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HEXAGRAMA 14: MANIFESTANDO-SE COM GRANDEZA

Yi Jing

HEXAGRAMA 14: MANIFESTANDO-SE COM GRANDEZA

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JULGAMENTO:

“MANIFESTANDO-SE COM GRANDEZA se exerce uma influência primordial.”

Obter este hexagrama revela que existe, na realidade enfocada pela consulta, algo grande, algo capaz de se manifestar com grandeza, com largueza, abertamente, seja porque é grande em si, seja porque existe em grande quantidade, seja porque o sujeito da consulta o possui em alto grau.

Assim, o fundamental, no momento, o que influencia toda a situação, é a existência desse muito, desse grande. A necessidade, a oportunidade ou simplesmente o fato de isso se manifestar é o que afeta a todos os envolvidos na questão da consulta, especialmente aquele sobre quem se consultou. Para que essa manifestação ocorra com plenitude e realmente influencie o meio, é preciso que o detentor da grandeza esteja, com naturalidade, sem forçar as coisas, numa posição de honra e poder, e seja reconhecido e bem recebido por todos aqueles com quem tem que interagir. É preciso ainda que tenha firmeza e força de caráter, conhecimentos que esclareçam aqueles que o procuram, devoção, desenvolvimento espiritual e percepção aguçada, de forma a sempre perceber o momento certo de agir e agir naquele momento. Como se observa, não são atributos muito comuns de se verem reunidos numa só pessoa ou entidade, e como eles, na prática, condicionam o resultado imediato da manifestação aqui prevista, a conclusão é de que tal resultado permanece uma incógnita, a não ser que alguma linha obtida, ou um outro hexagrama, tragam mais definição ao assunto. O hexagrama não prevê a aquisição de riquezas, nem orienta o consulente a como adquiri-las. Antes, ele revela que já existe uma riqueza no sujeito da consulta, o qual possui algo de valor, em grande quantidade, e pode, por isso, manifestar-se com grandeza naquele campo. Entretanto, se essa matéria ou energia não for bem canalizada e conduzida pelo sujeito, ela poderá manifestar-se de forma desordenada e

Yi Jing descontrolada, e não produzir os efeitos positivos que lhe seriam próprios, ou mesmo gerar efeitos negativos. Em princípio, a manifestação é pacífica, serena, natural, não agressiva. O sujeito da consulta não deve submeter-se a ninguém, pois ele é quem é o detentor daquilo que é grande e valioso. As coisas simplesmente brotam e aparecem, não há oposição ao seu surgimento, nem interna nem externamente. A fonte criativa da grandeza aqui considerada é poderosa, praticamente inesgotável e contínua no tempo: é como que um dom de Deus ou da natureza, sem nada que a impeça de surgir e manifestar-se. Por isso ela se apresenta de modo natural, harmonizado com o sujeito da consulta e com o contexto em geral, de forma que os envolvidos na questão e o próprio sujeito podem nem ter-se dado conta do muito que possuem e da forte influência que podem exercer. Em resumo, este hexagrama diz que existe alguma coisa que é capaz de se manifestar com magnificência. Se essa manifestação trará consequências boas ou ruins para o sujeito da consulta não é dito pelo

Julgamento. A Imagem recomenda o modo geral de se conduzir nessa situação, ao passo que as linhas indicam modos particulares de lidar com a realidade, neste momento.

IMAGEM:

“Há fogo acima, no céu, MANIFESTANDO-SE COM GRANDEZA.

Assim, a pessoa sábia, porque reprime o mal e promove o bem, obedece ao Céu e se entrega ao seu quinhão.”

A manifestação de grandeza é associada ao bem de uma maneira ativa. Não basta apenas promover o bem (em toda e qualquer esfera de atividade, própria ou alheia, não há delimitações), mas é preciso também reprimir o mal, em qualquer das suas manifestações. Fazendo isso, a pessoa entra em harmonia com o cosmos – obedece ao Céu – e vive plenamente o seu próprio destino – se entrega ao mandato do Céu, aceita o seu quinhão. O Yi Jing não coloca a questão de haver dúvida sobre o que seria o bem e o que seria o mal na matéria da consulta. Supõe-se, portanto, que o sujeito da consulta, como uma pessoa sábia, pela sua apurada noção de civilização e sensibilidade será capaz de percebê-lo.

