A LIÇÃO DA BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS Os grandes pensadores são unânimes em concordar que, em termos de descoberta, “o segredo espera pela visão profunda”. Isso significa que, se não aprofundarmos o nosso olhar, jamais seremos capazes de descobrir e sentir o que de importante acontece ao nosso redor. No carnaval não é diferente. Se não formos capazes de aguçar o nosso olhar, veremos nos desfiles apenas uma festa popular — repleta de arte e magia — , mas somente uma festa popular. A verdade é que o desfile de carnaval é bem mais do que isso, e esse é um segredo que queremos compartilhar com o leitor: um dos significados do desfile e da trajetória da Beija-Flor de Nilópolis no carnaval. No desfile de 1976, muitos diziam que a Beija-Flor de Nilópolis era uma escola pequena, ao contrário do que cada componente acreditava: para eles, a sua agremiação era uma grande escola, e eles, como seus integrantes, tão grandes quanto ela. Somente os fatos provaram quem estava com a verdade: a Beija-Flor de Nilópolis sagrou-se campeã, sendo aplaudida pelo público que a assistia. Nesse momento, o povo da baixada, protagonista das mais diversas histórias de vida, unido por um objetivo único e com muita fé em si mesmo, mostrou ao mundo, sem perceber, a força que o homem carrega dentro de si. É para isso que queremos chamar a atenção de cada leitor: o desfile de carnaval é um momento no qual é possível perceber o poder que cada um de nós possui, individual e coletivamente. A energia que cada um emana e que envolve o desfile pode ser sentida. Donos desse poder, somos capazes de realizar o que quisermos em favor de nossa felicidade. Mas, para isso, é preciso que acreditemos que temos esse poder, talvez ainda adormecido. É preciso ter a certeza de que a força do guerreiro está em nós e que, se decidirmos tomar as rédeas de nossas vidas com coragem, conquistaremos a felicidade que tanto sonhamos. E nada, nem ninguém, será capaz de tirar isso de nós. Ricardo Da Fonseca Hilton Abi Rihan fevereiro 2006
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CONQUISTAS QUE NINGUÉM TIRA O GRES Beija-Flor de Nilópolis veio para ficar. Com a coragem, a paixão e a determinação característica do povo brasileiro, a agremiação de Nilópolis demonstra, a cada ano, a sua força. Para nós, 2006 marca um ano de muitas comemorações, a começar pelos 30 anos do primeiro título da escola no Grupo de Elite do carnaval carioca, com o enredo “Sonhar com rei, dá leão”, quando superou as grandes escolas da época. Quem viveu aquilo que vivemos sabe a importância daquele momento, e porque devemos comemorar seu significado. Foram momentos mágicos que contagiaram o público e a todos nós, marcando uma nova fase no desfile das escolas de samba. De lá para cá, o GRES Beija-Flor de Nilópolis só tem consolidado uma série de conquistas, dentre elas a de escola criativa e com uma forte visão de vanguarda, de respeito e valorização da comunidade - que é quem faz a arte do carnaval -, e o de primeira tricampeã do século 21. Em 2006 comemoramos também cinco anos da revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida, nossa principal publicação, a qual tem apresentado ao leitor um lado pouco conhecido de uma agremiação vencedora, que vai desde os preparativos de um desfile e de seus personagens até a apresentação dos projetos sociais que a escola patrocina e que, de certo modo, dão respaldo moral e espiritual a todos nós. 2006 é também o ano da consolidação de um dos mais importantes projetos do GRES Beija-Flor de Nilópolis: a produção do livro que vai contar a história da agremiação desde seus primórdios, ainda como Bloco Carnavalesco Beija-Flor, até os dias de hoje, em que é reconhecida como a principal escola de samba do Brasil, e naturalmente do mundo. São importantes conquistas que a família Beija-Flor vem incorporando ao seu histórico de vitórias reais, e algumas das muitas razões que me fazem prever um ano de 2006 com muitas alegrias e vitórias para todos os que têm no samba e no carnaval momentos de lazer e alegria. Alegrias e vitórias que serão conquistas nossas - e de cada um de vocês - e que ninguém poderá tirar. Porque a Beija-Flor de Nilópolis veio para ficar... ...e para ficar pelos próximos 30, 60, 90 anos.
Anizio Abrão David
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E XPEDIENTE
Editores Ricardo Da Fonseca Hilton Abi-Rihan Produção
DA FONSECA Comunicação
expediente
Jornalista responsável Ricardo Da Fonseca, MTb RJ23267JR Redação Ana Belchior (AB), Glória Castro (GC), Karla Legey (KL), Maurício Louro Silvério (MLS), Miro Lopes (ML), Ricardo Da Fonseca (RDF), Stella Velloso (SV), Vicente Datolli (VD) Diagramação e Editoração André Legey
CAPA Beija-Flor de Nilópolis Há 30 anos, o início de uma história de conquistas.
criação da capa: R. Gatto fotos: Henrique Matos Eurico/Agência O Globo
CARNAVAL 2006
Colaboradores Felipe Ferreira Marília Trindade Barboza Agradecimentos Bianca Behrends Ubiratan Silva
Tratamento de imagens Leonardo Legey
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Revisão de Texto Claudia Castanheira
Versão para o Inglês Guy Fulkerson Fotografia André Telles, Dudha Franko, Henrique Matos, Marcio Vasconcelos. Peter Illiciev, Miro Meireles, Robson Barreto e Agência O Globo.
INÍCIO DA MUDANÇA
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A revista Beija-Flor de Nilópolis uma escola de vida, ISSN 1678-3611, é uma publicação do Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis e DA FONSECA Comunicação Ltda. As opiniões emitidas nas entrevistas concedidas e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição dos editores. É permitida a reprodução parcial ou total das matérias, desde que citada a fonte. Fevereiro de 2006 - Tiragem: 60 mil exemplares
pág. 47
RESPONSABILIDADE SOCIAL
www.dafonseca.com.br e-mail: editor@dafonseca.com.br Rua Pires de Almeida, 67/202 Rio de Janeiro Telefones: (21) 2608-2002 / (21) 9776-2554
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foto: HM
DE ASAS ABERTAS PARA MAIS UM VÔO Aqui estamos nós de novo. Tudo pronto, dos gigantescos carros alegóricos aos miúdos passistas-mirins, a Beija-Flor está pronta para mais uma vez pisar a Avenida do Samba como soberana da alegria. Nos corações carregamos acima de tudo uma meta: fazer um desfile glorioso, levar sorrisos e lágrimas às arquibancadas e, principalmente, levantar a poeira do chão. E assim, quem sabe, levar para Nilópolis (nossa casa) mais uma taça, em um inédito tetracampeonato da LIESA. As gargantas já estão aquecidas com os versos de nosso belíssimo samba-enredo; os pés já estão treinados na cadência de nossa bateria nota dez e os olhos ansiosos pelo show de luzes e cores que a Beija vai levar para a Sapucaí. Esse fruto é o resultado de muita dedicação, muito suor e trabalho.Trabalho de uma enorme equipe que dedica grande parte de sua vida para fazer de nossa escola um espetáculo da perfeição. Do soldador que ajuda na montagem dos carros ao técnico de eletricidade; das faxineiras e dos artistas plásticos à nossa brilhante Comissão de Carnaval, todos foram guerreiros. E não se poderia jamais deixar de lembrar do afinco e amor incansavelmente dedicados pelo nosso Patrono, Anizio Abrão David, sempre um verdadeiro herói em toda a caminhada que leva à conclusão de um belo Carnaval. Mas nossa alegria não está presa dentro das paredes da quadra e do barracão: Hoje Nilópolis abraça a BeijaFlor como seu maior símbolo cultural e vaidosamente se mostra ao mundo como a casa da Escola de Samba tricampeã do carnaval carioca. Desde dezembro, um imponente Pórtico, na divisa com o Rio de Janeiro, abre as portas da cidade, onde um gigantesco beija-flor prateado dá as boas vindas a todos os visitantes, uma obra de arquitetura arrojada da Prefeitura, que já se tornou o maior cartão postal da região. A cidade também cresceu muito, com novas escolas e nova estrutura de saúde pública, com atendimento 24h, lazer de qualidade, com lindas praças reformadas, campo de grama sintética e ginásios poli-esportivos, cursos de artes totalmente gratuitos, mais segurança com a Guarda Municipal, estrutura urbana totalmente remodelada, com novas ruas asfaltadas, obras que terminaram com pontos de enchente. Enfim, são incontáveis as melhorias, fruto de um trabalho esforçado, mas é certo que a cidade está de cara nova e pronta para o futuro. Assim são nossos dois amores, Nilópolis e Beija-Flor: de asas abertas para novos vôos e levando dignidade aos corações da baixada fluminense. Hoje, se podemos resumir em uma palavra o sentimento de ser nilopolitano, esta palavra é orgulho. Parabéns, nilopolitano, parabéns a todos os foliões, torcedores e trabalhadores da Beija-Flor de Nilópolis! E preparem seus corações: muitas alegrias ainda estão por vir! Olha, mais uma vez, Nilópolis e a Beija-Flor aí, gente! FARID ABRÃO fevereiro 2006
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MILAGROSAS ÁGUAS DA VIDA
O desfile das escolas de samba do grupo especial de 2006 promete ser um dos mais disputados dos últimos anos. É o chamado efeito Beija-Flor de Nilópolis. Nenhuma das escolas de samba do Rio de Janeiro agüenta mais ver a azul e branco de Nilópolis levando para a baixada fluminense o troféu de campeã do carnaval carioca. Por isso, mais do que mostrando um belo desfile, as escolas de samba do grupo especial vão para a Sapucaí motivadas por um objetivo comum: vencer a principal escola de samba da atualidade. Mas isso já era esperado pela escola. Afinal, seus integrantes não são novatos nessa disputa, e por isso não estão preocupados com esse ambiente de rivalidade: sabem que carnaval se ganha na avenida, após um trabalho sério e bem planejado. E é isso que a Beija-Flor de Nilópolis tem feito nos últimos anos: um desfile bonito, organizado, com todas as características de um desfile campeão. E é por isso, também, que a escola vai para a avenida confiante na conquista do tetracampeonato. Mas para chegar a esse ponto, além de fazer um competente trabalho de base, é preciso saber escolher um bom enredo e saber explorar esse enredo com bom gosto e inteligência. Se o ditado popular diz que um bom time se começa por um bom goleiro, um bom desfile se começa por um bom enredo. Não adianta você ter a melhor equipe, com mestre-sala e porta-bandeira, bateria, baianas e comunidade, se você não tiver um bom enredo. Por isso, para disputar mais um título de campeã, e se consagrar tetracampeã do carnaval carioca, o GRES Beija-Flor de Nilópolis se cercou da força e da energia das águas para escolher um enredo forte e renovador:
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“Poços de Caldas derrama sobre a Terra suas águas milagrosas: do caos inicial à explosão da vida – Água, a nave-mãe da existência”. E ASSIM SURGIU O ENREDO Tamir, encarregado do barracão da agremiação e a primeira pessoa a levar para a Comissão de Carnaval a idéia do enredo, conta o seguinte: “Durante um bate papo com meu amigo Marcus Togni, que é presidente da Câmara dos Vereadores de Poços de Caldas e carnavalesco da principal escola de samba da cidade, a Sacipô, falávamos do desafio do tetracampeonato, quando então ele comentou do seu desejo de ter a cidade de Poços de Caldas como enredo da escola. Conhecendo a cidade e suas belezas naturais, tinha certeza de que, se a Comissão de Carnaval desse uma temperada com as suas idéias, teríamos um belo carnaval. De volta ao Rio de Janeiro, procurei o Shangai, que é um dos integrantes da Comissão de Carnaval, e lhe apresentei a idéia. Shangai achou a idéia interessante e resolveu ouvir a opinião do seu Anízio, que estava no Barracão. Depois de apresentarmos a ele, de maneira sucinta, a idéia de um carnaval sobre a cidade de Poços de Caldas, seu Anizio mandou Shangai para a cidade, a fim de estudar se ela teria condições de ser enredo da escola”, conclui Tamir. O resto o leitor já deve imaginar. Shangai ficou maravilhado com a cidade: “Sem perder a perspectiva de que estava tratando de carnaval, me reuni com os integrantes da Comissão de Carnaval para que pudéssemos, juntos, avaliar com cuidado a situação e nos posicionarmos de maneira definitiva. Apresentei o que havia visto na cidade e todos foram unânimes: Poços de Caldas poderia dar, realmente, um grande enredo, a partir do momento em que a Comissão de www.beija-flor.com.br
Carnaval o desenvolvesse. Essa foi praticamente a única exigência que fizemos ao pessoal de Poços de Caldas: que o desenvolvimento do enredo ficasse exclusivamente por conta da Comissão de Carnaval”, revela Shangai. DESENVOL VIMENTO DO CARNA V AL DESENVOLVIMENTO CARNAV Mas o porquê da exigência? Para o leigo, pode parecer que, depois de escolhido o enredo, o desfile surge naturalmente. Mas não é verdade. Nessa hora, o papel da Comissão de Carnaval é essencial. Um desenvolvimento equivocado pode levar à ruína um bom enredo. Segundo Laíla, diretor de carnaval da Beija-Flor de Nilópolis e um dos mais experientes carnavalescos da atualidade, “Decidimos trabalhar um enredo sobre o tema ‘águas’, na certeza de que, assim, poderíamos desenvolver um grande trabalho. No entanto, é essencial que a escola saiba trabalhar bem no desenvolvimento do enredo. É esse desenvolvimento que vai gerar, na verdade, o desfile na avenida. Você pode ter um mesmo enredo com diversos desenvolvimentos, cada um diferente do outro. Uns melhores, outros piores, do ponto de vista de um espetáculo de carnaval. E é esse um importante passo para um bom desfile”, conclui. E para que a Comissão de Carnaval possa trabalhar no desenvolvimento do enredo, os historiadores da Beija-Flor começam a realizar as pesquisas que darão subsídios à Comissão. Coordenado pela cientista social Bianca Behends, o setor de pesquisa da Beija-Flor de Nilópolis faz um levantamento em documentos, publicações e, inclusive, ouve depoimentos de pessoas na região de Poços de Caldas, para que possa apresentar à Comissão de Carnaval o maior número possível de documentos e abordagens: “Nossa função é aparentemente secundária, porque cabe a nós fazer o levantamento das informações que a Comissão de Carnaval vai consultar. No entanto, o trabalho que a equipe de historiadores desenvolve é, na verdade, importantíssima, pois se apresentamos informações equivocadas, ou pouca variedade de dados, limitamos o campo de criação dos carnavalescos”, revela Bianca. De posse dessas informações, começa a fase mais mágica e artística do desfile de carnaval: a formatação do desfile, com a criação do conceito do desfile, das alas e dos carros alegóricos. “Você acha que é fácil criar um desfile?”, provoca Cid Carvalho. “Não, meu querido. Fazer um desfile, pensar cada carro, o que vai em cima deles, as cores, as temáticas, a mensagem que devem passar... E as alas? Pensar em cada ala, dar a ela nomes coerentes, desenvolver fantasias que transmitam a mensagem
que a escola se comprometeu a passar... São tarefas que exigem muita criatividade dos carnavalescos, muito conhecimento sobre as possibilidades e o potencial que cada assunto pode oferecer, para então chegar na avenida um belíssimo carnaval. É tempo. É experiência. É dedicação. Não basta se dizer carnavalesco para ser um. E nós, aqui na Beija-Flor de Nilópolis, podemos nos gabar de ter cinco carnavalescos.” Na mesma linha de pensamento, Shangai conclui: “Muitas vezes as pessoas não têm idéia do que é criado aqui dentro da Beija-Flor pela Comissão de Carnaval. O desfile pela televisão muitas vezes não permite que o espectador perceba detalhes que são desenvolvidos, sutilezas que são criadas. Só quem está na avenida, prestando atenção, consegue descobrir algumas das sutis criações artísticas que fazemos. Somos artistas, sim. Só que não exageramos no nosso marketing pessoal, procurando uma visibilidade excessiva. E isso muitas vezes dá a impressão de que a nossa tarefa é facilmente substituída por outros. Mas não é. Fazemos o nosso trabalho com dedicação e amor, mas principalmente utilizamos todo um conhecimento que adquirimos ao longo de anos trabalhando com carnaval.” fevereiro 2006
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DESFILE 2006 Será que, a exemplo de outros anos, a agremiação utilizará a avenida para transmitir alguma mensagem? Segundo Ubiratan Silva, o Bira, “o carnaval para nós é e sempre será uma festa alegre, portadora de uma mensagem positiva. Mas é natural que aproveitemos esse instrumento de comunicação de massa para levar uma mensagem renovadora, de paz, de felicidade... Falar de Poços de Caldas, esse lugar lindíssimo e cheio de magia, é falar de preservação, porque, se o homem não cuidar do que tem, em breve não terá à sua disposição lugares como esse para usufruir de paz e saúde, física e espiritual. Mas, além de mandar essa mensagem, vamos envolver o público num clima místico, falando de dragões, sereias, Medusa... Sinto que nesse ano vamos fazer um grande carnaval. A gente sente quando ele está sendo produzido. E tenho sentido isso. Um carnaval maior que o de 2005”. “Um carnaval maior, mas mais enxuto”. Segundo Fran Sérgio, além de manter a linha que definiu em 2005, com fantasias mais claras, a Beija-Flor de Nilópolis prepara um desfile mais enxuto, com um número menor de componentes: “A Comissão de Carnaval chegou à conclusão de que precisava reduzir o número de componentes. Com isso, vamos fazer um desfile mais cadenciado e mais leve. Dentro de uma ótica específica, uma escola com muitos componentes pode ter dificuldades na evolução. São muitas pessoas para atravessar a Sapucaí dentro de um espaço de tempo que pode ser, sob essa ótica, curto. Menos gente dará uma leveza à evolução da escola na avenida. E tenho certeza de que isso vai dar um grande diferencial à escola: a grande diferença será o chão da escola. Quero chamar a atenção do público para o desenvolvimento do carnaval na avenida pela maneira mais limpa, mais moderna, mas sem perder o lado barroco da festa. Acho que a linguagem do nosso carnaval vai surpreender o público.” É aguardar e conferir.
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MILACULOUS WATERS OF LIFE
The parade of the Special Group of Samba Schools for 2006 promises to be one of the most competitive in recent years. It’s the so-called Beija-Flor effect, referring to the carnival association, or “samba school”, from the city of Nilópolis. None of Rio’s other samba schools wants to see the blue and white of Nilópolis taking home the champion’s trophy once again. For this reason, more than just putting on a striking parade, the schools of the Special Group will be marching down Sapucaí Avenue motivated by a common objective: to beat the leader of recent years. But the members of Beija Flor already expected this. After all, they aren’t rookies at this game, and aren’t worried about the competitive atmosphere. They know that Carnival is won on the avenue, after intense and well-planned work. And this is exactly what Beija-Flor of Nilópolis has been doing in recent years: putting on a stunning and organized parade, with all the characteristics of a champion’s march. Now they’re looking forward to winning their fourth straight championship. But to reach this point, besides excellent basic work, they need to choose a good theme and know how to exploit it with taste and intelligence. If the popular saying is that a good soccer team begins with a good goalkeeper, it is equally true that a good parade starts with a good theme. It’s not enough to have the best people – the mestre-sala (master of ceremonies) and porta-bandeira (standard bearer), Baianas (women dressed in traditional clothing from Bahia) and the rest of the community, if you don’t have a good theme. For this reason, to bring home their fourth championship in a row, Beija-Flor of Nilópolis has embraced the force and energy of the waters to choose a strong and renovating theme: “Poços de Caldas spills its miraculous waters over the earth: from original chaos to the explosion of life – water, the mother ship of existence”. fevereiro 2006
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THE STORY BEHIND THE THEME Tamir, in charge of the association’s staging hall and the first person to take the idea to the carnival committee, recounts that “during a chat with my friend Marcus Togni, who is president of the Poços de Caldas city council and head of the city’s leading samba school, Sacipô, the subject got around to the challenge of winning a fourth championship and he mentioned his desire to see the city of Poços de Caldas [which means “Hot Springs” in Portuguese] as the school’s theme. Knowing the city and its natural beauty, I was sure that if the carnival committee used his basic ideas we’d have a beautiful parade. Back in Rio de Janeiro, I sought out Shangai, who is one of the carnival committee members, and presented the idea to him. Shangai thought it was intriguing and decided to hear the opinion of Anízio, who was at the hall. After we presented succinctly to him the idea of a carnival about the city of Poços de Caldas, Anizio told Shangai to go there and study whether it could really make a good theme,” says Tamir. The reader can imagine the rest. Shangai was amazed with the city, but “without losing the perspective that I was dealing with carnival, I met with the members of the carnival committee so we could together evaluate the situation carefully, and we made up our minds. I presented what I’d seen in the city and the decision was unanimous: Poços de Caldas really could be a great theme, if developed properly by the committee. This was practically the only requirement we made of the people of Poços de Caldas: that the theme be developed exclusively by the carnival committee”, reveals Shangai.
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DEVELOPMENT OF CARNIVAL But why this requirement? For a layperson, it might seem that after choosing the theme, the parade emerges naturally. But that’s not how it is. At this point, the role of the carnival committee is essential. Mistakes in developing the idea can lead to the ruin of a good theme. According to Laíla, carnival director of Beija-Flor of Nilópolis and one of today’s most experienced carnavalescos, “We decided to work with a script on the theme ‘waters’, certain that we could develop a great work. Nevertheless, the school has to know how to work well in developing the theme. And this development is what really leads to the parade on the avenue. You can have the same theme and develop it in many ways, each one different. Some better, some worse from the standpoint of a carnival spectacle. And this is an important step for a good parade,” he states. To enable the carnival committee to develop the theme, Beija-Flor’s history researchers started to gather information to provide the raw material for the committee to work with. Coordinated by social scientist Bianca Behends, the research staff of Beija-Flor of Nilópolis studied documents, publications and even heard recollections of people from the Poços de Caldas region, to present to the committee the greatest number of documents and possible approaches: “Our function is apparently secondary because we’re asked to gather the raw information that the carnival committee will consult. But in reality, the work of the historical team is key, because if we present incorrect information, or little variety of data, we limit the creative field of the carnavalescos,” reveals Bianca. With this information in hand, the most magical and artistic phase of the carnival experience starts: formatting the parade, creating its concept, the alas (sections) and carros alegóricos (floats). “You think it’s easy creating a parade?”, asks Cid Carvalho. “No way. Putting on a winning parade, thinking of each float, what will be on them, the colors, the message that will be conveyed... And www.beija-flor.com.br
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the sections? Thinking of each section, giving coherent names, developing costumes that transmit the message that the school is committed to getting across... These are tasks that demand plenty of creativity of the carnavalescos, lots of knowledge of the possibilities and the potential that each subject has to offer, to reach the avenue with a beautiful spectacle. And time. It takes time, experience and dedication. It’s not enough to say you’re a carnavalesco to be one. And we here at Beija-Flor of Nilópolis, we can brag of having five carnavalescos.” In the same line of thought, Shangai concludes: “Often people don’t realize what we create here in the carnival committee. The parade on television often doesn’t permit the viewer to see the details that are developed, subtleties that are created. Only someone watching in person, paying close attention, manages to discover some of our subtle artistic creations. We’re artists, yes. Only we don’t exaggerate our personal marketing, seeking excessive visibility. And many times this gives the impression that our job could easily be done by others. But it’s can’t. We do our work with dedication and love, but mainly we use all the knowledge we’ve acquired over the years working on carnivals.” THE 2006 PARADE Will it be like in other years? Will the association use the avenue to transmit a resonant message? According to Ubiratan Silva, or Bira for short, “Carnival for us will always be a happy festival, carrying a positive message. But it’s natural for us to take advantage of this opportunity for
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mass communication to bring an invigorating message, of peace and happiness... To speak of Poços de Caldas, this marvelous place full of magic, is to speak of preservation, because if we don’t take care of what we’ve got, soon we won’t have places like this to enjoy peace and health, both physical and spiritual. But besides bringing this message, we’re going to involve the public in a mystical climate, speaking of dragons, mermaids, medusas... I really think this year we’re going to put on a great carnival. We can feel it even in the preparations. I can sense it. It’s going to be even better than in 2005.” “A grander carnival, but a leaner one as well.” According to Fran Sérgio, besides maintaining the line defined in 2005, with lighter costumes, Beija-Flor of Nilópolis is preparing a slimmed down parade, with fewer components: “The carnival committee concluded that we needed to reduce the number of marchers. With this we’re going to put on a parade that is more cadenced and lighter. From a certain perspective, a school with many people parading can have difficulty in evolution. There are a lot of people all marching down Sapucaí Avenue in a short space of time, perhaps from this viewpoint too short. Fewer people will give a lighter feeling, making the evolution easier. And I’m sure this will make a big difference. You’ll be able to see it on the ground. I want to draw peoples’ attention to the development of carnival on the avenue, in a cleaner, more modern manner, but without losing the Baroque side of the festival. I think the language of our carnival will surprise the public.” Let’s wait and see. www.beija-flor.com.br
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essa seção, damos uma prévia do
que será o desfile da Beija-Flor de Nilópolis, apresentando a disposição das alas e carros alegóricos. Não nos detemos, no entanto, na simples apresentação dos mesmos: ao longo do resumo das alas, apresentamos depoimentos dos integrantes da escola falando o que pensam e revelando quais os diferenciais que prometem para este ano. As fotografias que você verá nessa seção são referentes ao desfile da agremiação em 2005 e tem caráter meramente ilustrativo. São, também, um registro do desfile da tricampeã do carnaval carioca. Aproveite.. (RDF)
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om a missão de levantar o público da Sapucaí, exibindo parte do que será mostrado no todo pela Beija-Flor de Nilópolis, a Comissão de Frente, formada por 15 jovens bailarinos apaixonados pelo que fazem, promete várias surpresas para o espetáculo. Segundo a coreógrafa da Comissão, Gislaine Cavalcante, “este ano nosso grupo é formado por 12 mulheres e cinco rapazes que estarão abrindo o desfile na Sapucaí
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comissão de frente
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A GRANDE EXPLOSÃO NO CAOS INICIAL E A ESTRELA DE FOGO
explorando a questão da água dentro do ponto de vista da preservação. Queremos fazer um espetáculo bonito e criativo, mas principalmente, queremos chamar a atenção para a necessidade de a sociedade se envolver mais em questões graves de sobrevivência, e que a tocam diretamente. A falta de recursos hídricos é uma dessas questões. Para isso, para conciliar arte e conscientização, investimos muito tempo e trabalho com coreografias originais e muito bonitas. Tenho certeza de que vamos sensibilizar o nosso público.” www.beija-flor.com.br
VIA Lテ,TEA A GALテ々IA DO SISTEMA SOLAR
1o casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira fevereiro 2006
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se apresentam, e pela agremiação: “Não somos apenas dançarinos; Somos artistas. Criamos. Juntos, eu e Claudinho criamos nossa dança na avenida para levar uma mensagem ao grande público. E este ano, quando ouvi o samba, pensei: ‘é um samba maravilhoso, mas como vamos dançá-lo na avenida?’ Aí, comecei a ouvir o samba exaustivamente para que, aos poucos, as idéias fossem surgindo. Quando os esboços do que poderia ser a minha dança e a do Cláudio estavam mais claros para mim, nos reunimos e mostrei a ele o que tinha em mente.” “Nos nossos inúmeros ensaios, a gente discute como pode ou não pode ser a dança que vamos apresentar na avenida. A Selminha me apresenta o que imaginou e eu apresento a ela o que foi que eu pensei. É natural que a parte principal da dança do mestre-sala seja concebida por mim, com algumas sugestões dela. E o contrário também se dá. Ela concebe a maior parte da dança da porta-bandeira, e eu dou minhas opiniões. Como trabalhamos há muitos anos juntos, o que cada um sugere para o outro sempre acaba sendo incorporado à dança. E porque nos respeitamos muito, a gente nunca se indispõe um com o outro. E talvez seja essa uma das razões por que a gente está junto há tanto tempo, o respeito e a admiração que ambos sentimos um pelo outro”, conclui Claudinho, que também integra o quadro do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio.
A EXPL OSÃO DO UNIVERSO EXPLOSÃO
COMUNIDADE TEATRAL Centuriões eram os comandantes de uma centúria. Por centúria entende-se a companhia formada por 100 (cem) soldados na Roma antiga, sob o comando de um centurião. Os centuriões eram considerados a espinha dorsal do exército romano; frios soldados a serviço de um império que massacrava. Centurião era um foto: BM
Quando entrarem na avenida, Claudinho e Selminha Sorriso vão proporcionar ao público visitante esperados momentos de emoção. Casal mais antigo a participar do desfile do grupo especial, juntos há 15 anos, Claudinho e Selminha são considerados o principal casal de mestre-sala e portabandeira da atualidade. Companheiros de avenida desde a época do Estácio, Claudinho e Selminha foram "pescados" por Laíla a fim de contribuírem para o desenvolvimento de um projeto que a Beija-Flor de Nilópolis estava implantando. Hoje, passados 15 anos, 11 dos quais na Beija-Flor de Nilópolis, os frutos que colhem são evidentes: “Graças ao trabalho que a Beija-Flor de Nilópolis desenvolveu nesses últimos anos, consolidamos nossa dupla na avenida. Hoje, Selminha e eu entramos na Sapucaí com total segurança de que vamos fazer uma apresentação à altura da escola que defendemos. E o público já sabe que vamos fazer uma apresentação que prima pela qualidade e pela beleza”, comenta Claudinho. Mas, para chegar onde chegaram, com o respeito e a credibilidade em nível mundial, Claudinho e Selminha batalharam muito. “Priorizamos nos manter entre os melhores casais de mestre-sala e porta-bandeira. Para isso, sabíamos desde o princípio que teríamos que renunciar a muita coisa e nos dedicar aos ensaios com muita garra e determinação. Hoje, o reconhecimento que temos é o nosso grande presente. E defender o pavilhão da Beija-Flor de Nilópolis, para mim, é uma grande honra”, declara, emocionada, Selma Rocha, a Selminha Sorriso, advogada e soldado do Corpo de Bombeiros e secretária auxiliar do Juiz Marcius Ferreira, do Tribunal de Justiça Militar do Rio de Janeiro. Segundo Selminha, uma das maiores alegrias para ambos é ver a arte que desenvolvem sendo reconhecida pelo público, tanto na Sapucaí quanto em diversos locais onde
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oficial do exército romano que comandava uma legião de cem soldados, formando com ele uma pequena base militar em locais estratégicos para assegurar a ordem e bom andamento do Império. O GRES Beija-Flor de Nilópolis hoje ostenta o título de tricampeão do carnaval carioca. Como sempre se afirma dentro da escola, esses títulos são uma vitória do grupo, não da unidade: alas bem ensaiadas desfilando em harmonia e com muita energia, que é sentida pelo público. Mais um atrativo que vem chamando a atenção nos desfiles da azul e branco de Nilópolis é a dramatização de histórias ou fatos promovida desde o carnaval de 2003 por mais de 400 desfilantes. Todos esses movimentos, caras e expressões que cativam o público durante o desfile da escola são o resultado de um trabalho dedicado e exaustivo de um grupo de colaboradores amadores, formado por vigias de shoppings centers, empregadas domésticas, advogados, bailarinos, pedreiros e estudantes que não contam as horas para dar a sua contribuição à Beija-Flor de Nilópolis. À frente dessa equipe, está o diretor teatral da agremiação, o maranhense Hilton Castro. Nascido em São Luis, Hilton deixou a sua cidade aos 14 anos de idade, quando sentiu a necessidade de descobrir o mundo: “Certo dia falei à minha mãe: ‘Mãe, quero conhecer o mundo.’ E fui.” Quem vê a empolgação de Hilton na avenida à frente da ala de abertura – depois da Comissão de Frente e do casal de Mestre-sala e Porta-bandeira – não imagina que aquele momento é a colheita de um trabalho que durou mais de quatro meses, com ensaios exaustivos de 460 pessoas, com coreografias e movimentos corporais distintos. “Ensaiamos as coreografias e os movimentos corporais nas noites de segunda a quinta-feira com grupos distintos, e vamos transmitir ao público muita energia. Os carros alegóricos contam um pedacinho de uma história, que é o enredo. Vamos trabalhar desde a explosão do universo ao retorno de Atlantis, passando pelas águas milagrosas de Poços de Caldas... No chão, além dos oito carros, tenho um grupo que antecede o carro Abre Alas: é a Grande Explosão, antes de tudo acontecer. São mais de 40 pessoas no chão. Depois vêm os primatas, com 60 homens apresentando a evolução do primata até o que nos tornamos hoje. Temos as sereias, 46, que são as européias, e o oceano e as Iaras, 40, que representam as águas de rios doces, as indígenas, as morenas e a miscigenação.”
