Capítulo 1 – Quem Somos e de Onde Viemos
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O Que Todo Presbiteriano Inteligente Deve Saber
autores
Adão Carlos Nascimento (capítulos 5, 12-25, 27, 28) Alderi Souza de Matos (capítulos 1-4, 6-11, 26)
editor responsável
Alberto José Bellan
revisão
Juana del Carmen C. Campos
capa
Foto da Catedral Saint-Pierre, de Genebra, Suíça, onde João Calvino pregava.
produção e diagramação
Ideias Transformando Vidas impressão e acabamento
Gráfica Mundo
As citações bíblicas foram extraídas da tradução de João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada no Brasil - 2ª Edição - Sociedade Bíblica do Brasil.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Nascimento, Adão Carlos O que todo presbiteriano inteligente deve saber / Adão Carlos Nascimento, Alderi Souza de Matos – Santa Bárbara d’Oeste, SP : Z3 Editora, 2007. ISBN: 978-85-98486-32-1 1. Calvinismo. 2. Igreja Presbiteriana do Brasil - História 3. Presbiterianismo. 4. Presbiterianos - Brasil I. Matos, Alderi Souza de. II. Título. 07-6976
CDD-285 Índices para catálogo sistemático: 1. Presbiterianismo : Doutrinas : Cristianismo 285
1ª Edição - Setembro de 2007 2ª Edição - Dezembro de 2007 3ª Edição - Agosto de 2008 4ª Edição - Setembro de 2009 5ª Edição - Janeiro de 2011 6ª Edição - Junho de 2013 7ª Edição - Janeiro de 2016 8ª Edição - Janeiro de 2018
9ª Edição - Setembro de 2018 © 2007 por Z3 Editora
copyright
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Introdução.................................................................................7 Capítulo 1.
Quem Somos e de Onde Viemos..............................................9 Capítulo 2.
Breve Histórico do Presbiterianismo .....................................15 Capítulo 3.
A Visão Calvinista do Estado e da Sociedade .......................23 Capítulo 4.
Calvinismo e Capitalismo: Qual é Mesmo a Sua Relação? ...29 Capítulo 5.
Os Cinco Pontos do Calvinismo ............................................33 Capítulo 6.
Primeiras Tentativas de Implantação no Brasil .....................39 Capítulo 7.
A Confissão de Fé da Guanabara ...........................................43 Capítulo 8.
A Implantação do Presbiterianismo no Brasil .......................49 Capítulo 9.
A Reconstituição do Presbiterianismo no Brasil ...................55 Capítulo 10.
A Estruturação do Presbiterianismo no Brasil .......................59 Capítulo 11.
Nossos Símbolos de Fé ..........................................................67 Capítulo 12.
O Sistema Presbiteriano de Governo .....................................75 Capítulo 13.
Escritura Sagrada: Palavra de Deus .......................................83
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Capítulo 14.
Deus Pai e a Trindade ............................................................91 Capítulo 15.
Jesus Cristo, Deus Filho .........................................................99 Capítulo 16.
O Espírito Santo é Deus .......................................................109 Capítulo 17.
A Criação do Universo e do Homem ...................................115 Capítulo 18.
O Plano de Salvação ............................................................123 Capítulo 19.
A Garantia da Salvação ........................................................133 Capítulo 20.
A Igreja de Cristo..................................................................145 Capítulo 21.
O Batismo Cristão.................................................................153 Capítulo 22.
Por Que Não Batizamos Por Imersão ..................................159 Capítulo 23.
Por Que Batizamos Por Aspersão ........................................165 Capítulo 24.
Por Que Batizamos Nossas Crianças ...................................171 Capítulo 25.
A Ceia do Senhor .................................................................181 Capítulo 26.
O Cristão e a Responsabilidade Social ................................189 Capítulo 27.
O Compromisso do Presbiteriano Autêntico .......................195 Capítulo 28.
