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HEXAGRAMA 27: NUTRINDO-SE ADEQUADAMENTE

Yi Jing

HEXAGRAMA 27: NUTRINDO-SE ADEQUADAMENTE

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JULGAMENTO: "NUTRINDO-SE ADEQUADAMENTE, é benéfico insistir.

Observe como mastiga e como procura encher sua própria boca.”

A boca está aberta, à espera do alimento. Este hexagrama indica que a situação enfocada pela consulta está vinculada ao abastecimento, à nutrição, à alimentação de algo ou de alguém. Dependendo da situação particular do consulente, é conventiente e útil abocanhar, pegar algo, especialmente se for para si próprio. Se a questão for nesse sentido, a resposta é sim. Aparentemente a pessoa que obteve este hexagrama está necessitando de algo para preenchê-la - sob qualquer aspecto - ou existe algo ou alguém que ela precisa alimentar. Em ambos os casos, o fornecimento da substância alimentadora deve ser controlado pela mente, pela razão. A primeira coisa que a pessoa tem a fazer é identificar a quem se deve fornecer alimento e qual o alimento correto para cada qual. Uma vez obtido esse conhecimento, a pessoa deve manter continuidade na atitude de alimentar, com a substância apropriada, aquilo cujo crescimento deve ser estimulado. Uma alimentação descontinuada e não uniforme dificilmente surtirá os efeitos desejados. Para surtir os efeitos desejados a alimentação deve ser regularmente fornecida e constantemente direcionada para aqueles determinados fins. Como consequência lógica dessa atitude, a pessoa não deve alimentar aquilo que não deve ser desenvolvido, que não deve ser estimulado, aquilo que é nocivo, como um mau hábito, por exemplo. Esse primeiro passo é o passo talvez mais difícil da situação. Porém, é possível que o consulente já o tenha dado e já esteja no rumo certo. Isso é verdadeiro principalmente se este for o primeiro hexagrama obtido na consulta, e mais ainda se for o único. Se for o segundo, provavelmente a tarefa de identificar o que deve ser fornecido a quem será uma complementação necessária ao desenvolvimento da situação apresentada pelo hexagrama obtido primeiramente.

Yi Jing O Yi Jing recomenda expressamente que, na questão da consulta, o aspecto da nutrição não seja deixado à solta nem seja negligenciado. Na situação presente, o fornecimento de alimento é importante e deve ser tratado com cuidado, seja o alimento qual for. O oráculo faz ainda uma advertência ao consulente de que ele pode, e deve, procurar conhecer melhor as pessoas com quem tem de tratar na questão da consulta. O meio de fazer isso, neste momento, é observando com o que essas pessoas alimentam a si próprias, o que buscam para preencher suas vidas, para satisfazer os seus egos; com o que preenchem o seu tempo e os seus pensamentos e, enfim, se há uma busca que revele existir nelas uma necessidade insatisfeita. É claro que toda essa pesquisa será aplicada a si próprio se a consulta envolver a questão do autoconhecimento. Há ainda a considerar o aspecto da receptividade: não basta fornecer o alimento; é preciso que ele seja recebido e assimilado. Por isso, para o bom desenvolvimento da questão da consulta é preciso que aquele que é alimentado, seja o próprio consulente ou outro, esteja receptivo em relação àquilo que lhe é oferecido. Como a abrangência de aplicação deste hexagrama é extremamente vasta, listo a seguir algumas situações que podem ser abarcadas pela idéia de alimentar ou de passar pela boca. O objetivo é ajudar o consulente a se situar e de modo algum limitá-lo a estes casos. Assim, a situação enfocada pode referir-se a: - A nutrição física de um indivíduo, povo, grupo ou família. - O sustento de um indivíduo, família, grupo ou povo. - O trabalho e as demais fontes de renda como meio de prover o sustento, o alimento. - A educação, tanto de si mesmo como dos outros; a formação integral do ser humano, corpo e mente. - A alimentação espiritual do indivíduo: as leituras, os interesses, as ocupações, o desenvolvimento das virtudes, etc. - A alimentação espiritual de um povo, grupo ou família: o fornecimento de bibliotecas, filmes, espetáculos de arte, folclore e outros; o cultivo das tradições, a pesquisa do novo, etc. - A preparação do solo para o plantio. - A criação de plantas ou de animais. - O desenvolvimento de um relacionamento. - O fornecimento de informações a um sistema de informática, a um processo, a um caso policial, a uma dúvida, etc. Enfim, o hexagrama Nutrindo-se adequadamente se aplica a praticamente qualquer ação em que se busque o desenvolvimento de alguma coisa através do fornecimento de substância alimentadora.

Yi Jing O conselho contido na Imagem deste hexagrama dá orientações básicas sobre a atitude correta ao prover o alimento. Sua leitura é recomendada. As linhas mutantes que o consulente obteve também devem ser lidas, bem como o hexagrama derivado da viração delas.

IMAGEM: “Na base da montanha há um trovão, NUTRINDO-SE ADEQUADAMENTE. Assim, o sábio é cuidadoso com as palavras que emite e se limita na comida e na bebida.”

O conselho principal para quem está na situação de ter de nutrir algo ou alguém é a contenção. A contenção nas palavras – que nutrem as outras pessoas, as mentes, os sistemas de informação, os processos documentais, etc. - se manifesta num cuidado em não falar além do verdadeiro, do necessário, do útil, em não dizer o que não deve ser dito. Isso também significa que a pessoa não deve dar qualquer coisa aos outros. Ela deve selecionar aquilo que vai oferecer. A contenção na comida e na bebida - que alimentam a própria pessoa, os corpos, os seres vivos e os mecanismos em geral - se manifesta na moderação na ingestão de substâncias, buscando não ingerir além do puro, do necessário, do útil. Em suma, em não ingerir o que não for benéfico ao organismo. Isso também significa que a pessoa não deve aceitar aquilo que não for bom para ela. Ela deve selecionar aquilo que vai incorporar.

1ª LINHA (9): “Você afasta sua divina tartaruga e me observa, balançando seu queixo; prejuízo.”

A pessoa da 1ª linha teria, em princípio, condições de prover nutrição para si e até para outros, pois é forte, dinâmica, bem posicionada e bem relacionada. Comparada com outros do mesmo contexto, ela é um dos que mais reúne as condições necessárias para ser feliz no campo abrangido pela consulta. Entretanto, desperdiça as suas condições favoráveis, não explora as suas vantagens, não utiliza o seu potencial criador e transformador e comporta-se como um indivíduo sem iniciativa, sem capacidade e sem autonomia, que fica esperando que as coisas lhe venham de fora. Deveria ser uma pessoa independente, que não precisasse de nada nem de ninguém e, por imaturidade ou outra razão, passa a agir de forma dependente e queixosa.