É um trabalho intenso, que começa quando pego a letra do samba-enredo e a estudo, imaginando o que cada estrofe tem a dizer. Depois disso, começo a pensar as coreografias para cada segmento. Busco que a expressão corporal de cada segmento represente determinada estrofe. Aí me reúno com meus pupilos e apresento o que quero de cada um deles. É óbvio que esse é um trabalho de interação e troca. Se algum deles tem uma idéia que pode ser mais bem-sucedida que a que apresento, nós a testamos. Se der certo, ótimo para a escola. Mas como será ensaiar mais de 400 pessoas que
HILTON CASTRO não possuem nenhuma cultura de dramatização? Como exigir que um pedreiro, um bailarino, um cabeleireiro e um policial entendam o que a escola quer deles? Segundo Hilton, “Gosto de trabalhar a massa. O que vemos aqui é realmente uma mistura absoluta. Temos, sim, de pedreiros a bailarinos profissionais, e o grande trabalho é passar para todos a mesma sintonia. Isso porque o resto está no sangue deles. O fato de um pedreiro não trabalhar com arte oficial não significa que ele não tenha esse dom adormecido dentro dele. Por isso, o trabalho acaba sendo fácil. Talvez o que seja um pouco mais difícil é trabalhar a disciplina, mas isso já é esperado. E com os ensaios vamos ajustando as arestas e disciplinando o grupo. No fim, o que motiva todos é aproveitar a oportunidade de dar o melhor de si. E isso eles fazem. Na avenida e na vida”, conclui. (RDF)
ALEGORIA 1 - CARRO ABRE-ALAS: ““A A GRANDE EXPL OSÃO NO CAOS INICIEXPLOSÃO AL E A ESTRELA DE FOGO” fevereiro 2006
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O UNIVERSO FABÍOLA OLIVEIRA DAVID
Há 17 anos atuando como principal destaque da Beija-Flor de Nilópolis, a jornalista e advogada Fabíola David, mãe de Gabriel e Micaela David, tem levado para a avenida a graça e a beleza do povo mineiro. Nascida na cidade de São João de Nepomuceno, MG, Fabíola confidencia que “ver a cidade de Poços de Caldas sendo homenageada pela Beija-Flor de Nilópolis é muito bom. É como se estivéssemos homenageando o estado em que nasci, que tem muitas cidades lindíssimas. Para mim, Poços de Caldas está representando muito bem a região e, inspirada nas belezas da cidade, tenho certeza de que a Beija-Flor de Nilópolis vai fazer um inesquecível desfile.” Confiante na conquista de mais um título para o povo da baixada, Fabíola não esconde seu estado de espírito para a disputa do inédito e ambicionado título: “Estou muito confiante e empolgada com o desfile que faremos. Estamos lutando pelo tetra, algo que, desde a fundação da Liesa, nenhuma escola conseguiu. Além disso, estaremos lembrando, na avenida, os 30 anos da conquista do primeiro título da escola no grupo de Elite do carnaval carioca. Isso vai mexer muito com todos os componentes da escola, que estarão envolvidos com o som forte e ritmado da bateria, a vibração e a energia do público. Fica difícil não se emocionar e, de alguma forma, evocar a lembrança de tantas pessoas que ajudaram a construir a Beija-Flor de Nilópolis. Tenho certeza de que muitos deles estarão, em espírito, ao lado de cada componente da escola injetando força, ânimo e garra, contagiando, assim, todo o público da Sapucaí para que vibrem e torçam conosco por mais esse título.” Desfilando com algumas modificações no figurino, Fabíola esclarece: “Diferentemente dos anos anteriores, em que eu desfilava com uma fantasia com as cores da escola, azul e branco, esse ano desfilarei com uma fantasia que mistura preto com tons de azul, representando a origem do universo. O carro abre-alas vai retratar o período anterior ao surgimento do sistema solar, e, por isso, a Comissão de Carnaval achou por bem utilizar em minha fantasia esses tons. Ao mesmo tempo em que faremos referência ao caos inicial, ao nada, ao vazio, ao sem forma e ao sem cor... Por isso o tom negro da fantasia, mesclado com tons de azul que remetem à expansão do universo e às cores da escola.” (RDF) fevereiro 2006
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A TERRA PRIMITIVA E A ÁGUA - O GÊNESIS DA VIDA O CAOS INICIAL
ALA COMUNIDADE O caos inicial era o nada; o vazio. O ponto de partida para o surgimento do mundo; do céu e da Terra.
A GRANDE EXPL OSÃO EXPLOSÃO
ALA COMUNIDADE A Teoria da Grande Explosão, também conhecida como Teoria do Big Bang, é a teoria segundo a qual o universo teria surgido a partir de uma monumental explosão ocorrida entre 10 e 15 bilhões de anos atrás. Nesse momento, denominado singularidade pelos cientistas, surgiram simultaneamente o espaço, o tempo e toda a matéria e energia existentes hoje.
A ESTRELA DE FOGO
AS IMENSAS TEMPEST ADES TEMPESTADES
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ALA KARISMA O Sol, também denominado “Estrela de Fogo”, teria surgido a partir da aglomeração de poeira cósmica e gases, em determinado ponto da Via Láctea. O Astro Rei é basicamente uma enorme esfera de gás incandescente, em cujo núcleo acontece a geração de energia através de reações termo-nucleares. Representa 99,867 % de toda a massa do Sistema Solar, enquanto 09 planetas,138 satélites e milhares de asteróides e cometas dividem a massa restante.
ALA JOVEM FLU As tempestades, também conhecidas como temporais ou procelas, ocorrem em função de violentas agitações da atmosfera, por vezes acompanhadas de chuvas, granizo ou trovões. Tais fenômenos, de imen-
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sas proporções, descarregaram grandes quantidades de água sobre a Terra, resfriando e solidificando a sua superfície que, até então, era formada de matéria muito quente.
COMET AS DE GEL O COMETAS GELO
ALA DAS BAIANAS Os cometas são corpos celestes do sistema solar, constituídos por três partes: núcleo, coma e cauda. Assemelham-se à asteróides, e são compostos principalmente de gelo (não apenas o gelo feito de água, mas também de outras substâncias) e rochas. Descrevem órbita em torno do Sol, e suas caudas características começam a surgir justamente à medida que se aproximam dele.
ERA GLACIAL
ALA COMUNIDADE As calotas glaciais surgiram pela primeira vez entre 06 e 10 milhões de anos atrás, provavelmente no norte. Na realidade, ocorreram diversas “Eras do Gelo”. Estima-se que a Idade do Gelo (ou Era Glacial) ocorreu há cerca de 20 mil anos, no final do período paleolítico. Com temperaturas médias baixíssimas, neste período a Terra teve suas calotas polares ampliadas, diminuindo o nível dos oceanos e gerando condições de vida inóspitas.
ÁTOMOS E MOLÉCULAS – O MANIFEST AR DA VIDA FESTAR
ALA COMUNIDADE Nas águas, enfim, manifestou-se a vida. Átomos, as menores partículas que se pode obter da divisão de um elemento, interligaram-se e formaram agregados de moléculas, impelindo a centelha da existência para os rios e oceanos rudimentares.
GIGANTESCAS PLANT AS PRIMITIV AS PLANTAS PRIMITIVAS
ALA COMUNIDADE Na Era Primária, a vida explodiu de maneira surpreendente; primeiro na água, depois, ainda modesta, em terra firme. Os primeiros organismos vegetais existentes na Terra Primitiva germinaram e se desenvolveram a partir das águas.
ARACNÍDEOS – OS PRIMEIROS HABIT ANTES TERRESTRES
ALA ANIMAÇÃO CUL TURAL CULTURAL Na Era Primitiva o mundo era do¬minado por invertebrados. Os aracnídeos, artrópodes desprovidos de antenas e com quatro pares de patas ambulatórias, foram os primeiros habitantes da Terra firme, juntamente com os insetos.
ARRAIAS DA ERA PRIMÁRIA
ALA COMIGO NINGUÉM PODE Os peixes foram muito numerosos no Período Primário. As cartilaginosas arraias, com seu formato semelhante a discos achatados nas bordas, foram uma dessas espécies gigantescas que habitaram o fundo das águas.
RÉPTEIS PRIMITIVOS
ALA TOM E JERRY Na Era Primária, os animais iniciaram uma grande transformação, a qual lhes permitia realizar a transferência da água para a terra. Considera-se os primeiros répteis verdadeiros animais muito pequenos do Carbonífero Superior, com hábitos terrestres, membros muito desenvolvidos e tronco curto. O réptil mais antigo conhecido é o Hylonomus, encontrado fossilizado dentro de um tronco de licopodínea, rodeado de sedimento.
HOMEM HOMEM PRIMA TA – O DOM PRIMAT DA INTELIGÊNCIA
ALA COMUNIDADE "TEATRAL" Durante muito tempo a vida gerada na água evoluiu e ganhou contornos complexos. Surge o Homem primitivo, forte e com músculos bastante desenvolvidos. Dotado de inteligência, um dos fatores que o distinguia das outras espécies, passou a produzir instrumentos e utensílios, a fim de facilitar a sua vida. Vivia no nomadismo e, nos primórdios da comunicação, se expressava por gestos, imagens e sons.
ALEGORIA 2: "A TERRA PRIMITIVA E A ÁGUA - O GÊNESIS DA VIDA"
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AS ANTIGAS CIVILIZAÇÕES SE BANHARAM NAS ÁGUAS DA VIDA
EGITO – O RIO NIL O NILO
ALA BEIJERÊ E ALA MUVUCA Divina Fonte de Energia, a água banhou de progresso a antiguidade, que irrigada e fértil, assistiu à antigas civilizações florescerem ao longo dos rios e mares. Na região do Vale do rio Nilo, foram construídas Cidades-Estados. Dotado de extrema importância para os egípcios, o rio Nilo era utilizado como via de transporte de mercadorias e pessoas, e suas águas também eram utilizadas para beber, pescar e fertilizar as margens.
ÍNDIA – O RIO INDO
CABULOSOS Assim como a própria vida, a humanidade, através dos tempos, desenvolveu-se ao longo dos rios e
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mares. A história da Índia começa com o surgimento da civilização em cidades no Vale do rio Indo. Nessa região, foram construídas várias cidades, que possuíam inclusive sistemas de fornecimento de água, canalizações de esgoto e piscinas para banhos públicos.
GRÉCIA – O MAR EGEU
ALA AMIZADE E ALA SEM COMPROMISSO A Grécia, primeira civilização européia a ser fundada, surgiu numa paisagem isolada, de bacias férteis. O coração da cultura grega estava nas terras do litoral do Mar Egeu, e o contato marítimo era o vínculo que mantinha unido o mundo grego, estimulando de modo extraordinário o crescimento da navegação e do comércio marítimo. www.beija-flor.com.br
ANTIGAS CIVILIZAÇÕES
CHINA – O RIO AMAREL O AMARELO
AL TO ASTRAL ALTO A civilização chinesa, uma das mais antigas da História, nasceu na grande planície banhada pelo Rio Amarelo. A economia e a cultura da Antigüidade chinesa eram relativamente desenvolvidas, e em épocas prósperas da sociedade feudal chinesa, impulsionouse a construção naval.
ASSÍRIA – O RIO TIGRE
SIGNOS Grandes civilizações da antiguidade se banharam na fartura que a água assegurava. A Assíria, ou país de Assur, situa-se na parte setentrional da Mesopotâmia; e expandiu-se pelo rio Tigre desde o norte do Egito até o oeste de Irã. Os assírios organizaram um exército temível e realizaram obras importantes, sobretudo hidráulicas.
BABILÔNIA – O RIO EUFRA TES EUFRATES
ALA VAMOS NESSA E ALA 1001 NOITES Por volta de 2.000 a.C., amonitas do deserto invadiram as cidades-estados sumerianas e acadianas e fundaram a cidade da Babilônia, situada às margens do rio Eufrates. O progresso econômico dos babilônicos conduziu ao embelezamento das cidades, com a construção de palácios, templos, da Torre de Babel e dos Jardins Suspensos da Babilônia - considerados uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.
VIKINGS – NAVEGADORES ESCANDINAVOS
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CASAIS DE MESTRE-SALA E PORTABANDEIRA (2º, 3º, 4º,5º E MIRIM) Envolvidos em um entrosamento mágico, o 2º casal de Meste-sala e Porta-bandeira, Carlos Augusto e Janailce, mais uma vez entram na Avenida mostrando ao público que a Beija-Flor é uma escola de campeões. Conscientes da responsabilidade que assumiram, não negam fogo: ”Estamos tranquilos para mais uma vez entrar na Avenida e representar essa escola maravilhosa, que só nos dá alegria. Não vai haver tempo ruim. Vamos dançar e levar o título para casa.”, comente empolgada Janailce Adjane, um linda negra levada à Beija-Flor pelo olho clínico de Laíla. Carlos Augusto, também conhecido do público pela bela performance na Sapucaí, também é enfático, apesar de mais cauteloso: “A Beija-Flor tem todas as qualificações para ser tetracampeã. E vamos lutar com muita garra para isso acontecer. Mas sabemos que é um grande desafio e que as outras escolas se prepararam para fazer um desfile tão bom quanto o nosso. Competição é isso, quem está na frente é perseguida e quem vem depois, corre atrás do prejuízo”. Se depender desse belo e entrosado casal de Mestre-sala e Porta-bandeira, estamos tranqüilos.
COMUNIDADE Viking é o nome dado aos guerreiros, navegadores e comerciantes dos países escandinavos que realizaram expedições marítimas do fim do século VIII ao começo do século XI. Colonizaram diferentes regiões e também ficaram conhecidos com os nomes de normandos e varegos.
ALEGORIA 3: ""AS AS ANTIGAS CIVILIZAÇÕES SE BANHARAM NAS ÁGUAS DA VIDA VIDA""
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AS ANTIGAS CIVILIZAÇÕES SE BANHARAM NAS ÁGUAS DA VIDA
DRAGÕES E SERPENTES – FABUL OFABULO SOS MONSTROS MARINHOS
COMUNIDADE Misterioso, o mar leva o homem a imaginar, antes de o conhecer, um infindável número de mitos e transformá-los em lendas. Os dragões, monstros fabulosos com língua sagital ou bífida, garras, asas, cauda de cobra e corpo coberto de escamas e monstruosas serpentes marinhas faziam, segundo a imaginação dos navegantes, morada nas águas dos oceanos.
SEREIAS – A SEDUÇÃO MITOLÓGICA
COMUNIDADE TEATRAL O mar exerce grande fascínio sobre a humanidade desde o princípio dos tempos e por isso começou a ser povoado por seres fantásticos. As belas e sedutoras sereias são seres mitológicos, metade mulher e metade peixe, cujos cantos eram tão suaves, que atraíam os navegantes para o fundo das águas, onde naufragavam e morriam.
O GRANDE ABISMO – O IMAGINÁRIO DOS NAVEGANTES
ALA SAMBANDO NA BEIJA-FLOR E ALA TRAVESSIA Civilizações de guerreiros acreditavam que o mundo acabava na linha do horizonte, e quem dela se aproximasse cairia do mundo, onde o mar derramava suas águas, no vazio abismo sem fim. Durante muito tempo, o mundo foi um tabuleiro de onde o mar se despencava. Já foi suportado por homens fenomenais, gigantesco elefante ou tartaruga, mas sempre misterioso.
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Carnaval 2006 GOT A D´ÁGU A GOTA D´ÁGUA
1º P AS SIST A PAS SISTA 2006 será um ano especial para o jovem e talentoso passita Edson Bittencourt. No desfile do tetra, Edinho, como é carinhosamente chamado pelos amigos, irá comemorar 20 anos de avenida. “Me lembro quando o seu João (João Sorriso) me levou para a escola. Foi uma emoção muito grande, tão grande como a de desfilar em busca do tetra no ano em que completo 20 anos de dedicação e devoção à essa escola que amo. Tenho certeza de que meu entusiasmo e vontade de vencer vai contagiar minha garotada e fazer com que levemos o título para Nilópolis, mais uma vez”.
A DANÇA AQUÁTICA
PAS SIST AS MIRINS E ADUL TOS ASSIST SISTAS ADULTOS
VÊNUS - A MÍSTICA DEUSA DAS ÁGUAS
RAINHA DE BATERIA Quando substituiu a inesquecível Soninha Capeta, Rayssa de Oliveira era ainda uma menina. Em passos tímidos, a menina Rayssa se torna Mulher: de Rainha-menina a rainha-Mulher. Passados três anos do seu primeiro desfile como Rainha de Bateria da Beija-Flor de Nilópolis, Rayssa samba como veterana, com beleza e segurança, representando, à altura de sua antecessora, o posto que lhe foi conferido. Mais madura, Rayssa já é capaz de saber bem o que quer e o que significa para ela e para a agremiação a sua participação no desfile: “Para mim, além de ser um momento de muita alegria, por poder representar a principal escola de samba do Brasil, é uma grande oportunidade de retribuir o que a Beija-Flor de Nilópolis e a família Abrão David fez por mim. Amadureci e hoje vejo a vida de uma maneira mais adulta, entendendo que somos colocados onde temos uma missão para desempenhar. À frente da bateria dos Mestre Plínio e Paulinho, busco dar graça e beleza ao desfile e, com a ajuda do Nelsinho David, fizemos uma bela apresentação em 2005.” Misturando um jeito de menina e de mulher, Rayssa brinca: “Sou ‘pé-quente´. Desde que comecei a desfilar como Rainha da Bateria, a Beija-Flor de Nilópolis foi campeã. E esse ano vamos repetir a dose. Até porque é bom ser campeã pela Beija-Flor...” (RDF)
O CLAMOR QUE VEM DAS ÁGUAS
INTÉRPRETE Mais uma vez a Avenida vai tremer ao som já consagrado do “Olha a Beija-Flor aí, gente!” Motivado pelo desafio do tetracampeonato, Neguinho da Beija-Flor deixa claro o espírito dos puxadores para o Desfile de 2006: “A rapaziada está muito motivada. Temos ensaiado forte para que e gente possa fazer a nossa parte no Desfile e ajudar a Beija-Flor a ser mais uma vez a melhor. E pelo que tenho visto nos ensaios, o Desfile vai ser muito bonito.” Para Neguinho, o Desfile da Beija-Flor desse ano promete ser um dos mais bonitos da sua história. História que ele lembra com muita emoção, afinal, Neguinho já defende o hino da agremiação desde 1975, tendo sido, inclusive o puxador do samba enredo campeção de 1976 “Sonhar com Rei, dá leão”, do qual foi, também, compositor. Com tanto tempo de avenida pela azul e branco de Nilópolis e tanta história protagonizada, Neguinho dá a receita de tanto sucesso: “O importante é você saber realmente o que quer da sua vida. Depois, além de batalhar muito para conseguir ser o que sonha em ser, é muito importante que você seja uma pessoa amiga, humilde, e principalmente leal às pessoas que acreditam em você. Assim, certamente você vai chegar lá.”, conclui o experiente sambista.
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Carnaval 2006 O BALANÇO DAS ÁGUAS
BATERIA Representando a água - o combustível da vida -, a Bateria do GRES Beija-Flor de Nilópolis vai mostrar na avenida porque é o combustível do carnaval. Com 250 talentosos ritmistas, ensaiadíssimos, a Bateria da azul e branco tem protagonizado, nos últimos anos, um dos mais emocionantes momentos do desfile, arrepiando o público de todas as nacionalidades. Mas a Bateria tem uma importância que ultrapassa o limite da emoção: “Sobre a Bateria recai uma grande responsabilidade. Somos talvez os componentes que mais podem atrapalhar o desfile se desempenharmos mal a nossa função. Imagine se meus ritmistas começarem a atravessar o samba. Com um erro desse porte, a Selminha e o Claudinho vão se confundir na coreografia que desenvolveram. A Gislaine e a Comissão de Frente também terão as coreografias que ensaiaram comprometidas. O próprio Neguinho vai ter problemas para puxar o samba e contagiar os compo-
MESTRE PAULINHO nentes na avenida. Não quero dizer com isso que a Bateria é mais importante que outras alas, apenas afirmo que quem dá a sustentação rítmica do desfile somos nós. E isso é muito importante”, revela, com seriedade, Mestre Paulinho. E a seriedade das palavras de Mestre Paulinho são endossadas pelo seu companheiro e cúmplice de avenida, Mestre Plínio: "O desfile das escolas de samba é uma grande festa, mas para nós é também um momento de disputa do título que premia a melhor escola. E, por isso, levamos muito a sério nosso
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
trabalho nos ensaios e na avenida. Temos ensaiado forte, não só o básico, o feijão com arroz, mas também algumas novidades que poderão ser um show à parte", declara. Numa cumplicidade digna dos grandes parceiros, Mestre Paulinho conclui: “Mas só vamos implantar as novidades que temos ensaiado se sentirmos que, na avenida, há clima para isso. Não vamos inventar na avenida só para dizer que inventamos. Não estamos na Beija-Flor para perder. Estamos aqui para cumprir uma tarefa, que é manter a nota máxima no quesito e contribuir com o grupo para a conquista do título. Se entramos com nota 10, temos que sair com nota 10. Por que sacrificar todo o desenvolvimento de um trabalho que a escola vem fazendo há um ano por uma vaidade pessoal? Por querer aparecer? Na realidade quem é campeã é a Beija-Flor, não o Paulinho nem o Plínio. Somos profissionais,
MESTRE PLÍNIO amantes do samba, amantes da Beija-Flor, mas temos uma tarefa a cumprir, sem estrelismos. E vamos cumprir. Uma tarefa que, ao que parece, tem tido o reconhecimento público. Basta ver como ele se manifesta quando a Bateria da Beija-Flor de Nilópolis passa na avenida. Ela passa e o público responde, com gritos e aplausos... é um momento muito emocionante. É o salário do ritmista, que ensaia o ano todo para receber a energia desse momento. (RDF) www.beija-flor.com.br
Carnaval 2006 VÊNUS – A DEUSA FEIT A DA ESPUFEITA MA DO MAR
COMUNIDADE Vênus é a deusa do panteão romano. Deusa do amor e da beleza, conta-se no mito de seu nascimento, que surgiu de dentro de uma concha de madrepérola, tendo sido gerada pelas espumas do mar. Tinha um olhar vago e cultuava-se o zanago dos seus olhos, como ideal da beleza feminina. Também possuía um carro puxado por cisnes.
dado uma parcela de mim para construir essa história.” Sete anos desfilando ao lado da ex-Rainha da Bateria, a inesquecível Sonia Capeta, Cássio desenvolveu uma técnica pessoal para sambar, que lhe proporcio-
NETUNO – O DEUS DO MAR
COMUNIDADE Na partilha do Universo o severo, forte e impetuoso Netuno teve por quinhão todas as ribeiras, as ilhas e o mar, onde construiu um fantástico palácio e tornou-se o senhor dos sete mares e protetor dos marinheiros. Representavam-no como um homem barbudo, armado de um tridente e, que por vezes, mostrava-se num carro puxado por cavalos-marinhos e com a parte inferior de seu corpo tal qual a cauda de um peixe.
ÁGU ASVIV AS – OS CELENTERADOS ÁGUASAS-VIV VIVAS MARINHOS
COMUNIDADE Água-viva é o nome popular dos celenterados marinhos também conhecidos como medusas. Vivem nos oceanos em todas as profundidades e seu corpo gelatinoso e quase transparente tem o formato de um guarda-chuva aberto. Quando se movimentam, parecem dançar guiadas pelas correntes marinhas.
MEDUSA – O BALLET DOS OCEANOS
PASSISTA-DESTAQUE Quem acompanhou o desfile de 2005 da Beija-Flor de Nilópolis até o final pôde presenciar um momento de grande emoção: a entrada na avenida do Anjo Gabriel, fechando o desfile da agremiação como uma mensagem de paz dos Sete Povos das Missões. Desempenhando com arte e beleza essa missão estava o passista Cássio Dias dos Santos, o Cássio da Beija-Flor, que completa 16 anos como passista da agremiação. Orgulhoso, ele diz: “Desfilar como passista na Beija-Flor de Nilópolis é uma honra para mim. Não só pelo que representa a Beija-Flor no Carnaval, mas porque, de uma certa maneira, sei que muito do que a escola conquistou foi fruto do trabalho e da dedicação de seus componentes e diretores ao longo desses anos. E, como componente há 16 anos, sinto que dei e tenho
CÁSSIO DA BEIJA-FLOR nou um Estandarte de Ouro como Melhor Passista do Carnaval de 1991: “Danço em tempo dobrado, sem perder o ritmo. É como se eu acelerasse o andamento do samba, enquanto o andamento, na verdade, se mantém. No samba, a gente dança em cima de uma batida, geralmente a batida do surdo, que tem um ritmo mais cadenciado. Para atingir a forma de sambar que desenvolvi, sigo a batida do tamborim, que é muito mais rápida. Assim, e sem atravessar o samba-enredo, posso me apresentar ao público com algumas particularidades, somando mais atrativo ao Desfile da Beija-Flor”. fevereiro 2006
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Carnaval 2006 Além de desenvolver a técnica, talvez fruto de um conhecimento profundo da dança, Cássio da Beija-Flor também cria a sua coreografia: “Quem faz a minha coreografia sou eu mesmo. Quando o samba é escolhido, já começo a pensar nela. Apesar de também ter uma formação clássica (estudou durante oito anos balé clássico e dançou com feras como a companhia do Jaime Arouche e Debora Colker), penso as coreografias com base nos meus conhecimentos de samba. Para 2006, Cássio desfilará com a fantasia de Medusa, após a Ala teatral Águas Vivas: “Sempre que posso, acompanho o que Ala está fazendo. O que tenho visto me faz acreditar que o desfile será muito emocionante. Como passista, virei à frente do 4º carro, com uma fantasia nas cores da escola: o azul e o branco. Vi o desenho da fantasia, feita pela Bruna, e está muito bonita.”
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Hoje, temos a certeza de que Cássio é uma importante aquisição da escola, reconhecido pela comunidade e diretores pelo trabalho que desenvolve na avenida: “Muitas pessoas na Beija-Flor me deram e me dão força e incentivo. Dentre tantos, gostaria de destacar e agradecer a dona Fabíola David e dona Jane Louise David. Agradeço muito, também, a dona Nadir, que foi baiana da escola, e à comunidade, que me recebeu com muito carinho e respeito”, conclui orgulhoso e agradecido pelo momento que vive. (RDF)
ALEGORIA 4: "AS ANTIGAS CIVILIZAÇÕES SE BANHARAM NAS ÁGUAS DA VIDA"
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Carnaval 2006
GABRIEL OLIVEIRA DAVID
Quem acompanhou com atenção o desfile da Beija-Flor de Nilópolis em 2005 percebeu a presença de um jovem rapaz fazendo malabarismos no tamborim. Gabriel Oliveira David, um ritmista de primeira linha. Aos nove anos de idade, Gabriel teve o privilégio de aprender com um dos melhores: Mestre Douglas Botelho, filho do nosso querido Mestre Paulinho. Aluno dedicado, Douglas descreve um pouco do pequeno Gabriel: “Gabrielzinho é um dos meus ritmistas mais completos. Ele tem uma boa percepção de ritmo e harmonia, o que facilita muito as coisas. E, além disso, ele é um menino muito dedicado, empolgado, que gosta muito de estar onde está.” Esse amor e dedicação à bateria-mirim da Beija-Flor de Nilópolis é, naturalmente, a manifestação de um aprendizado que vem de casa: desde pequenino Gabriel convive com a dedicação e o amor que seus pais, Anizio Abrão David e Fabíola Oliveira David, têm pela agremiação de Nilópolis. “Desde que eu era pequeno, meus pais já me traziam aqui na quadra e no desfile. Cresci vendo essas cores, essas pessoas, essas músicas... E fui gostando do que via. Hoje, o que posso fazer pela minha escola de samba, eu faço. Aprendi isso com meu pai: a gente tem que fazer pela Beija-Flor o que for preciso, para torná-la sempre uma grande escola de samba. Agora, como criança, o que faço é ajudar meu pai na distribuição dos brinquedos de Natal e, no desfile, trabalho como ritmista mirim. Quando tiver maior, vou querer fazer como meu pai, ajudando as pessoas da Beija-Flor e de Nilópolis. Mas ainda falta. O que quero, agora, é fazer uma boa apresentação no carnaval deste ano”, declara Gabriel.
Nós, da revista “Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida”, desejamos ao Gabriel muita saúde e bom gosto, para que possa dar a sua contribuição à Beija-Flor de Nilópolis durante os próximos 70 ou 80 anos. (RDF)
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A FORÇA DAS ÁGUAS E O PODER DA MENTE
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ATLÂNTIDA
ATLÂNTIS – O POVO DAS ÁGUAS
ALA LIBERDADE E ALA TUDO POR AMOR Adoradores das águas descendentes de Atlas, filho de Posêidon (deus romano do mar). Obedeciam às leis divinas e foram amigos dos deuses, com os quais tinham parentesco. O dom do poder da mente que afastava qualquer sintoma de envelhecimento, fazendo-os parecer belos e abençoados e a hipótese de alguns possuírem barbatanas, nadadeiras e longos rabos de peixe os tornavam diferentes física e culturalmente dos demais.
ASTRONOMIA – A CIÊNCIA E OS ATLÂNTIS
COMUNIDADE Atlântida é descrita como uma civilização avançada, detentora de um império de engenheiros e cientistas, tão ou mais avançados tecnologicamente que a nossa civilização. Exercitavam o cérebro o tempo todo com atividades como a leitura e resolução de intricados problemas. A astronomia, ciência que estuda toda a matéria existente no universo pode ter sido uma das ciências estudadas por esta avançada civilização.
A INFLUÊNCIA LUNAR SOBRE AS MARÉS
ALA BORBOLETA E ALA APOTEOSE O movimento das marés verifica-se em virtude da atração que a Lua exerce sobre a massa líquida da Terra. As águas do mar sobem e descem. Por acreditar-se que Atlântida era uma ilha e, assim sendo, era vulnerável a inconstância do mar, é muito provável que a lua tenha servido como referência para que os Atlântis não fossem surpreendidos pela fúria das águas.
