011. Nas terras capixabas, o Fora do Eixo trabalha com vários coletivos multi-artísticos, além de agregar cineclubes e bandas em torno de um objetivo comum: movimentar a cena capixaba e criar mais espaços e oportunidades para quem trabalha com cultura.
O comando digital de FepaS Lançado no final de janeiro deste ano, o álbum CMDO Guatemala, de Fepaschoal, se destacou em importantes plataformas digitais de distribuição da música independente. No final de fevereiro, uma das faixas do disco ocupou o primeiro lugar entre as 40 mais acessadas do Trama Virtual e chegou
a fazer parte da lista com as dez músicas recomendadas pelo site. A boa repercussão rendeu o convite para o músico participar, no final de maio, de uma edição do Ensaio Ao Vivo pela TV Trama. Antes disso, o CMDO Guatemala também havia ganhado a home do site norte-americano ONErpm.
CIRCUITO · 9
POLÍTICA DE JOVEM PARA JOVEM
Um pouco do 7º RDesign Entre os dias 21 e 24 de abril deste ano, Vitória foi sede do 7º Encontro Regional de Estudantes de Design ES/RJ: o RDesign. O evento abordou a importância da cultura material e influência da memória gráfica e dos processos técnicos mais rudimentares do design na sociedade contemporânea. O encontrou contou com 370 participantes vindos de várias partes do País. Essa diversidade proporcionou um ambiente de discussão, intercâmbio e enriquecimento intelectual. O Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), em Jucutuquara, foi o local do 7º RDesign. A programação contou com apresentações de trabalhos acadêmicos, oficinas, palestras e, claro, festas descoladas e bem animadas!
ARTE URBANA CAPIXABA O graffiti capixaba ganha espaço pela qualidade dos trabalhos e pelo seu poder de articulação. A Semana do Graffitti, realizada entre 27 de março e 02 de abril deste ano, apresentou uma extensa programação e envolveu Vitória, Vila Velha, Serra e Guarapari. Nessas cidades aconteceram exposições, intervenções urbanas, bate-papos, exibição audiovisual, palestras e apresentações musicais. Esse calendário em torno da arte urbana movimentou um público de cerca de mil pessoas. No próximo ano, o evento deve ser ampliado e ter uma participação ainda maior de grafiteiros de outros estados; o que gera uma projeção para a cena local, além do intercâmbio de estilos e de técnicas. No mês anterior à Semana do Graffiti, a galera também havia colocado seus sprays para funcionar em Cachoeiro do Itapemirim, mais especificamente, na rua onde fica a casa na qual o cantor e compositor Roberto Carlos passou sua infância. Desenhos sobre a carreira do Rei agora ocupam o entorno da residência.
No último dia 14 de maio, foi lançada a Frente de Políticas Públicas de Juventude do Espírito Santo. Constituída por entidades preocupadas com a efetivação das políticas voltadas aos jovens, esse espaço de articulação visa mobilizar as diversas juventudes capixabas para a 2ª Conferência Nacional de Políticas de Juventude, prevista para dezembro deste ano. A Frente também reivindica a instituição do Plano e do Conselho Estadual de Juventude, previstos pela Lei Estadual nº 8.594/07. Não fique de fora desse processo!
PARA APRENDER A GOSTAR DE MÚSICA www.fames.es.gov.br No último mês de abril, a Orquestra Pop Jovem da Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames) deu início à temperada 2011 dos Concertos Didáticos. As apresentações fazem parte do projeto Cultura na Escola, iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo (Sedu) voltada para os alunos da rede estadual de ensino. A série de concertos acontece sempre com grupos da Fames que são renomados pelo destaque no cenário da música nacional. Nessas apresentações, a música é abordada e narrada de maneira didática, dando a oportunidade dos alunos apreciarem e aprenderem sobre a obra, o autor e os instrumentos musicais. Para saber sobre o projeto e o calendário de concertos acesse o site ou entre em contato com a assessoria de comunicação da Fames pelo telefone 3636-3611.
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XVIII FESTIVAL DE INVERNO DE DOMINGOS MARTINS
PARA MEXER O CORPO
festivaldomingosmartins.com.br
Entre os próximos dias 7 e 10 de julho, acontece o Festival ES de Dança. O evento, que vai ocupar os palcos do Theatro Carlos Gomes e do Teatro do Sesi, em Vitória, visa fortalecer o mercado de trabalho artístico na área da dança no Espírito Santo. A programação do Festival contará com oficinas, mesas de debate, apresentação de coreografias de novos coreógrafos, espetáculos de dança de companhias locais, espetáculos nacionais de dança contemporânea para público infantil, além de dança urbana. A coreógrafa, bailarina, professora e pesquisadora de dança Angel Vianna será homenageada e também participará de uma das oficinas oferecidas pelo evento. Até o final de maio, as companhias de dança e os coreógrafos locais puderam inscrever seus trabalhos para serem apresentados durante o Festival. O resultado desse cadastramento será divulgado este mês. A iniciativa é uma realização da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), em parceria com o Instituto Sincades e o Sesi.
Entre os próximos dias 22 a 31 de julho, as montanhas capixabas ouvirão muita música clássica e popular. Nestes dias acontece o XVIII Festival de Inverno de Domingos Martins cuja edição celebra o bicentenário de nascimento do compositor húngaro Franz Liszt e também homenageia o compositor e poeta Nelson Antônio da Silva, Nelson Cavaquinho. O evento é uma oportunidade para jovens músicos aperfeiçoarem seus conhecimentos, pois o corpo docente do Festival é formado por músicos de alto nível técnico e de reconhecimento internacional. Por lá também circula gente de várias partes do Espírito Santo e do Brasil, o que possibilita um excelente intercâmbio de experiências musicais. As inscrições para 27 oficinas oferecidas este ano já estão abertas e podem ser feitas até o dia 15 de julho pelo site do evento.
A galera no teatro popular teatroencenacao.wordpress.com Um público formado por cerca de 1.900 jovens, adolescentes e crianças do município de São Mateus assistiu à programação do I Festival de Teatro Araçá (Festa). A mostra, realizada entre 23 de maio e 3 de junho deste ano, apresentou textos feitos a partir de contos populares e aconteceu no Salão Benedito e nas escolas públicas de ensino fundamental da região. Ao fim de cada apresentação, a galera participou de rodas de conversas sobre os detalhes da montagem e sobre a atuação do elenco. As peças foram produzidas a partir de oficinas de teatro amador desenvolvidas pelo projeto Lê Melhor Quem Lê a Vida, uma ação do Centro Cultural Araçás.
SAIA DA GARAGEM!
Por inclinação artística ou pelo simples divertimento, é comum os jovens formarem bandas com amigos para tocarem seus estilos preferidos. Muitos deles sonham em saírem da garagem e se apreasentarem para um público maior. A partir desse interesse, o Centro de Referência da Juventude de Vitória (CRJ) criou o projeto Ensaio Aberto, que incentiva grupos independentes dando a
oportunidade de se apresentarem gratuitamente no espaço do próprio CRJ. Os shows acontecem quinzenalmente às sextas-feiras. Por lá, já passaram diversos gêneros musicais como rock, hip hop e reggae. O CRJ também mantém um estúdio popular onde as bandas podem ensaiar de graça. Saiba mais pelo telefone 27-3132-4042.
crochê literário · 11
A revista online Graciano traz resenhas, entrevistas, debates e publicações de textos literários. A publicação é uma realização do Cronópio – Discussão e Produção Literária, iniciativa vinculada ao Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo e à RELer&Fazer – Rede de Experiências em Leitura, e lança um olhar jovem sobre a produção literária contemporânea capixaba. Nas páginas a seguir, Isabella Mariano, integrante da equipe editorial da Graciano, apresenta o poema de Sidney Spacini e a prosa de Brunella Brunello.
As seis edições da revista Graciano estão disponíveis em issuu.com/revistagraciano
12 · crochê literário
Rivotril Sidney Spacini
Dois comprimidos redondos, redondos pra eu dormir feito um neném doente de refluxo me remexendo, contorcendo, mas enfim dormindo o sono dos injustos. Quase 5:00 da manhã eu entreguei os pontos e fui até a prateleira das delícias tarja-preta encontrar qualquer coisa que me desse uma pancada tão forte, mas tão forte, que eu esquecesse a maldita dor auto-imposta e fosse dormir. Vide bula. Alucinações, tonteira, redução dos batimentos cardíacos Parar o coração. Meti dois na boca de uma vez, joguei o último gole da última lata da última cerveja que havia em todo o universo do meu apartamento vazio mal iluminado. Amassei a lata contra a parede, quase um murro, me joguei na cama. Caixas de som cuspiam tango. Tudo pra mim era tango. Tomem conta de mim Agentes secretos intra-venosos. Supram-me de tudo que eu posso desejar: Paz Minha cama me dá nojo. É uma massa de sentimentos, palavras e gestos indeléveis ali feito almas penadas me assombrando. Talvez devesse mudar de cama. De apartamento. De corpo. A cabeça pulsa como se cansado de tudo. Entrego os pontos, e os prantos me errem que eu quero dormir. foto francisco neto
crochê literário · 13
Moça dos Olhos Brunella Brunello
Era assim a moça dos olhos: tinha cabelos longos, um vestido bonito, uma sandália que não sei explicar. Ela deve, bem que deve gostar de praia, e agora está com muito calor. Vi a moça, pela primeira vez, no ônibus. Ela entrou e eu já estava lá, de frente para ela. Nós em pé, segurando na mesma barra, perto da porta. O dia era de sol e acho que nem eu, nem ela, queríamos pegar aquele ônibus, nem ônibus nenhum. Os olhos? Não sei se eram os dela, ou se eram os meus. Sei que fui olhando e olhando aquilo tudo. Só não perdia o ponto porque a viagem da moça terminava antes da minha. Na primeira vez, desci, atônito, e fui fazer o que era de fazer. Na volta, no mesmo lugar que ela desceu, ela subiu. E lá estava ela, outra vez, na minha frente. Me percebeu e sorriu. Eu sorri também. Mas não sei se sorri do jeito certo, porque foi meio assim, de surpresa, meio atrapalhado. Mas sorri. Quis falar, mas coragem me faltou. A ela não. Era simpática, faladeira. Dava bom dia, oi, tchau, boa tarde. Eu respondia e ela sorria. Ou ria. De mim, ou comigo. Não sei. Era dona da situação. Os encontros ficaram freqüentes e eu sempre quis perguntar, mas nunca consegui. As palavras paravam dentro da minha boca, ou a minha boca prendia as palavras. Não sei. Alguns dias ela estava impecável. Outros dias eu ficava olhando, entre tanta gente, ela em outro canto, sem nem saber que eu estava ali. Às vezes nem sempre tão arrumada. A unha ficava sem esmalte, uns pêlos lhe cresciam nas pernas, sempre soltas. Mas não por muito tempo. Logo se arrumava toda e voltava, no outro dia, cheia de beleza. As pernas, fugindo de dentro daqueles vestidos, frescos, coloridos, no comprimento exato para ficar curto, mas ficar bem. Os vestidos curtos, por onde o vento passava, sem nem mexer.
foto gustavo senna
14 · crochê literário
Comumente excêntricos Isabella Mariano
O mais interessante, talvez, de analisar textos de alguém, que faz parte do seu cotidiano ou que, pelo menos, já fez algumas raras aparições nele – como no caso da Brunella –, é que é possível, e quase incontrolável, encontrá-lo no enredo, nas linhas, nas entrelinhas. Não como um alguém escondido, precisando não ser encontrado, mas uma forma escancarada e me chamando pelo nome. Por exemplo, a narração em primeira pessoa, com pensamentos em versos nem um pouco aleatórios, e a rotina descrita na prosa toda dramática do remédio como escape me rememoram pedaços do Sidney. Pedaços dos olhos caídos, pedaços do cansaço por trás dos óculos. “Rivotril” me lembrou também – sim, eu havia esquecido – de que é possível usar a prosa e o verso (não digo ”a poesia”, porque é um hiperônimo muito abrangente) concomitantes, como habitantes complementares de um mesmo espaço. Complementares e interdependentes, nesse caso. A narrativa descreve, limitada a seu papel de contar sem ser um relato, com algumas pitadas poéticas do drama do “último gole da última lata da última cerveja que havia em todo o universo do apartamento vazio mal iluminado”. E os versos vomitam, desabafam, gritam o cansaço, choram uma sutil angústia e cospem uma subjetividade desesperada por encontrar algo que o eu-lírico chama de “paz”. É esse o objetivo, é esse o título. Os agentes secretos e o veneno antimonotonia como a busca da cura. Seria, quem sabe, o resumo do que se quer dizer, quando dizem, ‘nada como um dia após o outro’. Dormir e esquecer o resto.
Em “Moça dos olhos”, apesar de não ter sido tão nítido, é claro, tive a ligeira impressão de ver a Brunella que vi no início de março, na Ufes, falando sobre o Cronópio. “Era simpática, faladeira. Dava bom dia, oi, tchau, boa tarde”. O conto é, na verdade ou obviamente, um recorte feito por mãos delicadas de uma situação comum. Não digo que seja um relato, posto que existe muito sentimento grudado em cada gesto em cada letra. Não há nomes, não há passado e muito menos um futuro. Há o agora sendo contado por alguém encantado, declaradamente encantado – pude ler no olhar – não por mulher, nem por uma menina, mas por uma moça. Que também me encantou. Só em um momento do texto é que se vê denunciado o gênero do narrador. Se eu não tivesse lido “atônito”, no segundo parágrafo, talvez minha imaginação tivesse produzido frutos diferentes. Mas estava ali denunciado um homem trabalhador iludibriado pelo carisma de uma capixaba mais simples do que foi vista, quebrando com toda força a sua irritante e calorenta rotina. Uma ruptura que pode ter se transformado em cotidiano, mudando a história de um trabalhador cansado no ônibus para a de um trabalhador cansado no ônibus que, sem ser notado, ”ficava olhando, entre tanta gente”, a moça dos olhos. Os textos têm um assunto em comum: o diário, o dia-a-dia, o que sempre acontece. E o que eu gosto é encontrar um cotidiano que não seja o meu e uma rotina que, ao apenas conhecê-la, possa quebrar a minha própria. Claro! Escrever uma resenha sobre textos de pessoas próximas certamente não faz parte do meu cotidiano e é justamente essa simplicidade do diário que tornam esses textos excepcionais: um olhar masculino escrito por mãos femininas em versos descontrolados dançando em cima da prosa são características com traços incomuns utilizadas na tradução daquilo que é habitual. Não quis dizer excepcionais no sentido magnífico da palavra, mas na própria denotação que chama de excepcionais, as exceções.