E Então Virá o Fim ..............................................................203
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Circula na Internet uma crônica afirmando que um amigo do poeta Olavo Bilac, pretendendo vender um pequeno sítio, pediu-lhe que redigisse um anúncio para ser publicado no jornal. O poeta conhecia muito bem aquele sítio, pois lá estivera várias vezes. Por isso, não lhe foi difícil redigir o anúncio. Apanhou o papel e escreveu: “Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e arejantes águas de um ribeirão. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda”. Alguns meses depois, Olavo Bilac procurou saber se o sítio já havia sido vendido. E a resposta do amigo foi esta: “Depois de ler o texto que você escreveu, descobri o tesouro que possuo e desisti de vender o sítio”. Nosso objetivo ao escrever este livro é ajudar os leitores presbiterianos a descobrir o tesouro que possuem. Estamos conscientes de que a Igreja Presbiteriana do Brasil não é uma igreja perfeita. Ela é constituída por pecadores como todas as outras igrejas evangélicas. Se a própria Igreja Presbiteriana, através de sua Confissão de Fé, afirma que “as igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro”,1 seria um contrassenso afirmar que ela é completa, rematada, sem defeito. Sabemos, também, que a nossa salvação é obra de Deus, e não da igreja a que pertencemos. Quem salva é Jesus e não a Igreja. Somos salvos pela graça, mediante a fé
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em Cristo, e não pela nossa filiação à Igreja Presbiteriana. Portanto, se pertencêssemos a outra denominação evangélica, seríamos igualmente salvos. Concordamos que os processos pelos quais uma pessoa recebe, interpreta, retém e transmite os dados de sua experiência não são uniformes. Isso significa que a mesma experiência pode ser recebida, interpretada, retida e transmitida pelas pessoas de forma diferente. Portanto, não há uniformidade no pensamento humano. Por isto, respeitamos aqueles que pensam diferente de nós. Mas estamos convictos de que o presbiterianismo é uma forma diferenciada de cristianismo. “Quem conhece o presbiterianismo, não sai dele”, escreveu o grande Rev. Thomas Porter. E Francisco Martins acrescentou: “Quem conhece o presbiterianismo fica, queira ou não, empolgado”. E foi por estarmos conscientes de tudo isto que escrevemos O que todo presbiteriano inteligente deve saber.
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Confissão de Fé de Westminster, XXV.5.
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Uma das coisas mais importantes para todo grupo é ter uma consciência clara da sua identidade e objetivos. A identidade tem a ver com as raízes, a história, as características distintivas. Os objetivos são uma decorrência disso: à luz das raízes, da identidade, das convicções básicas, serão estabelecidos os alvos, as prioridades, as maneiras de ser e viver no mundo. Isto se aplica perfeitamente aos presbiterianos. Todavia, ocorre que muitos presbiterianos ignoram a sua identidade, não sabem exatamente quem são, como indivíduos e como igreja. Não conhecendo as suas origens – históricas, teológicas, denominacionais – eles têm dificuldade de posicionar-se quanto a uma série de questões e de definir com clareza os seus rumos, as suas prioridades. Muitas vezes, quando questionados por outras pessoas quanto a suas convicções e práticas, sentem-se frustrados com sua incapacidade de expor de modo coerente e convincente as suas posições.
Quem Somos A Igreja Presbiteriana do Brasil – IPB – é uma federação de igrejas que têm em comum uma história, uma forma de governo, uma teologia, bem como um padrão de culto e de vida comunitária. Historicamente, a IPB pertence à família das igrejas reformadas ao redor do mundo, tendo surgido no Brasil em 1859, como fruto do trabalho missionário da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos. Suas origens mais remotas
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encontram-se nas reformas protestantes suíça e escocesa, no século 16, lideradas por personagens como Ulrico Zuínglio, João Calvino e João Knox. O nome “igreja presbiteriana” vem da maneira como a igreja é administrada, ou seja, através de “presbíteros” eleitos pelas comunidades locais. Essas comunidades são governadas por um “Conselho” de presbíteros e estes oficiais também integram os concílios superiores da igreja, que são os Presbitérios, os Sínodos e o Supremo Concílio. Quanto à sua teologia, a Igreja Presbiteriana do Brasil é herdeira do pensamento do reformador João Calvino (15091564) e das notáveis formulações confessionais (confissões de fé e catecismos) elaboradas pelos reformados nos séculos 16 e 17. Dentre estas se destacam os documentos produzidos pela Assembleia de Westminster, reunida em Londres na década de 1640. A Confissão de Fé de Westminster, bem como os seus Catecismos Maior e Breve, são adotados oficialmente pela IPB como os seus símbolos de fé ou padrões doutrinários. Quanto ao culto, as igrejas presbiterianas procuram obedecer ao chamado “princípio regulador”. Isso significa que o culto deve ater-se às normas contidas na Escritura, não sendo aceitas as práticas proibidas ou não sancionadas explicitamente pela mesma. O culto presbiteriano caracteriza-se por sua ênfase teocêntrica (a centralidade do Deus triúno), simplicidade, reverência, hinódia com conteúdo bíblico e pregação expositiva. A seguir analisaremos três termos importantes cujo significado precisa ser corretamente compreendido: reformado, calvinista e presbiteriano. Esses nomes do nosso movimento são sinônimos em alguns aspectos e diferentes em outros.