Yi Jing Isso não dá certo. Primeiro, porque a pessoa está contrariando a sua própria natureza; e segundo, porque os outros em torno, mesmo que quisessem, não têm condições de fazer por ela tudo o que precisa ser feito. Se as coisas não se passaram nem se estão passando dessa maneira, o consulente deve tomar as palavras do oráculo como um aviso para não deixar a pessoa indicada pela 1ª linha (que pode ser ele mesmo ou outro) seguir por esse caminho errado que, evidentemente, conduz ao contrário do que se deseja. Essa atitude, se continuada, acabará levando a pessoa à destruição: ela perderá seus pontos de apoio, suas fontes de energia, a colaboração e o respeito dos outros.

2ª LINHA (6): “Virando o maxilar desvia-se do caminho para cima, avançar decididamente com o maxilar [assim] traz prejuízos.”

O oráculo para quem obteve esta linha é de que procure bastar-se a si mesmo e não procure aquilo de que necessita fora de si ou dos recursos de que já dispõe no momento da consulta. A pessoa indicada por esta 2ª linha está equilibrada e bem posicionada com relação ao assunto da consulta. É verdade que não está em posição de grande poder, prestígio e, talvez, posses, mas isso, em princípio, não prejudica o seu bem-estar, pois está de acordo com o seu modo natural de ser. Porém neste momento ela apresenta uma tendência dupla. Por um lado quer permanência, estabilidade, uma posição de relativa autonomia sem comando ou responsabilidade sobre outros, mas comandando o seu próprio destino e não se submetendo a ninguém em particular. Por outro lado sente um impulso para a movimentação, para a mudança: quer coisas novas. Em ambas as tendências está presente o individualismo e o espírito de liberdade que lhe são próprios e que a instigam a reagir contra a estagnação e o cerceamento que, devido ao fato de ela não se impor sobre os outros, ameaçam-na constantemente. Por isso o oráculo recomenda a essa pessoa que continue exatamente como está, tranquila e independente, lutando sempre para manter a independência. Que ela não procure sair do seu caminho para buscar coisas fora, seja para si, seja para benefício de terceiros, porque isso lhe acarretaria perdas, tanto materiais quanto sociais e pessoais.

3ª LINHA (6):

“Desviando o maxilar, insistir traz prejuízos, nada é útil por dez anos porque nenhum lugar é conveniente.”

Yi Jing A pessoa da 3ª linha impulsivamente tende a procurar abastecer-se junto aos poderosos, a quem tem acesso devido a achar-se relacionada a eles por laços familiares, profissionais, políticos, pessoais, etc. Entretanto ela não receberá o que precisa desses elementos. O único resultado de procurá-los será o afastar-se daqueles que realmente podem contribuir para o seu desenvolvimento na questão da consulta, bem como daqueles que são os seus amigos e companheiros. Insistir nesse procedimento será infrutífero e a frustração trará sofrimentos morais e/ou prejuízos materiais para a pessoa. A recomendação é de que ela não atue dessa forma, não só por enquanto mas por muito tempo. A forma como a pessoa não deve agir é: com precipitação, com impetuosidade, com alarde, com egoísmo, com espírito interesseiro, procurando apoio junto aos que estão muito acima, buscando o que está longe e buscando o que é de difícil acesso. A forma correta de agir é: com calma, com cautela, com modéstia, com discrição, com altruísmo, com espírito de solidariedade, procurando apoio junto aos que estão no mesmo nível ou abaixo, buscando o que está próximo e buscando o que é acessível. Essas recomendações são necessárias porque a situação da pessoa a quem se refere a 3ª linha é muito desfavorável. Ela tem necessidades, desejos ou carências, e não pode satisfazê-los sozinha. Tem ímpeto, mas não tem força nem liberdade para atuar por conta própria e tampouco para obter a ajuda que quer. Chega a pensar em desistir. As suas condições devem permanecer assim por algum tempo, de modo que, ainda que siga as recomendações do Yi Jing e consiga, agora, prover-se daquilo que necessita ou deseja, não poderá, no futuro próximo, avançar muito. Deverá antes elaborar bem as conquistas atuais, buscando a harmonização dos vários aspectos da questão da consulta.

4ª LINHA (6):

“Virar o maxilar é benéfico, o tigre olha absorto e com aspecto tristonho, nenhum erro.”

Na situação referida pela 4ª linha a pessoa está precisando de algo, mas não pode obtê-lo por si mesma. Também não pode obtê-lo por intermédio de suas relações atuais ou passadas, já consolidadas. Ela tem que procurar o que precisa além, adiante. A pessoa ou a entidade que detém o que lhe interessa não está facilmente acessível. É necessário, para atingi-la, um esforço, vencer um obstáculo, precaver-se contra inimigos. Parece que o alvo visado pela pessoa desta linha também o é por outros, de modo que ela precisa ser ao mesmo tempo prudente e ameaçadora, tornando-se ou mostrando-se mais forte do que realmente é, para espantar os concorrentes. O que lhe dá energia para agir assim é a pressão da sua própria necessidade ou desejo.

Yi Jing Assim, a pessoa é estimulada à ação não por um impulso da sua natureza, mas sim pela necessidade. Os seus amigos ou parentes também a incentivam a agir, embora de uma maneira indireta. Para ela, lutar é uma adaptação necessária às circunstâncias e ela atende a essa exigência do momento. Embora árduo, esse é o caminho que se apresenta à pessoa da 4ª linha para avançar na matéria da consulta da consulta, e é por ele que ela vai ter que trilhar. Segundo o oráculo, não é culpa dela que as coisas sejam assim, não foi por erro seu que as dificuldades surgiram mas, no final, esse é o caminho que levará a um bom resultado. Se esta foi a única linha obtida, a pessoa abocanhará a presa almejada, mas, além de a presa não corresponder exatamente ao desejado, será difícil lidar com ela. Suas possibilidades de movimentação e decisão são restritas no presente e também o serão no futuro. Na continuação dos fatos, ela terá que, tanto quanto agora, manter-se vigilante, correta e pronta para o ataque.

5ª LINHA (6):

“Desviando-se da senda; permanecer insistente é benéfico, mas não permite atravessar o grande rio.”

