Revista Beija-Flor de Nilópolis - nº 15 / Ano 2016

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RICARDO DA FONSECA E HILTON ABI-RIHAN

EDITORIAL


O Carnaval é, hoje, o principal espetáculo de grandes proporções que a cidade oferece ao carioca e ao turista que nos visita. Uma festa de enorme importância, seja em termos culturais, turísticos ou de negócios. E é em razão da sua importância que tudo que gravita em torno desse espetáculo esmera-se para alcançar um nível de qualidade à altura do Desfile, afinal, criou-se um padrão de qualidade que deve ser alcançado por uma simples questão de sobrevivência. Nesse sentido, queremos falar um pouco da nossa revista, que completa nesse Carnaval, sua 15ª edição. Muita gente boa leu e consumiu o conteúdo que apresentamos desde o Carnaval de 2002, conhecendo melhor a agremiação nilopolitana, sua história e seus componentes. Muita gente boa aprendeu a amar e a respeitar a Beija-Flor de Nilópolis por todo trabalho que ela realiza - tanto no barracão, como na quadra, na Avenida, na sua comunidade com as obras da Creche, do Educandário, do CAC e com as atividades esportivas do projeto “Sonho de um Beija-Flor” - descobrindo que essa grande obra exige amor e competência de centenas de colaboradores, além de uma capacidade de liderança ímpar, personificada na figura do Anizio A. David. Para nós, editores, esse é o principal legado que a revista vem construindo em favor da Beija-Flor de Nilópolis: oferecer à sociedade conhecimento que gera respeito e amor - amor esse que, nas sábias palavras de Paracelso, se alcança à medida que se conhece o objeto a ser amado. Um legado evidente, que se vê ao folhear as páginas da revista. Mas existem legados que permanecem ocultos porque fazem parte do que chamamos de off da produção, e que queremos, nessa data especial, destacar aos nossos leitores, para que entendam porque a nossa revista é a principal revista de escolas de samba. Desde que iniciamos a produção da revista, algumas regras foram definidas por nós, e que nortearam a produção da publicação. A principal regra foi respeito às pessoas e aos fatos, não deixando que eventuais afinidades pessoais (ou a falta delas) pudessem interferir na produção das reportagens, na produção das entrevistas e na qualidade do conteúdo. Desde a primeira edição definimos que a revista deveria ser instrumento de justiça, mostrando ao leitor a nossa escola e todos aqueles que a constroem. Desde o começo sabíamos que

não tínhamos o direito de deixar nossas imperfeições influenciarem as pautas. E assim agimos. Assim, montamos pautas de maneira imparcial, valorizando os feitos das pessoas que constroem e construíram a agremiação. Ouvimos, por isso, todos os componentes da escola que pudemos ouvir, dentro das pautas que eram produzidas. Entrevistamos pessoas, levantamos informações. Buscamos a verdade dos fatos, imparcialmente. Outra regra que seguimos foi buscar sempre ir além. Foi assim que fomos além e depois de muitos meses e “nãos” conseguimos um importante depoimento do presidente da República na época do enredo sobre a fome. Foi assim que exaustivamente buscamos fazer contato com a embaixadora da África do Sul à época do enredo “Áfricas”, nos obrigando a ir à Brasília e à São Paulo para realizar a entrevista. Sem falar nas diversas vezes que recebemos o material de anunciantes já com o trabalho na fila de impressão, e que, por respeito aos acordos estabelecidos, fomos mais além e demos nosso jeito para que esses compromissos fossem cumpridos. Outra regra que seguimos foi nunca nos acomodar na reputação que conquistamos. A cada ano, buscamos identificar fatos e acontecimentos que nos permitissem produzir conteúdos de qualidade - conteúdo que oferecemos a você, leitor, com muito respeito. Esses foram alguns dos offs de produção que são, para nós, um importante legado, porque temos trabalhado de forma honesta e justa, acreditando na força e no papel essencial de uma imprensa livre e honesta para a transformação do mundo e da sociedade para melhor. Temos, por fim, que destacar a importância do Anizio nessa construção, afinal, em sua sabedoria, ele - e mais ninguém - soube dar a missão de produzir a revista da sua escola do coração para profissionais experientes e leais, e não a aventureiros travestidos de profissionais, tão comuns nos dias de hoje. De nossa parte, agradecemos ao Anízio por ter nos dado liberdade plena para produzir a revista “Beija-Flor de Nilópolis – uma escola de vida”. Agradecemos, também, por ele ter sempre confiado na nossa competência, lealdade e na nossa sinceridade de propósitos. Ao Anízio e a todos os leitores de nossa revista, deixamos um sincero agradecimento pela confiança depositada nesses 15 anos.


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ANÍZIO ABRÃO DAVID

Mais um Carnaval que se inicia, trazendo para a Marquês de Sapucaí a alegria dos sambas enredos, o colorido brilhante das fantasias e as perfeitas esculturas dos carros alegóricos. Nossa agremiação, atual campeã do carnaval carioca, mantém sua tradição e se prepara para levar para a Avenida mais um espetáculo construído com muito carinho e amor por seus diretores, administradores e componentes. Não é de hoje que a imprensa e os especialistas afirmam que a força da comunidade BeijaFlor é a grande responsável pela magia do espetáculo que apresentamos a você, leitor presente ao Sambódromo. Acompanhando regularmente os trabalhos desenvolvidos pela agremiação ao longo dos anos e assistindo de perto o desempenho da escola, posso atestar a verdade dessas afirmações. Nossos componentes são a nossa grande força. E muitos não entendem porque nos destacamos se algumas das agremiações coirmãs também possuem alas de comunidade. Não posso falar a respeito das demais agremiações, mas posso falar da minha Beija-Flor. Aqui nossas alas de comunidade vestem a camisa. São componentes que se dedicam à escola através da presença e participação nos ensaios, nas festas e feijoadas que realizamos. Deslocamse não apenas de suas casas, em Nilópolis, para participarem regularmente dos ensaios

e das festividades. Nossos componentes partem de outros municípios, como Mesquita, São João de Meriti, Nova Iguaçu, Queimados, Magé. E vem também da capital carioca e de municípios mais distantes, como Niterói e São Gonçalo - isso para não nos determos no nome dos demais municípios onde temos dedicados torcedores que se fazem componentes. Nossos componentes – anônimos e guerreiros componentes. São eles sim, que acreditam que a Beija-Flor não vai apenas fazer um desfile, mas disputar o título da melhor escola de samba do ano. São eles sim, que com a clara noção de que não basta fazer a obrigação, e que se deve ir além dos limites estabelecidos, avançam com dedicação e responsabilidade iluminando a passarela. A eles, a Beija-Flor de Nilópolis deve sua gratidão. E retribui com afeto e respeito. E nesse ano, que nos preparamos para apresentar mais um grandioso desfile, esperamos que a força dessa comunidade faça valer mais uma vez o seu papel. Que o título de campeã do carnaval 2016 seja a coroação do trabalho que esses dedicados obreiros souberam, com garra e dedicação, apresentar na Avenida. Bom Carnaval a todos! Fevereiro 2016

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FARID ABRÃO

Boa noite. Mais um Desfile da nossa querida Beija-Flor de Nilópolis se aproxima, e mais uma vez meu coração se enche de alegria por termos chegado ao final de uma etapa de trabalho com êxito total e com a certeza de que o espetáculo que será apresentado na Avenida irá refletir todo o carinho, amor e dedicação dos componentes da Azul e Branco, de seus diretores e equipes de trabalho técnico, administrativo e de criação ao Carnaval e a todo público presente. Carnaval é uma festa de alegria, e levamos isso muito a sério: temos o compromisso de manter essa história e, para isso, cada componente trabalhou o ano inteiro, executando a sua tarefa com abnegação para que pudesse oferecer, ao lado dos demais componentes, um momento que será, novamente, inesquecível aos que estiverem presente na avenida. Como presidente da Beija-Flor de Nilópolis, posso assegurar que todas as equipes da agremiação tem a exata noção do papel que protagonizamos. E esse é, também, mais um combustível que nos alimenta. Sabemos que somos observados, que nossas decisões viram tendências no espetáculo, e isso nos enche de vaidade - a boa - para continuarmos nos dedicando e sendo a principal referência no Carnaval. Muitos poderiam ter se acostumado a essa trajetória gloriosa e perdido a aceleração estranha do coração e o frio na barriga que a gente sente ao entrar na Marquês de Sapucaí para iniciar mais um Desfile. Mas, para minha alegria, nenhum de nós da Beija-Flor de Nilópolis perdeu a capacidade de se emocionar e vibrar a cada Desfile, a cada aplauso e aceno carinhoso do público. Aproveito para destacar, mais uma vez, a importância que meu irmão Anízio tem na construção de tudo isso que chamamos de Beija-Flor de Nilópolis. Seu trabalho, regado a muito amor e dedicação, é que tem sido o grande exemplo para todos nós, definindo rumos, aparando arestas e construindo uma obra monumental que me enche de orgulho. Inegavelmente é assim que se faz o maior espetáculo popular da Terra: com trabalho e emoção. Espero que aproveitem o que preparamos para vocês nesse Carnaval. Bom Desfile a todos.

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Mineirinho Genial!

Nova Lima - Cidade Natal. Marquês de Sapucaí - O Poeta Imortal! Abriu-se a cortina do tempo Emoldurando a história a Beija-Flor ôôô De Nova Lima à poesia se fez Na genialidade do marquês Nasceu em Congonhas de Sabará O mais puro ouro das Minas Gerais Atravessou o mar, no afã de conquistar Conhecimento em terras lusitanas Brilhou aos olhos da lei, Formou-se bacharel Fiel à nação, enfim regressou A saudade apertou Ecoou um brado de resistência Ao longe se ouviu a voz da Independência Pelo Brasil, impera felicidade Já raiou a liberdade Um homem de real valor Um vencedor na estrada da vida Em seu legado a primasia Na gratidão que herdaria Poeta, músico, escritor O mineirinho que o Rio imortalizou Teu chão floresce a nobreza pro samba passar Um templo sagrado a luz do luar Apoteose de todo sambista Artista! Herdeiro verdadeiro de Ciata Que hoje te abraça aos pés da praça Em mais um Carnaval Sou Beija-Flor, na alegria ou na dor A Deusa da Passarela é ela! Primeira na história do Marquês Que na Sapucaí é soberana De fato, nilopolitana Autores: Marcelo Guimarães, Sidney de Pilares, Manolo, Jorginho Moreira, Kirraizinho e Diogo Rosa.


No ano em que a agremiação nilopolitana comemora 40 anos da conquista do título de campeã do Carnaval carioca com o enredo “Sonhar com rei dá leão”, a revista Beija-Flor de Nilópolis vai ao encontro do patrono e benfeitor da agremiação, Anizio A. David, para uma conversa informal sobre a conquista do título de 1976 e outros assuntos relacionadas à escola de samba que Anízio transformou em uma poderosa marca, conhecida e respeitada em todo o mundo.

Revista Beija-Flor de Nilópolis – Nesse ano a Beija-Flor comemora os 40 anos da conquista do título que coroou a revolução estética e conceitual que estava sendo iniciada no universo do Carnaval, com o enredo “Sonhar com rei dá leão”. Como realmente surgiu a ideia do enredo? Anízio A. David – Esse enredo foi criado por mim e por Nelson, meu irmão, para falar do Natalino Nascimento, o Natal da Portela, que era banqueiro do Jogo do Bicho no subúrbio e patrono da Portela. Lá em Madureira ele era querido e admirado por todos. Uma pessoa humilde e de bom coração – ajudava todo mundo que precisava. Ele foi o primeiro grande patrono de uma escola de samba, transformando a Portela em uma força do Carnaval. Queríamos fazer essa homenagem a ele. Marcamos uma reunião com o dr. Hiram Araújo, que era diretor cultural da Portela e o Amaury Jório, que era o presidente da Associação das Escolas de Samba para conversarmos sobre essa ideia e se ela teria uma boa aceitação da família e da Portela. Na reunião estava também o filho do Natal, o Mazinho. Durante a reunião apresentamos nossa ideia e eles a acharam ótima. Nesse mesmo tempo, o Joãozinho Trinta havia saído do Salgueiro e queria trabalhar na Beija-Flor, porque sabia que eu e meu irmão estávamos trabalhando para fazer da BeijaFlor uma grande escola de samba. O João vinha de um título no Salgueiro, e consideramos que ele teria muito a contribuir conosco. Acertamos com o João, mas ele queria usar um enredo dele. Eu disse que já tinha compromisso com esse enredo e teria que ser esse “Natal, o homem de um braço só”. João disse que queria estudar essa ideia e pediu 48 horas para ler o enredo. Quando ele voltou, disse que o enredo que havíamos lhe apresentado era ótimo, mas que queria sugerir uma mudança. Achava que o título “Sonhar com rei dá leão” era mais forte e poderia tratar do Natal e do Jogo do Bicho com mais liberdade. Eu achei que era uma sugestão válida e acabamos seguindo a recomendação do João. A escolha do enredo foi uma ousadia, mas deu certo. E naquele dia, começamos a mudar a história do Carnaval. 12

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RBFN – Sim. Naquele dia tudo começou. Mas depois da definição do enredo havia ainda um longo caminho a seguir, não é? Anízio – É verdade. Eram outros tempos. Além de não termos muitas novas referências porque ainda não existia esse intercâmbio de informações que existe hoje graças à internet, não existia uma variedade muito grande dos produtos e acessórios que utilizaríamos no Desfile. Então a criatividade teve que ser muito grande. O João tinha uma vivência de Teatro Municipal, onde ele via muita coisa diferente. Isso foi muito importante para as mudanças que a Beija-Flor ia colocar na Avenida. Tínhamos montado uma equipe forte, com o João Trinta e o Viriato Ferreira, que era um figurinista de primeira linha. Tínhamos o Laíla, que domina harmonia e conduz a comunidade como ninguém. Mas tínhamos muito trabalho pela frente. Para você ter uma ideia, naquela época não existiam os Barracões do Cais do Porto, nem a Cidade do Samba. Nós tínhamos que construir e montar os carros alegóricos em Nilópolis e cruzar a Via Dutra em direção ao Centro do Rio para desfilar. Imagina a dificuldade de, em pleno verão, sair de Nilópolis e cruzar a Dutra com os carros alegóricos? Não era moleza não. E a gente ainda enfrentava, uma vez ou outra, a pressão da Polícia Rodoviária e da Militar, que encrencavam com o fato de estarmos na Avenida Brasil ou na Via Dutra conduzindo os carros alegóricos montados. Eram outros tempos. Hoje temos uma infraestrutura, dada pela Prefeitura da Cidade, pelo Governo do Estado e pela Liesa, que nos dá livre acesso às áreas que precisam ser utilizadas pelos carros alegóricos. Basta lembrar que, atualmente, as vias por onde deverão passar os carros alegóricos em direção à Sapucaí ficam todas bloqueadas para a circulação pública. Só os carros alegóricos que passam por ela. RBFN – O trabalho foi realizado e a Beija-Flor de Nilópolis se apresentou no Carnaval carioca. E surpreendeu. E conquistou o título de Campeã. Você ficou surpreso com o título, Anízio? Anízio – Eu tinha muita confiança na capacidade da minha escola. Uma certeza de que eles eram capazes de apresentar um excelente desfile. Além do João, do Viriato e do Laíla, nós tínhamos uma comunidade forte:

tínhamos uma grande bateria, uma ótima comissão de frente, éramos bons em harmonia e evolução. Fizemos um grande investimento na Beija-Flor para que o desfile dela fosse impecável. Apesar disso, não há dúvida de que o título foi uma surpresa, porque nossos planos eram de trabalhar para que o título de campeão chegasse, mas ele veio antes do esperado. Mas nós sabíamos o que tínhamos em “casa”, e vi que poderíamos ser campeões durante o desfile. Foi tudo dando certo quando a escola entrou na avenida. Aí passamos a acreditar que poderia dar certo. E deu. RBFN – Anizio, uma outra questão que contagiou o público foi o samba enredo, interpretado pelo jovem Neguinho da Vala – o Neguinho da BeijaFlor. E olha que naquele ano a safra era forte, com sambas como “Sertões”, “Lenda das sereias – Rainha do mar” e “Mãe menininha do Gantois”. Anízio – Nosso samba era popular. Samba fácil de cantar e que as pessoas pegavam rápido e gostavam. O samba era uma brincadeira – “Sonhar com filharada... é o coelhinho. Com gente teimosa, na cabeça dá burrinho. E com rapaz todo enfeitado O resultado pessoal... É pavão ou é veado”... mas o enredo também era muito popular e criou uma rápida identidade com o público, afinal, o Jogo do Bicho sempre foi um jogo de família, no qual as pessoas se reuniam, gastavam um dinheirinho de nada e ficavam torcendo juntos. Então era um jogo que muita gente jogava. Uma coisa que todos gostavam. Então quando o público viu aqueles carros alegóricos, grandes, relacionados com uma prática do seu cotidiano, como o do casal na cama que dorme e sonha em busca de inspiração, ele ficou empolgado e contagiado pela Beija-Flor. RBFN – A partir do “Sonhar com rei dá leão” a escola não parou de crescer, não é Anizio? É fácil tocar toda uma estrutura como a da Beija-Flor? Anízio – Quando eu e Nelson chegamos para botar a Beija-Flor entre as grandes, a gente já conhecida bastante a escola. Sou frequentador desde pequeno. A escola nasceu em um terreno ao lado da casa da minha mãe e por isso, desde garoto eu vou aos encontros que aconteciam na escola – que no começo era um bloco de carnaval. Então não foi tão difícil como pode parecer. As pessoas que amavam a Beija-Flor viram que nós estávamos querendo valorizar a Fevereiro 2016

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escola e dar a ela um lugar de destaque. Então todos, praticamente, nos receberam bem e se juntaram a nós para fazer essa revolução. Os poucos que não gostaram da nossa chegada eram os que estavam acomodados e não faziam questão de contribuir para a escola crescer e se tornar uma grande escola de samba. E nos dias de hoje a situação é melhor, porque temos condições de montar uma equipe de administradores profissionais, além de todos os componentes serem leais à Beija-Flor. De minha parte, sou uma pessoa sempre presente na escola, na quadra e nos ensaios. Trato todos com respeito, e isso dá resultados. Para mim, todos os presidentes das agremiações deveriam se aproximar mais de sua comunidade. Mas uma coisa que queria destacar é que o título do Carnaval com “Sonhar com rei dá leão” teve um papel muito mais importante do que as mudanças estéticas e conceituais já conhecidas e faladas aos quatro ventos. Uma coisa que as pessoas não prestaram a atenção – mas as agremiações sim – é que quando conquistamos o título com aquele Carnaval belíssimo e contagiante, desbancando as chamadas “quatro grandes” escolas que praticamente se revezavam na conquista dos títulos de campeã do Carnaval, levamos uma mensagem a todas as demais escolas de que era possível escolas com menos tradição conquistarem seus títulos. Fomos a primeira a furar o bloqueio dessas quatro grandes escolas. Fomos inspiração para as demais agremiações, que a partir do nosso título, começaram a preparar seus desfiles com mais confiança na vitória.

foi assim. Quis ajudar a dar dignidade ao sambista. Fui lá e fiz o que tinha que ser feito. Quis ajudar a fazer o Carnaval um espetáculo forte e respeitado. Fui lá e fiz o que tinha que ser feito. Por isso as pessoas gostam de mim. Eu não fico de conversa fiada - faço o que tem que ser feito. Em relação ao carinho que a comunidade de Nilópolis e da Baixada Fluminense têm por mim, acho que por eu estar sempre preocupado em ajudar as pessoas da melhor maneira possível, em colocar elas pra cima, acho que elas se sentem valorizadas. E isso serve para a comunidade Beija-Flor. Eu sempre tento incentivar e tirar o melhor da minha comunidade. Cobro o que tenho que cobrar e elogio o que tenho que elogiar. Sempre vou aos ensaios e falo com todo mundo. Trato todos bem. Vejo todo mundo de maneira igual. E tem que ser assim, tem que ver todo mundo como igual. RBFN – Anízio, gostaria de deixar uma mensagem final para nossos leitores, para a comunidade do samba, do Carnaval e para a comunidade Beija-Flor? Anízio – A primeira coisa que quero falar é sobre os nossos sonhos. Todos devem sonhar e trabalhar pela realização dos sonhos. É uma caminhada cheia de pedras e decepções, mas a gente não deve nunca deixar de trabalhar em favor da realização desses sonhos. Depois que eles são realizados, eles acabam dando motivação para a nossa vida. Muita gente na minha idade perdeu a vontade de realizar. Eu, com quase 80 anos, encontro na Beija-Flor e nos trabalhos sociais que ajudo a manter, minha motivação para não desanimar, não parar. Cada título, cada sorriso, cada aperto de mão ou abraço me contagia e me dá força para continuar realizando. Então acho que a mensagem mais importante é essa: sonhem e trabalhem para a realização dos seus sonhos. Quero me despedir, lembrando a todos que participam do mundo do samba e do carnaval que o trabalho que realizam é muito importante. Através do samba e do carnaval, levamos ao mundo a nossa cultura e os valores que temos. Para minha comunidade Beija-Flor, o que posso dizer? Amo vocês.

RBFN – Anízio, você tem se tornado um mito no universo do Carnaval. Seja pelas lutas que travou em favor do espetáculo e do sambista – e que se tornaram conquistas –, seja pelo carinho que desperta nas pessoas, principalmente nos componentes da Beija-Flor. Qual é o segredo, Anízio? Anízio – Não há segredo. Quem me conhece sabe como sou. Respeito as pessoas, não faço distinção delas por cor, religião, condição financeira, time que torce, nada. As pessoas merecem e precisam ser respeitadas como são. E eu faço isso. Na minha vida, tenho feito muitos amigos, porque todos eles sabem que quero o bem de todos. E se preciso fazer algo Entrevista realizada por Hilton Abi-Rihan, Ubiratan para ajudar alguém, eu faço. No Carnaval Guedes e Ricardo Da Fonseca. 14

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Nova Lima – Cidade Natal. Marquês de Sapucaí – O Poeta Imortal

Grandes ideias costumam surgir em conjunto. Assim brotou a proposta para o enredo do carnaval da Beija-Flor deste ano. “Mineirinho Genial! Nova Lima – Cidade Natal. Marquês de Sapucaí – O Poeta Imortal” nasceu de um pontapé inicial de um apaixonado pela Beija-Flor de Nilópolis, Pedro Dornas, e um ritmista da agremiação, Gláucio Magalhães. “Demonstramos interesse em apresentar essa ideia inicialmente ao amigo, até então diretor de ala, Roberto Mangueira. Satisfeito com a ideia, Roberto nos colocou em contato com o diretor geral de carnaval e harmonia da Beija-Flor, o Laíla. Depois de conversarmos sobre o enredo, encaminhamos ao Laíla um e-mail com uma breve síntese da biografia do Marquês de Sapucaí para ele analisar o grau de interesse da escola”, relata Gláucio. Pedro lembra como foi a resposta da agremiação nilopolitana: “Foi super positiva. Acreditaram na ideia e tiveram sua criatividade aguçada, talvez pelo fato de há tanto tempo desenvolverem brilhantes histórias na Marquês de Sapucaí e terem percebido quão brilhante seria ter como pano de fundo do seu carnaval, o Marquês de Sapucaí” pontua. A sugestão de enredo foi muito bem recebida por Laíla, que se interessou tanto pela ideia que foi até Nova Lima, em Minas Gerais, 16

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saber mais sobre o Marquês de Sapucaí. Na cidade mineira, o diretor de harmonia da Beija-Flor conversou com Nancy Maura Couto Konstantin, autora de um trabalho sobre o Marquês, publicado pelo Instituto Histórico e Geográfico Alto Rio das Velhas. Nancy ficou responsável por passar para Laíla informações mais detalhadas sobre o Marquês de Sapucaí. “Laíla veio até Nova Lima e nós almoçamos juntos. Nessa conversa, destaquei a importância do Marquês para a história do Brasil e como a Beija-Flor estava querendo fazer um enredo cultural, Laíla ficou muito interessado em pôr essa ideia na Avenida. Fomos até a prefeitura e lá o prefeito disse que apoiava a ideia, mas que, por conta dos problemas que Minas Gerias e o Brasil vêm passando (o rompimento das barragens em Mariana e a falta de recursos para investimentos), não poderia ajudar financeiramente a escola”, relembra Nancy Couto, em palavras que se afinam ao que Laíla relatou dias antes: “Eu fui à Nova Lima após o contato com Gláucio, que é ritmista da Beija-Flor e toda semana vem de Minas para o Rio para ensaiar com a gente. Ele falou, ao meu filho Luiz Cláudio, que achava que o Marquês de Sapucaí dava um bom enredo. Isso me interessou bastante, www.beija-flor.com.br


pois pouca gente sabe a história do homem que dá nome a uma das avenidas mais famosas do mundo, onde acontece o maior espetáculo popular a céu aberto do planeta. Junto com meu filho partimos para a cidade de Nova Lima. Encontrei Gláucio e Pedro em Belo Horizonte e de lá fomos para a cidade encontrar a Dona Nancy Couto. Conversei com ela, que me passou a história do Marquês e fiquei apaixonado. Falamos com o prefeito que nosso enredo seria sobre o Marquês de Sapucaí e sobre o município de Nova Lima. Sabíamos que o município não poderia contribuir com recursos financeiros, mas decidimos fazer mesmo assim, pois a ideia

o trabalho de pesquisa foi uma delícia porque é um enredo de cunho histórico-cultural, o que para nós é maravilhoso. São informações que a gente leva para a vida inteira e aproveita a grande visibilidade do desfile para levar esse tipo de informação para as pessoas. É um enredo biográfico e o Marquês de Sapucaí é um personagem incrível, que precisa ser conhecido melhor por todos. Ele foi o grande executivo do Império e desempenhou inúmeros cargos na vida pública neste período que o Brasil era colônia de Portugal. Ele foi o mestre preceptor do príncipe, das princesas e também conselheiro do Rei Dom João VI, D. Pedro I, II. Portanto, várias medidas

Laíla e sua equipe: Bianca, Wlad, Rodrigo, André, Cristiano, Fran, Victor, Adriane e Cláudio.

nos conquistou e já sabíamos que daria um enredo maravilhoso. O Marques de Sapucaí foi um personagem de enorme importância na história do Brasil e esteve presente em muitas decisões importantes que alteraram o rumo da história do país. Não tive dúvidas de que visitar essa página pouco destacada da nossa história nos permitiria apresentar um grande carnaval, inclusive aproveitando esses tempos de crise política, pois a história do Marquês traz uma mensagem positiva de homem público de caráter e exemplo a ser seguido.” MÃOS À OBRA Após a definição da escolha do enredo, começou o processo de criação do desfile, iniciado pela pesquisa, realizada por Bianca Behrends e Cláudio Russo. Bianca conta um pouco como se deu esse trabalho: “Na verdade,

imprescindíveis para aquele período do Brasil Imperial foram estimuladas por ele para que a Colônia prosperasse. Seu papel também foi essencial no processo do ciclo do ouro - ele que era mineiro, de Congonhas de Sabará (hoje Nova Lima)”, relata a pesquisadora. “Acho que o grande diferencial é que é um enredo autoral. Um enredo que resgata um grande personagem da nossa História. Poucos conhecem a História dele. Inúmeras vezes, as pessoas passam pelas ruas e avenidas e se perguntam porque foi dado o nome daquela pessoa aquele logradouro. E nós, que somos do Carnaval, sempre nos perguntávamos quem era o Marques de Sapucaí. Então o diferencial é resgatar esse personagem, é trazer um enredo autoral - que hoje é muito difícil. Acho que a Beija-Flor vem diferente, vem bem tradicional, mostrando um Carnaval Fevereiro 2016