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FL ORES E FRUTOS – O PARAÍSO DE FLORES ATLÂNTIDA
ALA UNI-RIO E ALA CAMALEÃO DOURADO Atlântida era uma terra onde hábeis agricultores cultivavam hortas e pomares que produziam alimento farto e jardins que exalavam o mais doce aroma através de belas e exuberantes flores. A civilização dos atlântis vivia em um verdadeiro paraíso.
OURO – O BRILHO RESPLANDECENTE DE ATLÂNTIDA
ALA DOS CEM E ALA AMAR É VIVER Atlântida era uma cidade moderna, funcional, cientificamente projetada. Os materiais eram utilizados por sua capacidade. Os telhados eram de ouro por sua durabilidade e alto poder condutor de energia, assim dominavam a energia solar e a utilizavam como força motriz, parecia que o sol brilhava dia e noite na ilha.
O PODER DOS CRIST AIS CRISTAIS
ALA COMUNIDADE Durante o dia Atlântida reluzia como o ouro, a noite brilhava como pedra preciosa. A luz que brotava dos cristais rasgava as trevas da noite como um farol que buscava ofuscar o brilho da lua ou sinalizar aos viajantes do espaço o local de pouso.
AS ENCANT ADAS FONTES DE ENCANTADAS NETUNO
ALA DÁ MAIS VIDA Não só os habitantes de Atlântida, mais a própria ilha parecia ter surgido ali como mágica, uma miragem. As águas que brotavam em todo lugar, criavam magníficas fontes que jorravam água cristalina por todos os lados, irrigando uma civilização que se banhava na força das águas.
ALEGORIA 5: "ATLÂNTIDA - A FORÇA DAS ÁGUAS E O PODER DA MENTE"
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BRASIL O FANTÁSTICO REINO DE TODAS DAS ÁGUAS
IARA – A MÃE D´ÁGUA
ALA COMUNIDADE TEATRAL Dentre as diversas entidades folclóricas brasileiras que habitam as águas, encontramos Iara, a Mãed’água. Na mitologia indígena é a sereia dos rios, lagos e lagoas. Uma mulher fantástica e atraente que possui cabelos longos. Diz-se ainda que esta entidade aquática é capaz de seduzir os jovens rapazes para um abraço fatal no fundo das águas.
O CHORO DA LUA
ALA 08 OU 80 Cansada de olhar o mundo e observar a miséria, a maldade, rios secando, e o mar imundo (o princípio do fim da humanidade); de ver o ódio destruir a esperança, a alegria se transformar em amargura, e temendo que não restasse lembrança do Planeta Terra, a lua escureceu. Ao retornar, seu brilho não escondeu, po-
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rém, a mancha de lágrimas sombrias. Lágrimas derramadas aos poucos, como se ela tivesse sangrado de agonia.
AS CARRANCAS DO RIO SÃO FRANCISCO
ALA COMUNIDADE Esculpidas em madeira, e ostentadas pelas embarcações que navegam as águas do rio São Francisco, as carrancas são excelentes exemplos de arte popular dos anônimos artistas ribeirinhos. Muito se discute sobre a sua função e origem: se totêmica ou publicitária, milenar ou quase coeva, negra ou ameríndia. Talvez seja mesmo uma confluência de vários desses elementos.
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ALA COMUNIDADE Segundo o folclore brasileiro, o arco-íris furta a água dos rios lagos e fontes, ficando largo e colorido; depois, farto, desaparece. Foge se alguém faz desenhos no chão com linhas retas ou fileiras retilíneas com pedrinhas ou gravetos, porque, diz-se é inimigo do que não é curvo.
IEMANJÁ – A RAINHA DO MAR
ALA COMUNIDADE Iemanjá é a água, o próprio mar divinizado. No Brasil a Mãe-d’água ioruba foi aculturada com as sereias de origens européias e as iaras ameríndias. A deusamãe, rainha das águas e rainha do mar são algumas outras denominações deste Orixá feminino de criação nagô.
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ARCO -ÍRIS – O COL ORIDO DAS ARCO-ÍRIS COLORIDO ÁGUAS
OXALÁ – AS ÁGUAS PURIFICADAS
ALA COMUNIDADE Oxalá é a divindade suprema dos iorubas, o orixá da criação identificado com o deus dos cristãos. Preside as funções da reprodução e inicia os ritos de purificação do candomblé com as águas de Oxalá. Oxalufã, um velho, arrastando os pés, corcunda, e apoiando-se num paxoró, uma espécie de cajado de metal branco terminado em forma de pássaro, é uma das formas sob a qual este orixá “desce” aos terreiros.
OXUM – O CAMINHO DAS ÁGUAS
ALA COMUNIDADE Oxum é a deusa das fontes e dos cursos de água. No Brasil, este orixá ioruba identifica-se com várias denominações de Nossa Senhora. Com um espelho denominado abebé na mão, este orixá dança fazendo mímicas de quem se banha no rio, penteia os cabelos, alisa as faces, põe colares e pulseiras e olha-se no espelho, sacudindo os braceletes que lhe ornam os braços.
ALEGORIA 6: "BRASIL - O FANTÁSTICO REINO DE TODAS DAS ÁGUAS"
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A CIDADE DAS ÁGUAS A NOVA ATLÂNTIDA
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POÇOS DE CALDAS
ÍNDIOS CA T AGU ASES – DESCENDENCAT AGUASES TES DOS ATLÂNTIS
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ALA TU E EU Após violentos terremotos e inundações, Atlântida desapareceu do mar; e os terremotos e as enchentes forçaram os sobreviventes a se refugiarem pelo o mundo. Os índios cataguases, habitantes primitivos da região de Poços de Caldas, por terem sido os primeiros a se beneficiarem das “águas santas” do lugar, fizeram delas um elo que os uniu a civilização perdida dos Atlântis.
AS ÁGU AS MOVIMENT AM O CAS SINO ÁGUAS MOVIMENTAM
ALA COMUNIDADE Poços de Caldas, cidade famosa por suas águas raras e com propriedades curativas, também ficou conhecida pelos cassinos, na época em que o jogo ainda era legalizado no Brasil. A descoberta das primeiras fontes e nascentes no século XVII trouxe prosperidade à Poços de Caldas, que teve a nata da aristocracia brasileira, e até internacional, desfilando pelos salões do Palace Cassino e do Palace Hotel.
foto: DF
PÁS SAROS E FL ORES EMBELEZADOS FLORES PELAS ÁGUAS RARAS
ALESSANDRA PIROTELLI
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ALA COMUNIDADE As propriedades das águas de Poços de Caldas contribuíram para que as aves e as flores típicas da cidade ganhassem uma beleza peculiar. São sabiás, gaviões, sanhaços, anus, bem-te-vis e pintassilgos entoando belos cantos em meio a uma flora exuberante e característica de ervas Lancetas e de Santa Luzia, Trepadeiras, Sempre-Vivas, Margaridinhas, Quaresmeiras, Vassouras, JacarandáMimoso, Guapuruvu e muitos outros. www.beija-flor.com.br
CAFÉ – UMA RIQUEZA IRRIGADA PELAS ÁGUAS SULFUROSAS ALA COMUNIDADE O café tornou-se uma das riquezas do município de Poços de Caldas. Uma espécie de ouro negro que brotou abundantemente em terras fertilizadas com as águas especiais, fazendo com que a atividade cafeicultora se expandisse, tornando-se muito lucrativa . Uma saborosa bebida que quase pode ser preparada com a infusão dos grãos nas águas naturalmente aquecidas da região.
CONGADAS – O L OUVOR A SÃO BELOUVOR NEDITO COM ÁGUAS MILAGROSAS ALA ENERGIA (COMUNIDADE) No Brasil, são denominadas Congadas as danças nas quais são representadas a coroação de um rei do Congo. Há cerca de 100 anos, os grupos de congos vêm se apresentando na cidade de Poços de Caldas que atualmente conta com a presença de cinco grupos, os quais mantém a mesma essência em suas apresentações, a de louvar a São Benedito.
FOLIA DE REIS – UMA FEST A POPUFESTA LAR COM ÁGU AS CURA TIV AS COMO TIVAS ÁGUAS CURATIV PRESENTE ALA COMUNIDADE Folia de Reis é uma festa popular de origem européia que reproduz a peregrinação dos três reis magos. Desde 1983 este evento de natureza folclóricoreligiosa acontece em Poços de Caldas. No presépio da Basílica, é feita a adoração ao Menino Jesus; e as companhias entram uma a uma e fazem cada qual a sua louvação, onde provavelmente também agradecem o presente divino sob a forma das águas medicinais da cidade.
AS ÁGU AS MILAGROSAS DAS CAL ÁGUAS CAL-DAS ALA AMIGOS DO REI
ALEGORIA 7: "POÇOS DE CALDAS A CIDADE DAS ÁGUAS - A NOVA ATLÂNTIDA"
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Foto: DT
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O RETORNO DOS ATLANTES O EQUILÍBRIO DO PLANETA E O FUTURO DA HUMANIDADE
ELEMENTO TERRA – O EQUILÍBRIO ALA CASARÃO DAS ARTES Ao desencadear o processo de elevação espiritual abriremos as portas para o retorno dos Atlântis e a incrível recuperação do equilíbrio humano se refletirá na natureza. A terra, o mais físico dos elementos, fará brotar a semente de redenção e paz trazendo de volta o equilíbrio perdido com desencaminhamento da humanidade dos caminhos divinos.
ELEMENTO ÁGUA – O COMBUSTÍVEL DA VIDA BAIANINHAS O Criador abençoou o nosso chão doando-nos um dos quatro elementos constitutivos do universo. A Água, a nave mãe da existência, é um dos mais importantes recursos minerais utilizados pelo homem. Ao se dar conta da importância do combustível da vida, despoluindo os
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rios e mares harmonizando a vida nas águas, a humanidade garante a sua sobrevivência e progresso.
ELEMENTO AR – A HARMONIA ALA COMUNIDADE O ar é um elemento indispensável à preservação das espécies, em função da respiração ser uma necessidade vital para a sobrevivência de plantas e animais, inclusive o Homem. Com o combate à poluição do ar, a sinfonia da vida volta a ser ouvida e levada pelos ventos para os quatro cantos do planeta.
OUTONO – O RETORNO DAS FART AS FARTAS COLHEIT AS E VISTOSOS FRUTOS COLHEITAS ALA É LUXO SÓ A Mãe Natureza, tão poderosa, tornou-se vítima vulnerável as vontades da humanidade. O Homem que outrora havia interferido nos seus domínios, www.beija-flor.com.br
desarmonizando as quatro estações, ouviu arrependido o seu lamento e agora é uma nova raça, com sabedoria divina, que tem no respeito a natureza a sua nova oração. O Outono volta a ser a estação das frutas e o tempo de colheitas, como sempre haveria de ter sido.
INVERNO – A VOL TA DO FRIO E DAS VOLT REFRESCANTES CHUVAS ALA COLIBRI DE OURO A Humanidade evoluiu a tal ponto que conseguiu miscigenar-se com os Atlântis que voltaram para este planeta vindo dos céus, sem que isso interfirisse negativamente para ambas as partes. Tal evolução propiciou o surgimento de uma civilização pura e avançada que acreditava no poder das águas e na preservação da vida. Com o ser humano em equilíbrio com a natureza, o Inverno volta a ter suas características originais, trazendo o frio e as chuvas.
PRIMAVERA – O REGRESSO DAS BELAS E PERFUMADAS FL ORES FLORES ALA COMUNIDADE O homem do futuro ouviu o clamor que veio das águas. Encontrou no fundo de sua alma as respostas para a revitalização do planeta e para a preservação da nova espécie humana que acabara de surgir. Em conseqüência de formação de um novo planeta as estações entram em harmonia e as belas, exuberantes e perfumadas flores anunciam que a primavera está de volta.
VERÃO – O REENCONTRO COM O CAL OR QUE AQUECE O CORAÇÃO CALOR DO HOMEM
ALA COMUNIDADE A água não mais faltará, pois é tratada e utilizada com moderação, e o seu poder não se manifestou mais em catástrofes, mas sim tal qual em Poços de Caldas, que a utiliza para a cura. A nova raça ouviu a voz do seu coração e o equilíbrio do tempo voltou a reinar, o verão tornou a ser a estação quente, afirmando que a eternidade esta começando agora.
A SABEDORIA DOS ATLÂNTIS
VELHA GUARDA Os cânticos de paz se fizeram ouvir por todo universo como uma oração, finalmente chegou a hora dos Atlântis retornarem à Cidade das Águas e transmitirem às novas gerações sua sabedoria e conhecimentos. Mostrarão para toda a humanidade o grandioso e verdadeiro valor das águas e o quanto a vida no Planeta depende da sua preservação.
ALEGORIA 08: "O RETORNO DOS ATLANTES - O EQUILÍBRIO DO PLANET A E O FUTURO DA HUMANIDADE" NETA
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ÁGUAS MILAGROSAS DE POÇOS DE CALDAS VÃO LAVAR A ALMA NA SAPUCAÍ
Toda a diretoria do GRES Beija-Flor de Nilópolis é enfática em garantir o favoritismo da escola e a força do enredo que enfoca a importância da preservação da água no mundo e mostra a bela cidade mineira de Poços de Caldas como exemplo dessa preservação. As águas milagrosas são a razão do nascimento da cidade e também a mola propulsora do progresso nas décadas de 20, 30 e 40. O município, hoje com 133 anos, possui o maior índice de desenvolvimento humano de Minas Gerais, números que refletem a alta qualidade de vida dos moradores. ÁGUAS MILAGROSAS As águas milagrosas a que se referem o enredo da Beija-Flor são as águas sulfurosas e as águas minerais, encontradas em fontanários espalhados pela cidade. As águas raras e com poderes de cura foram responsáveis pela prosperidade da cidade desde os seus primórdios, quando as terras começaram a ser ocupadas por ex-garimpeiros desiludidos com o declínio da atividade aurífera na região das minas. As águas sulfurosas seduziram nomes ilustres da história do país, como D. Pedro II e Getúlio Vargas. Os benefícios dessas águas terapêuticas podem ser desfrutados em vários pontos da cidade. Um deles é a Fonte dos Macacos, localizada na Praça D. Pedro II. Emissora de água límpida cuja temperatura chega a 41ºC, ela é a fonte mais visitada da cidade. A água sulfurosa de forte odor da fonte é responsável pela lenda mais antiga de Poços de Caldas, que data do início da colonização do município. Numa época de fortes crenças, alguns dos primeiros habitantes da região acreditavam que o local era morada do demônio, por causa do forte cheiro de enxofre que emanava das águas então desconhecidas. Essas águas são utilizadas no Balneário Mário Mourão, também localizado na praça.
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As Thermas Antonio Carlos, cujo prédio histórico de estilo neo-romano representa um dos principais cartões postais de Poços de Caldas, é o principal balneário da cidade. Ele é muito procurado pelos serviços oferecidos, principalmente os banhos de imersão, duchas, massagens e estética facial. As Thermas atendem desde pessoas que querem relaxar até pacientes para tratamento médico e fisioterápico, que se utilizam das águas e também dos aparelhos de fisioterapia, de procedência alemã, datados da década de 30 e em perfeito estado de funcionamento. Há também fontes que possuem águas radioativas de ação diurética, como a Monjolinho, e sulfetadas hipertermais, como a Pedro Botelho. Elas brotam do solo a uma temperatura que varia de 17 ºC a 45 ºC. Já o Fontanário José de Jacó desperta curiosidade por possuir uma fonte cuja água se mistura com óleo. Poços de Caldas também é conhecida pelas águas minerais. Criada em 1929, aproveitando os recursos naturais da Serra de São Domingos, a Fonte dos Amores atrai turistas devido ao ar romântico que envolve o lugar. Um tênue véu de água cai de grande altura pelos degraus de pedra no meio de um bosque bucólico. Destaca-se, no meio dos arbustos, a estátua de mármore de dois jovens abraçados, retratando o amor. A estátua foi esculpida pelo italiano Giulio Starace. Em uma placa de bronze, ao lado, pode-se ler um poema de Alberto de Oliveira: “Neste recanto o amar tudo convida/Que amor é vida,/Amai!Amai!/Mas, a quem pôs aqui tanta beleza/A alma da natureza/Uma oração mandai:/ Orai!Orai!”. As águas reverberam em todos os cantos de Poços e na mente dos turistas que visitam a cidade. Muitos deles vão embora de “alma lavada”, e assim também será com todos na Marquês de Sapucaí neste Carnaval 2006. www.beija-flor.com.br
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OS BINGOS DO RIO apostam no social, nos esportes, nos empregos e agora na cultura
Os bingos do Rio de Janeiro são considerados como modelo na operação dessa modalidade de entretenimento para o restante do país, e a Associação dos Administradores de Bingos e Similares do Estado do Rio de Janeiro (Aberj) é a grande responsável pelo funcionamento harmônico dessa atividade no estado. Para que se possa dimensionar a importância dos recursos dos bingos para o Estado, nos últimos anos essa modalidade foi responsável pela maior receita líquida da Loteria do Rio de Janeiro (Loterj), através de repasses mensais que foram aplicados nos projetos sociais do Governo do Estado. Além disso, os bingos do Rio de Janeiro geram seis mil empregos diretos e milhares indiretos para os cariocas e fluminenses. Em termos de empregos, a atividade emprega mais do que muitas montadoras de automóveis do país. Outras instituições beneficiadas pelos bingos são as entidades esportivas, que recebem 7% do faturamento líquido dos bingos para desenvolverem projetos voltados para formação de atletas de base, sendo que algumas federações, investem em atletas de alto resultado. Os bingos cariocas transformaram-se no entretenimento mais saudável e seguro do Rio de Janeiro, além de um respeito incomum com os seus freqüentadores, canso de ouvir senhores e senhoras afirmarem que são sempre tratados com muito respeito. Além disso, desde o final do ano passado vem ocupando um espaço interessante um projeto inovador batizado de “Bingo: Cultura, Lazer e Entretenimento”, através de pocket shows com artistas e humoristas. Esses shows acontecem durante um período de 20 a 30 minutos, quando a casa realiza uma pausa em suas jogadas para receber grandes nomes da música e do humorismo, como Ângela Maria, Cláudia Barroso, As Frenéticas, Guilherme Arantes, Belchior, Flávio Venturini, Wando, Kleiton & Kledir, Dudu Nobre, Wanderley Cardoso, Ary Toledo, Agildo Ribeiro, Chico Anysio e muitos outros artistas. Esse projeto já conta com 220 pocket shows por mês, contratando 60 artistas mensalmente. Mas a Associação de Bingos também tem responsabilidade social; faz doações de automóveis e patrocina vários projetos importantes da 1a Vara da Infância e da Juventude. Anualmente, a Associação doa brinquedos no Natal e ovos na Páscoa para as crianças do Juizado e apóia eventos na área de saúde, como exames gratuitos de glicose, exames de prevenção do câncer de mama, fluoretação dos dentes e prevenção da hipertensão arterial. Entendemos que as loterias só se justificam se houver uma destinação social para o seu dinheiro e é exatamente por isso que acreditamos na atividade, por sua capacidade econômica e pelos empregos e benefícios sociais que dela podem advir, bastando para tanto a existência de uma legislação adequada e estável, com a participação ativa do poder público, numa relação transparente e respeitosa da qual a sociedade será a maior beneficiária. Definitivamente, os Bingos do Rio apostam no social, nos esportes, nos empregos e agora também na cultura.
Paulo Lino, presidente da Aberj José Renato Granado, vice-presidente da
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Aberj
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O PALPITE CERTO É
BEIJA-FLOR esse seleto grupo das conquistas inesquecíveis: o GRES Beija-Flor de Nilópolis alcançava a glória de se tornar a campeã do carnaval carioca, conquistando o respeito e o carinho do povo fluminense. O FORMATO DO CARNAVAL 76 Naquela época, o desfile de carnaval do Grupo I, do qual participavam as principais escolas de samba do Rio de Janeiro, era composto por 14 agremiações e realizado em um único dia. O desfile ocorria na Avenida Presidente Vargas, com horário fixado pelos organizadores, iniciando-se a partir das 18h e terminando por volta das 9 horas da manhã do dia seguinte.
foto: AGÊNCIA O GLOBO / AOG
DESFILE 1976 A conquista de grandes vitórias sempre foi e sempre será o sonho do homem contemporâneo, seja individual ou coletivamente. Ocorre que algumas vitórias, mais obras do acaso do que de um trabalho dedicado e regular, têm curta duração. Outras vitórias, no entanto, pela forma como são conquistadas, pelas adversidades que superam, pela relevância e por tudo o que representam, fazem parte do distinto grupo das conquistas inesquecíveis. Há 30 anos, mais especificamente no dia 29 de fevereiro de 1976, uma escola de samba considerada “escolinha do interior”, com um feito inédito, entrava para
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foto: AGÊNCIA O GLOBO / LUIZ PINTO
Na ordem do desfile, Em Cima da Hora, Unidos de Lucas, Unidos de São Carlos, União da Ilha do Governador, Tupy de Brás de Pina, Lins Imperial, Acadêmicos do Salgueiro, Beija-Flor de Nilópolis, Império Serrano, Unidos de Vila Isabel, Estação Primeira da Mangueira, Mocidade Independente de Padre Miguel, Portela e Imperatriz Leopoldinense. Tendo como quesitos a serem julgados bateria, samba de enredo, exibição de Mestre-sala e Portabandeira, harmonia, fantasia, comissão de frente, evolução, enredo, alegoria ou adereços, era a primeira vez, na história dos desfiles, que seriam convocados três julgadores por quesito, com a obrigação de darem notas de 1 a 5. Infelizmente, o não comparecimento de um julgador responsável pela avaliação dos quesitos Harmonia, Enredo e Fantasia fez com que esses quesitos chegassem ao valor máximo de 10 pontos. O INÍCIO DE TUDO Dr. Hiram Araújo, um dos mais respeitados pesquisadores de carnaval da atualidade, lembra que, “em 1975, ano em que Natal da Portela faleceu, fomos convidados – eu, o Amaury Jório e o Mazinho, filho do Natal – pelo
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Anizio e pelo Nelsinho a participar de uma reunião onde gostariam de apresentar o interesse da Beija-Flor de Nilópolis em prestar, no desfile de 1976, uma homenagem ao Natal da Portela, contando a história do Jogo do Bicho, um dos mais populares jogos do país. Marcamos um almoço em São Cristóvão, onde nos reunimos, e, num papo bastante agradável, ouvimos a idéia do Anízio e do Nelsinho. Eles queriam saber se nós tínhamos alguma objeção a essa idéia. Todos achamos ótima a idéia e concordamos em dar apoio a ela. Na época, eu era diretor cultural da Portela, o Amaury, presidente da Associação das Escolas de Samba, e o Mazinho, além de filho do Natal e integrante da Portela, uma pessoa muito respeitada no mundo do carnaval. Considero aquele nosso encontro o primeiro passo que a Beija-Flor de Nilópolis deu para a conquista desse inesquecível título.” A partir daí, é o Anizio quem lembra como as coisas foram acontecendo: “Estávamos decididos a fazer um desfile para brigar pelo título. Para isso, resolvemos juntar os melhores na época, entre eles o João Jorge Trinta, o Laíla e o Viriato Ferreira. Eu e o Nelson apresentamos a eles o nosso interesse de fazer um carnaval homenageando o Natal da Portela. A partir daí, o www.beija-flor.com.br
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VENCENDO DESAFIOS Mas o futuro reservava algumas surpresas a essa escola que tinha a presunção de “bater” nas principais escolas da cidade. A primeira delas foi o desaparecimento do escultor Bira, contratado pela escola para esculpir os bichos dos carros alegóricos em blocos de isopor e que sumiu, depois de receber o seu pagamento. Essa ausência só não foi fatal para a boa produção da escola porque parte do serviço havia sido entregue ao Julinho Matos, que deu conta do que era preciso ser feito. Mas os desafios não paravam. Como o barracão da escola era em Nilópolis, atravessar ambos os municípios com os carros alegóricos não era uma decisão segura, e a diretoria resolveu montar um posto avançado do barracão aqui na cidade do Rio de Janeiro, próximo à Avenida onde desfilariam, para a conclusão das alegorias. Esse barracão, no entanto, instalado na Rua Joaquim Palhares, foi invadido por uma outra agremiação, antes que a Beija-Flor de Nilópolis pudesse nele se instalar. “Quando chegamos lá (no barracão da Joaquim Palhares), já tinham colocado tudo deles. Foi um desespero. Felizmente conseguimos um espaço vizinho, onde continuamos a desenvolver nosso trabalho”, revela João Jorge. Dando andamento ao seu trabalho, a Beija-Flor de Nilópolis enfrentou mais uma surpresa, que demonstrou, definitivamente, que a escola estava credenciada a fazer parte do grupo das escolas vencedoras: apesar de estar produzindo um carnaval dentro dos padrões estabelecidos pelo regulamento da Riotur, ela foi surpreendida, no momento de tirar seus carros alegóricos, por uma inusitada situação: o portão de saída do barracão, de apenas três metros, não tinha altura suficiente para que os alegóricos da escola passassem. Depois de muita confusão e tensão, uma equipe de pedreiros derrubou 15 metros de parede lateral do barracão e, com o caminho limpo, os carros da escola iniciaram sua saga para a Avenida.
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João começou a desenvolver o enredo e o conceito do desfile, enquanto o Viriato desenvolvia o figurino da escola. Além disso, havíamos trazido, há poucos meses, o Neguinho, que, além de puxar o samba na avenida foi o compositor do samba enredo campeão.”
NOVOS DESAFIOS Mas, segundo seu Ary Rodrigues, diretor do Conselho Deliberativo da Beija-Flor de Nilópolis e uma das pessoas mais queridas da agremiação, os desafios não fevereiro 2006
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se limitavam apenas à fase de preparação do carnaval.: “Talvez as pessoas da época não se lembrem, e certamente os jovens não sabem disso, mas vencer as quatro maiores escolas da época – Salgueiro, Mangueira, Portela e Império Serrano – não era fácil. Elas eram quase que imbatíveis. Eram as maiorais. Era muito difícil desbancar essas quatro escolas. Basta analisar os resultados dos carnavais anteriores: entre os anos de 1939 e 1975, os títulos sempre foram conquistados por uma dessas quatro agremiações.” Além de ter que furar esse bloqueio, a Beija-Flor de Nilópolis estava disputando o título em um carnaval no qual o Salgueiro lutava para conquistar o tricampeonato. Se conseguisse o título, o Salgueiro seria a mais recente tricampeã do carnaval carioca, título só conquistado pela Portela 17 anos antes, em 1959. Sobre esse assunto, Farid Abrão, presidente da BeijaFlor de Nilópolis, lembra bem: “Existia uma tensão muito grande envolvendo o desfile. Vínhamos de duas sétimas
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colocações e, para piorar as coisas, a Beija-Flor desfilaria logo após o Salgueiro, que, na ocasião, lutava pela conquista do tricampeonato. O desfile foi acontecendo e, para nosso desespero, o Salgueiro entrou na Avenida e fez um belo desfile, digno de campeão. Nossas chances pareciam estar diminuindo, mas o que parecia uma razão de desânimo dos componentes se tornou, na verdade, mais um grande estímulo: desfilamos com muita garra e alegria, e contagiamos o público.” UM DESFILE INESQUECÍVEL Única escola de samba a não ser da cidade do Rio de Janeiro, o GRES Beija-Flor de Nilópolis entrou na Avenida aproximadamente às 5h da manhã, com 2.500 componentes, e, apresentando um surpreendente desfile, fez a arquibancada vibrar e gritar: “É campeã! É campeã!”. Com o enredo “Sonhar com Rei, dá Leão”, a BeijaFlor de Nilópolis desenvolveu seu enredo passando pelo Rio antigo, na época do Barão de Drumond, que, amante dos animais, foi dono de um zoológico particular que, futuramente, inspirou o Jogo do Bicho, falou dos sonhos que giram em torno do povo que joga no bicho, e, com arte e beleza, decorou os 25 bichos do Jogo do Bicho em diversas alegorias, prestando, por fim, uma homenagem ao Natal da Portela – Natalino José do Nascimento. Todos os que tiveram o privilégio de ir à Avenida para ver o carnaval de 1976 viram surgir uma grande escola com um grande desfile, que apresentou uma Comissão de Frente sem precedentes na história do carnaval, formada por 14 sambistas com mais de dois metros de altura. Além disso, com um desfile considerado leve, suave e forte pelos especialistas, a escola brindou o público com a presença irreverente da cantora Maria Alcina, representando o veado real, e com a arte e a reverência do casal de Mestre-sala e Portabandeira, Zequina e Juju Maravilha. Fazendo um desfile empolgante, e tratando de um assunto conhecido de todos os que estavam na arquibancada, o desfile da Beija-Flor conquistou o público, tendo sido um dos carros que mais fizeram sucesso o que veio com o casal de negros adormecidos em uma cama sobre folhas prateadas de 200, 1.000 réis, rodeados por animais, representando o aspecto onírico do Jogo do Bicho. Naquele dia, a Beija-Flor fala coisas do povo para o povo. E era um momento de muita mágica. www.beija-flor.com.br
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UMA VITÓRIA DE TODOS Existia uma torcida muito grande de todos de Nilópolis e da baixada fluminense pela vitória da azul e branco de Nilópolis. Mas todos sabiam que era uma coisa muito difícil, quase que impossível. Mesmo assim, um dia antes da apuração, os integrantes da agremiação já estavam preparando na quadra a “Festa da Zebra”. Enquanto estocava as caixas de cerveja
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Mas, além do ambiente mágico que foi criado, a escola não descuidou do seu dever de casa, o que lhe permitiu não só a conquista do título como a criação de um marco na história do carnaval. Segundo Laíla, “Fizemos realmente um grande desfile. Ele foi todo bonito: seja na unidade da escola, seja como se conduziram a bateria, a evolução, a harmonia... Estávamos perfeitos. E esse desfile foi o grande salto para a Beija-Flor e para o carnaval. Foi quando João mudou os critérios todos de alegoria, utilizando alegorias mais volumosas, pomposas, tirando os destaques do chão e colocando-os sobre os carros alegóricos... Valorizando o samba no pé da comunidade.” Aquele dia era o dia da Beija-Flor. Era o dia de David vencer o Golias. Era o dia do povo sofrido (mas sonhador) da baixada mostrar ao mundo do que ele era feito: raça, criação e amor. E foi o que realmente aconteceu: quando a Beija-Flor de Nilópolis passou pela avenida, o público não se conteve e, aplaudindo fortemente o que via, gritava: “Já ganhou! Já ganhou! É campeã! É campeã!”.
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LEMBRANÇAS DO SEU ARY ... ARY... MENSAGEM P ARA O MUNDO PARA “Me lembro que as grandes escolas da época nos chamavam de "escolinha do interior". Mas agora elas lembram que a "escolinha do interior" foi capaz de furar o bloqueio e se sagrar campeã, bicampeã e tricampeã do carnaval carioca. E duas vezes. Agora partimos para o tetra.” (Ary Rodrigues). (RDF)
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na quadra, Negão da Cuíca, um dos fundadores da Beija-Flor de Nilópolis, comentava: “Nós subimos em 1973 com o enredo “Educação para o desenvolvimento”. Nos dois anos seguintes conseguimos honrosos sétimos lugares. Mas este ano não vai dar outra: vamos ficar entre os três primeiros colocados. Se eles derem o quarto lugar, é injustiça.” No entanto, quando o resultado saiu, a vitória da Beija-Flor foi bem recebida por todos. Segundo matéria publicada no jornal O Globo de 6 de fevereiro de 1976, João Barbosa, um dos destaques da Estação Primeira de Mangueira, declarou que “A Beija-Flor surpreendeu. Veio bonita, organizada. Temos que reconhecer seu valor.” O jornal publicou, ainda, dois interessantes depoimentos que consolidam a força do povo da baixada: “É a Beija-Flor e está decidido. Vocês agora, quando quiserem ouvir um samba, vão ter é que tomar um trem até Nilópolis. É isso aí. Acabou o tabu, o tabu mixou.” (Nelson Barros, morador de Nilópolis e “fanático” pela Beija-Flor de Nilópolis.) “Minha grande alegria com esse resultado é que, a partir de agora, samba não é mais privilégio da Vila, nem de Madureira. O samba é de todo o estado do Rio, principalmente da baixada fluminense.” (Roberto Silva, Portelense e morador de Madureira).
