Fundamentos das Artes Marciais

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Fundamentos das Artes Marciais Introdução ao estudo dos princípios das Artes Marciais e sua aplicação na resolução eficiente e pacífica de conflitos na vida moderna.



Fundamentos básicos das Artes Marciais para a resolução eficiênte e pacífica de conflitos na vida moderna


Setembro 2009 – Claudio Budnikar Florianópolis – SC – Brasil Email: zanshinaikido@gmail.com Web site: http://artesmarciaishoje.blogspot.com

Este livro contém uma visão própria das ideias do autor sobre algúns dos princípios fundamentais das Artes Marciais, seu desenvolvimento histórico e algúns possíveis caminhos para sua aplicação na vida moderna. Foi desenvolvido como material de apoio para o workshop “Experiência AIKI” e seu objetivo é passar os fundamentos teóricos complementares para um melhor aproveitamento da experiência practica.

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Agradecimentos: A meus pais Teresa e Alfredo, por estar aqui e por ter permitido desenvolver minha paixão pelas Artes Marciais. A meus mestres de Karate Jintatsu Higa e Aikido Masafumi Sakanashi pela paciência e por não ter me escondido nada. A minha esposa Nora por ter me acompanhado neste percurso e sempre incentivado meu estudo e treinamento, sempre tão pouco “rentável” exigente em tempo e provocador de tantas ausências. A meus filhos Germán e Marina, por tantas vezes compartilhar a seu pai com outros vários “filhos” em forma de alunos e muitas outras vezes ter que compartilhar também minha atenção com meus livros, projetos e aulas. A todos os outros professores, alunos e companheiros de anos nas aulas normais até exibições e mesas de lanchonete onde se discutiam os treinamentos e as Artes que estudávamos.

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INDICE GERAL Agradecimentos:................................................................................ 5 INDICE GERAL .......................................................................................... 7

Prefacio: ............................................................................................ 9 BUDO - Desenvolvimento histórico das Artes Marciais..................... 15 Definição de Artes Marciais e uma análise das razões que possibilitaram sua vigência através dos séculos e que hoje fazem delas um excelente sistema educacional alternativo. ........................................... 15 Desenvolvimento do Budo e razões de sua vigência através do tempo. . 15

KI - A definição do inexplicável......................................................... 39 Descrição do modelo baseado no KI utilizado no ensino e descrição das Artes Marciais e do Zen. Intuição, holismo e interpretação do comportamento de múltiplas variáveis. Artes, criatividade e consciência. .............................................................................................................. 39 O Ki é ação e intuição ............................................................................ 42

KOKIU - Uma forma diferente de Fazer ............................................ 43 Diz-se que uma pessoa tem KOKIU quando ao realizar alguma atividade, demonstra a perfeição que só se atinge com a conjunção de vários elementos como a experiência, a economia de movimentos e por, sobretudo, a perfeita unificação entre o executor e a atividade. .............................................................................................................. 43

KEIKO - A diferença entre entender e poder fazer ............................ 51 Todos nós sabemos que a forma de aprender é trabalhando, mas como fazer corretamente? .............................................................................. 51

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IRIMI - Conhecer o problema antes de decidir o que fazer. ............... 63 Na prática do Aikido existe um movimento chamado Irimi que significa em japonês entrar e que é o primeiro que se deve fazer para realizar uma técnica. ................................................................................................. 63 A aprendizagem .................................................................................... 63 O inimigo real não existe, nosso maior aliado ou inimigo está dentro de nós mesmos. ......................................................................................... 75

TENKAN - Girar sobre nosso centro sem desequilibrar-nos. .............. 79 Ter a mesma visão que nosso oponente antes de decidir a direção a seguir. ................................................................................................... 79

AIKI - União e Harmonia. ................................................................. 87 Unificar para ir juntos ............................................................................ 87

ZANSHIN - Atenção flutuante. .......................................................... 93 Mover-nos sem permitir que a mente se detenha em coisa nenhuma. .. 93

Anexo 1- Um futuro nas escolas de Artes Marciais? ......................... 99 Porque não continuam crescendo as escolas tradicionais de Artes Marciais e como são afetadas pelas mudanças rápidas do mundo moderno?.............................................................................................. 99

Anexo 2- Arte marcial para defesa Pessoal? .................................. 102 Treinando alguma Arte Marcial podemos ter 100% de certeza de agir da melhor forma possível no caso de ser atacado o tentar defender outro numa situação de violência? ................................................................ 102

Anexo 3- Workshop dos princípios AIKI .......................................... 108 Uma experiência pratica dos princípios das Artes Marciais. ................. 108

Sobre o Autor: ................................................................................ 112


Prefacio: Edição de Setembro do ano 2009 no Brasil. O objetivo deste livro é parte de uma busca maior, conseguir difundir e “passar adiante” um conhecimento que eu obtive com muitos anos dedicados (sempre de forma parcial e paralelamente a minha vida familiar e obrigações profissionais) ao estudo e treinamento das Artes Marciais e sua aplicação na vida moderna. Sei que não é fácil, resumir 30 anos de uma atividade em um livro, uma aula ou um texto, mas forma parte de um dos objetivos deste trabalho, provar que “muitas coisas que parecem impossíveis na primeira análise, podem ser feitas embora não podamos explicar como.” Acredito que sim é possível fazer um resumo dos conhecimentos obtidos e tentar compartilhar eles com o mundo tudo, fazendo que para alguns seja uma experiência motivadora, para outros uma fonte de respostas e para outros um simples jeito de saciar sua curiosidade. É verdade também que existe um objetivo muito mais egoísta, a necessidade de compartilhar esses conhecimentos

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com outros e ter um “feedback” de gente que fique igualmente motivada com estes temas e com interesse real em continuar e aprofundar os temas tratados. Este livro, assim como os workshops, palestras e o conteúdo na internet blog: http://artesmarciaishoje.blogspot.com tentam misturar vários conhecimentos milenários com o uso de tecnologias de hoje. Acho que não tem muito sentido tentar ocultar que grande parte dos temas tratados podem ser ampliados e aprofundados pela simples busca na internet. Eu não vou conseguir escrever melhor que o autor do livro “Musashi” que muitos qualificam como a versão oriental dos romances do tipo “A guerra e a Paz” ou “E o vento levou...”, mas contendo todos os ingredientes básicos da cultura japonesa e das Artes Marciais em seu apogeu. Também sei que o objetivo deste livro não é ser um tratado acadêmico sobre a história das Artes Marciais nem um estudo científico sobre fisiologia, bio-mecánica ou teorias evolutivas. Embora estes temas sejam muitas vezes citados, não pretendo mais que justificar algumas das minhas idéias e P á g i n a 10


posições, sendo que o caminho fica aberto para que quiser se aventurar mais profundamente nestes conhecimentos. Hoje em dia se está desenvolvendo, com uma velocidade inacreditável, o conceito de WEB 2.0 que no meu entender é muito mais que “um tema de Nerds da internet” e está influenciando nosso dia-a-dia cada vez mais profunda e definitivamente. Este tema é mais profundamente abordado no anexo deste mesmo livro titulado: “Tem futuro as escolas de Artes Marciais?” . O fato é que hoje existe um enorme caminho (internet) e uma sociedade disposta a selecionar seus conhecimentos “on-demand” e beber de muitas fontes diversas, para esclarecer e afirmar suas idéias e logos voltar-las a compartilhar na mesma rede. Os processos são muito dinâmicos e envolvem sempre aos interessados como público participativo e co-autores e aos “expertos” que em muitos casos coordenam ou moderam as discussões que são provocadas pela publicação e leitura de seus textos, imagens, vídeos e áudios. Estes “expertos” não têm por que ser mestres em todas as áreas, de fato hoje em dia isso é quase impossível, mas sim P á g i n a 11


devem ter um “conhecimento real” (esse, que geralmente é obtido após de anos e anos de profunda entrega) do que eles tentam transmitir. Assim, lugares como a Wikipédia ou sites de redes sociais como o famoso (especialmente no Brasil) Orkut ou Facebook, estão repletos de informação fornecida tanto por gente experiente como por amadores e inclusive, gente com más intenções. Então encontramos que o problema não é o acesso à informação senão a seleção de fontes que possam provar que realmente “tem alguma coisa própria para oferecer” separando eles dos que simplesmente “pegam e colam” informações diversas e sem fundamento algum. É aí que entra o “experto” que pode tanto fornecer informações sobre como tocar um violão até conselhos de qual é o melhor óleo para um carro específico. Se as informações destes conhecedores profundos são compartilhadas por grupos, experimentadas e desenvolvidas por outros usuários, ficarão cada vez mais “ricas” e úteis. Acho que o caminho avança nesse sentido e que somente é questão de tempo para que nossa sociedade mude P á g i n a 12


completamente para esse tipo de relacionamento, onde “a Rede” estará pressente em cada um de nossos atos e pensamentos, formando uma espécie de “interfase” entre a consciência e pensamentos de milhares de pessoas ou grupos interconectados. Então, nesse momento, vai ser mais importante que nunca, o aporte dos “expertos” ao conteúdo armazenado e sua atividade real (não somente na rede) vai marcar os caminhos para obter “informação de primeira mão”. A aplicação destes conhecimentos na vida real e os comentários dos praticantes serão então os novos caminhos para a educação e o ensino. Claudio Budnikar, Setembro do 2009

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BUDO - Desenvolvimento histórico das Artes Marciais Definição de Artes Marciais e uma análise das razões que possibilitaram sua vigência através dos séculos e que hoje fazem delas um excelente sistema educacional alternativo.

Desenvolvimento do Budo e razões de sua vigência através do tempo.

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Budo, de aqui em adiante, representa qualquer tipo de treinamento psicofísico que parta das premissas de treinar as formas e os comportamentos num combate, físico, desportivo, real ou simulado. Desde seus inícios o homem combate por seu sustento, sua comida, sua moradia e seu espaço em general, isto motivou que também se fossem desenvolvendo com o tempo, lutas pelo poder.