NOVELO
16, Criadores de brincadeira
Matéria sobre o trabalho minucioso dos jovens profissionais que desenvolvem jogos de computador.
18, Fã clube dos nossos tempos
O infinito mundo ficcional da literatura fanfiction na primeira pessoa.
20, Blogosfera com estilo
O uso da mídia virtual para aproximar a moda do cotidiano e empreender!
23, Democratização do cinema O protagonismo juvenil tem espaço no movimento cineclubista capixaba.
26, Frenesi urbano
Flertes entre a cidade, a arte e o esporte são tema do ensaio que encerra a seção.
16 · NOVELO
Não é (só) brincade Conheça as experiências de jovens desenvolvedores que dedicam muito tempo e estudo para garantirem a sua diversão! Conheça o território Um quarto escuro. Entre roupas sujas espalhadas, exercícios de álgebra indecifráveis e bonequinhos de Star Wars está um sujeito magro, cheio de espinhas, com óculos e com sorriso metálico que clica freneticamente nos comandos de um jogo. Esse é o típico “nerd”, sujeito facilmente encontrado em filmes antigos de Sessão da Tarde. Agora, o estereótipo antes tão pejorativo tem condicionado jovens a se tornarem verdadeiros mestres dos games – não como players (aquele mesmo magrelo compulsivo, que ficava dias trancado no quarto até vencer todas as fases no novo game), mas sim como produtores. Quem quer atuar nesse ramo tem que gostar muito de jogar e ficar por dentro de tudo na área. Além disso, é preciso ter raciocínio lógico apurado e sacar de Matemática e de Física, pois são conhecimentos fundamentais para o desenvolvimento de jogos de computador. Se uma bola quica, há uma explicação física de como isso deve ser feito. Ganhar a vida brincando Nas terras capixabas, divertir é a responsabilidade de jovens como Victor Abreu (24), que deixou seu traje de executivo e sua futura carreira em São Paulo para se dedicar profissionalmente à paixão pelos games – e eles não abrem mão das camisetas nerds e tudo mais. “Cursava Tecnologia da
Dayane Assis & Nina Uyttenhove
Informação e tranquei no último período quando descobri o curso de Tecnologia em Jogos Digitais, em Vitória. Não me via de terno e gravata”, conta Victor. A vida de professor também não interessou a Fabiano de Paula (21), que deixou a faculdade de Física também em São Paulo e agora desenvolve jogos casuais – aqueles feitos para redes sociais. Fabiano acredita que o Espírito Santo tem potencial para ser pólo desenvolvedor. Por isso, os programadores já estão se articulando. No Estado, o curso de Tecnologia em Jogos Digitais é oferecido apenas pela Faesa. Recentemente, a faculdade firmou parceria com a Associação Comercial, Industrial e Cultural de Games (Acigames), entidade representante do mercado de games no Brasil e que tem promovido a cultura de jogos digitais no país. Iniciativas como a Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames) e o Simpósio de Games da Sociedade Brasileira de Computação (SBGames) são também uma demonstração de que, aos poucos, o Brasil deixa de ver os jogos digitais como mero entretenimento. As fases do jogo A criação de um jogo se parece com uma produção cinematográfica. Primeiro, são pensadas as ações dos per-
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eira, não!
avatar infectado A evolução da tecnologia permite que os jogos sejam cada vez mais fieis ao mundo real, parecidos com produções de cinema. “Em 2005, jogadores de World of Warcraft levaram um susto com uma epidemia que infectou milhões de avatares (perfis) e, coincidência ou não, era semelhante (tanto em número de casos quanto em sintomas) à gripe suína de 2009. Produção Capixaba
sonagens; depois, em qual plataforma se executará (web, console ou celular), se será casual, educativo ou sério (com estratégia). Esse é o game design: o projeto. A partir daí, as equipes de produção se dividem: uns definem o roteiro, os personagens, o ambiente em que vão estar e os níveis de dificuldade; é o concept art. Depois, o programador trabalha a inteligência artificial do jogo, ou seja, os sentimentos de um personagem, a forma de vencer um desafio. O processo pode levar de oito meses a um ano, dependendo da capacidade de cada equipe. Segundo a designer Bruna Brum (27), criar um jogo exige tempo e dedicação: “o programador tem que estar a postos para qualquer falha. Ao ser lançado, o jogo pode ser corrigido, o que leva mais tempo e dinheiro. Isso depende também do tipo e da plataforma em que é desenvolvido. Jogos em flash são mais simples, diferentes dos 3D ou dos social games, que têm muitos usuários”. Recentemente, Bruna desenvolveu um game como seu trabalho final de graduação no curso de Desenho Industrial da Ufes. O projeto começou a ser pensado em meados de 2009 e ficou pronto em dezembro de 2010. Encarando o chefão No Espírito Santo, a falta de profissionais especializados e de investimentos são os principais obstáculos para atuar nesse cenário. Segundo o designer Thommy Lacerda (29), “é preciso computadores potentes e caros para criar jogos, o que está fora da realidade dos estudantes”. Já Victor Abreu – aquele que fugiu do terno e da gravata – acredita que é possível ser um desenvolvedor de sucesso, desde que o projeto seja bem elaborado. “Se for criativo, você consegue até ficar milionário”, brinca. Em território nacional, há cerca de 12 faculdades que oferecem o curso de Jogos Digitais. É por isso que o desenvolvimento de games é difícil: trata-se de um campo ainda novo. “O Brasil está avançando, mas em âmbito estadual, ainda engatinhamos e a maioria das empresas só tem foco nos jogos casuais, pelo baixo custo de produção”, é o que analisa o concept artist Cassiano Pinheiro (28).
Até o fim do ano, a Extinto Gamer, equipe de Victor, deve lançar na loja virtual da Microsoft o jogo para Xbox 360 Los Santos Mexican Trap. A produção aborda a rivalidade entre duas facções na fronteira do México com os Estados Unidos. extintogamer.blogspot.com Fabiano de Paula e sua equipe, a Freiya Games, está trabalhando no jogo CPI – Corrida Presidencial Infinita. O objetivo é lutar contra os candidatos à presidência. Para vencer o adversário, você pode usar munição pesada: santinhos e dossiês. freiyagames.com Bruna Brum desenvolveu o jogo educativo Monstros Atacam. Aqui, a proposta é promover a conscientização ambiental junto ao público infantil. O desafio é manter a ordem ecológica ao atirar plástico, vidro, papel e metal em sacolas de lixo malignas. brunabrum.com
O mundo é o limite Além do casual (entretenimento em redes sociais), o advergame – jogo feito para a publicidade – também é desenvolvido no estado. Mesmo sendo supostamente mais simples de produzir, não é facilmente distribuído. É preciso chamar a atenção das empresas proprietárias das plataformas, criando jogos tão criativos a ponto de serem interessantes para brasileiros e, também, para estrangeiros. Quem atua com jogos não pode visar só o mercado local, porque o sucesso depende do volume e da frequência de acessos dos usuários. Dá para ganhar dinheiro até com jogos gratuitos. Nesse tipo de game, o usuário faz pequenas transações financeiras de R$1 ou R$2 para melhorar seu personagem no jogo e o desenvolvedor pode embolsar uma grana.
Para elaboração desta matéria contamos com a contribuição do professor e coordenador da Unidade de Engenharia, Computação e Sistemas da Faesa, Rober Marcone Rosi.
18 路 NOVELO
Brunellla Fran莽a
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Lá, numa terra bem além da tietagem, fica o mundo ficcional dos criadores de fanfiction
Está achando tudo isso uma grande loucura ou algo que não tem a menor possibilidade de acontecer? Então é hora de conhecer o universo das fanfictions! Escrever histórias com personagens, cenários e acontecimentos baseados em outras obras é a proposta das fanfics ou, simplesmente, fics, abreviação da palavra inglesa fanfiction (ficção criada por fã).
Tudo se transforma Quando um livro, uma história em quadrinhos, um anime, um mangá, um filme, uma novela ou um seriado chega ao fim, muitas vezes é criado um vasto universo narrativo (o cânone), com tantas histórias que nem mesmo os autores dessas produções poderiam imaginar. Há fãs que praticamente respiram esses mundos ficcionais ao ponto de poderem escrever sobre tão bem quanto o autor original. Essas histórias não-oficiais são as fanfictions cujos formatos mais comuns são os contos e os romances. No Brasil, admiradores de Star Wars, Star Trek e Sailor Moon foram os primeiros a compartilharem seus textos em fanzines. Porém, a distribuição desse material era limitada. Na década de 1990, com a expansão da internet, começaram a surgir sites especializados em hospedar fanfics. Isso popularizou o hábito de criar novas histórias em cima de algo pré-existente e facilitou o acesso dos leitores. O boom veio com a série literária Harry Potter, da escritora britânica J.K. Rowling. O maior acervo de fics na rede, o site fanfiction.net, tem mais de dois milhões de textos. Sobre a série Harry Potter são mais de 300 mil. No maior portal brasileiro dedicado a fanfics, o Nyah, as histórias baseadas no garoto bruxo também são maioria.
Paixão arrebatadora Para ser um ficwriter, ou escritor de fanfiction, é preciso muita criatividade e paixão, porque dá trabalho. O primeiro passo é um incômodo com o produto oferecido pelo autor original. Alguns ficwriters preferem seguir o rumo das obras-gênese, cobrindo espaços deixados ou dando continuidade ao ponto final. Outros, por sua vez, criam enredos bem diferentes, mudando até seus desfechos.
fanfiction.net fanfiction.com.br abcles.com.br
Para criar minha fanfic, a sétima temporada da série de TV the L word, assisti três vezes às seis temporadas,dessa produção estadunidense que retrata o universo lésbico. Fiz anotações sobre o perfil dos personagens e sobre assuntos ou situações mal resolvidos na trama. Só quando me senti dona das vidas daquelas mulheres é que comecei a escrever.Foram quatro meses de dúvidas, alegrias, choro, orgulho e prazer. Resultado: 410 páginas digitadas. À medida que os capítulos eram escritos, eram também publicados no site abcLES.com.
Ao publicar os capítulos online, recebi dicas dos Estados Unidos acerca de West Hollywood (onde se passa a série) e dos costumes naquela região, comentários e críticas de diversos estados do Brasil, além de beijos de Lisboa, Portugal. Todo o meu processo de criação e de desenvolvimento da narritiva só foi possível graças à internet. E, no meio da produção, quando vinha o cansaço e a história, eu não rendia mais. Chegavam recados dizendo o quanto aquela fic estava se tornando importante. Pude sentir muitas leitoras por perto, querendo mais um capítulo, mais um pouco do universo the L word que partilhávamos. Com elas, a fic ganhou mais vida e mais colorido. E já são quase 70 mil leituras da minha temporada. Quer experimentar? Que tal continuar a história do início deste texto? Mãos ao teclado!
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Empreendedorismo, dedicação, criatividade e, claro, muito estilo na blogosfera capixaba PAULA DORSCH & SAVYA ALANA
fotoS Luara Monteiro
conheça os blogs
Style-a-Holic: style-a-holic.com Não resisto!: naoresisto.com.br Meu Mundinho Importado: meumundinhoimportado.com Inventando Moda: thai-angelo.blogspot.com Cut Club: cutclub.wordpress.com Cosmopolytan: cosmopolytan.wordpress.com
“Fica linda que o amor não passa” é o slogan do Cut Club, blog mantido por Juliana Dadalto
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Blog Da esquerda de moda para éa o direita: termo Antonia que (Naàa), definiuLeandra (Não Resi), Jadurante mely (Still)algum tempo o espaço onde as blogueiras costumavam falar sobre o universo feminino. Ultimamente, muito mais do que isso, os blogs evoluíram e falam de lifestyle (estilo de vida). E, para falar sobre tal, misturam-se linguagens diversas – música, arte, moda, cinema, comportamento, beleza e o que a imaginação mandar. Hoje a festa do pijama é na internet e todo mundo está convidado! Mais do que discutir feminices, os -Holic, do estilista e produtor de moda blogs também são ambientes para Marcos Eduardo Altoé (27, foto acima). reflexão de moda, difusão de lifestySeu blog aborda moda, comportamenles, autoconhecimento e, porque não, to, lifestyle, música, arquitetura e defonte de renda. Nesses espaços comcoração e surgiu do interesse do blopartilhar é a palavra-chave. Fora dos gueiro por jornalismo de moda. Dudu, padrões de beleza apresentados nas como é conhecido na blogosfera, viu mídias tradicionais, os blogueiros se nesse espaço virtual um espaço para aproximam da realidade de seu públiexercitar sua redação e aprofundar co de influência. seus conhecimentos em moda e comManter um blog requer trabalho e portamento. O sucesso foi tanto que demanda tempo. E ganhar dinheiro hoje Marcos é referência como blocom ele é uma forma de unir o útil ao gueiro capixaba, o que atraiu parceiros agradável, foi o caso do blog Style-ae anunciantes para o Style-a-Holic.
