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HEXAGRAMA 7: LIDERANDO COM EXPERIÊNCIA

Yi Jing

HEXAGRAMA 7: LIDERANDO COM EXPERIÊNCIA

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JULGAMENTO:

“LIDERANDO: a insistência de um homem experimentado é benéfica e não erra.”

Obter este hexagrama na consulta ao oráculo indica que a pessoa, sujeito da consulta, está diante de uma grande quantidade de elementos que existem por si, mas que, a fim de se tornarem úteis para ela, precisam ser dominados e organizados. Em suma, ela precisa assumir o comando da situação, ou da relação, ou da sua própria vida, para ter possibilidade de êxito no assunto da consulta. Para essa tarefa, ela conta com: o apoio dos seus superiores ou dos seus relacionamentos mais íntimos; a experiência e orientação de outros, em geral, com a energia e aplicação deles; e com a própria experiência que possua ou que irá adquirindo no decorrer da ação. Trata-se de reunir, disciplinar e comandar uma energia dispersa, mas não necessariamente oposta ou revoltosa. Se são pessoas os elementos que se tem de organizar, o Yi Jing lembra que aquele que comanda tem que se identificar com aqueles a quem comanda: não há liderança sem liderados, não há comando sem a massa a comandar. Ou seja, para manter a posição de líder, a pessoa tem que garantir que haja elementos que queiram ou precisem ser liderados por ela. A maneira correta de liderar, aqui indicada, é tratando a todos como iguais, sem fazer distinções; é agindo com firmeza, equilíbrio e rigor, primeiramente consigo próprio, até mesmo para não se deixar inebriar nem envenenar pelo poder; e é submetendo a todos, inclusive a si próprio, à devoção àquela força maior que é o ideal ou meta a atingir. Não há alegria na ação aqui prevista. Em face da necessidade de organizar e dirigir, há o perigo de não se conseguir dominar os elementos com que se tem de lidar, há a imposição de disciplina para fazer as coisas andarem de forma ordenada e segundo a nossa vontade, há a insistência e dedicação da pessoa e, finalmente, se houver êxito, há a sujeição e estabilização dos elementos. Também há companhia, muitas ligações entre os vários envolvidos na questão e, em particular, uma relação profícua entre o sujeito da consulta e aquele ou aquilo a quem ele se devota. Pode ser que o exercício da liderança surja como uma necessidade de pôr ordem à massa de elementos que, neste momento, envolve o

Yi Jing consulente e que, se não for organizada de forma útil, pode não só não lhe servir, como até atrapalhar. A idéia é de que aquilo que se procura ou com que se tem trabalhar não está muito distante de nós, mas faz parte do meio em que nos movemos, ou está oculto dentre o que temos à nossa disposição no momento, embora ainda não o distingamos, por não estar elaborado e destacado. Mas isso é apenas em princípio, uma possibilidade; nada impede que a pessoa percorra grandes extensões para reunir o

“exército” que virá a liderar. Trata-se, portanto, de um momento ativo e provavelmente progressista, de avanço, na vida do sujeito da consulta, mas não necessariamente de alegrias e amenidades. Pelo contrário, trabalho, responsabilidade e seriedade serão requisitos essenciais para a boa condução da matéria que, segundo o Yi Jing, tem plena possibilidade de atingir o êxito. O êxito na ação aqui prevista pode ser atingir o objetivo que o consulente tem em mente, mas pode ser simplesmente deixar algo preparado para ser utilizado na hora em que precisarmos dele. Pode ser acumular reservas (de conhecimentos, de forças, de aliados, de dinheiro, de soldados, seja lá do que for). Mais garantido ainda está o início de uma realidade nova, emergindo da ação ora empreendida. Em resumo, é para agir e insistir na ação, procurando dominar e organizar aquilo que constitui a matéria da consulta. Se se puder, nessa atividade, utilizar a experiência de outros, melhor, pois as coisas andarão com mais facilidade e sem erros. Se não pudermos contar com experiência já existente, temos de ir adquirindo nossa própria experiência durante a ação.

IMAGEM:

“Há água no meio da terra: LIDERANDO COM EXPERIÊNCIA.

Assim, a pessoa sábia, porque abraça o povo, contém as massas.”

O conselho da Imagem, dirigindo-se a todos os que obtiveram este hexagrama na consulta ao Yi Jing, lembra que o material com o qual temos que trabalhar, neste momento, está à nossa volta, mesmo que nós não o percebamos. Dentre os elementos de que dispomos, através de uma dedicação especial a eles, poderemos extrair aquilo de que precisamos, ou que queremos, utilizando-o em seguida, ou deixando-o à disposição para quando precisarmos, segundo a nossa vontade. Sob outro ponto de vista, a Imagem diz que aquilo que queremos ou de que precisamos não virá pronto para nós, de algum lugar, mas que, ao contrário, nós mesmos é que temos de descobri-lo, a partir do nosso lugar, e, assumindo a liderança do processo, elaborá-lo para deixá-lo em condições de ser aproveitado.

Yi Jing

1ª LINHA (6): “Um líder se manifesta usando regras porque, sem elas, haverá prejuízo.”

Esta linha mostra a pessoa completamente frágil e impotente perante a realidade que tem de enfrentar. Ela nem sequer tem uma visão completa de toda a abrangência daquela realidade. Assim, a única maneira boa que ela tem de avançar é apoiando-se em normas: seja naquilo que já é convencionado, preestabelecido ou ordenado para situações desse tipo, seja em regras que ela mesma estabeleça. E o oráculo mostra que essa possibilidade existe, pois, bem próximo à pessoa da 1ª linha, diretamente ligado a ela, está o elemento que pode - e até mesmo deve - dar-lhe as diretrizes básicas a fim de que ela comece a dominar e comandar a massa informe que tem pela frente. Sem esse apoio, sem essa orientação da lei, das regras, a pessoa da 1ª linha pode até dominar a situação e progredir - não é dito que ela fracasse - mas, de qualquer modo, terá muito sofrimento. A salvação para ela, no sentido de evitar dores e danos, é ater-se a normas de conduta e apegar-se a quem possa ajudá-la com sua experiência. Provavelmente é isso que a pessoa da 1ª linha fará, pois a sua previsão para o futuro, partindo deste momento, é de insistência e sucesso no avanço, acompanhada.

