Revista Beija-Flor de Nilópolis - nº 3 / Ano 2004

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Beija-Flor de Nilópolis é uma escola campeã. Basta fazer uma retrospectiva e veremos a enorme contribuição que a agremiação de Nilópolis deu e tem dado ao desfile de Carnaval, ao samba e à sua comunidade. E nesse ano de 2004, em que a escola completa 50 anos de desfiles e de histórias, é importante lembrar o papel da Beija-Flor de Nilópolis na história do Carnaval, seja na renovação de conceitos, na inovação na forma de apresentar o desfile, seja na ousadia de enfrentar forças políticas e religiosas assegurando a arte e a criatividade do espetáculo. Foi também a azul-e-branco de Nilópolis que inaugurou a época do Carnaval de equipe instituindo a Comissão de Carnaval. Mas a Beija-Flor fez mais. Muito mais. Em 50 anos de desfiles retratamos as belezas da nossa terra Brasil. Suas histórias, lendas e a esperança do seu povo, mostrando ao mundo o verdadeiro Brasil. Para nós, que editamos a revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida, é uma grande honra poder colaborar com a história da agremiação, resgatando sua memória, valorizando os ícones por muitos esquecidos, e, principalmente, reforçando para o público o papel de vanguarda da escola, que foi capaz de inovar, também, no mercado editorial do samba. A partir da revista Beija-flor de Nilópolis - uma escola de vida, fomos capazes de mostrar ao leitor, com arte, cor, conteúdo e qualidade, que uma escola só é forte quando tem história, que pode ser contada e recontada. Fomos a primeira revista a tratar o samba e o Carnaval com a abrangência que lhes é devida. Sentimo-nos na obrigação de divulgar e valorizar histórias, opiniões e acontecimentos. Instituímos a era da informação nas revistas de samba, convidando ícones do samba como Sérgio Cabral, Haroldo Costa e Hiram Araújo, que nos brindaram com suas reflexões sobre temas importantes do samba, do Carnaval e da vida. Nesta edição, fomos além. Decidimos mostrar ao leitor a contribuição que as escolas de samba dão na construção de uma identidade nacional ao cidadão brasileiro, através da valorização da sua terra e das suas riquezas. Para isso, contamos com as reflexões de dois grandes nomes da literatura nacional: dr. Hiram Araújo e o sociólogo Edson Farias, da Universidade Federal da Bahia. Hoje, mais do que nunca, sabemos que somente aqueles brasileiros que aprenderam a amar realmente o nosso país poderão construir e assegurar a dignidade dessa nação e do seu povo. E os desfiles das escolas de samba, fazem isso. Tocam o nosso coração e o nosso orgulho de sermos brasileiros. E porque queremos incentivar as iniciativas que fazem do Brasil um país melhor, mergulhamos um pouco mais no universo das atividades sociais da Beija-Flor de Nilópolis, escola de sambistas e de brasileiros. Lá, diária e anonimamente, um exército de corajosos brasileiros planta as sementes da esperança, do saber e da felicidade naquelas crianças, que serão o futuro dessa nação chamada Brasil. Por fim, queremos agradecer mais uma vez ao Anizio pela confiança que depositou em nossa equipe para que pudéssemos fazer esse trabalho que a todos nos orgulha. Muito obrigado, Anizio, muito obrigado família Beija-Flor.

Hilton Abi Rihan e Ricardo Fonseca Editores

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004: meio século de desfiles da Beija-Flor. Impossível não lembrar de tudo que fizemos e que virou história. Foram anos em que a Beija-Flor viveu momentos de alegria, de euforia pelas vitórias, de apreensão pelos resultados, mas também de tristeza, de sensação de injustiça e de muitas lágrimas derramadas. Mas vivemos esses momentos com a mesma determinação e coragem, convictos da nossa missão. Cientes de que no Carnaval, vitória e derrota se espreitam e se alternam.E isso nunca nos assustou... Nem nos intimidou. Ao contrário, essa linha que as separa sempre nos fez caminhar para frente e com muita ousadia... Inovando, modificando conceitos, questionando padrões e levando para o público novas visões do mundo que nos cerca. E fizemos isso sempre com muito respeito e amor. Afinal, o povo sempre espera o melhor de nós. E é isso que procuramos fazer. Desfiles inesquecíveis, que se tornam parte da vida daqueles que vão à Sapucaí para ver a Beija-Flor cantar uma mensagem de resistência e luta, e de descoberta de um Brasil mágico, desconhecido de muitos. Um Brasil colorido, alegre, sensível, artístico... Um Brasil de bromélias, de Bidus Sayão, esmeraldas, gaúchos e o Brasil com fome, o Brasil sem fome... E, por isso, o grande desafio da Beija-Flor é revelar o Brasil aos seus filhos sem perder a poesia, o ritmo e o espírito que animam o Carnaval. Foi assim com a imortal Bidu Sayão, a desbravadora Margaret Mee, a mística Agotime e Araxá, de onde se avista o sol primeiro. E por isso sambamos... E cantamos... ...Com um exército de anjos a 4.000 vozes, que soltam a sua alma para contar histórias e levar esperança e alegria à Sapucaí, em uníssono com as 100.000 vozes que aguardam nas arquibancadas e camarotes o canto da Beija-Flor, que será ouvido por milhões de pessoas no mundo inteiro. E assim caminha a Beija-Flor, lutando pelo que acredita e tentando mudar o mundo para melhor. Essa escola chamada Beija-Flor, formada por Marias, Josés, Severinos, Marlenes, Claudios, Nelsons, Selmas, e outros anjos, que se dedicam e fazem o mais deslumbrante espetáculo da Terra. Se a Beija-Flor de Nilópolis foi a campeã em 2003, parabéns a todos que tornaram isso possível. Mas 2004 está aí, à nossa frente, exigindo novas conquistas. E a garra, a disciplina, a coragem e a determinação da Beija-Flor vão nos guiar nesse desfile para a conquista de mais um título. Um desfile que mais uma vez nos chama à brasilidade, ao amor ao nosso país. E é essa a mensagem que queremos deixar à família Beija-Flor e ao povo brasileiro: que compreendam o país em que vivem e o amem como se fosse parte de vocês, porque se vocês forem capazes de fazer isso, entenderão que o Brasil é, realmente, parte de vocês. E vocês, parte dele. Anizio Abrão David

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E XPEDIENTE

CAPA Beija-Flor de Nilópolis: Meio século contando segredos e histórias de um Brasil vitorioso.

Editores Hilton Abi-Rihan Ricardo Fonseca

expediente

Projeto Editorial Hilton Abi-Rihan Ricardo Fonseca Produção e Marketing Designum Comunicação

Criação: Designum Comunicação Fotos: HMatos, DTavares e RBarreto

Jornalista responsável Ricardo Fonseca, MTb RJ23267JR Redação Miro Lopes Ricardo Albuquerque Maurício Louro Karla Legey Colaboradores Hiram Araújo Vicente Dattoli Edson Farias R evisão de TTexto exto Mariflor Rocha Heloisa Borghi Fotografia Henrique Mattos Danilo Tavares Robson Barreto Valter Henrique Acervo PMN Acervo Beija-Flor

S UMÁRIO Carnaval 2004 - Manôa, Manaus - Amazônia

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O Desfile

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Beija-Flor de Nilopólis. Onde começa o amor ao Brasil

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Entrevista com Boni

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Beija-Flor de Nilópolis: 50 anos de conquistas

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D E S I G N U M comunicação www.designum.com.br e-mail: designum@designum.com.br Rua Senador Dantas, 117 gr. 2028 Rio de Janeiro Telefones: (21) 2240-3338 / 9776-2554

A revista Beija-Flor - uma escola de vida, ISSN 1678-3611, é uma publicação do Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis e da Designum Comunicação Ltda. As opiniões emitidas nas entrevistas concedidas e os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição dos editores. É permitida a reprodução parcial ou total das matérias, desde que citada a fonte. Fevereiro de 2004 - Tiragem: 60 mil exemplares

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Farid ilópolis. Década de 20. Aqui se inicia uma história de amor. Recém chegados do Líbano, o mascate Abrão e sua jovem companheira Júlia, adotam a cidade para ser o lugar onde irão vivenciar o amor ao semelhante, transformando a vidas das pessoas a sua volta. Nilópolis. Século 21. Da chegada do casal de imigrantes libaneses para cá, muito tempo se passou, mas as lições que Dona Júlia deixou ficaram impressas na lembrança de seus filhos, que agora, honram a memória da família dando continuidade a essa história de amor. Um amor que se faz presente a cada momento: no gabinete de trabalho, na construção de uma sala de aula, no convívio cotidiano com as pessoas, nas festas de Natal, e Cosme e Damião, nos projetos e benfeitorias de interesse público... na quadra da escola... e na passarela, quando a Beija-Flor de Nilópolis desfila com garbo, diante do seu povo. É essa história de amor que prossegue no olhar e no sorriso de uma criança da Creche e do Educandário, que agora já tem onde estudar... Da empolgação dos jovens que graças às atividades do CAC encontraram o rumo de suas vidas... Por tudo que vivi nesses anos, tenho muito a agradecer a Deus e, por isso, peço a Ele que continue iluminando nossos caminhos, para que essa história de amor, que começou com D. Júlia e Seu Abrão, nunca acabe.

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Ricardo Albuquerque

ais do que um grito de alerta em defesa

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açados pela devastação, poluição e ambição do homem.

do meio ambiente, a Beija-Flor mos-

Os espíritos guardiães da floresta também serão exalta-

trará ao público, em 2004, o maior tesouro ecoló-

dos no desfile, que contará as lendas que povoam e prote-

gico do planeta. A Amazônia será apresentada

gem a Amazônia, uma das regiões mais ricas do planeta,

como o verdadeiro Eldorado do século XXI, a ter-

que inclui terras do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana,

ra sagrada que guarda os segredos da cura e da

Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.

paz. A Comissão de Carnaval escolheu e elaborou

Somente a Amazônia brasileira compreende 3.581 km2,

o enredo "Manôa - Manaus - Amazônia Terra San-

o que equivale a 42,07% do território do país. A Amazônia

ta, que Alimenta o Corpo, Equilibra a Alma e Trans-

abriga o maior rio do mundo, 33% das florestas tropicais e

mite a Paz", com dois objetivos: despertar a cons-

cerca de 30% das espécies conhecidas de plantas e ani-

ciência sobre a importância de se preservar a re-

mais.

gião considerada o pulmão do mundo; e conquis-

A idéia de levar a Amazônia para a Marquês de Sapucaí

tar o bicampeonato para a escola de Nilópolis, com

surgiu há três anos, quando Luiz Fernando Ribeiro do Carmo,

uma mensagem de que dias melhores virão, a partir

o Laíla, coordenador da Comissão de Carnaval da Beija-

do momento em que o verde da floresta e as águas

Flor de Nilópolis, esteve na região. "Quando estive em Parintins

dos rios sejam respeitados.

e assisti à festa local, achei a história muito interessante e

Ao contrário do que imaginavam os explora-

sabia que ia dar um grande carnaval. Viajei para Manaus

dores espanhóis, no século XVI, o Eldorado sem-

diversas vezes, e fiz contatos com empresários para viabilizar

pre existiu. Mas não era de ouro, prata ou esmeral-

o desfile", afirma Laíla. Cid Carvalho, também da Comissão

das, e sim um paraíso ecológico que guarda os

de Carnaval, complementa o raciocínio: "A Amazônia precisa

segredos da cura para os males do corpo e do

ser enxergada com os olhos da alma. Por trás de uma folha

espírito.

está um grande depósito de vida e cura para os males do

Os oito setores da escola vão contar a história

mundo. Falta consciência aos brasileiros também. Muita gente

da fauna, da flora e da abundância do maior reser-

vai a Nova York, mas nem conhece a energia que se mani-

vatório de água potável do mundo, tesouros ame-

festa naquele lugar. A Amazônia tem que ser mostrada como

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felicidade o lugar especial, não apenas como um simples depósito de

sãos. Que o quadro do futuro não seja pintado com os tons

folhinhas".

de cinza das queimadas, o negro das fumaças das fábricas

O vôo da Beija-Flor para conquistar o primeiro

ou os tons de marrom das águas poluídas, mas que seja

bicampeonato do século começará no segundo dia de des-

sim, tingido com as variadas cores e infinitos matizes que

file do Grupo Especial, quando os 4.000 componentes entra-

nos legaram todos os deuses: o verde das matas, o azul do

rem na Marquês de Sapucaí - a escola será a quinta

céu e das águas, a explosão de cores dos pássaros e das

agremiação a se apresentar. Os diretores e os integrantes da

flores, o branco da paz. Que ecoem para todo o sempre as

Comissão de Carnaval garantem que a força da comunidade

vozes dos povos e dos espíritos da floresta na imensidão

estará presente em todas as alas, cantando o samba-enredo

verde. Evocando sob a luz da lua cheia os espíritos dos

e exibindo muita garra e determinação, para contagiar a Pas-

ancestrais pajés feiticeiros em louvor da deusa Amazônia, a

sarela do Samba, exatamente como aconteceu nos últimos

Senhora Guardiã dos Segredos da Própria Vida. Manôa que

cinco anos. E o resultado desse esforço é significativo: cam-

virou Manaus. O coração do Amazonas. Uma Terra Santa

peã em 2003 e quatro vice-campeonatos.

que Alimenta o Corpo de quem transforma sua fauna e flora em uma forma de vida e de cura, que Equilibra a Alma da-

Sinopse poética A sinopse poética da Beija-Flor foi elaborada por Cid Carvalho e Carlos Fernandes, o Shangai, e um dos trechos

queles que tiveram seu espírito perturbado pelo caos da civilização e Transmite a Paz em tempos em que o homem insiste em declarar guerras".

resume com precisão o objetivo do enredo e a mensagem da escola para o público: "[...] Fica então aqui o nosso grito

A força da comunidade

de alerta para que juntos, numa junção de energias univer-

Mais uma vez, a grande estrela do carnaval da Beija-Flor

sais, possamos enfim compreender que o Eldorado de fato

será a comunidade da Baixada Fluminense. O presidente

é real, mas de ouro não é não, nem mesmo diamantes ou

Anizio Abrão David é o primeiro a exaltar a importância da

esmeraldas. Que todos se dêem conta que o verdadeiro

força do povo, lema seguido à risca pelos integrantes da

Eldorado é verde e brota no coração da floresta. Que nas

Comissão de Carnaval. Cria da escola, desenhista e figurinista,

suas folhas, ramagens, cipós, flores e ervas estão guarda-

Ubiratan Silva, o Bira, é um dos membros da comissão e

dos os segredos para a cura dos males do corpo e do

resume com poesia a força da comunidade na Avenida: "Você

espírito. Que a nossa guerra seja por um mundo melhor, por

sente a força do povo. Você reconhece as pessoas na Ave-

saudáveis gerações. Que a nossa luta seja eterna para pre-

nida, dando todo o suor, toda a garra. Quando a comunida-

servarmos uma dádiva infinitamente valiosa: a água - o fan-

de canta é mágico. Não adianta você ter um samba maravi-

tástico combustível da vida. Como guerreiros, transformar-

lhoso se a escola não acredita nele, não canta, não acompa-

mos a sede que ameaça o planeta, em sede permanente da

nha. Se você tem uma fantasia linda e colocar em um estran-

batalha por um mundo de pessoas com o corpo e a mente

geiro para desfilar, vai faltar alma, ao contrário do que acon-


tece quando uma pessoa da comunidade veste a fantasia:

de termos a liberdade para criar, muita coisa do que apre-

ganha alma, ganha vida. O canto da ala da comunidade é

sentamos na Sapucaí é a versão artística de fatos reais, que

coisa de louco. Primeiro que o Laíla ensina a cantar e exige

aconteceram. Damos um colorido especial, mas partimos

que todos cantem. As pessoas cantam o samba afinadas. A

de acontecimentos reais, que trouxeram conseqüências re-

comunidade treina e canta horas e horas, para chegar na

ais para a sociedade. Por isso, na etapa de pesquisa, somos

Avenida e passar o verdadeiro recado. A gente chega na

muito cuidadosos. A partir de uma idéia discutida pelo Laíla e

concentração cantando o samba, atravessa a Avenida can-

por todos nós, da Comissão de Carnaval, inicio a pesquisa

tando, chega na Praça da Apoteose cantando, vai para arqui-

bibliográfica. Nessa hora, mergulhamos nos livros, enciclo-

bancada e continua cantando. Isso funciona e é muito lindo.

pédias e na internet para colher informações das mais diver-

Isso é a Beija-Flor de Nilópolis".

sas, com os mais variados enfoques, para subsidiar o de-

Mais de duas mil fantasias serão doadas pela Beija-Flor

senvolvimento do projeto do desfile. É um trabalho exausti-

à comunidade. São ritmistas, baianas,

vo, mas agradável, porque sabemos

crianças e passistas que desfilam sem

que uma boa pesquisa faz com que a

gastar um centavo. Mas é preciso mais

Comissão de Carnaval tenha mais ele-

do que samba no pé e a letra do samba

mentos para desenvolver um carnaval

na ponta da língua. A assiduidade aos

de primeira... Como temos desenvolvi-

ensaios, o empenho e a emoção são

do nos últimos anos."

fatores importantes para garantir a fan-

Após a pesquisa, que se estende

tasia que irá brilhar na Passarela do Sam-

aos demais integrantes da Comissão de

ba. As pessoas são catalogadas pela

Carnaval, a sinopse poética foi definida

Comissão de Carnaval e, até três dias

e escrita por Cid Carvalho e Shangai,

antes do desfile, têm que comparecer

com aprovação de todos os membros

aos ensaios e mostrar o espírito que

da comissão.

serve de combustível para a Beija-Flor:

Em agosto, Bira, Fran e Cid fizeram os rascunhos dos figurinos e dos car-

o amor à escola.

ros alegóricos, transformando as idéias

Comissão de Carnaval As palavras que melhor definem o

em realidade pela primeira vez. É o que Diretor de Harmonia e de Carnaval da Beija-Flor de Nilópolis, Laíla criou na agremiação a Comissão de Carnaval...

trabalho da Comissão de Carnaval da

os carnavalescos da Beija-Flor chamam de organograma inicial, que pode so-

Beija-Flor são organização e dedicação. A primeira reunião

frer algumas alterações ao longo do planejamento. "A gente

para definir o enredo aconteceu em julho, quando os cinco

discute o que vai ser e faz os rascunhos, que viram dese-

integrantes foram pesquisar o assunto. "Primeiro, o enredo

nhos e são pintados, para enfim ganharem vida. Na noite de

seria 'Deixem a Amazônia em Paz. A Guerra em Busca da

apresentação dos protótipos, a comunidade e o público pas-

Água'. Aí a gente achou melhor mudar o nome, mas a essên-

sam a ter uma idéia precisa da nossa proposta, porque está

cia permaneceu a mesma. O nosso enredo é uma denúncia

tudo ali, devidamente materializado", explica Bira, que junto

do começo ao fim", recorda Laíla, que acredita numa receita

com Fran Sérgio, criou e pintou os desenhos.

simples para fazer um bom carnaval: o enredo é fundamental

Como Fran Sérgio é arquiteto, os rascunhos e as plantas

para o sucesso do desfile, sem esquecer é claro de ingredi-

técnicas dos carros alegóricos ficam sob a sua responsabi-

entes importantes como o samba bem cantado pela comu-

lidade. As visões frontais e laterais dessas alegorias facilitam

nidade, belas fantasias e alegorias capazes de surpreende-

o trabalho de montagem e carpintaria, que envolve dezenas

rem o público e os jurados.

de pessoas. Materiais como isopor, fibra e espuma são muito

Além de liderar o trabalho de escultor e entalhe em metal,

utilizados para dar vida e cor. "Eu acompanho a formação

Shangai, que é muito elogiado por Laíla pela sua cultura geral

dos carros e todos da comissão têm ciência do que é feito

e inteligência, é o responsável pelas principais pesquisas que

aqui", observa Fran, responsável também pela elaboração

irão embasar o trabalho de elaboração e descrição do des-

do mapa de metro e meio que contém a planta baixa dos

file, feito pela Comissão de Carnaval. Segundo Shangai, "O

carros e mostra onde cada pessoa ficará localizada. "Cada

Desfile de carnaval é um acontecimento muito importante.

diretor de carro tem uma planta baixa, com o nome, foto e

Milhares de pessoas estão acompanhando a festa e, apesar

localização de cada pessoa que estará no carro. Essa orga-

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nização é fundamental para evitar o corre-corre e permite que todos os integrantes da comissão possam se preocupar com outras questões durante o desfile na Avenida. Eu, por exemplo, fico encarregado do abre-alas, que tem 15 metros de comprimento", comenta Fran Sérgio. O trabalho de Fran antecede ao de Cid Carvalho que cuida da decoração final dos carros alegóricos, observando minuciosamente cada detalhe, para que nada escape à proposta inicial da reunião feita em julho com os integrantes da Comissão de Carnaval. Depois de participar da criação das fantasias

Autores:Cláudio Russo, Zé Luís, Marquinhos, Jessi e Leleco

A ambição cruzou o mar Trazida pelo invasor A Espanha veio explorar, Pilhar e semear a dor

e dos protótipos, Cid mergulha no que chama de trabalho de bancada. "É o desenvolvimento dos adereços que irão deco-

Amazônia, Terra Santa

rar os carros. Tudo isso está prontinho, embalado e guardado

Dos Igarapés, mananciais

para evitar acúmulo de poeira e tirar o brilho do material. O

Alimenta o corpo, equilibra a alma

ateliê é o coração estético do desfile", conta Cid, que sobe e

Transmite a paz

desce as escadas do ateliê intermináveis vezes para supervisionar o trabalho do pessoal. Cid trabalhou com Joãosinho

Brilhou o Eldorado

Trinta, de 1989 a 1992, e com Milton Cunha, em 1996, também

No coração da mata

na Beija-Flor, mas defende a idéia de se criar uma Comissão

As guerreiras

de Carnaval como um meio de se alcançar melhores resultados. Mas alerta: "A Comissão de Carnaval ajuda a valorizar os jovens carnavalescos sim, desde que os componentes este-

Belezas naturais, riquezas minerais O reino de Tupã ergue a bandeira

jam engajados e mergulhados no enredo e sejam altamente entrosados. Debater as idéias é fundamental", conclui. Qualquer alteração nas fantasias somente pode ser feita

Êh! Manôa Minha canôa vai cruzar o Rio-Mar

com a aprovação dos integrantes da Comissão de Carnaval.

Verde paraíso é onde Iara

A principal preocupação é manter a unidade de cores de for-

Me seduz com seu cantar

mas, sem prejudicar o enredo e bom andamento do desfile. Embora não revelem as surpresas preparadas para o desfile,

Força, mistério e magia

os integrantes da Comissão de Carnaval apostam no sucesso

Fruto da energia o meu guaraná

da fantasia do curupira, uma das lendas da Amazônia e na

A lágrima que o trovão derramou

comissão de frente, que irá retratar a lenda das amazonas.

A terra guardou semente no olhar

Em 2004, após a passagem da Beija-Flor, os membros da comissão esperam que o objetivo da escola tenha sido

Maués, Anauê, cultura milenar Anauê, Manaus, Mamirauá

atingido: sensibilizar o público da Marquês

Viva a Paris tropical

de

Água que lava minh’alma

Sapucaí e a opi-

Ao matar a sede da população

nião pública sobre

Caboclo ê a homenagem hoje é

os riscos iminen-

A todo povo da floresta um canto de fé

tes de a Amazônia sucumbir diante da cobiça dos

Se Deus me deu vou preservar

homens.

Meus filhos vão se orgulhar A Amazônia é o Brasil, é luz do Criador Avante com a tribo Beija-Flor ... integrada pelos competentes Shangai, Fran-Sérgio, Bira e Cid Carvalho, além do próprio Laíla.


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Foto: Robson Barreto

Amazônia U

ma escola campeã, que não economiza alegria na avenida. Essa é a Beija-Flor de Nilópolis, uma agremiação que se preocupa em levar para o seu público um desfile que sensibi-

lize pela beleza e pela criatividade, desenvolvido sob um enredo audacioso, mas responsável, e que transmita uma mensagem útil aos seus espectadores em todo o mundo. Com o objetivo de ampliar a compreensão do enredo e dar maior repercussão ao desfile da escola, estaremos apresentando, nas próximas páginas, a seqüência do desfile da BeijaFlor de Nilópolis, com a apresentação de cada ala e carro alegórico, com seus destaques, e o que eles representarão na avenida. As fotos que ilustram cada seção são meramente decorativas, e retratam o desfile da azule-branco de Nilópolis no Carnaval de 2003. fevereiro 2004

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A Lenda das Amazonas Comissão de Frente

A

s lendas da Região Amazônica vão povoar o

setor 1

Foto: HM

e a ganância espanhola

de dança e ritmo da comissão de frente da

imaginário popular quando a Beija-Flor entrar na

azul-e-branco de Nilópolis há oito anos.

Avenida. As 15 bailarinas da comissão de frente farão uma

Ghislaine leu a sinopse poética do enredo em

homenagem à força espiritual da maior floresta tropical do

julho, reuniu-se com a Comissão de Carnaval

planeta. Os gestos e os movimentos foram criados pela co-

e começou a ensaiar as bailarinas pouco tem-

reógrafa Ghislaine Cavalcanti, responsável pelo espetáculo

po depois. "Faço questão de começar cedo

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Foto: DT

os ensaios, por entender que o treinamento é vital para que

As bailarinas têm formação clássica e trabalham com

possamos fazer uma grande apresentação", confessa a co-

a coreógrafa há oito anos, o que facilita o entrosamento,

reógrafa, que assistiu a vídeos sobre danças folclóricas da

como constata a bailarina e publicitária Carla Martins, 23

região e fez algumas viagens à Amazônia, para se inspirar na

anos. "A nossa integração é de suma importância, porque

criação dos movimentos adequados à proposta do enredo.

na hora do desfile a Ghislaine não terá como corrigir algu-

O encontro com o figurinista Henrique Filho definiu os

ma falha. Portanto, precisamos estar bem concentradas."

detalhes da fantasia. De 30 a 20 dias antes do desfile, pelo

Desde os 16 anos, Carla freqüenta a quadra, o bar-

menos três ensaios técnicos com as fantasias serão realiza-

racão e os ensaios da comissão, e revela que a cada

dos, para que as bailarinas não tenham problema de adapta-

desfile a emoção é diferente e indescritível. "Não me

ção à roupa. "Eu preciso que o corpo tenha liberdade para

acostumo, sempre rola uma emoção forte e muita ten-

atuar dentro de uma fantasia deslumbrante e o Henrique tem

são porque estamos ali para sermos julgadas e avalia-

feito isso com muita competência nos últimos quatro anos.

das não apenas pelos jurados, mas por todo um públi-

Eu digo o que quero e, geralmente, ele faz melhor do que

co, como aconteceu em 2001, quando em plena Aveni-

imaginei", revela. As principais preocupações de Ghislaine

da fizemos a transformação da rainha em pantera

são emocionar o público e agradar tecnicamente os jurados,

(Agotime). Por isso, não podemos falhar", completa.

por ser um quesito de julgamento. "Com um tema tão com-

Segundo Ghislaine, desfilar é uma realização profissio-

plexo como o desse carnaval, cada detalhe tornou-se ainda

nal para cada uma delas. "Desfilar é uma realização pro-

mais importante, por requerer ainda mais criatividade", diz

fissional. Todas sabem o seu papel e a sua função na

Ghislaine, que tem uma consultora especial para assuntos

Avenida", observa a coreógrafa, que mantém duas bai-

místicos: a pajé Ineida, de uma tribo do Pará.

larinas reservas para qualquer eventualidade.

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Foto: Danilo Tavares Foto: DT

Gelo - a Origem Fria do rio Amazonas Ala Comunidade Pela Amazônia passa o maior rio do mundo, o majestoso Rio Amazonas, com cerca de 7.100 quilômetros de extensão desde a Nascente a 5.300m de altitude, na montanha Nevado Mismi, na Cordilheira dos Andes (Peru) - um lugar frio e coberto de gelo - até a sua foz no Oceano Atlântico.

Neve - Flocos Brancos de Cristais Estrelados Ala Comunidade Nos Andes, quando a neve que cobre a cadeia de altas montanhas derrete, transforma-se em água e desce a montanha formando o Rio Huarco. Depois o Huarco vai serpenteando e mudando de nome: Rio Toto, Rio Santiago, Afurimac, Ene, Tambo e Uacayali. Quando este rio entra no Brasil, recebe o nome de Solimões. Perto de Manaus (capital do Amazonas) encontra o Rio Negro e passa a se chamar Rio Amazonas.

Alegoria 1a e 1b - Carro abre-alas: "O Império Inca e a Ganância Espanhola" Nesta alegoria estarão os seguintes destaques: A Prata (Fabíola Oliveira), Espanhol Francisco Orellana (Fran-Sérgio), A Ambição (Alessandra Pirotelli), Sacerdote Inca (Marcos Oliveira) e O Império do Sol (Paulo Robert), entre outros.

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Fabíola Oliveira Destaque

sse ano não vai ser igual aquele que passou. Pelo do público e tem que dar tudo de si, a cinco ou seis metros do menos para a primeira-dama da Beija-Flor, Fabíola chão, o que naturalmente provoca uma certa tensão. Na pista, Oliveira, que voltará a desempenhar um papel que já faz parte a gente mantém contato direto com os diretores, os passistas de sua vida, há 15 anos, quando começou a pedir passagem e as alas, o que emociona muito e é altamente prazeroso para o desfile da sua escola de coração. Do alto do carro também. Em qualquer lugar na Beija-Flor, o importante é que abre-alas, Fabíola representará a síntese do desfile: "venho no reina a emoção de uma comunidade voltada exclusivamente carro que retrata a principal razão pela qual os espanhóis en- para o desfile, disposta a dar tudo pela escola", completa. frentaram o grande perigo do oceano em direção ao continente americano. Minha fantasia é muito interessante. Ela faz uma convergência dos diversos significados dos astros Sol e Lua, na visão do povo Inca, dos índios das tribos amazônicas e do explorador espanhol. Os Incas adoravam a Deusa Lua e o Deus Sol, enquanto as tribos amazonenses adoravam Jaci e Guaraci. Por outro lado, na visão gananciosa do invasor espanhol, esses símbolos de adoração representam a prata (lua) e o ouro (sol). Minha fantasia é uma mistura dessas visões e significados." O desfile de 2004 marcará o retorno de Fabíola à Sapucaí, depois de ficar afastada por vontade própria, em 2003, em virtude da gravidez de Micaela, uma das mais novas integrantes da família Beija-Flor. O retorno é encarado com muito orgulho, prazer e responsabilidade. Fabíola sabe da importância de ser o destaque do carro abre-alas. "A emoção é muito forte e eu passo o tempo inteiro dançando e cantando o samba da escola, chamando o público com o coração a participar do nosso desfile", observa ela, que ano passado optou por desfilar na pista e pôde ver com muita alegria a irmã mais velha, Alessandra, substituí-la no carro que saúda o público e abre caminho para a apoteose da Beija-Flor na avenida. "Eu estava com quase cinco meses de gravidez e sentia muito enjôo. Por isso, achei melhor vir no chão, dividindo a alegria diretamente com o meu marido e o meu filho, Gabriel", explica. A experiência na pista também serviu para Fabíola ver o quanto é importante a união de todos os componentes da escola, sem exceção. "No abre-alas, você está sozinho diante

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Foto: DT

O Sapa Inca - Imperador Filho do Sol Ala Sem Compromisso

setor 2

O Sapa Inca, o Filho do Sol, era o imperador supremo da civilização Inca. Adorado como um deus, era o mediador das civilizações entre o mundo dos homens e o mundo dos deuses. Cada novo Sapa Inca que ascendia ao trono casava-se com

Coya, sua irmã mais velha (embora pudesse ter um número ilimitado de esposas) e vivia em meio ao luxo e à riqueza. Transmitia a proteção e a segurança do Universo, o que garantia a ordem social.

Acllas - as Virgens do Sol Ala Amizade

As Virgens do Sol, também denominadas Acllas, eram moças que se dedicavam ao serviço do Sol e do Inca, além de trabalhar em rituais. Geralmente eram filhas dos nobres mais proeminentes e tornavam-se esposas do Inca ou dos nobres.

Coya Raymi - Festa da Lua Ala Comigo Ninguém Pode

Coya Raymi, a festa da Lua e da rainha, era uma festividade na qual os guerreiros dançavam. Ocorria no mês de setembro

e era planejada por Coya e pela Sacerdotisa Suprema (esta última, escolhida entre as Virgens do Sol, era uma mulher que levava uma vida de castidade).

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Ganância Espanhola - a Destruição de Civilizações Ala 1001 Noites A ganância espanhola foi a força propulsora de um choque cultural seguido de um processo de dominação das populações ameríndias. Ávidos por prestígio e riquezas, os espanhóis foram responsáveis pela destruição das civilizações nativas.