As lutas existem desde o inicio da história. Não importa o lugar físico nem a cultura, as lutas foram se desenvolvendo e se refinando de acordo ao desenvolvimento e requinte das sociedades em que se desenvolviam. O homem como animal de físico pequeno e características fisiológicas não tão dotadas para a luta como outras espécies (grandes mamíferos e felinos especialmente), desenvolveu a estratégia como valor agregado que o diferenciava e fazia superior aos animais mais dotados. Construiu ferramentas, aprendeu a manejar seus instintos, a atacar quando lhe convinha, e a se ocultar ou fugir quando o considerava necessário. Com o decorrer do tempo, foi posicionando-se como o mais perigoso animal sobre a terra. P á g i n a 16


Em pouco tempo, dominado o risco que implicava o meio ambiente, começaram as lutas entre eles mesmos, e ao ter defronte um adversário de similares características físicas e intelectuais, a luta foi se refinando, a força bruta começou a ser anulada por meio das estratégias inteligentes de combate e adaptação ao meio. Os homens dividiram-se em clãs, e estes lutaram internamente para obter o poder dentro do grupo e externamente para conquistar a outros clãs.

Os clãs e seus ensinamentos secretos. Estes conhecimentos foram transladando-se de geração em geração e deram lugar a ensinos secretos para obter poder dentro do clã (comportamento, política, governo e administração do poder e os meios) e dominar a outros clãs (disciplina, tecnologia, exércitos, estratégia). Dentro de cada clã foi formando-se uma classe guerreira encarregada de controlar aos dissidentes internos, defender aos poderosos dos ataques externos e conquistar outros para dar mais poder aos dirigentes do mesmo grupo.

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Desde aproximadamente mediados do século XIX, começaram a interagir mais freqüentemente os dois grupos maiores da humanidade, Oriente e Ocidente.

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O Ocidente pode ter sido a origem das Artes Marciais.

Os ocidentais tinham desenvolvido suas artes guerreiras por meio do antigo boxe grego (pankration), e a luta com espadas, massas, arcos e catapultas da idade média, a cavalaria, e principalmente, pelo uso da pólvora e o desenvolvimento de armas de destruição em massa. Pistolas, fuzis e canhões, permitiam matar de longe, sem ver a cara do atacado, sem sentir nem seu hálito nem seu sangue, com muito menor comprometimento da sua integridade física, resguardada pela distância desde onde se atacava. Este jeito de brigar era socialmente aceitado, em ocidente e em todos seus sistemas religiosos e filosóficos, a idéia de matar a P á g i n a 19


outro ou se fazer matar, era socialmente muito mal vista (além do natural instinto de sobrevivência) mais se a luta era para impor o bem ou para defender nossos seres queridos dos bárbaros e seus costumes, a guerra era socialmente aceita. Isto gerou uma separação entre as guerras simuladas, para entretenimento cidadão (olimpíadas, xadrez, boxe, luta livre, etc.) da organização militar e policial, especializada em promover meios tecnológicos que procuram infringir a maior quantidade de mortes possíveis ao inimigo da forma mais rápida e cirúrgica possível.

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Ocidente vence, mas fica admirado com a cultura japonesa.

Nos confrontos modernos entre japoneses e ocidentais, estes últimos ficaram maravilhados do valor e disciplina que demonstravam os guerreiros do Japão, mas isto não impediu que esmagassem eles com seu enorme poder tecnológico-bélico, ambas as sociedades aprenderam, mediante o derramamento de sangue, alguma coisa da outra.

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Os ocidentais a procurar as razões que permitiam a valentia absolutamente desapaixonada dos orientais e estes últimos a não ignorar a tecnologia como base de seus projetos.

Japão e a guerra comercial. Muito especialmente os japoneses, transformaram a guerra no comércio mundial globalizado, os clãs em empresas, os guerreiros em gerentes e as armas em produção. Para isso, basearam se em seus antigos textos e conhecimentos e trouxeram novamente à tona as artes Marciais, o livro dos cinco anéis e a arte da guerra entre outros textos para dirigir as novas estratégias comerciais. E foi-lhes muito bem, tanto que em EEUU e Europa de começaram a estudar as técnicas orientais de produção. Geralmente se ignorava à indústria japonesa por que se dizia, que só eram capazes de copiar e que não tinham o talento necessário para criar nada novo. Existe um episódio que ilustra muito bem este último fato: Uma empresa fabricante de relógios Suíça, enviou-lhe num envelope a uma indústria similar japonesa um pequeno fio perfeitamente torneado, de largo aproximado à milésima parte do diâmetro de um cabelo. Numa semana, a indústria suíça recebeu num envelope o mesmo pequeno fio com a indicação que o revisassem num P á g i n a 23


microscópio, ao fazer encontraram que os japoneses tinham feito um buraco perfeitamente circular ao longo do capilar, convertendo-o num inverossímil tubo. Mas os japoneses não copiavam somente, passado um período onde obtiveram o coração da tecnologia, começaram a criar, e dominaram o mundo, sendo hoje parte do famoso grupo dos sete como se conhece às economias mais desenvolvidas do mundo. Somente há que pensar que para mediados do século 1900, Japão estava vencido militarmente, destruído fisicamente, avariado em sua economia e quebrado na sua moral, desta forma se pode apreciar em toda sua magnitude, o incrível sucesso que tiveram ao longo destes últimos 50 anos.

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E não esqueçamos que tudo isto se conseguiu utilizando o princípio de Kihon herdado das antigas artes Marciais, mas atualizado com inteligência no tempo.

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Experiência japonesa com as Artes Marciais Calcula-se que aproximadamente pelo ano 1200 de nossa época, se começaram a armazenar e codificar dentro de um clã dirigente, os primeiros métodos de combate que foram conhecidos com o nome de Bu-Jutsu, ou seja, Artes de Guerra. Seu principal mentor foi um especialista em medicina e geral de então que se dedicou a estudar os sistemas musculares e articulares de cadáveres e a recriar as técnicas de luta, de acordo com seus novos conhecimentos anatômicos e fisiológicos.

Estas técnicas foram transmitindo-se secretamente dentro de cada clã dirigente e evoluindo mediante o método de prova e P á g i n a 27


erro, por esse então, guerras não faltavam, é os que faziam técnicas incorretas ou inúteis, não costumavam viver o suficiente como para transmitir suas técnicas a seus sucessores. Os que possuíam boas técnicas sobreviviam mais tempo (longevidade), estudavam com maior atenção as técnicas que lhes ensinavam (fidelidade na cópia). Ao viver muitos anos e seguir numa posição econômica e de poder importante, tinham muitos filhos e governavam grandes clãs (fecundidade). É de observar que se cumprem as três condições para a o sucesso dos replicadores citadas ao princípio deste capítulo. Através das gerações a arte foi-se provando e refinando e encontrou-se que a forma mais eficiente de combater, não era a força bruta, que muitas vezes cedendo avançava-se, que a flexibilidade e adaptabilidade costumavam triunfar ante a dureza e as idéias preconcebidas. A arte foi gradualmente mudando seu nome para Ju-Jutsu ou Aiki-Jutsu que significam A arte guerreira da suavidade ou da harmonia, respectivamente.

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Os conceitos eram cada vez mais delicados, procurava-se unir-se ao adversário, para anulá-lo, centrar o movimento conjunto resultante sobre o centro próprio, desenvolver a energia interna, não se apegar a nada nem a ninguém, não ter propósitos e muitos conceitos do mesmo tipo nascidos da união da filosofia Zen com as Artes Marciais. Todo este desenvolvimento seguia exclusivamente em mãos da aristocracia dirigente, de seus guerreiros e longe do povo, que de fato tinha proibido o uso da típica espada samurai conhecida com Katana. É importante fazer notar que a casta guerreira samurai não só se encarregava de guerrear com outros clãs, senão que era a P á g i n a 29


encarregada dos assuntos internos isto é, funcionava como polícia e coletora de impostos ante os camponeses. Estes últimos foram desenvolvendo técnicas a mão nua (KaraTe) e utilizando suas ferramentas de trabalho (Ko-Bu) de forma tal de poder defender-se dos samurai.

Em seus confrontos os camponeses temiam à espada samurai (que uma vez tirada da bainha implicava uma morte quase segura) e os samurai das tomadas por surpresa de um ou mais camponeses que lhes impediam tirar sua espada, com o qual se encontravam a graça das rudes mãos, pés e ferramentas de trabalho adaptadas para à luta (alavancas, remos, paus de transporte, moedoras de arroz). P á g i n a 30


Isto gerou nos camponeses e nos samurai, uma série de técnicas, algumas para poder tirar sua espada estando tomados e outras para impedir ser pegos, baseadas na flexibilidade, a atenção contínua (zanshin) e o relaxamento, pondo as bases do que a futuro de conheceria como judo.

O famoso princípio: se puxam de ti, te deixa levar, se te empurram, deixa passar. Se diz, que esta frase foi criada por um médico e estudioso das artes Marciais que via como a neve acumulada nos galhos das árvores mais duras, terminavam quebrando eles, e como os flexíveis suportavam a neve até o limite da sua flexibilidade e depois a deixavam cair, voltando, descarregadas a sua posição habitual como se nada tivesse acontecido. P á g i n a 31


Esta foi a última grande mutação das artes Marciais, onde o vocábulo Jutsu (artes guerreiras) foi substituído por Do (caminho do conhecimento).

Experiência no resto do mundo Tudo o anteriormente dito para Japão, conceitos mais ou menos, se deu também em China, Coréia, Vietnã e Tailândia, com variações de acordo aos tipos fisiológicos mais gerais em cada geografia (os países ou áreas com gente alta, desenvolveram mais o uso das pernas, e os outros o uso dos punhos). P á g i n a 32


Criando ao dia de hoje uma impressionante lista de artes Marciais que compartilham origens similares, embora hoje, estĂŁo totalmente diferenciadas nas suas tĂŠcnicas, usos e metodologias.