1ª LINHA (9):

“Nenhuma relação com o prejudicial; não há erros, porque ao aceitar as dificuldades geralmente não se erra.”

Yi Jing A ação da pessoa desta linha, embora não tendo muita autonomia nem, provavelmente, qualquer poder de decisão sobre a matéria da consulta, tende a dar certo, por duas razões: 1- Ela não mantém nem cogita nem aceita qualquer relação com elementos negativos, que possam causar-lhe prejuízo de alguma forma.

Esse tipo de ligação não existe - ou não deve existir - na realidade da pessoa: ela está, no momento aqui focalizado, completamente envolvida e amparada pelo bem e, restringindo as suas relações a elementos positivos, está fazendo o que é certo. 2 - Ela não tenta eliminar as dificuldades que surgem, pois não tem poder para tanto, mas procura adaptar a sua atuação às restrições do momento, aceitar as dificuldades, o que é, segundo o Yi Jing, a atitude acertada. Portanto, se a pessoa vir que, apesar de tudo, acumulou algo de prejudicial em si ou nas suas relações, não deve afligir-se por isso, mas deve ou livrar-se daquilo imediata e completamente ou, caso veja que os resultados, afinal de contas, poderão vir a ser bons, deve corrigir o que não está bem, depurá-lo tanto quanto possível dos seus aspectos negativos, e então assumi-lo. Apesar dos trabalhos, a previsão final para esta linha é boa.

2ª LINHA (9):

“Sendo uma grande carroça usada para carga e tendo aonde ir, ainda que desordenadamente, não há erro.”

A pessoa a quem se refere a 2ª linha vivencia e manifesta um momento de grande pujança de alguma coisa, ou de grande potencial de ação, e pode dispor desses bens como quiser, especialmente para seu próprio desenvolvimento ou para atingir algum objetivo específico. Nisso não incorre em erro e tem todo o apoio, tanto dos seus pares quanto daqueles que detêm o poder de decisão e mando na matéria da consulta. Também pode ocorrer que a pessoa desta linha, ao invés de receber, dê apoio, no que será muito eficiente desde que sinta que há uma finalidade no que faz. Ainda, a linha indica que a pessoa pode assumir responsabilidades ou grandes encargos, pois, mesmo que se sinta sobrecarregada, conseguirá levá-los até o fim sem rupturas, desde que veja um propósito nisso, desde que não aja para acompanhar a onda, o grupo. Conforme a previsão desta linha, todo o desenvolvimento favorável da atuação da pessoa depende de ela ter um ponto de equilíbrio, em si mesma e com relação ao seu meio, e de avançar apegada acirradamente a esse ponto. Assim ela pode dispor equilibradamente, em torno de um centro, a grande quantidade de coisas com que tem de lidar, não correndo o risco de falhar ou de se desestruturar.

3ª LINHA (9):

“Um príncipe pode usar sua influência junto ao Filho do Céu, mas um homem comum não é capaz.”

