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REBOCO C A Í D O n° 3 APERIÓDICO 2011

Por: Fabio da Silva Barbosa


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Editorial No final de 2010, intensifiquei meu trabalho de entrevistas e consegui um material muito bom. Gostaria de colocar todas aqui, mas como não é possível, sorteei algumas. Para ler todas, basta entrar no blog (www.rebococaido.blogspot.com). Intercalando Alexandre com as entrevistas, estarão algumas viagens. Umas novas, outras mais antigas... Espero que curtam. FSB

O Passeio

UM ANO DE BERRO

Por: Fabio da Silva Barbosa 365 dias de fúria Passei pelo Centro da Cidade e lá estava ela de novo. Dona Miséria, com sua cuia estendiPara adquirir o seu da e suas pernas feridas. Senhora Perdição exemplar, basta acessar o passou por ali também. Seu corpo possuía a site da sensualidade que só o mau tem. Muitas triEditora Independente: bos se encontravam por aquele pedaço: Os Alcoólatras, os viciados, os Opressores... www.editoraindependente.com.br Vivendo a tranquilidade de sua guerra pacífica, que não espanta mais ninguém. Sou um A SAGA DO dos que se sente a vontade no Centro da Cidade. Aquela multidão de caras sem rostos JORNALISMO LIVRE se acotovelando furiosamente, cheiro de ESCRITOS óleo queimado, fumaça negra saindo dos caDESORGANIZADOS nos de descarga e tomando o ar. Cheiro de DOWNLOAD GRATUITO NO futuro. É um clima confortavelmente confliSITE: www.koosb.com/home.php tante. Prédios encardidos, sujeira se acumulando pelos cantos... É o centro. É ali onde se aglomera tudo que o homem conseguiu construir em toda sua existência. O ser humano deve ficar orgulhoso de ver o resultado de seu crescimento... De sua evolução... Não sou mais humano. Não sei mais o que é isso. Só me sinto a vontade no centro do caos. Sinto-me em casa. Agora Dona Miséria está comendo macarrão azedo no lixo, com um monte de crianças chorando a sua volta. Maldita Dona Miséria. Boa tarde Madame Contatos: J, Luxúria. Que bom vê-la por aqui. Pera aí... Niterói, R , 0 5 0 0 0 1 Olha quem vem lá. Meu grande amigo Ócio. : m POSTAL 4020-971 s p o t . c o 2 P Vamos agora mesmo voltar algumas quadras. CX E C , il Bras log Acabei de dar um belo passeio por esse do.b i a c oco jardim do inferno. Quero te mostrar algumas fsb1975@ .reb w w flores novas. w

yahoo.com.br


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Wander Wildner troca uma idéia Por: Fabio da Silva Barbosa Sempre com estilo próprio, esse gaúcho manda seu recado. Que recado é esse? Espera aí que ele vai falar. A partir de um determinado ponto de sua carreira, as letras de protesto foram se distanciando de suas composições. WW: Nos Replicantes, quem fazia as letras era o Gerbase, eu interpretava e essas letras e músicas eram resultantes da soma de cinco pessoas e suas idéias. Depois, na minha carreira solo, tudo é resultante só da minha visão, e o tempo passou e eu estou em fase de crescimento, por isso outras abordagens e assuntos. Os movimentos juvenis que seguiam uma tendência Européia e Norte Americana estão buscando sua própria cara. Seria isso que você também busca através de sua carreira solo? WW: Não sigo nenhum movimento, apenas meus passos, minha sombra, meu caminho. Sigo meu espírito livre. O Replicantes foi uma banda que marcou sua carreira. O que aconteceu nas idas e vindas da banda? WW: O que aconteceu foram muitas coisas que estão na história da banda, que ficou documentada em discos, vídeos e dvd’s. Qual a principal diferença que se observa no seu público da época do Replicantes e o de hoje? WW: São outras pessoas, noutro tempo, que vão aos shows porque gostam das minhas músicas. As diferenças são circunstanciais.

