ANO 1 | EDIÇÃO 3 | DEZEMBRO 2011
DIVERSIDADE DE CULTIVOS Brasil avança na oferta de produtos cultivados sem terra
NA PRÁTICA Aprenda a montar sua horta hidropônica
INSUMO Cálcio, o elemento fundamental para sua produção
ESTRUTURA Contêneires se transformam em fazendas urbanas
Há tantos fabricantes diferentes de nutrientes hidroadequado de cálcio, a planta tende a se tornar menos repônicos no mercado, que é natural surgirem dúvidas sistente ao ataque de doenças e vírus, assim como mais sobre quais deles funcionam melhor. Embora a resposta suscetível à influência de outras condições ambientais e para isso se baseie no crescimento das plantas, vale lemà proliferação de insetos. brar que alguns nutrientes são formulados para tipos Quando as células são formadas, o cálcio é ‘colaespecíficos de culturas, enquanto outros são desenvoldo’ no seu lugar e torna-se imóvel. Graças a isso, um vidos para uso geral. fornecimento constante de cálcio é necessário para o O que há em comum é que quase todos os nutrientes crescimento saudável e a continuidade desse processo produzidos comercialmente são elaborados para fornena planta. Em outras palavras, se falta abastecimento cer uma solução equilibrada, com todos os elementos de cálcio dentro do vegetal quando as células já estão de que as plantas necessitam. Mas, a simples adoção constituídas, ele não poderá contar com o que já havia destes compostos não garante que suas plantas não vão para reparar ou construir células novas, pois as formanunca tornar-se deficientes de alguns nutrientes essendas inicialmente não liberarão cálcio para as demais, já ciais – ou que jamais apresentarão quaisquer sinais ou que mantêm fixas suas moléculas nos locais originais. sintomas de uma deficiência. Mesmo se houver oferta Caso existam outros elementos em excesso, o cálabundante de tudo que é essencial na solução nutritiva, cio também passa a atuar como um amortecedor para o pode haver um problema de cálcio. sistema radicular. Ele desempenha, ainda, um papel na É comum pensarmos que, se há uma deficiência na ativação de enzimas que regulam o fluxo de circulação planta, deve se tratar de déficit em alguma substância da água dentro da célula vegetal, fator que o torna vital na solução nutritiva empregada. Mas não é sempre esse para o crescimento de novas células e o caso. A química das plantas é algo muito complexo, sua divisão. onde cada elemento afeta os demais, tanto quanto as condições ambientais. O cálcio é um importante alicer ce para os vegetais e, como qualquer outro elemento, pode tornar-se deficiente em plantas, mesmo quando está presente em abundância na solução nutritiva. O As plantas possuem dois problema, então, reside na dificuldade em diagnosticar tipos básicos de tecidos para o esse déficit de cálcio, devido à grande variedade de sintransporte dos minerais e açú tomas que ele pode apresentar. Assim, é comum que a cares de que necessitam para ocorrência confunda mesmo um produtor experiente, seu crescimento: o xilema e o pois pode se assemelhar a inúmeras outras deficiências floema. Para compreender sua ou doenças. atuação, basta que façamos um paralelo com o corpo humano: nas plantas, eles equivalem aos O cálcio é utilizado nas paredes vegetais das célunossos vasos sanguíneos, encar las durante a sua formação. Ele é fundamental para a regados da circulação. estabilidade e bom funcionamento da membrana ce- Cada um deles, no entan lular, pois atua basicamente como uma espécie de cola to, tem função diferenciada. ou cimento, ligando as paredes celulares e mantendo-as Os vasos denominados xilema unidas. Então, se não houver a quantidade adequada levam água, junto com os nu de cálcio no tecido celular durante a formação de suas trientes dissolvidos, das raízes e paredes, os tecidos da planta serão mais instáveis e procaules até as folhas e frutos. Há pensos a quebrar. Além disso, com a ausência do índice perda de água pela transpira-
