Um brinde à França TOURS EXCLUSIVOS NA BORGONHA, EM BORDEAUX E NO VALE DO LOIRE LEVAM OS FÃS DE VINHOS AOS TERROIRS MAIS VALORIZADOS DO MUNDO E A RESTAURANTES ESTRELADOS EM UMA EXPERIÊNCIA ENOGASTRONÔMICA COMPLETA
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Em
suas muitas andanças pela França, o brasileiro Carlos Marcondes, jornalista especializado em vinhos e lifestyle, costuma olhar bastante para cima. Seja num pequeno vilarejo dominado pelos vinhedos da Borgonha, seja em torno dos châteaux de Bordeaux ou do Vale do Loire, uma nuvem fora de hora – ou a falta de uma delas – costuma deixá-lo alerta. Assim como os franceses, ele sabe bem o quanto a bebida de Baco representa para o país (e para quem o visita), e de que forma sua produção, em pleno século 21, ainda depende dos ciclos ambientais e valoriza aqueles que sabem distinguir as cores da terra e os movimentos do céu.
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É dos terroirs da Borgonha que saem alguns dos vinhos mais desejados do planeta, como o Domaine de la RomanÊe-Conti
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É
essa composição, selada entre a natureza e a perspicácia do homem, que deu vida a um conceito para lá de francês e que hoje é celebrado em todo o mundo: o de terroir. Ali, o “solo” significa mais do que simplesmente a “terra”, e a melhor (e mais saborosa) forma de entender essa cultura é fazer uma viagem com viés enogastronômico pelas icônicas regiões de Borgonha, Bordeaux e Loire. Durante os tours exclusivos, seja você entendido ou não de vinho, fica nítido que não se brinca com o que está por trás dos rótulos ou é servido à mesa na França. Trata-se do primeiro país a ter a gastronomia declarada como patrimônio da humanidade
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pela Unesco, o que ocorreu em 2010. Foi ali também que praticamente se institucionalizaram as rígidas regras de denominação de origem controlada (AOC) para os vinhos e alguns de seus melhores acompanhamentos, como os queijos. Não à toa, em 2018, a França atingiu a marca de 621 restaurantes estrelados no Guia Michelin, 28 deles com três estrelas. Para o viajante, o melhor de tudo é que esse zelo na produção de bebidas e pratos de alto nível vem aliado a belas paisagens e ao charme característico que os franceses costumam empregar ao que gostam de fazer. Foi assim que nasceram as rotas inebriantes que levam aos vinhedos mais valorizados do planeta, a castelos cercados de vinhas e a encantadores bistrôs à margem de rios que serpenteiam por vilas medievais. Entre algumas espiadas no céu e muitas degustações às cegas, Marcondes selecionou o que há de melhor para quem deseja viajar com estilo à França. É o que você confere agora.
Fotos: Alain Doire - Bourgogne Tourisme / L. De Serres (acima)
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Roteiros enogastronômicos pelo país incluem visita a castelos como o de Amboise, no Loire, e degustações de Chablis, na Borgonha (abaixo)
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2 4 França | Borgonha
Borgonha BEM-VINDO À TERRA DE DUCADOS E DAS UVAS MAIS COBIÇADAS DO MUNDO
A
Borgonha prima pela autenticidade. Para quem chega lá vindo de Paris, a impressão é de ter saído da França e entrado em outro país, muito mais verde. Afinal, entre a capital histórica Dijon e Beaune, escondem-se 37 vilarejos entre 32 mil hectares de vinhas disputados a dedo, nas mãos de 3,8 mil produtores. A ordem na região é o slow travel. Para aproveitar a Borgonha como se
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deve, vale a pena reservar ao menos cinco dias. A porta de entrada é Dijon, uma das cidades mais bem preservadas do país e a mais contemporânea dos arredores, o que não tira dela a essência interiorana. Dijon ganhou status por ter sido terra dos grandes duques borgonheses, entre 880 e 1482, quando a região despontou como um dos estados mais importantes da Europa medieval.
Fotos: Divulgação / Alain Doire — Bourgogne Tourisme (dir.)