Você sente maior liberdade de criação na fase atual do seu trabalho? WW: Não, pois sempre tive a mesma liberdade. O que é a liberdade? WW: É ser livre. Fazer o que se quer, respeitando os outros. E o amor? WW: O amor é um sentimento de união e respeito entre as pessoas. O que é a vida? WW: Vida é o que ganhamos quando nascemos. Daí seguimos vivendo, usando do nosso livre arbítrio, e adquirindo consciência. Líquido sólido ou gasoso? WW: Saquê, frutas ou maconha. Cheiro, sabor ou cor? WW: Jasmim, morango ou amarelo. Constante ou mutante? WW: A vida mutante. Para gritar: WW: Berro!


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DEVOTOS Por: Fabio da Silva Barbosa No bairro Alto José do Pinho, Recife, surgiu, em 1988, o Devotos do Ódio (atual Devotos). Não teve dificuldade capaz de parar essa rapaziada. E olha que não foram poucas. A banda está até hoje na ativa e tive a oportunidade de estabelecer contato com o vocalista, Canibal, que me concedeu uma entrevista. Valeu Canibal. A banda sempre foi marcada por sua iniciativa e pela postura “Faça você mesmo”, inclusive tendo construído seus primeiros instrumentos com sucata. Na verdade, o que queríamos era nos expressar através da música, como não tínhamos grana para comprar os instrumentos, o Neilton montou sua guitarra e o Celo, com a ajuda do seu primo Lee, montou uma bateria. Algumas bandas da época nos davam força, dividindo os ensaios ou emprestando os instrumentos. Bandas como: Cambio Negro HC, SS-20 e Moral Violenta. Não queríamos que essa história de fazer os próprios instrumentos virasse a principal história da banda. Uma banda pobre, do morro, que para tocar fez seus próprios instrumentos. O que queríamos, na verdade, era ter os instrumentos dos nossos sonhos e realizamos isso depois de nove anos de banda, quando gravamos o 1º CD. Agora tá valendo. A mídia sensacionalista fode a cultura do subúrbio. Cultura não tem classe social, mas eles fazem questão de separar. Tem toda uma fantasia nessa

parada de fazer os instrumentos, mas há coisas mais importantes que ninguém fala. Ex: Somos uma banda de Punk Rock HC e moramos no Nordeste do Brasil, onde não se tem apoio para nosso estilo. Nem de mídia, nem de lugares para tocar. Recebemos propostas de morar em SP. Para nosso som seria melhor, mas resolvemos ficar aqui em Recife. E já se fazem 22 anos. A indústria cultural tem como característica transformar tudo em produto descartável. Como resistir a tentação do lucro fácil e manter um trabalho autêntico? Quando uma banda tem caráter, não tem como ela fazer diferente. Não rola. O movimento mangue é um exemplo disso. A maioria das bandas colocou tambor, fizeram um som diferente e só ficou quem realmente tinha aquilo no sangue. Para uma coisa dar certo, você tem que ser original e verdadeiro. Você pode até mudar para agradar ou ganhar uma grana, mas não vai demorar muito para a máscara cair. O que você destacaria atualmente na cena cultural independente? CONTRATAQUE - palcomp3.com/ contrataque e-mail: banda_contrataque@hotmail.com PLUGINS - www.myspace.com/ pluginsband Além da banda, que todo mundo conhece, ouvi falar sobre alguns outros projetos em que você está envolvido. Sempre fizemos projetos sociais aqui na comunidade. Nós, do DEVOTOS, junto com outras bandas e amigos, montamos uma ONG chamada Alto Falante. Não temos