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de um tempos atrás, coisas que não estão fazendo agora, mas que vai surtir um grande efeito visual pra gente”, destaca Claudio Russo. Laíla é ainda mais incisivo: “muito sambista não sabe o porquê da Marquês de Sapucaí ter esse nome. Desvendar essas histórias e mostrar um pouco mais de quem foi esse homem é de suma importância para a afirmação do brasileiro, especialmente nos dias em que vivemos, em que políticos desonestos estão desacreditando a profissão e a nação, fazendo parecer que não é possível que o jogo político seja exercido com honestidade: o Marquês foi um grande político, de convicções nacionalistas, um intelectual amante das nossas coisas, um poeta, compositor e músico. As várias facetas do Marquês de Sapucaí é que serão levadas pela Beija-Flor para a Avenida”. Após a pesquisa vem a execução das ideias, a preparação para botar o bloco na rua, ou melhor: a escola na Avenida, com a concepção das alegorias, das fantasias e dos nomes das alas. Esse ano, segundo o carnavalesco André Cesari, membro da comissão de carnavalescos da agremiação, “vamos levar para a Avenida uma escola com características peculiares, diferente da que foi o ano passado – mas sem perder o luxo, o acabamento, a beleza plástica. No ano passado, era um enredo africano, então tinha suas cores, suas formas. Este ano o enredo traz um pouco da história do Brasil, então vamos utilizar roupas mais leves, cores no azul e branco, mas em tons mais diversificados, setores bem definidos, vermelho, verde, mas sem perder as características da escola, que são sua força. Nas alegorias também teremos formas mais definidas, com um design mais determinante. Vamos fazer um grande quadro de fantasias e alegorias para esse Carnaval. Mas a surpresa, como diria Joãozinho Trinta, só surge com a escola desfilando. Afinal, você nunca sabe o que pode acontecer. (risos) A escola vai impactar pelo enredo porque ninguém imaginaria – e essa é a função da escola de samba, esse poderoso veiculo de cultura do nosso País – tirar do baú a história de quem dá nome a uma avenida que é uma das mais conhecidas do mundo. Quem foi esse homem? Essa é a grande surpresa! Marquês 18

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de Sapucaí não é só festa, foi um político exemplar, um brasileiro que tentou fazer tudo que ele pôde para exercer com dignidade seu papel de homem público. Hoje, ele é a nossa inspiração”, pontua. “Sim. A atmosfera que o enredo trouxe para o barracão e a quadra é de muita inspiração. E se hoje o Marquês é a nossa inspiração, tenho certeza de que durante o desfile da Beija-Flor, o público vai se contagiar com essa energia que nossos componentes vão levar, e que só o carnaval carioca é capaz de transmitir. Mas não se engane quem pensa que a inspiração surge do acaso. Aqui na escola todos trabalham muito. Desde a Comissão de carnavalescos, a equipe do barracão (ferragem, marcenaria, ateliers, escultura etc.) chegando à equipe da quadra (ensaios de bateria e alas de comunidade), há muito trabalho, alimentado por um profundo sentimento de amor à Beija-Flor.” Com essas palavras, o carnavalesco Fran Sérgio, membro mais antigo e constante da Comissão de carnavalescos, dá o caminho das pedras trilhado pela agremiação, antes dos desfiles de carnaval. Confiante no trabalho que vem sendo desenvolvido com os componentes da agremiação, Fran Sérgio, que completou 35 anos desfilando pela Beija-Flor (22 deles trabalhando no barracão), fala com conhecimento de causa – conhecimento, aliás, que o premiou com a função de coordenação da parte criativa do desfile: ”Hoje em dia, todo o trabalho criativo do barracão é coordenado por mim. Sou arquiteto e carrego uma ampla experiência em carnavais, trabalhando nesse universo desde muito cedo. E estou feliz em ser reconhecido pelo seu Laíla e por toda a equipe da escola, pois esse reconhecimento é resultado de muito trabalho, foco e profissionalismo que aprendi aqui dentro da Beija-Flor com importantes mestres, dentre eles, o próprio Laíla e o Sr. Anízio. O resultado do trabalho dessa equipe é apresentarmos na Avenida um carnaval muito bonito, elegante, já apoiado em conceitos que temos adotado em outros anos, mas com modificações, que são, também, evoluções do carnaval da Beija-Flor”, finaliza o artista. www.beija-flor.com.br


A ALMA DE TODOS OS ENREDOS Alegorias e fantasias prontas, é a vez da alma dos desfiles darem vida a esse cenário. E é o Victor Santos, membro da comissão de carnavalescos, que destaca esse aspecto: “independente de enredo, fantasias, carros alegóricos, não tenho dúvida de que o grande diferencial da Beija-Flor é a nossa comunidade. A forma como nossos componentes entram na Avenida... Analiso e estudo vários desfiles. E o que essa escola tem de tão diferente assim? Logo que voltei para a agremiação, vi que é isso mesmo: é a gana da comunidade quando entra na Avenida, confiante com a possibilidade do título porque acompanhou a evolução da escola durante os ensaios na quadra de Nilópolis. É esse povo sim, esse contingente humano da Beija-Flor – que chamará sempre a atenção do grande público, dos jurados e dos apreciadores do samba e do carnaval. Unir esse povo emotivo, comprometido e sensível, com um enredo poético como o que vamos levar para a Avenida, será fantástico! O

Marquês tem um lado artístico fortíssimo. Me emocionei muito com a poesia que ele escreveu para a filha, que tinha plantado um canteiro de violetas e morreu antes delas florescerem (sua filha morreu muito nova, com oito/nove anos de idade). O Marquês colheu as violetas e as levou ao tumulo da sua filha e escreveu uma poesia absolutamente maravilhosa, sensível, bela, e de uma coragem ímpar, de expor o sofrimento que sentia. Desenhei o carro que representa ele como poeta, o carro da “Inspiração”, que criei movido por esse sentimento de admiração desse aspecto do Marquês. E volto a dizer que a união de um enredo como o que iremos apresentar a um elenco de comunidade valoroso como o que temos, incluindo Selminha e Claudinho, Neguinho, Laíla e tantos outros, é a certeza de um espetáculo que realmente irá marcar o Carnaval. Tenho certeza de que faremos um lindo e emocionante espetáculo. Convido a todos a se emocionarem com a Beija-Flor de Nilópolis”. Reportagem produzida por Felipe Lucena.


CÂNDIDO JOSÉ DE ARAÚJO VIANA O MARQUÊS DE SAPUCAHY Walter G. Taveira

Cândido Viana, o Marquês de Sapucahy nasceu no município de Congonhas de Sabará, hoje Nova Lima, ao sul de Belo Horizonte. Após diplomar-se como Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra em 1821, retornou ao Brasil para exercer sua profissão. Em 1823 foi eleito Congressista por Minas Gerais tornando-se membro do grupo encarregado de escrever a Primeira Constituição Brasileira. Em 7 de maio de 1827 foi nomeado Juiz do Tribunal de Recursos em Pernambuco e em 13 de novembro de 1826, nomeado por D. Pedro I Presidente da Província de Alagoas com o propósito de impor a paz no cenário político local, em cuja tarefa ele obteve sucesso e mereceu os aplausos da população. Neste particular são atribuídas ao Imperador as seguintes palavras: “Bem, se ele pacificou uma província irá pacificar outra”. Em 17 de setembro de 1828 foi nomeado Presidente da Província do Maranhão, então profundamente agitada. Novamente bem sucedido, ele transmitiu o cargo ao seu sucessor em 29 de novembro de 1831. Inquestionavelmente Cândido Viana teve desempenho relevante na manutenção da unidade do vasto território nacional. Em 1832 tornou-se Juiz do Tribunal de Recursos na Bahia e poucos meses depois foi nomeado pela Regência, Ministro de Estado da Fazenda e, cumulativamente, Ministro da Justiça. Como Ministro da Fazenda descontinuou o padrão monetário e promoveu o ajuste dos meios de pagamento, resgatou o padrão do cobre - um resíduo da era Colonial - substituiu as Notas Bancárias por Apólices do Tesouro e fixou o preço de referencia do ouro em R 2$500 (dois mil e quinhentos réis) 20

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por 1/8 de onça. Este último ato viabilizou a extração de ouro em rocha no país, revitalizando a já combalida mineração tradicional. Quando Viana deixava o Ministério, em 1834, a companhia britânica Saint John Del Rey Mining Co. Ltd. (Mineração Morro Velho) iniciava suas atividades de mineração de ouro em Congonhas de Sabará, sua terra natal. A lavra de ouro foi, finalmente, descontinuada em Nova Lima em 2002, mas continua na vizinha cidade de Sabará, sendo o refinamento ainda mantido em Nova Lima, hoje sob propriedade da empresa sul africana Anglo Gold-Ashanti Ltda. Nunca existiu em todo o mundo uma atividade contínua de mineração de ouro que durasse 173 anos e que assegurasse tantos empregos para a população local. Estima-se média de 6.000 empregos ao longo dos 173 anos. Após deixar o Ministério foi nomeado procurador do Tesouro Público Nacional. Em 1837 ele deixou o Partido Liberal Moderado e filiou-se ao Partido Conservador. Em 1838 foi eleito Presidente da Câmara dos Congressistas. Em 11 de janeiro, foi nomeado professor de Literatura e Ciências Positivas de D. Pedro II e de suas irmãs e mais tarde selecionado como mestre das Princesas D. Isabel e D. Leopoldina. Ele foi um dos mestres que tornaram Dom Pedro II o mais culto monarca do universo em seu tempo. Foi membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil inaugurado em 1839 www.beija-flor.com.br


e em 1845 eleito seu presidente, posição na qual ele se manteve até o final de sua vida. Deixou o Senado em 23 de março de 1841 para assumir a posição de Ministro e Secretário de Negócios do Império, ministério esse que fora criado prevendo-se a declaração de maioridade de D. Pedro II. Nesta posição, no ano seguinte, liderando o Conselho de Ministros levou ao Imperador uma exposição de motivos justificando proposição de fechamento da Assembleia do Império, cuja maioria de deputados não representava legitimamente o povo, em razão de fraude nas eleições de 1840. Dito fechamento teria sido a razão maior da eclosão da Revolução Liberal envolvendo Minas Gerais e São Paulo. Ainda no mesmo ano de 1842, ele promoveu a Reforma Postal Brasileira através dos Decretos 254 e 255, ambos de 29 de novembro de 1842. Viana renunciou ao cargo, por razões políticas, em 1843, antes do início de circulação dos Olhos de Boi, cuja Ordem de Serviço fora por ele assinada. Em 5 de dezembro de 1842, na qualidade de Grande Mestre do Grande Oriente - posição anteriormente ocupada por D. Pedro I - ele tornou-se presidente de um dos dois grupos maçônicos então existentes. Aproximando-se do presidente do outro grupo, João Vieira de Carvalho, Marques das Lages, ele promoveu a unificação da Maçonaria. Apoiado pelo Marques das Lages, a quem fora oferecido o direito de primeira recusa, Viana foi então alçado a mais alta posição existente na Maçonaria, acumulando os títulos de Chefe e Grande Comendador Honorário. Tornou-se presidente do Senado de 1851 a 1853. Também veio a ser Ministro da Suprema Corte de Justiça na qual ele apo-

sentou-se em 12 de setembro de 1860. O Imperador Pedro II agraciou-o com o título de Visconde e em 15 de outubro de 1873 o mesmo Imperador concedeu-lhe o título de Marquês. Em 20 de agosto de 1859 ele tornou-se Conselheiro Ordinário com atribuições nos Ministérios do Império e da Agricultura, Comércio e Serviços Públicos. Visitado em seu leito de morte pelo Imperador, dele se despediu dizendo: “Senhor, Vossa Majestade é verdadeiramente magnificente.” Faleceu em 23 de janeiro de 1875, com a idade de 82 anos, no Rio de Janeiro e foi enterrado no Cemitério do Catumbi. Era uma pessoa tímida apesar de tão bem sucedido ao longo de sua vida pública, Viana não tinha o dom da oratória. O Marquês foi também compositor e poeta. De suas poucas obras, a poesia “Violetas”, dedicada à sua filha precocemente falecida, notabilizou-o como poeta: VIOLETAS Da planta que mais prezavas, Que era, filha, os teus amores, Venho de pranto orvalhadas Trazer-te as primeiras flores. Em vez de afagar-te o seio, D’enfeitar-te as lindas tranças, Perfumarão esta lousa Do jazigo em que descansas, Já lhes falta aquele viço Que o teu desvelo lhes dava... Gelou-se a mão protetora, Que tão fagueira as regava... Desgraçadas violetas A fim prematuro correm... Pobres flores!... também sentem! Também de saudade morrem!

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RICARDO DA FONSECA Luiz Fernando dispensa apresentações. Hoje, o renomado Diretor de Carnaval e Harmonia da Beija-Flor de Nilópolis é uma unanimidade no carnaval: Laíla é o cara que mais entende de harmonia nesse universo, sendo difícil enganá-lo quando o assunto é Carnaval. Nessa entrevista, concedida a Revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida, Laíla esclarece questões importantes e opina sobre diversos assuntos do cotidiano carnavalesco. Leitura obrigatória.

Revista Beija-Flor – Os desfiles realizados pela Beija-Flor de Nilópolis têm sido, nas últimas décadas, os mais dispendiosos entre as escolas de samba do Grupo Especial. Quem acompanha as notícias que são dadas pelos carnavalescos da agremiação compreende que todo o processo de produção da escola é artesanal e com um acabamento meticuloso, o que justifica essa despesa mais elevada. Para cobrir esses custos, além dos recursos transferidos pela Liesa referente aos direitos de transmissão, a Beija-Flor conta com o apoio de empresários, como o Patrono da escola, o Anízio, e recursos advindos de enredos patrocinados. Esse ano, no entanto, além dos custos crescentes resultantes do realinhamento de preços da indústria, do comércio e dos prestadores de serviços, não houve patrocínio resultante do enredo. Como foi montar o desfile para o Carnaval de 2016? Laíla – Sabemos que dinheiro é necessário para se fazer um carnaval com a qualidade do nosso. Produzir um carnaval é uma ação complexa, que envolve muitos elementos, e todos eles devem ser tratados com muito profissionalismo e cuidado. Quando desenvolvemos, por exemplo, a decoração de nossas alegorias e fantasias, estamos atentos para o fato de que o público está bem próximo de nós, observando tudo na Avenida. Quando 22

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ele vê o cuidado com que nosso material é produzido e apresentado, ele entende porque nosso carnaval é mais caro. Não gastamos importando estrelas de Las Vegas ou da Disney. Gastamos produzindo estruturas de ferro seguras, fantasias duráveis, e decoração com elementos de qualidade. Por isso nosso desfile sempre contagia o público presente. Nós o respeitamos através desse cuidado com que temos com tudo que produzimos para o espetáculo – que é, em última instância, para eles. RBFN – Ok, mas você não respondeu minha pergunta. Como foi montar esse desfile? Laíla – Com todas essas despesas e a grana curta, nós pensamos em algumas saídas criativas. A primeira coisa que fizemos foi sentar e planejar os recursos que chegariam e as despesas que teriam que ser feitas. Nosso carnaval para esse ano foi projetado, então, tendo como base os recursos que são repassados à escola. Sabíamos que não seria fácil, mas tínhamos a certeza de que não chegaria ao ponto de impedir a realização do bom trabalho que sempre realizamos. Sempre levando em consideração a segurança do público e do componente, além da questão estética, iniciamos uma profunda busca de www.beija-flor.com.br


materiais e elementos alternativos, mais baratos, que pudessem atender nossa demanda. Com isso, não só encontramos novos materiais, como reforçamos mais uma vez o título de agremiação criadora de tendências, já que quando outras escolas souberam que estávamos realizando essas mudanças trataram de buscar, também, adquirir alguns desses produtos que “descobrimos”. Para reduzir os custos do nosso desfile, junto com a Comissão de Carnavalescos, também estudamos quais elementos poderíamos retirar ou reduzir das fantasias sem interferir nos conceitos estéticos e de qualidade que sempre nortearam a Beija-Flor. Foi assim que reduzimos o tamanho dos resplendores de algumas fantasias. Sabemos que o público espera que a Beija-Flor desfile pela Sapucaí com o mesmo luxo e empolgação de sempre, e por isso continuamos apostando alto na comunidade nilopolitana e no amor que ela dedica à agremiação. Por isso, toda e qualquer modificação que teve que ser feita não vai interferir na qualidade do nosso carnaval. Vamos botar pra quebrar!!! RBFN – O que quer dizer com “comunidade nilopolitana”? Laíla – Eu chamo de comunidade nilopolitana, todas as pessoas que nos ajudam a colocar a escola na Avenida. Se você for a um ensaio da Beija-Flor e perguntar, vai ver que muitos não são, necessariamente, de Nilópolis. E para mim, para seu Anizio e para a diretoria da escola isso não faz a menor diferença. São pessoas que moram nos municípios vizinhos, na Baixada Fluminense, no centro do Rio, até de outros estados, como é o caso do Gláucio, de Nova Lima, e que depositam um imenso afeto à nossa escola. É o amor que essas pessoas alimentam pela BeijaFlor que faz com que estejam semanalmente nos ensaios, aprendendo e treinando o samba enredo e as coreografias, para apresentarem na Sapucaí um espetáculo harmonioso e cheio de alegria. Posso afirmar, e sempre o faço, que eles são as verdadeiras estrelas da Beija-Flor. RBFN – Você é quem comanda, há anos, a produção do carnaval da escola. Coordenar um trabalho como esse, que envolve tanta gente, não é uma tarefa fácil. E se por um lado você é conhecido como o profissional de carnaval que mais entende de harmonia e carnaval, por outro lado muita gente comenta que você é rígido demais com seus componentes. Explica melhor essa história? 23


Laíla – Aqui é o meu trabalho. Eu sou pago para realizar esse meu trabalho com base em todo o conhecimento que adquiri nesses anos de carnaval. Não sou pago para ficar dando sorrisinhos. Nem para brigar. Só na avenida e pelo título (risos). O que as pessoas deveriam entender – e muitos entendem – é que preciso apresentar resultados. Trabalho sem medo. Não refugo, porque sei do meu potencial e de como posso ajudar a minha escola e meus componentes. Você nunca me verá fugindo da raia: eu vou a todas as reuniões que me chamam - aos ensaios de bateria, aos ensaios das alas da comunidade. Eu tenho que estar ligado a tudo o que acontece no carnaval. São obrigações do meu departamento. E do meu temperamento. Não estou aqui para brincar. Estou aqui para atender as expectativas do seu Anizio, da diretoria, dos meus componentes e do público que nos prestigia. Por isso não paro. Eu sei o que eu conheço de carnaval, e por isso, sempre participo das criações da bateria e das demais alas. E é importante que se entenda que eu gosto do que faço e faço tudo para que minha escola entre bem na Avenida. Algumas vezes a gente resolve as coisas na conversa. Outras vezes, a conversa é insuficiente. Então a gente tem que ser mais rígido e algumas vezes essa rigidez com o componente fere a sua vaidade, especialmente quando dou uma “chamada” em público, na frente dos demais componentes. Não há como chamar um a um para reservadamente passar as correções que devem ser feitas. Os ensaios são dinâmicos, são quentes. A gente fala, grita e gesticula. É assim que funciona, mas todos os componentes sabem que tenho um carinho especial por cada um deles, porque juntos, fazemos esse o carnaval da Beija-Flor, que é sempre digno de respeito. RBFN – Mas você marrento, não é? Laíla – Eu tenho que ficar atento a tudo, por isso eu tenho essa minha forma séria de trabalhar. Eu trabalhei com muita gente ao longo da minha história no carnaval, sei como as coisas podem ficar complicadas se não houver alguém para coordenar tudo com pulso mais forte. Sou marrento? Talvez. Mas quero ver aturar o que eu aturo, resolver o que eu resolvo. 24

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RBFN – E a Comissão de Carnavalescos? Está satisfeito com ela? Laíla – Foi uma das melhores coisas que criamos. Eu tenho uma Comissão de Carnavalescos formada pela Bianca, Cláudio, André, Victor e Fran, que me dá plenas condições de realizar o melhor trabalho aqui na Beija-Flor. Conto, ainda, na minha equipe, com a competência do Cristiano, do Rodrigo e da Adriane. E com a passar dos anos, o trabalho dessa equipe se afina e cada um vai encontrando e conquistando o seu espaço. Tenho tido grandes alegrias trabalhando com esse grupo. Hoje, eu tenho uma pessoa na comissão que eu tenho o maior orgulho: o Fran Sérgio. Eu não acreditei no Fran à toa, malandro! Quando eu voltei para a Beija-Flor, mesmo com todo o talento que tem, o Fran fazia trabalhos secundários. E ele é muito bom. Dos carnavalescos mais novos das escolas de samba, ele é o melhor. Afirmo sem medo de errar. E em relação à minha equipe, todos desempenham muito bem as suas tarefas com dedicação e profissionalismo - o que me deixa tranquilo para trabalhar. Sempre soube que não se faz Carnaval sozinho e aqui na Beija-Flor, temos uma equipe de qualidade, que trabalha muito bem em conjunto. RBFN – Essa “equipe de qualidade” inclui Comissão de Frente? A Beija-Flor durante muito tempo teve na Comissão de Frente uma engrenagem limitada, especialmente em termos de criação. E hoje? Laíla – Sim.Tive muitos problemas com as Comissões de Frente dos últimos anos. Não é fácil solucionar problemas em um segmento tão à vista do público, que pode fazer inflar a vaidade dos seus coreógrafos. Talvez seja esse o principal problema que as Comissões de Frente criaram para a Beija-Flor. Deixar que o estrelismo pessoal e a vaidade esteja acima dos interesses da escola, em termos de produção e criação é muito ruim, especialmente porque a vaidade faz com que a pessoa não enxergue o que está evidente, fazendo com que leve as críticas para o lado pessoal, gerando crises e conflitos entre o grupo – e muita fofoca e divisão, dois ingredientes perigosos para uma agremiação que quer ser campeã. Mas com o Marcelo Misailidis a coisa tomou www.beija-flor.com.br


outro rumo. Ele e sua equipe não me dão problema. Além de ser muito competente, ele é muito profissional, o que significa que ele está receptivo às críticas e sugestões ao seu trabalho. Marcelo foi uma grande solução para a nossa Comissão de Frente. RBFN – No desfile desse ano a Beija-Flor vem com uma novidade: a Velha Guarda sairá na frente da escola. Como vai ser isso? Laíla – Antes é preciso destacar a importância da Velha Guarda de uma agremiação de carnaval. Seus integrantes são a memória da escola. A conexão do passado com o presente. São pessoas que dedicaram seu tempo e parte da sua vida na construção da escola que hoje vemos. É assim com todas as Velhas Guardas, não só aqui na Beija-Flor. Essas pessoas são baluartes das suas escolas de samba, e por isso, merecem o nosso respeito e reverência. Dito isso, explico que nesse carnaval passamos a Velha Guarda para o início da escola porque os desfiles estão cada vez mais rápidos e muitas vezes seus integrantes, compostos por pessoas de mais idade, são obrigados a se esforçar muito nessa correria, para não prejudicarem a sua agremiação. Temos que acompanhar as evoluções do carnaval, mas com prudência. Os componentes da Velha Guarda são de mais idade e têm dificuldade de aguentar o ritmo que o carnaval vem tomando. Para ser sincero, tem muita gente nova que também não

aguenta essa pegada. Não é mole não. Com exceção do Cássio, aqui da Beija-Flor, que tem um fôlego danado, estou para ver quem aguenta cinco minutos de samba rasgado na Avenida. No passado tínhamos a Nega Pelé, a Narcisa, o Trio Pandeiro de Ouro, mas era um samba miudinho, mais cadenciado. Hoje é na porrada! Então, temos que dar aos integrantes da Velha Guarda, um lugar que reconheça o valor que têm e que permita que desfilem com menos pressão. É lógico que para isso acontecer, houve um planejamento para eles poderem desempenhar um bom papel, sem sacrifícios. E eles estão preparados para isso. No desfile desse ano, Baianas, Velha Guarda e Selminha serão as pepitas de ouro do nosso carnaval. E com toda a justiça do mundo, é o que elas são. RBFN – Com tantas conquistas e décadas de carnaval, você se sente realizado? Laíla – Profissionalmente, não me sinto realizado. Ainda tenho muita coisa para conquistar. Porque eu tenho muito que aprender com as pessoas com quem trabalho. Quero aprender até o dia da minha morte. Respeito todo mundo e sou respeitado no carnaval. Tão cedo não vou parar trabalhar, pois eu sei que isso me faria mal. Pretendo ainda dar muita coisa ao carnaval. RBFN – O que o público pode esperar do desfile deste ano? Laíla – Um grande carnaval. Espero um desfile maravilhoso e uma competição bem acirrada, com sambas fantásticos - escolhidos pelas comunidades. Aqui na Beija-Flor, temos que seguir trabalhando para fazer a nossa parte. Não gosto de dormir nos louros da vitória, trabalhamos duro para fazer sempre um grande carnaval e vamos fazer isso esse ano. Fevereiro 2016

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Mineirinho Genial!

Nova Lima - Cidade Natal. Marquês de Sapucaí - O Poeta Imortal!

“BARROCO MINEIRO”

DESFILE 2016

SETOR 01

Do Trabalho Escravo à Exploração do Ouro e o Esplendor do Barroco Mineiro

Barroco das Minas Gerais

Ala: Baianas Presidente: Luizinho Cabulosos Componentes: 80 Descrição: Apesar da influência inicial do Ala: Comissão de Frente Barroco europeu, a arte barroca no Brasil Presidente: Marcelo Misailidis assumiu características próprias, únicas, Componentes: 15 singulares. Graças aos traçados dinâmicos, à exuberância, pompa, grandiosidade e A Nobreza dos Enamorados tendência ao decorativo, conquistou uma Arlequim e Colombina originalidade peculiar, tendo o auge do Ala: 1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira Barroco Brasileiro ocorrido nas cidades Presidente: Claudinho Souza e Selminha mineiras do interior de Minas Gerais, na Sorriso época do Ciclo do Ouro. Componentes: 2

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No Lirismo de Tempos Atrás

Ala: Velha Guarda Presidente: Débora Rosa Componentes: 82 Descrição: Grupo de componentes com maior experiência no carnaval, a Velha Guarda é a memória viva da Escola de Samba. Guardiões da história da Agremiação, “valem ouro!”, pois são eles que salvaguardam o lirismo de tempos atrás, representando com nobreza, a máxima expressão de amor, respeito e devoção ao pavilhão nilopolitano. A Beija-Flor inova mais uma vez na Avenida. Na verdade, essa inovação é, também, um resgate de antigos desfiles de Carnaval. Laíla decidiu que em 2016, a Velha Guarda da Deusa da Passarela irá sair no início do desfile, puxando a apresentação da agremiação na Avenida, em conjunto com a Comissão de Frente e o primeiro casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira. E essa mudança tem um bom e justo fundamento, apontado por Laíla: “Temos que dar aos integrantes da Velha Guarda, um lugar que reconheça o valor que têm e que permita que desfilem com menos pressão. É lógico que para isso acontecer, houve um planejamento para eles poderem desempenhar um bom papel, sem sacrifícios. E eles estão preparados para isso. No desfile desse ano, Baianas, Velha Guarda e Selminha serão as pepitas de ouro do nosso carnaval. E com toda a justiça do mundo, é o que elas são”, afirmou o diretor de harmonia. A Velha Guarda da escola, principal interessada e envolvida na questão, não esperava essa mudança repentina.