A Cobiça Dourada Move a Espanha Ala Dá Mais Vida O ouro - metal amarelo, precioso e brilhante - foi a principal motivação para que os espanhóis, movidos pela cobiça, se lançassem ao mar em busca das riquezas existentes na América.

O Desejo Insano Feito de Prata Ala Dos Cem e Ala Amar é Viver A prata - metal precioso branco e brilhante - junto com o ouro, foram as riquezas materiais que alimentaram a ganância desregrada da Espanha pela conquista e posse das terras e bens das civilizações pré-colombianas.

A Floresta de Pedras Preciosas Ala Signos Quando saíram da Europa em busca de riquezas, os espanhóis procuravam por algo mais além de ouro e prata. No fascinante Eldorado, acreditava-se que as sementes dos frutos eram as mais belas pedras preciosas.

A Nobreza Sonhada de um Reino Legendário Ala Animação Cultural Acreditando na existência do fantástico Reino de Manôa, os espanhóis se perdem em delírios. Ultrapassando os limites da realidade e indo além das fronteiras do tempo e do espaço, antecipam-se como se já houvessem encontrado o lendário lugar. Imaginam-se em um fictício reino como membros de uma suntuosa Corte, os quais orgulham-se em exibir a fortuna encontrada.

Eldorado - a Lendária Terra de Riquezas Inestimáveis Ala Baianas A lenda do Eldorado afirmava a existência de terras no território sul-americano onde a riqueza era fascinante. O ouro abundava em tamanha quantidade nessa região, que até os lajedos eram desse precioso metal. Foi a exuberância de pedras e metais preciosos que motivou a saída de europeus rumo ao Eldorado.

Alegoria nº2: "Em Busca do Eldorado - Manôa e a Floresta de Ouro e Prata" Nesta alegoria estarão os seguintes destaques: Riquezas (Luciano e Cláudio) e Corte do Eldorado (Paulo Balbino) entre outros.

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Demônio Inquieto da Ambição Icamiabas - a Tribo Guerreira das Amazonas Ala Comunidade As Icamiabas ou Amazonas eram índias guerreiras que amputavam o seio direito a fim de manusear o arco e flecha com Amazonas inspirou não só o nome do rio, mas também o de um Estado da Federação e de toda uma região.

Guacaris - Os Privilegiados Amantes das Amazonas Ala Comunidade

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extraordinária perícia. Também não possuíam marido, embora esporadicamente acasalassem com os Guacaris. A lenda das

Índios de tribo vizinha à das Amazonas. Desposavam estas mulheres guerreiras em uma festa anual dedicada à lua, a qual ocorria às margens de um lago. Criavam os filhos homens provenientes destas relações, enquanto as filhas eram criadas pelas próprias guerreiras.

O Amuleto do Espelho da Lua Ala Velha Guarda / Baianas

Os muiraquitãs eram amuletos dados aos índios Guacaris pelas Amazonas que, após o acasalamento, mergulhavam em um lago chamado Espelho da Lua para buscar uma espécie de barro verde, matéria-prima de que era feito o talismã.

Geralmente representava uma rã, e diz-se que este artefato trazia felicidade e boa sorte aos seus portadores, além de ser motivo de orgulho exibi-lo.

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Foto: Henrique Matos

Foto: HM

Reino Espanhol


A Chama Ardente da Ambição Ala Tom e Jerry Quando partiram para o Novo Mundo, os espanhóis estavam decididos a possuir terras, ouro e subjugar outros homens. Os planos eram tecidos sem hesitação, pois acreditavam que a América era para ser conquistada, subjugada e explorada. A destruição das civilizações nativas foi justificada pela cultura conquistadora da Espanha (suposta superioridade do sangue espanhol) e pela expansão da fé cristã.

O Desejo da Tradição Espanhola na Selva Ala Comunidade As touradas, prática medieval que é tradição do povo espanhol, certamente preencheram as mentes invasoras de sonhos de possivelmente se transportar, das arenas da Espanha para a selva, um das principais costumes da terra natal.

O Rei Espanhol da Floresta Tropical Ala Comunidade Fernão de Gusmão é aclamado rei em plena selva amazônica, quando os espanhóis decidem fundar um reinado espanhol na floresta, proclamando-se independentes da Coroa espanhola.

Alegoria nº3: "Reino Espanhol - Demônio Inquieto da Ambição" Nesta alegoria estarão os seguintes destaques: Rei da Floresta (Charles Henry), Touradas na Selva (Carlos Martins e Marcos Zezito) entre outros

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Carnaval 2004

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Foto: DT

Místico Honorato - a Encantada Cobra Rio Ala Tu e Eu

Curupira - O Defensor dos Animais e da Mata Ala Comunidade Ente fantástico que habita as matas e afasta o mal ao

de (Boiúna), Honorato foi transformado em cobra quando a

caminhar. Apresenta cabeleira hirta, olhos de brasa e os pés

mãe o atirou no rio. Como tinha boa índole, protegia a floresta

voltados para trás. Espírito protetor da caça e das florestas,

e seus habitantes de alma pura. À noite, transformava-se em

é responsável por rumores misteriosos, desaparecimentos

belo e elegante rapaz para levar uma vida normal na terra. Foi

de caçadores, esquecimentos de caminhos e pavores súbi-

libertado quando um soldado derramou leite na boca da co-

tos inexplicáveis.

bra e feriu-lhe a cabeça até sangrar.

A Dança da Tribo Beija-Flor Iara - A Proteção Sedutora dos Rios Ala Comunidade Bela morena que exerce fascínio e encantamento sobre

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Filho de índia amazônica que engravidou da Cobra Gran-

Passistas Adultos, Passistas Mirins, Princesas da Bateria, 1º Passista, Rainha de Bateria e Intérprete de Samba Enredo

os homens. Como utiliza uma espécie de saia ou vestido, alguns fazem confusão com a parte inferior de um peixe. Tem

O Ecoar da Natureza - a Energia Mística

o poder de aprisionar no fundo das águas aqueles que tei-

Bateria

mam em agredir os rios.

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Carnaval 2004 Boiúna 2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Iara 3º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Jaci e Guaraci 4º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Jurupari 5º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira:

Curupira

Neguinho da Beija-Flor e puxadores da escola imprimindo mais emoção ao samba enredo...

Casal Mirim de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Jaci, a Lua - Vida Vegetal e Crescimento Ala Apoteose e Ala Borboletas

fazer grandes festas com comidas, bebidas, cantos e danças,

Na mitologia indígena, Jaci representa a lua, a mãe dos fru-

logo que a lua aparecia, pois presidia à vida vegetal e ao cresci-

tos. É irmã e esposa de Guaraci, o sol. Era costume indígena

mento. Recebia diferentes homenagens consoante suas fases.

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Entidade sobrenatural dos selvagens, aparece em soNa mitologia indígena, Guaraci representa o sol, irmão e marido de Jaci. Criador de todos os viventes, Guaraci prote-

nhos aos homens. É o senhor todo-poderoso e guardião das florestas.

ge os seres vivos do reino animal através de seus súditos. O nome significa "Mãe deste dia".

Nesta alegoria estarão os seguintes destaques: A Cobra Grande (Jussara Calmon), Jurupari (Jorge Braz), Oxalá (Jucely) entre outros

primeira vez a gente nunca esquece. Que o diga a menina Raissa de Oliveira, 13 anos, que desfilou pela primeira vez à frente dos ritmistas como rainha da bateria da Beija-Flor em 2003, substituindo a conhecida Sônia Capeta, que virou destaque da agremiação depois de nove anos ocupando uma das funções mais cobiçadas nas escolas de samba. "Foi uma emoção imensa. Recebi apoio da minha família e fui bem recebida pelos ritmistas, que me deixaram bem à vontade, porque na época eu estava muito ansiosa, mas graças a Deus saiu tudo bem", revela a menina. Em 2004, Raissa vai repetir a dose com uma coreografia especial. Ela treina semanalmente com o professor Edson Bittencourt, o Edinho, para fazer bonito na Marquês de Sapucaí. "O Edinho me dá muitas dicas, criando junto comigo a coreografia", revela. A beleza e a graça de Raissa ganham mais arrojo com as aulas de balé com a coreógrafa Ghislaine Cavalcanti, responsável pela performance da comissão de frente. Toda quarta-feira, Raissa aprende os passos clássicos e recebe dicas importantes, que ajudam a melhorar o seu desempenho como passista. "Não vejo a hora de desfilar, para mim é um momento muito especial."

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"A potência, o vigor, a força moral de significação misteriosa que protege e preserva a natureza. O som como pedido de apelo em prol da preservação da maior bacia hidrográfica, biodiversidade e riqueza mineral do mundo; do maior e mais estratégico reservatório de água, ecossistema de florestas tropicais e reserva de plantas medicinais do planeta - A Amazônia.”

uando o coração da Beija-Flor de Nilópolis come-

performance das caixas, surdos de primeira, surdos de se-

çar a pulsar na Marquês de Sapucaí, o público

gunda, surdos de terceira, chocalhos, tamborins, repiques e

terá a oportunidade de ver mais uma vez a força da bateria da

cuícas. "Somos rigorosos com a rapaziada quanto à pre-

escola. Os 250 ritmistas formam uma orquestra afinada, for-

sença nos ensaios, porque sabemos da importância da ba-

mada exclusivamente por instrumentos de percussão, que

teria que, além de ser o quesito de desempate, podendo

percorrem os 550 metros da Passarela do Samba, dando

decidir um campeonato, carrega mais quatro quesitos", diz

vida ao samba de enredo, motivando a comunidade e convi-

Paulinho. "Se a bateria errar, compromete a harmonia, a evo-

dando a todos a se embalar pelas lendas da Amazônia.

lução, o conjunto e a fantasia", completa ele, que compara a

Paulinho e Plínio dividem o comando do exército

função da bateria à de um goleiro em final de Copa do Mun-

nilopolitano do ritmo. Os dois mestres de bateria contam

do. "Não temos o direito de errar, para não jogar por terra o

com o apoio de oito diretores de bateria para cuidar da

trabalho de um ano".

Mestre Plínio e Mestre Paulinho

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As bossas e as paradinhas da bateria são ensaiadas normalmente, porém não significa que no dia do desfile o público poderá assistir às inovações, para evitar o comprometimento do canto e da dança da escola. "Preparados nós estamos, mas no dia da nossa apresentação, somente se o Laíla liberar é que colocamos em prática alguma novidade que tenha sido ensaiada, porque o mais importante é fazer bonito na avenida sem comprometer a imagem da Beija-Flor", observa Plínio. O segredo da bateria da Beija-Flor, que mantém em seu currículo notas máximas, é explicado por Paulinho: "O nosso time é o mesmo, conhecemos os ritmistas e exigimos disciplina nos ensaios. Além disso, o casamento de mestres de bateria, ritmistas e diretoria da escola é perfeito". Plínio começou na Em Cima da Hora e faz parte da família Beija-Flor desde 1973, quando começou tocando surdo de terceira. Assumiu o posto de primeiro diretor de bateria em 1996 e comandou os ritmistas sozinho até a chegada de

lhor para a escola", diz. Mestre de bateria há 15 anos, Paulinho

Paulinho, em 1997. "Sou feliz na Beija-Flor e o trabalho que eu e

passou pela Caprichosos, Viradouro e Portela antes de se

o Paulinho fazemos é de muita união, buscando trazer o me-

tornar o mestre e supervisor de bateria na Beija-Flor.

bateria Não é dessa vez que a graça e o batuque da bate-

bateria-mirim, tem o apoio de Perninha e Rodnei, direto-

ria-mirim da Beija-Flor vão desfilar. O mestre Douglas

res da bateria principal, que contribuem para dar identi-

Botelho, 25 anos, acredita que, em 2005, será possível

dade a mais um projeto da Beija-Flor. E os pequenos

que a semente lançada pelo presidente de honra da

dão duro: os ensaios aconteciam aos sábados, depois

Beija-Flor, Anízio Abraão David, ganhe força suficiente

passaram a ser toda segunda e quinta e, na época de

para dar frutos e trazer mais orgulho à escola de Nilópolis.

concursos, segunda, terça, quarta e sexta são dias de

Com 62 ritmistas, entre meninos e meninas da comuni-

marcar o ritmo na quadra para fazer bonito na televisão.

dade, a bateria-mirim participou do concurso deste ano da Rede Globo com três notas 10, mas ainda está em fase de formação. "Ainda estou recrutando o pessoal e, desde outubro, a gente vem ensaiando e, pelo jeito, essa idéia vai dar samba. E dos bons", observa Douglas. Mestre Douglas é ritmista desde os 8 anos de idade, quando entrou, junto com outros amigos, para a bateria da Caprichosos de Pilares, onde seu pai, o Mestre Paulinho, era responsável pelo comando. Veio para a Beija-Flor em 1994 e permaneceu até 1996, voltando com o pai há seis anos para Nilópolis. Para orientar a

Bateria-mirim da Beija-Flor de Nilõpolis

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Foto: HM

Luz Surge os frutos dos deuses - o Guaraná O Bem e o Mal - um Confronto de Forças na Floresta Ala Alto Astral O bem é tudo aquilo que é bom, útil. O mal é o contrário de bem; o que prejudica, fere ou incomoda. No caso deste confronto de forças específico, o bem são as forças convenientes, que agem em benefício, em favor da natureza; enquanto o mal é tudo aquilo que traz prejuízo ou causa dano e estrago à natureza e aos seus protetores.

Os Olhos de Tupã - a Visão do Trovão Ala Comunidade Tupã, é o rei do trovão, da tempestade, do fogo e dos raios, a suprema divindade indígena que vê e sabe de tudo o que se passa na Terra. Ao presenciar a maldade infligida contra as vidas que estavam sob sua proteção, se compadece. Uma grande tempestade cai sobre a floresta e um poderoso raio veio atingir a terra, da energia liberada nasce uma planta cujas sementes lembram perfeitamente, quando amadurecidas, um par de olhos negríssimos - O Guaraná.

Matinta Pereira - a Velha Coruja Ala Comunidade

Maués - Detentores do Fruto da Energia Ala Sambando na Beija-Flor

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A Matinta Pereira é uma velha que emite um assobio estridente e bastante característico. Gosta de mascar tabaco e pede fumo a quem encontra. A Matinta pode aparecer de diversas formas, transformando-se quase sempre em coruja, apesar de aparecer também na forma de outros animais. A lenda conta ainda que a Matinta Pereira possui poderes sobrenaturais, protegendo as matas.

Maués é o nome usado para designar a nação indígena que significa "papagaio curioso ou inteligente". A aldeia dos Maués é a terra originária do guaraná, e esses índios são os guardiões desse fruto de sabor amargo e estimulante, o qual possui o formato dos olhos do Criador.

Pajés - Curandeiros e Feiticeiros Ala Comunidade

No Brasil, o termo pajé refere-se ao chefe espiritual dos indígenas, um misto de sacerdote, profeta e médico-feiticeiro. Um Benzedor, curandeiro e conselheiro da tribo a quem se atribui poderes místicos e sobrenaturais.

Alegoria nº5: "Da Suprema Luz, Surge o Fruto dos deuses - O Guaraná"

Nesta alegoria estarão os seguintes destaques: Flor do Guaraná (Zeza Mendonça), Guardiões Maués (Marcelo Gonçalves)entre outros

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Foto: Robson Barreto

Henrique Mattos

A obra do homem que surgiu lentamente, regada pelo suor e alimentada pela cobiça

O Envenenar das Águas - Escassez e Sede Ala Jovem Flu O mundo está ficando sem água doce, pois a humanidade está poluindo, desviando e esvaziando a fonte de vida em um ritmo surpreendente. A ameaçadora escassez global da água pode ser justificada tanto pelo desperdício excessivo e falta de cuidado com um bem finito, quanto pela ganância econômica de corporações que dela se apropriam de modo ilegal e indevido.

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Fogo Devastador - o Verde Vira Cinzas Ala Karisma As queimadas e o desmatamento excessivo ocorrem numa proporção e rapidez absurdas. Tamanho crime, que contribui para o aquecimento e deterioração do conforto ambiental, é uma das principais causas do efeito estufa. Depois da retirada das madeiras de valor comercial, o restante da mata que é derrubado e queimado consome inúmeras espécies de valor medicinal e ornamental.

Caça - a Ação Predatória que Silencia Ala Comunidade A destruição dos ecossistemas está ocorrendo de maneira assustadora e impiedosa. A caça aos animais, especialmente os mais raros, vem ocasionando a extinção de variadas espécies. A biopirataria não é apenas o contrabando de diversas formas de vida da fauna, mas também da flora. É uma atividade altamente rentável, e tamanha lucratividade é oriunda de excessiva exploração dos recursos naturais, os quais não são inesgotáveis.

Extinção - Prisão, Morte e Tráfico de Vidas Ala Cabulosos A extinção dos animais ocorre principalmente em função dos maus tratos para com os animais e do contrabando, que é feito quase que exclusivamente em condições precárias. Calcula-se que para cada dez animais que são presos para serem comercializados, apenas um (no máximo dois) sobreviva(m).

Surf na Pororoca - o Índio na Onda da Aculturação Ala Comunidade O fenômeno da Pororoca ocorre na região Amazônica, principalmente na foz do seu grandioso e mais imponente rio, o Amazonas. É formado pela elevação súbita das águas junto à foz, provocada no momento da quebra do equilíbrio entre água doce e a salgada, quando o mar tenta invadir o rio com pressão titânica, formando uma grande onda. Esta onda de maré vem a ser surfável, e transforma índios em surfistas, à deriva da aculturação.

Ala Uni-Rio e Ala Camaleão Dourado

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Índios Punks - a Rebeldia de Pele Vermelha Desenhos espalhados pelo corpo, objetos perfurando a pele avermelhada, cabelos pintados com cores vibrantes. Seriam

os índios os criadores das tatuagens, piercings e tinturas de cabelo? Embora tivessem uma cultura própria, os nativos foram

induzidos a assimilar traços da chamada civilização. Contrariados, desprezam os valores estabelecidos pela sociedade numa tentativa de manter viva as raízes de seus ancestrais. São punks usando penas.

Suor e Alimentada Pela Cobiça"

Nesta alegoria estarão os seguintes destaques: Queimadas (Maurízio Médici), Índio Punk (Nabil), Índio Surfista (Marcos Jasmim), Devastação (Claudia Raia) entre outros

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Foto: Antonio Carlos

A Paris dos Trópicos

Inspiração Francesa - uma Metrópole de Estilo Europeu Ala Casarão das Artes O desenvolvimento desencadeado pelo ciclo da borracha propiciou o período áureo de Manaus, transformando-a em uma grande cidade de caráter europeu. Centro urbano moderno, elegante e acolhedor, viveu entre 1890 e 1920 um período de realizações e riqueza até então desconhecidos. Nesta época foram realizadas grandes obras públicas, dentre elas a construção do Teatro Amazonas.

Manaus - Cidade Luz...do Sol Ala Muvuca e Ala Travessia Homens públicos ousados tornaram realidade o sonho de uma cidade-luz nos trópicos. Um cuidadoso planejamento possibilitou a introdução de iluminação elétrica em Manaus, a segunda cidade do país a receber energia, depois de Campos dos Goitacazes. Nesta mesma época, muitas metrópoles européias ainda mantinham o antiquado sistema a gás.

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Can-Can - As Índias Experimentam a Sensualidade Parisiense Ala Comunidade A ânsia de mesclar as tradições francesas às da selva, certamente levaram os europeus a imaginar as belas índias vestidas para o Can-Can, uma dança considerada escandalosa e imoral que surgiu na França no final do século XIX, onde observa-se uma mistura de acrobacias, malabarismos, mímica, canto e coreografias de aparato cênico e visual, na qual as dançarinas costumeiramente se apresentavam usando longas meias.

Manaus - um Toque de Paris em Terras Tropicais Ala Comunidade A importação de hábitos e costumes de estilo europeu, em especial o estilo parisiense de viver, se comportar e de se vestir, tornou-se uma prioridade para aqueles que buscavam transformar a capital do Amazonas em uma nova Paris. Ainda que o calor dos trópicos não combinasse em nada com os longos vestidos usados na Europa, era "chique estar na moda"..

Teatro Amazonas - o Valor da Arte Ala Tudo Por Amor e Ala Liberdade Construído durante o período de desenvolvimento do chamado ciclo da borracha, e inaugurado em 31 de dezembro de 1896, o belo marco arquitetônico do século XIX foi embelezado com colunatas, estatuetas e escadarias executadas por marmoristas europeus, enquanto as decorações interiores foram obras de artistas consagrados, como Domenico De Angelis.

Alegoria nº7: "Manaus - A Paris dos Trópicos" Nesta alegoria estarão os seguintes destaques: Paris Tropical (Linda Conde) entre outros.

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Foto: DT

Amazônia A senhora guardiã dos segredos da própria vida Flora Amazônica - o Valioso Manto Verde Ala Vamos Nessa O bioma amazônico presta serviços ambientais essenciais ao planeta em desequilíbrio, e é considerado o grande refrigerador do mundo e da humanidade. Além disso, a biodiversidade da flora amazônica possui um valor incalculável, visto que parte do patrimônio genético nacional ainda não foi sequer descrito pela ciência.Na bandeira nacional o verde vem simbolizar nossas extensas florestas e a nossa natureza pródiga.

O Amarelo Brilhante do Ouro - a Riqueza Mineral Ala Beijerê ouro; metal precioso de cor amarela, com que se fabricam jóias, sinônimo de dinheiro e opulência. Em nossa bandeira nacional o amarelo representa, sol da vida e o símbolo do poder e da autoridade.

Água Doce - Purificação e Continuidade da Vida Ala Comunidade O mais estratégico e maior reservatório de água doce do planeta encontra-se na Amazônia. De aparência cristalina, a água potável amazônica certamente adquiriu as propriedades mágicas do lugar, dotando-se da capacidade de eliminar as impurezas, lavando a alma dos homens que se banham em suas águas, buscando matar a sede e prolongar a sua existência.

O Branco Divino que Transmite a Paz Ala Colibri de Ouro Sempre que buscamos tranqüilizar a nossa alma, seja qual for a nossa crença, elevamos o nosso espírito naquele que acreditamos ser o nosso Deus. Atribuindo um caráter divino a cor branca, ela tornou-se sublime e capaz de propagar aquilo que tanto prezamos. Realçando o permanente anseio que nutrimos pela concórdia e a disposição para o convívio pacífico, o branco também é apresentado na bandeira brasileira como um tributo a Paz.

Saúde, Fé e Paz - Pedidos do Beija-Flor ao Criador Ala Baianinha O azul apresentado na bandeira brasileira é um firmamento resplandecente de estrelas, as mesmas do céu da proclamação da República; luzes de democracia, de cidadania, de ordem, de progresso, de respeito e de soberania. E é nesse mesmo céu azul e branco, repleto de nuvens, que uma revoada de beija-flores risca o ar com a missão de conduzir os pedidos de toda a humanidade até o Criador.

Ala Velha-Guarda

Alegoria nº8: "Amazônia - A Senhora Guardiã dos Segredos da Própria Vida Nesta alegoria estarão os seguintes destaques: O Branco da Paz (Zezito Ávila), Verde das Matas (Nil D Yemanjá), Índia (Vanessa Camargo) entre outros

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Beija-Flor Foto: DT

é minha paixão

Beija-Flor de Nilópolis é uma escola de samba que tem suas peculiaridades. Resultado do perfeito entendimento do significado do Carnaval, a agremiação de Nilópolis é uma dessas escolas que valoriza o poder e a importância da sua comunidade. Segundo Anizio: "O importante é a escola ter pessoas que a amem e que 'vistam a camisa da agremiação' com lealdade. E é o pessoal da comunidade é que dá esse retorno que a gente espera. O artista, geralmente, vai à agremiação para se promover. Muitos não sabem nem sambar... Aqui na Beija-Flor, nós prestigiamos as pessoas que estão ao lado da escola. Que a amam realmente. Mas isso não significa que a escola esteja fechada para os artistas. Ao contrário, todas as pessoas bem intencionadas são bem-vindas e bem tratadas pela escola. O que ocorre é uma preocupação com o presente e o futuro da Beija-Flor, que precisa ser formada por pessoas que se manterão fiéis a ela, independentemente de vitórias ou derrotas.". Os atores Cláudia Raia e Edson Celulari são um exemplo disso. São artistas que têm na Beija-Flor de Nilópolis a sua paixão no Carnaval, e que ao chegarem à escola foram recebidos com todo o carinho. Hoje fazem parte da família Beija-Flor. Para Cláudia foi amor à primeira vista. Bateu o olho na escola pela televisão e virou fã. Morava no interior de São Paulo e não lhe passou pela cabeça um dia desfilar no Carnaval carioca. Mas já tinha feito sua escolha entre as escolas do Rio. Já na Cidade Maravilhosa, foi convidada por Joãosinho Trinta para ser o destaque principal do enredo de "A Lapa de Adão e Eva", em 1985. "Na verdade, eu já era Beija-Flor desde quando assistia aos carnavais em Campinas. A Beija-Flor que me chamou. Mas eu já a tinha escolhido como a minha escola." Edson Celulari, seu marido, chegou no encalço. O trabalho na mesma novela e as muitas afinidades uniram o casal. Também do interior paulista, Bauru, Edson tinha se tornado fã da agremiação pelos desfiles transmitidos na televisão. Há quatro anos integra a bateria da escola: "Sempre fui BeijaFlor. Gostava muito da Mangueira, da bateria do mestre André da Mocidade... Uma vez a Cláudia me apresentou ao Anizio. Falei que meu sonho era participar da bateria. Então houve o convite. Mas não foi só me apresentar ao mestre Paulinho... Fiz um teste, passei e hoje ajudo a defender o carnaval da Beija-Flor com muito orgulho. Então, acho que também fui escolhido pela escola. Também escolhi de coração a Beija-Flor".

Assim como no exercício vitorioso da atividade profissional, o casal Raia e Celulari participou de momentos de grande sucesso da escola. Ratifica-se, então, o mito das duplas, tanto na arte como no Carnaval, de que fala o pesquisador e escritor Hiram Araújo. E, mais uma vez, ponteando na história da Beija-Flor, desde Nelson e Anizio, Trinta e Laíla, mestres Plínio e Paulinho, Selminha Sorriso e Claudinho e por aí... Agora, Cláudia e Edson... Desfilando pela Beija-Flor, Claudia não disfarça a emoção que viveu ao longo de duas décadas desfile: "É o maior espetáculo do qual já participei. É uma coisa absolutamente diferente de tudo que já vivenciei na minha vida. Ali, pra mim, é a celebração da alegria. Acho que as pessoas todas ali estão unidas pela alegria". Sobre o desfile de 2004, Claudia fala das suas expectativas: "Acho este enredo riquíssimo. A Amazônia é um assunto sem fim. Gostei da maneira como ele foi abordado, mais uma vez de forma inusitada e diferente. Aborda a espiritualidade, as deusas, o misticismo da Amazônia, que é uma característica da Beija-Flor. Quero ressaltar que nunca vi um samba tão bonito. Acho o melhor samba da Beija-Flor até agora". Edson aproveita para reforçar seus sentimentos pela escola. Reafirma seu orgulho de sair na bateria da Beija-Flor e ressalta a importância de se saber quando se é protagonista ou mais um elemento junto à comunidade: "Eu espero o dia que tenho que ir para a quadra ensaiar, aprender o samba e depois entrar na Avenida. O que acho bacana, é que quando estou no teatro ou na televisão sou o protagonista principal daquela história. Agora, quando estou na Beija-Flor sou um componente a mais, muito orgulhoso, que faz parte daquela grande festa, onde o protagonista é a bandeira da escola e o samba que ela carrega. Pra mim é uma emoção igual como se eu fosse a primeira figura de um grande espetáculo". Numa coisa o casal é unânime: "Aqueles que forem ao Sambódromo ver a Beija-flor devem aguardar uma grande festa. Se for pelo samba e pelo entusiasmo, temos certeza que a Beija-Flor será campeã". fevereiro 2004

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Carnaval 2004

Eduardo Braga nasceu na cidade de Belém, no Estado do Pará e iniciou sua carreira política como vereador de Manaus, aos 21 anos de idade. Foi deputado estadual, deputado federal e hoje, enfrenta o desafio de governar um dos mais importantes estados do Brasil.

Revista Beija-Flor - A região amazônica é uma região ainda pouco conhecida e, pela sua característica ímpar, identificar a melhor maneira de promover o seu desenvolvimento é um grande desafio, já que uma decisão equivocada, fruto de uma visão parcial ou limitada, poderá colocar em risco a estabilidade da região. Como governador do maior estado da região amazônica, a forma como o senhor conduzirá o desenvolvimento do Estado do Amazonas certamente será um modelo a ser seguido ou criticado. Como analisa o desafio que está em suas mãos e qual rumo compreende ser o melhor para o desenvolvimento do seu estado e da própria região amazônica?

Fora a Zona Franca de Manaus, meu programa de governo,

Governador Eduardo Braga - É evidente que os olhos de mundo se voltam para a Amazônia. Diria até que muitas vezes as pessoas que não vivem nesta região não distinguem as diferenças entre Amazônia e Amazonas. Pois eu lhe digo que o Amazonas, que é o maior estado da região e do país em território, tem tudo a ver com preservação, sim! Temos 98% de nosso território absolutamente preservado, graças principalmente ao caboclo que vive aqui. Além disso, a Zona Franca de Manaus colaborou decisivamente para esta preservação, na medida em que concentrou na capital amazonense a atividade econômica, garantindo a sobrevivência do estado, gerando empregos e evitando que houvesse uma exploração desenfreada dos recursos naturais. Por isso envidamos todos os esforços para prorrogar este modelo de desenvolvimento implantando em 1967, ainda no governo militar, que teria vigência até 2013, de acordo com a Constituição, mas agora durará pelo menos até 2023. Reuni todas as forças políticas do estado e conseguimos a prorrogação, que está incluída no texto da reforma tributária. Para isso, contamos com a ajuda imprescindível do presidente Luís Inácio Lula da Silva.

uma Agência de Agronegócios, temos programas para a

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registrado em cartório durante a campanha de 2002 e em plena execução desde a posse prevê a implantação do projeto Zona Franca Verde, que pretende incentivar o desenvolvimento sustentável no interior do estado, estimulando atividades que não degradam o meio ambiente e implantando áreas de manejo florestal. Para tanto, criamos a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, mantivemos o financiamento de atividades artesanais e do setor primário, por meio da Agência de Fomento, criamos piscicultura que já estão em andamento, como o tanquerede, a distribuição de alevinos e tudo o mais que ocupe e gere renda para o nosso caboclo, de forma a evitar que ele agrida o meio ambiente.

Além dos tesouros verdes, representados pela rica e desconhecida biodiversidade da região, a Amazônia é rica também em recursos minerais, entre eles estanho, ferro, bauxita, alumínio e cobre, elementos de grande interesse do mercado mundial. Que caminhos devem ser trilhados para assegurar que a exploração sustentável dessas riquezas gere equilíbrio social e desenvolvimento à região, e que não faça dela uma mera colônia a serviço de interesses capitalistas? EB - O grande projeto neste momento, no que diz respeito aos recursos naturais, é a construção do gasoduto CoariManaus. Existe uma enorme reserva de gás em Urucu, município de Coari, que a Petrobras já explora há algum tempo. Com a construção do gasoduto, teremos energia pelo menos 50% mais barata para o consumidor final em Manaus, o que garantiria a ampliação da atividade produtiva nas indústrias da Zona Franca. O pequeno consumidor e o taxista www.beija-flor.com.br


reserva biológica

também sairiam ganhando. Agora, o governo está fazendo a sua parte. Realizamos todas as audiências públicas previstas em lei para a concessão da licença ambiental da obra. Falta agora a Petrobras se manifestar sobre o início dos trabalhos. Existe ainda uma outra grande reserva de gás no município de Silves, que poderia ser explorada beneficiando não apenas o Amazonas, mas também os estados vizinhos. São recursos naturais que não degradam o meio ambiente e impulsionam o desenvolvimento. Fora isso, não temos o menor interesse em atividades degradantes.

