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HEXAGRAMA 5: ESPERANDO SEM INQUIETAR-SE

Yi Jing

HEXAGRAMA 5: ESPERANDO SEM INQUIETAR-SE

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JULGAMENTO:

“ESPERANDO SEM INQUIETAR-SE e tendo confiança, se exerce uma influência manifesta; insistir é benéfico.

É conveniente atravessar o grande rio.”

Este hexagrama revela uma situação em que o que se tem em vista não acontecerá por enquanto. Aquilo que o consulente quer fazer, o que ele gostaria que acontecesse ou que imagina que pode acontecer, não vai ocorrer neste momento: há que esperar. O momento atual é o da espera. Para questões muito amplas, obter este hexagrama pode indicar também que nada de marcante ou de muito importante vai acontecer por agora, e que o período atual será como que de espera de algo maior. Para assuntos nos quais o desejo do sujeito da consulta seria avançar e resolver tudo de uma vez este hexagrama é claramente uma recomendação para aguardar, porque há perigos - ou problemas, dificuldades - pela frente. A espera inclui a preparação, sem ansiedade. É bom promover a alimentação dos vários componentes da situação, de modo a capacitá-los a dar a resposta adequada quando chegar a hora para isso. O momento atual é, por exemplo, próprio para o treinamento de um competidor, o estudo de alguém que vai prestar um exame, o fortalecimento de alguém que vai se submeter a uma cirurgia, a reserva de capital para um empreendimento, etc. O hexagrama mostra os olhos, os ouvidos e a boca como vias de alimentação da pessoa, sendo que a dificuldade maior, se houver, se manifestará no ouvir. Todas as ações enérgicas, criativas e expansivas estão impedidas. As ações que se pode - e deve - executar agora são as ações metódicas, controladas e minuciosas. Tudo o que envolve autoconhecimento e conhecimento das circunstâncias está liberado. A insistência naquilo que se quer e que se faz em função desse querer é importante para o sucesso futuro: deve haver uma constância de objetivos, de métodos, de procedimentos. Deixadas por si sós as coisas dificilmente chegarão aonde nós queremos.

Yi Jing A confiança é fundamental: tanto ter quanto inspirar confiança. É preciso acreditar que aquilo que esperamos é possível e válido, e é preciso acreditar na capacidade da pessoa que será o agente do acontecimento esperado. Sem isso não há espera útil. A demora no acontecer é devida a que aquilo que se espera enfrenta uma separação: há alguma coisa, inclusive o próprio tempo, que separa o momento atual do momento da realização, gerando o período da espera.

Também pode ser uma separação de ordem interna (um conflito ou uma falta de unidade dentro da própria pessoa que deve agir) ou de ordem externa (um desequilíbrio ou uma desconexão nas condições vigentes, ou um desacordo da pessoa com essas condições). De qualquer forma, a separação atual domina o campo de ação e não é desta vez que ela é superada. Permanece. Por isso a ação do hexagrama não passa da espera, e não adianta inquietar-se. Vemos também neste hexagrama um componente de idealismo, de altas metas, quase sobre-humanas, que inspiram e animam o consulente quando as contempla, mas que, para serem realizadas, têm que ser transpostas para as suas possibilidades reais. Para saber as suas possibilidades reais, a pessoa deve descer ao fundo de si mesma e das suas circunstâncias. A partir do conhecimento aí adquirido, deve percorrer minuciosamente o caminho em direção ao seu ideal, não esmorecendo diante de nenhum obstáculo, usando a inteligência para encontrar as passagens mais fáceis, incorporando a si tudo o que lhe possa ser útil e deixando de lado o inútil, sem se deter nunca. Isso é o que o Yi Jing ensina que se deve fazer, quando obtivermos este hexagrama em resposta a uma consulta sobre algo a que aspiramos muito. Infelizmente, ele ensina também que não vamos atingir o ideal já: o tempo atual é de espera, incluindo a preparação. Essa é a previsão geral para quem obteve este hexagrama sozinho ou como segundo da consulta. Quem obteve linhas mutantes encontrará nelas orientação específica sobre a sua situação particular dentro do quadro geral da espera. O conselho da Imagem, abaixo, aplica-se a todos os casos.