2ª LINHA ( 9):

“Um líder equilibrado é benéfico e não erra, o rei o galardoa três vezes com o comando.”

A pessoa a quem se refere esta 2ª linha está ou tem possibilidade de estar numa posição extremamente favorável com relação ao assunto da consulta. Ela é forte, equilibrada, muito bem relacionada, e domina plenamente a realidade com que tem de lidar neste momento, conduzindo as coisas na direção desejada, de uma maneira acertada e feliz. Além disso, sua posição e seu mérito são reconhecidos e acatados por todos os envolvidos na situação, sem exceção, inclusive por aqueles que, em virtude de sua experiência ou autoridade, detêm um status mais elevado, e a quem ela atende com prontidão e sem espírito de rivalidade. Essa pessoa, segundo o Yi Jing, atravessa um período de boa sorte na matéria da consulta, derivado da boa vontade que elementos espirituais, superiores, têm para com ela, ajudando-a. No futuro, deve continuar, para a pessoa da 2ª linha, a possibilidade de uma atuação efetiva, fácil e correta, de grande alcance dentro dos limites da matéria da consulta.

3ª LINHA (6):

Yi Jing

“Um líder que provavelmente carrega cadáveres é prejudicial.”

A 3ª linha mostra que, além de a pessoa ter de se defrontar com uma realidade possivelmente nova, e dominá-la e comandá-la, ela mesma também faz parte dessa realidade, tendo de trabalhar a si própria para crescer e tornar-se digna daquilo que tem em mente e que provavelmente é o ponto principal da questão da consulta. A situação é muito difícil para essa pessoa, porque ela tem de conduzir as coisas sem saber como fazê-lo e sem ter força e autoridade sobre nada. Mas agora ela esta aí. Precisa agir e, se ficar carregando consigo, no presente, coisas mortas do passado - sentimentos, preocupações, sonhos, receios, saudades, remorsos, enfim, qualquer coisa que já é mais atuante e que, portanto, não deveria ocupar a sua mente e o seu coração - terá sofrimento e complicações na execução das suas tarefas. Também terá sofrimento se, em virtude de impulsividade, desprezar a experiência alheia, agir afoitamente por conta própria, e vier a ser derrotada, transformando sonhos e projetos em cadáveres. Ainda poder-lhe-á advir sofrimento se, por causa da sua insensatez e inexperiência, males e mortes vierem a ser provocados, gerando culpas e remorsos que terá que carregar. Como se vê, em qualquer caso em que venha a ter infortúnio, observa-se que a sua atuação foi completamente desprovida de mérito, ficando também sem valor algum o seu sofrimento posterior. Melhor evitar esses males: não servem para nada. E de fato, parece que, com alguma sorte e com essa orientação do Yi Jing, a pessoa da 3ª linha resolve adotar uma atitude mais condizente com a sua posição. Assim conseguirá ir avançando sem dificuldades.

4ª LINHA (6):

“Um líder que acampa à esquerda não erra.”

Aqui o sujeito não se anima a enfrentar a realidade que tem em torno de si, toda espalhada e embaralhada, para tentar dominá-la e comandá-la. Ele não tem apoio, força, nem disposição para tal tarefa e, conforme, provavelmente, é seu costume de agir no assunto de que trata a consulta, resolve parar e aguardar que as coisas se ajeitem por si mesmas, ou que alguém o ajude a enfrentar a situação. O Yi Jing declara que não há erro nenhum nessa atitude, uma vez que só assim a pessoa evita de se perder permanentemente no emaranhado das coisas que, em princípio, deveria controlar.

Yi Jing O encaminhamento futuro da questão revela que, se a pessoa se livrar de certas ligações ou posturas que dão aos outros a falsa impressão de que ela está muito bem amparada e encaminhada, e se mostrar livre e disponível, logo aparecerão apoios confiáveis e a pessoa terá ajuda para prosseguir no seu próprio rumo que, talvez, não seja o de enfrentar a realidade que ora se apresenta.

5ª LINHA (6):

“Há animais no campo, é conveniente conter as palavras para não errar.

O filho mais velho deve ser o líder que comande porque o filho mais novo vai carregar cadáveres, insistir é prejudicial.”

Esta linha recomenda contenção. Embora o sujeito da linha já distinga bem as suas metas e saiba aonde ir e o que deveria dominar para continuar avançando na matéria da consulta, não errará se não avançar agora. O que é correto agora é ele não se envolver, não lutar. Na verdade, seja por limitações inerentes à sua posição, excessivamente rígida, presa a formalidades, tolhida por impedimentos legais ou coisas assim; seja por inaptidão - talvez até fraqueza - pessoal, o sujeito da 5ª linha não pode empreender por si mesmo a tarefa em questão. A tarefa em si é espinhosa, difícil, demorada. Se a tarefa depender do sujeito da linha e ele procurar e obtiver auxiliares fortes, dinâmicos, leais, experimentes e equilibrados, tudo correrá bem, conforme os seus desejos; se, ao invés, procurar ajuda entre elementos sem merecimento, inexperientes e impulsivos, sem força nem bom senso, o resultado será desastroso e então é melhor suspender a ação, para evitar maiores danos. Se, por outro lado, a tarefa não depender do sujeito da consulta, ele deve abster-se de emitir opiniões ou tomar partidos. De qualquer maneira, na continuação dos atuais empreendimentos, a pessoa da 5ª linha terá que esperar que os vários componentes da realidade em questão estejam nivelados, para que a ação prossiga sem erro. Esta ação de agora, sozinha, não basta: é importante mas não é suficiente para o domínio total da situação.

6ª LINHA (6):

“Um grande príncipe tem que ser nomeado para estabelecer feudos e dar suporte às famílias, porque um homem inferior não seria útil.”

Esta linha mostra a necessidade de organizar e bem administrar o que foi alcançado até o momento, a fim de sirva aos propósitos que se intenta.