A pessoa a quem se refere a 5ª linha está, aparentemente, só e carente de alguma coisa. Sente-se inadequada às suas circunstâncias e talvez de fato o esteja, sendo incapaz de oferecer aos outros tudo o que gostaria. No entanto, essa pessoa não está verdadeiramente só e desamparada. O que ocorre é que aquele ou aquilo de que ela precisa está num local ou numa pessoa diferente de onde costumava estar. Se ela se dispuser a se abrir para o novo e se mostrar receptiva aos outros, mas sem se afastar do seu objetivo principal e sem mudar o seu modo de ser, ela certamente terá boa sorte e bom andamento em seus projetos. Deve, portanto, mudar de caminhos, de meios, mas não mudar de objetivos, de fins. E nem se mudar a si própria. Não deve, entretanto, tentar tomar agora decisões importantes nem fazer coisas de consequências duradouras, porque o momento não é para isso. Deve antes receber sugestões de como agir e ceder a elas. Mais tarde, no futuro, provavelmente estará fortalecida e terá então condições de decidir e se impor, e de oferecer algo aos outros, ao invés de receber. O interessante será que se imporá justamente por ser o que já é agora, revelando as qualidades que presentemente talvez não chamem atenção mas que, acumulando-se, serão reconhecidas e imitadas.

6ª LINHA (9):

Yi Jing

“O motor da nutrição; ser prudente é benéfico, é conveniente atravessar o grande rio.”

Obter esta linha significa que a fonte de sustento corre perigo e que, se não forem tomadas as medidas necessárias - mesmo que impliquem mudanças - grande calamidade pode sobrevir. A 6ª linha representa a fonte de abastecimento. A pessoa ou entidade a quem se refere é aquela que possui, na questão da consulta, condições de nutrir a si e aos outros. Por isso ela se sobrepõe, em importância e responsabilidade, a todos os envolvidos na situação, inclusive àqueles que, por hierarquia ou outro critério, lhe seriam superiores. Por outro lado, essa posição especial não lhe permite, nas circunstâncias consideradas na consulta, manter relações exclusivas com ninguém: não há lugar para favoritismos ou preferências, o que tem de ser fomentado é o que tem de ser e não o que a pessoa quer. A pessoa da 6ª linha possui essa condição abastecedora porque atingiu um ápice e está solidamente constituída e apoiada. Ela está tranquila e segura, mas o oráculo lhe adverte que é bom que tenha consciência de que as circunstâncias mudam e de que as coisas têm um momento certo para serem alimentadas ou estimuladas. Segundo o Yi Jing, o momento atual é o momento certo da nutrição, de prover alimento, de fazer elementos enriquecedores fluírem de um ser a outro. Se a pessoa não aproveitar este momento, deixar passar a hora certa de fornecer algo a alguém ou a alguma coisa, depois poderá ser tarde demais. Este é o perigo: dispor das substâncias necessárias para si e para os outros e deixar de fornecê-las, como seria o correto. Daí a recomendação de tomar uma decisão e agir. A ação, o avanço, são extremamente recomendados neste momento, porque este momento é importante. Se a pessoa não agir agora, isso provocará um atraso considerável na matéria da consulta, com muito sofrimento. Se, porém ela tomar as medidas necessárias e conseguir manter ativa a fonte de abastecimento, as coisas começarão a dar certo de novo, devagarzinho.

Yi Jing

HEXAGRAMA 28: EXCEDENDO-SE SENDO GRANDE

JULGAMENTO:

“EXCEDENDO-SE SENDO GRANDE: quando a trave se entorta é conveniente ter aonde ir, ainda que desordenadamente, influência.”

O hexagrama 28 mostra um elemento que é demasiadamente grande para um outro elemento, ao qual está vinculado. Há uma desproporção. Algo passa das medidas, excede, e nisso reside um problema, um perigo ou uma dificuldade, exigindo uma solução rapidamente. No momento focalizado pelo hexagrama - que pode ser o presente, o passado ou o provável futuro da questão da consulta - a situação ou está sem saída ou com saídas inadequadas para a sua dimensão. Há muita força, muito peso, muita tensão; para pouco apoio, pouca sustentação. Ou há muita pressão e poucas válvulas de escape. Ou há muito conteúdo e poucos canais de expressão. Não pode dar certo desse jeito! É necessário haver uma mudança na situação, do contrário ela ruirá por si. Se se trata de um projeto, em alguns casos não chegará sequer a se concretizar, apesar do enorme potencial criativo que encerre. Não adianta um enorme potencial interno se não há meios de exteriorizá-lo, de pôr para fora aquilo que se sabe, aquilo que se é capaz de fazer, aquilo que se sente. Por isso, o fundamental para o sujeito da consulta não é desenvolver nada, mas encontrar saídas ou apoios para aquilo que já é grande, que já se desenvolveu algum dia. Nessa busca, saber aonde se quer chegar pode ajudar muito a definir o caminho a seguir. É necessário, portanto, estabelecer as metas de chegada antes de iniciar a caminhada. O oráculo adverte que a situação não será resolvida toda de uma vez só. Tanto no que depender da própria pessoa quanto no que depender de agentes externos, a solução virá aos poucos, de uma forma talvez imperceptível de início, muito de mansinho, procurando liberar um pouco da energia de cada vez e se infiltrando por qualquer brecha disponível que ofereça passagem, submetendo-se às circunstâncias vigentes. Ações bruscas ou pânico não são previstos para essa situação: não é caso para isso. Como se vê, a situação é crítica, o momento é crítico, a busca de uma saída deve ser imediata para que se tenha um bom desenvolvimento

Yi Jing da questão, ou os projetos devem ser abandonados, também imediatamente, caso não se encontre uma saída adequada. As linhas móveis, se as há, darão esclarecimentos sobre as tendências preponderantes no caso específico da consulta. Se não houver indicações suplementares, a pessoa deve deixar-se guiar pelo seu bom senso e intuição. O conselho da Imagem, a seguir, deve ser aproveitado por todos.

IMAGEM:

“O lago destrói as árvores. EXCEDENDO-SE SENDO GRANDE.

A pessoa sábia ergue-se por si mesma sem temor, retirando-se do mundo sem se angustia.” Para a pessoa que se encontra na situação de ter que lidar com forças ou cargas grandes demais para os meios de que dispõe no momento, o conselho do Yi Jing é basicamente o da coragem, da fortaleza pessoal, aliada a uma forte auto-estima, uma forte valorização de si mesmo. Dois tipos de atitude corajosa são recomendados, segundo a necessidade se apresente: No primeiro, manifesta-se a coragem para agir, enfrentando as circunstâncias sem medo, confiando na sua própria força e estrutura. Essa é a atitude que deve ser adotada quando se busca e se encontra uma saída para a situação. No segundo tipo de atitude manifesta-se a coragem para assumir serenamente a derrota ou o isolamento na luta. Essa é a atitude que deve ser adotada se se reconhece que não há saída para a situação, pelo menos por enquanto. Em ambos os casos ressalta-se a fortaleza interior da pessoa, que se apoia a si mesma e se mantém firme e digna mesmo quando exposta a pressão insuportável, conseguindo assim enfrentar a situação com coragem, seja para vencer, seja para desistir, seja ainda para se afastar um pouco e tomar fôlego para continuar.

1ª LINHA (6): “Deita em juncos brancos, nenhum erro.”

