O vôo da coruja Percepções sobre a mediocridade ATENÇÃO!
O amor
Caleidoscópio O que o homem esqueceu tá na rua vazia numa madrugada quente na vinícola calabresa na janela vermelha, em Amsterdã O que o homem esqueceu tá amontoado no poste em sacos pretos abarrotados de farsa e necessidade em um enorme continente chamado África O que o homem esqueceu tá na heroína de Hollywood em cada flor arrancada para redimir um pecado O que o homem esqueceu é que a flor é morta e o jardim decepado na santa pedra do menino o craque da sé O que o homem esqueceu tá no chão rachado do agreste em Chaplin, Fidel e Gandhi no bueiro entupido, no punk num decadente pub irlandês O que o homem esqueceu tá no fundo gelado do oceano em baús de ganância na camisinha jogada na ruína Azteca no blues de Nova Orleans, em Cartola O que o homem esqueceu tá no espelho quebrado no sangue do punho num caleidoscópio de horrores à sua frente, todos os dias
Qual é a pergunta? Anda, responda! Anda, pergunte! Qual é a resposta? Pseudoanarcopop Indienewjunkie Anti-pós-modernidade nagô? Sub-fruto cartesiano de consumo? Preste atenção nesta promoção incrível! Você não pode perder! Deixe de ser ignorante já! A oportunidade da sua vida! Vende-se um pensamento! Parcelado em 4 anos Sem juros Sem autonomia Não perca esta oferta! A verdade a preço de banana! Grátis, um retalho filosófico, lindíssimo Excelente para limpar sua merda! Mas espere! Você ainda leva este enorme consolo bi volt, Para quando você cansar da academia Tomar um choque de realidade, em casa! O quê você está esperando? Faça parte da transformação! Nós vamos mudar o mundo! Agora, só falta você!
O beijo da morte Hoje conheci o fim Escolhido a esmo No ventre urbano Prazer, HIV Sem opção, encarado O olho da víscera Um soluço seco Um dedo no cú Ah, este pro seco Chope gelado, escalope O papaia, o cassis O damasco É alto este galho Estreita esta copa O cuincho opressor Bando de macacos! Cheira, arroto nojento À teoria, vinho, gravata Satisfação é culpa Quando se beija a morte Vaidade empanturra! Toda vida no ninho É cheia de dor É deus consagrador
Pra quê ir pro pau? Monte seu próprio GT! Seja o agente, e não o alienado! Ligue agora, e peça o kit: Pensamento + Retalho filosófico + GT Por apenas: NADA! Sim, foi o que você ouviu. NADA! Porque a universidade é púbica! E a contradição fica lá fora! Seja feliz pensando que pensa! Seja direita, seja esquerda ou mesmo centro! Aceitamos negros, judeus e muçulmanos Pobres ou ricos Porque aqui dentro, a diferença é legal! Cansado da ladainha do papai? Da conversa evangélica do mendigo fedido? Com medo do traficante nóia da sua rua? Seus problemas acabaram! Bata no peito e diga: - Eu penso! Eu sei! E você compreenderá todos eles! Só razão, sem preconceito! Não perca esta oportunidade! Tenha em pouco tempo autoridade moral! Ligue para os nossos burocratas Mas ligue já! Antes que nossos estoques acabem!
*Não nos responsabilizamos caso a universidade seja vendida!
Ciência, emprego, prisão Templo, propriedade, fé Eclode solidão Desta regra desmedida Ah, miséria ocidental! No seu vazio Não cabe o final das coisas O silêncio e a paz Não há fim desejado para a satisfação Não há fim desejado para o sofrimento Não há fim desejado para a culpa Não há fim desejado para deus Não há fim desejado Se não há liberdade Não há fim desejado Se há fim imposto Pela noite, pelo dinheiro Pelo homem, pela vida
Alguém para Amar ache o autor de cada uma das frases abaixo 1 – Borges, eu o admiro tanto... gosto tanto do que você escreve... mas você brinca com os entrevistadores e as entrevistas... fala besteiras que eles levam a sério. – Que besteiras? – O que você acabou de declarar sobre os negros, por exemplo... você diz que são inferiores aos brancos. – E são. Você nunca olhou, nunca sentiu o cheiro deles? 2
A Reinaldo Azevedo – um chato de galochas. B Maria Aparecida – o chinelo na mão, o avental todo sujo de ovo.
