Revista Wine Not? Nº 4

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Nº4 ANO 2

JUL/AGO/SET2013

RACHEL KHOO AS AVENTURAS DE UMA CHEF INGLESA NUMA PEQUENA COZINHA EM PARIS

VIAGEM VÍNICA

A CONSTRUÇÃO DE BARRICAS DE CARVALHO HÚNGARO

QUEIJOS BRASILEIROS

BOAS NOTÍCIAS E O MAPA DA MINA

24 HORAS

EXPERIÊNCIAS E CENÁRIOS INESQUECÍVEIS EM MONTREUX & VEVEY


T RATTO DI AMIGLIA Marca deFFamília

Photo Mauro Puccini

Santa Cristina coração da Toscana, fruto ,da ligação oTRA vinhedo, o território e o trabalho do. homem. SANTA Cnasce RISTINAno NASCE DAL CUORE DELLA TOSCANA FRUTTO DEL entre LEGAME VIGNA, TERRITORIO E LAVORO DELL’UOMO UNAde TRADIZIONE TRAMANDA DAL 1946 PER GLI AMANTIoDELLA QUALITÁ E DEL BUON VIVERE . Desde 1946, uma família produtosCHE de SIcaracterísticas inconfundíveis: histórico Santa Cristina, Santa Cristina Branco, OGGI, Cristina SANTA CRISTINA UNA FAMIGLIA PRODOTTISuperiore CONTRADDISTINTI DA UN TRATTO além INCONFONDIBILE : LO STORICO SANTA CRISTINA OSSO, Santa Rose, ÈSanta CristinaDIChianti e Le Maestrelle, do Campogrande e Cipresseto, que Rjuntos BIANCO IL ROSATO, UNA NUOVA GENERAZIONE CHE NON DIMENTICA LE PROPRIE RADICI. representam um novoILpasso deEuma longa tradição vinícola. Uma nova geração que não esquece as suas próprias raízes.

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IN T OSCANA Na Toscana DA SEMPRE sempre


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carta ao leitor

Prezado Leitor, Passadas algumas semanas de protestos pelo país, estamos felizes como a maioria dos brasileiros por vivenciar mais um momento de pressão positiva por mudanças que nos ajudem a acelerar na direção do desenvolvimento. Desejamos um Brasil que crie e fomente as condições para que o enorme espírito empreendedor de nossa gente possa aflorar. Em se tratando de alimentos e bebidas, os custos no Brasil estão entre os mais altos do mundo. Desenvolver uma gastronomia própria em que possamos valorizar os produtos locais, como nossos queijos, frutas e vinhos, é um grande desafio diante dos impostos cobrados no Brasil. Uma carga tributária mais justa e inteligente é uma das demandas urgentes para produtores, comerciantes, proprietários de restaurantes e importadores. Como grandes entusiastas que somos da gastronomia nacional, nesta nova edição da Wine Not? dedicamos uma matéria inteira sobre a produção de queijos artesanais brasileiros, com toda a sua riqueza de aromas e sabores. Uma expressão genuína da cultura de várias comunidades espalhadas pelo território brasileiro. Também fizemos um giro pelo maravilhoso interior da Hungria, país de grande riqueza histórica e que sofreu toda sorte de influências ao longo dos anos, com as correntes migratórias entre a Europa e o Oriente. Visitamos artesãos de barricas de carvalho e pudemos aprender sobre suas uvas nativas, em especial a versátil Furmint, a nossa Uva da Vez. Compartilhamos com você imagens incríveis e uma breve visão do processo produtivo das barricas de carvalho húngaro. Aproveitando nossa viagem pela Europa, fizemos uma parada em Paris onde tivemos o privilégio de conversar com a jovem chef inglesa Rachel Khoo, estrela do sensacional programa The Little Paris Kitchen produzido pela BBC. Aqui, falamos de tendências e do resgate das receitas tradicionais que privilegiam os ingredientes sazonais. Imperdível! Como sempre, temos outras matérias, dicas e novidades sobre vinhos, restaurantes, roteiros, receitas e muito mais. Em tempo: a tiragem da Wine Not? cresce a cada edição, graças às contribuições entusiasmadas de nossos leitores. A todos, muito obrigado. Boa Leitura!

Ricardo Carmignani Gerente Geral da Winebrands 4


PUBLISHER RICARDO CARMIGNANI JORNALISTA RESPONSÁVEL DANIELA PEREIRA - CRJ: 33.913/RJ DANIELA@WINEBRANDS.COM.BR COORDENAÇÃO EDITORIAL JOHNNY MAZZILLI / JOHNNY@GEOSFERA.COM.BR CONSELHO EDITORIAL RICARDO CARMIGNANI, JOHNNY MAZZILLI, DANIELA PEREIRA, PATRÍCIA KOZMANN E MARIANA MORGADO DIREÇÃO DE ARTE DUSHKA TANAKA E CARLO WALHOF (E29) PROJETO GRÁFICO BRANDIUM EXECUTIVA DE CONTAS PATRÍCIA KOZMANN / PATRICIA@WINEBRANDS.COM.BR ASSESSORIA DE IMPRENSA E COMUNICAÇÃO DANIELA PEREIRA / DANIELA@WINEBRANDS.COM.BR PUBLICIDADE PATRICIA KOZMANN / PATRICIA@WINEBRANDS.COM.BR COLABORADORES DA EDIÇÃO ANDRÉ LOGALDI, PAULA LABAKI, RACHEL KHOO, RAFAEL ANDRADE E FRANCISCO BARROSO CONSULTOR DE ENOLOGIA ARTHUR PICCOLOMINI AZEVEDO REDAÇÃO WINE NOT? RUA HELENA, 275 CJ 32, ITAIM – SÃO PAULO – SP CEP 04552-050 (11) 2344-5555 REVISÃO TATIANA BABADOBULOS A revista WINE NOT? É uma publicação de Winebrands. A Winebrands não se responsabiliza por opiniões expressas nos artigos assinados. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização. Somente poderão representar a WINENOT? as pessoas expressamente autorizadas pela Winebrands.

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cartas do leitor

A Wine Not? convida leitores, amigos e colaboradores a enviarem suas sugestões e críticas à revista. winenot@winebrands.com.br

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Um barato a matéria sobre Roros, as fotos ficaram lindas! Parabéns! MÔNICA SOUZA

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Parabéns pelo belíssimo trabalho! VALÉRIA ZOPPELLO

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Muito bom, parabéns, vi a revista inteira, adorei. VICTOR ANDRADE

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Como sempre, a sensibilidade do olhar e dos sentidos enobreceu a publicação. Receba, caro Johnny Mazzilli, meus singelos cumprimentos por mais esse estupendo trabalho realizado em prol dos prazeres da vida. DANIEL COHEN Fotos: Johnny Mazzilli

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Parabéns, excelente revista com ótimo padrão editorial. WILSON GOMES DE OLIVEIRA

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Belas fotos de Veneza, parabéns. CELSO NOGUEIRA

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Gostei muito da revista. Bem diagramada, matérias concisas, nem mais e nem menos. Bem legal e interessante. Os saca-rolhas do final são bem legais e devem facilitar o trabalho, mas ainda fico com o bom e velho de dois tempos. A revista tem tudo para ir longe. Só não gostei das matérias de gastronomia soltas. Em minha opinião, elas poderiam ser agrupadas, pois prefiro ler assuntos em blocos. A entrevista com o Claude foi muito legal, gostaria de ter ouvido o Thomas. JORGE FERNANDES FILHO

variedade Ansonica a caminho da colheita tardia. Vinhedos da Le Mortelle, Castigliano Della Pescaia, Toscana, Itália


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SUMÁRIO

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VIAGEM VÍNICA

HUNGRIA • CONSTRUÇÃO DE BARRICAS

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PAULA LABAKI

A CHARCUTARIA ARTESANAL

30 RACHEL KHOO PERSONALIDADE

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GASTRONOMIA

QUEIJOS BRASILEIROS

UVA DA VEZ 12

RESTAURANTES 28

OPINIÃ0 47

NOVIDADES 54

BIBLIOTECA 60

SOMMELIÈRE 14

IN VINO VERITAS 41

CONEXÃO RJ SP 49

OUI OUI 56

CURTAS 62

VINHOS DA ESTAÇÃO 15

ARTHUR AZEVEDO 43

24 HORAS 50

FALANDO DE VINHO 57

GADGETS 64

OSTERIAS DO MUNDO 26

TRIP DO LEITOR 46

DUAS TAÇAS 52

ACONTECE 58

PELO MUNDO 66


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uva da vez

FURMINT Texto e foto: Johnny Mazzilli

A Furmint é uma uva branca do ramo Ponciano Balcânico da Vitis vinifera. Seu nome vem do antigo “Froment”, uma referência à coloração de trigo dourado dos vinhos elaborados com a variedade. Embora as origens exatas da Furmint não sejam claras, é provável que a uva tenha sido introduzida na região austro-húngara na média Idade Média, no século 13, durante o reinado do rei Bela IV. Uma das teorias mais aceitas sustenta que a variedade seria originária do italianíssimo Piemonte, onde posteriormente caiu em desuso e desapareceu. Na Hungria, após a destruição causada pela invasão mongol, o rei Bela IV se empenhou na recuperação dos vinhedos, criando leis e políticas de incentivo à migração em massa de pessoas com conhecimentos em viticultura e enologia para recompor a região. Muitos destes imigrantes atenderam ao chamado real e trouxeram com eles novas variedades de uvas – dentre elas, possivelmente a Furmint. É uma variedade de casca finíssima e maturação tardia, geralmente colhida a partir da segunda metade de outubro no hemisfério norte. Tais características fazem da Furmint uma uva altamente susceptível ao ataque do fungo da Botrytis cinerea, que perfura a casca, invade o fruto e o desidrata severamente, restando somente açúcares e ácidos. No Tokaj, ela é amplamente utilizada na produção de brancos secos de caráter marcadamente mineral, ótimas notas vegetais e acidez notável, vinhos suculentos e encorpados, notadamente nos vinhedos plantados em solo tuff, uma rocha branca, porosa e quebradiça de origem vulcânica. Em solos argilosos do Tokaj, a Furmint resulta em vinhos mais florais e frutados. É a variedade mais plantada da região, com aproximadamente 70% dos vinhedos. É também a protagonista dos exuberantes tokajis de sobremesa, ao lado das duas outras variedades brancas utilizadas, a Sárgamuskotály (yellow muscat) e a Hárslevelü. É cultivada também na Eslováquia, Romênia, algumas ex-repúblicas soviéticas e também na pequena Eslovênia, onde é chamada de Sipon. Na Croácia, descobriu-se que a popular variedade branca Moslavac é, na verdade, a Furmint.

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Vinho recomendado:

TOKAJI FURMINT 2010: "Um dos poucos exemplares 100% Furmint do mercado nacional, esse vinho encanta quem o degusta. Seu aroma ĂŠ intrigante, com notas minerais e toque floral. Em boca ĂŠ rico, cheio e com acidez marcada. Um vinho perfeito para os curiosos apreciadores de brancos."