Contudo, depois da emoção resultante das notícias inesperadas, a equipe respirou fundo e vibrou pelo importante reconhecimento concedido pela escola que defenderam e defendem as cores com muito orgulho: “Recebemos a notícia com surpresa. Estávamos acostumados a desfilar no final da escola, vendo ela passar e seguindo nosso ritmo. Nós sempre tivemos compromisso com a escola, mas nossa passagem pela avenida era um pouco mais light. Porém, isso não vai ser problema. Nos reunirmos com o Laíla e toda a ideia dele foi passada para nós. Ensaiamos, superamos nossas dificuldades e tenho certeza que essa ideia, que é muito boa, de resgatar raízes do carnaval, vai dar muito certo na Avenida” conta Débora Cruz, presidente da Velha Guarda da Beija-Flor. Essa novidade maior, que será a Velha Guarda à frente da escola, traz de carona mudanças menores mas que prometem influenciar os futuros desfiles das Velhas Guardas. Um exemplo são as fantasias que os componentes dessa ala irão vestir durante o desfile na Marquês de Sapucaí: “A roupa desse ano é diferente. Sempre entramos muito elegantes na avenida, ao nosso estilo. Porém, com essa alteração, continuaremos bem vestidos, mas com uma fantasia mais ligada ao enredo mesmo” diz Débora. Quanto à expectativa para o desfile, Débora é bem objetiva: “Vai dar tudo certo. Eu sei que vai. Somos a Beija-Flor, meu querido. E por amor a essa escola e respeito imenso ao público que nos acolhe e torce por nós, vamos fazer um belo desfile”.

Alegoria 01 – AbreAlas

Chefe de Alegoria: Cristiano Bara

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ORQUESTRA QUE DÁ SAMBA FELIPE LUCENA

A Orquestra Maré do Amanhã irá acompanhar a Beija-Flor no desfile deste ano. Serão 30 músicos de cordas na Sapucaí com a Deusa da Passarela. Laíla, diretor de Harmonia da agremiação de Nilópolis, conta como se deu o início dessa união: “Na verdade essa inclusão não é novidade. No carnaval sobre Bidu Sayão, nós já havíamos colocado violinos. Foi um carnaval que coube essa proposta, já que homenageava uma cantora lírica. Foi um sucesso na época. Incluímos no carnaval deste ano porque coube no enredo. Será um enredo histórico, que fala do Império, das grandes orquestras... Então resolvemos resgatar essa ideia. Vamos entrar na Avenida com 30 músicos de cordas, entre violinos e outros instrumentos” destaca.

Segundo Mestre Rodney, da bateria da Azul e Branco, a participação dessa garotada dará um colorido muito especial ao espetáculo da Sapucaí. “Você tem uma orquestra tocando dentro de outra orquestra – uma de percussão e outra de cordas. O Laíla foi muito feliz em ter essa ideia e inserir a orquestra da Maré no contexto do nosso desfile. Ficou muito bonito, tem sido demais. Inclusive, são todos tão profissionais que não houve nenhum tipo de dificuldade para nos harmonizarmos. Estamos muito bem ensaiados e, modéstia a parte, a bateria está muito bem. Os arranjos foram feitos pelo maestro Jorge Cardoso (produtor musical do CD dos sambas-enredos) e o maestro da Maré do Amanhã (Roberto Tibiriçá). Foi fácil fazer essa junção. Fiquei feliz demais por trabalhar com uma orquestra, apresentando um samba belíssimo e uma melodia riquíssima além de uma letra maravilhosa. É uma experiência única, que enriquece muito meu currículo. Trabalhar com uma orquestra desse quilate é uma honra muito gratificante.”

Mineirinho Genial!

Nova Lima – Cidade Natal. Marquês de Sapucaí – O Poeta Imortal! Mais uma vez, a Beija-Flor de Nilópolis se apresentará na Marquês de Sapucaí com um samba de alta qualidade. O time de feras que compôs o sambaenredo de 2016, formado por Marcelo Guimarães, Sidney de Pilares, Manolo, Jorginho Moreira, Kirraizinho e Diogo Rosa, foi recebido no Barracão da agremiação por J. Veloso, presidente da Ala dos Compositores.

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Do Trabalho Escravo à Exploração do Ouro e o Esplendor do Barroco Mineiro Comissão de Frente

“A comissão de frente da Beija-Flor traz um prólogo de abertura, tal como um sonho, como uma poesia feita de imagens” A Comissão de Frente é hoje uma das principais com seus valores, seu cotidiano e suas principais atrações do desfile de uma escola de samba. características que a evidenciam como únicas Aquela “Comissão de Destaques”, como era para o Brasil e para o mundo. chamada, formada por baluartes da Velha Do seu cotidiano, abordaremos aspectos do Guarda (mormente fundadores e personalidades trabalho escravo na exploração do ouro, base representativas da escola), que simplesmente econômica do Brasil Império, a partir da qual se saudava o povo e pedia passagem, ficou no fincaram importantes tradições da cultura afropassado. A primeira grande inovação, que brasileira. Para retratar seus valores, esta mesma transformou o quesito em atração, foi feita pela mão de obra, tratada e aqui representada, primeira bailarina negra do Teatro Municipal, Mercedes Baptista, que introduziu a dança como tração animal de trabalho, também foi clássica na já chamada Comissão de Frente, que responsável pela construção de igrejas e dos tem como função também introduzir o enredo grandes símbolos da arte Barroca, mundialmente e a escola e apresentá-los à plateia e ao júri. conhecida como “Barroco Mineiro”. Este universo De lá pra cá, nunca mais a Comissão de Frente abre literalmente as portas para apresentar um foi a mesma. E quando se fala em inovação, dos seus mais importantes representantes: a Beija-Flor prima pela criatividade. E o atual ‘o Marques de Sapucaí’, a quem este enredo coreógrafo da Beija-Flor, Marcelo Misailidis pretende desvendar. prima pelo ineditismo. E pela surpresa. E, neste Assim sendo, escolhemos símbolos e elementos caso, com certeza, o segredo é alma da surpresa que representam a região e o período histórico que irá encantar a todos. para contar a fábula da exploração do ouro Misailidis descreve seu envolvimento com e do trabalho duro representado pelo “carro o enredo do “Mineirinho Genial” e como de boi”, do anseio da liberdade do negro e trabalhou para montagem da Comissão de de suas manifestações culturais e religiosas Frente 2016, formada por 15 componentes, representadas pela “Igreja” e “o Beija-Flor”, que vão abrir alas para a escola passar: “Para caracterizado pelo apelo de sua pureza falar do Marquês de Sapucaí, mergulhei no e liberdade. E por último o pensamento imaginário das montanhas de Minas Gerais, no esplendor do Barroco Mineiro, terra do ouro e intelectual e artístico representado pelo nosso das pedras preciosas. Esta região que em meio a homenageado “o Marquês de Sapucaí”. Assim tantas riquezas e vocações artística e histórica, como Calderon de la Barca definia o barroco: não deixou a desejar quanto à produção de “O ser e o parecer, a vida é o sonho, e os sonhos grandes homens que orgulharam nosso país, e sonho são”, a Comissão de Frente da Beijapara retratar um dos seus mais ilustres filhos, Flor traz um prólogo de abertura, tal como um apresentamos um trabalho com um abrangente sonho, como uma poesia feita de imagens que espectro de tudo que esse quadro nos inspira por si só se justificam”.


RICARDO DA FONSECA

O Desfile de Carnaval é um espetáculo de beleza e harmonia, no qual a explosão de cores, a alegria e a simpatia dos desfilantes contagiam o público nas arquibancadas, frisas e camarotes e se tornam, nesse complexo emaranhado de símbolos, elementos essenciais na apresentação de um desfile de qualidade. Não há dúvida de que um público empolgado e participativo, contagiado pela escola que desfila, influencia o desempenho da agremiação, dando um tempero extra ao Carnaval. É por isso mesmo que as agremiações devem estar atentas aos itens que atuam como elementos de aproximação e conexão da escola desfilante com o público presente. Aprendendo com a sua própria história, a Beija-Flor de Nilópolis não abre mão desses elementos, a começar pela plena valorização da sua comunidade, que desfila no chão, nos carros alegóricos e nas posições estratégicas de Rainha da Bateria e Mestre-Sala e PortaBandeira. Comunicar-se com o grande público é uma tarefa necessária. E é essa uma das razões pelas quais a BeijaFlor de Nilópolis tem iniciado seus desfiles, ao longo dos anos, com a presença irradiante do destaque principal Fabiola Oliveira David. Fabíola, que se juntou à agremiação nilopolitana a partir de um grande e feliz acaso, pode ser considerada, hoje, o primeiro elemento de conexão olho-a-olho do público com o Desfile da Beija-Flor de Nilópolis, como que se entre seus acenos e sorrisos para o público - exuberantes e generosos – estivesse convidando os foliões a receberem a 32

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escola naqueles momentos e a se conectarem ao Desfile durante a próxima hora. Símbolo da simpatia na Avenida, seu encontro com a Beija-Flor de Nilópolis se deu de uma maneira inesperada: essa carioca nascida no Jardim Botânico e moradora da Penha até o fim da adolescência, não fazia a menor ideia de que ao ser convidada para integrar um corpo de jurados em um concurso de modelo na cidade do Rio de Janeiro, conheceria o homem forte da agremiação nilopolitana – Anizio – que a convidaria para desfilar na agremiação. “Dois anos antes de conhecer o Anizio, o Joãozinho Trinta pediu ao Milton Cunha que contratasse um grupo de modelos profissionais para fazer um trabalho para a Beija-Flor no Marrocos. Fui uma dessas contratadas, mas nesse trabalho não tive a oportunidade de conhecer o Anízio, nem os diretores da Beija-Flor. Continuei minha carreira profissional até que, um dia, fui convidada para ser jurada de um concurso de beleza – concurso no qual, curiosamente, o Anizio também havia sido convidado. No meio do grupo de pessoas presentes ao concurso estava uma afilhada do Anizio que me conhecia e acabou nos apresentando. Algum tempo depois iniciei meu namoro com ele. Hoje, passados mais de vinte anos, tenho certeza de que Deus nos guiou para aquele momento, nos abençoando com uma vida feliz repleta de pessoas que nos querem bem – e das quais nós também queremos bem. E nos abençoando com dois filhos muito especiais: o Gabriel e a Micaela. Me sinto abençoada por muitas outras coisas também, www.beija-flor.com.br


como desfilar na Beija-Flor, escola de samba que tem a mais dedicada comunidade do mundo. Sou muito fã de todos eles. Admiro o esforço e a dedicação com que semanalmente participam dos ensaios e buscam, repetidamente, alcançar a perfeição possível para abrilhantar a escola na Avenida. São pessoas muito especiais que muito nos ensinam.” E é imbuída desse sentimento de aprendizado e colaboração que Fabíola declara seu compromisso com a agremiação na busca de mais um título: “Eu não tenho dúvidas de que a Beija-Flor é uma obra conjunta: cada componente tem um papel a desempenhar – um papel que, somado ao papel exercido pelos demais componentes, faz essa escola ser grande como é. Dou minha contribuição à Beija-Flor de diversas maneiras, entre elas desfilando no carro Abre-Alas, com alegria e empolgação. Todos sabem que fiquei dois anos sem desfilar. Nessa época, sempre que ia à Beija-Flor, os componentes vinham em minha direção e perguntavam qual o motivo de

eu não ter desfilado, se eu não desfilaria mais e muitos comentavam comigo a falta que sentiram de mim. Essa situação me encheu de orgulho e me motivou a querer voltar. Foi assim que essa parada tornou-se muito importante para mim: não só por ter permitido que visse como as pessoas sentiram a minha falta, mas principalmente por ter entendido melhor que cada ausência exerce uma fragilidade na escola. Isso me faz ter a certeza de que novos anos e títulos virão, e estaremos aqui, firmes e fortes, buscando apresentar ao público que nos acolhe um carnaval de qualidade. Esse ano resolvemos que não desfilarei no carro abre-alas e sim em um tripé colocado antes dele. A Micaela é que irá no meu lugar, em uma altura um pouco mais baixa do que as das últimas vezes. É uma nova mensagem que estamos prontos para transmitir ao nosso público – mas sem perder a alegria e o amor pelo desfile e pelo Carnaval.” Fevereiro 2016

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“O Mais Puro Ouro de Minas Gerais” SETOR 02

Bandeirantes Os Desbravadores da Terra

Ala: Comunidade Presidente: Beto Componentes: 80 Descrição: Bandeirantes é a denominação dada aos sertanistas do Brasil colonial, que penetraram nos sertões brasileiros em busca de riquezas minerais, sobretudo o ouro e a prata. As bandeiras em busca de ouro tiveram início com a descoberta do precioso metal nas chamadas Serras Gerais (hoje Estado de Minas Gerais), e se transformaram em uma atividade econômica de grande movimentação populacional e de capital.

Nova Lima – Cidade Natal

Ala: Comunidade Presidente: Claudio Armani Componentes: 80 Descrição: Nova Lima – anteriormente chamada Congonhas do Sabará – é um município situado na Região Metropolitana de Belo Horizonte, no Estado de Minas Gerais. É a terra natal de Cândido Cardoso Canuto da Cunha – posteriormente registrado sob o nome de Cândido José de Araújo Viana – nascido em 15 de setembro de 1793, e anos depois condecorado com o título nobiliárquico de Marquês de Sapucaí. Palco e cenário privilegiado de riquezas históricas, a cidade tem como lema a imagem de um leão, presente em sua bandeira e em seu brasão, e ainda, a expressão “tradição e trabalho”, palavras que descrevem perfeitamente a personalidade do Marquês.

A Fé Vale Ouro

Ala: Comunidade Presidente: Claudio Armani 34

Componentes: 80 Descrição: O enriquecimento provocado pela mineração e a forte religiosidade dos povos das minas favoreceram o desenvolvimento das artes em Minas Gerais. As primeiras capelas, repletas de ricos detalhes adornados em ouro, foram erguidas nos arraiais auríferos, e reuniam uma legião de fiéis e devotos, imbuídos de grandiosa fé e profundo respeito à Santa Cruz.

Mineração – Fausto e Riqueza

Ala: Comunidade Presidente: Claudio Armani Componentes: 80 Descrição: Cândido José de Araújo Viana é “de um tempo em que a riqueza da mineração conduzia metais preciosos, influência e homens letrados à Corte no Rio de Janeiro”. A riqueza das minas em pouco tempo transformou a região, com mudanças se fazendo notar também n o fausto da Corte, com nobres ostentando o


brilho dourado do mais nobre metal inclusive A Opulência do Ciclo do Ouro em seus trajes e acessórios luxuosos. Ala: Signus Presidente: Débora Rosa O Preço do Ouro Componentes: 80 Ala: Comunidade Ala: Vamos Nessa Presidente: Valéria Castro Presidente: Tuninho Componentes: 80 Ala: 1001 Noites Descrição: Dentre as louváveis atividades Presidente: Luiz Figueira exercidas por Araújo Viana enquanto Componentes: 100 Ministro da nação brasileira durante o Descrição: Através das medidas propostas período imperial, destaca-se a normalização por Araújo Viana, foi possível observar o que proporcionou aos sistemas de pesos restabelecimento da viabilidade econômica e medidas, através da efetivação de sua para os empreendimentos de exploração proposta de reestruturação das finanças, aurífera, o que em muito contribuiu para o resgatando a dívida do cobre, extinguindo as sucesso dos investimentos em Minas Gerais emissões bancárias de moeda e estabelecendo e para o fomento e opulência do Ciclo do o preço do ouro. Não obstante, criou uma Ouro. comissão para estabelecer a relação entre o sistema internacional e suas equivalências com o sistema brasileiro, foi responsável pela Alegoria 02 alteração do padrão monetário, e ainda pela reorganização da Casa da Moeda, tornando-a Chefe de Alegoria: Márcia Medeiros única do Império.


“Coimbra – Conhecimento em Terras Lusitanas” SETOR 03

Ajudante de Ordenanças do Termo de Sabará

Ala: Comunidade Presidente: Claudio Armani Componentes: 80 Descrição: Através de um despacho, o então príncipe regente (pouco depois rei) D. João VI, outorgou à Araújo Viana o cargo de Ajudante das Ordenanças do Termo de Sabará. Naquela época, Viana era ainda um rapaz muito jovem, mas já notava-se a extrema confiança e prestígio conquistados junto à Corte.

Universidade de Coimbra

Ala: Comunidade Presidente: Wanderson Bilchez Componentes: 80 D e s c r i ç ã o : Cândido José de Araújo Viana atravessou o mar no afã de conquistar conhecimento em terras lusitanas. Foi para Portugal, onde iniciou seus estudos jurídicos na Universidade de Coimbra, fundada em 1290 pelo Rei Dom Dinis. Durante sua permanência na conceituada universidade, conviveu com brilhantes espíritos, tendo por condiscípulos e amigos nomes conceituados à época.

Bacharel em Direito

Ala: Comunidade Presidente: Claudia Lúcia Componentes: 80 Descrição: Incansável www.beija-flor.com.br


em sua busca pelo saber, e constantemente ávido por novos conhecimentos, Cândido José de Araújo Viana se matriculou no curso jurídico da conceituada Universidade de Coimbra. Brilhou aos olhos da lei, conquistou boas notas e formou-se Bacharel em Direito. Foi aprovado com mérito e louvor por todos os seus professores em Procedimento e Costumes, Prudência, Probidade e Desinteresse, e em Merecimento Literário, deixando em Coimbra, uma bela reputação acadêmica.

Hora de Regressar A Saudade Apertou

Ala: Dá Mais Vida Presidente: Ana Mascarenhas Ala: Jovem Flu Presidente: Sérgio Ayub Componentes: 80 Descrição: Com o coração apertado de saudade, Araújo Viana decidiu que era hora de regressar de Portugal e exercer a advocacia. No Brasil, viu a vocação de jurista ganhar corpo, e a vida profissional, plena ascensão. Ocupou diversos cargos da magistratura, nos quais deixou impagáveis traços de operosidade e de inexcedível exação no cumprimento de seu dever.

Patrono da Filatelia Brasileira

mais famosos do mundo. Por mérito, Araújo Viana recebeu o título de Patrono da Filatelia Brasileira.

Os Guardiões da Justiça

Ala: Grupo Show Componentes: 40 Descrição: Cândido José de Araújo Viana, durante a sua formação, e por que não dizer mesmo durante toda a sua vida, mostrouse sempre um ávido defensor da justiça e apreciador do conhecimento. E o vasto saber alcançado nos anos de estudo em terras lusitanas, veio a reforçar esta personalidade tão digna e honrada; de modo que, Coimbra, um lugar repleto de espíritos iluminados, deixou na memória a imagem inspiradora dos chamados Guardiões da Justiça que, empunhando suas espadas com supremacia, rigor e decisão, se unem em defesa das leis, da retidão e dos valores morais.

Ala: Comunidade Presidente: Claudio Armani Descrição: Coube à Araújo Viana, em meio ao seu amplo leque de atuação, a iniciativa de outorgar a Reforma Postal, a qual corrigiu as discrepâncias existentes no âmbito das comunicações do país, através da adoção de medidas como a uniformidade postal. Com isso, o Brasil se tornou o segundo país do mundo a organizar o serviço dos Correios, regulamentando-o por meio de legislação federal, atrás apenas da Inglaterra. O Olho de Boi, lançado pelo Império, foi o primeiro selo a circular no Brasil, nos valores Alegoria 03 de 30, 60 e 90 réis, tornando-se um dos selos Chefe de Alegoria: Léo Mídia

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“O Executivo do Império” SETOR 04

Carreira Política – Vida e Obra

Ala: Comunidade Presidente: Claudio Armani Componentes: 80 Descrição: Homem de vasta cultura, extremamente bem articulado, influente e politizado, Cândido José foi responsável por importantes conquistas e grandes realizações em benefício público, prestando serviços indispensáveis para o crescimento de nossa nação. Responsável por memoráveis feitos, ao fazer e escrever história, destaca-se dos ditos homens “simples e comuns”, e ganha a imortalidade. Exerceu os mais diversos cargos de alta responsabilidade com exímia maestria: foi Deixando um legado brilhante, e fazendo com que ficasse conhecido como o Executivo do Império.

Fidalgos da Casa Imperial

Ala: Comunidade Presidente: Iara Mariano Componentes: 80 Descrição: O ambiente na Corte sempre foi cercado de requinte, honra e tradição, onde os princípios e os bons costumes eram defendidos com afinco, o que se refletia na postura e, principalmente, na elegância dos nobres Fidalgos da Casa Imperial. Cândido José de Araújo Viana viveu no Rio de Janeiro durante muito tempo, presenciando toda a efervescência da capital do Império, e conhecendo, como poucos, todo o aparato característico, das tribunas aos salões.

Isabel – A Princesa do Brasil

Imperador Dom Pedro II, marcou como poucos personagens a História do Brasil. Araújo Viana, que já havia sido o Mestre preceptor do Imperador, ao conquistar cada vez mais a plena confiança de Sua Majestade, acabou sendo convocado a participar efetivamente da educação e da formação moral de sua filha Isabel – A Princesa do Brasil, que teve em seu orientador um dos mais sólidos alicerces de sua privilegiada cultura.

O Coral da Nobreza

Ala: Coral Componentes: 10 Descrição: Cândido José de Araújo Viana não nasceu em família nobre, mas com integridade e honradez, alcançou posições e títulos de nobreza que poucos conseguiram. Todavia, sempre fora amante de boa música, tendo frequentado os requintados salões imperiais, onde aconteciam magníficos saraus e apresentações do Coral da Nobreza. Dom Pedro II – Pompa e Circunstância Ala: Bateria Presidente: Mestres Plínio de Moraes e Rodney Ferreira Componentes: 280 Descrição: Araújo Viana tinha influência direta sobre Vossa Majestade, principalmente no que diz respeito às questões culturais. Mas a relação de apreço e confiança entre o Imperador Dom Pedro II e Viana foi muito além da amizade, pois o soberano encontrou em Cândido, além do mestre e conselheiro, um companheiro para partilhar o bom gosto pelas artes, uma vez que os dois amigos tinham em comum o mesmo amor à música, o fascínio pelas belas melodias, e à tudo o que se refere à potência e sonoridade musical. Viana se manteve leal ao monarca, testemunhando, ao curso do tempo, toda pompa e circunstância de Dom Pedro II.

Condecorações e Honrarias

Ala: Comunidade Ala: Damas Presidente: Ivone Pinheiro Presidente: Elizabeth Barcelos e Shirleise Componentes: 80 Colins Descrição: Cândido José de Araújo Viana, Componentes: 80 ao longo de sua vida, foi homenageado Descrição: Isabel, a segunda filha do com vários títulos honoríficos e de nobreza. 38

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Nobreza Imperial

Ala: Comunidade Presidente: Alessandra Oliveira Componentes: 100 Descrição: Com a presença da Família Real na cidade do Rio de Janeiro, um grande séquito de nobres da Corte Portuguesa, incluindo seus assessores e funcionários, aportou em nossas terras, e tiveram a oportunidade de testemunhar de perto a ascensão do Mineirinho Genial. Possivelmente, Cândido José de Araújo Viana jamais tenha imaginado que, um dia, receberia, por ordem do imperador, um título de nobreza. No entanto, seu senso de justiça, sua fidelidade, sua rara inteligência, e seus serviços prestados, são alguns dos fatores que o ajudaram a construir uma carreira sólida, incólume, marcada por sua personalidade impoluta, digna de fato de homens insignes e, portanto, realmente merecedor de pertencer à nobreza imperial.

A Suntuosidade do Império

Ala: Dos Cem Presidente: Terezinha Simões Ala: Amar é Viver Presidente: Terezinha Alves Ala: Tudo Por Amor Presidente: Élcio Chaves Componentes: 100 Descrição: Por sua lealdade à Coroa e seus imperadores, reiterada em cada ação como cidadão e político, Cândido José de Araújo Viana era considerado um visionário, e tornou-se uma pessoa de elevado conceito entra seus pares, vivendo em ambientes de luxo e requinte. Um dos signos mais marcantes da suntuosidade do Império, foi justamente o Dragão Dourado no Cetro Imperial, o qual Viana se empenhou em respeitar, bem servir e engrandecer.

Dentre as diversas condecorações recebidas, estão o Hábito da Ordem de Cristo, o Hábito de Noviço da Ordem de Cristo, a outorga de Oficial da Imperial Ordem do Cruzeiro, Conselheiro Efetivo da Casa Real, Mercê da Ordem da Rosa, Gentil Homem da Imperial Câmara, Presidente Perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Conselheiro de Estado Extraordinário, Visconde com Honras de Grandeza de Sapucaí, Conselheiro de Estado Ordinário, Cavaleiro da Ordem da Rosa, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Fidalgo da Casa Imperial, Moço Fidalgo da Casa Real, Dignitário da Ordem de Cristo, Dignitário da Ordem da Rosa, Dignitário da Imperial Ordem do Cruzeiro, Grã-Cruz da Ordem da Legião de Honra da França, Grã-Cruz da Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito de A Dama Mais Nobre Portugal, Grã-Cruz da Ordem de São Januário do Brasil de Nápoles, Grã-Cruz da Ernestina Casa Presidente: Cláudia Raia Ducal de Saxe Coburgo Gotha, Grão Mestre Componentes: 1 Honorário do Grande Oriente do Vale do Lavradio (Maçonaria), Grande do Império, e o que na presente ocasião mais nos interessa, Alegoria 04 Chefe de Alegoria: Daian o título de Marquês de Sapucaí.

da Corte

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“O Marquês pelo Brasil” SETOR 05

Pernambuco – Tributo ao Desembargador

Ala: Comunidade Presidente: Valéria Brito Componentes: 100 Descrição: A Província, depois Estado de Pernambuco, sempre se destacou na vida política, econômica e cultural do Brasil. Araújo Viana estreitou suas relações com esta terra tão hospitaleira ao ser nomeado Desembargador da Relação, e mesmo tendo permanecido no cargo por um período de curta duração, sua gestão foi extremamente significativa e valorosa. O sol e a estrela, que representam o Estado na Federação; o arco-íris símbolo da união do povo; e a fé na justiça, retratada através da cruz da bandeira, são signos presentes nesta homenagem ao homem idealista, de espírito elevado e propagador do bem comum.

