RELATÓRIO SUMÁRIO
GÉNERO & TRÁFICO DE VIDA SELVAGEM NEGLIGENCIADO E SUBESTIMADO
Este relatório fornece a primeira síntese e avaliação da dinâmica sexista do tráfico mundial de vida selvagem. O relatório analisa investigações baseadas em género, evidências de campo e conceitos relacionados à caça furtiva, tráfico e consumo de produtos derivados da vida selvagem, bem como governança e políticas internacionais. Com base nessas evidências, foi elaborado um “quadro de género” prático para orientar a inclusão da análise de género em programas, políticas e intervenções sobre o tráfico de vida selvagem através de uma investigação sistemática da dinâmica de género em agentes, factores, efeitos e respostas. O relatório também identifica as necessidades de investigação e oferece recomendações de nível local e global.
“Género & Tráfico de Vida Selvagem, Negligenciado e Subestimado.” disponível em julho 2021. Autor, Joni Seager Para mais informações, contacte: Rob Parry-Jones, Director, Wildlife Crime Initiative, WWFInternational rparryjones@wwfint.org
1 FALHAR EM CONSIDERAR O GÉNERO NAS NOSSAS ABORDAGENS AO TRÁFICO DE VIDA SELVAGEM É “COMBATER O CRIME NA VIDA SELVAGEM COM UMA MÃO ATRÁS DAS COSTAS”. Isso resulta em enormes lacunas na compreensão das actividades, processos e oportunidades de intervenção no tráfico de vida selvagem no mundo real. Por outro lado, incluir a análise de género para abordagens ao tráfico na vida selvagem aumenta a probabilidade de sucesso na conservação e pode ser um catalisador para desafiar as desigualdades sociais. Por exemplo, na região do Parque Nacional Kafue na Zâmbia, onde parte das mulheres marginalizadas têm poucas oportunidades de sustento e são forçadas a fornecer alojamento e sexo aos caçadores furtivos sazonais, a vergonha e o sigilo protegem a identidade do caçador furtivo e a reputação da mulher.
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Abordar esta questão enraizada na desigualdade de género pode não apenas fortalecer os esforços para combater o crime contra a vida selvagem, mas também desafiar as desigualdades de género que o possibilitam. Além disso, quando questões de género não são consideradas, as acções para conter o tráfico de vida selvagem podem consolidar as diferenças e desigualdades de género, em detrimento das mulheres e da conservação em vez de trabalhar para reduzir simultaneamente o tráfico de vida selvagem e aumentar a igualdade de género.
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2 DIFERENÇAS DE GÉNERO, NORMAS E DESIGUALDADES ENRAÍZAM E MOLDAM O TRÁFICO DE VIDA SELVAGEM E AS RESPOSTAS A ESTE. Porque o tráfico de vida selvagem ocorre num mundo definido pela diferença de género, os agentes, práticas, efeitos, pressões e resultados do tráfico de vida selvagem - bem como os esforços para restringi-lo ou erradicá-lo também são “sexistas”. Mulheres e homens participam de maneira diferente em todos os domínios do tráfico de vida selvagem, da caça furtiva ao consumo e na elaboração de políticas, e muitas vezes com posturas diferentes. Os custos e benefícios da caça furtiva, tráfico e consumo da vida selvagem é diferente para homens e mulheres, assim como os custos e benefícios de conter ou acabar o tráfico de vida selvagem. Precisamos de perceber essas diferenças para abordar o tráfico de vida selvagem.
3 FECHAR OS OLHOS AO GÉNERO CRIA UMA IMAGEM DISTORCIDA DA REALIDADE. Homens e mulheres interagem com o meio ambiente e com os recursos naturais de maneira diferente e, normalmente, têm conhecimentos e experiências ambientais diferentes. Por exemplo, em algumas comunidades costeiras, as mulheres são proibidas de pescar no mar, mas passam o tempo a apanhar recursos ao longo da costa. Reunir informação apenas sobre homens (ou apenas sobre mulheres) produz inutilmente conhecimento enviesado. Até ao momento, o conhecimento sobre tráfico de vida selvagem é cego em relação ao género ou é fortemente enviesado em relação ao género, sem que esse enviesamento seja realmente reconhecido.
4 VIOLÊNCIA SEXUAL E DESIGUALDADES DE GÉNERO SÃO FACILITADORES DO TRÁFICO DE VIDA SELVAGEM EM MUITOS PONTOS NA CADEIA DE VALOR.
5 ABORDAR QUESTÕES DE GÉNERO BENEFICIA TAMBÉM OS HOMENS. Integrar o pensamento sobre género inclui abordar normas vincadas a respeito dos homens e masculinidade. Não é incomum que os homens sejam intimidados a praticar caça furtiva, por mulheres ou homens mais velhos, através da vergonha associada à sua masculinidade. A suposição de que os homens são mais adequados para o trabalho de fiscal altamente armados coloca-os num risco considerável. Uma imposição altamente masculinizada prejudica geralmente os relacionamentos com membros da comunidade que, de outra forma, poderiam ser aliados; também aumenta a probabilidade de que a aplicação da lei seja violenta, podendo envolver abuso sexual.