Aqui, diante da enormidade da tarefa que tem pela frente, ou da carga que tem sobre si, a pessoa reconhece a sua impotência e age com prudência. Procura apenas se proteger, se acautelar para não ser esmagada. Se prepara prestando atenção aos detalhes, mantém a calma. Ela não deve se apressar em avançar. Não há ajuda à vista e até a comunicação é difícil. Aqueles que se relacionam com ela, na matéria da consulta, trazem-lhe mais encargos. Contando apenas consigo mesma, a

Yi Jing pessoa da 1ª linha deve reconhecer as suas limitações e manter-se modestamente dentro delas. Isso é o que está certo e, provavelmente, é o que ela faz. Mesmo que, em algum momento, se sinta mais forte e amparada e queira avançar resolutamente, não deverá fazê-lo. Antes de avançar, necessitará tomar medidas preventivas e preparatórias e comunicar suas intenções a todos os envolvidos. A ação pura e simples tenderá a falhar.

2ª LINHA (9): “Num álamo seco nasce um broto novo, um esposo idoso consegue uma esposa jovem, nada que não seja conveniente.”

Na situação descrita pela 2ª linha a pessoa encontra uma válvula de escape adequada para a pressão que vem sofrendo, ou a expressão adequada para um conteúdo ou desejo acumulado, ou um canal adequado para dar vazão a uma sobrecarga, etc., e isso é muito conveniente, pois resolve a questão de uma forma produtiva e não agressiva, embora talvez de aparência impossível ou inusitada. Para encontrar essa solução a pessoa da tem apenas que deixar que as coisas sigam o seu curso ou agir conforme as circunstâncias, deixando fluir os acontecimentos sem tentar impor a sua vontade, mas também sem muita hesitação quando for a ocasião de agir. Caso precise da colaboração de outros elementos, deve procurá-los perto de si, e não longe. No desenvolvimento da situação haverá uma consolidação da interação mútua entre as pessoas e, paradoxalmente, uma acentuação das suas tendências divergentes. Mas, novamente, se as pessoas se acomodarem e ficarem sossegadas, as coisas deverão se encaminhar bem.

3ª LINHA (9): “A trave se entorta, prejuízo.”

A 3ª linha descreve o caso em que a pessoa não encontra saída para a situação em que se encontra. Confiante na sua própria força e capacidade, e excessivamente envolvida na questão, a pessoa talvez só se dê conta da pesada carga sobre ela quando já está a ponto de não aguentar mais. Não há com quem dividir o peso: ou se trata de algo que é ela mesma quem tem que resolver, ou aqueles que poderiam ajudar também estão sobrecarregados. Buscar possíveis ajudas fora, longe, resultará inútil. Assim, ainda que precariamente, a pessoa da 3ª linha terá que se apoiar a si mesma. Continuando nesse rumo, terá muito sofrimento: se verá oprimida, encurralada, com saídas escassas e dolorosas. Até suas relações íntimas serão afetadas.

Yi Jing Portanto, se a pessoa está fazendo uma consulta referente ao futuro, a alguma decisão a tomar, o conselho do oráculo é que não faça novos empreendimentos, não assuma compromissos, não prossiga, pois o resultado provável será esse descrito aqui. Se a situação já está em andamento, então que procure um modo de aliviar a sua carga, se possível.

4ª LINHA (9):

“A trave se mantém alta, o que é benéfico, mas atender o outro envergonha.”

Na situação descrita pela 4ª linha a pessoa, apesar da grande carga que suporta, não cede, não se deixa abater, consegue se sustentar, porque é, ao mesmo tempo, forte e flexível, sabendo aguentar a pressão, por um lado, e aliviá-la um pouco, por outro. Porém ela não deve tentar, nesse momento, carregar mais nada nem ninguém, nem deve, se for o caso, ceder a pressões. Não pode dar mais de si, está no limite das suas forças. Toda sua energia, agora, é para segurarse a si própria e à sua posição. Se ela tiver que atender mais alguma coisa além do que já atende, fará falta a si mesma, podendo entrar em colapso e sentir-se-á envergonhada por ter cedido, por não ter conseguido resistir. A sua sobrecarga agora é tão grande que logo a pessoa precisará de um período de reorganização interna, voltada para si, sem pensar em fazer nada pelos outros ou por causa dos outros, a fim de colocar-se de novo em plenas condições de ação e relacionamento.

5ª LINHA (9):

“Num álamo seco nasce uma flor, uma esposa velha encontra um esposo jovem, nenhum erro, nada para elogiar.”

A pessoa a quem se refere a 5ª linha acha uma saída inadequada para a situação em que se encontra. Trata-se de uma solução improdutiva e estéril, que não resolve completamente o problema, embora lhe dê um arranjo satisfatório e até atraente, apesar de inusitado. Embora não esteja errada nem contenha vício, também não é digna de louvor e admiração. Mesmo não estando resolvida desde a raiz, a questão apresenta-se superficialmente arrumada e isso pode encher o sujeito da linha de satisfação e orgulho. A rigor, a solução aqui encontrada deveria ser de curto alcance e de curta duração; entretanto a tendência para o futuro, pelo menos para o futuro próximo, é de as coisas permanecerem conforme foram aqui ajeitadas. Para um dos envolvidos o arranjo, se mantido, será proveitoso, benéfico, porque para esse elemento o objetivo foi alcançado e não há, no momento, outras esperanças de muitas realizações. Para outro dos

Yi Jing envolvidos, porém, a manutenção do estado atual de coisas poderá fazê-lo sentir-se envergonhado e limitar suas possibilidades. Se a questão da consulta referir-se a assuntos de botânica ou de relações amorosas, a resposta pode ser tomada quase que ao pé da letra do oráculo: a planta florescerá, mas não se sabe, só por esta linha, se chegará a se reproduzir; o casamento ou encontro amoroso acontecerá, mas será uma união desigual, não necessariamente estéril, mas ainda assim infecunda em muitos aspectos.

6ª LINHA (6): “Excedendo-se ao vadear, a água lhe cobre a cabeça; prejuízos, nenhum erro.”

Diante da enormidade dos problemas que tem pela frente, ou do peso da carga que tem sobre si, a pessoa, na situação apresentada pela 6ª linha, não se intimida, procura a saída mais provável e, superando as limitações que lhe são próprias, avança, tenta resolver a questão. Porém, apesar de toda a sua coragem e movimentação otimista, falta-lhe capacidade para a solução do caso, e ela se sai mal. A tendência dessa pessoa é de continuar, no futuro, a tentar resolver com impulsividade e precipitação as coisas que percebe estarem erradas ou mal encaminhadas, o que continuará não dando certo. O oráculo afirma que, embora a ação não dê certo, a atitude da pessoa não está errada; pois na verdade, se ela cometeu um excesso, foi na direção do bem, da coragem e da intenção de encontrar uma saída viável para a situação. Infelizmente, não tem a competência necessária para levar o projeto até o fim. Por isso, se a consulta se refere a alguma ação ainda por empreender, a obtenção desta linha é uma advertência para que não se a empreenda.