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KI - A definição do inexplicável Descrição do modelo baseado no KI utilizado no ensino e descrição das Artes Marciais e do Zen. Intuição, holismo e interpretação do comportamento de múltiplas variáveis. Artes, criatividade e consciência.

Ki não é Energia

Pelo geral na maioria das artes Marciais e sistemas filosóficos orientais de utiliza o termo japonês KI que equivale ao CHI da China e ao Prana da Índia todos eles se referem pelo menos a duas coisas: 1 - A energia primordial do universo da qual está composto tudo o que existe. 2 - A energia interna que tem cada ser vivo. A maioria dos sistemas de auto-aperfeiçoamento orientais é baseada nestes conceitos, métodos para unificar a grande energia com a pequena energia. Desde o Yoga Indiano, que o propõe como realidade formal, passando pelo antigo Taoísmo Chinês que P á g i n a 39


propunha uma alquimia sobre o ser humano para conseguir o mesmo fim e por último o Zen japonês que propõe, através de sua prática, reconhecer estas energias e descobrir que são duas caras duma mesma moeda.

Seja como for, sempre falamos de modelos, uma forma de descrever a realidade mediante uma linguagem comum onde poderemos simular, de um jeito mais ou menos científico ou filosófico, o que realmente acontece na vida comum e poder prever as conseqüências que terão certos acontecimentos. Nas ciências, este tipo de modelagem da realidade, funciona bastante bem, e basta com recordar que toda a estrutura tecnológica e científica de ocidente está baseada nesta forma de estudo. A consciência livre e sem ataduras e a visão da realidade sem filtros, sempre foi muito desejada P á g i n a 40


pelos artistas Marciais, quem ao estar defronte a um inimigo que o vai atacar, valorizam muitíssimo o fato de poder visualizar o ataque real e não o símbolo de ataque. Já que: a análise mental do símbolo, seguramente vai custar uma fração de tempo, durante a qual, se o atacante é experiente, poderá atacar e até tirar a vida do seu oponente. São tantas variáveis no mesmo tempo, que não temos forma de explicar como o fazemos. Mas existe, a possibilidade, através do treinamento, de fazer, ainda sem saber como. É algo muito similar à intuição e que só se pode desenvolver com um trabalho constante através da vida toda. É potência mediante o relaxamento, de coordenar a mente com o corpo, do "timming" sem velocidade e de toda uma série de conceitos que não podemos explicar cientificamente, mas podemos realizar sim.

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O Ki é ação e intuição

É ARTE, compromisso com todo o corpo e a mente, de criar alguma coisa, partindo da nada. O título deste parágrafo é KI não é Energia, no entanto nas duas definições a seguir é definido como Energia. A razão do anterior é que enquanto não podemos definir com clareza que é o Ki, podemos trabalhar com qualquer modelo que o represente para nossos fins. Para isso foram escolhidos os seguintes: O Ki é o uso simultâneo da mente e o corpo, sem restrições, sem limites e sem intervenção direta da análise simbólica. De aqui em adiante usarei esta definição do Ki para explicar as formas de desenvolvê-lo e incorporá-lo através da prática marcial a nossa vida diária.

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KOKIU - Uma forma diferente de Fazer Diz-se que uma pessoa tem KOKIU quando ao realizar alguma atividade, demonstra a perfeição que só se atinge com a conjunção de vários elementos como a experiência, a economia de movimentos e por, sobretudo, a perfeita unificação entre o executor e a atividade.

Qualidades

Quando se reconhece a Beleza no Mundo Conhece-se o que é a Fealdade; Quando se reconhece a Bondade no Mundo Aprende-se o que é a Maldade. Deste modo: Vida e morte são abstrações do crescimento. Dificuldade e facilidade são abstrações do progresso. Perto e longe são abstrações da posição. Força e debilidade são abstrações do controle. Música e fala são abstrações da harmonia. Antes e depois são abstrações da seqüência. O sábio controla sem autoridade. E ensina sem palavras. Ele deixa que todas as coisas ascendam e caiam Nutre, mas não interfere. Dá sem lhe pedir. E está satisfeito.


Tao Te King. Lao Tse

Diz-se que uma pessoa tem KOKIU quando ao realizar alguma atividade, demonstra a perfeição que só se atinge com a conjunção de vários elementos como a experiência, a economia de movimentos e por, sobretudo, a perfeita unificação entre o executor e a atividade. Na linguagem popular conhece-se como "manha", ou uma forma de fazer com qualidade e simplicidade. Quando um artista marcial realiza uma técnica, durante anos mantém uma separação entre ele mesmo e a técnica executada. Com o decorrer do tempo, treinamento e compromisso adequado, a técnica começa a ser incorporada isto normalmente se interpreta como uma simples automatização da resposta a uma solicitação. Mas na realidade é muito mais que isso: já que o que se conseguiu é que os princípios básicos que regem o movimento e a realização correta da técnica se executem como nossa resposta normal na vida P á g i n a 44


diária. Daí que a execução de uma técnica passe a ser algo tão simples como caminhar. Mas cuidado! Até aqui só falamos da automatização e aqui recém começa o caminho. Ao poder realizar a atividade de forma automática, nossa mente fica livre de ocupações mecânicas de controle físico e ante ela se abrem dois caminhos: Podemos deixar a mente vagar por onde ela bem quiser. Com o qual nunca superaremos a etapa do automatismo. Ou podemos nos concentrar absolutamente na atividade que realizamos. Nesta segunda opção, é de ressaltar que, uma vez conseguida a automatização, podemos pela primeira vez, nos concentrar na atividade (pintar, conduzir, realizar uma técnica marcial) e não na forma de nos mover, se esta nova liberdade é bem aproveitada se abre um novo caminho. Como fazem os músicos? Vamos pôr como

exemplo, a um musico que tenta executar uma peça pela primeira vez. P á g i n a 45


Para poder ler a música com seus ritmos e harmonias deverá ter praticado e estudado muito tempo com alguém que conheça a linguagem de comunicação (o mestre). Logo entrará na etapa de poder traduzir para sons de seu instrumento o que lê na partitura, junto com o mestre que corrigirá detalhes até conseguir uma técnica aceitável. De aqui em adiante, abre-se uma nova etapa onde o executante, interpretará uma e outra vez a peça, mas atento aos detalhes técnicos que ao som que gera. De repente, num dia, encontra que já pode tocar a peça praticamente de cor, e que todos os detalhes técnicos com os que ele lutou se incorporaram naturalmente a sua forma de executar a melodia (a técnica) com seu instrumento (seu mente-corpo). Nesse ponto, mudará radicalmente a forma de seguir evoluindo, já que, agora pode se concentrar em escutar sua música. Através de seu gosto artístico, modificar sua técnica, não baseado na forma (técnica básica) de executar, P á g i n a 46


senão em seu sentimento para o som gerado (kihon). Quando falamos de sentimento falamos do impacto sobre seu corpo e sua mente, gerado pela interpretação. O objetivo final não deve ser a automatização (faixa preta, nas Artes Marciais), senão o desenvolvimento contínuo através do sentimento e da expressão artística que só se pode começar a experimentar, logo de ter conseguido a automatização da execução. 7 detalhes observados nos artistas experientes

Quando observamos um artista marcial experiente realizar suas técnicas encontramos, independentemente de seu estilo, certas características que justificam sua condição de experiente: 1 - seus movimentos dão a sensação de ser perfeitos, econômicos, efetivos e belos. 2 - a forma em que ele se move parece simples, fácil e principalmente, a única possível. 3 - sua mente está absolutamente unida com seu corpo. 4 - sua mente-corpo está absolutamente ligado P á g i n a 47


com o movimento. 5 - seu movimento está unido ao movimento do atacante. 6 - sua atenção não está fixa em nenhum lugar, está disponível para detectar qualquer mudança nas condições externas e internas, e responder corretamente. 7 - ao observá-lo, percebemos que a arte que ele pratica, está totalmente influenciada pela sua personalidade que se expressa através do movimento. Toda esta descrição é lógica, mas exige muitas palavras e um esforço intelectual para compreender, isto ocorre por que nem a lógica nem o intelecto são ferramentas adaptadas para descrever uma Arte. Do anterior desprende-se que mudando o modelo podemos explicar com muita mas profundidade e simplicidade a atividade realizada. Dissemos com anterioridade, que o Ki era a conseqüência de um ato no qual se controlam muitas variáveis ao mesmo tempo (respiração, relaxamento, esfericidade, controle conducente, não resistência, mente livre, etc.) P á g i n a 48


Executar uma atividade com Ki é o mesmo que dizer que o executante tem KOKIU. Para treinar o KOKIU requerse KEIKO (treinamento) e KIHON (cópia perfeita, até ter o coração da técnica) e SHUREN (estudo) do KI. Um verdadeiro artista marcial deve parecer-se a um antigo sábio renascentista, para ele, nada lhe era alheio ou indiferente independentemente da etiqueta com o que fosse nomeado (física, matemática, música, literatura, desporto, etc.).

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KEIKO - A diferença entre entender e poder fazer Todos nós sabemos que a forma de aprender é trabalhando, mas como fazer corretamente?