IMAGEM:

“As nuvens se elevam no céu, ESPERANDO SEM INQUIETAR-

SE.

Assim, a pessoa sábia bebe, come, festeja e se diverte.”

O conselho para quem obteve este hexagrama na consulta ao oráculo é basicamente o de não se inquietar com a espera. Não se pode apressar os acontecimentos. Nada acontece corretamente antes da sua hora própria. Uma vez que o momento é de esperar, o sábio é esperar preparando-se, de corpo e de espírito, para

Yi Jing aquilo que se espera. A preparação do corpo, ou das condições materiais, consiste no comer e no beber, ou seja, na alimentação, no abastecimento, na provisão de todas as substâncias que serão necessárias quando chegar o momento de agir. A preparação do espírito, ou das condições psicológicas, consiste na manutenção da alegria, do convívio com amigos e do bom humor, a fim de estar com tranqüilidade e boa disposição mental quando chegar o momento de agir. Nenhuma das duas atitudes será possível se a pessoa se impacientar, se revoltar, se inquietar com a espera; por isso a calma é o conselho básico.

1ª LINHA (9):

“Esperando no subúrbio é conveniente e útil manter-se inalterável, nenhum erro.”

A pessoa da 1ª linha, embora esteja ainda muito longe de alcançar aquilo que deseja, está numa situação bastante tranqüila e cômoda, de modo que não lhe é custoso esperar, como tem que fazer. Ela está bem inserida no seu meio, numa posição que não é a melhor possível mas que lhe é adequada; está bem relacionada, tanto coletiva quanto individualmente; está, com relação ao assunto da consulta, sem nenhuma ameaça de perigo, dificuldade ou ataque de inimigos. Sendo assim, não é errado que ela espere, onde está, pela ocasião propícia para agir ou pela ocorrência de algum acontecimento que não depende dela. Porém, essas mesmas condições favoráveis podem levar, no futuro, a uma acomodação: como o objetivo está muito distante e a posição é confortável, a pessoa da 1ª linha pode-se deixar ficar por ali mesmo, sem buscar mais mudanças. Isso não será bom porque a pessoa ficará completamente isolada daquilo que queria alcançar inicialmente, ficará parada no tempo, esquecida por todos, inútil. Será que aí ela poderá alcançar o que espera? Sugiro que o consulente se recorde da orientação contida no JULGAMENTO, de que o tempo de espera também deve ser um tempo de preparação, e realmente se prepare para agir ou para buscar os acontecimentos, ao invés de simplesmente se acomodar.

2ª LINHA (9):

“Esperando na areia, mantendo as palavras no mínimo, acaba sendo benéfico.”

O oráculo nos mostra o sujeito da 2ª linha ainda longe de conseguir o que espera, porém numa situação relativamente estável e satisfatória. Relativamente estável porque ele não seria, em princípio, a pessoa mais adequada para a posição em que está, e a sua base de apoio não é muito firme. Porém, como nenhum fato concreto o ameaça, se ele se abstiver de palavras de crítica e/ou contestação, e não se expandir muito, de um modo

Yi Jing geral, pode permanecer naquela posição e aguardar uma mudança positiva. Dentro do seu contexto mais próximo ele está bem entrosado e, no seu íntimo, está contente. Mas não possui, no momento, relacionamentos fora dali que possam ajudá-lo quanto ao assunto da consulta, e talvez isso contribua para a demora na realização do que espera. Mas, também no seu íntimo, a pessoa da 2ª linha quer alguma coisa, e há uma determinação latente na sua vontade, de modo que, no futuro, finalmente ocorrerá aquilo que esperava, e de uma maneira espontânea.

Não será necessário ela se esforçar, correr atrás do alvo. Apenas, tendo-se preparado anteriormente, quer dizer, no momento presente desta consulta, deverá ter ainda paciência e esperar mais um pouco que o alvo ficará ao seu alcance, ou acontecerá o aguardado. O presente é o momento da espera e preparação; o futuro é o da realização.

3ª LINHA (9):

“Esperando no lodo provoca a chegada do invasor.”