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uando se fala em hidroponia, a primeira lembrança remete imediatamente às hortaliças – em especial, a alface. Porém, a gama de produtos hidropônicos é muito grande e inclui tubérculos, flores, cítricos, frutas como morango, melão, mamão, melancia e até grãos como o arroz, dentre outras variedades. Diante desses exemplos, não restam dúvidas da existência de uma grande diversidade de cultivos já com produção comercial, além de outras em desenvolvimento. O professor e consultor técnico da empresa Hidroponic, Adriano Delazeri, explica que todo o tipo de planta pode ser cultivado em hidroponia, sejam olerícolas (especialização da horticultura voltada para a comercialização de hortaliças), frutíferas ou qualquer espécie vegetal diversa – basta que se dominem as técnicas de manejo específicas para cada cultura. Atualmente, segundo o consultor, em termos de Brasil e do mundo, as espécies mais cultivadas comercialmente são: rúcula, alface, agrião, almeirão, salsa, coentro, couve, mostarda, acelga, repolho, temperos, tomate, morango, pimentão, pimentas, melão, pepino, algumas flores e ervas medicinais. Esses nichos, no entanto, em algumas regiões já demonstram sinais de saturação, devido à grande concorrência entre os hidroponistas, habituados ao cultivo das mesmas espécies. Assim, avaliam alguns especialistas, a diversificação do plantio tende a ser uma realidade que aos poucos vai se impondo, naturalmente, conforme as exigências de demanda do mercado. Fora dessa lógica, dificilmente um hidrocultor poderá crescer e expandir seu negócio num futuro próximo. Um dos fatores a provocar aceleração dessa tendência é o incremento da experimentação científica na área. Por sua utilidade nas pesquisas relacionadas à nutrição vegetal, a hidroponia tem servido como instrumento, nos últimos anos, para um número cada vez maior de estudos e análises ligadas à Agronomia, Biologia, Nutrição e inúmeros outros ramos do conhecimento. “Nos mais diversos centros de pesquisa cultivam-se plantas das mais variadas espécies, utilizando a hidroponia, pois nesta condição podemos controlar totalmente o fornecimento de nutrientes e observar seu desenvolvimento”, explica Delazeri. No país já há inclusive laboratórios específicos para experimentos na área, a exemplo do Laboratório de Hidroponia (LabHidro), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e outros institutos de Agronomia que mantêm linhas de pesquisa sobre o tema, como o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que fornece tecnologia para o mercado produtor. O fator mercadoló20
gico, aliás, é outro aspecto determinante desta equação, uma vez que a maioria dos avanços acadêmicos podem auxiliar diretamente na expansão da cadeia produtiva. “Continuamente testamos todo o tipo de planta, tentando adaptá-las ao cultivo hidropônico, por necessidades de nossos alunos ou em função da pesquisa científica em si mesma. Do ponto de vista comercial, as demandas atuais por novos produtos são motivadas pela curiosidade ou por tentativas de expandir o mercado”, esclarece o professor.
Atualmente, a produção de hidropônica no Brasil segue em crescimento progressivo, mas, segundo a percepção da maioria dos produtores, ainda é muito pequena quando se projetam as possibilidades de crescimento e diversificação. que a esmagadora produção seja de rúcula e alface. “Sim, o potencial é enorme”, frisa o consultor da Hidroponics. “Só quem já provou uma fruta hidropônica pode avaliar o aroma e sabor superior, a sanidade destes produtos e sua uniformidade. Esses fatores garantem toda a atenção do consumidor quando colocadas lado a lado com o convencional”, reforça. Em outras palavras, a prospecção é de que existe um mercado consumidor com interesse e curiosidade pelas inovações hidrôponicas, o qual cresce na mesma proporção em que opções são ofertadas, avaliam especialistas.
Três exemplos de diversificação que já foram comercialmente viabilizados são as culturas do milho, das flores de corte e da forragem verde hidropônica, também conhecida pela sigla FVH. O cultivo do milho hidropônico surgiu como mais uma alternativa para obtenção de qualidade aliada a produtividade, na busca por um alimento com alto valor energético e proteico, para alimentação animal.