Quando falamos de intenção, de sentimentos, não estamos falando de nada que não se possa entender intelectualmente através do estudo tal como o conhecemos. Mas, como aclaramos no capítulo anterior, dentro de nosso modelo Estudo (Shuren), implica treinamento e investigação sobre nós mesmos e sobre o meio com o qual interagimos, com um compromisso de aprender a fazer as coisas com Kokiu. Podemos escrever e ler milhares de livros e não aprender a realizar corretamente nem uma sozinha ação. Todos nós sabemos que a forma de aprender é trabalhando, mas como fazer corretamente? Não é suficiente o treinamento, temos que treinar bem, com paciência e humildade. Se nos propomos metas impossíveis, é absolutamente lógico que caiamos em depressões e abandonemos a P á g i n a 51


prática. Genialidade e Loucura

No excelente filme Amadeus que conta a história da relação do músico mais importante da corte da Viena, Salieri (excelente músico, trabalhador, diplomático e triunfador), com Wolfang Amadeus Mozart (liberal, louco, bêbado,extremista, pobre, anti-social e principalmente: músico GENIAL). Salieri questiona-lhe a Deus: "eu te dei tudo, minhas horas, meus esforços, minha devoção, minha confiança e minha vida, e tu só me deste o suficiente conhecimento para perceber claramente que eu nunca vou ter a genialidade de Amadeus......" Para sofrer ante a dor que me proporciona observar com que facilidade ele produz em minutos, numa festa com álcool e prostitutas, uma criação que eu nunca poderei realizar e que para pior, arrepia minha pele de gozo ao ouvi-la. O grande problema de Salieri era que ele ambicionava a genialidade, e sua ambição era tão grande que nem sequer lhe permitia desfrutar dos favores de uma corte P á g i n a 52


Real que o valorizava como seu músico mais importante. Sua teimosia conduziu-o da inveja à maldade e depois à loucura. Tudo isto me faz lembrar à gente que treina Artes Marciais com a condição única de poder desenvolver os poderes supra-humanos que quase sempre estes sistemas atribuíam aos históricos criadores de cada sistema. A seguir detalharei alguns pontos que me parecem importantes com respeito ao treinamento:

Realidade e Gratidão

Conheço a grandes maestros de artes Marciais, de origem japonesa e muitos que conheceram e treinaram com alguns dos grandes maestros do século passado, que cansaram de repetir que a pessoa que eles conheceram, não era um deus, nem tinha poderes supra-humanos. Quase todos resgatam as condições humanas, físicas ou intelectuais destes grandes mestres, mas P á g i n a 53


lhes resulta quase impossível que seus alunos deixem de mistificar ou de inventar histórias incríveis. É como um grande efeito Salieri, adaptado aos tempos que correm, é como dizer: "eu sei que não vou poder chegar a ser como eles, por que eles eram especiais...." É uma excelente forma de justificar a mediocridade e a falta de esforço e por outro lado um pôr-se um teto numa atividade que tenta criar pessoas livres, sem ataduras nem limites. Se realmente gosto da atividade que eu pratico, é lógico que admire e me senta agradecido com respeito à pessoa que a criou e ao maestro que me ensina, mas daí a inventar, promover ou esperar ações supra-humanas, há uma grande diferença e uma clara indicação de falta de maturidade na personalidade.

Formalidade, tradição e respeito

A prática das Artes Marciais implica sempre, em menor ou maior grau, a aprendizagem e a utilização de um conjunto de normas sociais, para a relação entre os participantes da arte. Estas normas costumam conhecer-se como a etiqueta P á g i n a 54


no dojo (dojo = lugar de prática em japonês).

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Ocorre que muita gente se opõe ao uso destas normas por diversas razões, por exemplo, no Aikido, os colegas de prática, antes de começar a trabalhar a técnica devem, ajoelhados um frente ao outro, se cumprimentar mediante uma profunda reverência. Como habitantes acelerados de cidade que somos, muitas vezes esta formalidade nos parece vazia e sem sentido, e tentamos de evitar ela ou fazemos a desgosto, apressados e de qualquer jeito, para poder ir rapidamente ao importante. Sem perceber que o importante já começou, e que o que começa mal, costuma continuar e terminar mal. Aqui é importante voltar a ressaltar as virtudes do Kihon no treinamento marcial, isto é copiar o mais exatamente possível o que realiza quem me ensina ou sabe mais. Outra regra comum no Aikido é que ao começar e ao finalizar cada aula, se cumprimenta desde a posição de joelhos, com uma reverência, em direção para um pequeno altar que há na parte frontal de cada lugar de treinamento e que contém uma fotografia do criador desta arte, Sensei(mestre) Morihei Uyeshiba. Este comportamento costuma ser recusado por muitos P á g i n a 57


praticantes ocidentais, que vêem na posição de joelhos, submissão (que é o que significa realmente em nossa cultura judeu-cristã) se esquecendo, que os usos e costumes do Aikido, estão em relação com outra cultura. Onde estar de joelhos é tão natural como estar parado ou sentado e que a saudação não é para um ser divino, senão para alguém a quem agradecemos ter desenvolvido a arte que agora nós estamos apreendendo, ensinando ou treinando. Muitas vezes estes mal entendidos geram-se pela própria responsabilidade do professor, quem por não saber como explicar as razões da regra cai na velha metodologia japonesa (que quando não é adaptada às normas de nossa sociedade, parece brutalidade) de dizer: "você deve fazer o que eu peço e não perguntar coisa nenhuma". Se isto último fosse aclarado com a breve explicação de que há coisas que por mas que se entendam intelectualmente, não podem ser realizadas nem compreendidas profundamente até não ser repetidas até fazê-las parte de nós mesmos. Se a atitude do professor fosse amável e compreensiva, poderia ser benéfica, mas normalmente não é assim, e o P á g i n a 58


aluno se sente menosprezado e escravizado intelectualmente. Esta última atitude não deixa de ser uma falta de respeito do professor para com o aluno. Deixar o ego na porta do dojo

Vamos focar este tema desde a ótica absolutamente lógica e ocidental da segurança durante a prática. Desde que ingressa ao lugar de prática (dojo), ficamos submersos num sistema absolutamente hierárquico baseado no conhecimento. Qualquer acidente que ocorra entre dois praticantes, é responsabilidade do maior graduado, mas a responsabilidade deste é para o professor da classe. Transfere a responsabilidade do professor responsável para seu mestre e seu mestre para o mestre principal da Arte. Os códigos que regem esta transferência de responsabilidade moral são os mesmos que regem a etiqueta e formalidade na prática. Isto é: se apegar às normas e à responsabilidade do grau, gera segurança na prática. P á g i n a 59


Vamos, agora, a estender este conceito para relacionar ele com o abandono do ego. Suponhamos que um aluno rende um exame, sua responsabilidade direta é para com seu professor. Isto implica que, se realiza um excelente exame, não deve se crer importante, já que deverá sentir que tudo o que ele fez, é mérito de seu professor, quem pela sua vez sentirá a mesma coisa para seu maestro e assim para atrás no tempo. Se o exame saiu mal, não deveria se preocupar nem se culpar, já que a responsabilidade de seus erros também é transferida da mesma forma que no caso do sucesso. Tudo isto não tira a humana sensação de pena ou alegria que nos provocam nossas ações, mas é base do treinamento na humildade e na gratidão que conformam uma das partes mais importantes na formação de um futuro professor ou mestre.

Praticar com seriedade e com alegria

O Aikido é uma arte marcial que afunda suas raízes no tempo, mas que foi P á g i n a 60


sistematizado e conhecido por este nome graças a quem é conhecido como o último grande mestre japonês de Artes Marciais, Morihei Uyeshiba (1881-1969). Ele sistematizou e deu conhecer as bases desta arte em meados do século XX, se bem o Aikido é respeitado por todos os demais sistemas Marciais, possui uma diferença fundamental em sua metodologia (não na sua base) que nasce do fato de ter sido desenvolvido diretamente como um sistema de melhoramento psicofísico e não como um sistema exclusivo para a defesa pessoal. Este grande mestre dirigiu um centro de treinamento que era chamado "o dojo do inferno" pela exigência nas aulas e a qualidade de seus alunos (quase todos experientes artistas Marciais de outros estilos). Parecido com a disciplina militar e a brutalidade às que nos têm acostumados os maus filmes americanos de Artes Marciais. A exigência no Aikido é responsabilidade de cada praticante, ninguém vai ser pego dos cabelos para que continue fazendo abdominais, mas nada impede que dois praticantes experientes, trabalhando entre eles, se auto-imponham um ritmo de prática realmente forte. O Sensei sempre aclarou que o sentimento básico ao treinar deveria ser de alegria. P á g i n a 61


Se nรฃo se sente alegre ao praticar, alguma coisa estรก sendo mal feita.

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IRIMI - Conhecer o problema antes de decidir o que fazer. Na prática do Aikido existe um movimento chamado Irimi que significa em japonês entrar e que é o primeiro que se deve fazer para realizar uma técnica. A aprendizagem

Quanto vou demorar a chegar a ser Mestre se trabalho no duro? Perguntou o jovem.

O resto de tua vida, respondeu o mestre. Não posso esperar tanto tempo! Estou disposto a tudo para seguir seu ensino. Quanto tempo levar-me-á se trabalho como servidor seu em corpo e alma? Oh! Tal vez dez anos! Mas você sabe que meu pai está velho, cedo terei que cuidar dele. Quantos anos eu demorarei se trabalho mais intensamente? Oh! Talvez trinta anos! Você não me leva a serio! Antes dez agora trinta! CriaP á g i n a 63


me, farei tudo o que tenha que fazer para dominar esta arte no menor tempo possível. Bem, nesse caso, terá que ficar sessenta anos comigo! Um homem que quer obter resultados tão de pressa não avança rapidamente - explicou o mestre. Geralmente uma parte importante e decisiva dos problemas que acontecem em nossa vida vem sem que nós esperemos. Ou no melhor dos casos, não se apresentam como os esperávamos. A Lei de Murphy

É muito comum que tudo ocorra no que consideramos o pior momento possível e tudo isto é tão assim que até se desenvolveu uma completa teoria sobre estes assuntos conhecida como a Lei de Murphy e que propõe algo assim: Se algo tem alguma possibilidade de sair mal, podemos ter um 100% de certeza que vai sair mal e no pior momento possível. Inclusive uma versão mais rebuscada deste mesmo conceito diz que: A probabilidade de que uma tostada com doce caia P á g i n a 64


sobre um tapete com o doce para abaixo, é diretamente proporcional ao custo do tapete. E por último num formato ainda mais simples: Hoje lavei o carro, vai chover. Por mais incrível e engraçado que tudo isto possa parecer, há gente que estudou o tema em profundidade e seriamente, tratando de encontrar razões, estatísticas, sociológicas, psicológicas e de comportamento. Em realidade, e como costuma ocorrer ao tratar de analisar estes processos, a conclusão foi que não se podem estudar estes temas desde uma disciplina isolada. Ao ser um processo analisado por nossa consciência, executado por nosso corpo e planejado por nossa mente, muitas das ações que nós mesmos executamos afetam direta e indiretamente ao meio que nos rodeia e a variação deste meio também provoca modificações sobre nossa percepção da realidade. De qualquer jeito, o que a nos interessa é que realmente uma parte importante dos problemas com os que temos que conviver em nossa vida de todos os dias, não podem ser previstos e muito menos modelados para obter soluções do tipo: se ocorre isto, você deve fazer isto.