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Degustação de vinho nos jardins do Clos de Vougeot. Na pág. ao lado, a bela cidade de Dijon
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de la Libération. Já no campo da gastronomia, vale visitar o mercado des Halles, o melhor lugar para entender a riqueza da terra das mostardas, do licor de cassis e de queijos deliciosos, como o endêmico Cîteaux, feito por monges enclausurados, na abadia homônima.
Beaune, a capital dos vinhos De Dijon, parte a rota rumo
Como consequência, a cidade abriga algumas maravilhas arquitetônicas, a exemplo da Catedral de Notre-Dame. Gótica, foi erguida no século 14, anteriormente até mesmo à igreja homônima de Paris, o que faz dela o ponto mais fotografado do pedaço. Outro cartão-postal local é a Torre Philippe le Bon, que proporciona ampla vista da cidade e fica encravada no Palais des Ducs de Bourgogne, na Place
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àquela que é apontada por muitos enófilos como a capital mundial dos vinhos: Beaune. O trajeto de 45 km entre as cidades é conhecido como Champs-Elysées da Borgonha e tem vinícolas tão valorizadas que a região ganhou o título de Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Terroir dos mais cobiçados pinot noir e chardonnay do mundo, o local serve de palco para a produção de 33 Grands Crus, a mais alta denominação dos vinhos locais. Dessas terras, segundo a britânica Cult Wines, uma das principais casas de investimentos na bebida no Reino Unido, saem oito dos dez rótulos mais caros do planeta. Um trecho da rota leva à Côte de Beaune, a terra dos vinhos brancos. Nomes aclamados dividem seus vinhedos entre as comunas de Chassagne-Montrachet e Puligny-Montrachet. Lá estão alguns Grands Crus que ostentam a fama de brancos secos mais preciosos do mundo. São garrafas conhecidas como Montrachet (chardonnay), que chegam a valer € 2.500, vindas de produtores como Corton-Charlemagne, Chevalier, Bâtard, e o mítico Le Montrachet. “Deveria ser tomado de joelhos, com o chapéu em mãos” , declarou o famoso escritor Alexandre Dumas
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Alain Doire – Bourgogne Tourisme
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(autor de O Conde de Monte Entre as visitas obriCristo) sobre este último. gatórias em Nuits estão os Abbaye de Maizières No coração da medieval Beaune, Algumas vinícolas vilarejos de Vougeot, é uma propriedade singular, tomhistóricas estão abertas à Chambolle-Musigny, Gebada pela Unesco, já que ocupa visitação, mediante reservrey-Chambertin e Vosneuma edificação que anteriormente funcionava como abadia. vas antecipadas, como a -Romanée. É neste último As suítes começam em € 398. Château de Meursault, com que se encontra o produtor https://is.gd/ZP30rL caves dos século 12. A prodo vinho mais caro da Terdutora tem diversos rótura: o Domaine de la RoLa Cueillette Um imenso e luxuoso château los Premier Cru (a segunda manée-Conti (DRC). Garem meio aos vinhedos da peclassificação em excelênrafas de seu pinot noir quena região de Meursault. cia) e um Grand Cru, o custam em média € 13 mil. Tem um famoso spa baseado conceituado Corton. O máximo que o visina experiência de frutoterapias. Há suítes desde € 325. A guia Aline Mendonça tante pode se aproximar www.lacueillette.com (ht tps://is.gd/1 x w w8y), da propriedade é do porbrasileira formada em detão, que esconde uma sinChâteau de Vault-de-Lugny Castelo medieval cinco esgustação pela Faculdade de gela plaquinha com o trelas, com edificações que Dijon e casada com um nome da produtora. Eles datam de 1120. Opte pelo enólogo francês, prepara não recebem visitas. Mesquarto “O Rei”, o principal da viagens customizadas, mo com toda a fama, o vipropriedade, onde já esteve o ex-presidente Fernando Henripara clientes que buscam nhedo fica à beira de uma que Cardoso. A acomodação programas de insiders na ruela, como se fosse qualcusta a partir de € 