Ideais excessivamente elevados ou grandeza demasiada para o meio em que está e, principalmente, grande impulsividade caracterizam o caráter e a atuação da pessoa da 3ª linha, na questão da consulta. Sua atitude, ou a ação que ela executa ou pretende executar, seriam, segundo o seu próprio julgamento, dignas de um príncipe, mas ela provavelmente nem é príncipe nem interage com príncipes. Pelo contrário, o Yi Jing mostra essa pessoa no meio da luta da vida humana comum. Ela é dotada de força, capacidade de raciocínio e de ação, iniciativa (em excesso) e satisfação consigo própria, otimismo talvez. Apesar dessas suas qualidades, a manifestação que ela pretende, no momento, lhe seria prejudicial, porque ela não tem poder nem boas relações fora do seu círculo mais fechado e, por isso, a sua ação não atingiria os fins propostos. As coisas só darão certo para essa pessoa se ela for o tipo superior descrito no Julgamento deste hexagrama. Mesmo assim, só se houver outras linhas mutantes que corroborem a possibilidade de sucesso. A tendência é de a ação não atingir o fim proposto, seja por não chegar ao seu destinatário, seja por chegar e ser mal recebida. De qualquer modo, é prejuízo para a pessoa da 3ª linha, que assim só desperdiça o seu potencial. As perspectivas, principalmente se a pessoa obteve somente esta linha mutante, são de muito conflito, dificuldades e penas infligidas pelos outros. Portanto, seria bom a pessoa repensar bem o que pretende fazer.

4ª LINHA (9):

“Nega sua plenitude, nenhum erro.”

A atitude correta, para o sujeito da 4ª linha, seria não se manifestar com grandeza. Com isso, ele evitaria o erro de tentar se igualar ou se irmanar com os mais poderosos e garantiria, para o futuro, a manutenção daquilo que possui, com contentamento, e conservando, ainda, a possibilidade de bom desenvolvimento na matéria da consulta, sem o rancor e a agressividade que poderiam se originar de uma frustração agora e provocar-lhe danos. A sua presente posição é desfavorável para grandes manifestações porque ele não tem poder para influir na realidade, embora possua alguma força pessoal. Como é uma pessoa de grande capacidade de entendimento, visão e discernimento, saberá contentar-se com o seu lugar subordinado ou secundário. Contenção e controle são as palavras-chave para a pessoa desta linha.

Yi Jing

5ª LINHA (6): “Confiar nele é como se entregar; parece majestoso, o que é benéfico.”

Esta linha mostra uma pessoa em quem se pode confiar inteiramente. Essa pessoa tanto pode ser o sujeito da consulta quanto alguém com quem ele interage, aquele a quem dirige a sua ação ou aquele que detém o maior poder na situação. A confiabilidade dessa pessoa origina-se na inteligência e transparência das suas idéias, intenções e objetivos. Além disso ela é receptiva, de fácil acesso, não afeita a maquinações e intrigas, e não tenta manipular os outros. Geralmente a sua atuação é natural e espontânea.

Pela sua própria aparência revela a possibilidade de boa acolhida e proteção aos que dela se aproximem. O sujeito da 5ª linha representa realmente o tipo ideal descrito no

Julgamento deste hexagrama, aquele que pode plenamente manifestar-se com grandeza porque tem grandeza, tem poder e tem aceitação no seu meio. Não há nada que impeça o bom desenvolvimento das suas ações, principalmente se esta foi a única linha mutante obtida, ou se foi obtida juntamente com outras de prognóstico positivo. Essa situação favorável tende a prolongar-se e intensificar-se.

6ª LINHA (9):

“Ajudado espontaneamente pelo Céu recebe benefícios, nada que não seja conveniente."

Esta linha apresenta como que uma explicação do sucesso ou do insucesso da manifestação tencionada pelo sujeito da consulta, assunto deste hexagrama. Em princípio, o que o sujeito faz, fez ou tenciona fazer deve dar certo, pois a linha reafirma a proteção e a ajuda espiritual que ele recebe como dons divinos, as quais lhe proporcionam boa sorte e bom andamento em tudo o que envolva a questão da consulta, especialmente em sua própria atuação. Se não dá certo, é porque não houve aquela proteção e ajuda. O consulente deve prestar atenção à presença, na resposta do oráculo, de outros indicativos de tendência a resultado negativo ou positivo. De qualquer modo, ainda que os resultados até agora alcançados não sejam satisfatórios, obter esta linha deve animá-lo a confiar em si e naquilo de grande que possui, pois é uma bênção. Mesmo que por ora não possa manifestar-se plenamente, é algo bom para ele, que deve ser mantido e cultivado. Existe a possibilidade de a pessoa da 6ª linha vir a defrontar-se com algo ou alguém também grande, mais rígido e inflexível do que ela, que

Yi Jing poderá criar obstáculos ao seu avanço se não for bem avaliado e tratado da maneira adequada. Mas, como ela tem como atributos a clareza de visão, a inteligência e a sabedoria, certamente perceberá as dificuldades a tempo de adotar novas estratégias e, assim, prosseguir no seu desenvolvimento na matéria da consulta.