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sede. A maioria das ações são feitas na rua. Em 2002, tivemos ajuda do DAD, uma ong Alemã, junto com a Fase, e montamos uma rádio comunitária, onde todos da comunidade podem participar, fazendo programas ou mandando informações. Essa rádio, na verdade, é uma difusora. São caixinhas que colocamos nos postes e transmitimos a programação. Tipo aquelas rádios de interior, tá ligado? É muito difícil conseguir concessão da Anatel para fazer funcionar uma rádio comunitária. Eles só dão concessão as Igrejas e aos políticos. Mas, para nós, que queremos realmente fazer valer o estatuto das rádios comunitárias, não conseguimos ter concessão. Mas, também, qual governo quer instruir seu povo sobre suas leis, seus deveres e seus direitos? Quanto menos soubermos, melhor para quem quer fuder esse país. * Esse ano, fui para Santiago de Cuba participar de um debate sobre a impontância das rádios comunitárias * Esse ano, também finalizamos um projeto chamado Jardim Periférico, onde fomos em 5 comunidades aqui de Recife e região metropolitana para dar enfaze a importância das rádios comunitárias e falar um pouco sobre como uma banda como DEVOTOS sobrevive por mais de 20 anos.

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* O jornalista Hugo montaroyos escreveu um livro chamado DEVOTOS 20 ANOS, falando sobre a banda, claro, mas falando também sobre o movimento no Alto José do Pinho. Tem depoimento do Faces do Suburbio, Matalanamão e alguns moradores e produtores que conhecem a banda e o movimento cultural aqui na comunidade. Esse link fala um pouco do livro e também da nossa viagem para a Europa, que rendeu um vinil chamado Victoria: http://www.revistaogrito.com/page/blog/ 2010/08/09/devotos-20-anos-de-hugomontarroyos/ www.myspace.com/oficialdevotos Aí tem fotos e videos da tur. Por que o Devotos do Ódio virou Devotos? Para ganhar dinheiro. Não é isso que a maioria das pessoas que não nos conhecem pensam? Só digo uma coisa: Você pode mudar seu nome, mas não pode mudar seu caráter!!!! O que a galera que curte o som de vocês pode esperar daqui para frente? Tem alguma novidade em andamento? O DVD que gravamos aqui no Alto José do Pinho. Já vai fazer dois anos que estamos tentado editar, mas agora vai!!! Esse video é tirado dele: http://www.youtube.com/ watch?v=In—WIYft28


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O único que não estava com pressa Por: Fabio da Silva Barbosa Algumas pessoas passavam apressadas, dando meia olhada. Não olhavam muito tempo para não sentirem a obrigação de ajudar... Fazer alguma coisa... O corpo estava estendido no chão. Será que estava vivo? Será que estava morto? Ninguém sabia, mas também não tinham tempo para saber. Três dias depois, alguém reparou na repetição da cena... O mau cheiro no ar... Ligou do orelhão para não ter de esperar ambulância ou algo do gênero. Algumas horas depois, o corpo estava coberto. Lá pela noite estava sendo removido dali.

PARA REFLETIR Por: Rubem Zachis Fui comprar água Falei pro mano que, aqui, eles desligam a água no termostato Passou de 35° a água fecha Mas, é porque moro aqui Se mudar, isso vai junto comigo Ele não entendeu Eu disse: Difícil captar a mensagem, né? É pra refletir Bom dia! Receita para fazer um poema dadaísta: Por: Tristan Tzara Pegue num jornal. Pegue na tesoura. Escolha um artigo do tamanho que você deseja dar ao poema. Recorte em seguida, com atenção, algumas palavras que formam esse artigo e mete-as num saco. Agite suavemente.Tire, em seguida, cada pedaço, um

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Como melhorar o mundo Por: Murilo Pereira Dias Uma pergunta ao sujeito objeto Superficialidade por olhar de cima Falta integridade em um quebra cabeças onde não percebemos a nossa falta O mundo está impregnado e regredindo A evolução contínua é vida repentina Corpos não mais evoluirão E as mentes buscando um sentido para se enganar Em todos os opostos há a certeza A certeza é a nossa dúvida Duvida da vida Duvida enquanto vive E como saber se estão aceitando por apenas uma lágrima um estímulo ou uma raiva Ou açoitando com uma faca Forjando a escada Fechando a porta para fugir pela janela A ambiguidade nos faz fugir a dupla realidade do que é tudo aqui dentro de que ordem além do Sol possa me ocultar sobre nosso eu Eu de... Eu que a nós demos o eu de eu a nós Nos demos ou Demos nos deram nós Do Deus e eu demos de eu que somos Nós ah.. Nós somos Deus que deu a nós mesmos o nosso eu após o outro. Copie, conscienciosamente, na ordem em que as palavras são tiradas do saco.E assim temos um escritor infinitamente original e de sensibilidade fascinante, mesmo que incompreendido.