Bahia – Homenagem ao Homem Público

Ala: Comunidade Presidente: Cátia Sant´Ana Componentes: 80 Descrição: A Bahia, sede da primeira capital do Brasil, é uma terra de gente alegre, festiva, guerreira. Foi lá que, novamente nomeado Desembargador da Relação, Cândido José de Araújo Viana teve mais uma oportunidade de honrar, com dignidade, honestidade e caráter valoroso, a confiança que lhe fora depositada, o que resultou em mais uma digna homenagem à ele enquanto respeitável homem público.

/ Yurii Hallss e Emanuelle Martins / Hugo César e Naninha Fidellys Componentes: 6 Descrição: Araújo Viana, em suas andanças, por este Brasil plural, conheceu a essência de nosso povo forte e trabalhador. Encontrou os mais diversos tons e matizes de nossa cultura, conheceu detalhes de nossa formação e, acima de tudo, aprendeu a entender a diversidade deste chão. Por amar e defender o verde e amarelo, há muito presente em diferentes bandeiras do Brasil, foi convocado por diversas vezes para intervir nas Províncias, governando pela paz, através de sua forma peculiar de buscar, com o diálogo, a harmonia, e o entendimento entre as partes envolvidas. Nossos casais representam a grandeza do país e a diversidade cultural testemunhada por Araújo Viana. Inspirados na trajetória de nosso homenageado, buscam o diálogo no olhar, a harmonia nos passos de seu bailado, e o mais perfeito entendimento entre as partes envolvidas no que concerne à dança, ao desenvolvimento da coreografia e ao ato de salvaguardar o pavilhão de nossa Agremiação. Hoje, com a união do verde amarelo – as cores do Brasil, ao azul e branco da bandeira da Beija-Flor de Nilópolis, com certeza pelo Brasil impera a felicidade!

Nas Terras de Alagoas, o Orgulho Brasileiro

Ala: Comunidade Presidente: Oswaldo Componentes: 80 Descrição: Araújo Viana foi nomeado Presidente Interventor da Província de Alagoas – a estrela radiosa que reluz ao sorrir das manhãs, com o objetivo de prover uma presença mais efetiva do Governo naquela região. “Agindo com sua invariável sabedoria, e extremo respeito aos direitos dos cidadãos”, com sua postura moderada e doutrinária conseguiu, num curto espaço Pelo Brasil Impera a de tempo, deixar a Província mais tranquila e em situação de prosperidade e esperança; Felicidade Ala: Casais de Mestre-Sala e Porta-Bandeira sob os aplausos de uma população satisfeita, que vestia o verde e amarelo, as cores da (2º, 3º e 4º Casal) Presidente: David Sabiá e Fernanda Love bandeira do Império. 40

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Presidente da Província do Maranhão – Elogios à Grandeza D’alma

Ala: Comunidade Presidente: Diego Componentes: 80 Descrição: Uma vez nomeado Presidente da Província do Maranhão, Araújo Viana “inaugurou uma era de justiça, de progresso e de civilização naquela bela Província, deixando-a em paz e feliz, e conquistando assim, o reconhecimento dos maranhenses”; transformando o seu nome, em sinônimo de múltiplos elogios à grandeza d’alma.

Rio de Janeiro – Capital da Corte

Ala: Comunidade Presidente: Mariza dos Santos Componentes: 80 Descrição: No Rio de Janeiro nosso personagem residiu boa parte de sua vida e vivenciou a maioria de suas conquistas. Foi junto à Corte de D. Pedro II que o nome de Cândido José de Araújo Viana passou a circular com maior intensidade e frequência nos meios políticos e culturais do Império. Exerceu diversos cargos da mais alta confiança, e soube construir, com sabedoria, a imagem de um homem de real valor. Quando à antiga Rua do Bom Jardim, na Cidade Nova, adquiriu um título de nobreza, passando a ser Visconde com Grandeza. Posteriormente, seria elevado ainda à Marquês de Sapucaí, o mineirinho que o Rio imortalizou, e onde hoje descansa em sua última morada.

Pelas Províncias do Brasil

Ala: Cabulosos Presidente: Luisinho Cabulosos Ala: É Nessa Que Eu Vou Presidente: Helinho Componentes: 80 Descrição: Foi desbravando nossas terras que Cândido José de Araújo Viana escreveu seu nome na história, sendo um exemplo de dedicação, nobreza e competência. Poucos homens foram capazes de exercer tantos cargos, em tão distintos lugares, sem macular seu caráter. O exímio político honrou com dignidade o nosso verde e amarelo, e conheceu como poucos, as múltiplas cores de nosso Brasil plural.

Alegoria 05

Chefe de Alegoria: Túlio

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“A Poesia se Fez! – Da Genialidade do Marquês”

participação em comissões relacionadas ao ensino foram notáveis. Permeava com inteligência e segurança por diversas matérias, lecionando e instruindo. Era um professor por excelência, e por inúmeras vezes foi reconhecido pelo seu notório saber, inclusive por Sua Majestade, o Imperador Dom SETOR 06 Pedro II, de quem foi mestre de literatura e de ciências positivas; e, posteriormente, veio a nomeá-lo ainda mestre de suas augustas irmãs, e também de suas augustas filhas. Uma Pena para Escrever – A coruja, por sua capacidade de enxergar Literatura através da escuridão, e conseguir ver o que Ala: Comunidade os outros não veem, tornou-se símbolo Presidente: Claudio Armani de reflexão, inteligência, sabedoria e Componentes: 80 Descrição: Cândido José de Araújo Viana conhecimento, daí os professores, mestres na era poliglota e profundo latinista, e ainda arte de ensinar, serem igualmente associados versado em grego, hebraico e diversas línguas à simbologia da ave. europeias. Cultivava a literatura com grande apreço e interesse, tendo escrito não muitas, Músico Compositor – A mas preciosas obras de cunho literário, sendo Palavra em Forma de Canção que sua índole perfeccionista se refletiu Ala: Comunidade até mesmo em sua assinatura, de caligrafia Presidente: Marcos Ferreira Componentes: 80 deveras regular, inteligível e harmônica. Descrição: Apesar da intensa e agitada vida pública e do trabalho incessante, o qual Disseminando deixou inestimável legado, Cândido José Sabedoria cultivou o gosto pela música, e mesmo com Professor um número limitado de obras, é considerado Ala: Amigos do Rei um destacado compositor brasileiro do século Componentes: 120 XIX. São de sua autoria algumas canções de Descrição: O sucesso famosas à época, como as modinhas envolvimento de “Mandei um Terno Suspiro”, “Já que a Araújo Viana na área Sorte Destinara”, “Candinho”, “Marília” e a de administração quadrilha “Primeiro Amor”. pública e sua

O Poeta Imortal

Ala: Comunidade Presidente: Léo Mídia Componentes: 80 Descrição: Araújo Viana manteve ao longo de sua toda vida, uma íntima relação com o universo das artes, principalmente no tocante à sua produção literária. Ao dar asas à seus pensamentos, deixou evidente as matizes da personalidade de um homem genial! De sua mente brilhante, brotaram sonetos, floresceram poesias, e da pena à tinta transcreveu sentimentos do mais altivo coração, eternizando mais esta virtude do nosso Poeta Imortal. www.beija-flor.com.br


As Flores dos Jardins de Deus

Ala: Ala das Crianças Presidente: Luci Ribeiro Componentes: 80 Descrição: Januária Leopoldina era uma das filhas de Cândido José de Araújo Viana e sua esposa, Ana Efigênia Vieira de Castro Ramalho. A moça falecera precocemente, ainda muito jovem. Em meio a grandiosa obra de todo o legado de Araújo Viana, sua habilidade com as palavras ganhou notoriedade, revelando seu dom através de suprema poesia. Um poema, inundado do mais puro amor paternal, descreve a imensa saudade de Januária Leopoldina, flor menina, que tão cedo foi colhida para enfeitar os Jardins de Deus.

Violetas

Araújo Viana, plantara um canteiro de flores violetas, também denominadas “Amor Perfeito”, e antes de poder colhê-las, falecera prematuramente. O amor paternal fez brotar no Marquês uma inspiração diferenciada, muito especial, revelando, com profunda sensibilidade, todo o seu pesar, e extravasando toda a sua imensurável saudade paterna em forma de poesia. Criada originalmente com outro nome, a obra foi oportunamente rebatizada com o nome “Violetas”, e retrata em versos de raríssima beleza, o pranto de imensa saudade de um pai por sua filha que, por motivos de força maior, deixara a tutela do lar e uma lacuna no coração de Araújo Viana.

Alegoria 06

Chefe de Alegoria: Gaúcho Ala: Tom & Jerry Presidente: Rogério Coutinho Ala: Borboletas Presidente: Néa Nocciolli Componentes: 80 Descrição: Januária Leopoldina, filha de

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“Beija-Flor – A Deusa da Passarela – Que na Sapucaí é Soberana!”

Pierrô Apaixonado

Marquesa do Carnaval Antigo

Descrição: O arlequim, mais uma personagem da Commedia dell’arte, tinha como função inicial divertir o público durante os intervalos dos espetáculos; todavia, sua importância foi gradativamente se firmando. Sua marca registrada é o seu traje, feito de retalhos em forma de losangos. Debochado, espertalhão, preguiçoso e insolente, adora pregar peças. Personagem disseminado no Brasil, principalmente através dos blocos carnavalescos de rua, no Carnaval está sempre à procura de seu par, a bela Colombina.

Ala: Comunidade Presidente: Carlos Dantas (Baixinho) Componentes: 80 Descrição: O Pierrô ou Pierrot é uma personagem da Commedia dell’Arte. É normalmente representado com roupas largas e brancas, o rosto pintado de branco, e uma lágrima desenhada abaixo dos olhos. SETOR 07 Vivia sofrendo e suspirando de amor pela Colombina, e a característica principal do seu comportamento é a ingenuidade. Figura tradicional do carnaval, não foi à toa que O Corso Carnavalesco suas atitudes, vestimentas e maquiagem Ala: Comunidade também influenciaram, e ainda influenciam, Presidente: Edson os palhaços de circo e os foliões do Brasil e Componentes: 80 Descrição: O Corso Carnavalesco, ou do mundo. simplesmente Corso, é uma brincadeira de origem europeia, que foi muito popular em Arlequim – diversas cidades do Brasil. Festejo exclusivo Palhaço das elites, era o mais difundido evento do Travesso carnaval carioca na primeira década do século Ala: Comunidade XX, onde os foliões, fantasiados, ocupavam Presidente: Marcos todo o eixo carnavalesco durante os três dias Gomes de folia. Componentes: 80

Ala: Sávia David Componentes: 1

Baile dos Mascarados

Ala: Passistas Presidente: Valéria & Alin Componentes: 150 Descrição: Os Bailes de Máscaras, também chamados de Bailes à Fantasia ou Bals Masqués foram os eventos precursores do carnaval moderno no Brasil. Criados para fazer frente ao Entrudo, marcaram a incorporação do luxo e sofisticação característicos das festas de Paris ao carnaval brasileiro. Os primeiros bailes carnavalescos aconteceram no Rio de Janeiro, e só era permitido a entrada da alta nobreza, com os brincantes devidamente caracterizados com belas fantasias e uma máscara cobrindo parte do rosto, deixando os olhos em evidência, criando uma atmosfera de mistério e encantamento.

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Encantadora Colombina

Ala: Jovens Presidente: Patrícia Lima & Patrícia Bento Componentes: 100 Descrição: A Colombina (do italiano colombina, “pombinha”) é uma personagem da Commedia dell’arte, um gênero de teatro popular que surgiu na Itália, no século XVI. Em geral, aparece como uma serva ou empregada de alguma dama, e é caracterizada www.beija-flor.com.br


como uma bela moça que, além de linda, é inteligente e refinada, e de humor rápido e irônico. Colombina é também o pivô de um triângulo amoroso famoso no mundo inteiro – apaixonada pelo malandro Arlequim, era amada em segredo pelo romântico e apaixonado Pierrô. A famosa personagem permanece atual, e é uma das fantasias mais requisitadas no carnaval, seja nos bailes de salões, em blocos carnavalescos ou ainda na Passarela do Samba.

Beija-Flor – De Fato Nilopolitana!

Ala: Comunidade Presidente: Claudio Armani Componentes: 100 Descrição: O G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis, Agremiação fundada oficialmente no dia 25 de dezembro de 1948. Foi a primeira Escola de Samba a sagrar-se campeã desfilando na Avenida Marquês de Sapucaí, quando os desfiles das Escolas de Samba se transferiram para lá, em 1978 (quando conquistou seu primeiro tricampeonato). E com todo o respeito e admiração à todos os pavilhões de nossas coirmãs, que

lutam com paixão pelo brilho da maior festa popular brasileira, a Beija-Flor é ainda, a atual campeã do carnaval carioca (2015), e a Escola de Samba que conquistou, com humildade, dedicação e trabalho árduo, mais títulos na famosa Passarela do Samba, são 11 campeonatos vencidos na Marquês de Sapucaí. Além disso, protagonizou alguns momentos imortalizados na história recente do carnaval carioca. Então, consideramos mais do que justo fechar o carnaval de 2016 com uma homenagem da Agremiação à todos àqueles são Beija-Flor na alegria ou na dor, que defendem, com fervor, o pavilhão da Deusa da Passarela, que na Sapucaí é soberana, de fato nilopolitana!

A Bela Colombina

Charlene Costa – Destaque de Chão

Apoteose de Todo Sambista

Cássio Dias – Destaque de Chão Alegoria 07

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FELIPE LUCENA

Muito se fala a respeito da renovação no carnaval e da necessidade de surgirem novos talentos para abrilhantarem ainda mais essa festa, apresentando novos rumos e linguagens para o espetáculo. Dizem que muitas das cabeças pensantes e dançantes do carnaval já estão em atividade há décadas e que é hora de ser feita uma renovação nos quadros do carnaval. Fato é que não basta que sejam feitas substituições sem critério, nem que grandes nomes do Carnaval que ainda têm muito a oferecer ao espetáculo sejam colocados na geladeira. Carnaval é, também, produtividade. E nem sempre as gerações mais novas foram preparadas para assumir postos de comando e coordenação. Por isso, é essencial que as gerações mais novas sejam preparadas para que possam contribuir e dar continuidade a esse espetáculo. E nesse sentido, a Beija-Flor de Nilópolis busca fazer a sua parte. A agremiação, que executa projetos dos quais surgem novas pratas da casa que já brilham na Avenida – como as escolas de mestre-sala e porta-bandeira, de passistas e de bateria – dá um importante passo além dessas fronteiras, propiciando a um grupo de jovens da ala de passistas oportunidades de desenvolver suas capacidades de gestão e administração. É assim que dez meninas da ala são responsáveis por gerir e administrar todo grupo, integrado por 60 componentes, de 7 a 19 anos. A proposta, criada por Laíla, é a seguinte: as 46

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meninas responsáveis pela ala terão como obrigação decidir e resolver todas as questões relacionadas à ala e aos seus componentes. Problemas e soluções. Incentivo e negociação. Iniciativas necessárias para que a ala funcione da melhor maneira e que as passistas vivam em um ambiente de tranquilidade e disciplina, para que possam desenvolver suas potencialidades. A iniciativa ainda não completou um ano, mas segundo Laíla, “nota-se claramente uma evolução pessoal das meninas, que agora encaram as questões de uma maneira mais adulta e com mais reponsabilidade”. Chawanda Tito, uma das líderes das passistas, destaca que “iniciar o trabalho dessa forma foi, no início, um pouco assustador, porque somos todas amigas e muitas de nós têm a mesma idade. Pensar em coordenar um grupo como esse pareceu estranho. Mas depois nós entendemos o que o Laíla queria e, hoje, o trabalho funciona muito bem. A gente sente que está amadurecendo, aprendendo a lidar com situações que antes a gente não sabia como lidar. E assim, ajudamos a nossa escola.” Sabrina Coradini, que também integra esse grupo de líderes lembra que “agora, somos nós mesmas que temos que resolver os problemas que surgem durante os ensaios. Isso é muito bom, porque a gente aprende, também, a tentar evitar problemas que não precisam existir. A organização da ala tem sido bem melhor e temos podido, também, orientar e ensinar as meninas mais novas e com menos experiência a fazer as coisas da melhor maneira.” www.beija-flor.com.br


Laíla e as passistas coordenadoras da ala: Letícia Manhãs, Marcelly Cristina, Mayara Boombom, Chawanda Tito, Brenda Souza, Laís Fonseca, Steffany Sant’ana, Beatriz Santanna, Lohane Alexandra, e Sabrina Coradini.

As falas das jovens líderes evidenciam a importância dessa iniciativa da Beija-Flor de Nilópolis, afinal, a responsabilidade que lhes foi outorgada oferece a elas, também, maiores chances de êxito no que fazem, especialmente porque esse novo formato de micro gestão contribui para a construção e consolidação da auto-estima das meninas e para a construção de um espírito de fraternidade entre todas elas – algo que pode ser notado nos ensaios das quintas-feiras, ao se presenciar o cuidado e carinho com que elas tratam e ensinam as passistas mais novas. Segundo Laís Fonseca, integrante do grupo, “temos observado que estamos mais pacientes e tendo um cuidado maior em ensinar as meninas menores do que nós. Tem sido uma experiência muito boa. E porque recebemos um voto de confiança da Beija-Flor, não podemos decepcionar. Por isso, temos organizado pequenos encontros e reuniões para conversarmos e definirmos o que fazer e, também, para ouvirmos os problemas da ala e buscar as melhores soluções. Se surgem problemas, ouvimos o que as passistas tem a dizer – ou a reclamar – e cada uma de nós apresenta uma solução para os problemas apresentados. E quando há um empate nos números de votos das decisões (cinco a cinco), nos dirigimos à Simone, que passa a questão para o Laíla para ele resolver. Mas isso raramente acontece. Todas nós temos conseguido resolver as coisas por aqui mesmo, na maior paz.”

“Essa forma de fazer as coisas tem sido muito importante para todas nós. Sabemos que precisamos manter nossos pés no chão, sem a ilusão de que somos diferentes ou melhores do que as outras passistas de nossa ala. Todas nós estamos aqui para aprender e fazer alguma coisa boa para a BeijaFlor. Todas nós. Nenhuma é mais importante que a outra, e vendo as coisas assim, começamos a nos respeitar mais e a trabalhar por algo maior do que nós mesmas.”, conclui Beatriz Santanna. Quanto ao resultado dessa nova experiência na Sapucaí? Bom, isso, elas afirmam em um uníssino um pouco desafinado pela força da idade: “Vai dar tudo certo no Carnaval”. Parece que a iniciativa tem trazido boas energias para o grupo e que, assim como tantas outras “invenções” da agremiação, vai virar um modus operandi entre as agremiações de carnaval. Fevereiro 2016

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MIRO LOPES

Já é fato consumado o papel que as comunidades exercem no Desfile das Escolas de Samba. No caso da Beija-Flor de Nilópolis, esse papel é tão essencial que a escola desfila, esse ano, com apenas quatro alas comerciais, enquanto se posiciona na Avenida com trinta e cinco alas de comunidade. Coordenar toda essa gente em um desfile que pretende receber as notas máximas dos jurados e ser campeão, não é uma tarefa fácil. No entanto, nos últimos dois anos, acompanhando a decisão de aumentar gradativamente as alas de comunidade em detrimento das alas comerciais, esse desafio vem sendo superado por um time que trabalha com afinco e coração. Esse time de líderes, formado por Luiz Claudio, Simone, Binho e Osvaldo Luiz, é responsável por ditar as regras e conduzir da melhor maneira a equipe de setenta diretores de harmonia que, por sua vez, coordenam os integrantes das alas de comunidade da Beija-Flor nos ensaios na Quadra e no Desfile na Avenida. “O grupo foi montado a partir da necessidade de 48

Revista Beija-Flor de Nilópolis

organizar as decisões, sem deixar de valorizar a ideia de trabalho em conjunto que nosso líder Laíla tanto defende. Existe uma liberdade entre todo o grupo, mas nós quatro acabamos tomando à frente das decisões e passamos para os diretores de ala o que deve ser feito, assim como definimos as soluções para os

Luiz Claudio, Simone, Binho e Osvaldo Luiz. problemas que surgem – soluções essas que são discutidas democraticamente com o grupo para que possamos prever as consequências de cada decisão.” conta Luiz Claudio. Na avenida, junto com os diretores de harmonia, os líderes cuidam de tudo, desde a entrada dos carros alegóricos até o www.beija-flor.com.br


Diretores de harmonia e lideranças. posicionamento dos componentes nas alas, que não são poucos: cerca de três mil foliões. Meses antes do desfile, a equipe trabalha, também, para manter a comunidade presente e atenta aos ensaios, para que os resultados sejam os melhores possíveis durante o desfile. E é bom que não se esqueça que a tão respeitada comunidade nilopolitana não é formada apenas por pessoas residentes no município: integram o quadro de componentes da agremiação, pessoas vindas de diversos lugares, inclusive Niterói, São Gonçalo, Volta Redonda, Magé e até mesmo de Nova Lima, Minas Gerais – cada uma com suas diferenças e idiossincrasias. “Respeitamos todos, com suas diferenças culturais e intelectuais, diferenças que não os tornam melhores nem piores do que ninguém. Trabalhamos sob a batuta do Laíla, com ideia de não existe uma estrela maior. Somos todos iguais e todos trabalham para o bem comum, que é uma apresentação de qualidade na avenida” complementa Binho. Além das dificuldades técnicas naturais para ajustar o desempenho dos componentes e colocar a escola de samba na Avenida, esse quarteto também administra outros problemas. Muitas vezes questões pessoais precisam ser resolvidas em favor do trabalho que é desenvolvido. “Durante esses anos, pudemos concluir que os problemas da vida pessoal dos componentes influenciam diretamente a qualidade do trabalho deles

aqui na escola. É difícil você se soltar, cantar, sambar e dançar coreografias sabendo que um familiar seu está doente ou desempregado, sem dinheiro ou com alguma outra dificuldade. É difícil, também, quando esses incidentes ocorrem com o próprio componente”, revela Simone. Reforçando as palavras de sua colega, Osvaldo Luiz avança: “E por essa razão – e porque criamos uma relação de amizade com os integrantes das alas –, sempre que surge algum problema pessoal com nosso componente nós nos reunimos e buscamos ajudá-lo a resolver esse problema, que pode ser viabilizando a internação de um familiar, comprando um remédio que tem custos além das posses do componente, ou alguma outra situação. Enfim, cuidamos uns dos outros. E isso faz com que os integrantes se sintam valorizados e o trabalho flua melhor”. Como é possível ver, a Beija-Flor de Nilópolis descobriu a receita mais eficaz para um convívio saudável e harmônico, que se reflete na Avenida e nos resultados do Desfile: respeito e amizade. “Sim. Esses são os nossos principais lemas: respeito e amizade. Buscamos sempre trabalhar tendo esses sentimentos como diretrizes das nossas atitudes e decisões, porque, senão, as coisas não fluem. Somos uma equipe e precisamos nos respeitar. Sempre. Respeitamos muito uns aos outros, e isso é fundamental para que o nosso trabalho dê os resultados que esperamos”, conclui Luiz Claudio. Fevereiro 2016

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ALMER

JULIANA P

O Brasil é o país do carnaval.

turistas do Brasil e do mundo à Cidade E apesar de cada estado ter a sua forma de Maravilhosa. celebrar esta poderosa festividade, atraindo Esse poder que o Carnaval exerce sobre o o interesse do público e a atenção das mídias, grande público vem seduzindo lideranças e não é um absurdo dizer que quando o assunto formadores de opinião de diversos países, é Carnaval, o Rio de Janeiro é a principal referência – o destino mais procurado pelos especialmente produtores culturais, a ponto turistas. Também não é absurdo afirmar que de diversas cidades ao redor do mundo a escola de samba Beija-Flor de Nilópolis fazerem questão de ter no seu calendário é o grande ícone dessa festa popular: seus turístico uma data reservada para a realização vibrantes e luxuosos desfiles já ganharam de um Carnaval local, com semelhanças ao reconhecimento internacional e atraem que produzimos. 50

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Registro fotográfico do grupo de componentes da BeijaFlor de Nilópolis no Aeroporto de Paris para a realização de uma turnê pela região, em 22 de junho de 1977. Na foto, Nelsinho Abrão David, Marlene Senas David, Pinah Ayoub, Neguinho da Beija-Flor e Débora Cruz, entre outros componentes campeões.

Nesse sentido, queremos destacar o papel que a agremiação nilopolitana tem exercido em favor dessa internacionalização das fronteiras do Carnaval, que teve seu início no período em que Joãozinho Trinta se tornou o carnavalesco da Beija-Flor de Nilópolis. O início de tudo se deu quando a Beija-Flor de Nilópolis contratou o carnavalesco Joãozinho Trinta para desenvolver o desfile de 1976. Após a conquista do título, sob a batuta de Joãozinho, Viriato e Laíla, com o enredo “Sonhar com rei dá leão”, Joãozinho resolveu que era a hora da Soberana do Carnaval realizar seus primeiros voos internacionais, ganhando o mundo. Com sua equipe, criou um espetáculo próprio de samba e carnaval desenvolvido especialmente para promover o carnaval, a cultura brasileira e a agremiação nilopolitana em terras internacionais. Foi assim que componentes da escola cruzaram nossas fronteiras rumo à Bélgica, França, Espanha, Marrocos, Estados Unidos, Inglaterra, México, Portugal, Principado de

Mônaco, Itália e Cisjordânia, entre outros tantos países, onde apresentaram, pela primeira vez, um espetáculo de samba e carnaval, difundindo o maior espetáculo popular do planeta em terras internacionais. A agremiação deixou de ser uma agremiação desconhecida da Baixada Fluminense para alcançar fama internacional. Pinah Maria Ferreira Ayoub, a Pinah, foi durante 30 anos a destaque principal da Beija-Flor e viveu esses tempos de excursões pelo mundo à fora com a agremiação: “Participei de todas as viagens internacionais com o Joãozinho. Ele era muito respeitado lá fora. Foram momentos maravilhosos. No Marrocos, me lembro, fomos para o palácio do Rei Hassam II e tratados como estrelas. Na Cisjordânia também ficamos no palácio do Rei e apesar de a cultura local proibir homens e mulheres de andarem juntos, nós andávamos em grupo – homens e mulheres –, todos juntos nas viagens. Ciente disso, o Rei disponibilizou segurança para nós e quando alguém se aproximava da gente porque estávamos andando com homens, a intérprete dizia que nós éramos artistas brasileiros convidados do Rei e tudo ficava resolvido”, relembra Pinah. Com tantas viagens majestosas pelo mundo, a Beija-Flor de Nilópolis caiu no gosto da nobreza, passando a ser uma Escola de samba de todas as classes. Em 1978, quando o príncipe Charles da Inglaterra visitou o Rio de Janeiro foi a agremiação escolhida para se apresentar ao herdeiro real britânico que, ao ver a bela Pinah, quebrou todos os protocolos e caiu no samba. Depois de tal feito, a BeijaFlor, e claro, a Pinah, ganharam destaque ainda maior na mídia internacional. E com tantos anos carimbando o passaporte, a Escola não só levou samba e carnaval às terras estrangeiras como retribuiu ao seu componente com a oportunidade de entrar em contato com lugares e culturas muito diferentes da que conhecia até então. Débora Rosa, um dos baluartes da Escola com 44 carnavais no currículo, lembra que antes de ser responsável pela Velha Guarda, desfilava como destaque à frente da sua ala – a tão famosa ala dos Signus – Fevereiro 2016

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e que graças à sua dedicação foi uma das precursoras a ganhar o mundo junto com a agremiação, participando da primeira viagem internacional da Beija-Flor, com destino à França, no ano de 1977. Nascida e criada em Nilópolis, de origem humilde, Débora conta, agradecida, que jamais imaginou que poderia conhecer tantos lugares e povos diferentes: “Ficamos oito dias em Paris. Nunca imaginei que um dia eu iria ver a Torre Eiffel de perto e ainda ficaria hospedada em um hotel cinco estrelas. Conheci muita gente bacana, que se emocionava com o espetáculo que a BeijaFlor apresentava. Uma viagem como essa, nos valoriza como profissional. Você se sente importante, reconhecida pela escola e pela diretoria. Eu conheci muitas coisas através da Beija-flor. Foi mágico!”, revela.