Outro bom exemplo é o das blogueiras Brunela Simões, tatuadora e make up artist, e Lys Freire, estilista e designer, ambas com 26 anos. Atualmente seu blog Não Resisto! possui dois anúncios de marcas de cosméticos internacionais. Mas as meninas, ainda que tenham anunciantes do ramo de beleza, falam um pouco de tudo: “a gente muda, e o blog muda junto com a gente. Antes, falávamos muito de consumo e coleções novas das lojas de roupas e acessórios. Hoje em dia, preferimos criar conteúdo, sobre lifestyle ou qualquer outra coisa que faça o leitor refletir. Temos colaboradores que abordam diversos assuntos, como música, decoração, filmes. Adoramos dar dicas de DIY (“Do It Yourself”, ou “Faça você mesmo”), maquiagem e estudos na área de Moda”. Lucrar com espaços publicitários não é a única maneira de ganhar dinheiro com um blog. Há também outras formas de fazer o blog ser uma fonte de renda. A publicitária pós-graduada
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em Comércio Exterior Camila Coelho (26), autora do blog Meu Mundinho Importado, é desses exemplos. Em seu site, Camila vende maquiagens e produtos de beleza e, para isso, conta com a parceria de Thai Angelo (23, foto abaixo), maquiadora profissional do blog Inventando Moda, que faz um tutorial toda sexta para o espaço. Há quem não busca monetizar o seu espaço virtual, como é o caso do Cut Club. Para Juliana Dadalto (27), a autora do site, a falta de interesse em lucrar com o blog é em parte “burrice”, mas também uma atitude anti-mercantilista. Para ela, o blog pode ser um negócio, uma bandeira, uma rebelião, uma política, uma forma de renda ou um hobbie; basta você escolher o rumo que quer dar-lhe. O Cut Club, por exemplo, começou com a veiculação de conteúdos sobre maquiagem e cabelo e, atualmente, aborda a temática da beleza sob a forma mais ampla e colaborativa possível. A receita de um blog bem sucedido consiste em muita dedicação. É preciso buscar informações e pesquisar bastante. A bióloga Polyana Polycar-
po (26) é dona do Cosmopolytan. Ela conta que anda sempre com um caderninho na bolsa onde anota tudo o que vê durante o dia e que lhe é inspirador. Além disso, ela lê muitos blogs e revistas e liga para os estabelecimentos em busca de informações. Em seu espaço, ela aborda moda, beleza, achados e compras e já avisa: “tudo sem afetação, sabe? Não sou formada em moda, então não curto esses posts com análises de tendências, os looks do Oscar. Escrevo para mulheres reais, com vidas reais”. As blogueiras em sua maioria não são modelos de padrão de beleza. Na verdade, são mulheres do dia a dia que precisam pôr a mão na chapinha e escolher roupas e maquiagem que
realcem seus atributos positivos e disfarcem aquilo que as desagrada. Além da dedicação, outro ingrediente de sucesso é diferenciar-se dos demais. A rede está cheia de blogs motivados por “mimos” de empresas e convites regados a espumante e cupkakes. O glamour alcançado pelos espaços mais badalados tem seus custos e responsabilidades. É difícil escrever uma opinião sincera, rodeado de atenções, exclusividades e lançamentos. Para sair do mar de clichês – unha, look e make do dia – é preciso pensar à frente de seu tempo, ousar, propor novas ideias, confiar no seu estilo e investir na criatividade. Tensões à parte, há muita coisa boa envolvida em ter um blog; entre elas, conhecer pessoas que compartilham os mesmos interesses que você, trocar conhecimento e aprender a se relacionar mais e melhor. Afinal, trata-se de espaços de interatividade e você vai precisar de bom humor para receber as criticas. E tem mais: nessa festa do pijama, há muito mais do que as amigas do bairro, pois o alcance dos blogs é só do mundo inteiro!
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OS CINECLUBISTAS ESTÃO CHEGANDO Em salas apertadas, nos cantos escuros da cidade e do campo, movimentando o cenário cultural de bairros de periferia, de escolas etc., trazendo consigo seus DVDs, datashows, filmes e mais filmes debaixo do braço, lá vêm eles, exibindo em plataformas convencionais ou inusitadas, velas de barcos, em lençóis estendidos em varais – por que não? –; “Pacientes, assíduos e perseverantes” , os jovens cineclubistas capixabas estão por toda parte, ocupando, provocando e ressignificando o cotidiano. Sim, os cineclubistas estão chegando, ou melhor, não param de chegar. Laíssa Costa GAMARO & Fabiano de Oliveira
Mas o que vem a ser um cineclube? Cineclube é uma associação que visa a promover a cultura cinematográfica. Trata-se de um grupo organizado que promove sessões de cinema e debates sem fins lucrativos para um público aberto. Entretanto, não basta exibir filmes para ser um cineclube. É preciso seguir alguns princípios, como a defesa da democratização do acesso à informação – onde entram os direitos do público e o compromisso com a promoção da cultura. Infelizmente, nem todo mundo que começa a fazer cineclubismo se dá conta de que a sua prática está fundamentada nesses princípios. A partir do momento em que experiências isoladas demonstram que a sua ação pode ser fortalecida a partir da articulação com outros cineclubes e com um movimento organizado, o cineclubista compreende a importância da sua prática para a sociedade. Desde 1959 acontecem no Brasil as Jornadas Nacionais de Cineclubes, congressos anuais ou bianuais que buscam organizar o movimento cineclubista nacional. Em 1961, em ocasião da III Jornada Nacional
de cineclubes, ocorrida no Rio de Janeiro, foi fundado o Conselho Nacional de Cineclubes (CNC). Existem muitas razões pelas quais o movimento cineclubista emergiu, organizou-se e seguiu contagiando. Falemos um pouco sobre as suas principais motivações:
Cinema pra quem? Nosso país dispõe de salas de cinemas. Mas onde? Atualmente, dos 78 municípios capixabas apenas 16 deles contam com esse tipo de espaço cultural. Isso é muito pouco. Para Alex Reblin (25), morador de Afonso Cláudio e um dos fundadores do Cineclube Lagoa, a prática cineclubista atendeu a uma grande carência de seu município: “ouvíamos muitas pessoas dizendo que, antigamente, aqui tinha um cinema, que era maravilhoso e todos gostavam de frequentar”. Hoje, o Cineclube Lagoa é bem atuante e tem movimentado a cena cultural de Afonso Cláudio e da região. “Circulamos por diversos espaços, debatemos muitas temáticas e já estamos até planejando fazer um festival de vídeos independentes”, conta Alex. Em contrapartida, ainda que existissem cinemas comerciais em um número mais expressivo de cidades brasileiras, não necessariamente contaríamos com o
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acesso democrático à produção cinematográfica. É preciso levar em consideração que apenas uma porcentagem bem pequena da população brasileira e capixaba pode pagar o valor do ingresso para assistir a uma sessão em um cinema comercial. Em 2009, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a média nacional de pessoas que não frequentavam regularmente as salas de cinema era de assustadores 86%. Pode parecer aceitável que as salas de cinema cobrem o acesso aos bens culturais, afinal, o cinema comercial é uma empresa de entretenimento fundamentada no lucro. Mas para os cineclubistas a cultura não deve ser tratada apenas como um bem mercantil. Para Pedro da Cunha (28), integrante do Cineclube Central de Vila Velha desde 2006, a questão do acesso é um debate que se faz urgente: “temos que nos ater à realidade brasileira. As pessoas não têm acesso aos bens culturais e é papel do Estado promover esse acesso”.
Cinema Capixaba e Cineclubismo: fortalecimento mútuo A ação cineclubista também tenta dar conta de um outro gargalo: a distribuição da produção cinematográfica nacional e local. Os filmes hollywoodianos ocupam a maior parte da programação dos cinemas comerciais brasileiros. Não se trata de fazer juízo de valor sobre a produção norte-americana, mas sim de garantir espaços e de valorizar outros modos de se fazer cinema que representem outras visões de mundo e outras propostas estéticas. Além de reforçar a necessidade de tornar o cinema nacional acessível a todos os brasileiros, o movimento cineclubista também valoriza a produção cinemato-
gráfica independente. E o cinema capixaba dispõe de produções independentes representativas e de qualidade. O Cineclube Cine Kbça, que funciona em Vitória, destaca-se por ser um espaço de exibição que estimula a circulação dessa produção local. Em 2010, o Cine Kbça promoveu uma mostra itinerante chamada Curta no Circuito que passou por 14 comunidades de Vitória exibindo apenas obras produzidas em solo capixaba. “Procuramos priorizar vídeos produzidos por jovens capixabas, no intuito de estimular as pessoas que participam das sessões a produzirem. Não importa o tamanho da produção, o importante é criar, compartilhar e incentivar a multiplicação da prática cineclubista”, diz Tatiany Volker (27), integrante do Cine Kbça desde 2007.
Cineclubismo enquanto ferramenta didática Nos últimos anos, cresce a prática cineclubista enquanto importante ferramenta utilizada na educação formal e informal de crianças, jovens e adultos. Historicamente algumas instituições levantam esta bandeira e desenvolvem belíssimos trabalhos. Temos exemplos como do Cineduc, projeto que, em parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro, estimula hoje a existência de cerca 250 cineclubes funcionando dentro de escolas publicas municipais cariocas. No Espírito Santo, temos bons exemplos dessa vertente cineclubista. O Cineclube Central, em funcionamento desde 2006 em Vila Velha, realizou muitas ações de formação e de capacitação cineclubista em escolas públicas de seu município. O Cine Kbça também promoveu a difusão da prática cineclubista, mas com o foco em grêmios estudantis de escolas públicas de Vitória e desenvolveu a cartilha Cineclubismo na escola: Uma alternativa de expressão das juventudes.
Além de constituírem um importante circuito de exibição para a produção cinematográfica local e nacional, os cineclubes são espaços que promovem os direitos do público e democratizam o acesso aos bens culturais.
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O cineclubismo acontece em diferentes formatos e com finalidades diversas. No Espírito Santo, o movimento cineclubista está articulado e desenvolve ações que visam ao fortalecimento e à multiplicação dessa prática cultural.
O Cine É da Hora!, projeto que funciona na Pró-Reitoria de Extensão da Ufes, propõe-se a produzir um DVD contendo quatro curtas metragens, além de uma cartilha que oriente alunos e professores na utilização da prática cineclubista para discutir direitos humanos.
Uma casa nova para os cineclubistas Um fato histórico importantíssimo para a articulação do movimento cineclubista capixaba aconteceu em junho de 1981 com a fundação da Federarão de Cineclubes do Espírito Santo, cujas ações permaneceram até a década de 1990, quando houve uma interrupção do movimento organizado no estado. Hoje, segundo Bruno Cabús (29), um dos fundadores do Cineclube Central de Vila Velha e atual sub-coordenador de acervo do Conselho Nacional de Cineclubes, “é um momento promissor para os jovens cineclubistas capixabas e para aqueles que já vêm colaborando para o fortalecimento do movimento no Espírito Santo há muitos anos”. E uma grande novidade surgiu em dezembro de 2010, durante a 28ª Jornada Nacional de Cineclubes, em Recife-PE: os cineclubistas capixabas presentes deram à luz uma entidade representativa do movimento cineclubista capixaba. Quando esta matéria começou a ser esboçada, seu nome ainda estava em discussão. Mas no último dia 16 de abril aconteceu o primeiro reencontro das diretorias eleitas na 28ª Jornada que reuniu cineclubistas de diversos cantos do Espírito Santo para debater, entre outros assuntos, a escolha do nome da nova entidade. Agora, a organização representativa dos cineclubes capixabas – ou poderíamos também dizer, nossa nova casa – chama-se OCCa - Organização dos Cineclubes Capixabas. Dentre as funções da OCCa, que está em
processo de registro formal, destaca-se a formação e a capacitação cineclubistas, o fortalecimento do movimento junto ao setor político-cultural e a organização de encontros regionais. Os cineclubes capixabas não param de se multiplicarem, de se articularem e de se fortalecerem mutuamente. Aos poucos, as pessoas têm percebido que esse lance de fazer cineclubismo não é algo tão distante. Para Eliane Correia (28), que faz parte do Cineclube Badaró em Guaçuí, a prática tem se mostrado cada vez mais acessível: "dois anos atrás, vim até Vitória à procura de alguém que pudesse me ensinar a como montar um cineclube. Quando cheguei, a surpresa não poderia ter sido maior: descobri que já fazia cineclubismo e não sabia!”. A promoção do protagonismo e de espaços de autonomia, a defesa dos direitos do público, a luta pela democratização do acesso à informação e a movimentação do cenário cultural local são ações que fazem parte do fazer cineclubista. Já é sabido que "a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte"[2], mas o movimento cineclubista demonstra que a gente não quer só cinema, a gente quer cinema gratuito para toda a comunidade. A gente não quer só lazer, a gente quer debater e refletir à vontade. A gente não quer só assistir, a gente quer propor com liberdade. Sim, “a gente quer inteiro, e não pela metade”. Este é o espírito. Cineclubismo é de todos e para todos, é uma prática acessível e convidativa. E bola pra frente, juventude capixaba, que essa história ainda está sendo escrita, ou melhor, projetada.
[1] BEN JOR, Jorge. “Os alquimistas estão chegando”. In: A Tábua de Esmeralda. São Paulo: Philips. 1974. [2] TITÃS. “Comida”. In: Jesus não Tem Dentes no País dos Banguelas. São Paulo: WEA, 1987.
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Costuramovimento
Tempos, espaços e expressões formam uma trama inacabada e mutante: as possibilidades de encontro do corpo com a cidade Lívia Corbellari & Henrik Carpanedo
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iver na cidade é estar em intensidade e em superficialidade, em contato e em separado, é estar no escuro e no claro, no fechado e no aberto. Urbano é o nome das pessoas. É o nome que relaciona o vazio com o cheio. Esses contrastes impulsionam as pessoas a intervirem na cidade como algo que se pode fazer por si, ou pelo outro. E a arte vai muito mais do que a obra de um artista ou o artista de uma obra. Arte é um nome que existe em si mesma. Qualquer um pode ter na arte uma forma de expressão. A produção se dá de maneiras mil: vídeos mostrando a paisagem do lugar, enquadrando a cidade pela câmera; intervenções do andar pela cidade atraindo olhares curiosos para graffitis-colagens. Skates, bicicletas e parkour, atividades-esportes que não são tratados como arte, pois não há uma intencionalidade intrínseca do participante. Porém, não podemos ignorá-las no pensar estético da cidade. Ao contrário disso, podemos notar que há possibilidade de elas serem ações performáticas e também acontecimentos. Arte que não é estática. Arte que se constrói-desconstrói-reconstrói, pois a cidade é viva e esses artistas se expressam seguindo essa lógica efêmera. Não há controle sobre a obra urbana que é efêmera. Por isso, ela é viva e dinâmica como a cidade.
Carretéis A arte é uma coisa grande que existe, quer aceitamos, quer não. Ela é como um grande novelo de lã ou como um carretel que, cheio de linha, encaixa-se na máquina de costura, alinhava-se de acordo com quem manuseia e toma as mais diferentes formas no tecido.
foto YURY AIRES
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Se a cidade fosse um tecido, seria um tecido rasgado de tanta costura e descostura. O artista é mais um ponto dessa trama, é uma das agulhas. A cidade não é estática, nem é uma paisagem que deva ser apenas contemplada, ela pode ser moldada e nos moldar também. A paisagem muda com a arte, sendo arte permanente ou de momento. Uma hora está ali, outra hora não, curtindo sua efemeridade. O que passa e o que movimenta sua sombra na calçada é público e também parte da ação, seja esta qual for. Temos um novo artista-obra, o transeunte. O transeunte não só olha como também esbarra com o artista e tropeça na sua obra e com ela faz ligações inconscientes. É paisagem cenário e cenário paisagem; e não pode não o ser. Transeuntes e interventores, o que eles fazem na cidade? Cores, sons, ações, ângulos, movimentos. Alguns não entendem, outros se chocam com a velocidade, com a força crítica de uma imagem-forte, outros se auto-convidam a participar e assim constroem uma realidade comum. A cidade é, ao mesmo tempo, inspiração e objeto, é notar e interferir simultaneamente.
