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EDITORIAL Acordo numa puta ressaca de um dia qualquer desse final de maio de 2011. Depois deAlexandre prometer a mim mesmo aquelas mentiras de sempre (Nunca mais vou beber... e Alexandre tal e coisa), fico diante do teclado e penso que já está na hora de fechar o zine e esperar entrar alguma grana para mandar xerocar o maior número de cópias possível. Antes, resolvo tomar um analgésico. A dor de cabeça tava caótica. Começo então a dar uma conferida no que já tenho pronto e constato que já está tudo encaminhado. A capa com a grande logo produzida pelo irmão das antigas, o Murilouco (Murilo Pereira Dias), traz o nome da publicação escrita de acordo com os desenhos psicodélicos que se formaram no teto do quarto dele. Ficou muito bacana. Textos, entrevistas e viagens mil seguem preenchendo página depois de página. Tudo resolvido. É isso aí. Só me resta agradecer a galera que tem me ajudado a tocar essa ideia. Tem muita gente aí que recebe a parada e multiplica tirando a grana do próprio bolso para poder passar a diante. Muito obrigado, rapaziada. Fiquei muito feliz em saber disso. Mesmo aqueles que de repente não estão podendo fazer isso, mas que fazem a propaganda, mostram aos amigos, passam a diante, colocam em locais com acesso para os demais e divulgam o blog, entre outras formas de divulgação: Valeu. Tamo junto. Só isso já demonstra que o caminho é esse mesmo. VALEU!!!

Pedidos e contatos:

CX POSTAL: 100050, Niterói, RJ, Brasil, CEP 24020-971 www.rebococaido.blogspot.com fsb1975@yahoo.com.br


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Democracia: novos tempos e antigas práticas Por: Cleber Araujo Um dos principais argumentos utilizados para convencer que vivemos numa sociedade verdadeiramente democrática é que, no Brasil (quase todo privatizado), os homens são livres e tem direito a liberdade de expressão. Lindo isso, não acha? Mas a realidade não é bem assim. Pelo menos, não para todos. Cotidianamente nos deparamos com o discurso de liberdade, do indivíduo livre que tem direito de fazer todas as suas escolhas – políticas, amorosas, profissionais, etc. A palavra escravidão foi abolida da sociedade neo capitalista democrática – apesar de chegarem ao conhecimento público denúncias de pessoas trabalhando em condições escravas. A grande verdade é que o homem nunca foi tão escravo do trabalho como na atualidade. O sistema apenas mudou a forma de escravizar. O chicote tornou-se desnecessário frente ao novo método. A publicidade, a alma do negócio, é o recurso utilizado para submeter o indivíduo a escravidão. Hoje somos – não me exclua fora dessa – escravos do consumismo desenfreado e do modismo ditado pela grande mídia. Trabalhamos e não vemos a cor do dinheiro que, já está todo pré-destinado a quitar parcelas do cartão de crédito. Na verdade, nem o direito a escolha temos, pois as sedutoras campanhas publicitárias criam em nós novas necessidades e desejos de consumo que, na maioria das vezes, são supérfluos. No final das contas, nos pegamos vivendo para trabalhar e não trabalhando para viver.

Liberdade de expressão: Muitos acreditam que esse direito é garantido a todos os cidadãos brasileiros. Um grande engano. Experimente organizar uma manifestação reivindicando direitos ou protestar em algum ato político e verás a calorosa recepção que o aguarda – Policiais equipados com armas, ditas, não letais; balas de borracha, cassetete, spray de pimenta, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral. É sempre assim. Não importa a origem da manifestação e quem dela participa. Todos são rotulados como vagabundos e desordeiros. E querem que acreditemos que a censura é coisa do passado, assim como a ditadura. Outro exemplo de censura aconteceu no dia 03/05, quando a Polícia Federal, junto com Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), subiu o Morro Santa Marta exclusivamente para desarticular a rádio comunitária local. Sem mandato, apreenderam o transmissor da Rádio Santa Marta e levaram os lideres desse movimento (Fiell e Peixe) para prestarem depoimentos. A Rádio Santa Marta tem como principal finalidade dar voz aos moradores, ou seja, garantir sua liberdade de expressão. Mas iniciativas desse gênero, que tem como proposta a organização política da comunidade, são encaradas pelas autoridades governamentais como uma afronta. Censurar e desarticular movimentos sociais que vão contra o sistema é uma cultura política do nosso país. Ao final do que foi refletido aqui, podemos afirmar que os tempos mudaram, mas as práticas políticas, não.


