AS DOUTRINAS DA GRAÇA

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As Doutrinas da Graça

AS DOUTRINAS DA GRAÇA

RODRIGO LEITÃO

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Rodrigo Leitão

AS DOUTRINAS DA GRAÇA autor

Rodrigo Leitão

editor responsável

Alberto José Bellan

revisão

capa

Juana del Carmen C. Campos Zezina Belan David Douglas de Andrade Isabela Gasparoti de Andrade

produção e diagramação

Ideias Transformando Vidas imagem da capa

Freepik

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Leitão, Rodrigo As Doutrinas da Graça / Rodrigo Leitão Santa Bárbara d’Oeste, SP : Z3 Editora, 2020. ESBN 978-65-88048-02-3 1. Doutrinas 2. Doutrina cristã 3. Doutrina cristã Estudo e ensino 4. Fé (Cristianismo) I. Título. 20-39176

CDD-230 Índice para catálogo sistemático 1. Doutrina cristã : Cristianismo 230 Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964

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As Doutrinas da Graça

AS DOUTRINAS DA GRAÇA

RODRIGO LEITÃO

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Rodrigo Leitão

AS DOUTRINAS DA GRAÇA 1ª Edição - Julho de 2020

© 2020 por Z3 Editora

copyright

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Todos os direitos reservados, na língua portuguesa, por Z3 Editora Ltda.

Rua Floriano Peixoto, 103 Centro - CEP 13450-022 Santa Bárbara d’Oeste - SP - Brasil Tel.: 19 - 3454.4798 vendas@z3ideias.com.br www.z3ideias.com.br

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As Doutrinas da Graça

DEDICATÓRIA À minha mãe, Nilma (in memoriam), a primeira pessoa que compartilhou comigo sobre o amor de Deus revelado em Cristo Jesus. Ao meu avô, Rev. Nathanael (in memoriam), aquele que foi meu referencial ministerial de alguém que viveu e pregou o Evangelho da Graça.

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Rodrigo LeitĂŁo

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As Doutrinas da Graça

AGRADECIMENTOS

Ao Deus Pai que estabeleceu o plano da Redenção, ao Deus Filho que executou o plano da Redenção e ao Deus Espírito Santo que me revelou o plano da Redenção. À minha amada esposa Aline, esteio do meu ministério e companheira de todas as horas. Aos meus filhos Gael e Helena que a cada dia me ajudam a caminhar rumo à maturidade que é o propósito de Deus para nossa vida. Ao meu pai, avó, irmãs, sogra, cunhada, cunhados, sobrinhos, sobrinhas e todos os demais familiares que sempre estiveram por perto pra me apoiar. À Igreja Presbiteriana do Brasil e às igrejas locais onde pude experimentar o privilégio de exercer o ministério da Palavra. Ao David e a Isa que me ajudaram a transformar esta série de mensagens em um texto corrido. Aos colegas de ministério que se dispuseram com carinho a ler e endossar esta obra.

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Rodrigo Leitão

Aos meus mestres e pastores, que ao longo de toda a minha vida foram de fundamental importância para minha formação. Ao Alberto Bellan e à Z3 Editora por sempre estarem dispostos a publicar tudo o que eu escrevo.

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As Doutrinas da Graça

Rodrigo Leitão escrevendo sobre teologia? Conhecemos o Rodrigo como jornalista, comunicador, plantador e revitalizador de Igrejas, mas como teólogo-doutrinador não! Nesta obra você verá o Rodrigo como um bom pastor-teólogo, que ensina a soteriologia reformada, para aquecer o coração e levar-nos a descansar na salvação dada por Graça a cada cristão! O livro é profundo, mas escrito com leveza! Ao terminar esta obra você estará seguro da promessa de Jesus em João 10.28,29: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar. Que o Senhor fortaleça a sua fé em Cristo Jesus! Rosther Guimarães Lopes Pastor da Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo/SP e Presidente da Agência Presbiteriana de Evangelização e Comunicação.

Certos temas nunca se esgotam, e por sua relevância, cada vez que são biblicamente e corretamente apresentados acrescentam conhecimento e solidificam nossa fé. Neste livro você encontrará o Pr. Rodrigo Leitão em um diálogo com o leitor de maneira dinâmica e edificante. Leonardo Sahium Pastor da Igreja Presbiteriana da Gávea no Rio de Janeiro/RJ e VicePresidente da Junta de Educação Teológica da Igreja Presbiteriana do Brasil.