Yi Jing Mais uma vez serão necessários auxiliares, e mais uma vez é fundamental que a escolha recaia nos elementos adequados, naqueles que apresentam capacidade, experiência e lealdade. Tanto faz se a pessoa da 6ª linha é aquela que delega poderes ou aquela que recebe poderes: em ambos os casos tem que ser íntegra e ter grandeza pessoal, pois uma pessoa inferior ou desonesta não possui merecimento suficiente, seja para escolher auxiliares, seja para atuar como auxiliar. Em qualquer posição de poder, a pessoa inferior tenderia a cometer abusos e injustiças, ao invés de simplesmente coibi-los; e seria incapaz de comandar as coisas de modo a manter a ordem necessária ao bom desenvolvimento da questão da consulta.

Yi Jing

HEXAGRAMA 8: APROXIMANDO-SE MUTUAMENTE

JULGAMENTO:

“APROXIMAR-SE MUTUAMENTE é benéfico.

Consultar o oráculo outra vez é a fonte de uma insistência duradoura, não há erro.

Os intranqüilos vêm das quatro direções, o homem retardatário terá prejuízos.”

Obter este hexagrama na consulta ao Yi Jing indica que, de qualquer ângulo que se a olhe, a realidade enfocada pela consulta necessita, para o seu bom desenvolvimento, de uma conjugação de esforços, ou de uma adesão de todos os envolvidos a um ponto de referência comum. Não importa se a união vier a ocorrer em torno do ponto mais alto da realidade - que seria como que o ideal almejado por todos - ou em torno do ponto mais baixo da realidade - que seria como que o mínimo indispensável em que todos estão de acordo. O importante é que a união se dê, e rapidamente, porque a intranqüilidade e o perigo estão em volta por toda a parte. A intranqüilidade provém justamente da falta de coesão e, por conseguinte, da falta de força em face de qualquer possível perigo ou adversidade, pois cada um dos elementos da realidade enfocada é, em si mesmo, fraco e impotente para fazer frente a um obstáculo maior. Mesmo aquele sobre quem repousam as esperanças de concretização da união, o provável líder, mesmo este nada pode se não tiver a adesão dos outros. No entanto, tal como o Yi Jing, ele não se move em direção aos outros: ele se mostra receptivo e aguarda que os outros elementos se coloquem em relação com ele. Aí ele deve se manifestar, agindo da forma mais benéfica para todos, apoiando e ajudando os que o procuram. Isso deve ser adaptado, conforme o caso, para uma situação que envolva várias pessoas ou entidades, ou para uma situação que envolva uma só pessoa mas vários elementos que ela precisa coordenar, dentro ou fora dela. Os perigos são se basicamente dois: o de esvaziamento da motivação antes mesmo de a união efetivar-se (daí a recomendação de pressa na tomada de providências), e o de desmoronamento dos objetivos pretendidos mesmo tendo-se conseguido a adesão de todos. Ou seja, o

Yi Jing fato de se conseguir a união não garante o sucesso no que se pretende.

Mas é um passo fundamental. Sem a união, o insucesso é certo, pelo menos para aqueles que ficarem de fora. E também não é garantido que o sujeito da consulta vá conseguir essa aproximação, essa conjugação de esforços tão necessária para o bom desenvolvimento da matéria: o que o oráculo diz é que essa união é importante, fundamental, mas não diz que se vai obtê-la. Talvez por isso o Yi Jing recomenda que, caso restem dúvidas ao consulente quanto ao desfecho ou ao desenrolar da questão, ele não hesite em consultar mais vezes o oráculo. O objetivo da aproximação aqui prevista é a ajuda. Os que podem dão ajuda, os que precisam recebem ajuda. Uma vez que haja correspondência entre os vários elementos, a ajuda se completa e continua no tempo, não é algo estanque. O relacionamento só se esgota, só termina, para aqueles que não se decidirem ou não forem englobados a tempo pela aproximação, perdendo a oportunidade.

IMAGEM:

“Acima da terra há água APROXIMANDO-SE MUTUAMENTE.

Assim, os antigos reis estabeleciam muitos estados e intimavam com todos os senhores feudais.”

Aqui se ressalta a importância das partes - das várias pessoas, dos vários componentes da situação - para a plena realização do pretendido pelo sujeito da consulta. Nem sempre a realidade com que temos que lidar já se nos apresenta devidamente dividida e organizada em setores. Muitas vezes, o que temos é um todo mais ou menos informe, que nós mesmos é que temos que segmentar, identificando e classificando cada uma das suas partes. Para a solução da questão da consulta, ainda não basta apenas identificar e classificar os componentes da situação; é preciso estabelecer boas relações, de preferência excelentes relações, com cada um desses elementos, ou com aqueles que os representam, a fim de que se possa iniciar a relação de ajuda, de conjugação de esforços, tão necessária aos propósitos do sujeito da consulta. É claro que tanto a realidade quanto os seus componentes podem ser interiores ou exteriores ao sujeito.

1ª LINHA (6):

“Tendo confiança aproxima-se dele, não há erro.

Ter confiança enche o cântaro e acaba atraindo outra pessoa, o que é benéfico.”

Yi Jing Aqui a pessoa, cheia de confiança pura e despretensiosa, toma a iniciativa da aproximação. Segundo o Yi Jing, sua atitude está certa e acaba dando o resultado esperado, pois a pessoa consegue a aproximação, não só dela em direção a outros, mas também de outros em direção a ela, e isso lhe traz benefícios. Mesmo que, no futuro, surjam dificuldades e obstáculos, ela não deve desistir de seu objetivo, mas sim insistir nele e procurar mais ajuda, principalmente se esta é a única linha mutante obtida.

2ª LINHA (6):

“Aproxima-se dele espontânea e interiormente, insistir é benéfico.”