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Sem patrão a vida melhora muito Por: Eduardo Marinho A fábrica acumulava dívidas: impostos, previdência, fundo de garantia dos trabalhadores. Anos de dívidas para sustentar o luxo dos patrões: iates, mansões, excessos. No limite da situação, o procedimento padrão. Declara-se falência, despede-se os funcionários, fecha-se a fábrica, rola-se na justiça a perder de vista, muda-se de lugar e abre-se outro negócio, pra novo ciclo de mais do mesmo. Os demitidos que se danem. Na Flaskô, os funcionários impediram esse procedimento, quebrando os cadeados, entrando e pondo a fábrica pra funcionar. Sem os patrões, começaram a pagar as dívidas da fábrica, melhoraram o ambiente de trabalho, diminuíram a carga horária, aumentando a produção, e fizeram benfeitorias que jamais seriam feitas sob controle daqueles que se julgam seres humanos superiores (fazendo o enorme favor de permitir aos operários serem explorados até o talo, com salários insuficientes, con-

dições de trabalho exaustivas e nenhum benefício, além de não pagarem as taxas, impostos e outros, devidos por lei). Claro que a mídia omitiu o fato. Seria um péssimo exemplo para a massa trabalhadora, um precedente perigoso aos patrões - que controlam a mídia -, uma prova de como os patrões são, não só desnecessários, mas obstáculos ao funcionamento das empresas, no que diz respeito à qualidade de vida dos funcionários, para criar condições de luxo, excessos, ostentações e desperdícios para os donos, à custa da exploração da coletividade. O sistema foi atirado para cima desses “subversivos”, a polícia federal invadiu a área, prendeu os integrantes da comissão da fábrica, mas nada adiantou. Os operários conseguiram passar por tudo e a fábrica continua a pleno vapor. Um exemplo a ser divulgado. *Maiores informações sobre: www.fabricasocupadas.org.br

Na internet - www.rebococaido.blogspot.com - www.twitter.com/RebocoCaido -www.youtube.com/user/ fabiodasilvabarbosa - www.umanodeberro.blogspot.com -www.impressodascomunidades.blo gspot.com - www.comunidadeeditoria.blogspot.com/ - www.slideshare.net/ARITANA - www.slideshare.net/ComunidadEditoria


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Anita Costa Prado - A Mãe da Katita Por: Fabio da Silva Barbosa A primeira personagem lésbica de quadrinhos chegou e ficou. A Katita nem precisa se apresentar, mas e sua mãe? Quem a gerou, concebeu e criou? Essa é outra personagem de peso, mas do mundo real. Está por este mesmo mundo em que nós andamos. Por acaso fizemos contato e logo que descobri com quem falava não pude deixar de pedir uma entrevista. Fala, Professora Anita. Diz aí: De editora do Fanzine Gospel a criadora da primeira personagem lésbica para quadrinhos. Mudança radical ou duas faces da mesma moeda? Duas faces da mesma moeda. Mas podem surgir outras. Como seres humanos, temos multiplicidade; inúmeras “faces”, de acordo com o momento vivido. Falando na Katita, como vão as coisas para ela? Vão relativamente bem. Sem grandes tiragens, mas com interesse crescente por parte de novos leitores, além dos que a Katita já conquistou. Ela é publicada mensalmente no jornal Graphic e ocasionalmente em publicações variadas. Na internet, vários sites reproduzem suas tiras e ilustrações, além do blog(Cafofo da Katita). Sobre publicações impressas, por enquanto, continuarei divulgando os três lançamentos e não planejo outro. E a poesia? A poesia está presente no meu cotidiano e atualmente faço poemetos para divulgação virtual. Em publicação, o maior estímulo é da Editora da Tribo, que publica anualmente uma agenda poética. É o Livro