Você quer conhecer um pouco mais sobre o calvinismo? Quer uma literatura bíblica e acessível? Quer saber como pregá-lo, hoje? Então, está com o livro certo em mãos. Rodrigo, com a habilidade que tem, conduzirá você às Escrituras para encontrar as doutrinas da graça e mostrará como elas fazem todo o sentido para a vida cristã no século 21. Boa leitura. Carlos Henrique Machado Pastor da Igreja Presbiteriana Aliança em Campinas/SP e Diretor do Seminário Presbiteriano do Sul em Campinas/SP.

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Rodrigo Leitão

Em um diálogo entre autor e leitor, Rev. Rodrigo Leitão apresenta no seu livro conteúdo de excelente qualidade, de maneira clara e objetiva conduz o leitor ao entendimento e compreensão do grande amor de Deus pelos seus eleitos, através do Seu filho Jesus Cristo, tirando-nos do lamaçal do pecado e nos lavando através do seu sangue derramado na cruz do calvário. Eberson Gracino Pastor da Igreja Presbiteriana do Jardim Carvalho em Ponta Grossa/PR, presidente do Sinodo Vale do Tibagi e vice presidente da Junta Regional de Educação Teológica da Igreja Presbiteriana do Brasil.

A expressão “doutrinas da graça” é usada para descrever a perspectiva reformada sobre a doutrina da salvação. Essa abordagem, extraída das páginas das Escrituras, ressaltam a graça soberana de Deus no processo da salvação do pecador. Ao final, cada ponto das doutrinas da graça conduz o crente à confissão de que “ao Senhor pertence a salvação” (Jonas 2.9) e assim, somente a Ele toda a glória. Esta obra do Pr. Rodrigo Leitão, aborda cada ponto comum da perspectiva calvinista da salvação a partir de textos bíblicos em exposições claras e relevantes. Este estudo confirma que a verdadeira doutrina é tão clara e simples que deve ser ensinada devocionalmente, ou seja, em um ambiente de culto público e do púlpito da igreja. Minha oração é que a leitura desta obra seja instrumental na sua edificação pessoal, bem como de toda a sua família. Valdeci Santos Pastor da Igreja Presbiteriana do Campo Belo em São Paulo, SP, coordenador do curso de doutorado e vice-diretor do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper.

Na obra As Doutrina da Graça, o Rev. Rodrigo Leitão expõe com competência e precisão, o cerne dessas maravilhosas doutrinas. Tendo como marca a fácil comunicação, seu trabalho, mesmo não tendo apelo acadêmico, mas sim pastoral, está longe de ser superficial. Recomendo com alegria e entusiasmo, pois sua leitura poderá dirimir muitas dúvidas sobre o assunto. Marcos André Marques Pastor da Igreja Presbiteriana de Brotas em Salvador/BA, professor e exdiretor do Seminário Presbiteriano do Norte em Recife/PE.

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As Doutrinas da Graça

O Rev. Rodrigo Leitão, com a lucidez, a perspicácia e o tom piedoso, que lhe são peculiaridades, produziu uma obra que une mente teológica e coração pastoral. Ele constrói com precisão uma ponte entre as maravilhosas doutrinas da graça e as implicações delas para o mundo contemporâneo. A sua habilidade de garimpar as verdades de Deus com exegese sólida e sensibilidade nas aplicações delas leva-me a recomendar fortemente a degustação deste alimento sólido com o qual o autor nos serve; além de ser um ótimo modelo para o ensino e pregação das Sagradas Escrituras. Que a leitura deste livro produza em você o que gerou em mim, um amor ainda maior pelo Deus de toda graça. Giuliano Coccaro Pastor da Igreja Presbiteriana Chácara Primavera em Campinas/SP e professor das disciplinas de Homilética e Prática de Pregação do Seminário Presbiteriano do Sul em Campinas/SP.