410. Borgonha. “Procuro marquer fazendinha do intehttp://lugny.fr car visitas a vinícolas aurior, sem grades, completênticas, como as familiatamente desprotegido do res Chartron ou Rocault (em um ponto de vista de segurança. É possível vilarejo de 89 habitantes), onde a ideia é observar as vinhas livres de cercas, o que o proprietário faça a recepção e o que costuma provocar um choque culviajante possa ver o trabalho em tempo tural nos brasileiros. real” , afirma a especialista. Tours exclusivos Uma das Vinhas douradas A Côte de maneiras mais cênicas de se ter uma Beaune forma com a vizinha Côte de ideia do emaranhado de vilarejos da Nuits a famosa Côte-d’Or (costa douBorgonha é fazer um voo de balão rada). Em Nuits estão alguns dos (www.air-escargot.com), que dura cerprincipais produtores da uva mais ca de uma hora e meia e custa € 270 por charmosa do mundo, a pinot noir. Por pessoa. A lista de passeios exclusivos lá, não se fala em dezenas, e sim em pela região inclui ainda tours de jipes números quebrados de hectares de até a comuna de Chablis, ao norte, finaterra, como 0,6 ou 0,82. É o terroir lizados com um pitoresco piquenique mais valorizado do planeta, onde um aos pés de vinhas de chardonnay. hectare de onde saem Grands Crus Vale a pena separar uma manhã também para ir ao Clos de Vougeot, em ultrapassa facilmente € 10 milhões.
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Luxo Vougeot, a fim de mergulhar na história dos vinhos da Borgonha e do envolvimento de monges na produção da bebida. Se for outono, considere ainda caçar trufas na floresta com cachorros treinados ou então visitar uma fábrica de chocolates artesanais, como a saborosa Appellation Chocolat. Entre um passeio e outro, sobra tempo para visitar alguns dos 30 restaurantes estrelados da Borgonha, com destaque para o Levernois, dentro do hotel homônimo que leva o selo Relais & Châteaux. Vale muito também ir ao 21 Boulevard, com ótima carta de vinhos, assim como marcar um almoço na vinícola Drouhin-Laroze ou em algum bistrô rústico na vila de Fixin. Será a chance de provar um dos três pratos típicos da região: o oeuf en meurette, ovo poché à base de vinho; o boeuf bourguignon, carne também regada à bebida; e o poulet Gaston Gérard, frango feito com mostarda. Degustá-los em harmonia com um vinho da casa costuma ser uma daquelas experiências gastronômicas inesquecíveis que só a França pode oferecer.
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Em Nuits estão alguns dos principais produtores da uva mais charmosa do mundo, a pinot noir. É o terroir mais valorizado do planeta A história do vinho na Borgonha passa pela produção iniciada por monges na antiga abadia de Clos de Vougeot
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2 8 França | Bordeaux
Bordeaux VINHO É SINÔNIMO DE PODER NESTE ELEGANTE DESTINO NO SUDOESTE DA FRANÇA
Se
a Borgonha encanta os visitantes pelo vinho, não há como ser diferente em Bordeaux. A cidade e seu entorno reúnem mais de 7 mil produtores e 21 apelações (AOC). Dali saem aproximadamente 900 milhões de garrafas por ano – o segundo maior volume da França, atrás apenas da região de Languedoc-Roussillon. Muitos usam Bordeaux como base para visitar os arredores, já que a cer-
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ca de uma hora de carro dali encontram-se os melhores châteaux, como são designadas as grandes propriedades vinícolas da região. Capital da Nova Aquitânia, a cidade desponta entre as dez maiores do país e pode ser acessada de Paris em uma viagem que dura cerca de duas horas. De tão linda, Bordeaux foi tombada pela Unesco em 2007. Um de seus pontos mais visitados é a La Cité du Vin (A
Fotos: Shutterstock.com / Divulgação (Lafite)
Por Carlos Marcondes
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As grandes vinícolas locais, como a Lafite, são chamadas por lá de châteaux; Borgonha tem muitos ícones, como a Place de la Bourse (pág. ao lado) e La Cité du Vin (abaixo)
