O RESGATE DA VISITAÇÃO PASTORAL

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O Resgate da Visitação Pastoral

ARIVAL DIAS CASIMIRO ELENY VASSÃO

O RESGATE DA VISITAÇÃO PASTORAL

PRINCÍPIOS BÍBLICOS E PRÁTICOS PARA IMPLANTAR O MINISTÉRIO DE VISITAÇÃO NA IGREJA

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Arival Dias Casimiro e Eleny Vassão

O RESGATE DA VISITAÇÃO PASTORAL

PRINCÍPIOS BÍBLICOS E PRÁTICOS PARA IMPLANTAR O MINISTÉRIO DE VISITAÇÃO NA IGREJA autores Arival Dias Casimiro Eleny Vassão editor responsável Alberto José Bellan revisão Juana del Carmen C. Campos capa, produção e diagramação

imagens iStockphoto impressão e acabamento Gráfica Mundo Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Casimiro, Arival Dias / Vassão, Eleny O Resgate da Visitação Pastoral / Arival Dias Casimiro / Eleny Vassão. -- Santa Bárbara d’Oeste, SP: Z3 Editora, 2020. Bibliografia. ISBN 978-85-8283-145-8 1. Capelâes de Hospitais 2. Igreja - Trabalho com Doentes 3. Visitações Pastorais I - Casimiro, Arival Dias / Vassão, Eleny. II. Título 10-00070

CDD-259.4 Índices para catálogo sistemático: 1. Capelania Hospitalar : Cristianismo : 259.4: Iolanda Rodrigues Biode - Bibliotecária - CRB-8/10014

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ARIVAL DIAS CASIMIRO ELENY VASSÃO

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PRINCÍPIOS BÍBLICOS E PRÁTICOS PARA IMPLANTAR O MINISTÉRIO DE VISITAÇÃO NA IGREJA

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Arival Dias Casimiro e Eleny Vassão

O RESGATE DA VISITAÇÃO PASTORAL PRINCÍPIOS BÍBLICOS E PRÁTICOS PARA IMPLANTAR O MINISTÉRIO DE VISITAÇÃO NA IGREJA

1ª Edição - Janeiro de 2020

© 2020 por Z3 Editora

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PREFÁCIO A visitação pastoral é uma das áreas vitais do ministério. O pastor não cuida apenas de todo o rebanho, mas também de cada ovelha em particular. Não se dedica apenas ao ensino público, mas também à assistência individual. Para o pastor cada ovelha é importante. Mesmo que apenas uma ovelha se desgarre e caia no precipício, ele deixa as noventa e nove em segurança no aprisco e sai em busca daquela que se desviou. O pastor não é como o lobo que se aproxima da ovelha apenas para devorá-la nem como o mercenário que só cuida de ovelhas para receber o seu sustento. Ele ama as ovelhas e vela por elas e por elas está pronto a dar sua vida. Uma das formas mais eficazes de cuidar do rebanho de Deus é através da visitação pastoral. É ali, no recesso do lar, que o pastor conhece as lutas peculiares de cada ovelha. É ali, no fronte do lar, que as ovelhas expõem suas lutas mais íntimas e suas necessidades mais urgentes. É no recesso do lar que o pastor conhece o estado de suas ovelhas e providencia para elas pastos verdes e águas tranquilas. As reuniões públicas são absolutamente importantes, mas não são um substituto dessa relação estreita que o pastor deve ter com as ovelhas de casa em casa. 5