O milho hidropônico é altamente palatável e atende às necessidades de manutenção do gado leiteiro e de corte, além de poder ser destinado à suplementação alimentar de aves, equinos, suínos, peixes, ovinos e caprinos. Seu sistema de produção é considerado simples e de fácil compreensão, podendo ser usado em qualquer época do ano e em qualquer região do país. O cultivo de milho hidropônico para forragem dispensa agrotó-
xicos, tem alta produtividade, ciclo curto e contínuo. O resultado é rápido, em cerca de 35 dias após a semeadura o milho está no ponto para ser fornecido aos animais. Essa rapidez torna o milho hidropônico uma excelente alternativa, especialmente nos períodos de seca prolongada. Além disso, o custo de produção é muito baixo, quando comparado com as alternativas existentes, como a silagem de milho e o feno de plantas de alto valor proteico, fator que aumenta a viabilidade desse sistema. A Forragem Verde Hidroponica (FVH), por sua vez, tem apresentado um crescimento de mercado recente no país. Isso se deve a estudos realizados no México indicarem seu desempenho quando utilizado na alimentação de gado leiteiro. Conforme as pesquisas, houve um acréscimo de até 18% na produção de leite e de até 11% de aumento da gordura, além de uma diminuição no custo de alimentação em 40%. O cultivo de flores ornamentais, bastante extensivo na Holanda, ainda é discreto no Brasil. Em parte, isso se deve ao assunto ainda ser novidade entre os produtores, que ainda avaliam com cautela este nicho de mercado. Por enquanto, a oferta está bastante restrita às gérberas, a exemplo das que são comercializadas no município gaúcho de Gramado. Outro iniciativa que já encontra sucesso neste segmento é uma cooperativa no também município gaúcho de Viamão, que cultiva vasos nesse sistema. Estes pequenos vasos são utilizados principalmente para ornamentar ambientes. Geralmente acabam indo para em mesas de escritório, clinicas, restaurantes ou mesmo em festas, sendo distribuídos como lembranças para os convidados. Colaboração: Alexandre Volkweis
Eles apostam na diversidade hidropônica Acompanhe a seguir duas rápidas conversas com produtores brasileiros que fugiram da produção convencional de folhosas e investem na inovação de produtos:
Qual sistema tu empregadas? Subirrigação com substrato? Fale um pouco sobre o ma nejo na unidade de produção.
O sistema com que estamos trabalhando é o de cultivo em vasos e slabs, contendo substrato, no qual a planta é fertirrigada por gotejamento, para maior sanidade. Além disso, contamos diariamente com mão de obra especializada, em ambiente protegido e climatizado.
A Kiara Foods é uma empresa situada em Holambra, no interior de São Paulo, especializada na produção de tomates hidropônicos de alta qualidade, os chamados “delicious grape”. Apesar de recente no mercado (completará um ano de atividade apenas em janeiro próximo), seus sócios, José Chiaradia Neto e Alexandre José Salomé, estão satisfeitos com os resultados obtidos em 2011 e confiantes na futura expansão da hidroponia brasileira e sua diversidade de cultivares. A dupla relata sua breve experiência:
Onde são comercializados os produtos? Qual a estratégia para sedução do cliente? Boas embalagens, divulgação, preços? Há boa rentabilidade?
Hoje você pode encontrar nossos produtos em supermercados, varejões e restaurantes da região (SP). Sobre a venda final e conquista dos consumidores, esse é mais um dos diferenciais de nossa empresa: investimos muito no “mix marketing”, que soma elementos como a embalagem, a colocação dos produtos em locais estratégicos nos estabelecimentos, o ótimo atendimento e preço compatível a produtos selecionados. Na certa temos rentabilidade sim, pois esse item está relacionado com a qualidade da Kiara Foods, administrada por uma gestão financeira e produtiva, juntamente com um rígido controle dos custos.
A Kiara Foods resolveu investir neste segmento porque tem interesse em fornecer aos nossos clientes um produto de alta qualidade. Devido a isso, optamos pelo cultivo hidropônico, pois é o método que melhor supre as necessidades nutricionais da planta, proporcionando um produto diferenciado e com maior aceitação no mercado. O investimento é alto, pois inicialmente temos o desenvolvimento do produto, a montagem das estufas, modo de cultivo e alta tecnologia empregada no processo automatizado. Quais os desafios e obstáculos encontrados neste ramo? Como tem sido a aceitação dos produtos pelo consumidor?
Nossa missão é conquistar cada vez mais esse nicho de mercado. Então temos desafios diários para manter a qualidade total de nossos tomates, como a manutenção do sabor do fruto, produção constante, logística de entrega aos nossos clientes. Por isso, estamos sempre em busca de novas tecnologias, capacitação de mão de obra, tudo para conseguir o crescimento no volume de produção e ampliar o mercado. Inicialmente, como já sabíamos, os consumidores têm receio de um novo produto no mercado, talvez pela falta de acesso a um produto diferenciado das outras variedades, mas a qualidade de nossos frutos está sendo o fator importante nessa conquista de mercado. Hoje, após essa fase de experimentação, começamos a consolidar a aceitação do nosso produto, e este processo está compatível com nosso planejamento. 22
No site da Kiara Foods se constata que a em presa iniciou as atividades neste ano por tanto, recentemente. Por que tu resolveste investir no mercado de tomates hidropôni cos? O investimento foi muito alto?
Fale um pouco sobre a unidade de produ ção semihidropônica: local, área, número de empregados etc.
Nossa empresa situa-se na cidade de Holambra (SP), onde temos inicialmente 3500 m² de estufa. Planejamos trabalhar com aproximadamente 10 empregados no setor de produção e mais quatro pessoas fixas no ‘packinghouse’ (embalagem).
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