A mulher é a parte ruim da buceta. C
3 As crianças amam o Führer alemão, temem a Deus do Céu e desprezam o judeu. 4 – Neide é cearense, é a minha empregada. Balança o copo de uísque toda noite, na minha frente, ajoelha e aí bate um boquete cariado. Neide é orelhuda. O gelo bóia, dá pra apoiar o vidro naquela cabeça chata. Neide é feia, mas é barateira. 5 Bebe essa porra, bicha nojenta. 6
José Carlos – pedreiro. D Brenda Scott americana,aposentada, alzheimer.
Lorscheider – acometida pelo
nortemal de
E Monsenhor Lauro Roberto Camargo de Toledo – um dos sacerdotes de Aparecida. F Jorge Luís Borges – argentino, magnata telecomunicações e almofadinha.
das
Vamos lá, baixinhos. Vamos ao reino encantado das fadas.
Vitor Queiroz cabramalteia.blogspot.com
Nosso Partido é Alto. Legenda: Fundo de Quintal. Tava vendo na néte uma entrevista do Zeca Pagodinho ao Jô – de quando ele deixava seus entrevistados falarem. Lá pelas tantas o Jô manda a pergunta fatal: “Zeca, qual a diferença entre pagode e samba de partido alto?”. “Bem, Jô, pra cantar pagode tem que ter ginga, tem que saber improvisar...”. “E partido alto?”. “Também...”. “Mas então é igual?”. “É igual mas é diferente...”. Tô com Zeca: é igual mas é diferente... Quando a gente escuta, toca, ou canta um pagode e um partido alto, sente a diferença. Não sei explicar nem entender, mas dá pra sentir... Aí me perguntam: “Então porque você faz questão de chamar de Pagode?”. Primeiro, tem o significado do termo: pagode é uma festa com música, geralmente moda de viola ou samba... música de pobre, feita por amadores – ou seja, por amor à música, não ao dinheiro. É uma festa em que a galera se sente parte da coisa, cantando, dançando e/ou batendo na mão... no caso do samba, sempre rola da galera ir pegando um ou outro instrumento e tocando junto mesmo... Não é plateia, é a razão da festa... é a diversão. Mas tem outro ponto que me motiva a chamar de Pagode; a provocação. Quando vem neguinho me dizer que “samba é bom, pagode é um lixo”, aí eu fico puto mesmo. Dá pra sacar na hora que tipo de gente é essa: uma gente que não entende nada da coisa... uma gente que não se sente tocada pelo batuque... que escuta dois sambistas foda – sempre gente morta – como mero consumo... consumo cult... consumo pra dizer que gosta... come sardinha e arrota camarão... gosta tanto de Cartola quanto de Beatles, Dostoievski ou de cinema francês... Tanto faz... Nem liga se gosta... liga no que os outros vão pensar... no tipo de conversa que vai poder ter com o tipo de gente que também gosta assim... Tanto faz o conteúdo, o que importa é a fitinha... Bota um monte de coisa diferente no mesmo rótulo (samba=bom) e outras coisas muito diferentes noutro (pagode=ruim) sem perceber que a distância entre coisas que chamam de samba (entre Noel, Caymmi, Adoniran e Monarco, por exemplo) é muitas vezes maior do que aquela existente entre esses e o que chamam de “pagode” (como Fundo de Quintal e Zeca)... Sem falar na gigantesca diferença entre Martinho, Exaltasamba, Só pra Contrariar, Karametade e Art Popular, todas igualmente rotuladas de “pagode”. Mas eu quero mesmo é falar de outra coisa, que tem a ver com o uso nada inocente de palavras para discriminar pessoas e atitudes. Tinha prometido pra mim mesmo que não ia escrever sobre eleição e que ia lá dar meu periódico voto nulo em paz com a minha consciência... não resisti. Não ando lendo jornal, mas foi pegar um e ver a abundância da (a)crítica suja pra me emputecer... Tenho completo nojo de todo o processo eleitoral