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Tanto Jesus como seus apóstolos fizeram do lar uma plataforma importante do ministério. A igreja primitiva se reunia de casa em casa. Antes dos templos serem construídos, as igrejas se reuniam nos lares e, a partir daí, alargaram o espaço de sua tenda por todos os rincões do império romano. As igrejas que têm um crescimento consistente, ainda hoje, são aquelas que dedicam atenção especial aos grupos familiares. Pessoas cuidando de pessoas, eis o segredo de igrejas saudáveis. Resta claro, portanto, que a visitação pastoral é a porta de entrada para o ministério eficaz nos lares. Como o assunto é assaz palpitante e como os autores abordam o assunto de maneira clara, eloquente e fundamentados nas Escrituras, recomendo com redobrado estusiasmo esta obra. Prefaciar este livro da lavra do meu precioso amigo Arival Dias Casimiro e da minha amiga Eleny Vassão é uma subida honra. Arival tem sido meu pastor e amigo por vários anos. Ele tem sido meu companheiro de ministério com quem compartilho minhas lutas e alegrias. Eleny é uma referência em todo o Brasil de um trabalho singular na área de visitação hospitalar. Recomendar essa relevante obra a você, traz me profunda alegria por três motivos: Em primeiro lugar, a visitação pastoral é uma área fundamental do ministério. Jesus não exerceu seu ministério dentro de quatro paredes. Ele foi onde o povo estava. Ele entrou nas casas. Ele visitou os lares. Ele cuidou de gente enferma, aflita e machucada pelos dramas da vida, levando a elas conforto e esperança. 6


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Numa sociedade mergulhada em ativismo tão frenético, a visitação pastoral está se escasseando. Muitos pastores já se recolheram ao seu gabinete pastoral, no conforto das quatro paredes, deixando de ir aos lares acompanhar os aflitos ou mesmo apascentar os fiéis. Este livro, portanto, é um resgate dessa prática pastoral tão esquecida ou negligenciada em nossa geração. Em segundo lugar, Arival e Eleny têm autoridade espiritual para tratar do assunto. Eles o fazem não como estudiosos que são, mas, sobretudo, porque amam a Cristo e amam cuidar das ovelhas de Cristo. Arival é um homem dedicado ao ministério, que ama suas ovelhas, ora por elas, ensina a elas e chora por elas diante de Deus. É incansável no empenho de plantar e revitalizar igrejas sem jamais perder o senso de cuidar de cada uma das ovelhas que Deus lhe confiou. Sou testemunha deste seu zelo pastoral. Juntamente com minha família, somos objetos de seu amor e de seu cuidadoso pastoreio. Eleny é uma mulher cheia de graça e amor, sabedoria e unção do Espírito. Seu trabalho reverbera em toda a nação brasileira como uma embaixadora da Capelania Hospitalar. Em terceiro lugar, os pastores precisam descobrir esta prática pastoral. Alguem já disse, e com razão, que um pastor ausente de suas ovelhas durante a semana tornar-se-á incompreensível no púlpito aos domingos. O pastor precisa ter cheiro de ovelha e gostar de ovelha. Seu trabalho não se restringe à prédica. Seu ministério não se reduz ao púlpito. Ele cuida do rebanho não apenas coletivamente, mas de cada ovelha no recesso do lar. 7


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Feitas estas breves considerações, estimo que esta obra seja uma ferramenta poderosa nas mãos de Deus para trazer luz sobre esta temática e despertar os obreiros de Deus a dedicarem mais tempo e cuidado à visitação pastoral. Boa leitura! Rev. Hernandes Dias Lopes

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ÍNDICE Dedicatórias Arival Dias Casimiro ...................................................... 11 Eleny Vassão .................................................................. 13 Augustus Nicodemos Lopes.......................................................... 15 Paulo Junior .................................................................................. 17 Rosther Guimarães Lopes ............................................................ 19 Introdução ................................................................................... 21 Capítulo 1 – Arival Dias Casimiro

O QUE É VISITAÇÃO? .......................................... 23

Capítulo 2 – Arival Dias Casimiro

QUEM DEVE VISITAR? ........................................ 33

Capítulo 3 – Arival Dias Casimiro

A IMPORTÂNCIA DA VISITAÇÃO? ....................... 43

Capítulo 4 – Eleny Vassão

PRATICANDO O MINISTÉRIO DA VISITAÇÃO ..... 51

Capítulo 5 – Eleny Vassão

APRENDENDO A OUVIR ..................................... 65

Capítulo 6 – Eleny Vassão

A VISITA DOMICILIAR ......................................... 77

Textos Bíblicos .............................................................................. 87 9


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DEDICATÓRIA Dedico este livro aos diáconos da Igreja Presbiteriana de Pinheiros. Esses amados irmãos têm servido a Igreja de Deus com presteza, eficiência e fidelidade. Servos semelhantes a Jesus Cristo, o Servo Maior. Rev. Arival Dias Casimiro