Yi Jing

HEXAGRAMA 29: TREINANDO NO ABISMO

JULGAMENTO:

“TREINANDO NO ABISMO: influencia tendo confiança e controlando a mente; suas ações serão respeitadas.”

Obter este hexagrama na consulta ao oráculo significa que o sujeito da consulta já se encontra ou está em vias de entrar em uma situação potencialmente perigosa ou confinante, obscura, tortuosa, da qual não se distingue o fim. O que se sabe é que se está no meio dela e que as perspectivas são de se adentrar cada vez mais. Essa situação tanto pode ser objetiva quanto subjetiva. Também tanto pode ser uma possibilidade futura da qual o Yi Jing está tentando nos alertar, como pode ser a explicação para fatos que já aconteceram, conforme a questão formulada nos remeta ao futuro ou ao passado. De um modo geral, os fatos se sucedem rapidamente e a pessoa se envolve cada vez mais, sem ter onde se apoiar e sem poder deter o processo. O perigo - potencial - e o medo - real - são os componentes da situação, com os quais se tem que lidar. Tanto um quanto outro impelem a pessoa ora a um avanço impetuoso, ora à paralisação: nenhuma das duas atitudes é a correta. A atitude correta é o avanço diuturno, cauteloso e constante, à base de experimentação e ensaio, repetindo os passos certos e evitando os errados, até adquirir confiança num procedimento e adotá-lo. Essa é a melhor alternativa para vivenciar o momento, pois gerará confiança nas próprias capacidades, fortalecendo a mente e a vontade. A partir de então a pessoa torna-se apta a influir na situação através de uma ação eficaz, que terá, por isso, forte chance de ser respeitada. Obtido sozinho, este hexagrama, além do que foi dito acima pode também indicar que aquilo que se tem em vista não passará de ensaio, de promessa, de expectativa ou de treinamento, o que terá alguma validade para o desenvolvimento pessoal do sujeito da consulta, mas permanecerá basicamente um movimento voltado para dentro, incubado, não chegando a desabrochar, a se concretizar ou se expandir no mundo. Ou seja, com pouca aplicação ou resultado prático. No aspecto do autoconhecimento, pode-se ver, no hexagrama 29, uma representação do espírito aprisionado ao corpo, do eu sufocado pelo mundo, da vontade subjugada pelas circunstâncias, do sentimento trancado no coração. São condições em princípio insatisfatórias, que

Yi Jing impelem a uma busca de desafogo e plenitude, e onde o perigo reside justamente na possibilidade de não se obter a liberação e ficar confinado entre as paredes da própria incompletude e insatisfação. Aí o medo é justamente o de tentar libertar-se: é o medo de ver o que há do outro lado, medo de enfrentar o mundo, as circunstâncias, a reação do outro. Assim, se a questão colocada ao oráculo for centrada na própria pessoa, a obtenção deste hexagrama pode constituir um convite à introspecção, a uma autoanálise envolvendo pelo menos os fatores citados acima: a condição existencial humana e a influência do meio como favorecedor ou dificultador das manifestações pessoais, da realização da vontade e da expressão dos sentimentos. Nesse caso, o oráculo está dizendo que afundar-se um pouco no abismo que somos cada um de nós e exercitar a percepção dentro desse abismo pode ser um treino útil para um melhor desempenho com relação à matéria da consulta, mas não é dito que se vá ter sucesso nessa tarefa: ao final da análise, o abismo pode estar ainda tão insondável quanto ao princípio. Não há previsão explícita de bom ou mau resultado da situação.

Aliás, nem há previsão de um resultado, de um fim: parece que, no momento, o processo de examinar a situação, ensaiar procedimentos, adquirir confiança, vencer o medo e começar a agir é mais importante do que saber aonde exatamente a ação vai levar. Resumindo, poder-se-ia dizer que o desenvolvimento da questão da consulta passa pela necessidade de se enfrentar realidades sombrias (talvez tenebrosas), profundas, assustadoras, potencialmente perigosas, nas quais temos medo de penetrar, pois não sabemos exatamente aonde esse caminho irá nos conduzir. Se houver opção de outro caminho, mais claro e ameno, sem dúvida que o consulente, se puder, deverá procurá-lo, evitando esse. Se não houver alternativa, resta o consolo de que a passagem por essa realidade difícil constituirá um exercício de muita utilidade para a vida do sujeito da consulta, devido ao conhecimento ali adquirido e à autoconfiança que se originará daquele conhecimento e do fato de ter treinado no abismo. Como essa atividade consome muita energia, de toda espécie, é recomendado que, à medida que se aprofunda e se exercita, a pessoa se abasteça adequadamente de tudo o que necessita para se manter em condições de enfrentar os desafios e dificuldades.

IMAGEM:

“A água flui e chega [ao seu destino]b TREINANDO NO ABISMO.

Assim, a pessoa sábia age com virtude constante e nas suas atividades pratica os ensinamentos.”

Yi Jing O oráculo nos revelou que estamos diante de uma realidade inóspita e obscura, a qual temos que atravessar sem vislumbrar o fim, sem ter certeza nem do que vamos enfrentar nem de onde vamos chegar. Face a isso, o jeito é seguir passo a passo, procurando, como a água, sempre a via de menor resistência para passar, contornando os obstáculos ou esperando crescer o bastante para suplantá-los, diminuindo o ritmo quando falta energia, acelerando quando encontra facilidades, mas sem parar nunca, sem desistir, aprendendo o caminho com a prática. O conselho da Imagem é de que, além de se aprender praticando, se reutilize esse aprendizado em novas ações e na vida em geral, onde ele possa ser útil. Como a utilidade sem a virtude é vil, algo indigno de uma pessoa verdadeiramente humana, o Yi Jing recomenda que tudo, sempre, deva ser feito de acordo com princípios morais elevados e visando a fins elevados.

1ª LINHA (6):

“Treinando no abismo, entra num buraco no fundo do abismo, prejuízo.”