Cidade do Vinho), complexo moderníssimo com museus, área de exposições, teatro e tudo o que envolve o processo educativo e cultural da bebida. Uma vez lá, vale programar uma refeição no Le 7 Restaurant, de onde se avista parte da cidade e o Rio Garonne. Quem busca experiências exclusivas tem como opção de hospedagem o InterContinental Le Grand Hotel, que fica no coração da cidade. Na Place de la Comédie, a propriedade tem 207 anos e abriga o aclamado restaurante com duas estrelas Michelin Le Pressoir d’Argent, do chef Gordon Ramsay. Mas seu principal trunfo talvez seja estar a poucos passos da Place de la Bourse, grande cartão-postal de Bordeaux, bem como da requintada butique de vinhos L’Intendant e da galeria Max Bordeaux, onde é possível provar até 48 grandes châteaux em taças, incluindo Latour, Cheval Blanc e Yquem. Para completar a experiência gourmet em Bordeaux, a dica é reservar um jantar privado no Le Quatriè-
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me Mur, uma brasserie capitaneada pelo chef duas estrelas Michelin, Philippe Etchebest. O local fica dentro do Grand-Théâtre de Bordeaux, uma obra arquitetônica assinada por Victor Louis, símbolo do estilo clássico.
Enfim, entre os grandes Diferentemente do que ocorre na Borgonha, onde os vinhos se resumem às cepas varietais (elaborados com uma única casta de uva), em Bordeaux tudo gira em torno do blend. As uvas que reinam ali são as famosas merlot, cabernet sauvignon, cabernet franc, malbec e petit verdot (tintas), bem como as brancas sau-
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vignon blanc, sémillon e muscadelle. Vinhos de taninos robustos, repletos de estrutura, e de longa guarda são características intrínsecas dos grandes châteaux, cujos rótulos mais valiosos são classificados como Grands Crus Classés, por uma série de regulamentações que envolvem terroir e produção. Todos estão à margem dos rios Garonne e Dordogne. São poucas as grandes vinícolas abertas à visitação. Entre elas está o Château Petrus. “Não basta ter dinheiro para ser recebido em propriedades como essa. É preciso entender do assunto e ser respeitado no mundo da bebida” , explica o guia brasileiro Plínio
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Château d’Yquem, em Sauternes: daqui saem os vinhos de sobremesa mais cobiçados do mundo
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Oliveira (https://is.gd/Iyi2T2), medieval Saint-Émilion. um dos especialistas prePor conta de seus mais de InterContinental Le Grand Hotel Situado em frente ao Grandparados para acompanhar 1.400 anos de viticultura e -Théâtre, no centro histórico enófilos e amantes do virelevância histórica, a cide Bordeaux, tem quartos nho em visitas customizadade também foi tombada luxuosos e um restaurante estrelado. Serviços exclusidas pela região. pela Unesco como Patrivos, como motoristas, estão à Contudo, é possível mônio da Humanidade. disposição dos hóspedes. As fazer outros tipos de tours Perder-se por suas vielas é suítes partem de € 541. exclusivos mesmo sem entender o que é a relação https://is.gd/iswTB1 ser um enófilo. Entre eles dos franceses com o vinho. Les Sources de Caudalie está o que segue para a Quem contrata pacoDiante dos vinhedos do Châvinícola Lafite, situada tes privativos tem a oporteau Smith Haut Lafitte, é o em Pauillac. O passeio é tunidade de visitar pela único hotel de categoria Palace em vinhedos francês. uma boa pedida para enmanhã o Château Pavie, Destaque para o spa da gritender mais sobre a hisonde piqueniques são reafe Caudalie. Foi o primeiro a tória da produção de vinho lizados aos pés das vinhas. oferecer vinoterapia no mundo. Sua gastronomia leva a e acompanhar o processo Detalhe: há cestas de coassinatura do chef Nicolas que o transformou em midas e bebidas assinadas Masse, no comando do La uma das bebidas mais espelo chef Ronan Kervarrec, Grand’Vigne, condecorado timadas do planeta. que comanda o duas escom