Yi Jing

HEXAGRAMA 15: CEDENDO COM MODÉSTIA

JULGAMENTO:

“Cedendo com modéstia a influência de uma pessoa sábia acaba se manifestando.”

Obter este hexagrama revela ao consulente que, não importa quão grandes e majestosos o sujeito e/ou o objeto da consulta possam ser, devem adotar uma atitude modesta e/ou conformada, no presente momento, com relação ao assunto em foco. Adotar uma atitude modesta, segundo o hexagrama indica, significa colocar-se abaixo ou no mesmo nível daqueles com quem se tem de interagir, mas sem perder a própria identidade: significa não procurar sobressair-se; não procurar fazer valer um status mais elevado do que o dos outros; não pretender acumular bens, prestígio, poder, etc.; e, sobretudo, não ser arrogante. Adotar uma atitude conformada significa não pretender fazer valer a sua vontade, mas conformar-se com o que as circunstâncias apresentam como sendo o caminho mais fácil, mais sem desafios, enfrentamentos ou conflitos. O Yi Jing aconselha agir assim porque que é o que convém às circunstâncias, e o que vai dar certo. Agir de outro modo poderia ser possível e até correto, só que não atingiria o resultado desejado, ou atingiria o mesmo resultado que com a atitude recomendada, só que com muito mais esforço. Também pode ocorrer que o Yi Jing aconselhe a agir assim por ser esta a única opção possível, no momento, devido a pressões impostas de fora, independentemente da vontade do sujeito da consulta. A adoção dessa atitude encerra a possibilidade de a pessoa se liberar de preocupações, de vaidades, de ambições e lutas. Pode representar a aquisição de uma liberdade interior que só o desprendimento e o despojamento costumam proporcionar. Mas pode também indicar, relativamente ao sujeito da consulta, uma tendência ao retraimento, a não querer tomar posições definidas e visíveis e, sobretudo, a não se colocar na liderança de movimentos ligados ao assunto em foco. A pessoa quer manter-se livre de compromissos, e por isso não assume nada ostensivamente.

Yi Jing A previsão do oráculo depende das qualidades do sujeito da consulta.

Se ele for uma pessoa bem preparada para a situação que vive, e de moral elevada, com comportamento muito humano e civilizado, sua influência sobre as circunstâncias acabará se fazendo sentir, por mais modesta, obscura e despretensiosamente ele se comporte. A explicação disso é que a modéstia é benquista - e protegida - pelas divindades, pelos espíritos e pelos homens; e a natureza, embora não tenha intenções conscientes, também favorece a modéstia ao procurar promover o equilíbrio entre o alto e o baixo, o abarrotado e o vazio, o excessivo e o escasso, o claro e o escuro, aproximando os extremos. Por isso é que a tendência do sujeito da consulta, agindo com modéstia, é alcançar os fins propostos. Porém, como se está dentro da situação geral de modéstia, em que as coisas são, em princípio, pequenas, simples e obscuras, pode ocorrerer que ele não alcance os fins exatamente da forma como desejaria, mas um pouco diminuídos, aplainados, e talvez somente após fazer algumas concessões. Convém lembrar que o sujeito da consulta e o consulente não são necessariamente a mesma pessoa e que, portanto, os fins de um podem não coincidir com os desejos do outro. Essa é a previsão geral para quem obteve este hexagrama. As linhas complementam e detalham casos específicos.

IMAGEM:

“No meio da terra há uma montanha CEDENDO COM MODÉSTIA.