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DEDICATÓRIA Ao Senhor, Amado da minha alma, que tem colocado o Seu amor em nossos corações, constrangendonos a enxergar o outro em seu sofrimento e oferecer-lhe a Palavra que restaura a alma. À preciosa Equipe de Capelães, Treinadores e Visitadores da ACS - Associação de Capelania na Saúde que, com competência e coração, tem levado a Esperança em meio à dor, o enxugar das lágrimas na enfermidade, mostrando através da Palavra de Deus que Ele é o Deus de toda a consolação. Abraço, Eleny Vassão

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TESTEMUNHO Quando Deus me chamou para o ministério em 1973, engajei-me imediatamente na obra de visitação de lares no bairro de Maria Farinha, litoral norte de Olinda, Pernambuco, onde fui designado para revitalizar uma congregação prestes a fechar. De casa em casa, levando a Palavra de Deus, visitando os crentes afastados e evangelizando interessados, não demorou para que a igrejinha se enchesse de gente interessada na Palavra de Deus. A visitação mostrou-se um método eficaz. Quando mais tarde, já pastor ordenado pela Igreja Presbiteriana do Brasil, ao assumir o pastorado efetivo da Primeira Igreja Presbiteriana do Recife, uma das primeiras providências foi reunir os presbíteros para o trabalho de visitação dos lares. O Rev. Arival Casimiro acertou ao disponibilizar à igreja brasileira uma obra que enfatiza a necessidade e a utilidade desse método, que segundo ele demonstra, tem sua origem nas Escrituras do Antigo Testamento e perpassa a atividade da igreja cristã no Novo Testamento. Fruto de suas próprias convicções e prática, esta obra do Rev. Arival explora o conceito de visitação no Antigo Testamento, a começar da ação divina em visitar seu povo. Analisando passagem após passagem, o autor lança os fundamentos exegéticos do trabalho de visitação, que são seguidos 15


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por argumentações teológicas reforçando a relevância e imprescindibilidade desse ministério nas igrejas atuais. Nosso autor também refuta argumentos usados para diminuir a visitação como instrumento de pastoreio moderno, mostrando a atualidade do método. Numa época em que o contato pessoal tem sido cada vez mais desvalorizado com o crescimento do mundo virtual, este livro é um chamado ao método consagrado nas Escrituras para o pastoreio, aconselhamento, conforto dos crentes e evangelização dos interessados. Um abraço do seu irmão e amigo. Rev. Augustus Nicodemos Lopes

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TESTEMUNHO O zelo e o amor de Deus por Sua Igreja são claramente demonstrados nas Escrituras. Foi por ela que o Filho Jesus Cristo verteu o sangue, pagando um preço altíssimo, fazendo-a sua noiva. Entretanto, até que o noivo venha tomá-la, Ele a confiou aos cuidados dos seus ministros. O Altíssimo rogou que Suas preciosas ovelhas sejam pastoreadas por eles, assim como o pastor faz com suas ovelhas. Creio ser impossível administrar esse cuidado sem que participemos de suas vidas. Nesse sentido, não encontro melhor maneira de ministrar tal cuidado do que visitando-as pessoalmente. Esse foi o grande trunfo do ministério pastoral puritano, com especial destaque para Richard Baxter, que formou homens e mulheres bem equipados para cuidarem de si mesmos, suas famílias e formarem uma igreja vibrante, solidamente doutrinada e piedosa. Cônscios desse dever, Arival Dias Casimiro e Eleny Vassão prestam um excelente serviço à Igreja de Cristo com a obra “O Resgate da Visitação Pastoral”. Os autores redescobrem a importância da visitação pastoral; o quanto ela é vital para a saúde da igreja local; e ainda a bênção de sua membresia contar com a proximidade de seus oficiais.

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Os ministros poderão tratar de forma particular, detalhada, paciente e amorosa os problemas de seu rebanho. Em um tempo em que o rebanho de Cristo anda disperso, muitas igrejas se encontram enfermas, não apenas por falta de doutrina saudável, mas de cuidado pessoal bíblico, este livro chega na hora certa. Recomendo de todo meu coração a ministros, seminaristas e todos aqueles que têm amor pelo rebanho de Cristo, Do seu irmão Paulo Junior Soli Deo Glória Rev. Paulo Junior

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TESTEMUNHO

Eleny.