à falta de pedestres, à falta de um pé ativo que conhece seu próprio território. Em Brasília, onde o parkour é forte, sendo ele esporte ou não, parece uma forma de resistir e de apropriar-se do espaço da cidade de uma forma holística e intensa, sendo uma atividade operativa e estética. Já em Vitória, quantas praças catalisam essa paisagem-corpo-esporte a fim de produzirem uma cotidianidade? Esse corpo faceiro, mar, porto, via de carros, muros, distanciamentos e fragmentos de passado presentes para o
Se a cidade fosse um tecido, seria um tecido rasgado de tanta costura e descostura
Ilha, Linha e Agulha O território da cidade é um ponto a ponto de uma agulha, tendo esta o aspecto de perpassar linhas para juntar partes diferentes. Tecidos com propriedades diferentes que deixam rugosidades são partes semiabertas e de muitas combinações possíveis. Vamos passar direto ou deixar tropeçar pelos fios em falso? Em Brasília há aquele céu e mais nada, há aqueles grandes espaços verdes, secos, entre os edifícios. Ali, o corpo é visitante e está alheio à paisagem e parece resistir a tudo, à falta de praia, à falta de cruzamento nas ruas,
futuro se conectam à mão do artista que tenta organizar-se como discurso-acontecimento, como performance. A rapidez do dia a dia pode ter o poder de gerar expressões alternativas, mas o carretel caiu e rolou no chão e seus fios se espalharam. Não tem como organizá-lo, pois seus fios se sujam de mundo.
Emaranhar-se A arte vem como a possibilidade de produzirmo-nos de uma forma atualizada, colocando na (feliz)cidade pontos de
articulação, criando uma rede de reconhecimentos e de produtividades. Arte como atividade inseparável do homem, sua capacidade de transformar a si e a seu meio. Organizar encontros na cidade em locais incomuns também é uma forma de resistir. A potência de resistência hoje está no corpo, no próprio vestir-se e no deslocar-se; o corpo como ilha na ilha, como território de ações. Os corpos postos e dispostos são parte da imagem e a ação-arte neles se insere, ou melhor, neles interfere. Organizados no caos, esses olhares se transpassam encontrando novas palavras e novos rostos. A arte e o esporte são acontecimentos, são produção de singularidades, diferentes expressões do mesmo, num repetir de movimentos e instaurando a poesia do momento: a ação performática está além da ordem homogênea. Que papel a arte possui para aguçar o sentido de pertencimento do habitante com o lugar? Parece ser muito otimismo colocar a arte como promovedora de tudo, de transgressora do controle e da persuasão dominante. O burburinho de uma cidade está dentro de um shopping ou de um museu onde as pessoas, de forma geral, ficam guardadas? O que Vitória quer da arte? O que a arte quer da gente de Vitória? Vitória quer ser pertencida, queremos ter Vitória, realmente, conosco? Descosturam-se tudo, fios que são feitos de fios menores se desfiaram e se emaranham nos artistas-passantes. Confundimos: barulho, pessoas ali, outras atrás dessas, escadaria ao lado – passou um caminhão e escondeu tudo. Uma parede pintada com spray e uma lata de lixo revirada por um cachorrinho sujo. O canino corre em disparada. Malucos com bicicletas, com skates ou com a roupa do corpo correndo do silêncio ao movimento.
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PROFISSÃO TEATRO Mais do que estar no palco, a paixão pelas artes cênicas é o que orienta a trajetória da jovem atriz do sul capixaba Paulo Gois Bastos
De maneira geral um espectador de teatro conhece apenas o resultado final do trabalhoso processo que antecede a realização de um espetáculo. Talvez por isso, para muitas adolescentes, tornar-se uma atriz seja um sonho romântico cercado de glamour. Mas, em cidades mais afastadas dos centros urbanos, esse sonho é logo confrontado com a falta de espaços adequados para apresentações e com a carência de atividades para a formação nessa área artística. Mesmo diante dessa realidade e conhecendo a dura lida do fazer teatral, Carolina Salvador Areias (27 anos) escolheu seguir um caminho profissional nos palcos. Assumidamente apaixonada pelo fazer teatral, Carol reúne em seu currículo diversas atividades relacionadas às artes cênicas. Como atriz, entre 1998 e 2011, participou de 21 peças e de cerca de dez produções audiovisuais, entre curtas-metragens, vídeo-artes, um longa e alguns comerciais de TV. Conta com sete trabalhos de direção e foi professora em oficinas de teatro e de dança para jovens e adolescentes. Na infância e na adolescência, também fez balé e jazz, mas Carol tem a dança como uma prática complementar quando comparada com o seu envolvimento com o teatro. A ideia de ter um filho exercendo uma carreira artística é algo pouco comum para as famílias de Muniz Freire, cidade do sul capixaba onde Carol nasceu e morou a maior parte de sua vida. Única mulher entre cinco irmãos, ela conta que nunca faltou o apoio familiar para a sua escolha profissional. “De vez em quando, eles falavam: ‘Não tá na hora de você arrumar um emprego não?’. Minha mãe um dia chegou para mim e disse ‘Carol, eu nunca vou falar para você
não ir porque o meu sonho é fazer o que você faz’. A família sempre me apoiou, mesmo naqueles momentos em que as coisas não estavam dando certo, que eu não tinha dinheiro pra nada, porque teatro não dava dinheiro. Se não fossem eles, eu não teria continuado fazendo teatro”, conta. Aos 14 anos Carol entrou para um grupo de teatro amador chamado Grito Jovem que fazia apresentações em Muniz Freire e em municípios das redondezas, como Guaçuí, Alegre, Brejetuba, Iúna e Castelo. As apresentações eram gratuitas e não havia remuneração para a equipe. “As prefeituras pagavam apenas o transporte e um lanchinho. Foi uma experiência muito boa, pois a gente conhecia lugares diferentes. Mesmo sem saber o que era, nós queríamos era fazer teatro”. Do Grito Jovem, apenas Carol seguiu adiante no teatro. A importância da formação Alguns anos depois, Carol passou a frequentar espaços de formação teatral que lhe exigiram uma intensa dedicação para o aprendizado de técnicas que são a base do trabalho de uma atriz. Mas, antes enveredar de vez pela arte teatral, foi para o Rio de Janeiro e cursou a graduação de Direito por três anos e meio. Segundo ela, esse foi o seu “ato de rebeldia adolescente” e admite que, naquela época, a sua percepção do fazer teatral ainda era muito limitada. Ao retornar, ela ingressou na Escola Itinerante de Artes Cênicas, iniciativa da Secretaria de Cultura do Estado do Espírito Santo com o objetivo de atender à demanda de formação na área das artes cênicas no interior do estado.
“Mesmo sem saber o que era, nós queríamos era fazer teatro”
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Com a duração de sete meses, o curso acontecia aos finais de semana e oferecia aulas de preparação corporal, voz, prática de montagem, interpretação, história do teatro, entre outras. “A partir daí, eu percebi que o teatro era muito mais do que eu imaginava. Eu achava que teatro era chegar lá e falar o texto. Há outras coisas: tem uma história por trás, tem técnicas, tem voz, tem relaxamento. Eu fui estudar as diferentes linhas de teatro, as suas várias técnicas. Isso que me abriu para o que eu realmente queria. Por isso, eu sempre falo que a minha vida no teatro se resume em fazer teatro e começar a estudar teatro”. Depois desse aprendizado, Carol decidiu que queria viver do teatro e aceitou o convite de um dos professores do curso para atuar. “Larguei meu emprego em uma construtora e fiquei um mês trabalhando em espetáculos infantis no município da Serra. Foi o meu primeiro emprego no teatro”. Em seguida, foi para Cachoeiro de Itapemirim e integrou o Grupo Ela de Teatro, que ainda existe na cidade. Essa época não foi nada fácil, pois o Grupo não conseguiu sua sustentabilidade “Fiquei três meses em Cachoeiro. Por falta de recursos financeiros, a montagem acabou não acontecendo”. Apesar das dificuldades, Carol considera muito positiva a experiência desse período. A partir daí, ela conta que se tornou uma atriz itinerante, pois passou por diversos grupos de teatro do sul capixaba. Entre os trabalhos, encenou peças infantis, comédias, textos espíritas e dramas. Ainda em 2007, realizou o sonho de se apresentar no Theatro Carlos Gomes, em Vitória, com o espetáculo Hoje é dia de Rock, sob a direção de Carlos Ola. “Quando eu tinha 14 anos, imaginava que o ápice da minha carreira seria atuar no palco do [Theatro] Carlos Gomes. Depois disso, percebi que queria ir mais além!”, diz. Carol buscou sempre se aperfeiçoar por meio de cursos relacionados ao teatro. Para ela, participar dessas atividades foi um meio de estar em um palco com mais frequência e também de estabelecer contatos profissionais. “Quando eu fazia um curso, geralmente era dentro de um teatro. Essa era a oportunidade que eu tinha de subir no palco, não podia perder aquilo. Assim, a formação supria minha necessidade de expressão”. A professora de teatro Essa jovem atriz é apaixonada pelo mundo do teatro, não apenas pela emoção de estar no palco atuando, mas pelo fazer teatral com um todo. Uma semana antes da entrevista, ela havia participado do Festival de Teatro de Curitiba, não como atriz e sim como sonoplasta e iluminadora. “Uma
Fotos Luara Monteiro
iluminação e uma sonoplastia bem feitas garantem metade do espetáculo, por isso, eu sempre quis aprender”, justifica. Parte desse conhecimento mais amplo sobre os elementos das artes cênicas se deveu à carência de mão-de-obra especializada para a montagem dos espetáculos que Carol já dirigiu. Entre 2009 e 2010, ela atuou como professora no Projeto Resgate em Cena, iniciativa promovida pela Prefeitura Municipal de Muniz Freire que ofereceu oficinas de teatro e de dança para um público de 150 jovens do município. Ao final das duas edições do Projeto, foi montado um espetáculo como resultado das oficinas. Para garantir a qualidade, Carol conta que foi preciso cuidar de todos os aspectos técnicos das apresentações. “Eu tive que montar a iluminação e a sonoplastia. Para a sonoplastia, conseguimos um programa bem simples que os próprios alunos operavam, mas a iluminação era inteiramente por minha conta. Além disso, havia o cenário e o figurino. Éramos apenas eu e meus alunos, sem equipe técnica ou de apoio. Por isso, aprendi de tudo um pouco. Muniz Freire, até então, nunca havia feito um espetáculo com iluminação”. Carol fala emocionada sobre o Resgate em Cena. Apesar de a iniciativa não ter tido uma continuidade, a experiência do Projeto lhe rendeu uma compreensão do quanto a vivência artística pode gerar impactos positivos na vida dos jovens. Por isso, ela acredita que a prática e o ensino da arte deveriam receber tratamento semelhante ao dispensado a outros saberes. “É a mesma forma que estudar matemática, mas não querer ser matemático. Eu aprendo porque vai ser importante para minha vida. A arte, de uma maneira geral, deveria ser encarada desse jeito. Eu posso aprendê-la, mesmo não querendo ser um profissional da arte no futuro”, argumenta.
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O Salto do Gesto ao Afeto - Olhos Atentos sobre Corpos em Movimento Karina Viega
O Trampolim - Plataforma de Encontro com a Arte da Performance, programa de eventos concretizado pelo Laboratório de Ação & Performance (LAB!), desdobrou-se no empurrão que faltava para o Espírito Santo saltar ao circuito da arte performática. Cerca de 50 artistas, com suas diferentes experiências e nacionalidades, marcaram o ritmo das seis edições realizadas entre outubro de 2010 e março de 2011. A reunião dessa herança genética valiosa, e melhor: distinta, transformou as ruas da ilha-capital em uma galeria viva. Os trabalhos exploraram o potencial afetivo contido nas recorrentes ações e no material mais rudimentar: o próprio corpo, matéria-prima com grande poder de modificar e de sintetizar as contradições que coexistem sobre uma única pele. Poder evidenciado por Victor de La Rocque. Sua performance “Gallus Sapiens” explicitou a sobre-existência do corpo natural, ainda humano e essencialmente animal, em contraponto ao corpo permeado por tecnologias, limitado pela intolerância e que, a cada dia, perde espontaneidade e liberdade na vida cotidiana. A temática do corpo desvinculado dos padrões predominou na programação e, portanto, testou a (in)tolerância do público perante à alteridade. Artistas como Felipe Bittencourt investigaram os limites da resistência corporal. Gestos repetitivos, reproduzidos na série de Ignácio Pérez Pérez, converteram ações em rituais. Certas exibições foram do mundano ao evocativo e questionaram a concepção do “real” adquirida nas experiências convencionais. Tal ruptura de convencionalismos provém da linguagem experimental da performance; princípio pouco aplicado com a mesma destreza da dupla Verena Stenke & Andrea Pagnes. O vanguardismo presente nesta prática fez com que alguns espectadores emitissem errôneas classificações. A pretensão grandiloquente do evento também ajudou a confundir, pois, em prol do montante quantitativo, reproduções de happenings, intervenções urbanas e vídeos-arte foram expostos sob a alcunha de “performances”. Seria igualmente errôneo estreitar limites conceituais para uma vertente artística que busca, simultaneamente, romper e fundir preceitos estéticos. Sua proposta de “work in progress” (algo em contínua construção) anula prévias definições. A performance e o vídeo-arte dividem referências, ambos se inserem no contexto da experimentação e, enquanto a performance desconstrói os cânones vigentes nas artes plásticas e no teatro tradicional, o vídeo-arte desloca os parâmetros do cinema e da fotografia. Embora o hibridismo e a intertextualidade façam parte da arte performática, o vídeo pode ser empregado na sua composição, entretanto não pode ser considerado performance caso o conteúdo componha-se apenas por imagens tecnológicas. Houve
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quem qualificasse essas construções como vídeos-performance, trabalho no qual ocorre a interdependência do corpóreo com o tecnológico, ou seja, um sem o outro é exatamente aquilo que o seu nome diz: ou vídeo, ou performance. Uma performance só se desenvolve mediante interação, pois não há delineações entre onde começa a criação profissional e onde finda o exercício amador da criatividade. O público deve receber um convite para participar e intervir. A relação interativa no evento, ora não formulada de forma profícua, ora não respondida de forma imediata, atingiu seu ápice com a performance “Território Flutuante” de Wagner Rossi Campos. Esse trabalho mobilizou universitários munidos de cadeiras metálicas em uma passeata peculiar, a qual assaltou os olhos desavisados nos arredores da Universidade Federal do Espírito Santo. A ação impulsionou reflexões sobre a interação do imaginário artístico no espaço urbano ao explorar as propriedades metafóricas de um ato “comum” (sentar-se em uma cadeira) deslocado da sua ocorrência cotidiana. Apesar de ser uma vertente com frágil enraizamento no Estado, jovens performers capixabas efetuaram contribuições tímidas, mas dignas de nota: destaque para o banho excêntrico de Alexandra Bertoli e para os passeios nada convencionais de Amanda Freitas e Clarice Helmer. A atuação dos capixabas, de fato, conteve-se mais na organização do que na movimentação do Trampolim. Mesmo com falhas, inerentes ao resultado inicial de qualquer projeto, o Trampolim representou um salto artístico-cultural para o Espírito Santo, afinal, disseminou a arte da performance e provocou discussões a seu respeito. As apresentações certamente deixaram rastros de novas idéias nos olhos afetados pelos gestos que (res)saltaram da Plataforma.