Aqui a pessoa toma a iniciativa da aproximação, motivada por uma inclinação íntima do sentimento, do coração. Pode ser que, no momento, a aproximação esteja só na intenção, ainda não colocada em prática; mas é algo muito importante para a pessoa, e ela deve insistir no seu propósito, nessa união, pois isso será bom para ela e a ajudará a alcançar o que deseja. Se a pessoa não buscar a aproximação, corre o risco de se perder, o que seria muito negativo, sobretudo se se considerar que ainda há, pela frente, um período de dificuldade e escuridão, que só permitirá pequenas realizações, principalmente se esta foi a única linha mutante obtida.

3ª LINHA (6):

“Aproxima-se dele, mas é a pessoa errada.”

Esta linha mostra como, embora o objetivo da aproximação esteja correto, o objeto do qual o sujeito da consulta se aproxima, ou que busca unir-se a ele, é inadequado. Aparentemente é inadequado simplesmente porque não serve para os objetivos propostos, não tem capacidade de preencher corretamente as funções dele esperadas e, portanto, não corresponderá às expectativas, mas pode haver outras razões. Se for uma pessoa, provavelmente não tem força, nem iniciativa interna nem estímulos exteriores para conseguir fazer o que precisa. O resultado é que deverá advir prejuízo dessa aproximação, levando a que, logo em seguida, a pessoa tenha que deter o processo de união e retornar ao ponto anterior. Isso traz satisfação aos seus companheiros mais chegados, que se alegram por vê-la abandonar um rumo errado.

4ª LINHA (6):

“Aproxima-se dele exteriormente, insistir é benéfico.”

Yi Jing Esta linha mostra que não há uma verdadeira identificação ou atração entre os elementos que se pretendem unir. Assim, a aproximação é apenas externa, motivada por uma avaliação das vantagens da união. Como este é o momento em que se deve buscar a conjugação de esforços, ou em que se procura ajuda, proceder agora a essa aproximação, embora seja só exterior, poderá beneficiar o sujeito da consulta. Mas ela não deve servir de única base para realizações que se pretenda mais duradouras. Se esta foi a única linha mutante obtida, a pessoa provavelmente conseguirá o que quer, mas precisará de muita boa sorte para não ter incomodações depois, porque faltará uma base de verdade e merecimento à sua posição.

5ª LINHA (9):

“Aproximam-se dele por ser eminente. O rei utiliza três linhas de batedores, deixando fugir os pássaros da frente; assim, os súditos não são intimidados, o que resulta benéfico.”

A 5ª linha mostra a pessoa que promove a aproximação, e revela suas intenções e modo de agir. A pessoa é alguém que, na questão da consulta, ocupa uma posição de liderança e tem capacidade para promover a conjunção necessária ao bom andamento da matéria. Ela possui bons relacionamentos em quase todas as áreas da realidade abrangida pela consulta. É forte, equilibrada, autoconfiante, e se conhece a si própria e aos elementos com que tem de lidar suficientemente bem para não duvidar do êxito das suas movimentações. Suas intenções são claras e passíveis de conhecimento por todos, embora tenham aspectos profundos que só a própria pessoa e os mais chegados a ela conhecem, pois fazem parte do seu modo de ser ou dos seus anseios mais profundos. Porém, não são prejudiciais a ninguém. O modo de agir da pessoa da 5ª linha, ao promover a aproximação, é estimular sem forçar. Ela se mostra receptiva, chama, atrai, talvez até induza alguns elementos a se aproximarem, mas não faz nenhum encaixe à força, deixa sempre uma abertura por onde aqueles que não se enquadram no esquema, ou não querem fazer parte dele, podem sair livremente, sem que lhes seja causado qualquer dano ou perseguição. Isso tudo assegura, à pessoa da 5ª linha, a continuidade da sua posição de influência, com a manutenção das realizações aqui obtidas e, principalmente, a manutenção da sua integridade pessoal.

6ª LINHA (6):

“Aproxima-se dele sem reconhecer seus erros; isso lhe traz prejuízos.”

Yi Jing Aqui o oráculo mostra que há falta de humildade - e talvez também de sinceridade e confiança - no movimento de aproximação, o que traz sofrimento e prejudica o bom andamento da matéria da consulta. Ao que parece, existe uma certa pretensão por parte do sujeito da 6ª linha, que, sem enxergar - ou sem reconhecer - seus próprios erros, deficiências, carências ou falhas, procura se unir aos que são bons, corretos e equilibrados, como se fosse igual ou até melhor do que eles.

Mas, neste momento ou num futuro próximo, os outros envolvidos na questão da consulta observam e analisam com atenção e expectativa o seu comportamento: não adianta ele tentar esconder seus pontos fracos. Também acontece que o sujeito desta linha é o último a tentar a aproximação: talvez o momento adequado já tenha passado, embora, para ele, a necessidade de aproximação ou de conjugação de esforços ainda persista.

Yi Jing

HEXAGRAMA 9: CONTIDO PELO PEQUENO

JULGAMENTO:

“Apesar de CONTIDO PELO PEQUENO, ainda exerce influência.

Nuvens densas sem chuva se originam na nossa fronteira oeste.”

Este hexagrama revela que o desenvolvimento do assunto da consulta ou a atuação do sujeito da consulta estão sendo refreados por algum fator que, em princípio, não deveria ser capaz de deter o avanço daquela matéria ou daquela pessoa, por ser, em algum aspecto - no valor, na potência, na experiência, no conhecimento, no tamanho, na idade, na hierarquia, na importância, etc. - inferior àquilo que ele detém. O elemento que quer se expandir é, por sua natureza, grande, forte, cheio de energia, possante, passível de duração no tempo, positivo, de ação direta, declarado. O elemento refreador da expansão não é necessariamente forte, é de ação sutil, insinuante, às vezes hesitante, mas sua influência é suficiente para deter o avanço do outro, dispersando-o completamente ou diminuindo o seu impacto. De qualquer forma são dois elementos opostos, separados, que não conjugam suas forças. Se se unissem em torno de um objetivo comum, provavelmente o avanço seria liberado. Em conseqüência disso, o que vier a ocorrer, se vier, será de pouco alcance. Aquilo que constitui o núcleo da questão da consulta está sujeito à contenção: não se desenvolverá muito. Se a questão formulada ao oráculo se referir a fatores negativos - perigos, problemas, doenças, dificuldades, separações, etc. - eles não serão tão problemáticos quanto parecem: apesar da sua aparência ameaçadora, não chegarão a se concretizar ou, se se concretizarem, os danos que causarem serão de pequena monta. Se a questão formulada ao oráculo se referir a fatores positivos - resultados de ações empreendidas, perspectivas de sucesso, sociedade, envolvimento amoroso, casamento, restabelecimento de enfermos, ganhos materiais, ascensão social, poder pessoal, etc. - eles não chegarão a se