e da democracia qual ela existe, mas não posso deixar de externalizar a minha repulsa pelo modo como essa gente encara a coisa. Sobretudo quando a escória dos (de)formadores de opinião brasileiros se metem a falar de “populismo”. Não vou entrar no mérito do uso histórico e teórico do termo, porque é muito controverso e, principalmente, muito chato. Gostaria só de chamar a atenção para um fato: sempre que você ler uma acusação de “populista”, observe como a única coisa que tá sendo acusada é que esse sujeito tá fazendo alguma coisa pra pobre. Tudo que é pra pobre é “populista”. Mano, se isso for ser populista, tomara que todo mundo o seja... Você, que acredita nesse troço de eleição, por favor, não se engane. Todos os governos são para os ricos. Alguns deles dão umas migalhas pros pobres. Há quem se contente com isso. Eu não. Provavelmente porque eu não passo fome, mas, por mais que eu tente me colocar no lugar de quem passa, eu não consigo. São as minhas contradições de classe (média cada dia mais baixa)... Eu queria acreditar na papagaiada democrática. Não consigo... Seria de bom-tom terminar com alguma citação de algum partideiro sangue-bom pra você não achar que eu escrevi tudo aquilo só pra encher linguiça, mas fiquei tão brocha com esse assunto, que prefiro me calar. Vai escutar por você. Vai num pagode, num bem amador.. aí, sim, você poderá sentir as semelhanças e as diferenças e entender que a importância da roda de samba está para muito além de se o som é bom ou ruim. Se o camarada tocando o cavaquinho é ou não é um virtuose formado em Tatuí. O negócio é muito mais embaixo... é reunir gente que se gosta, pra fazer coisas junta, se divertir junta, “construir” junta... viver um gozo democrático. Nos tempos chatos em que vivemos, isso, sim, é uma coisa revolucionária... Smac Peixe,
pagodeiro do Pagode do Souza e jogador de futsal procurando uma pelada
A ESPERADA ENTREVISTA!! Na MISÉRIA NÚMERO UM publicamos a HQ A BANCÁRIA E O VAGABUNDO – UMA LINDA HISTÓRIA DE AMOR. Como sempre fazemos, colocamos os créditos da história em letras miúdas pra que os leitores pensem “esses caras da Miséria são foda! Criativo os meninos, viu? Cada idéia que eles têm!”. Mas não. Aquela história não nos pertence. Foi uma adaptação vagabunda e mal feita do conto “Besunte meu pau com óleo lisa” do escritor polonês Mieczyslaw Walessa. Opa! Deu pau de novo aqui no computador... Agora, caro leitor, mais do que a repetição da HQ, mais do que a reprodução do conto, vocês lerão a esperada entrevista com o escritor polonês. Ele veio passar uma semana no Brasil em janeiro de 2010, onde nos concederia a entrevista. Acometido da Influenza A (H1N1) teve que esperar um bom tempo em terras tropicais. Sarou, foi ficando, ficando, e pretende ficar mais um tempo, inclusive como colaborador dessa Miséria que você usufrui agora. A entrevista foi realizada no apartamento do Batata, em Angra dos Mieczyslaw Walessa 51 anos Reis. Participaram da entrevista o cartunista Ricardo Flóqui, o poeta, burocrata e coruja Sir Corugerson Hernandez de Barros, o artilheiro Peixe, o trombonista João da Silva, o radialista da Mulher do Malandro Sergio Silva, a baiana Maltéia, a cantora Tessy Pri, o estudioso de janelas Chico e o fumador de cigarros Luizão. O anfitrião Batata recebeu Walessa com o tradicional Alkoryba, destilado polonês a base de anchovas, mas Mieczyslaw prefere cerveja mesmo. A entrevista teve tradução simultânea de nosso amigo Gaspar Manolo, tradutor da Cambridge University e da agência Reuters. João – Mieczyslaw Walessa, primeiramente gostaríamos de sab... Mieczyslaw Walessa – Me chame de Law. Não gosto do meu sobrenome, não gosto de formalidades, aliás esse sobrenome me rende problemas até hoje... Flóqui – Por conta do seu irmão, né? Law – Aquele pulha (risos). Isso mesmo. Minha irmã também não é grande coisa.