As primeiras damas da beija-flor, jane louise abrão e marlene senas david durante a apresentação da beija-flor de nilópolis em paris, frança.

NOVOS TEMPOS Em que pese os relatos emocionados dos shows realizados pela Beija-Flor no passado, o fato é que uma escola de samba tem que, também, se reinventar. Não pode ficar parada no tempo admirando as conquistas do passado. 52

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É por isso que a Beija-Flor, impulsionada pelas experiências positivas do passado e pelo interesse mundial no samba e no carnaval, retomou seus projetos de apresentações internacionais, agora, sob a coordenação da empresária Alessandra Pirotelli, da ’Camarote Brasil’. A nova etapa começou em 1999, quando Alessandra desenvolveu o projeto ‘Unidos do Mundo’, aprovado oficialmente pelo Governo brasileiro para integrar o quadro do 5º Centenário do Descobrimento do Brasil, com propósito de trazer sambistas do mundo inteiro para desfilar no Rio de Janeiro “Através desse projeto, eu descobri que existia brasileiros carentes, que criavam suas Escolas de samba baseados nos nossos paradigmas, com mestre-sala e porta-bandeira, comissão de frente, isso no mundo inteiro. Eram verdadeiros entrepostos culturais espalhados pelo mundo que vendiam uma imagem positiva do Brasil lá fora”, revela Alessandra. Mediante a descoberta que o Brasil era um país muito respeitado internacionalmente em relação ao carnaval, Alessandra começou o trabalho de apresentar a Beija-flor de Nilópolis para as embaixadas do mundo inteiro. A convite dos governos e de celebridades internacionais, delegações formadas por sambistas são chamadas para representar a nossa cultura em grandes eventos políticos e em festas particulares. Sob o comando de Alessandra, a Beija-Flor de Nilópolis já carimbou o passaporte também para Alemanha, China, Suécia, África, Guiné Equatorial, Gabão e Colômbia – tendo ido à alguns deles mais de uma vez. Mas, o êxito do trabalho de Alessandra se dá através de pesquisas de campo sobre o país de destino e reuniões com elenco que integrará a viagem com intuito de preparálos: “Peço para as Embaixadas preparem o país para a nossa chegada, em contrapartida, eu busco entender para onde iremos, estudo www.beija-flor.com.br


com a minha equipe o que vamos fazer e para quem vamos falar, me preocupo também em respeitar os hábitos do outro. Os nossos artistas recebem um relatório com todas as informações do local e com o que pode ou não ser feito. Buscamos fazer um trabalho que tenha similaridade com a nação, que a leitura seja mais fácil para o público que nos assiste. São muitos detalhes para que tudo dê certo, eu gosto de trabalhar com o afeto das pessoas que nos recebe.”, revela. Além de todo planejamento supracitado, em alguns casos é feito um trabalho de agregação, com a Beija-Flor convidando artistas locais para participar efetivamente do espetáculo, promovendo assim um intercâmbio cultural. O repertório musical apresentado varia de acordo com a demanda de cada país; nessas turnês a Beija-Flor não apresenta somente os seus sambas enredos, mas, os sambas épicos da história do carnaval. Ritmos swingados como o Funk e Bossa Nova também são tocados.

reportagem produzida NA EDIÇÃO DE ABRIL DE 199 NA revista manchete SOBRE à viagem da beija-flor de nilópolis À SUIÇA.

Robert dos Santos Vieira, o Betinho Santos, entrou para a Beija-Flor em 1998. Um ano depois, tornou-se o primeiro cavaquinista da Azul e Branca de Nilópolis, posto que defende com maestria. Betinho já teve a oportunidade de mostrar a nossa cultura em vários países, mas foi em viagem à China que sentiu-se um superstar:“ A verdade é que os gringos amam o nosso ritmo, eles ficam alucinados. Na China, em uma apresentação de despedida, fomos agarrados pelos chineses, eles queriam nos beijar, tirar foto. Eram muitos chineses! Ficamos assustados com tamanho carinho. A polícia local foi chamada para conter o assédio dos orientais, mas, não conseguiu. Então, pediram reforço para a polícia especial que também não os conseguiu conter. Tivemos que cancelar o evento e voltar para o hotel. Acredite! Na porta do hotel tinha uma aglomeração de Fevereiro 2016

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chineses curiosos querendo nos ver. Foi propaganda boca a boca dos gringos, o Brasil inesquecível.”, lembra entre risos. recebe turistas de toda parte do mundo Esse trabalho que a Beija-Flor de Nilópolis para assistir de perto o maior espetáculo a vem promovendo ao longo dos anos é uma céu aberto do planeta, vendo injetar na sua importante iniciativa cultural, que leva a economia importantes recursos. Com isso, cultura brasileira para diferentes lugares do novas oportunidades de serviços e produtos planeta. Como consequência natural, essa ligados diretamente e indiretamente ao promoção internacional desperta o interesse Carnaval são criadas, girando a economia e do estrangeiro em conhecer pessoalmente fazendo desse espetáculo, inegavelmente, o a terra de onde vem toda essa arte, esse maior espetáculo popular a céu aberto do gingado e essa alegria. Assim, com a planeta.

BEIJA-FLOR JAPAN FELIPE LUCENA Ainda sobre as viagens internacionais da escola de samba, um local se destaca. Do outro lado do mundo, a agremiação de Nilópolis tem uma espécie de filial: a BeijaFlor Japan. Criada por Vanusa Santiago há cinco anos, esse braço da Deusa da Passarela no Oriente é um sucesso. Não é novidade que o samba e o carnaval são produtos de exportação nacional. Por isso, eles também atraem muitos turistas. Contudo, para os japoneses não é tão simples e essa dificuldade ajudou na idealização da Beija-Flor Japan: “Como é caro viajar do Japão para o Brasil e como aqui é difícil tirar muitos dias de folga, o que eu faço é dar essa oportunidade de eles poderem curtir o carnaval do Rio de Janeiro, pelo menos um pouco dessa nossa festa. Procuro ajudar a promover nossa cultura e, consequentemente, a Beija-Flor” destaca Vanusa. Como é de se esperar, a resposta do público japonês é extremamente positiva: “Eles gostam muito de samba, de carnaval. Os desfiles na cidade onde eu vivo, Kobe, são na avenida principal e muita gente vem assistir. Na Beija-Flor Japan desfilam cerca de oitenta pessoas, 70% japoneses e 30% de pessoas de outras nacionalidades, como franceses, africanos, brasileiros, entre outros” informa Vanusa, que tem um restaurante com temática brasileira no Japão.

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Todo esse trabalho não é fácil de realizar. O carnaval no Japão começa em maio e Vanusa desfila, todos os anos, pela BeijaFlor do Rio, na Sapucaí. Ela conta que em novembro já começa a fazer contatos com a escola nilopolitana, para solicitar material (fantasias, adereços etc) para seu desfile no Japão. Após sair na Avenida com a Deusa da Passarela, ela volta correndo (ou voando) para o país oriental e começa a preparar o desfile da Beija-Flor Japan. Além de ajudar japoneses e outros estrangeiros a conhecer melhor a cultura do Brasil, a Beija-Flor Japan contribui para que Vanusa sinta menos saudades do Rio de Janeiro: “Acabo não sentindo tanta falta de casa porque todos os anos festejo o carnaval na Sapucaí e aqui em Kobe” conta Vanusa, que antes de criar a Beija-Flor Japan desfilava em outras agremiações criadas para o carnaval japonês.

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registro fotográfico de algumas das viagens e apresentações da agremiação nilopolitana: marrocos, frança, Gabão, Liuzhou e Macau. Fevereiro 2016

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JOSÉ MARIA DA BEIJA-FLOR

Ser Beija-Flor é muito mais do que torcer pelo sucesso da escola na avenida. É muito mais do que participar dos eventos que ela promove. Ser Beija-Flor é quase uma religião, que nos acompanha em cada momento de nossa vida, e nos inspira a sermos melhores. É assim que penso. Que outros pensem de modo diferente. Eu penso assim. E por isso, quando vejo, já estou fazendo alguma coisa por essa escola que amo. Digo isso porque, recentemente, estive em Lisboa, Portugal, para atender alguns compromissos de trabalho. Chegando lá, me impressionei com a cidade. Tudo funciona bem. Muito bem. Isso sem contar a bela arquitetura e a sedutora gastronomia. Como é bom comer em Portugal! Acordava cedo e diariamente, após me alimentar muito bem no inesquecível Coffee Roasters (Rua das Portas de Santo Antão, 136), seguia para realizar o trabalho que tinha me dado a importante oportunidade de conhecer a cidade de Lisboa. Como costumo fazer nessas viagens pelo Brasil e pelo mundo, aproveito meu tempo livre para andar pelas cidades à procura de discos e outros registros da Beija-Flor e de samba em geral que possam estar esquecidos em sebos e livrarias – como pude mostrar na última edição desta revista, quando estive em La Paz, na Bolívia. Foi o que fiz em Lisboa. Lá encontrei algumas coisas interessantes ligadas 56

Revista Beija-Flor de Nilópolis

à Azul e Branco de Nilópolis. Mas tinha uma missão maior, previamente combinada com o editor da revista “Beija-Flor de Nilópolis – uma escola de vida”: visitar o consulado brasileiro na capital lusitana para promover a nossa querida Beija-Flor e a nossa revista oficial. Com a revista e alguns CDs da agremiação, além de algumas outras lembranças, parti em direção ao consulado, localizado na Praça Luís de Camões, a 15 minutos de onde estava, para

Registro da entrega ao Embaixador Ruy Casaes da revista “Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida” e de outros materiais promocionais da agremiação.

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levar essas recordações que representam bem a nossa escola e o nosso país. Fui muito bem recebido no consulado do Brasil em Lisboa. Contudo, quando cheguei lá, o embaixador Ruy Casaes ainda não havia chegado. Esperei por ele por alguns minutos, sem esconder minha apreensão, já que essa minha visita não estava agendada. Como estava resolvendo alguns compromissos de trabalho fora do consulado, o embaixador demorou um pouco. Eu já estava preocupado, com receio de que outras pessoas não entendessem minha longa presença no local. Quem vive na Europa têm suas preocupações – e com razão, até – e eu não queria ser mal interpretado. Enfim, o embaixador chegou e me cumprimentou. Subimos para a sala dele e lá começamos a conversar, ainda em tom solene. Foi então que comecei a falar de minhas ações como relações públicas da Beija-Flor de Nilópolis e do meu ímpeto em promover o samba e o carnaval, com apoio do patrono da escola, Sr. Anizio, do presidente, Sr. Farid e da revista oficial da agremiação. Meu amigo, o embaixador se

empolgou! Deixou de lado todos os protocolos e passamos a trocar uma ideia em tom de plena amizade. Ruy revelou que é um entusiasta do carnaval. Ficou muito feliz com os brindes, elogiando muito a revista pela sua qualidade de conteúdo e gráfica. Disse ele: “é uma revista de altíssima qualidade, bem a altura da nossa querida Beija-Flor”. Revelou, ainda, que estava deixando o cargo de cônsul no final de 2015 e que seu desejo era curtir ao máximo os quatro dias de folia na cidade maravilhosa. E o papo fluiu, como um bom samba, por um bom tempo. Por fim, convidei, em nome da revista “BeijaFlor de Nilópolis – uma escola de vida”, o novo amigo Ruy Casaes para fazer uma visita ao Barracão e aos ensaios da Beija-Flor no período que antecede o carnaval – convite que foi prontamente aceito. Ao fim do nosso encontro, nos despedimos com um aperto de mão fraternal, simbolizando a certeza de que estava sendo selada naquele momento mais uma amizade resultante de meu amor pela Beija-Flor de Nilópolis.


Encontro com embaixador Ruy Casaes Ex-Cônsul-Geral do Brasil em Lisboa, o embaixador Ruy Casaes é um admirador do carnaval e da cultura brasileira. Durante o tempo que morou em Portugal, Ruy foi um leal defensor dos interesses e dos direitos dos brasileiros na terra de Cabral. Após receber, em Lisboa, um exemplar da revista “Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida”, o embaixador se colocou à disposição da nossa revista para falar um pouco sobre a suas experiências diplomáticas e sobre outros assuntos, especialmente os relacionados à promoção da cultura brasileira no exterior.

Revista Beija-Flor de Nilópolis – Como é sua relação com o carnaval carioca? Ruy Casaes – Sou do Rio de Janeiro e a minha lembrança de desfile de escolas de sambas remonta aos desfiles na Avenida Rio Branco. Meu pai me levava para ver quando eu era criança. Já adulto, minha vida profissional foi me afastando dos desfiles e só os assistia pela televisão. Depois de muito tempo, fui convidado para assistir um desfile e pude ver a evolução que houve nesse espetáculo. Realmente, é impressionante. Hoje em dia é de fato um grande espetáculo, majestoso, feérico. Incomparável.

que o choro em Portugal seja bastante presente e apreciado? Existem umas adaptações, mas o choro é muito tocado lá e reconhecido como gênero musical brasileiro. Existem rádios lá em Portugal que só tocam música brasileira, por isso, o samba também é muito ouvido em Portugal. RBFN – E como é a relação do português com o carnaval? Ruy Casaes – Portugal tem uma tradição carnavalesca. Não é o mesmo tipo de carnaval que o Rio de Janeiro, assim com o carnaval da Bahia e o de Pernambuco não são iguais ao do Rio de Janeiro. No carnaval português há uma tentativa de preservação das tradições lusitanas, mas se você assistir ao carnaval de Sesimbra verá muitas semelhanças com o carnaval carioca, inclusive com Mestre-Sala e Porta-Bandeira.

RBFN – O povo português recebe bem a cultura brasileira? Ruy Casaes – O que acontece é que há uma ligação muito forte entre essas culturas. A língua, obviamente facilita, mas a história comum e matriz cultural compartilhadas são solo fértil para o intercâmbio cultural a que se RBFN – A Escolas de samba, através dos shows assiste hoje em dia. Por exemplo, quem diria que realizam no exterior, difundem a cultura nacional. O que você acha que poderia ser melhorado nessa ação? O embaixador Ruy Casaes – No caso das apresentações das Ruy Casaes e sua escolas de samba, infelizmente o que tem mulher, Maria Teresa Casaes acontecido em vários lugares no exterior é (Teteia), após a que as escolas ou os organizadores mandam realização da pequenos grupos - de seis a dez componentes entrevista para a – para essas apresentações, e essa quantidade revista. de componentes não produz o impacto do desfile de carnaval. O que caracteriza o desfile de escola de samba é a grandiosidade, aquela coisa imperial, de impactar. O sujeito quando vê aquilo se pergunta: “Meu Deus do céu! É possível que isso exista?” Se você puser isso numa escala mínima não produz o mesmo impacto. Aí é que reside o problema: uma excursão com um número razoável de componentes impõe um gasto muito grande. Os gastos envolvidos são de tal ordem que se não houver estímulo do Estado, a ideia ou projeto não sairá do papel.” 58

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HILTON ABI-RIHAN

O universo do Carnaval é riquíssimo em histórias de superação, reforçando a ideia de que vivemos em um país repleto de oportunidades, onde a ascensão econômica e social é possível desde que batalhemos com perseverança. Chiquinho é um exemplo a ser sempre lembrado e seguido, por ter passado por dificuldades, contornado grandes problemas e alcançado seus objetivos – e sem perder aquele sorriso largo que o identifica, quando os clientes chegam à sua loja na Rua da Constituição, e são recebidos na porta por seu proprietário, sentado em seu banquinho de madeira. Ao ser questionado sobre sua história pessoal, o hoje comerciante, que na infância trabalhou na feira e iniciou suas atividades no carnaval em meados dos anos 1970 relembra: “Eu

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sou de Padre Miguel e morando lá conheci um amigo chamado Osmã, que estava assumindo a Mocidade Independente. Osmã me convidou para entrar no projeto dele, no comando da escola, e eu entrei. Estavam montando uma equipe nova, para criar uma mentalidade nova com o apoio de pessoas que ainda não eram ligadas ao samba. Nessa época, os integrantes da Mocidade e da Unidos de Padre Miguel brigavam muito entre si e eu disse que não queria ver mais essa situação, afinal eram do mesmo bairro. Osmã concordou comigo e me falou que essa união era um passo importante para a realização dos sonhos que tinha para a escola – sonhos grandiosos, como o de lutar por títulos de carnaval. E duas coisas importantes para essa mudança de rumo eram união e recursos financeiros. Então lá fui eu trabalhar na portaria, arrecadar dinheiro de entrada para a escola.” Os resultados foram sendo delineados e Chiquinho dando a sua contribuição. “As coisas foram crescendo e fizemos um grande carnaval, o ‘Festa do Divino’. Muita gente boa foi para a Mocidade nessa época. Fiquei na Mocidade até 1994. Vi muita gente boa lá. Cheguei a ser vice-presidente www.beija-flor.com.br


da escola. Chegaram a querer que eu me tornasse presidente, mas não era bem minha praia. Inclusive, no carnaval ‘Festa do Divino’, houve uns problemas na escola e eu assumi o carnaval no meio dos trabalhos. Tenho um orgulho na minha vida: todos os campeonatos da Mocidade passaram pela minha mão. Participei, direta ou indiretamente, de todas essas conquistas da agremiação” sorri. UMA TRANSIÇÃO VITORIOSA A migração do carnaval para o comércio se deu de forma interligada. Um trabalho acabou inspirando o outro, revela Chiquinho: “Dentro do barracão, acabava vendo a frustração dos artistas e criativos da escola, que queriam utilizar materiais variados para suas criações e não conseguiam muita coisa à altura, porque as lojas que existiam não ofereciam opções. Aí tive a ideia de fazer uma loja chamada ‘Casa dos Sonhos’. A proposta era essa: a pessoa iria lá, pediria o material que desejava e nós realizaríamos esse sonho. Mas esse nome já era patenteado. Surgiu então o embrião do ‘Babado da Folia’”. Inclusive, esse nome, “Babado da Folia”, de acordo com o próprio Chiquinho, é uma homenagem aos gays, que costumam usar a expressão “babado”. “O carnaval sempre teve uma participação maciça de gays e transformistas. Quis fazer uma homenagem a essas pessoas que, com sua alegria e trabalho, sempre contribuíram com o nosso Carnaval. Muitos dos grandes artistas do Carnaval são gays e não há nada de errado nisso. Cada um na sua. Hoje, inclusive, posso afirmar que a minha empresa é a que mais emprega gays no Brasil” - declara com orgulho, Chiquinho, do Babado. Por sinal, uma empresa que teve uma trajetória curiosa. Quem imaginaria que a primeira loja foi o “Sobradão do Carnaval”, localizada em um sobrado no centro da Cidade do Rio de Janeiro e que havia pertencido à grande musa da Beija-Flor de Nilópolis Pinah Ayoub? “A Pinah queria ir para São Paulo para morar com o Elias Ayoub, mas ela não iria enquanto não vendesse sua loja. Na época, a loja custava 50 mil cruzeiros, e fiquei muito interessado em comprá-la para entrar no ramo comercial. E eu já tinha identificado

um mercado potencial, que era a venda de produtos para o Carnaval. Um dia, em uma conversa aberta com o Elias disse a ele que tinha muito interesse em comprar a loja da Pinah, mas que naquele momento não tinha o dinheiro suficiente. Agindo como um irmão, Elias me emprestou o dinheiro e eu comprei o ponto. Fui pagando aos poucos e construímos uma ótima parceria no nosso negócio: com o material fornecido pelo Palácio das Plumas (SP), do próprio Elias, eu fui tendo condições de abastecer o mercado de Carnaval do Rio de Janeiro com produtos de qualidade e que atenderam às exigências dos carnavalescos e criativos das escolas. Naquele momento, Elias foi um grande amigo que me deu muitas dicas. Sou grato a ele por isso. Cresci, busquei agregar novos diferenciais, novos fornecedores e hoje somos concorrentes. Concorrentes, mas amigos.” Essa estrutura que começou no início dos anos 1990, só cresceu. Hoje são seis lojas, 222 funcionários diretos, além de terceirizados. Os serviços da “Babado da Folia” atendem a todo o Brasil. ESPINHOS E PERSEVERANÇA Mas nem tudo são flores, plumas e paetês. Chiquinho encarou muitos espinhos em sua trajetória. Filho de um lixeiro com uma lavadeira, suburbano e negro em tempos nos quais essas duas características geravam muita discriminação, nunca teve vida fácil: “As coisas nunca foram fáceis para mim, mas com muito trabalho eu fui conseguindo conquistar meus objetivos. No primeiro ano que eu estava com a loja, veio o Plano Collor e meu dinheiro foi todo confiscado. Foram dias difíceis, mas fui à luta e com muito trabalho consegui me recuperar. Não posso, também, esquecer de destacar a ajuda que sempre tive de muitos amigos. Tem muita gente que agradeço por estar onde estou. E pelo carinho e lealdade que recebi dessas pessoas, peço sempre para papai do céu os abençoar e iluminar os seus caminhos. Deus coloca pessoas especiais em nosso caminho para nos ajudar, mas a gente precisa levantar e trabalhar.” declara. E Chiquinho foi à luta. E, com um sorriso largo, venceu na vida. Fevereiro 2016

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o palpite certo é

beija-flor

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RICARDO DA FONSECA


DESFILE 1976 A conquista de grandes vitórias sempre foi e sempre será o sonho do homem contemporâneo, seja em nível individual ou coletivo. Ocorre que algumas vitórias, mais resultado do acaso do que de um trabalho dedicado e regular, têm curta duração. Outras vitórias, no entanto, pela forma como são conquistadas, pelas adversidades que superam, pela relevância e por tudo o que representam, fazem parte do distinto grupo das conquistas inesquecíveis. Há 40 anos, mais especificamente no dia 29 de fevereiro de 1976, uma escola de samba considerada “escolinha do interior”, com um feito inédito, entrava para esse seleto grupo das conquistas inesquecíveis: o Grêmio Recreativo Beija-Flor de Nilópolis alcançava a glória de se tornar a campeã do carnaval carioca, conquistando o respeito e o carinho do povo fluminense. O FORMATO DO CARNAVAL 76 Naquela época, o desfile de carnaval do Grupo I, do qual participavam as principais escolas de samba do Rio de Janeiro, era composto por 14 agremiações e realizado em um único dia. O desfile ocorria na Avenida Presidente Vargas, com horário fixado pelos organizadores, iniciando-se a partir das 18h e terminando por volta das 9 horas da manhã do dia seguinte. Na ordem do desfile, Em Cima da Hora, Unidos de Lucas, Unidos de São Carlos, União da Ilha do Governador, Tupy de Brás de Pina, Lins Imperial, Acadêmicos do Salgueiro, BeijaFlor de Nilópolis, Império Serrano, Unidos de Vila Isabel, Estação Primeira da Mangueira, Mocidade Independente de Padre Miguel, Portela e Imperatriz Leopoldinense. Tendo como quesitos a serem julgados bateria, samba de enredo, exibição de Mestresala e Porta-bandeira, harmonia, fantasia, comissão de frente, evolução, enredo, alegoria ou adereços, era a primeira vez, na história dos desfiles, que seriam convocados três julgadores por quesito, com a obrigação de darem notas de 1 a 5. Infelizmente, o não comparecimento de um julgador responsável pela avaliação dos quesitos Harmonia, Enredo e Fantasia fez com que esses quesitos chegassem ao valor máximo de 10 pontos. 64

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O INÍCIO DE TUDO Dr. Hiram Araújo, um dos mais respeitados pesquisadores de carnaval da atualidade, lembra que, “em 1975, ano em que Natal da Portela faleceu, fomos convidados – eu, o Amaury Jório e o Mazinho, filho do Natal – pelo Anizio e pelo Nelsinho a participar de uma reunião onde gostariam de apresentar o interesse da Beija-Flor de Nilópolis em prestar, no desfile de 1976, uma homenagem ao Natal da Portela, contando a história do Jogo do Bicho, um dos mais populares jogos do país. Marcamos um almoço em São Cristóvão, onde nos reunimos, e, num papo bastante agradável, ouvimos a idéia do Anízio e do Nelsinho. Eles queriam saber se nós tínhamos alguma objeção a essa idéia. Todos achamos ótima a idéia e concordamos em dar apoio a ela. Na época, eu era diretor cultural da Portela, o Amaury, presidente da Associação das Escolas de Samba, e o Mazinho, além de filho do Natal e integrante da Portela, uma pessoa muito respeitada no mundo do carnaval. Considero aquele nosso encontro o primeiro passo que a Beija-Flor de Nilópolis deu para a conquista desse inesquecível título.” A partir daí, é o Anizio quem lembra como as coisas foram acontecendo: “Estávamos decididos a fazer um desfile para brigar pelo título. Para isso, resolvemos juntar os melhores na época, entre eles o João Jorge Trinta, o Laíla e o Viriato Ferreira. Eu e o Nelson apresentamos a ele o nosso interesse de fazer um carnaval homenageando o Natal da Portela. A partir daí, o João começou a desenvolver e enredo e o conceito do desfile, enquanto o Viriato desenvolvia o figurino da escola. Além disso, havíamos trazido, há poucos meses, o Neguinho, que, além de puxar o samba na avenida foi o compositor do samba enredo campeão.” VENCENDO DESAFIOS Mas o futuro reservava algumas surpresas a essa escola que tinha a presunção de “bater” nas principais escolas da cidade. A primeira delas foi o desaparecimento do escultor Bira, contratado pela escola para esculpir os bichos dos carros alegóricos em blocos de isopor e que sumiu, depois de receber o seu