A questão do índio é ainda muito complexa e merece muita atenção dos líderes nacionais. Como vem sendo tratada essa questão pelo seu governo? Nas tribos que se relacionam com o "homem branco" o estado tem atuado de alguma maneira? Como se ajusta desenvolvimento e progresso com respeito às raízes e à cultura indígena? Ainda sobre a questão, certamente existem tribos ainda desconhecidas do governo e da sociedade. O governo do Amazonas tem algum projeto para avançar na mata e descobrir essas tribos para oferecer os benefícios do progresso? EB - Criamos a Fundação Estadual da Política Indigenista (Fepi), que é dirigida por um indígena, o Bonifácio José, da tribo baniwa. Ele tem avançado na discussão de temas voltados para a integração dos povos indígenas à sociedade amazonense. Há aspectos culturais que precisam ser respeitados. Nossa relação com as tribos é de parceria. Há poucos meses distribuímos recursos, por meio da Agência de Fomento, para a produção de artesanato da tribo saterémawé, que se situa no município de Maués, que aliás é citado no samba-enredo da Beija Flor. Enfim, respeitamos as reservas e procuramos dar toda assistência para que os índios amazonenses, que são os mais numerosos do país, sobrevivam e se desenvolvam a contento. Vale ressaltar que são muito raros os conflitos com o "homem branco", como você chama, no Amazonas. Sobre as tribos desconhecidas, o processo de contato é natural e à medida que for acontecendo, terá o tratamento adequado por parte de nossos representantes junto às comunidades indígenas.

A região amazônica é cheia de desafios para seus administradores. Um deles é o relacionado ao desenvolvimento urbano. Em muitas de suas microrregiões, a densidade demográfica não chega a dois habitantes por km2. Em contraposição, a densidade demográfica de cidades como Manaus e Belém ultrapassa 1,2 milhão de habitantes, com problemas típicos das grandes metrópoles, como os relacionados à saúde, saneamento, energia elétrica e educação. Quais são os principais problemas que o senhor identifica no seu estado e, sabendo da impossibilidade de todos serem resolvidos, quais os problemas que o seu governo vem se empenhando em resolver? E de que maneira?

EB - No Amazonas esse problema é ainda mais acentuado, uma vez que Manaus é uma cidade-estado, que concentra a metade da população do estado, graças principalmente à Zona Franca, como falei anteriormente. O que estamos fazendo é desenvolver projetos para fixar o homem no interior e evitar o "inchaço" ainda maior da capital. É o caso da Zona Franca Verde, que também citei anteriormente. E para tentar solucionar os principais problemas da capital, investimos o que podemos. O Projeto Cidadão, que está em execução, já atende mais de duas mil famílias em situação de risco social na capital. As pessoas recebem cursos profissionalizantes, bolsa-escola para manter os filhos estudando, possibilidade de estágio, documentação e alfabetização, para quem não conseguiu freqüentar a escola. Além disso, estamos removendo para conjuntos habitacionais construídos pelo estado famílias que habitavam a margem dos igarapés que cortam a cidade, sem as mínimas condições de higiene. Nesses locais, são realizados serviços de drenagem e limpeza. Conseguimos ainda recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, o BID, para incrementar o trabalho de saneamento em alguns dos principais igarapés de Manaus. Por outro lado, lançamos o programa "Manaus Mostra o Caminho", que pretende resolver os principais problemas do trânsito na cidade, abrindo vias de ligação nas regiões que mais crescem. Fizemos ainda esforços para garantir o abastecimento de energia tanto para a capital quanto para o interior. Já instalamos vários grupos geradores e renovamos contratos com produtores independentes de energia. Nosso combate a endemias como a dengue e a malária tem dado resultados. Para tanto, contamos com parcerias importantes, como a do Exército. Enfim, estamos cuidando do nosso povo.

Sabemos que um homem sem meios de assegurar a sua subsistência e de sua família é uma presa fácil para crimes fevereiro 2004

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como corte ilegal de madeira, tráfico de entorpecentes, prostituição, entre outros. O que tem sido feito pelo seu governo para assegurar ao cidadão nativo uma renda que lhe permita manter a dignidade? EB - Isso é uma obsessão do nosso governo. Na campanha, dizíamos que uma de nossas principais metas era atrair indústrias de componentes para Manaus. Muitos duvidavam. Pois conseguimos. Algumas já se instalaram e outras, como a Multibrás e a CCE, que importavam praticamente todos os seus componentes, agora já produzem grande parte deles. Isso, aliado ao trabalho para a prorrogação da Zona Franca, atraiu mais indústrias para nossa capital. Empresas como a LG, Semp-Toshiba, Moto Honda e Evadim já anunciaram a expansão de seus investimentos. O resultado é que geramos no primeiro ano 56 mil novos empregos, contando ainda com a realização de três grandes concursos públicos para as áreas de segurança, educação e saúde e com investimentos diretos em microempresas, por meio da Agência de Fomento. Vamos persistir nesse trabalho, até porque prevemos a geração de vários outros empregos este ano em várias áreas.

Além dos problemas que atingem diretamente o cidadão amazonense, existem questões que precisam ser abordadas, como a exploração da região por grupos que sobrepõem os interesses mercantis aos nacionais e sociais, como a biopirataria, a queima desordenada etc. Como o senhor analisa essas questões e o que tem sido feito pelo seu governo? EB - Todos os nossos projetos de governo têm um só objetivo, que é o de garantir o Amazonas para os amazonenses, com mais empregos, mais energia, mais atividade econômica. No que diz respeito à biopirataria, nossa atitude é de cooperação com o governo federal, que é o responsável direto pelo combate a esse tipo de crime, por meio do Ibama e da Polícia Federal. Temos trabalhado em conjunto, disponibilizando estrutura e até recursos para que o nosso território seja preservado dessas incursões criminosas. Nossa polícia e nossas autoridades ambientais estão absolutamente empenhadas nesse processo.

O que é a Zona Franca Verde? EB - Baseado no conceito de desenvolvimento sustentável, o programa Zona Franca Verde já é realidade nas mesorregiões do Alto Solimões, do Juruá e de Maués, com projetos que buscam utilizar os recursos naturais de cada região para geração de emprego e renda, com respeito à natureza. Utilizando técnicas modernas, como o manejo florestal e de pesca é possível usar de forma inteligente os recursos naturais como a madeira e os produtos não-madeireiros, a pesca e a piscicultura bem como a agricultura familiar, sem agredir a natureza. Em cada região, o estado está investindo no apoio a ativida-

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des produtivas e na melhoria da infra-estrutura urbana e social. Em parceria com as prefeituras, o governo do estado fornece apoio técnico, científico e financeiro, incentivando dessa forma a implantação de indústrias de extração e beneficiamento dos recursos naturais. Já foram aplicados R$ 35 milhões no Alto Solimões e no Juruá. Em Maués, o programa de investimentos para os próximos 10 anos, em parceria com a iniciativa privada, chega a R$ 60 milhões. Ao mesmo tempo o estado se empenha na conservação da natureza, com a criação de áreas protegidas. Foram criados sete parques e reservas de proteção ambiental estaduais, que somados têm quatro milhões de hectares. O governo está também reforçando o conceito de reserva de desenvolvimento sustentável, uma forma de proteção da floresta que prioriza o homem. Enquanto nas unidades de preservação a população era removida de seu hábitat, nas reservas de desenvolvimento ela é mantida em seu lugar e apoiada para usar os recursos naturais de forma sustentável, contribuindo assim para a proteção da área.

Como já havíamos anteriormente comentado, a região amazônica é o grande desafio dos nossos líderes, nos âmbitos municipal, estadual e federal. Com uma análise que extrapola e congrega a sua visão de governador, cidadão amazonense e brasileiro, qual a missão da Amazônia? EB - A Amazônia tem papel fundamental na biodiversidade do planeta. Aqui são desenvolvidas pesquisas que beneficiam toda a humanidade. O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), por exemplo, tem dado importante contribuição nesse sentido. O Amazonas, como disse, é um exemplo na área da preservação e vai continuar sendo, com os projetos que estamos implantando. Na área de pesquisa, acabamos de investir mais de R$ 14 milhões para incentivar novos projetos. Criamos ainda a Secretaria de Ciência e Tecnologia, que é dirigida por uma pessoa muito respeitada pela comunidade científica, que é a professora Marilene Corrêa. Estamos avançando nessa área e vamos avançar ainda muito mais.

Como o senhor analisa a decisão da Beija-Flor de Nilópolis de elaborar o desfile de 2004, ano em que a agremiação completa 50 anos de existência, abordando a questão da Amazônia? EB - É fundamental que utilizemos a nossa cultura para falar daquilo que fazemos e temos de bom. A Beija-Flor, atual campeã do Carnaval carioca, é uma vitrine muito importante para a comunidade internacional. Eles precisam saber que cuidamos bem da nossa biodiversidade. Isso evitaria comentários maldosos de grupos que insistem na tese da internacionalização da Amazônia. Tenho tomado conhecimento de que os diretores da escola têm vindo constantemente colher subsídios aqui no estado e que artistas nossos, de Parintins, estão ajudando a concretizar o carnaval da escola. Isso é muito importante,

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para dar fidelidade à abordagem que a agremiação fará na Avenida. Ouvi o samba-enredo e gostei muito. É preciso falar dessa Amazônia que dá certo e o Amazonas, em particular, tem muito a colaborar nesse sentido. Espero que, com esse tema, a escola ganhe mais um campeonato.

Que mensagem gostaria de deixar para os leitores da revista? EB - A mensagem de que é importante evoluir e o Amazonas está evoluindo, cuidando de sua gente e trabalhando de olho no futuro. Parabéns à Beija-Flor pela escolha do enredo. Estamos aqui de portas abertas para todos os sambistas que queiram somar conosco e conhecer melhor nossa cultura. Aproveito para convidar a todos para prestigiar nosso Festival Folclórico de Parintins, uma das mais importantes manifestações culturais do país, que ocorre nos dias 28, 29 e 30 de junho. Venham curtir conosco o que existe de mais impressionante na nossa cultura. Estamos investindo para ampliar a capacidade do Centro Cultural, o Bumbódromo, e da própria cidade de Parintins, para atender melhor a demanda. Fazemos o mesmo em várias outras frentes, já que temos festas

Governador Eduardo Braga

importantíssimas em todo estado, ao longo de todo ano. E vale ressaltar que nosso Carnaval também é forte e este ano reunirá certamente mais de 100 mil pessoas no Sambódromo.

natureza e cultura a serem decifradas Desde que os primeiros desbravadores puseram os pés na Amazônia, por volta do século XVI, estabeleceu-se uma relação entre o homem branco e a natureza definida pelo ímpeto de revelar e de tentar compreender o enigma em que se constitui a floresta e seus habitantes. Passados mais de cinco séculos e com alguns importantes avanços no campo científico em relação ao conhecimento que se tem da região, a Amazônia permanece como uma esfinge a fustigar: decifra-me... Tarefa de grande envergadura essa de revelar aquilo que é, ao mesmo tempo, real e simbólico. Sim, a Amazônia é um imenso bioma com cerca de cinco milhões de quilômetros quadrados, riquíssima biodiversidade em termos de fauna, flora, microorganismos e recursos hídricos. Tudo isso inserido em uma complexa mescla de culturas de povos tradicionais, sobretudo índios e populações caboclas que se fundem ao próprio lugar por meio de delicadas tramas de significados e simbolismos vários. Cultura e meio ambiente são indissociáveis. E este é mais um dos campos que a região oferece ao mundo para ser compreendido. Talvez nessa busca que ultrapassa o material possamos aprender como melhor cuidar dessa terra. Tudo é diverso, amplo, mega, hiper quando se fala da Amazônia. Tudo é superlativo. A Amazônia é a mais rica floresta tropical do mundo. A parte brasileira corresponde a 60% de toda a região que se estende ainda por outros oito países da América do Sul. Ali se encontra um quinto da água doce do planeta, um número improvável de plantas, peixes, insetos, aves, mamíferos, répteis, anfíbios e microorganismos que podem guardar segredos de extrema importância para a humanidade. Isso sem falar nas peculiaridades do clima e todas as outras invisibilidades que determinam que a Amazônia seja o que ela é. A verdade é que a fina trama de tudo ainda está muito longe de ser compreendida.

Em relação aos povos da floresta, os mistérios não são menores. Ainda hoje, em plena era tecnológica, há comunidades humanas na Amazônia que vivem sem contato com o resto do mundo, com padrões e referências culturais que nem sequer suspeitamos. E cremos que assim devam continuar. Ribeirinhos e habitantes dos rincões amazônicos vivem há séculos em simbiose com a mata, o que não significa que vivam em "perfeita" harmonia. Mesmo porque tais povos acabam assimilando modos civilizados nocivos ao meio ambiente. Todavia, se esse homem amazônico por vezes é vetor de degradação também será ele o principal fator de manutenção da floresta. Ninguém em sã consciência pode esperar que um governo de um país possa dar conta sozinho de proteger algo que tenha as dimensões e a magnitude amazônicas. Somente seus habitantes bem instruídos, garantidos em seu direito à terra e com a segurança das condições básicas é que darão conta de semelhante feito. Assim, acreditamos sobretudo no homem amazônico e, para isso, defendemos uma política que integre as comunidades ao processo de desenvolvimento que seja sustentável e baseado na vocação eminentemente florestal da Amazônia. Em cada mistério, uma solução. Em cada enigma, a direção do caminho a seguir. Marcus Barros presidente do IBAMA

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DESFILE DAS ESCOLAS DE SAMBA e a memória coletiva Edson Farias

O simples ato de lembrar, sabemos, está longe de algo meramente espontâneo. No tocante à vida de uma pessoa, implicações físicas ou emocionais, ou, ainda, a combinação de ambas, podem constranger o uso da memória. Quando se trata de uma sociedade nacional, como o Brasil, a situação é bem mais complexa. Basta pensarmos na extensão da área territorial do país, mas sobretudo na variedade múltipla de indivíduos e grupos que a habitam, dotados de trajetórias e interesses igualmente diversos ou até mesmo díspares, contraditórios entre si. Logo, podemos concluir sobre as muitas negociações e lutas envolvidas na projeção adquirida por um personagem, evento ou processo que, alçado do passado, torne-se relevante no cotidiano da nação, hoje. A depender do conteúdo social inscrito em determinado acontecimento histórico, a lembrança e o esquecimento poderão resultar em conseqüências desastrosas para o futuro da comunidade ou decisivos à sua renovação. Afinal, em se tratando desta última possibilidade, a consciência dos cidadãos agora poderá considerar outros aspectos para reavaliar interpretações no presente e, assim, trocar os sinais na direção do futuro. Mas vale ressaltar que a vigência de um ou outro resultado está condicionada ao momento posterior ao exercício mesmo de rememorar. À luz deste quadro, o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, ao longo do seu percurso histórico, tem desempenhado importante papel na formação não apenas de uma imagem do Brasil. Ou seja, esse evento anual, além de constituir um poderoso veículo de divulgação da cultura brasileira, obtendo êxito no implemento da atividade turística, também contribui para remodelar a memória e fortalecer a saúde civil do país, na medida em que os enredos cantados e contados na pista carnavalesca revolvem o passado ou iluminam o presente, trazendo à cena pública nomes e situa-

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ções, a princípio, invisíveis. Porém, a partir da atitude de rememorá-los, os percebemos imprescindíveis à melhor compreensão do dia a dia nacional. Os já familiarizados com o desfile das escolas de samba reconhecem se tratar de um evento artístico-cultural popular específico, porque se define como um cortejo com características dramatúrgicas e audiovisuais, mas possuindo dotes de canto e dança, ambos sustentados na tradição percussiva do samba. Não é esta a oportunidade de esmiuçar os encaminhamentos mediante os quais se chegou a esse formato. Importante é destacar a peculiaridade nessa mesma formação, a saber, a presença de enredos a cada ano renovados. Como sugere a antropóloga Maria Laura Viveiros de Castro e Cavalcanti, o enredo - como trama central no cortejo -, pela troca anual de temas, correlaciona, numa negociação tensa entre reciprocidade e repulsa, agentes e idéias díspares arrumados na forma estética e cultural do desfile. Ou seja, é mediante a forma de uma grande ópera-balé de rua, motivada pela narrativa descrita tanto nos elementos cenográficos e nas indumentárias quanto na música que se estabelece o diálogo entre os mais diversos planos sociais constituintes da cidade e do país. Estão, portanto, montadas as condições para que traços da memória coletiva urbana e nacional sejam ressignificados. Data do final da década de 1920 o início das apresentações públicas das escolas de samba cariocas. Aquele fora um período conturbado na história do país, já que o regime republicano instalado em 1889 representara não simplesmente a troca de um sistema governamental, envolvera também outras alterações bem mais profundas. Principalmente, o que ganhava impulso era um lento processo de democratização, para o qual muito contribuíram as lutas tendo por cume o fim do trabalho escravo. Aliás, a existência das escolas e seus

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desfiles são expressivos deste movimento, pois exprimem a possibilidade de grupos até então marginalizados darem voz aos seus anseios pelo canto e dança, participando de um lento mais constante enfrentamento visando à conquista do direito de negros, mestiços e pobres pelo reconhecimento público como pessoas dignas de respeito. Ao mesmo tempo, a década de 1930 igualmente marcou deslocamentos nos equilíbrios de poder no plano nacional; encerrava-se o domínio majoritário das oligarquias na cena política do país. O crescimento das cidades e o fôlego tomado pelo desenvolvimento industrial contribuíram para a ascensão de outros grupos mais comprometidos com um projeto nacional. Deste modo, Getulio Vargas chega ao poder federal, e assim estivera por 15 anos, no comando de uma ditadura nacionalista. A natureza ambígua deste momento surge porque o Estado Novo implicou a perseguição e a opressão de adversários políticos do governo; contudo, também são lançadas as bases de uma industrialização mais vigorosa, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional, por exemplo. Igualmente eis o período em que os empenhos orientados para a defesa e divulgação de uma cultura nacional adquirem importância nas políticas públicas estatais. De fato, o "Brasil" se torna um tema apreciável, vale lembrar das canções de Ary Barroso e Dorival Caymmi, ao lado da figura tropical de Carmem Miranda. A imagem do carnavalesco

país mestiço, quente, alegre se espalha pelas ondas do rádio e pelas fitas cinematográficas. É aspirando tal atmosfera que as então jovens escolas de samba estavam experimentando fórmulas a serem incorporadas nas suas exibições carnavalescas. Mas coube aos integrantes da Império Serrano a melhor adequação deste clima patriótico nos ingredientes musicais e cenográficos dos desfiles. Na metade final da década de 1940, a agremiação se notabilizou desenvolvendo em suas tramas personagens e episódios centrais da história brasileira, como "Tiradentes" e "Batalha naval do Riachuelo", por exemplo. Nessa mesma época, já sob o impacto da Guerra Fria, em meio ao que era considerada a "ameaça comunista", o governo do marechal Eurico Gaspar Dutra impõe os temas nacionalistas às escolas de samba. No entanto, a chegada dos anos 50 trouxe maior ênfase à tendência de ampliação dos debates sobre o país, deflagrada desde o início do movimento modernista, em 1922. O crescimento de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro tanto colocara em tela novos grupos, sobretudo os operários fabris, quanto permitira uma maior circulação de idéias sobre o Brasil, acentuado seja com a expansão dos órgãos voltados para produção e divulgação da cultura erudita e popular seja devido à implantação das primeiras universidades, ocorrida na década de 1930. A percepção quanto às

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contradições socioeconômicas, regionais e étnico-raciais absorvem a atenção de diversos intelectuais e artistas. É questionada a maneira mesma de apreender a história do país. Ora, já em 1959, a novata Acadêmicos do Salgueiro foi um canal de expressão dessas insatisfações. Afinal a assinatura dos artistas plásticos Dirceu e Marie Louise Nery à sua apresentação na avenida Rio Branco, a partir do enredo "Viagem pitoresca pelo Brasil", adequou reajustes estéticos ao relevo dado aos personagens priorizados na narrativa. Enfim, as pinturas do pintor alemão Rugendas, um dos membros da missão artística aqui presente, em 1816, por encomenda do príncipe regente d. João VI, inundou a pista carnavalesca com a recriação de cenas coloniais, que retratavam hábitos cotidianos, principalmente, dos africanos e seus descendentes escravizados. A ousadia do Salgueiro não parou aí. No ano seguinte, mas agora capitaneada por outro artista plástico, Fernando Pamplona, no comando de um grupo de estudantes da Escola de Belas-Artes, instaura-se uma seqüência temática devotada a resgatar heróis populares negros ou mulatos. Sucedem-se: "Zumbi dos Palmares", "Aleijadinho", "Chica da Silva", "Chico Rei" e outros. Vejamos em que essa pesquisa estético-antropológica assinala os comprometimentos que pavimentam as direções tomadas pela memória coletiva,

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como chamamos atenção antes. No decorrer dos anos 60 as bases sociais das escolas de samba se ampliam e a presença desses artistas de formação erudita dá conta disso. Mas não apenas. A transferência dos desfiles para a avenida Presidente Vargas, a implantação de arquibancadas e a utilização de uma exuberante decoração aérea e nas laterais da pista superdimensionam a notoriedade do evento, cada vez mais apreendido pelo seu potencial turístico e, ao mesmo tempo, torna-se alvo do interesse das emissoras comerciais de televisão em busca de ampliar sua audiência. Por outro lado, a popularidade gozada pelas escolas atrai contingente diversificado e numeroso aos seus locais de ensaio. Novas alas então se formam e também novos quadros de liderança administrativa e estética. É na esteira desse movimento de transformação do Brasil em um país urbano-industrial, traduzido no interior dos processos e estruturas do Carnaval das escolas de samba, que o modo mesmo de conceber o país nos enredos ganha matizes, inserindo outras cenas, episódios e personagens. Não apenas o negro, mas também o índio, como o fez a Portela, em 1970, ao apresentar "Lendas e mistérios da Amazônia". Nesse sentido, a mesma escola oferece em 1975 um momento auspicioso. Por escolha do departamento cultural, fora tomado o célebre livro "Macunaíma", de Mário de Andrade, para inspirar alegorias, fantasias e o samba-enredo. Assim, antecedendo o filme de Joaquim Pedro e a peça teatral de José Celso Martinez, a Portela levou à avenida Antônio Carlos a saga do anti-herói brasileiro imaginado pelo escritor paulista e um dos expoentes do modernismo no país. Macunaíma é a imagem antropológica de uma tropical nação complexa, graças às suas características mestiças e às contradições tão flagrantes, aliando não somente africanos, portugueses e ameríndios, mas alegria e miséria, preconceito e malandragem. A inserção de novos traços e tons impingindo remanejamentos na imagem do Brasil e dos brasileiros era, naquele momento, contemporânea do garrote político e institucional imposto pela ditadura militar ao conjunto civil. Regime de exceção cuja permanência por mais de 20 anos no poder em muito se justificou por ressaltar o credo no progresso a todo custo, às expensas dos estragos culturais, sociais e ecológicos que pudesse provocar. Tanto o esgotamento desse modelo de desenvolvimento econômico quanto os passos hesitantes dados pela redemocratização do país abriram a senda à reflexão e crítica das transformações e conseqüências do ímpeto modernizador. A picardia do carnavalesco Fernando Pinto, como ninguém, apreendeu e retratou a situação, ironizando os efeitos do modo agressivo de integração que não considerou as diferenças culturais, as desigualdades étnicas e de classe e o equilíbrio ambiental.

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Para o desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel, de 1985, ele idealizou a exuberância idílica e etnológica do Xingu imolada pelos símbolos da modernidade urbano-industrial, que aterrissava junto a um enorme pássaro metálico. São inesquecíveis as cenas dos índios ciclistas ou sob patins ou skates, ouvindo walkman. Já em 1987, o autor imaginou a futurista sociedade de consumo tupiniquim na paisagem da conturbada "Tupinicópolis". Shopping centers, letreiros luminosos, insegurança, poluição, longos congestionamentos, superpopulação, prostitutas, enfim, ícones das metrópoles confundiam-se com os índices indígenas. Contudo, o instante em que a dúvida sobre o que representou a modernização do país adquiriu maior dramaticidade foi aquele do desfile da Beija-Flor em 1989. Ali, no rasgo definitivo da genialidade de Joãosinho Trinta, a invasão do Sambódromo por mendigos e loucos sob os braços do Cristo andrajo compôs a abertura do enredo "Ratos e urubus larguem minha fantasia". Vale dizer, porém, que no rastro dessas alterações concomitantes ao aprofundamento democrático no Brasil, mas em meio ao incremento das dificuldades socioeconômicas nas duas últimas décadas, tomaram vulto outros esforços de correção da imagem pública de grupos formadores da população nacional. Mulheres e negros, por exemplo, nas últimas décadas enfrentaram a condição subalterna e os estigmas. Os movimentos sociais envolvidos com tais objetivos se dispuseram a ver prevalecer leis e políticas públicas orientadas a fazer justiça diante deste quadro de iniqüidade e igualmente pressionaram a consciência nacional para reavaliar seus limites, incluindo a diversidade de gênero e étnica. Uma vez mais, os modos de lembrar e as questões recordadas nos temas das escolas de samba ajudam a compreender as negociações envolvidas com os conflitos que constituem a dinâmica da sociedade. Já no atual século, em 2001, a Comissão de Carnaval da mesma Beija-Flor decidiu narrar, agora no Sambódromo, uma outra saga de um personagem também popular, mas tratava-se de uma mulher negra - a da rainha Agotime. Vítima do ardil do enteado, que lhe usurpou o trono, e vendida aos traficantes de escravos que a trouxeram ao Brasil, a odisséia da rainha do Daomé transcendeu a versão, reduzindo-a a uma mera peça substituível da economia colonial portuguesa. Na trama exibida na Passarela do Samba, Agotime atravessa o Atlântico com a missão mística de reunir seu povo, dispersado pela diáspora, e recriar o culto dos vodus nas terras do Novo Mundo. Indo às minas de Lençóis, no interior da Bahia, obtém recursos para comprar a alforria e, aconselhada por Ifá, toma o destino de São Luís, pois lá estariam muitos dos seus conterrâneos. Na capital do Maranhão, ao fundar a Casa do Tambor de Mina, cumpre a sina e, mais ainda, enraíza na

América uma importante instituição de guarda e divulgação das tradições dos afro-descendentes. Revelando nestes mais que multidões passivas e, sim, gente com histórias prenhes de significado ao entendimento do presente. Exemplos como os aqui mencionados poderiam ser sacados aos montes, entretanto o importante é sublinhar como o ritual festivo, no seu formato de espetáculo de rua expressa, ao lembrar e divulgar, a trama social tensa. Assim, a exposição, pelo amplo diálogo que instaura, pode contribuir para reorientar a direção da memória e a compreensão que todos nós, cidadãos, possuímos da rede da qual somos agentes e produtos.

Edson Farias é sociólogo e professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia.

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E NSAIO

Carnaval e nacionalismo o amor ao Brasil em ritmo de samba Hiram Araújo

Quando, na segunda metade do século XIX, o Carnaval carioca modelo português se esgotou e começou a ser substituído pelo Carnaval carioca modelo refinado europeu, a fesFoto: DT

ta ganhou outros contornos. O Carnaval carioca modelo entrudo português, um artifício do poder dominante para evitar movimentos revolucionários capazes de trazer riscos à ordem pública, tinha um significado emblemático, funcionando como válvula de escape, capaz de liberar as tensões sociais reprimidas. E se destinava, prioritariamente, às camadas sociais escravizadas, devolvidas à rua simbolicamente para expressarem suas culturas. Essas conquistas de territórios provisórios eram consideradas "selvagens" porque as ocupações dos trechos concedidos geravam disputas entre grupos carnavalescos, com brigas e perseguições policiais. A modernização da cidade do Rio de Janeiro estimulou, em 1855, um grupo de intelectuais, à frente José de Alencar, a se organizar e, buscando inspiração na França, fundar o primeiro clube carnavalesco do Brasil, chamado Congresso

ropeu, com passeatas pela cidade. A partir daí se inicia um novo ciclo no Carnaval carioca. Os espaços das ruas são ordenados em áreas delimitadas: a elite foi para a rua do Ouvidor e, a ralé, para o largo de São Domingos (proximidade da atual avenida Presidente Vargas). Nas grandes sociedades, pessoas de alto nível social e intelectual como José de Alencar, Muniz Barreto, Pinheiro

“Numa primeira etapa os enredos abordam a história do Brasil e são apresentados didaticamente em versos descritivos que são verdadeiras aulas expositivas.”

Guimarães e Manoel Antonio de Almeida, entre outros.

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As três mais famosas grandes sociedades da cidade

aglomerado comercial, obrigando a população a se transfe-

iniciaram a participação do nacionalismo no Carnaval, im-

rir para as periferias da cidade: os ricos vão para a Zona Sul

plantando movimentos patrióticos de emancipação da es-

e os pobres para os morros e subúrbios.

cravatura e instauração da República.

Sem comunidades de apoio, o Carnaval carioca modelo

Com o surgimento dos pufes (transcrições literárias dos

refinado europeu entra em crise e desaparecem as grandes

enredos nos jornais) saem publicações nos jornais produzi-

sociedades e ranchos carnavalescos, carros-chefes do Car-

das por escritores, poetas e jornalistas exaltando o naciona-

naval carioca.

lismo.

A ascensão do governo Vargas ao poder, na década de

A apropriação dos ranchos carnavalescos, de origem

1930, traz uma mudança de postura perante a cultura popu-

nordestina, pela classe média, transformou suas apresenta-

lar, transformando a perseguição em proselitismo (entram

ções em verdadeiras operetas, produzindo belos enredos

em cena os novos conceitos de cultura de massa).

de cunho cultural baseados na "Aida", de Verdi, e na "Divina Comédia", de Dante Alighieri entre outros. A predominância de temas com histórias universais despertou o protesto do escritor Coelho Netto que em uma crô-

As agremiações carnavalescas nascidas nos subúrbios e bairros logo ganham os nomes de escolas de samba, e começam a escrever um novo capítulo na história do Carnaval carioca.

nica, no jornal "A Noite" de 22 de fevereiro de 1925, condenou

Inicia-se o processo de democratização do Carnaval,

o excesso de aproveitamento das lendas gregas e romanas

com a participação de todas as camadas sociais num mes-

nos cortejos alegóricos das grandes sociedades e ranchos

mo ambiente, e uma nova concepção de nacionalismo no

carnavalescos.

Carnaval.

O Ameno Resedá, rancho escola que iniciou o processo de transformação dos ranchos nordestinos em pequenas sociedades, de imediato deu apoio ao "Príncipe dos Trovadores", outorgando-lhe o título de "Persona (muito) Grata". Em 1924 o Ameno Resedá levou o enredo do Hino Nacional, mas teve uma má classificação, fazendo com que os

Em 1933 é criada a União Geral das Escolas de Samba, elo com o governo Vargas. Em 1934, o governo Vargas começa uma política de controle e censura das atividades carnavalescas, criando o Departamento Oficial de Publicidade (DOP), que, em 1937 se transforma na Divisão de Informação e Propaganda (DIP).

dirigentes daquele rancho escrevessem ao renovado escri-

Em 1935 o prefeito Pedro Ernesto convoca as escolas

tor e poeta Coelho Netto o seguinte: "Na verdade, com muito

de samba e as oficializa, exigindo a apresentação dos estatu-

maior facilidade se adapta um enredo histórico ou tradicio-

tos sociais e alvarás de licença.

nal, quer de fantasia ou de amor, a um préstito, onde imagens

Cumpridas as exigências, as escolas de samba ganham

nunca foram corporificadas, mas apenas idealizadas e, onde

as siglas GR (Grêmio Recreativo), com direito a terem vida

em conseqüência, o artista é forçado a aplicar toda concep-

legal e uma verba de ajuda (subvenção) para empregarem

ção, criando as figuras simbolizadas no verso, dando-lhes vida, apresentando-as em sentido figurado, com mais realidade possível..." (trecho extraído do livro "Carnavais de guerFoto: AL

ra", de Dulce Tupy, transcrito do livro "Carnavais" de Jota Efegê). A incursão do nacionalismo nos enredos das grandes sociedades e ranchos carnavalescos, em conseqüência, perde força. As reformas arquitetônicas empreendidas pelo prefeito Pereira Passos, em 1904, transformam a cidade aldeã do Rio de Janeiro numa megalópole ao estilo parisiense.

Hiram Araújo

A derrubada das casas coletivas substituídas por edifícios comerciais, as estreitas ruas dando lugar a avenidas e viadutos tornam o centro da cidade, outrora residencial, um

é pesquisador de carnaval e diretor Cultural da Liesa

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E NSAIO em seus carnavais. A tendência das escolas de samba era seguir as regras

Em 1953, Osvaldo Vitalino (Padeirinho) faz homenagem a Getulio Vargas:

da internacionalização do Carnaval usadas pelas grandes sociedades e ranchos carnavalescos, entretanto, em 1938,

"No ano de 1883, no dia 19 de abril Nascia Getulio Dornelles Vargas Que mais tarde seria presidente do Brasil Ele foi eleito deputado

passa a constar no regulamento dos desfiles a obrigação dos temas nacionais. Nesse ano não houve desfile.

Para defender as cores de nosso país."

No ano seguinte, em 1939, a Escola de Samba Vizinha Faladeira, considerada a mais rica da época, desconhece a

Em 1963, Anescarzinho e Noel Rosa de Oliveira cantam

proibição e leva o enredo "Branca de Neve e os Sete Anões".