Uma das minhas perguntas preferidas na Comissão de Exame de Candidatos ao Ministério Pastoral é: “O que significa TULIP”? A resposta parecia simples para quem havia acabado de concluir o Curso de Teologia, mas havia uma pegadinha: “Como isso se aplica na sua vida”? Esta obra do Rev. Rodrigo Leitão vai ajudar, não apenas àqueles a quem eu fizer estas perguntas, mas a todos que desejam, sinceramente, entender a importância das doutrinas da graça para o cotidiano. Posso dizer, sem dúvida, que quem vive as doutrinas da graça, experimenta de forma mais profunda, a grandiosidade do amor de Deus. Se quiser mais detalhes, leia esta obra! Romer Cardoso dos Santos Pastor da Igreja Presbiteriana das Américas no Rio de Janeiro/RJ e Diretor do Seminário Teológico Presbiteriano Rev. Ashbel Green Simonton no Rio de Janeiro/RJ.

É com um imenso privilégio que recomendo esta obra. De forma concisa, edificante e bem fundamentada na Palavra, o Rev. Rodrigo Leitão versa sobre os cinco pontos do calvinismo, de forma a instruir a todos os interessados a darem os primeiros passos na teologia reformada. Alessandro da Silva Santarelli Pastor da Igreja Presbiteriana de Cacoal/RO e Coordenador do Departamento de Teologia Histórica do Seminário Presbiteriano Brasil Central – Extensão de Ji-Paraná/RO.

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Rodrigo Leitão

A obra As Doutrinas da Graça, do Rev. Rodrigo Leitão, foi escrita com o objetivo de tornar acessível um dos clássicos dos catecismos “calvinistas”, os Cânones de Dort, uma obra com uma perspectiva teocêntrica da salvação. O autor, além de resgatar um dos documentos clássicos da igreja, visa trazer uma abordagem de comunicação contemporânea, muito peculiar à sua pessoa, portanto clara, concisa e objetiva para o leitor de hoje. A nossa oração é que esta obra possa consolidar a essência da doutrina teocêntrica da Palavra de Deus na sua vida, na sua família e, quiçá, na sua igreja. Paulo César Diniz de Araújo Pastor da Igreja Presbiteriana de Manaus/AM e Coordenador do Curso de Teologia do Seminário Presbiteriano Brasil Central - Extensão de Manaus/ AM.

Você pode conhecer bem algo apenas de ouvir falar, sem nunca ter de fato passado pela experiência em si. Eu, por exemplo, já ouvira muito falar no belíssimo estádio do Palmeiras, o Allianz Parque. Já tinha visto fotos e vídeos. Não tinha, entretanto, a experiência de andar por ele, ouvir a torcida, ver o jogo, sentir o ambiente. O Rev. Rodrigo Leitão me levou para isso numa quarta-feira de noite, e nos divertimos muito torcendo para o verdão (e olha que eu sou são-paulino!). De forma similar, é possível ter um conhecimento teórico sobre as doutrinas da graça, mas não ter a vivência de perceber que essas verdades dizem respeito à vida real de gente real no tempo e no espaço. Talvez você até esteja convencido de que a TULIP é bíblica, mas ache que se trata de algo irrelevante para a caminhada diária do cristão. Neste livro o pastor Rodrigo o ajudará nisso. A sair da teoria e entrar no estádio de sua graça salvadora, percebendo melhor a grandeza de nosso Deus, a nossa sujeira, e a beleza daquele que venceu por nós. Emílio Garofalo Neto Pastor da Igreja Presbiteriana Semear em Brasília/DF, professor no Seminário Presbiteriano de Brasília, DF e no Centro Presbiteriano de PósGraduação Andrew Jumper.

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As Doutrinas da Graça

SUMÁRIO 1. Prefácio........................................................................ 15 2. Introdução................................................................... 17 3. A Depravação Total...................................................... 23 4. A Eleição Incondicional.............................................. 41 5. A Expiação Limitada..................................................... 59 6. A Graça Irresistível....................................................... 71 7. A Perseverança dos Santos.......................................... 88 8. Conclusão..................................................................... 95