A 3ª linha mostra a pessoa tendo avançado um pouco demais e estando, por causa disso, numa situação muito insegura. Se isso ainda não aconteceu, esta linha é um alerta para que a pessoa não se coloque em tal situação, que é a seguinte: Sendo (ou sentindo-se, em relação ao assunto da consulta), forte, impetuosa, destemida, determinada e também um pouco inconseqüente e bazófia, a pessoa da 3ª linha avança até muito perto daquilo que deseja ou que teme. Nesse ponto as coisas se complicam, já não são tão fáceis e ela vê que não tem condições de avançar mais para enfrentar, e vencer, o obstáculo ou a etapa que falta para a consecução do seu objetivo. Mas ela já se envolveu tanto que também não pode mais voltar atrás. Então não pode fazer nada, é obrigada a esperar. Como está numa posição altamente vulnerável e visível, sem meios de se defender, torna-se alvo fácil para aqueles que são contrários aos seus projetos ou que querem mesmo prejudicá-la, e será vitimada por qualquer circunstância adversa que sobrevenha. Como essas coisas aconteceram devido à falta de cautela e sensatez da pessoa, que avançou além dos seus limites, e como não há mostras de que ela tencione, no momento, modificar o seu comportamento inconseqüente, a situação tende a ficar como está ou a agravar-se, no futuro. Concluindo: primeiro, o tempo é de espera, logo, não adianta querer avançar muito; segundo, ao se mover, a pessoa deve ter muito cuidado para não ir parar numa posição ainda mais insegura (já que tem que esperar, é melhor que espere numa posição sólida, segura); terceiro, uma vez que a pessoa não conta com a ajuda de outros nesta situação, deve determinar a extensão dos seus passos ou das suas expectativas pela

Yi Jing extensão dos seus próprios recursos e capacidades, e pela distância que a separa do objeto da espera.

4ª LINHA (6):

“Esperando no sangue, sai por si mesmo da fossa.”

A pessoa da 4ª linha está, com relação ao assunto da consulta, numa situação muito negativa. Ela talvez tenha agido precipitadamente, sem muito preparo e reflexão, guiada pela inconseqüência, pela teimosia ou pela obstinação, e agora se vê imersa numa situação desconfortável ou mesmo perigosa, que ela não está preparada para enfrentar: não possui a força e a coragem necessárias para encarar e vencer um elemento antagônico externo; nem tampouco para encarar-se a si mesma, identificar o que realmente deseja, o que pode esperar conseguir, e vencer-se a si mesma, se necessário. No entanto, ela possui suficiente clareza de visão para compreender, ainda que intuitivamente, a gravidade do seu caso e poderia, se se dispusesse a isso, efetuar pelo menos as análises de si própria e da sua posição, e tomar a decisão de sair da situação complicada e trancada em que se encontra. Segundo o Yi Jing, a única alternativa boa para a pessoa da 4ª linha é abandonar a sua posição atual: ela precisa modificar alguma coisa - ou o objeto da espera, ou o seu modo de atuação, ou a si mesma. Sozinha ela talvez não tenha a força e a coragem necessárias para isso, mas com a ajuda dos que a rodeiam, ouvindo com atenção os conselhos amigos, ela poderia sair da complicação em que está, pois mantém sólido relacionamento com amigos e/ou familiares, e tem boas relações com conhecidos e/ou colegas. No caso de a espera ser relacionada com um assunto exclusivamente individual, a pessoa também poderia buscar apoio no ideal que a anima, na intensidade do seu desejo e da sua fé, porém fazendo uma reformulação das metas para adaptar o ideal ao real. Caso a pessoa insista em permanecer obstinada na sua posição atual, sem mudar, seja por iniciativa própria, seja por aceitar aconselhamento alheio, ficará, no futuro, em situação ainda pior.

5ª LINHA (9):

“Esperando pela comida e bebida, é benéfico insistir.”

Conforme a previsão geral deste hexagrama, também a pessoa a quem se refere a 5ª linha está na situação de espera. Sabendo, tanto racionalmente quanto intuitivamente, que não vai alcançar o que deseja por enquanto, ou que aquilo que aguarda ou que teme não ocorrerá neste momento, ela não se deixa perturbar por isso e espera tranqüila e alegremente.