Assim, a pessoa sábia, porqueb tira do que é muito e aumenta o que é pouco, pondera as coisas e as iguala.”

A Imagem nos diz que grandeza e valor nem sempre estão visíveis. Às vezes, uma aparência plana e simples, um comportamento sem pretensões ocultam uma realidade majestosa, rica e poderosa. A pessoa que, na situação enfocada pela consulta, quiser agir com sabedoria, deve procurar o nivelamento, o equilíbrio, retirando o que for excessivo e acrescentando elementos que faltem, em si e/ou no objeto da consulta. O objetivo desse nivelamento é encontrar pontos em comum nos diversos componentes da situação, ou estabelecer uma harmonia, um equilíbrio entre eles, nem que, para isso, tenha-se que fazer concessões de parte a parte.

1ª LINHA (6):

“A modéstia modesta da pessoa sábia lhe serve para atravessar o grande rio e é benéfica.”

Esta linha mostra o sujeito no início do seu movimento na situação enfocada pela consulta. Ele ainda tem um caminho longo e íngreme pela frente, e conta apenas com as suas próprias qualidades e recursos.

Yi Jing A linha recomenda o avanço, mas com muita discrição, modéstia, simplicidade e reserva, de uma forma quase invisível. De modo algum deve avançar fazendo alarde. Ele não tem ajuda de colaboradores, e agir do modo recomendado será benéfico para a obtenção de bom resultado no que empreender. Para não vir a ser atacado ou atrapalhado, o sujeito deverá manter essa atitude ainda por mais algum tempo, pois é assim, retraindo-se e contendo-se, que conseguirá ir longe e exercer influência sobre os outros.

2ª LINHA (6):

“Modéstia gorjeando, insistir é benéfico!”

A modéstia aqui não é só uma atitude que a pessoa precisa adotar, mas é uma qualidade inerente a ela, e que deve ser mantida. Essa qualidade aparece, é percebida pelos outros. A linha recomenda o avanço, com insistência naquilo que se quer, assegurando que isso atrairá condições favoráveis ao bom desenrolar da questão. Nesse meio tempo poderá haver ocasião para a pessoa apresentar ou oferecer algo. Deverá fazê-lo com confiança. Mesmo que seja algo modesto contribuirá para sua felicidade, devido à sua autenticidade e sinceridade.

3ª LINHA (9):

“A modéstia laboriosa da pessoa sábia acaba se manifestando, benéfico.”

A pessoa da 3ª linha é essencialmente ativa. Ao menos deveria sê-lo, com relação ao assunto da consulta. Ela é quem, no contexto da questão da consulta, reúne em si as boas qualidades exigidas para o sucesso da ação: é bem preparada, de caráter nobre, grande e modesta na sua grandeza. E como ela se movimenta, trabalha, é bem relacionada e bem aceita por todos com quem interage, sua influência acaba se manifestando e ela consegue um bom encaminhamento para aquilo que quer, com apoio e aprovação dos outros. Deve manter-se nessa conduta, continuando a fazer as coisas sem chamar atenção, sem ser arrogante nem exibida. Se estiver agindo em função de outros, ou para outros, deve procurar concluir os trabalhos em andamento, sem reclamar os méritos para si, e não procurar novas tarefas.

4ª LINHA (6):

“Nada que não seja conveniente para a modéstia desfraldada.”

A pessoa, conforme indicado pela 4ª linha, deve mostrar uma aparência modesta, mesmo que não se sinta assim no íntimo.

Yi Jing A linha mostra a pessoa entre dois elementos (que podem ser duas outras pessoas ou não) mais fortes, ativos e poderosos do que ela, o que a obriga a um sério rigor no seu comportamento, observando atentamente as regras e mostrando-se obediente, submissa, cordata, sem ambição, sem pretensões, enfim, declaradamente modesta, de modo a não representar uma ameaça para os outros e ser deixada em paz. Mesmo que a pessoa não sinta essa inclinação interiormente, é assim que ela deve agir, ou pelo menos aparentar, para poder ter bom desenvolvimento nos seus assuntos. A sua posição é tão delicada que até mesmo essa atitude pode suscitar problemas, caso ela não tenha um comportamento absolutamente de acordo com as normas vigentes. Por algum tempo ela deverá continuar a agir assim, com determinação interna e contenção externa, com cautela.