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Wagner Teixeira e o Anormal Zine Por: Fabio da Silva Barbosa Tragoatévocêsoresponsávelporumveículodecomunicaçãoímparnoquedizrespeito a criatividade e atitude.WagnerTeixeira, criador doAnormal Zine. Porquefazerumfanzine? E por que não fazer? rsrsrs. O fanzine é a expressão máxima da liberdade criativa. É um espaço onde a pessoa pode fazer o que quiser, colocar o que quiser, se expressar sem qualquer tipo de censura, sem precisar se preocupar com vendas, com aceitação do público, com manipulação de editores... Em um fanzine, a pessoa pode manifestar sua verdadeiraopinião,oucriaraquiloqueelarealmentegostariadecriar.Nãoconsigoentender aqueles que insistem em NÃO fazer fanzines. ComonasceuoAnormalZine? Desdecriançatenhoohábitodecriarcoisas:histórias,personagens,maluquicesdiversas. Umadessasmaluquiceseraumprojetodeumarevistatotalmentesemsentido,dehumor escrachado,quecontrariasseasexpectativasdoleitor.Quandodescobriosfanzines,percebi que poderia transformar essas idéias em publicações, que poderiam ser compartilhadas comoutrosquetambémmaterializavamsuasinsanidades.Nestemomento,oAnormal Zinetomouforma.Masoseuembriãojáexistiapraticamentedesdequesaídabarrigade minha mãe e comecei a absorver o mundo e regurgitá-lo. Observeiseusquadrinhoseacheigenialacoisadefazerosquadradoscomonomedoque eles representam na estória. Isso possibilita quem não sabe desenhar a fazer quadrinhos beminteressantes.Comosurgiuessaidéia? Surgiu exatamente da minha vontade de fazer quadrinhos e não saber desenhar. rsrs. ComoapropostadoAnormaléapresentaralgodiferente,acheiinteressanteodesafiode "desenhar" uma história. Eu queria, de certa forma, provar que qualquer um pode fazer HQs, mesmo quem não desenha. E também é um contra-ataque a essa tendência atual desupervalorizaraformaeesquecerdoconteúdo.Namaioriadaspublicaçõesatuaishá uma preocupação gigante com a estética, às vezes de forma exagerada, enquanto o roteiroédeumapobrezaabsoluta.Ouseja,setantagenteporaíquenãosabeescreverfaz roteiros de HQs, é justo que quem não sabe desenhar também possa ilustrar HQs. rsrs. Agoravocêestáorganizandoumzinecoletivo. Pois é; a idéia desse zine é que todos os participantes atuem conjuntamente em todas as etapas de produção.Assim, todos ajudam na edição, na distribuição, na divulgação... É um zine meio anárquico. Os participantes colaboram com o material que quiserem, da formaquequiserem.Nãohárestrição.Podeserqualquercoisa.Oúnicopedidoseriaque cadaumseesforçasseemcadaetapadaproduçãoenãoficasseesperandoafiguradeum editor fazer tudo. Quem se interessar e quiser saber mais, pode entrar em contato via email: nyhyw@yahoo.com.br ou acessar o grupo: http://br.groups.yahoo.com/group/ zinecoletivo/


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Alémdoszines,existemoutrosprojetos? No momento, estou voltado aos zines e administro o blog PartesForadoTodo:http://partesforadotodo.blogspot.com/. Mas,projetosnãofaltam:filmes,bandademetalextremo, livros, eventos, e a dominação mundial. Aos poucos chegaremoslá. ExisteprevisãoparaolançamentodopróximoAnormal? OAnormal não seria oAnormal se fosse previsível. Pode ser amanhã, pode ser nunca mais... OAnormal é como aquela turma de parentes chatos, que aparece de repente, justamentenaqueledomingoquevocênãoquerfazernada, nem receber ninguém.Aúnica certeza é que o próximo Anormalviráemumformatodiferentedosdemais,seguindo sua caótica tradição.