A situação já não é boa para o sujeito desta linha e, ao fazer uma tentativa para sair dos apuros, ou simplesmente para entender o que está acontecendo e se situar melhor, ele obtém o efeito inverso do que desejava e se afunda ainda mais, enredando-se em confusão e dificuldade. Isso talvez tenha acontecido por ter ele querido seguir o exemplo de outros, seus próximos, que avançam resolutamente apesar das circunstâncias adversas. Se ainda não aconteceu, deve evitar ao máximo qualquer movimento, ser o mais discreto possível, esconder-se, porque as perspectivas não lhe são favoráveis. A pessoa a quem se refere esta 1ª linha não tem força própria, nem apoio alheio, nem experiência suficiente na matéria para conseguir liberarse. Está tão envolvida em problemas, tribulações ou coisas que tais que não consegue ter uma visão de conjunto do todo, para se situar, e muito menos consegue vislumbrar uma saída plausível. Por isso é que qualquer movimento que faça a faz afundar-se cada vez mais. Em tais circunstâncias, a tendência da pessoa é de permanecer num âmbito limitado de atuação, dentro do que lhe é conhecido e seguro, e onde tem relacionamentos que a apoiam. Ela poderá achar que isso é pouco, mas é o que será melhor para ela, principalmente para evitar que se envolva em complicações.

2ª LINHA (9):

“No abismo há perigo, procurar só pequenos ganhos.”

Estando numa situação de risco e insegurança, onde não há uma visão clara do todo nem a possibilidade de saída rápida e fácil - como

Yi Jing gostaria - nem forte apoio ou auxílio vindo de fora, a pessoa deve se restringir a fazer apenas pequenos avanços na direção desejada, contentando-se com o pouco que conseguir. Ela tem que se ater àquilo que lhe está ao alcance da mão, tanto em termos de relacionamentos quanto de conquistas, atividades, bens materiais, possibilidades em geral. Para alcançar o que está distante a pessoa teria que vencer o abismo que a separa daquelas coisas, e isso é uma tarefa difícil e demorada, não é para já. Para o futuro, a recomendação é de que a pessoa não desista dos seus propósitos e de que, mesmo que ainda não os possa realizar, trate de mantê-los acesos dentro de si, bem como fortaleça as ligações com os elementos que a apoiam, pois isso ajudará a sua evolução na matéria da consulta.

3ª LINHA (6):

“Indo e vindo de abismo em abismo, em perigo até o pescoço, entra num buraco no fundo do abismo, isso não é útil.”

Nas presentes circunstâncias não há salvação possível para a pessoa da 3ª linha. O que quer que ela tenha em mente, não deve fazê-lo. Sua situação é extremamente perigosa, desfavorável, negativa: há obstáculos e perigos por todos os lados, e nenhuma ajuda válida. A pessoa deve concentrar toda a energia que tiver em se segurar na sua posição - por precária ou insatisfatória que seja - em tentar se manter à superfície e não soçobrar, não afundar mais. O risco é grande. Qualquer ação acaba não adiantando, pois não consegue tirá-la da situação problemática. Infelizmente, para o futuro, embora haja uma tendência de as coisas se acalmarem, a pessoa desta linha continuará impossibilitada de atuar na plenitude das suas possibilidades, devido à falta de uma determinação clara, dela ou de outros. Isso é verdadeiro especialmente se esta foi a única linha mutante obtida. Caso haja outras linhas, com outras opções, esta serve antes como aviso de um rumo que não deve ser tomado.

4ª LINHA (6):

“Uma jarra de vinho e uma tigela, feitos de barro, presentes frugais [que o ajudam] a se esclarecer a si mesmo e acabar sem nenhum erro.”

Esta linha indica que a pessoa começa a ter alguma chance de sair da situação problemática. Primeiro, ela não está no ponto mais baixo no assunto enfocado pela consulta. Está num ponto mediano, porém aparentemente sem muita esperança ou expectativa de subir mais, pois não tem força pessoal nem social para se impor.

Yi Jing Em consequência disso ela se torna, ou deveria se tornar, receptiva ao que lhe vem de fora, gerando um bom relacionamento com alguém ou com o meio em geral. Através desse relacionamento lhe chegam algumas pequenas ajudas, de ordem material e mental, coisas simples que a pessoa da 4ª linha recebe também sem grandes expectativas. Isso a conduz a uma compreensão da sua situação e contribui para que ela não cometa erros ao tentar sobreviver a este período difícil e obscuro. Entretanto, ainda não é agora que a solução, liberação ou realização ocorrem: a pessoa ainda tem pela frente um período de sofrimento e carência antes de atingir o ponto desejado.

5ª LINHA (9):

“O abismo não encheu, somente quando se aplane não haverá erro.”

Estando, no que diz respeito à matéria da consulta, numa posição de alto nível ou responsabilidade, a pessoa a quem se refere a 5ª linha necessita de muita coisa para resolver plenamente a questão apresentada ao oráculo. Isso não é fácil de conseguir, ainda mais que há fatores que não dependem dela. Apesar de ser firme, equilibrada e determinada, a pessoa não consegue impor-se e a influência da sua vontade não se estende a todo o seu meio, restringindo-se aos mais próximos e/ou mais maleáveis. A previsão é de que ainda haverá percalços no caminho e de que suas tentativas de vencer as dificuldades a levarão a cometer erros. Existe a possibilidade de esses erros serem derivados de uma deficiência de comunicação com os outros e de uma tendência ao ensimesmamento ou à centralização, querendo decidir e resolver tudo sozinha. No presente caso isso não pode dar certo, porque a pessoa da 5ª linha não possui uma visão abrangente e clara da situação e de suas possíveis saídas, e, assim, precisa ter acesso a outros pontos de vista além do seu para encontrar soluções, e não tem: há como que um abismo entre ela e os outros, e a plenitude desejada ainda está fora de alcance. O Yi Jing ensina que a saída para tal situação encontra-se no nivelamento. Ou seja, a pessoa tem que sair da sua posição e do seu isolamento atual e procurar juntar-se aos demais, pôr-se no nível dos vários componentes da situação e, a partir daí, formando um corpo homogêneo e solidário com eles, devem procurar juntos a saída, ainda que isso signifique aprender a aceitar as idéias e talvez o comando alheio, atuando em conjunto ao invés de deliberar sozinha. Uma outra opção seria não fazer nada, apenas esperar que a situação se esvazie por si mesma, sem tentar influir nela nem agora nem depois.

Yi Jing Ambas as atitudes tendem a dar certo, oportunamente.

6ª LINHA (6):

“Amarrado com fortes cordas, aprisionado numa densa floresta, por três anos não consegue nada, prejuízo.”