duas estrelas Michelin. www.sources-caudalie.com Vale a pena passar trelas Michelin La Table de também pela sub-região Plaisance. O restaurante de Pessac-Léognan, onde é possível fica no hotel Hostellerie de Plaisance, visitar o famoso Château Haut-Brion. um charmoso Relais & Châteaux em O tour pode se estender ainda a outro Saint-Émilion. Cru Classé, o Haut-Bailly, onde o alDurante a tarde, é hora de conhecer moço é servido em um terraço emoloutro símbolo da viticultura mundial: durado por videiras antigas. Cheval Blanc. Ali, você pode ser recebiDepois, dá tempo de embarcar em do pelo diretor Pierre-Olivier Clouet, um helicóptero rumo ao sul (o voo que o conduzirá a uma visita pela resicusta cerca de € 2 mil), onde se produz dência do château, algo possível apenas alguns dos melhores vinhos brancos em incursões pontuais. do planeta: os Sauternes. A recepção Plínio reitera que esses modelos de ali é feita por Pierre Lurton, CEO da experiências, organizados pela DecanChâteau d’Yquem. Sob a tutela do gruter Tours (www.decantertours.com), po LVMH, a vinícola é responsável por precisam ser reservados com pelo elaborar o homônimo branco de somenos três meses de antecedência. bremesa mais cobiçado do planeta, “Respeitando o tempo de agendamentendo como base as castas sémillon to, tudo é possível em Bordeaux” , afir(80%) e sauvignon blanc (20%). ma o guia, que lembra que a região também está próxima a Conhaque, A medieval Saint-Émilion mais uma inspiração para outra imerCerca de 40 km separam Bordeaux da são etílica na França.
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3 2 França | Vale do Loire
Vale do Loire ÀS VÉSPERAS DOS 500 ANOS DO MOVIMENTO RENASCENTISTA, REGIÃO FRANCESA É MARCADA POR VINÍCOLAS E CASTELOS
Ainda
faltam alguns meses, mas ele já está em clima festivo. Em 2019 serão celebrados os 500 anos do Renascimento, e o Vale do Loire é, para muitos, o berço dessa era europeia. Não há nada melhor do que conferir isso de perto e realizar algumas experiências por lá, como ir a vinícolas e sobrevoar lindos castelos, de balão ou a bordo de um avião ultraleve (ULM), da época da Segunda Guerra.
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Do alto, é lindo observar as edificações históricas, todas elas cercadas de verde nas proximidades do Rio Loire. São centenas de castelos distribuídos ao longo dos 280 km do vale tombado pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade. Chega-se a Tours, a capital turística do Loire, em apenas uma hora de viagem desde Paris. A partir daí, é preciso praticar o desapego. Afinal, é
Joel Damase / Maurice Subervie – Atout France (dir.)
Por Carlos Marcondes
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Entre os lindos castelos do Loire despontam o de Villandry (pág. ao lado), com lindos jardins, e o emblemático Chambord
difícil ter tempo para conhecer todos os châteaux. O melhor é ir aos mais famosos e guardar um tempo para curtir outras experiências, como andar de bicicleta em meio aos vinhedos ou navegar pelo rio em barcos de madeira com velas brancas. Em relação aos castelos, vale a pena contratar guias privativos para aproveitar melhor as visitas. Um dos que não podem faltar no roteiro é o Château de Villandry. Não apenas pela estrutura imponente da edificação, construída em 1536, mas também pelos seis hectares de jardins. Todos os dias, 10 funcionários atuam como artistas para manter o cenário impecável. Já na pequena cidade de Blois, com 2.000 anos de história, o castelo homônimo é um dos que mais expressam diversidade arquitetônica no vale. Isso porque ele tem quatro edifícios que migram entre os estilos gótico, clássico e renascentista, por terem sido construídos entre os séculos 13 e 17. Ali nasceu o rei Luís XII. O local também
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foi palco da morte da rainha consorte Catarina de Médici. Do alto de uma das torres tem-se uma vista panorâmica da cidade à margem do Loire.