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sommelière

A PRIMEIRA VEZ A GENTE NUNCA ESQUECE

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embro-me como se fosse hoje da primeira vez que participei de uma degustação de vinhos. Foi antes de começar meus estudos de sommelière. Sou de família portuguesa e italiana e beber vinho sempre fez parte da nossa rotina. Sempre me ensinaram que o vinho fazia parte das refeições e que o importante era aproveitar, beber sem complicações. Quando estava no curso de bartender, tivemos uma aula sobre vinhos, e depois disso decidi que queria aprender mais. Então combinei com uns amigos de irmos a uma feira de vinhos para conhecer. Fomos a Expovinis, munidos apenas de curiosidade, nada de técnica. Com esse histórico “descomplicado” de beber vinho, sem sequer me preocupar com a taça, vocês podem imaginar o tamanho da minha surpresa quando cheguei à feira e estavam todos com as tais taças ISO, de degustação, fazendo malabarismos pra ver as lágrimas, as cores dos vinhos, disputando quem achava mais aroma em cada taça. Mas o "susto" maior foi mesmo vê-los degustarem os vinhos. Era uma sinfonia de sugadores odontológicos, gargarejos e cuspidas ornamentais por todos os lados. Quando, em meu insignificante conhecimento sobre vinhos, eu iria imaginar que beber vinho poderia ser tão musical?! Imagine então ter que cuspir os vinhos... Se fizesse isso em casa, minha avó me daria um tapa! Que desperdício! Claro, no final do passeio, eu estava pra lá de Bagdá, e sem entender nada sobre vinhos, e menos ainda sobre seu mundo. Alguns anos depois, já na universidade, nas aulas de enologia, finalmente entendi a sonoridade do pessoal na feira. Degustar um vinho exige um pouco mais de

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Mariana Morgado

atenção e técnica. Aprender a degustar profissionalmente um vinho não significa, necessariamente, que tenhamos de seguir os passos para cada gole, mas é muito interessante para que despertemos nossos sentidos para guardar a informação em nossa memória de uma forma mais completa. Como os animais, nossa avaliação começa com a aparência. Não é natural comer ou beber algo sem que antes tenhamos gostado do aspecto. O segundo passo é sentir se o aroma agrada ou não e, se agradar, é só abrir o bocão e aproveitar! Em geral agimos assim com qualquer coisa que comemos ou bebemos, consciente ou inconscientemente. Essa é a base, de forma simplificada, é claro, da degustação de vinhos. Costumo dizer que, no caso dos vinhos, a degustação é como brincar do jogo de detetive. Lembra? Sargento Mostarda, com a chave inglesa, na biblioteca... Através das “pistas” que o vinho dá, podemos identificar se está são ou com defeito, podemos identificar a uva com a qual foi elaborado, a região produtora, o país, o ano, se passou ou não por barricas de carvalho, e por aí vai. Além disso, “adestramos” nossa memória a gravar os aspectos mais marcantes e, dessa maneira, teremos propriedade para comparar com outros vinhos. O importante é ser curioso e não perder a alma brincalhona e descomplicada, pois, no fim das contas, o principal objetivo do vinho é nos proporcionar prazer, alegria e satisfação! Tim-Tim! Graduada em Gastronomia pela Universidade Anhembi Morumbi, sommelière pela ABS-SP, Advanced Level e Educator Programme Wine & Spirits. Em 2010 passou a integrar a equipe Winebrands na qualidade de sommelière.


VINHOS DA ESTAÇÃO O inverno é uma da estações em que mais consumimos vinhos. Nesta edição, uma seleção de rótulos para aquecer e alegrar estes dias mais friozinhos. Aproveite!

Perdriel Coleccion Cabernet Sauvignon 2008 Finca Perdriel – Lujan de Cujo/Mendoza/Argentina – R$ 68 Com mais de 100 anos de história, a Finca Perdriel, fundada em 1895 por Edmund Norton, é a terra de alguns dos melhores vinhos da Argentina. O Perdriel Coleccion Cabernet Sauvignon é elegante, complexo, com taninos macios. Um vinho harmônico e muito gastronômico.

Poggio alle Nane 2010 Maremma Rosso IGT – Le Mortelle Maremma/Toscana/Itália – R$ 302 Seu nome faz menção ao refúgio que Le Mortelle, com sua natureza, lago e colinas, oferece aos patos na época de migração, que fazem uma parada em sua viagem para se refrescarem no lago. Elaborado com uvas Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon, este elegante e intenso vinho é parceiro perfeito para acompanhar uma refeição.

Quita das Tecedeiras Porto LBV Quinta das Tecedeiras – Douro/Portugal – R$ 98 Seis são as castas portuguesas utilizadas na elaboração desse sedutor Porto, produzidas em vinhedos com mais de 80 anos, o que confere a este vinho um caráter especial. Ao final de uma refeição, sobremesas de chocolate ou frutas vermelhas, queijos duros e evoluídos são maravilhosamente escoltados pelo Porto LBV, um excelente parceiro também para charutos! Amarone della Valpolicella DOC 2008 Tedeschi – Valpolicella/Itália – R$ 282 Este vinho é produzido com uvas provenientes de diversos vinhedos situados nas colinas da região de Valpolicella. Isso proporciona um vinho equilibrado, com boa estrutura e personalidade marcante. Um Amarone com “A” maiúsculo e “$” convidativo! Anakena Tama Vineyard Selection Carignan 2010 Anakena – Valle del Maule/Chile – R$ 64 Os Aymara, povo pré-colombiano, antigos habitantes do norte do Chile, denominam Tama a um grupo ou comunidade. Novidade no mercado, o Tama Carignan é um vinho elegante, intenso, rico e apaixonante.

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VIAGEM VÍNICA

A CONSTRUÇÃO DE BARRICAS DE

CARVALHO HÚNGARO Primeiro eram as ânforas de barro. Armazenavam tudo: vinho, leite, azeite, água, mel, cereais, frutas secas, salmouras. As ânforas de Pompeia permaneceram sepultadas nas cinzas do Vesúvio, cheias de vinho, por 1.700 anos. Com o tempo, foram substituídas por barricas, originalmente feitas com fibras de palmeiras, que em 2.000 anos a.C. já transportavam vinho pelo Nilo, no antigo Egito Texto e fotos: Johnny Mazzilli

A bucólica vila de Tolcsva (tôltivá)

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VIAGEM VÍNICA

Fogo e água, elementos fundamentais na difícil arte da tanoaria

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VIAGEM VÍNICA

Cacho de Furmint atacado pela Botrytis

Gábor Kalina e o irmão em ação

Folha de carvalho

Raízes de carvalho no pedregoso solo tuff

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VIAGEM VÍNICA

N

a Europa há relatos do surgimento de barricas em mais de um lugar. Em 1958, uma escavação na Hungria encontrou uma barrica de 175 litros de carvalho húngaro, bem conservada e datada de 100 d.C. Ao longo do tempo, muitas madeiras foram utilizadas, mas os carvalhos, da família dos Quercus, mostraram-se insubstituíveis, por suas características ímpares – leveza, maleabilidade, força tênsil e seus principais trunfos: a impermeabilidade relativa, que retém o líquido e permite a entrada de pequeníssimo volume de oxigênio e consente a desejada oxigenação do vinho, e as lactonas, substâncias raras noutras madeiras, mas presentes no carvalho, responsáveis por grande variedade de aromas e gostos. O carvalho americano tem mais lactonas que o francês e empresta aromas de coco e baunilha, mas tem a metade dos taninos naturais do carvalho francês.

COMO SURGE UMA BARRICA Gábor Kalina me leva para caminhar nas montanhas Zemplén, no Tokaj, nordeste da Hungria, região dos mais célebres vinhos de sobremesa do mundo (ver box). Ele é dono da Kalina, uma tanoaria artesanal herdada do pai. As montanhas, cobertas de florestas de carvalhos, formam uma proteção natural aos vinhedos, castigados por fortes ventos e temperaturas baixíssimas no inverno. Um carvalho húngaro está apto ao corte entre 80 e 100 anos, com 50 cm a 60 cm de diâmetro. Cada árvore rende apenas uma ou duas barricas Bordeaux, de 225 litros. Madeira, ferro, fogo, água, força tênsil, tempo e habilidade são elementos da tanoaria, a arte de construir barricas, formadas pela união de aduelas, ripas cujo meio é mais largo que as extremidades. Uma barrica começa com uma única aduela presa ao aro superior. Novas aduelas

Queijo estilo Roquefort produzido pela vinícola Dobogó, revestido com uvas botritizadas provenientes da maceração

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VIAGEM VÍNICA

são postas lado a lado até fecharem o círculo. Anéis de metal movidos a marretadas descem abraçando as ripas, enquanto a madeira é constantemente aquecida e molhada para manter-se flexível. A TOSTAGEM Após o fechamento das aduelas, vem a tostagem. O calor carameliza os açúcares residuais da madeira e puxa suas lactonas do interior para a superfície interna da barrica, potencializando-as em até mil vezes. Ao mesmo tempo, a queima abranda os taninos originais, causadores de adstringência. Usualmente há quatro níveis principais de tostagem: suave, média, média-alta e alta. A suave propicia aromas moderados de frutas brancas, abacaxi e banana, muito indicada para brancos ou presença sutil de madeira. A tostagem média, muito utilizada atualmente, realça a baunilha e permite leve estruturação da bebida. A médiaalta propicia aromas de mel e avelãs torradas, indicada para tintos mais estruturados. A tostagem alta evidencia os defumados, caramelo e torrefação, indicada para tintos mais complexos e encorpados e curtos estágios na madeira. “Atualmente, as vinícolas diversificam as experiências e fazem encomendas de tostagens personalizadas”, diz Gábor. Após a tostagem são instalados a tampa e o fundo, os surrados aros usados na montagem são substituídos por aros reluzentes. Nada de pregos ou colas, somente encaixes perfeitos. Dez dias cheia de água e nenhum vazamento, pronta para o mercado. Antigamente, a função da barrica era armazenar o vinho e dar a ele certo gosto de madeira, o que muitas vezes servia para encobrir defeitos da bebida. Pouco se falava de interações entre a bebida e a madeira. Com o tempo, a madeira deixou de ser o elemento onipresente e exagerado para protagonizar incontáveis possibilidades de interação com a bebida. Mais recentemente, vem se restabelecendo a fermentação dos vinhos em barricas. Uma preocupante questão ambiental se coloca: qual é o futuro das florestas de carvalho? Perguntei a Gábor se o replantio na região é suficiente para repor os estoques de uma árvore de crescimento tão lento. Pensativo, ele diz: “É preciso plantar mais e mais rápido para recompor as florestas”. Hoje em dia as vinícolas substituem barricas com frequência, pressionando ainda mais a demanda. E as velhas barricas ganham sobrevida em alambiques, envelhecendo destilados, uma invenção do século 9, milênios mais jovem do que o vinho.

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VIAGEM VĂ?NICA

Tostagem na Kalina Cooper

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VIAGEM VÍNICA

Adega da Vinícola Dobogó

OS VINHOS DOURADOS DO TOKAJ “Oh, líquido âmbar de tons brilhantes, que tece os fios dourados da mente!” Assim dizia Voltaire, um notório amante incondicional de tokajis. Luís XIV, ao receber uma garrafa de tokaji de Ferenc Rákóczi, príncipe da Transilvânia, em 1703, disse: “Este é realmente o Vinho dos Reis e o Rei dos Vinhos”. Os Tokajis estão presentes até no hino nacional da Hungria, e os húngaros se referem a ele com indisfarçável orgulho. A história diz que pelos idos de 1238 uma guerra contra os turcos atrasou a colheita. Surgiu nas vinhas uma misteriosa doença que murchou as uvas. Fizeram o vinho assim mesmo – não sabiam, mas foi o pontapé inicial da história deste vinho único e arrebatador, de tonalidades douradas e grande complexidade aromática e gustativa. Aliada ao clima perfeito e a terroirs privilegiados está o Botrytis cinerea, um fungo que perfura a casca, invade o fruto e o desidrata. O resultado é uma uva parecida com uma passa, alta concentração de açúcares, ácidos e sais minerais. A ela os húngaros dão o nome de Azsú (Assú).

Mestre tanoeiro da Erdobénye Cooper aplainando um tampo

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DOBOGÓ Dobogó é o nome de uma pequena vinícola situada no coração do Tokaj, que produz vinhos exclusivos. O curioso nome é a onomatopeia húngara que significa, literalmente, “pocotó”, o som dos cascos de um cavalo. Atualmente, a vinícola pertence a Izabella Zwack, criadora de cavalos e mais jovem membro da família Zwack, famosa na Hungria pela destilaria nas encostas do Rio Danúbio, onde se produz o Unicum, o digestivo nacional húngaro.