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A vida é muito mas complexa do que queremos admitir, nos encantam as soluções fáceis a problemas complexos pela simples razão de não querer admitir que existem milhares de coisas que realizamos todos os dias de forma quase inconsciente. Isto é, nos custa muito a nível analítico decifrar interações de muitas variáveis ao mesmo tempo, no entanto nosso "piloto automático" age com pouco ou nenhum esforço. Um exemplo muito representativo de tudo isto é o simples fato de andar em bicicleta ou conduzir um carro. Estas atividades não chamam a atenção de ninguém por que pelo geral, pretendemos coisas mágicas e exclusivas que nos destaquem dos demais e conduzir um carro, por exemplo, não é algo privativo de poucos indivíduos. No entanto uma pequena análise das capacidades necessárias para conduzir um carro por uns poucos quilômetros na cidade, é suficiente para que realmente vejamos que é uma atividade incrivelmente complexa, realizada de uma forma P á g i n a 66


incrivelmente simples. A falsa simplicidade na avaliação prévia faz que as decisões e ações que tomemos para resolver nossos problemas geralmente sejam exageradas ou insuficientes. Tudo isto tem uma explicação bastante simples, pelo menos numa primeira análise, e é que por mais que evoluímos, ainda nos comportamos a nível inconsciente com atitudes herdadas de nossos antepassados. Fujir ou Lutar?

Perante uma situação que avaliamos como perigosa, ou que nos afete exigindo uma ação para resolver, comportamo-nos como o antigo caçador que, de repente, caminhando pelo bosque, se encontrava cara a cara com um animal selvagem, que bem poderia ser comida para ele e seu clã ou bem poderia ser quem o atacasse com as mesmas intenções do comer ou o levar como alimento para sua prole. E leve-se em conta que esta não era uma situação exclusiva dos homens, já que uma mulher, embora não estivesse dedicada à caça, tinha muitas probabilidades se encontrar numa situação parecida, com o ônus extra de ter que defender a seus filhos e provavelmente sem possuir armas. P á g i n a 67


As possibilidades perante este encontro inesperado de problemas são dois: A - tratar de escapar, o qual, muitas vezes não é possível. B - atacar tratando de tomar a iniciativa. Em cada uma destas opções existe uma quantidade quase infinita de opções de grau que são avaliadas por nossa consciência antes de atuar de alguma determinada forma. Por meio desse cálculo de possibilidades inconsciente, determina-se que tipo de ação vá a executar. Se o leão está a 2 quilômetros de distância e nossa gruta protegida a 10 metros, não é o mesmo que se ele está a 10 metros e nossa gruta a 10 quilômetros. P á g i n a 68


Não é o mesmo se em vez de um leão, enfrentamos a um animal de menor porte. Avaliação da postura do animal, da direção para onde ele se está movendo, de nosso estado de ânimo e físico atual e milhares de variáveis mais. Elas são todas, levadas em conta, comparadas com a base de dados que é nossa experiência prévia (própria e culturalmente adquirida) e a resposta automática é a conseqüência da resolução dessa equação que de alguma forma resolvemos. A qualidade com a que escolhemos algum tipo de ação é o que determina nossa probabilidade de sucesso ou falha. Portanto é lógico que culturalmente, temos desenvolvido métodos analisados por nosso consciente, isto é, abstraídos, filtrados, analisados e modelados com a grande capacidade analítica de nosso cérebro, para obter um manual de instruções do que convém fazer em cada caso. Estes conhecimentos, compartilhados e aperfeiçoados de geração e geração, de experiência em experiência, e enriquecidos com esse subproduto da inteligência P á g i n a 69


humana, chamado CULTURA, incorporam-se a nossa personalidade através de nossa educação e por imitação dos atos dos maiores quando somos pequenos. Essa programação depende de cada cultura, dos meios com os que conta, do ambiente que a rodeia e dos problemas que historicamente teve que enfrentar cada grupo. Não tinha muito sentido para um esquimó na Alaska usar franjas na frente para que a transpiração não lhe embasasse os olhos numa luta corpo a corpo. Como não fazia sentido para um nativo do amazonas conhecer as costumes de um urso polar. Tudo isso é perfeitamente eficiente e prático (ou seja, elevava consideravelmente a probabilidade de sucesso de quem utilizava estas técnicas) numa situação social onde a grande maioria dos indivíduos, nascia, crescia, se desenvolvia e morria num mesmo lugar físico. Enfrentando quase os mesmos problemas e situações que seus antepassados (ou no máximo, com pequenas variações). O grande problema é que a evolução sócio-cultural do ser humano não avança a uma velocidade constante (o que daria tempo de modificar as estratégias) senão que P á g i n a 70


parece se acelerar cada vez mais. Conseqüência da interação de cada vez mais mentes trabalhando em conjunto no mar da cultura, cada vez mais educadas e cientes do mundo e das diversas situações. É como um grande processo retro-alimentado onde um menino de seis anos, já conhece, seja pela televisão, pelo computador, pela rádio, a leitura ou suas viagens, mas mundo, geografias, situações e gente, que as que podia conhecer durante toda sua vida (que para pior, era muito mais curta) um adulto do ano 1700.

Esse mesmo menino crescerá e compartilhará conhecimentos com outros, gerando mais meios culturais e dando passo a outro avanço desta retroalimentação cultural que cada vez se move mais rápido. As grandes perguntas são: A - Tem algum limite esta aceleração evolução? P á g i n a 71


B - Nossa vida melhorou com estas mudanças? C - Tudo o que precisamos se resolve com a aquisição de conhecimentos? D - Nosso sistema automático de avaliação de possibilidades para resolver problemas, evolui à mesma velocidade que a cultura geral? As respostas a estas perguntas permitem uma aproximação mais efetiva à resolução de um problema muito geral e estendido hoje em dia: Que posso fazer para não ficar atrás nesta vida que muda cada vez mais rápido e exclui aos que não se adaptam? Na prática do Aikido existe um movimento chamado Irimi que significa em japonês entrar e que é o primeiro que se deve fazer para realizar uma técnica. dica: Como já se explicou anteriormente é muito difícil analisar ao Aikido isolado das Artes Marciais, como é difícil também entender a estas últimas fora do contexto da filosofia oriental e a cultura Japonesa em especial.

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Na arte da escritura com caracteres, ou caligrafia japonesa conhecida como Shodo se trabalha com um pincel, tinta e um papel de arroz que faz quase impossível que o pincel se detenha uma fração de tempo sobre o papel, sem que se provoque uma mancha gigante (o papel de arroz é altamente absorvente) o que obriga a que o movimento do pincel seja fluído, contínuo e por sobretudo, seguro, desde o princípio ao fim. O momento crucial, ao praticar esta arte, é o momento em que o pincel carregado de tinta, toma o primeiro contacto sobre o papel. Este movimento em Shodo é conhecido como Irimi e apresenta as mesmas características de execução que o Irimi desenvolvido em todas as Artes Marciais de origem Japonesa e muito especialmente em Aikido. Analisemos que o defensor não foge nem bate com o agressor, senão que sua resposta é um "mix" onde enquanto se desloca para adiante, evita o choque direto com seu oponente, mas aceita de bom grau o contacto (por essa razão fica perto do atacante, sem o evitar completamente). Parece absolutamente simples, mas posso lhes assegurar que é bastante difícil de realizar quando o ataque é realizado com intenção (não de machucar, P á g i n a 73


senão de atingir a cabeça do defensor, inclusive com pouca potência). É um comentário muito comum que recebe qualquer professor de Aikido muitíssimas vezes em decorrência de suas Aulas: Vendo-o, parece tão fácil, mas eu não consigo fazer..... Como já detalhei antes, o cérebro processa e analisa as coisas, isso não implica que por esse entendimento (puramente intelectual) acha captado e aprendido a forma de realizar o movimento no campo da realidade, e muitas vezes, requererá um grande esforço para conseguir realizar corretamente o movimento. Muito especialmente por que sempre sentiremos uma pequena voz vindo do mas profundo de nosso ser que nos diz: Para que tanto esforço, se realmente isto é uma tolice que eu entendi desde a primeira visão que tive dela? Começamos a introduzir-nos num dos princípios gerais muito falados e pouco compreendidos das Artes Marciais:

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Nosso maior aliado e nosso maior inimigo

O inimigo real não existe, nosso maior aliado ou inimigo está dentro de nós mesmos.