da Tribo, com uma tiragem abrangente, reunindo poetas nas páginas coloridas e ilustradas. Está rolando também uma participação no calendário Chabanais. Conte um pouco sobre o que é e qual o principal objetivo desta iniciativa. O Calendário Chabanais escolhe anualmente pessoas ligadas ao combate a homofobia, seja na arte, no cotidiano e na militância. Recebi o convite para participar da edição deste ano, que foi lançada na Parada Gay do Rio de Janeiro e aceitei figurar nos meses de março e abril. Mesmo com toda a luta, o preconceito continua forte. Qual a principal causa e o melhor caminho para combater o preconceito? A causa para o preconceito é obviamente a ignorância gerando intolerância e conceitos equivocados. A luta contra o preconceito está crescendo e dando maior notoriedade ao tema na mídia. O melhor caminho é a união, as articulações políticas, eventos e protestos contra a homofobia. Por outro lado, são necessárias ações no cotidiano de cada um, para uma convivência harmoniosa entre as pessoas, independente da orientação sexual. Artista e militante: Onde começa uma e acaba a outra? Só artista. rs... Não sou militante, mas pelo meu trabalho com a Katita e na literatura, acabo sendo confundida como militante. A militância faz um trabalho árduo, contínuo e admirável. Sou apenas uma escritora e roteirista de quadrinhos. Quais os próximos passos? Quero continuar o processo de divulgação e planejo um vídeo de animação com a Katita.


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Uma semente para plantarmos na cabeça do leitor: Deixe germinar a aceitação, a harmonia e o conhecimento.

Por: Fabio da Silva Barbosa

e_ l _ E_

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Sentado no meio fio, continua invisível. Com a mão estendia, tenta garantir o anestésico do dia.

Espasmos trêmulos anunciam que ali ainda existe vida. Carros passam diante de seus olhos. Motos e ônibus variam a paisagem. Pessoas passam de um lado para outro.

Não sente mais tanta fome

Moscas e mosquitos já lhe são os únicos amigos.

e nunca soube o que era lar.

Baratas e ratos fazem vistas também.

As pernas inchadas já possuem uma cor avermelhada

Restam poucos dentes

e a barba falhada cobre algumas partes do seu rosto.

e o pus escorre dos cantos dos olhos. O papelão disfarça o frio que emana do chão

O corpo magro possui uma camuflagem de sujeira

e não tem ninguém para chamar de irmão.

de onde exala um odor marcante.

Assim vive mais um homem.

Os cabelos se juntam,

Degradação, esquecimento e atropelo dos escombros sociais.

formando cones grudados. O eterno silêncio o transforma em uma estátua viva.

Assim é sua vida. Nada mais.


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Rogério Amorim e a OFICINATIVA Por: Fabio da Silva Barbosa Fazendo contato com Rogério Amorim e sua OFICINATIVA, pude oferecer mais esta troca de idéias para os leitores do Reboco. O projeto é daqueles que demonstram a importância das iniciativas culturais. Acredito que a esperança da humanidade resida neste tipo de atitude. OFICINATIVE-SE! www.oficinativa.blogspot.com Defina o Projeto OFICINATIVA em uma palavra: INTER-AÇÃO Agora, em muitas: INTERdependência, INTERculturalidade, INTERvenção, INTERferência, INTERjeição, IINTEResse, INTERrelacionamento + investigAÇÃO, inquietAÇÃO, autogest(AÇ)ÃO, experimentAÇÃO, criAÇÃO, movimentAÇÃO, etc. Minhas mais orgânicas e permanentes INTERpretAÇÃO e INTERrogAÇÃO do mundo e da vida. E o Rogerio Amorim? Um AFROECOARTIVEDUCANDOR: um AFROdescendente brasileiro que busca compreender sua essência ECOlógica, utilizando a ARTe e o ATIvismo social para atuar e refletir em relação à Cidadania, num infinito processo de EDUCAR-se EDUCANDO... Por que existem tantos projetos hoje em dia? Simplesmente porque somos / sou múltiplo. Costuro, lavo, me entristeço, cozinho, pinto, canto, sou medíocre, danço, sou herói, sigo roubando. Isso, hoje. Amanhã, estarei realizando várias outras tarefas e conhecendo novas coisas, novos temas, que vão me encantar ou podem me desagradar. Rotina dinâmica, possibilidades instigantes. Qual a maior importância deste tipo de