VIAGEM VÍNICA

Tanoaria artesanal na vila de Erdobénye

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VIAGEM VÍNICA

Vinhedos na vila de Tokaj

INFO & BY YOURSELF COMO CHEGAR A SWISS tem voos diários de São Paulo a Zurique, e de lá a Budapeste. De Budapeste ao Tokaj são 235 km por estradas. www.swiss.com (11) 3048-5815

ONDE FICAR Andrássy Rezidencia Wine & Spa www.andrassy.hu A Winebrands representa os vinhos da Dobogó no Brasil www.winebrands.com.br

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VIAGEM VÍNICA

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OSTERIAS DO MUNDO BADIA A PASSIGNANO

ITÁLIA De propriedade da família Antinori, no coração do Chianti Clássico, a osteria surgiu em 2000. O local é reconhecido pela riqueza culinária fiorentina e variedade de seus vinhos. Em 2007, conquistou uma estrela no Guia Michelin. Serviço impecável e cordial. Sommelier nota 10. www.osteriadipassignano.com Via Passignano, 33, 50028, Tavarnelle Val di Pesa Florença +39 055 807 1278

ITÁLIA Porto San Giorgio é um balneário situado no Mar Adriático, de grande agitação durante o verão. Chef Aurélio pratica a culinária da excelência dos ingredientes frescos de estação, principalmente pescados. Restaurante ao lado da praia com vista relaxante para o mar. Lungomare Gramsci, Porto San Giorgio +39 335 5224454

DAMIANI & ROSSI

IL CAMINETTO

ITÁLIA Florença tem muitos restaurantes para todos os bolsos. É fácil cair em “ciladas” para turistas. Il Caminetto, a poucos passos do Duomo, é um tradicional restaurante da cidade, recomendado por um amigo fiorentino. A verdadeira culinária fiorentina, bom preço e qualidade - Pappa al pomodoro, panzanella, bisteca fiorentina. Carta de vinhos honesta e serviço atencioso. Comprovamos na companhia do Vinho do Bom! www.ilcaminettofirenze.com Via dello Studio, 34/R ,50122, Florença, +39 055 2396274

FRANÇA

LE BOUCHON BORDELAIS

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O pequeno e charmoso restaurante no coração de Bordeaux faz justiça ao charme e elegância franceses. Sempre lotado, é praticamente impossível conseguir um lugar sem reserva. O menu reduzido apresenta entrada, prato principal e sobremesa. As opções de vinhos, sugeridos pelo garçom, estão escritos na lousa, de acordo com o prato e a estação do ano. www.bouchon-bordelais.com 2 rue Courbin, 3300, Bordeaux +05 5644 3300 contact@bouchon-bordelais.com


CONFIRMADOS OS PRODUTORES QUE PARTICIPAM DO WINELOUNGE 2013

Winebrands trará ao Brasil representantes de 14 vinícolas estrangeiras, cujos rótulos são importados com exclusividade pela empresa. Entre os nomes confirmados estão os proprietários da Bodega Norton – do grupo Swarovski – e da Venegazzú: Michael Halstrick e Lorenzo Palla; além dos enólogos Julio Mourelle, da Marques de Griñon, e JD Pretorius, da Steenberg

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atorze representantes de vinícolas cujos rótulos são importados, com exclusividade, pela Winebrands já confirmaram participação no Winelounge 2013. O evento será realizado pela importadora nos dias 2 e 3 de setembro, respectivamente, no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, e no MAM, no Rio de Janeiro. Na ocasião, estarão presentes os proprietários da Bodega Norton – do grupo Swarovski – e da Venegazzú: Michael Halstrick e Lorenzo Palla; além dos enólogos Julio Mourelle, da Marques de Griñon, e JD Pretorius, da Steenberg, além de outros importantes nomes do mundo dos vinhos da Itália, França, Espanha e do Chile. Outra novidade é que, neste ano, o público interessado poderá participar. Os convites serão vendidos por R$ 270, e entre os dias 4 e 30 de setembro, o valor do convite poderá ser revertido em compras a partir de R$ 750 pelo telefone da Winebrands. Ainda serão concedidos descontos de 7% a 9% para compras acima deste valor no período. A edição de 2011 foi somente para convidados da Winebrands e quem esteve por lá não se arrependeu. De

acordo com Erick Jacquin, um dos chefs franceses mais aclamados do Brasil, o evento foi muito bacana. “Foi uma oportunidade interessante de encontrar gente importante do mundo dos vinhos, num lugar muito agradável e de fácil acesso”, avalia. Para Dionísio Chaves, sommelier e proprietário dos restaurantes DUO, Bottega del Vino e Uniko, no Rio de Janeiro, o Winelouge 2011 foi muito organizado e bem direcionado. “Além de tudo, o evento aconteceu num local espaçoso, confortável e bem refrigerado. A qualidade dos vinhos dispensa comentários, estavam excelentes”, comenta. Oscar Daudt, responsável pelo site EnoEventos, que também participou da primeira edição do Winelounge, considerou a organização um espetáculo. “O nome lounge não era em vão e havia uma boa quantidade de sofás e pufes, espalhados pelo grande salão, para que se pudesse relaxar entre uma degustação e outra. O buffet trouxe deliciosas produções e o espaço era excelente, com lugar de sobra para acomodar os convidados com muito conforto; as mesas de degustação eram espaçosas, permitindo um atendimento sem filas, sempre com o produtor e um auxiliar para servir aos convidados. E ainda por cima, uma vista privilegiada. Nota 10!”, opina. Para participar, o convite pode ser adquirido, a partir do dia 15 de julho, pelos telefones 0800-771-5556 ou (11) 2344-5555 ou através dos e-mails: winelounge2013rj@winebrands.com.br / winelounge2013sp@winebrands.com.br

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restaurantes

SÃO PAULO MOMOTARO

O nome do restaurante foi inspirado no tomate japonês Momotaro, um dos ingredientes curingas adotados pelo chef Adriano Kanashiro para seus pratos. Inaugurado em setembro de 2011, oferece um jeito novo de conhecer a culinária japonesa. Com um conceito que mistura sofisticação no ambiente e informalidade no atendimento, o cliente experimenta releituras de sushis e pratos quentes assinados por Kanashiro, que já comandou as cozinhas dos aclamados By Adriano Kanashiro e Kinu. www.restaurantemomotaro.com.br

MYK

A casa que antigamente sediava o Pasta & Vino abriga agora este restaurante descolado, ambientado em branco, para remeter a atmosfera da ilha grega de Mykonos, que empresta o nome a casa. O foco é a cozinha mediterrânea com um bem-vindo acento grego, expresso em pratos como a lula grelhada ao azeite de limão-siciliano e os camarões gigantes com arroz de espinafre e iogurte. www.facebook.com/MykRestaurante (11) 2548-5391

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CABAÑA DEL ASADO

Desde 2006, o Cabaña del Asado trouxe um pedaço da Argentina para a região, encantando seus clientes com tradicionais e saborosos cortes argentinos, como assado de tira, prime rib, bife ancho, carré de cordeiro, ojo de bife e outros clássicos. As pizzas complementam o cardápio. Carta de vinhos eclética e com ótimo custo-benefício. www.cabanadelasado.com.br (11) 3926-9769

SANTOVINO

Endereço perfeito nos Jardins para saborear tradicionais sabores italianos. Cardápio desenhado pelo chef Paulo Kotzent, do extinto Supra, um dos melhores restaurantes italianos que já existiu em São Paulo. No calor, experimente o carpaccio de peixe-espada curado. No frio, a polenta taragna com linguiça de javali ao molho de tomate. Com atmosfera moderna, a casa agrada jovens e gente mais madura, executivos, políticos e personalidades. Imperdível descer ao subsolo e conhecer a surpreendente adega. www.santovinoristorante.com.br

LA QUOTTIDIANA

Empreendimento do talentoso chef Sergio Arno no bairro do Campo Belo. A proposta é oferecer cozinha italiana elaborada e bom custo-benefício, em um ambiente descontraído e decorado com antigos moedores, balanças e cortadores. São mais de 20 pratos de massas, dentre os quais clássicos, como polpettone com tagliolini e a excelente dobradinha com feijão-branco, linguiça e costelinha, irresistível nos dias frios. Carta de vinhos excelente e muito variada. www.cabanadelasado.com.br (11) 3926-9769

PEIXARIA BAR E VENDA

A casa funciona como peixaria, vendendo pescados e frutos do mar muito frescos, recebidos diariamente. Todos os dias, às 18h, começa a funcionar o restaurante, com agradável e despretensiosa atmosfera de praia. No vasto e eclé­ tico cardápio, caldeiradas, ensopados, marinados e uma grande variedade de peixes e frutos do mar grelhados. Experimente o delicioso pastel de siri, delicadamente condimentado. Rua Inácio Pereira da Rocha, 112, Vila Madalena • (11) 2589-3963


restaurantes

ZAZÁ BISTRÔ / RJ

Aberto há 13 anos em uma charmosa esquina de Ipanema, é um “must go” no Rio, celebrado em guias nacionais e internacionais. Foi o primeiro a apostar em comida contemporânea na cidade. A inspiração vem das diversas viagens que a sócia Zazá Piereck faz pelo mundo. O cardápio, criado a quatro mãos por ela e o chef Pablo Vidal, tem hits como as pastillas marroquinas – trouxinhas de frango orgânico com massala, castanhas do pará, pimenta doce e iogurte de hortelã. www.zazabistro.com.br

PAVANELLI / PIRACICABA, SP

Aberto em julho de 2010, conquistou de imediato os amantes da boa gastronomia de Piracicaba e região. Produtos sofisticados, excelente atendimento e gastronomia contemporânea. São mais de 50 pratos ecléticos, com enfoque nas cozinhas italiana e portuguesa, e uma vasta carta de vinhos. www.casapavanelli.com.br/restaurante

BRASSERIE ROSÁRIO / RJ

Um restaurante que é também uma padaria, confeitaria, adega e que abriga animados happy hours às quartas, quintas e sextas-feiras. Não por acaso, tornou-se uma excelente opção gastronômica no Centro Histórico do Rio. O inovador chef Frédéric Monnier comanda a cozinha. Além dos famosos sanduíches, traz iguarias como patê de champagne e a codorna recheada grelhada. www.brasserierosario.com.br

BAROLO TRATTORIA/CURITIBA, PR

Considerado o melhor restaurante italiano da capital paranaense pela 4ª vez na história das edições de “O Melhor da Cidade” da revista Veja. Massas deliciosas de produção própria, ambiente informal e aconchegante, atendimento primoroso, carta de vinhos com mais de 450 rótulos e estacionamento gratuito com manobrista. www.barolotrattoria.com.br

MAJÓRICA / RJ

Fundada em 1961 pelo espanhol Francisco Bou, uma das mais tradicionais churrascarias do Rio de Janeiro foi assim batizada em homenagem ao local de nascimento do proprietário, a ilha espanhola de Mallorca. A casa passou por reformas, mas manteve a arquitetura clássica e hoje conta com um mezanino. A adega é outra novidade da churrascaria, com mais de 200 rótulos de dez países. www.majoricario.com.br

KHO PEE PEE / PORTO ALEGRE, RS

Uma ilha da autêntica gastronomia tailandesa em Porto Alegre, inaugurado em 1997, e que empresta o nome de uma das mais belas ilhas da Tailândia. Os sabores exóticos e os aromas perfumados se unem em um ambiente que reflete a suave atmosfera da cultura oriental. Projetado em estilo thai, tem capacidade para receber 120 pessoas. A nova carta oferece 150 rótulos de 14 países. www.kohpeepee.com

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personalidade

MADEMOISELLE KHOO Numa pequena cozinha em Paris, a jovem chef inglesa, Rachel Khoo, revisita receitas clássicas francesas com estilo e praticidade Texto: Daniela Pereira / Foto:s Divulgação

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Uma cozinha minúscula e uma charmosa chef inglesa, formada pela Le Cordon Bleu, preparando os clássicos franceses com um toque moderno. É essa a receita do bem-sucedido The Little Paris Kitchen apresentado pela competente e multifacetada Rachel Khoo. Com seu indefectível batom vermelho e figurino retrô, a bela - ainda pouco conhecida pelo grande público - fez do programa, cuidadosamente produzido pela BBC com fotografia caprichada, um “must watch” internacional para quem gosta de gastronomia. A série de seis episódios já foi exibida em diversos países, inclusive no Brasil. O livro homônimo, com todos os pratos criados pela chef, já foi traduzido para cerca de dez idiomas. No Brasil, a publicação tem lançamento previsto para 2014 pela Editora Intrínseca. A Wine Not? conversou com mademoiselle Khoo. Et voilà... Na entrevista, ela revela o mercado, o restaurante e o parque preferido para fazer um piquenique em Paris e, ainda, dá boas dicas para quem quer preparar receitas deliciosas e descomplicadas. Wine Not? - Quando você descobriu que cozinhar era sua paixão? Rachel Khoo - Isso aconteceu quando eu estava na Faculdade de Artes e comecei a trabalhar como assistente em uma revista especializada em fotos de comida. Ao mesmo tempo, passava minhas horas livres fazendo aulas de culinária e costumava cozinhar muito para os meus amigos.

belos e decorados. Você considera que cozinhar é uma forma de arte? Pode ser, mas eu prefiro que a minha comida seja do tipo caseira. O tipo de comida que é para ser compartilhada e não adorada. Você é uma jovem talentosa e bem-sucedida. Seu programa de TV já foi veiculado em muitos países do mundo, como Estados Unidos, Nova Zelândia, África do Sul, Polônia, Islândia, Alemanha, Suécia e Brasil. Você já tem três livros publicados e o último “A Pequena Cozinha de Paris” está sendo traduzido para vários idiomas, incluindo francês, italiano, alemão, dinamarquês, russo, norueguês e até mesmo português a ser publicado no Brasil. Você imaginava que iria se tornar uma inspiração para pessoas do mundo inteiro que gostam de cozinhar? Não, eu nunca pensei em “conquistar” o mundo com a minha pequena cozinha em Paris. Para mim, ser criativa, expressando minhas ideias e certificando-me de que minhas receitas davam certo, foi tudo o que me propus a fazer.