Yi Jing concretizar ou, se se concretizarem, não serão tão formidáveis quanto se esperava que fossem. Apesar de a força refreadora ser pequena, ela é eficaz, e as coisas podem ficar contidas por um tempo indeterminado, principalmente se este foi o único hexagrama obtido na consulta. Se foi o primeiro hexagrama obtido, as linhas tiradas e o hexagrama derivado da sua mutação indicarão a evolução provável da matéria da consulta, que poderá, inclusive, superar a contenção. Se foi o segundo hexagrama obtido, indica que a provável tendência das previsões do primeiro é serem detidas por algum elemento “pequeno”.

IMAGEM:

“O Vento age acima do Céu, que fica CONTIDO PELO PEQUENO.

Assim, a pessoa sábia embeleza e refina seu caráter.”

Quando as coisas estão com o desenvolvimento contido e o sujeito está com o avanço refreado, pouco é possível fazer. Então, o mais sábio é voltar-se para o interior e cuidar de melhorar o caráter. A pessoa pode tranqüilamente dedicar-se a essa tarefa de aprimoramento interno, pois sabe que, por enquanto, não terá que dispensar muito tempo e energia para as atividades objeto da consulta, as quais estão detidas. Depurar o próprio caráter também dará à pessoa (ou à empresa, à família, ao grupo, etc., àquele que for o sujeito da consulta) condições de melhor suportar as limitações impostas pelas circunstâncias. Da mesma forma, não é aconselhável agora tentar promover grandes alterações internas, reformulações totais do caráter. Isso não daria certo, porque até essa ação voltada para si próprio está contida por algum elemento “pequeno”.

1ª LINHA (9):

“Retornando ao caminho por si mesmo, qual poderia ser o erro? Benéfico.”

A pessoa a quem se refere a 1ª linha está com seu avanço bloqueado. Isso não ocorre por culpa sua, embora ela tome por si mesma a iniciativa de se conter. No que dependesse exclusivamente dela, ela avançaria, pois possui força, disposição e relacionamentos suficientes para ampará-la e estimulá-la. Mas alguma coisa há, talvez imperceptível por enquanto, que contraria o seu avanço de tal forma que ela, pressentindo isso, adota uma atitude bastante sábia e resolve voltar atrás, recuar, ou simplesmente não agir.

Yi Jing Entretanto, ela não deve, por esse motivo, desistir dos seus objetivos, abandonar o assunto. No futuro haverá possibilidade de retomada das ações, com estabelecimentos de acordos e novos avanços e retrocessos. Não é caso para desistir. Tanto está correta a atitude da pessoa da 1ª linha que o oráculo lhe prevê uma evolução favorável do andamento da questão da consulta.

2ª LINHA (9):

“Retornar arrastado é benéfico.”

A 2ª linha mostra que tanto a vontade quanto a capacidade de avançar existem, mas ainda assim o avanço não é possível, devido a um impedimento que, na verdade, não se chegaria nem a perceber como força refreadora se não estivesse atuando como tal. Talvez o que ocorra seja o fato de que como, de um modo geral, tudo está bloqueado, a pessoa da 2ª linha não consegue, ou não lhe interessa, destacar-se do conjunto e avançar sozinha. Assim, contra a sua vontade, a pessoa é forçada a uma contenção. Isso está em conformidade com as circunstâncias e, assim, não rompe nenhum equilíbrio; acaba sendo bom. A continuar como está, num futuro próximo a pessoa da 2ª linha também não poderá promover o desenvolvimento autônomo de projetos. Mais uma vez, a sua inclinação pessoal importará menos do que a sua função no contexto. Seu avanço continuará refreado, talvez até por ela mesma, de uma forma mais consciente do que agora, em razão de compromissos e obrigações assumidas, que envolvem outras pessoas. Em compensação, se se restringir a isso, não terá maiores problemas.

3ª LINHA (9):

“Os raios da roda reclamam do carro, como esposos que se olham de forma atravessada.”

Para a pessoa a quem se refere esta linha, o avanço é detido por algo que faz parte dela mesma, ou por alguém que integra a sua situação existencial. Entre os dois elementos há uma divergência de ritmos e/ou de objetivos, refreando o movimento, o que desagrada a pessoa ou o fator representado pela 3ª linha, pois ele é, e sabe que é, mais enérgico, mais possante e mais decidido do que o outro, e ainda pertence a um grupo (familiar, ou profissional, social, organizacional, etc.) mais sólido e forte. Ainda assim, o outro elemento tem uma maneira de se impor, através da veemência, da repetição e da ocupação insinuante de espaços, que acaba detendo as pretensões da pessoa da 3ª linha, impedindo-a de expandir-se a seu gosto, tolhendo-a. Além disso, é possível que tenha um protetor poderoso.

Yi Jing A pessoa representada pela 3ª linha deveria aproveitar a sua lucidez para conscientizar-se de que, nas circunstâncias presentes, ela não é separada daquilo que a incomoda. Ao contrário, os dois elementos, tal como se apresentam na matéria da consulta, formam um todo, e a pessoa deveria lutar para que atuassem como um todo, a fim de progredirem. Assim como está, a situação é insatisfatória e infelicitadora, devido ao conflito. A solução seria ou assumir a individualidade e partir para uma atuação independente, ou assumir a complementaridade, aceitando uma união realmente íntima com esse elemento, ou mesmo com outro, de mesmo nível que o seu. Essa última opção parece representar a tendência dominante da pessoa da 3ª linha. Entretanto, para isso, precisaria haver íntima confiança mútua entre os dois.

4ª LINHA (6):

“Havendo confiança se afasta do sangue e supera o medo, nenhum erro.”