Chica da Silva, tirando do anonimato uma figura da história

Apesar da bela apresentação, a Vizinha Faladeira foi

do Brasil:

desclassificada e desapareceu do cenário carioca, reaparecendo somente muito tempo depois. O nacionalismo no Carnaval deve ser estudado como um capítulo nas escolas de samba. Entra em cena o veículo samba de enredo na transmissão de mensagem da escola de samba.

"Apesar De não possuir grande beleza Chica da Silva Surgiu no seio da mais alta nobreza O contratador João Fernandes de Oliveira A comprou para ser a sua companheira."

O samba de enredo passa a exercer a função da escola tradicional nas comunidades, levando os ensinamentos através dos cantos da escola. Numa primeira etapa os enredos abordam a história do Brasil e são apresentados didaticamente em versos descriti-

Em 1962, Cabana já havia composto, para a Beija-Flor de Nilópolis, "O Dia do Fico", contando detalhadamente este belo episódio da história do Brasil que transcrevo na íntegra como registro para a posteridade:

vos que são verdadeiras aulas expositivas. Em 1946, Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira fizeram "Conferência de São Francisco": "Restabeleceu a paz mundial Depois da guerra mundial A união entre as Américas do Sul, Norte e Central Nunca existiu outra igual Na vida internacional." Em 1949, Mano Décio, Penteado e Estanislau Silva fazem o antológico "Exaltação a Tiradentes": "Joaquim José da Silva Xavier Morreu a 21 de abril Pela independência do Brasil Foi traído e não traiu jamais A inconfidência de Minas Gerais..."

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" 'Como é para o bem de todos E felicidade geral da nação Diga ao povo que fico' E isto aconteceu... No dia 9 de janeiro de 1822 Data que o brasileiro jamais esqueceu Data bonita... Palavras bem feitas... Que o povo inteiro aplaudiu Preconizando d. Pedro I 'Ilustre Defensor Perpétuo do Brasil' Foi uma data de glória Um fato marcante em nossa história Este momento de glória Deste povo varonil Também exaltamos agora Homens que lutaram Pelo 'FICO' no Brasil José Clemente Pereira E José Bonifácio Que levaram ao palácio, a petição Levando a d. Pedro I Que permanecesse em nossa nação ...Mas como é..."

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E NSAIO

Ou como a Beija-Flor de Nilópolis venceu na Sapucaí e na vida Karla Legey

O repórter tentava entrevistar a mulher que, vestida em

Reis, rainhas, deuses, deusas, seres alados, orixás, san-

um vestido simples e envelhecido, mantinha seu olhar fixo e

tos e santas, guerreiros, damas da corte, príncipes e prince-

os gestos contidos em total concentração.

sas, heróis e heroínas, passistas ornamentados com pe-

O repórter insiste nervosamente no depoimento daquela

dras preciosas, baianas bordadas de ouro e sonhos... mes-

mulher vestida de andrajos. Talvez um nervosismo fruto do

tres-sala e porta-bandeiras, todos homens e mulheres da

frenesi local - era domingo de carnaval.

comunidade, integrantes de uma mesma família, a família

E lhe pergunta: "E a senhora, o que faz?"

Beija-Flor, e que são as verdadeiras estrelas e celebridades

A mulher, como que saindo de um transe, calmamente

dessa festa.

respondeu: "Eu? Eu sou atriz e, hoje, serei melhor que a Fernanda Montenegro".

A Beija-Flor de Nilópolis, ano após ano, contribui para a manutenção dessa conquista, de elevação da auto-estima

O repórter, surpreso com a resposta, não teve tempo de

de cada um de seus componentes no momento em que

refletir no que dizia aquela mulher que, concentrada no des-

descobrem sua importância no barracão, nos ensaios, na

file da sua escola, completou: "Olha, moço, eu sou domésti-

avenida... durante o ano todo.

ca. Mas hoje, aqui no desfile, sou atriz e a melhor delas... Vou

É por isso que muitas vezes vemos nos trens, nas caixas

fazer o povo vibrar e se emocionar, e farei a minha Beija-Flor

de supermercados, nas lojas e no comércio informal o sor-

ganhar... viu? Já virei atriz e poeta!"

riso desses deuses guerreiros, reis e rainhas que trazem

O repórter, preocupado com os detalhes técnicos de

para as ruas, para o seu dia-a-dia o resultado da total valori-

sua entrevista, não foi capaz de perceber a emoção daquele

zação do ser humano e do que é fazer parte de uma comu-

momento. Nem o brilho daquele olhar ou o coração acelera-

nidade, de uma família: a família Beija-Flor!

do batendo no ritmo do bumbo da bateria nota 10 sob a

"É gente humilde, que vontade de..."

batuta de Mestre Paulinho.

.... aplaudir!

Desatento, deixou passar o que há de mais essencial nos desfiles de carnaval: a emoção. Perdeu a oportunidade única de descobrir que mágica é essa que transforma seres comuns em deuses, agindo intensamente na visão de si mesmo e na sua auto-estima ao ponto de transformá-lo para melhor. A ele, aos seus amigos, familiares e a sua comunidade. Escola de samba, escola de vida. Na terapia dos mais humildes, do povo dessa terra sofrida, o carnaval é forte aliado e a Beija-Flor de Nilópolis, a concretização de muitos sonhos e vitórias. Sentados nas arquibancadas ou em nossos lares, aguardamos com ansiedade o passar das personalidades e dos artistas, mas o que vemos passar pelo nosso olhar curioso e estupefato são AS VERDADEIRAS CELEBRIDADES do carnaval.

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Uma escola de brasileiros

Maurício Louro

Q

uem acompanha a história da Beija-Flor de Nilópolis,

outros. Ajudamos a quem precisa e recebemos ajuda de

sabe que, nos seus 50 anos de desfiles, a

quem a pode dar. Patriotismo é amor e companheirismo. É

agremiação tem se empenhado em desenvolver enredos

preservar valores que, apesar de subjetivos, são fortes a

que abordem as mais diversas questões relacionadas ao

ponto de nos manter brasileiros e sempre orgulhosos.

nosso país, destacando tanto os problemas como as belezas dessa grande pátria chamada Brasil.

É bem verdade que o senso de nacionalidade desperta na pessoa independentemente da idade, raça ou credo. Mas

A Beija-Flor de Nilópolis entende que uma escola de sam-

para se chegar ao ponto ideal, no entanto, é importante que

ba não pode estar alheia aos problemas do país em que

esse amor seja plantado e cultivado nas escolas, pelas pala-

vive, e por ter a exata noção do seu papel na construção de

vras dóceis dos "tios", sobretudo no período da infância,

um país forte, justo e soberano, ela utiliza a força do seu

enquanto nossos pequenos brasileiros ainda estão maleáveis

povo na Avenida para bradar ao mundo, em alto e bom tom,

às noções de moral e civismo.

mensagens de esperança, luta e consciência nacional.

E essa noção de pátria remete à raiz, origem. Não há país

Influenciada por esse espírito, a Beija-Flor de Nilópolis

sem cidadão, nem cidadão sem cidadania. E cidadania é

defende uma atitude de incondicional amor ao país e às suas

respeito pelas origens, pela terra, pela cultura. Por tudo aqui-

manifestações culturais, propondo que cada cidadão de-

lo que torna o indivíduo uma parte do coletivo.

monstre com atitudes cotidianas o seu amor e respeito à

O país Brasil precisa amar seu cidadão, lhe fornecendo

essa pátria, que a todos acolhe com carinho e hospitalidade.

identidade. Em troca, recebe uma das manifestações mais

Nesse momento, é importante entender que o "amor à

potentes de amor, que é justamente o patriotismo.

pátria" pode se manifestar por inúmeras atitudes discretas e

Essa troca é ainda mais sublime quando feita espontane-

cotidianas, como aquele orgulho de falar a língua, de desfru-

amente, na forma de assistência, de apoio a quem precisa de

tar com alegria o clima, as cores, os costumes e os hábitos

uma luz para vislumbrar o lado bom de estar vivo. Não se

do país. De amar, por razão mesmo incompreensível, o chão

trata do assistencialismo do ponto de vista pejorativo que a

e as raízes daquele lugar em que se nasceu e cresceu. É

palavra possa significar, mas sim de um trabalho intensivo,

patriotismo vibrar e se emocionar com as mais diversas con-

gratuito, feito por pessoas que nem de longe carregam em si

quistas do país, sejam elas no esporte, na política econômi-

aquele espírito político, de autopromoção ou coisa parecida.

ca, nas artes ou em qualquer outra situação. Sim, patriotismo

A intenção desta matéria é mostrar o que foi visto pela ótica

é emoção.

jornalística de uma outra Beija-Flor, sem ser aquela conheci-

Assim como também é patriotismo exercermos o voto

da por sua tradição - apesar da eterna juventude -, entre as

para escolher não só o que entendemos ser melhor para

escolas de samba do Rio de Janeiro. Vamos além disso.

nós, mas também para aqueles próximos, do mesmo país.

Aqui estaremos constatando que as atividades desenvolvi-

E para a própria nação. Dessa maneira, cuidamos uns dos

das pela Beija-Flor de Nilópolis, sob a batuta de Anizio Abrão

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David, a tornam uma escola de patriotismo, de nacionalismo

centenas de indivíduos que ganharam assim o seu mais im-

e de amor ao Brasil, com todos os defeitos e virtudes desse

portante diploma, que é o de cidadania. Passaram por cima

grande país com seu povo mestiçamente apaixonante.

de um destino que os poderia lançar na criminalidade ou no

Na comunidade nilopolitana e mesmo pelos municípios

ócio destrutivo. Estão por aí como eletricistas, artesãos, me-

vizinhos, não há quem não reconheça os frutos daquela se-

cânicos, educadores, advogados etc. Modernos e

mente plantada há mais de uma década. Em maio de 1980,

informatizados, prontos para o mundo como a um tempo

nascia uma alternativa de futuro melhor para as populações

jamais poderiam sonhar. São todos indivíduos, amantes de

da Baixada Fluminense e até mesmo para a cidade do Rio de

um país que, por intermédio de iniciativas de outros brasilei-

Janeiro. Era o fio de esperança em que se traduziu as ativida-

ros, puderam ter a chance de se tornar brasileiros, e de for-

des desenvolvidas pela Creche Júlia Abrão David, pelo

mar esse tal Brasil.

Educandário Abrão David e pelo Centro Comunitário Nelson

Quem diria que por trás de tudo, como alavanca mestra,

Abrão David. Cada uma surgindo no decorrer dos anos, nos

estaria uma escola de samba chamada Beija-Flor de Nilópolis.

momentos propícios. Desde então as três entidades passa-

Pensando bem, é até natural.

ram a formar o trabalho social desenvolvido e mantido pela

Afinal, não é o samba a grande tradução sonora do povo

família Abrão David, cuja meta tem sido atender a uma parce-

brasileiro?

la mais desprovida de brasileiros. Muitos, inclusive, passaram a se sentir brasileiros a partir dali. São muitos casos a serem citados. Pessoas que chegaram à creche quando ainda eram um "rascunho de gente", com poucos meses de vida, e que aprenderam com a educação a retribuir o que receberam da melhor forma, amando a Beija-Flor, Nilópolis e o Brasil. Há tanto orgulho que é impossível esquecer o passado. Alguns optaram por repassar a própria experiência a quem, hoje, vive o que foi um dia um passado triste. E a vida continua. A origem desse trabalho não é segredo. Foi ainda menino que Anizio Abrão David constatou a preocupação de sua mãe, d. Júlia Abrão David, com aquela parcela da população mais abandonada e excluída dos direitos do cidadão. A questão da pobreza passou a sensibilizá-lo, a ponto de entender ser necessário fazer algo que realmente pudesse contribuir para mudar esse panorama. O tempo foi passando e, depois de muito trabalho, tornou-se possível ajudar a quem Anizio sempre achou que merecia. E o desenvolvimento dessa ação teria mesmo que desaguar na educação, pilar principal da formação do cidadão. Surgiram daí a Creche Júlia Abrão David, o Educandário Abrão David e o Centro Comunitário Nelson Abrão David, conhecido pela sigla CAC. Hoje, todo o trabalho de assistência social tem o mérito de ter lançado no mercado

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Uma escola de brasileiros

O

pontapé inicial está dado. Agora vamos em frente,

devolve a confiança que lhe foi passada com muito trabalho

conhecer alguns detalhes dessa escola de forma-

e dedicação.

ção de brasileiros chamada Beija-Flor de Nilópolis. Primeiro

Apesar de realizada como profissional, Maria de Lourdes

é necessário uma respeitosa apresentação, pois um grande

deixa claro que há ainda muito o que fazer a julgar por sua

projeto envolverá sempre um determinado número de pes-

rotina. Ela chega cedo e é uma das últimas a sair da creche,

soas. São profissionais dedicados e que, escolhidos pesso-

todos os dias, incansavelmente. Exige empenho dos funcio-

almente por Anizio Abrão David, carregam consigo uma gran-

nários, sabe cobrar, mas também sabe dar, estando sempre

de responsabilidade.

disponível para aquele apoio numa hora de necessidade. A

Na Creche Júlia Abrão David, essa pessoa se chama

personalidade forte ajuda em muito o seu perfil de educado-

Maria de Lourdes, e é a diretora da instituição desde sua

ra. Maria de Lourdes passa aquela impressão de firmeza

fundação, em 9 de maio de 1980, e ocupa o mesmo cargo

doce, exigindo algo de um funcionário como se pedisse um

no educandário, criado há cerca de 15 anos para dar se-

favor, incluindo sempre "meu amor" como tratamento. Não

qüência ao trabalho desenvolvido na creche: "Todos os cui-

há quem não respeite seu trabalho, inclusive Anizio, que por

dados com a educação, na creche, poderiam estar compro-

isso mesmo a escolheu como braço direito nos projetos da

metidos se, aos seis anos, a criança voltasse a se confrontar

creche e do educandário.

com a dura realidade da vida. O educandário surgiu como

Maria de Lourdes é o que é em conseqüência da educa-

continuidade ao trabalho. O Anizio se propôs a custear o

ção que teve. E ela lembra que desde o início sua educação

projeto do educandário, fazendo dele uma seqüência da cre-

foi movida por uma forte manifestação de amor ao Brasil.

che. Desde então, o atendimento é feito dos seis meses aos

Sentiu-se cidadã ao mesmo tempo em que desenvolveu um

seis anos na creche e, automaticamente, a partir daí, no

patriotismo inquestionável. É um exemplo claro da importân-

educandário", relata Maria de Lourdes.

cia da escola e da educação na formação do indivíduo: "To-

E a continuidade é mesmo literal. Segundo seu criador e

dos os dias do ano letivo se cantava o Hino Nacional. Vim do

mantenedor, Anizio Abrão David, "toda a criança assistida na

interior, de família tradicional, mas era uma aluna como outra

creche já tem a sua vaga reservada no educandário. Ela fica

qualquer. Estudei em colégio público, e me orgulho disso.

lá, estudando até a oitava série, com mais o curso profissionalizante. Há ainda inglês, francês e quatro refeições diárias, na creche e no educandário. Nosso intuito é ajudar a essa criança até que ela tenha condições de construir sozinha o seu futuro". Experiente na área de serviço social, Maria de Lourdes

Gostaria que meus filhos tivessem o que tive, passassem pelo que passei. Ninguém lá era diferente. Amávamos a escola, os professores, a merenda que nos ofereciam. Minha mãe nunca precisou se preocupar. Eu fui criada assim, e é daí que me formei como pessoa", diz Maria de Lourdes.

diz ter se realizado profissionalmente a partir do momento

O exemplo é mesmo seguido à risca. Quando nossa

em que iniciou seu trabalho junto à família Abrão David. Ela

equipe de jornalismo chegou à sede da creche, sem que

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nada tivesse sido combinado - os educadores nada sabiam

trabalhar apenas a criança, mas também a família como um

a respeito do tema da matéria -, foi possível constatar o

todo - a exemplo do que ocorreu com Alessandra. Faz parte

sentimento de patriotismo trabalhado ali dentro. Ouvimos o

do processo educativo conscientizar a família de que a crian-

Hino Nacional cantado por um emocionante e estridente coro

ça precisa ter um bom acompanhamento, assistência médi-

de crianças, cada uma querendo cantar mais alto, como numa

ca, odontológica, alimentação. Para aqueles que não têm

disputa para mostrar o quão maior era o orgulho de estar

condições de pagar um plano médico para a criança, por

presente àquele ritual de respeito e amor ao país.

exemplo, a creche acaba sendo uma boa saída: "As famílias

Estávamos ali, testemunhando in loco o exercício da so-

que nos procuram são pobres. Além da assistência material,

berania de um povo através da educação. De cara, sabía-

é preciso apoio moral. Sabemos que isso é difícil no lar de-

mos que a semente do cidadão estava plantada naqueles

les, e procuramos compensar prestando esse serviço aqui.

"projetinhos de gente", brasileiros de berço, pode-se dizer.

Oferecemos acompanhamento médico, odontológico, ves-

Depois, como que por um argumento inquestionável, veio a materialização do que vislumbramos naquelas crianças. Es-

tuário, uma excelente alimentação, educação e muito amor, que eu acho que é a base para tudo", conclui.

távamos diante de Alessandra Gatinho, brasileiríssima, de 24

Com a ciência da importância que o trabalho desenvolvi-

anos, professora do Educandário Abrão David, onde estudou

do na creche tem na formação de cidadãos, a direção da

e se formou. Veio ainda bebê, trazida pela mãe assim que esta

creche não abre mão de cultivar naqueles estudantes a no-

ficou sabendo da criação da creche. Bom para aquela menina

ção de brasilidade. Segundo Anizio, "é assim que a pessoa

pobre, hoje casada e futura administradora de empresas, com

passa a respeitar suas origens, sua escola, e, gradativamente,

diploma de faculdade, "se Deus quiser", como ela diz. Sorte ter

agir de maneira honesta e sem pre-

encontrado educação, ensino e alimentação nos projetos

judicar os outros, que são, em últi-

assistenciais da Beija-Flor de Nilópolis. Aliás, sorte de toda a

ma análise, irmãos de pátria". O

família pois, além de Alessandra, também seu irmão, Marlon,

papel da creche estará cumpri-

se formou no educandário, onde estuda Isabela, a irmã mais

do no momento em que se

nova. Com o carinho e a educação que recebeu, Alessandra

formar essa memória, cujo di-

desenvolveu o amor ao próximo, ao país e ao mundo: "A

cionário nos traduz por meio

educação nos prepara para a vida aqui fora. Me sinto prepara-

da palavra valor. E quem teve a

da para o mundo, e acho que não estaria assim se não tivesse

oportunidade de usufruir de tal

a profissão que tenho hoje. Sou grata sim, e quero passar isso

benefício, realmente, jamais

para meus alunos. Tive a oportunidade de construir minha

esquece. Os valores ad-

própria história", relata a orgulhosa cidadã.

quiridos estão arma-

Para não perder o fio da meada, os serviços prestados pela Creche Júlia Abrão David incluem atendimento a meno-

zenados

para

sempre.

res na faixa de seis meses a seis anos, em regime de semiinternato, e com critério de seleção baseado na renda familiar. Esse valor não pode ultrapassar o teto de três salários mínimos. A direção da creche estabelece um prazo de 30 a 60 dias para que as mães possam encontrar emprego, atendendo a todas as necessidades básicas das crianças. As crianças ficam no local, bem cuidadas e em boas mãos. A direção da creche ajuda também na procura do emprego, mantendo vínculos com indústrias e comércio da região, proPois bem, Anizio, que tem nas atividades assistenciais a sua grande realização pessoal, ressalta a importância de não

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curando encaminhar as mães ao trabalho. Quer mais?

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Uma escola de brasileiros

A

criança que sai da creche já tem seu lugar garantido

curriculares. "Os alunos aprendem a cantar o Hino Nacional

no Educandário Abrão David, criado mesmo com a

corretamente, e também assumem uma postura de respeito

finalidade de dar seqüência à formação do aluno como indi-

ao país. A direção cobra essa postura. Se não quiser cantar, vai se retirar. E ele não vai cantar coçando a perna, a cabeça.

víduo. O educandário surgiu para dar continuidade ao trabalho social da Beija-Flor. Os estudantes entram lá após os seis anos de idade, e só saem como cidadãos formados. Anualmente são atendidos no educandário cerca de mil alunos, num trabalho que envolve perto de 600 famílias. A demanda é sempre intensa e, apesar do ritmo pesado do trabalho no educandário, nem sempre é possível atender a todos: "Nilópolis é um município sofrido, pobre. A equipe que lá trabalha o faz no limite, mas não há como suprir a demanda. Tenho certeza de que as crianças daqui do educandário não teriam outra alternativa se não existisse o nosso trabalho. É por isso que a iniciativa foi tão importante para a comunidade. Seria bom se, a exemplo da Beija-Flor, outras escolas fizessem o mesmo", observa Anizio. O educandário é a segunda etapa da formação educacional do indivíduo. Daí tanta importância na formação do caráter daquele que será em breve um cidadão brasileiro. A pobreza, por vezes, relega a segundo plano essa questão da moral, suplantada pela necessidade cotidiana de sobrevivência. Em muitos casos, os pais não receberam tais informações no passado, quando eram crianças pobres, sem acesso à educação. Daí vem a grande preocupação em priorizar, além das disciplinas curriculares, noções de civismo aos jovens alunos. Isso quer dizer que, a exemplo da creche, no educandário os estudantes também se formam diante da bandeira, e aprendem a valorar os símbolos representativos da nação. E isso não é praticado sem propósito, ou com menor importância em relação às outras atividades

O Hino Nacional representa uma oração dentro da escola. É essa a consciência que mantemos no educandário e para seus alunos", acrescenta Maria de Lourdes. Há também um momento importante do ponto de vista moral e educacional, que acontece antes da refeição. Todos rezam o Pai Nosso, independentemente de religião ou credo. Não está em jogo, no caso, a crença de cada um. Para Maria de Lourdes, é muito mais uma questão de se fazer perceber o valor de cada ação, a importância que se deve dar àquele momento através de um ritual de conscientização. "Não é exagero nenhum, pois é tudo feito com o objetivo de formar um indivíduo com educação de qualidade. Pensamos sempre na formação do ser humano", conclui Maria de Lourdes. Todas as datas em que se comemora algum valor nacional são festejadas pelos alunos, não apenas com palavras. As professoras são instruídas a desenvolverem trabalhos individuais ou em grupo, que são apresentados com alguma solenidade. O detalhe é que as atividades contam pontos no currículo do aluno, o que acaba sendo um incentivo a mais no reforço da noção de brasilidade dos estudantes. "Fazemos isso em todas as séries, da primeira à oitava. No Dia da Independência eles fazem pesquisas sobre o tema, assim como no Dia do Soldado, que representa as Forças Armadas, instituições que defendem nossa soberania como país e, conseqüentemente, o povo. O mesmo ocorre no Dia das Mães. Mesmo que o aluno seja criado pela vovó ou titia, ele tem de fazer um trabalho dissertando sobre o tema. Isso porque é importante que ele compreenda o papel da mãe na família e na sociedade. Se por um lado ele teve a infelicidade

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de não ter tido uma mãe, por outro, ele vai conviver com a

Principalmente por ter sido ele um aluno levado, que faltava às

mãe de amiguinhos, de parentes e, quando crescer, se for

aulas, de difícil comportamento. Fui pessoalmente à casa dele,

mulher, será mãe um dia. E se for homem, será pai e terá que

falar com os pais, e com muito amor e respeito a ele e à sua

compreender a importância da mãe dos seus filhos", ressalta

família, dei um ultimato. O rapaz tomou a decisão certa, e

a diretora.

acabou concluindo seus estudos no educandário, indo após

É na família que começa tudo, na visão de Maria de Lourdes,

isso para a Marinha. Sempre que o vejo ele me diz: 'se não

que expõe o pensamento do educandário. Valores além da

fosse o educandário, jamais chegaria onde cheguei'. Nessa

educação vêm de berço. Inclua-se aí questão do patriotismo

hora me emociono muito, e reforço a certeza de que as obras

pois, de acordo com a educadora, a escola cumpre apenas

do Anizio e da família Abrão David são abençoadas por Deus

uma parte, mesmo que fundamental, na formação do cida-

e mensageiras de felicidade para muitas pessoas", conclui.

dão. Em casa, a criança precisa receber as noções de respei-

E é aprendendo a dividir seus conhecimentos para, numa

to aos valores da família para que saiba ocupar seu lugar na

matemática complexa, somar valores, que os jovens do

sociedade. A consciência dos direitos e deveres de cada um

educandário se tornaram brasileiros legítimos, transferindo o

deve começar com a influência dos pais, para que os filhos

que aprendem às pessoas que convivem com eles, seja no

possam ter a liberdade de respeitar o espaço alheio, e saber

trabalho, seja no seio do próprio lar.

até onde ir sem interferir no direito do próximo.

Esse amor à terra onde nasceu e vive assimilado desde

Na visão de Anizio, apesar da complexidade da situação

a infância vem ajudando a formar novos cidadãos, amantes

educacional do país, pequenas iniciativas se tornam grandes

de um país partindo de sua essência, e seguindo rumo à

passos na melhoria da educação do cidadão, e que certa-

educação, como uma bola de neve que, gradativamente, vai

mente terão influência significativa na formação final de cada

derrubando a imagem negativa de um país que insiste em

brasileiro, e do próprio país: "Não é tão complicado assim,

sobreviver, graças ao poder de reação de seu povo.

mas as pessoas deixam passar detalhes importantes. Esse respeito ao próximo, às suas conquistas, à sua forma de ser,

Sabemos que ainda estamos longe de atingir o nível ideal, mas vamos chegar lá, certamente.

seja branco, negro, amarelo, judeu, muçulmano, cristão ou

Se depender de iniciativas como as obras assistenciais

ateu. São situações que, apesar de mínimas, representam

da Beija-Flor de Nilópolis, a cada momento o Brasil estará

muito, e que ajudam a se amar o seu país cada vez mais e

ganhando um novo cidadão.

querer contribuir na construção de um Brasil melhor". Curioso é ver como o comportamento daqueles alunos se

Melhor ainda, está recebendo incondicionalmente novos patriotas. Todos

reflete no próprio educandário. Maria de Lourdes destaca al-

educadamente

guns detalhes como a pintura das dependências da instituição.

participativos e generosos. Dispos-

Algumas paredes, segundo ela, estão da mesma forma há 12

tos a dividir todos aqueles valores

anos. As crianças aprenderam a dar valor ao que receberam, e

que os tornam o que são e pron-

demonstram isso em pequenos, porém importantes, gestos.

tos para gerar cidadãos de uma

Não colocam os pés ou mãos nas paredes para não sujar, por

nação melhor a cada dia.

exemplo. Se isso não for sinal de educação, o que seria? Doutrina não faz mal a ninguém e, na medida certa, é de

brasileiros,

A esperança não morre nunca. Sempre que estiver pre-

grande importância para a educação. Que o digam hoje aque-

sente uma tal Beija-

les brasileiros que hoje são profissionais das mais diversas

Flor, escola de

áreas, e que nunca perdem o contato com o educandário ou

samba e de

com a própria Maria de Lourdes. São pedagogos, advoga-

brasileiros.

dos e inclusive militares, amantes profissionais da nação, patriotas por devoção e opção. Segundo Maria de Lourdes, "a ximo. Nossa intenção é manter aquela idéia de família, ou pelo menos um prolongamento dela. Então, há alunos que também

Foto : DT

gente lembra de muitos casos, pois o convívio é sempre pró-

não nos esquecem, e fazem questão de demonstrar agradecimento com gestos de carinho. Sou madrinha de casamento de um ex-aluno que hoje é da Marinha, e me orgulho disso.

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P

roporcionar educação fundamental às comunidades

carentes é uma ação a ser louvada, sem dúvida. Mas os projetos assistenciais da Beija-Flor não param por aí. É bem verdade que o estudo leva o cidadão a um grande passo na vida, e o fato de ele ter vindo de uma iniciativa particular, quase pessoal, só vem a glorificar ainda mais o trabalho. Da Creche Júlia Abrão David sai a semente, que cresce e se desenvolve no Educandário Abrão David para, então, seguir o rumo da vida. Cada indivíduo segue seu destino já meio que lapidado, e mais distante das armadilhas tão constantes do cotidiano. Mas a coisa vai além, muito além. Se a educação é peça chave para a formação do cidadão amante de seu chão, de sua pátria, resta então a consolidação desse sentimento, que virá com a dignidade. E não há nada mais digno do que a auto-sustentabilidade. A pessoa livre e independente, orgulhosa de si para então desenvolver a mais ferrenha devoção por suas raízes. É hora de preparar aquele brasileiro para o mercado de trabalho, para que todos os valores ali investidos não caiam no esquecimento. A vida é difícil para os mais pobres, não há dúvida. O mercado competitivo, por natureza, dá mais chances àqueles que desde cedo puderam desfrutar das ofertas com mais tranqüilidade. Falamos agora em profissionalização do indivíduo, o segmento final na formação do bom homem, do cidadão de bem, do indivíduo orgulhoso de seu país. Isso se faz com oportunidade. E é o que acontece em outra instituição mantida por Anizio Abrão David, em mais uma obra assistencial da família Beija-Flor. É o CAC/NAD, ou Centro de Atendimento Comunitário Nelson Abrão David. Muito mais do que uma simples instituição beneficente trata-se de uma manifestação de brasilidade de seus idealizadores. Fundado em 3 de agosto de 1991, com o objetivo de atender adolescentes e adultos das comunidades carentes do município de Nilópolis e adjacências, o Centro de Atendi-

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mento Comunitário foi idealizado por Nelson Abrão David, e implantado com sucesso pelo professor Aroldo Carlos, a partir da decisão de Anizio, presidente de honra da entidade e principal mantenedor do projeto. O atendimento visa principalmente a qualificação profissional da população-alvo na preparação para o mercado de trabalho. Vem daí a formação de parcerias com o Senai, Senac, centrais sindicais, empresas privadas e universidades diversas. Desde sua fundação, o CAC/NAD já beneficiou cerca de 35 mil pessoas, segundo índice estatístico próprio. Em sua grande maioria, os formados ali ocupam seus lugares no mercado. Aos interessados, o CAC/NAD oferece atendimento na área profissionalizante e na área social, formando trabalhadores e favorecendo a comunidade carente com serviços dos mais diversos. Na área profissional, a instituição é dividida em três setores, sendo o comercial, o industrial e um terceiro que prioriza o aspecto humano. Assim, no primeiro caso o CAC/ NAD realiza cursos de informática, telemarketing, técnicas de vendas, atendimento, turismo, garçom, inglês, espanhol, cabeleireiro, manicure e corte e costura. No setor industrial, são fornecidos cursos de eletricista, marcenaria, gráfica, refrigeração, hidráulica e mecânica de motos. O último caso refere-se a cursos de artesanato, ginástica para a terceira idade, caratê, capoeira e outras atividades do gênero. Na área social, o CAC/NAC disponibiliza atendimento médico para a população carente. Efetivamente, os serviços oferecidos são os laboratoriais, ginecologia, clínica médica, odontologia, psicologia e oftalmologia. Fugindo um pouco do ramo, mas com igual importância para a população, há também a prestação de serviço jurídico. É importante destacar que, em função da dificuldade financeira de cada aluno, a direção do CAC/NAD fornece a seus alunos dois vales-transporte por dia, além de alimentação completa, com lanche e almoço. No caso do atendimento médico, quando não é possível atender o indivíduo na sede do CAC/NAD, a direção da entidade o encaminha

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a uma clínica ou hospital, custeando o serviço. Há também o fornecimento de remédios, gratuitamente, em alguns casos. Se o amor pela pátria está intrinsecamente ligado à formação do cidadão, não há celeiro melhor do que ações como as promovidas pelo CAC/NAD. Braço direito de Anizio na instituição, Aroldo está lá desde a fundação, e domina todos os fundamentos do trabalho. Ele mesmo cuida dos detalhes, desde a escolha dos cursos a serem oferecidos até o encaminhamento dos novos profissionais ao mercado de trabalho. Ele está, sim, formando brasileiros: "Ensinamos postura, como falar, como se vestir, e sobretudo a ter amor por aquilo que se está fazendo, independentemente dos valores materiais. Nos preocupamos em conscientizar o aluno, indo além do ensino em sua área específica, ou seja, o profissional sai daqui sabendo que precisa valorizar o seu local de trabalho, suas relações com os colegas. Afinal, ele depende daquilo ali para viver. Ele precisa amar o seu trabalho", diz Aroldo. É importante ressaltar que o CAC/NAD está aberto a toda a população de Nilópolis e também a de outros municípios. Quem quer que seja, pode chegar e se inscrever, desde que haja vaga, nos cursos ministrados. A demanda é grande, sendo em sua maioria adolescentes que sentem urgência em tomar um rumo na vida para escapar de ofertas mais fáceis, porém, menos inteligentes. São pessoas querendo uma profissão, e se dirigindo ao lugar certo. Saem dali com novo fôlego para a vida, sentindo grande importância simplesmente pelo fato de terem se tornado produtivos. Não será esse sentimento pessoal a mola propulsora e fundamental para construir a nação com que todos sonhamos? "Aqui chegam pessoas em muitos casos de pouca ou nenhuma instrução. Ele vai ser um profissional em pouco tempo, ou seja, terá uma formação que permitirá pelo menos uma disputa no mercado de trabalho. Vai se sentir útil. Eles vêm muitas vezes sem postura, nada sabendo de seus direitos como cidadão. A gente ensina tudo isso. Se temos um curso que dura 180 horas, damos mais 40 horas de cidadania. Os alunos saem daqui com outra mentalidade", afirma o coordenador. A grande meta do CAC/NAD é tirar a pessoa da rua para dar-lhe uma qualificação. Estando ali, o indivíduo ocupa seu tempo ocioso. Em média, cada aluno fica cerca de quatro horas dentro da instituição, aprendendo. Há casos atípicos, mas de igual ou mais valor. Aroldo cita uma parceria que resultou num curso para detentos do Complexo Penitenciário de Bangu. Foram absorvidos 30 alunos que estavam para ser liberados pela

Justiça após décadas cumprindo Cursos Profissionalizantes: pena. Eles só poderiam ser liberados Refrigeração caso tivessem uma qualificação proArtesanato fissional, o que não era o caso. De imeEletricista diato, o CAC/NAD fechou um convêMarceneiro nio com o Senai para a criação do curFotografia so de refrigeração. Os presidiários se Beleza/Estética: formaram após cursar três meses de Esteticista aulas nas dependências do próprio Cabelereiro CAC/NAD que, para quem não sabe, Maquiagem fica situado onde era a antiga quadra da Beija-Flor. Esse foi um trabalho de Moda: Corte e Costura ressocialização, ou seja, de recuperaEstilista ção daqueles que conheceram o ouModelo e Manequim tro lado da vida, mas que deram a volta Tricô e Crochê por cima. Além da profissão, também ganharam um sentimento novo, de Culinária: Decoração artística amor-próprio, pela vida e pelo país em para bolos que vivem. Uma segunda chance. Doces finos para fes"Quando fizemos a formatura, elabotas ramos uma solenidade. Vieram autoriSalgados para festas dades, juízes. Realmente houve uma Esportes: oportunidade para eles, e a única porta Dança de Salão que se abriu foi aqui. Veja, foi um trabaAerodança lho feito sem divulgação, sem estardaDança do Ventre lhaço na mídia. Um deles esteve aqui há Karatê algum tempo. Está trabalhando numa Capoeira Ginástica plataforma da Petrobras. Fizemos tudo por fazer, e com total conhecimento e Assistencia Social: aprovação do 'seu' Anízio", observa o Nutrição orgulhoso Aroldo. Clínica Medica Essa face do trabalho desenvolPsicologia Jurídico vido pela Beija-Flor permite entender Pediatria o porquê do fato de todos da comuAngiologia nidade, sem exceção, se referirem à Odontologia escola de samba como se fosse um lar. Utilizam sempre o termo "família Beija-Flor", com a maior naturalidade. Nada mais justo, afinal as atividades não se limitam ao samba e ao Carnaval. Há uma preocupação grandiosa com a conscientização daqueles que vestem aquelas cores e vão para a Sapucaí. Se desfilar pela escola é motivo de orgulho, imagine o que não significa para cada nilopolitano poder dizer "sou Beija-Flor e brasileiro".