As minhas receitas “favoritas são sempre

simples e envolvem o uso de ingredientes sazonais

Você acha que observar sua avó austríaca cozinhar e ser descendente de uma família da Malásia (por parte de seu pai) teve alguma influência na sua vida? Sem dúvida. Eu adoro o tempero e o frescor da comida da Malásia e também os bolos e doces da minha avó. Mesmo sendo culturas tão diferentes, ambas tiveram uma grande influência na forma como eu penso a comida. Não faço cerimônia na hora de misturar as coisas. Eu mesma sou uma mistura de muitas culturas. Qual foi sua motivação quando você decidiu se mudar para Paris para estudar a pâtisserie francesa? Trabalhei durante alguns anos como Relações Públicas na área de Moda. E comecei a achar que o trabalho não era criativo o suficiente e eu realmente sonhava com um desafio. Então, percebi que morar em Paris e estudar a pâtisserie francesa seria a aventura perfeita para mim. Eu poderia unir o meu amor pela cozinha e também descobrir outra cultura e aprender um novo idioma. Você tem graduação em Arte e Design por uma renomada Escola de Londres e decidiu estudar Pâtisserie francesa na Le Cordon Bleu. Doces franceses normalmente são

Na sua opinião, o que fez a diferença para que você pudesse mostrar tanto talento e tornar-se tão bem sucedida? Foi tudo uma combinação de uma boa ideia, timing, talento e trabalho duro.

Quais foram seus melhores ensinamentos (os que você nunca vai esquecer) na Le Cordon Bleu? Limpe tudo o que for utilizando enquanto você cozinha. Qual é a sua receita francesa favorita e por quê? Eu realmente não tenho uma receita francesa favorita porque cozinhar, para mim, realmente depende do meu humor. As minhas receitas favoritas são sempre simples e envolvem o uso de ingredientes sazonais. Qual é o seu mercado favorito, restaurante e local para piquenique em Paris? Marché d'Aligre porque é um grande mercado, com ambientes fechados e ao ar livre e até mesmo um mercado de pulgas no fim de semana. Aberto todos os dias exceto às segundas. Septime – A utilização dos ingredientes sazonais de forma criativa e colorida pelo chef, Bertrand Grébaut, faz do restaurante um lugar sempre delicioso para comer. Buttes Chaumont - meu parque local, com vistas sobre Paris e muita grama verde para se sentar. Os franceses costumam dizer que, quando você vive na França, você só pode sentir-se parte do país se você tem

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personalidade

alguns queijos de sabor muito forte na sua geladeira. Existe algum hábito francês que você adotou desde que se mudou para Paris? Tenho muito queijo na minha geladeira. Amo queijo e certamente é um hábito que adotei. Qual é a importância de um bom vinho em uma refeição para os franceses? Essencial, mas o mais importante é uma boa companhia. Qual você prefere: vinhos de Bordeaux, Borgonha ou Provence? Estou aberta a beber vinhos de todo o país. Não sou esnobe com relação ao vinho, mas estou mais interessada em vinhos de produtores menores do que nos mais comerciais. Você sabe algo sobre a comida brasileira? Infelizmente, não muito. Eu adoraria descobrir mais, porque sou muito curiosa sobre outras culturas alimentares. Vi um documentário com o chef Alex Atala fazendo um passeio em um mercado de São Paulo. Foi muito interessante ver os diferentes ingredientes (impossíveis de encontrar em Paris). Quando o livro será lançado no Brasil? Você virá ao país para o lançamento? Ano que vem. Eu AMARIA! Quais são seus próximos projetos? Atualmente estou terminando o meu próximo livro de receitas Minha Pequena Cozinha Francesa, que é sobre os minhas viagens de carro e aventuras por toda a França (que deve ser lançado, em outubro, no Reino Unido). Depois, vou para os EUA para promover o livro por lá. Qual é a sua dica mais importante para quem quer cozinhar? Seja organizado. Você acha que qualquer um pode cozinhar? Sim. Qual o seu conselho para alguém que ama comida e que está começando a cozinhar agora? Escolha uma receita fácil (não comece com uma receita de pâtisserie complicada, por exemplo, vai ser muito desanimador). Leia a receita. Faça a sua "mise en place", isto é, pese e configure seus ingredientes. Imagine que você está fazendo um programa de TV de culinária e siga a receita. A maioria dos erros acontece porque as pessoas não seguem a receita. Você pode improvisar quando tiver mais experiência. Se não der certo, não se preocupe. Como costumam dizer, é a prática que leva à perfeição.

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MADELEINES À LA CRÈME AU CITRON "Esta receita foi passada pela minha amiga Frankie Unsworth que, como eu, estudou pâtisserie na Le Cordon Bleu, em Paris", conta Rachel Khoo. A massa da madeleine pode ser preparada com antecedência e você pode assá-la para ser servida na hora do chá. E não se esqueça: as madeleines devem ser servidas sempre ao sair do forno! Tempo de preparo: 1h17 + tempo de descanso de algumas horas ou uma noite

Ingredientes

PARA A MASSA DAS MADELEINES:

3 ovos 130g de açúcar 200g de farinha de trigo 10g de fermento em pó Raspas de 1 limão 20g de mel 60ml de leite 200g de manteiga derretida e esfriada 1 cestinha de framboesas Açúcar de confeiteiro para polvilhar PARA O CREME DE LIMÃO:

Raspas e sumo de 1 limão 1 pitada de sal 40g de açúcar 2 gemas

Modo de preparo Bata os ovos com o açúcar até esbranquiçar e espumar. Coloque a farinha e o fermento em uma tigela separada e acrescente as raspas de limão. Misture o mel e o leite com a manteiga fria, acrescente os ovos e, em duas etapas, incorpore a farinha. Cubra e deixe na geladeira por algumas horas ou uma noite. Enquanto isso, faça o creme de limão. Recheie as formas com a massa e coloque uma framboesa em cada uma. Leve ao forno por cerca de 30 minutos. Enquanto ainda estiverem quentes recheie com o creme de limão e estão prontas para servir.

Rendimento

Rendimento: 20-24 unidades SAIBA MAIS SOBRE A CHEF E ASSISTA AOS EPISÓDIOS DO "THE LITTLE PARIS KITCHEN" NO WWW.RACHELKHOO.COM


pink tour porqu e a Toscana é Rosa

Uma inesquecível viagem enogastronômica, cultural e fashion • Exclusivo para o público feminino (limitado a 12 passageiras) • Visita a vinícola Tignanello, Antinori • Restaurantes Guia Michellin • Spa e relaxamento, Tombolo Talasso Resort • Museu fashion Gucci e Prada • De 05 a 11 de outubro (*) Reservas e mais informações: Inteliagência de Viagens (55) (11) 5522 6922 – inteliagencia@uol.com.br

APOIO:

ORGANIZAÇÃO E COORDENAÇÃO:

(*) por se tratar de uma viagem exclusiva e de características próprias, as confirmações junto aos hotéis dependem da disponibilidade no momento da adesão ao pacote.

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gastronomia

QUEIJOS BRASILEIROS Já ouviu falar do Araxá, produzido com leite de gado alimentado somente com cana de açúcar? E do Serro, uma iguaria de sabor complexo, cremoso e textura ímpar? E Araxá, Campo Redondo, Tubira e Canastra Real? Salitre e Gonzagão, já ouviu falar? Texto e fotos: Johnny Mazzilli

Capril do Bosque, Joanópolis, SP

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gastronomia

A Queijaria, em S達o Paulo

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gastronomia

Araxรก

Catauรก

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Gonzagรฃo

Serro

Salitre

Campo Redondo

Canastra Real

Frescal caprino

Suape


gastronomia

À

s vezes, para expandir nossos horizontes, é preciso olhar para perto. O Brasil é pleno de queijos de grande expressão regional e qualidade, mas o consumidor parece sitiado pelo universo de marcas importadas e queijos industrializados. Fernando Oliveira é proprietário de A Queijaria, uma deliciosa loja em São Paulo, que oferece dezenas de queijos brasileiros de produtores espalhados pelo país. Ele é entusiasta de produtos brasileiros e viaja o Brasil pesquisando queijos. Conversando com ele, descobrimos que há muitos produtos regionais de ótima qualidade que permanecem, às vezes por décadas, escondidos sob denominações europeias, a fim de terem melhor aceitação de mercado – e o mercado ainda está condicionado ao parmesão, grana padano, gorgonzola, gouda, brie etc. Consumidores brasileiros compram muito em grandes supermercados, territórios dominados por importados e marcas industriais, nos quais essas iguarias regionais jamais são encontradas. Portanto, o brasileiro acaba não tomando conhecimento da variedade e riqueza dos queijos genuinamente nacionais. E não sabe o que está perdendo. Fernando cita, dentre tantos exemplos, um espetacular queijo salgado com toque agridoce, produzido desde 1938 na Serra da Conquista, região de Caxambu (MG). Para ser aceito no mercado, foi batizado de parmesão, mas é um queijo distinto e muito próprio. “É preciso acabar com essa sensação de inferioridade e defender nomes e valores de nossa regionalidade, para fortalecer produtores locais”, diz Fernando. “Temos queijos exclusivos de altíssima qualidade, e o consumidor brasileiro precisa conhecer para valorizar”, completa Fernando. Uma despretensiosa degustação em A Queijaria mostra um surpreendente painel da produção nacional. Queijos provenientes de microrregiões em diferentes estados; mais do que queijos diferentes uns dos outros, trazem consigo um forte regionalismo, elemento valioso da cultura alimentar em suas origens. Na bucólica cidade de Cunha, no interior de São Paulo, o Café Capril produz um frescal de cabra de sabor e textura surpreendentes, além de outros excelentes queijos de estilos europeus, como Boursin e Moleson. Ainda em Cunha, o Sítio do Cume cria búfalas e produz um exclusivo provolone defumado. Licença dada ao fato de o provolone ser de estilo italiano, o leite de búfala e a defumação o diferenciam e distanciam de seu congênere europeu. Eduardo Melo produz, na cidade mineira de Serro, uma iguaria rara e surpreendente, o queijo Serro, de casca fosca amarela avermelhada, massa cremosa, ácido, picante e discretamente salgado, que permanece em cura por seis meses. De Campos das Vertentes, interior de Minas Gerais, vem o delicioso Catauá, muito conhecido como Queijo da Mantiqueira. De Araxá vem o Araxá, um queijo elaborado com leite de gado alimentado somente com cana de açúcar. Em São Roque de Minas, Zé Mário produz o cobiçado Queijo Serra da Canastra, com três meses de cura, de casca lisa

Capril do Bosque

Gado Simental na fazenda Santa Luzia

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gastronomia

O magnífico queijo Serro

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amarelada, massa seca, compacta e levemente picante. E somente na Serra da Canastra há mais de mil produtores. Da Serra do Salitre (MG) vem o queijo de mesmo nome, deliciosamente picante e salgado. De Campo Redondo, região mineira de Itamonte, vem o saboroso Campo Redondo, um queijo de textura pastosa, discretamente adocicado quando jovem, mas uma vez maturado, torna-se mais salgado com fundo doce. O Serrano, por sua vez, é um queijo produzido exclusivamente por pecuaristas familiares dos Campos de Cima da Serra (RS) e na Serra Catarinense, com tradição histórica que remonta ao século 18, auge da atividade tropeira. Dos Campos de Cima da Serra partiam tropas de mulas carregadas de Serrano, à época o principal produto de abastecimento alimentar das famílias rurais. Minas Gerais sempre foi um estado bem aquinhoado quando o assunto são os queijos de leite cru, produzidos em toda parte, mas o Nordeste do país, notadamente Pernambuco, vem mostrando que também tem tradição e qualidade. Em Pombos (PE), Dona Vitória Barros produz o Flor de Mandacaru, uma iguaria que após dois meses de cura tem a casca aveludada, massa mole, mofo branco e sabor suave. Outros bons exemplos de queijos pernambucanos são o Suape, o Petrolina e o Tubira, este último também conhecido como parmesão pernambucano por conta do semelhante processo de produção. Mas, justiça seja feita: o Tubira é um delicioso queijo regional de características muito próprias, granulado, de consistência firme, seco e de salinidade acentuada. Ainda há obstáculos na legislação brasileira que dificultam a vida de nossos queijos. Há uma lei sanitária no Brasil, datada de 1952 e ainda em vigor, que proíbe a venda interestadual de queijos de leite cru ou não pasteurizados, com prazo de cura inferior a 60 dias. Portanto, queijos de leite cru produzidos, por exemplo, em Santa Catarina, só podem ser consumidos frescos neste mesmo estado ou então curados por 60 dias para seguirem a outros estados do país. Queijos de leite cru têm potencial para resultarem em sabores mais complexos, que se tornam mais estruturados através dos variados processos de cura. Nesse aspecto, a lei representa um enorme obstáculo à expansão dos produtos e do conhecimento sobre os mesmos. Como tantas coisas no Brasil, chegamos a situações paradoxais: a legislação permite a comercialização de produtos estrangeiros em situações análogas às que proíbe seus congêneres nacionais, e em 1998 o IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, declarou o processo de produção de queijo mineiro artesanal como Patrimônio Histórico Imaterial Brasileiro. Mas sua comercialização segue sob severas restrições. Os queijos brasileiros são uma instigante fronteira para novas possibilidades de combinação com vinhos. Já sabemos quais vinhos vão bem com parmesões, gorgonzolas e goudas. Que tal o saboroso desafio de encontrar boas combinações para catauás, tubiras, salitres e serranos?