Yi Jing Quanto à preparação que deve ser feita durante o período da espera, ela a faz em todos os aspectos, e pode assim abastecer-se porque está, pelo menos quanto ao assunto da consulta, na condição de possuir muitos recursos. O oráculo recomenda constância no comportamento atual, assegurando que, continuando como estão, as coisas chegarão a bom termo, porque estão no rumo certo e porque a pessoa está agindo corretamente. Percebe-se uma certa flexibilidade na pessoa da 5ª linha, no sentido de procurar persistentemente o caminho mais fácil e desimpedido para atingir o seu alvo, preferindo contornar os obstáculos a enfrentá-los. Essa tendência perdurará no futuro, quando tiverem lugar os acontecimentos ora esperados. Tanto no presente quanto no futuro ela buscará manter-se em acordo consigo mesma e com aqueles que influem diretamente nas suas circunstâncias. Ao mesmo tempo em que escuta os conselhos e opiniões alheias, ela perscruta o seu próprio coração, pois é autêntica. Essa atitude é importante porque evita conflitos e traz a harmonia, a paz, que parece ser o que, no mais íntimo de si mesma, a pessoa da 5ª linha tem desejado e esperado.

6ª LINHA (6):

“Cai na fossa porque chegam três hóspedes não convidados, mas atendê-los acaba sendo benéfico.”

Justamente quando parecia que o tempo de espera havia chegado ao fim, inesperadamente, de uma forma imprevista, tudo desmorona para a pessoa da 6ª linha, com relação ao assunto da consulta. Ela fica tolhida nas suas capacidades de percepção e de ação: não consegue ter uma visão de conjunto da situação nem fazer projetos de longo alcance. Quanto ao objeto da espera, se era algo ou alguém que a pessoa da 6ª linha desejava, ficou momentaneamente fora do seu alcance; se era algo ou alguém que a pessoa da 6ª linha temia, está, no momento, paralisado, tornou-se ineficaz, embora possa ser que ela ainda nem saiba disso. Assim, a pessoa da 6ª linha, com relação ao assunto da consulta, está como que no início de novo, e aquilo que era esperado, fosse bom, fosse mau, não aconteceu nem acontecerá por enquanto, pelo menos não nas formas e proporções imaginadas pela pessoa. A sua situação agora é desconfortável, insegura e oferece pouquíssimas possibilidades de saída. A saída virá de fora, através de elementos que surgem espontânea e inesperadamente. A previsão do oráculo é de que se apresentarão à pessoa alguns elementos, não muitos: podem ser pessoas, objetos, linhas de apoio, recursos financeiros, idéias novas, seja lá o que for. A pessoa realmente não esperava por isso e poderá, de início, ficar desconfiada ou assustada. Mas o Yi Jing recomenda que considere com atenção e interesse

Yi Jing esses elementos, procure ver o valor que eles possuam e os utilize, se for o caso, pois isso lhe será benéfico. Se, devido à sua perturbação e dificuldade de percepção, a pessoa da 6ª linha não conseguir discernir a utilidade ou a validade daquilo que se lhe apresenta, deve pedir a alguém, que é próximo a ela e que tem boa capacidade de visão, para ajudá-la nesse sentido. Para o futuro, finalmente, há perspectivas de solução e alívio, embora talvez não no grau esperado inicialmente. Ao mesmo tempo, prosseguirá o melhoramento interno da pessoa da 6ª linha que, aliás, tem agido corretamente e modestamente ao longo de toda a evolução da questão da consulta. Quando as coisas já tiverem atingido um ponto satisfatório para ela, a pessoa não deverá tentar avançar mais, para que não venha a ser derrubada ou a cair de novo.

Yi Jing

HEXAGRAMA 6: DISPUTANDO INUTILMENTE

JULGAMENTO:

“DISPUTANDO é necessário ter confiança e cuidado com os obstáculos.

É benéfico ficar no meio, já que ir até o fim resulta prejudicial, [por isso é INÚTIL].

É conveniente ver o grande homem, mas não é conveniente atravessar o grande rio.”