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grandes responsáveis pela vitória em 1976. Era um homem de bastidores. Mas infelizmente ele não teve a sua importância reconhecida aqui na Beija-Flor de Nilópolis. O João Trinta o ofuscava, não o deixava aparecer. Ele, então, foi falar com o Nelsinho, que o liberou para ir para a Portela. Para nós, foi uma perda. Ele, além de bom figurinista, era uma pessoa de bom coração.” A revista, de maneira singela, presta uma justa homenagem a esse integrante da família Beija-Flor de Nilópolis, que agora deve estar sentado em algum lugar fora do planeta, fazendo um novo figurino para os anjos acompanharem a Beija-Flor de Nilópolis na busca do tetracampeonato.
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Quem está acostumado a acreditar em tudo que lê nos jornais, uma novidade: apesar do que a imprensa insistia em destacar, o título da Beija-Flor de Nilópolis não foi ganho por uma pessoa só. Com uma competente equipe montada a partir da iniciativa de Anízio Abrão David, que inclui Laíla e Neguinho, entre outros, o grande nome da vitória, junto com o de João, foi o do figurinista Viriato Ferreira, responsável pelo figurino e montagem das fantasias. Ele foi uma figura primordial no desfile da escola, colaborando muito com o título da Beija-Flor de Nilópolis. Segundo Ary Rodrigues, “O Viriatro Ferreira foi um dos maiores figurinistas que conheci. Sem dúvida nenhuma, um dos
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Sonhar com Rei dá Leão
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autor e intérprete: Neguinho da Beija-Flor Sonhar com anjo é borboleta, Sem contemplação, Sonhar com rei dá leão, Mas nesta festa de real valor, Não erre, não, O palpite certo é Beija-Flor (Beija-Flor) Cantando e lembrando em cores, Meu Rio querido, dos jogos de flores, Quando o Barão de Drummond criou, Um jardim repleto de animais, Então lançou, Um sorteio popular, E para ganhar, Vinte mil réis com dez tostões, O povo começou a imaginar... Buscando, No belo reino dos sonhos, Inspiração para um dia acertar Sonhar com filharada, É o coelhinho... Com gente teimosa, Na cabeça dá burrinho, E com rapaz Todo enfeitado, O resultado, pessoal, É pavão ou é veado E assim Desta brincadeira Quem tomou em Madureira Foi Natal, o bom Natal Transformando sua escola Em tradição do carnaval Sua alma hoje é águia branca Envolta no azul de um véu Saudado pela majestade o samba E sua brejeira corte Que lhe vê no céu
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A Beija-Flor conquistou com méritos o direito de ser a principal Escola de Samba do Rio de Janeiro. Não é novidade alguma afirmar que o segredo de tanto sucesso está na forte relação mantida junto à comunidade de Nilópolis e da baixada fluminense. A grandeza da BeijaFlor, no entanto, vai além. Ela recebe de braços abertos os que estão dispostos a amá-la. E geralmente o que acontece é uma empatia imediata e recíproca dos que chegam e não querem mais sair.
Tem gente que vem de longe, como o ex-jogador de futebol Cláudio Adão, atacante de carreira vitoriosa com passagens por grandes clubes do Brasil e do exterior. Ele nasceu em Volta Redonda, no dia 2 de julho de 1955, mas considera-se um filho da Beija-Flor, pois freqüenta a Escola há mais de 25 anos, quando participou da fundação da ala “Amigos do Rei”. Isso bem antes do casamento com a cineasta Paula Barreto e do nascimento de seus filhos, Camila e Felipe. É amor antigo. Aos 12 anos Cláudio Adão deixou sua Volta Redonda natal e foi tentar a sorte no futebol paulista, aproveitando o período de férias escolares. Conseguiu vaga na Portuguesa, e estava por lá quando chamou a atenção de Pepe, lendário atacante do Santos. “Ele me levou para a Vila Belmiro, clube do Pelé, e minha carreira começou assim”, complementa Adão. Isso lá pelos idos de 1966, quando o Brasil ainda sonhava com o tricampeonato mundial. Em 1976, Cláudio Adão vestiu a camisa do Flamengo, e daí em diante a carreira do jogador decolou. Fez seu nome romper as barreiras do país com a fama do tricampeonato rubro-negro (1977-78-79). Ganhou sete vezes a Taça Guanabara, na época em que o Flamengo começava a desenhar um período de muito sucesso. Cláudio Adão defendeu as cores do Fluminense, Botafogo e Vasco, clubes nos quais sempre deixou sua marca e, principalmente, muitas amizades. Depois seguiu para o exterior, atuou no Paris Saint-Germain, na França, e no futebol português, defendendo o Benfica. Em seguida, para fechar a carreira com chave de ouro – literalmente -, foi para a Arábia.
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PARA O SAMBA Em 1976, quando já atuava pelo Flamengo, Cláudio Adão teve o primeiro contato com o mundo do samba. Sempre se interessou, é verdade, mas jamais havia freqüentado um ensaio de uma grande escola. Foi assim que, levado por amigos, conheceu a Vila Isabel, de Martinho da Vila. Encantado, conheceu o sambista, surgindo do encontro uma forte amizade. Martinho o levou pela primeira vez à Avenida, e Cláudio Adão nunca mais conseguiu deixar essa nova paixão de lado. O samba estava nas veias, assim como o futebol. Foi campeão pela Escola, na época do belo enredo Quizomba, e lembra isso com orgulho, embora não tenha permanecido ali por muito tempo. Na verdade, sua amizade com Martinho – “vascaíno doente” - era o que o mantinha na Vila Isabel. Pouco tempo depois, já familiarizado com o ambiente do samba, Cláudio Adão teve a iniciativa de formar com alguns amigos uma ala. Em parceria com Zico, criou na Estácio de Sá uma ala só com jogadores de futebol, e ficou lá durante 15 anos. “Mas isso durou apenas até que eu conhecesse o Anízio Abrão e a Beija-Flor”, garante o ex-jogador. Cláudio Adão conta que foi convidado a visitar a Escola de Samba de Nilópolis, e aceitou de primeira. Ele achava que já havia presenciado tudo em termos de agremiação, mas se surpreendeu com o que viu. “A alegria daquela gente é contagiante, e o clima que existe por lá é fantástico. Algo que eu nunca tinha visto antes”, garante. Como resultado, estão aí 25 anos de uma amizade com um toque a mais. Algo que o ex-atacante qualifica como amor. www.beija-flor.com.br
Minha paixão é Beija-Flor
CLAUDIO ADÃO Dos Gramados para a Avenida colecionando títulos “Você pode crer que não sou o único. Quem chega à Beija-Flor não quer mais sair de lá. Prova disso é que minha mulher e meus filhos também entraram nessa onda”, acrescenta. Os laços se tornaram tão fortes que, desde 1979, quando entrou pela primeira vez na quadra da Beija-Flor, Cláudio Adão vive uma forte amizade com a família Abrão David. Estivemos todos juntos, assistindo à Copa do Mundo na França, em 1998. “Conheço bem o Anízio, e o admiro muito. É um empresário competente, de grande visão. Se nossos políticos fossem como ele, pode ter certeza de que a vida seria bem melhor por aqui”, diz. Os motivos de tal admiração estão naquilo que Cláudio Adão presenciou de perto em suas visitas à comunidade de Nilópolis e nos contatos diretos com os nilopolitanos, durante os inúmeros ensaios na quadra da Escola. Ele entendeu a importância da participação da comunidade no sucesso que a Beija-Flor sustenta hoje. Cláudio Adão agora entende porque “samba tem de ter raiz”. Crítico, ele reclama daqueles que “aparecem na televisão e saem como destaque com fantasias caríssimas. Só que, no pé, não sabem nada”. Expondo suas veias de atacante, o exjogador aposta alto: “Quer saber? Acho que vai ser ruim alguém tirar o tetra da Beija-Flor”. Mas ele ressalta que sua afirmação tem fundamento. Ao mesmo tempo em que exalta a participação da comunidade na Escola, Cláudio Adão lembra a atuação de profissionais sérios, que obviamente têm grande parcela de contribuição no sucesso da Beija-Flor. “Gislaine, Laíla... todos são muito sérios e responsáveis.
Para mim, é um grande orgulho fazer parte dessa família”, argumenta. AMIGOS DO REI Ele lamenta não dispor de mais tempo para desfrutar do calor humano que encontrou na quadra da Beija-Flor. Sempre que pode, procura “dar uma escapada” para fazer uma visitinha, mas garante que nunca esquece da Escola que adotou de coração. A história de Cláudio Adão na Beija-Flor é a mesma da ala em que desfila, a “Amigos do Rei”. “Tudo aconteceu durante um dos encontros com o Anízio, quando ainda iniciávamos nossa amizade. Ele me disse que eu desfilaria pela Escola numa ala muito especial, que seria ainda criada. Quando fiquei sabendo do que se tratava, fiquei muito orgulhoso”, diz. Não é qualquer um que desfila numa ala chamada “Amigos do Rei”, e Cláudio Adão sabe disso. Porém, faz sempre questão de frisar que esse é um motivo a mais para estar na Beija-Flor, e destaca que o que o prende mesmo é um sentimento de adoção recíproco. Então, a história fica mais ou menos assim: o craque adotou a Escola e a Escola adotou o craque. “Ali me sinto em casa. Sou Beija-Flor de coração. Além disso, o Anízio é como se fosse um pai para mim. A gente brinca com o nome da ala, pois somos os ‘Amigos do Rei’, mas é importante dizer que admiro muito o Anízio, não só pelas coisas que ele faz pela comunidade de Nilópolis, mas pelo ser humano que é. A Beija-Flor é uma grande família, e só quem a freqüenta é que sabe disso. Não é exagero, é verdade”, discursa Cláudio Adão. (MLS) versão em inglês: www .beija-flor .com.br www.beija-flor .beija-flor.com.br fevereiro 2006
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A PRESENÇA DO NEGRO NA MÚSICA E NO CARNAVAL DO RIO DE JANEIRO Marília Trindade Barboza Os escravos africanos trouxeram para o Brasil, ainda no século XVI, as suas danças, aqui englobadas na designação geral de batuque, que Edison Carneiro, com o apoio de outros grandes antropólogos, preferia chamar de "samba". "Samba" significa "agradar, encantar, orar, rezar", em quimbundo, além de "honrar, reverenciar", em quicongo, línguas dos povos bantos, também chamados angola-conguenses. A coreografia do batuque, como descrita pelos viajantes portugueses que o viram no Congo e em Angola, era igual à que os estudiosos brasileiros viram depois ser praticada aqui no Brasil pelos negros e pelos mestiços. Nelas havia um elemento fundamental: a umbigada. O samba era até chamado de "samba de umbigada".
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Em breve essas danças fundiram-se com as danças européias de par enlaçado e braços levantados, com acompanhamento de viola de arame e até de castanholas, dando nascimento, em meados do século XVIII, ao "lundu". O lundu ganhou texto literário e tornou-se, além de dança, o denominado lundu-canção que, saído da senzala, invadiu primeiro os salões coloniais, depois os aristocráticos salões imperiais e até a corte portuguesa, pelas mãos do mulato Domingos Caldas Barbosa. Ao lado do lundu mestiço, continuava sobrevivendo o batuque africano, em formas afro-brasileiras espalhadas pelo país inteiro, com as marcas características do acompanhamento exclusivamente de percussão e a umbigada. E, metáfora da diáspora africana, continuava evoluindo www.beija-flor.com.br
como "carimbó", no Pará, "coco" no Nordeste, "jongo" (sacro ou profano) no Sudeste, e até mesmo nas formas do "fandango" do Sul. No Rio de Janeiro, a dança ainda quase puramente africana do batuque, chamada de "samba" pelos escravos e seus descendentes, continuava a ser praticada nas senzalas das fazendas e, depois da abolição, nas favelas em que elas se transformavam. Por volta do fim da segunda década do século XX, o movimento das "escolas de samba" libertou o batuque dos guetos onde ele vivia, sob a designação de samba. Com o aprimoramento do texto literário, esse samba foi transformado na música urbana de lazer da sociedade global. O disco, o rádio, o teatro e o cinema transformaram a antiga dança africana, como ocorre com tudo o que cai no gosto das elites, em patrimônio das classes dominantes, de modo a chegar a ser um verdadeiro índice emblemático da identidade e da cidadania brasileiras. Samba passou a ser sinônimo de Brasil, uma visão musical, lúdica e sociológica que, desde então, tem acompanhado toda a nossa trajetória existencial. Com esse "status" o samba continuou evoluindo, já agora integrado como símbolo nacional. Virou sambacanção, samba-choro, samba de breque, sambaexaltação, bossa-nova, todos com acompanhamento de instrumentos de origem européia (não apenas somente percussivo) e coreografia de salão. Entre os afro-descendentes, entretanto, a evolução foi mais lenta. O samba versado, o samba de terreiro, a batucada, o partido alto, o samba-enredo e o pagode, todos com riquíssima coreografia, continuaram, praticamente, à base só da percussão, com mínimas concessões às orquestrações melódico-harmônicas (violão e cavaquinho) e, na medida do possível, conservando, na dança, a umbigada ancestral. O NEGRO NO CARNAVAL CARIOCA O samba carioca foi uma das grandes contribuições dos negros bantos à cultura brasileira, ao lado da capoeira e do extenso vocabulário banto absorvido pelos falares nacionais. A abolição e a decadência da cultura do café no Vale do Paraíba jogaram no Rio de Janeiro levas numerosas de negros bantos, que aqui encontraram os nagôs baianos, negros urbanos de classe média que dominavam a Praça Onze e anos antes haviam organizado os ranchos carnavalescos. Os bantos recém-libertos eram negros sem qualquer conhecimento do modo de vida nas cidades, onde chegavam apenas com os trapos que lhes cobriam o
corpo. Na capital do país, por desconhecerem os hábitos e a religião do grupo nagô, que dominava a chamada “Pequena África”, muitas vezes eram hostilizados pelos próprios irmãos de cor, mas portadores de cultura tão diferente. Eram também perseguidos pela polícia e discriminados pela Igreja, instituições costumeiramente a serviço das elites. Não chegavam sequer a constituir um “lumpemproletariado”. Amontoavam-se como podiam nos subúrbios cada vez mais longínquos ou nos morros mais próximos dos locais de possível trabalho, formando as chamadas favelas. Vieram por estradas de ferro e, numa época em que a cidade destruía os casarões imperiais do centro, no famoso bota-abaixo, localizaram-se nos subúrbios próximos ao local de chegada, sobretudo nas imediações de Madureira e Dona Clara. Trouxeram dos terreiros das fazendas de café os elementos da cultura afrobrasileira menos afetados pela sociedade branca, o seu “jongo” (forma de lazer com o ritmo do velho batuque ou samba) e a sua religião rural, cuja música ritual tinha o mesmo ritmo do jongo: a “macumba” carioca. Nas condições a que foi submetida numa grande metrópole, a religião rural dos terreiros das fazendas fatalmente começou a se transformar. A macumba carioca foi o último estágio desse processo de desagregação. Por volta do início dos anos 30 do século XX, a deterioração atingiu a fase terminal, dando lugar ao surgimento de uma nova religião, a umbanda, e a um novo gênero de música popular, o samba das escolas de samba, que nada mais era do que a música ritual da macumba, com o mesmo ritmo, o mesmo grupo de instrumentos de acompanhamentos e até a mesma coreografia. Absolutamente todos os velhos patriarcas do samba, da Mangueira, da Portela, do Prazer da Serrinha, da Unidos da Tijuca e das outras escolas pioneiras, foram unânimes em afirmar: “Samba e macumba era tudo a mesma coisa!” Na Mangueira, em fins dos anos 20, cantava-se: “Fui a um samba Na casa da Tia Fé, De samba virou macumba, De macumba, candomblé.” Absolutamente todos os patriarcas do samba eram ligados à macumba: pais de santo, cambonos, tocadores de agogôs, de cuícas, de todos os instrumentos de percussão saídos diretamente dos terreiros de macumba para os terreiros das escolas de samba. Esse era o samba “com a nova significação”, de que fevereiro 2006
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falou Arthur Ramos. O ritmo, desconhecido até então pelas classes dominantes, desorientou o novo público a que estava sendo apresentado. Alguns representantes desse novo público, que por qualquer razão haviam visto na zona rural exibições de jongo, relacionavam-no imediatamente ao samba das macumbas. Carlos Moreira de Castro, o famoso Carlos Cachaça, no livro “Fala Mangueira”, do qual é co-autor, afirmou que o samba foi introduzido em Mangueira por Elói Antero Dias, o lendário Mano Elói (1888-1971), no princípio da Primeira Guerra Mundial. “Elói” morava na famosa estação de Dona Clara, reduto dos maiores valentes, macumbeiros e batuqueiros. Trabalhava no cais do porto. Era pai de santo respeitado. Nos terreiros, quando terminava a festa do santo, entrava o samba. A música que predominava em todos os lugares era de autoria do Elói e foi por muito tempo a coqueluche de vários carnavais e festejos da Penha. Dizia assim: “O padre diz miserê, miserê nobis, miserê / O padre diz miserê, miserê nobis, miserê” Até o final dos anos 20, a sociedade carioca só se interessava, no carnaval, pelas Grandes Sociedades e pelos ranchos, cujo desfile se dava em frente ao edifício do Jornal do Brasil, patrocinador do evento e organizador do júri. Os quesitos de julgamento dos ranchos eram conjunto, harmonia e enredo. As Grandes Sociedades eram testadas em indumentária, concepção, escultura, cenografia, crítica, maquinaria e iluminação. Promovido por Zé Espinguela, pai de santo e fundador da Estação Primeira, o primeiro concurso de samba aconteceu em 20 de janeiro de 1929, no bairro de Dona Clara. Participaram os conjuntos de samba organizados no Estácio,
na Portela e na Mangueira. A partir de 1930, começam a aparecer regularmente notícias sobre desfiles de escolas de samba, registrando-se, inclusive, algumas descidas das mesmas, de trem, do subúrbio até a Praça Onze. A armação das escolas era simples. Ernani Rosário e Oscar Bigode, da Portela, recordaram que, dos dois lados da escola, saíam baianas de fila, cuja função era manter a harmonia da escola e controlar a corda que isolava o conjunto, preservando-lhe a unidade. “As baianas, no carnaval carioca ou no carnaval brasileiro, sempre foram uma tradição, que parece remontar ao tempo dos vice-reis. O que acontece é que elas apareceram primeiramente à testa das procissões mais ricas. O tom naturalmente pagão desses ranchos é que contribuiu para que deixassem de figurar nas festas religiosas para se integrarem aos festejos carnavalescos”. Conseqüentemente, prosseguia a amálgama da nossa negritude, com resultados de toda ordem, fundamentais para a formação da nossa cultura cada vez mais miscigenada. O primeiro elemento a se apresentar era o “PedePassagem”, uma tabuleta na qual vinha gravado o símbolo e o nome da escola. Logo atrás vinha a comissão de frente, naquela época também chamada de linha de frente. Em seguida, a porta-bandeira e o mestre-sala. Atrás deles, o primeiro puxador de
Leal representante da raça negra, a mineira Pinah comemora mais um campeonato da azul e branco. Fiel à agremiação há quase 30 anos, Pinah ficou internacionalmente conhecida por ter encantado o Príncipe Charles, com o qual sambou durante uma apresentação da agremiação no Palácio da Cidade, no Rio de Janeiro.
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samba e o primeiro versador, seguidos pelo caramanchão, uma espécie de pálio, igual ao das procissões religiosas, sob o qual desfilava a alta direção da escola. Seguia-se o segundo par de porta-bandeira e mestre-sala. Depois, o segundo versador e o segundo puxador. No final, a bateria, precedida pelo respectivo diretor. A bateria não vinha obrigatoriamente fantasiada. Em torno do caramanchão, limitadas pelas filas de baianas, evoluíam as fantasias. O primeiro concurso de escolas de samba aconteceu no ano de 1932, quando o jornal Mundo Sportivo, patrocinador do evento, fez construir um coreto em frente à Escola Benjamin Constant, na Praça Onze, e ali instalou a comissão julgadora, formada por Orestes Barbosa, Raimundo Magalhães Júnior, Eugênia e Álvaro Moreira, José Lira, Fernando Costa e J. Reis. Dezenove escolas compareceram ao local do desfile, mas apenas cinco receberam prêmios, na seguinte ordem: 1º 1ugar - Mangueira 2º lugar – Portela (empatada com a Estácio) 3º lugar - Para o Ano Sai Melhor 4º lugar - Unidos da Tijuca Apesar das restrições elitistas ainda feitas ao tipo de carnaval que se fazia na Praça Onze, alguns órgãos de imprensa começavam a levantar a voz em favor do autêntico carnaval popular. No ano de 1933, com o apoio do prefeito Pedro Ernesto, que chegou a liberar pequena ajuda em dinheiro para as escolas de samba, o desfile destas passou a fazer parte do Programa Oficial do carnaval, elaborado pela Prefeitura do Distrito Federal e pelo Touring Club. O desfile ganhou estrutura interna e foi patrocinado por um jornal grande, O Globo. O certame foi regido por um regulamento, elaborado pelo patrocinador. Já nesse ano ficou estabelecida a proibição dos instrumentos de sopro e a obrigatoriedade da ala de baianas, elementos a partir de então caracterizadores das escolas de samba. Participaram 25 escolas inscritas oficialmente. Mais dez desfilaram sem concorrer. Em 1934 não houve desfile, por causa de fortes chuvas que assolaram a cidade. E, em 1935, o próprio Pedro Ernesto tornou o carnaval das escolas de samba oficial, com direito a subvenção e dia e hora certos para desfilar, equiparando-se, em direito, aos ranchos às Grandes Sociedades.
De lá para cá, as escolas só cresceram; “engoliram” os ranchos e as Grandes Sociedades, que acabaram desaparecendo. Para facilitar este estudo, dividimos sua evolução em cinco fases, a saber: 1. Fase Heróica (de 1930 a 1934) - Predominam os afro-descendentes, que buscam maior visibilidade e inclusão social através do grupo organizado, mas ainda são poucos componentes, sofrem perseguição policial e possuem a estrutura totalmente copiada dos Ranchos, mas com visual muito pobre. Possuem enredo, mas ainda não têm samba-enredo: o samba tem uma estrofe fixa e “versos” improvisados, acompanhados apenas por percussão idêntica à dos terreiros de macumba. Nessa fase foi criada a União das Escolas de Samba (U.E.S.); 2. Fase Autêntica (de 1935 a 1953) - Continua a maioria de afro-descendentes, mas a oficialização, em 1935, começa a trazer a descaracterização do modelo inicial, pois o regulamento determina substituir os versos de improviso por versos já feitos, para facilitar o julgamento. De qualquer forma, há a fixação da nova modalidade de desfile, com base nas raízes africanas e visual ingênuo, espontâneo, pura arte popular. O número de componentes aumenta, surge e se fixa o samba-enredo e a obrigatoriedade dos enredos nacionais; 3. Fase de Interação (de 1954 a 1970) – A presença de profissionais de artes plásticas e cênicas nos barracões integra o mundo do samba ao mundo social, aproxima os intelectuais dos barracões; mas, simultaneamente, provoca enorme valorização do visual, em detrimento do samba. Os enredos sofisticam-se, o sambaenredo, para descrevê-los, cresce tanto que passa a se chamar “lençol". A presença do carnavalesco, da classe média e o fortalecimento dos patronos provoca a perda de poder dos afro-descendentes, que continuam sendo a grande força apenas nas alas técnicas; 4. Fase da Escola de Samba S.A. (de 1971 a 1983) – As escolas de samba transformam-se em empresas, a partir da introdução do ingresso pago nos ensaios, necessário à construção das sedes e à crescente necessidade de mais recursos para investimento no visual. Instala-se a hegemonia do carnavalesco; é uma fase de enredos “abstratos”. Inicia-se a profissionalização dos técnicos, que já não atuam apenas por amor à escola, mas têm o valor de seus “passes” estabelecido e negociado. A indústria fonográfica investe maciçamente no samba-enredo, ocasionando o fim da “marchinha carnavalesca”. Em contrapartida, o samba-enredo se torna “marchado", pois seu andafevereiro 2006
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mento se acelera, para atender aos problemas da cronometragem do desfile. O passista “perde” literalmente espaço na sua luta com os carros alegóricos gigantescos, e a necessidade da presença de alas ricas e destaques traz cada vez mais a presença da classe média, dos turistas e das celebridades aos desfiles e camarotes. 5. Fase do Sambódromo ou das Grandes Sociedades do Samba (de 1984 até hoje) - A criação da Passarela do Samba e a da LIESA tornam irreversível a transformação do desfile no maior espetáculo da Terra. Para tanto, necessário se fez o desenvolvimento de uma "indústria do carnaval", subgrupo da sempre crescente indústria
cultural, que propicia o aparecimento dos patrocinadores, complementando a subvenção da LIESA e o apoio dos “patronos”, hoje totalmente aceitos socialmente, em decorrência da atuação nas escolas. Cria-se e instala-se o conceito de “Superescolas,” nas quais o gigantismo passa a ser um motivo constante de preocupação dos organizadores. E AGORA? Afinal, a escola de samba é, sem dúvida nenhuma, fruto do talento e da criatividade dos afro-descendentes, que se organizaram através dela e a apresentaram ao Rio, ao Brasil e ao mundo, a partir da década de 30. De lá pra cá, as mudanças estruturais a que foi submetida, buscando adequar-se ao gosto da platéia cada vez mais exigente que hoje freqüenta a Marquês de Sapucaí, faz-nos, mais uma vez, repetir a pergunta
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que não quer calar: ainda existe um papel para o negro nas escolas de samba? No carnaval de 1939, ano em que, segundo os pesquisadores, surge pela primeira vez um samba enredo completamente bem-sucedido, o "Teste ao Samba", na Portela, o negro Paulo Benjamim de Oliveira - o Paulo da Portela, que fundara a escola com Rufino e Caetano em 11 de abril de 1926- foi a autor da idéia do enredo, do samba-enredo, das fantasias, de tudo, enfim, apenas com o auxílio de uma pequena equipe de ajudantes da comunidade, todos negros. Hoje, na era da especialização, isso não seria mais possível. No grupo das grandes escolas, via de regra não há negros presidentes, nem carnavalescos, e mesmo nos altos quadros administrativos sua presença é reduzida. Nos carros ou nas alas que ilustram o enredo, com destaques e fantasias caríssimas, fora do alcance dos membros da comunidade, não há negros, mas gente branca da sociedade e personalidades da mídia impressa e televisiva. Os próprios compositores tradicionais têm sido gradativamente substituídos por compositores de fora da escola, que se adaptam mais facilmente às exigências do público das quadras e do sambódromo (que preferem o ritmo frenético da marcha à cadência tradicional do samba). Mas e as chamadas alas técnicas (harmonia, bateria, baianas, crianças) ou postos técnicos (mestresala e porta-bandeira, passistas, puxadores), aqueles que asseguram a pontuação alta e a vitória ou a derrota no desfile? Esses continuam ocupados pelos baluartes ou por elementos de cuja cultura o samba faz parte, gente que o traz na cultura, na pele e no coração. Esses representam a alma da escola. Resumindo: a escola de samba, microcosmos da sociedade, espelha a mesma pirâmide que, se durante alguns anos se invertia no carnaval, hoje voltou ao formato natural: brancos comandam, negros trabalham. É claro que há exceções que confirmam a regra. A G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis, que nas décadas de 70 e 80 representava a modernidade ameaçadora da tradição, sendo o contraponto da Mangueira, com o tempo firmou posição e é hoje, entre as grandes escolas que compõem o maior espetáculo da Terra, a que mais respeita a presença e os temas da cultura afrobrasileira, sob a batuta do Mestre Laíla. Talvez isso explique o fato de ser ela a tricampeã do carnaval carioca. versão em inglês: www .beija-flor .com.br www.beija-flor .beija-flor.com.br www.beija-flor.com.br
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Toda competição séria é temperada com uma boa dose de discussão, polêmica e atitudes apaixonadas. Cada um puxando a brasa para a sua sardinha, desconsiderando a velha máxima “contra fatos, não há argumentos”. Acostumados a ver a azul e branco fazer bonito, decidimos tentar desvendar o segredo da Beija-Flor de Nilópolis, para melhor entender as razões que fazem dela a mais importante escola de samba da atualidade, com fãs espalhados por todo o mundo e competência reconhecida até pelos seus adversários de avenida. Decidimos começar pelo começo: voltar ao início da produção de cada desfile da agremiação de Nilópolis. Descobrimos que, sob uma ótica particular, não existe uma data que possa ser definida como a do início da produção do carnaval da Beija-Flor de Nilópolis. Aqui, o cotidiano das pessoas que fazem o carnaval deixa isso bem claro: ano após ano, elas devotam o seu dia-a-dia à escola. Isso quer dizer que, mesmo durante a feira, na praia ou no clube, com amigos ou familiares, numa roda de samba ou num pagode, os integrantes da família Beija-Flor estão sintonizados entre si pelo seu amor à escola. Dessa forma, as idéias surgem, as novidades são criadas e os diferenciais são concebidos. É assim no cotidiano dos diretores da agremiação, dos integrantes da comissão de carnaval, da bateria, mestre-sala e porta-bandeira, comissão de frente, puxador, aderecista, eletricista e dos demais integrantes da escola. Nesse momento, identificamos, talvez, uma das primeiras razões de a Beija-Flor de Nilópolis estar sempre fazendo um desfile empolgante e bonito: a ligação
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COMUNIDADE
BEIJA-FLOR DE NILÓPÓLIS: SEGREDOS DA TRICAMPEÃ
afetiva entre a agremiação e seus componentes durante os 365 dias do ano. Mas de onde será que vem esse comprometimento espontâneo? Para o presidente da agremiação, Farid Abrão, “esse comprometimento é resultado de um trabalho muito importante que fazemos, de valorização do componente não só dentro da quadra e da avenida, mas também no contexto social em que ele vive. O aspecto familiar da Beija-Flor de Nilópolis é a grande base da escola. Desde que a minha família, através do Jacó, do Nelson e do Anízio, iniciou esse trabalho de remodelação da Beija-Flor de Nilópolis, temos conquistado o carinho e o respeito daqueles que, assim como nós, amam a BeijaFlor. A raiz da comunidade e da escola sabe o quanto amamos e devotamos nossa vida a essa agremiação. E o carinho com que envolvemos a escola fez com que os seus componentes criassem para si mesmos um compromisso moral de entrega e dedicação. Afinal, quando você dá amor, dignidade e confiança, recebe em troca amor, dignidade e confiança. E esses sentimentos acabam por criar uma devoção recíproca, e com isso ampliamos a nossa noção de família. Todos os integrantes da escola, que têm boas intenções e que trabalham para a Beija-Flor crescer, fazem parte de uma única família. Acredito que esse espírito de união fraternal e de respeito é que fortalece cada um, individualmente, e a escola, como um todo”. A coreógrafa da Comissão de Frente da agremiação, Gislaine Cavalcanti, contribui com o seu ponto de vista: “É indiscutível que a força da Beija-Flor vem da atuação da comunidade na Avenida e fora dela. E, para nós, trabalhar com a comunidade de Nilópolis é mais do que preparar pessoas apaixonadas para o carnaval. No nosso dia-a-dia, acabamos trabalhando o desenvolvimento www.beija-flor.com.br
pessoal deles, e isso é uma tarefa muito gratificante, porque nos dá uma melhor compreensão da nossa importância e da importância deles na construção da nossa história pessoal; afinal de contas, esse desenvolvimento pessoal acaba sendo recíproco. Isso faz com que, realmente, nos sintamos como uma família, criando em nós uma vontade de estar sempre trabalhando pela escola”. Se esse espírito de família é o ambiente que envolve a Beija-Flor, fica mais fácil entender o que significa “a força da comunidade”. Segundo Laíla, o ambiente do carnaval é o de “uma competição muito acirrada, na qual todos vão buscar desenvolver seus enredos a contento, escolhendo os melhores sambas e aproveitando os ensaios do período pré-carnavalesco para fazer um grande desfile. Mas a presença da comunidade é o que
ARTE
alas da comunidade. O diferencial da Beija-Flor deve mesmo estar aí: coração. É bom ressaltar, no entanto, que o status atual da Beija-Flor de Nilópolis não foi conquistado por acaso, e nem é de hoje que se trabalha esse pensamento. Laíla diz que por trás de tudo existe um grande projeto que foi abraçado por Anízio Abrão David. Na verdade, Laíla encontrou na Beija-Flor de Nilópolis pessoas que pensavam como ele, profissionais com as mesmas concepções a respeito de desfile de Escola de Samba. “Isso aqui é um projeto. Não é qualquer escola de samba que faz como a Beija-Flor, até porque o custo é alto e o trabalho é sem limite. O Anízio apoiou essa idéia desde o início. Para mim é uma
CARNAVAL 2005 faz a diferença entre a Beija-Flor de Nilópolis e as outras agremiações. Aqui nos preocupamos em fazer com que a comunidade participe d desfile, o que acaba fortalecendo em muito a Escola. Não adianta ter belas fantasias, belas alegorias e fazer um desfile ruim. Os integrantes colocam o coração na Avenida. Isso tem dado resultado, e temos certeza absoluta de que a cada ano o efeito vai ficando ainda melhor”. Para o leitor ter uma idéia do que significa uma ala de comunidade para a Agremiação, basta saber que, para o carnaval de 2006, a agremiação sairá com 31
coisa programada, que cultivo desde a época do Salgueiro, esse trabalho com a comunidade. Quando cheguei à Beija-Flor, encontrei um ambiente propício. Implantamos o projeto aqui e, com respaldo, chegamos ao que somos hoje”, resume Laíla. Organizar uma escola de samba não é fácil. Há muita diversidade, pessoas diferentes, cada qual com seu pensamento. Às vezes, como diz o próprio Laíla, “é preciso ser durão”. Se está em jogo um título tão importante, um evento de tamanha magnitude, as coisas precisam mesmo andar nos trilhos. Caso confevereiro 2006
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trário, a situação se complica, o que não pode acontecer quando décimos de pontos estão em jogo. “Eu digo que sou o sargentão, pois é preciso ser rigoroso para que as coisas aconteçam. E o que mais me deixa satisfeito é que aos poucos os componentes vão entendendo o que quero deles... e vão entendendo, também, que cada conquista deles nos ensaios na quadra, cada momento em que superam as suas limitações, eles se tornam melhores e mais capazes de conquistar coisas fora da escola, fora do carnaval. E isso é muito gratificante”. Em harmonia com o pensamento de Laíla, Márcio Santos, presidente das alas de comunidade e que trabalha diretamente com os integrantes dessas alas, afirma categórico: “Acompanho dia-a-dia os progressos dos nossos componentes. Vejo o esforço que muitos fazem para cantar o samba afinado, para acertar a coreografia... É visível como nossos componentes têm crescido e se tornado mais afinados com a nossa escola e – por que não? – mais preparados para vencer, tanto na Avenida quanto fora dela. São realmente heróis anônimos, porque, no seu silêncio íntimo, cada um deles vai se superando e corrigindo suas falhas, a fim de oferecer o melhor que possuem à Beija-Flor que tanto amam”. Coração e Disciplina... Mas identificar as causas de tantos títulos e inesquecíveis desfiles é uma tarefa bastante complexa. Afinal, a força da Beija-Flor de Nilópolis está no conjunto e não na unidade – ainda que a soma das unidades é que forme o conjunto.