(mais risos) João da Silva – Mas voltando. Gostaríamos de saber... Gaspar Manolo – Eu não quero saber nada. Sou pago pra traduzir. Batata – Mal pago por sinal. (risos) João – Queremos saber como foi sua infância, adolescência, o que te despertou para literatura? Law – Nasci em Szczecin, noroeste da Polônia. Uma infância comum de filhos de ferreiros poloneses. Minha família havia sofrido os traumas da invasão alemã, depois viveu sob regime do partido único, comunista (Partido Operário Unificado Polaco – POUP). Eu nasci quando o regime estava perdendo apoio popular. Na minha adolescência, a população, incentivada pela ilusão do mundo das maravilhas do ocidente, já queria se livrar desse regime e viver os prazeres do consumo. Mas nessa época eu só batia punheta. Chico – Pensando em quem? Em quem? Law – Principalmente em Chava. Chava Kuncewiczowa, professora de Sociologia. Falava de Marx, Lênin, tentando colocar alguma coisa que prestasse na cabeça dos alunos. Mas eu só olhava suas tetas. Sir Corugerson – Mas era muito ruim viver sob o regime comunista? Law – Cês são o quê? Sir Corugerson – Como assim? Law – Essa revisteca 1 tem que linha ideológica? Batata – É diversificada... Acho que... Law (interrompendo) – Por que se cês forem mais um desses liberaizinhos de merda que querem me ouvir falando mal do comunismo e elogiando as reformas capitalistas na Polônia eu paro essa merda agora. Aliás, quero falar mais de literatura e putaria. Tenho uma questão pra vocês: por que tem umas Brahmas melhores que as outras? Chico – Dizem que a de Agudos é melhor que a de Jacareí, mas não sei não... Law – Respondendo ao gordão ali. Era ruim sim viver sob o regime comunista da Polônia. Aliás, comunista nada, né? O que tinha lá era um capitalismo de estado muito do vagabundo. O que tinha de bom eram os direitos básicos para população: alimentação, vestuário, moradia, saúde. E de ruim: burocratas do partido vivendo vida de barão enquanto a maioria da população continuava escrava do trabalho. E trabalhar pra sustentar patrão é uma merda, né? 1
revisteca foi o melhor termo que encontrei. O termo que Law usou em polonês é lina kiepski tani, que quer dizer, revista ruim, barata, de má qualidade, sem graça (G..Manolo).
Maltéia – Daí veio o Solidarnosc... Law – Daí veio o Solidarnosc 2 . Que no começo foi muito louco. Na época eu – incentivado pelo Lech, meu irmão mais velho, a diferença nossa é de 15 anos – estava aprendendo o ofício de eletricista. Mas o que eu gostava era de ler putaria. O acesso à pornografia explícita na época era muito difícil, então eu lia alguns escritores poloneses e russos. Um dia eu participei de uma ocupação de fábrica em Gdansk, e depois que elegemos a comissão de fábrica que ia negociar com um capanga do general Jaruzelski 3 , fiquei lendo um livro de contos eróticos pra uma boa parte dos operários. Daí pensei: “porra! Eu deveria escrever umas paradas assim e vender por aí...” Tessy Pri – Em que ano foi isso? Law – Isso foi em 1981 ou 82, eu tinha meus vinte e poucos anos, mas já tinha vivido bastante coisa nas tabernas de Trojmiasto 4 . Nessa época já existia o Solidarnosc, meu irmão já estava preso, e o movimento contra o POUP crescia. Mas