“Neste precioso livro nos encontramos com Arival e

Ele, um pastor que é incansável no trabalho do Senhor, com frutos exponenciais, zeloso pelo rebanho e muitíssimo amado por suas ovelhas! Neste livro, o vemos como o profeta da visitação, que soa a trombeta em Sião, para restaurar o ministério da visitação! Ela, pioneira e líder da Capelania Hospitalar Evangélica em nosso país, serva do Senhor, treinadora de obreiros, que abençoa graciosamente a todos os que se aproximam dela! Neste livro ela nos ensina o método da visitação-compassiva e a criar uma cultura de visitação em nossas Igrejas. Nesta preciosa obra, eles nos confrontam, nos desafiam, nos pastoreiam, nos animam e nos ensinam a executar o ministério da visitação, como uma demonstração prática do amor de Deus para com o seu povo! Recomendo efusivamente essa leitura para seminaristas, missionários, plantadores de igreja, capelães, pastores, presbíteros, diáconos e para todo o povo de Deus!” Rev. Rosther Guimarães Lopes

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INTRODUÇÃO A Teologia Pastoral trata dos deveres do pastor para com a igreja e das ovelhas uma para com as outras. “Pastoreai” (poimánate) é a exortação que Pedro faz aos presbíteros: “pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós” (1Pedro 5.2). Pastorear significa apascentar, cuidar bem, alimentar, proteger e guiar o rebanho de Deus. Não existe pastoreio sem a visitação, de casa em casa, às famílias da igreja. A visita pastoral, porém, é uma prática em extinção hoje na igreja. Muitos pastores e oficiais não visitam os membros da igreja, mesmo sendo esse um dever intransferível do seu ministério. Na Igreja Presbiteriana do Brasil, é atribuição dos presbíteros (docentes e regentes), o trabalho de visitação. Compete ao presbítero “auxiliar o pastor no trabalho de visitas” (CI IPB artigo 51, letra B). Compete ao diácono dedicar-se especialmente “ao cuidado dos pobres, doentes e inválidos” (CI IPB artigo 53, letra B). Visitar é ir atrás da ovelha onde ela estiver. Visitar é ir ver o membro da igreja, detectar e suprir suas necessidades. Trata-se de uma atividade pessoal, presencial, intencional, constante e intransferível. Confesso que, atualmente, com o crescimento da igreja que pastoreio, eu vivo a angústia de não poder visitar como deveria. 21


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Visitar não é uma opção, mas um imperativo para quem apascenta o rebanho de Jesus Cristo. Junto com a oração e a pregação, a visitação deve ser a atividade mais importante no ministério pastoral. É através da visitação que o pastor conhece as necessidades das ovelhas e isso o ajudará na preparação dos sermões. Além disso, a visitação cria vínculos mais profundos e aumenta a comunhão entre as famílias da igreja e a sua liderança. Todas as ovelhas precisam e desejam ser visitadas, principalmente, quando passam por provações e tribulações. Muito acima do seu conhecimento bíblico e doutrinário, o que as ovelhas querem ver no pastor, é o quanto ele se preocupa com elas. Muitos membros reclamam que os pastores estão mais preocupados em estudar em seu escritório do que sair e visitar as pessoas. Muitos são acusados de passar mais tempo em frente do computador, do que visitando o seu rebanho. O propósito deste livro não é criticar líderes que não visitam. Pelo contrário, o nosso desejo e oração é que sejamos despertados e motivados para o ministério da visitação. Utilizamos neste livro o termo “pastoral” de forma abrangente, não limitado ao trabalho da figura do pastor. Todo cristão deve ser um visitador. Rev. Arival Dias Casimiro

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CAPÍTULO PRIMEIRO

O QUE É VISITAÇÃO “Visitar pessoas é imitar a Deus. É ir ao encontro dos necessitados com o propósito de ajudá-los. É gastar a si mesmo pelo outro” (Anônimo).