Feu Rosa é o caldeirão, mas é família Rafael Lobo O imaginário sobre a expressão do funk no bairro Feu Rosa, no município da Serra, é carregado de preconceitos e justifica as percepções negativas e reducionistas acerca das relações entre o ritmo, o lugar e as pessoas que fazem parte dele. As notícias em tons polêmicos veiculadas pela mídia e o conhecimento raso sobre a cena funk contribuem para esse tipo de raciocínio. Não se trata de negar aspectos polêmicos dessa cultura musical, como o proibidão ou o funk do sexo, mas de mostrar que, para além da imagem midiática estereotipada, os funkeiros estabelecem relações com a sua comunidade legitimando esse ritmo enquanto expressão autêntica e pertencente àquele lugar. Essa legitimação confere identidade e promove espaços de sociabilidade e entretenimento ao bairro. O caldeirão do funk em Feu Rosa ferve e, notadamente, constitui-se enquanto um circuito vivo, familiar e comunitário. A associação do funk à violência não se sustenta em todos os contextos. A partir da prática e do discurso de DJ’s, MC’s e de pessoas envolvidas com o ritmo em Feu Rosa, fica evidente a não
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existência de brigas ou de confusões constantes nos bailes realizados no bairro. Os agentes do funk em Feu Rosa fazem de seu ritmo o mais popular do local, sendo veiculado em diversos ambientes e nos mais diversos espaços: nos próprios bailes, nos celulares, nos carros, no comércio, nas casas e nas vozes jovens que circulam pelas ruas do bairro. Em que pese essa constatação, vale lembrar que os bairros mais populares e de periferia, em sua maioria, não dispõem de aparelhos culturais de qualidade. Tal popularidade e aceitação contrastam com a visão deturpada de quem vê de fora essa cena, incluindo aí a mídia, alguns segmentos da sociedade civil capixaba e, muitas vezes, o poder público. Não podemos associar o funk de Feu Rosa à cultura da violência, à marginalidade e à apologia ao sexo sem incorrermos no risco de estigmatizarmos e criminalizarmos os seus agentes e a sua comunidade. Não devemos, portanto, propagar a “história única” ideologicamente formulada sobre o funk, pois essa percepção não permite defesa, não confere voz aos atores desse ritmo e não respeita a diversidade cultural local. O funk em Feu Rosa é criador de ambientes sociáveis, ou seja, ele propicia espaços lúdicos para a comunidade e oxigena os laços sociais dela. A história do MC Luan Galáctico caracteriza o que estamos falando. Este jovem viu e curtiu os “bailes funk de corredor” em seu bairro, cantou e produziu ritmos taxados de apologia ao crime e à violência e sofreu retaliação da mídia e da polícia. Hoje, ele é o único MC em atividade no bairro e traz outra proposta para o ritmo. Atualmente, ele caminha na onda pacífica e divertida – por vezes sensual – que o funk tem trilhado. Assim como Luan, outros jovens sustentam a bandeira em Feu Rosa e fazem a galera da comunidade pular em seus eventos. São eles: DJ’s Júnior Cruel, Espeto, Márcio, Rafinha, Pedrinho, Fabinho e Murilo DJ; as equipes de som Top Mix Treme Tudo e a Equipe Búfalo Bill; além dos grupos de dança Os Danados e Os Galácticos. Mas o que torna esse circuito algo comunitário, por vezes familiar, e, sobretudo, legítimo? Vale notar que a construção de uma identidade é feita de “fragmentos” que formam um todo, ou seja, o funkeiro também é trabalhador, estudante, amigo, filho, neto etc. Assim, aniversários, festas de criança, “rocks” de adolescentes, churrascos de fim de semana, chás-de-panelas, casamentos e demais eventos festivos no bairro com frequência são regados a muito funk em alto e bom som. Os jovens que produzem a cena funk em Feu Rosa são os mesmos que agitam tais ambientes, levam seus equipamentos (caixas de som, mesas, amplificadores, notebooks, pendrives etc.), apresentam as suas músicas (próprias ou de outros) e mobilizam seus amigos e parentes para estarem em tais eventos. Os jovens que trabalham e/ou se divertem com o ritmo são, ao mesmo tempo, o motor e o resultado de sua própria movimentação. Simultaneamente, eles produzem suas músicas e são os ouvintes do funk e frequentadores dos bailes. Esse ritmo e seus atores estão inseridos nas esferas comunitárias e familiares de sociabilidade dentro do bairro. Nas festas, DJ’s são convidados e crianças, adolescentes, jovens, tios, avós, pais e mães dançam e curtem as músicas que esses jovens produzem, importam, trocam, editam ou cantam. Feu Rosa é, portanto, um caldeirão, um caldeirão muito família!
Contribuíram para a produção deste texto o sociólogo Cícero Frechiani, o DJ Espeto e o MC Luan Galáctico.
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Diálogos lomográficos: da construção à desconstrução fotográfica André Arçari Enquanto passeavam por Praga, adentrando em uma pequena loja, uma dupla de estudantes vienenses de Artes Visuais encontrou uma câmera analógica que resolveram adquirir. A princípio, fotografavam com experimentalismo e de diversas maneiras, sem estarem preocupados com as regras da fotografia. Após revelarem seus filmes, logo viram os resultados apresentados nas imagens. As fotos continham as mais diversas variações de contrastes, saturações, granulações, vinhetas, borrões, riscos, dentre outros comportamentos ímpares. O modelo que haviam descoberto, a Lomo LC-A, era um equipamento robusto e sensível à luz. A máquina, inspirada na japonesa Cosina CX-1, era fabricada na década de 1980 pela indústria Lomo, a pedido do governo russo, para ser vendida a baixo custo aos cidadãos que mostrariam o cotidiano da Rússia. Com a ascensão de um novo mercado, o dos computadores pessoais nos anos 1990, a fotografia analógica começaria a desaparecer como consequência das mudanças tecnológicas. A lomografia (neologismo criado a partir da fusão das palavras Lomo e fotografia) nasce com uma intencionalidade inversamente proporcional a estes processos automatizados já que privilegia a utilização de câmeras analógicas de baixo custo. A predileção por essa forma de fazer fotos acabou constituindo um novo estilo de vida. Esse impulso de atos e ideias passa a ter visibilidade internacional somente após a criação da Sociedade Lomográfica em 1994 na cidade de Vienna que em seu primeiro evento criou uma mostra de fotografias compostas em murais e em paredes das cidades de Moscou e de Nova York. Há quem caracterize tal vertente visual apenas pela estética composta nas imagens. É claro que não há como negar esta importância, todavia ela pode ser vista como um estilo único de criação de fotos. A espontaneidade da fotografia tirada no cotidiano, ao acaso, permanece em memória impressa no papel por anos. As câmeras ostentam uma desconstrução entre o ver fotográfico e o que posteriormente é apresentado no fotograma, criando assim uma dupla de experiências únicas de olhar para cada um dos dois momentos. A produção fotográfica analógica diminuiu consideravelmente, tanto que a Sociedade Lomográfica surge com o intuito de preservar esse algo esquecido, quase morto. O caminhar contrário ao processo digital é persistente e possibilita uma permanente reflexão crítica. A máquina, o objeto utilizado, se associa ao fotógrafo tornando-se uma extensão da visão. O contato manual com o foco e a criação de uma paisagem a ser fotografada abre espaço para uma relação intimista entre o fotógrafo e o seu tema. O lomógrafo se apresenta como um experimentador que tenta fugir do lugar comum em busca de lugar nenhum. A prática fotográfica surge com o contato entre o ser e seu eu interior. A busca pela inspiração de poéticas artísticas tem início com a observação do cotidiano pessoal. A abertura para lemas do próprio movimento como “não pense, apenas clique”, “o futuro é analógico” e “deixe o digital para trás” fazem da lomo-
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grafia um diário pessoal. A câmera não deve ser vista como uma interferência, mas sim como parte da sua vida, tornando-se um hábito natural transportá-la para todos os lugares. Devido à expansão da internet, o movimento da fotografia lomo se tornou mais conhecido e os seus adeptos puderam dialogar e compartilhar suas experiências com mais facilidade. Ainda hoje, há aqueles que encaram a lomografia como um simples ato de fotografar, uma composição fotográfica limitada a um padrão visual ou a um modismo moderno. Tal status duvidoso da fotografia como arte ou como registro gera questionamentos e discussões que permanecem sem definições concretas até hoje.
Humor e Humor em vida animada Rodrigo Hipólito No começo era o papel em branco, vazio. No instante em que tudo aguarda o primeiro traço, uma forma, um desenho, surge a ideia da imagem dinâmica. Depois é trabalhar incessantemente para se criar uns segundos de movimento. Esse é o esforço de quem se presta à preciosa prática da animação. Mas esta simplificação é injusta, pois não são apenas segundos de movimento. Melhor seria dizer segundos de vida animada. As tecnologias digitais propiciam um aumento considerável dos segundos de vida animada em relação aos meses trabalhados e também dão um caráter de nobreza à clássica animação 2D. Ainda assim, lá está o criador com cada frame tatuado na retina e imerso numa alquimia da imagem em movimento. Seu percurso é árduo: é necessário ver o mundo em duas velocidades e obter a melhor saída para o produto final. Mesmo sendo espinhoso, esse é o caminho escolhido por muitos jovens que seguem com a energia que somente a vontade de criação lhes confere. “Metal Agropecuário” (1’30’’, 2010) é um exemplo de criatividade posta em ação. Em 2010, a produção do coletivo Eye Move (então composto por Bruno Nogueira, Arthur Perin, Gustavo Rodrigues, Gabriel Busato e Davi Cáo) foi escolhida na categoria Panorama da mostra de vídeo do AnimaMundi, ganhou a mostra de Vídeo do NDesign e foi selecionada para o 17º Vitória Cine Vídeo. A antiga técnica de recortes, adaptada à realidade digital, agilizou o trabalho e serviu muito bem a um vídeo esteticamente limpo que veicula a mensagem de forma direta. Visual e música são equacionados como um conteúdo sintético, dando acesso imediato a uma discussão sobre a expansão e sobre os possíveis usos das novas mídias. O roteiro, feito de pequenas surpresas, traz imagens que se multiplicam em telas dentro de outras telas, mostrando as amplas possibilidades de encontro da imagem digital com o espectador. Essa dinâmica de subsequentes mergulhos na virtualidade é algo comum aos usuários de novas mídias. Lidar com a informação por meio de links é entrar em telas que lhe transportam para outras telas. E em cada mudança, uma novidade acontece. É interessante perceber que acessamos o conteúdo por meio de um humor leve e despretensioso. Está aí o humor que vem do “contraste
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súbito” propiciado pelo roteiro ágil e bem dividido. Isso se dá quando ocorrem situações inesperadas e de pequena magnitude, as quais, aliadas à incongruência entre as práticas esperadas das personagens e o tema do vídeo, constituem o embrião do bem-sucedido humor de “Metal Agropecuário”. Em grau diferente surge o humor de “As Descobertas de Fifi” (1’20”, 2010). Na produção da TV Quase, assinada por Yuri Custódio, com colaboração de Juliano Enrico e com trilha sonora de Chico Cuíca, todo o reino é dado ao nonsense. Incluem-se no material as personagens, que são cães antropomorfizados. A animação, que também participou do 17º Vitória Cine Vídeo, provém de uma história em quadrinhos protagonizada por uma cadela/ menina/mulher publicada na Revista Quase nº 5. A excentricidade de animais que fazem a vez de humanos é tática eficiente como geradora do cômico e também de estereótipos. Tal aspecto permite a agressividade crítica e mordaz sem a necessidade de justificação. O nonsense não é uma voz de oposição, mas é um dedo indicador de onde pinga o sarcasmo mais descarado. Bergson aponta que “o riso não tem maior inimigo que a emoção”[1] e é essa insensibilidade que a TV Quase pede ao espectador para que a aspereza de sua comicidade apareça em seu lado positivo. Em O Ato da Criação, Arthur Koestler mostra que as condições do humor e da criatividade têm muito em comum. Capturar elementos da realidade para os quais damos pouca atenção (ou atentamos em exagero) e dispô-los de maneira a formar um conjunto revelador é, talvez, o papel mais positivo do cômico sarcástico. Assim, o ato de organizar elementos é próximo daquilo da chamada composição. Ao inserir no jogo compositivo uma intenção externa à natureza dos elementos utilizados adentramos na esfera da força criativa. Não é exagero falar de alquimia da imagem em movimento ao compreendermos as exigências criativas do fazer animação. Para se criar uma animação é preciso pensar simultaneamente a quantidade de imagens por segundo e a impressão de movimento resultante da união dessas imagens. E, quando assistimos à vida animada no cômico de sutilezas e de agressividades desses desenhos criados para o movimento, só podemos concordar com uma demonstração: funciona.
[1]BERGSON, H. O Riso. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 104.
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FOTOS ARINY BIANCHI
MARIANNA SCHMIDT FELIPE MOURAD
O ARTISTA PLÁSTICO JUNTA UMA CAMADA DE IMAGENS E POESIA À CRIAÇÃO DA FOTÓGRAFA Se nos atentarmos de maneira rápida para o perfil de Felipe Mourad (28) e de Marianna Schmidt (20) tenderemos a perceber certo antagonismo no modo como esses dois jovens criadores se preocupam com o processo artístico. Porém, o resultado da interação entre Felipe e Marianna, assim como o bate-papo que os dois artistas tiveram, remete muito mais a uma noção de complementariedade do que a qualquer provocação motivada pela busca em sentidos opostos do fazer artístico de ambos. Fotógrafa e estudante de Design, Marianna tem procurado experimentar diferentes suportes para a criação de imagens a fim de testar as potencialidades e os limites do analógico e do digital na fotografia. Já a trajetória de Felipe, que é músico e artista-plástico, busca uma arte que requeira o suporte mais acessível e efêmero possível, por isso as suas investidas na dança e na performance. Enquanto ela pesquisa formas de fixar o objeto imagético, ele quer independer de qualquer materialidade.