E, exatamente pela dificuldade de nos referirmos ao todo – uma vez que ele é formado por milhares de pessoas –, é que invariavelmente nos concentramos nas suas partes, ouvindo alguns daqueles que representam esse conjunto. Isso não quer dizer que um componente seja mais importante do que outro, mas que exerce papel distinto na estrutura da agremiação. Para Paulo Botelho, o Mestre Paulinho, as vitórias da Beija-Flor de Nilópolis não devem ser analisadas separadamente do desfile que a premiou. Segundo ele “vencer o desfile é uma conseqüência de quem faz o trabalho mais completo. Só isso. E é por essa razão que sempre batemos na tecla de que a comunidade é a grande responsável pelos grandes desfiles da agremiação. Mas, quando falo em comunidade, me refiro a todos os integrantes de comunidade – estejam eles na Bateria, na Velha Guarda, na ala das Baianas, nas alas teatrais – que ensaiam semanalmente na nossa quadra. Realmente, não há estrelismos. Somos uma grande família com os mesmos objetivos, ainda que com instrumentos e atuações distintas.” E esse espírito de “muitos pais para um mesmo filho” é muito bonito e verdadeiro na Beija-Flor de Nilópolis. Afinal de contas, ninguém atribui somente a si ou à sua ala o mérito das vitórias e nem dos desfiles inesquecíveis. Todos fazem questão de dividir o crédito com as outras alas, com os outros componentes e com a família Abrão David. É como diz a presidente da Velha Guarda, Débora Cruz: “Estou à frente de uma ala que reúne muitos sam-
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CARNAVAL 2003 bistas antigos. E fico muito emocionada quando vejo o público aplaudindo e sambando com a gente, depois de termos passado semanas e meses ensaiando duro para apresentar um bom desfile. E o principal é que nesse momento de euforia nenhum de nós se sente mais importante que o outro. Nos sentimos importantes, sim, porque nessa hora nós somos realmente importantes. Mas não um mais do que o outro”, declara emocionada. Se é evidente a importância da comunidade nos desfiles da Beija-Flor de Nilópolis, um importante aspecto passa despercebido por muitas pessoas: o papel da Comissão de Carnaval dando oportunidade à comunidade de exercer esse papel na avenida. Segundo o Bira, “a Comissão de Carnaval tem tratado os componentes da comunidade de maneira muito correta. Nos mínimos detalhes, a gente procura sempre fazer o melhor que estiver ao nosso alcance, para que eles se motivem e sintam que realmente são importantes para nós e para a escola. Um exemplo disso são as fantasias que desenhamos para as alas de comunidade. Procuramos trazer para eles o que há de mais bonito. Para que eles arrasem na avenida”. Defendendo esse mesmo ponto de vista, Carvalho lembra que “em Agotime, usamos na bateria pena de Faisão branco, uma pena rara e, por isso, muito cara. Durante a fase de preparação do carnaval, conversávamos sobre esse elemento no chapéu da bateria com seu Anizio que disse: ‘Meu Deus, essas penas são muito caras’. Aí, ele pegava o chapéu que tinha a pena e, com os olhos brilhando, dizia: ‘Mas está lindo!’ E você
acha que a Bateria da Beija-Flor de Nilópolis desfilou com pena de quê? De faisão branco, é claro! É esse o espírito da escola. Os dirigentes, e especialmente o seu Anizio, querem dar aos componentes da comunidade o que há de melhor, como daria para um familiar. Aqui as pessoas não se sentem discriminadas...” Esse tratamento especial ao integrante da comunidade acaba agindo diretamente na motivação do indivíduo. Segundo Shangai, “desfilar pela Beija-Flor de Nilópolis já é, por si só, motivo de orgulho. E durante os preparativos, quando o integrante da ala de comunidade chega à escola e vê a fantasia que vai desfilar, uma belíssima fantasia, a despeito de ser uma fantasia doada pela escola, seu grau de motivação cresce ainda mais. Afinal, ele poderia estar esperando que a fantasia doada seria de qualidade inferior. Quando o componente vê que a sua fantasia é tão ou mais bonita que a fantasia de outras escolas, a motivação dele só pode crescer. E no dia do desfile, quando esse cidadão chega à Avenida dignamente fantasiado e vê as alegorias da sua escola feitas com carinho, bonitas, deslumbrantes e bem cuidadas, o nível de motivação triplica, quadruplica. Um componente com esse estado de espírito não vai evoluir mais? Não vai cantar mais? Não vai dar mais de si?” Segundo Laíla, a idéia de Comissão de Carnaval é um sucesso; tem ajudado a escola a manter uma regularidade nos últimos desfiles e levou-a ao título de tricampeã do carnaval carioca. “Tenho certeza de que nos mantemos no caminho certo, basta você ver quantas vezes, nos últimos oito anos, fomos campeões e vicecampeões. Isso é mais forte do que qualquer opinião fevereiro 2006
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que tenham sobre a Comissão de Carnaval. Ela é um sucesso. O que acontece é que a mídia não quer divulgar isso. Ela prefere ter a imagem de um único e grande carnavalesco. Imagine se os resultados que a nossa escola alcançou tivessem sido criados por um único carnavalesco: ele seria chamado por todos de deus. E o mais curioso é que, se você analisar bem o modelo de um carnavalesco, verá que esse modelo já não dá certo há muito tempo. É só você ver há quanto tempo um único carnavalesco não ganha carnaval. É um modelo ultrapassado. Essa é também uma das causas pelas quais a Beija-Flor de Nilópolis está sempre no páreo”. Que a Beija-Flor tem apresentado belos desfiles não há o que discutir. Mas um desfile bonito custa caro, e, para saber como a agremiação gerencia a questão administrativa e financeira, ouvimos o administrador do barracão e vice-presidente financeiro Rogério Suaid, o qual esclareceu que, “para fazer uma escola forte e em condições de disputar ano a ano o título de campeã do carnaval carioca, é preciso que a agremiação se organize para que caminhe de maneira uniforme. Há muito tempo a Beija-Flor vem ganhando títulos ou vice-campeonatos pela força que ela tem, independentemente de algumas dificuldades por que passávamos. Por causa desse amor que todos sentimos pela Beija-Flor, muitas vezes a administração do barracão era feita de maneira amadora, apesar da boa vontade dos administradores que por aqui passaram. Para se ter uma idéia, vivíamos um problema sério de desperdício de material. Imagine que, em um ano, chegou a sobrar 3.000 metros de tecido para a fantasia das baianas. Quando chequei aqui, não cheguei com nenhuma receita milagrosa e nem com a missão de fazer mágica. Simplesmente sou uma pessoa muito organizada e da confiança do Anizio. Ele me deu carta branca para implantar as mudanças que eu considerasse necessárias. Fui enfrentando os problemas um a um, sem pressa de resolvê-los, mas atento para que, quando fossem resolvidos, o fossem de uma vez por todas. Muitas vezes a
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escola, sem reparar, mantém uma estrutura viciada e, para mudar isso, tem que ser feito um trabalho cuidadoso, respeitando suscetibilidades e tentando ferir o mínimo possível o melindre das pessoas. Hoje, só com o que economizamos com o fim do desperdício, pudemos investir mais em outros tecidos, outras fantasias e outros adereços. Para isso, tivemos que fazer algumas modificações internas, inclusive com a mudança da equipe que fazia os levantamentos. Hoje, a equipe que faz esse levantamento e me apóia na administração, em termos gerais, é formada pelo Leandro, Robson e Marquinho, e nós conseguimos chegar no que chamaria de "ponto ideal": o material que recebemos está sendo o suficiente para a produção do carnaval de 2006 e a sobra é mínima, atendendo às necessidades de todas a alas. Não vou dizer que administrar o barracão e a parte financeira da escola é uma tarefa fácil, porque não é. Mas tenho certeza de que estamos ajudando, da nossa maneira, a Beija-Flor de Nilópolis a se manter no topo”, conclui Rogério. Amor e profissionalismo. Sem personalismo. Mas enquanto buscamos desvendar o mistério que faz da Beija-Flor uma escola sempre entre as melhores, ouvindo as pessoas que fazem a agremiação crescer e se destacar, muitas novidades se descortinam à nossa frente. Uma delas nos chama a atenção de maneira especial: a atuação anônima, mas essencial, do Luis Carlos Gomes, o “Pai de santo”. Mas, para falar um pouco do trabalho de Pai de Santo, é preciso que remontemos um pouco à formação religiosa o povo brasileiro. Somos uma nação que convive harmonicamente com as diferenças, a tal ponto que, com o passar do tempo, é comum encontrarmos pessoas que rendem, ao mesmo tempo, culto ao catolicismo, ao umbandismo, ao candomblé e ao espiritismo. Essa miscigenação de crenças é um dos mais atraentes aspectos do povo brasileiro, e um forte instrumento de devoção pessoal. www.beija-flor.com.br
Com Pai de Santo não seria diferente. Sua chegada à Beija-Flor é marcada por essa devoção, que faz com que o homem supere a si mesmo: “Entrei na Beija-Flor através de seu Laíla e do Márcio da Comunidade. Na época, eu estava sem trabalhar; aí fui até a Beija-Flor. O Márcio estava recolhendo pessoas para trabalhar no barracão e eu vim trabalhar com ele. Comecei como ajudante de cozinha. Um dia, procurei seu Laíla e pedi para ele me dar uma oportunidade em uma área fora da cozinha. Foi então que ele me passou para trabalhar com o metal. Com o tempo comecei a cuidar dos santos da casa. E estou até hoje.” Mas o que significa cuidar dos santos? Falar de um assunto que envolve muito respeito e mística não é fácil. No entanto, Pai de Santo nos revela alguns detalhes desse ritual que, certamente, traz muitos resultados positivos para a nação Beija-Flor. “Na quadra da escola em Nilópolis, eu cuido de São Jorge (padroeiro da agremiação) e de Santa Rita. Toda terça-feira eu faço uma limpeza nele: boto as flores, troco a água, limpo o alguidá dele... Enquanto isso, peço por mim, por todos, pelo seu Anízio, que dê muita saúde para ele, pelo diretor de carnaval, seu Laíla. Peço muito por eles. Sei que ele me atende. A gente tem que ter fé naquilo que a gente faz. E eu tenho muita fé no que faço. Além disso, na sala do seu Anízio eu cuido da tia Maria e do Pai Joaquim.” Quem não é devoto de nenhuma religião talvez tenha uma certa dificuldade para entender a importância do trabalho de “pai de santo” na conquista dos títulos e na manutenção da paz e da saúde na escola e entre todos os seus integrantes. Mas quem é religioso e conhece um pouco dos mistérios da espiritualidade, não só compreende a importância do trabalho que esse nilopolitano e Beija-Flor de coração faz, como começa a ver esse homem com um outro olhar: um olhar de muito respeito. Respeito recíproco entre os integrantes: mais um segredo que leva à escola para a vitória. Fizemos um passeio por alguns componentes da escola, no intuito de desvendar esse mistério, que, ao
que parece, nunca será totalmente desvendado. Por tudo que ouvimos e transcrevemos, pelas opiniões que apresentamos e pelas reflexões que cada leitor poderá fazer, fica claro que a força da Beija-Flor de Nilópolis é ela mesma, porque ela é as pessoas que a integram. Mesmo assim, algumas dúvidas quanto à fonte da força dessa escola ainda rondam a nossa mente. Dúvidas que não podem ser esclarecidas com palavras, mas que poderão ser dissipadas após os fogos anunciarem a entrada na avenida do Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis para a conquista de mais um título de campeã. Campeã do Carnaval 2006. (RDF).
LUIS CARLOS ”PAI DE SANTO” fevereiro 2006
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MICAELA OLIVEIRA DAVID
Diz uma lenda antiga que Deus se reuniu com diversos deuses para tomar providências a respeito dos problemas que a humanidade passava e que não eram resolvidos pelos deuses. Diz a lenda que, depois de muitas justificativas e acusações recíprocas, os deuses se dirigiram ao Criador da Vida e disseram não saber como resolver o problema da fome, da miséria, da discórdia, da ambição desmedida, da intriga, da dor e da falta de esperança que assolava a Humanidade. Deus, na sua infinita sabedoria e misericórdia, ouviu atentamente cada um dos reclamantes. Sem alarde, levantou-se do seu Trono e disse aos seus prepostos: “Vocês talvez tenham feito tudo o que acreditaram ser preciso para acabar com o mal na Terra. Infelizmente não conseguiram alcançar o êxito. Amo muito a humanidade, e vou dar mais uma chance a ela. Entregarei a cada um de vocês o único modo de acabar com a dor, o sofrimento e a falta de esperança na Terra. Mas cuidem bem do que lhes estarei entregando.” Dito isso, o Criador caminhou em direção a uma sala reservada e, em alguns instantes, voltou ao salão onde se reunia com os deuses, trazendo doze crianças em seus braços. * A lenda é significativa, se refletirmos sobre a importância da criança na construção de um futuro melhor. Dia após dia, vemos o poder das crianças na vida de seus pais. Transformam homens insensíveis em pais afetuosos. Mulheres fúteis em guerreiras do amor. Homens e mulheres sem esperança em pais dedicados e confiantes.
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É o poder da criança, que transforma vidas. No ano em que a Beija-Flor de Nilópolis consolida o seu título de tricampeã do carnaval carioca e caminha, com força e esperança, em busca do tetracampeonato, queremos homenagear e desejar uma vida com muita luz a uma dessas estrelas em forma de gente que se juntou à família Beija-Flor no ano em que a agremiação conquistou o título de campeã no carnaval de 2003; uma pessoa que, de lá para cá, tem sido o pé-quente da Beija-Flor de Nilópolis: Micaela Oliveira David. Micaela, que tem nome de anjo - São Miguel Arcanjo. Micaela, que trouxe para sua família mais união, mais sensibilidade, mais harmonia e amor. Micaela, que trouxe para a Beija-Flor de Nilópolis mais força e esperança - força e esperança de uma guerreira campeã. Tricampeã. Micaela tricampeã. (RDF)
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ALBENIZA GARCIA PEQUENA GRANDE MULHER
Surpreso com a presença daquela adolescente na antiga redação d´O Globo, quando mulheres eram raras nas redações, o diretor-redator-chefe, dr. Roberto Marinho, indaga: “O que essa garota está fazendo aqui?” E, de imediato, despacha a franzina (mas forte) e pequena (mas corajosa) jornalista para cobrir concursos de misses, fazer coluna social e de culinária. Em pouco tempo, batizada com bombas de gás lacrimogêneo e gozações dos colegas de outros jornais, Albeniza Garcia iniciava uma carreira de destaque na reportagem de polícia. Por conta de outro repórter disponível, Alves Pinheiro destacou Albeniza para cobrir um confronto entre banhistas e policiais. No limiar dos anos 40, o sonho de ser Lois Lanes, parceira de Clark Kent, o Super Homem, gibi preferido de Albeniza, começava a se concretizar. Aqui, o bloco carnavalesco, embrião do GRES Beija-Flor de Nilópolis, ainda não tinha surgido. Aposentada desde 1975, com 57 anos dedicados ao jornalismo, a mais antiga repórter de polícia não pensa em parar de trabalhar, mas a idade fez diminuir a rotina. Sendo assim, acompanhou o primeiro tri da Beija-Flor: “Sonhar com Rei dá Leão” (1976), “Vovó e o Rei da Saturnália na Corte Egípcia” (1977) e “A criação do mundo na tradição Nagô” (1978). Não surpreende essa mulher simples, calma e persistente entrar num barracão de escola de samba para apurar notícias. Albeniza foi produtora de Carnaval da TV Globo. Todas as escolas já prestaram alguma forma de homenagem a Albeniza. Ela foi a Rainha do Carnaval da Imprensa e desfilou em muitos blocos e bandas, como a Banda de Ipanema, Simpatia é Quase Amor, Imprensa mas não bate. O Carnaval e as escolas de samba são um mundo por onde ela circula com a mesma elegância de uma porta bandeira. Fora da redação, Albeniza enriquece seminários sobre jornalismo investigativo. O jornalista, escritor e novelista José Louzeiro, que se inspirou em Albeniza para moldar a personagem de Lídia Brondi em “Corpo Santo” (TV-Manchete, 1987), diz que ela ensinou muitas lições aos repórteres de polícia: “Manteve-se sempre como observadora imparcial, não se deixando influenciar pelas ‘normas do submundo’ e pelas leis da chamada ‘sociedade livre’. Por não procurar entender semelhante postura, muitos coleguinhas ficaram pelo caminho”, enfatiza Louzeiro. Foi a ela
que Roberto Medina – um dos primeiros seqüestrados sem fins políticos – foi entregue, para evitar que se criassem dúvidas sobre a integridade física dele. Ano passado, dois dias antes de completar 79 anos e depois de colecionar numerosos reconhecimentos – acervo de troféus, diplomas e medalhas que, juntamente com suas reportagens e entrevistas, darão origem a um memorial que está sendo organizado pela professora Mary Nyldes dos Santos Coelho –, Albeniza Garcia recebeu, por sua emocionante carreira de riscos e reportagens impactantes, o diploma e medalha de mérito Pedro Ernesto, conferidos pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro, iniciativa do vereador Stephan Nercessian, que declarou: “Sei que nessa missão estou realizando um ato que muitos gostariam de realizar, pois a cidade do Rio de Janeiro, por unanimidade, subscreve esta homenagem”. A cerimônia ocorreu na Associação Brasileira de Imprensa, e a já então tricampeã estava lá pela segunda vez, com sua bateria mirim e o mestre Paulinho Botelho, que lhe entregou uma camisa sobre o enredo das missões; afinal, para o chefe de reportagem d´O Dia, André Freeland, “Albeniza é a repórter das missões impossíveis”. Entre familiares, amigos, colegas e sambistas, ela agradeceu o prêmio, à ABI e aos presentes: “Estou contente. Era uma festa assim mesmo que eu queria” – disse ela, com um belo sorriso. (ML)
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FUTEBOL E SAMBA: PRODUTOS DE EXPORTAÇÃO DE UM PAÍS MISCIGENADO
"Pedala, Robinho..." A frase, ou melhor, o bordão, criado por humoristas para compor um quadro em programa de televisão, chamando a atenção para o ex-jogador do Santos Robinho, apresenta, talvez de forma inconsciente, a moderna união daquilo que todos nós ouvimos, desde sempre, em nossas vidas: o Brasil é o país do samba e do futebol. Não é desejo, aqui, tratar das pequenas questões políticas – ou politiqueiras, como queiram -, nem esquecer ou ignorar que temos petróleo, café, indústria naval e automobilística, nada disso. Mas ninguém pode negar que o futebol e o samba identificam o Brasil em qualquer lugar que se apresente a bandeira verde e amarela. Antônio Candeia Filho, o Candeia da Portela, numa de suas composições escreveu: "A idade não importa, A cor da sua pele não interessa. Se tem perna torta, Se tem perna certa, Para saber se tem samba na veia. Samba veio de longe. Hoje está na cidade, Hoje está na aldeia. Nasceu no passado, Está no presente. Quem samba uma vez, Samba eternamente."
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Na singela poesia, Candeia procurou explicar que o samba conseguiu extrapolar fronteiras, romper preconceitos e, vindo da África, acabou por envolver todo o Brasil – e o mundo. E mais: ao ser incorporado pela nação brasileira, gotejou e mesclou sangue branco europeu, amarelo, índio, sei lá... E agora nasce com a gente. Da mesma forma que o futebol. Temos craques brancos, negros, de olhos puxados... Tanto faz se é baixo ou alto, se tem cabelo liso ou crespo, loiro ou preto – ou mesmo se o raspa. Tanto faz também se é atleta na acepção do termo ou se tem pernas tortas e disformes que aparentemente o impossibilitam de jogar, como um dia falaram de Garrincha, o mago da camisa sete. Não há regra para ser sambista, ou melhor, para se saber sambar. Como não há regra para ser craque e nos campos brilhar. Democracia? Isto, sim, é democracia – seja sambista ou jogador. Não temos preconceito. Queremos arte, queremos talento, queremos beleza e alegria. E se hoje existem jogadores brasileiros brilhando em gramados de todo o mundo, do Japão (até na seleção) ao colonizador Portugal, passando por Azerbaijão, Turquia, Itália, etc – sem falar da Inglaterra, que nos mandou o futebol -, temos também sambistas em todo o planeta, no Japão (onde o carnaval de Asakusa completou 20 anos de desfiles ininterruptos), Portugal, Finlândia e Estados Unidos. Samba e futebol, dois produtos de exportação! O sociólogo francês Emile Vuillermoz já escreveu que nenhum povo alcança seu apogeu sem consagrar sua dança, sua música e seus heróis. Vai além: garante que www.beija-flor.com.br
a dança é um dos primeiros modos de expressão inventados pelo homem. E o samba é, sem dúvida, a dança do Brasil. A consagração do brasileiro. Como o futebol, com seus heróis que surgem de repente e brilham, de quatro em quatro anos, para consagração da expressão "o melhor futebol do mundo". Foi nos gramados que o Brasil deixou de lado o seu "complexo de vira-lata", expressão consagrada pelo escritor e teatrólogo Nelson Rodrigues para explicar a sempre presente tristeza do ser brasileiro diante dos desenvolvidos habitantes do Primeiro Mundo. Complexo que deixou de existir quando da conquista do primeiro título de Campeão do Mundo na Copa de 1958, na Suécia. Ironia... Fora de seu continente (o Brasil é o único país a ganhar Copa do Mundo fora de seus domínios, já o tendo feito nas Américas – Chile, em 1962; México, em 1970; e Estados Unidos, em 1994 -, na Europa – Suécia, em 1958 -, e na Ásia – Coréia/Japão, em 2002), e com um jeito todo malandro, a seleção brasileira consagrou seu ritmo na fria terra sueca, com um futebol digno de nota 10, qualquer que fosse o julgador. Mas, como se disse, o futebol veio da Inglaterra. No tropical Brasil ganhou o gingado que incorporou ao esporte a expressão "arte". Sem exagero, pode-se dizer que ganhou ritmo, beleza, alegria e leveza. Do soco no ar do gênio Pelé ao ir-e-vir-fingindo-fugir-sem-sair-do-lugar de Garrincha às hoje consagradas pedaladas de Robinho – não deixando de lado os passos de samba, funk ou o embala-neném de Bebeto no Mundial americano. O samba também tem e fez história. Tem seus craques. A própria Beija-Flor já apresentou para o mundo inúmeros mestres na arte da dança e do samba. Como esquecer, por exemplo, do cavalheirismo do bacharel em Direito Élson Ananias? Não conhece? Nunca ouviu este nome? E se falarmos em Élson PV? Ficou fácil, não? Pois Élson, mestresala da azul e branco de Nilópolis por dez anos (1978/ 1988), sempre – é importante repetir –, sempre marcou nota 10. Mesmo quando passaram a ser quatro julgadores. Em depoimento ao jornalista José Carlos Rego, para o livro Dança do samba, exercício do prazer, Élson afirmou ter se interessado pela arte do samba com um sambista branco, apelidado Dezesseis. Talvez uma prova de que o samba, como o futebol, não conhece essas coisas de cor e preconceito.
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Para Élson, o mestre-sala deve repetir a ação do beija-flor, tendo a porta-bandeira, sua flor, como objeto de atração. "E sem realizar ações acrobáticas. A dança do mestre-sala, como nos ranchos, deve ser suave, delicada e marcada pela sedução", ensinou o mestre. Sedução levada à risca, em outros termos, é verdade, pela menina Sônia Maria Regina da Silva, a Soninha Capeta, que Joãosinho Trinta consagrou como rainha da bateria da Beija-Flor lá pelos anos de 1988. Nilopolitana, quando criança Soninha sentava na calçada para ver as sambistas da Rua Mirandela durante o carnaval. A mexida das cadeiras das passistas de então a enfeitiçava. Ficava tentando reproduzir os passos e, com o tempo, começou a se destacar também como passista, improvisando passos, quase sempre na ponta dos pés. Como os craques da bola improvisam seus dribles, deixando de queixo caído os adversários, sejam eles tão brasileiros quanto nós ou vindos de terras distantes. (VD)
versão em inglês: www .beija-flor .com.br www.beija-flor .beija-flor.com.br fevereiro 2006
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L IESA
UM ESPETÁCULO CADA VEZ MELHOR O carnaval é uma das principais festas populares do país e a cada ano vem ampliando o público que o assiste. Essa evolução na festa tem várias causas: o empenho de cada agremiação em fazer um desfile bonito, com a valorização da sua comunidade, a atuação do Poder Público, oferecendo segurança nas áreas próximas ao sambódromo, e a eficiência das empresas de transporte, que oferecem uma infra-estrutura auxiliar para o turista e para o folião. Dentre as razões apresentadas, e tantas outras, gostaríamos de destacar uma das razões do sucesso e do crescente interesse do turista e do folião em participar do Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial: a competência administrativa da Liesa – Liga Independente das Escolas de Samba. Desde 1998 sob o comando de Ailton Guimarães Jorge – o capitão Guimarães, a Liesa completa este ano 22 anos de atividade ininterrupta na organização e condução do maior espetáculo popular da Terra. Para falar um pouco da Liesa, da sua importância, conversamos com o presidente da Liesa, que nos recebeu com simpatia e atenção. Revista Beija-Flor de Nilópolis – Qual a sua avaliação do Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial? Cap. Guimarães – Minha avaliação é excelente. O carnaval é um sucesso tanto de público quanto de beleza e criatividade. E tem melhorado a cada ano. Para o leitor ter uma idéia, nos últimos três anos todos os ingressos foram vendidos em todos os dias em que a Liesa organiza o desfile, e, segundo a Riotur, o Rio de Janeiro recebe, só no carnaval, 750.000 turistas. RBFN – 22 anos de existência não criam uma acomodação por parte da Liesa? CG – Tenho muita experiência à frente dessa Instituição, o que me permite afirmar que não faz parte da política interna da Liesa a acomodação. A cada ano pensamos novas maneiras de tornar o espetáculo mais disputado, mais criativo e mais atraente para o público. Um exemplo disso é a experiência do “décimo suplementar”. RBFN – O que vem a ser o “décimo suplementar”? CG – Nos últimos anos de desfiles de carnaval, mais de uma escola tem feito um desfile merecedor da nota máxima. No entanto, vez por outra, uma determinada agremiação dá um show à parte, levando à Sapucaí um desfile que sobressai dos demais, ou que contagia o público de maneira diferenciada. Essa escola, dentro do conceito que testamos no desfile de 2005, ganharia o décimo suplementar. Como disse, fizemos essa experiência no desfile de 2005, mas não era obrigatório ao julgador dar o ponto suplementar. Ainda estamos estudando, e ainda não me sen-
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ti seguro para implantar essa idéia; por isso, este ano vamos testar novamente esse conceito com os jurados. RBFN – O que motivou à Liesa a modificar ainda mais a questão “pontuação”? CG – Na verdade, ainda não há modificação alguma. O que há é uma experiência. As escolas de samba do Grupo Especial estão em um nível de qualidade muito bom, e nossa idéia é criar um instrumento que premie um plus, estimulando a competição, a criatividade e a ousadia. O público quer ver uma Comissão de Frente que tenha criatividade... uma bateria que traga para a avenida alguma novidade... Mas, pelo regulamento atual, a direção e os componentes das alas que são quesitos de julgamento ficam receosos de trazer novidades mais ousadas ao desfile. Isso porque, quando a agremiação entra na Sapucai, ela já entra com a nota máxima, com o 10. À medida que o desfile se desenvolve, ela pode ir perdendo pontos... Dentro do formato atual, por que uma bateria, por exemplo, que, desfilando o “feijão com arroz”, tem assegurada a sua nota 10 inventaria novas batidas, paradinhas, coreografias ou outras novidades mais ousadas? O desfile é um espetáculo, mas é também uma competição. Ninguém quer perder. Por que, então, se arriscar? É essa atitude, natural e esperada, que queremos mudar. Queremos privilegiar a criatividade, a ousadia, a inovação. Mas é um teste. Se considerarmos positiva a implantação do conceito do décimo suplementar, a faremos. www.beija-flor.com.br
RBFN – Existem outras mudanças em andamento para beneficiar o espetáculo? CG – Sim. A cada ano nós avaliamos o regulamento da Liesa. Depois de alguns estudos e conversas com especialistas em todo o mundo, constatamos que nenhum espetáculo deve durar mais do que oito horas. Estamos empenhados em reduzir o tempo de duração do espetáculo, reduzindo, paulatinamente, o número de escolas no Grupo Especial. No desfile de 2006, descerão duas agremiações e subirá apenas uma escola, a vencedora do Grupo de Acesso. O mesmo ocorrerá no desfile de 2007. Com isso, no desfile de 2008 teremos o número ideal de escolas desfilando, isto é, 12 agremiações. RBFN – Como é liderar uma entidade tão forte no carnaval? CG – Sigo o pensamento de que “Liderar é coordenar esforços”. Esse é o segredo do sucesso da Liesa. Sou uma pessoa organizada, mas considero que meu grande mérito à frente da Liesa é saber escolher os auxiliares: a equipe que trabalha comigo é muito competente. RBFN – Qual a atuação da Liesa na viabilização dos recursos do Desfile de Carnaval? CG – É importante que o leitor tenha o entendimento de que uma festa com as dimensões do Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial depende de recursos financeiros. A cada ano, a revista da Beija-Flor de Nilópolis tem
A cada ano pensamos novas maneiras de tor tor-nar o espetáculo mais disputado, mais criativo e mais atraente para o público. . Cap. Guimarães
mostrado ao leitor os bastidores dessa festa, abordando as reuniões de planejamento, os preparativos nos barracões, nos ateliês, os ensaios na quadra, até o ponto culminante, que é a apresentação na Sapucaí. O leitor hoje sabe que são meses de pré-produção e entende com facilidade que isso custa dinheiro. Antigamente, as agremiações de carnaval buscavam individualmente esses recursos junto ao Poder Público e, na maioria das vezes, recebiam migalhas, se comparado às despesas que seriam feitas. Isso acabava influenciando a disposição da escola e comprometendo os preparativos para o desfile. E era muito desgastante, principalmente se considerarmos que, em todo o processo que envolve o carnaval, quem tem mais retorno, institucional e financeiro, é o Poder Público.