ÚLTIMO LACAIO

Ao Mensalão ilho eiroz F u Q : r Po

Por: Diego EL Khouri

Sebostanocongressofedearodo, Maisdoqueacaganeiradasegunda, E a História da Política se afunda Sobummardeporra,mijoelodo, ComobomBrasileiroeumefodo Risonho,alevarumpaunabunda Doodiosoautordacorjaimunda, QuedeitouerolounoPaístodo: - Dirceu, o braço direito do Inácio, Que se antes lhe fosse seu mindinho, Bem logo, o perderia, fácil, fácil!... Poisfezco'excelentíssimocarinho De a podridão mostrar de seu palácio, Dizendo:-Souinocente...émensalinho!...

Tudo tudo morto - arruinado -. Sou um anjo frio sem pecado. Um deus subalterno e sem caralho. Homem morto torto e embriagado. Sou um ser que não acredita em mais nada. Um masoca de cara amarrotada. o filho do hermético e do soldado. Um ventre podre e nenhum pouco ritmado. Sou um poeta sem arma e sem gráfica, sem talento e sem verdades, alguém que perdeu de vez a vontade de sentir essa torpe saudade. Alguém que perdeu o AMOR e a liberdade e te xinga dentro da eterna falsidade.

“Encontrei na essência a chave para a liberdade, iluminação e evolução. Renasço todos os dias que abro a porta do meu coração.” RenataMachadoSetti


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O direito a sátira Por: Fabio da Silva Barbosa Os irmãos Lino e Mário Ito Bocchini criaram o site Falha de São Paulo. Até aí, nenhuma surpresa. Todo mundo faz sites hoje em dia. Mas, qual foi a surpresa deles quando, com menos de um mês de existência da Falha, tiveram de tirar o site do ar e se viram envolvidos com um processo aberto pela Folha de São Paulo de mais de 80 páginas, exigindo pagamento por uso indevido da marca. O mais preocupante de tudo é que essa atitude pode abrir precedentes para outras que viriam a inviabilizar recursos da comunicação como a sátira. A sátira é justamente uma piada feita com algo ou alguém que existe. Já vimos outras formas de pressão sobre artistas, como a sofrida pelo grupo Planet Hemp, com o pretexto de apologia ao uso de drogas. Será que a liberdade de expressão ficará sempre em segundo plano? Para quem não conhece, conte sobre o que seria A Falha de S. Paulo. Era uma paródia, um blog que criticava a Folha de S.Paulo de forma dura e abertamente cômica. Hoje, estamos proibidos pela Justiça de divulgar o conteúdo, mas alguns outros blogs reproduziram alguma coisa. Pra ver, precisa caçar por aí... O porque de criticar a Folha de S. Paulo? Como se deu a escolha pela crítica a Folha e não a outros veículos, como O Globo? Escolhemos a Folha porque muita gente ainda acredita que o jornal é moderninho, imparcial. Há um senso comum que ouço desde a época da faculdade que diz que o Estadão é “de direita”, e a Folha, “mais moderna”, seria “de esquerda”, o que é obviamente uma bobagem. A Folha é tão conservadora e partidária quanto o Estadão,