Sonhar com rei, dá leão. Sonhar com anjo é borboleta, Sem contemplação, Sonhar com rei dá leão, Mas nesta festa de real valor, Não erre, não, O palpite certo é Beija-Flor (Beija-Flor) Cantando e lembrando em cores, Meu Rio querido, dos jogos de flores, Quando o Barão de Drummond criou, Um jardim repleto de animais, Então lançou, Um sorteio popular, E para ganhar, Vinte mil réis com dez tostões, O povo começou a imaginar... Buscando, No belo reino dos sonhos, Inspiração para um dia acertar Sonhar com filharada, É o coelhinho... Com gente teimosa, Na cabeça dá burrinho, E com rapaz Todo enfeitado, O resultado, pessoal, É pavão ou é veado E assim Desta brincadeira Quem tomou em Madureira Foi Natal, o bom Natal Transformando sua escola Em tradição do carnaval Sua alma hoje é águia branca Envolta no azul de um véu Saudado pela majestade o samba E sua brejeira corte Que lhe vê no céu Autor: Neguinho da Beija-Flor

Fevereiro 2016

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pagamento. Essa ausência só não foi fatal para a boa produção da escola porque parte do serviço havia sido entregue ao Julinho Matos, que deu conta do que era preciso ser feito. Mas os desafios não paravam. Como o barracão da escola era em Nilópolis, atravessar ambos os municípios com os carros alegóricos não era uma decisão segura, e a diretoria resolveu montar um posto avançado do barracão aqui na cidade do Rio de Janeiro, próximo à Avenida onde desfilariam, para a conclusão das alegorias. Esse barracão, no entanto, instalado na Rua Joaquim Palhares, foi invadido por uma outra agremiação, antes que a Beija-Flor de Nilópolis pudesse nele se instalar. “Quando chegamos lá (no barracão da Joaquim Palhares), já tinham colocado tudo deles. Foi um desespero. Felizmente conseguimos um espaço vizinho, onde continuamos a desenvolver nosso trabalho”, revela João Jorge. Dando andamento ao seu trabalho, a Beija-Flor de Nilópolis enfrentou mais uma surpresa, que demonstrou, definitivamente, que a escola estava credenciada a fazer parte do grupo das escolas vencedoras: apesar de estar produzindo um carnaval dentro dos padrões estabelecidos pelo regulamento da Riotur, ela foi surpreendida, no momento de tirar seus carros alegóricos, por uma inusitada situação: o portão de saída do barracão, de apenas três metros, não tinha altura suficiente para que os alegóricos da escola passassem. Depois de muita confusão e tensão, uma equipe de pedreiros derrubou 15 metros de parede lateral do barracão e, com o caminho limpo, os carros da escola iniciaram sua saga para a Avenida. NOVOS DESAFIOS Mas, segundo seu Ary Rodrigues, diretor do Conselho Administrativo da Beija-Flor de Nilópolis e uma das pessoas mais queridas da agremiação, os desafios não se limitavam apenas à fase de preparação do carnaval.: “Talvez as pessoas da época não se lembrem, e certamente os jovens não sabem disso, mas vencer as quatro maiores escolas da época – Salgueiro, Mangueira, Portela e Império Serrano – não era fácil. Elas eram


quase que imbatíveis. Eram as maiorais. Era muito difícil desbancar essas quatro escolas. Basta analisar os resultados dos carnavais anteriores: entre os anos de 1939 e 1975, os títulos sempre foram conquistados por uma dessas quatro agremiações.” Além de ter que furar esse bloqueio, a Beija-Flor de Nilópolis estava disputando o título em um carnaval no qual o Salgueiro lutava para conquistar o tricampeonato. Se conseguisse o título, o Salgueiro seria a mais recente tricampeã do carnaval carioca, título só conquistado pela Portela 17 anos antes, em 1959. Sobre esse assunto, Farid Abrão, presidente da Beija-Flor de Nilópolis, lembra bem: “Existia uma tensão muito grande envolvendo o desfile. Vínhamos de duas sétimas colocações e, para piorar as coisas, a Beija-Flor desfilaria logo após o Salgueiro, que, na ocasião, lutava pela conquista do tricampeonato. O desfile foi acontecendo e, para nosso desespero, o Salgueiro entrou na Avenida e fez um belo desfile, digno de campeão. Nossas chances pareciam estar diminuindo, mas o que parecia uma razão de desânimo dos componentes se tornou, na verdade, mais um grande estímulo: desfilamos com muita garra e alegria, e contagiamos o público.” UM DESFILE INESQUECÍVEL Única escola de samba a não ser da cidade do Rio de Janeiro, o GRES Beija-Flor de Nilópolis entrou na Avenida aproximadamente às 5h da manhã, com 2.500 componentes, e, apresentando um surpreendente desfile, fez a arquibancada vibrar e gritar: “É campeã! É campeã!”. Com o enredo “Sonhar com Rei dá Leão”, a Beija-Flor de Nilópolis desenvolveu seu enredo passando pelo Rio antigo, na época do Barão de Drumond, que, amante dos animais, foi dono de um zoológico particular que, futuramente, inspirou o Jogo do Bicho, falou dos sonhos que giram em torno do povo que joga no bicho, e, com arte e beleza, decorou os 25 bichos do Jogo do Bicho em diversas alegorias, prestando, por fim, uma homenagem ao Natal da Portela – Natalino José do Nascimento.


Todos os que tiveram o privilégio de ir à Avenida para ver o carnaval de 1976 viram surgir uma grande escola com um grande desfile, que apresentou uma Comissão de Frente sem precedentes na história do carnaval, formada por 14 sambistas com mais de dois metros de altura. Além disso, com um desfile considerado leve, suave e forte pelos especialistas, a escola brindou o público com a presença irreverente da cantora Maria Alcina, representando o veado real, e com a arte e a reverência do casal de Mestre-sala e Porta-bandeira, Zequina e Juju Maravilha. Fazendo um desfile empolgante, e tratando de um assunto conhecido de todos os que estavam na arquibancada, o desfile da BeijaFlor conquistou o público, tendo sido um dos carros que mais fizeram sucesso o que veio com o casal de negros adormecidos em uma cama sobre folhas prateadas de 200, 1.000 réis, rodeados por animais, representando o aspecto onírico do Jogo do Bicho. Naquele dia, a Beija-Flor fala coisas do povo para o povo. E era um momento de muita mágica. Mas, além do ambiente mágico que foi criado, a escola não descuidou do seu dever de casa, o que lhe permitiu não só a conquista do título como a criação de um marco na história do carnaval. Segundo Laíla, “Fizemos realmente um grande desfile. Ele foi todo bonito: seja na unidade da escola, seja como se conduziram a bateria, a evolução, a harmonia... Estávamos perfeitos. E esse desfile foi o grande salto para a Beija-Flor e para o carnaval. Foi quando João mudou os critérios todos de alegoria, utilizando alegorias mais volumosas, pomposas, tirando os destaques do chão e colocando-os sobre os carros alegóricos... Valorizando o samba no pé da comunidade.” Aquele dia era o dia da Beija-Flor. Era o dia de David vencer o Golias. Era o dia do povo sofrido (mas sonhador) da baixada mostrar ao mundo do que ele era feito: raça, criação e amor. E foi o que realmente aconteceu: quando a Beija-Flor de Nilópolis passou pela avenida, o público não se conteve e, aplaudindo fortemente o que via, gritava: “Já ganhou! Já ganhou! É campeã! É campeã!”.


UMA VITÓRIA DE TODOS Existia uma torcida muito grande de todos de Nilópolis e da baixada fluminense pela vitória da azul e branco de Nilópolis. Mas todos sabiam que era uma coisa muito difícil, quase que impossível. Mesmo assim, um dia antes da apuração, os integrantes da agremiação já estavam preparando na quadra a “Festa da Zebra”. Enquanto estocava as caixas de cerveja na quadra, Negão da Cuíca, um dos fundadores da Beija-Flor de Nilópolis, comentava: “Nós subimos em 1973 com o enredo “Educação para o desenvolvimento”. Nos dois anos seguintes conseguimos honrosos sétimos lugares. Mas este ano não vai dar outra: vamos ficar entre os três primeiros colocados. Se eles derem o quarto lugar, é injustiça.” No entanto, quando o resultado saiu, a vitória da Beija-Flor foi bem recebida por todos. Segundo matéria publicada no jornal O Globo de 6 de fevereiro de 1976, João Barbosa, um dos destaques da Estação Primeira de Mangueira, declarou que “A Beija-Flor surpreendeu. Veio bonita, organizada. Temos que reconhecer seu valor.” O jornal publicou, ainda, dois interessantes depoimentos que consolidam a força do povo da baixada: “É a Beija-Flor e está decidido. Vocês agora, quando quiserem ouvir um samba, vão ter é que tomar um trem até Nilópolis. É isso aí. Acabou o tabu, o tabu mixou.” (Nelson Barros, morador de Nilópolis e “fanático” pela Beija-Flor de Nilópolis.) “Minha grande alegria com esse resultado é que, a partir de agora, samba não é mais privilégio da Vila, nem de Madureira. O samba é de todo o estado do Rio, principalmente da baixada fluminense.” (Roberto Silva, Portelense e morador de Madureira).

*Reprodução da matéria publicada na edição 2006 da revista “Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida”.


HILTON ABI-RIHAN

Com um samba alegre e inteligente, capaz de retratar com fidelidade o cotidiano do povo trabalhador, Neguinho é o cara que ajudou a mudar a história do Carnaval. Autor do samba enredo “Sonhar com rei dá leão”, Neguinho tem contribuído com a arte brasileira através da produção de letras poéticas e melodias de fácil assimilação. Neguinho pode ser considerado um poeta a serviço do samba. Nascido em uma família de músicos, sua principal influência na arte da música foi exercida pelo pistonista Bené do Piston, seu pai. Se por um lado seu Bené era a grande influência e inspiração, de outro sua mãe não queria que Neguinho fosse músico. Segundo ela, “tocar piston deixa uma marca feia nos lábios”. Resultado: Neguinho seguiu o caminho do canto e da composição. Tinha facilidade para isso, e desde cedo conseguia juntar com facilidade frases e melodias. Jovem da baixada fluminense, em uma época na qual o acesso à capital fluminense não era tão franqueado - especialmente pela limitação de transportes públicos -, Neguinho conta que teve uma importante inspiração na sua formação no samba com o cantor José Bispo Clementino dos Santos: “Minha inspiração no canto foi Jamelão. Até hoje é ele. O timbre de voz dele me encanta. Além da história de vida dele, me admirava o estilo de cantar.” 70

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E ter Jamelão como inspiração certamente foi um importante elemento quando a sua primeira grande oportunidade profissional surgiu: compor enredos para a Beija-Flor de Nilópolis, que viria a ser a principal escola de samba do Carnaval carioca. “A minha finalidade no samba era compor. Não achava minha voz assim tão legal e até hoje não acho. Acho minha voz diferente. Meu negócio era compor. Então, quando surgiu a chance de realizar uma composição para disputar o samba-enredo da Beija-Flor, em 1975, fiquei muito empolgado porque sabia que se meu samba fosse vencedor eu ganharia, também, mais visibilidade como compositor. Acontece que não só ganhei com o meu samba como fui chamado para a gravação do LP de sambas-enredos de Carnaval. Depois dessa situação de eu começar a cantar, com o enredo “Sonhar com rei dá leão”, o lado do intérprete superou o do compositor, pelo menos para as pessoas de fora. Porém, minha finalidade no samba sempre foi compor.” Para quem não sabe como Neguinho foi convidado para gravar o seu samba no LP oficial das Escolas de Samba, ele comenta que “antes de 1976, quem gravava o samba da Beija-Flor era o coral da escola. Depois passou a ser o Bira Quininho. O Bira faleceu www.beija-flor.com.br


e a escola contratou o Abílio Martins. Só que o Abílio Martins não ia às disputas de samba. No dia que foi gravar o samba “Sonhar com rei dá leão”, o Abílio não estava conseguindo interpretar a música. Como fui eu que escrevi a letra e eu já cantava, cantava no Bola Preta com o Laíla, por exemplo, eu fui e disse como era para o samba ser interpretado. Aí alguém falou para o Anízio que eu cantava bem e que o Anízio deveria dar uma chance e ver como eu iria me sair. Resultado: Anízio agradeceu o Abílio, pagou seu cachê e o liberou, me colocando para gravar o samba. Desde então, estou aqui, fiel à Beija-Flor.” “NEGUINHO DA VALA”, “NEGUINHO” E “NEGUINHO DA BEIJA-FLOR” Era uma época boa. A gente se divertia bastante. Quando eu era moleque, eu vivia pescando em uma vala no bairro que eu nasci, Nova América. Daí o apelido “Neguinho da Vala”. Quando me inscrevi na Beija-Flor para disputar o samba-enredo de 1976, eu assinei

Neguinho na Avenida: sempre defendendo enredos campeões: em 2015 e em 1976, ao lado de seu irmão, Nego.

só Neguinho. Aí ficou Neguinho mesmo. Um dia, em uma churrascaria, durante um almoço com diversos amigos, inclusive o Anízio, me sugeriram que mudasse meu nome artístico para Neguinho da BeijaFlor, pois “Neguinho” não dizia muita coisa e “Neguinho da Vala” pegava mal. Na época era comum intérpretes carregarem os nomes de suas escolas na assinatura, como Martinho da Vila, Dominguinhos do Estácio e outros. Anízio ouviu e gostou da ideia. Aí ficou “Neguinho da Beija-Flor”.


POESIA NAS LETRAS Em 1975, quando disputou e venceu o concurso de samba-enredo da Beija-Flor de Nilópolis, Neguinho era o compositor mais jovem a ganhar um samba-enredo sozinho. “Eu fiz muitos sambas sozinho ou com um parceiro só. Eu sempre preferi assim, sozinho. Eu tenho poucos parceiros. Eu tenho algumas composições com o Almir Guineto e uma com você, Abi-Hiram. Prefiro assim. Até porque, minha forma de compor é assim meio intuitiva - quando componho vem tudo de uma vez, letra e melodia, então prefiro fazer sozinho mesmo.” O CARNAVAL Músico e intérprete de sucesso, com uma carreira profissional estabilizada, Neguinho é só felicidade. Segundo ele, dar a sua contribuição à Beija-Flor é uma grande alegria. “Para mim, esse é o grande momento da minha vida profissional. No desfile o mundo todo está vendo e cantando com você. Quando acabo o desfile, normalmente vou viajar para fazer um evento em outro lugar e durante a viagem abro o meu telefone celular e vou vendo a quantidade de mensagens e de pessoas do mundo todo elogiando a Beija-Flor e o meu trabalho na Avenida. É impressionante. E isso me deixa feliz, orgulhoso e me dá muita força pessoal. Não posso esquecer o grande momento que vivi na Sapucaí, que considero o mais importante momento de minha vida. Foi no Carnaval de 2009. Estava

lutando pela minha vida e contra um câncer. Achei que não fosse mais poder interpretar o samba daquele ano, mas passei na Avenida. Tinha um médico ao meu lado para se caso eu passasse mal. Quando acabou o desfile, fui recebido pelo presidente da República, pelo Governador, e pelo Prefeito da Cidade. Foi emocionante porque foi uma espécie de renascimento. Chorei de emoção quando tudo acabou e agradeci a Deus a oportunidade que ele acabava de me dar.” SIMPLICIDADE DE UM ARTISTA Neguinho é uma figura pública que não se esconde. Quem o acompanha vê que não faz grandes exigências, tão comuns aos artistas egocêntricos. “Para mim, não tem essa de Sala Vip. Quero ficar em contato com o público. Tenho sempre na memória os ensinamentos de meu pai. Ele queria que eu seguisse a carreira militar. Eu era bombeiro da aeronáutica e ele falou para eu seguir essa carreira porque música não dava nada. E a Beija-Flor ganhou o carnaval em 1976, comigo cantando na avenida. Aí meu pai falou: ‘Eu não queria essa vida para você, mas agora que as coisas estão assim, eu te peço para não esquecer de quem você é. Você é o Luiz Antônio, não o ‘artista’. Porque tem gente que se acha artista e deixa de fazer coisas normais’. E eu sigo esse conselho. E sou o primeiro a ganhar com isso. A vida é para viver, e não para assistir sentado, de camarote. Estou feliz com as escolhas que faço”.

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UBIRATAN T. GUEDES

O Carnaval, durante esses longos anos, teve inúmeras mudanças, sempre para melhor. É bem verdade que a transformação no Carnaval iniciou-se com o grande mestre Arlindo Rodrigues, que introduziu, no desfile das escolas de samba, através do Salgueiro, a figura viva do destaque, bem como o carro espelhado de Iemanjá, além das “burrinhas de Debret” na comissão de frente. Iniciava-se uma nova era. Entretanto, a grande mudança em nossos desfiles surgiu com a Escola de Samba BeijaFlor de Nilópolis, com a apresentação do enredo “Sonhar com Rei dá Leão”, elaborados pelos saudosos Joãosinho Trinta e Viriato Ferreira. E o que mudou? A Beija-Flor de Nilópolis, até 1976, era uma escola de samba que não tinha pretensões, aparentemente, de conquistar o Carnaval, o que, diga-se de passagem, era um sonho praticamente impossível, pois 04 (quatro) escolas de samba tinham o direito de mas sem utilizar luz em suas vestimentas, concorrer ao título: Portela, Salgueiro, espadas ou cabeleiras, e, o principal: toda Mangueira e Império Serrano. uma comunidade veio para a avenida. Quebrando esse tabu, surgiu a hoje Os destaques eram de uma negritude campeoníssima Beija-Flor de Nilópolis, arrebatadora: Pinah, que encantou um apresentando-se de forma totalmente príncipe, um jovem compositor introduzindo diferenciada do que até então se tinha visto um grito de guerra – Neguinho da Beija-Flor nos desfiles das escolas de samba. – e Sonia Capeta, a primeira rainha negra a Carros alegóricos gigantescos, um tema ser reverenciada por uma bateria. Todos da de enredo totalmente fora do tradicional, comunidade, empenhados em transformar o componentes luxuosamente fantasiados, Carnaval, comandados por um grande líder 74

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que surgia, e que foi o maior responsável Preto”, se afirma como um grande líder. por tudo de bom que aconteceu no maior Tem mais. espetáculo da Terra – Aniz Abrahão David. O espaço da Presidente Vargas é pequeno O querido e inigualável Aniz Abrahão David. para a grandeza do espetáculo, o Mundo é espectador. De outra cabeça genial, Prof. A partir daí, tudo mudou. As escolas passaram a cantar enredos Darcy Ribeiro (Que saudades!) surge uma totalmente diferentes daqueles apresentados ideia, que hoje é o cenário da festa: a anteriormente. As esculturas dos carros Marques de Sapucaí, o Sambódromo: “Um alegóricos foram substituídas por figuras templo sagrado à luz do luar/Apoteose de vivas. O negro passou a ser valorizado, todo Sambista/Artista! Herdeiro verdadeiro respeitado, reverenciado. Tornou-se artista. de Ciata...”. A partir do desfile de 1976, com a grandiosidade apresentada pela comunidade de Nilópolis integrando a Beija-Flor, o Carnaval passou a ser visto não só como uma festa popular, mas indiscutivelmente como um espetáculo para o mundo.

Assim, meus amigos, todos aqueles que amam e gostam de Carnaval, sem sombra de dúvida, têm que reverenciar e agradecer a Beija-Flor de Nilópolis, que sonhou um sonho sonhado, tornando-o realidade, contribuindo de forma imprescindível para a grandeza deste espetáculo: o Carnaval Carioca.

Funda-se, então, a LIESA – Liga Independente das Escolas de Samba. Grandiosas agremiações carnavalescas se unem e, mais uma vez, Aniz Abrahão David, ao lado do saudoso mangueirense Djalma dos Santos, carinhosamente conhecido por “Djalma

Valeu, Aniz.

Deixou a senzala e invadiu a casa grande.

Se, em 1976, sonhava-se com um rei, nos anos que se sucederam, hoje e sempre, se aplaude uma rainha: Beija-Flor de Nilópolis, a deusa da passarela, “que na Sapucaí é soberana, de fato nilopolitana”.


VICENTE DATTOLI

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O Rio de Janeiro não é uma cidade industrial. Nem poderia. Suas belezas naturais não conviveriam em harmonia com chaminés, negras nuvens de fumaça, apitos marcando horários de chegada, almoço e saída. Não, este não seria o Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro, desde sempre, tem um ar cosmopolita que o torna ideal para receber turistas. Mesmo que estes turistas, lá atrás, aqui estivessem para tentar colonizar, como fizeram os franceses. Não vieram como amigos? Vão embora e respeitem nosso estilo de vida.

Americanos. Nada menos do que 42 nações do nosso continente, de Norte a Sul, aqui estiveram. E para surpresa de muitos deu tudo certo. Tão certo que, dois anos depois, finalmente conseguimos conquistar o direito de receber os Jogos Olímpicos. Em 2016, pela primeira vez, o maior evento esportivo do planeta estará na porção Sul das Américas. Não fosse pela Austrália, que já recebeu duas vezes as Olimpíadas (Melbourne e Sidney), os Jogos do Rio seriam os primeiros da porção Sul do planeta. É muita responsabilidade. Mas a Cidade Maravilhosa

Nos últimos anos, cada vez mais conscientes deste destino, o Rio de Janeiro vem recebendo mais e mais eventos. E, com os eventos, mais e mais turistas. Que se sentem completamente à vontade em nossa cidade. Eles chegam para o réveillon e, em muitos casos, ficam para o Carnaval. Outros já vêm apenas para o Carnaval. Nos últimos anos, porém... Em 2007 o Rio de Janeiro recebeu os Jogos Pan-

está se preparando para isso. Entre o Pan de 2007 e a Olimpíada de 2016 tivemos a Copa do Mundo. Uma grande festa multicultural que mobilizou nossa cidade. Como esquecer as dezenas de carros e motorhomes vindos da Argentina estacionados no Sambódromo esperando pela final – vencida pela Alemanha – no nosso Maracanã? Para quem se surpreendeu com a organização,

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com o fato de tudo ter dado certo, o Rio respondeu – com seu jeito malandro e sorrisos – que estamos acostumados, sim, a realizar grandes eventos. Sabemos receber muito bem os turistas que chegam à nossa cidade para curtir nossas maravilhas. Fomos capital e até hoje somos o centro cultural e social do país. Duvidam? Vejam os desfiles das Escolas de Samba. Sim... Os desfiles das Escolas de Samba reúnem, em dois dias, na Passarela do Samba, mais de 250 mil pessoas, entre público, desfilantes e pessoas que trabalham para que tudo dê certo. Neste público, milhares são ilustres convidados que vêm de todas as regiões do Brasil e, claro, de todo o mundo. Pessoas que chegam ao Rio para curtir seu sol, seu mar e sua gente. Durante as apresentações das Escolas de Samba na Marquês de Sapucaí os visitantes são totalmente envolvidos pela nossa cultura. Recebem uma overdose do que é ser brasileiro, do respeito às nossas tradições, mas tudo isso sempre com muita criatividade

e aquele jeitinho bem carioca de levar a vida. Está fazendo calor? Não tem problema, a diversão compensa o suor derramado. Chove muito? Mais uma razão para dar tudo na apresentação e mostrar que nada é capaz de tirar nosso entusiasmo. Esse é o Rio de Janeiro. Assim é o Rio de Janeiro. Neste 2016 o turista que chegar ao Rio de Janeiro para acompanhar o Carnaval encontrará uma cidade ainda mais maravilhosa. Uma cidade que vem se renovando, se reencontrando, buscando ampliar a qualidade de vida de sua população – e, de quebra, aumentar a felicidade dos amigos que vêm nos visitar. No Carnaval olímpico, como sempre, não faltarão às Escolas de Samba criatividade, alegria e, principalmente, brasilidade. A seis meses dos Jogos Olímpicos os turistas poderão constatar que o Rio de Janeiro está pronto para receber a maior competição esportiva do mundo. Simplesmente porque, todos os anos, realizamos a maior festa popular do planeta – e tudo dá certo, mesmo sem qualquer ensaio geral.