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Com o fortalecimento da Liesa, essa batalha acabou. Sentamos à mesa e negociamos o que nos é devido. O Poder Público, consciente do papel que deve desempenhar, de fomentador e não de organizador, consolidou uma parceria com a Liesa, e hoje caminhamos de braços dados em favor desse grande e inesquecível espetáculo. RBFN – Poderíamos, sem risco, afirmar que, seja pela estrutura enxuta, seja pelos resultados alcançados desde a sua fundação, a Liesa é um exemplo de organização? CG – Posso afirmar sem nenhum constrangimento que a Liesa é um exemplo de administração. Não só pela capacidade que criamos de lutar pelos interesses do espetáculo e das agremiações desfilantes, como pela capacidade de atingir resultados com eficiência. Com a Liesa à frente do espetáculo, todos saíram ganhando: a entidade, as agremiações, a cidade do Rio de Janeiro e, principalmente, o público, que, com a sua presença, dá sustentação a essa festa maravilhosa. (HAR/RDF)
THE SPECTACLE KEEPS GETTING BETTER Carnival is Brazil’s main popular festival, and each year the number of people watching it increases. This growth has various causes: The effort of each group of participants to put on a stunning parade that reflects well on their community; the actions of the public authorities in providing a safe venue in and around the Sambódromo parade grounds and the efficiency of the transportation companies that offer the proper infrastructure for tourists and revelers. Among these factors, we’d like to highlight one of the reasons for the success and growing interest of tourists and natives alike in taking part in the parade of the Special Group of Samba Schools (the Carnival associations are known as escolas de samba, or “samba schools”): the good work of the Independent League of Samba Schools (Liesa). Since 1998 under the helm of Ailton Guimarães Jorge, or Captain Guimarães as he’s known, Liesa this year completes its 22nd year of uninterrupted activity in organizing and conducting the largest popular party on earth. To speak a bit about Liesa and its importance, we spoke with its president, who received us with kindness and attention. Beija-Flor de Nilópolis Magazine – What’s your evaluation of the parade of the Samba Schools of the Special Group? Capt. Guimarães – My evaluation is excellent. Carnival is a success with the public both for its beauty and creativity. And each year it gets better. For your readers to have an idea, in the past three years all the tickets have been sold out on all the days that Liesa has organized the parade, and according to Riotur, Carnival in Rio de Janeiro alone attracts 750,000 tourists.
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BFN Magazine – Doesn’t 22 years of existence cause a certain degree of complacency within Liesa? CG – I’ve got lots of experience leading this institution, which allows me to say that complacency is not part of our makeup. Every year we think of new ways to make the spectacle more competitive, more creative and more attractive to the public. An example of this is the experiment with the “supplementary tenth”. BFN Magazine– What’s this “supplementary tenth”? CG – In some recent years, more than one school has put on a parade deserving of the maximum score of ten on all counts. However, once in a while a certain school gives a show that really stands out, bringing to the Sambódromos’s Sapucaí Avenue a parade that surpasses all the others or earns a special place in spectators’ hearts. This school, under the concept we tested in 2005, would earn an extra tenth of a point from the judges. As I said, we carried out this experiment in 2005, but it wasn’t mandatory for judges to award the supplementary tenth of a point. We’re still studying the matter, and I can’t safely tell you we’ll really implement this idea. For this reason, we’re going to test it again with the jurors. BFN Magazine – But what caused Liesa to modify the scoring system? CG – In reality, we haven’t yet changed anything. We only did an experiment. The Samba Schools of the Special Group are at a very high level of quality and our idea is to create an instrument that awards a plus, stimulating competitiveness, creativity and audacity. The public wants to see parade leaders who dance with special creativity...percussionists who bring a fresh beat... But by the current regulations, the parade leaders and components who are under judgment are afraid to do anything new or audacious, because when a group enters Sapucai, it basically already has a maximum score of ten, and then starts losing points for any errors... In the present format, a school’s percussionists, for example, who are marching to a basic “meat and potatoes” beat, are assured of a score of ten, so why would they risk any new rhythms, pauses, choreographies or other bolder novelties? The parade is a spectacle, but it’s also a competition. Nobody wants to lose. So why take risks? It’s this attitude, which is natural and expected, that we want to change. We want to reward creativity, boldness, innovation. But it’s just a test. If we feel it’s a positive step to implement the supplementary tenth, we’ll do it. BFN Magazine– Are there any other changes in the works to benefit the spectacle? CG – Yes. Every year we evaluate our regulations. After www.beija-flor.com.br
some studies and conversations with specialists from around the world, we’ve found that no spectacle should last more than eight hours. We’re committed to reducing the time of the parade, by gradually reducing the number of schools in the Special Group. In the 2006 parade, two associations will drop down to the Access Group and only one will be promoted to the Special Group. The same will happen in 2007. This will mean in 2008 we’ll have the ideal number of associations parading, which is twelve. BFN Magazine– How is it leading such a strong entity during Carnival? CG – I following the thinking that “Leadership is coordinating forces.” This is the secret of Liesa’s success. I’m an organized person, but I consider my biggest strength in heading up Liesa is knowing how to choose good assistants: the team that works with me is really competent. BFN Magazine– What is Liesa’s role in raising funds for the Carnival parade? CG – It’s important for your readers to understand that a festival the size of the Special Group’s parade depends on financial resources. Each year Beija-Flor de Nilópolis Magazine has been giving its readers the inside information on this party, talking about the planning meetings, preparation in the workshops, ateliers, the rehearsals, up to the culminating point, which is the presentation at Sapucaí. Today readers know that it takes months of preproduction and understand that this costs money. In the past, the Carnival associations went with hats in hand to the public authorities and most of the time received only a pittance when compared with their true needs. This wound up influencing the efforts of the schools and their preparations for the grand parade. This was all very wearing, mainly if we consider that in the whole Carnival process, who benefits the most, institutionally and financially, is the government. With the strengthening of Liesa, this battle has ended. Now we sit down at the table and negotiate what we deserve. The government, in a more mature attitude and aware of the role it must play of fostering but not organizing Carnival, has consolidated a true partnership with Liesa, and today we work hand in hand in favor of this grand and unforgettable spectacle. BFN Magazine– Could we hazard saying that both because of the tight structure and the results attained since its foundation, Liesa has been an example of organization? CG – I can say without reservation that Liesa is an example of good administration, not only for our ability to fight for the interests of this spectacle and its parade groups, but also to achieve results efficiently. With Liesa leading the way, everybody winds up winning: the entity, the associations, the city of Rio de Janeiro, and mainly the viewing public, who with their presence sustain this marvelous festival. fevereiro 2006
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É O MEU BRASIL... “Isto aqui ô ô É um pouquinho de Brasil, Iaiá Desse Brasil que canta e é feliz Feliz, feliz É também um pouco de uma raça Que não tem medo de fumaça ai, ai E não se entrega não” Ary Barroso Esse Brasil feliz, cantado na composição de Ary Barroso, invade a alma de milhares de brasileiros espalhados pelos quatro cantos do mundo durante o Carnaval, com a transmissão internacional dos dois dias de desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. É a globalização da emoção do componente e da tradição das escolas de samba que, através da transmissão da TV Globo Internacional, em português, al-
CLIENTES DO COPA ASSISTEM O DESFILE DE CARNAVAL cançam 1,9 milhão de assinantes ao redor do mundo. Os desfiles são aguardados com ansiedade por muitos e, invariavelmente, servem de pretexto para reunir os amigos, brasileiros ou não, para assistir ao espetáculo. Tudo movido a caipirinha, churrasco ou feijoada, seja num restaurante no Japão ou numa casa em Miami, nos Estados Unidos.
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Além do orgulho dos componentes por realizar um espetáculo de tamanha repercussão, a transmissão cumpre um papel importante na difusão da cultura brasileira. O presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Ailton Guimarães Jorge, destaca que apenas duas outras transmissões internacionais (Copa do Mundo e Jogos Olímpicos) atingem tantos telespectadores quanto a dos desfiles de Carnaval, ressaltando que ambos são acontecimentos que envolvem vários países e que, “no caso do desfile das escolas de samba, é apenas e tão somente o Brasil, a difusão da nossa cultura, a divulgação do que temos de melhor”. Para um brasileiro que esteja vivendo ou apenas passando uma temporada no exterior, o presidente da Liesa tem certeza de que, “esteja ele na Finlândia, na Austrália, nos Estados Unidos ou em algum país africano, ele se sente orgulhoso quando vê a apresentação das nossas escolas de samba”. Ailton Guimarães Jorge lembra que, nos desfiles, “damos uma demonstração ao mundo do Brasil que dá certo, do Brasil ordeiro, do Brasil organizado e, principalmente, do Brasil feliz. E o turista que vê aquelas imagens certamente fica com vontade conhecer esse lugar que consegue reunir tanta gente bonita e feliz”. OUTRO LADO DO MUNDO Cálculos informais dão conta de que o Japão abriga 270 mil brasileiros, incluindo os dekasseguis (descendentes de japoneses que emigram ao Japão), que formam verdadeiras cidades brasileiras em solo japonês. E elas promovem carnavais. As três maiores www.beija-flor.com.br
festas acontecem nas cidades de Oizumi, Kobe e Hamamatsu, onde se concentra grande número de imigrantes, além de Tóquio. Para quem ainda estranha o paticumbum levado por componentes de olhos puxados, o diretor do Centro Cultural e Informativo do Consulado Geral do Japão no Rio de Janeiro, o cônsul Akira Kusunoki, lembra que o carnaval carioca é bastante famoso no Japão: “De fato, milhares de turistas assistem todos os anos, no verão, um carnaval que ocorre em Tóquio. A imagem de dançarinos japoneses sambando talvez seja um pouco estranha para os brasileiros. O curioso é que atualmente há um estranho sucesso musical onde um cantor vestido como um samurai canta um samba, em japonês, juntamente com umas gueixas”. O diplomata ressalta que a nossa bossa nova também é muito apreciada no seu país, e conclui que “Brasil e Japão são geograficamente bem distantes, mas conseguem unir corações através do Carnaval”. Um belo exemplo dessa união de corações proporcionada pelo samba é o da brasileira Vanusa Santiago com o empresário japonês Yasutomo Tanaka. Casados há mais de 11 anos e pais de Aiichiro César, de 9 anos, e de Gabriela Maria, de 7 anos, os dois são uma espécie de representantes da colônia brasileira em Kobe, uma cidade com cerca de 1,5 milhão de habitantes, a quinta do Japão e maior porto de comércio do país. De lá partiram navios japoneses cheios de imigrantes para o Brasil. A ex-dançarina da Plataforma, moradora de Copacabana, excursionava com o grupo pelo mundo com shows de samba e lambada, quando o japonês Tanaka ainda era cliente do restaurante Copacabana, especializado em comida e música brasileira. O Japão esteve no roteiro das turnês por três vezes, mesmo após o terremoto, de intensidade 7,3 na escala aberta de Richter, que há 11 anos devastou Kobe. Tanaka comprou o restaurante e casou com a dançarina. Torcedora da BeijaFlor de Nilópolis, a fa-
mília Tanaka mantém no restaurante um “posto avançado” do Brasil, especialmente durante o Carnaval. Nesses dias um telão recebe
a transmissão ao vivo, com 12 horas de diferença no fuso horário, dos desfiles na Sapucaí, além da apuração dos votos dos jurados. “Usamos a camisa da Beija-Flor como uniforme de trabalho. É com muito orgulho que representamos a escola aqui do outro lado do mundo”, diz Vanusa, que desfilou defendo a azul e branco de Nilópolis há seis anos. A escola também se faz presente no desfile carnavalesco do restaurante Copacabana, quando sua camisa veste vários integrantes. “Todos os anos reunimos muitos brasileiros no restaurante para ver os desfiles, além dos japoneses, que vibram muito com o espetáculo”, conta Vanusa. Ela diz que assistir à transmissão da Sapucaí “é uma maneira de ficar perto do Brasil”. O restaurante é uma espécie de sucursal do país, que se
transforma em festa também nas transmissões dos jogos de futebol da seleção. Os japoneses gostam tanto do samba que várias escolas locais foram formadas e desfilam em terras nipônicas. Nem as festas de casamento escapam do fascínio pelo batuque brasileiro: várias cerimônias são realizadas no Copacabana, com noivos e convidados caprichando nos passos. TERRAS DO TIO SAM Outro ponto de grande concentração de brasileiros que podem assistir ao vivo, pela televisão, a transmissão dos desfiles são os Estados Unidos. Cálculos não oficiais estimam que existem mais de um milhão de brasileiros vivendo em território norte-americano, a maior parte em situação ilegal. Para esse enorme contingente, as transmissões dos desfiles levam o carnaval para os EUA. Os jornalistas Eliakim Araújo e Leila Cordeiro moram em Miami há oito anos, quando foram contratados para fevereiro 2006
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apresentar um segmento em português na CBS Telenotícias. Hoje coordenam o site "Direto da Redação". A família fica em casa no período carnavalesco e recebe a programação da Globo e da Record, por satélite. O casal já passou muitos carnavais na avenida, trabalhando na transmissão dos desfiles,7 tanto pela rede Globo como pela extinta TV Manchete. Eliakim conta que os brasileiros se reúnem na casa de um ou de outro para curtir o desfile. “Sempre rola uma caipirinha, uma cerveja gelada e uma comidinha esperta”, diz. Segundo o jornalista, os americanos ficam impressionados com o espetáculo: “Aliás, quando você fala em Brasil hoje no exterior, os caras logo se lembram de Carnaval, mulatas e futebol” , emenda Eliakim, lembrando que a TV americana sempre faz matéria sobre o desfile, “coisa rápida, dois ou três minu-
tos, mas que servem como ótimo chamariz para os turistas. Alguns canais de língua espanhola gastam mais tempo e chegam a transmitir compactos dos desfiles”, revela. Ele e Leila já desfilaram na Beija-Flor, em 1992, quando o enredo foi sobre a televisão. O casal saiu no carro do telejornalismo. “Foi um momento de rara emoção poder estar na avenida desfilando, depois de tantos anos trabalhando. Leila desfilou grávida de sete meses do Lucas, nosso caçula, que está hoje com treze anos”, recorda Eliakim. Ele conta que às vezes se perguntava se o tempo de desfile não deveria ser menor, e confessa: “Só depois de desfilar é que entendi como tudo passa tão rápido para os desfilantes. Tanto tempo de preparação e tudo se acaba em pouco mais de uma hora, mas que parece muito menos quando se está dentro do desfile”.
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Hoje, assistindo ao espetáculo de tão longe, Eliakim admite que a passagem da bateria é o momento culminante: “É o coração da escola. Seus quase 300 ritmistas produzem um som que arrepia qualquer um”. Ele declara sua admiração também pelo casal de mestresala e porta-bandeira. “São quesitos onde os "brancos" ainda não conseguiram entrar e, espero, não entrem nunca”, afirma, criticando também a presença de artistas e celebridades à frente das baterias de muitas escolas, quando historicamente “a rainha da bateria sempre foi a melhor sambista da escola”. (Na Beija-Flor, o posto de rainha da bateria sempre foi ocupado por uma passista da comunidade de Nilópolis. Depois de mais de 20 anos desfilando na frente da bateria azul e branca, a sambista Sônia Mascarenhas, a “Soninha Capeta”, passou o cargo para a ainda menina Rayssa Oliveira). Admirador dos desfiles, o jornalista defende mudanças no formato da transmissão. “É preciso mostrar mais os sambistas de verdade do que os sambistas de ocasião: as celebridades e os que pagam para desfilar”. NA TELA DA TV Os desfiles das Escolas de Samba do Grupo Especial são transmitidos pela TV Globo Internacional para 46 países nos principais continentes: Europa (todos exceto Portugal), África (Angola, África do Sul, Moçambique, Congo e mais 14 países), América do Sul (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Paraguai, Peru e Uruguai) América Central (Guatemala, Haiti, Honduras, Panamá e Antilhas Holandesas) e América do Norte (EUA e México). A emissora transmite os desfiles para um públicoalvo formado por brasileiros e lusófonos que vivem no exterior. O sinal do canal é gerado pela TV Globo no Rio de Janeiro e transmitido para o satélite Intelsat 805, onde fica disponível para os diferentes distribuidores internacionais. O acesso ao canal se dá através de operadores locais, seja via cabo ou satélite, dependendo da região. O Japão recebe a transmissão em formato digital. A Divisão de Negócios Internacionais da TV Globo preparou um especial sobre o Carnaval no Rio, que já foi comercializado para diversos países da América Latina, além de França, Rússia e Indonésia. A produção de um especial como o Carnaval in Rio envolveu mais de trinta profissionais, que trabalham diretamente na produção do programa, além de contar com o apoio da equipe dirigida por Aloysio Legey, responsável pela transmissão oficial da festa. www.beija-flor.com.br
IT’S MY BRAZIL ... “This here, oh, oh Is a bit of Brazil, lah, lah This Brazil that sings and is happy Happy, happy It’s also a bit of a race That’s not afraid to show its face And never gives in.” Ary Barroso. This happy Brazil, as the song composed by Ary Barroso goes, invades the soul of thousands of Brazilians in the four corners of the world during Carnival, with the international transmission of the parades of the Rio de Janeiro escolas de samba (“samba schools”, as the Carnival associations are known). And the globalization of this emotion and tradition, via transmission by TV Globo International, in Portuguese, reaches 1.9 million subscribers around the world. The parades are eagerly awaited by many, and invariably serve as a pretext to gather friends, Brazilians and nonBrazilians alike, to watch the spectacle. Everything fueled by traditional Brazilian food, like churrasco or feijoada, washed down with a caipirinha, Brazil’s refreshing lime cocktail, whether in a restaurant in Japan or a house in Miami. Besides showing the pride of the paraders in putting on a spectacle of such repercussion, the transmission fulfills an important role in spreading Brazilian culture. The president of the Independent League of Samba Schools (Liesa), Ailton Guimarães Jorge, stresses that only two other international transmissions (the World Cup and the Olympic Games) reach so many viewers as the Carnival parades, also pointing out that the other two are events that involve many countries, while “the Carnival parades of the
samba schools only involve Brazil, serving to spread our culture and reveal the best we have to offer.” For a Brazilian who’s living or only traveling abroad, the Liesa president is sure that “anyone, whether in Finland, Australia, the United States or an African country, will be proud when seeing the presentation of our samba schools.”. Ailton Guimarães Jorge also recalls that in the parades “we give a demonstration to the world of what’s right with Brazil, of a Brazil that’s orderly, organized, and above all happy. And the tourists who see those images will surely want to come visit so many beautiful and happy people.” The other side of the world Informal calculations are that there are around 270 thousand Brazilians living in Japan, including the Dekasseguis (descendents of Japanese immigrants to Brazil who have gone to Japan to live and work). They form veritable Brazilian enclaves on Japanese soil, and put on their own carnivals. The biggest festivals occur in the cities of Oizumi, Kobe and Hamamatsu, where a large number of immigrants congregate, along with Tokyo. For those who might find it strange to see carnival sounds coming from Asian faces, the director of the Cultural and Information Center of the Japanese Consulate in Rio de Janeiro, Akira Kusunoki, remembers that Rio’s Carnival is very famous in Japan: “Indeed, thousands of tourists each year watch a carnival that takes place in Tokyo. The image of Japanese dancers doing the samba perhaps may be a bit strange to Brazilians. The curious thing is that nowadays there’s a strange musical success where a singer dressed like a samurai sings a samba, in Japanese, together with several geishas.” The diplomat stresses that our bossa
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nova is also very appreciated in his country, and concludes that “Brazil and Japan are geographically separated, but manage to join hearts through carnival.” A good example of this union of hearts provided by samba is that of Brazilian Vanusa Santiago with Japanese businessman Yasutomo Tanaka. Married for over 11 years, and parents of Aiichiro César, 9, and Gabriela Maria, 7, the couple is a type of representative of the Brazilian colony in Kobe, a city of about 1.5 million inhabitants, Japan’s fifth largest and its main commercial port city. In fact, most of the Japanese boats taking immigrants to Brazil left from Kobe. A former dancer with the group Plataforma and resident of Copacabana, she was traveling on a world tour with the group giving samba and lambada shows when Tanaka was a customer of the Copacabana restaurant in Kobe, specialized in Brazilian cuisine. The group toured Japan three times, even after the earthquake, measuring
VANUSA, ANIZIO E FABÍOLA DAVID 7.3 on the Richter scale, devastated the city 11 years ago. Tanaka bought the restaurant and married Vanusa. Fans of Beija-Flor de Nilópolis, the Tanaka family maintain an “advance outpost” of Brazil at the restaurant, especially during Carnival. On these days, their big-screen TV receives the transmission live (with a 12-hour time difference) of the parades from the Sambódormo on Sapucaí Avenue, besides the nervewracking tallying of the judges scoring. “We use the blue and white Beija-Flor shirt as our work uniform at the restaurant. We’re really proud of representing the school here on the other side of the world,” says Vanusa, who danced in the parade for Beija-Flor six years ago. The samba school is also present in the restaurant’s presentation in the Kobe carnival parade, when the restaurant’s employees wear the shirt proudly. “Every year we gather many Brazilians at the restaurant to watch the spectacle, besides our Japanese customers, everyone in a festive mood,” recounts
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Vanusa. She goes on to say that watching the transmission from Sapucaí Avenue “is a way to stay close to Brazil.” The restaurant is a type of staging area in the country, and also turns festive during transmissions of games by the Brazilian national soccer team. The Japanese like samba so much that several local schools have formed and parade in the land of Nippon. Even marriage ceremonies have been affected by the Brazilian beat: various wedding receptions have been held at the Copacabana restaurant, with the newlyweds and guests all dancing up a storm. Land of Uncle Sam Another country with a large contingent of Brazilians who watch the Carnival parades live on television is the United States. Unofficial estimates are that over a million Brazilians live in the U.S., most of them illegally. The transmission brings a bit of home to warm their hearts. Journalists Eliakim Araújo and Leila Cordeiro have lived in Miami for eight years, originally contracted to present a Portuguese segment on CBS Telenotícias. Today they coordinate the site "Direto da Redação". The family stays at home during the carnival period and receives the programming of the Globo and Record networks via satellite. The couple has already spent many Carnivals at the Sambódromo in Rio, working for Globo, and before that, the now defunct Manchete network. Eliakim says that Brazilians gather in one another’s houses to watch the parade. “There’s always plenty of caipirinha, cold beer and down-home food,” he adds. According to him, Americans are impressed with the spectacle. “When you speak of Brazil these days abroad, they remember Carnival, mulatas and soccer,” he states, recalling that American TV always does a piece on the event, “a quick segment of two or three minutes, but that serves as an excellent way to attract tourists. Some Spanish language channels devote more time, transmitting highlight programs,” he reveals. He and Leila already paraded with Beija-Flor, in 1992, when the school’s parade theme was television. The couple left their usual reporters’ role to get aboard the parade float. “It was a moment of rare emotion to be down on the avenue, after so many years working as commentators. Leila was seven months pregnant with Lucas, our youngest, who’s 13 today,” remembers Eliakim. He recounts that sometimes he had questioned whether the parade shouldn’t be shorter, but then confesses: “Only after actually participating did I understand how fast it all passes for the participants. So much time in preparation and it all ends in a bit over an hour, but it seems to go much faster when you’re in the parade yourself.” Today, watching the spectacle from afar, Eliakim admits the passage of the bateria (percussionists) is the culminating moment: “It’s the school’s heart. www.beija-flor.com.br
The nearly 300 percussionists produce a sound that will move anyone.” He also declares his admiration for the couple formed by the porta-bandeira (woman standard-bearer) and mestre-sala (her consort and master of ceremonies). “These are positions that ‘whites’ still have not managed to fill, and I hope never will,” he affirms, also criticizing the presence of actors and other celebrities leading the percussionists of many schools, when historically, “the rainha da bateria (queen of the percussion section) always was the school’s best dancer”. (With Beija-Flor, the position of queen has always been held by a woman from the community of Nilópolis. After more than 20 years leading the blue and white clad percussionists, Sônia Mascarenhas, or “Soninha Capeta”, passed the role on to Rayssa Oliveira, while she was still a girl). A great admirer of the parades, the journalist supports changes in the transmission format. “They need to show people really from the community more than those out for the occasion: the celebrities and those who pay to parade.” On the TV screen The parades by the Samba Schools of the Special
Group are transmitted by TV Globo International to 46 countries of the world’s many regions: Europe (all countries except Portugal), Africa (Angola, South Africa, Mozambique, Congo and 14 more nations), South America (Argentina, Bolivia, Chile, Colombia, Paraguay, Peru and Uruguay), Central America and the Caribbean (Guatemala, Haiti, Honduras, Panama and the Dutch Antilles) and North America (United States and Mexico). TV Globo International has transmitted the parades since its founding in 1999, to a viewing public formed of Brazilians and other Portuguese speakers spread around the world. The signal is generated by TV Globo in Rio de Janeiro and transmitted to the Intelsat 805 satellite, where it is made available to different international distributors. Access is from local operators, via cable or satellite, depending on the region. Japan receives the transmission in digital format. The International Business Division of TV Globo has prepared a special show on Carnival in Rio, which has already been sold to stations in various countries of Latin America, along with France, Russia and Indonesia. The production of a special like Carnival in Rio involved over 30 professionals, working directly on producing the program, with the help of the team directed by Aloysio Legey, responsible for official transmission of the festival.