gastronomia

Azul do Bosque

Gouda kummel

Saint Maure

ESTILO EUROPEU E DNA BRASILEIRO Além dos excelentes queijos genuinamente nacionais, o Brasil ostenta uma produção saudável e crescente de queijos de estilo europeu e grande qualidade, produzidos em pequenas propriedades rurais. São queijos que expressam originalidade, nada devem aos similares importados e tampouco são simples imitações de congêneres europeus. É o caso do Capril do Bosque, uma bucólica fazenda em Joanópolis, a 120 km de São Paulo, que produz o Azul do Bosque, um delicioso queijo de massa cremosa, potente e de mofo azul, o francês Sainte Maure e o suculento caprino romano, primo do Pecorino e que matura por seis meses. Em Itapetininga, a 200 km da capital, além de frescal, coalho, minas e ricota, a fazenda Santa Luzia produz queijos estilo Saint Paulin, Parmesões, Goudas e Edam (reino). Piramide Cendre Boursin

Moleson

Saint Paulin

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gastronomia

A QUEIJARIA São Paulo tem agora um endereço dedicado somente aos queijos brasileiros, a maioria produzida com leite cru. É a acolhedora A Queijaria, um lugar onde o visual, os aromas e sabores conspiram para surpreender. Nada de produtos industrializados, imitações de gorgonzola ou marcas importadas. Quem passa diante do enorme vidro, através do qual se pode ver desde a calçada o grande sortimento de queijos, dificilmente sai impune. São nada menos do que 72 tipos de queijos regionais autenticamente brasileiros ou de estilo europeu, produzidos em estados como São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e, em breve, da distante Ilha de Marajó, no Pará. A Queijaria Rua Aspicuelta, 35, Vila Madalena, São Paulo, SP (11) 3812-6449 www.facebook.com/aqueijaria 40


in vino veritas

DIÁRIO DE BORDO

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iajar é uma experiência única - acredito que um dos maiores prazeres que podemos experimentar, associado a tantas emoções e que, muitas vezes, nos trazem aqueles “insights” que jamais experimentamos em nosso dia a dia. Planejamos, iniciamos a viagem e ela nos apresenta surpresas e prazeres a cada dia. Nos despedimos com outra visão e, ouso dizer, novos paradigmas. Viajar a trabalho em um grupo de colegas é, para mim, tão intenso quanto viajar em férias! E aqui compartilho com vocês minha viagem a trabalho pela Toscana, passando pelas vinícolas Antinori, acompanhada dos parceiros Ivan e Ranimiro, do Vinho do Bom (www. vinhodobom.com.br). Recebemos o Vinho do Bom em Florença, berço do Renascimento, para um almoço no Il Caminetto (vide a seção “Osterias pelo Mundo”). Florença é berço e sede administrativa da Antinori, tradicional família fiorentina envolvida no mundo do vinho há 26 gerações. O primeiro registro data de 1178, com um senhor chamado Rinuccio. O Palazzo Antinori situa-se a poucos metros do nosso restaurante e foi adquirido por Niccoló di Tommaso Antinori, em 1506. “(...) E agora refiro a importância que sempre foi dada na nossa cultura de família, o sentido da tradição, o respeito pelos mais idosos...” (*) TIGNANELLO Primeira parada: Tenuta Tignanello, onde exploramos detalhes dos vinhedos e das instalações, como tanques para vinificações especiais e o silêncio da sala de barricas, no subsolo. Nossos amigos Ivan e Ranimiro, que reproduzem a realidade do mundo do vinho para uma linguagem mais descomplicada, não cansam de expressar seu entusiasmo e admiração pela beleza e harmonia da região, com um misto de magia e mistério envolvidos em uma natureza onde é elaborado o Tignanello, um dos vinhos ícones da atual enologia mundial, e que marcou uma nova etapa para os vinhos italianos no mundo, os “super toscanos”. “(...) A potencialidade de um vinhedo não se mede somente de modo objetivo, com o grau de inclinação de uma colina ou a composição química de um solo: contam também a harmonia da paisagem ao redor, a história e o componente humano.”(*)

Patrícia Kozmann

BADIA A PASSIGNANO A família Antinori sempre cultivou uma mentalidade fortemente de vanguarda e empreendedorismo, e em 1987 adquirem os vinhedos ao redor da Badia. Nossa passagem por lá foi marcada por reminiscências do filme “O Nome da Rosa”. A Badia data de 1050, quando Galileu Galilei era professor de matemática neste lugar sagrado. Isso nos inspirou a apreciar ainda mais toda a riqueza histórica, cultural, filosófica e a paixão, envolvidos na produção e elaboração de um bom vinho. “(...) O vinho nasce das minhas terras, é vinificado e amadurecido com base nos meus conhecimentos e experiência, é a coisa que melhor sei fazer, que melhor me representa. A atenção aos detalhes, a pesquisa pela máxima qualidade, a vontade de crescer e aprender. Por isto, quando apresento um vinho, apresento todo o meu mundo.” (*) Nossa viagem não parou por aí. Continuamos as filmagens na nova sede da Antinori (www.antinorichianticlassico.it) e, posteriormente em Bolgheri, na Tenuta Guado Al Tasso. Este breve relato, acompanhada da minha leitura do livro de Piero Antinori, me fez não somente entender e apreciar ainda mais toda a filosofia por trás de um vinho, mas também concordar plenamente com os quatro “Ps” de Piero Antinori, que nos conduzem ao sucesso em tudo que empreendemos na vida: PACIÊNCIA • PERSEVERANÇA TENAZ • PRECISÃO • PAIXÃO Nossa experiência com Vinho do Bom & Antinori foi única e Perfeita! A presto (*) frases extraídas do livro “O Perfume do Chianti”, de Piero Antinori

Patricia Kozmann, formada em marketing pela ESPM, foi gestora de marketing da Winebrands e atualmente vive em Vicenza, no Vêneto, Itália, onde atua em prospecção e relacionamento com produtores. É correspondente para as diversas mídias da empresa.

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Vinhos de um terroir Ăşnico.

Saber escolher. Saber viver. 42


arthur azevedo

VINHO DO PORTO, UM VINHO COM MUITA HISTÓRIA Muito se fala sobre o vinho do Porto, mas são poucas as pessoas que conhecem a verdadeira história desse vinho, que é uma das maiores preciosidades vínicas de Portugal. A primeira notícia que se tem da exportação de vinho do Porto para a Inglaterra data de 1678. Em visita a Portugal, os filhos de um conhecido comerciante de vinhos naquele país tiveram, no Mosteiro de Lamego, contato com um vinho totalmente diferente de tudo que até então conheciam. Segundo os relatos históricos, eles teriam adicionado aguardente ao vinho para que este suportasse os rigores da viagem até a Inglaterra. Porém, sabe-se que esta prática já era comum na região do Douro, um reconhecido centro comercial de vinhos, realizada com o mesmo objetivo de conservação, não se visando a interrupção da fermentação ou a fortificação proposital. Seja como for, esse vinho ganhou posição ímpar no mercado inglês devido ao número crescente de admiradores. Em 1703 firmou-se entre Portugal e Inglaterra um tratado que ficou conhecido pelo nome do seu negociador inglês, Methuen, que dava ao vinho do Porto um tratamento preferencial nas exportações para a Inglaterra. Por este tratado os panos de lã seriam livremente admitidos em Portugal e, em contrapartida, a Inglaterra importaria os vinhos portugueses que pagariam menos um terço dos impostos para igual quantidade de vinhos da França. Isto gerou um grande aumento da exportação dos vinhos para a Inglaterra, porém sem que houvesse o correspondente aumento da capacidade de produção, levando de forma inevitável à produção de vinhos fraudados. A falta de qualidade foi rapidamente notada e o vinho do Porto, em cerca de um século, caiu em profundo descrédito. Foi essa crise que determinou a intervenção do ministro do rei D. José, Sebastião de Carvalho Melo (Marquês de Pombal). Ele criou a Companhia Geral da Agricultura dos Vinhos do Alto Douro em 10 de setembro de 1756, e realizou a tarefa de demarcação do território

Arthur Azevedo

que produzia o verdadeiro vinho do Porto, nas encostas do rio Douro. Assim, constitui-se a primeira região vinícola demarcada no mundo. Na verdade esse vinho dos séculos 17 e 18 não é o mesmo vinho dos nossos dias. Provavelmente o vinho oferecido aos jovens que pararam no Mosteiro de Lamego, em 1678, deveria ser o vinho do Porto dos padres, mais rico e doce que os demais. Em 1820, houve uma colheita de uvas muito maduras e nem todos os açúcares puderam ser convertidos em álcool, dando origem a um vinho extraordinariamente rico e doce, de maneira natural. Os veteranos consumidores ingleses aprovaram o novo estilo e, desde então, os produtores passaram a interromper a fermentação adicionando aguardente vínica, a fim de torná-lo semelhante ao excepcional vinho de 1820. Essa prática era extremamente controversa e foi condenada em 1850 pelo Barão de Forrester, proprietário na região do Douro. No entanto, os demais produtores mantiveram a adição de aguardente em momentos diferenciados, produzindo os estilos seco, médio e rico. Podemos considerar que, desde 1900, o vinho do Porto vem sendo produzido da mesma maneira. No final do século 19, a phylloxera devastou completamente as vinhas do Douro e na reconstrução foram traçados novos socalcos, acompanhando as curvas das encostas, redesenhando a espetacular paisagem. Em 1926 foram criados os armazéns em Vila Nova de Gaia, cidade irmã do Porto. O Instituto do Vinho do Porto (IVP), criado em 1933, é a entidade responsável pela fiscalização e certificação da denominação de origem, controlando qualidade e quantidade dos vinhos produzidos. Em breves palavras, essa é a história de um dos patrimônios da humanidade, um vinho de caráter único e muito apreciado em todo o mundo: o inigualável e genuíno vinho do Porto.

Arthur Azevedo é diretor da Associação Brasileira de SommeliersSP, editor do website Artwine (www.artwine.com.br), consultor da Winebrands e Membro da Confraria do Vinho do Porto.