REDAÇÃO

O Desfile de Carnaval é a grande atração da cidade no período de férias, evento que contagia e desperta o interesse das pessoas antes mesmo de ser realizado na Avenida. Para alimentar esse interesse e premiar o folião, as escolas de samba promovem eventos nos quais a sua presença é bem vinda e esperada. São os casos das escolhas dos sambas de enredo e os ensaios com a comunidade – que lotam as quadras das escolas e começam a ditar a temperatura do Carnaval. A comercialização do CD com os sambas de enredo das escolas que desfilarão na Sapucaí é outro ingrediente que aproxima ainda mais o folião dessa festa: com o CD em mãos, ele pode conhecer os sambas e cantar um a um, fazendo o seu julgamento de quais são os melhores e de quais têm mais chances de contagiar o público durante o Desfile. Os que já integram essa legião de torcedores leais à Beija-Flor aproveitam para treinar seu canto na letra e na melodia gravada para quando chegarem aos seus camarotes, frisas e arquibancadas cantarem com voz forte e coração vibrante o samba que querem ver campeão. É na hora da audição do CD, também, que muita gente boa, simpatizante de alguma escola coirmã da Azul e Branco de Nilópolis acaba elegendo nosso samba o de sua preferência. 78

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Além do mais, é o samba que conduz a atmosfera invisível do Desfile, unindo e guiando através de um condão sonoro, 3.000 componentes na avenida. Por todas essas questões, agora fica compreensível porque a Beija-Flor dá essa atenção tão especial aos seus sambas-enredos, fazendo com que eles sempre estejam na lista dos melhores do ano. E é pela importância dos sambas-enredos da Beija-Flor que a agremiação não abre mão de trabalhar com arranjos de primeiríssima qualidade, com uma produção e direção musical, também, de primeira. Para isso, a agremiação nilopolitana conta com a valiosa contribuição do maestro Jorge Cardoso - o Mestre da Música. Para quem nunca imaginou que há uma mão mágica por trás das gravações dos sambasenredos da Beija-Flor, apresentamos Jorge Cardoso. Músico, arranjador e produtor musical, Jorge começou sua história na música tocando em bailes na zona norte da cidade, onde, depois de ganhar destaque, foi chamado para tocar na banda da cantora Alcione. Com dois anos de banda, devido às suas qualidades profissionais, tornouse diretor musical e em seguida assistente de produção da cantora. Por fim, como o coroamento por toda a sua capacidade de produção artística e musical, Jorge foi www.beija-flor.com.br


chamado para produzir os discos da cantora. “Estou há 32 anos produzindo os discos da Alcione, e através dela, acabei sendo colocado no universo das escolas de samba.”, conta. Essa sua aproximação foi muito positiva para o mundo do Carnaval. Basta lembrar que foi graças a ela que as composições das Escolas de Samba gravadas nos LPs ou CDs de sambas-enredos receberam esses arranjos de altíssima qualidade, que valorizaram ainda mais as composições. “No início, nesse trabalho com os CDs das escolas de samba, eu só produzia o coro. Quem fazia os arranjos era o Ivan Paulo. O Ivan foi trabalhar em São Paulo e acabou se desligando desse trabalho. Então, eu e o Alceu Maia assumimos essa tarefa de produzir os arranjos. Estou fazendo os arranjos das escolas de samba há uns 20 anos – revezo com o Alceu. Faço os arranjos de seis escolas e o Alceu, das outras seis, aleatoriamente, mas o Laíla sempre pede que eu faça os arranjos da Beija-Flor. Ele acha que sou pé quente. Eu brinco com ele que quem ganha é a escola – e na Avenida. Mas fico lisonjeado pela preferência, especialmente porque o Laíla entende muito do assunto. Depois de elaborados os arranjos, o maestro assume outra importante função: coordenar a equipe de músicos, da bateria e da comunidade para a gravação do áudio que será utilizado para a produção do CD de sambas-enredos. “Depois de os arranjos estarem prontos, me reúno com o Mestre Rodney para lhe passar os detalhes do arranjo e, assim, ele passa as convenções aos seus ritmistas. No dia agendado, gravamos na cidade do samba a bateria e o coro da comunidade. Temos seis horas para fazer essa gravação, mas o time da Beija-Flor normalmente vem com tudo bem ensaiado e na hora as coisas funcionam bem. Terminada essa etapa, começo a produção em estúdio, onde serão gravadas a parte do cavaquinho, do violão e, por fim, as vozes”. Sempre deixando claro que seu trabalho é profissional e que trata todos os sambas do CD com o mesmo profissionalismo e dedicação, Jorge esclarece: “Estamos na redação da revista da Beija-Flor para falar

dos arranjos, dos seus sambas e do processo de gravação deles. E nesse sentido, a BeijaFlor é show: sempre tira boas notas no samba. Para mim, a explicação é simples. A escola tem o Laíla, que toma conta de tudo, dos compositores e das reuniões que acontecem lá, justamente para acertar,

melhorar o samba. Tem também uma equipe de compositores de primeira linha e que entendem esse sotaque da escola, o que acaba criando sambas de altíssimo nível e que se destacam no Carnaval. Veja o samba desse ano. Ele é forte e com um refrão muito bom. Mataram a pau na frase ‘Sou Beija-Flor, na alegria ou na dor. A Deusa da passarela, é ela! Primeira na história do Marquês, que na Sapucaí é soberana, de fato nilopolitana’. Fizeram uma ponte que ligou o amor à Beija-Flor à ideia do enredo. Essa coisa das ideias que estão nas entrelinhas são ótimas. Isso encanta, emociona as pessoas. O time de compositores da Beija-flor tem caras que fazem a diferença. A Beija-Flor tem, também, a voz cativante do Neguinho, que é um DNA dos sambas. E, é lógico, tem essa comunidade absurdamente cúmplice, que abraça o samba e promove um canto único.” Esse é o maestro Jorge Cardoso. Orgulhoso do trabalho que realiza e que acaba por levar aos brasileiros em todo o mundo o que há de melhor em sambas-enredos através dos seus arranjos e da sua produção musical. Fevereiro 2016

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PROGRAMA SÓCIO TORCEDOR DA BEIJA-FLOR REDAÇÃO

O G.R.E.S Beija-Flor de Nilópolis é uma das instituições culturais mais conhecidas do mundo, com fãs e torcedores nos quatro cantos do planeta. Com o intuito de premiar e aproximar essa legião, a Soberana criou o programa “Sócio Torcedor - Bate No Peito Eu Sou Beija-Flor”, um programa de relacionamento e vantagens entre a Beija-Flor e seus torcedores. O programa Sócio Torcedor oferece algumas importantes vantagens ao seu associado, permitindo que receba informações exclusivas para acompanhar tudo que acontece na escola – desde os bastidores do barracão, quadra e Sambódromo, passando pelos shows que a Azul e Branca de Nilópolis realiza dentro e fora do país durante o decorrer do ano. O programa oferece três tipos de planos com vantagens progressivas: Colibri, Guinumbi e Beija-Flor. Para Alessandra Pirotelli, idealizadora do programa, ele é uma forma que a agremiação encontrou de presentear os torcedores com benefícios exclusivos, sanar suas curiosidades, aproximá-los dos seus ídolos, abastecê-los de informações e em contrapartida ajudar os projetos sociais da escola através desta associação: “É um programa que oferece vários prêmios, como comprar fantasias com descontos. O participante do programa terá descontos na compra de ingressos para as 80

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feijoadas da quadra, para assistir aos ensaios da escola em Nilópolis e na Sapucaí, na aquisição de produtos da loja virtual, além de receber com exclusividade notícias sobre o desenvolvimento do Carnaval da BeijaFlor”, revela a empresária. E em breve os benefícios irão além, pois os associados poderão adquirir produtos e serviços junto a parceiros comerciais de diversas áreas de atuação com descontos em redes de estabelecimentos em todo Brasil que estarão associadas à Beija-Flor de Nilópolis, como farmácias, supermercados, entre outros segmentos. Importante: qualquer torcedor da BeijaFlor de Nilópolis que possua um CPF válido pode aderir ao programa Sócio-Torcedor. Caso seja menor de dezoito anos, deverá obter a autorização dos pais ou responsáveis, e se cadastrar utilizando o CPF do referido responsável. O cadastro é feito pelo site www.beija-flor. com.br e em poucos dias o torcedor receberá em casa o cartão de sócio-torcedor com um kit exclusivo de acordo com o plano escolhido. www.beija-flor.com.br



ADRIANA BUARQUE

“A comunidade é a melhor guardiã de seu patrimônio”. Aluísio Magalhães

Nunca se falou tanto sobre o tempo. Que o tempo parece passar mais rápido, que depois das novas tecnologias há muitas informações em minutos que não damos conta, que estamos conectados fulltime, mas não sobra tempo nem para uma refeição com calma ou aquele bate papo sempre adiado com o velho amigo, entretanto visto com frequência nas redes sociais. Sim, falta tempo sim, pois a relação com o mesmo mudou, não é mais uma relação contínua e com certo sentido de permanência. Especialmente com a internet acumulamos informações, imagens e estímulos que nossa própria mente não está preparada para receber e muito menos armazenar. Tudo é efêmero: as informações, os estudos, os relacionamentos etc.. Vivemos como marionetes nesta aceleração advinda da modernização, perderam-se o sentido da contemplação e quiçá reflexão. Aquilo que necessita que paremos um pouco mais fica para o “Ah... Deixa pra depois!” Paradoxalmente nossa sociedade procura “reter” este tempo cada vez mais com construções de museus, centros culturais, perpetuação de tradições populares, literatura de cunho biográfico, romances históricos e por aí se vai. A civilização pós-moderna é paradoxal por natureza. As formas de demências 82

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crescem, o mal de Alzheimer preocupa a todos e em contrapartida tratamentos estéticos que paralisam a marca do tempo em nossos corpos proliferam. Tempo, tempo, tempo. Fala-se muito nele, vivencia-se pouco e preocupamonos em demasia com ele. Andreas Huyssen trata em seus livros “Memórias do modernismo” e “Culturas do passado-presente: modernismos, artes visuais, políticas da memória” esta questão da necessidade em reivindicar um sentido de tempo e memória buscando a volta das tradições locais e culturas ancestrais à procura do livramento desta sensação de espaço vazio cotidiano que se instala em nós, tentando assim reconstruir o próprio tempo e memória, a mãe de todo conhecimento. Preservar nossas culturas locais é uma forma de controlar a realidade presente que sentimos em agonia. As alternativas para os projetos do futuro estão desacreditadas e é nesta rachadura que as lembranças do passado tornam-se presente. Mas não é simplesmente o deslocamento do passado para o presente e sim sua reinvenção, afinal a memória é um artefato e só existe lembrança ou tradição sob o olhar do espectador de hoje, o homem deste mundo atual, midiático e globalizado. www.beija-flor.com.br


E nesta falta de pertencimento ao mundo, o homem sente a própria perda de sua identidade. Em tempos globalizados urge a necessidade de marcar nossa singularidade e são nas culturas e movimentos locais regionais que abrimos uma porta para o próprio reconhecimento. Estamos falando de patrimônio imaterial, nossas crenças e histórias, o que nos demarca no espaço e tempo. Quando mencionei a quantidade de museus e a verificação constante de proteção de nossa arquitetura, monumentos e obras de arte trago à tona a ideia de transmissão de nossa história às gerações mais novas e futuras. E neste movimento observou-se também que a partir dos anos 90 cresceu o interesse pela proteção dos conhecimentos e tradições populares, manifestações estas que são passadas de geração para geração através do ensino verbal e prático. Muitas vezes dentro da própria família e depois se alargando

para a comunidade local. Experiências como o artesanato, a dança, música, folclore, festas e rituais. Nisto consiste o patrimônio imaterial perpetuado através da oralidade. Registros formais e pesquisas são poucos e dispersos. Em 2003, a Unesco começou a unificar parâmetros e critérios para identificação destas manifestações que deveriam ser catalogadas e quais precisariam ser tombadas. Isto se deu na ‘Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial’. No Brasil há um novo projeto de lei a fim de ratificar o documento prometendo a preservação através da catalogação e tombamento aplicado a algumas delas. Antropólogos e sociólogos vibraram com esta preocupação afinal demonstrou-se a compreensão das referências culturais locais como construtoras de identidades nacionais diversas, ainda mais em nosso vasto país.


Em 2004 o ‘Relatório do Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento’ (Pnud) destacou a importância da conservação das mesmas tradições populares, estimulando a perpetuação destas através da elaboração de formas de sustento assim como a possibilidade de mostrar aos jovens outras formas de conhecimento, diferenciadas daquelas advindas da globalização e hegemonia preponderantes na atualidade. É vital para o desenvolvimento humano uma variedade cultural para que se possa de fato ter parâmetros para poder fazer escolhas identitárias. Numa pequena volta ao tempo, em 1936, o escritor Mario de Andrade já havia demonstrado preocupação com o assunto, entregando um documento ao então ministro da cultura Gustavo Capanema onde constava a preocupação com o patrimônio cultural numa perspectiva maior do que a tradicional formada pelos monumentos e obras de arte. Após anos de mobilização, em 2000, o decreto presidencial 3551 passou a reger o patrimônio imaterial no que diz respeito à identificação, registro e proteção em casos de culturas com risco de extinção. Em 2001, a Unesco proclamou as “ObrasPrimas do Patrimônio Oral e Intangível da Humanidade”, um título internacional concedido aos espaços e manifestações da cultura tradicional popular. 84

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O Brasil já foi premiado com as “Expressões Orais e Gráficas dos Wajãpi”, 2003, o “Frevo”, em 2012 e “Samba de Roda do Recôncavo Baiano” em 2005. No Brasil o Iphan tem realizado a identificação e sistematização de referências culturais relevantes para o país. Consta a pintura citada dos índios Wajãpi do Amapá, o ofício das mulheres paneleiras da região de Goiabeiras em Vitória, Espírito Santo, o Jongo, no Rio de Janeiro, que influenciou poderosamente o samba carioca e a Viola de Cocho, instrumento muito utilizado pelos tocadores de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Na culinária o queijo artesanal de Minas Gerais e o acarajé da Bahia. Ainda não se pode esquecer a obra do poeta Patativa do Assaré. No total são 28 inventários de manifestações culturais sendo realizados. O registro consiste na descrição das características históricas e técnicas em um livro do próprio instituto, o que corresponde ao tombamento. Dentro de toda a documentação pode se encontrar fotografias, vídeos, ilustrações, objetos e estudos históricos, sociológicos e etnográficos. Estes registros são válidos por dez anos e após exame do bem cultural o mesmo pode ser renovado. Durante a passagem do tempo pode-se constatar as modificações ocorridas. No caso de possível desaparecimento da tradição cultural o Iphan traça um plano de salvaguarda cultural como é o caso da renda da singeleza em Alagoas. No ano de 2004 a última senhora capaz de realizar este trabalho manual ministrou um curso de três meses, duas vezes na semana, para repassar seus conhecimentos a outras rendeiras do município. A perpetuação da cultura local e o aprendizado das novas gerações podem ser preservados e estimulados pelo Iphan, o Centro Nacional de Folclore, Estados, Prefeituras, projetos de Universidade ou demais setores privados, mas é de suma importância frisar que o aprendizado da expressão artística e cultural, com vias a se tornar também uma forma de trabalho, se dá impreterivelmente pelo envolvimento da comunidade local. Como já foi dito antes, todo conhecimento e técnicas são passados oralmente dentro de um grupo. A tradição popular sempre foi marcada pela oralidade e é de suma importância que a www.beija-flor.com.br


própria comunidade abrace a causa. Os benefícios do reconhecimento público trazem para o país uma maior organização de sua diversidade cultural e para a comunidade local uma nova consciência de sua própria realidade. Podemos falar ainda das vantagens diretas como possibilidade de geração de renda para a população local. Isto aconteceu com as paneleiras de Goiabeiras em Vitória. Com o reconhecimento de seu ofício tiveram sua autoestima elevada compreendendo a importância de seu trabalho, além de conseguirem que a atividade não terminasse ali, já que o barro utilizado estava se acabando. Com a intervenção do Iphan e das organizações locais uma nova fonte de barro foi encontrada, viabilizando a continuidade da produção. E mais: no momento que o trabalho foi destacado como patrimônio nacional a busca pelas panelas cresceu. Toda esta abordagem do patrimônio imaterial é recente em todo o mundo e ainda há muito a se discutir sobre estes bens tais como: pirataria dos objetos, cachês quase inexistentes dos artistas populares, além dos direitos autorais das obras. Apesar dos

avanços já constatados existe bastante assunto a ser desenvolvido. Com certeza há um consenso sobre a falta de uma política de comunicação que envolva de forma constante e objetiva a cultura e lazer atrelados à economia, relacionando os fazedores de cultura popular, governos e mídia local, desenvolvendo assim projetos eficazes de políticas culturais que enalteçam a comunidade e estimulem a participação das crianças. Discutem-se ainda dentro da política pública cultural orientações e capacitações na condução dos projetos, operação de trabalho e renda. A cultura popular, incluso o samba, mote da própria revista aqui presente, sendo abraçada pela economia atrairá sempre novos empreendimentos, oportunidades e profissões. Que este pensamento se alargue sobre toda forma de manifestação do povo brasileiro trazendo engrandecimento e trabalho para a comunidade local, o principal ator deste cenário. Que o passado se faça presente e futuro. As futuras gerações agradecem.


REDAÇÃO

O coquetel de lançamento da revista da BeijaFlor de Nilópolis já se tornou um evento no calendário do samba e do carnaval carioca. A festa, realizada para celebrar a chegada da publicação, acaba ganhando muitos outros elementos positivos. Um desses elementos são os convidados. Todos os anos, personalidades da cultura, do esporte, da política e da sociedade brasileira marcam presença no Clube Monte Líbano para prestigiar o lançamento da revista. Além disso, o tradicionalíssimo “Expressão do Samba” é realizado no mesmo dia da festa que celebra a chegada da publicação. Esse prêmio, além de homenagear artistas consagrados que ainda estão em alta, normalmente valoriza compositores, interpretes e músicos que atualmente não gozam do mesmo prestigio de outras épocas. O coquetel de 2015 teve todos os elementos positivos de costume. Boa comida e bebida, 86

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convidados ilustres e felizes, homenagens à escola e aos premiados do “Expressão do Samba”. Entre os presentes na festa do ano passado estavam Boni, Joel Santana, Antônio Carlos, Vanderlei Luxemburgo e muitos outros. Os contemplados no “Expressão do Samba” de 2015 foram: Aluisio Machado , Ataulpho Alves Jr, Tibério Gaspar, Rubem Confete, Jorginho do Império, Marcos Sacramento e Vilma Nascimento. Um dos pontos altos da festa de 2015 foi o encontro entre Vilma Nascimento, lendária porta-bandeira do carnaval carioca, com Selminha Sorriso, vitoriosa detentora do pavilhão da Beija-Flor de Nilópolis. No ano passado, o coquetel de lançamento da revista da Beija-Flor de Nilópolis foi um sucesso. E pode ter certeza que o de 2016 também será, afinal, esse evento já é sinônimo de qualidade. www.beija-flor.com.br



J. B. de Oliveira Sobrinho (Boni)

Reconheço que a existência de uma competição entre as Escolas de Samba nos Desfiles de Carnaval é um estímulo à qualidade. Reconheço que a existência de julgadores ao longo do Sambódromo é uma maneira de fiscalizar o desempenho das Escolas de Samba em todo o percurso, mas o que é mais importante: o campeonato ou o espetáculo? Não há a menor dúvida de que é o espetáculo. Sem juízes o Carnaval sobrevive, mas sem o “show” não sobreviverá. É um absurdo que o ritmo da passagem das Escolas seja prejudicado pelas paradas para os julgadores. Já imaginaram isso no futebol? Os jogadores fazendo firulas para o juiz apreciar, deixando quem vai aos estádios sem gol. O juiz que corra atrás da bola e não o contrário. Os melhores juízes são aqueles que mantém a disciplina mas deixam o jogo correr e não atrapalham o espetáculo. O gol no Carnaval é marcado pelos detalhes de cada quesito em cada Escola, independente da vontade e do critério dos julgadores. É um esforço que sai na hora da decisão do enredo, na composição do samba de enredo, na criação das fantasias, alegorias e adereços, nas ideias para comissão de frente e no 88

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desempenho da bateria, do mestre-sala e da porta-bandeira e na harmonia. Cada Escola trata de fazer o melhor que pode objetivando o espetáculo. O julgador só acrescenta o elemento lúdico: “quem vai ganhar?” Mas é evidente que ter o julgador como espectador privilegiado de um desfile feito para ele é uma distorção. Os desfiles são cada vez mais feitos para os julgadores. As Escolas têm medo deles. E o medo em qualquer atividade é castrador. Não se faz política com medo, nem medicina, nem jornalismo, nem televisão, nem qualquer tipo de atividade prática e principalmente na arte. Cansei de ouvir falar que não pode isso e não pode aquilo porque um julgador pode não gostar. E os carnavalescos, com medo, usam os sambas de enredo para fazer os julgadores compreenderem a intenção de cada carro e de cada ala. Os coitados dos compositores têm que musicar uma sinopse e fazer uma letra descritiva do desfile, quando isso não é exigido no regulamento. Melodia e poesia foram para o espaço deixando saudades do passado quando compositores tinham mais liberdade, sem medo. E para atender a esses ditadores do julgamento, cada Escola é obrigada a www.beija-flor.com.br


fazer inúmeras paradas, quebrando o ritmo do desfile e prejudicando o público presente e a transmissão de televisão. Já é passada a hora de se repensar isso e dar prioridade a quem paga, ao público e a televisão e não a quem recebe: os julgadores. A audiência da televisão vem caindo e uma das culpas disso é a longa duração da passagem de cada Escola. Reduzir de seis para cinco carros seria um absurdo. Exatamente nas alegorias é que tem residido o ponto forte e inovador dos carnavalescos. Retirar um carro é prejudicar o espetáculo e dar mais um tiro no próprio pé. Encurtem o tempo de desfile retirando as paradas para julgamento. Diminuam o número de componentes que desfilam desanimados e sonolentos como em uma procissão, cobertos por fantasias pobres e repetitivas. Assumam que hoje é diferente.

Tudo mudou. Briguem por luz adequada, por telões, por som digital sem carros gigantescos no meio do desfile. Acabem com a desconfiança da performance de cada Escola reduzindo a fiscalização. Isso era admissível no passado. Com a evolução da qualidade que a própria LIESA imprimiu, que tem o mérito de ter reorganizado o Desfile e elevado seu padrão, creio que cada escola tem competência para desfilar sem ser vigiada em excesso. Ou não há competência? Ou a Liga não confia em seus afiliados? Ou a LIESA é que tem medo de dar um novo e necessário passo? Pelo que conheço de seus dirigentes acredito que uma renovação inteligente virá. Manter o campeonato sim, mas rebaixá-lo a condição de coadjuvante no que é mais importante: o espetáculo. E lutar, sem medo. Para renovar e engrandecer ainda mais o “Maior Espetáculo da Terra”.


REDAÇÃO

Quem acompanha o mundo do Carnaval, sabe que nesse universo gravitam diversas dimensões do ser humano, entre elas, a artística, a cultural, a histórica e a social. No aspecto social, difícil encontrar uma agremiação de carnaval que não tenha uma preocupação com a comunidade e o entorno onde está situada sua sede e quadra. Donos de uma sabedoria empírica, homens como Anizio e Nelson, seu irmão, desde muito cedo viram que a escola de samba é um complexo dinâmico, no qual a vida da agremiação está intrinsecamente ligada à vida da comunidade. Por essa razão, Anizio e Nelson não pouparam esforços para oferecer à sua comunidade condições de vida e bem estar através dos projetos sociais, fundando em maio de 1980 a Creche Julia Abrão. Hoje, passados 35 anos daquele dia, Anizio não esmorece nem diminui o amor que tem pelas crianças e pelas obras sociais que, junto com a sua agremiação do coração, dá vida. Sem olhar para trás, e sem nutrir qualquer vaidade pelo que realiza, Anizio permanece cuidadoso com a sua comunidade, oferecendo através dos serviços da Creche, do Educandário, do CAC e das obras socioesportivas e culturais, um futuro mais digno para as crianças e 90

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jovens da região, com serviços essenciais que merecem todo destaque. Um destaque que a revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida, com muita alegria, teima em apresentar aos seus leitores desde a sua primeira edição, em 2002. CRECHE JULIA ABRÃO Fundada em 1980, a Creche Julia Abrão David tem 250 crianças de seis meses a seis anos matriculadas e que lá permanecem gratuitamente. São cerca de 20 funcionários – entre professoras, babás, porteiros e cozinheiras. As crianças estudam, são bem alimentadas e têm uma convivência fundamental para a vida em sociedade. Além do impacto direto na vida das crianças, que crescerão melhores, mais cultas e bem alimentadas, o serviço prestado pela creche repercute diretamente no desenvolvimento da região, uma vez que os pais seguros de que seus filhos estão sendo bem tratados, desenvolvem suas atividades profissionais com mais tranquilidade e produzem mais e melhor. Fevereiro 2016

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EDUCANDÁRIO ABRÃO DAVID Fundando em 1987 com o intuito de dar continuidade ao trabalho da Creche, o Educandário Abrão David vem cumprindo esse papel com êxito. Atualmente são 60 alunos que têm entre sete e 16 anos e estudam até o 9º ano do ensino fundamental, sem pagar mensalidade e recebendo um ensino de muita qualidade. O Educandário é referência de ensino. Como a Revista da Beija-Flor mostrou na edição de 2014, muitos alunos formados na instituição hoje são pessoas bem sucedidas no mercado de trabalho. Contadores, engenheiros químicos, professores e outras profissionais de áreas de extrema importância para a sociedade, fizeram o ensino fundamental no Educandário Abrão David e agradecem por isso. CAC Para completar o trabalho feito na creche e no educandário, o Centro de Atendimento Comunitário Nelson Abrão David, conhecido como CAC, foi fundado por Anizio e seu irmão Nelson em 1991. O CAC oferece diversos cursos profissionalizantes para jovens e adultos de Nilópolis e adjacências. Cursos de informática, guia turístico, matemática, técnicas de redação, entre outros, foram realizados pelo CAC em Nilópolis, colocando jovens mais preparados no mercado de trabalho. PROJETO SONHO DE UM BEIJA-FLOR Outra atividade realizada pela Beija-Flor de Nilópolis é o projeto “Sonho de um Beija-Flor”. A iniciativa consiste em aulas de diversas modalidades esportivas como: jiu-jitsu, futebol, natação, dança e futsal. Além dos ensinamentos de samba passados para a bateria, passistas, mestre-sala e porta-bandeira mirins. Crianças e jovens de Nilópolis são os principais beneficiados por esse trabalho. GINÁSTICA O programa “Vivabem” é um projeto que 92

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orienta atividades físicas, recreativas e culturais para adultos e idosos, possui nove anos de existência, tendo sido criado e orientado pela professora de educação física Mari Tania Bedin. Contando sempre com o apoio da família Abrão David, o projeto passou, desde janeiro de 2013, a realizar suas atividades físicas na quadra da Beija-Flor de Nilópolis. São 280 pessoas beneficiadas. Além das atividades físicas e recreativas, os eventos culturais também fazem parte do programa “Vivabem”, assim como a comemoração dos aniversariantes do mês, passeios, brincadeiras em homenagem às mães, festas juninas internas e externas, baile dos anos 1960,1970,1980 e confraternizações em geral. PROJETO ZICO 10 Em parceria com o projeto “Zico 10”, a BeijaFlor de Nilópolis promove desde o início de 2014 atividades esportivas para crianças e adultos com deficiências intelectuais. De todos os núcleos do Zico 10, esse é o único voltado para pessoas com deficiências. FUTSAL Coordenado por Gerson Hannas, as atividades de futsal acontecem todas terças e quintasfeiras. A quadra é ocupada por meninos e algumas meninas, entre 6 e 17 anos. Muitos atletas desse projeto são preparados para a disputa da ‘Taça das Favelas’, competição que acontece todos os anos e costuma revelar alguns craques no futebol. AULAS DE CANTO PARA A TERCEIRA IDADE Paulo Cesar Silva é o responsável pelo projeto “Canto de um Beija-Flor”. Ele dá aula a cerca de 20 senhoras há 10 anos - a maioria delas está desde o início do trabalho. As aulas já tiveram apoio da prefeitura da cidade e chegaram a ter 70 matriculados. Hoje em dia, utilizando o espaço da agremiação, o projeto ficou mais enxuto, mas não menos grandioso. As senhoras do coral se apresentam em datas comemorativas e costumam ser bastante elogiadas. As aulas acontecem às quartas e sextas, das 9h às 11h.


BALÉ São cerca de 200 alunos nesse projeto que funciona desde 2001. O “Aprendendo com o balé”, inclui as aulas de balé clássico, jazz e sapateado. Os alunos, que seguem uma faixa etária que vai de cinco a 17 anos, têm como professoras Fabiane, Tatiane e Kelly. Os alunos do projeto são frequentemente convidados para participar de importantes festivais de dança, como o tradicional evento que acontece todos os anos em Joinville, Santa Catarina. O projeto é coordenado pela professora Gislaine Cavalcanti. JIU-JITSU Funcionando desde o ano 2000 e tendo em média 100 alunos matriculados sob a coordenação do professor Elan Santiago, o projeto tem como principal meta permitir que os jovens e crianças da região pratiquem esportes, inserindo-as no universo das escolhas de bem estar. Hoje, o projeto já foi capaz de obter expressivos resultados em termos de competições. Em 2009, por exemplo, a equipe de jiu-jitsu da BeijaFlor disputou os campeonatos brasileiro e o estadual, além da competição organizada pelo atleta Raphael Abi-Rihan. No brasileiro, a equipe foi representada por 24 atletas, que conquistaram sete medalhas de ouro, 12 de prata e uma de bronze, conquistando o 3º lugar por equipe. No campeonato estadual, 26 atletas do projeto participaram da competição levando para casa nove medalhas de ouro, três de prata e três de bronze, conquistando o 3º lugar por equipe. “Na competição organizada pelo Raphael, filho do nosso amigo Hilton Abi-Rihan, nossa garotada conquistou 12 medalhas de ouro, oito de prata e cinco de bronze, com a participação de 38 atletas”, relata Elan Santiago.