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O

trabalho de assistência social da Beija-Flor já está dando frutos, pois é uma atividade feita há pelo

menos uma geração. Para comprovar a informação, fomos buscar casos concretos de pessoas que se formaram no âmbito dos serviços oferecidos pelos membros da escola de samba de Nilópolis, sob o comando de Anizio. Casos como o de Alessandra Gatinho, que agora atua no educandário como professora, que em poucos anos estará se formando administradora de empresas. Está iniciando o curso agora, em janeiro, na Faculdade Estácio de Sá: "Freqüentar o educandário me ajudou muito em minha formação como brasileira. É aqui que a gente aprende a amar, a compartilhar, a respeitar os outros. Aprendi a me comunicar, a dialogar com as pessoas. Seria diferente se não tivesse existido o educandário na minha vida. O amor pela bandeira, ao meu país, às pessoas, a tudo. Vou utilizar no futuro muito do que aprendi aqui, com certeza, e pretendo dar o mesmo que recebi. Ajudar no que for preciso". Há outros bons exemplos de brasileiros formados no educandário, alguns inclusive se ocupando de preservar e defender a nação brasileira. Desde policiais militares até oficiais da Marinha. O Centro de Atendimento Comunitário Nelson Abrão não fica atrás. Dali saíram profissionais que não esquecem a origem, tanto que volta e meia aparecem para uma visitinha. Aroldo, o orgulhoso coordenador do CAC/NAD, acrescenta que, além dos cursos, a instituição encaminha os formados para o mercado de trabalho. Ele mesmo corre atrás de empresas privadas em busca de parcerias, e tem obtido sucesso, conforme o exemplo a seguir. Reginaldo Roque Barboza, 38 anos, é o responsável pela área de Recursos Humanos da Bermang, empresa de telemarketing que trabalha com a TIM, uma das grandes empresas no ramo de telecomunicações. Entre seus funcio-

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nários encontram-se profissionais que fizeram cursos de capacitação do CAC/NAD. Estão lá a Gardênia, o Carlos Eduardo e a Flávia Santos Marinho. De acordo com Reginaldo, esses profissionais foram selecionados em razão única e exclusiva da análise de competência: "Instituições como o CAC/NAD nos procuram, e muitas vezes os contatos são feitos por intermédio da própria comunidade. Em seguida, estabelecemos o vínculo e, a partir de um determinado momento, fazemos um apanhado para desenvolver o trabalho. Vamos ao local para analisar a instituição, o que é importantíssimo. A iniciativa de algumas comunidades e o posterior aproveitamento das pessoas envolvidas é um assunto sério. Uma atividade que precisamos respeitar e divulgar na mídia para dar frutos e expandir esse tipo de atitude". Sorte a de Flávia Santos Marinho, de 26 anos. Ela trabalha com telemarketing na Bermang. A única dificuldade, segundo ela, foi conseguir uma vaguinha no CAC/NAD, pois a procura pelos cursos é muito grande, e a concorrência pelas vagas também: "Soube da existência dos cursos através de amigos e fui buscar informações imediatamente. Depois de uma certa batalha, consegui me inscrever no curso de telemarketing. Eu estava parada, sem uma atividade. Durante o curso, soube que havia vaga para trabalhar na TIM e, é claro, me inscrevi. Entrei em junho. Foi uma coisa muito boa na minha vida, pois me sinto produtiva. O CAC/NAD me colocou no mercado de trabalho", ressalta. Há muitas outras parcerias, é claro, pois quanto mais demanda de serviços, melhor. E os contatos são feitos com empresas dos mais diversos ramos. Aroldo cita o caso de Robson Duarte, que após passar pelo CAC/NAD, conseguiu emprego de operador de rádio, trabalhando atualmente na Rádio Táxi Beija-Flor, lá mesmo em Nilópolis. Vale destacar também a parceria com a Lojas Cem, no mesmo município. Lindemberg dos Santos Amorim, de 26 anos, é um dos profissionais que entraram na empresa graças ao que aprendeu no www.beija-flor.com.br


CAC/NAD: "Sou grato ao CAC/NAD, ao Aroldo, à família Abrão David e a todos que fazem parte desse trabalho social. Moro em Nilópolis, sou da comunidade e conheço o que é feito por lá desde pequeno. Sempre freqüentei a quadra da Beija-Flor, mesmo antes de construírem a nova. Fiz vários cursos, como o de telemarketing, estilista e informática. Se me sinto um cidadão hoje, devo isso ao CAC/NAD. Não tenha dúvida". Émerson dos Santos é colega de Lindemberg, e confirma a sua história. Ele mesmo passou por situação parecida. É também morador de Nilópolis e freqüentador dos ensaios da Escola de Samba Beija-Flor. Émerson entrou na Lojas Cem por intermédio do CAC/NAD. Hoje é vendedor, mas começou de baixo: "Era muito novo, e não pude fazer outro serviço, a não ser o de contínuo. Assumi a vaga sem pensar duas vezes, e me desenvolvi aqui na empresa. Agradeço muito ao Aroldo, que ajudou não só a mim, pois encaminhou também meu irmão, Rodrigo Antônio dos Santos. Estamos empregados, agradecidos e felizes por estarmos num país de pessoas capazes de atitudes tão grandiosas".

Ver o resultado dos projetos da Família Abrão David, enche a todos de satisfação. E é por esta razão que um dos integrantes da Família Abrão David, o deputado estadual Ricardo Abrão, que é também vice-presidente social da Beija-Flor, faz questão de ressaltar que “as atividades sociais desenvolvidas pela agremiação na Creche, Educandário e CAC são o resultado de todo um entrosamento entre a Família Abrão David e a comunidade de Nilópolis. Atuamos de maneira coordenada promovendo as mais diversas iniciativas, seja através do Anizio, do meu trabalho como deputado estadual, do Simão Sessim no âmbito federal, e de meu pai, o prefeito Farid Abrão, no executivo municipal. Esse nosso envolvimento e esse desejo de realizar foram os responsáveis pelo status que o município de Nilópolis conquistou, sendo considerado hoje, o segundo município no estado do Rio de Janeiro em qualidade de ensino e o primeiro em qualidade de vida da baixada.”

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Anizio Abrão David Hilton Abi-Rihan Ricardo Fonseca

Muitas das pessoas que conhecem você, e que gostam de você, não sabem que você está por trás de uma obra social do porte da desenvolvida em Nilópolis, com atendimento a milhares de crianças e jovens. Por que o Anizio resolveu iniciar essas atividades? E por que não as promove mais para as pessoas? Posso dizer que tive uma infância feliz. Éramos muitos irmãos, meu pai não tinha muito dinheiro, e por isso passamos algumas dificuldades. Mas mesmo assim, ou por isso mesmo, aprendi com meu pai e minha mãe que a gente tem que ajudar as pessoas. Para você ter uma idéia, onde a gente vivia, não tinha médico e o sistema de saúde era inexistente. Minha mãe, vendo as crianças nascerem sem médicos, começou a fazer os partos das crianças da vizinhança. E se tornou parteira da vizinhança. Sempre que podia, ela ajudava as pessoas da comunidade. Crescemos vendo isso, e fomos aprendendo com ela. E hoje, depois de ter trabalhado muito na minha vida, consegui juntar um dinheirinho para gastar com as crianças de Nilópolis e dar a elas um momento alegre e feliz. A festa de Cosme e Damião, por exemplo, eu já faço a quase 40 anos. E sei que os presentes que dou na festa de Cosme e Damião e de Natal não vão resolver todos os problemas dessas crianças. Mas também sei que aquele momento para elas é

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especial. Quando você vê a criança recebendo a bicicleta, o carrinho ou a boneca, ela está sorrindo, feliz. E tenho cer- Anizio, Fabíola, Gabriel e Micaela. teza que esse sentimento, despertado nesse momento, vai fazer bem para ela.

E por que você não promove e divulga mais essas atividades? Ora, o motivo de eu ajudar essas crianças não é para me promover... Não preciso disso. Além disso, não concordo com as pessoas que ajudam os outros só quando alguém está vendo... Essas pessoas na verdade estão fazendo isso para aparecer, e não porque querem ajudar as pessoas. Eu não quero aparecer. Quero fazer o que acho certo. E o que me deixa feliz é ver essas crianças felizes.

E por que, Anizio, você distribui pessoalmente os presentes? Como falei, dou os presentes para as crianças de Nilópolis porque gosto delas e quero vê-las felizes. Que adianta dar o dinheiro para um funcionário meu e mandá-lo comprar e distribuir os presentes? Aí eu vou perder o melhor da festa; que é ver as crianças e seus pais felizes. www.beija-flor.com.br


Nesse ano em que a Beija-Flor comemora 50 anos de desfiles de Carnaval, qual o momento que mais o marcou? Para mim, dois momentos marcaram a vida da escola. O primeiro foi a morte do Cabana. Ele era um irmão muito querido de todos nós. Era um sambista muito talentoso e que atuava em diversas coisas na escola: era diretor de harmo-

Gabriel e sua irmã Micaela.

nia, compositor... Sempre que posso, repito uma das histórias que me marcou, que foi no dia do enterro dele. O Cabana sempre me pedia o seguinte: "Anizio, quando eu morrer bota o caixão no meio da quadra e toca samba. No dia que eu morrer você faz isso para mim". Infelizmente ele faleceu, e quando a família chegou no velório lá na quadra, e contei essa história: "Olha, o Cabana me pedia sempre que no enterro dele ninguém chorasse, que todo mundo brincasse e cantasse os sambas dele". A mulher dele estranhou, mas de repente disse: "Se ele pediu, vamos fazer". E as filhas dele também consentiram. Nós então fizemos um grande samba, que virou a noite... Na madrugada, chegou o Martinho da Vila, o Adelzon Alves, e todos cantamos todas as músicas do Cabana. Outro momento inesquecível foi o primeiro título da escola no Grupo Especial, em 1976. Nós éramos uma escola que tinha vindo da Baixada Fluminense, disputando com as grandes escolas... E fizemos um desfile que emocionou o público e a todos nós que desfilávamos. O título foi a confirmação do que todos nós já sabíamos: que a Beija-Flor de Nilópolis tinha vindo para vencer!

Anizio e Fabíola. Abaixo, Anizio com esposa, filhos e netos.

Fotos: HM

Fica difícil para as pessoas que nunca fizeram isso entender do que estou falando. Mas tenho uma sugestão para que entendam o que estou dizendo: vão. Façam. Escolham um dia e comecem a dar algum brinquedo novo a crianças pobres. Tenho certeza de que não vão querer parar. Vou contar um caso interessante: no Dia das Crianças quando eu estava entregando os presentes para as crianças da creche, uma delas veio perto de mim e disse: "Tio, eu já ganhei um brinquedo desse igualzinho na festa de Cosme e Damião... Se o senhor quiser dar esse carinho para outra criança que não recebeu nada, eu não vou ficar triste não". Aí eu falei para ela: "Se você quiser, pode ficar com ele. É para você. Aí você fica com dois carrinhos". Ela fez uma cara de felicidade e me agradeceu com um sincero abraço. Isso é uma coisa que não dá para viver vendo televisão... Só vivendo.


Simão Sessim Pronunciamento proferido pelo Deputado Federal Simão Sessim, em 29/10/2003

Senhor presidente, senhoras e senhores deputados, todos os anos, sempre por ocasião das proximidades do Carnaval, tenho ocupado a tribuna desta Casa para fazer uma prévia do que a Escola de Samba Beija-Flor - da qual sou admirador, torcedor, e porque não dizer também incentivador - se propõe a levar para a passarela da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro. Faço isso, senhor presidente e nobres pares, para chamar a atenção de Vossas Excelências e da própria sociedade brasileira para o teor da mensagem que a escola de samba da cidade fluminense de Nilópolis tem o hábito de levar para a avenida. Certamente, ela chegará ao palco de uma das maiores manifestações populares do mundo trazendo mais uma vez algum tipo de contrariedade em relação ao destino que este país vem reservando a seus filhos. No Carnaval de 2003, a Beija-Flor sagrou-se mais uma vez campeã dos desfiles do Grupo Especial defendendo a questão social da fome das desigualdades, com o magnífico enredo "Saco vazio não pára em pé - A mão que faz a guerra faz a paz", que sacudiu a Marquês de Sapucaí de forma esplendorosa. Foi, indubitavelmente, uma contribuição de enorme valia para o país e todos nós que temos a responsa-

culo, provavelmente outro puxão de orelha com um mani-

bilidade de defender uma melhor qualidade de vida para os

festo, agora voltado para um pedaço do Brasil dos mais

nossos irmãos, porque nos chamou a todos, sociedade,

valorosos, porém bastante maltratado e desrespeitado lite-

governo etc. à responsabilidade, pedindo-nos que olhásse-

ralmente na sua própria natureza. É o enredo "Manôa - Manaus

mos com mais carinho para os desassistidos, os excluídos,

- Amazônia Terra Santa... Que alimenta o corpo, equilibra a

os humilhados e vilipendiados.

alma e transmite a paz", idealizado e confeccionado pela

Para 2004, a Beija-Flor, com certeza, nos reserva mais

Comissão de Carnaval. A escola pretende mostrar na aveni-

uma grande surpresa, algum tipo de impacto como espetá-

da que a Amazônia está chorando devido à destruição

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provocada pelos homens que praticam a exploração preda-

dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial, o Inpe,

tória de um dos maiores santuários ecológicos do mundo,

para mostrar que a destruição apenas em um ano da flores-

sempre em busca do lucro a qualquer preço.

ta com a maior biodiversidade do planeta foi maior do que a

A Beija-Flor vai mostrar que o homem sempre foi um predador no conceito mais abrangente da palavra. Em nome

área total do estado de Sergipe e pouco menor do que a Bélgica.

do pseudomovimento de civilização, ele invadiu territórios,

Temos mais números. Fala-se que nos últimos 30 anos,

dizimou e espoliou povos, roubou riquezas, impôs deuses e

15% da Amazônia brasileira foi completamente destruída. A

destruiu culturas milenares. E nessa ambição desenfreada,

área, maior que o território da França, corresponde a mais

ele também chegou à Manôa, que é a Mãe Natureza. E entrou

de 590 mil quilômetros quadrados. E, por trás dessa destrui-

em tamanho delírio, que não se deu conta de que na verdade

ção, estaria o crescimento dramático da atividade madeirei-

o tesouro era verde, brotava do coração de Manôa, e que

ra ilegal e predatória. Só para termos uma idéia do proble-

escondia em suas folhas, cipós e ervas, as curas para os

ma, o Greenpeace lembra que em 1970, a Amazônia era

males do mundo; e que suas águas límpidas haveriam de

responsável por apenas 12% da produção de madeira tro-

matar a sede da humanidade.

pical do Brasil. Hoje em dia, essa produção já chega a 90%,

Mais uma vez, portanto, senhor presidente e senhores

estimada em 30 milhões de metros cúbicos por ano.

deputados, a Beija-Flor vai voar à caça de uma alternativa

Isso tudo nos leva a crer, senhor presidente e senhores

capaz de levar para a Amazônia um modelo de desenvolvi-

deputados, que a floresta amazônica precisa ter a união de

mento que combine com responsabilidade social e proteção

esforços dos governos federal, estaduais e municipais, das

ambiental, de forma a permitir a exploração de seus recursos

organizações não-governamentais e da própria iniciativa

naturais de maneira racional e sem desgastar a qualidade de

privada para sobreviver. Torna-se necessário, portanto, a

vida de seus habitantes.

busca de alternativas para a destruição da Amazônia com a

Como bem define o extraordinário Laíla, este baluarte do

implantação de projetos que garantam o desenvolvimento

Carnaval carioca, a Beija-Flor quer somente lançar o manifes-

sustentável da região, a recuperação das áreas já degrada-

to do naturalismo integral, acreditando que dessa volta à na-

das e a consolidação de programas que assegurem empre-

tureza poderá surgir um novo renascimento e um novo sécu-

go e renda às populações locais.

lo de luzes. Até porque, a Amazônia constitui hoje, no planeta

Na verdade, senhor presidente e nobres deputados, a

Terra, o último reservatório, o derradeiro refúgio da natureza

Beija-Flor vai levar para a Marquês de Sapucaí um ritmo de

integral, razão pela qual a Amazônia é hoje um paraíso que

esperança, de forma a que o quadro do futuro não seja

guarda em si os segredos da cura do mundo, a própria vida.

pintado com os tons de cinza das queimadas, o negro das

Não podemos esquecer que o novo "Atlas mundial da

fumaças das fábricas ou os tons de marrom das águas

biodiversidade: recursos vivos da Terra para o século 21",

poluídas. Porém, que seja, sim, tingido com as variadas

lançado em 2002, em Londres, pela Organização das Na-

cores e infinitos matizes que nos legaram todos os deuses:

ções Unidas (ONU), mostra que as atividades humanas leva-

o verde das matas; o azul do céu e das águas; a explosão

ram a perdas de biodiversidade em ritmo alarmante. As esti-

das cores dos pássaros e das flores, e o branco da paz.

mativas da ONU revelaram, à época da publicação da pes-

Muito obrigado!

quisa, que nos últimos 150 anos os homens impactaram ou alteraram, diretamente, 47% da área terrestre. Vejam, os senhores, que absurdo! E os dados não param por aí. O Greenpeace denunciou também que a taxa anual de desmatamento na Amazônia Legal, estimada para o período de agosto de 2001 a agosto de 2002, seria de 25.500 quilômetros quadrados, a segunda maior da história, equivalente a 5,1 milhões de campos de futebol. A organização não-governamental chegou a usar

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entrevista com O HOMEM QUE REVOLUCIONOU A TELEVISÃO BRASILEIRA

Boni Hilton Abi-Rihan Ricardo Fonseca

A revista Beija-Flor - uma escola de vida, foi à casa de José Bonifácio Sobrinho, o Boni, em São Conrado, RJ, e durante algumas horas pôde conhecer um pouco mais o homem que revolucionou a televisão brasileira, criador do "padrão Globo de qualidade", do Fantástico, do Jornal Nacional e do "plim-plim" da Globo. Paulista de nascimento, da cidade de Osasco, Boni é um homem gentil e simples no trato pessoal, apesar da vasta cultura e do poder conquistado devido à história profissional que construiu. Exemplo de perseverança e presciência, Boni revela aos nossos leitores, em uma entrevista exclusiva, sutilezas do seu pensamento e da sua forma de agir, que o transformaram num mito nacional.

Ricardo Fonseca - Quando se deu o seu primeiro contato com o samba? Boni - O meu primeiro contato com a música vem do meu convívio com meu pai, que era músico e tocava em rádio, além de dentista. Ele era violonista, Orlando de Oliveira, conhecido como Caçula, e nós tínhamos em Presidente Altino (SP), os "Chorões de Presidente Altino", onde tocavam juntos meu pai, que era um violonista razoável e dois grandes violonistas: o José Patrocínio de Oliveira, o Zé Carioca, e o Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto. Assim, o meu primeiro contato com o samba foi na verdade o contato com o choro. Fim de semana em casa, churrasco ouvindo meu pai, o Garoto e o Zé Carioca tocando música. Com isso, fiquei muito ligado à música brasileira. Do choro para o samba foi um passo. O meu primeiro contato com o samba e o Carnaval, foi quando o Walter Clark me trouxe para a TV Rio e me pediu para coordenar a transmissão do desfile na Candelária em 1963, quando então eu me apaixonei pela escola de samba. Como paulista que estava chegando ao Rio de Janeiro, fiquei encantado com aquela riqueza e manifestação cultural tão espontânea.

Abi-Rihan - Quem descobriu o Boni? Boni - Olha, eu acho que foi o próprio Boni. Quando meu pai morreu, eu tinha sete anos. Resolvi insistir no meu trabalho dentro do rádio, porque acompanhava ele algumas vezes em programas de auditório e de calouros, coisas desse tipo. Aí descobri o que eu queria fazer. Na verdade, quem me deu a mão no que eu precisava foi o Dias Gomes, na ocasião diretor da Rádio Clube do Brasil. Meu tio era diretor da Editora Assunção, que editou o primeiro livro do Dias Gomes. Fui procurar o Dias Gomes porque

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Revista Beija-Flor

eu queria aprender a ser diretor de rádio. Ele ia pra casa. Eu ia atrás. Ele ia ao banheiro eu ia atrás dele. Até que um dia ele me expulsou da rádio e me colocou na Rádio Roquete Pinto para fazer um curso de rádio com Berlier Junior. Dali eu comecei a fazer rádio, fui para a Rádio Nacional para escrever programas infantis, contratado por uma agência de publicidade que tinha a conta do Toddy. De lá eu fui pra São Paulo com Manoel de Nóbrega e depois fui contratado pela TV Tupi.

Abi-Rihan - Antes da TV Globo eu trabalhava na TV Tupi e, antes dela, na Continental. E me lembro que quando saía da locução e passava pelo auditório estavam gravando programas para serem exibidos em rede nacional. Foi criado ali, por você, o Telecentro. Ele precedeu a Central Globo de Produções? Boni - O Telecentro foi a primeira idéia de haver realmente uma produção nacional, e exportação de produtos a partir de um centro. Foi uma criação da TV Tupi, mas eu fui chamado para ser o primeiro diretor do Telecentro. Quem sugeriu o meu nome foi o Chico Anísio. O Telecentro tem a mesma idéia que hoje preside a TV Globo. Uma rede nacional de televisão a partir de um centro produtor. Não vingou porque nós cometemos um erro econômico. Vingou do ponto de vista artístico. Nós conseguimos grandes sucessos com Chico Anísio, Moacir Franco, Flávio Cavalcanti, Bibi Ferreira, e, em São Paulo, as novelas. Chegamos a ser líderes de audiência nacional, com shows no Rio de Janeiro e novelas em São Paulo. O grande erro foi que nós exportávamos os produtos para emissoras associadas, que naquele tempo só tinham de associadas o nome. O produto ia, mas o dinheiro não voltava. Já com essa experiência, na Globo nós fazíamos o contrário: vendíamos o produto aqui, captávamos o valor do produto e

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devolvíamos o troco para as outras emissoras. Se não houvesse o Telecentro, nós não teríamos aprendido que, economicamente, você tem que cobrar os custos da produção e da veiculação juntos e repassar o troco para os outros. Nós fazíamos o programa, vendíamos o programa e mandávamos o dinheiro para os afiliados e ficávamos esperando eles nos pagarem. Foi um fracasso econômico porque ninguém nos pagou, com exceção talvez de Minas Gerais, que era muito pontual e Porto Alegre, que era defensora da idéia do Telecentro. Mas as outras emissoras iam empurrando com a barriga porque tinham aquela idéia do "deixa para lá que isso é nosso mesmo...".

Abi-Rihan - Na TV Tupi o pessoal brincava quando a direção contratou o homem dos seis milhões de dólares que lá o homem passou a valer menos porque eles tomaram os milhões de dólares para pagar os salários e que fizeram Branca de Neve e os Sete Anões com cinco anões. Boni - Isso é a história que você conhece de um personagem fantástico que era Nereu Bastos. Sempre que aparecia algum orçamento, ele argumentava para reduzir a despesa. Ele perguntava: "Para que sete anões? Bota um só, que ele entra sete vezes". Não dá. "Então bota três. Sete anões é demais." Tem uma história do Nereu em que o Mauro Monteiro foi procurálo para liberar a verba da construção do cenário: "Eu quero comprar uns sarrafos de 30 cm, algumas folhas de compensado etc.". "Então você quer comprar madeira. No fim, você quer comprar pau. Me diga uma coisa, Mauro, você já viu o Ibope perguntar a alguém se está assistindo à madeira da TV Rio ou da TV Excelsior? Ninguém liga a televisão para ver madeira." "Mas como é que faz o cenário?" E ele retrucou: "Não faz cenário. Estica o pano. O que interessa é o que acontece na frente... Nunca vi ninguém ligar a televisão para ver madeira". Outra do Mauro Monteiro com ele foi quando foi pedir para comprar luz neon para enfeitar um programa e o Nereu disse: "Não vai comprar neon nenhum não, pois se néon desse audiência, tava cheio de gente em frente à padaria". São histórias de Nereu Bastos, já falecido, mas que eu estimo muito. Ele me ensinou uma coisa muito importante, que é o gerenciamento de custos. Ele fazia de um jeito empírico, mas extremamente engraçado. Tem a história do Lúcio Mauro que estava sem receber e foi lá para pedir para o Nereu pagá-lo: "Você me tirou do Norte, comprei um apartamento, e agora vou perder o apartamento. Eu não posso perder o apartamento...". E o Nereu respondeu: "Tem gente que perde a mãe, e você não pode perder o apartamento?".

O que faz a diferença é você caminhar. Como diz García Lorca: "Não há caminho, o caminho se faz ao caminhar". Então, quando a gente anda para a frente, está fazendo o caminho.

Ricardo Fonseca - Boni, você falou sobre a coragem de ousar sem medo de errar. Nos dias atuais de muita disputa e concorrência, você acha que o empregador está aberto a dar espaço para que o seu funcionário erre? Boni - Eu acho que hoje a cobrança é menor. O erro é possível. Mas o erro controlado, resultado da busca por uma coisa nova e de boa qualidade. O erro que não é aceito é o erro da rotina, nem dos métodos já consolidados. Eu continuo achando que a Rede Globo é a única empresa de televisão que aposta no talento brasileiro, que continua empregando mão-de-obra brasileira maciçamente. As outras emissoras fazem o mais simples, o pior, e não se preocupam em criar com qualidade. É evidente que a TV Globo comete erros... Mas as outras emissoras só cometem erros. Essa é a diferença. A TV Globo é a única que arrisca criar e lançar produtos novos, e não tem dúvida alguma em garantir o emprego da mão-de-obra brasileira. É uma coisa que ela faz e que tem que ser respeitada. Fabíola, Anizio, Boni e Gabriel.

Ricardo Fonseca - Seguindo um pouco dessa história do Telecentro, você afirmou que o fracasso desse empreendimento trouxe lições para você. Isso reforça a idéia de que até um profissional bem-sucedido e reconhecido mundialmente como você, também erra. Que dica você dá pra as pessoas conseguirem chegar ao sucesso que tanto buscam? Boni - Eu acho que fundamental é não ter medo do fracasso. Você tem que experimentar, tentar e criar. Você tem que estar preparado para isso. Eu errei em várias novelas, em vários programas, mas se você não correr o risco, não enfrentar a possibilidade de fazer "o novo", você não cresce. Você fica repetindo a coisa que já foi feita, estagnado, pode até fazer bem-feito...

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Abi-Rihan - O padrão de qualidade da Globo foi criado por você. Dizem que você chegava a recusar programas inteiros porque não se adequavam a esse padrão. Isso é verdade? Boni - O padrão de qualidade é um rótulo que a imprensa deu à forma como era conduzida a parte de programação da emissora. Junto com alguns profissionais da TV Globo nós criamos um conceito de exigência de tentar fazer o melhor. Muita gente fala em perfeccionismo. Não é isso. Era uma busca contínua da coisa perfeita. Nós nunca conseguíamos ficar satisfeitos com o resultado de um produto. E nós íamos lá olhar em detalhes, coisa que não se fazia na televisão brasileira. Isso se deve a um grupo de profissionais. Realmente, a última palavra era minha e eu nunca tive dúvida em descartar uma coisa que não considerava boa. Joguei no lixo pelo menos oito ou dez programas com mais de 20 episódios gravados. O primeiro episódio de Malu Mulher que me apareceu dizia o seguinte: "dedos ligeiros". Apresentava o personagem Malu como candidata a um concurso de datilógrafa no programa do Silvio Santos. Eu falei: "Não é isso que eu quero. Eu quero chumbo grosso. Quero essa mulher separando do marido na porrada e tentando sobreviver". E o Daniel Filho, que tinha uma comunicação muito rápida comigo, disse: "Se é chumbo grosso que você quer, deixa comigo!". E saiu essa maravilha que foi o Malu Mulher... Mas passamos pelo fato de ter que eliminar uma coisa que a gente não gostou. Me lembro do Ari Barroso, que dizia que de vez em quando aparecia na cabeça dele uma melodia tampão, que às vezes era ruim, mas enquanto ele não fizesse aquela melodia, não saía a boa. Você tem que se livrar das coisas ruins para fazer as boas.