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CHARCUTARIA ARTESANAL Fotos: Johnny Mazzilli

Hoje em dia cresce o interesse de consumidores e profissionais de gastronomia pelo resgate da charcutaria artesanal, o preparo de embutidos, salmouras e conservas

Na base, o pastrami de carne bovina Sobre o pastrami, o ex贸tico presunto cru de pato

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Paula Labaki


Muitas vezes a gastronomia evolui, se recicla e se moderniza através do resgate de técnicas e costumes antigos. A charcutaria, uma arte ancestral cujas origens remontam há mais de 6.000 anos, foi muito empregada desde tempos remotos como forma de preservar e transportar alimentos que, sem este processo, se deteriorariam. No passado, muitos alimentos iam e vinham em ânforas de barro, envolvidos em especiarias ou mergulhados em azeites e salmouras. Foi muito utilizada durante o Império Romano, e era uma solução eficaz para a conservação de alimentos durante os intermináveis deslocamentos das legiões romanas. Mas foi na França do século 16 que a charcutaria deixou de ser apenas uma forma de conservação de carnes e começou a ganhar espaço e valor na gastronomia. O charcutier deixou de ser visto como um mero açougueiro e começou a adquirir status. A nossa charcutaria está muito ligada aos marcantes sabores portugueses, e está presente na pujante gastronomia portuguesa há muito tempo, transmitida de geração para geração. A charcutaria tradicional artesanal está constantemente renascendo, através da transmissão do conhecimento de receitas muito antigas de apreciadores já idosos, aliada à vontade de novas gerações de aprender como faziam seus antepassados. Conhecimento antigo aliado à técnicas atuais e avançadas recriam antigas receitas, novos sabores e texturas surgem. Porém, sempre preservando a rusticidade e a pegada artesanal, características fundamentais da charcutaria artesanal. Comecei cedo meu aprendizado, na fazenda onde morava. Tínhamos colonos italianos e, entre eles, um nono que em sua terra de origem era um mestre no assunto. Foi ele quem primeiro me incentivou e me ensinou os princípios. As técnicas e os insumos empregados são muito variados. As infinitas possibilidades de combinação de elementos, como sal, açúcar, especiarias, o embutimento, a prensagem e cura e a defumação, podem transformar insumos comuns em preciosas iguarias. Muitas destas técnicas são desenvolvidas no ambiente familiar e constituem-se verdadeiros segredos da arte, passados de pai para filho e guardados a sete chaves. O pastrami, cuja receita vai aqui, é fácil de fazer e leva quatro semanas para ficar pronto. É um bom começo para os interessados em se aventurar pela charcutaria artesanal. Três semanas são somente para o processo de prensagem e cura. O preparo do presunto cru de pato, por sua vez, é mais longo e complexo – leva em torno de 14 semanas e resulta em uma rara iguaria. A alheira, outra saborosa herança de nossos colonizadores, utiliza a

técnica clássica de embutidos, é fácil de fazer e tem aroma e sabor exuberantes. Na Europa, a charcutaria evoluiu e se tornou uma sólida tradição principalmente em países como França, Itália, Espanha, Alemanha, Portugal, Dinamarca, Hungria e Croácia Neste último, o famoso prosciutto local se chama Prsut e há grande variedade de embutidos, alguns exóticos, como o krvavice, um peculiar chouriço feito de sangue de porco e arroz.

PASTRAMI ARTESANAL Preparo: 20 minutos Prensa e marinada: 3 semanas Secagem: 24h Defumação: aproximadamente 2h

Ingredientes

2 folhas de louro 6 dentes de alho descascados 1 pimenta vermelha 1 colher de sopa de grãos de pimenta preta 1 colher de sopa de grãos de pimenta branca 1 colher de sopa de grãos de coentro 1 colher de sopa de grãos de mostarda 1 colher de sopa de páprica em pó 1 colher de sopa de canela em pó 1 colher de sopa de gengibre em pó 4 colheres de sopa de sal 2 colheres de sopa de açúcar mascavo 2kg de peito bovino em formato de manta

Preparo

Amasse todos os temperos num pilão. Passe toda a mistura na carne. Coloque tudo, mesmo que pareça muito. Coloque a carne em um saco resistente. Amarre bem, tirando o máximo de ar possível. Se você tem uma máquina de vácuo, tanto melhor. Coloque em uma assadeira e coloque outra assadeira por cima. Prense com algo bem pesado, como uma pedra ou saco de arroz. Leve ao refrigerador e deixe maturar por três semanas. Após esse tempo, abra o saco, remova a carne e coloque sobre uma grelha dentro de uma assadeira ou caixa plástica. Volte à geladeira, agora aberto, e deixe secar por 24 horas. Depois, retire da geladeira e defume por no máximo duas horas.

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trip do leitor

CHILE

UMA VIAGEM ATRAVÉS DOS VINHEDOS E DA SABOROSA GASTRONOMIA CHILENA Todos os anos, Santiago nos recebe como um cartão postal, com a maravilhosa Cordilheira dos Andes estampada ao fundo, e seus deliciosos encantos gastronômicos, baseados na pesca nas águas frias do Oceano Pacifico e o brinde vindo da terra. Comecei explorando as bodegas do vale do Maipo, a aproximadamente 40 minutos de distância de Santiago, região de excelente terroir, onde a uva Cabernet Sauvignon se adaptou muito bem, especialmente na microrregião de Pirque. O Chile também abriga outras grandes regiões produtoras, tal como o Vale de Casablanca, nas proximidades das cidades litorâneas de Valparaiso e Viña Del Mar. A brisa do Oceano Pacífico exerce considerável influência, e a grande variação de temperatura favorece a maturação lenta e gradual, local ideal para uvas como Chardonnay e Sauvignon Blanc. Muita fruta e boa acidez. A Carménère, uva julgada como extinta desde 1860, quando foi praticamente dizimada na França, foi redescoberta no Chile em 1994, ao observarem a demora na maturação de um

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vinhedo que se acreditava erroneamente ser de Merlot. O Vale de Colchagua é o principal produtor desta frágil variedade que pode se desenvolver por conta do isolamento físico criado pelas barreiras naturais do Oceano Pacífico a oeste, o Deserto do Atacama ao norte, a Cordilheira dos Andes a leste e a região dos grandes lagos ao sul. Voltando a Santiago, não foi difícil escolher onde jantar. O Aqui Está Coco, do chef chileno “Coco” Pacheco, serve um pastel de centolla maravilhoso, com o qual não faltam bons vinhos para harmonizar. Para os carnívoros são muitas as opções. Apesar de estarmos no Chile, me rendi a um grande representante da culinária peruana, o imperdível Astrid & Gastón, onde não se pode deixar de experimentar a especialidade da casa, os esplêndidos ceviches. Aqui Está Coco • www.aquiestacoco.cl Astrid & Gastón • www.astridygaston.com Por Rafael Andrade


opiniã0

UMA REFLEXÃO INVERNAL: ESTILO

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a natural internalização do inverno, uma reflexão: no exato momento desta leitura, você reconhece em si a existência concreta de um estilo (no gosto por vinhos)? Não, não se trata de um método de coerção social que o obrigue a se tornar um indivíduo rotulável, apenas um convite a um resgate pessoal revelador. Todos somos uma “forma em estado bruto”, assim como uma escultura se relaciona com uma pedra (independentemente do valor estético). Para desvelar o potencial desta, é preciso um esforço voluntário. É neste que reside o propósito instigante destas linhas (talvez levando adiante a velha canção de Pepeu Gomes: “Pedra não é gente ainda”!). Estilo não é um fim em si mesmo, sob cuja sombra pessoas viveriam pressionadas, mas uma opção. Um conhecido autor disse em contexto literário: “Estilo é a adequação da linguagem de um sujeito às suas próprias necessidades expressivas”. Estilo é descoberta interior, não se apanha fora. Está dentro de nós e, para que não padeça de frivolidades, requer larga experimentação, ou seja, certa permissividade de se tentar descobrir o que for possível. A vida é demasiadamente curta para se explorar apenas uma pequena parte das possibilidades sensoriais do gosto! Por isso, para entender a si mesmo em termos de paladar, é preciso aventurar-se, conhecer o mundo do vinho! “Recomendo” que permitam-se asas na apreciação de objetos que foram construídos para serem percebidos e compreendidos, seja uma obra de arte ou uma garrafa de vinho! A estética é um campo em que a exploração

André Logaldi

voluntária de sua vastidão não implica em nenhuma pressão sobre nós. Explico: você não é levado a sério se tiver múltiplos ofícios, mas não há objeções para que seja um apreciador das múltiplas formas de arte! As aspas porque quem recebe tal exortação tem liberdade para aceitá-las ou não. Não obstante a evolução seja meramente opcional, é apaixonantemente elucidativa. Vinhos não foram feitos para encerrarem em si a sua significância. Todo enólogo sabe que suas obras são, por quem as aprecia, recriadas e reinterpretadas de forma que o significado original tem chances infinitas de ser transcendido, tal como a arte. Assim como não é preciso ser um grande artista para se encantar por uma obra de arte, a simples atenção ao que se degusta provê grande potencial emotivo para o contentamento do paladar. Só bebe tintos? Ninguém é tão monocromático a ponto de não se permitir envolver pela riqueza de variedades de vinhos ofertados. Uma atitude negativa pode gerar uma privação emocional desnecessária. Se a filosofia é a procura dos homens pelo saber, os objetos artísticos, incluindo os vinhos, são a própria personificação da sabedoria em busca dos homens. Conhecer, sem restrição, é cumprir a essência da potencialidade do ser. Conhece-te a ti mesmo? Sim, mas “nunca te subestimes” seria um complemento realista. Então, mãos à taça e vamos degustar vinho, cultura, sem segregar cores e sabores! Saúde (física e espiritual) a todos! André Logaldi, médico cardiologista, membro da diretoria da ABS-SP, autor de textos e revisor técnico de livros sobre vinhos.

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conexão rio-sp

Gênesis

Por Daniela Pereira

Depois de oito anos de viagens aos recantos mais remotos e selvagens do planeta, Sebastião Salgado apresenta sua nova mostra: “Genêsis”. A exposição retrata uma jornada a locais que permanecem intocados no mundo de hoje. Museu do Meio Ambiente do Jardim Botânico até dia 26/08 Rua Jardim Botânico, 1.008 – RJ museudomeioambiente.jbrj.gov.br Sesc Belenzinho a partir de 11/09 Rua Padre Adelino, 1.000 – SP www.sescsp.org.br Arte Latino-americana no Rio

FABIO CAFFE

Concebida para se dedicar exclusivamente à arte latinoamericana num casarão do século 19, a Casa Daros ocupa um terreno de 12 mil metros quadrados em Botafogo, na zona sul do Rio. Um espaço de arte e educação que oferece exposições, seminários e encontros com artistas. Rua General Severiano 159, Botafogo, Rio de Janeiro ( 21) 2138-0850 • www.casadaros.net

Pão nosso de cada dia

TADEU BRUNELLI

Pão quente e saudável, fatia firme e boa casca eram o desejo de Alain Coumont quando fundou o Le Pain Quotidien, na Bélgica. Com farinha orgânica, sal, água amassados à mão e assados em forno de pedra, os pães da casa tornaram-se célebres mundo afora. Hoje, são 170 lojas em 19 países e cinco casas só em São Paulo (Vila Olímpia, Vila Madalena, Itaim, Cidade Jardim e Jundiaí). Geleias, pastas de chocolate e granola são alguns dos ingredientes fresquíssimos produzidos no local e espalhados pelas mesas comunitárias. www.lepainquotidien.com.br Ruínas de Santa Teresa O parque das Ruínas, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, foi o que restou do Palacete Murtinho Nobre, onde morou Laurinda Santos Lobo, uma das herdeiras de uma nobre família carioca. A casa foi um dos pontos mais efervescentes da vida cultural do Rio, até a morte da anfitriã, em 1946. Hoje, abriga um centro cultural carioca, com programação constante e variada, exposições e uma cafeteria, além de ser palco de shows e happy hours. Sem falar no visual privilegiado. Recomendadíssimo para curtir a vista, se divertir e relaxar. Rua Murtinho Nobre, 169, Santa Teresa, RJ - (21) 2252-1039

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MONTREUX & VEVEY Texto e fotos: Johnny Mazzilli

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os turistas. O grande lago domina a paisagem, estendendo-se pelo fundo do vale por 72 quilômetros. Nos meses de verão, a incidência do sol em sua superfície cria uma enorme reflexão de luz nas encostas repletas de vinhedos, incendiando a paisagem. Em Vevey, no boulevard do lago, turistas e locais vão e vêm em tranquilas caminhadas. O mesmo vai e vem que Charles Chaplin fazia todas as manhãs após se mudar para lá, onde viveu até o fim de seus dias. Nos pubs e cafés à beira do lago, o clima é de tranquilidade e contemplação. Do outro lado do lago, a França, Évian-le-Bagnes.

placidez do cenário e a atmosfera contemplativa marcam duas pequenas e charmosas cidades vizinhas, Montreux e Vevey, situadas no Cantão de Vaud, no sul da próspera Suíça. O Lac Lèman, os vinhedos históricos de Lavaux com suas vinícolas centenárias, o célebre festival de jazz de Montreux, o charmoso centro de Vevey, seus surpreendentes chocolates, a gastronomia do lago, a onipresença dos queijos, vinhos e embutidos locais e a proximidade com a glamurosa estação de esqui de Gstaad, a uma hora de distância de trem, são um verdadeiro deleite para