6 TRABALHO DE FISCAL INCLUSIVO E APLICAÇÃO DA LEI É GERALMENTE MAIS EFICAZ. Há forte evidência de que as mulheres são mais propensas do que os homens a aplicar abordagens não violentas e baseadas em negociação para resolver conflitos.
7 CATIVAR MULHERES É UMA VANTAGEM DA IGUALDADE DE GÉNERO E DA CONSERVAÇÃO. A igualdade de género está causalmente associada ao bemestar social e ambiental: quando a desigualdade de género é alta, normalmente também é a degradação ambiental. As estruturas sociais e económicas que promovem a igualdade de género - tomada de decisão e participação inclusivas, reconhecimento dos efeitos positivos da diversidade, cidadania activa e capacitada, reconhecimento dos direitos humanos universais - também são pré-requisitos para a sustentabilidade ambiental.
Existem inúmeros exemplos de exploração sexual, prostituição de mulheres e tráfico sexual, facilitando as transações pessoais e comerciais do tráfico de vida selvagem em escalas locais e globais. Tornando visível a forma como a violência com base no género é inserida no tráfico de vida selvagem abre caminho para desafiar e mudar essas dinâmicas.
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8 AS ORGANIZAÇÕES DE CONSERVAÇÃO QUE ENFRENTAM O TRÁFICO DE VIDA SELVAGEM TÊM A OPORTUNIDADE DE SER LÍDERES NUMA MUDANÇA POSITIVA NAS QUESTÕES DE GÉNERO. Ao demonstrar compromissos com a capacitação das mulheres e com a inclusão de género nos seus próprios projectos e programas, estas podem ser poderosas promotoras de mudança, enfraquecendo e desconstruindo normas - especialmente nas áreas rurais pobres. Garantindo que os benefícios dos projectos de conservação são distribuídos em formas que apoiam a igualdade de género e a capacitação das mulheres melhora os resultados da conservação ao mesmo tempo que apoia a progressão social. Igualdade de género, diversidade e inclusão também tornam o trabalho das organizações de conservação mais enriquecido e mais eficaz, melhorando o pensamento organizacional, o planeamento e os resultados.
9 JUNTAR QUESTÕES DE GÉNERO AO TRABALHO DO TRÁFICO DE VIDA SELVAGEM REFLECTE ASPIRAÇÕES DE ALTO NÍVEL – E OBRIGAÇÕES. A igualdade de género é obrigatória em muitas leis nacionais e políticas organizacionais, e as agendas de igualdade de género estão cada vez mais proeminentes nos compromissos de política global, incluindo os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável. Contribuidores, tanto privados como públicos, esperam cada vez mais que a análise de género seja conduzida e operacionalizada nos programas que apoiam. No entanto, as principais entidades da área do tráfico de vida selvagem estão fora deste circuito: ainda não houve pedidos para uma resposta ao tráfico de vida selvagem informada com base no género por organizações como a CITES ou em várias outras declarações estatais ou da ONU contra o tráfico na vida selvagem.
“Género & Tráfico de Vida Selvagem, Negligenciado e Subestimado.” disponível em julho 2021. Autor, Joni Seager Para mais informações, contacte: Rob Parry-Jones, Director, Wildlife Crime Initiative, WWF International rparryjones@wwfint.org
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10 O CONSUMO DE VIDA SELVAGEM É ALTAMENTE SEXISTA, TANTO A NÍVEL LOCAL COMO DA ALTA ELITE. Homens e mulheres consomem e compram diferentes produtos da vida selvagem, para diferentes fins: as mulheres, frequentemente, são as principais compradoras de medicamentos baseados na vida selvagem; os homens usam o consumo da vida selvagem como uma moeda para cimentar as redes sociais e relações comerciais masculinas. Esforços de redução em demanda serão ampliados tendo em consideração as diferenças de género.
11 É NECESSÁRIA MAIS INVESTIGAÇÃO E ANÁLISE DE GÉNERO EM TODOS OS DOMÍNIOS DO TRABALHO ANTI-TRÁFICO DE VIDA SELVAGEM. Grande parte da evidência existente assenta apenas em alguns estudos. Os padrões de poder e diferenciação que aparecem através do espectro do género também pertencem a outras identidades, como raça/etnia, classe ou religião, entre outras. Quase não existem estudos dessas dinâmicas em relação ao tráfico de vida selvagem.
12 A ANÁLISE DE GÉNERO É UMA FERRAMENTA, NÃO UMA VARINHA MÁGICA. Não resolverá os problemas do comércio insustentável e violento da vida selvagem. Mas contribui para soluções ao envolver uma compreensão de um ângulo mais amplo de problemas, soluções e políticas não oferecidas noutro lugar. Além disso, permite que as organizações de tráfico de vida selvagem alinhem o seu trabalho com os direitos humanos e os compromissos de diversidade já assumidos em todo o sector da conservação.
FIM