Abi-Rihan - Há muitos anos atrás, o desfile das grandes escolas tinha um vencedor no domingo e outro na segunda, que disputavam entre si um supercampeonato no sábado seguinte. A Rede Globo foi contra isso, e na ocasião você era o vicepresidente da emissora. A transmissão do espetáculo acabou ficando com a TV Manchete, que deu picos de audiência, chegando a 74 pontos contra 6 pontos da Globo. O que aconteceu, realmente, nesse episódio? Boni - A minha postura como pessoa que gosta de samba, que respeita o trabalho dos carnavalescos e os investimentos das escolas, é que seria impossível levar uma decisão para o sábado, que a gente sabe que está sujeito à chuva, a participantes que não vão poder desfilar, fantasias estragadas devido ao desgaste do primeiro desfile, entre outros problemas... Eu tinha certeza de que a decisão do campeonato tinha que ser feita em um dia só. Como eu não concordei com essa decisão, combinei com Moises Veltman, que estava na Manchete, que eu continuaria batendo contra essa decisão e a Manchete compraria os direitos de transmissão, que seriam repassados à Globo depois. Acontece que eu fui viajar e o Adolfo Bloch, que tinha suas diferenças e idiossincrasias com o dr. Roberto Marinho, resolveu que o que Moises Veltman havia combinado comigo não seria cumprido. A partir disso, ele não atendia mais as minhas ligações e as do dr. Roberto, porque ele quis ficar com a transmissão do Carnaval sozinho. Mas havia sido combinado que a Manchete comprava e repassava para nós. O que não ocorreu. A minha intenção era até o final do ano ter conseguido convencer o Darcy Ribeiro

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Revista Beija-Flor

e o Carlos Imperial de que a idéia de um supercampeonato era ruim para o público e para o Carnaval. Mais tarde tive que adotar uma posição para recuperar a transmissão de Carnaval, e com a ajuda do Anizio Abrão David, do Castor de Andrade e do Capitão Guimarães iniciamos algumas ações que resultaram na criação da Liga Independente das Escolas de Samba. A Liesa nasceu a partir desse episódio. Eu fui à casa do Brizola, explicar para ele que eu era contrário àquilo e que tinha visto que não tinha dado certo, ele concordou, que não podia ser daquela maneira, e que eu queria retomar o Carnaval, mesmo que a Manchete continuasse também. E que eu achava que a maneira de fazer um bom desfile de Carnaval era reduzir o número de escolas de samba. O Brizola mandou conversar com o Marcello Alencar, governador na época, que nos recebeu em sua casa, eu, Anizio, Capitão Guimarães e o Castor de Andrade, e lá estipulamos o enunciado do que seria a Liesa.

Abi-Rihan - Você era diretor-geral da Rede Globo e ficou decidido que a transmissão do baile a fantasia do Teatro Municipal e o desfile das escolas de samba seria feito em pool com uma concorrente. Por que aquele pool? Boni - Existem duas coisas que movem o mundo. Uma delas é o interesse e a outra as deficiências que você tem que suprir. Você tem que armar as idéias que atendam seus interesses e supram suas deficiências. Dr. Roberto Marinho imaginou que a TV Globo seria uma emissora voltada ao jornalismo, por causa do Globo. Para isso, tinha montado uma infra-estrutura. Nossas instalações do Jardim Botânico eram pequenas, onde fazíamos as novelas e demais programas e nosso equipamento era de estúdio. A Globo estava iniciando. Tínhamos câmeras boas, mas que pesavam 100 kg, e não podiam sair de dentro do estúdio. Foi quando o Walter Clark inventou as chamadas globetes, que eram equipamentos portáteis, mas de má qualidade. Além disso, nós tínhamos um único caminhão de externa que veio de São Paulo. Ele era tão antigo, da época da inauguração da televisão no Brasil, que o chamávamos de Globossauro. No primeiro dia que nós íamos fazer a transmissão de Carnaval, ele pegou fogo. E nós não tínhamos como fazer a transmissão do Carnaval. Nós não tínhamos caminhão de externa e nem câmera de externa. A solução era apelarmos para um pool onde nós ficaríamos no Teatro Municipal e a Tupi faria o desfile, e trocaríamos as imagens entre as emissoras. Havia o interesse de fazermos o Carnaval, e a necessidade de suprir as nossas deficiências. Aquilo foi uma manobra minha que felizmente deu certo.

Ricardo Fonseca - Nesse caso da criação do pool, fica evidente a sua forma de tratar dos seus negócios. Até quando as coisas dão errado você não se lamenta ou desiste, mas procura uma maneira de resolver o problema. Você considera que essa sua maneira de encarar as coisas é um diferencial entre quem vence na vida e quem é um perdedor? Boni - Eu acho que isso é uma característica de todo vencedor. Dar a volta por cima. Se você tem um problema tem que transformá-lo em solução. Limão tem que virar limonada. Eu gosto de citar pensamentos clássicos. Tem um caso interessante onde o Freud analisa o sonho de um paciente seu que abriu o chuveiro para tomar banho e caem aranhas peludas em cima dele. Ele pega as aranhas e transforma em espon-

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jas, tomando um banho maravilhoso. Então a transformação de problema em solução é característica do vencedor. Você tem um desafio e tem que transformar esse desafio em uma vitória.

abrir essa janela". E ele retrucou: "Onde você se inspirou?". "Me inspirei na sua janela." "Eu posso vir de vez em quanto despachar aqui?" "Pode. Se o senhor quiser, o senhor pode ficar aqui definitivamente e eu vou lá para cima."

Ricardo Fonseca - Muitas pessoas consideram que por ser o Boni a situação é cômoda, porque todas as portas se abrem para você. É verdade? Todas as portas se abrem para o Boni?

Ricardo Fonseca - Você está com uma emissora de televisão, a TV Vanguarda, no Vale do Paraíba. O investimento para esse empreendimento é muito alto, o que faz com que muitos empreendedores optem por alugar espaços dentro da grade de programação de uma emissora e produzam seus programas, na maioria de baixa qualidade. Como você analisa essa questão?

Boni - Não. Pelo contrário. É que você tem que bater na porta o dia inteiro. Se você tem uma porta fechada e bater uma vez e não abrir, você tem que insistir. Se você parar de bater, ela vai continuar fechada. Você tem que bater até o fim.

Abi-Rihan - Você liderou o crescimento da TV Globo em uma época em que existiam inúmeras interferências políticas. Como você conseguiu seguir com independência? Boni - A primeira grande cartada do dr. Roberto foi entregar o comando da sua televisão a profissionais. Fomos capazes de reunir uma equipe extraordinária, com o Walter Clark, Mister Wallack, eu, Armando Nogueira, Daniel Filho, Mario Lucio Vaz, Borjalo, Magaldi, Homero Casa Sanches. Formamos, na época, uma equipe muito integrada. Discutíamos abertamente e de maneira clara o que fazíamos, o que queríamos e o que precisávamos fazer. O dr. Roberto nunca nos cobrou o que estávamos fazendo. Ele cobrava resultados: "Como vou pagar a minha conta, como vou pagar minhas dívidas... Coloquei minha casa e todo o dinheiro que tinha nesse negócio de televisão... Acredito nisso e vocês precisam devolver esse dinheiro". E nós tínhamos dito a ele que devolveríamos o investimento na emissora em cinco anos... Devolvemos em três. Eu acho que a partir desse momento, a confiança dele em nós aumentou, e ele nos deixou mais à vontade, sem cobranças. A única coisa que o dr. Roberto preservou, como jornalista que era, e com a herança que ele tinha do pai e a presença dele no jornal O Globo, é que tivesse o controle da questão editorial da empresa. A interferência dele, que era mínima, era muito forte. Quando ele queria alguma coisa ou tinha que atender algum pedido ou fazer alguma coisa que interessava à empresa ele era implacável, sabia cobrar, exigir e mandar. Isso era uma coisa aceitável já que ele era o concessionário. Como a televisão é uma concessão pública, a gente imagina que ela é mais sujeita do que qualquer outro órgão a pressões que vêm de cima para baixo.

Abi-Rihan - O gabinete do Boni era mais luxuoso que o do dr. Roberto. Ele tinha ciúme disso? Boni - Meu gabinete não era mais luxuoso, era mais moderno. E ele não tinha ciúme não, porque ele achava que o dele era mais bonito. Dr. Roberto nunca perdeu na vida dele. Ele podia ter a pior coisa do mundo... Ele achava que o melhor negócio do mundo era andar de Volkswagen. Quem andava de Cadilac era um idiota. Tudo que ele teve considerava que, do ponto de vista dele, era o melhor. A sala dele era uma sala bonita, de livros, com uma vista espetacular para o Jardim Botânico, o Jóquei Club e a Lagoa. E minha sala ficava no andar de baixo, mas não tinha janela. Um dia mandei abri uma janela igual à dele. Certa ocasião ele foi na minha sala e disse: "Olha, o seu escritório é mais leve que o meu. É mais branquinho. E essa janela aqui? Tinha essa janela aqui?". Eu disse: "Não. Mandei

Boni - Existe uma tendência mundial de segmentação na comunicação. Para que você faça uma coisa para cada tipo de indivíduo ou grupo. Considero que isso está sendo feito de uma maneira exagerada e estamos vivendo uma época de uma quantidade de informação tão grande que fica difícil de processar. Mas a segmentação é uma tendência. A situação é tão extrema que existe um sujeito na Califórnia que fica transmitindo diariamente na sua programação um sismógrafo, pra ver quando tem terremoto. Ele só tem um sismógrafo e uma câmera. O trabalho é tão primário que o anúncio é um cartãozinho, que ele segura e coloca em frente da câmera, anunciando quem patrocinou o programa. Ele só tem um sismógrafo e uma câmera e um canal de televisão que está no cabo.

Ricardo Fonseca - Você não acha que para evitar essa programação de baixa qualidade deveria ser criada uma entidade que analisasse e controlasse a qualidade dos programas na televisão? Boni - Qualquer controle é danoso. O controle tem que ser de cada empresa. Do ponto de vista do mercado, deve ser exercido pelo anunciante e pelo espectador. Se você não tem qualidade, você não tem anunciante. Se não tem um bom acabamento, você não tem espectador. E aí se cria um círculo vicioso. Esse controle será feito pelo próprio mercado. Mas essa depuração vai demorar um pouco ainda, porque o fenômeno da segmentação é recente. Mas tenho certeza de que vai prevalecer a qualidade, o entretenimento de bom nível, a informação, a educação, a cultura.

Ricardo Fonseca - Como você analisa o sistema de televisão brasileiro. Boni - Um país precisa de um bom sistema de televisão. E o Brasil, que possui dimensões continentais, precisa de uma boa televisão aberta, porque o cabo vai ficar restrito a determinadas áreas. O satélite vai cobrir áreas rurais. A televisão aberta no Brasil tem um papel diferente do que em outros lugares do mundo. O país não pode ficar na mão de uma só emissora. Eu respeito e tenho o maior carinho pela TV Globo, mas sou a favor da democratização. Mas no lugar mais difícil, que é a TV aberta. Não em uma estaçãozinha de cabo. A Record, o SBT, a Bandeirantes, a CNT e a Rede TV têm obrigação de tentar melhorar com seus recursos e tentar crescer. Não só fazer uma concorrência com a TV Globo, mas tornar o Brasil dotado de um sistema de televisão mais democrático do ponto de vista da informação e mais interessante do ponto de vista do entretenimento. É por isso que respeito a TV Globo.

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É importante a gente lembrar que a Globo não começou como a vemos hoje. Quando fui para a TV Globo, ela era a quinta emissora em audiência em São Paulo e a quarta no Rio de Janeiro. Naquele momento, em São Paulo, nós tínhamos o poder da TV Record, com seus festivais e programas de música popular brasileira, a Tupi e a Excelsior dominando o campo das novelas. Se nós pensássemos como as emissoras concorrentes da TV Globo pensam hoje, teríamos nos contentado em fazer um programinha com um apresentador de segunda a sexta-feira, às 9h da noite e não fazer mais nada. Nós percorremos um caminho. Fomos trocando as pessoas, criando programas, implantamos a teledramaturgia e ficamos livres de alguns profissionais que tentaram fazer uma televisão de baixa qualidade. E nós não fizemos isso com dinheiro. Fizemos isso com trabalho, um planejamento cuidadoso, levamos aos anunciantes e vendemos nossas idéias a eles, recebemos dinheiro do mercado para fazer uma televisão que o mercado pudesse se sentir confortável ao anunciar seus produtos. Fizemos uma televisão para atender não o gosto do anunciante, mas a sua necessidade de veicular seus produtos para um público de poder aquisitivo elevado. Nós desenhamos essa televisão. Ela foi feita no papel, antes de ter sido feita no vídeo. E nós perseguimos isso... Eu diria a você que nós ainda não completamos o que planejamos. Eu saí, e o trabalho não foi feito até o final. Tem muita coisa para ser feita. Hoje seria necessário que alguma dessas empresas encarasse uma possibilidade dessas, se profissionalizar, analisar o mercado, encontrar uma maneira de entrar no mercado, aproveitar as fragilidades da TV Globo (se ela é forte, tem também suas fragilidades), e tentar penetrar de outra maneira.

Ricardo Fonseca - Você é um homem bem-sucedido. Sempre se afastou das confusões e, mais especificamente, das drogas. Boni - Sempre me preocupei com a questão das drogas. Fizemos várias vezes, dentro do que era possível à época, alguns movimentos dentro da televisão no sentido de evitar a proliferação do uso de drogas. Eu pessoalmente nunca tive nenhum envolvimento com drogas. E tive a sorte de meus filhos também nunca terem tido problemas com drogas. Tenho pavor dessa questão em relação à juventude. Conheço amigos dos meus filhos e convivi com amigos muito íntimos, que foram destruídos, se destruíram e destruíram suas oportunidades com as drogas... E digo drogas no sentido mais amplo: desde o álcool e cigarro até drogas mais pesadas, como cocaína e outras. O jovem que pensa que tem que seguir uma trajetória na vida e que um dia vai encarar a morte de alguma maneira, ele tem que pensar como é que vai conduzir sua vida para que não faça disso um inferno. Acho que todos os meios de comunicação em massa, a revista de vocês, os desfiles das escolas de samba... Todos os instrumentos de comunicação que possam ser utilizados para que se reduza o consumo de drogas têm a obrigação de se empenhar nessa luta.

Abi-Rihan - Onde está a ética na televisão? Boni - A televisão é um veículo de comunicação concedido pelo poder público. Isso obriga que a televisão tenha uma

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Revista Beija-Flor

postura diferente dos outros veículos. Ela está usando um bem público, que é o espaço que ela ocupa com sua transmissão. Ela tem a obrigação de manter uma postura ética maior do que qualquer outro veículo, porque se você quiser publicar uma coisa horrível, e eu não quiser comprar, eu não compro. Mas a televisão é uma concessão do governo em nome do povo. Ela tem obrigações com a informação de qualidade, honesta e eqüidistante dos diversos interesses políticos e partidários. Que possa ajudar a evolução da sociedade nos mais diversos níveis, até mesmo no gráfico e visual. Na Globo a gente sempre teve a preocupação de criar oportunidades de andar um pouquinho à frente do telespectador. Não tanto que você fique longe dele e não possa mais falar com ele, mas que não ande nunca atrás dele. Acho que a principal questão da ética na televisão é você não mentir para o seu espectador, seja através de um programa, de entretenimentos, de informações jornalísticas e até mesmo do próprio comercial. Ser absolutamente honesto, claro e que você procure ser eqüidistante de interesses de correntes. A ética na televisão está em produzir um espetáculo e um volume de informação acima do nível da população para que ela te acompanhe e que seja absolutamente isento, sem partidarismo.

Ricardo Fonseca - Essa ética que você está falando convive bem com a necessidade comercial de uma empresa? Boni - Eu acho que convive sim. É um engano pensar que os anunciantes interferem nessa programação. O que interfere, do ponto de vista comercial, é a necessidade de fazer audiência para poder vender o seu comercial. A influência comercial em relação à audiência tem que ser manipulada com cuidado porque um concessionário, que é a empresa, precisa incutir nos seus contratados que não adianta fazer audiência com porcaria e baboseira pois não tem valor comercial. Eu nunca fiz questão de ganhar em todos os horários na televisão. E sempre recomendo aos meus companheiros: "Façam um dia uma coisa melhor, percam audiência, mas façam disso um sucesso artístico ou cultural". Não é preciso ganhar todos os dias... Isso não é uma corrida de cavalos. Quero ter uma boa audiência média e qualificada, para que eu possa atender o meu anunciante, para que eu possa manter uma média e conservar a minha liderança na emissora. Eu quero ter índices médios. Eu não quero vencer em todos os horários e em todos os dias. Se pensar em vencer e ter audiência toda hora, a qualquer custo, você vai enveredar para o caminho da apelação.

Abi-Rihan - Boni é feliz? Boni - O sujeito quando é feliz, ele pára. Ele vira o chamado morto-vivo. Ele fica lá, se conforma com tudo... e está feliz. Acho que a ansiedade é um tipo de infelicidade produtiva. Eu diria que sou feliz por um lado, mas que sofro de uma profunda ansiedade. Eu tenho que estar fazendo alguma coisa e me submetendo ao risco permanentemente, sem isso me sinto infeliz.

Abi-Rihan - O Boni está acostumado com o que existe de melhor. O que o Boni acha da revista da Beija-Flor? Boni - Eu gosto de falar do que conheço. E Comunicação é a minha área. Por isso fico à vontade para falar da revista de vocês. Ela é muito boa. Gostei muito do design gráfico dela. E o conteúdo também é excelente. Diria que a revista está aprovada com louvor. Parabéns! www.beija-flor.com.br


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Beija-Flor em revista Karla Legey

A

Beija-Flor de Nilópolis tem muito para comemorar.

destaque ao ensaio desenvolvido pelo pesquisador Hiram

Se não bastassem os 50 anos de desfiles como

Araújo, que, além de servir como um aperitivo intelectual,

escola de samba e a conquista de mais um campeonato com

introduz a reportagem que tornou públicas as atividades

o enredo "Saco vazio não pára em pé", a agremiação de

sociais que a Beija-Flor de Nilópolis mantém.

Nilópolis a cada ano vem consolidando a sua visão de van-

Por essas e outras razões, a revista "Beija-Flor de

guarda além da avenida com a publicação da revista "Beija-

Nilópolis - uma escola de vida" passa a ser, inegavelmente, a

Flor de Nilópolis - uma escola de vida".

grande expectativa do amante do samba e do Carnaval. Depois do desfile das escolas, naturalmente.

Sempre preocupada em levar ao seu leitor informação em um formato atraente, buscando ser inédita e original no

E para comemorar e promover a edição 2003 da revista,

que apresenta, a revista "Beija-Flor de Nilópolis - uma escola

a Beija-Flor de Nilópolis ofereceu um encontro no Clube

de vida" se vangloria de ter sido a primeira e única a contar

Monte Líbano, que contou com a presença de inúmeros

com um depoimento do presidente da República, Luis Inácio

amigos da escola de samba.

Lula da Silva, que falou sobre o enredo da escola, prestigiando

Segundo o presidente da escola, Farid Abrão, foi uma

a nação nilopolitana e a população do estado do Rio de Ja-

noite de muitos encontros e reencontros: "Além de estarmos

neiro com uma mensagem de otimismo.

comemorando o lançamento dessa lindíssima revista, fico

Mas a Beija-Flor de Nilópolis foi mais além. Não se fixou

muito satisfeito de estar nesta noite com muitos de nossos

em aparências ou preconceitos, e, com um olhar singular,

amigos queridos, que sempre estiveram ao nosso lado nes-

abordou o papel social das escolas de samba, com especial

ses anos de Beija-Flor de Nilópolis."

Equipe distribui a revista durante o Desfile.

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Revista Beija-Flor

Nelsinho, Abraãozinho e Farid.

Dr. Calmon, Abi-Rihan e Anizio.

www.beija-flor.com.br


Anizio cai no samba, animado pela voz de Neguinho da Beija-Flor e pelo ritmo da bateria da agremiação.

Repleta de personalidades do samba e do Carnaval, a

teve a coragem e o interesse em mostrar o que a nossa escola

cerimônia foi valorizada pela apresentação de Neguinho da

faz pela comunidade da Baixada Fluminense. E o que o Anizio

Beija-Flor, do casal de mestre-sala e porta-bandeira Claudinho

faz por essas pessoas. Agora a justiça foi feita!"

e Selminha Sorriso e da bateria da Beija-Flor, sob a batuta do mestre Paulinho.

Hiram Araújo, companheiro de primeira hora da revista, também é pródigo na avaliação: "A revista está extraordiná-

Para falar da cerimônia, nada melhor que o próprio Anizio,

ria. Apresentar o trabalho que o Anizio realiza em Nilópolis foi

que desde 2001 vem injetando um novo espírito no samba e

uma ótima idéia, pois deixa que o público conheça quem é

no Carnaval com a publicação da revista: "Estamos vivendo

esse homem chamado Anizio Abrão David. Além disso, co-

uma noite muito especial. Estar comemorando o lançamento

locar na revista a ordem do desfile da escola, com um breve

de mais uma edição da revista me faz muito bem. A revista está

resumo de cada ala e carro, popularizou ainda mais o Car-

linda, e melhor que a do ano passado. Acho que faz parte do

naval, porque permitiu que o leitor compreendesse mais ain-

espírito da Beija-Flor de Nilópolis a cada ano se superar: seja

da a mensagem que a escola se propôs a levar à Marquês

nos desfiles de carnaval, seja na produção da revista."

de Sapucaí. Parabéns a todos que tornaram essa revista

Mas não só o presidente de honra da escola destacou a qualida-

uma realidade." O Prefeito César Maia, não pode estar presente à festa,

e a estética da publicação, mas também, e principalmente, o

mas fez sua análise da revista: “a revista da Beija-Flor é um

conteúdo sério e inovador. Segundo Fabíola Oliveira, destaque

exemplo para todas as escolas pois vai além da questão

da escola e esposa de Anizio, "A revista já conquistou um papel

precípua sendo um instrumento de informação e serviços

importante no mundo do samba e do Carnaval, se tornando um

públicos”.

Foto: Naldo Mesquita

de da revista. Muitos dos convidados elogiaram não só a beleza

referencial em revista de samba e carnaval. Mas o que me agra-

Satisfeitos com o resultado da edição 2003, a equipe da

dou muito na edição desse ano foi a reportagem sobre as ativi-

revista espera que a edição 2004 atinja o sucesso esperado,

dades assistenciais que a Beija-Flor de Nilópolis realiza. Nunca

e que contribua com a escola ao sensibilizar o público com

nenhum veículo de comunicação com uma tiragem tão grande

sua mensagem de esperança e fé em dias sempre melhores.

Anizio comemora o lançamento da edição 2003 da revista ao lado de Fabíola de Oliveira e seu pai, sr. Vicente, e de integrantes da Beija-Flor de Nilópolis.

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Memória

1954 1955 1956 1957 1958 O Caçador de Esmeral- Páginas de ouro da poe- O Gaúcho das sia brasileira 10º Lugar. Grupo 1 Campeã . Grupo 2 6º Lugar. Grupo 1 Primeiro desfile, primeira Disputando o título de vitória supercampeã, no "tablaA "mágica" evolução de do" armado em frente à bloco Associação Carna- Igreja da Candelária, na valesca Beija-Flor para Av. Presidente Vargas, a GRES Beija-Flor de Beija-Flor compete com Nilópolis deve-se a opor- a Mangueira, Império tuna iniciativa de Silvestre Serrano, Portela, CapriDavid dos Santos, o Ca- chosos de Pilares e Salbana, que providencia o gueiro, entre outras. registro do Bloco na Con- O enredo é de autoria de federação das Escolas de Nilo e o samba de Osório Samba. A caçula das Lima. escolas faz sua estréia no chamado "berço do sam- O grande sucesso do ba", e vitoriosa é alçada desfile foi a apresentaao Grupo 1, ingressando ção da "Ala das Meniassim na elite das esco- nas Boêmias", que agradou imprensa, público e las de samba. principalmente os juraO feliz samba-enredo "O Caçador dos. de Esmeraldas", de autoria de Cabana e composição de Ozório de Lima, fala dos bandeirantes e suas heróicas aventuras, que contribuíram para o desbravamento dos sertões e expansão territorial do Brasil. A revista O Cruzeiro destaca a beleza das passistas Jurema, Elza e Marlene, "as mulatas que encantaram o Rio de Janeiro".

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Revista Beija-Flor

O enredo de Nilo e o samba de Cabana faz a primeira incursão pela obra de José de Alencar, considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos. Escolhem o tema de "O Gaúcho", seu primeiro romance regionalista, dentro do projeto de descrição global do Brasil, que o escritor desenvolveu.

Riquezas áureas do Brasil Exaltação às forças armadas 7º Lugar. Grupo 1 10º Lugar. Grupo 1 Mesmo com "a maldição" de Candeia, que faz troça do samba de Cabana, por ser curto e simples (estilo adotado hoje pelos compositores, por causa de sua fácil assimilação pelo público), o compositor não esmorece. E a bateria, com apenas dezessete componentes, fatura a nota máxima. É dez!

O enredo de autoria de A Beija-flor antecipa as Augusto de Almeida perhomenagens pelo cenmite que o autor do samtenário de nascimento do ba exalte o País através escritor cearense. de sua produção agrícola Hildebrando, do alto dos e mineral. Cabana puxa a seus 2 metros, faz sua escola e enaltece a "Miprimeira incursão como nha pátria amada" com mestre-sala, reverenci- os versos: "Brasil tuas riando a porta-bandeira quezas /(...) Produtos de Maria Paizinho, e herda grande valorização/Café, o apelido de "Gaúcho" cacau, diamante e borrapela elegância da fanta- cha/Gigante de nossa exsia, mas desiste cedo do portação". cargo. Em virtude do excesso de público, estimado em 700 mil pessoas, que se interessava pela apresentação que, àquela altura, havia definitivamente se transformado numa grande atração, as escolas de samba conquistam o direito de desfilar no palco nobre do carnaval carioca, na época, a Avenida Rio Branco.

O enredo de Benedito dos Santos e o samba de Vacele prestam uma justa homenagem aos pracinhas brasileiros, que lutaram contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial,

integrando as forças aliadas. O cenário da batalha foi a Itália e o Monte Castello, ponto estratégico do inimigo, conquistado por nossos heróis.

A grande inovação foi a introdução, no julgamento, do quesito de exibição Abandonou-se a idéia do de mestre-sala e portatablado. bandeira. Valendo meio ponto.

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1959 1960 1961 1962 1963 Copa do Mundo

Regência trina

Homenagem à Brasília

Dia do fico

O Guarani (Peri e Ceci)

9º lugar. Grupo 1

9º Lugar. Grupo 1

8º lugar. Grupo 2

2º lugar. Grupo 2

10 º lugar. Grupo 1

A Seleção Brasileira de futebol e seus canarinhos, - especialmente Nilton Santos, a enciclopédia do futebol -, Didi Folha Seca, Pelé e Garrincha,- lavaram a alma brasileira nos gramados da Suécia e a escola de Nilópolis passou a limpo o sentimento nacional, com muita animação.

Da chegada de D.João VI à Independência, com passagem pela Regência Trina, a Beija-flor de Nilópolis explorou bem o mote histórico, conforme exigência do regulamento, possibilitando a criação de alegorias surpreendentes, orientadas pelo escultor e carnavalesco Augusto de Almeida.

De volta ao grupo das chamadas "pequenas", e desfilando na Praça XI, a Beija-Flor de Nilópolis sai na frente nas homenagens ao grande idealizador Juscelino Kubistchek e à nova capital, com o enredo de Josefá e samba de Cabana.

Com essa classificação, a Beija-flor volta a integrar o Grupo das 10 Mais, criado no ano anterior. Condição esta ratificada em outubro, durante o carnaval fora de época, realizado no entorno do Tabuleiro da Baiana (Largo da Carioca), onde e quando a escola conquista o título de campeã do "Carnaval da Primavera" e, ainda, numa disputa paralela, o samba de Cabana é escolhido como o melhor do ano, com o endosso de Amauri Jório e Hiram de Araújo, que consideram-no um dos mais belos sambas de enredo, conforme citação no livro "Escolas em desfile".

A hora de a onça beber água Depois de "O Gaúcho", agora é o carnavalesco Josefá que investe na obra de José Alencar, apostando no seu primeiro romance indianista. Uma onça, azul e branca, foi motivo de críticas e apesar de ser um clássico da literatura, "a obra prima e fabulosa" exaltada no samba de Cabana não conseguiu segurar a "onça" no grupo d a s dez mais.

No asfalto, no primeiro carnaval após o Brasil conquistar a Copa do Mundo, o carnavalesco Augusto de Almeida reverencia o feito da seleção de Vicente Feola, cantando loas com o samba de Amilton Pardal e apresentando num carro giratório uma alegoria com a escultura dos campeões do mundo.

Ao transferir a capital do País para o Planalto CenNa Avenida Rio Branco, tral, JK cumpre uma aspiCabana contou e cantou ração de José Bonifácio um dos períodos mais rejeitada pela Corte. conturbados do País: da A chamada Novacap seretirada de cena de D. guiu plano traçado por Pedro I à maioridade - aos Lúcio Costa e a arquite14 anos - de Pedro II. tura de Oscar Niemeyer.

Nesse ano, o Salgueiro. montam um enredo sobre Zumbi dos Palmares. Era a primeira vez que uma escola ia homenagear um personagem da história Nesse ano, o Salgueiro não oficial. contrata os artistas plásti- Devido à discordância na cos Dirceu Neri e Marie contagem dos pontos neLouise. Ambos abando- gativos introduzidos nesnam os desengonçados se ano, as cinco primeicarros alegóricos e criam ras foram consideradas os adereços de mãos, campeãs. Apenas oito escausando grande impac- colas desfilaram e, infelizto visual. mente, a Beija-Flor de Foi também o Salgueiro que pela primeira vez, levou uma escola de samba ao exterior. A agremiação se apresentou em Cuba, pouco depois da vitória de Fidel Castro.

O Rio, a sempre Belacap, perde a sede do governo federal mas continua sendo a capital da cultura, da alegria e do samba.

Nesse ano, pela primeira vez se cobrou ingresso para o Desfile. No asfalto, o enredo de Cabana cantava uma das mais conhecidas frases de D. Pedro I, o defensor perpétuo do Brasil, que caiu na boca do povo - "Como é para o bem de todos/e feliciNilópolis desceu para o dade geral da nação/ Grupo 2. diga ao povo que fico" atendendo a petição José Clemente Pereira e José Bonifácio, com o aval de 8 mil assinaturas, somente do Rio.

A

miscigenação é o centro da história, que fala do amor do índio Peri e por C e c i , m o ç a branca, filha do nobre D. Antonio de Marins.

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1964 1965 1966 1967 1968 Café, Riqueza do Brasil

Lei do Ventre Livre

12 º lugar. Grupo 2

3 º lugar. Grupo 3

O ciclo cafeeiro marcou a história e a economia brasileira, como um dos seus principais produtos de exportação. As riquezas da terra "onde tudo que se planta dá", voltam a ser cantadas por insistência de Cabana, autor do enredo e do samba.

Cabana propõe um enredo intrinsecamente ligado ao povão que é a questão da escravidão, na tentativa de resgatar o lugar de destaque que tinha conquistado para a Beijaflor no primeiro desfile.

Inovação e ousadia nem sempre dão bons resultados. Um dos crooners, como se chamavam os intérpretes de samba-enredo, Vavá declama parte letra do samba, ao invés de cantar, e isso pesou desfavoravelmente na decisão do jurado.

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Revista Beija-Flor

Fatos que culminaram A Queda da Monarquia com a Independência do 2 º lugar. Grupo 3 Brasil

Exaltação a José de Alencar 9º lugar. Grupo 2

3º lugar. Grupo 3

A Monarquia cai e a Beija-Flor de Nilópolis sobe Primeiro carnaval sob a Os fatos que antecede- O carnavalesco Augusto égide da família Abrão ram a Independência do de Almeida e o composi- David. Anízio assume a Brasil estão diretamente tor Anézio revelam a presidência no ano anteligados à Revolução quartelada que rior. Liberal do Porto, seexilou Pedro II gundo o historiador e derrubou a No asfalto, o patriarca da O samba de Nicanor Eduardo Bueno. monarquia. literatura nacional, no "Timbó" de Oliveira fala da Os compositores En- conceito do crítico José Lei do Ventre Livre, um Jair e Nicanor Guilherme Melquior, deciimportante passo para li- "Timbó" de Olididamente José de berdade dos escravos e, veira contam e Alencar tem um pé na ao mesmo tempo, uma jo- cantam sua inBeija-Flor. gada política da época terpretação da Desta vez, no enredo que tirava da mão dos lihistória e o pautado e cantado berais a bandeira da Abocarnavaem samba de lição, retardando-a por Anézio. Possivelmais de uma década. mente por conta d o abrasileiramento da nossa literatura lesco e através de sua obra escultor dividida em urbana A u g u s t o (Lucíola e Senhora), "Gugu" de A l m e i d a quanto a regionalista (O Gaúcho e capricha nas alegorias. última festa da Ilha Fiscal O Sertanejo), indianista Os personagens e ani- rolava rica e farta, os cons- (Ubirajara) e histórica (As mais pareciam ter vida tal piradores preparavam o Minas de Prata) e, seguna perfeição do trabalho. golpe no clube Militar e cri- do uma revisão crítica póstuma, no caso dos roO primeiro mestre-sala, avam provisoriamente mances O Guarani e IraHeitor Silva, parceiro da uma república, para cema, indianistas e históporta-bandeira Cleuza, aguardar o sufrágio popu- ricos,- Alencar tenha prochega à presidência da lar que só foi consultado vocado mais de um enreum século depois. escola. do para a escola Azul e O desfile coloca a Beija- Branco. flor no Grupo 2. A grande novidade é o Afastado da escola, Ca- lançamento do primeiro bana faz parcerias memo- LP com os sambas-enreráveis, com Martinho da do. Vila e Norival Reis, e grava pela primeira vez: "Tal é o dia do batizado".