não sei. Não via com bons olhos nada daquilo. Se sobrava revolta e rebeldia, faltava sexo, faltava amor. Sobrava também uma ode ao consumo. Tinham os operários mais firmeza que queriam um mundo com igualdade e liberdade. Mas tinha uma grande parte que queria virar estadunidense. Obesidade mórbida e liberdade de ver seriados na TV que indicam até a hora que você deve rir? É isso que todos queriam? É isso que todos querem hoje? Porra!! Eu não quero um partido me explorando com seus burocratas de foice e martelo, mas muito menos essa porra que é hoje, compreende? Como chama essa revista do Brasil que tem em todas as salas de espera de consultórios médicos? Peixe – Veja... Law- Isso, Veja. Gaspar Manolo – Seria tipo Widza em polonês. Law – Isso, essa Widza de vocês. Quando tava me curando da gripe do porco lia sempre essa bosta. Que porra é essa? O que eles querem? Dizer que a liberdade tá nos Estados Unidos e na Europa e que o Chavez e o Morales são a merda!! A merda do mundo existe principalmente por causa do Estados Unidos, claro. Não digo os líderes – líder quase sempre é ruim, né? –, mas o que querem os bolivianos e os venezuelanos? Querem ter uma vida própria. Querem liberdade e igualdade. Não esse padrão de vida doentio dos ianques que vai criando uma massa de obesos tristes e outra massa de pobres famélicos. Agora, prometo que não falo mais de política. Meninas, sentem aqui do meu lado, vou dizer um negócio pra vocês. A bosta quem fez foram os homens, isso, os do sexo masculino... Tessy – E eu não sei... Maltéia- Claro... Law – Por que vocês acham que minhas personagens são todas mulheres. Sempre em primeira pessoa, sempre agentes da situação. Porque isso você quase não vê na literatura polonesa, nem na russa, acho que nem da do Brasil. Sergio – É difícil mesmo... Law – A coisa q mais gosto é me imaginar mulher, gostosa, abrindo as pernas, agindo, não sendo uma passiva carola que só dá pro marido pra se reproduzir. Alguém ganha alguma coisa com isso? Esse padrão que a igreja criou rende alguma coisa pra alguém? Todos perdem! O homem e a mulher perdem... Peixe – O que você achou da adaptação do conto “Bezunte meu pau com óleo Liza” feito pela Miséria? Law – Querem mesmo saber? (Risos) Batata – Opa... Law – Então, vocês focalizaram só na ode ao não-trabalho e esqueceram da putaria. Na verdade a essência do conto não é a vontade da bancária de não trabalhar, mas todo conflito mental dela com a vida do vagabundo, a vontade de se relacionar com ele, o processo da inveja que ela teve do vagabundo ao tesão por ele. O conto é isso. A melhor parte vocês não colocaram (risos). João – Podemos publicar o conto na íntegra no próximo número? Law (não ouvindo a pergunta) – Quando li a número 1 até gostei do Vantuir. Mas falei: “ih... esses muleques tão beirando a obviedade, adaptaram um conto meu nesse número, no próximo só faltam adaptar o Bukowsky...” Dito e feito.(risos alcoolizados) Maltéia – O quadrinho tem uma linguagem diferente do conto. Você lê quadrinhos? Law – Onde é o banheiro? Cerveja é foda...
A SEGUNDA PARTE DA ENTREVISTA VOCÊ CONFERE NA MISÉRIA NÚMERO 5!!! 2
Solidariedade, em português.
3
Wojciech Witold Jaruzelski,(Kurów, Polônia, 1923) foi um político e militar do Partido Comunista da Polônia. Ocupou os cargos de primeiroministro (1981-1985), chefe do conselho de estado (1985-1989) e presidente da Polônia (1989-1990).(Fonte: Miseriapedia) 4
Trojmiasto: região norte da Polônia com mais de um milhão de habitantes. Abrange três cidades: Gdyn, Sopot e Gdansk.