projeto para a população? Pensando que também sou a população (e aí desponta meu forte individualismo coletivo), apenas estou praticando e propondo aquilo que acredito fazer sentido para um desenvolvimento sustentável do ser humano - eu mesmo - tentando ampliar os horizontes além dos padrões alienantes impostos pelo capital e seus detentores, a nossa sociedade contemporânea. Ou, como também gosto de resumir: Apenas estou fazendo essas coisas para passar meu tempo aqui, neste planeta. Vale a pena lutar por um mundo ideal? SIM. No fundo, tod@s estamos lutando por nossos mundos ideais. Logo, tantas guerras e tantos amores. Estamos tod@s cert@s e errad@s ao mesmo tempo. Falando nisso, como seria seu mundo ideal? Seria não. Já é! Cada escolha que faço é meu mundo ideal. Estar aqui respondendo suas perguntas de madrugada (1h48) ou ter estado com a família no domingo mercantilizado de páscoa, são / foram minhas felicidades por hoje. Se conformar e se acomodar é doença ou opção? É uma epidemia disseminada, como várias outras (consumir açúcar, fazer fanzines, embelezar-se, ver televisão, trabalhar...). Mas, também, é uma das mais singelas opções, pois somos seres livres e podemos SIM escolher nossos caminhos. Qualquer AÇÃO será positiva e negativa e terá prós e contras. Qual é a minha? Qual é a sua? Qual é a nossa? Considerações finais: Quem quiser se OFICINATIVAR é só dar um toque e nos enlaçamos solidariamente. projetooficinativa@hotmail.com


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desfigurante... Por: Murilo Pereira Dias

sem ter

duvidar

não quero pensar

ver

ressuscitar....

palavras explicar

apenas querer

enterrar

subterfugios criar...

sem sentir

recomeçar........

estou aqui...estarei...

sem entender

em paz

momento único...

acende

.........

talvez....

ascender

.......

se for permitido

aprender

.....

se não abrir as portas

encarar

...

e não ouvir o telefone

desencantar

..

colocando em ordem digitos expressando

descartar

.

acreditar

significados incompreensíveis

créditos......banais...

proposital.......

Jesus...Barrabás....

quem sabe???

Ser Humano

quem soube??

Satanás

o saber ...saberá...

proferindo a verdade maldita

a hora de dizer.... reconhecer a hora de parar continuar... não saber...ser.... querendo estar

a ser dita.... perdida......enfim esperando aqui ser o fim encontrar... esperança sanar...reencarnar www.barracoadentro.com


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Homens E Caranguejos Por: Josué de Castro

Não foi na Sorbonne, nem em qualquer outra universidade sábia que travei conhecimento com o fenômeno da fome. A fome se revelou espontaneamente aos meus olhos nos mangues do Capiberibe, nos bairros miseráveis do Recife - Afogados, Pina, Santo Amaro, Ilha do Leite. Esta foi a minha Sorbonne. A lama dos mangues de Recife, fervilhando de caranguejos e povoada de seres humanos feitos de carne de caranguejo, pensando e sentindo como caranguejo. São seres anfibios - habitantes da terra e da água, meio homens e meio bichos. Alimentados na infância com caldo de caranguejo - este leite de lama -, se faziam irmãos de leite dos caranguejos. Cedo me dei conta desse estranho mimetismo: os homens se assemelhando em tudo aos caranguejos. Arrastando-se, acachapando-se como caranguejos para poderem sobreviver. A impressão que eu tinha, era de que os habitantes dos mangues - homens e caranguejos nascidos à beira do rio - à medida que iam crescendo, iam cada vez se atolando mais na lama. Foi assim que senti formigar dentro de mim a terrível descoberta da fome. Pensei a princípio que era um triste privilégio desta área onde eu vivo - a área dos mangues. Depois verifiquei que, no

cenário de fome do Nordeste, os mangues eram uma verdadeira terra da promissão, que atraía homens vindos de outras áreas de mais fome ainda - das áreas da seca e da monocultura da cana-de-açúcar, onde a indústria açucareira esmagava, com a mesma indiferença, a cana e o homem, reduzindo tudo a bagaço. Vê-los agir, falar, lutar, viver e morrer, era ver a própria fome modelando com suas despóticas mãos de ferro, os heróis do maior drama da humanidade - o drama da fome. E foi assim que fiquei sabendo que a fome não era um produto exclusivo dos mangues. Que os mangues apenas atraíram os homens famintos do Nordeste: os da zona da seca e os da zona da cana. Todos atraídos por esta terra de promissão, vindo se aninhar naquele ninho de lama, construído pelos dois e onde brota o maravilhoso ciclo do caranguejo. A fome age não apenas sobre os corpos das vítimas da seca, consumindo sua carne, corroendo seus órgãos e abrindo feridas em sua pele, mas também age sobre seu espírito, sobre sua estrutura mental, sobre sua conduta moral. Nenhuma calamidade pode desagregar a personalidade humana tão profundamente e num sentido tão nocivo quanto a fome, quando atinge os limites da verdadeira inanição. Excitados pela imperiosa necessidade de se alimentar, os instintos primários são despertados e o homem, como qualquer outro animal faminto, demonstra uma conduta mental que pode parecer das mais desconcertantes.