Obter este hexagrama indica a existência atual ou a possibilidade futura de uma situação de conflito, de disputa sobre qualquer aspecto da matéria da consulta. O sujeito da consulta defronta-se com uma força que o coloca em perigo. Para enfrentar o perigo ele disputa, ou tende a iniciar uma disputa, confiante nas suas razões e/ou na sua própria capacidade de vencer. O objeto da disputa não parece ser o item mais importante e não é analisado aqui: o que é focalizado é a circunstância da disputa em si, e são propostas atitudes para se chegar bem ao fim dela. É preciso ressaltar que se trata de uma disputa por algo, e não de uma luta entre inimigos. Até pode ocorrer que os litigantes sejam inimigos de fato, mas o conflito entre eles assume, aqui, muito mais o aspecto de um processo judicial do que o de um ataque pessoal. Mesmo que não haja envolvimento da justiça oficial, de advogados, é assim que a disputa se apresenta, porque o que existe são razões e direitos que se querem fazer valer, e não um sentimento agressivo a que se queira dar vazão. Geralmente as disputas acontecem entre aqueles que concorrem pelos mesmos ideais ou pelos mesmos prêmios, ambos julgando-se igualmente merecedores. Por isso, é freqüente ocorrerem no seio de uma mesma família ou de uma sociedade empresarial, enfim, entre pessoas que compartilham interesses comuns. Se a disputa já se instaurou ou é inevitável no futuro, e não há jeito de voltar atrás para anulá-la nem de evitar que venha a acontecer, a pessoa deve manter a confiança em si e nos seus objetivos e seguir as indicações do Yi Jing dadas por este hexagrama:

Yi Jing O cuidado com os obstáculos é fundamental. O principal perigo é o de a pessoa se envolver demais na disputa, nos seus pormenores e sutilezas, deixando-se absorver a tal ponto que perca a noção clara do conjunto e das verdadeiras posições de cada um dos envolvidos. Outros obstáculos sérios a considerar são o excesso de rigidez e de autoconfiança: o excesso de rigidez pode levar a perder uma oportunidade de negociação, e o excesso de autoconfiança pode levar a uma avaliação errônea das reais possibilidades do antagonista. O caminho para conduzir-se bem na disputa inclui clareza de visão, raciocínio lúcido e disposição para fazer acordos, inclusive cedendo em alguns pontos, se necessário. No caso apresentado pelo consulente, vale mais a penetração sutil e a negociação com inteligência do que a obstinação em certas posições, com base na força bruta e na teimosia.

Não há vez para teimosia e falatório inconsistente no caso em questão. Procurar um meio-termo, uma solução que seja razoavelmente satisfatória para todas as partes envolvidas é a melhor saída, a que tende a dar certo e promover o bom desenvolvimento da matéria. Obstinar-se, levar a disputa até as últimas consequências, a qualquer custo, trará muito sofrimento e levará ao desgaste. Se os disputantes não conseguem, por si, descobrir uma alternativa que satisfaça a todos, é recomendável procurar o arbítrio de uma terceira pessoa, capacitada a emitir conselhos e juízos sobre a matéria. A intervenção dessa pessoa neutra será valiosa porque ela irá ater-se ao que é justo e ao que é correto na questão, sem as preferências pessoais que, certamente, afetam os diretamente envolvidos. Finalmente, enquanto perdurar o conflito, enquanto ele não estiver totalmente acalmado, não só exteriormente mas também interiormente, não se deve tomar nenhuma decisão importante. Um grande passo, dado sob a influência negativa de um clima de disputa, tende a não dar certo. Isso que foi dito até aqui é o real: a disputa que já acontece ou pode acontecer ao sujeito da consulta, com relação àquilo sobre que consultou o oráculo. O ideal, segundo o Yi Jing, seria nem sequer gerar a disputa, promovendo, antes, a harmonização ou a contemporização. Seria cada um encontrar o seu próprio equilíbrio, utilizar suas forças para manter o equilíbrio e não tomar partido, pois nada de bom se origina de uma disputa: é algo estéril em si. No caso de não conseguir isso, o ideal seria procurar imediatamente um árbitro, o qual, baseando-se em valores preestabelecidos, ajudará a aclarar e resolver a questão, sem que haja disputa. Isso, naturalmente, só é possível se a consulta ao oráculo se referir a questões que ainda não estão em processo de disputa, embora já preocupem o consulente. Nada é dito quanto ao resultado final de uma disputa efetivamente instaurada, sobre quem irá perder ou ganhar. Talvez as linhas obtidas, se as houver, indiquem isso, ou o hexagrama derivado da sua mutação.