5ª LINHA (6):

“Não é rico, mas usa seus vizinhos; sendo conveniente e útil atacar os prepotentes, não há nada que não seja conveniente.”

A principal característica da pessoa desta linha é o fato de que ela recebe, sem exigir, apenas sendo acessível e receptiva, muita ajuda dos outros. Recebe tanta colaboração que acaba usufruindo mais riqueza (bens, meios, convívio social, etc.) do que de fato possui. Os seus próximos formam um corpo solidário com ela, cedendo-lhe os seus préstimos, e todos se relacionam bem com os que estão em posição de mais destaque, na questão da consulta. Trata-se de uma situação muito confortável. Para mantê-la, a pessoa precisa eliminar os inimigos, aqueles que desejam atacá-la ou que, no momento, simplesmente não a apóiam, não são amigos. Esses devem ser rapidamente afastados do caminho: ela não pode ceder nada a eles, não tem que ser condescendente com eles. No futuro, se surgirem ocasiões difíceis para a pessoa da 5ª linha, igualmente amigos virão ajudá-la, manifestando abertamente a solidariedade que já existe agora.

6ª LINHA (6):

“Modéstia gorjeando, é conveniente e útil a ação de um general [enquanto] só ataque uma cidade-estado."

Na situação indicada pela 6ª linha, a pessoa é modesta e mostra a sua modéstia, a sua ausência de arrogância e de grandes pretensões. Talvez chegue até a ser uma modéstia imodesta. Se for, deve ser combatida.

Yi Jing Na realidade enfocada pela consulta, a pessoa não está submetida a outros, embora aceite a ordem vigente e se relacione bem com todos. Ela também não impõe a sua vontade aos outros, nem deve tentar fazê-lo. O que ela deve fazer é usar a sua energia e a de seu colaborador mais poderoso para conseguir dominar-se a si própria e ao seu meio mais próximo, a fim de atingir os seus propósitos - que ainda não foram alcançados - mesmo que para isso seja necessário impor-se uma certa disciplina e restrições. Os seus propósitos não devem estender-se muito além do seu âmbito pessoal, porque a ação possível a esta linha é modesta e por isso tem modesto alcance. A tendência, para já ou para o futuro, é de a pessoa conseguir esse domínio de si mesma e do seu derredor, atingindo a tranqüilidade e o sossego no que diz respeito ao assunto da consulta, o que será excelente para ela.

Yi Jing

HEXAGRAMA 16: PREVENINDO EXCESSOS

JULGAMENTO:

“PREVENINDO EXCESSOS é conveniente estabelecer feudos e mover exércitos.”

A mensagem básica deste hexagrama é a de que se deve agir, porém controladamente. A matéria da consulta exige um movimento, o qual deve ter o objetivo de fazer prevalecer a ordem, a harmonia, de modo a não dar lugar aos excessos próprios do entusiasmo, do ímpeto, do impulso inicial. Quem executa o movimento é o sujeito da consulta, auxiliado por pessoas ou elementos a quem delegue responsabilidades e que multipliquem a sua capacidade de ação, em força e abrangência. O movimento deve ser executado com determinação e, em princípio, se dá sobre uma base sólida pré-existente. Este hexagrama pode refletir o entusiasmo e talvez o excesso de confiança do sujeito da consulta com relação a um projeto. O sujeito da consulta pode fazer o que quer fazer, porém deve fazê-lo com comedimento, e não de qualquer jeito. Existem obstáculos que, mesmo não aparentes, subjazem a toda a situação: há sempre o risco virtual de uma obstrução qualquer vir a prejudicar os planos. Porém contra esse risco a pessoa pode se precaver se seguir os conselhos dados pelo hexagrama, que são: Em primeiro lugar, procurar apoio: ajudantes, amigos, cônjuges, profissionais contratados, familiares, parentes, colegas de trabalhos, instituições ou outras entidades. Qualquer que seja o empreendimento pretendido, não deve ser desenvolvido pela pessoa sozinha, mas requer, para o seu bom andamento, a reunião de esforços. Se o sujeito conseguir manter a si mesmo dentro dos limites da ordem, do sensato, do razoável, provavelmente terá a adesão e a concordância dos seus colaboradores. Em segundo lugar, agir, fazer, meter mãos à obra. O movimento que fica só no pensamento não levará a realização alguma. No agir aparecerá já o primeiro obstáculo, que é romper a inércia inicial. Se a pessoa obteve linhas mutantes, estas poderão indicar alguns elementos que podem ajudar, atrapalhar ou mesmo impedir a realização plena do que se pretende, bem como definir melhor a situação do sujeito da consulta e das pessoas envolvidas na questão.