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Sem título Por: Murilo Pereira Dias era uma vez um dia................. ...e então.... - então o que??? - quem é esse garoto ai.???..está causando alteração....!!!!!!!!!!! - pqp.... mas que merda!!!!!!!!!!!! - acabei de ganhar uma porrada!!!!!!!!!! - seus filhos das putas.... - o que significa isso???

VOU PERDER MINHA RAZÃO É O CARALHO!!!!!! O CARALHO !!!!!!! - então agora eu quero ver nessa porra..... vai todo mundo tomar no cu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! -segura ele.... -será meu dia!!!!!!!!!!!! ############################### ###################### ################ ###########

- vai se foder sua vaca...quem é vc sua filha da puta!!!!!!!?????????!!!!!!!!!vou chamar a policia nessa merda....

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-chama mesmo...vamos ver no que vai dar....

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-anota placa do carro....

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- anota o tamanho da minha piroca tbm...... quer ??? sua maldita fiha da puta.....

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- está me ameaçando sua vaca do inferno...????

Eu não nasci, pois não me lembro de isso ter acontecido. Não morri, pois também não me lembro que isso tenha acontecido. E, se não nasci nem morri, das duas uma: ou sou Deus ou não existo. Ora, como nem tudo que eu quero acontece e nem tudo que acontece eu quero, não sou Deus. Portanto, não existo. Logo, não penso. Então este raciocínio é falso, e nesse caso eu não passo de um mero amnésico. De qualquer maneira, nada tem importância: se perco a memória, tanto faz que tudo seja ou não verdade. Basta dar a descarga e passar pro papel.

-vc está perdendo a sua razão gritando e xingando dessa forma....!!!!!!!! - VAI TOMAR NO CÚ SUA FILHA DA PUTA.... ESTOU PERDENDO MINHA RAZÃO É O CARALHO.... SE VC NUNCA OUVIU PALAVRÃO FODA-SE...VAI SE FODER ... TOMAR NO CÚ SUA FILHA DA PUTA DO INFERNO MALDITO....

PENSO, LOGO CAGO Por: Glauco Mattoso


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Carlos Pankararu fala sobre o Acampamento Indígena Revolucionário Por Fabio da Silva Barbosa Busquei fazer contato com o Acampamento Indígena Revolucionário (AIR) para trazer até os leitores deste veículo informações sobre a quantas andam essa importante movimentação pelos direitos indígenas e pela preservação do planeta. Como se iniciou a organização do Acampamento Indígena Revolucionário? Iniciou-se a partir do momento em que várias tribos se movimentaram para lutar pela Revogação do Decreto 7.056/09. O governo enganou várias pessoas e as convenceu a voltarem, mas ficaram uns 15 índios para revogar o Decreto. Os 15 índios foram Krahô-Kanela, Terena, Fulni-Ô, Pankararu, Korubo e Munduruku. Por estarmos em poucas pessoas, o governo não acreditava no movimento e achava que não ia dar em nada. Foi aí que eles se enganaram. Nós, esses poucos guerreiros, fizemos a diferença no movimento. Fizemos o que 700 índios, em janeiro de 2010, não fizeram: Enfrentar o governo. Abrir faixas na Câmara dos Deputados, colocar bandeira, acampar na frente do Ministério da Justiça (provocando Audiências Públicas), invadindo posses do Ministro da Justiça, mostrando a indignação e tudo mais. Abrimos faixas e gritamos na Convenção do PT, em comício de Lula e Dilma Roussef, fazendo com que nossas vozes fossem ouvidas. Participamos das audiências contra Belo Monte e através do blog do AIR, do Mércio Gomes e da imprensa levamos ao conhecimento de outros índios o que estava acontecendo em Brasília e o que estávamos fazendo, chamando a atenção de todos e convidando a todos para se juntar a nós. Desta forma, cresceu o movimento indígena, chegando a ter cerca de