com a desvantagem de ser muito mais hipócrita. Finge na maior cara lavada que não tem suas preferências políticas e editoriais. Sobre O Globo, eles merecem também! Fica a dica para outro amigo que esteja disposto a encarar um processo (“O Bobo”, “O Grobo”?...). A Folha de S. Paulo alega que o processo não seria censura, mas sim uso indevido da marca. Isso procede? Não. Fosse apenas essa a questão, como eles alegam, eles não teriam pedido e conseguido também uma liminar cassando o endereço direto no Registro.br e nem estariam nos cobrando dinheiro. Fora que “uso indevido da marca” é algo muito vago. O Bussunda fazia uso indevido da imagem do Lula, por exemplo?.. Se for para ir pela lógica da Folha, serão milhares os processados, eles próprios, inclusive, por conta das charges do Angeli e de colunas do Zé Simão, entre outros. O Glauco Mattoso, por exemplo, nos anos 70, tinha o Jornal Dobrabil, que era um fanzine cujo nome fazia alusão clara ao Jornal do Brasil. Isso, em uma época em que a liberdade, pelo menos na teoria, era bem menor. Como entender que em pleno 2010 uma sátira possa incomodar tanto? É a prova cabal de que a Folha é uma empresa antiga, gerida por pessoas com ideias ultrapassadas e que segue uma lógica datada. Não adianta fazer propaganda com ator ouvindo jazz e usando gola rolê ou estar no tal do iPad se você tem saudades da ditadura, se você ainda não entendeu o que é a internet, a crítica, a paródia. O “Jornal do Futuro” é do futuro só na sua publicidade. O Roberto Carlos se sentiu incomodado e


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conseguiu tirar sua biografia de circulação. A Xuxa não queria macular sua imagem e sumiu com o filme "Amor, estranho amor". A impressão é que a liberdade de expressão está sempre em segundo plano, principalmente quando algo incomoda quem tem grana. Se eu, que vivo uma situação financeira precária, em um momento de desespero, assaltar um supermercado e minha foto sair na primeira página de um jornal, alguém daria ouvidos se eu reclamasse meu direito de imagem? Acredito que não. É óbvio que num episódio assim ninguém dará a menor pelota para você. Basta ver o que acontece quando um jornal ou uma TV noticia um crime cometido por um pobre: Eles não têm o menor pudor em pôr a cara do infeliz pra todo mundo ver, chamam de “bandido”, “assaltante” etc. Mas, quando o envolvido é de classe média ou alta, sempre é tratado com todos os cuidados, qualificado como “suspeito”, seu rosto é preservado etc. A liberdade de expressão no Brasil não está ameaçada pelo governo, conforme a turma que está por cima da carne seca da comunicação vive reclamando. Está, sim, ameaçada por eles mesmos e pelo resto do pessoal da grana. É aquela história: Liberdade irrestrita de expressão? Claro, mas para a minha turma. Qual a principal função do "Desculpe a nossa fAlha"? Denunciar a barbaridade da Folha, mobilizar as pessoas contra esse processo, que é um atentado contra toda a internet brasileira, e ainda nos dar um espaço para falarmos sobre os assuntos que a Justiça ainda nos permite. Considerações finais: Acho sempre bom ponderar que o grande problema desse ataque da Folha é o precedente que ele abre. Se eles ganharem essa na Justiça, abre-se uma jurisprudência

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horrorosa de coerção ao livre direito de se expressar, que pode inclusive voltar-se contra eles próprios. Outro ponto é como uma atitude dessas mostra claramente que os jornalões, a mídia tradicional, não estão preparados para o novo momento da comunicação brasileira, mais livre e capilarizada, principalmente com a Internet. A Folha vem com essa peça absurda de censura e os demais mostram que também não estão preparados ao ignorar solenemente o assunto, evitando mesmo de noticiá-lo.

DECLARAÇÃO DE AMOR Por:Egibson Um favor? Morre. E poupa-me da tua presença cretina Dos caramelos hipnóticos Dilacerantes! Do meu ódio faminto, do meu tesão salivante. E daí que o pau é teu!? Se ele não for capaz de preencher minha ânsia, que sirva ao menos aos vermes lascivos Que rastejarão por teus escrotos corroendo tuas verdades Carcomendo a arrogância. Morre vai! Antes que o serviço eu mesma faça Com lágrimas nos olhos... cravado na mandíbula servido em pedacinhos sorvido em único gole Por favor, amor... Morre.