Moradora de Vitória, Marianna fez duas seleções de fotos para essa criação em parceria. O primeiro grupo de imagens são com os seus trabalhos considerados mais bem feitos, e outro com os experimentos de uma pesquisa estético-conceitual que ela vem desenvolvendo sem maiores compromissos. Felipe optou por criar a partir desse segundo grupo. Marianna diz que, há cerca de dois anos, tem produzido fotografias com duplas exposições. Essas imagens são retratos de pessoas sobrepostas pelo lugar que elas consideram como parte de si. “A fusão das imagens é uma metáfora que busca mostrar como o ambiente, a paisagem ou outros objetos são percebidos pelas pessoas enquanto algo que as constituem. Mas acho que esse trabalho ainda não está amadurecido”, completa. Apesar de pertencer a uma geração cada vez mais imersa no mundo da manipulação e da produção digital das imagens, a jovem fotógrafa não coloca esses modos tecnológicos em oposição. “Há uma ideia de que a
tecnologia analógica vai ser suplantada pelo meio digital. Discordo. Na criação fotográfica, há um momento para cada coisa”, diz. Cachoeirense e atualmente morador de Vitória, Felipe Mourad tem alguns projetos inconclusos, cursos de Cinema, de Filosofia e de Música. Com uma postura assumidamente anti-artística, ele diz se sentir incomodado com o excesso de imagens dos dias atuais e, por isso, busca manter uma relação com materiais mais orgânicos em suas criações. Segundo Felipe, a perda da individualidade foi o tema que lhe assaltou ao ter contato com as fotografias em dupla exposição de Marianna. “Gosto de pensar uma subjetividade que é produzida ao se misturar com o mundo, ao perder a sua forma”, diz. Uma das marcas do trabalho de Felipe é a presença figurativa de cabeças. Por isso, as intervenções nas imagens de Mariana, como é possível ver nas páginas a seguir, acabaram direcionando a continuidade dessa temática.
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Acima, fotrogafias de Marianna Schmidt. Abaixo, imagens com intervenções e poema feitos por Felipe Mourad.
sou cego e não sossego. / tudo me impele à pele. / uma cegonha anormal me trouxe em uma trouxa de carne frouxa. / a foto em feto, em bola branca. / não se trata de origem nem germe temperado de história / mas de dobrar a anatomia em um origami de orgasmo / ateando fogo à luz. / fui convidado sim. / quando tentei entrar fui expulso. / camadas incômodas de dádivas adiadas / foram acumuladas durante o aprendizado. / corpo corroído por vícios ridículos. / vírgulas envergadas em direção do vazio. / é na invenção do fim que a tempestade retorna / e a estrada se bifurca em fábrica. / corações ridicularizados por cupidos de genitálias bronzeadas. / cegonhas, cupidos. que merda. / perdi a coerência do desiquilíbrio / embora ainda tenha me restado esta coletânea de horrores. / meu vocabulário é pobre como um pobre. / as meias furadas da minha língua / incapazes de coar o café do tempo. / minha mão receptáculo de cacarecos com graxa / hipnotizando sombras sobrepostas. / onde é preferível um suspiro à um soneto habito e trabalho. / há um modo de moldar o medo. / o máximo que pode acontecer é a morte. / os pensamentos se enfraquecem como espermatozóides na fronha. / é hora de dormir, de domar intensidades. / viver é como tirar o anzol da boca de um peixe / devolvê-lo ao mar / e ver que ele não nada. / nada mais. (Felipe Mourad)
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foto Luara Monteiro
CADA VEZ MAIS ARTE E CULTURA JOVEM Em seu segundo ano, o Programa Rede Cultura Jovem (PRCJ) tem buscado aperfeiçoar sua metodologia de funcionamento e ampliar o alcance de suas ações. A experiência de 2010 mostrou o quanto as diferentes juventudes capixabas são inventivas e capazes de desenvolverem suas propostas artístico-culturais. Esse otimismo não é à toa, pois tivemos a chance de acompanhar passo a passo a materialização bem sucedida de diversas ideias concebidas e protagonizadas por jovens do estado. Sendo uma iniciativa inédita no Espírito Santo, o PRCJ caminha para se constituir enquanto um modelo de política cultural direcionada aos jovens para o resto do País. Parte desse sucesso e do pioneirismo se deve à adoção de uma base tecnológica que aposta na dinâmica da produção colaborativa presente nas redes sociais da internet e, principalmente, ao respeito à autonomia juvenil.
Para 2011, a convergência desses movimentos presenciais e virtuais será intensificada. Isso se dará por meio da permanente instrumentalização das iniciativas diretamente vinculadas ao PRCJ, da disponibilização de tecnologias que fortaleçam a dinâmica da REDE CULTURA JOVEM e da promoção do intercâmbio entre os jovens envolvidos com a arte e a cultura no estado.
foto YURY AIRES
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Fomento para a criação jovem No início de maio, foi divulgado o resultado da seleção dos Editais Rede Cultura Jovem 2011. Além de receberem apoio financeiro para serem executados, os 82 projetos contemplados serão estimulados a dialogarem entre si e construírem conjuntamente um espaço virtual no Portal YAH! por meio do qual será feito o acompanhamento de seu desenvolvimento. O Subsecretrário de Estado da Cultura do Espírito Santo e Coordenador do PRCJ, Erlon José Paschoal, conta que a troca de experiências possibilita o crescimento das propostas “ao entrarem em contato com os diferentes jeitos de experimentar a arte e a cultura, as iniciativas amadurecem suas metodologias criativas, afirmam suas singularidades e ampliam o repertório de soluções para as suas fragilidades”. A perspectiva é a de que o sucesso individual de cada projeto dependa da capacidade de mobilização da iniciativa dentro da Rede Cultura Jovem. Isso acontece a partir do estabelecimento de ações colaborativas em que as iniciativas agem de maneira complementar. As propostas farão o relato do desenvolvimento de suas atividades em um blog coletivo. Automaticamente, essas postagens se tornam conteúdos do Portal Yah! gerando visibilidade para os próprios projetos.
Curto-Circuito Uma variada programação artístico-cultural inteiramente gratuita. Esse foi o Curto-Circuito realizado na última semana de novembro de 2010 em Vitória. Foi um momento para celebrar o fechamento do primeiro ano de ações do PRCJ e para divulgar o resultado dos projetos contemplados pelos Editais Rede Cultura Jovem 2010. O público pôde participar de oficinas, encontros, exposições, apresentações e lançamentos que ocuparam vários espaços da Capital. O ponto alto desse calendário de atividades foi o Espetáculo Curto-Circuito, apresentação que levou uma intensa mistura de expressões artísticas para o palco do Theatro Carlos Gomes na noite do dia 27. O Espetáculo, sob a direção de Claúdio Baltar deu ênfase à diversidade cultural presente nas iniciativas juvenis que estiveram diretamente vinculadas ao PRCJ ao longo de 2010. Acrobacia, funk, capoeira, arte circense, danças tradicionais, dança urbana, balé clássico, projeções audiovisuais e locução radiofônica foram algumas das linguagens que entraram em cena.
Parceria de sucesso com o Maes O PRCJ tem buscado estabelecer parcerias que gerem conteúdos para o Portal Yah! e movimentar a cena cultural local. Um bom exemplo disso foram as atividades realizadas junto com Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo (Maes) durante a exposição Edital 11 que esteve aberta até o último dia 8 de maio. Além de veicular a agenda do Maes, algumas das ações do Programa de Arte-Educação que fizeram parte da mostra foram transmitidas ao vivo pelo Portal. A coordenadora do setor de Arte-Educação do Maes, Melina Almada, conta que essas ações de comunicação cumprem um papel importante, pois ampliam as discussões promovidas pelo Museu, principalmente, junto ao público jovem. “A veiculação online amplia nossa atuação uma vez que o auditório do Museu dispõe apenas de 40 lugares. Isso também possibilita que as pessoas acompanhem as atividades, independente de seu deslocamento até o Museu”, diz Melina. Para se ter uma ideia, a transmissão de uma dessas palestras contou com um total de 73 visitas, ou seja, o público virtual foi quase o dobro da capacidade do auditório do Maes. Além disso, os internautas podem intervir com perguntas e comentários por meio das redes sociais, como o Twitter ou o Facebook, no momento em que a atividade acontece. Antes da exposição Edital 11, o Portal Yah! já havia realizado transmissões audiovisuais ao vivo de outros eventos realizados pelo Maes. Comparado a essas primeiras experiências, o número de acessos à página das transmissões teve um aumento de 80%. Melina explica: “esse crescimento se dá por agora contarmos com uma pessoa que se dedica exclusivamente a divulgar essas programações na internet, utilizando especialmente as redes sociais”. O calendário de transmissões da exposição Edital 11 foi iniciado no dia 23 de março. Nesta data foi realizado um bate-papo com Bernadette Rubim, organizadora da mostra, com os artistas expostos e com seus respectivos orientadores. No
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foto Luara Monteiro
dia 04 de maio aconteceu o Ciclo de Palestras com Ricardo Basbaum que buscou discutir a relação curador-artista. Esta foi última atividade da exposição a ser veiculada pelo Portal. A partir de agora, o PRCJ espera aperfeiçoar a metodologia empregada nas transmissões e firmar novas parcerias que gerem conteúdos artístico-culturais para o Portal Yah!. Se você quiser ter o seu evento transmitido, entre em contato com a nossa equipe e apresente a sua proposta. Para mais informações: contato@portalyah.com.br jornalismo@redeculturajovem.com.br.
Mostras Capixabas de Audiovisual 2011 O registro da diversidade cultural do Espírito Santo feito por jovens de diferentes regiões capixabas. Esse é um dos desdobramentos das Mostras Capixabas de Audiovisual (MCA), eventos que acontecerão no segundo semestre deste ano. Além de exibirem produções realizadas por estudantes em oficinas de audiovisual, as Mostras geram intenso intercâmbio artístico-cultural e promovem a visibilidade das expressões culturais locais. Em 2011, essa rede de realizadores será ampliada com a MCA Histórico-Cultural. A edição com a nova temática terá região sul do Estado como sede. Juntamente com as versões Rural, Ambietal e Etnográfica, essa ação do PRCJ passa a envolver 53 municípios capixabas em um circuito de produção e exibição audiovisual no qual os jovens são os protagonistas.
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IVO GODOY
PORTAL YAH!: PROGRAMANDO UMA CULTURA EM COMUNIDADE “Criar é dar forma ao próprio destino”. Albert Camus Mudamos! Em menos de 16 meses de vida o Portal Yah! viveu intensamente o conflito que é se pautar como iniciativa cultural no ambiente da internet. Seu relativo sucesso em 2010 foi devido à implementação de uma série de códigos e de funções que não permitiram a constituição de um verdadeiro ambiente colaborativo, digo, na essência do fazer, da prática em comunidade. Apesar de a primeira versão do Portal dispor de uma interface compartilhada, a tecnologia empregada em sua programação atendia a uma lógica privada e protecionista do conhecimento. Diante disso, o Programa Rede Cultura Jovem (PRCJ) optou por migrar para uma plataforma desenvolvida em código aberto ou open source, mudança tal que tornou a plataforma tecnológica coerente com os valores que orientam o PRCJ. Para entender melhor esse passo importante é preciso conhecer algumas diferenças entre o código fechado e o código aberto. É uma prática comum entre empresas privadas de desenvolvimento web cobrarem pelo uso e pela manutenção dos softwares desenvolvidos em código fechado com o intuito de manterem a propriedade intelectual das funcionalidades desenvolvidas, assegurando que o uso dessas tecnologias fique restrito aos clientes por meio de estabelecimento de contratos. É por conta dessas restrições que muitos usuários de softwares vivem uma dicotomia entre a ilegalidade dos programas piratas que fazem uso de “cracks” de ativação e a migração para softwares livres que, por algum motivo, ainda não caíram no gosto do público. Quando o usuário burla um mecanismo de ativação de um software proprietário, ele está infrigindo um conjunto de leis que protegem a atividade lucrativa. Por outro lado, quando fazemos a opção pelo uso de um software livre, estamos rompendo com a lógica de apropriação do conhecimento imposta pelo código fechado e, ao mesmo tempo, superando os limites que impedem um desenvolvimento tecnológico amplamente democrático, ou seja, o código aberto supera e subverte o fluxo de trocas orientadas pela lógica do lucro.