O bicho e a celebridade Aquilo estava lá, em frente a ela. O que era? Era meio verde, meio cinza e se mexia. Em que classificação poderia se encaixar aquele bicho horrendo? Mas analisar aquela terrível criatura, ver suas gosmas, seus tentáculos, suas anteninhas, não era o pior. O pior agora era imaginar que aquilo estava em um prato e seria a próxima refeição dela. Ao ver aquela situação começou a se lembrar. Lembrou do início da carreira, de quando conseguiu a primeira vaga naquela agência, quando fez o seu primeiro book. Recordou-se do momento em que conseguiu aquelas fotos naquela revista. Quando começou a namorar aquele jogador e aparecer nas primeiras capas de revista de fofoca. Ao ver o rastro melequento que deixava o bicho ao se locomover lembrou do seu auge: aquela primeira participação, em uma novela das sete. A conseqüência, evidentemente, foram os vários ensaios sensuais. Aquilo lhe rendeu uma grana boa e muitos convites para camarotes, festas, entrevistas na TV e muitos flashes. Outra novela veio, uma propaganda de cerveja, outra de chinelo, outra de protetor solar. Dinheiro, carro, casa de vista para o mar, implante de silicone, lipo e cada vez mais fama. Ao perceber que havia uma colher próxima de sua mão, lembrou do tempo em que tinha uma agenda lotada. Não tinha tempo para nada e ao sair da rua sempre tinha que fugir dos paparazzi. “Como isto poderia acontecer? Eu tinha tudo! Tinha fama! Era Vip!” Mas aconteceu. O esquecimento (ou “geladeira” se preferir) é cruel. Quando menos se espera você é uma estrela do passado ou o que é pior: uma celebridade de segundo ou terceiro escalão. No início, a luta para reverter este quadro fornece a sensação de que a volta ao topo é possível. Mas com o passar do tempo o único lugar em que a pessoa aparece é em quadros como: “Por onde anda fulaninho de tal”? Depois de alguns anos afastada, porém, ela teve uma boa chance. Um programa de auditório com jogos entre famosos. A esperança voltou aos olhos dela. Passou o dia no salão de beleza, usou os seus últimos tostões para comprar um vestido preto que há anos olhava no shopping. Horas antes se maquiou e estava preparada para brilhar mais uma vez (ou pelo menos pela última vez). Mal sabia o que era o programa, o que deveria fazer. Ao chegar sentiu todo o glamour. Não era muito complicado, mas para ela era como uma entrega de Oscar. Começou a conversar com a produtora que lhe passava todas as instruções. Foi quando lhe falou. “Bichos? Insetos? Comer?” Pois é, a grande loura teria que participar de várias provas e uma delas era o “grande desafio” de comer algumas coisas gosmentas que se mexiam. A primeira sensação foi óbvia: de repulsa, nojo, náusea. A segunda foi a confirmação de sua decadência. Uma grande celebridade nunca precisaria fazer isso. Comer insetos aos olhos de milhões de pessoas, gerando alguns pontos de audiência para emissora era papal de quem precisava muito aparecer. E ela precisava. Por um momento pensou em deixar o estúdio. Sair daquilo tudo e tentar outra vida. Balconista, talvez. Mas não foi isso que fez. Deu um sorriso e perguntou: “quando começamos?” “Será que ela conseguirá comer este inseto, auditório? Enquanto isso eu vou mostrar uma revolução em imagens feita por esta fantástica câmera digital”. E ela, estava lá. “Vamos, eu tenho que fazer isto!” Sem pensar (ou respirar) engoliu aquilo. Descia por ela aquela estranha coisa que se mexia na sua garganta. “Pronto, fiz!” Mas aquilo não durou muito tempo dentro dela. Rapidamente colocou tudo para fora, vomitando a sujeira de sua exposição. Câmeras filmavam, pontos na audiência subiam. “Auditório! Ela vomitou tudo! E eu tô acho que o almoço foi também!” O cinegrafista mostrava o grotesco da poça verde que ficava no chão do estúdio. O Ibope subia e ela voltava a ser comentário. No dia seguinte, um adolescente chega da aula e corre para o computador para ver aquelas fantásticas imagens que estavam no You Tube. Já eram mais de dois mil acessos.
Gabriel de Barcelos (http://sessao.wordpress.com)