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Salve. Chega aí. Por: Fabio da Silva Barbosa É nesse clima de camaradagem que convido Alexandre Mendes para compor nosso quadro de entrevistados dessa série que busca registrar o caminho que a cultura alternativa e independente vem tomando. (Marginal só para quem está fora. Para nós, essa cultura é o centro. O foco.) Um cara com quem já tive o prazer de passar por muitas e ainda passaremos por outras. Com certeza. Vamos começar falando do "Gambiarra" e do "Nada". O Gambiarra fiz nas minhas férias, momento de absoluta liberdade para mim. Como não tinha tinta na impressora, resolvi fazer a mão. Daí veio a idéia do nome do zine. Os textos estão colocados em diversas posições, lembrando o crescimento demográfico desordenado, dentro das favelas. O "Nada- Ensaios filosóficos do profeta Nihildamus" foi feito no momento em que estava sobrecarregado de trabalho. O ceticismo sobre o futuro é visível no zine. Antes de toda essa ação nas comunidades carentes do Rio de Janeiro você já tinha feito um quadrinho que falava sobre o aumento da pressão por causa dos grandes eventos que vem por aí. Adivinhação ou pura lógica? Reprimir grupos ou indivíduos que exerçam atividades prejudiciais a arrecadação do Estado é o objetivo principal da repressão generalizada, criada pelo governo. Os camelôs e os topiqueiros são perseguidos também. Tal fato sempre me pareceu óbvio. Basta prestar atenção na maneira que os políticos agem. E a série de vídeos "Vida de Cobrador"? Os vídeos foram feitos com cobradores de ônibus entrevistados, comentando os

problemas dentro da função. Devo ressaltar que o ofício de cobrador de ônibus está em extinção, assim como foi o fim dos maquinistas de trem. Você acabou de se formar em História, então faça uma reflexão sobre todo esse caos vivido pelas camadas menos favorecidas economicamente do ponto de vista do historiador. Pobres sempre existiram. O desejo de dominar é constante no pensamento humano, em diversas sociedades e períodos. No Brasil, as sesmarias e depois os latifúndios, apoiados pela Lei de Terras de 1850, demarcaram nosso território, criando agrupamentos sociais atendidos de formas diferentes pelo Estado. A indiferença e a omissão do Estado, frente as favelas, propiciaram a formação do poder paralelo. O investimento econômico dentro desses lugares, incentivado pelo Estado, quitará os prejuízos da guerra. O lado historiador estará presente em futuros trabalhos ou irá ser uma parte separada do seu trabalho? Qualquer atividade que eu exerça, tem o meu olhar historiográfico. O estudo da história influenciou meus pensamentos. Não posso jamais esquecer Clio (História, tempo). Em 2011 o cenário independente poderá contar com novos trabalhos seus? Com certeza, novos trabalhos já estão a caminho. Vivo um momento novo e isso vai direcionar todos os objetivos. Mensagem final: Tente ser feliz. Não importa a forma que você pensa em alcançar tal sentimento. Descubra como.


MANIFESTO: Contra toda forma de preconceito Por: Fabio da Silva Barbosa Pelo fim do preconceito racial, regional, sexual, ideológico e qual mais for. Contra toda forma de preconceito. Pelo fim do bullying, do imperialismo e das mentes colonizadas. Contra toda forma de opressão. Pelo fim da submissão. Pela convivência entre os opostos, entre todas as formas e pensamentos. Pela união de todos os gêneros humanos. A individualidade é nosso maior bem. Somos iguais por sermos diferentes. As diferenças nos tornam iguais. É nosso ponto comum. Aceitando as peculiaridades de cada um, chegaremos ao coletivo mais belo e colorido jamais visto. Vamos misturar. O respeito é a única lei. O respeito é o início e o fim. As lacunas que sobrarem devem ser preenchidas com liberdade total e irrestrita, compreensão e conhecimento. Uma nova época pode nascer assim que tomarmos conhecimento e agirmos de acordo. Chega de maldade. Chega de servidão. Pela diversidade. Pela união.

Fanzine Pençá: Visando crescer a tiragem do zinePençá, assim como seu n° de páginas e sobrar um qualquerparaacerveja,estamospassandoacamisacom a capa do 1° número estampado . Para apoiar essa idéia entre em contato e encomende logo a sua. fsb1975@yahoo.com.br / arteutil.em@gmail.com


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