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As Doutrinas da Graça

PREFÁCIO Tenho a subida honra de prefaciar o livro AS DOUTRINAS DA GRAÇA, da lavra do meu dileto amigo e irmão Rodrigo Leitão. Faço-o com entusiasmo e alegria, e isso, por várias razões que passo a elencar: Em primeiro lugar, porque Rodrigo escreve daquilo que está cheio o seu coração. Rodrigo é um jovem ministro do evangelho, mas um estudioso das Escrituras. O autor reparte conosco não apenas uma pesquisa, mas mensagens que pregou ao seu rebanho. Essas verdades não apenas iluminaram sua mente, mas também queimaram em seu coração. Não são apenas doutrinas extraídas da academia teológica, mas sobretudo, da prática pastoral. Em segundo lugar, porque Rodrigo aborda os chamados “cinco pontos do calvinismo” com uma linguagem fácil, com exemplos acessíveis, e sobretudo, com fidelidade às Escrituras. A soberania de Deus na salvação está posta nas Escrituras com clareza diáfana. Essas verdades exaltam a Deus, colocam o homem em seu devido lugar, e trazem ao coração dos crentes um profundo senso de temor e gratidão. Não somos salvos por aquilo que fazemos para Deus, mas por aquilo que Deus fez por nós. Nossa salvação foi planejada na eternidade, executada no tempo e será consumada na gloriosa volta do Senhor Jesus Cristo. O que Deus planejou, ele executará, pois os planos de Deus não podem ser frustrados. 15


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Em terceiro lugar, porque Rodrigo ancora seus argumentos não no pensamento dos teólogos, mas na infalível, inerrante e suficiente Palavra de Deus. A Palavra de Deus é a verdade e não pode falhar. Ela é nossa única regra de fé e prática. Dela emanam essas doutrinas benditas, chamadas aqui de doutrinas da graça. Quando a Bíblia fala, o homem se cala. Onde a Bíblia não tem voz, não deveríamos ter ouvidos. Em quarto lugar, porque Rodrigo trata das doutrinas da graça de forma pastoral. Ele faz do púlpito de sua igreja a trincheira para a defesa e proclamação das grandes doutrinas da graça. Não oferece ao seu povo a palha do humanismo idolátrico, mas o trigo da verdade. Não ensina do seu púlpito as últimas doutrinas do mercado da fé, mas oferece ao seu povo o antigo evangelho, o único evangelho, o evangelho da graça. Minha oração é que esta obra, embora pequena em volume, mas imensa em valor e conteúdo, abençoe sua vida. Boa leitura! Hernandes Dias Lopes Pastor titular da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória/ES, pastor colaborador da Igreja Presbiteriana de Pinheiros/SP e Diretor Executivo de Luz Para o Caminho.

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As Doutrinas da Graça

INTRODUÇÃO A ideia de escrever sobre As Doutrinas da Graça surgiu da repercussão de uma série de sermões que preguei em minha comunidade local sobre esse assunto, pouco depois de assumir o pastorado daquela igreja mais que centenária e que precisava caminhar na direção de sua revitalização. O meu objetivo com aquelas pregações era trazer um nivelamento sobre alguns aspectos básicos da fé reformada, tanto para aqueles que estavam chegando agora, oriundos de diferentes tradições religiosas, quanto para aqueles que já estavam por lá há muito tempo, mas que não se atentavam a esses elementos tão fundamentais da nossa teologia. As mensagens pregadas durante aqueles cinco domingos, formaram cada capítulo deste livro, assim sendo, não tenho nenhuma pretensão de que este projeto seja encarado como um aparato acadêmico que servirá de consulta para uma monografia ou artigo teológico. Tenho na verdade dois propósitos de cunho totalmente pastoral. O primeiro deles é o de ajudar aqueles que estão dando os seus primeiros passos na direção do aprendizado da fé reformada a compreenderem alguns conceitos de maneira prática para serem eventualmente vividos em seu dia a dia, principalmente aqueles discípulos e discípulas de Jesus que passaram anos frequentando igrejas que colocavam sobre seus ombros um fardo e um jugo que era impossível de se carregar e agora conseguem pela primeira vez entender 17