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1969 1970 1971 1972 1973 O Paquete do Exílio 9º lugar. Grupo 2 A queda da monarquia tem segmento no enredo de Cabana, no samba de Benjamin "Ivancué" de Oliveira, que Aloisio Santos, também autor e crooner, defende no desfile desse ano. O samba narra "o último capítulo da monarquia", cuja queda fora tema da escola dois anos antes. Fala da per-

sonalidade de D. Pedro II: "A sua consciência cristalina /Sua imperturbável linha de honestidade/Elegância de atitude /Dignidade de ação/Ao despedir-se da nossa nação" e descreve o embarque "Foi o majestoso Alagoas/O navio de renome nacional/ Denominado o Paquete do Exílio/Por transportar a família imperial". Em virtude do atraso promovidos pelas escolas, os jurados abandonaram o julgamento, e ficou decidido que escola alguma seria rebaixada.

Rio, quatro séculos de Carnaval, sublime ilusão Glória 7 º lugar. Grupo 2 6 º lugar. Grupo 2 Ainda sob os efeitos das comemorações do quarto centenário do Rio de Janeiro, Abílio Pereira estréia na Beija-Flor, como carnavalesco. O samba escolhido é o de Walter de Oliveira, que enaltece o Rio como palco de episódios decisivos para Brasil. De sua fundação até

Abilio Pereira sintetiza do carnaval carioca num enredo que abraça toda sua espontaneidade e grandiosidade. São manifestações que se vê, sente e vive. Tudo sublime, mas ilusão. A Beija-Flor saúda o povo e pede passagem para os blocos, ranchos, frevos, cordões e foliões passarem, com direito à baile de gala do Municipal, a Zé Pereira nas ruas e as sociedades encerrando com chave de ouro. Depois "ao alvorecer pelas ruas da cidade só restam pedacinhos coloridos de saudade" diz o samba de Walter de Oliveira.

Bahia dos meus amores 6 º lugar. Grupo 2

Educação para o desenvolvimento 2º Lugar. Grupo 2

O carnavalesco Abílio e os compositores Isaías Pereira, Sebastião Adilson e Adelson pedem licença ao Brasil para, através da Beija-flor de Nilópolis e do puxador Sílvio, falar das gentes, da fé, dos costumes, da cultura e do folclore baiano. Reisados, pastorinhas, terreiro, candomblé, igrejas, saveiros, escritores, poetas são destaques do desfile. "E o capoeira também é bamba no pé", comprovaram os passistas da Azul-eBranco.

A ala dos compositores se reorganiza e Aloísio Santos, seu primeiro presidente, promove eventos para captação de recursos, que garantem a aquisição da fantasia e despesas eventuais de seus componentes.

No asfalto, os carnavalescos Mario Antonio Barroso e João Rosa e o compositor César Darvin exalta os professores, a cultura, a reforma do ensino, o Mobral, sistema de alfabetização para adultos, Esse ano, é assinada a que surgiu como a granescritura de compra da de solução para a sede da Associação das Educação. Escolas de Samba, na A Beija-flor No regulamento, é insti- Rua Jacinto, 67 - Méier, retorna ao tuído o tempo dos desfi- em 27 de maio. grupo 1. les das Escolas de Sam- É criada, também, a bas: 71 minutos para o os tempos atuais, o autor grupo 1, 55 min para o 2 e RIOTUR. E o seu o primeiro presidente é Aníbal dá ênfase aos "grandes 40 min para o 3. Uzeda de Oliveira. vultos" , como Tiradentes, É proibido o desfile de O gigantismo das escolas e acontecimentos, como preocupa. Elas já contaa Abolição da Escravatu- pessoas "em travesti". vam com cerca de 2.500 ra. figurantes. "Atravessar" o Para evitar o atraso foi samba tornou-se um proreinstituído o quesito blema freqüente. A cronometragem. Portela deu aos compoA partir desse ano, é oficinentes radinhos de pilha alizado uma exigência da para que ouvissem a transDitatura Militar, que torna missão das rádios e não obrigatório o envio dos atravessassem. croquis das alegorias e fantasias à censura.

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1974 1975 1976 1977 1978 Brasil ano 2000

O grande decênio

Sonhar com rei dá leão

7 º lugar. Grupo I

7º Lugar. Grupo I

1º Lugar - Grupo I

Vovó e o rei da Saturnália A criação do mundo na na corte egipciana tradição Nagô 1º Lugar. Crupo I

Rosa Magalhães, originá- O jogador Zico, o Galinho ria do Salgueiro, traz sua de Quintino, passa a criatividade para as alego- desfilar na Beija-Flor. rias e fantasias da escola. As promessas de um O decantado crescimen- Brasil Grande alardeadas to econômico, com a aber- pelo governo levaram a tura de estradas, exploraesperança ao povo e à ção do petróleo, a coninspiração de Bira cessão de canais de TV, apostando no "p´ra fren- Quininho. A escola cante Brasil e, em muito pro- tou e mostrou no enredo gresso "daqui para o ano de Manuel Antônio Bar2000", e a esperança do roso e Rosa Magalhães, povo estavam no enredo o "milagre" brasileiro, PIS e de Manuel Antônio Barro- "lembrando so e Rosa Magalhães e PASEP/E também o nos versos de Walter de FUNRURAL/Que ampaOliveira e João Rosa, can- ra o homem do campo/ tado pelo puxador Zamba. Com segurança total", Mas o almejado progres- como diz o samba que o so que começou em próprio Bira defendeu. 1969, não emplacou 74, Mas a crise do petróleo, como sonhavam, dentro a partir de 73, não pere fora da avenida, todos os brasileiros. mitiu que se justificasse essa segunda homenagem da Beija-Flor. Cada um dos 11 quesitos passam a ser julgados por apenas um jurado.

O maranhense João Jorge Trinta, Joãosinho Trinta, vitorioso no Salgueiro, estréia na Beija-flor de Nilópolis. Conquista o Estandarte de Ouro, do jornal O Globo de Melhor Enredo. A estréia dupla de Luiz Antonio Feliciano Marcondes, o Neguinho da Beija-Flor, como autor do samba, junto com Zamba, e como puxador oficial da a escola, canta "Sonhar com Rei da Leão", que sugeria "Não erre não/O palpite certo é Beija-flor". Não houve erro! Era a primeira vez desde 1937 que a campeã do carnaval não era uma das quatro grandes. Trinta propõe algumas alterações no enredo e apresenta a Beija-flor, com um luxo inimaginável para as escolas de samba de então, e faz uma ilação dos sonhos com a sorte. Trinta promove uma revolução estética nos padrões adotados até então pelas escolas de samba. A inovação garante mais uma vitória para Azul e Branco, a primeira no Sambódromo.

É invertido o sentido do desfile na Avenida Presidente Antonio Carlos devido um declive que torna o trabalho dos empurradores das alegorias muito pesado. O desfile é realizado, no início da avenida Presidente Vargas, hoje Cidade Nova, e as arquibancadas são montadas sobre o canal do Mangue.

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Revista Beija-Flor

1º Lugar. Grupo I

O figurinista José de Assis O mundo místico da naestréia como destaque da ção Nagô é revelado pelo escola. enredo de Joãsinho Trinta O enredo, de autoria de e pelo samba de Joãosinho Trinta, e o sam- Neguinho da Beija-Flor, ba de Savinho e Luciano Gilson Dr e Mazinho ao são interpretados com grande público da nova e maestria por Neguinho da definitiva passarela do samba. Conta a misterioBeija-Flor. sa criação do universo, por ordem de Olorun, que se completa no amor explícito amor de Obatala e Odudua, do qual se fez a vida com seu esplendor. As Gatas, Bira e Zamba cantaram, com Neguinho, assim a tradição Nagô: "Olorun! senhor do infinito!..." que deve ter ordenado a conquista do tricampeonato, que acabou com a hegemonia das grandes escolas, se revezando como eternas campeãs. No regulamento, o número de jurados por quesito passa a ter dois julgadores. E as notas são de 1 a 5. Nesse ano, a Mangueira resolve voltar às tradições e apresenta na Comissão de Frente todos os seus fundadores mais ilustres. As escolas tradicionais resolvem investir em suas qualidades para combater a riqueza da Beija-flor ou Mocidade. A Beija-flor é bicampeã.

A tricampeã fatura ainda três Estandartes de Ouro: de Melhor Escola, Destaque Masculino - Viriato Ferreira e "Ala Desvio". Maria da Penha Ferreira, negra, 1m80, esbelta, cabeça raspada, sorriso lindo, muita elegância e charme, faz o Príncipe Charles, em visita ao Brasil, dançar literalmente. Embora desengonçado.

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1979 1980 1981 1982 1983 O paraíso da loucura 2º Lugar. Grupo 1-A No asfalto, a criatividade de Joãosinho Trinta não encontra barreiras, desconhece a subjetividade e faz da loucura um paraíso, num espetáculo de imaginação, que leva os compositores Savinho, Luciano e Walter de Oliveira proporem que se "Esqueçam os problemas da vida/O trem, o dinheiro e a bronca do patrão/Não pensem em suas marmitas/E no alto preço do feijão/Joguem fora a roupa do dia-a-dia/E tomem banhos no chuveiro da ilusão" que o povo cantou com Neguinho da Beija-Flor. A Marques de Sapucaí passa a ser a avenida oficial dos desfiles das escolas de samba. Élcio PV conquista o Estandarte de Ouro de Melhor Mestre-sala.

O Sol da meia-noite:uma Carnaval do Brasil, O olho azul da serpente viagem ao País das Ma- a Oitava das Sete Maravi- 6º Lugar. Grupo 1-A ravilhas lhas do Mundo 1º lugar. Grupo 1-A 2º Lugar. Grupo 1-A Linda Conde é a nova destaque da Azul-eO brilho da Azul-e-Bran- Quem haveria de dis- Branco. co faz o público embar- c o r d a r ( s e é q u e a l - O reino do folclore norcar numa viagem de lu- guém, 'a época, hou- destino, cordéis, magia e zes e cores pelo país vesse) de mais esse en- m i s t é r i o , d a s m a r a v i l h a s , c o m redo de Joãosinho Trin- maracatu e cavalos a l a d o s , ta? Quem haveria de m e s t r e soldadinhos de chum- discordar do que afirma Vitalino e, bo, casamento da ba- o samba de Neguinho até Mauríde rata com o ratão, brin- da Beija-flor, Dicró e Pi- cio cadeiras infantis e Saci colé, de versos que re- Nassau e o Pererê, e outros perso- velam toda a magia eró- gênio do nagens que permitiram tica da festa de Momo: mal, são dealegorias e fantasias "Corpos nus em rituais/ cantados no não menos maravilho- De gingados sensuais/ enredo de Joãosinho sas, ilustrando o que Tamborins e agogôs/ Trinta, que Saias rodadas de negra Preta Velha conta, no transforma a serpenbaianas/Giram faiscanalegre samba de Zé do te num rio que transbordo de esplendor...." Maranhão, Wilson Bomdou de emoção a aveniÉ ou não, tão maravibeiro e Aluízio, puxado da. Wilson Bombeiro, por Neguinho e com o lhoso quanto as sete Carlinhos Bagunça e maravilhas? quê a escola inteira caJoel Menezes, beberam tiva o povo e conquista Volta o critério de dois no Capibaripe e, sem j u r a d o s p o r q u e s i t o . bruxaria, enfeitiçaram a mais um título. E a Comissão de Fren- Também voltam a ser passarela com o samba julgados os quesitos que Neguinho colocou a te conquista o conjunto e comissão de boca do povo, com a for"Estandarte de frente. As notas são to- ça de sua interpretação. Ouro", d´O Globo. das de 1 a 10. Voltam a ser julgados os Três escolas venFica proibido o desfile quesitos porta-bandeira cem o carnaval: de pessoas em carros e mestre-sala e, juntaBeija-flor, Impera- alegóricos. mente, com comissão triz Leopoldinense Torna-se obrigatória a de frente, recebem pone, pela primeira presença de uma ala de tos de 1 a 5. vez em 10 anos a crianças nos desfiles A alegoria aumenta de Portela. das Escolas de Samba. dois para três carros e a ala de crianças passa a integrar o desfile.

A grande constelação das estrelas negras 1º Lugar. Grupo 1-A Personalidade viva do enredo, Clementina de Jesus ganha o "Estandarte de Ouro". Juju Maravilha fica com o troféu de mel h o r Portabandeira e Élcio PV, de Mest r e sala. Clementina de Jesus, Pinah e Grande Otelo foram alguns personagens vivos do enredo em que Joãosinho Trinta os homenageia juntamente Pelé, ao lado das pretas velhas Yaôs e Ganga Zumba. O samba de Neguinho da Beija-Flor e Nego ratificou a intenção do carnavalesco. Com o aval do júri e do público, a escola emplacou mais um campeonato. Revogada a proibição de pessoas nos carros alegóricos e o limite de alegorias.

Nesse ano a luz apagou durante o desfile da Caprichosos de Pilares. AsMiguel Abrão David assu- sim, ficou decidido que me a prefeitura de ninguém desceria. Nilópolis.

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1984 1985 1986 1987 1988 Um gigante em berço es- A Lapa de Adão e Eva plêndido 2º Lugar. Grupo 1-A 3º Lugar. Grupo 1-A

O mundo é uma bola 2º Lugar Grupo 1-A

4º Lugar. Grupo 1

O enredo homenageia o país do futebol, o samba de Betinho e Canuto festeja os tricampeões "heróis da nossa seleção" , mestre Pelé capricha a frente da bateria e Neguinho canta que "a bo", também foi premia- arte é jogar bola". O abrealas com uma bola representa a terra. Outro carro sugere que a Lua e o Sol inspiraram a criação da bola. As alegorias saudavam os grandes clubes cariocas. Jair da Bola é Pelé na passarela. da, juntamente com Neguinho da Beija-flor Ganha o Estandarte de eleito o Melhor Puxador Ouro de melhor escola. Polêmica, inovadora e de Samba. De ousadia em ousadia, sempre alegre, a BeijaJoãosinha Trinta imagina Flor fez um dos seus mea Lapa como paraíso do lhores desfiles com o prazer e do pecado, e a Sambódromo alagado, cidade, uma verdadeira por uma chuva que durou babel. Enfim, como uma todo o tempo do desfile Sodoma e Gomorra, onde da escola. Segundo a cría política é brincadeira, cir- tica "os componentes deco não tem opção, fute- ram uma aula de bol é de exportação, ca- evolução e harmomelôs levam rasteira e gay nia. Quem estraé sucesso, como diz o gou a festa foi o samba de Zé do Cavaco, júri".

Cláudia Raia é convidada Farid Abrão David assu- para integrar a escola. É me a presidência da es- destaque até hoje. cola. Pinah recebe o EstandarÉlcio PV fatura mais um te de Ouro, d' O Globo, "Estandarte de Ouro" como Destaque. como melhor Mestre-sala. A ala "Tenentes do DiaNa pista, Joãosinho Trinta retoma o tema histórico, redescobre a viagem de Cabral e "a determinação dos deuses" de indicar às caravelas portuguesas "um gigante em berço esplêndido". Os compositores Neguinho da Beija-Flor e Nego escrevem e cantam a alegria e a tristeza da terra do novíssimo continente. Com o tempo, o gigante acorda e reconstrui um Brasil novo, que volta a cantar e sorrir. Pelo menos, na passarela. Acaba a exigência de a comissão de frente desfilar depois do abre alas. Escolhida como avenida oficial dos desfiles, a Sapucaí ganha roupagem de arquibancada, camarotes, palco, museu, etc. As escolas desfilam em dois dias, escolhendo-se a campeã de cada dia e uma supercampeã num novo desfile. Carlos Imperial participa da apuração do resultado do desfile e cria o bordão "É dez!"

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Revista Beija-Flor

Carlinhos Bagunça, Carnaval, H. O e Patrício, cantado por Neguinho da Beija-Flor. O julgamento volta a ser unificado, independente do dia em que a escola desfilou.São dois jurados por quesito.

As mágicas luzes da ribal- Sou negro do Egito à Lita berdade 3º Lugar. Grupo 1

Anizio Abrão David é o O Egito volta brilhar nas novo presidente da Azul- alegorias e fantasias da e-branco de Nilópolis. nossa escola, como no A Ala "Flor do Samba" samba de Aloísio Santos, conquista o troféu "Estan- Ivancué, Marcelo Guimarães e Claudinho Inspiradarte de Ouro". ção. Certo de que o grito No asfalto, a Beija-flor de liberdade ainda está mergulha na dramaturgia preso na garganta de e abre a cortina de mais muitos afrodescendentes um desfile de autoria de a escola aproveita os próJoãosinho Trinta. O prios atores desta situasambódromo é o palco e ção - que também vivem as artes cênicas, com na comunidade - para suas máscaras do drama colocar a boca no trome do riso, é a grande ho- bone, contando a sofrida menageada no espetá- e longa história do negro culo apresentado por seus sob o manto da escravimelhores atores: cabro- dão nas mais remotas chas, baianas, passistas, províncias do Sudão. ritmistas e sambistas, embalados pela trilha mu- Olha, o Neguinho da Beisical de Mazinho e Gilson ja-flor cantando: "Eu sou Doutor e interpretação de negro/E hoje enfrento a realidade/E abraçado à Neguinho. Beija-flor, meu amor/Reclamo a verdadeira liberdade (já raiou)"

Foi a Melhor Escola para o júri do "Estandarte de Ouro". Joãosinho Trinta recebe o Prêmio Especial, Moisés o troféu de Passista e Jésus Henrique o de Destaque.

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1989 1990 1991 1992 1993 Ratos e urubus, larguem Todo mundo nasceu nu Alice no Brasil das mara- Há um ponto de luz na Uni-duni-tê, a Beija-Flor minha fantasia imensidão escolheu você 2º Lugar. Grupo Especial vilhas 2º Lugar. Grupo1 4º Lugar. Grupo Especial 7º Lugar. Grupo Especial 3º Lugar. Grupo Especial Dez anos depois do desabafo Joãosinho Trinta, por causa de um jurado que tinha dado nota baixa em “fantasia” d´ "O Paraíso da Loucura", quando teceu a máxima: "Pobre gosta de luxo. Quem gosta de miséria é intelectual" e uma década de luxo nas alegorias e fantasias, ele encerra o carnaval dos anos 80, desafiando a si mesmo e mostra miséria e mendigos em plena Sapucaí, em seu mais polêmico enredo. A escola apresentou o mais ousados de todos os seus desfiles, com o enredo "Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia". Deixa de lado o luxo característico e traz a diretoria com uniforme de garis, e ainda, uma ala de mendigos e com a polêmica imagem do Cristo Redentor, coberto por ordem da Igreja, com uma faixa onde se lia "Mesmo proibido, olhai por nós". No empate, a Beija-flor ficou com o segundo lugar.

A criatividade e a mestria de Joãosinho Trinta voltam ao Sambódromo, com a marca da ousadia, num enredo assinado também por Carlinhos Bagunça e

Bira. Do caos faz-se a luz e surge da humanidade canta Neguinho BeijaFlor: "Vestiu a frente/Cobriu atrás/Por baixo dos panos/Sacanagem..." O samba de Betinho, Jorginho, Bira e Aparecida satiriza as elites dominantes que devoram a riqueza e a beleza do paraíso Brasil. É isso aí!

Morre o presidente Nelson O desfile que é notícia na Abraão David, aos 52 TV faz da TV notícia do anos desfile. Um belo arranjo do Inventando e carnavalesco Joãosinho reinventando o carnaval, Trinta cuja a abordagem Joãosinho Trinta brinca sobre o mais influente com a imaginação e faz a veículo de comunicação personagem do clássico e, especialmente, sobre infantil participar de uma as novelas, seu mais poviagem inusitada e insóli- pular e representativo prota, quanto sua própria his- duto, agrada aos críticos tória, e mergulhar no abis- e público. mo da dura realidade do nosso País. Pelé, Cláudio Inspiração, Tonho Magrinho e Paulo Roberto fizeram o samba e Neguinho da Beija-Flor anunciou uma viagem ao Brasil das Maravilhas. A Beija-flor desempata com Estácio, no quesito bateria, saindo-se vitoriosa.

Maria Augusta é a nova carnavalesca e inaugura uma nova fase para a Azul-e-Branco. O enredo evoca o direito de qualquer um ser criança e com seu "uni-dunitê" - versejado por Wilson Bombeiro, Edeor de Paula e Sérgio Fonseca e cantado por Neguinho da Beija-Flor - escolhe o público para participar de sua ciranda, semeando amor e paz pela pista da Sapucaí, bordando no chão um arco-íris de luz.

Aparelhos de televisão transmitiam, em tempo real, o próprio desfile a partir de imagens feitas por cinegrafistas em gruas aclopadas à alegoria. Neide é eleita pelo "Estan"Olê, lê, ô, vamos cantar/ darte de Ouro", a Melhor É TV anunciando/A Beija- Passista. flor está no ar" escrevem Dinoel Sampaio e Itinho para, o também autor, Neguinho da Beija-Flor puxar a escola na avenida.

Cássio recebe o "Estandarte de Ouro" de Melhor Passista. A Beija-flor fica fora do desfile das campeãs. Beija-flor e Mocidade insÉ Criado o Grupo EspeciPertituem o computador para al, desfile das Escolas de organizar o desfile. Samba.

A RIOTUR passa a reservar lugares especiais em cadeiras de pistas em Fabiola Oliveira estréia frente aos setores 4 e 13 como destaque. para vender aos deficienA Beija-Flor recebe quatro tes físicos. "Estandartes de Ouro": MeÉ introduzido no regulalhor Escola, Melhor Enredo, mento o sistema de peso Melhor Mestre-sala, Marco para quesitos. Aurélio, e Joãosinho Trinta foi a Personalidade do Carnaval.

Fica instituído o meio ponto. As transgressões ao quesito dispersão são punidas com multas. A Liesa assume a Coordenação Artística dos Desfiles.

de (três) pontos por que um destaque desfilou sem tapa-sexo, contrariando o regulamento.

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1994 1995 1996 1997 1998 Margaret Mee: a dama Bidu Saião e o canto cris- Aurora do povo brasileiro tal das bromélias 3º Lugar. Grupo Especial 5º Lugar. Grupo 1 (Espe- 3º Lugar. Grupo Especial cial) O carnaval humanista de Selma Matos da Rocha, Milton Cunha dá lugar a O carnaval de estréia de a Selminha Sorriso, e uma divagação para traMilton Cunha foi sobre a Cláudio de Souza formam tar da origem do homo pesquisadora inglesa o primeiro casal de porta- sapiens e busca na ancestralidade do povo de Margareth Mee. Pindorama um elo para Apaixonada pefalar da nossa evolução. las bromélias, a Descobre que desconhedama elege o ce de onde viemos e, conBrasil na busca cluiu: "Quem dirá para de espécimes onde vamos!" raras da planta e acaba descoMas o samba de Miro Barbrindo na Amabosa proclama uma cerzônia e Mata teza "Somos vestígios naAtlântica, uma turais da transformação fauna e flora rida vida". Neguinho da cas ainda desBeija-Flor implora à "mãe conhecidas de negra" África: "Diga quem todos, bem sou/De onde vim/Pra como se encanonde vou". É a pergunta ta com as lenque não quer calar. das contadas bandeira e mestre-sala da O primeiro mestre-sala, pelo nosso povo, como a Cláudio "Claudinho" de do boto Tucuxi, que o Azul-e-Branco. samba de Arnaldo Em seu segundo trabalho, Souza, ganha o "EstanMatheus, J. Santos e Almir Milton Cunha escolhe a darte de Ouro". Moreira mostrou na voz de diva do bel-canto, Bidu Neguinho, com a Beija- Sayão, para mostrar o reFlor empolgando o públi- conhecimento do povo brasileiro. Bira, Zé Carlos do co mais uma vez. Cavaco, Tião Barbudo, Sonia Capeta, rainha da Dequinha Pottiêr e bateria, ganha o "EstanJorginho dão o recado e o darte de Ouro", de Melhor tom para que Neguinho da Passista. E a Ala Canoas Beija-Flor sacramentar no Indígenas também é pre- gogó essa gratidão imenmiada. samente anônima, mas Quando todos esperavam viva e real. que o título do ano fosse A voz de cristal, que canta ser decidido entre Sal- as bachianas, Carlos Gomes gueiro, Portela, Beija-flor e outras canções líricas, teve ou Mangueira, que empol- seu dia de festa, luz, cor e garam a platéia, venceu poesia no maior e mais poa Imperatriz. pular palco do mundo.

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A beija-flor é festa na O mundo místico dos caruanas nas águas do Sapucaí 4º Lugar. Grupo Especial patu-anu 2º Lugar. Grupo Especial A convite do carnavalesco Milton cunha, a coreógrafa Ghislaine Cavalcanti integra a família Beija-Flor e cria uma comissão de frente com 15 bailarinas clássicas, que substitui a Velha Guarda a abertura do Desfile. O tema sugerido através de carta por um menino de 13 anos, aprovado por Milton Cunha, destaca a comunidade, as atividades e a importância de Nilópolis e homenageia o município no ano de seu jubileu de ouro. O samba de Wilson Bombeiro, J. Santos, Arnaldo Matheus, Almir Sereno comemorou na Passarela do Samba com a escola fazendo a festa. Dentro e fora da avenida, o povo sambou e cantou a emancipação e o progresso da cidade.

Luis Fernando "Laíla" Ribeiro do Carmo, diretor geral de Carnaval, promove uma reformulação interna e substitui a figura do carnavalesco por uma comissão de carnaval, formada por Fran-Sérgio, Ubirajara "Bira" Silva, Cid Carvalho, Nelson Ricardo, Amarildo de Mello, Carlos "Shangai" Fernandez e Vitor Santos. A idéia é prestigiar os profissionais que executam o enredo e que ficavam à sombra do carnavalesco.

Os carnavalescos trazem do Pará, o folclore místico que conta a lenda dos caruanas, o início do mundo, a fauna e flora e o minerais de Auí, a pajelança, e, ainda, marujada, vaquejada, carimbó, lundum e síria, no samba As Baianas levam o "Es- de Alencar de Oliveira, tandarte de Ouro" de Me- Wilsinho Paz, Noel Costa, lhor Ala e Daniele o de Re- Baby e Marcão e no canvelação. to de Neguinho da Beijaflor. Com a proteção dos caruanas, Beija-Flor chega na frente. e Selminha Sorrisso é escolhida pelo "Estandarte de Ouro" como melhor Porta-bandeira. Mangueira, depois de 11 anos, e Beija-flor, pela primeira vez no Sambódromo, faturam o campeonato no ano de 98.

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1999 2000 2001 2002 2003 Araxá, lugar alto onde pri- Brasil, um coração que A saga de Agotime - Mapulsa forte. Pátria de to- ria Mineira Naê meiro se avista o sol Grupo Especi2º Lugar. Grupo Especial dos ou terra de ninguém? 2º lugar 2º lugar - Grupo Especial al Cantando a hospitalidade de Araxá, que escreveu sua história com o sangue dos índios, negros, bandeirantes, colonizadores e exploradores, e também com a beleza sedutora de suas mulheres, como d, Beja e a escrava Filomena, o samba de Wilsinho Paz e Noel Costa fala do paraíso que é esse belo recanto das Minas Gerais. O tema garantiu a comissão de carnaval seu primeiro "Estandarte de Ouro", e o terceiro da Ala das Baianas.

O Brasil dá o ar da sua O povo conta a sua graça - Ícaro a Ruben história:saco vazio não pára em pé, - a mão que Berta, o ímpeto de voar 2º lugar - Grupo Especial faz a guerra, faz a paz 1º lugar - Grupo Especial

Quando se trata de criatividade e arte popular, colocar a espiritualidade de Chico Xavier e a fé do negro que veio com os colonizadores num mesmo tema é tão compatível quanto juntar esses sentimentos ao embate entre os índios guerreiros e os aventureiros que tinham essa terra como de ninguém. Mas essa pátria tinha dono e um berço, São Vicente, que surge inspirada na ordem e no progresso, merece loas por ser a primeira cidade dessa pátria de todos como bem diz o samba de Igor Leal e Amendoim da Beija-Flor, cantado por Neguinho da Beija-Flor. Edson (Edinho) Bittencourt, presidente da alas de Passistas-Mirins, recebe o Estandarte de Ouro, do jornal O Globo, como melhor passistas. Selminha Sorriso conquista seu terceiro Estandarte de Ouro, de Melhor Porta-bandeira.

Mais audaciosa que nunca, a Beija-Flor bate os tambores para Maria Mineira Naê e bota carga e fé nas alegorias, num carro com ebó, entidades e pretas velhas. Déo, Caruso, Cleber e Osmar deram ênfase a energia e vibração dos orixás e voduns. Desfile feito, reza forte e a Beija-Flor ganha os Estandartes de Ouro, de Melhor Escola e Enredo. A Ala das Baianas (100 componentes) ganha o troféu "Tamborim de Ouro", do jornal O DIA.

A incansável busca do homem pela realização do sonho de voar, tem tudo a ver com a capacidade criadora do brasileiro e, em particular, com a genialidade inventiva de Santos Dumont, que se lançou na louca aventura e se transformou no "pai da aviação", bem como tem a ver com o espírito empreendedor de Rubem Berta, o fundador da primeira e maior empresa área brasileira. O enredo retrocede à Ícaro, chega até os astronautas dos nossos tempos e, aí, a Beija-Flor faz sonho virar realidade, unindo a mais avançada tecnologia à imponência e ao luxo da escola.

A comissão de frente criada por Ghislaine Cavalcanti, com seu corpo de balé, fica com o O samba é de Wilsinho "Tamborim de Ouro". Paz, Elcy , Gil das Flores, Alexandre Moraes, Tamir, Igor Leal e Tom Tom.

Neguinho da Beija-Flor ganha seu segundo "Estandarte de Ouro", d´O Globo. Também são premiados a Ala "O Rei do Maracatu do Nordeste", o primeiro casal de mestresala e porta-bandeira, Selminha Sorriso e Cláudio Souza. A escola recebeu ainda, o "Tamborim de Ouro", da FM-O DIA, em sete categorias, inclusive de melhor bateria, sob a batuta dos mestres Plínio e Paulinho.

Raíssa Oliveira, 13 anos, é a nova rainha da ala de Bateria, que sai com 246 integrantes, comandados pelos mestres Plínio e Paulinho. Assim como no primeiro desfile, nos últimos oito anos, a bateria da Azule-Branco vem conquistando a nota dez. Para a comissão de carnaval é um manifesto humano. Mas pode ser um balanço de erros e acertos da nossa milenar humanidade. Ou um mea culpa por conta do livre arbítrio, da desobediência aos sábios ensinamentos do criador, " nós criaturas descemos os degraus da bonança à mais total miséria, da felicidade e fartura à maior tristeza e fome. Fome em todos os sentidos, de justiça, dignidade e liberdade; fome física que destrói o corpo; fome espiritual que desespera a alma; fome social que escraviza, humilha e degrada o corpo e o espírito; fome de afeto, fraternidade e união", diz o vitorioso desfile-manifesto. Os 3.600 componentes, distribuídos em 20 alas, cantam com Neguinho o samba de Wilsinho Paz, Elcy, Gil das Flores, Alexandre Moraes, Tamir , Igor Leal e Tom Tom.

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Marlene Senas David de Passista a Porta-Bandeira Karla Legey

No ano em que a Beija-Flor de Nilópolis completa 50 anos de desfile como escola de samba procuramos uma de suas ilustres passistas, que, além de alegrar a avenida na década de 1980, esteve ao lado da escola praticamente desde a sua fundação: a simpática Marlene Senas David.