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Château de Chillon Chillon é um dos castelos mais conhecidos do mundo e o mais visitado monumento suíço. Situado às margens do lago, na pequena Veytaux, uma vila vizinha a apenas três quilômetros de Montreux, o castelo serviu durante séculos como posto militar de controle de tráfego de pessoas e mercadorias entre a Riviera Vaudesa e a Planície do Ródano, na Itália. Estudioso de Chillon, o arqueólogo Albert Naef descobriu que o castelo foi ocupado desde a Idade do Bronze e através dos séculos passou por diversas reconstruções e restaurações. Não é possível datar com exatidão sua construção, mas os primeiros escritos são do distante ano de 1150. CHÂTEAU DE CHILLON AVENUE DE CHILLON, 21 - CH 1820 VEYTAUX +41 21 966 89 10 WWW.CHILLON.CH

Lavaux A dez minutos do castelo e a cinco de carro do centro de Vevey, estão os vinhedos históricos de Lavaux, alçados à condição de Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, em 2007. Nas encostas inclinadas defronte o grande lago, esparramam-se 850 hectares de vinhedos em pequenas propriedades, meticulosamente esculpidos em terraços de pedra de todos os tamanhos, com mais de 800 anos de existência e pontuado por lindas vilas medievais, com suas adegas, tabernas e restaurantes. De setembro a outubro é a época da colheita das uvas e a folhagem nos vinhedos começa a se avermelhar, antes de cair no início de inverno. WWW.LAVAUX.CH


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Auberge d l’Onde Na pequena vila de Saint-Saphorin, em meio aos vinhedos em Lavaux, encontra-se esse pequeno e simples restaurante, detentor de uma estrela Michelin. Serve deliciosos pratos da culinária tradicional suíça, harmonizados com os vinhos locais. Como sobremesa, experimente o Vermicelle, um purê de castanha portuguesa. Ou pule a sobremesa para o que vem a seguir. VILLAGE CENTRE - 1071 ST-SAPHORIN +41 (0) 21 925 49 00 WWW.AUBERGEDELONDE.CH

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Chocolaterie Poyet & centro de Vevey De volta a Vevey, a perdição: a Confiserie Poyet. Blaise Poyet foi eleito em 2012 o mestre chocolatier do ano. Algumas de suas surpreendentes criações são plenas de significados, como um chocolate “chilli”, em homenagem aos colhedores de pimenta de Sichuan, na China, que leva o ingrediente na composição, ou uma iguaria especialmente criada para a visita do Dalai Lama à Suíça, que recebe infusão de flor de lótus e outros ingredientes inusitados, como a Tsampa, a farinha de cevada torrada dos tibetanos. Um de seus hits são os sapatinhos de Charles Chaplin, vendidos em réplicas de latas de filme ou em miniaturas de caixas – de sapato, claro. Merecem ser saboreados calmamente, de preferência apreciando a vista do lago Lemán e o vai e vem preguiçoso dos cisnes. Não é fácil deixar a confiserie, mas é chegada a hora de se enveredar pelas ruazinhas ao redor e explorar o pequeno comércio local, com seus restaurantes, pubs, lojinhas e brechós curiosos. C ONFISERIE POYET RUE DU THÉÂTRE 8, VEVEY, CH. + 41 21 921 37 37

Hotel dês Trois Couronnes Dentre as tantas coisas boas da Suíça, destaca-se sua impecável hotelaria, da qual o belíssimo Trois Couronnes, situado às margens do Lac Lèman, é um exemplo de excelência. Sua varanda debruça-se sobre o boulevard do lago, e nos meses de verão o Bar Veranda é o lugar perfeito para um champagne e para curtir a paisagem ao cair da tarde. No inverno, a atmosfera acolhedora do pub e seus sofás são um convite para um drinque antes do jantar no próprio restaurante do hotel, o Le Restaurant, recentemente premiado com sua primeira estrela no Michelin. RUE D’ITALIE 49 – CH-1800 VEVEY +41 21 923 32 00 WWW.HOTELTROISCOURONNES.CH

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DUAS TAÇAS

FRANCISCO BARROSO Por: Daniela Pereira • Foto: Johnny Mazzilli

Qual foi a inspiração para criar um bistrô francês com o nome de Le Vin? Como surgiu a ideia? A ideia surgiu quando fiz 40 anos, durante uma viagem para comemorar o aniversário pela Riviera Francesa. Passei 40 dias, com minha esposa Nancy e, na ocasião, conhecemos excelentes bistrôs. Então, achei que poderia me aposentar e calmamente administrar um pequeno bistrô no Brasil. Uma das coisas que chamam atenção são as fotos de família espalhadas na decoração dos restaurantes. Qual a importância da família na sua vida? O Le Vin é uma empresa familiar. Criamos o restaurante para dar um norte aos nossos filhos. Sou descendente de portugueses e a Nancy, de italianos. Por isso, temos essa ligação forte com os filhos e a família. Nossos filhos estão envolvidos no negócio. Você viaja muito e é um crítico afiado em se tratando de gastronomia. O que lhe impressiona quando visita restaurantes pelo mundo? Todos os detalhes são importantes. Desde a recepção no restaurante, passando por toda a experiência de serviço e sabor que você terá no local. Tudo isso tem que ser impecável. Uma falha em algum momento do processo pode arruinar toda a experiência.

Numa sexta-feira de casa lotada, em uma unidade do Le Vin, no Rio de Janeiro, garçons atenciosos tiravam pedidos, enquanto cumins precisos percorriam o salão equilibrando grandes bandejas repletas de taças de vinhos. Maître e sommelier circulavam discretamente dando orientações e servindo clientes. Observar a rotina de um restaurante é algo que poucos comensais fazem. Neste dia, sentada à mesa, com as toalhas quadriculadas impecavelmente limpas e bem passadas, apreciei a maestria da equipe que trabalhava como uma orquestra afinadíssima. O responsável pela harmonia e que, todos os dias, dá o tom de excelência visível nos restaurantes do grupo Le Vin é Francisco Barroso, fundador da casa junto com a esposa e sócia, Nancy Mattos, há 13 anos. Desde então, o Le Vin é sucesso de público e de crítica e não para de crescer. Atualmente, são seis bistrôs, três pâtisseries, uma boulangerie e dois quiosques espalhados por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Arriscaria dizer que o sucesso do Le Vin é fruto de muito trabalho, treinamento, dedicação mas, principalmente, de uma mistura de calor humano, afetividade e humor, características marcantes da personalidade de Francisco Barroso.

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Qual sua refeição inesquecível? A melhor refeição da minha vida foi em Portofino, na Itália, no restaurante do Hotel Esplêndido, apreciando a enseada. O prato era um ravióli de lagostim com molho de limão siciliano, mas tudo fez daquele dia um momento memorável: a companhia, o serviço, o sabor e o visual. O que não pode faltar na sua taça? Por quê? Gosto de vinhos bons. Atualmente, estou numa fase em que aprecio muito os vinhos italianos, os grandes supertoscanos, como Guado al Tasso e Solaia, por exemplo. Também adoro os Bordeaux, que são uma combinação perfeita entre fruta, madeira, e proporcionam grandes harmonizações. Como você descreveria o Le Vin? O que mais ouço dos clientes é que o Le Vin pode proporcionar uma viagem à França sem sair do Brasil, ou seja, é um clássico francês. Qual sua ideia de felicidade? Só felicidade é uma infelicidade. A vida é feita de momentos felizes. Fazer o bem é algo que me faz feliz.



novidADES

CRÉMANTS DE ALBERT BICHOT A Maison Albert Bichot já é amplamente conhecida por seus grandes Chablis, Pommards, VosnéeRomanes, Beaujolais e outros. No começo de junho, a família Bichot, que produz vinhos há mais de 300 anos, apresenta ao mercado brasileiro seus espumantes, Crémants de Bourgogne, nas versões brut e brut rosé. Convidamos você a conhecer mais esta faceta da centenária maison francesa e de seu premiadíssimo enólogo, Alain Serveau.

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NOVIDADES

Crema de aceto balsâmico de Modena IGP, ideal para realçar pratos de sabor agridoce.

Aceto balsâmico de Modena Prata, para o dia a dia da culinária

Elsa Aceto Balsâmico de Modena IGP, envelhecido em tonéis de carvalho

ACETOS BALSÂMICOS MONARI FEDERZONI

Assista o vídeo

Em 1912, a senhora Monari Federzoni inicia a produção do famoso aceto balsâmico de Modena. Nascia assim a empresa Monari Federzoni. Hoje, quatro gerações e 100 anos depois, a marca é reconhecida e apreciada em mais de 50 países. A importação e distribuição exclusivas dos acetos Monari Federzoni no Brasil é da Winebrands.

BORDEAUX A Winebrands acaba de incorporar ao portfólio uma nova região vinícola, Bordeaux! É de lá que chegaram os vinhos Les Hauts du Tertre, de Margaux, Château La Grace Dieu Saint-Emilion Grand Cru, Château Teyssier Montagne Saint-Emilion e o Petite Sirene, um Grand Vin de Bordeaux. Vinhos clássicos, complexos, elegantes e muito fáceis de apreciar!

TODOS OS PRODUTOS MENCIONADOS PODEM SER ADQUIRIDOS NO WWW.WINEBRANDS.COM.BR OU PELOS TELEFONES 0800-771-5556 / (11) 2344-5569

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oui oui

SALADA DE QUINOA COM COGUMELOS FRESCOS E LEGUMES CROCANTES por Roberta Ciasca

Ingredientes

200g de quinoa cozida (mesmo processo do arroz, só que com água na mesma quantidade de quinoa) 1 cenoura grande cortada em palitos finos 100g de cogumelo shiitake cortado em tiras 100g de cogumelo shimeji cortado 50g de azeitona preta picada 50g de vagem francesa pré-cozida 50g de tomate cortado em cubos sem sementes 1 molho de ciboullete picada Azeite trufado Vinagre balsâmico 15ml suco de limão 25ml de saquê Sal

Modo de preparo

Refogue os cogumelos com azeite e um pouco de sal. Quando estiverem macios, adicione o saquê e cozinhe por mais um minuto. Reserve. Em uma vasilha, coloque a quinoa, a cenoura, a azeitona, a vagem, o tomate, a ciboullete e os cogumelos. Tempere com sal, azeite trufado, vinagre balsâmico e suco limão.

Rendimento 4 porções

Oui Oui - Rua Conde de Irajá, 85 Humaitá, Rio de Janeiro, RJ (21) 2527-3539 www.restauranteouioui.com.br

Fotos: Johnny Mazzilli

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Sugestão da chef Roberta Ciasca para acompanhamento: VILLA ANTINORI BRANCO- ANTINORI


falando de vinho

TORMARESCA

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aixão, coragem e confiança no enorme potencial qualitativo da Puglia e, em particular, as zonas de Castel del Monte e Salento, foram os elementos que fizeram com que Antinori investisse na região. A ideia de fundo, sobre a qual desde o primeiro momento foi embasada a filosofia de produção de Tormaresca, é produzir grandes vinhos elaborados com as variedades autóctones da Puglia. De fato, a maior parte dos vinhedos da propriedade é de uvas tradicionais, algumas das quais remontam à época da Magna Grécia e fortemente enraizadas na região: Primitivo, Negroamaro, Fiano, Aglianico e Nero di Troia. A Tormaresca possui duas tenutas situadas na área mais produtiva da região: a Tenuta Bocca di Luppo, na zona DOC de Castel del Monte, e Masseria Maìme, na zona de Salento. É da tenuta Masseria Maìme, com cerca de 350 ha de vinhedos, que provêm os vinhos importados pela Winebrands no Brasil. Entre eles, o vinho que leva o nome da tenuta, Masseria Maìme, elaborado com 100% uvas Negroamaro. Trata-se de um tinto elegante, potente e deliciosamente sedutor. Entre as estrelas da vinícola, está também o Torcicoda, 100% Primitivo, um vinho rico, mineral, estruturado e incrivelmente gastronômico. Além deles, a família apresenta ainda outras delícias, como o surpreendente Chardonnay, um branco delicado e refrescante, produzido em uma região tradicionalmente conhecida por grandes tintos. www.winebrands.com.br

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UM RESTAURANTE “UNIKO” NO CENTRO DO RIO Voltado para o público que aprecia pratos clássicos italianos com um toque contemporâneo, o Uniko é o restaurante do momento, na região central do Rio de Janeiro Por: Daniela Pereira • Fotos: Lipe Borges