250 barracas de lona em frente do Congresso Nacional e no Ministério da Justiça. Aí, eram mais ou menos 800 índios deixando o governo, principalmente a Presidência da FUNAI e o Ministério da Justiça, desorientados. Eles violaram as leis do país, botaram a Força Nacional na FUNAI, perseguiram funcionários públicos indigenistas, perseguiram os próprios índios, assinaram Belo Monte sem consultar os índios etc. Isto por se encontrarem desesperados, sabendo que os indígenas do Brasil, através do AIR, já estavam atentos aos incompetentes que se encontram na FUNAI decidindo as suas vidas. E hoje? Nossos objetivos estão sendo alcançados: - Há negociações: O governo chama o AIR para negociar sobre o Decreto 7.056. - Nossa luta junto com a população do Pará chegou ao seu objetivo: A OEA parou Belo Monte. - O presidente da FUNAI está sendo processado. - Tiramos a Força Nacional de dentro da FUNAI. - Está em tramitação no Senado a CNDI (Conselho Nacional de Direitos Indígenas) - O Movimento Indígena Revolucionário, hoje, é conhecido a nível nacional e internacional como os guerreiros da paz. Aconteceu a III Confederação Tamoia dos Povos Originários e Sem Teto. Qual a importância desse evento para a luta indígena e em que ponto se unem as lutas dos povos originários e a dos sem teto? Os pobres e suas lutas, independente de serem índios, camponeses ou sem tetos, sofrem as mesmas discriminações. Vivemos


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em um país onde a desigualdade é imensa. Um deputado ou senador pode grilhar grandes quantidades de terra e se esconder atrás da Constituição. Pode também desviar milhões e achar meios de dizer que é legal. Porém, o índio não pode usufruir de nada que esteja dentro da terra dele. Um índio não pode cortar um caminhão de madeira ou vender uma grama de ouro porque é crime ambiental. O governo pode deixar coberto de água milhões de metros cúbicos de madeiras no coração da Amazônia e dizer que tudo é legal. O progresso não para. É mais do que certeza que os índios que ainda existem isolados, sem contato com a civilização, por questões de sobrevivência serão obrigados a se intelectualizar no mundo dos brancos. Por isso, não devemos deixar de ajudar e apoiar os movimentos sociais ou qualquer outro movimento. Eles são tão injustiçados quanto nós. Hoje, o homem branco invadiu o Brasil formando muitas cidades e desmatando as florestas, por isso já estamos vendo os animais invadindo as cidades. Quem nunca viu capivara nos rios das cidades? Há poucos meses o Ibama teve que tirar uma onça puma que invadiu um frigorífico em uma cidade de Brasília. Ano passado encontrei na Asa Sul um homem, morador de rua, com uma jibóia no pescoço, que havia pego nas margens do Lago Sul, dentro do DF. E outros aparecimentos de animais invadindo as cidades têm acontecido pelo Brasil afora. Se os animais irracionais estão vindo para cidade, porque não os índios daqui há algum tempo? Da forma que o governo está tratando eles – invadindo as suas terras... Por isso, ajudamos o sem teto, pois não sabemos o amanhã. Os povos originários passam por diversos problemas em diversas regiões do país. Existe uma fonte comum de todos esses problemas e uma forma única de resolver