Yi Jing Resumindo, trata-se aqui de fazer coisas, porém dentro de uma ordem, de um programa, enfim, de algo que limite as ações, a fim de que elas não ultrapassem as possibilidades do momento mas, ao contrário, as explorem ao máximo. A forma indicada de lidar com o que se tem pela frente é distribuindo as responsabilidades e tarefas, e só então agindo, usando os ajudantes e os ajudantes dos ajudantes, porque, provavelmente, há muito que fazer.

IMAGEM:

“O trovão aparece e chocalha a terra, prevenindo excessos.

Assim os reis da antiguidade faziam música para elevar sua virtude e a ofereciam solenemente à Divindade Suprema. Nisso se igualavam a seus pais e avôs.”

A Imagem recomenda a oração e a elevação moral e espiritual através da música como meios para a prevenção e o controle de excessos, ressaltando ser esse um comportamento muito antigo e nobre, já adotado pelas pessoas desde o início da civilização.

1ª LINHA (6):

“Prevenir excessos gorjeando é prejudicial.”

A pessoa, nesta 1ª linha, devido à sua posição destituída de poder e de autonomia na matéria da consulta, pode até ter a intenção de prevenir excessos, porém o faz cometendo excessos, com grande alarde e, assim, talvez sem se dar conta disso, desvia-se de suas prudentes intenções, o que não dará bom resultado. Com relação ao assunto da consulta, poderá acabar num esgotamento da vontade e do interesse, e/ou numa perda de controle. Provavelmente a pessoa age assim porque se relaciona e se identifica com elementos mais fortes e capazes, ou que estão em melhor posição que a sua, ao invés de se limitar ao convívio e às possibilidades reais do seu meio, onde, aliás, está bem inserida. A tendência para esse comportamento é de, após a apreensão e o susto provocados pelos excessos, finalmente encontrar o caminho da harmonia, dentro das normas apropriadas para o caso.

2ª LINHA (6):

“A crosta de uma rocha; [antes do] dia acabar, sua insistência é benéfica.”

A 2ª linha mostra a pessoa, frente à situação enfocada pela consulta, prevenindo possíveis excessos e agindo com muita firmeza e rapidez nas decisões. Desse modo, pode avançar que terá boa sorte.

Yi Jing O Yi Jing explica que a pessoa age assim porque tem consciência dos limites da sua situação e possui, na matéria da consulta, uma posição extremamente sólida, equilibrada e isenta de influências, embora com bons relacionamentos de apoio. A tendência, se a pessoa continuar com essas atitudes, é de avançar ainda mais, e obter resultados.

3ª LINHA (6):

“Prevenir excessos arregalando os olhos envergonha; [só que] demorar também traz vergonha.”