Ao migrar para o código aberto, o Portal Yah! se insere na pauta internacional de políticas de desenvolvimento de tecnologia para web passando a fazer parte de uma comunidade que disponibiliza um aporte de conhecimento altamente qualificado compartilhado por grandes desenvolvedores web do mundo inteiro: a Wordpress.org. Esta plataforma oferece uma interface de navegação dinâmica com um sistema administrativo de nada menos 14.040 plugins gratuitos, que realizam as mais diversas funções, que vão desde a criação de uma simples agenda até a integração de postagens a partir de dispositivos móveis. A Wordpress. org também dispinibiliza mais de 1.300 temas gratuitos que dão flexibilidade e tornam mais práticas as alterações de aparencia dos blogs. E o mais importante: a possibilidade de implementar melhoramentos no código de programação que está disponível para qualquer usuário da plataforma. Bendito seja o open source! "Conte-me e eu vou esquecer. Mostre-me e eu vou lembrar. Envolva-me, e eu vou entender". Confúcio Na página de apresentação do wordpress.org há a seguinte frase: “nós gostamos de dizer que o WordPress é livre e inestimável, ao mesmo tempo” e segue adiante “existem milhares de plugins e temas disponíveis para transformar seu site em quase qualquer coisa que você possa imaginar”. Para quem trabalha com arte e cultura, ouvir as palavras livre, inestimável, transformar e imaginar é algo bem sedutor. E foi nessa linha de inspiração que o Portal começou a pautar suas novas diretrizes. O Yah! é hoje uma plataforma multi-sites onde cada ação da rede pode ter um ambiente (blog, site ou hotsite) personalizado e customizado de acordo com a sua especificidade. Um exemplo disso são os blogs de colunistas colaboradores. Nesses espaços, jovens mobilizadores antenados veiculam conteúdos multimídia de assuntos ligados à arte e à cultura. A partir disso, é possível traçar panoramas e anseios críticos dos jovens capixabas sobre artes plásticas, música, dança, teatro, audiovisual, design, quadrinhos, comportamento,
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entre outros assuntos. O modo de operação em multi-site facilita o ato de tecer a virtualização das ações na rede, pois a dinâmica de veiculação e de indexação de conteúdos é customizada de acordo com as especificidades da atividade em desenvolvimento. Cada ação ganha um ambiente personalizado e integrado à arquitetura de navegação dinâmica do Portal como um todo. Não podemos esquecer que o Portal Yah! continua sendo uma rede social virtual onde cada integrante tem total liberdade de levantar sua bandeira e deexpressar suas ideias por meio da criação de grupos temáticos, do compartilhamento de links, do envio de mensagens, da postagem de conteúdos diversos, de comentários sobre as postagens de outros usuários da rede, “favoritando” conteúdos e conectando-se à cabeças criativas. Enquanto um híbrido de portal de informação com rede social, o Yah! se torna um espaço latente de diversidade e de significações. As informações compartilhadas tanto pela equipe editorial do PRCJ quanto pelos membros colaboradores formam uma massa de dados que apresenta o que a cultura jovem do Espírito Santo está produzindo para o mundo web. A parcela de rede social do Portal é o que amplia a cobertura de ações a cada novo membro com novos conteúdos e proposições que surgem de forma espontânea. A sua plataforma aberta dispõe de ferramentas que proporcionam a visibilidade e o compartilhamento das ideias e muitos já as utilizam para mobilizar a arte e a cultura no estado, pois é isso que o Yah! propõe: uma rede colaborativa de arte e cultura capixaba. Este foco é que nos aponta para as diferenças e para as conformidades conceituais com outras redes como o Facebook, Orkut, Youtube, entre outros. O Portal não propõe uma concorrência com estas redes de relacionamento. Ao contrário disso, a integração com elas por meio de APIs e Plugins é o que possibilita a veiculação de vídeos do Vimeo e do Youtube ou de galerias de imagens do Flickr nas atividades dos usuários, assim como as funções de compartilhamentos com outras redes (share this) que estão presentes nas postagens de blog. O Yah! é uma interjeição capixaba com sotaque web. Sabemos que cada rede social trabalha um conceito de utilidade de acordo com o perfil e com a necessidade do usuário. Dessa forma, o Portal surge com o intuito de identificar, conectar e dar visibilidade a jovens produtores de arte e cultura do Espírito Santo. Este sotaque reverberá com muito mais força na web a partir deste ano com atividades na área de desenvolvimento open source e de produções audiovisuais para web que serão incentivadas pelas Bolsas Cultura Tech e pelos Núcleos Web TV – ações inovadoras trazidas pelos Editais Rede Cultura Jovem 2011. A Bolsa Cultura Tech incentiva a pesquisa e a produção de softwares e de aplicativos a serem distribuídos livremente. Uma forma de incentivar os jovens a pensarem soluções de tecnologia web para conteúdos artístico-culturais. Já, por meio dos Núcleos Web TV, serão criadas séries audiovisuais inéditas para fazerem parte da programação da Web
TV do Portal veiculando um conteúdo autoral e alternativo produzido por jovens. A possibilidade de se experimentarem novas linguagens é da natureza juvenil. Em se tratando de revolução digital, culturas e internet, os jovens tiveram um papel fundamental na conquista desse espaço e da liberdade de expressão que ele proporciona. Os agentes que promoveram esta revolução eram todos hackers da comunicação que pensaram em soluções para uma cultura compartilhada. Augusto de Franco em seu texto “Como se tornar um Netweaver” diz que a mentalidade hacker não é confinada a esta cultura do hacker-de-software e que é possível encontrá-la nos níveis mais altos de qualquer ciência ou arte. “O termo hacker tem a ver com aptidão técnica e um prazer em resolver problemas e superar limites”. Eric Raymond Temos hoje no portal Yah! uma possibilidade de experimentar a cultura digital sob a mediação da dinâmica colaborativa. A estrutura de programação apresenta uma mobilidade em sua arquitetura modular em que conjuntamente podemos “dar forma ao próprio destino”, ou seja, o futuro desta ferramenta está a cada dia mais próximo da ação comunitária e isso parte de cada indivíduo que se envolve na causa. Pensar dinâmicas culturais da juventude é o verdadeiro código que programa este portal; e assim descobrimos a cada dia que somos todos programadores hackers da cultura, assim como o foram Albert Camus, Confúcio, Pierre Lévy, Eric Raymond, Fernando Sabino e tantos outros.
Participe do Fórum “Rumos do Portal Yah!: programando a cultura em comunidade” e dê a sua contribuição. Acesse: portalyah.com/groups/rumos-portal-yah/forum Para saber mais sobre as funcionalidades do portal, acesse: portalyah.com/suporte API: é um conjunto de rotinas e de padrões estabelecidos por um software para a utilização das suas funcionalidades por programas aplicativos que não querem envolver-se em detalhes da implementação do software, mas apenas usar seus serviços. Plugin: também conhecido por plug-in, add-in, add-on. É um programa de computador usado para adicionar funções a outros programas maiores, realizando alguma funcionalidade especial ou muito específica. Geralmente pequeno e leve, é usado somente sob demanda. Fonte: Wikipédia - www.wikipedia.org
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Saulo Pratti
DO SUMO AO SUCO Em meio a tantas referências de se perder de clique, ninguém mais pode ser só aquilo que consome; o suco, a mistura disso tudo. O designer de hoje tem que ser sumo, essência. A essência que carrego com esses links, amigos, é de que o mundo – ao menos o dos designers – é um só: o da criatividade. Dia-a-dia, bit-a-bit smeira.blog.terra.com.br Silvio Meira não fala (só) sobre design e tampouco fala para designers. É sobre o estado atual do mundo e das coisas e como nos relacionamos com tudo e com todos. É coisa que deveria ser comida todos os dias no café-da-manhã, junto a aveia e o Toddynho. ISO50 iso50.com Todo mundo tem a sua fonte de referência preferida: aquele lugarzinho de onde brotam novas ideias e vibrações. Nisso o ISO50 é fonte inesgotável: de modernismo retrógrado, em cores e formas. The Fox Is Black thefoxisblack.com Inspiração é o que não falta: arte, design, arquitetura e música é o que alimenta a raposa do The Fox Is Black que, inclusive, é casa do sensacionalíssimo Desktop Wallpaper Project. Ironic Sans ironicsans.com Falando em fonte inesgotável, parece não haver limites para David Friedman, um dos caras com o senso de humor mais sagazes da internet, e suas inúmeras ideias malucas.
52 weeks of UX 52 weeksofux.com O enredo de 52 weeks of UX não poderia ser mais simples: Josh e Josh falam com sinceridade — e simplicidade — sobre as questões e processos do design para cair na real. Signal vs. Noise 37signals.com/svn Acredite em mim, a 37signals não é, de longe, uma empresa qualquer. Conhecer as histórias e as experiências deles é de abrir os olhos e os ouvidos pra muitas outras coisas, especialmente se você sabe que ser designer é muito mais do que a soma de tudo isso que escrevi ai atrás.
Juventude e participação, para fazer acontecer! Lorena Lucas Regattieri
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o falar da juventude brasileira, alguns questionamentos perpassam o nosso cotidiano, tais como: de qual juventude estamos falando? Qual o lugar do jovem nas políticas sociais? Como entender a juventude nos espaços públicos destinados a ela? Quais os princípios norteadores das ações destinadas aos jovens? Quais têm sido os espaços destinados aos jovens na cidade? Esse arcabouço de questões faz parte da rotina dos estudiosos das políticas públicas para juventude no Brasil e orientam a pauta da agenda pública para a necessidade real do planejamento e da implementação de políticas construídas a partir do levantamento das diversas demandas do jovem. É fundamental que as diversas juventudes participem efetivamente de todo esse processo de concepção, de execução e de avaliação de ações do Estado, pois se trata de algo que lhes interessa e lhes afeta de alguma maneira. No município de Vitória, a juventude esteve presente e se utilizou de um mecanismo de gestão participativa em 2005, o Orçamento Participativo da Juventude (OPJ), para apontar suas demandas políticas e sociais. Foi a partir dessa atuação juvenil em um espaço de definição de ações do poder público que surgiu o Centro de Referência da Juventude (CRJ). Atualmente, no Espírito Santo, o CRJ é um dos únicos espaços mantido pelo poder público exclusivamente destinado ao jovem. O Centro conta com equipe técnica e com educadores sociais e oferece variadas oficinas culturais, acesso a cursos profissionalizantes, além de apoiar e promover eventos de dança, arte, graffiti, cinema etc.
DIVERSAS JUVENTUDES
São várias as classificações e as noções atribuídas ao que é ser jovem. Tal variedade dificulta um consenso em torno do conceito de juventude. Podemos dizer que, de modo geral, a sociedade encara esse momento como uma preparação e uma espera para a entrada no mundo adulto, emprestando aos próprios jovens esse entendimento em relação à etapa juvenil. Frente às múltiplas faces da juventude, muitos autores a denominam no plural: juventudes. Isso é feito para não perder de vista as diferenças que se apresentam de diversas formas: gênero, etnia, classe, orientação sexual, religião, entre outras. É preciso levar em conta as particularidades e
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as singularidades próprias dessa fase da vida, embora não devamos cair em uma perspectiva fragmentada sobre a juventude. Nesse sentido, os jovens com características diferenciadas (sociais, econômicas, culturais etc.) constituem um ser social que se apresenta de múltiplas formas. Entretanto, possui em comum com outros o tempo da juventude, ou seja, a demarcação de uma fase da vida. É preciso observar como os jovens expressam o seu modo de agir e como percebem as concepções de juventude que lhes são atribuídas. Nesse sentido, a produção de imagens do que é ser jovem, construídas ora pela sociedade, ora por eles próprios, permite embasar as políticas públicas para esse segmento. O esforço expressivo na realização do debate sobre as políticas para a juventude tem possibilitado a compreensão do jovem enquanto sujeito social diverso, o que garante a valorização da diversidade juvenil e permite a obtenção de uma identidade pessoal e coletiva.
implementação dos serviços, proporcionando, assim, mudanças no desenho das políticas. O debate sobre o tema juventude deve considerar as diversas significações que esse público apresenta. Portanto, é preciso ter clareza das necessidades reais (lazer, cultura, emprego, saúde, educação, segurança etc.) que compreendem a condição juvenil. Diante da histórica carência de políticas públicas integradas, que atendam os jovens em sua totalidade e em sua diversidade, é imprescindível que o Estado crie mecanismos que garantam direitos a esta parte da população. Por mais que existam ações desenvolvidas com objetivo de atender à juventude, elas ainda são executadas pontualmente. Ao tratar de políticas públicas para a juventude, não se pode perder de vista a relevância da participação dos sujeitos jovens. Por isso, é preciso tornar possível e garantir a contribuição dos jovens na elaboração e na execução das políticas públicas que lhes dizem respeito como forma de promoverem o seu reconhecimento enquanto sujeito de direitos.
SUJEITO POLÍTICO
As políticas públicas voltadas à juventude estão sendo construídas a partir das demandas dos jovens por meio de orçamentos participativos da juventude, dos conselhos de juventude, dos fóruns e de outros mecanismos de participação. Esses canais de participação têm possibilitado mudanças no tratamento dispensado aos jovens ao perceber que esses sujeitos são capazes de formular proposições que originem ações a serem planejadas e direcionadas para o atendimento de suas demandas. No Brasil, nos últimos seis anos, começaram a tomar forma e conteúdo as políticas públicas para a juventude a partir das articulações da sociedade civil com o poder público. Paralelamente, com a inserção dessa temática nos diversos níveis de governo, percebeu-se a necessidade de se compreender o jovem como sujeito social possuidor de direitos e de deveres singulares a esta etapa de vida. A ampliação do olhar sobre a juventude tem resultado na identificação de novas questões, como a relação dos jovens com a cultura e com a vida comunitária. Com isso, faz-se o reconhecimento de um universo que está além das representações jovens observadas até o momento, como movimento estudantil e político-partidário, e da ideia de juventude como preparação para a fase adulta. Esse novo olhar resulta em desafios para a elaboração de novas estratégias de trabalho para a atuação pública junto a esse segmento. O diálogo entre os movimentos sociais, as ONGs, os partidos políticos, entre outros, tem viabilizado o debate político do tema e tencionado a criação de uma agenda pública na qual estejam pautadas ações para os jovens que ultrapassem o tradicionalismo das políticas voltadas a esse público. Com base nos novos conceitos de juventude, as políticas públicas têm buscado respeitar as particularidades e também levar em consideração a participação do jovem na
E agora, como participar das decisões?
Para garantir efetivamente políticas públicas integradas e coerentes com os interesses da juventude, é preciso compreender e aproximar-se da realidade dos jovens. O que eles estão pensando? Como descobrir o que se passa na cabeça do jovem? Seus interesses, a relevância dos serviços prestados pelo Estado para sua vida e para seu cotidiano, enfim, qual a real demanda da juventude? A resposta está na criação de mecanismos de participação e no incentivo do Estado para que a juventude atue e colabore no processo de identificação, de criação e de avaliação das políticas públicas. Este ano, teremos a 2ª Conferência Nacional da Juventude, prevista para ocorrer de 9 a 12 de dezembro em Brasília. É fundamental que, localmente, os jovens participem dos debates e apresentem as suas demandas para que as propostas feitas nos níveis municipal e estadual pautem a formulação da política nacional. Vale ressaltar que, além da realização das conferências de juventude, o Plano Nacional da Juventude estabelece como proposta de trabalho a criação de espaços que garantam a participação do jovem na tomada de decisões das políticas públicas. Essas tarefas devem ser elementos primordiais na consolidação das ações voltadas a esse público. Artigo adaptado do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “Olhares da Juventude - A Trajetória das políticas públicas de juventude do município de Vitória na Assistência Social: Desafios do Centro de Referência da Juventude (CRJ)”, de autoria de Lorena Lucas Regattieri e Sabrina Lúcia P. da Silva, apresentado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Espírito Santo no dia 17 de julho de 2009.
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O passado vivo dos halogenetos Sthefany Frassi
1. Sann Gusmão
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Sann Gusmão: flickr.com/sanngusmao Roberta Zouain: flickr.com/rzouain Bárbara da Silva Santos: flickr.com/drunken__butterfly Carol Vargas: flickr.com/carolinevargas Marianna Rosa: flickr.com/colorsbleed
São indiscutíveis as facilidades que os equipamentos digitais trouxeram para a técnica fotográfica. Um fato intrigante é que, assim como a chegada dos CDs e de tantos outros suportes para reprodução musical deixou no ar certo saudosismo em relação aos vinis (os bolachões) e a seus sedutores chiados, na fotografia as máquinas digitais abriram espaço para fazer nascer um sentimento semelhante. A eliminação do processo de revelação é uma das consequências da tecnologia digital. Esse imediatismo na visualização das imagens – uma das grandes vantagens dos equipamentos digitais – afeta o próprio ato de fotografar. Com a abolição do fator surpresa, das expectativas quanto ao produto final e do custo de revelação, a tendência é que o fotógrafo seja muito menos criterioso ao disparar o clique. Quem observa um fotógrafo trabalhando tem a impressão de que sua ação é um frenético disparador automático. Outra implicação é que as fotografias não dependem mais do suporte material para existirem. As imagens estão guardadas nos computadores, nos celulares etc e não mais nos tradicionais álbuns. Fotos importantes acabam sendo perdidas de forma irreversível. Sem falar na não mais contemplação do objeto por meio de contato físico e direto. Imagine ver fotos do seu próprio casamento somente no computador. É como ler “Grande Sertão: Veredas” pelo celular! Sim, é ainda um apego ao passado (passado?), um grito nostálgico abafado pela cega reverência ao novo. Ou, simplesmente, um jeito de lembrar como era bom esperar intermináveis horas para a revelação das fotos daquela festa, de ver o álbum da família na casa a vovó com os primos apontando-se uns aos outros aos risos.