Note-se como a maior dificuldade neste simples exercício é a de poder deixar de lado a voz de nossa consciência que nos incita a abandonar e poder continuar treinando até que possamos desenvolver o exercício, não só o entender, senão poder fazer ele. Aqui aparece, outra das grandes causas, que fazem que o sistema de educação através das Artes Marciais seja excelente para o aperfeiçoamento de nossa personalidade e do manejo das emoções. Não se considera algo aprendido, só por entendê-lo ou poder explicá-lo. P á g i n a 75


Considera-se aprendido somente quando podemos faze-lho, e se considera totalmente aprendido quando sejamos capazes de executar ele em qualquer condição, sobre qualquer terreno e contra qualquer oponente (seja este físico, mental, social, sentimental ou espiritual). Para fechar o conceito de Irimi, gostaria muito estender do conceito, explicado até agora dentro do terreno do Aikido, a outras situações. Existe um atacante que tenta golpear a cabeça de um defensor que executará o Irimi. Este atacante pode ser nosso chefe no trabalho e o golpe pode ser um pedido de mais trabalho e/ou uma redução de salário. O atacante também pode ser um funcionário baixo nossa responsabilidade que decide vender informação de nossa empresa para a concorrência. O atacante pode ser um de dois cônjuges que chega à casa de mau humor e o ataque pode ser:Não me importa o que aconteceu na casa, estou de muito mau humor, tive num dia horrível no trabalho e não quero que me incomodem. O atacante pode ser um delinqüente real que nos espera numa esquina para nos golpear e poder nos roubar. P á g i n a 76


O atacante pode ser um companheiro de estudos de nosso filho, que decide o incomodar durante todo o dia, todos os dias. O atacante pode ser uma doença. Não importa qual seja a situação, podemos (e devemos) extrapolar, a simples lição do laboratório de Aikido à vida diária e suas circunstâncias, é aí onde o conhecimento adquirido mediante o treinamento, terá sua razão de ser. Por isso falamos de Budo = educação através das Artes Marciais e não de uma luta de rua nem de um estilo de conselhos de auto-ajuda. As perguntas, antes citadas como grandes dilemas, podem ter uma resposta intuitiva baseadas na aplicação na vida de todos os dias dos princípios que estamos a estudar. Agora, leve em conta, que é muito provável que as respostas que você encontre, sejam válidas somente para você e não possam ser generalizadas para satisfazer buscas de outras pessoas. Não estudamos uma ciência exata, estudamos gente, sentimentos, emoções e níveis ocultos de consciência, advirto desde já que este é um caminho P á g i n a 77


para percorrer absolutamente sozinho, alÊm que ele nos ajude para melhorar todas nossas relaçþes trabalhistas, sociais e familiares.

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TENKAN - Girar sobre nosso centro sem desequilibrar-nos. Ter a mesma visão que nosso oponente antes de decidir a direção a seguir.

A vida quotidiana é o caminho.

Joshu perguntou a Nansen: Qual é o caminho? - A vida quotidiana é o caminho respondeu Nansen. É possível estudá-la? Perguntou Joshu. - Se tentares estudá-la estará bem longe dela disse Nansen. Se não posso a estudar, como saberei qual é o caminho? Perguntou Joshu. - O caminho não pertence à percepção do mundo explicou Nansen, também não pertence à falta de percepção do mundo. A cognição é um engano e a não cognição carece de sentido. Se desejares atingir o verdadeiro caminho, além da dúvida, situa-te na mesma liberdade que o céu. É muito difícil separar o princípio de Tenkan do princípio de Irimi, aliás, normalmente se fala de Irimi-Tenkan como um movimento só. Já detalhamos que Irimi significa entrar, agora bem, P á g i n a 79


entrar pode ser bater defronte contra o golpe ou o problema e já sabemos que não é isto o que estamos procurando. É interessante observar como o movimento do Irimi mais o Tenkan (e mais adiante, a técnica completa) podem se descrever como um OITO (8) deitado ou uma dobre hélice, forma que também representa à molécula de DNA ( Acido Desoxirribonucléico) O Tenkan costuma ser explicado como um giro ao redor do movimento externo, mas em realidade é bastante mais que isso. Deve-se realizar um giro de 180 graus e inverter totalmente a direção de nosso movimento até igualar a direção da solicitação externa, mas tudo isto sem bater nem tentar mudar a direção dela e virando sobre nosso centro.

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Tende-se, quando há interação , por exemplo, entre duas pessoas a tomar o ponto de contato como centro comum aos dois corpos e movimentos para virar ambos com eixo nesse centro comum. Isto faz que ambos os corpos sofram igual força centrífuga em direção oposta ao movimento desejado. Deve transformar-se o centro próprio no centro do movimento de ambos. Isto é: mediante o Irimi, devemos anular parte da potência do ataque, esta anulação ou diminuição da potência externa, simplesmente fazendo Irimi ocorre por várias causas.

Que ocorre ao fazer Irimi?

O melhor modelo para explicar o que realmente ocorre ao fazer Irimi é de origem física e psicológica. Como atacantes temos um objetivo (neste caso, bater com nossa mão adiantada a cabeça de alguém que está em frente a nós, a um passo de distância, aproximadamente). Nosso sistema de "piloto automático" calcula a P á g i n a 81


distância, a potência necessária para completar o deslocamento e a ação, o tempo necessário para subir a mão e para baixá-la sobre a cabeça do outro. Nosso cérebro em base a nossa visão e percepção do espaço (na qual se usam todos os sentidos, por exemplo, os mecanismos do ouvido interno para avaliar nosso equilíbrio) foca o movimento, isto é, calcula como chegar ao lugar determinado no menor tempo possível com a maior potência. Por milhares de comportamentos herdados e aprendidos, conhecemos a reação comum de qualquer um que é atacado desta maneira (retroceder, se deslocar de lado, levantar uma mão para se proteger, etc.) e esperamos que o outro executasse alguma destas ações conhecidas. Este esperar faz parte do modelo que nosso cérebro utiliza antes de executar o ataque. E variando de acordo à experiência prévia de cada um, durante o desenvolvimento dele, esperamos pequenas "micro-ações" e ficamos preparados para atuar de diversas formas, segundo o acontecer dos fatos. Todo este processo é puramente automático, o reconhecimento que as coisas saem como esperávamos brinda-nos uma confiança e segurança que se refletem P á g i n a 82


na qualidade de nossa execução e que normalmente descrevemos como eficiência, experiência e qualidade. Nossos comportamentos aprendidos e herdados indicam-nos que há duas possibilidades de ação ante um ataque externo, fugir ou lutar. Consideremos que o outro, realiza um Irimi, não está nem fugindo nem brigando, senão se movendo para o centro de nosso movimento, com o ângulo justo e exato para não bater conosco. E que coisa acontece quando nos encontramos que ao executar um ataque contra outro, não obtemos dele a reação que esperamos? Tudo isso, que antes descrevemos como experiência, desaparece, não somos capazes de seguir realizando nosso movimento com o "piloto automático". Vemo-nos obrigados a corrigir o foco no caminho e sabemos que nossos cálculos prévios de tempos, deslocamentos e potência, já fracassaram. Ainda podemos corrigir o desenvolvimento do movimento e inclusive golpear a cabeça de nosso adversário, mas sem a potência nem a efetividade que esperávamos. P á g i n a 83


Mas as inevitáveis leis da física (princípio de inércia, etc.) e certos princípios mais sutis de nossa psicologia, fazem que nosso movimento continue, inclusive com nossa mente querendo parar. Ou seja, gerou-se um desequilíbrio ou dês-harmonia entre o que quer nossa mente (frear, corrigir, retroceder) e o que nosso corpo efetivamente continua fazendo (acelerar, avançar, bater).

Suki, encontrando um espaço na defesa

Este desequilíbrio em nosso ser é o que nas Artes Marciais é conhecido como Suki ou abertura da guarda. Gerou-se uma abertura por onde se pode atacar, sem que o outro tenha uma possibilidade razoável de resposta efetiva. Em muitos antigos sistemas de combate, esta abertura foi usada para destruir ao outro, atacando-o depois de gerar o suki. Nas modernas Artes Marciais, esta abertura é utilizada P á g i n a 84


para controlar ao outro, de ser possível, sem danar-lo, já que se o suki foi bem gerado, e nosso movimento segue centralizado o outro não oferece nenhum perigo para nós. O Tenkan é o elo que une ao Irimi com o resto da técnica. Geração do desequilíbrio com a execução da técnica até conseguir imobilizar ou deslocar ao agressor. O Tenkan é muito mais que girar, é visualizar o mesmo que visualiza o agressor. É sentir o que sente o agressor é esquecer rápida e totalmente o Irimi para concentrar-nos no resto da técnica e não perder nosso centro.

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AIKI - União e Harmonia. Unificar para ir juntos

As portas do paraíso

Um Samurai apresentou-se ante o mestre do templo Zen e perguntou-lhe: - Existem realmente o inferno e o paraíso? - Quem és tu? - Perguntou o mestre. - Sou um guerreiro samurai... - Teu um guerreiro? - exclamou, mas olha-te bem, quem vai crer em ti? E quem vai querer ter-te a seu serviço? Tu pareces um mendigo! A cólera apoderou-se do samurai. Pegou seu sabre e iniciou a ação para tirar ele da bainha. O mestre continuou: - Ah! Inclusive tem sabre!. Mas seguramente és demasiado torpe para poder cortar-me a cabeça. O samurai levantou seu sabre disposto a golpear ao mestre. Nesse momento, este lhe disse: - Aqui se abrem as portas do inferno. Surpreendido pela segurança calma do Mestre, o samurai guardou o sabre e inclinou-se respeitosamente. P á g i n a 87


- Aqui se abrem as portas do paraíso! Depois do processo de Irimi-Tenkan podemos afirmar que dominamos a situação sem perder nosso equilíbrio, sem machucarmos nem machucar ao outro. Conseguimos unificar nossa direção, potência, visão e inclusive nossos sentimentos com os do atacante. Fizemos desaparecer as noções de atacante e defensor, realizamos o grande objetivo de todas as Artes Marciais, a eficiência absoluta não há nenhuma possibilidade mais de perder (também não de ganhar) por que o mesmo conceito de ganhadorperdedor deixou de fazer sentido. Para um ganhar, alguém tem que perder, para atacar, alguém tem que ser o objetivo é preciso criar uma separação entre os atores para gerar uma ação que depende de ambos.