A 3ª linha mostra a pessoa comportando-se de modo dependente e indeciso frente à situação enfocada pela consulta: seja por ficar esperando para ver como os outros vão agir, seja por indecisão própria mesmo, ela ou age por influência dos outros, ou não age. A pessoa não quer assumir nada, e assim não consegue nada. A razão para essa atitude vergonhosa, segundo o Yi Jing, é uma inadequação entre a pessoa e a posição que ocupa, na matéria da consulta. No entanto, essa inadequação é apenas parcial, por isso pode ser superada. Não de maneira frontal, de impacto, mas sutilmente, contornando os obstáculos e procurando apoiar-se mais em si e nos seus. A pessoa não deve querer superar sua condição através de adulação e imitação dos que estão em posição superior à sua, e deve ser cautelosa, porque a tendência, para alguém com esse comportamento, é de vir a ser atacado, derrubado ou ferido - e talvez por alguém inferior a si - se não tomar muito cuidado.

4ª LINHA (9):

“Excesso apropriado pode se manifestar com grandeza.

Não duvide, isole-se das críticas [ainda que sejam] dos amigos.”

Conforme indicado por esta linha, a pessoa provavelmente toma uma atitude que causa impacto e estranheza no seu meio. Segundo o Yi Jing, ela pode tomar essa atitude grande, que mexe com muita coisa ou com muita gente, porque há, no momento, muitas possibilidades latentes que podem vir a acontecer e que se originam, direta ou indiretamente, dela mesma, do seu entusiasmo com relação à matéria da consulta e do seu poder de atr

ação sobre os demais envolvidos, inclusive sobre aqueles que estão numa posição basicamente superior à sua. Portanto, ela pode agir com energia inusitada para controlar a situação, além mesmo do que seria o seu normal, e ir até o fundo, fazendo o que deve ser feito, sem permitir que os acontecimentos desandem em excessos.

Yi Jing Isso é o que está certo: a pessoa deve fazer o que intenta, sem hesitação e dúvidas, porém com cautela, e fechada como uma mala, sem revelar seus planos nem comentar ou justificar suas ações. Ainda assim, será alvo de comentários desmerecedores e receberá críticas. Não deve esperar elogios. Se esta foi a única linha mutante obtida, a tendência é de, então, a situação, que estava ou está fervilhante, se normalizar e cristalizar. A pessoa deverá manter-se discreta, reservada, e cautelosa.

5ª LINHA (6):

“Insistentemente invejoso, persiste em não sumir.”

A pessoa da 5ª linha é acometida por um mal, constantemente, mas não vem a morrer desse mal. Não sucumbe porque possui uma energia interior e uma vocação para o equilíbrio, para o domínio de si mesma e superação dos obstáculos que as dificuldades ainda não conseguiram destruir. Em função disso, a tendência para essa pessoa é de continuar lutando, tentando conseguir aquilo que almeja e que lhe faz falta, e de fato conseguindo algum avanço. O texto oracular fala especificamente em inveja, mas o mal que acomete a pessoa também pode ser doença, dor, preocupação, ódio ou uma necessidade urgente e constantemente repetida que abala a pessoa mas não a destrói, não a mata.

6ª LINHA (6):

“Previne excessos ignorantes aperfeiçoando-se e dando o exemplo, nenhum erro.”

A 6ª linha mostra uma pessoa não prevenindo o que deveria ser refreado nela mesma, e prevenindo, de forma agressiva e irrefletida, o que julga excessivo nos outros. Segundo o Yi Jing, essa é uma atitude ignorante, o oposto de uma atitude sábia, mas que tem conserto. Para corrigi-la, basta o sujeito da linha se conscientizar do seu engano ou erro, querer melhorar, e mudar. Isso é o que deve ser feito e o que, provavelmente, ele fará, pois não poderá sustentar ou suportar os excessos por muito tempo. Na verdade, tais excessos só seriam admissíveis em ocasiões extremas de defesa ou de autodisciplina, e não por muito tempo. Essa linha aconselha a adoção de uma atitude enérgica, lúcida e controlada, porque, se a pessoa continuar cometendo ou permitindo excessos, ou tentando preveni-los de maneira equivocada, não durará muito tempo na situação em que se encontra.

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