IMAGEM:

“O céu e a água divergem na sua ação e DISPUTAM INUTILMENTE.

Assim, a pessoa sábia se ocupa de suas atividades planejando-as nas suas origens.”

Na situação representada por este hexagrama, embora possa haver coincidência nos ideais e na teoria, há divergência nos movimentos e na prática, surgindo a disputa. O conselho dado pela Imagem se dirige à pessoa que, agindo com o máximo de nobreza e sabedoria de que o ser humano é capaz, trata de evitar qualquer motivo de disputa, e o faz planejando cuidadosamente as suas ações a partir da origem, dos passos iniciais, quando são estabelecidos os princípios norteadores da conduta, as metas da ação e suas etapas, outros detalhes e, principalmente, os direitos e deveres de cada um dos envolvidos. Embora isso não elimine completamente a possibilidade de discórdia, a diminui bastante.

1ª LINHA (6):

“Não se prolongar nos assuntos, mantendo as palavras no mínimo, acaba sendo benéfico.”

Para a pessoa a quem se refere a 1ª linha, o objeto da disputa existe por causa de seus relacionamentos com pessoas próximas e ligadas a ela. Por sua própria iniciativa ela não começaria um conflito, pois não possui inclinação nem força para isso, preferindo ficar envolvida com seus afazeres pessoais. Assim, a atitude aqui adotada, ou recomendada, é a de não prolongar a disputa, falando apenas o suficiente para esclarecer o assunto - para si mesmo e para os outros, se necessário - e só. Isso é o que dará certo no final, embora, por enquanto, talvez não se distinga nenhum encaminhamento de acordos. Pelo contrário, na continuação futura dessa questão, ainda haverá o perigo potencial de conflito, exigindo muita cautela e atenção às normas estabelecidas, por parte da pessoa da 1ª linha. Mas, agindo com simplicidade e discrição, ela conseguirá seguir seu caminho sem ser importunada.

2ª LINHA (9):

“Não podendo disputar, foge e volta à sua cidade de menos de trezentas casas, sem sofrer grandes perdas.”

Yi Jing Aqui o conselho é para a retirada e abandono total da disputa ou da questão que possa levar à disputa. A pessoa a quem se refere a 2ª linha, pela sua energia pessoal, pelo seu empenho e pela sua posição sólida e equilibrada, pensa que pode levar avante uma disputa e vencer, ou pensa que o assunto da consulta pode ser conduzido com base na correção, na análise e na moderação, sem gerar conflitos. Porém ela está enganada: as suas próprias características de espírito conciliador e sensato a colocarão em posição ainda mais desvantajosa com relação aos outros envolvidos na questão, seus possíveis opositores, que, também por suas características pessoais e de posição no contexto, estão em situação de muito mais poder do que a dela, tendo, portanto, mais condições de enfrentar e vencer uma disputa. Assim, o correto para a pessoa da 2ª linha é realmente fugir da disputa e se esconder quietamente em meio aos seus, para não ser provocada ou perseguida. Isso não é covardia, mas é uma necessidade do momento. É claro que essa atitude pode levar toda a matéria da consulta a um estado de estagnação que, entretanto, será benéfico.

3ª LINHA (6):

“Alimenta-se do seu potencial original e insiste nele com um rigor que acaba sendo benéfico, mas, no caso de atender aos assuntos do rei, não consegue nada.”