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Agora estamos num terreno absolutamente novo, onde não podemos falar de atacante e defensor. Agora só existe um ente atacante-defensor com uma dinâmica e psicologia própria. Um centro de equilíbrio físico-emocional

Um centro, que é nosso próprio centro, e uma consciência própria que unida à sensibilidade permite realizar a próxima etapa conhecida também como Controle Conducente. Todas as técnicas que se realizem de aqui em adiante, terão como objetivo, não perder nosso centro e não separar, conduzir o movimento resultante das forças e direções envolvidas, das posições relativas de cada corpo, sendo responsáveis por obter o controle destas resultantes, sem que se perca a conexão. P á g i n a 89


Não é simples e neste ponto nascem todas as teorias que geram a concepção das Artes Marciais orientais, o Zen Japonês, o Chi Kung Chinês, o Taoísmo como algo mágico, sobrenatural ou pior ainda, como uma pseudociência. Onde se tentam analisar e avaliar as técnicas aplicadas como se fossem teoremas matemáticos e os deslocamentos e ações humanas como se só fossem corpos físicos sem emoções nem sentimentos. Qualquer movimento de aqui em adiante é válido, desde que, conserve o centro próprio e permita manter a união conseguida. Para isso será necessário conhecer técnicas específicas baseadas em trajetórias circulares, espirais, utilizar a visualização do corpo às vezes como um quadrado (estabilidade) às vezes como um triângulo (direção) e às vezes como uma esfera (mobilidade). Utilizar as forças geradas pelas trajetórias circulares (centrífugas e centrípetas).

Aprender a cair sem machucar-se e voltar a parar-se rápido, percebendo à queda, não como uma derrota, senão como a continuação lógica dos princípios antes P á g i n a 90


detalhados. Treinar com Armas, fazendo destas extensões naturais de nosso corpo. Observar e aprender da Natureza que é o único grande Mestre que brinda todos seus conhecimentos a quem se detém a observar.

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ZANSHIN - Atenção flutuante. Mover-nos sem permitir que a mente se detenha em coisa nenhuma. Bokuden e seus três filhos

Boduken grande mestre do sabre, recebeu num dia a visita de um de seus colegas. Com o fim de apresentar a seus três filhos ao amigo, e mostrar o nível que tinham atingido seguindo seu ensino, Boduken preparou uma pequena ação: Colocou um jarro sobre o borde de uma porta deslizante, de maneira que este caísse sobre a cabeça daquele que entrasse na habitação. Calmamente sentado com seu amigo, ambos em frente à porta, Boduken chamou a seu filho maior. Quando este se encontrava diante da porta, se deteve. Após tê-la entreaberto, pegou o jarro antes de entrar. Entrou, fechou a porta por trás dele, colocou de novo o jarro sobre o borde da porta, e saudou aos mestres. - Este é meu filho maior - disse Boduken sorrindo - Já atingiu um bom nível, e vai em caminho de se P á g i n a 93


converter num Mestre. A seguir, chamou a seu segundo filho. Este deslizou a porta e começou a entrar. Esquivando por um fio de cabelo o vaso que esteve a ponto de lhe cair sobre a cabeça, conseguiu pegar ele no ar. - Este é meu segundo filho. - explicou ao convidado Ainda lhe falta um longo caminho por percorrer. O terceiro entrou precipitadamente e o jarro caiu-lhe sobre o pescoço, mas dantes de que tocasse o solo, tirou da bainha seu sabre e, com um golpe só, o partiu em dois. - E este - acrescentou o Mestre - é meu filho menor, é a vergonha da família, mas ainda é jovem. O Zen e as Artes Marciais

As Artes Marciais devem grande parte de seu desenvolvimento a um tipo de filosofia-meditação muito desenvolvida em Japão conhecida como Zen. O Zen como método postula que devemos nos sentar e deixar os pensamentos passar, sem os analisar e sem ir-nos atrás deles. Como método para descobrir quem está por trás de nossos pensamentos e qual é a função da corrente que P á g i n a 94


une constantemente um pensamento a outro. Vivemos num constante diálogo conosco mesmos que nos impede ter uma visão clara da realidade. A busca do Zen é quase a mesma busca das Artes Marciais, a visão clara e a atenção flutuante que não se detém em nada, que vê tudo e nunca fica fixa no passado nem projeta para o futuro. Pensem em que importante é para um guerreiro o poder conseguir um estado de ânimo desse tipo, já que para ele, uma distração é morte quase segura. Essa cercania e possibilidade verdadeira e real de morte em qualquer momento é o que levou no passado aos guerreiros a estudar o Zen e, no caso particular do Aikido, a formar quase totalmente seu fundamento teórico. O Zen é a imobilidade total do corpo unido a uma mente sem ligações e que pode se mover e reagir em qualquer sentido e em qualquer momento. As Artes Marciais são a imobilidade total da mente com um corpo que pode se mover livremente em qualquer sentido e em qualquer momento. Assim analisando desde nossa vida diária, é fácil perceber que este tipo de personalidade seria extremamente útil nestes dias de mudanças P á g i n a 95


permanentes, avances tecnológicos e relações familiares e trabalhistas que mudam mês a mês, tratando com extrema dureza a quem não consegue se adaptar às mudanças. O estado final que propõem quase todas as Artes Marciais como indicador de que alguém é um especialista num determinado sistema, é ter passado por todos os estados que tratamos neste estudo, mantendo todo o aprendido num passo ao passar ao outro. Como síntese final e resumem poderíamos dizer:

Estrutura de aprendizagem das Artes Marciais.

1 - Encontrar nosso centro de poder e aprender a usá-lo (Ki - Kokiu). 2 - Unificar nosso corpo com nossa mente utilizando o conceito de centro de poder e a respiração como ferramenta de unificação (Aiki). 3 - Manter nossa unificação Mente-Corpo enquanto interagimos com outra pessoa, tentando também nos unificar com seus movimentos e intenções. (IrimiTenkan)

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4 - Conduzir o movimento resultante de ambos ao redor de nosso centro (Aikido). 5 - Uma vez conseguidos os passos anteriores, estendêlos para mais de uma pessoa, começar arealizar nossa atividade consciente do médio ambiente que nos rodeia, sem que nada nos distraia e com nossa atenção livre para poder processar informação de qualquer lado, sem perder nenhum dos passos anteriores. Este estado é conhecido como Zanshin e é a meta mas ambiciosa do estudo sério de qualquer Arte Marcial, abre o caminho ao estudo dos fundamentos da defesa pessoal mas ambiciosa , que compreende perfeitamente que só triunfa, quem melhor conhece e lê o terreno onde se desenvolvem as ações.

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Anexo 1- Um futuro nas escolas de Artes Marciais? Porque não continuam crescendo as escolas tradicionais de Artes Marciais e como são afetadas pelas mudanças rápidas do mundo moderno?

Eu sei que este é um tema muito polêmico e espero que possa transmitir ele com clareza. Depois da explosão do Judo, do Karate, do kung-Fu, do Taekwondo e logo do Aikido e o Jiu-Jitsu, cada um deles impulsionado por algum filme, ator ou noticia nos jornais. Cada um deles tive sua década de "moda" e crescimento até seu substituído por outra novidade. Deixaram, estruturas, professores, mestres e alunos organizados em escolas que após do ápice do crescimento, foram saindo da mídia e ficaram estagnadas quando não desapareceram de vez.

A sociedade da internet quer tudo já e de graça. A psicanálise, por exemplo, já sofreu de esta tendência onde os pacientes não querem se comprometer em tratamentos longos, caros e que requerem que o paciente se comprometa fortemente.... Todos sabem que para solucionar grandes problemas se requerem grandes esforços, mas aparecem constantemente tanta publicidade de terapias rápidas, mágicas, baratas e sem esforço, que quase P á g i n a 99


ninguém quer suportar o esforço para conseguir suas metas. No caso das indústrias do entretenimento e música isto já ficou bem claro... Hoje os músicos não tem ganhos pela venda de seus CD´s através das companhias senão através de suas apresentações em direto e em shows. As músicas podem ser até baixadas de graça na internet. Será que as Artes Marciais (e o ensino de Artes no geral) também vão seguir um modelo assim? Hoje quase tudo ser obtido na internet, textos, opiniões, técnicas, análises além dos endereços e características de cada escola. O único que não pode ser obtido assim é a experiência, não seria lógico que os mestres ou professores realizem seminários e palestras com participação oferecendo para o aluno uma experiência real do que se pode obter na Arte? Com objetivos claros e humildes e com possibilidade de ser atingidos numa única experiência. A gente que somente estivesse procurando por uma experiência ficará satisfeita e a gente que quisesse aprofundar nestes conhecimentos vai se matricular numa escola formal, que P á g i n a 100


ainda continuará a existir somente para os que realmente desejem fazer esforços para apreender. Ou seja, uma mistura de informação obtida na internet, com experiência real repassada de pessoa a pessoa onde muitos dos participantes vão colaborar com novas idéias nascidas da sua experiência, outros partiram para o ensino formal e outros simplesmente decidiram não continuar.

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Anexo 2- Arte marcial para defesa Pessoal? Treinando alguma Arte Marcial podemos ter 100% de certeza de agir da melhor forma possível no caso de ser atacado o tentar defender outro numa situação de violência?

A resposta é: Não Por que? Quase não existe 100% de certeza em nenhuma atividade humana. Podemos estar mais ou menos treinados para algumas situações, mas nunca para todas elas. Podemos estar 90% seguros de nossa capacidade de resposta ante uma situação inesperada, mas se o 10% restante, nos estressa constantemente, provavelmente essa angustia seja muito mais perigosa para nossa saúde física e mental, que a probabilidade, remota, de nos deparar com uma situação violenta nos moldes das que sabemos resolver. Mas, o treinamento regular de qualquer Arte Marcial seriamente, pode nos trazer soluções onde menos são esperadas.