Thom S. Rainer escreveu um artigo intitulado “Quinze razões pelas quais o seu pastor não deve visitar muito”.1 A primeira e a principal razão que ele coloca é que visitação pastoral não é bíblica. Ele argumenta a partir de Efésios 4.12 que o trabalho principal do pastor é treinar os crentes para o ministério e não fazer todo o trabalho do ministério. Não posso concordar com ele, pois se existe um tema na área pastoral que tem fundamentação bíblica e teológica é o ministério da visitação. John Sittema diz: “Ser um presbítero exige que você visite o lar das pessoas sob os seus cuidados. Fazer visitas pessoais aos membros do rebanho de Cristo é uma parte essencial do pastoreio”.2 A primeira pergunta, então, que devemos fazer e responder é: O que é visitação? Existe alguma base bíblica e teológica para a prática da visitação? O significado comum de “visitação” é “o ato ou 1 2

https://thomrainer.com/2016/08/fifteen-reasons-pastor-not-visit-much/ SITEMMA, John – Coração de Pastor, p. 209.

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o efeito de visitar”. A palavra “visita” vem do latim “VISITARE”, que significa “ir olhar, inspecionar”. Visitar é também derivado de VEDERE, “ver, observar, reparar em”. Visitador é aquele que vai com a finalidade de ver e ajudar. Garimpando na Bíblia, conseguimos extrair algumas pedras preciosas acerca da visitação. A VISITAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO

No Antigo Testamento, a visitação é uma atividade divina. Deus é o autor da visitação. Desde o Éden, Deus visita o homem e toda a sua criação. Trata-se de uma visita constante, diária e ininterrupta. “Que é o homem para que tanto o estimes, e ponhas nele o teu cuidado, e cada manhã o visites, e cada manhã o ponhas à prova” (Jó 7.17,18). Deus visita o homem a cada manhã para cuidar dele. Visitar é lembrar-se de alguém necessitado ou inferior. Ao refletir sobre a grandeza de Deus, o salmista pergunta: “Que é o homem, que dele te lembres? E o filho do homem que o visites?” (Salmo 8.4). Visitar é trazer uma pessoa na memória e no coração. Visitar é lembrarse de alguém que precisa. Deus é o pai e o maior exemplo de visitação. O verbo hebraico “visitar” (pãqadh) significa primariamente “cuidar de”, “ir para procurar saber como está”. Mas, esse sentido se amplia de forma maravilhosa e abrangente. Primeiro, Deus visita a terra providencialmente. Na sua providência, Deus visita o homem e a terra, com o intuito de sustentá-los e preservá-los. “Tu visitas a terra e a regas; tu a enriqueces copiosamente; os ribeiros de Deus são abundantes de água; preparas o cereal, porque 24


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para isso a dispões, regando-lhe os sulcos, aplanando-lhe as leivas. Tu a amoleces com chuviscos e lhe abençoas a produção” (Salmo 65.9,10). Sem a visitação diária de Deus, a nossa vida na terra seria insustentável. A sua providência é a perpetuidade e a continuação da sua criação. Deus visita o seu povo com boas colheitas: “Então, se dispôs ela com as suas noras e voltou da terra de Moabe, porquanto, nesta, ouviu que o SENHOR se lembrara do seu povo, dando-lhe pão” (Rute 1.6). Por isso Deus deve ser louvado pelo seu povo, como sugere o salmista: “A ti, ó Deus, confiança e louvor em Sião! E a ti se pagará o voto” (Salmo 65.1). Segundo, Deus visita o seu povo para abençoá-lo. Deus visita o homem e, principalmente o seu povo, com o objetivo de fazer-lhe o bem. O salmista Davi ora a Deus: “Lembra-te de mim, Senhor, segundo a tua bondade para com o teu povo; visita-me com a tua salvação” (Salmo 106.4). Deus visitou a família de Abraão: “Visitou o Senhor a Sara, como lhe dissera, e o Senhor cumpriu o que lhe havia prometido. Sara concebeu e deu à luz um filho a Abraão na sua velhice, no tempo determinado, de que Deus lhe falara” (Gênesis 21.1,2). Ele visitou uma mulher estéril e a fez alegre mãe de filhos. “Abençoou (visitou), pois, o SENHOR a Ana, e ela concebeu e teve três filhos e duas filhas; e o jovem Samuel crescia diante do SENHOR” (1Samuel 2.21). Terceiro, Deus visita o seu povo para salvá-lo. A ênfase teológica da doutrina da visitação divina é a redenção do seu povo. Deus visita o seu povo para libertá-lo de todo tipo de escravidão e opressão. “Disse José a seus irmãos: Eu morro; porém Deus certamente vos visitará e vos fará 25