Pode-se distinguir três possibilidades de interpretação para esta linha: 1) A pessoa a quem se refere a linha, no momento ali apresentado, já saiu ou já teria condições de sair da situação perigosa e confinante prevista por este hexagrama, porém, devido a estar envolvida em um relacionamento, continua enredada, tolhida, sem forças para se libertar, sem discernir direito o que está acontecendo e, naturalmente, assim subjugada não consegue nada de bom para si nem para o outro: não avança, apenas vive essa experiência negativa com sofrimento. 2) A pessoa ainda não saiu da situação problemática, nem conseguirá sair por muito tempo, porque, além de estar, de um modo geral, em circunstâncias potencialmente perigosas e inóspitas, onde a tendência é de se afundar cada vez mais sem vislumbrar com clareza uma saída segura, ainda por cima está enfraquecida, com os movimentos tolhidos e as perspectivas totalmente fechadas, de modo que não pode sequer ensaiar tentativas de saída. Assim não consegue coisa alguma, nem grande nem pequena. 3) A pessoa está paralisada pelo medo, dominada pelo aspecto assustador das circunstâncias, por isso não consegue fazer nada, enquanto os problemas se avolumam à sua volta. Na verdade, com um pequeno, embora profundo, movimento ela poderia se livrar, uma vez que já passou pelo pior. Os motivos que tolhem a pessoa, neste momento, podem ser: fraqueza pessoal, falta de bons relacionamentos de apoio, ou não enxergar alternativas de saída. Para conseguir libertar-se ela teria que ser confiante em si e nos outros e avançar, mesmo sem ter certeza do resultado. Cabe ao consulente verificar em qual ou quais desses casos se enquadra o sujeito da consulta. De qualquer modo, a sua situação não é boa e requer coragem e confiança para ser superada. A superação, parece, será possível se a pessoa, num momento qualquer, romper as amarras, nem que para isso tenha que adotar atitudes radicais e entregar-se inteiramente àquele objetivo sem medir esforços, mesmo correndo o risco de sofrer algumas perdas pessoais. Se isso tiver que ser feito, a pessoa deverá fazê-lo e não se sentir culpada, pois é o que está certo.

Yi Jing

HEXAGRAMA 30: ADERINDO COMO O FOGO

JULGAMENTO:

“Aderindo como o fogo se exerce influência, é conveniente insistir. Cuidar da vaca é benéfico.”

O hexagrama 30 indica uma situação que a pessoa não pode resolver ou desenvolver sozinha. Para alcançar aquilo que seria o sucesso nessa determinada situação depende-se de outros, depende-se de condições extrínsecas à própria pessoa interessada. Este é o primeiro ponto, fundamental: a dependência, o condicionamento, a não autonomia de ação. O segundo ponto, decorrente do primeiro, é a necessidade de aceitação da dependência: o sujeito da consulta precisa reconhecer que não depende exclusivamente dele a solução da questão apresentada ao oráculo; e deve aceitar esse fato sem se revoltar, a fim de agir de acordo com as circunstâncias reais que existem e não de acordo com o que ele gostaria que fosse. Essa aceitação da realidade lhe dará mais facilidade de avançar porque lhe diminuirá a resistência e o atrito com os fatos, diminuindo, portanto, o seu desgaste físico, emocional ou financeiro. O terceiro ponto, que interessa especialmente para se saber o resultado dos atuais movimentos, é a recomendação de manutenção da linha de conduta: para atingir o objetivo que tem em mente, o sujeito deve persistir na ação direcionada para aquele objetivo. Só terá sucesso, entretanto, se tanto o objetivo quanto a ação estiverem dentro do âmbito do bem. Este hexagrama também adverte para a necessidade ou a conveniência de se irradiar luz sobre a situação para enxergá-la com toda a clareza, conhecer seus vários aspectos. E adverte para o perigo do excesso de dependência em algo ou alguém, pois o ponto de apoio poderá não suportar a pressão ou não corresponder à expectativa e, se a pessoa não puder se apoiar um pouco que seja em si mesma, verá cair por terra seus projetos.

IMAGEM: "Compreensão repetida ADERE COMO O FOGO,

Yi Jing

por isso, o grande homem, seguindo essa compreensão ilumina os quatro cantos do mundo."

A pessoa que obteve este hexagrama é indubitavelmente convidada a se comportar como uma pessoa superior, de espírito, ideais e ações nobres e elevados. Não há outra alternativa: nesta ocasião, sobre o assunto enfocado pela consulta, a pessoa deve aplicar toda a sua capacidade de visão e de compreensão, a fim de entender a questão de modo definitivo e em todos os seus aspectos. Ela observará que, vista assim, de um modo absolutamente objetivo, sem limitações espaciais ou temporais, a questão revelar-se-á na sua essência verdadeira e é esse conhecimento que deve guiá-la e também ser transmitido aos outros envolvidos na situação, se os houver.

1ª LINHA (9):

“Passos confusos, sendo cuidadoso não haverá erro.”

Na questão enfocada pela consulta, a pessoa da 1ª linha está apenas começando a avançar, numa posição inicial de confusão e reserva, porque ainda não tem uma visão integral da situação, nem está adequadamente relacionada com a(s) pessoa(s) que poderia(m) ser seu(s) colaborador(es). Ela mantém relacionamento somente com o elemento que lhe é mais acessível no momento, uma pessoa madura e equilibrada, representada pela 2ª linha. Através desse elemento a pessoa da 1ª linha começa a tomar contato com os demais integrantes da situação. Mas ainda mantém a sua independência, e isso não é mau. Ela deve cuidar para que a sua atenção e a sua ação não se desviem daquilo que é importante no momento. Se, deixando-se levar pela sua relativa liberdade, ela ocupar seu tempo com futilidades ou se desviar do seu rumo, deixando de fazer o que deve ser feito, isso lhe trará incomodações. Por outro lado, o sujeito da linha deve ser informado de que, enquanto não aderir integralmente ao grupo, ou enquanto não se comprometer firmemente com o assunto em questão, não cometerá erros com relação ao assunto e manterá uma maior autonomia de ação, mas não poderá realizar grandes coisas, pois lhe faltará a força da união. Se a consulta envolver mais de uma pessoa, provavelmente a pessoa representada pela 1ª linha é a mais jovem ou a mais recentemente ingressa na situação.

2ª LINHA(6):

“Aderindo como um fogo amarelo, benefício primordial.”

Yi Jing A pessoa a quem se refere esta linha já tem - ou deve procurar obter, caso esteja pedindo um conselho ao oráculo - uma visão equilibrada, penetrante e completa da situação objeto da consulta. Esse enfoque penetrante da situação, dentro de uma perspectiva equilibrada, a ajudará a bem orientar os seus atos e também lhe dará o apoio dos que lhe estão próximos, participando do mesmo contexto. O apoio mais confiável é aquele de uma pessoa mais reservada, séria, que não quer ficar de fora da questão e apoia a pessoa da 2ª linha porque acha que ela é correta, que tem razão. Há outra pessoa, mais expansiva, que revela facilmente suas emoções, com quem a pessoa da linha 2 mantém relações; mas essa busca antes ser apoiada e ajudada do que apoiar e prestar ajuda, quando o mais correto seria o contrário. Com o indivíduo de maior poder decisório na situação a pessoa da 2ª linha não mantém relações, ou pelo menos não mantém boas relações, porque tal indivíduo está muito distante dela e porque é moralmente inferior a ela, sendo menos nobre, menos correto, um sujeito fraco e lamuriento, que mais fala do que age. A pessoa da 2ª linha não possui aspirações ambiciosas demais: ela só quer o que julga que lhe é devido de direito, só pretende ocupar o lugar que lhe cabe. Apesar disso, ou por causa disso, ela acabará recebendo realmente tudo a que tem direito - o que é bastante - e poderá dispor desses bens - sejam eles da natureza que forem - da maneira que lhe aprouver, principalmente usando-os para o seu avanço, seu progresso, seu crescimento, com toda a tranquilidade. Na verdade, a previsão do oráculo é de que a ação que ora se desenvolve, embora possa não parecer, dará origem a muitas coisas.