Reformados O presbiterianismo derivou da Reforma Protestante do século 16. Pouco depois que o protestantismo começou na Alemanha, sob a liderança de Martinho Lutero, surgiu uma
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segunda manifestação do mesmo no Cantão de Zurique, na Suíça, sob a direção de outro ex-sacerdote, Ulrico Zuínglio (1484-1531). Para distinguir-se da reforma alemã, esse novo movimento ficou conhecido como Segunda Reforma ou Reforma Suíça. O entendimento de que a reforma suíça foi mais profunda em sua ruptura com a igreja medieval e em seu retorno às Escrituras, fez com que recebesse o nome de movimento reformado e seus simpatizantes ficassem conhecidos simplesmente como “reformados”. Inicialmente, o movimento reformado esteve mais ligado à pessoa de Zuínglio. Porém, com a morte prematura deste, o movimento veio a associar-se com seu maior teólogo e articulador, o francês João Calvino (1509-1564). A propósito, os “protestantes”, fossem eles luteranos ou reformados, só passaram a ter essa designação a partir da Dieta de Spira, em 1529. Portanto, o movimento reformado é o ramo do protestantismo que surgiu na Suíça, no século 16, tendo como líderes originais Ulrico Zuínglio, em Zurique, e João Calvino, em Genebra. Esse movimento veio a caracterizar-se por certas concepções teológicas e formas de organização eclesiástica que o distinguiram dos outros grupos protestantes (luteranos, anabatistas e anglicanos). A tradição reformada foi preservada e desenvolvida pelos sucessores imediatos e mais remotos dos líderes iniciais, tais como João Henrique Bullinger (1504-1575), Teodoro Beza (1519-1605), os puritanos ingleses e outros. Até hoje, as igrejas ligadas a essa tradição no continente europeu são conhecidas como Igrejas Reformadas (da Suíça, França, Holanda, Hungria, Romênia e outros países). Porém, o termo reformado é mais que a designação de uma tradição teológica ou eclesiástica. É um conceito abrangente que inclui todo um modo de encarar a vida e o mundo a partir de uma série de pressupostos, dentre os quais se destaca a soberania de Deus.
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Calvinistas O calvinismo, como o nome indica, é o sistema de teologia elaborado pelo mais articulado e profundo dentre os reformadores, João Calvino. Esse sistema, contido especialmente na obra magna de Calvino, a Instituição da Religião Cristã ou Institutas, resulta de uma interpretação cuidadosa e sistemática das Escrituras, e tem como um de seus principais fundamentos a noção da absoluta soberania de Deus como criador, preservador e redentor. O calvinismo não é somente um conjunto de doutrinas, mas inclui concepções específicas a respeito do culto, da liturgia, do ministério, da evangelização e do governo da igreja. Normalmente, todos os reformados deveriam ser calvinistas, mas isso nem sempre ocorre na prática. Muitos herdeiros de Calvino, embora se considerem reformados, não mais se designam ou podem ser designados como calvinistas, por terem abandonado certas convicções e princípios básicos defendidos pelo reformador. Portanto, todo calvinista é reformado, mas nem sempre a recíproca é verdadeira. Presbiterianos O termo presbiteriano foi adotado pelos reformados nas Ilhas Britânicas (Escócia, Inglaterra e Irlanda). Isso se deve ao contexto político-religioso em que o protestantismo foi introduzido naquela região, no qual a forma de governo da igreja teve uma importância preponderante. Os reis ingleses e escoceses preferiam o sistema episcopal, ou seja, uma igreja governada por bispos e arcebispos, o que permitia maior controle da igreja pelo Estado. Já o sistema presbiteriano, isto é, o governo da igreja por presbíteros eleitos pela comunidade e reunidos em concílios, significava um governo mais democrático e autônomo em relação aos governantes civis. Das Ilhas Britânicas, o presbiterianismo foi para os Estados Unidos e dali para muitas partes do mundo, inclusive o Brasil.
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Daí resulta outra distinção importante. Todo presbiteriano é, por definição, reformado e, em teoria, calvinista. Porém, nem todos os calvinistas são presbiterianos. Um bom exemplo é a Inglaterra dos séculos 16 e 17. Quase todos os protestantes ingleses daquela época eram calvinistas, mas muitos deles não aceitavam o sistema de governo presbiteriano. Entre eles estavam os anglicanos e os congregacionais, além de outros grupos.
Conclusão Em conclusão, ao dizermos que somos reformados, calvinistas e presbiterianos, ficam implícitos outros dois elementos igualmente importantes da nossa identidade, que nos lembram que não estamos sozinhos na caminhada – somos cristãos e somos evangélicos. Se de um lado devemos valorizar a nossa herança, de outro lado não devemos nos tornar exclusivistas, lembrando que o corpo de Cristo é maior que o movimento ao qual estamos ligados.