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2. Roberta Zouain, 3. Barbara Santos
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4. Barbara Santos, 5. Carol Vargas
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6. Carol Vargas, 7. Marianna Rosa
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COLABORADORES André Arçari Artista que caminha livremente pelos segmentos da performance, da videoarte e da fotografia. Cursa Artes Visuais na Ufes. Ama café, cinema europeu, gatos e passarinhos, exatamente nesta ordem. andre_nascimento_br@hotmail.com facebook.com/profile.php?id=71215206
comunidades de Vitória e colaborou com Revista FalaKbça. Também atuou na área de produção audiovisual pelo Projeto Atitude Jovem. É membro da equipe gestora do Cine é da Hora: Cineclubismo e Educação em Direitos Humanos - atividade de extensão da Ufes. alemaoproex@gmail.com
Ariny Bianchi Fotógrafa, produtora e agitadora cultural, cursa Artes Visuais na Ufes. Dialoga com a produção fotográfica, trabalha na área de marketing e manutenção das redes sociais do Museu de Arte do Espírito Santo - Delnísio Del Santo. Participou da segunda turma dos Agentes Cultura Jovem do Programa Rede Cultura Jovem. flickr.com/arinybianchi coletivopiniaes.tumblr.com arinybianchi@gmail.com
Brunella França Jornalista, escritora, colunista, blogueira, metida a fotógrafa e a twitteira. Vencedora do Prêmio Direitos Humanos de Redação em 2004. Menina da Lua. Aquariana. Apaixonada por livros. Ama música grega e celta, chuva fina e dias nublados. Nasceu no prazer primaveril das histórias infantis. Seu castelo tem paredes de grandes histórias e teto de poesias. As janelas são feitas de crônicas e as portas de contos de fadas. É assim, inteira, amor e letras. E quer as consequências. A inevitabilidade. A intensidade. A liberdade de ser. bruls@hotmail.com @brulls radioleszone.com.br/thelwordfics
Dayane Freitas Jornalista e especialista em Linguagens Audiovisuais e Multimídia pela Ufes. É roteirista de vídeo e áudio e redatora de cursos a distância do Senai-ES. Curte cinema, cibercultura, narrativa transmídia, educação a distância. dayanea.freitas@gmail.com facebook: Dayane Freitas
Felipe Puff Gomes Carnavalesco do bloco Regional da Nair e Designer gráfico. @felipe_puff Felipe Mourad É dançarino de butô, poeta, compositor musical, artista plástico e massoterapeuta. grupodeexterminiodasartes.blogspot.com myspace.com/vitrolade3
Filipe Mecenas Cursa Desenho Industrial na Ufes, desenvolve trabalhos nas áreas de animação, encadernação, ilustração e vídeo e pesquisa sobre a integração de técnicas manuais e digitais no design. filipemecenas@gmail.com flickr.com/filipemecenas desenhoblablabla.blogspot.com
Karina Viega Graduanda em Letras-Português pela Ufes, é escritora, revisora, tradutora e intérprete. Desenvolve criação, produção e pesquisa em artes plásticas, audiovisual, moda e eventos culturais. Integra a Equipe de Montagem de Exposições Artísticas Tuca Sarmento. Ex-hippie, encontrou um concurso no meio do caminho e tornou-se funcionária pública. Disfarça o canto dos pássaros em palavras jogadas num singelo blog. karinaviega@gmail.com passarinhonagaiola.wordpress.com
Gustavo Senna Azeite Designer e expurgador. @ztones
Henrik Carpanedo Arquiteto, paisagista e poeta, não na mesma ordem e se tivesse câmera, fotografaria também. taxiparataxi.blogspot.com facebook.com/henrikcl Isabella Mariano Estudante de Jornalismo da Ufes, bailarina na horas vagas e cristã em tempo integral. Amante das artes cênicas, dos livros, do cinema e da boa música. ssinceramente.blogspot.com isabellasfm@hotmail.com
Ivo Godoy Artista multimídia formado em Artes Plásticas pela Ufes desde 2007. Desenvolve atualmente dois projetos de poéticas digitais: o AXIDIOMA.com e o projeto Vídeo-Críticas. Trabalha atualmente como web
Fabiano de Oliveira (Alemão) Quando fez parte do CineKbça desenvolveu atividades de formação cineclubista em escolas públicas e de produção audiovisual, promoveu exibições itinerantes em
design no Programa Rede Cultura Jovem. Compõe, junto com um grupo de artistas e pesquisadores, a molécula HnA - Molécula Multiplicadora de Arte. axidioma.com portalyah.com/videocriticas
Laíssa Costa Gamaro Ilustradora, publicitária, cineclubista e compositora nas horas vagas. É co-fundadora do Estúdio Cosmonauta, um estúdio gráfico digital que trabalha com base na valorização dos direitos humanos e no conceito de desenvolvimento social pautado na promoção da cidadania e da cultura. flickr.com/laissagamaro estudiocosmonauta.com.br
Lívia Corbellari É jornalista em formação pela Ufes e uma das criadoras do blog AgitoCult. É colaboradora da Revista Graciano, onde se arrisca a escrever poemas e participa da criação do projeto gráfico. Também colabora com a revista Srombolli na qual escreve sobre filmes. liiviacor.blogspot.com twitter.com/liiviacor
Lorena Regattieri É assistente social e mestranda em Comunicação. É uma ativista pela efetivação dos direitos da juventude, principalmente através do empoderamento. Acredita que a informação, a colaboração e o compartilhamento de conhecimento são ferramentas únicas para transformações significativas na rotina do jovem. Estudiosa em cibercultura, dedica-se a entender as mudanças na participação da sociedade com o uso da internet. lorenaufes@gmail.com @followlori
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Luara Monteiro Artista plástica, fotógrafa e designer. Participou de diversas exposições pelo Espírito Santo. Em 2010, teve o projeto Rota 101/ ES contemplado pelo Edital Bolsa Cultura Jovem. Trabalha no Programa Ponte na OSNSG. Reside na Casa nº16 e busca novos encontros para produções colaborativas. flickr.com/luaramonteiro monteiroluara@hotmail.com
Marianna Schmidt Cursa Desenho Industrial na Ufes onde pesquisa em design da informação. Seu foco é o design editorial e a fotografia e se mete com isso sempre que pode. Publicou duas edições de uma revista digital, a mmag, e vem colaborando em outras publicações. Gosta de música, moda e chocolate, mas não sabe fazer nada disso. Maníaca por post-its e marcadores coloridos, adora coisas bonitas e quer fotografar você. flavors.me/marimarianna mariannaschmidt@gmail.com
Natássya Carvalho Estudante de Artes Visuais na Ufes, trabalha como fotógrafa freelancer e editora de imagem. Entusiasta da fotografia, valoriza a liberdade estética em relação a proposta fotográfica e considera a importância do tratamento fotográfico como forma pessoal de interpretação visual. natassyanc@yahoo.com.br natassyacarvalho.blogspot.com Nina Uyttenhove Transita entre linhas tortas de poesia e imagem. Cursa Língua Portuguesa na Ufes e muitas outras nos lugares onde esteve. Belga pela metade, brasileira por completo. “Tupi or not Tupi”: Antropófaga. Canceriana. Daquelas que tatuam as iniciais das amigas de infância na costela e casas (muito engraçadas) no pulso. Assobia para aliviar a ansiedade constante. Maior sonho: corrigir erros ortográficos como profissão. Maior medo: segredo. ninauytt@hotmail.com pensentimento.blogspot.com Paula Dorsch Mineira, pisciana e graduanda em Publicidade e Propaganda pela Ufes. Atualmente se divide entre faculdade, posts para o Blog Laboratório, pesquisa sobre fashion blogs e a organização do evento COM.MODA. paula.dorsch@gmail.com bloglaboratorio.com Rafael Lobo É sociólogo de formação, mestre em sociologia política, poeta, boleiro, ciclista, boêmio e, às vezes, contador de lorotas. Mineiro, perambulou pelo Brasil por anos, mas escolheu Vitória para morar... por hora. Trabalha(ou) com crianças, adolescentes e jovens em projetos sociais. Participou de coletivos autônomos de poetas
publicando em livretos marginais e até jornal, sob a alcunha de “Fael du lobo”. @faeldulobo faeldulobo.blogspot.com
nhos, colagens e fotografias. @feffifeffi www.issuu.com/revistastrombolli Wérllen Castro Designer Gráfico monazita e expurgador. flickr.com/werllen werls.tumblr.com @werls
Rodrigo Hipólito É artista plástico, crítico e poeta atuante no Coletivo Monográfico. Atua como colunista do Portal Yah! e redator do blog Seleta Envelhecida. seletaenvelhecida.blogspot.com portalyah.com/objetoquadrado
Saulo Pratti Namora a web mas tem uma paixão secreta pelo papel. Trabalha na Giran Soluções e Ensino como web designer e escreve de vez em quando em seu blog. @blude diasnormais.com
Savya Alana Aspirante a jornalista, graduanda pela Ufes, seus primeiros passos foram na equipe de reportagem da Rádio Espírito Santo. Em paralelo, devido à paixão pelo jornalismo cultural idealizou o Blog Agito Cult juntamente com amigas movidas pelo mesmo sentimento. Logo depois, se encantou por escrever crônicas e registrar impressões sobre o cotidiano e suas transformações. Graças a este gênero textual se tornou colaboradora da Revista Strombolli. Atualmente se dedico ao jornalismo multimídia e está trabalhando com redes sociais e TV na web. www.twitter.com/Savyalana savyalana@gmail.com agitocult.blogspot.com
Yury Aires Graduando em Artes Plásticas pela Ufes, fotógrafo, aspirante a cinema, experimentador de técnicas audiovisuais, editor de vídeos, trabalha eventualmente em comerciais de TV como assistente de direção de arte. Assíduo pesquisador, criou a vídeo-instalação ]Ensaio sobre Ausência[. É desenhista gráfico nas horas vagas e sempre pratica suas ideias. vimeo.com/user1615670 yuryaires@gmail.com
Sthefany Frassi Formada em Comunicação Empresarial. Trabalha com design gráfico. Produtora da Revista Strombolli. Apaixonada por dese-
Revista Nós / Secretaria de Estado da Cultura / Programa Rede Cultura Jovem / Instituto Sincades. – n. 3 (jun. 2011). Vitória, 2011. v. : il. : 20,2 x 26,4 cm. Semestral. Editor: Paulo Gois Bastos. ISSN 2236-0425 I.Bastos, Paulo Gois. CDD 050
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GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO Renato Casagrande – Governador Givaldo Vieira – Vice-Governador
Revista Nós Jornalista Responsável e Editor Paulo Gois Bastos (MTB/ES 2530)
SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA DO ESPÍRITO SANTO José Paulo Viçosi – Secretário Erlon José Paschoal – Subsecretário Joelma Consuêlo Fonseca e Silva – Subsecretária de Patrimônio Cultural
Projeto Editorial – Orlando Lopes e Paulo Gois Bastos Projeto Gráfico Original – Alex Vieira e Vinícius Guimarães
INSTITUTO SINCADES Idalberto Luiz Moro – Presidente Dorval Uliana – Gerente Executivo
PROGRAMA REDE CULTURA JOVEM Erlon José Paschoal – Coordenador Danilo Pacheco – Coordenador Administrativo-Financeiro Marcelo Maia – Coordenador da Plataforma Digital Vânia Tardin de Castro – Coordenadora da Plataforma de Projetos
Revista Nós edição nº 3 Design gráfico, Diagramação e Capa – Felipe Gomes, Gustavo Senna e Wérllen Castro Ilustração da seção Crítica Emaranhada – Filipe Mecenas Textos – André Arçari, Brunella Brunello, Brunella França, Dayane Freitas, Fabiano de Oliveira, Felipe Mourad, Henrik Carpanedo, Isabella Mariano, Ivo Godoy, Karina Viega, Laíssa Costa Gamaro, Lívia Corbellari, Lorena Regattieri, Nina Uyttenhove, Paula Dorsch, Paulo Gois Bastos, Rafael de Almeida, Rodrigo Hipólito, Saulo Pratti, Savya Alana, Sidney Spacini e Sthefany Frassi. Revisão de textos – Luiz Cláudio Kleaim
Equipe Técnica: Fernanda de Castro Barbosa Filipe Alves Borba Gustavo Rocha Pereira de Souza Ivo Godoy Kênia Lyra Maira Rocha Moreira Paulo Gois Bastos
Direção de Fotografia – Luara Monteiro
Estagiária: Larissa Fafá
Conselho Editorial da revista Nós nº 3 Alex Reblim, Carolina Ruas Palomares, Juliana Lisboa, Karina Moura, Luiz Carlos Cardoso, Max Lander e Vitor Lopes.
Fotos – Ariny Bianchi, Bárbara da Silva Santos, Carol Vargas, Francisco Neto, Gustavo Senna, Luara Monteiro, Marianna Rosa, Marianna Schmidt, Natássia Carvalho, Roberta Zouain, Sann Gusmão e Yury Aires. Ficha catalográfica – Ana Lúcia Smazaro Siqueira (CRB 296)
Especificações Gráficas Tipografia – Emona, Syntax LT, LT Finnegan Papéis – Offset e Pólen Impressão – Grafitusa Tiragem – 5 mil exemplares
A revista Nós é uma publicação do Programa Rede Cultura Jovem. Rua Abiail Amaral Carneiros, nº 191, sala 505, Ed. Arábica – Enseada do Suá – Vitória-ES, CEP: 29.055-220. (27) 3026-2507 / jornalismo@redeculturajovem.com.br redeculturajovem.com.br Vitória-ES Junho de 2011
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NOVELO · 59 FOTO NATÁSSYA CARVALHO
UM ANIVERSÁRIO PARA A DANÇA URBANA Realizado pela União de Dançarinos do Espírito Santo (Udes), o Encontro de Danças Urbanas acontece na Praça dos Namorados, em Vitória. No último sábado de cada mês, praticantes dos diversos estilos da dança urbana da Grande Vitória se reúnem para mostrarem suas coreografias. Esta imagem foi produzida no último dia 30 de abril, durante a edição comemorativa dos três anos de Encontro. urbanudes.blogspot.com
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