A quarta linha representa a força refreadora da questão da consulta. A pessoa a quem se refere essa linha é, ela mesma, o agente refreador do seu avanço e, possivelmente, também do avanço dos outros. A força refreadora é a desconfiança, a dúvida. Esta gera o conflito e o medo. O conflito pode ser declarado ou latente e se deve ao próprio fato de que, com sua hesitação e seus receios, a pessoa da 4ª linha acaba tolhendo a sua ação e a dos outros, principalmente daqueles que lhe estão mais próximos e que são influenciados por ela, pelo seu discurso repetido e/ou pela sua insinuação sutil. Embora deixando-se influenciar, os outros ficam contrariados e descontentes, o que pode fazer aflorar antagonismos. O medo provém da falta de autoconfiança da pessoa da 4ª linha. Ela duvida da sua capacidade de realizar o que gostaria ou de cumprir a sua parte em determinada tarefa, por isso teme o fracasso e a desaprovação dos outros, principalmente da parte daqueles que são seus superiores e detêm o poder de decisão na situação da consulta, e que agora a apóiam e estimulam. O oráculo aconselha a pessoa a cultivar a confiança em si mesma e nos outros. Confiando na capacidade dos seus companheiros, ela não mais tentaria deter o avanço deles, deixando assim de gerar conflito. Confiando na sua própria capacidade, ela deixaria de lado a insegurança e o medo, e não mais conteria o seu próprio avanço. Observe-se que não há previsão de que a ação, se for empreendida, vá dar certo: apenas há a recomendação de que se elimine a contenção e se libere a ação, através da confiança e da autoconfiança.

Yi Jing A tendência da pessoa da 4ª linha é fazer isso mesmo, embora, de imediato, não o consiga realizar plenamente. Num momento futuro, ela já estará avançando, mas ainda de forma hesitante, sem ter definido bem os rumos a tomar. Deve ficar claro que, tanto no momento presente quanto no desenvolvimento da questão da consulta, a pessoa da 4ª linha age com sinceridade, com autenticidade, seguindo a sua própria natureza; e, se ela chega a causar mal a outrem ou a si própria, fá-lo por excesso de zelo e não por falha de caráter.

5ª LINHA (9):

“Havendo confiança, amarrando-os, enriquece usando seus vizinhos.”

Apesar de a situação geral ser de contenção, a pessoa a quem se refere a 5ª linha consegue algum resultado, se não de avanço, pelo menos de acumulação. Para conseguir esse resultado, ela precisa da colaboração de elementos que a ajudem, tanto direta quanto indiretamente; ou seja, seus próximos devem não só eles mesmos cumprirem a sua vontade, quanto compreendê-la e expô-la para que seja cumprida por terceiros. Para conseguir a ajuda, ela precisa confiar em si e nos outros. Em primeiro lugar, deve ter autoconfiança, baseada na consciência do seu valor e da clareza da sua visão sobre a questão da consulta. Em segundo lugar, deve inspirar confiança, o que provavelmente já acontece, para que os outros se sintam dispostos a colaborar com ela e não atrapalhem o seu avanço. E, finalmente, deve depositar confiança, acreditando na capacidade alheia, não duvidando de que eles possam realizar coisas, apesar da contenção. De um certo modo, a pessoa da 5ª linha está acima da força refreadora. Reconhece-a, respeita a sua influência no todo, mas não chega a sofrer pessoalmente os seus efeitos, e até a utiliza a seu favor. À medida que avança, arrasta os outros consigo, contribuindo para promover o progresso de todos. A tendência é de a posição da pessoa se tornar mais sólida e mais forte a partir dos acontecimentos aqui vivenciados, embora ela mesma, no seu caráter, se torne ainda mais flexível e receptiva. Com isso ela terá condições de enfrentar, com sucesso, novas situações de contenção.

6ª LINHA (9):

“Já choveu, já parou. Posicionada acima consegue uma carruagem, mas, se a mulher insistir, enfrentará perigo. Como a lua

Yi Jing

está quase cheia, se a pessoa sábia avançar decididamente, terá prejuízo.”

Desejando avançar, a pessoa a quem se refere esta linha, devido à sua própria energia individual, não se conforma muito em aceitar a contenção que o momento apresenta, e acha, e realmente parece, que vai conseguir escapar-se dela. Porém, mesmo essa suposta liberação é limitada, e não há perspectivas de a pessoa conseguir mais, por enquanto. Quaisquer tentativas de forçar o avanço deverão levar a perigo ou a sofrimento, porque a contenção ainda domina. O pouco que se consegue não é bem o que se esperava, deixa a desejar, não satisfaz, ou vem fora de hora. Assim, a pessoa não deve esperar realizar mais, por enquanto. Se avançar mais agora, isso gerará desconfianças nos outros e levará a uma espera que terminará em frustração e perdas só superáveis com a aceitação de ajuda vinda de fora. Se, por outro lado, a pessoa a quem se refere a 6ª linha desejava conter o avanço (seu ou alheio) e estava exercendo a contenção, ela deve saber que não vai conseguir segurar as coisas por muito mais tempo. O poder de conter está quase no seu limite máximo: a partir daí as coisas serão liberadas mas, infelizmente, a tendência é de nem tomarem bom rumo nem irem muito longe, gerando, novamente, frustração e perdas que só serão superadas com a intervenção de novos elementos, bons, que agora não estão atuantes na matéria da consulta. Assim, de qualquer maneira a previsão não é boa para quem chegou ao ponto indicado por esta linha. Portanto, se o consulente tiver alternativas de ação que evitem esse ponto, deve procurá-las. Porém, se já tiver chegado até aqui, deve esforçar-se para conservar aquilo que é bom para ele e que é correto, e deve procurar não se rebaixar a um nível de comportamento inferior ao seu melhor. Através dessas atitudes é que evitará grandes perdas.

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HEXAGRAMA 10: ANDANDO COM CUIDADO

JULGAMENTO:

“ ANDANDO COM CUIDADO sobre a cauda de um tigre o homem não é mordido e pode exercer influência.”