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naugurado há poucos meses, no histórico edifício Galeria Sul América – prédio fundado nos anos 1920 e projetado por Joseph Gire, o mesmo arquiteto que desenhou o Copacabana Palace –, o Uniko reúne três nomes de peso da gastronomia, no Rio de Janeiro: Fabrizio Giuliodori (Alessandro e Frederico), Nicola Giorgio e Dionísio Chaves (Duo e Bottega del Vino). O restaurante conta com a marca dos três sócios: excelência nos pratos, atendimento atencioso em um espaço elegante e sofisticado, sem ostentação, no centro da cidade. Nessa região, o Uniko é mesmo um espaço singular. Não é por acaso que a casa vem lotando. A carta de vinhos tem a assinatura do premiado Dionísio Chaves, com mais de 300 rótulos, principalmente italianos e europeus para harmonizar com os pratos da casa. O cardápio

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acontece

é elaborado pelo italiano Nicola Giorgio com uma mistura de clássicos daquele país e toques modernos em receitas, como: salada de lentilhas com lula ao vapor, ravióli de vitela com fondue de parmesão, costela bovina assada ao vinho chianti com purê de batata, nhoque ao pesto e pinoli crocante, entre outros. “Temos uma receptividade maravilhosa. Muitos clientes já conheciam nosso trabalho e têm vindo almoçar quase todos os dias”, afirma Dionísio Chaves. Além da comida diferenciada, o Uniko é um restaurante bonito e agradável. Com 270 metros quadrados e capacidade para 120 lugares, o interior da casa tem projeto assinado por Miguel Pinto Guimarães, com iluminação de Maneco Quinderé. Amplo e com pé-direito alto, o espaço conta com um bar de cinco metros para acomodar quem não quer almoçar nas mesas e aqueles que desejam apenas experimentar os drinques no happy hour. A adega, com cerca de 2.600 garrafas, foi construída acima do bar, com parede de vidro, como se fosse uma vitrine suspensa no ar. A cozinha também ganhou ares de vitrine, pois fica visível para quem está no corredor interno do prédio. O espaço conta ainda com uma charmosa varanda que ganha ares de cafeteria à tarde, com cardápio especial de lanches e café.

UNIKO Rua da Quitanda, 86 – 105 Edifício Galeria Sul América Centro – Rio de Janeiro (21) 3806-6334 www.unikorestaurante.com.br

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BIBLIOTECA EMBUTIDOS – DA SOBREVIVÊNCIA A GASTRONOMIA

Um panorama histórico dos embutidos, as principais técnicas de fabricação e conservação, diferenças entre artesanais e industriais, os embutidos de carne crua (salames), cozida (salsichas, mortadelas e chouriços) e variações com aves, boi, cavalo, ovelha e cabrito. Receitas de pratos, harmonizações com vinhos e um passo a passo da elaboração de uma salsicha de um charcutier artesanal complementam a obra. Autor: Breno Raigorodsky Editora: Senac São Paulo Onde comprar: www.livrariasaraiva.com.br

ESSENCIAL - A ARTE DA GASTRONOMIA SEM FOGÃO

O livro leva o leitor a descobrir maneiras novas e deliciosas de cozinhar sem o calor do fogão. Através de técnicas da alimentação viva, como desidratação, fermentação e marinadas, os autores ensinam cardápios completos, desde entradas até sobremesas, além de bebidas, sopas, saladas e patês, tudo com muito sabor e sofisticação. Autor: David Côté, Mathieu Gallant Editora: Alaúde Onde comprar: www.livrariasaraiva.com.br

O PERFUME DO CHIANTI

Os vinhos se confundem com a trajetória da tradicional família Antinori, que há 26 gerações produz, dentre tantos vinhos célebres, um dos tintos mais elegantes, o Chianti. Os detalhes da receita de qualidade alcançada durante uma vida de encontros, experiências e vitórias são contados com entusiasmo e paixão nesta interessante biografia narrada em primeira pessoa pelo autor. Autor: Piero Antinori Editora: Rocco Onde comprar: www.livrariasaraiva.com.br (também disponível em versão digital)

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POR QUE AS CHINESAS NÃO CONTAM CALORIAS - SEGREDOS DE UMA GASTRONOMIA MILENAR

Um dos grandes segredos da cultura alimentar chinesa é pensar em algo que nutre, não como uma fonte de calorias indesejáveis – o que difere completamente do pensamento dos ocidentais, que costumam ver os alimentos como substâncias que engordam e acreditam que a única alternativa para não ganhar peso é a vigilância permanente. A autora explica também como os chineses encontram o equilíbrio estimulando os cinco sabores, levando em conta o yin e o yang e incorporando alimentos sólidos e líquidos. Autor: Lorraine Clissold Editora: Ponto de Leitura Onde comprar: www.fnac.com.br

AS VIAGENS GASTRONÔMICAS MAIS FANTÁSTICAS DO MUNDO

Do emblemático gaspacho, na Espanha, ao autêntico tagine, no Marrocos, uma infinidade de sabores através da cultura e culinária de lugares extraordinários do planeta. Esse verdadeiro tour pela gastronomia apresenta pratos consagrados e surpreendentes e indica os melhores locais para experimentá-los. Descubra as tradições de pequenas vilas e de grandes civilizações, conheça as inusitadas comidas de rua e passeie pelos famosos mercados e festivais culinários de todo o mundo. Autor: Dorling Kindersley Editora: Publifolha Onde comprar: www.siciliano.com.br

RESTAURANT MAN

Em seu livro de memórias, Joe Bastianich fala de sua saga para se tornar um dos donos de restaurantes mais bemsucedidos do país. Joe aprendeu com o pai, Felice Bastianich, o ultrapragmático, autoproclamado "o homem do restaurante". Depois da faculdade e um ano em Wall Street, Joe comprou uma passagem só de ida para a Itália e trabalhou em restaurantes e vinhedos. Após o retorno a Nova York, se associou a mãe, Lidia, e logo juntou forças com Mario Batali, estabelecendo um superlativo restaurante italiano após o outro. Autor: Joe Bastianich Editora: Plume Onde comprar: www.amazon.com (também disponível em versão digital)

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curtas

Cai a produção mundial de vinhos

Rolha ou rosca? A aceitação das screw caps, as tampas metálicas de rosca, mais que dobrou entre o público europeu, notadamente entre ingleses. Uma pesquisa indica que 85% de consumidores de vinho na Europa aceitam plenamente o uso de screw caps em vinhos destinado ao consumo regular. Em 2003, esse número era de 39%. De acordo com a pesquisa, as mulheres de 30 a 40 anos são as principais entusiastas da tampa metálica, bem como os jovens que começaram a consumir vinho nos últimos cinco anos, quando o uso de screw cap decolou. Na ecológica Austrália, a aceitação de screw caps entre os jovens já beira os 100%.

Champanhe milagroso O consumo moderado de champanhe – uma a duas taças semanais – pode ajudar a minimizar a perda de memória associada ao envelhecimento e atrasar o surgimento de doenças degenerativas. A conclusão é de um estudo recente de investigadores do Reino Unido. Segundo pesquisadores, os compostos fenólicos – antioxidantes, que combatem o envelhecimento celular – são ainda mais presentes nos champanhes do que nos vinhos brancos. O estudo mostrou que o champanhe atrasa a perda da memória, prevenindo o aparecimento precoce de distúrbios cognitivos à medida que se envelhece. Do que estávamos falando mesmo?

Ladrões de uvas Alguns produtores alemães têm colhido suas uvas durante a noite. O motivo? Ladrões têm invadido vinhedos cobiçados no sul da Alemanha na calada da noite, e surrupiado grandes valores em “espécie”. Os produtores incrementaram a vigilância, alguns colocaram guardas e cães. No entanto, isso não tem sido suficiente para acabar com a ação dos criminosos. Um produtor alega um prejuízo de 135 mil dólares, ou 3.000 garrafas de seu excelente Pinot Noir.

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A produção global de vinho caiu consideravelmente em 2012, por conta do clima ruim na Europa e à adoção de políticas para redução de vinhedos no continente. Enquanto isso, Chile e Estados Unidos tiveram safras significativas, segundo um relatório divulgado pela OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho). Segundo a OIV, a produção global caiu 6% em 2012. A produção da União Europeia recuou 10%, sendo que na França a redução atingiu preocupantes 17%, após a boa safra de 2011.

Doses moderadas de vinho podem aumentar a inteligência? Segundo pesquisadores, pessoas que bebem vinho moderadamente obtêm melhores resultados em testes de QI do que os abstêmios. “O vinho protege algumas funções mentais contra o processo degenerativo causado pelo envelhecimento, o que significa que, de alguma forma, influi na inteligência”, afirmou um dos pesquisadores ao jornal japonês Tokyo Shimbun. O estudo foi conduzido durante quatro anos e acompanhou duas mil pessoas.

E cai o consumo de vinhos na França A queda no consumo de vinho na França nas últimas décadas vem gerando preocupação no segmento. Teme-se que isso reflita uma possível perda de valores considerados essenciais da identidade francesa. Segundo dados do FranceAgriMer, órgão do Ministério da Agricultura, em 1980 51% dos adultos consumiam vinho diariamente ou quase todos os dias. Atualmente este número caiu para 17%, e a proporção de franceses que nunca bebem vinho dobrou e chegou a 38%. Em 1965, a quantidade de vinho consumida per capita era de 160 litros por ano. Em 2010, a quantidade caiu para 57 litros e continua em declínio. Pessoas de 50 a 60 anos cresceram com vinho na mesa em todas as refeições. Para estes, o vinho continua sendo parte do patrimônio cultural. Entre os 40 e 50 anos de idade, as pessoas preferem beber ocasionalmente. Essa geração compensa o declínio no consumo gastando mais com vinhos – bebem menos, mas preferem vinhos melhores. Na geração seguinte, poucos se interessam pelo vinho antes dos 25 anos. Para estes, o vinho é um produto qualquer e precisam ser convencidos que o investimento vale a pena. Novos tempos.


Proprietรกrio

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O inverno é a estação mais calórica, ideal para apreciar vinhos mais potentes e encorpados, como aquele tinto que estamos guardando há tempos. Muitas vezes, estes vinhos pedem uma decantação, para obtermos sua máxima expressão em aromas e sabores. A Wine Not? traz nesta edição uma seleção de decanters modernos e estilosos.

DECANTER BORDEAUX BY ETIENNE MENEAU Um decanter inusitado e exótico, com design moderno e único, que combina arte com a função de produzir ótimos resultados. www.the-strange-decanter.blogspot.com.br/

AMADEO O decanter Amadeo, em formato de harpa, foi concebido para celebrar o 250º aniversário da Riedel. Sua capacidade permite a decantação de 1,5l de vinho (duas garrafas). www.theidealglass.co.uk/riedel/140riedeldecanters-amadeo-x1.html

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GAD


RIEDEL ULTRA DECANTER WINE Com design clássico de cristal, oferece o máximo de espaço de respiração para o seu vinho, acrescentando sofisticação à mesa. www.wineglass.com/decanters/riedel-decanters

GETS DUCK DECANTER Sirva seu vinho favorito neste requintado decanter em forma de pato e prepare-se para os elogios! www.classichostess.com/crystalduckdecanter.aspx

RIEDEL SYRAH DECANTER A Riedel Syrah é um ótimo decanter de baixo custo para uso diário, perfeito para qualquer vinho tinto. É também um elegante presente para qualquer época do ano. www.wineglass.com/decanters/riedel-decanters/ riedel-syrah-wine-decanter.html

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pelo mundo

SÃO LUIZ DO PARAITINGA Recuperada, a cidade vive um ótimo momento em meio à inúmeras festividades folclóricas Texto e foto: Johnny Mazzilli

Uma pitoresca estância climática encravada na Serra do Mar, a 170 km de São Paulo. Fundada em 1769 por bandeirantes, tornou-se cidade em 1857. Em 1873, d. Pedro II conferiu à vila o título de Imperial Cidade. Em 2002, recebeu o título de Estância Turística. Terra do médico e sanitarista Oswaldo Cruz e do geógrafo Aziz Ab'Saber, é a cidade brasileira com o maior número de festas folclóricas, culturais e religiosas, e seu evento mais representativo é o Carnaval de marchinhas. Atingida por uma enchente devastadora em 2010, a cidade assistiu às suas duas igrejas seculares ruírem e parte do casario histórico submergir nas águas do Rio Paraitinga, que subiu mais de dez metros acima do normal. A Festa do Divino é outro evento importante no calendário cultural. É quando acontecem shows, procissões, desfiles e grupos de danças folclóricas se apresentam pelas ruas.

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