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CARNAVAL CARIOCA: UM RESUMO Felipe Ferreira
O carnaval brasileiro moderno começou a se organizar em torno de 1850, a partir da chegada ao país dos bailes e passeios ao estilo francês, importados pela elite carioca para fazer frente ao chamado Entrudo. A nova festa iria, em pouco tempo, adaptar-se ao espírito festivo e saudavelmente esculhambado, característico das ruas do Rio de Janeiro. Este gosto pela esbórnia, presente em todo o arco social carioca, acabaria fazendo com que, em finais do século XIX, a folia da cidade estivesse povoada dos mais diversos tipos de brincadeiras. Desfiles em elegantes carruagens conviviam com barulhentos Zé Pereiras. Grupos fantasiados de moças e rapazes “da melhor sociedade” disputavam espaço com os batuques dos Cucumbis carnavalescos negros. Nas primeiras décadas do século XX, a festa era dividida em Pequeno e Grande Carnaval, o primeiro representado pelas brincadeiras mais populares, chamadas indiscriminadamente de ranchos, blocos, grupos, clubes, sociedades ou cordões. O Grande carnaval, por sua vez, reunia a folia mais ligada à elite, como os passeios de automóvel, chamados de Corso, e as Grandes Sociedades, com suas bandas musicais e suas alegorias. Nos anos de 1920, as diferentes brincadeiras “populares” começavam a ser identificadas. O nome “rancho” passaria a ser usado para os grupos mais organizados, que desfilavam com fantasias elaboradas, ao som de marchas ao gosto lusitano. O termo “cordão”, por sua vez, seria associado a grupos que brincavam ao som de tambores, com fantasias e danças que lembravam os cortejos característicos dos Cucumbis e Congadas. Por essa época surgia em Paris um movimento de valorização da cultura negra que, rapidamente, chegaria ao Brasil espalhando-se pela música e artes plásticas. A exaltação dos grupos de jazz na Europa e Esta-
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dos Unidos e a temática popular na obra de Di Cavalcanti, no Brasil, são exemplos dessa onda avassaladora que mudou a cultura mundial. Os ritmos negros passaram a ser valorizados pela intelectualidade e, em pouco tempo, pela população urbana do Rio de Janeiro. O samba, antes restrito às rodas de batuque da Praça Onze e morros periféricos ao centro, começava a ser conhecido e admirado por toda a cidade. Com isso, alguns rapazes decidiram se organizar nos chamados grupos de samba de morro que rapidamente atrairiam a atenção da elite cultural da época. As revistas ilustradas passaram a dar destaque a esses conjuntos que eram convidados a se apresentar em locais acessíveis à classe média. A batida do samba produzida por eles acabou contagiando certos grupos carnavalescos que substituíram o antigo samba, de ritmo mais próximo ao maxixe, pelo novo e contagiante batuque. Em início dos anos 1930, esses grupos, já então conhecidos como Escolas de Samba, começavam a atrair a atenção dos jornais, grandes responsáveis pela organização do carnaval da época. Em 1932, o extinto periódico O Mundo Esportivo organizaria aquela que ficou conhecida como a primeira disputa entre escolas de samba, vencida pela Mangueira. Em 1935, Pedro Ernesto, prefeito interventor do Rio de Janeiro, decidiu organizar o carnaval da cidade sob forma empresarial. Os desfiles das Grandes Sociedades e dos ranchos tornavam-se oficiais e passavam a fazer parte de um grande projeto organizado sob a égide do turismo, juntamente com outros eventos, como os banhos de mar à fantasia e o Baile do Municipal. O concurso entre as escolas de samba acabaria por beneficiar-se desse movimento e conquistar seu espaço entre os eventos carnavalescos. Por algumas décadas, entretanto, a apresentação das escolas de samba ainda seria considerada como um evento secundário no multifacetado carnaval da cidade do Rio de Janeiro. Os principais desfiles – das www.beija-flor.com.br
Sociedades e ranchos – realizavam-se na Avenida Rio Branco, enquanto que as disputas oficiais das escolas de samba aconteciam no espaço alternativo da Praça Onze. Somente em 1957 é que as escolas de samba conquistariam o direito de desfilar junto com as grandes manifestações da folia carioca, mesmo assim no dia considerado como o menos importante: a segunda-feira de carnaval. Entretanto, a força do ritmo do samba e o interesse cada vez mais forte que a sociedade brasileira manifestava com relação às expressões culturais ditas “do povo” fariam crescer a importância das escolas de samba. Estas começavam a assumir o papel de verdadeiros ícones do carnaval e seriam consideradas como uma das mais puras expressões da “alma” do país. Alçadas ao Olimpo carnavalesco, as escolas começavam a se firmar como excelentes espaços de mediação entre os diferentes estratos da sociedade. As quadras de ensaio tornavamse disputados locais de lazer onde as elites e a população de baixa renda se encontravam e se confraternizavam numa espécie de reafirmação do mito carnavalesco da ausência e inversão de valores. A mulata, o passista, o ritmista, a portabandeira e o mestre-sala seriam alçados à posição de reis dos dias de folia. Ao mesmo tempo, artistas, figurinistas e cenógrafos consagrados passariam a se integrar aos trabalhos de criação e produção visual dos desfiles. Na década de 1960, esse rico processo de integração estava a todo o vapor, e as escolas de samba já possuíam um status nacional. As chamadas “quatro grandes” dominavam o cenário. Portela, Mangueira, Império Serrano e Salgueiro alternavam-se entre as primeiras colocações e estabeleciam uma hegemonia que parecia impossível de ser rompida. A partir dos anos 1970, entretanto, os desfiles tornavam-se, cada vez mais, grandes espetáculos, associando música e visualidade. As Quatro Grandes, confiantes na força de uma tradição estabelecida há algumas décadas, apostavam nos méritos tradicionais para manter sua posição de destaque. Outros valores, entretanto, começavam a crescer em importância, tais como a grandiosidade, o luxo e a
espetacularidade dos desfiles. Desse modo, algumas escolas que por muitos anos haviam se mantido como coadjuvantes começavam a almejar o posto de estrelas do espetáculo. A primeira escola a romper esse bloqueio, aparentemente inexpugnável, foi a Beija-Flor. Com um desfile ao mesmo tempo ousado e imponente, a escola se tornaria a campeã do carnaval de 1976, repetindo o feito em 1977 e 1978. Estabelecia-se, a partir de então, uma nova relação de forças, antes impensável, que iria incorporar muitas outras escolas à galeria de campeãs. Com a inauguração da Passarela do Samba, popularmente conhecida como Sambódromo, novos desafios seriam postos para as agremiações que precisavam adequar seus desfiles e suas organizações ao imenso espaço proposto pelo poder público. Como sempre vem acontecendo, as escolas de samba têm-se adaptado aos aparentes problemas, os quais são rapidamente superados por meio da constante transformação de suas estruturas internas e de suas apresentações durante o carnaval. Novos reptos certamente se apresentarão para o carnaval carioca em geral e para as escolas de samba em especial. Estas, surgidas como grupos ligados a pequenas comunidades, passaram a se identificar com bairros e regiões da cidade e, mais tarde, com o próprio Rio de Janeiro. Adquirindo projeção nacional, após alguns anos, e conhecidas internacionalmente, a partir das últimas décadas, as escolas de samba vêm desafiando os vaticínios mais pessimistas. O segredo desse fôlego parece estar exatamente na capacidade que essas agremiações possuem de incorporar novos elementos e adaptar-se a situações inesperadas sem perder seu caráter mediador. A verdade carnavalesca não está em nenhuma tradição intocável, mas sim no reinvertar contínuo de novas e velhas tradições, no constante diálogo entre o que sempre foi e o que virá a ser, expresso magnificamente nos desfiles das escolas de samba do carnaval carioca.
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BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS A HISTÓRIA DE UMA AGREMIAÇÃO QUE SEMPRE FOI GRANDE
Bebendo nas fontes do pensamento do filósofo grego Sócrates, ainda que sem saber, o homem contemporâneo tem utilizado o slogan “Conhece-te a ti mesmo” como um dos seus principais guias para o encontro da felicidade pessoal e para a solução de conflitos internos. E a importância dessa máxima não se dá apenas na nossa vida pessoal e individual: grupos sociais que atravessam a história da sociedade oferecendo alguma contribuição, seja social, cultural, esportiva ou religiosa, e que trabalham para se manter sólidos em uma sociedade consumista que não valoriza a memória e o passado, tem por obrigação “conhecer a si mesmo”. Esse conhecimento visa não apenas à sobrevivência desses grupos, mas transmitir aos seus integrantes mais jovens fatos que construíram esses grupos, trabalhando o amor e o respeito pela própria instituição. No caso da Beija-Flor de Nilópolis esse conceito começa a ser explorado com o lançamento, no Carnaval de 2002, da revista “Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida”, que reservou espaços importantes da publicação para tratar das origens históricas da escola e seu fundadores, além de ter criado uma seção com mais de 15 páginas apresentando os desfiles da azul e branco de Nilópolis desde o seu primeiro desfile como escola de samba, em 1954. No início de 2005, depois de uma longa conversa com o presidente de honra da agremiação, Anizio Abrão David, os editores da revista avançaram na consolidação desse projeto de resgate da história da escola: foram dados os primeiros passos para a produção do livro contando a história da Beija-Flor de Nilópolis.
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Acerca desse projeto, o presidente da agremiação, Farid Abrão, teceu as seguintes considerações: “Muitos dados que vocês publicaram na revista tanto o integrante fiel da Beija-Flor quanto o público simpatizante desconheciam: sobre os enredos, desde a sua fundação, quem foram os presidentes, o que representou o Nelsinho para a escola, como surgiu a escola... E o livro vem dar continuidade a esse importante trabalho, porque vocês vão poder falar com detalhes de pessoas que passaram pela Beija-Flor e que deram a sua contribuição para ela ser o que é hoje; nomes como o de Irineu Perna-de-pau, Negão da Cuíca, o Edinho do Ferro-velho. Meu próprio irmão Nelsinho fez muita coisa pela escola que nem todos sabem. Isso sem falar, nos dias atuais, em tudo que o meu irmão Anizio fez e vem fazendo pela Beija-Flor de Nilópolis. As informações que vocês vão levantar e dispor na publicação vão ser muito importantes para nossos jovens. Eles terão uma obra de referência para conhecer ainda mais a nossa escola. Eu, de minha parte fico muito satisfeito em saber que vocês se preocuparam em abraçar um projeto dessa envergadura. E tenho certeza de ele está sendo desenvolvido com muito profissionalismo.” Tendo o conceito do “Conhece-te a ti mesmo” como motivador do projeto, a equipe de produção do livro defende uma abordagem que ultrapassa os interesses puramente agremiativos. “A Beija-Flor de Nilópolis nasceu em uma época em que a região da baixada fluminense sofria inúmeras discriminações da imprensa e do poder público, o que contribuiu, inclusive, para a construção do preconceito em relação ao cidadão da baixada. A reconstrução da história da agremiação de Nilópolis tornase, por isso, um importante instrumento de resgate dos valores pessoais desse cidadão da baixada, frente a si www.beija-flor.com.br
foto: Acervo Pessoal
mesmo e ao próprio pensamento burguês carioca”, declara Ricardo Da Fonseca, editor do livro. Muitos não sabem, mas a baixada fluminense teve uma forte presença portuguesa, italiana, alemã, libanesa e judaica, tendo sido, no período colonial, a região onde se refugiou a maioria dos perseguidos da Santa Inquisição e de outros sistemas ditadores e intolerantes. São histórias que não poderão deixar de ser contadas, e que falam da vitória do povo sobre a opressão. Histórias muito semelhantes às histórias que cada componente, do presente e do passado, protagonizaram e que fizeram a Beija-Flor de Nilópolis ser o que é hoje. “Sabemos que uma escola como a Beija-Flor de Nilópolis, que sempre valorizou o componente da comunidade, é rica em histórias e em lições de vida. Queremos levar ao público essas histórias e lições, com uma linguagem leve e cadenciada, sem exageros nem invencionices, tão comuns nos livros que tratam de histórias populares. Não queremos criar histórias, fazendo o tipo de marketing pernicioso que norteia muitos autores e editoras, para os quais a mentira é justificada, pois sua meta é vender o produto. A nossa meta é outra: queremos levar ao mundo a história dessa escola ma-
ravilhosa e do povo que a construiu e a constrói, dia a dia. Nosso compromisso é com eles e com a verdade dos fatos. Por isso, além de ouvirmos os depoentes, checamos as informações, dentro do possível, com documentos e outros meios de confrontação. Além disso, porque estamos desenvolvendo um conceito novo na publicação, que amplia a abordagem para falar um pouco da história da baixada fluminense e do próprio município de Nilópolis, convidamos para colaborar conosco o pesquisador Ney Gonçalves de Barros, o principal historiador e especialista na história da baixada fluminense. Temos aprendido muito com ele e esse aprendizado tem tornado nosso projeto mais atrativo e confiável”, revela o editor do livro. Para seu Ary Rodrigues, presidente do Conselho Deliberativo da agremiação e um dos mais antigos integrantes da escola: “a produção desse livro é algo muito importante porque fará a rapaziada nova saber o que era a Beija-Flor de Nilópolis. Temos história, mesmo quando não éramos campeões, tínhamos muitas boas histórias. O livro vai resgatar a lembrança de grandes nomes da escola, esquecidos ou desconhecidos da maioria das pessoas, como o Mestre Esquisito; um senhor Mestre de Bateria. Sua Bateria era composta de 18 ritmistas e com o apito ele manobrava os 18 com a maior segufevereiro 2006
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rança e ritmo. O livro vai lembrar algumas curiosidades que vivemos. Lembro do Negão da Cuica, um cara excepcional, filho da Dona Eulália, e o nosso cozinheiro na quadra. Tem o Cabana, que além de amigo do Anízio, foi diretor de Harmonia da escola. Tinha o Edinho do ferro-velho que batia o bumbo, o irmao dele, que batia tamborim. O Heitor, que era uma pessoa muito boa, o Ellis Ferreira da Silva, que também ajudou a Beija-Flor de Nilópolis. São pessoas que fizeram a escola. Se estamos hoje onde estamos, devemos parte a eles. Ser Beija-Flor hoje é facil: duas vezes tri-campeã, várias vezes vice. Mas antigamente não era assim não. Me lembro do Nelsinho, em 1976, caçando as pessoas para saírem na Diretoria do carnaval. Não só vamos fazer justiça com essas pessoas, que construiram anonimamente a escola, mas vamos homenageá-las frente a seus familiares. Muitos guardam uma mágoa por esse desconhecimento. Acho que eles e todos nós da Beija-Flor de Nilópolis merecemos ter essas lembranças colocadas para o grande público. Afinal, a Beija-Flor de Nilópolis para muitos de nós é a nossa própria vida.”, conclui emocionado seu Ary. Diz Anizio: “Estou muito otimista com a produção do livro. Ele vai ser muito importante para pegar as histórias que até agora estavam restritas aos papos de botequim e lançá-las para o mundo. Vamos mostrar a força desse povo que, anonimamente, construiu a Beija-Flor de Nilópolis, a maior escola de samba do mundo.” (KL)
NEM O CÉU É O LIMITE Para quem gosta de um bom samba - novo ou chamado “do passado” -, vale a pena conferir o trabalho que está sendo desenvolvido pela Velha Guarda em conjunto com a Ala dos Compositores da Beija-Flor de Nilópolis. Segundo J. Veloso, um dos integrantes da Ala dos Compositores, “formamos um Grupo de Trabalho que realiza apresentações musicais em todo o país, cantando sambas antigos e atuais. São aproximadamente duas horas de show, começando com a Velha Guarda cantando diversos sambas conhecidos do grande público e terminando com a apresentação dos nossos cantores da Ala dos Compositores, que apresentam composições do grupo, muitas delas já gravadas no CD que a Ala está produzindo.” Uma das idealizadoras do trabalho, Débora Cruz comenta: “É um show lindíssimo. Além de o nosso pessoal dar um show de samba, contamos com o apoio do nosso querido Bira, puxador da escola no carnaval. As pessoas têm gostado muito dos nossos shows, a tal ponto que já fomos chamados para fazer apresentações em tradicionais redutos do samba na cidade do Rio de Janeiro, e fomos ovacionados em todos esses locais”, conclui, orgulhosa, a presidente da Velha Guarda. (KL)
INTEGRANTES DA VELHA GUARDA E DA ALA DE COMPOSITORES
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AGORA, É A VEZ DO TETRA Simão Sessim, deputado federal. Mais uma vez o mundo inteiro volta sua atenção para o Carnaval carioca, sem dúvida alguma o maior espetáculo de brilho e beleza da Terra. E também não há como não ficar encantado com o vôo da nossa querida Beija-Flor, que este ano mergulha nas águas cristalinas de Poços de Caldas, nas Minas Gerais, batendo asas rumo à Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, em busca do tetracampeonato das escolas de samba do Grupo Especial. A exemplo do que escrevi, ano passado, neste mesmo espaço, repito: não será surpresa para ninguém se a Beija-Flor deixar a passarela, agora, em 2006, mais uma vez consagrada pelo povo e pelo corpo de jurados, o que confirmará a superioridade da garra de seus componentes nesta guerra deslumbrante de plumas e paetês, que, sem dúvida alguma, ornamentam também a nossa alma e o nosso espírito carnavalesco. Ninguém duvida, a Beija-Flor é antes de tudo uma escola de vida, que faz da responsabilidade social a sua grande marca. É o espírito da solidariedade humana inspirada em tia Júlia, a grande matriarca da família Abrão David, que fornece o oxigênio da vida de glórias desta agremiação. Somos todos um só coração azul e branco, como as cores do céu e das nuvens, perto de onde voa a exuberante Beija-Flor de Nilópolis. Antes de pisar na passarela da glória, dos refletores e aplausos, a Beija-Flor combate as injustiças sociais e promove a inclusão dos menos favorecidos da comunidade de Nilópolis, que a viu nascer e crescer e que hoje, não à toa, a venera e a reverencia como protetora e amiga. Ágil e irrequieta em suas lindas e variadas cores, tal qual um pássaro, a nossa Beija-Flor também encanta o mundo através de admiráveis coreografias que desenha ao longo da avenida. Por isso mesmo, promete outra vez deslumbrar a passarela do samba, voando sem parar, em todas as direções, como um míssil alado, mostrando, assim, para toda a humanidade, o grandioso e verdadeiro valor das águas e o quanto a vida do planeta depende de sua preservação. A mensagem de paz, amor e prosperidade, criada pela Comissão de Carnaval, representada por Laíla, Cid Carvalho, Fran-Sérgio, Shangai e Ubiratan Silva, haverá de sacudir a passarela da Sapucaí, que vai se encantar também com o bailado do mestre-sala Claudinho e de sua porta-bandeira Selminha Sorriso; com o grito de guerra de Neguinho; o ritmo vibrante a cadenciado da bateria dos mestres Paulinho e Plínio, e a vibração de todos os componentes na passarela. Não temos dúvida, o desfile da BeijaFlor neste domingo de Carnaval vai encantar a todos, porque será também um mergulho nas águas da reflexão, como assim sugere o enredo “Poços de Caldas Derrama Sobre a Terra Suas Águas Milagrosas – Do Caos Inicial, à explosão da Vida – Água – a Nave-Mãe da Existência”. Mais uma vez, louvo com orgulho o empenho, a dedicação e o amor que a diretoria, nas pessoas de Farid e Anizio Abrão David, dispensa à Beija-Flor de Nilópolis, fazendo da escola de samba mais querida do Brasil e do mundo o divã para a nossa reflexão sobre quem somos e o que queremos para os nossos irmãos na passarela da vida. Deputado Simão Sessim
RESPONSABILIDADE
SOCIAL
A questão da responsabilidade social empresarial não é um assunto recente na nossa sociedade. Em 1920, Henry Ford já defendia que as empresas tinham de assumir responsabilidade sobre os impactos de suas atividades. Antigamente, bastava às empresas oferecerem bons produtos, serviços e tratarem de forma ética os seus funcionários para obterem uma boa imagem no mercado. Com o tempo, as empresas começaram a ver que essas prioridades estavam ficando defasadas, afastadas da realidade, e que os critérios de sucesso incorporavam dimensões que iam muito além da organização econômica e que se encontravam ligados à vida social da organização. Paralelamente, os consumido-
res começaram a ficar cada vez mais conscientes e a cobrar das empresas uma postura mais pró-ativa no desenvolvimento social do país. Nesse novo contexto, a responsabilidade social empresarial surgiu como uma importante ferramenta de gestão e diferencial competitivo para as empresas. A responsabilidade social é vista como um conjunto de ações que contribuem para que haja uma melhoria de qualidade de vida de uma sociedade. Ações estas que acabam tornando a empresa parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social.
Uma organização que se assume como socialmente responsável não deve considerar os seus funcionários como meros membros da organização, mas sim como sócios dela mesma. Para isso, a organização teve ter a preocupação de investir em formação e profissionalização, preocupar-se com as condições de trabalho que oferece, valorizar as competências individuais e facultar o acesso à informação. Muitas organizações dizem ser socialmente responsáveis, quando na verdade apenas participam de ações esporádicas em determinadas épocas, como as campanhas do agasalho, no inverno, e da coleta de brinquedos, no Natal. Para o Instituto Ethos, uma organização não-governamental criada em 1998 com o objetivo de sensibilizar e ajudar as empresas a direcionarem os seus negócios de uma forma responsável, a chamada responsabilidade social empresarial, “a empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir, compreender e satisfazer as expectativas e interesses legítimos de seus diferentes públicos (funcionários, fornecedores, consumidores, poder público, comunidade, acionistas e meio-ambiente), incorporando-os no planejamento de suas atividades". Para que as empresas incorporem este conceito, o Instituto Ethos tenta mobilizar o setor privado com palestras, eventos e cursos. Hoje, os negócios baseados em princípios socialmente responsáveis não só cumprem rigorosamente suas obrigações legais como vão mais além. Por ser uma forma de gestão, depende de uma decisão voluntária da empresa. Citando uma frase do presidente
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do Conselho do Instituto Ethos, Oded Grajew, "Uma empresa socialmente responsável é, antes de tudo, uma empresa que quer ser assim". Essa nova visão sobre o mundo dos negócios tornouse um fator de competitividade para as empresas e vem crescendo no nosso país. Além de contribuir para o desenvolvimento social do Brasil, a gestão em responsabilidade social promove diversas vantagens para as empresas, como a redução e remissão dos custos e passivos ambientais e trabalhistas, acesso a fontes de financiamento e investimentos condicionados à Responsabilidade Social Coorporativa (fundos éticos nacionais e internacionais) e credenciamento da empresa para entrar em índices de bolsa como o Dow Jones Sustainability Index - primeiro indicador da performance financeira das empresas líderes em sustentabilidade em nível global, lançado em 1999. Outra instituição preocupada com a questão da responsabilidade social é o Sistema FIRJAN. O Sistema FIRJAN é composto por cinco Instituições que trabalham de forma integrada para o desenvolvimento da indústria fluminense. Juntas, FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), CIRJ (Centro Industrial do Rio de Janeiro), SESI (Serviço Social da Indústria), SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e IEL (Instituto Euvaldo Lodi) promovem ações a fim de garantir uma posição de destaque para o estado no cenário nacional, nos níveis político, econômico e social. O Sistema FIRJAN criou uma rede de responsabilidade social para atuar em todo o estado do Rio de Janeiro, com a missão de conscientizar, motivar e orientar as emprewww.beija-flor.com.br
sas para a prática continuada e crescente de responsabilidade social, considerando-a como uma estratégia de crescimento e longevidade, de apoio ao desenvolvimento integral do estado do Rio de Janeiro e de contribuição às políticas públicas do País. A assessoria oferecida às empresas está relacionada com informação e mobilização sobre a temática da responsabilidade social e com o desenvolvimento e monitoramento de projetos sociais. De acordo com o dr. Valmir Pinheiro, Coordenador do Núcleo Regional de Responsabilidade Social da FIRJAN em Nova Iguaçu, a questão da responsabilidade social surgiu “a partir do momento em que se começou a entender que as grandes diferenças sociais passaram a ser responsáveis pelos grandes conflitos sociais. Verificou-se então políticas sociais no âmbito das empresas, para que fossem desenvolvidas como forma de melhor distribuir o resultado”. Para o Coordenador, a questão da responsabilidade social visa essencialmente, “melhorar a qualidade de vida das comunidades carentes no entorno no negócio da empresa”. Para isso, apenas é “necessário que a empresa tenha vontade de assumir esse papel na sociedade”. O sucesso dessa postura empresarial “ é garantido, pois o colaborador orgulha-se com os gestos dos seus gestores, até porque, em algum momento, ele se coloca na posição do outro.” Ainda segundo o dr. Valmir Pinheiro, o Sistema FIRJAN – Nova Iguaçu “tem manifestado uma preocupação constante em mostrar ao empresariado, de modo geral, a importância de seu papel na sociedade e particularmente na Regional 1, que compreende os municípios que vão de Nova Iguaçu até Mangaratiba. Ao longo de dois anos, temos nos dedicado a divulgar as práticas sociais de algumas empresas e a orientar as empresas relativamente aos benefícios dessas práticas, como também temos realizado várias palestras, indicando os amparos legais previstos em lei, bem como sua abrangência, cabendo ainda informar que, para a prática de tais ações, não se determinam limites e que já contamos com varias ações em desenvolvimento”. Para Luís Hagen, do Departamento de Assessoria de Comunicação da FioCruz, empresa preocupada em promover a área de saúde, o desenvolvimento social e gerar e difundir conhecimento cientifico e tecnológico, uma empresa responsavelmente social “é uma empresa que entende onde ela está inserida na sociedade e sabe o modo de agir para influenciar positivamente, tanto para conseguir ganhos próprios como
para a sociedade”. Na FioCruz esta política passou a ser organizada de uma forma mais pontual por uma funcionária, através da criação de uma Assessoria de Comunicação; assim, as ações criaram um caráter mais estratégico. De acordo com Luís Hagen, uma dessas ações da empresa foca o Bio-Manguinhos, que se encontra inserido numa região bastante pobre. Assim, “ criou-se uma cooperativa com os moradores da região que trabalham na empresa. Com ações de responsabilidade social como cursos, campanhas e outros, a qualidade de vida dos moradores tende a melhorar, e com isso ganha também o local que as emprega”. Para ele, “ qualquer ação da empresa visando a uma conduta responsável perante a sociedade deve ser baseada em pesquisa. A intenção não é apenas agir responsavelmente, mas influenciar a sociedade. Agir com um plano apenas para lavar as mãos é gasto de tempo e dinheiro. Cada região e comunidade exigirá tempo e planejamento para conseguir um resultado positivo das ações.” Hoje, o conceito de responsabilidade social não é mais uma questão de opção, mas sim de sobrevivência corporativa a longo prazo, que faz da comunidade um lugar melhor para se viver. (AB)
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RESPONSABILIDADE SOCIAL: UM CONCEITO PRATICADO HÁ MUITO TEMPO EM NILÓPOLIS
Sem conhecer o pensamento de Henry Ford, muito menos buscando aproveitar qualquer benefício fiscal, os dirigentes da Beija-Flor de Nilópolis foram categóricos em dar ao futuro cidadão de sua cidade o direito à educação, cultura e dignidade. Para isso, não pouparam esforços os irmãos Abrão David. Filhos de um casal comprometido com o bem social, Anizio Abrão David e seus irmãos cresceram vendo o exemplo dos pais, “seu” Abrão e dona Júlia. Sempre solidários com os vizinhos, dividiam o que podiam com pessoas ainda menos favorecidas, sem esperar recompensa. Esse exemplo familiar despertou uma importante noção de responsabilidade social nos filhos de dona Júlia, culminando na inauguração da Creche Casulo I Beija- Flor, voltada para atender crianças de seis meses a seis anos. Atualmente, a Creche se chama Júlia Abrão David, numa homenagem à matriarca da família. A Creche foi criada com a preocupação de solucionar uma constante aflição da comunidade: fazer com que os pais nilopolitanos pudessem ir tranqüilos para o trabalho, deixando seus filhos sob o cuidado de uma instituição séria e com profissionais capacitados e dedicados que deles cuidassem. Inicialmente, 70 crianças eram atendidas na Creche. Logo ficou claro que esse número de vagas não seria suficiente para atender ao número de pais que procuravam matricular seus filhos. Pouco a pouco, Creche foi crescendo. Hoje em dia, são atendidas diariamente cerca de 250 crianças, com faixa etária entre seis meses e seis anos. Elas recebem um atendimento carinhoso e completo: quatro re-
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feições diárias, uniformes, assistência médica e odontológica, além da base para começar a alfabetização. A Creche foi planejada para que a criançada pudesse passar boa parte do dia envolvida em atividades. Para isso, a Creche Júlia Abrão David é equipada com berçário, salas de aula e vídeo, refeitório e cozinha. Para cuidar dos alunos, trinta funcionários se revezam em dois turnos, sempre atentos e preocupados em oferecer tudo do bom e do melhor. Como o objetivo é atender às famílias que realmente necessitam dessa ajuda, a Creche seleciona seus candidatos. Para as crianças ingressarem nela, a família tem que comprovar uma renda de até três saláriosmínimos mensais, além de a mãe trabalhar fora. Mas os requisitos não são rígidos, principalmente no caso de a mãe estar desempregada: “Às vezes acontece da mãe não ter emprego. Encaminhamo-las para os cursos profissionalizantes, para desenvolver uma hawww.beija-flor.com.br
bilidade e depois ter mais chance no mercado”, afirma Maria de Lourdes Goulart, diretora da Creche. Os cursos aos quais a diretora se refere são oferecidos no Centro de Atendimento Comunitário Nélson Abrão David, dirigido por Aroldo Carlos. Alguns anos mais tarde, em 1987, foi criado o Educandário Abrão David, para dar continuidade ao trabalho desenvolvido na Creche. Afinal, um trabalho de base tão produtivo não poderia ficar restrito só à infância, mas deveria acompanhar a criança em sua formação. Isso tudo de nada adiantaria se essa estrutura acompanhasse as crianças apenas até os seis anos. Quando completam os estudos na Creche, as crianças são diretamente encaminhadas para o Educandário Abrão David. Isso torna desnecessárias as filas de matrícula, além de garantir o padrão do ensino. No Educandário são atendidos 876 alunos. Lá, todo o ensino fundamental é oferecido, são turmas que vão desde a classe de alfabetização até à oitava série e que funcionam em dois turnos, de manhã e à tarde. O Educandário é considerado por pais e professores como uma das melhores escolas de toda a baixada fluminense. Prova disto são as filas de pais de crianças que se formam com o objetivo de matricular seus filhos. Segundo Cleiton Machado, administrador do Educandário, o prestígio da escola é fruto da qualidade do ensino e da estrutura oferecida. “Um ensino de qualidade integrado ao mundo e com a cobrança de boas notas é a nossa proposta. Não queremos apenas formar estudantes preparados para o mercado, mas ensinar a viver de forma digna. O que temos aqui, inegavelmente, é uma escola para a vida”. E uma escola para a vida sem discriminações. O Educandário é aberto àqueles que queiram estudar, independentemente de serem ex-alunos da Creche ou não. “Temos crianças com os mais diferentes níveis sociais. Isso não é o que nos importa, mas que elas saiam daqui sabendo. Não somos apenas uma escola para crianças carentes, somos e continuaremos a ser uma escola que oferece ensino de qualidade”, completa Cleiton. A única coisa melhor do que contar com profissionais competentes é saber que estes são apaixonados pelo que fazem. No Educandário isso
acontece. O amor pelo trabalho e a recompensa de ver as crianças aprendendo cada dia mais é o que faz com que a escola conte com um corpo docente tão qualificado. Solange Coelho é professora de uma das turmas da quarta série, e confessa: “O ensino e o cuidado que todos nós temos com as crianças e seu aprendizado é o diferencial da escola. Aqui não ensinamos apenas as disciplinas tradicionais, mas queremos que nossos alunos saiam sabendo pensar, não só com a matéria na ponta da língua.” Os laços afetivos também são muito fortes, pois o crescimento das crianças é acompanhado desde o início: “Me sinto uma segunda mãe dessas crianças”, conclui Solange. Aluna por nove anos do Educandário, Alessandra Castro, 26 anos, é prova da qualidade, continuidade e competência da proposta pedagógica e educacional da escola: “Tudo que sei, aprendi aqui”. Hoje ela figura como uma das auxiliares de secretaria. “É maravilhoso trabalhar no lugar onde cresci e aprendi tanta coisa, minha vida foi se construindo dentro do Educandário”. Ela diz que todos os seus quatro irmãos também freqüentaram o Educandário: “Meus pais sabem que aqui não tem moleza, tem que estudar mesmo para poder passar de série”. As famílias agradecem ao empenho que a família Abrão David tem com suas obras sociais. Márcia Lane é mãe de duas alunas do Educandário, Naila, na primeira série, e Laila na quinta. Ela afirma: “O ensino daqui é maravilhoso, de primeira qualidade mesmo. Eu já trabalhei aqui e queria muito que as minhas filhas pudessem receber esta educação. Sei que posso ficar tranqüila, pois elas terão tudo de que precisam para aprender”. Márcia conta que a sua filha mais velha estudava numa escola particular antes de ir para o Educandário, mas não se fevereiro 2006
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arrepende da mudança: “Aqui ela aprendeu muito mais coisas que lá”, completa. O apoio social à comunidade não pára por aí. A família Beija-Flor também mantém o Centro de Atendimento Comunitário (CAC), em funcionamento na antiga quadra da escola. O Centro leva o nome de seu idealizador, Nelson Abrão David. Com uma parceria entre o SENAI e o SENAC, o CAC oferece cursos profissionalizantes nas mais distintas áreas do conhecimento. Cursos como administração, informática, bombeiro hidráulico, inglês, espanhol, artesanato e pintura são alguns dos mais procurados no Centro. Segundo Aroldo Carlos, coordenador do CAC, “Nosso objetivo é qualificar adolescentes e adultos que não tiveram ou não têm chances de desenvolver seus talentos para o mercado. Muitos deles, depois de participarem dos cursos, já saem empregados. É mais uma oportunidade de aprendizado, especialização e qualificação melhor para ingressar, se manter ou retornar ao mercado de trabalho. Muito mais importante que um programa assistencialista é fornecer reais condições ao cidadão de manter sua dignidade e trabalhar honestamente.” São obras mantidas pela agremiação, há mais de duas décadas, que têm contribuído para a construção da dignidade e do respeito que o povo da baixada merece. De acordo com Fabíola David, “As obras sociais da Beija-Flor são muito importantes para as pessoas que se beneficiam
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delas. Por isso, sinto muito orgulho desse trabalho. Mas acho importante que essas obras sejam divulgadas para todos. Não com o objetivo de supervalorizar as pessoas que dirigem ou mantêm a Creche, o Educandário e o CAC, pois a promoção pessoal não é a nossa motivação. Basta ver que a creche existe desde 1980. E quantas vezes as pessoas viram no jornal, na televisão ou em qualquer outro veículo de comunicação uma reportagem sobre esse trabalho? São quase 26 anos e pouquíssima divulgação. E mesmo assim o trabalho se manteve por esses anos. Isso é uma prova inquestionável de que a motivação para a realização do projeto não era a promoção pessoal. Somente depois que a agremiação começou a produzir sua revista é que, de uma maneira mais ampla, o trabalho da Creche, do Educandário e do CAC começou a ser conhecido. E essa divulgação é muito importante. Não somente para a Beija-Flor de Nilópolis, mas para a própria sociedade. Para que ela possa fazer um contraponto a tudo que vê nos veículos de comunicação. Divulgar nossa obra é mostrar que é possível que as pessoas se juntem e promovam mudanças em fa-
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vor dos outros, sem esperar pelo Poder Público. Existe muita miséria, ignorância e sofrimento que pode ser minimizado por iniciativas pessoais e de grupos de pessoas. E o grande mérito da Beija-Flor é ter começado esse trabalho há mais de 25 anos atrás e nunca ter suspendido qualquer benefício, nunca ter se atrelado a questões temporárias que pudessem retardar essa trajetória.” Anízio, principal provedor dos trabalhos sociais da Beija-Flor de Nilópolis, conclui com um convite a todos os leitores da revista: “O trabalho que a Beija-Flor desenvolve em Nilópolis não só é fundamental para o desenvolvimento dessas crianças, mas é um exemplo que deve ser seguido. Não dá para medir o ganho social de ações como essa. Se a gente pensar do ponto de vista da criança e do jovem, e também de seus familiares, a dimensão do trabalho da Beija-Flor se torna maior ainda. O que estamos oferecendo a essas
A FORÇA DA NOVA GERAÇÃO Segundo Abraãozinho, diretor social-recreativo da agremiação, "nossa família está há muito tempo envolvida no trabalho social da Beija-Flor. Com isso, mais dia menos dia, os mais jovens da família começam a se aproximar das atividades e a se colocar à disposição do tio Anízio para colaborar com as obras. É uma tendência natural da nossa família. Quando me aproximei, vi que as necessidades mais ligadas à infra-estrutura estavam sendo atendidas pelo tio Anízio com a eficiência de sempre. Vi, no entanto, que existem problemas e questões rotineiras, bem do dia-a-dia, que não caberiam ser resolvidas pelo tio Anízio. Coisas que parecem pequenas para incomodar um homem importante como o tio Anízio, mas que, apesar disso, são importantes para o bom funcionamento das atividades. Por isso, procurei dona Maria de Lourdes, da Creche e do Educandário, e o Aroldo, do CAC, e coloquei para eles a minha disposição de ajudar nas questões rotineiras. Administrar uma obra do tamanho das obras da Beija-Flor não é uma tarefa simples. E eles promovem uma luta para as coisas saírem da melhor maneira. E nós todos reconhecemos o valor dos dois. Por isso, sempre que posso, procuro por eles, para ver se estão precisando de alguma coisa que esteja ao meu alcance fazer. A gente fica sabendo das necessidades e busca alternativas para resolver esses problemas. É a minha maneira de contribuir com essa obra que tem ajudado tantas crianças e famílias."