Aqui a pessoa é aconselhada a abandonar a disputa, seguindo o exemplo de outros, mais experientes, mais sábios ou mais velhos, ou seguindo seus próprios valores e costumes tradicionais. A pessoa, talvez, não queira fazê-lo, por se julgar muito forte e bem relacionada. Mas não é realmente forte, apesar de toda a sua energia e lucidez, e os seus relacionamentos tendem a envolvê-la em trabalhos e disputas, sem considerar as suas reais possibilidades. O resultado é que, se ela se meter em conflito com elementos mais poderosos do que ela, ou simplesmente se envolver em atividades com eles, não conseguirá nada e, no futuro, se verá depauperada e sem condições de fazer muita coisa. Se, por outro lado, ela se mantiver na atitude de seguir prudentemente a trilha mais pacífica, traçada por outro, pela tradição ou por si mesma, e se conscientizar dos riscos existentes, acabará conseguindo um bom encaminhamento da questão e evitará grandes erros no futuro, embora, talvez, ainda tenha dificuldade de avançar.

4ª LINHA (9):

Yi Jing

“Não podendo disputar, retrocede e assume seu quinhão; mudar, insistindo calmamente, é benéfico.”

O conselho ou a previsão para o sujeito da consulta, nesta linha, é para não disputar agora, mas também não desistir dos seus objetivos: ele deve trocar a luta aberta pela persuasão discreta, pela insistência calma. Aparentemente, os objetivos ou os desejos da pessoa da 4ª linha conflitam com aqueles das pessoas com quem interage, na matéria da consulta, e a quem deve obediência, consideração ou solidariedade, de modo que ela está em posição inconveniente e desvantajosa para sustentar uma disputa. Tendo clareza de visão suficiente para perceber essa situação e as suas reais possibilidades; sabendo que, sozinha ou com apoios fracos, não terá força para vencer; e, além disso, sentindo um pouco de hesitação, a pessoa recua, desiste da disputa. Ao mesmo tempo, ela possui firmeza interior bastante para não abandonar as suas metas e, assim, continua perseguindo-as a seu próprio modo, sutil e penetrante, insistente sem ser agressivo. Isso é o que dará certo e, na continuação futura da questão da consulta, a pessoa consegue não só se libertar daquela teia que a tolhia, mas ainda atingir o objetivo, ganhar o que pretendia, embora parecesse perder. Agindo do modo aqui descrito, a pessoa não perde nada.

5ª LINHA (9):

“Na disputa tem benefícios fundamentais.”

Esta linha mostra o elemento que consegue manter-se acima das disputas. Ele não ignora os conflitos, não se retrai, não foge nem se esconde: consegue tomar conhecimento e partido sem se deixar envolver, atuando exatamente como um juiz. Consegue isso devido à posição inatacável que ocupa, no assunto da consulta, e também pelas suas qualidades intrínsecas de correção, equilíbrio e senso de justiça. Pode ser que esta linha indique o árbitro a quem os litigantes devem procurar para resolver suas desavenças, ou pode ser que indique o comportamento ideal que o sujeito da consulta deve assumir, com relação à questão em foco. De qualquer modo, a atuação da pessoa da 5ª linha é benéfica, trazendo, a partir da sua intervenção, o bom encaminhamento da matéria. Talvez a questão não fique inteiramente resolvida imediatamente. Se for assim, não há motivo de arrependimento para a pessoa da 5ª linha e ela deve insistir no seu comportamento atual.

Yi Jing

6ª LINHA (9): “No caso de obter um cinto de dignitário como prêmio, no final da manhã lhe será arrancado três vezes.”

Aqui se mostra a pessoa que move uma disputa ou que se empenha muito para obter vantagens superficiais, pequenas. O Yi Jing adverte que nenhum ganho moral ou social verdadeiro lhe advirá dessa conduta. Ainda que venha um ganho, será de pouca duração, tão inconsistente quanto o objeto pelo qual lutou, acabando mesmo por ser motivo de demérito para a pessoa. A explicação para a pessoa da 6ª linha agir de um modo inferior ao que seria próprio para alguém do seu nível é que, enaltecida pela sua força e poder, ela se deixa atrair para a disputa e envolver por elemento(s) de um nível mais baixo do que o seu, em algum aspecto. Se isso ainda não aconteceu, o consulente deve tomar esta linha como a indicação de um caminho a evitar. Se isso já aconteceu, ou se as coisas tomarem efetivamente o rumo aqui descrito, a tendência é de a superficialidade da pessoa da 6ª linha se acentuar e de os agravos aqui sofridos a deixarem insegura e com medo de agir, em meio ao sofrimento.

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