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subir desta terra para a terra que jurou dar a Abraão, a Isaque e a Jacó. José fez jurar os filhos de Israel, dizendo: Certamente Deus vos visitará, e fareis transportar os meus ossos daqui” (Gênesis 50.24,25). Deus posteriormente levantou a Moisés e libertou o seu povo da escravidão do Egito. “Também levou Moisés consigo os ossos de José, pois havia este feito os filhos de Israel jurarem solenemente dizendo: Certamente, Deus vos visitará; daqui, pois, levai convosco os meus ossos” (Êxodo 13.19). A palavra “visitar” (pãqadh) tem também o seu aspecto negativo de olhar para alguém com o objetivo de punição. Há também a visitação divina com o objetivo de julgar e condenar o homem. Deus disse a Moisés: “Vai, pois, agora, e conduze o povo para onde te disse; eis que o meu Anjo irá adiante de ti; porém, no dia da minha visitação, vingarei, neles, o seu pecado” (Êxodo 32.34). O seu objetivo é punir os idólatras de Israel. Mais adiante Deus fala sobre o juízo sobre os casamentos ilícitos e as uniões abomináveis. “E a terra se contaminou; e eu visitei nela a sua iniquidade, e ela vomitou os seus moradores” (Levítico 18.25). Deus não inocenta o culpado. Ele se “lembrará” dos nossos pecados e nos visitará com disciplina (Jeremias 14.10 e Oseias 9.9). Quarto, Deus visita o seu povo para lhe dar responsabilidade e missão. A palavra visitar (paqadh) traz também a ideia de mordomia, quando se entrega algo para alguém vigiar e cuidar. “Logrou José mercê perante ele, a quem servia; e ele o pôs por mordomo de sua casa e lhe passou as mãos tudo o que tinha. E, desde que o fizera mordomo de sua casa e sobre tudo o que tinha, o Senhor abençoou a casa do egípcio por amor de José; a bênção 26


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do Senhor estava sobre tudo o que tinha, tanto em casa como no campo” (Gênesis 39.4,5). O verbo “pôs” (forma causativa – paqadh) significa “incumbir”, “consignar” ou “pôr aos cuidados de”. Deus coloca o seu rebanho e as suas ovelhas na mão de líderes mordomos. Estude a profecia contra os pastores infiéis de Israel, em Ezequiel 34. “Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza e dize-lhes: Assim diz o SENHOR Deus: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não apascentarão os pastores as ovelhas? Comeis a gordura, vestis-vos da lã e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas. A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza. Assim, se espalharam, por não haver pastor, e se tornaram pasto para todas as feras do campo. As minhas ovelhas andam desgarradas por todos os montes e por todo elevado outeiro; as minhas ovelhas andam espalhadas por toda a terra, sem haver quem as procure ou quem as busque” (vv.1-6). Uma das funções dos pastores ou líderes da igreja é visitar e apascentar as ovelhas de Deus. Quinto, Deus visita o seu povo para supervisionálo detalhadamente. Outro sentido para a palavra “visitar” (pãqadh) é a de contar alguma coisa com bastante atenção, com o propósito de conferir se está faltando (Juízes 21.3; 1Samuel 20.18; 1Reis 20.39). Na parábola da ovelha perdida (Lucas 15.3-7), Jesus fala que o pastor que possuía cem ovelhas sentiu falta de uma que havia se perdido no deserto. O pastor deixa as noventa e nove e vai atrás da ovelha perdida até encontrá-la. O pastor visita o rebanho contando todas as ovelhas, para detectar se alguma se perdeu. 27


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A VISITAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO