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UM PEQUENO GRANDE LUTADOR Todos sabem da importância do esporte no desenvolvimento infantil e juvenil. No entanto, a falta de espaços reservados para a prática esportiva e limitações financeiras impedem que pais zelosos matriculem seus filhos em atividades esportivas. Por outro lado, existem espaços públicos e gratuitos que servem de oásis nesse aparente deserto de oportunidades e que permite que talentos natos coloquem para fora todo o seu potencial. É o caso do Brendo Rozendo. Com oito anos, Brendo é lutador de jiu-jitsu e vem encontrando no projeto “Sonho de um Beija-Flor” condições para evoluir no esporte e alcançar resultados fantásticos. Basta dizer que ele já faturou mais de 100 títulos nas mais variadas competições, entre elas o campeonato mundial organizado pela Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu – “o mais importante de todos pelo alto nível técnico”, conforme esclarece seu treinador Elan Santiago. Segundo Brendo, seu pai, André, foi sua primeira grande inspiração: “Meu pai luta jiu-jitsu e desde pequeno ele me levava para assistir os seus treinos. Vendo ele lutar fui gostando. Até que um dia eu disse que queria aprender a lutar jiu-jitsu. Meu pai achou bem legal e comecei a treinar. Faço também natação e inglês, porque quero ser um atleta de alto nível para lutar fora do Brasil. Quero chegar ao UFC.”, diz o pequeno grande atleta. Na avaliação de Elan, o Brendo é uma das grandes promessas do esporte. “Ele é um fenômeno! Além de ter vocação, ele é bastante disciplinado e observador. Aqui no projeto nós passamos os diversos fundamentos – como respeito aos outros, comprometimento ao que faz, respeito às regras da sociedade e do esporte, a importância da higiene pessoal e principalmente dos estudos. Passamos, também, os fundamentos do esporte, mais técnicos, que o Brendo assimila e coloca em prática com facilidade. Isso dá à ele um universo enorme de possibilidades, que o fará não apenas um excelente atleta, mas um cidadão de alto nível, respeitador das diferenças, batalhador e equilibrado. É isso que o esporte faz por nossas crianças. É isso que, com a Beija-Flor, nós fazemos aqui: ajudamos a formar cidadãos à altura do país e da sociedade que queremos construir.” Parabéns, pequeno grande Brendo! A torcida Beija-Flor está com você. www.beija-flor.com.br


PROJETO SONHO DE UM BEIJA-FLOR E CARNAVAL O projeto ‘Sonho de um Beija-Flor’ conta, também, com atividades de bateria, passista, mestre-sala e porta-bandeira mirins. Essas atividades têm a participação de cerca de 220 jovens e crianças, com resultados muito positivos. Selminha Sorriso, que coordena com Claudinho, o projeto para desenvolvimento de passistas, mestre-sala e porta-bandeira, aponta que além do aprendizado para o mundo do samba, os jovens e crianças da Beija-Flor saem do projeto mais bem preparados para encarar o cada vez mais competitivo “mundo real”. “Eles aprendem a interagir, a dividir e a viver em sociedade. Aprendem também a ter disciplina, respeitar hierarquia, as pessoas, toda e qualquer pessoa”, declara. Claudinho vai mais longe e diz que as iniciativas do projeto fazem com que as crianças apontem seus olhares para um futuro melhor. Segundo o Mestre-Sala: “Temos um futuro longo de comunidade, graças a esse tipo de iniciativa. O trabalho já nos rendeu e continuará rendendo grandes frutos. Não somente para a agremiação, mas para as crianças, porque adquirem uma capacitação que será útil a elas também no futuro” frisou. Rodney Ferreira, mestre de bateria da Beija-Flor, que coordena as aulas da bateria mirim da Azul e Branco de Nilópolis ao lado de Mestre Plínio, conta sobre como funcionam as atividades: “Qualquer pessoa pode participar do projeto. Inicialmente, o aluno passa por um tempo de experiência, no qual a gente transmite o nosso conhecimento. Se notarmos que o aluno leva mais jeito e está interessado, levamos para a bateria, que é composta por muitos jovens oriundos desse projeto”. Ver iniciativas como essas da Beija-Flor de Nilópolis renovam nossa esperança. E que assim seja por muitos e muitos anos. Fevereiro 2016

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MIRO LOPES A cada edição da revista “Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida” realizamos uma homenagem aos bambas do samba, personagens essenciais na construção e afirmação da nossa cultura. Mestres das letras, do ritmo e da melodia. Expressões do samba.

Marquinho Lessa, o campeoníssimo

O título de ‘campeoníssimo do Carnaval’ cai como luva em Marquinho Lessa. É hexacampeão pela Escola de samba Caprichosos de Pilares, tetracampeão pela Imperatriz Leopoldinense e “Estandarte de Ouro” (Jornal O Globo) de melhor sambaenredo de 2015: Axé-Nkenda! Um ritual da liberdade. Na Caprichosos de Pilares fez “Homenagem a Chico Anísio e humoristas brasileiros”(1984), “E por falar em saudade- Tem bumbum de fora pra chuchu...-(1985, reeditado no desfile de 2010), “Brasil com Z jamais”(1986), “Não existe pecado do lado de cá do túnel”(1993), “Estou amando loucamente uma coroa de 90 anos(1994), “Samba sabor chocolate”(1996). E na Imperatriz, deu à escola o bicampeonato com o enredo comemorativo dos 500 anos do Brasil, “Quem descobriu o Brasil foi seu Cabral, no dia 22 de abril, dois meses depois do carnaval”; em 2001, Lessa conquistou seu segundo título e garantiu o ‘tri’ à Imperatriz com o enredo “Cana-caiana, cana roxa, cana fita, cana preta, amarela, Pernambuco... Quero 98

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vê descer o suco, na pancada do ganzá!”. Em 2003, conquista seu terceiro título na escola com o enredo “Goytacazes... Tupi or not tupi, in a south american way!”. Lessa também participou do concurso de sambaenredo na Beija-Flor. Alguns parceiros são constantes nas disputas de sambaenredo como Guga, Amaurizão, Tuninho Professor, Chopinho e Almir Araújo. Nascido e criado em Del Castilho, subúrbio carioca da Zona Norte, a convivência de Marcus Vinicius Lessa era com peladeiros, quase todos envolvidos com música. A ‘beatlemania’ fazia parte da sua geração, mas o samba falou mais alto. Começou a lapidar sua vocação, aprendendo a tocar violão e www.beija-flor.com.br


ler partitura. Aprimorou na prática sua arte integrando, como cantor e instrumentista, o carro de som de Dominguinhos do Estácio, entre 1978/1982; seguiu como instrumentista acompanhando Alcione, dona Ivone Lara e Lecy Brandão, e como cantor atuando em shows próprios pelas casas noturnas e clubes do país inteiro. Tem memoráveis gravações feitas por Simone, como “Disputa de poder” (ou Piuí Piuí puá puá), Louvor a Chico Mendes, Rei por um dia, Amor no coração; Alcione gravou Buá Buá!” (c/ Franco) no disco “Nosso nome: Resistência” e o Exporta Samba interpretou “A roda girou”, de sua autoria em parceria com Canduca e Ricardo Pinheiro, gravado no disco “Valeu a experiência”.

NOCA DA PORTELA, de sambista a secretário de Cultura

Do alto dos seus 83 anos de idade e 68 de carreira artística, o mineiro de Leopoldina, Osvaldo Alves Pereira, mais precisamente Noca da Portela, escreveu sua história cantando, tocando e compondo sambas inesquecíveis: “Portela querida” (c/ Picolino e Colombo), “É preciso muito amor” (c/ Tião da Miracema), “Vendaval” (c/ Délcio Carvalho), “Dinheiro vem, dinheiro vai” (c/ Vovó Ziza), “Alegria continua” (c/ Mauro Duarte); “Choverando” e “Lição”, ambas em parceria com o poeta Sérgio Fonseca; “Ausência” (c/ Délcio Carvalho e Barbosa Silva) e “Mãos dadas” (c/ Daniel Santos), entre outras do disco “51 anos de samba”. Há três anos, lançou o CD “Cor da minha Raça” produzido por Rildo Hora, para comemorar seus 80 anos de idade. Agora, está finalizando seu 8º CD, “Homenagens”, um verdadeiro tributo de gratidão ao samba, amigos incluídos no repertório e lugares importantes para sua carreira, como a Bahia, primeiro Estado a abrir as portas para Noca e São Paulo onde o sambista é recebido como rei. Ainda pequeno mudou-se para o Rio. Seu

pai, professor de violão, preocupado com o futuro do filho, tentou demovê-lo da música, mas Noca foi estudar violão e teoria musical na Ordem dos Músicos- RJ. Começou a compor aos 15 anos para a “Unidos do Catete”, vencedora do carnaval com o samba-enredo “O Grito do Ipiranga”, sua primeira nota dez. Permaneceu na Ala dos Compositores da escola por mais três anos. Participou da fundação da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, de São Cristóvão, onde morou e conheceu dona Conceição, musa de suas músicas românticas, como ele próprio faz questão de ressaltar. Para a Tuiuti, compôs diversos sambas-enredos vencendo alguns concursos, dentre eles “Apoteose da Academia Militar das Agulhas Negras”, “Os Imortais da MPB”, “Rio, carnaval e batucada” e “Vida e Obra de Cecília Meirelles”, este gravado por Jamelão. Tem músicas gravadas por Neguinho da Beija-Flor (‘Festejo’) e Roberto Ribeiro (‘Flor mulher’). Em 1966, Paulinho da Viola o convidou para atuar como violonista no show “Carnaval para principiantes”, no Teatro Opinião e, mais tarde, levou-o para o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Portela. Daí em diante, ficaria conhecido como Noca da Portela. Em 1976, ganhou o samba-enredo “O Homem de Pacoval” e, em 1985, a Portela venceu o carnaval com o seu samba-enredo “Recordar é viver”. Noca da Portela foi secretário Estadual de Cultura do Rio de Janeiro em 2006. Fevereiro 2016

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Marcelo Guimarães, o natural do samba

Aos 50 anos, Marcelo Guimarães é grato às atenções que vem merecendo no mundo do samba. Convidado frequentemente para shows e rodas de samba, tem se exibido ao lado de renomados sambistas, como Alcione, Arlindo Cruz, Leci Brandão e Jorge Aragão. Marcelo agradece e ressalta a importância dessas participações para sua consagração definitiva junto ao público: “Estou sempre interagindo. No mundo do samba eu sou uma realidade. Sou respeitado pelas pessoas”, dita com orgulho o cantor e compositor. Essa familiaridade com o gênero define bem seu lugar de origem: Madureira. Desde a adolescência Marcelo sempre circulou pelos redutos onde o samba fala mais alto: Serrinha, Império, Portela, Imperatriz e Cacique de Ramos. Sua vocação se formaliza nesse ambiente. Este ano, mais uma vez, nas asas de um Beija-Flor, Marcelo vai defender a escola na avenida, cantando “Mineirinho genial, Nova Lima - cidade natal; Marquês de Sapucaí, o poeta imortal”, samba que também leva sua assinatura como co-autor. Prata da casa, Marcelo chegou a Beija-Flor trazido por Dicró, marcando sua estreia na ala dos compositores como um dos autores de “Sou negro, do Egito à Liberdade”, em 1988. Por quase uma década, Marcelo cumpriu uma extensa agenda no exterior, com apresentações em Toronto, Montreal, Winepeg, Guatemala, El Salvador, Flórida, Londres, Japão e Suécia. Acabado o recesso ‘turístico’, retomou a primazia de campeão em 2008, quando inscreveu com seus parceiros “No chuveiro da alegria, quem banha o corpo lava a alma”, que valeu seu ingresso na ala de intérpretes que acompanham Neguinho da Beija-Flor, a convite do próprio sambista. Mais um presente, destaca. Também participou como intérprete oficial dos shows “Cidadão Samba” e “Eu sou o samba”, dirigidos por Carlinhos de Jesus, para a Cidade do Samba. Paralelamente voltou à escola de origem “Unidos de Lucas”, onde também é tricampeão de sambasenredos. “Nesse ínterim, fui procurado pelo governador do Rotary Club para participar do 100

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concurso para a escolha do Hino dos 50 anos da Organização das Nações Unidas). Ganhei a disputa, gravei a música em português e inglês e doei a renda para a instituição, que completava 90 anos. O disco foi distribuído em 170 países. Um ano depois, recebi o agradecimento do Rotary Internacional informando que tinha arrecadado um milhão e 200 mil dólares”, conta. Agora, está com novo show-disco de Marcelo Guimarães, “Natural da batucada”, produzido por Nenem Chama, que registrou mais de cem apresentações, desde seu lançamento no Teatro Rival/Cinelândia em meados de 2015. Produção independente que alcançou significativa vendagem, através das redes sociais. Repercussão que ratifica uma carreira dedicada ao samba e reconhecida por fãs e artistas: “Fiz um balanço de minha trajetória e posso dizer que foi vitoriosa. Saí do nada e cheguei num ponto bastante cobiçado. Em setembro fui convidado pela Ângela Leal para uma apresentação no Rival ao lado do mestre Monarco.” É fechar a temporada com chave de ouro! comemora Marcelo Guimarães.

Tia Surica, legenda viva de Madureira

“A Tia Surica é filha mesmo, nascida na Portela. Ela é portelense sempre fiel à escola. É pastora da Velha Guarda desde mocinha e participou da primeira gravação do disco ‘A Portela’ como pastora e se chamava Iranette, ninguém a tratava como Surica. É uma pessoa com um coração alegre, saudável e, em todos os momentos difíceis, ela está com a gente. Merece o respeito da Nação Portelense” declara Monarco, o presidente de honra da Águia de Madureira sobre Iranette Ferreira Barcellos, que aos 4 anos, já desfilava pela www.beija-flor.com.br


Portela, na ala das Baianas, presa à cintura da mãe Judith, acompanhada de perto pelo pai, Pio Barcellos. “Surica” é um apelido familiar, dado por sua avó, quando ela ainda era pequena, que virou nome artístico. No ano de 1966 foi a puxadora (Imediatamente ela dá um puxão de orelha no repórter: Intérprete!) oficial da Portela no sambaenredo “Memórias de um sargento de milícias”, de Paulinho da Viola, que ganhou o carnaval naquele ano. Antes, porém, em 1957, junto às pastoras Marlene, Conceição, Mocinha e Iramaia, Tia Surica tinha participado do LP “A vitoriosa Escola de Samba Portela”. Também afamada pela sua cozinha, seu reduto mais tradicional, depois da Portela, agora também é o teatro Rival, na Cinelândia - Rio, para onde levou suas panelas, ingredientes e toda a equipe, durante a Copa do Mundo de 2006, aceitando o convite

de Ângela Leal para transformar o teatro na extensão de sua casa, que fica numa vila, bem próxima à quadra da Portela, onde mora. Sua casa é palco de festas memoráveis, feijoada deliciosa e muito samba. Conhecida como “Cafofo da Surica” ganhou composição de Teresa Cristina, gravada no seu primeiro disco solo, produzido por Paulão Sete Cordas, em 2004. Neste ano, ao lado de Tia Doca e Tia Eunice, foi uma das protagonistas do curta-metragem “Batuque na cozinha”, de Anna Azevedo. Também fez uma participação especial na série da TV “Cidade dos Homens”. Ano passado, comemorou seus 75 anos no Centro Cultural João Nogueira, com o lançamento do DVD “Tia Surica - Poderio de Oswaldo Cruz” em um show que teve a participação especial da Velha Guarda da Portela, liderada por Monarco. Tia Surica é também uma das integrantes do grupo musical com Tia Doca e Eunice. O DVD contém obras inéditas e clássicos do samba, interpretados por uma das referências do samba carioca. Entre os compositores, estão autores consagrados como Monarco, Paulinho da Viola, Casquinha, Alcides Malandro Histórico, Manacéia, Aniceto da Portela, Argemiro, Chico Santana, Marquinhos Diniz e Toninho Geraes. Tia Surica está sempre acompanhada de boas influências e energias, não fosse ela filha de santo da yolorixá Olga de Alaketu. Em 2005, quando o presidente da escola impediu os baluartes de desfilarem, viu recompensa de a Velha Guarda ser acolhida pela Beija-Flor no desfile das campeãs. Agora, a grande legenda vida do samba se sentiu mais uma vez feliz e grata ao Anízio, ao receber a notícia da homenagem do “Expressão do Samba”. Fevereiro 2016

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HILTON ABI-RIHAN

A Liga Independente das Escola de Samba permanece com seu olhar atento ao Desfile de Carnaval e a tudo que precisa ser melhorado e modificado em favor do público, das agremiações e do espetáculo. Em entrevista concedida ao jornalista Hilton AbiRihan, o presidente da Liesa, Jorge Castanheira, revela alguns detalhes dessas mudanças. Revista Beija-Flor - A cada ano, vemos que a sociedade está em franca transformação, inclusive de hábitos. Nesse sentido, como a Liesa vê a questão de repensar o Desfile das Escolas de Samba para se adequar à essas mudanças de comportamento do cidadão? Jorge Castanheira - Quando se fala do Carnaval da década de 1930, estamos falando de um início ainda amador... Um projeto sendo criado. Daqueles tempos para as últimas décadas o Carnaval foi ganhando público e profissionalismo. Mas foi um processo lento e gradual. Basta lembrar que na década de 80 assistimos carnavais com quase 50 alegorias. A partir da criação da Liesa, em 1984, o grupo que liderava a instituição à época foi buscando entender melhor o espetáculo e as demandas do público. Uma das mais importantes conclusões foi a da necessidade de que o regulamento fosse melhorado e que as escolas se adequassem a ele. Felizmente conseguimos alcançar esse objetivo. A Liesa se mantém atenta, repensando a forma dos desfiles para deixá-los mais atrativos e menos cansativos. Este ano tivemos uma reunião para pensar o Carnaval do ano que vem. Dessa reunião até os diretores da Globo participaram. Tudo é pensado para deixar o espetáculo mais dinâmico, até porque a vida está cada vez mais corrida, as pessoas não param mais por muito tempo para ver algo. Estamos pensando em novas mudanças para melhorar o Carnaval de 2017, talvez uma redução do tempo do desfile, que pode resultar na redução no tamanho das escolas 102

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na passagem da Avenida. Estamos pensando em alguns novos formatos. Isso tudo vai ser discutido e avaliado. Nosso objetivo é que ocorra uma melhor apreciação do desfile por parte do público. As pessoas vão pode ver uma apresentação mais concentrada. Pensamos também em rever as datas dos desfiles em relação ao período do Carnaval. Muita coisa está sendo estudada para melhorar as apresentações das Escolas de Samba. RBFN - Muito tem se falado da crise econômica que tem atingido Estados, empresas e o cidadão. Como se faz um carnaval com a qualidade do que é realizado pela Liesa, pela Riotur e pelas escolas de samba? Existe alguma mágica? Jorge Castanheira - O Desfile das Escolas de Samba é, sem dúvida nenhuma, o maior evento popular que a cidade do Rio de Janeiro abriga. Durante os dias de desfile, o turista e a população carioca e fluminense são testemunhas de um colorido e inteligente espetáculo de arte e cultura, protagonizado pelas agremiações. E é lógico que toda essa produção tem um custo – e altíssimo. São profissionais de alto nível que são contratados. São produtos e serviços de primeira linha, que visam oferecer ao público presente, segurança e qualidade. O fato de a Liesa já possuir uma ampla experiência na organização desse espetáculo facilita muito as coisas. Nossos fornecedores são parceiros e estão conosco há muitos anos para o que der e vier. Mesmo assim, sabemos que essas empresas precisam de recursos para fazer a www.beija-flor.com.br


máquina girar. E, nesse sentido, o papel do poder público – em nível nacional, estadual e municipal – é essencial. Temos contado sempre com a parceria dos governos para viabilizar a realização desse espetáculo, que atrai turistas e recursos para a região, para a rede hoteleira, para a rede de bares e restaurantes, para pequenos empreendedores e, por fim, para o próprio Estado, município e união – através do recolhimento dos impostos e taxas. Com as dificuldades que nossos parceiros estão passando, é natural que busquemos adequar as nossas decisões e ações aos limites de orçamento que temos. Mas posso afirmar que todos nós, principalmente as Escolas de Samba, estamos fazendo o possível para que o desfile se mantenha no nível dos anos anteriores. E o público irá perceber isso. E respondendo à sua pergunta, Abi-Rihan, não é mágica não. É comprometimento da equipe e gestão profissional. RBFN - O Rio de Janeiro já viu passar os cordões e os ranchos. Há algum risco de o carnaval um dia ser página virada na história da cidade? Jorge Castanheira - O futuro a Deus pertence. Todos que gravitamos no universo do Carnaval – diretores e colaboradores da Liesa, diretores e componentes das agremiações, integrantes do poder público – são pessoas apaixonadas por esse espetáculo e pelo seu significado. O que podemos fazer, então, é trabalhar para que o carnaval se mantenha forte e que invista em um nível de continuidade que atinja nossos jovens e crianças. Quando buscamos realizar modificações na duração do espetáculo, estamos trabalhando para dar a ele mais vida. Mas temos que valorizar a base do Carnaval: as crianças e os jovens devem ver no Carnaval uma manifestação de sua brasilidade, de sua cultura. As escolas de samba também devem promover e dar espaço a essa garotada. Eles são, sim, o futuro do que estamos construindo. Hoje já temos espaços que fortalecem essa geração que virá, como os desfiles mirins, os desfiles da Série A e os desfiles das escolas na Intendente Magalhães. Nesses palcos, novos nomes irão surgir. Estrelas irão brilhar e renovarão o carnaval. Sou otimista, porque vejo o trabalho que o poder público

realiza, revitalizando, inclusive, os blocos de rua. Quem imaginaria que teríamos tantos blocos, e todos eles lotados, na nossa cidade nesse período de carnaval? Sou otimista, também, porque vejo o trabalho que muitas agremiações estão realizando, de valorizar as crianças e os jovens de suas comunidades com vilas olímpicas e ensinando-lhes a arte do bailado do mestre-sala e porta-bandeira, ou do ritmo dos passistas e ritmistas. O trabalho está sendo realizado. Só não podemos deixar de fazê-lo, pois entendemos que este é o caminho certo.

O presidente da Liesa, Jorge Castanheira e o editor da revista Beija-Flor, Hilton Abi-Rihan.

RBFN - O folião pode esperar um desfile à altura dos anos anteriores? Jorge Castanheira - Independentemente dos problemas financeiros que também atingiram as escolas de samba – direta ou indiretamente –, podemos sempre garantir que a qualidade dos nossos artistas vai sobressair e isso sempre fará com que o Carnaval seja sempre um grande espetáculo. E quando falo artistas, falo de todos, dos presidentes, diretorias e carnavalescos até o mais humilde colaborador de uma escola de samba. Essa é a grande magia do nosso Carnaval: a criatividade dos nossos artistas e a integração/participação de todos. Toda cidade do mundo gostaria de ter um espetáculo de Carnaval como o do Rio de Janeiro. Fevereiro 2016

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www.widebrasil.com e-mail: ricardo@widebrasil.com

Produção WIDEBRASIL COMUNICAÇÃO INTEGRADA www.widebrasil.com Editores Ricardo Da Fonseca Hilton Abi-Rihan Felipe Lucena Jornalista Responsável Ricardo Da Fonseca, MTb RJ23267JR Conselho Editorial Anizio Abrão David Ubiratan Guedes Hilton Abi-Rihan Ricardo Da Fonseca Redação Adriana Buarque, Felipe Lucena, Hilton Abi-Rihan, José Maria da Beija-Flor, Juliana Palmer, Miro Lopes e Ricardo Da Fonseca. Projeto Gráfico R. Gatto Recorte de imagens Adriane Lima Agradecimentos Almir Reis, Bianca Behrends, Carlos Alberto Vizeu, Carlos Eduardo Prazeres, Dóris Ananias, Jorge Castanheira, Laíla, Maria de Lourdes Goulart, Paulo Senise, Ruy Casaes, Sabrina Coradini, Vicente Dattoli e Walter G. Taveira. Revisão de Texto Adriana Dacache Fotografia Felipe Lucena, Henrique Matos, Humberto Souza, Maria Zilda Matos, Marcello de Faria e Ricardo Da Fonseca. Esclarecimento A escolha e seleção das fotografias que ilustram a edição 2016 da revista Beija-Flor de Nilópolis uma escola de vida, seguem critérios estritamente artísticos e jornalísticos (transmissão de uma determinada mensagem), ainda que de modo subjetivo, e não indicam, direta ou indiretamente, preferências específicas do GRES Beija-Flor de Nilópolis (ou de sua diretoria) e/ou da WideBrasil Comunicação Integrada por pessoas ou alas. A revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida, ISSN 1678-3611, é uma publicação oficial do Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis e produzida pela WideBrasil Comunicação Integrada Ltda. As opiniões emitidas nas entrevistas concedidas e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição dos editores nem da agremiação. É permitida a reprodução parcial ou total das matérias, desde que citada a fonte. Fevereiro de 2016 - Tiragem: 60 mil exemplares

G.R.E.S. BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS Presidente de Honra: Anizio Abrahão David Diretoria Executiva: Presidente Executivo Administrativo – Farid Abrão David Vice-Presidente Executivo Administrativo – Ricardo Martins David Secretária da Presidência – Grace Hellen da Silva Vice-Presidente Administrativo - Rodrigo Dias Duarte Diretor Administrativo – Alexander Monteiro de Brito Diretor Administrativo – Noel Foligno Diretor Administrativo – Alison de Souza Pessanha Cruz Vice-Presidente de Marketing – Sandro Silva Francisco Diretor de Marketing – Hairton Luiz Dos Santos Diretor de Marketing – Adriane Santos Costa Lins Vice-Presidente de Finanças – José Antônio Gonçalves Pinto Diretor de Finanças – Pedro Theobaldo de Oliveira Menezes Diretor de Finanças – José Renato Granado Ferreira Vice-Presidente de Patrimônio – Jorge da Cunha Velloso Diretor de Patrimônio – Moacyr Jorge Mexias Abdala Diretor de Patrimônio – Aroldo Carlos da Silva Diretor de Patrimônio – Norivelto Guimarães de Oliveira Vice-Presidente Social e Recreativo – Abraão David Neto Diretor Social e Recreativo – Marco Antonio França Diretor Social e Recreativo – Horácio Sales Coelho Filho Diretor Social e Recreativo – Ivan Berg Paraiso Dos Santos Vice-Presidente Jurídico – Carlos Alberto Diogo de Souza Diretor Jurídico – Bruno Cabral Pereira Diretor Jurídico – Paulo Roberto Ferreira de Oliveira Vice-Presidente de Esportes – Elan Pereira Santiago Diretor de Esportes – Gerson Hanna Elias Diretor de Esportes – Jorge Luiz Scalise Xavier Vice-Presidente de Comunicação e Divulgação – Argemiro L. Nascimento Vice-Presidente Cultural e Artístico – Fran Sergio de Oliveira Santos Diretor Cultural e Artístico – Antônio Carlos da Costa Diretor Cultural e Artístico – Pedro Henrique Tavares Dos Santos Diretor Cultural e Artístico – Marcel Roberto Pinheiro Gomes Vice-Presidente de Carnaval – Luiz Fernando Ribeiro do Carmo Vice-Presidente do Departamento Feminino e Assistência Social – Selma de Mattos Rocha Diretora do Departamento Feminino e Assistência Social – Debora Rosa Santos Cruz Costa Diretora do Departamento Feminino e Assistência Social – Leila Meira David




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