crianças é a oportunidade de construírem para elas um futuro digno. Um futuro que lhes dê orgulho. E aos seus pais, além da possibilidade de verem seus filhos crescerem e trabalharem em empregos dignos, o que já é uma felicidade para um pai e uma mãe, estamos dando a eles uma velhice tranqüila, uma justa velhice tranqüila, depois de tantos anos de luta para criar suas crianças. Eu não canso de repetir: vão lá! Conheçam o trabalho que a Beija-Flor de Nilópolis faz. Só assim vão poder entender do que estamos falando.”(SV / RDF)
Quem quiser agendar uma visita para conhecer as obras sociais da Beija-Flor de Nilópolis, ligue para (21) 2691-2769 para falar com a Creche e o Educandário. e (21)3760-0108, para falar com o CAC. Ambas as insituições funcionam em Nilópolis, a 40minutos da cidade do Rio de Janeiro.
Na linha de pensamento da família Abrão David, Ricardo Abrão, vice-presidente social da agremiação, concebeu e desenvolveu o Expresso da Saúde, “um projeto que oferece odontologia, clínica geral e pediatria de forma itinerante em algumas regiões de Nilópolis e da baixada. O projeto oferece à população que não é atendida na Creche, no Educandário e no CAC uma alternativa móvel, indo nas comunidades mais carentes. Além disso, com todo o apoio da família Abrão David, desenvolvi um importante projeto, chamado "A Caravana do Cidadão", que, também de maneira itinerante, sai pelo município e estaciona em um ponto de grande concentração para oferecer diversos serviços em parceria com empresas e instituições ligadas à saúde, como por exemplo o exame da glicose. O resultado tem sido bastante favorável, e a população, além de reconhecer nosso esforço, tem comparecido e gostado muito dessa iniciativa.” Segundo Ricardo, “desenvolver ações sociais é uma iniciativa muito importante, e nos faz crescer muito como pessoa. O lado mais incômodo é que o trabalho não acaba, o que significa que ainda temos muitos brasileiros passando por dificuldades. E porque esse trabalho nunca termina, decidi ir mais além. Recentemente criei uma ONG que irá estender nosso trabalho social até a Pavuna, implantando inicialmente ações ligadas à saúde, com atendimento clínico geral, pediatria e odontologia. Além disso, estaremos abrindo cursos de informática, e, em breve, contando com a parceria do Senac, cursos de mecânica e cabeleireiro.” (KL) fevereiro 2006
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A FORÇA DA NOVA GERAÇÃO Quando o assunto é atividades sociais da Beija-Flor de Nilópolis, somos naturalmente remetidos às atividades da Creche, do Educandário e do CAC, atividades que compõem, inegavelmente, o tripé moral e social da agremiação. No entanto, ligados à escola, diversos outros colaboradores e profissionais dão a sua cota de dedicação à construção do estado de bem-estar social. Com o objetivo de divulgar as ações desses colaboradores anônimos, procuramos o dr. Marcelo Sessim, médico especializado em otorrinolaringologia (ouvidos, nariz e garganta), que, há quase duas décadas, oferece seu conhecimento científico e profissional aos moradores de Nilópolis e da baixada fluminense. Casado com a médica Alessandra e pai de Nathalia, de 11 anos, e Marcelinho, de sete, Marcelo Sessim é uma pessoa simples, mas de hábitos finos. Conversador, além de se expressar muito bem e de maneira ordenada, Marcelo nunca perde o fio da meada, o que tornou nosso trabalho agradável e fácil de ser realizado. Revista – Segundo seu pai, o Deputado Federal Simão Sessim, durante o seu curso de Medicina você estudou em Cambridge, na Inglaterra. Enquanto tantos tentam sair do país em busca de uma oportunidade, por que você voltou para o Brasil? Marcelo – Sempre fui muito dedicado aos estudos e sonhava em me preparar para uma pós-graduação no exterior. Tive a felicidade de estudar na Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma das mais conceituadas do país. A Faculdade foi o estímulo para conhecer a berço da medicina mundial, a Inglaterra. Lá, longe do Brasil, naqueles momentos em que você está sozinho planejando a sua vida, pensei: o que estou fazendo aqui? Sei que tenho que ser médico, e vou ser. Mas tenho que ser um bom médico na minha cidade, porque é ali o meu lugar. Pensei nas pessoas que direta e indiretamente apostaram em mim. Com tudo isso passando pela minha cabeça, não tive dúvida: tinha que voltar para Nilópolis. De volta ao Brasil, terminei o curso de medicina, me especializei em Otorrinolaringologia na Clínica Prof. José Kós e, mais uma vez, tive a felicidade de conhecer os mais renomados professores do país. Foi nesse momento que comecei a consolidar o meu sonho de levar para a baixada fluminense, e mais especificamente para Nilópolis, um padrão de atendimento dentro da otorrinolaringologia idêntico ao utilizado nas clínicas da zona sul do Rio de Janeiro. Assim, inaugurei o meu consultório no mesmo lugar de meu tio Jorge David, primeiro médico da cidade. Ao mesmo tempo em que a medicina evoluía, me dedicava em trazer novos exames complementares para a cidade. Fui o pioneiro de quase todos os exames na região (audiometria, endoscopia do nariz e da laringe, exame do labirinto). Hoje posso afirmar,
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sem nenhuma dúvida, que realizei meu sonho: todo cidadão de Nilópolis e da baixada tem um consultório à altura da sua importância e do respeito que merece. Além disso, buscando mobilizar meus colegas de profissão para que dessem a sua contribuição ao desenvolvimento da baixada, sempre procurei mostrar para eles que a baixada fluminense – uma região com aproximadamente dois milhões e meio de habitantes – era, e ainda é, uma região que carece de uma estrutura e de uma política voltada para a prevenção e tratamento dos problemas ligados a ouvidos, nariz e garganta. E exatamente porque nossa cidade ainda carece de uma infra-estrutura, estou aproveitando o fato de ser um dos integrantes da Comissão de Política Pública de Saúde da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, com sede em São Paulo, para trabalhar pela implantação de um importante projeto. Diga-se de passagem que é uma honra ser o único representante do Rio de Janeiro nessa comissão, e Nilópolis está representada. Mas, voltando ao projeto, vamos somar forças, eu na Sociedade Brasileira, meu pai, deputado Simão Sessim, no governo federal, meu primo Ricardo Abrão no governo do estado, e meu tio, Prefeito Farid Abrão, no âmbito municipal, para i n c l u i r Nilópolis no Programa Nacional de Surdez, que tem a BeijaFlor como a madrinha do projeto. Sempre que precisamos, o tio Anizio apóia www.beija-flor.com.br
a nossa sociedade, a meu pedido, nos nossos eventos, enviando a escola sem custos para a sociedade, e com essa parceria vários colegas desfilam conosco na escola. Existe uma afinidade grande entre a Beija-Flor e a comunidade médica pelo constante apoio em causas sociais. Revista – Além de fazer esse importante trabalho, de conscientização dos profissionais da área, e de oferecer um atendimento de qualidade ao cidadão da baixada, qual a sua atuação na Creche, no Educandário e no CAC? Marcelo – Apesar de fazer parte do Conselho da BeijaFlor de Nilópolis, minha atuação dentro da família BeijaFlor é bem mais voltada à minha especialização. Acredito que cada um deve dar a sua parcela de contribuição à agremiação, de acordo com o seu potencial pessoal e profissional. Eu, como médico, tenho certeza de que minha atuação em favor dessas crianças e desses jovens é nesta área. Por isso, além de atuar como médico da creche , do educandário do CAC, atendendo as necessidades de seus alunos, atendo inúmeros casos que me são trazidos pelo meu pai, Simão, pelos tios Anízio e Farid, pelo meu irmão, Sérgio Sessim, e pelos meus primos Ricardo e Abraãozinho. Em todos os casos procuramos ajudar os pacientes no que precisam. Nesse sentido, quero abrir um parêntese para destacar a importância que tio Anizio tem nessa história toda: na grande maioria das vezes, ele mesmo, sabendo do caso e da necessidade do paciente, faz a doação dos aparelhos de surdez para essas crianças. Tio Anízio não deixa passar o problema sem resolver. Com isso, resolvemos muitos problemas e evitamos que outros problemas maiores surjam e atrapalhem a vida dessas pessoas. Afinal, os problemas ligados a otorrinolaringologia em muitos casos inviabilizam uma vida normal. O que fazemos é oferecer aos que chegam até nós uma oportunidade de terem uma vida normal. Revista – Sua família exerceu influência decisiva na sua vida? Marcelo - Cresci em uma atmosfera de forte devoção à família e à cidade de Nilópolis. Ainda criança, via como meu pai, como deputado federal, tinha a cidade de Nilópolis como prioridade nas suas legislaturas. Ao lado disso, observava a mesma dedicação que meus tios Anizio e Nelson tinham com a cidade, dedicando seus esforços em tornar o povo da cidade mais feliz. Por isso, é inegável a influência que meu pai e meus tios exerceram sobre mim. Eles tiveram uma atuação decisiva na minha forma de ver a minha obrigação social. Pelo exemplo deles, pude entender que o primeiro lugar aonde deveria levar os meus serviços profissionais era na cidade que me recebeu para a vida e que me acolheu na infância, a mim e a todos os meus familiares. Entendi que tinha uma missão: dedicar minha vida, através da minha profissão, a esta cidade. E é o que venho tentando fazer.
MARCELO SESSIM Revista – Qual o papel que você vê para a nova geração da Família Sessim/David? Marcelo - Ainda pequeno, via como o meu pai, Simão, e minha mãe, Schirley, tratavam as pessoas da cidade que nos procuravam, na casa em que meu pai mora até hoje em Nilópolis. Cresci com essa visão de responsabilidade social. Hoje, falando no futuro da família, fica muito claro que o papel da nova geração da família é dar continuidade ao que meu pai e meus tios Anizio e Farid estão fazendo pelo nosso povo. A diferença é que nós fomos criados em uma época com mais informação, em que a cultura e o conhecimento são importantes instrumentos de ação e realização. Com isso, vamos poder dar continuidade ao que tem sido feito, mas com alguns diferenciais. É a evolução natural da vida. E estamos prontos para assumir o nosso papel nesse processo. Eu, meu irmão Sérgio e meus primos nos colocamos à disposição da população de Nilópolis e da baixada para oferecer a eles uma melhor qualidade de vida. (RDF)
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EXPRESSÃO DO SAMBA PREMIA TALENTOS A SERVIÇO DO CARNAVAL Quando a presidência de Beija-Flor de Nilópolis e a editoria de revista instituíram o prêmio “Expressão do Samba”, tinham um sentimento de que, mais cedo ou mais tarde, iriam revelar seu reconhecimento a três contemporâneos que ratificaram a identidade da agremiação: a Laíla, diretor de Carnaval e harmonia da escola de Nilópolis, que revelou para o Brasil o sentimento de orgulho, cantado pelos integrantes da Beija-Flor de Nilópolis, nos versos de Cabana/ Osório Lima, “sou de Nilópolis.....”, que toda a comunidade tem por sua cidade, fazendo-o explodir em alegria e raça na Passarela; ao mestre Paulinho, que dá alma ao conjunto, provocando o corpo e a alma da galera, na pista e na arquibancada, à frente da sua bateria nota 10, com a qual impulsiona a escola na trajetória das conquistas e alegra o coração do povo com seu ritmo contagiante, fazendo o canto da Beija-Flor se soltar da boca de cada um; a Neguinho da Beija-Flor, a voz oficial da Beija-Flor de Nilópolis e destaque do Carnaval brasileiro, seguindo a inspiração do seu talento singular. E, quando se fala em Samba e Carnaval, não se pode esquecer de artistas como Zuzuca do Salgueiro, Monarco da Portela e Nelson Sargento (da Mangueira), expressões da mais genuína cultura popular brasileira. Nelson Sargento. Sete fôlegos de talento e arte Nelson Sargento é o que se pode chamar de artista de sete talentos: violonista, compositor, cantor, escritor, ator e duplamente pintor. Primeiro, de paredes, e depois de quadros. Tocar violão aprendeu com Nelson Cavaquinho, na Mangueira, onde foi morar aos 14 anos, e, já sabendo cantar e compor, foi levado por Carlos Cachaça para a Ala dos Compositores da Estação Primeira, para quem compôs “As Quatros Estações”, que é considerado o mais bonito samba-enredo da Mangueira, de todos os tempos. Escreveu dois livros, participou de três filmes e de u m a minissérie, “Presença de Anita”, mas começou pintando paredes, como auxiliar de Alfredo Português, seu padrasto e parceiro de samba. Foi Sérgio C a b r a l quem descobriu Sargento para as artes NELSON SARGENTO
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plásticas e promoveu sua exposição de estréia. E o primeiro quadro foi adquirido por Paulinho da Viola, seu colega de samba e shows no Zicartola, legendário botequim de dona Zica e Cartola, que movimentou o Rio noturno no inicio dos anos 60, quando Sargento formou, com Paulinho da Viola e Zé Ketti, o conjunto A Voz do Morro, uma referência para o samba. Nascido Nelson Mattos, Nelson Sargento passou sua infância na Tijuca, morando com uma família de comerciantes portugueses, na casa de sua mãe, Rosa Maria da Conceição. Nos finais de semana, a mãe levava o filho para visitar a família no morro do Salgueiro. E Sargento, que é nome de guerra herdado da sua passagem pelo Exército nos anos 40, virou nome artístico, quando integrou o show “Rosa de Ouro”, do poeta e prod u t o r Hermínio Bello de Carvalho, época LAÍLA www.beija-flor.com.br
em que formou outro conjunto, “Os Cinco Crioulos”, juntamente com os sambistas Elton Medeiros, Anescar do Salgueiro, Jair do Cavaquinho e Paulinho da Viola. Seu primeiro disco só foi gravado em 1979, quando ele já tinha 55 anos. “Sonho de um sambista” inclui “Agoniza, mas não morre”, eleito um dos hinos da resistência cultural do samba carioca, gravado inicialmente por Beth Carvalho. Com Cartola, compôs pérolas como “Velho Estácio”, “Ciúme doentio” e “Deixa”, e, com Jamelão e Alfredo Português, Nelson fez “Cântico à natureza” (Primavera), de 1955. Artista dos sete talentos – violonista, sambista, compositor, escritor, ator e artista plástico –, podese dizer que Nelson Sargento é sete vezes uma Expressão do Samba. Laíla, ícone do Carnaval e Expressão do Samba “Não tenho bola de cristal para prever o futuro. Mas, se depender apenas do meu interesse, não saio mais da Beija-Flor", afirma Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, 61 anos, o Laíla, que é, sem dúvida, um símbolo da escola. Como um dos maiores entendidos em harmonia, coloca sua sensibilidade a serviço da melhor produção fonográfica do gênero: o CD dos sambas-enredos das 14 escolas do grupo especial. Além disso, empresta seu conhecimento sobre Carnaval a escolas de Norte a Sul, como consultor, diretor de harmonia e palestrante. O samba é a praia de Laíla desde os sete anos de idade, quando formou a escola mirim “Independente da Ladeira”, com bateria de latas pintadas e fantasias em papel crepom; aos 10 anos foi levado pela mãe – destaque da escola de samba tijucana “Depois Eu Digo” – para o Salgueiro dos nossos dias; aos 13, passou a ser o peão da harmonia, com a missão de impedir que a escola “atravessasse”; aos 14, era o mais jovem componente da Ala dos Compositores da vermelho e branco. Laíla é homem de pouca conversa e muita personalidade. Convidado por Anisio e Nelson, ele veio para o carnaval de 1976. Com a cabeça feita, a proteção de Oxalá e as bênçãos de Xangô, e com o pé direito, a escola partiu para a conquista do seu primeiro tricampeonato, 1976/77/78, com Laíla à frente. De todas as personalidades do Carnaval, Laíla é provavelmente o mais integrado e experiente da atualidade. Essa experiência, associada ao alto nível de confiança que conquistou dos diretores da agremiação nilopolitana, fez com que revolucionasse o conceito de concepção de Carnaval, criando a Comissão de Carnaval: “Qual é o carnavalesco que faz tudo sozinho?”
Mas Laíla foi além. Revolucionou ao apostar no gosto e na garra da comunidade. “A Beija-Flor é uma escola meio amadorística. Nós trabalhamos aqui porque botamos o coração na frente. A prioridade não é ganhar dinheiro. O que gera a energia da escola é o coração. É o coração dessa comunidade, que não ganha dinheiro ensaiando ou desfilando, que nos dá os campeonatos. E a premiação dessa comunidade é essa: estar na avenida representando a escola do coração. E para mim é isso que vale: o coração. É ele que nos leva para a frente e que nos transforma em pessoas felizes” – revela. É o bastante para reconhecê-lo e homenageá-lo como uma Expressão do Samba. Monarco, a mais nobre expressão do samba Antes de se tornar conhecido como Monarco, um dos compositores mais respeitados do mundo do samba, o carioca Hildemar Diniz, 72 anos, nascido em Cavalcanti, viveu sua infância em Nova Iguaçu. Depois foi morar em Oswaldo Cruz, e Nilópolis estava no caminho das suas visitas aos amigos e parentes que ficaram lá, o que o aproximou do ainda bloco azul-e-branco nilopolitano, quando conheceu seus fundadores e baluartes, como Cabana, Wilson Bombeiro e Osório Lima. “Eu vi a Beijaflor nascer e hoje ela está aí! E é uma escola que mobiliza muita gente que acredita, trabalha e ganha....” – conta. No ano seguinte, Monarco é reconhecido como o intérprete de voz única – “rascante como um vinho da melhor qualidade”, escreveu um crítico, – quando gravou seu grande sucesso, “O Quitandeiro”, uma parceria com Paulo da Portela. Depois vieram outros sucessos, como “Rancho da Primavera” (gravado por Clara Nunes), “Tudo menos amor” (Martinho da Vila), “Passado de glória” (Paulinho da Viola), entre outros. Monarco – postura elegante, roupa branca e chapéu de palha – se apresentou no projeto “Música de Raiz”, promovido pela Associação Brasileira de Impren-
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sa, onde o compositor trabalhou como office-boy. Tinha então 13 anos de idade e, entre outras tarefas, levava o noticiário para os j o r n a i s . Monarco lembra que também cuidava MONARCO do salão de bilhar: “Preparei muita mesa para o maestro Villa-Lobos jogar bilhar francês, não esse que a gente joga aqui.” Monarco e Tupi (Durval Tupinambá, amigo de infância que era engraxate no edifício) faziam muita farra durante o horário de trabalho. Farra que lhe deu um grande susto, na época: “Eu e o Tupi estávamos sambando no 11º andar, eu com uma vassoura e ele com uma lata, quando chegou o elevador que trazia o então presidente dos EUA, Harry Truman, e o dr. Herbert Moses, presidente da ABI, que nos deram um flagrante. Eu pensei que seria demitido, mas nada aconteceu.”
ganhou Estandarte de Ouro como melhor intérprete. Para quem recebeu duas latas de goiabada, durante um concurso de calouros em parque de diversões, cantando um samba do Jamelão, em quem sempre se espelhou como intérprete de samba, o mestre foi a escolha certa e o estandarte chegou bem. Cinco anos depois, Neguinho da Vala foi para Nilópolis, onde sua identidade artística ganhou um correspondente mais adequado. Na nova casa, Neguinho da Beija-Flor compôs os sambas que abriram e fecharam o ciclo do primeiro título da escola, “Sonhar com Rei dá Leão”, que puxou a escola em 1976, e "A criação do mundo na tradição nagô", em 1978. Daí, Neguinho deslanchou sua carreira dentro e fora da escola de Nilópolis, inclusive internacionalmente. É reconhecido como o rei do samba na França, Itália, Portugal e Espanha. Torcedor do Flamengo, Neguinho homenageou seu time com um belo hino, “O Campeão”, que desde os versos iniciais – “Domingo eu vou ao Maracanã/Vou torceu pro time que sou fã...” levanta a arquibancada em todos os estádios de futebol do país, unificando todas as torcidas, que sempre modificam uma parte da letra, adaptando-a ao seu time. Neguinho da Beija-Flor é uma expressão do samba internacional, nacional e nilopolitana.
Neguinho, nos braços da comunidade Nessas últimas três décadas, uma paixão selada pelo inconfundível bordão – Olha a Beija-flor aí, gente! – que coloca os integrantes da escola de prontidão nos ensaios e na concentração, minutos antes do desfile. É também um aviso ao povo que lota as arquibancadas da Passarela do Samba, o aviso de que vem aí sua escola, carregada, como ele, pela raça e emoção. Quase emplacando 31 anos de Beija-Flor, Neguinho diz que não existe segredo para manter a empolgação do pessoal na avenida: "A gente tem que gostar do que faz e estar com a voz em dia, o resto é a alegria dos componentes. Os puxadores têm que manter a euforia durante o trajeto na avenida: É uma responsabilidade muito grande estar representando a escola no desfile e, apesar da experiência, o nervosismo sempre existe." Neguinho nasceu Luiz Antonio Feliciano Marcondes, em Vila Isabel. Filho de Benedito Feliciano Marcondes, maestro e trompetista que trabalhou com a Orquestra Tabajara, foi bombeiro, percussionista e pistonista, mas preferiu a carreira de compositor e cantor. Dono de voz potente, começou como puxador de samba do bloco Leão de Iguaçu, em 1970, época em que era conhecido como Neguinho da Vala. Em 1972,
O acaso faz justiça: Mestre Paulinho é uma Expressão do Samba Paulo José Botelho atribui ao acaso tudo que fez e faz na vida, especialmente o fato de hoje ser uma expressão do mundo do samba, se é que se pode chamar de casualidade estar 21 anos à frente da bateria de algumas das principais escolas de samba do Rio. Mas ele explica: “É que as coisas acontecem comigo sem
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eu buscá-las”. Entretanto, foram seis anos regendo os ritmistas da Caprichosos de Pilares, quatro com a batuta à frente da Viradouro, dois comandando os percussionistas da Portela e, agora, emplacando nove anos como mestre da bateria da Beija-Flor de Nilópolis, com quem vem garantindo nota máxima no quesito, o que lhe outorga o título de bateria nota 10! Ele explica como consegue a proeza: “Me sinto totalmente seguro porque a administração da escola me dá poder de decisão. Faço o meu trabalho, a minha obrigação. Da mesma forma que toda a minha bateria faz”. Durante o ano todo, sua trupe é reverenciada em apresentações, que ele – como diretor de eventos – busca e incrementa, repartindo o bolo, fatiazinha que seja, com todos. A preocupação com seus comandados é constante, e deles cobra esforços. E o resultado na avenida encontra o reconhecimento de sua atenção. Já levou muitos deles para conhecer o mundo representando a escola e o Carnaval brasileiro. Ou mesmo para viajar pelo Brasil, fazendo shows especiais, mérito que, às vezes, estende às passistas, baianas, destaques e comissão de frente, com os quais compõe um excelente e aplaudidíssimo show. É persona grata em todos os cantos e lugares. Nas escolas de samba co-irmãs, não raro é convidado para pegar na batuta e comandar seus colegas. É dono de um carisma e de um sorriso franco, fazendo as pessoas se sentirem seus mais novos amigos de infância. Mestre Paulinho é, sem dúvida, uma grande expressão do samba! Zuzuca é mais do que diferente: é Expressão do Samba O slogan “o Salgueiro não é melhor nem pior, apenas diferente” encontra sustentação nos sambas-enredos de um dos seus mais representativos compositores: Adil de Paula, 69 anos, nascido em Cachoeira do Itapemirim, ES. Se não for pelo menos diferente, é um detalhe curioso que alguns dos grandes sambas que puxaram a escola pelo asfalto da Presidente Vargas, assinado por Adil, tenham um estilo incomum para o gênero e fiquem mais conhecidos por uma determinada palavra ou verso do refrão, do que pelo majestático título. “Festa para um Rei Negro”, por exemplo, de 1971, ficou mais famoso como “Pega no Ganzê/pega no ganzá”, e “Minha Madrinha, Mangueira Querida”, de 1972, se identifica como “Tengo, Tengo”. O melhor disso é que o Salgueiro foi campeão com a primeira e, com a segunda, registrou mais uma vez a decantada diferença que atribuem à escola. Não ganhou o Carnaval, nem
perdeu a pose: os sambas ficaram na boca do povo. E é claro que Adil não é outro senão Zuzuca. Zuzuca ingressou desse universo, através do Bloco Carnavalesco Independentes da Silva Telles, rua que dá ZUZUCA saída para o morro do Salgueiro, época em que o então mecânico de automóveis freqüentava as rodas de samba da Tijuca, bairro onde foi morar assim que chegou ao Rio, no início dos anos 50. Só em 1960 ingressou na Ala dos Compositores da Acadêmicos do Salgueiro, depois de puxar muita corda na avenida. Em 64, fez bonito com “Chico-Rei”, samba que o projetou nacionalmente; dois anos depois, com Bala (que também é “Expressão do samba”) e Nilo, compôs “Amores Célebres do Brasil”, e nos anos 80 emplacou “O Bailar dos Ventos, Relampejou, mas não Choveu” e, embora afastado “desse mundo” Zuzuca é taxativo: “Acho o Carnaval a coisa mais linda que existe, ainda mais aqui no Rio de Janeiro. O carnaval é onde o povo pode expandir sua alegria, se entregar de corpo e alma. É uma festa popular!” Zuzuca é uma “Expressão do Samba”. Lisonjeado sempre que seu nome é lembrado, ele, que é colecionador de prêmios e vitórias, recebe essas homenagens como um incentivo. “É a confirmação do seu trabalho, do seu sacrifício, e saber que você criou alguma coisa e que agora é reconhecido, valoriza aquilo que você fez” – define o compositor. (ML)
O TROFÉU EXPRESSÃO DO SAMBA Com o objetivo de promover e contribuir com o desenvolvimento cultural regional, a revista “Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida” convidou o artista plástico Lobão, residente em Poços de Caldas, para desenvolver o Troféu Expressão do Samba 2006. Através do Troféu, produzido em rocha vulcânica, Lobão nos dá a dimensão da capacidade criativa do brasileiro. Contatos. (35) 9813-2153 versão em inglês: www .beija-flor .com.br www.beija-flor .beija-flor.com.br fevereiro 2006
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POÇOS DE CALDAS DERRAMA SOBRE A TERRA SUAS MILAGROSAS: DO CAOS INICIAL À EXPLOSÃO DA VIDA – ÁGUA, A NAVE-MÃE DA EXISTÊNCIA. Sou Beija-Flor Poços de Caldas é a referência Do caos inicial a explosão da vida Sou água a nave-mãe da existência
Brilhou, no universo refletiu Uma grande explosão A mãe Terra enfim surgiu Do céu uma imensa tempestade desabou Nas águas se manifestou a vida Assim ao longo de rios e mares Surgem civilizações Com arte e sabedoria A liberdade buscar Um novo mundo conquistar Rei Netuno quero navegar Tenho medo deste mar secar Me proteja quero mergulhar Pro seu reino desvendar Atlântida terra reluzente do amor Do rumo celestial desviou Ao fundo do mar foi tragada O criador, abençoou o nosso chão O combustível da vida nos doou O reino de todas as águas Brasil A semente brotou com ela redenção e paz Poços de Caldas tu és Minas Gerais Derrama sobre a terra suas águas milagrosas Preservação a sinfonia da vida Ouça o lamento da natureza que chora E o clamor que vem das águas A eternidade pode começar agora.
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