Este hexagrama mostra uma situação em que um elemento fraco interage com um elemento forte e perigoso. Todo o texto oracular é um ensinamento de como agir nessa situação, o qual se resume a três proposições: - Agir. - Agir conforme as normas. - Agir com cuidado. A recomendação de agir é exatamente uma exortação para moverse, para não ficar parado, porque é necessário sair da situação, sair da zona de perigo, ficar fora do alcance do “tigre”. A recomendação de agir conforme as normas se deve ao fato de que, respeitando as normas legais, os direitos e deveres, as regras de etiqueta e cortesia, a hierarquia, os costumes, etc., o elemento fraco corre menos risco de irritar ou ofender o forte por algum deslize involuntário, impensado, além de ficar mais protegido, pois está dentro da norma. A recomendação de agir com cuidado é fundamental para a sobrevivência do elemento fraco no que diz respeito à questão da consulta: se agir descuidadamente, expor-se-á de todo ao perigo, com poucas chances de sair ileso. Até o momento da consulta a situação está ainda sob controle, embora em estado de grande tensão. Se este foi o único hexagrama obtido, a previsão é de que a situação não vai sair disto: um perigo potencial que permanece potencial, que não se concretiza - como um cão que rosna mas não morde - frente ao qual a pessoa tem que agir com muito cuidado, observando atenciosamente as normas de conduta vigentes, e do qual deve se liberar logo que puder. Se este foi o segundo hexagrama obtido na consulta, significa que a situação apresentada pelo hexagrama primitivo resultará num clima de

Yi Jing perigo potencial, ou numa relação com um elemento perigoso, gerando a necessidade de muita cautela e atenção às normas vigentes, por parte do sujeito da consulta. Porém, se o consulente obteve este hexagrama como primeiro, com linhas mutantes, isso pode significar ou que o elemento perigoso se transformará de ameaçador em atacador, ou que a pessoa conseguirá sair ilesa da esfera do perigo: as linhas obtidas é que irão definir isso e indicar qual a conduta melhor a ser adotada e quais os erros a serem evitados, além da recomendação geral de cautela e observância das normas. É claro que pode ocorrer o caso de o elemento forte e perigoso se encontrar dentro do próprio sujeito da consulta, constituindo-se num aspecto da sua personalidade ou num medo, desejo, doença, etc., que se avoluma assustadoramente dentro dele, a ponto de se tornar uma ameaça.

Nesse caso, continua sendo necessário agir para fugir do perigo, bem como ter cautela e extrema atenção ao que é consensualmente considerado correto. Finalmente, cabe dizer que essa configuração dos fatos não foi necessariamente escolhida, mas está aí e é preciso lidar com ela. Muita coisa pode ser obtida a partir dessa situação; daí o interesse em chegar bem ao fim dela.

IMAGEM:

“Acima o céu e abaixo o lago: ANDANDO COM CUIDADO.

Assim, a pessoa sábia, porque discrimina entre o alto e o baixo, fortalece as tendências do povo.”

A primeira coisa que deve fazer quem obteve este hexagrama é verificar, na matéria da consulta, qual é o elemento fraco e qual é o elemento forte. Isso às vezes pode estar evidente, às vezes não, porque há uma certa identificação e atração entre os dois, como um lago espelhando o céu ou uma filha pequena provocando o pai. Tendo verificado qual é o elemento fraco, sabe-se que é esse que corre perigo e que precisa ser ajudado. A ajuda aqui recomendada é a de um fortalecimento do elemento fraco, principalmente fornecendo-lhe normas seguras de conduta dentro do contexto da situação da consulta, e buscando tranqüilizá-lo e/ou pacificálo, a fim de que se ponha em melhores condições de lidar com o forte e nem se abstenha de agir nem aja afoitamente ou como se não houvesse perigo algum, pois isso poderia levá-lo ao fracasso.

1ª LINHA (9):

“Andar com simplicidade e avançar, ainda que desordenadamente, não é um erro.”

Yi Jing A pessoa a quem se refere a 1ª linha consegue contornar as dificuldades do momento agindo com simplicidade, discrição, independência e prudência. Ela procura passar o mais longe possível da zona de influência do elemento perigoso e, sob uma aparência inofensiva - talvez se ocultando atrás de outros elementos mais ruidosos e chamativos - tenta passar despercebida, e deve consegui-lo. Para tanto, comporta-se com simplicidade e discrição. A pessoa desta linha age por si mesma, de forma independente. O oráculo afirma que, do modo acima descrito, a pessoa deve avançar, como é seu desejo, e que está certo agir assim. Isso, porém, não eliminará completamente a possibilidade de vir a surgir um conflito, no futuro, porque o elemento com que se está lidando é realmente belicoso e imprevisível. A tendência da pessoa da 1ª linha é não prolongar as questões controversas e, assim, a situação chegará a um bom termo, passando apenas por alguma mínima disputa esclarecedora. Outra tendência da pessoa da 1ª linha, que também está certa, é de seguir as suas próprias inclinações íntimas, e isso também se acentuará no futuro.

2ª LINHA (9):

“Andando num caminho muito plano, a insistência de um homem que se esconde é benéfica.”

A segunda linha mostra o sujeito da consulta procurando ficar afastado de qualquer envolvimento com o elemento perigoso, através de um comportamento equilibrado, reservado, modesto, independente e solitário. Ele procura realmente não se sobressair, não aparecer. Sabe o que quer e não se confunde: fica naquilo. Se tem que fazer alguma coisa fora do seu rumo, principalmente se for envolvendo-se com outros, a faz o mais corretamente possível, e volta ao seu caminho. Ele está, no tocante ao assunto da consulta, na beira da agitação e num meio onde há muita exposição e falação, e assim talvez lhe seja difícil manter a sua atitude simples e reservada. Por isso pode ser que esta linha expresse um desejo do sujeito, que é também uma recomendação do oráculo para ele. Se for possível à pessoa da 2ª linha agir da maneira aqui descrita, suas ações terão bom resultado: ela, agora, sai ilesa da esfera do perigo e, no futuro, mantém a espontaneidade, a autenticidade e a concentração atuais que farão com que, pelo menos no que se relaciona à matéria da consulta, tenha êxito em seus empreendimentos, naturalmente.