No Novo Testamento, o conceito de visitar tem o mesmo sentido do Antigo Testamento. A palavra “visitar” (episkeptomai) denota a ideia de “inspeção”, “exame”, “olhar com cuidado”, “olhar com o fim de ajudar”. A palavra “olhar” (skeptomai) significa “observar”, “examinar atentamente”, “inspecionar com detalhes e vigilância”. A preposição “epi” significa “sobre” ou “em direção de”. Tratando-se de visitação significa “ir ver como se encontra com o propósito de cuidar, aliviar e ajudar”. Primeiro, Deus visita o seu povo pessoalmente em Jesus Cristo. O ápice da visitação divina foi quando Jesus se fez homem e habitou entre nós. Zacarias, cheio do Espírito Santo, cantou: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo” (Lucas 1.68). O Deus encarnado veio ao nosso encontro com o propósito de nos redimir. O evangelho de Jesus Cristo é Deus visitando o seu povo com o propósito de salvá-lo. A visitação indica que Jesus veio ao mundo para pregar boas novas aos perdidos, curar os quebrantados de coração, libertar os cativos e consolar todos os que choram. Ele veio para “os doentes”. Por isso quando Jesus ressuscitou o filho único da viúva de Naim, o povo exclamou: “Grande profeta se levantou entre nós; e: Deus visitou o seu povo” (Lucas 7.16). Segundo, Jesus praticou a visitação durante o seu ministério terreno. A visitação foi o método usado por Jesus durante o seu ministério aqui na terra. Ele percorria todas as cidades e povoados, ensinando, pregando e curando as pessoas. Ele saía de casa em casa, visitando as 28


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pessoas e hospedando-se na casa dos seus amigos. Ele treinou os seus discípulos, enviando-os de dois em dois, de casa em casa, para anunciar a chegada do reino de Deus. Jesus assumiu a sua condição de pastor. Em todo o capítulo de João 10, ele ensina: “Eu sou o bom pastor” (João 10.11). O adjetivo grego “bom” (kalós) significa “maravilhoso” e “excelente” tanto em seu caráter como em sua obra. Jesus é o bom pastor no sentido de um modelo ideal de perfeição. Ele é único em sua categoria. O oposto do bom pastor são os fariseus dos dias de Jesus e os falsos líderes espirituais que existem até hoje. Eles são inimigos das ovelhas. Jesus os chama de “ladrões e salteadores” (vv.1,8), “estranhos” (v.5) e “mercenários” (vv.12,13). Eles não conhecem as ovelhas, eles não amam as ovelhas, eles roubam as ovelhas e eles abandonam as ovelhas no momento em que elas mais precisam. Jesus é o bom pastor. E a prova da sua excelência é que ele dá a sua vida pelas suas ovelhas: “O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (v.11). Podemos resumir o ensino sobre o maravilhoso pastor e as suas ovelhas com a seguinte pergunta: O que o bom Pastor dá às suas ovelhas? A sua própria vida (v.11), a salvação (v.9), o alimento (v.9), a liberdade (v.9), a vida abundante (v.10), a existência de um único rebanho sob sua proteção e direção (v.16), a vida eterna (v.28) e a segurança eterna (v.29). Terceiro, os apóstolos praticaram a visitação. Os apóstolos seguiram o exemplo de Jesus. Paulo e Barnabé, na primeira viagem missionária: “Alguns dias depois, disse Paulo a Barnabé: Voltemos, agora, para visitar os irmãos por todas as cidades nas quais anunciamos a palavra do Senhor, para ver como passam” (Atos 15.36). Três lições 29


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ensinadas neste verso. Primeira lição, Paulo e Barnabé são missionários ou plantadores de igrejas que praticam o ministério da visitação. Eles foram enviados pela igreja de Antioquia não apenas para pregar, mas para visitar e cuidar de pessoas. Segunda lição, os irmãos novos convertidos, que haviam sido evangelizados na primeira viagem, são as pessoas que precisam ser visitadas. São ovelhas novas que precisam do cuidado pastoral. Terceira lição, o objetivo da visita dos missionários aos novos convertidos é “para ver como passam”. Havia uma preocupação pastoral quanto ao estado espiritual dos novos irmãos. Eles precisavam de fortalecimento e encorajamento: “E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio, e Antioquia, fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecerem firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (Atos 14.21,22). Quarto, a visitação é um mandamento divino. A visitação foi praticada e estabelecida por Deus como um mandamento. Tiago escreve acerca da religião: “Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tiago 1.26,27). A religião verdadeira ou a “essência da piedade” envolve o refrear da língua, a visitação aos necessitados e a santificação pessoal. Destacamos o mandamento de visitar os órfãos e as viúvas em situação de crise e aflição. Visitar significa ir atrás com o objetivo de ajudar e proteger. Esse papel é realizado pelo próprio Deus, conforme o ensino 30