M

arlene conviveu com o início da Beija-Flor de Nilópolis

como escola de samba, e nos lembra um pouco do espírito que animava os foliões de Nilópolis: "A Beija-Flor era um bloco de carnaval que brincava nas ruas de Nilópolis sem nenhuma pretensão de se tornar uma escola de samba, muito menos, como é hoje, uma das maiores escolas de samba do Brasil. O objetivo do pessoal de Nilópolis, na época, era apenas se divertir. Um dia, a rapaziada do bloco resolveu mudar para escola de samba. Isso foi em 1953, e quem ficou responsável por ver como fazer essa mudança foi o Cabana. Enquanto isso, a turma que desfilava no bloco, o Helles Ferreira, Osório de Lima, Nilo, Augusto Almeida, Vacele, Pardal, Josefa, Benedito dos Santos e o Timbó (Nicanor de Oliveira) entre outros, resolveram chamar o meu pai, José Rodrigues Sennas, para ser o presidente da escola, já que ele era uma pessoa séria, responsável, com uma respeitável folha de serviços prestados ao país como integrante da Marinha, com experiência em administração e muito bem relacionado com todos. Quando meu pai assumiu a presidência, comecei a freqüentar mais a escola pois, apesar de ter na época apenas nove anos, gostava de participar das coisas que meu pai fazia. Depois que o Cabana deu andamento à inscrição da Beija-Flor de Nilópolis na Associação das Escolas de Samba, meu pai assumiu a presidência da escola, e o pessoal começou a se reunir lá na casa de papai, pois a escola nessa época ainda estava começando, e não tinha nada, nem mesmo uma sede para os seus fundadores se reunirem. Aos poucos, porém, a escola conseguiu um terreninho onde instalou a sua quadra, onde hoje é o CAC. Foi sempre com muita luta que a escola foi conquistando seu espaço, pois naquela época, as escolas não tinham muita ajuda. Eu mesma me lembro de ter visto por várias vezes meu pai apreensivo e triste porque estava chegando perto

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do período de preparação para o desfile e a escola não tinha dinheiro para botar a turma na rua... Ele sofria muito. A Beija-Flor e outras escolas menores só conseguiam desfilar porque, assim como papai, criaram um livro de ouro que se passava no comércio da região." Marlene tem muitas histórias para contar, e lembra que como uma freqüentadora assídua da escola, fez o seu primeiro desfile ainda moça, com 16 anos, desfilando na Ala das Boêmias. Com o tempo se tornou passista da escola, chegando a ser porta-bandeira da agremiação. "Depois que se tornou escola de samba e começou a desfilar, a Beija-Flor foi crescendo, ganhando a simpatia das pessoas, não só do morador de Nilópolis, mas das pessoas que gostavam de samba e Carnaval. Meu pai, por sua vez, tinha muitos amigos nas outras escolas de samba. Um dia, em uma festividade em que a Império Serrano, que é a madrinha da Beija-Flor, iria batizar a nossa escola, não havia uma porta-bandeira da Beija-Flor para receber a Império Serrano como deveria. Nessa hora, nos reunimos e decidiram que eu seria a porta-bandeira da Beija-Flor. Para mim, foi uma honra representar a escola que amo, e que sempre amei. Depois desse acontecimento, acabei gostando e cheguei a desfilar como porta-bandeira na avenida." "Depois, em 1976, no ano do enredo 'Sonhar com rei dá leão', criei uma ala de 11 pessoas, chamada Ala das Caçulas. Essa ala era composta por pessoas da família ou muito próximas, como minhas duas irmãs e meu irmão, o Simão e a Shirley Sessim, a Lúcia, a Tilize, a Jane (esposa do Farid), entre outras." Marlene lembra a importância de José Sennas na administração da escola, mas destaca um acontecimento, que mudaria, para sempre, o destino da Beija-Flor: "Eu tinha uns 20 anos, e como uma boa sambista, gostava de dançar. Modéstia à

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parte, eu dava um show sambando. Nessa época, eu ia para a quadra e me esbaldava no samba e me divertia até cansar. Numa dessas idas reparei em um rapaz que não parava de me paquerar. Mas eu não queria paquerar. Meu negócio era sambar, sambar e sambar. Sempre que ia para a quadra para sambar, encontrava ele, que continuava me paquerando. Até que um dia, depois de muita conversa, comecei a namorar aquele rapaz: era o Nelsinho, irmão do Anizio. Nelson era um rapaz bom, trabalhador e que tinha muito carinho pelas pessoas de Nilópolis. De tão bom que ele era, de tão companheiro e amigo, quando me dei conta, já estava casada com ele. Minha vida com Nelson foi muito boa. Ele sempre foi um homem atencioso, responsável e quando nossos filhos nasceram, o Nelson foi um superpai." Naturalmente, o fato de Marlene estar casada com o Nelson e ser filha do José Sennas fez com que a família de Nelson se aproximasse mais da escola, identificando nela uma oportunidade de retribuir à comunidade de Nilópolis o carinho e a hospitalidade que um dia dona Júlia e seu Abrão receberam ao chegar no Brasil. Mas, para isso, era necessário um maior envolvimento de Nelsinho na escola... E isso se deu em 1973, quando Nelson chegou em casa e contou à Marlene que havia decidido se candidatar à presidência da escola. Nesse dia, Nelson perguntou à Marlene o que ela achava da iniciativa. "Se tu tem peito, vai em frente. Vai lá e se candidata", respondeu Marlene. E foi o que ele fez. Marlene lembra, como se fosse hoje, a ansiedade que a tomou naqueles dias, que iriam mudar, para sempre, a história de Nilópolis e do Carnaval carioca: "No dia da eleição eu estava muito apreensiva. Foi então que a porta de casa se abriu e o Nelson muito animado entrou festejando: 'Eu, ganhei! Marlene, eu ganhei!' Foi um momento muito emocionante para todos porque durante anos vi meu pai dirigindo a escola e fazendo muito pela comunidade de Nilópolis, e agora surgia para o Nelson uma oportunidade de também fazer muito pelo pessoal da região. Mas sabia que, se por um lado o Nelson era uma pessoa boa, humana e preocupada em ajudar, por outro, ele não tinha muita experiência administrativa, e você sabe que, para dirigir uma escola de samba, precisa mais do que boa vontade. Se não for esperto, competente, a coisa desanda. Por isso, quando Nelson chegou em casa naquela animação, cheguei para ele e falei: 'Agora você vai procurar o pessoal antigo na escola para eles te ensinarem a ser um presidente de escola de samba.' Aí Nelson foi procurar o Cabana, o Heitor e outros.

Nelson, Nelsinho e Marlene

Durante anos, o Nelson administrou a escola, ajudando a tocá-la para frente e, ao mesmo tempo, se ocupava em ajudar as pessoas da comunidade, dentro das nossas possibilidades. Marlene carrega consigo muitas outras histórias, como a do desfile da Beija-Flor em 1986 . "O enredo era 'O mundo é uma bola'. Caiu uma fortíssima chuva, e a água chegava até o joelho da gente. As fantasias da minha ala eram feitas para agüentar sol ou chuva, porque tudo era costuradinho; não havia nada só colado que a chuva pudesse estragar. Eu baixinha, com a água até quase a cintura, falei para minha ala: 'Minha gente, vamos entrar com muita fibra e garra. Eu quero todo mundo com fibra. Não quero saber se a água está no joelho, ou molhando. Somos a Beija-Flor de Nilópolis e o público espera isso de nós.' Aí larguei minha ala e fui de ala em ala, incentivando e dando força aos componentes da escola. Eu pulava, sambava, gritava, animava para a escola não perder sua força, naquele momento tão importante. Eu pulava tanto, e a pista estava tão molhada e inundada que durante o desfile quase caí em um bueiro que estava aberto, na lateral da pista. Queria levantar o público da arquibancada, para contagiar o desfile. Parece coisa de novela, mas o resultado foi mágico: nós e o público vimos a Beija-Flor desfilando e vibrando com uma força e energia, que dava até arrepio. Infelizmente não fomos campeões nesse ano, mas tenho certeza que os integrantes da escola deram uma lição de amor à Beija-Flor, ao público e ao Anizio, que sempre esteve por trás dos principais momentos da história da Beija-Flor. De minha parte, só tenho a agradecer a Deus por ter me dado a oportunidade de crescer, viver e sambar na BeijaFlor de Nilópolis. Por ela devoto um amor muito grande: foi onde fiz muitos amigos, que carrego no coração para onde vou. Foi graças a ela que aprendi a valorizar a amizade, as minhas raízes... E a ser feliz, pois foi lá que encontrei o grande amor da minha vida: o Nelsinho, que me deu muitos momentos bons e filhos maravilhosos. E tenho certeza de que as pessoas que hoje vivem, trabalham e desfilam na Beija-Flor têm essa mesma sensação: que a Beija-Flor é, realmente, uma escola de vida. E de felicidade."

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Os 20 anos da Liga Vicente Dattoli

H

á quase 20 anos, para ser preciso em 24 julho de

atual presidente da Liga e também o dirigente que por mais

1984, os dirigentes de dez das maiores Escolas de

tempo ocupou, até hoje, o cargo na entidade.

Samba do Rio de Janeiro, contando com o apoio de alguns

As pessoas que vivem o Carnaval, que sentem bater forte

amigos, como eles apaixonados pelo Carnaval e pelas nos-

o coração à passagem de uma Escola de Samba, também

sas Escolas de Samba, decidiram que era hora de mudar as

são unânimes em ressaltar a importância da Liga das Escolas

regras do jogo – até então cruel para aquelas agremiações –

de Samba nos novos rumos da maior festa popular do nosso

e fazer valer, finalmente, o lema de que o nosso Carnaval era

povo. “A criação da Liga foi um marco definitivo para a orga-

o “maior espetáculo da Terra”.

nização dos desfiles e na sua transformação no melhor espe-

Assim, Beija-Flor , Caprichosos de Pilares, Mangueira,

táculo da Terra. Acompanho a festa desde os tempos da Rio

Portela, União da Ilha, Vila Isabel, Imperatriz

Branco, Presidente Vargas, Antônio Carlos, Mangue... Vi mui-

Leopoldinense,Salgueiro, Mocidade Independente de Padre

ta desorganização, regulamento sendo descumprido... Ago-

Miguel e Império Serrano fundaram a Liga Independente das

ra, com a Liga, há um sentimento profissional no que diz res-

Escolas de Samba do Rio Janeiro.

peito à organização, e um carinho incrível por parte de quem

O começo, como não poderia deixar de ser, foi difícil.

dirige a Liga para comandar a festa”, comenta Hilton Abi-Rihan,

O apoio daqueles amigos foi fundamental para a sobrevi-

radialista da Rádio MEC do Rio de Janeiro.

vência da nova entidade, naquele primeiro momento.

A opinião de Abi-Rihan é compartilhada por outro vetera-

Mas a idéia não poderia morrer – e todos se lançaram na

no da crônica carnavalesca do Rio de Janeiro, o colunista

tarefa com o mesmo entusiasmo com que geriam suas vidas

José Carlos Netto. “A Liga surgiu num momento crucial para

pessoais.

o samba. Sua fundação aconteceu num momento em que

Os ganhos foram lentos, é verdade, mas hoje o desfile

estavam esgotadas todas as tentativas de legitimar, com

das Escolas de Samba do Grupo Especial, coordenado pela

transparência, uma modernização na direção das Escolas

Liga, não é apenas o maior espetáculo da Terra, mas também

de Samba. De 1984 para cá a Liga foi-se modernizando e

o melhor, conforme foi apurado, há dois anos, em pesquisa

aperfeiçoando a ponto de, hoje, servir de modelo para vári-

internacional realizada por um veículo de imprensa dos Esta-

as outras entidades, não só no Rio de Janeiro como em

dos Unidos: “Antes da Liga, cada Escola se comunicava dire-

todo o Brasil”, exalta o presidente da Associação Indepen-

tamente com a Riotur. Esse tratamento individual, porém, tira-

dente dos Comunicadores de Carnaval (AICOC).

va o poder de barganha das Escolas de Samba junto ao

Para o médico e historiador do Carnaval, Hiram Araújo, a

Poder Público. E como as Escolas precisavam se dividir para

criação da Liga pode ser considerada a coroação de todo

preparar o Carnaval e negociar, ficavam ainda mais

um processo de transformação dos ingênuos desfiles das

enfraquecidas. Com a criação da Liga, esses problemas fo-

Escolas de Samba para os espetáculos tipo show-business

ram sendo, pouco a pouco, resolvidos. Agora, qualquer ne-

de hoje. “Antes da criação da Liga, a empresa Carnaval era

gociação com o Poder Público é feito diretamente pela Liga,

uma poderosa indústria explorada por forças que enriqueci-

que representa as 14 Escolas que integram o Grupo Especi-

am cada vez mais, enquanto os verdadeiros organizadores

al”, explica Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães,

dos desfiles, as Escolas de Samba, amargavam prejuízos

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crescentes. Com as sementes da Liga lançadas, e a criação do Sambódromo,

Como surgiu a Liesa e qual a sua participação na criação da entidade?

que dirigiu a Liga ainda nos anos 80. “O Anísio conseguiu um

Antes da criação da Liesa, a entidade que coordenava o desfile das escolas de samba era a Associação das Escolas de Samba, formada por diversas agremiações, de grande e pequeno porte. As decisões promovidas pela entidade, muitas vezes, desagradavam as grandes escolas que, em última análise, é que davam o glamour e agregavam valor aos desfiles. O problema é que as pequenas escolas tinham o mesmo poder de voto que escolas tradicionais como a Mangueira e a Portela, por exemplo. Eu fui uma das primeiras pessoas a pensar em criar uma entidade que mudasse o status quo da associação da época. Ocorre que, há 20 anos, eu estava entrando no mundo do samba e não tinha ainda um peso político para mudar as coisas. Por isso, procurei o Castor de Andrade e lhe falei: "Castor a Associação do jeito que está não é bom para as agremiações e nem para o desfile das escolas. As grandes escolas, que fazem o carnaval, nunca vão vencer uma questão importante aqui dentro porque o grupo das escolas pequenas é maioria. Precisamos fazer algo". O Castor falou: "Isso é uma idéia boa". A partir daí, o Castor de Andrade tomou a iniciativa e marcou as primeiras reuniões na sua casa, onde participavam eu, o Anízio, entre outros amigos, até que criamos a Liesa.

feito histórico para os compositores: o dinheiro a ser repas-

A que se deve o seu sucesso à frente da Liesa?

sado pelos direitos autorais passou a ser feito diretamente,

Em primeiro lugar, todas as escolas têm um carinho muito grande por mim. E isso foi uma conquista, fruto de muito trabalho e dedicação na luta e defesa dos interesses do carnaval e das escolas de samba. As escolas do Grupo Especial sabem que têm aqui na Liesa, na minha pessoa, um incansável defensor do carnaval carioca, do samba e das escolas de samba. Com isso, tenho o respeito de todas as escolas nas decisões que tenho que tomar, porque sabem que mesmo que sejam decisões que não agradem a uma ou outra agremiação é o melhor para o samba, o carnaval e para o futuro das escolas de samba. Em segundo lugar, acredito que minhas características pessoais tenham ajudado muito a conquistarmos esse relativo sucesso. Sou uma pessoa muito organizada, ousada, trabalhadora e que prestigia a união. Defendo que um trabalho bem feito só o é se você tiver um grupo competente te apoiando. E o segredo da Liesa é esse: um grupo de abnegados diretores e colaboradores que administram suas obrigações com competência e seriedade.

os verdadeiros produtores do Carnaval foram beneficiados e hoje temos este mega-espetáculo que orgulha a todos os brasileiros”, esclarece Hiram Araújo, autor de livros sobre o Carnaval e diretor Cultural da Liga. Trabalho de todos – Ao longo destas quase duas décadas de vida, todos os homens que ocuparam a cadeira de presidente da Liga deram sua colaboração para este crescimento. Ciente de que todo este trabalho de engrandecimento do espetáculo foi conseguido de forma paulatina, com o apoio de todos os demais presidentes da Liga, Guimarães não deixa de exaltar a administração de Anizio Abrão David,

sem a intervenção do ECAD. Hoje, o compositor que ganha um samba-enredo recebe um dinheiro considerável. Não dá para que ele fique rico, mas dá para acertar a vida. E isso eles devem a uma iniciativa do Anizio”, lembra Guimarães. “Eu vi a Liga nascer numa pequena sala no edifício Marquês do Herval, na Avenida Rio Branco. Hoje, sinto-me feliz em entrar em qualquer um dos andares que ela ocupa num dos endereços mais nobres do Centro do Rio de Janeiro”, comemora Abi-Rihan, um entusiasmado defensor das Escolas de Samba e do grande espetáculo que elas realizam. “Antes da fundação da Liga, o sambista-dirigente nunca era visto com bons olhos. Havia uma grande dificuldade de contato com os diversos órgãos públicos. Hoje, em função da respeitabilidade de como a Liga conduz as suas negociações – o que foi obtido com o trabalho de todos os seus dirigentes, como Anizio, Jorge Castanheira (atual vice-presidente) e Luisinho (Luiz Pacheco Drumond), entre outros –, as discussões acontecem em igualdade de condições”, ressalta José Carlos Netto.

Vicente Dattoli é jornalista e assessor de imprensa da Liga Independente das Escolas de Samba

Qual a avaliação que faz da sua gestão? Considero que a modéstia, quando mal empregada, também é uma demonstração de vaidade. Por isso, tento ser criterioso no meu julgamento para que não confundam o meu amor próprio com minhas ações concretas à frente de qualquer atividade. Por isso, estou à vontade para afirmar que tudo que a Liesa possui ou realizou foi feito ou aprimorado na minha administração. E exemplifico: hoje, a Liesa tem uma sede de alto nível, em uma excelente localização comercial e com toda a estrutura para receber autoridades, chefes de estado e presidentes de grandes corporações que queiram conhecer e desenvolver qualquer tipo de parceria com o Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Mas aqui o sambista simples e humilde também é bem recebido e tratado com todo o carinho e o respeito que merece. É a filosofia que todos os funcionários da Liesa têm.

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Beija-Flor de Nilópolis a escola nº 1 do Carnaval Em comemoração aos 20 anos de criação da Liesa, a entidade elaborou um estudo cujo resultado foi o ranking geral das escolas de samba. E o que já era esperado, foi confirmado: a Beija-Flor de Nilópolis é a escola nº 1 do Carnaval do Rio de Janeiro, com a soma total de 250 pontos.

Além disso, hoje conquistamos um nível de excelência no desfile que permite que qualquer um que vá ao evento encontre um ambiente seguro, organizado, sinalizado e que funciona com um nível de excelência de primeiro mundo. Ainda falando sobre as melhorias que liderei como presidente da Liesa, destaco a aquisição de quatro andares para o desenvolvimento das atividades políticas, sociais e administrativas da entidade, sendo que um andar inteiro dedicado à gravadora e ao Centro de Memória da Liesa, coordenado pelo dr. Hiram Araújo, um dos principais conhecedores teóricos do carnaval. Em todas as minhas gestões à frente da Liesa, luto para que o espetáculo nunca perca o brilho. E muitas vezes, as pessoas não sabem o que é feito nos bastidores em defesa dessa festa. Para dar ao leitor um exemplo, há muito tempo, eu reparei que uma Ala de Baianas tinha mais de vinte homens vestidos de baianas. Achei aquilo feio; homens de bigode vestidos de baiana. Temos que entender que a baiana é uma figura emblemática. Quando alguém fala em baiana, você já desenha aquela imagem de uma senhora. Por isso, é uma ala que tem tradição e representa uma parte importante do desfile. Por que eu nunca deixei valer ponto para a ala das baianas? Porque o dia em que for quesito de julgamento, as escolas não vão botar senhoras de 70 anos para desfilar. Vão colocar meninas de 18 anos, que têm muito mais vigor físico. E você vai tirar a alegria daquelas senhoras que trabalham o ano todo sonhando com a glória de desfilar pela sua agremiação e vai acabar com uma das principais tradições dos desfiles de carnaval. Como disse, são detalhes que só quem está muito atento pode identificar e, assim, aprimorar ainda mais esse espetáculo. Por fim, para não me estender demasiadamente no assunto, a cada dia, conquistamos mais um espaço para as escolas, seja em questões financeiras seja em questões institucionais e de trabalho, como é o caso da Cidade do Samba, a mais recente conquista da Liesa para as escolas de samba.

O carnaval da cidade do Rio de Janeiro é hoje um dos principais atrativos para o turismo receptivo nacional. Qual a participação da Liesa nessa conquista? O desfile das escolas é, hoje, o carro-chefe das festividades que acontecem no período do carnaval e que trazem o turista para a cidade. Em razão do desfile das escolas de samba, giram eventos como os ensaios nas quadras, as disputas de samba-enredo e uma série de outros eventos que oferecem ao turista momentos de alegria e descontração, com muita segurança e ordenamento. Hoje, um pai cuidadoso não se preocupa que sua filha vá ao desfile na Sapucaí ou os ensaios das escolas. Ele sabe que é um ambiente seguro e respeitoso onde as pessoas que lá estão buscam a mesma coisa: se divertir. O amor e o respeito que as pessoas têm pela sua agremiação têm permitido que elas mesmas mantenham na quadra um ambiente de respeito para receber os turistas e visitantes que prestigiam a sua escola de samba. Não há dúvida de que, ao lado do sambista, que faz todo esse trabalho de relações públicas com o turista, a Liesa teve e tem dado uma importante contribuição. A Liesa é a entidade que luta em defesa dos interesses do carnaval e das escolas de samba. É ela quem organiza o desfile, cria e mantém um ambiente de estabilidade entre as escolas, além de ser a responsável por um trabalho eficiente junto ao poder público e às forças de segurança pública em favor do espetáculo e do turista. Com esse ambiente a festa se torna segura e o turista vem prestigiar o desfile, assegurando um bom fluxo de turismo e divisas para o município e o estado. A credibilidade que a Liesa agrega e que transmite à sociedade favorece a essas e outras ações, muitas vezes não identificadas pelo grande público, mas que sustentam e dão suporte ao maior espetáculo da Terra.

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Expressão

do samba

Miro Lopes

Se o samba e o Carnaval são considerados as principais expressões populares do Brasil, o mérito dessa conquista é, sem dúvida alguma, dos grandes sambistas que fizeram e fazem do samba e do Carnaval a sua vida, e que nunca se preocuparam com a fama ou o estrelato. Simplesmente deixaram fluir uma energia que circula dentro deles, externalizada pela sua criação. Iniciando as comemorações pelos 50 anos de desfiles da escola, e buscando reconhecer a contribuição desses homens ao samba e à cultura nacional, a revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida e a Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis resolveram criar o prêmio Expressão do Samba. Uma comissão julgadora formada por Anizio Abrão David, Laíla, Neguinho, Hiram Araújo, Abi-Rihan e Ricardo Fonseca analisou os nomes de diversos sambistas que contribuíram para o desenvolvimento e divulgação do samba no Brasil e no mundo para a escolha de sete nomes. Muitos dos sambistas que não foram escolhidos este ano, o serão em alguma das próximas edições do Expressão do Samba. Afinal a premiação só está começando. Por fim, queremos deixar registrada a nossa reverência e gratidão a esses homens que não deixam nossa identidade se apagar, e que, a despeito de tudo e de todos, não deixam o samba morrer. Pois se o show deve continuar, o samba jamais pode acabar.

Cabana: um bandeirante na história do samba

Aroldo da Ilha: Melodia de excelência

A vida de Cabana se confunde com a história da azul-e-branco. Levado por Zairo (Rodrigues) Gogó de Ouro a Nilópolis, Cabana disse a que veio: transforma o então bloco em Grêmio Recreativo e Escola de Samba Beija-Flor. A nova condição é sacramentada por registro e pela vitória da estreante, no desfile de 1954, com o samba de Cabana e Osório de Lima "O Caçador de Esmeraldas", que coloca a Beija-Flor imediatamente no Grupo I. É, portanto, personalidade definitiva na fundação da escola, embora não tenha participado da reunião que deu vida e nome ao bloco Associação Carnavalesca Beija-Flor, que surgira em 1948. Durante mais de uma década, a escola nilopolitana disputou carnavais embalados pelo inspirado talento de Cabana e seus vários parceiros, com destaque para "Dia do Fico", com o qual voltou a brilhar na Avenida, conquistando o segundo lugar. Em 1965, Cabana interrompe uma relação de amor com a Beija-Flor. A reconciliação acontece em 1973, e termina 13 anos depois porque o "presidente do GRES Paraíso Celeste queria reforçar a ala de compositores do céu". Cabana nasceu em 22 de julho de 1924, na Saúde, e se chamava Silvestre David dos Santos.

Aroldo Melodia, artisticamente, e Aroldo Forbes, na pia batismal, ele é um dos mais festejados compositores da União da Ilha, onde contabilizou, entre outras vitórias, uma muito especial: a que alçou a escola ao Grupo I, em 1974, com o samba-enredo "Lendas e Festas das Yabás", de parceria com Leôncio Silva. Depois veio "O que Será?", parceria com Didi, que virou hit na voz de Simone. Descoberto pelo presidente Paulo Amoroso, cantando nos redutos de samba e nas gafieiras Elite e Estudantina, o compositor de melodia harmoniosa e canto bonito, foi levado para a União da Ilha em 1958, transformando-se no melhor puxador de samba-enredo que a escola já teve. Ariano de 19 de agosto, "como Roberto Carlos e Getúlio Vargas" enfatiza Aroldo, nasceu em 1930 na Ilha do Governador e vive lá até hoje. Mesmo com as dificuldades impostas pela necessidade de usar cadeira de rodas, Aroldo é presença firme nos ensaios, todos os domingos. Embora já tenha circulado em outras agremiações, o sambista afirma "não deixo a União de jeito nenhum". Recentemente, Aroldo Melodia recebeu homenagens especiais da ala dos compositores que promoveu uma grandiosa festa de lançamento de um CD comemorativo dos seus 50 anos de samba.

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O samba que está no Gibi Gibi, ou Walter Pereira, jamais passará em branco pela história do Carnaval. Sete vezes sua inspiração agitou a Avenida, duas das quais como campeão: em 1981, com "O Teu Cabelo Não Nega" ou "Só Dá Lalá", dele, Zé Catimba e Serjão, pela Imperatriz Leopoldinense; e, em 1985, com "Ziriguidum 2001 - um Carnaval das Estrelas", pela Mocidade Independente. Assim, Gibi se inscreve definitivamente como expressão do samba. Gibi chegou à Avenida com outros sambas inesquecíveis: "Martim Cererê", uma parceria com Zé Catimba (1971), "Por Mares Nunca Dantes Navegados", com Guga e Sereno (1976), e "Oxumaré, a Lenda do Arcoíris", com Dominguinhos do Estácio e Darci Nascimento (1978), desfilando pela Imperatriz; "Meu Pé de Laranja Lima", com Arsênio Isaías (1970) e "Tupinicópolis", de parceria com Chico Cabeleira e Arsênio Isaías (1987), defendendo a Mocidade, sua atual escola. Ex-tintureiro, técnico em prevenção contra incêndio e diretor da Associação das Escolas de Samba é, atualmente, comerciante, mas é como compositor, certamente, que Gibi será sempre lembrado.

Enfim, a Cidade do Samba Um dos mais importantes empreendimentos para o turismo, para o samba e o carnaval, a Cidade do Samba abrigará os barracões das Escolas de Samba do Grupo Especial, lojas de produtos e lanchonetes, oferecendo ao visitante e ao sambista um importante espaço de lazer e entretenimento. A revista Beija-Flor - uma escola de vida procurou o Prefeito César Maia, e em uma rápida conversa ele nos respondeu algumas perguntas.

Porque iniciar o projeto de construção da Cidade do Samba? Prefeito Cesar Maia - Pela necessidade do maior evento cultural do Rio de Janeiro ter vida os 365 do ano.

Qual a importância social da Cidade do Samba? CM - Emprego é a politica social mais importante de todas. A Cidade do Samba será o principal point turístico da Cidade e criará direta e indiretamente milhares de empregos.

A Prefeitura tem ações planejadas a médio e longo prazo para corrigir problemas da região de acesso à Cidade do Samba? Hiram Araújo, amor declarado ao Carnaval Autor de livros sobre o Carnaval, o pesquisador Hiram Araújo é um dos mais ilustres intelectuais da nossa cultura popular. Natural de Natal (RN), Hiram nasceu em 28 de setembro de 1929 e veio para o Rio ainda criança. Assume sua grande paixão pelo Carnaval - que a repressão não poderia impedir de escrever e, muito menos, de sentir na Imperatriz Leopoldinense, levado a convite de Amaury Jório, com quem escreveu, em 1969, seu livro de estréia Escolas de samba em desfile. Cirurgião-geral, Hiram Araújo divide-se entre as atividades de médico e a de pesquisador. Foi diretor cultural da Imperatriz e Portela e, agora, como diretor cultural da Liesa, está montando o Centro de Memória do Carnaval. Com seu recém-lançado livro Carnaval, seis milênios de história, o historiador presenteia a bibliografia da maior festa popular do mundo com os mais abrangentes registros históricos que se reportam do ano 4000 a.C. até a atualidade. A obra é dedicada, em especial à esposa Elizabeth e aos filhos Elizabeth, Margareth, Hiram, Sérgio, Erika e Fernando, "sem os quais não reuniria condições para prosseguir meu projeto de vida", afirma.

CM - Estamos fazendo obras de infraestrtura e abrindo para carros um tunel da Gamboa a Presidente Vargas que estava fechado há 40 anos.

O sr. gostaria de deixar alguma mensagem para os leitores da revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida? CM - Que o Rio está renascendo do ponto de vista de sua vocação para eventos com marca internacional. Já conquistamos o PAN. Aí vem as Olimpiadas. E Os grandes equipamentos como a Cidade do Samba, a Cidade da Música, a Cidade das Crianças, O Estádio Olimpico, o Centro de Tradições Nordestinas... O prefeito César Maia, Aline e Anizio durante a cerimônia de lançamento da pedra fundamental da Cidade do Samba.

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E fica o dito, bendito: Darcy é sinônimo de samba Mais do que Cidadão da Cidade do Rio de Janeiro, título conferido pelos seus 50 anos de atividades artísticas, Darcy da Mangueira é sim, pelo mérito de suas conquistas no universo do samba, Cidadão do Mundo. Sua inspiração e talento levaram a Estação Primeira ao tricampeonato com "O Mundo Encantado de Monteiro Lobato" (1967), "Samba Festa de um Povo" (1968) e "Mercadores e Suas Tradições" (1969), e sem premeditar o breque, retornou em 1971 com "Modernos Bandeirantes" e, em 1985, com "Abre Alas, que Eu Quero Passar". Nascido Darcy Fernandes Monteiro, "no pé do Morro da Formiga", teve seu berço na Unidos da Tijuca, da qual o pai foi fundador. Para a azul-e-amarelo compôs "Epopéia do Rio Antigo" (1958) e "Sonho de Bravos" (1960). Aos 71 anos, casado com d. Ruth, pai de Tania, Darcy Filho e Deyse, e avô de Caio Vitor, Larissa e Inara, Darcy da Mangueira não pára e escreve um livro sobre o samba que se somará à sua discografia. Além do LP "A História do Samba Verdadeiro", lançado em 1970 e produzido por Nonato Buzar, Darcy participou de diversas gravações, sem falar na inédita "Dona Neuma, Mãe da Mangueira". Fica o dito por bendito: Darcy é sinônimo e plural de samba.

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Roberto Silva o Príncipe do Samba Bastava ter sido o primeiro cantor a gravar um samba-enredo - "Tiradentes" (Mano Décio), tema do Império Serrano (1949) para Roberto Silva figurar entre os mais expressivos incentivadores do gênero. Ao longo de 65 anos de carreira, registrou nada menos do que 600 sambas, em 32 LPs, 150 compactos duplos/simples e 10 CDs - o mais recente lançado no semestre passado, intitulado "Volta por Cima" (Paulo Vanzollini), que inclui "A Rita" de Chico Buarque de Hollanda. Com os sucessos "Maria Tereza", "Notícias" e "Mãe Solteira", consagra-se como intérprete e tira Altamiro Carrilho, Nelson Cavaquinho e Wilson Batista do anonimato. Depois vieram "Degraus de Vida", "Palhaço", "Espelho" (de Cavaquinho), "Rubro-Negro" (Wilson Batista/Jorge de Castro) e "Normélia" (Raimundo Olavo). Daí, o locutor Carlos Frias denominá-lo o "Príncipe do Samba", epíteto ratificado pelo de "mestre do samba sincopado" - um estilo especial de interpretação adotado por ele e Ciro Monteiro. Carioca de Copacabana, com 83 anos, sete filhos, 16 netos e oito bisnetos, Roberto Silva faz shows por todo o Brasil, assessorado por d. Syone, sua atual mulher e presidente do seu fã-clube.

Bala fez o Salgueiro explodir na maior felicidade O mais salgueirense de todos os fluminenses, o sambista nasceu em Itaperuna. O nome dele é João Nicolau Carneiro Firmo, mas podem chamá-lo de Bala. Começou a freqüentar a escola como simpatizante e virou patrimônio artístico da vermelho-e-branco, depois que Osmar Valença o levou para a ala dos compositores. Bala também foi diretor de bateria e de harmonia. Junto com Manoel Rosa, levou a vermelho-e-branco para as cabeças com o samba "Bahia de Todos os Deuses", em 1974. A escola só conheceu novamente a vitória na Avenida, graças ao inspirado samba "Explode Coração" ( B a l a / C h a g a s / Tr i n d a d / Ary), transformado em hino da escola, que fez o Salgueiro sacudir toda a cidade. Hoje, Bala, que completou 81 anos, curte a lembrança dos bons tempos e dos parceiros, como Duduca, com d. Marina e seus nove filhos, resistindo para o coração não explodir de saudades.

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