3ª LINHA (9):

“Aderindo como o fogo do sol poente, em vez de tamborilar e cantar fica lamentando a velhice; prejuízo.”

A pessoa a quem se refere a 3ª linha do hexagrama 30 está muito apegada a uma situação, a um relacionamento, à própria vida, a alguma coisa enfim. No entanto, isso, que representa o seu ponto de apoio e é objeto do seu apego, está chegando ao fim. Ao invés de aceitar serenamente essa mudança de situação e tentar concentrar sua atenção no que possa haver de bom ou belo no momento, ou na perspectiva de uma nova situação vindoura, aproveitando a energia própria que ainda possui, a pessoa da 3ª linha não age, não avança e não consegue vislumbrar perspectiva alguma para frente. Ela apenas expressa seus sentimentos em palavras e se aferra ao passado, buscando voltar atrás ou ao menos permanecer no mesmo lugar.

Yi Jing Ao tentar voltar atrás ou permanecer, porém, ela verá que isso não é possível, que aquilo a que ela se ligava já está modificado, que não há mais lugar para ela naquela situação que já é passado, de modo que só obterá decepção e amargura dessa tentativa, pois continuará vendo a realidade de forma distorcida e se confundindo por muito tempo. E parece que a pessoa da 3ª linha não consegue fugir disso; terá que vivê-lo.

4ª LINHA (9):

“Aparece de repente, se inflama, morre e é jogado fora.”

A pessoa, entidade ou ação representada pela 4ª linha é simbolizada por um combustível de curta duração que se consome rapidamente e com brilho. É, portanto, algo que só deve ser usado como estopim, como propulsor de um movimento mais duradouro, mas a que ninguém se deve apegar, porque sua passagem é breve: não se pode depender desse elemento. Assim, esta linha pode representar um incidente que ocorre sem deixar maiores consequências, pode representar um relacionamento intenso e fugaz, pode representar um entusiasmo passageiro, um impulso, uma iniciativa ou, enfim, qualquer coisa que, apresentando-se repentinamente como forte e brilhante, impressiona os envolvidos na situação, mas não resolve definitivamente nada. Esse fator repentino chega mesmo a, num dado momento, tornar-se muito importante, quase indispensável para o sujeito da consulta ou para alguém que desempenha um papel fundamental na situação. Isso ocorre porque essa pessoa está necessitada do apoio de alguém que a ouça sem criticá-la, e assim se apega ao que aparece. Para a pessoa indicada pela 4ª linha o oráculo revela que ela não vai obter um efeito duradouro da ação que ora empreende, ou não vai permanecer por longo tempo na posição em que se encontra. O que ocorre no momento é que a pessoa ainda está muito preocupada e ocupada com a matéria. Não está conseguindo apreender o significado da situação, não chega a assimilar bem aquilo que vê. Na continuação da existência, esse ciclo será superado, a preocupação e ocupação dirigir-se-ão para as coisas do espírito e a pessoa será capaz de ver a essência dos seres e acontecimentos por trás das aparências, por mais ofuscantes que estas sejam.

5ª LINHA (6): “Ir além do que parece um rio de lágrimas, do que parece um sofrimento, um lamento, é benéfico.”

A pessoa da 5ª linha não está, no momento, conseguindo aquilo de que depende para ter sucesso no assunto da consulta.

Yi Jing Existe como que uma barreira entre ela e o objeto com o qual necessita estabelecer uma relação – a qual pode ser de posse, de conhecimento, de decisão, de solução, de comunicação, de amor ou seja lá do que for - e a pessoa da 5ª linha sente-se impotente para vencer os obstáculos e apenas se lamenta e reclama, em vez de agir. Na atual conjuntura a pessoa relaciona-se bem com dois tipos de elementos: aqueles que lhe prestam ajuda de ordem prática ou material, e aqueles que lhe dão apoio na forma de idéias e sugestões. No entanto, está vazia e infeliz porque ainda não alcançou aquilo por que anseia. Essas relações não lhe bastam, no que diz respeito ao caso específico da consulta. Ao invés de ficar só sofrendo e se lamentando, ela deve tratar de superar os sentimentos negativos que ora prevalecem e tentar se fortalecer, vencer os obstáculos e ir em busca do que deseja. Para isso deve visualizar bem o seu alvo e agir na direção do alvo, com a cooperação daqueles com que se relaciona bem e, sobretudo, procurando não cair na subjetividade, mas fazendo tudo de acordo com critérios objetivos e gerais. Logo formará um todo coeso e forte com os seus colaboradores e alcançará aquilo que quer, mesmo que passando por um período de sofrimento, mas não perderá a sensibilidade e a falta de iniciativa que a caracterizam.

6ª LINHA (9): "[Quando] um rei sai numa campanha, é adequado cortar cabeças para capturar os vilões, nenhum erro."

A pessoa a quem se refere a 6ª linha não age, na situação focalizada pela consulta, movida pelo seu querer pessoal ou por um impulso irrefletido. Ela age como se cumprisse um dever, obedecendo a um comando de outra pessoa, ou de uma instituição, ou de si mesma, de uma parte do seu eu. Sua ação consiste em clarear a situação, em abrir o caminho e limpar o terreno para a consolidação daquilo que pretende. Ela age (ou deveria agir) visando apenas o que é essencial para a consecução do seu objetivo, não se ligando aos fatores secundários, acidentais. Desse modo não errará, conseguindo visualizar bem o ponto principal da questão. Ela consegue realizar essa triagem devido à sua grande capacidade de percepção e ação, à sua inteligência e à ausência de envolvimento emocional com os elementos com que tem de lidar. Se houver sucesso nesta ação presente, isso lhe trará abundância de riqueza e poder (dentro do âmbito da questão da consulta), os quais tenderão a gerar orgulho e egoísmo. A pessoa deve estar atenta a esse

Yi Jing perigo e evitá-lo, pois trar-lhe-ia um isolamento social muito longo e desagradável. Tanto é verdadeira essa tendência que, desde já, a pessoa da 6ª linha está isolada. Ela não possui relacionamento de ligação ou cooperação com ninguém, a não ser com aquele (ou aquilo) que determina o dever para ela.

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