Yi Jing Esta linha também pode indicar que algo que não aparece (e, portanto, não é atrapalhado), está lá, latente na situação ou na pessoa, e produz, sem alarde, uma influência positiva.

3ª LINHA (6):

“Um caolho poder ver, um aleijado poder andar, mas, andando na cauda do tigre, eles são mordidos; têm prejuízos porque são guerreiros tranvestidos de grandes príncipes.”

Com relação ao assunto da consulta, a pessoa da 3ª linha alia uma grande coragem externa a uma grande fraqueza interna. Ela superestima a sua capacidade de lidar com o elemento perigoso e acaba sendo atacada. Superficial e confiante, inconseqüente e expansiva, talvez arrogante, a pessoa desta linha realmente se expõe ao perigo, acreditando ter poderes e imunidades que de fato não tem. Se a consulta ao oráculo foi sobre uma atitude a tomar, a obtenção desta linha indica que a pessoa não deve avançar, não deve fazer aquilo que está cogitando, pois não está preparada para isso. Talvez a obtenção de outra linha, neste mesmo hexagrama, indique a atitude correta a tomar. Mas avançar afoitamente, desconsiderando o perigo, levará a mau resultado. Ainda que a pessoa acredite que o possa, não deve fazê-lo: é isso que esta linha recomenda. Se a consulta for sobre uma terceira pessoa, a obtenção desta linha revela ao consulente que aquela pessoa não é tão poderosa e capaz quanto aparenta ou acredita ser, e que as suas atitudes tendem a ser temerárias. Se seguir as suas inclinações atuais, no desenvolvimento futuro do assunto da consulta a pessoa envolver-se-á em muito trabalho e preocupações, e continuará na esfera do perigo, embora já um pouco mais forte para enfrentá-lo.

4ª LINHA (9):

“Andando sobre a cauda do tigre, medo e temor acabam de forma benéfica.”

No quadro apresentado pela 4ª linha, a pessoa reconhece a periculosidade da sua situação e, por isso mesmo, toma muito cuidado nos passos que dá. Esse cuidado temeroso acaba favorecendo o bom resultado do empreendimento. Portanto, a recomendação do oráculo para quem obteve esta linha é de que avance, porém com muita cautela e atenção, tomando todas as precauções possíveis, às vezes até recuando um pouco e, de preferência, discretamente, sem demonstrar que está tomando a iniciativa de agir. Em resumo, é a mesma recomendação geral do hexagrama, com a diferença de que, aqui, a pessoa tem a confirmação de que esse comportamento vai dar certo.

Yi Jing A tendência para o futuro é de desaparecimento do perigo; seja porque ele se esgota por si, seja porque a pessoa consegue se afastar completamente dele. A pessoa poderá, então, no que diz respeito ao assunto da consulta, levar seus relacionamentos - que serão ampliados - e sua conduta pessoal de acordo com seu pensamento e suas convicções íntimas, com mais confiança, sem ter que tomar tanto cuidado.

5ª LINHA (9):

“Andando decididamente, insiste com rigor.”

No momento focalizado pela consulta, a pessoa da 5ª linha não escapa completamente ao perigo, mas consegue evitar ser atacada. O perigo e a ameaça permanecem, a situação em si é delicada. Ela mantém a situação sob controle através de uma decisão firme aliada a um extremo cuidado nos movimentos, vencendo inclusive uma certa hesitação inicial. Não recua diante do perigo, não se intimida, mas também não age com excessivo ímpeto, arrogância ou confiança, como se o perigo não existisse. Ao contrário, a pessoa da 5ª linha reconhece a existência do perigo e busca os meios para enfrentá-lo na solidez da sua posição, na prudente correção da sua conduta e na firmeza da sua determinação íntima. Conta também com a solidariedade do grupo ao qual pertence. Essa maneira de agir é correta para a pessoa que obteve esta linha – ela não deve sentir-se errada ou culpada - embora não conduza a uma solução imediata da questão. (Aliás, o oráculo não diz se há uma solução imediata possível e satisfatória.) No futuro, a tendência é de os obstáculos causadores de problemas e divergências serem eliminados, por iniciativa dos próprios antagonistas. A pessoa da 5ª linha deverá aceitar essa tentativa de conciliação e, com isso, sair esfera do perigo, com dissipação de dúvidas ou arrependimentos. Apesar de tudo, não se estabelecerá ou restabelecerá harmonia total com o elemento perigoso: apenas se superará a dificuldade atual.

6ª LINHA (9):

“Observe o que já andou, e, com cuidado, reflita sobre os sucessos para repeti-los novamente, assim terá benefícios fundamentais.”

Na situação apresentada pela 6ª linha, a pessoa já conseguiu ou está em vias de conseguir se livrar do perigo, e aprende com o que já fez. A pessoa dessa linha é, pelo menos na matéria da consulta, racional, segura, ponderada, e tem uma posição social, profissional ou familiar bem consolidada. Ela tem, portanto, alguma experiência e pode fazer uso disso para se conduzir perante as dificuldades que ora se apresentam.

Yi Jing Deve observar minuciosamente o que se passou, para ver como chegou a entrar na situação perigosa e como conseguiu se desvencilhar dela. O objetivo dessa reflexão é evitar a repetição de movimentos errados feitos no passado e estimular a repetição dos movimentos acertados.

Também deve analisar as consultas anteriores feitas ao oráculo sobre o presente assunto, se as houve, e as respostas obtidas. Essa análise levará a pessoa a um conhecimento melhor sobre si mesma, sobre a matéria da consulta e sobre os elementos nela envolvidos, o que lhe será de grande valia, favorecendo o bom resultado das suas ações. Assim, a pessoa atingirá um estado de satisfação com relação à questão da consulta, e terá a tendência de querer perpetuar esse estado. O

Yi Jing, porém, sugere que, mesmo que a pessoa encontre prazer no que faz, não faça as coisas exclusivamente em função do prazer, nem permita que os outros a utilizem para seu prazer.

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