Vou contar uma experiência pessoal que para mim, explica melhor o tema que milhares de palavras que tentem explicar isto P á g i n a 102


intelectualmente.

Minha experiência Quando tinha aproximadamente 25 anos e com mais de 10 anos de treinamento em Karate e 5 em Aikido, ainda solteiro, viajava um Sábado na noite, da minha moradia suburbana, para o centro da cidade. Para chegar lá, precisava pegar um ônibus e logo o trem. Caminhava de frente para a estação do trem, sozinho pela rua, perpendicularmente a estação que também estava quase vazia, somente tinha uma pessoa de sexo masculino esperando trem para o lado contrario ao centro. E justo apareceu o trem no sentido bairro (contrario ao centro), não desceu nenhum passageiro, e o trem continuou seu percurso. Enquanto isso eu, estava fortemente necessitado de urinar e sabia que o banheiro público estava somente no lado dos trens centrobairro (que de fato era o lado que ficava mais perto de mim). Me sentia desesperado, pensando que não chegaria ao banheiro, P á g i n a 103


mas ainda assim, senti que "alguma coisa não estava certa" em toda a situação e escolhi caminhar mais 100 metros, me desviando da direção que originalmente tinha, para usar o banheiro de uma lanchonete na avenida. Depois de satisfazer minha urgência, voltei tranqüilamente para a estação (os trens somente passavam cada 40 minutos e ainda tinha tempo...) comprei minha passagem e fiquei olhando para o lado de frente onde estava a plataforma para os trens centro-bairro. Ainda me incomodava o fato, de ter caminhado quase 100 metros demais, somente por um "impulso" sem muitas razões lógicas. O cara que tinha visto, ainda continuava na plataforma, sozinho... E chegou outro trem no sentido centro-bairro. Dele desceu um cara jovem, também sozinho, que caminhando rapidamente, entro no banheiro da plataforma, atrás dele entrou também o cara que esperava desde antes. Passaram mais de 5 minutos e ninguém saía do banheiro (o qual é bastante estranho num banheiro publico masculino) e decidi, por curiosidade, comentar isso com o cara que vendia as passagens do trem. P á g i n a 104


Ele, rapidamente, ligou à policia e me comentou que isso era muito comum nas ultimas noites: Um cara estava dentro do banheiro com uma arma, e outro fora, quando o trem deixava um passageiro e ele entrava no banheiro, o cara de fora também entrava e entre os dois rendiam e seguravam ao outro, roubando seus pertences e exigindo dele que não deixasse o local até que o trem próximo deixasse a plataforma. Eles esperavam, esse trem chegar, subiam nele e repetiam toda a ação noutra estação. Eu tinha me salvado por muito pouco.... Mas, qual foi a "mágica" que falou para meu instinto, que inclusive com a urgência quase desesperada de usar o banheiro me fez caminhar mais 100 metros, sem nenhuma razão lógica? Sem nenhuma razão lógica? Não tão assim..... Por que o cara que esperava o trem, não pegou ele, estando sozinho, sem aspecto de esperar por ninguém e sabendo que nas noites a freqüência era tão ruim? Existia uma lógica, para não passar perto dele, embora não fosse detectada diretamente pela minha consciência, alguma coisa me alertou que "algo não estava certo" e me fez agir contrariando minha necessidade mais imediata (ir ao banheiro mais próximo). P á g i n a 105


Sempre achei que esse tipo de "confiança no instinto", de acreditar nele, inclusive sem muita lógica, foi desenvolvido em anos de treinamento marcial, tentando "ler" o comportamento de meu adversário no treinamento de técnico nas aulas. Percebi com clareza, que mais que saber-me defender o importante era apurar esses instintos, para "não estar no lugar onde podem aparecer os problemas" e se era inevitável, pelo menos estar preparado. O seja: Eu nunca treinei Artes Marciais, para desenvolver a minha segurança pessoal somente, treinava por muitas outras coisas, sendo a principal delas que realmente "gostava muito de treinar". Mas o investimento de anos e anos de treinamento, trouxe uma "conseqüência colateral inesperada" que, chegado o momento me ajudou a preservar minha integridade física, e nem sequer tendo que lutar!! A conclusão e que sim, as Artes Marciais podem servir para a defesa pessoal, mas pegando estradas bastante tortuosas, quase nunca no sentido que nossos esperávamos e somente depois de anos e anos de treinamento, sem uma garantia de 100% de efetividade. P á g i n a 106


Mas, em meu casso, não somente foi bom, senão que me deixo uma clara resposta à essa pergunta que quase todos os Artistas Marciais sempre tentam responder, no que faz respeito a efetividade de seu treinamento.

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Anexo 3- Workshop dos princípios AIKI Uma experiência pratica dos princípios das Artes Marciais.

Objetivos Passar uma visão moderna, simples e objetiva da aplicação dos princípios das antigas Artes Marciais japonesas, visando que os alunos experimentem diretamente e sem riscos estes princípios em diversas situações.

Princípios AIKI •

Sentir o próprio CENTRO, o equilíbrio mente-corpo centralizado no ponto gerador de energia do corpo o HARA.

Se concentrar no "aqui e agora".

Manter o CENTRO sempre.

O corpo segue a mente. Primeiro é a intenção, e logo o corpo vai atrás.

Encontrar a abertura na guarda do adversário.

A continuidade do movimento só é possível, existindo a mesma continuidade na mente.

Se fosses empurrado, cede e logo vira. Se fosses puxado, deixa-te levar e vira.

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A vitória real se obtém antes ainda de iniciar o confronto.

Obter o melhor resultado com a menor quantidade de força e movimento.

O verdadeiro inimigo e o verdadeiro aliado, somente existem dentro de nós mesmos.

Não se concentrar em parte nem ação nenhuma, a atenção deve flutuar livremente de uma coisa para outra sem nunca parar.

Programa: 1. Abertura, apresentação do instrutor e dos alunos 2. Descrição dos objetivos 3. A Disciplina 4. Hara, perceber o próprio CENTRO 5. Exercício deitado 6. Zazen, exercício sentado 7. Qi-Gong, exercícios respiratórios 8. Aiki-Taisho, exercício em movimento 9. Suki - Abertura da Guarda 10. Irimi Tenkan - Entrar e Virar 11. Marubashi - Ponte de Vida 12. Kihon - Técnicas 13. Gyaku Nikkyo - técnica após ser pego 14. Zanshin - Atenção flutuante P á g i n a 109


15. Iriminage - técnica antes de ser pego 16. Técnicas contra múltiplos atacantes 17. Fechamento e conclusões finais

Os participantes percorrem um caminho que partiu de um desejo de conseguir experimentar certos princípios teóricos para chegar a experimentação real desses princípios. Em menor ou maior grau cada um deles vai comprovar que para resolver esses paradoxos, pelos quais parece, que todo o que temos que fazer depende sempre de outros conhecimentos que somente se podem experimentar se dominamos o problema inicial. "um cão perseguindo seu próprio rabo" A resposta é experimentação direta. Isso é o que podemos salvar e aprender das antigas Artes Marciais e dos métodos como Yoga ou meditação ZEN. Acho que inclusive todas as ARTES percorrem esse caminho e preenchem um vazio que a lógica e a ciência não podem solucionar. Esse método pode ser muito utilizado e estendido para pensar e agir com outros modelos como: •

Encontrar o Centro de uma empresa.

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Manter a distância justa com seus clientes.

Cultivar a harmonia da família.

Fazer irimi-tenkan com o destino.

Compreender a competição colaborativa.

Lidar com esse exame que não conseguimos superar.

Como resolver conflitos fazendo desaparecer o inimigo.

Apoiar nossa saúde, respirando corretamente, com uma boa postura e sabendo "fazer desde o Centro"

Utilizar o princípio do KI substituindo a força bruta.

Treinar guardas, seguranças e policias para controle e transporte de detentos com segurança e sem provocar danos neles.

Sistemas de treinamento baseados na saúde para a terceira idade.

Sistemas de treinamento fechados para grupos laborais.

Treinamento em controle para professores/as de escolas e pessoal de transporte.

E muito mais. Para estas e várias outras situações, os princípios Aiki nos podem prover de um novo modelo onde experimentar nossa criatividade para resolver problemas que parecem impossíveis pelos caminhos padrão.

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Sobre o Autor: Nascido em 1961 em Buenos Aires - Argentina, Claudio Marcelo Budnikar, desde os 12 anos sempre permaneceu ligado ao mundo das Artes Marciais, passou pelo Sipalki, Karate, Taekwondo e o Aikido disciplina que ainda treina, estuda e ensina. Seu trabalho nas áreas de tecnologia da informação o relacionou com leituras de divulgação científica especialmente com os livros de Orson Scott Card (O jogo de Ender), Douglas Holtsfater (Godel Escher e Bach) e Richard Dawkins (O gene Egoísta) que influenciaram muito fortemente suas idéias sobre as Artes Marciais com sistemas de ensino, aprimoramento da personalidade, da saúde e a integração corpo-mente. Estes tipos de leituras, junto com estudos do Zen e a filosofia das Artes Marciais, tentando também uma visão moderna das antigas tradições orientais nos dias de hoje, são as sementes deste trabalho que simplesmente visa levar para as pessoas comuns, uma visão particular das Artes Marciais.


Claudio Budnikar mora hoje me Florianópolis - Santa Catarina Brasil e ministra aulas de Aikido Tradicional, junto com exibições, palestras e Workshops para empresas e particulares sobre as aplicações dos princípios das Artes Marciais. Comunicação: Claudio Marcelo Budnikar email: zanshinaikido@gmail.com Blog: http://artesmarciaishoje.blogspot.com

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