Chambord, Amboise Outro
Chenonceau,
símbolo do Vale do Loire é Chambord, château que detém a marca de 850 mil visitantes por ano. No rol da Unesco, representa o espírito da arquitetura renascentista. A famosa propriedade é cercada por 5.440 hectares de mata verde – área do tamanho de Paris –, o que faz dela o maior parque fechado da Europa. Uma das singularidades do castelo é a escada em dupla-hélice, projetada por Leonardo da Vinci com um desenho pouco convencional. Já a Vila das Terraças, no topo da edificação, é tão grande que lembra uma pequena cidade. Para entender tudo isso melhor, vale alugar um Histopad, tablet de realidade virtual que mostra ainda como era cada cômodo do castelo na Idade Média, com suas mobílias e decora-
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3 4 França | Vale do Loire
Brindes e hospedagens de nobre Chamada oficialmente de Centro-Vale do Loire após a reforma de regiões na França, a região dos castelos mais emblemáticos do país é palco de uma enogastronomia conceituada. Há diversas denominações célebres de vinhos por lá, com destaque para os sauvignon blanc Sancerre e Pouilly-Fumé. Ambos casam bem com os queijos de cabra regionais Crottin de Chavignol e Selles-sur-Cher. Vale harmonizá-los também com os cogumelos chanterelle e cèpes, bem como com os pescados do Loire, a exemplo do Brochet, do Alose e das típicas anguilles (enguias). Outra uva branca que se destaca no Loire é a chenin blanc vinda das vilas de Anjou-Saumur. A fruta serve de base para os espumantes da denominação Vouvray e para a elaboração de
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bons vinhos doces. Entre os tintos do Loire, as atenções ficam com o Chinon, feito de cabernet franc, e com alguns exemplares de pinot noir e gamay.
Hospedagem de rei Visitar os castelos e vinícolas é encantador, mas uma viagem ao Loire se torna mais especial caso você se hospede em um dos châteaux locais destinados a esse fim. Entre os mais disputados está o elegante Domaine des Hauts de Loire (http://domainehautsloire.com), na pequena vila de Onzain. Com o selo Relais & Châteaux, a propriedade, destruída durante a Revolução Francesa e reerguida em 1865, conta com um restaurante dirigido pelo chef Rémy Giraud, duas estrelas Michelin, que valoriza ingredientes e receitas regionais com toques contemporâneos. Outros endereços sofisticados para se hospedar são o Domaine de la Tortinière, o Château de Verrières e o Château du Boisniard. Mas talvez a mais curiosa entre as experiências do gênero seja a oferecida pelo Les Hautes Roches (www.leshautesroches.com), um Relais & Châteaux munido de restaurante estrelado, liderado pelo chef Didier Edon. Isso porque, além da boa mesa e de uma excelente carta de vinhos do Loire, corretamente armazenados em uma adega natural, a propriedade oferece o que se chama por lá de “suítes das cavernas”. São 12 acomodações esculpidas na pedra original do monte onde está o castelo, todas com vista para o Rio Loire. Está aí a faísca de um romance com toques pré-históricos e o desfecho perfeito para uma viagem regada pelos rótulos mais desejados da França.
Maurice Subervie / Divulgação (acima)
ções, de acordo com o direcionamento dado pelo usuário. Outra obra clássica do Loire é Chenonceau, o monumento privado mais popular da França, com um milhão de visitantes ao ano. De estilo renascentista (1513), tem um grande acervo de tapeçarias, móveis e pinturas. A conservação dos ambientes e os detalhes dos elementos decorativos expressam bem o estilo de vida da família real e dos nobres daquela época. Chenonceau fica próximo à cidade de Amboise, dona do castelo homônimo onde repousa o corpo de Leonardo da Vinci. O gênio italiano aceitou viver no pequeno Château du Clos Lucé, ao lado do castelo, a convite do amigo rei Francisco I. Ali Da Vinci passou os últimos três anos de vida, até falecer aos 67.
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O Château de Chenonceau é o monumento privado mais visitado da França; acima, o Les Hautes Roches, onde é possível se hospedar
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