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as palavras de Jesus dizendo: Venham a mim os cansados e sobrecarregados e eu os darei alívio e descanso, me entreguem o fardo pesado e levem o meu fardo que é suave e leve. Meu outro objetivo é o de auxiliar jovens pastores e pregadores a perceberem que é possível pregar com profundidade e relevância e de maneira expositiva temas doutrinários que são fundamentais para o desenvolvimento e consolidação da fé dos membros de nossas igrejas. Que é possível e necessário sair da superficialidade. Vivemos em um período onde há o anseio em tornar a igreja atrativa e convidativa, em colocar as pessoas a todo custo do lado de dentro de nossos muros, mas estamos mantendo-as no raso. Hoje se fala muito de pregar algo que seja prático e relevante para atrair pessoas para a igreja, mas ao se negar tratar de assuntos mais contundentes, evitando o alimento sólido e tratando-as apenas com “leitinho”, estamos privando-as de amadurecerem e o propósito de Deus para nós, conforme Efésios 4.13 é a Maturidade. Vamos aprofundar então, ao longo das próximas páginas, a respeito da soberania e do amor de Deus para com a nossa vida, que é exatamente a base desse entendimento doutrinário pautado na graça: Que existe um Deus completamente soberano que nos ama e vem em nossa direção, apesar da nossa incapacidade de caminharmos na direção dEle e de sermos bondosos ou de sequer optarmos por um relacionamento com Ele. Esse Deus amoroso e soberano é Aquele que cuida de nós, e isso traz um alívio para o nosso coração, traz um novo modo de compreender a vida ao nosso redor, e eu tenho convicção que ao longo deste livro você vai perceber isso, e isso lhe trará alento diante dos maiores desafios que você enfrentará em sua vida. 18


As Doutrinas da Graça

Entendendo as Doutrinas da Graça O primeiro questionamento que emerge então é: “Ok, bonito esse nome, Doutrinas da Graça. Mas o que que isso significa?” Quando nós falamos a respeito das Doutrinas da Graça, estamos nos referindo à perspectiva da teologia reformada sobre a Soberania de Deus, sobre como Deus é poderoso e soberano sobre todas as coisas e somente Ele pode nos trazer de volta para um relacionamento real com Ele, e mais especificamente, nós vamos conversar aqui sobre aquilo que ficou conhecido ao longo da história como os Cânones de Dort. E isso, o que significa? No final do século 16 e início do século 17, houve um professor holandês chamado Jacó Armínio, que viveu até 1609. Ele ensinou na Universidade de Leiden, na Holanda e trouxe alguns questionamentos em relação a certas perspectivas da fé reformada, principalmente sobre a Soteriologia (doutrina da salvação). Após a morte de Armínio, seus seguidores, baseando-se em aulas, escritos e debates públicos realizados pelo professor, passaram a questionar determinados aspectos de documentos da fé reformada como a Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg e publicaram artigos questionando certos pontos, e estes ficaram conhecidos como os Cinco Artigos da Remonstrância. Então, entre 1618 e 1619, a igreja reformada holandesa decidiu se reunir para debater sobre os conceitos apresentados naqueles artigos, principalmente em relação à salvação e à soberania de Deus, e durante aquela discussão sobre esses pontos que haviam sido levantados pelos discípulos e seguidores de Armínio, os conciliares chegaram a um ‘veredito’, se podemos assim dizer, a partir do estudo de diversos textos bíblicos, de muita oração e de muita 19


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discussão. E ali naquele encontro, que ficou conhecido como o Sínodo de Dort (porque aconteceu na cidade holandesa de Dortrecht), estabeleceram os conhecidos Cânones de Dort, ou como algumas pessoas costumam se referir mais comumente em nosso tempo, Os Cinco Pontos do Calvinismo. Nessa época, o reformador francês João Calvino, que viveu na Suíça, já havia falecido (1564). Mas olhando pra a construção teológica dos reformadores, para os escritos de pais da igreja, como Agostinho e principalmente para o apóstolo Paulo, estabeleceram aqueles aspectos doutrinários, conhecidos como “Os Pontos do Calvinismo” por causa da referência reformada de João Calvino ou como “Doutrinas da Graça”, por causa de sua fundamentação naquilo que Deus faz por nós, sem merecermos. É importante deixar claro que essa não foi uma idealização de Calvino, mas uma percepção daqueles líderes da igreja holandesa ao lerem a Bíblia e tentarem responder aos questionamentos apresentados nos Artigos da Remonstrância. Esses pontos ficaram conhecidos a partir de um acróstico que na língua inglesa forma a palavra TULIP que seria em português o nome da flor: tulipa. T – Total Depravity – Depravação Total U – Uncondiconal Election – Eleição Incondicional L – Limited Atonement – Expiação Limitada I – Irresistible Grace – Graça Irresistível P – Perseverance of the Saints – Perseverança dos Santos