O Resgate da Visitação Pastoral

bíblico. É o Senhor quem faz justiça ao órfão e à viúva dando-lhes pão e vestes. Ele é o Pai dos órfãos e juiz das viúvas (Salmos 68.5; 146.9). Ele mandou o povo de Israel proteger e cuidar dos órfãos e das viúvas (Deuteronômio 10.18 e 14.29). Por isso na igreja em Jerusalém havia o ministério diário de suprir as necessidades das viúvas (Atos 6.1-6). Logo, a melhor maneira de adorarmos a Deus é irmos ao encontro desses irmãos atribulados, com o objetivo de supri-los. Deus espera que seus filhos sigam o seu exemplo. Resumindo e concluindo este capítulo. Na língua portuguesa, “visitação” é “o ato ou o efeito de visitar”. No hebraico, a palavra principal para “visitar” (pakad) significa “prestar atenção, lembrar, observar, procurar” com a intenção de fazer algo (Salmo 8.4; 1Samuel 15.2; Isaías 26.16). No grego, a palavra “visitar” (episkeptomai - epi + skopos = inspecionar para fora) aparece 11 vezes no Novo Testamento, e denota a ideia de “inspeção”, “exame”, “olhar com cuidado”, “olhar com o fim de ajudar” (Mateus 25.36 e 43; Lucas 1.68, 78; 7.16; Atos 7.23; 15.14,36; Hebreus 2.6; Tiago 1.27). Outro sentido é o de “olhar para fora, escolher, selecionar, contratar” (Atos 6.3). Há três ideias básicas relacionadas ao significado da palavra “visitar”: (1) Contato pessoal: ir até a pessoa necessitada. Não existe a visitação não presencial ou virtual. (2) Exame pessoal: olhar e conhecer as necessidades da pessoa visitada. Ir para ver e saber o que o outro está passando e necessitando. (3) Préstimo pessoal: suprir as suas necessidades físicas, materiais e espirituais. Asafe resume bem este conceito quando pede: “Ó Deus dos Exércitos, volta-te, nós te rogamos, olha do céu, e vê, e visita esta vinha” (Salmo 80.14). 31


Essa obra vem preencher uma lacuna que estava faltando na literatura evangélica brasileira. Obra consistente, oportuna, bíblica e prática. É um roteiro que tomará os pastores pelas mãos e os conduzirá à bem sucedida prática da visitação pastoral. Leia, medite, pratique e compartilhe a mensagem deste livro. Hernandes Dias Lopes Esta obra explora o conceito de visitação no Antigo Testamento, a começar da ação divina em visitar seu povo. Analisando passagem após passagem, os autores lançam os fundamentos exegéticos do trabalho de visitação, reforçando a relevância e imprescindibilidade desse ministério nas igrejas atuais. Augustus Nicodemus Lopes

PRINCÍPIOS BÍBLICOS E PRÁTICOS PARA IMPLANTAR O MINISTÉRIO DE

Arival Dias Casimiro e Eleny Vassão prestam um excelente serviço à igreja de Cristo e redescobrem a importância da visitação pastoral; o quanto ela é vital para saúde da igreja local; e ainda a bênção de sua membresia contar com a proximidade de seus oficiais. Paulo Junior

VISITAÇÃO NA IGREJA

Neste precioso livro nos encontramos com Arival e Eleny, eles nos confrontam, nos desafiam, nos pastoreiam, nos animam e nos ensinam a executar o ministério da visitação, como uma demonstração prática do amor de Deus para com seu povo. Rosther Guimarães Lopes

ISBN: 978-85-8283-145-8

9 788 582 83 145 8

www.z3ideias.com.br


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