E o que significa cada um desses pontos? O primeiro deles fala sobre a depravação total do ser humano, como o ser humano está completamente dominado pelo pecado. 20


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O segundo fala a respeito da eleição incondicional. Os eleitos de Deus não o são por causa de alguma condição específica, mas apesar de suas falhas. A expiação limitada afirma que a morte de Jesus se deu por aqueles a quem o Pai escolheu e deu a Ele, no entendimento de que se Jesus morresse por todas as pessoas e nem todas fossem salvas, esse sacrifício seria incompleto, parcial. A graça irresistível aborda a incapacidade que nós, seres humanos, temos de dizer não à ação de Deus em nosso coração. A Palavra de Deus nos ensina que o Espírito Santo nos convence do pecado, da justiça e do juízo e é impossível dizer não à ação do Espírito Santo. Já a perseverança dos santos ensina que aqueles que foram então tocados pelo Espírito Santo e assim compreenderam o amor de Deus revelado no evangelho, perseveram em sua fé. Eu costumo até brincar da seguinte maneira: Deus tem mais coisas para fazer do que ficar carregando um lápis e uma borracha escrevendo e apagando o tempo todo o nosso nome do Livro da Vida, de acordo com aquilo que a gente faz. Não é assim que funciona, porque a nossa salvação está em Cristo Jesus e não em nossas atitudes, e o sacrifício realizado por Ele é definitivo. A seguir, vamos nos aprofundar mais sobre cada um desses pontos.

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A Depravação Total Entramos agora em um território arenoso e complicado, porque vamos falar de algo que naturalmente nos deixa desconfortáveis; perceber que nós, seres humanos, somos completamente inclinados ao pecado. Você pode argumentar: “Ah, pastor, isso aí é por sua conta, eu estou mais inclinado a fazer coisas boas”. Deixe-me contar-lhe uma coisa: Se você conhece ou já ouviu falar a respeito do apóstolo Paulo, um daqueles personagens bíblicos mais famosos do Novo Testamento, certa vez ele afirmou: “Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo.” Romanos 7.18,19

Isso diz respeito à depravação total do ser humano, ou como nós somos dominados por aquilo que chamamos de pecado. O mesmo Paulo foi quem escreveu: “Que concluiremos então? Estamos em posição de vantagem? Não! Já demonstramos que tanto judeus quanto gentios estão debaixo do pecado. Como está escrito: “Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer”. Romanos 3.9-12 23


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O que está acontecendo neste texto? Sobre o quê o apóstolo Paulo está falando? Ele, na verdade, apresenta um questionamento em relação aos judeus. No início deste capítulo ele começa a colocar algumas aparentes vantagens que os judeus tinham em relação aos chamados gentios, ou seja, aqueles que não comungavam da mesma fé, e não tinham a mesma experiência religiosa que os judeus tinham. E ele começa a falar dessas vantagens porque aos judeus foi dada a lei, então eles tinham conhecimento dos direcionamentos do que hoje chamamos de Antigo Testamento da Bíblia, principalmente dos cinco primeiros livros, chamados de Pentateuco ou de Torá dos judeus; eles conheciam isso, a eles foi dado o conhecimento da lei e Paulo então fala das vantagens disso, como isso era bom para a vida deles, e importante para eles. Mas no versículo 9, começamos a achar que Paulo parece estar sendo um pouco incongruente. Antes ele dizia que, sim, os judeus tinham vantagens porque eles receberam os ensinamentos, porque eles conheciam as Escrituras; como é que Paulo está agora dizendo que eles não têm vantagem? Pois agora, Paulo está falando especificamente a respeito da luta contra o pecado em relação à salvação, ou seja, está questionando a moralidade religiosa deles: A lei não os livra do pecado. Tanto aqueles que eram gentios, ou seja, os não religiosos, quanto os judeus que eram os religiosos conhecedores da lei, todos estavam sujeitos ao pecado, da mesma maneira. Estariam os judeus em vantagem porque eles são religiosos, porque eles carregam as Escrituras e conhecem os ensinamentos? Paulo está dizendo que não. Ele discorre ao longo dessa carta a respeito disso, que tanto os judeus religiosos quanto os gentios não religiosos estão debaixo do jugo pecado. 24



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