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todas essas batalhas? Sim. Quem causa o problema é o Grande Capital, a ambição. Desde 1500 os governantes de Portugal têm invadido esse Brasil para roubar as riquezas que aqui existem, como: madeira, ouro e outras riquezas. Hoje não é diferente. As riquezas que se encontravam com facilidade, como no estado de São Paulo, Minas Gerais, Pará (exemplo de Serra Pelada), hoje não se têm mais a mesma facilidade em se encontrar. Isso se encontra com facilidade nas terras indígenas porque são intocáveis. Nós, indígenas, preservamos a natureza. Não fazemos dela algo de aproveito e depois jogamos fora, como se não tivesse valor. Tratamos da natureza como uma mãe. Tiramos dela o sustento como um filho que amamenta no peito de sua mãe, mas que depois abraça e tem amor pela mesma e chora a falta dela. Assim é o índio com a natureza. Diferente do homem branco, que desmata, faz grandes plantações, destrói e depois fica chorando pelo mau feito e dizendo que está preocupado com o aquecimento global. A criminalização dos movimentos sociais não para de expandir. Qual o posicionamento do Acampamento diante dessa atitude do governo e de suas instituições? Não existiria revolta se estivesse tudo bem. O problema é que enquanto uns ganham mensalão, outros são flagrados com dinheiro nas cuecas, meias e outros nas corrupções (como Jader Barbalho - do Pará, como Paulo Rocha - do PT/Pará, Zé Dirceu – PT/ São Paulo, Genoíno – PT/São Paulo, Márcio Meira – presidente da FUNAI/Pará). Eles violam as leis do país, roubam e não são punidos. Continuam no governo, ganhando seus altos salários graças aos nossos impostos. Tem muita gente passando fome dentro das aldeias. Tem muita gente morando debaixo das pontes na cidade. Tem muita gente morrendo nos hospitais por falta de


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recurso na saúde. Como é que pode não existirem revoltas e movimentos sociais? A mídia convencional e as grandes empresas contribuem muito para esse processo de criminalização. Qual o interesse deles em ver lutas legítimas como algo perigoso para a sociedade? Muitas imprensas são corrompidas pelo Capital. Muitas também são de pessoas envolvidas na política ou dependem de projetos do governo como abate de Imposto de Renda, como aprovações de direitos autorais, direito de imagem... Por vários motivos muitos se calam. Mas o mais importante é que também têm muitos grandes ou pequenos publicando a verdade e fazendo a diferença. Muitos colaboradores tem apoiado a causa do Acampamento. Como se dá essa aproximação? São pessoas inteligentes que reconhecem que a luta é justa e sabem que nosso movimento não é apenas em nossa defesa, mas na defesa de todo o planeta. Exemplo: Estamos defendendo nossas tribos, ao defender nossas florestas. O pulmão do mundo é o Amazonas e a maior quantidade de tribos do mundo também é no Amazonas. Se não existissem tribos na Amazônia, a selva já estaria transformada em pasto para gado e grandes territórios de soja, milho, arroz e outras plantações. Prova disso são os arrozeiros de Roraima, na Raposa Serra do Sol. Ao defendermos nossas florestas, estamos defendendo o ar que nós, índios, respiramos e brancos também. Qual a perspectiva para esse novo governo? Existe esperança de melhora no diálogo entre os detentores do capital e os atropelados pelo que os governantes chamam de progresso? Temos nossos planos governamentais, como os 15 pontos do AIR, a verdadeira

reestruturação, a construção do órgão em que o próprio índio assuma a sua organização: a FUNAI. Vários projetos de autosustento, como roças comunitárias, irrigadas pelos rios (para as tribos que ficam as margens de rios e igarapés). Queremos um acordo com o governo para que tudo que se trate a respeito dos índios no Senado e na Câmara seja consultado aos Povos Indígenas antes das decisões e que os índios possam participar de todas as audiências públicas que dizem respeito aos mesmos. através do CNDI, conselho criado pelo MIR. Quais os próximos passos da luta? Alcançar nossos objetivos, defender nossas populações indígenas e ficar de olho nas ciladas do governo, que por mais que fechem acordos, não podemos confiar. Muitas coisas virão, mas só o dia a dia dirá o que temos que fazer.

Lá vem eles Por: Fabio da Silva Barbosa Lá vem ele Lá vem ele Carregando sua cruz Não é o abençoado Não é o senhor Jesus Lá vem ela Lá vem ela Resistindo em seu Calvário Não é a donzela da tv Não espera o galã otário Lá vem aquilo Lá vem aquilo Fustigado pela vida Não parece ser humano Não tem pele, só ferida


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ALMA Por: Diego El Khouri luto contra a maré que me molha o rosto as convicções que me movem a alma os dias devoram, trincheiras gritam o dinheiro que ganho mesmo pouco me envergonha nas noites turbulentas me perco na bronha fomes e miséria do meu lado na minha boca molhada

sem paz sem um minuto de paz. Agora é isso: a doença me lavando a alma, a barriga inchada, cigarro na face que empunho vil frouxo e sem graça clown embriagado que dança nas esferas subliminares

rindo uma garganta seca da última batalha

necessito de novos ares

SOU SÓ

venha Rio de Janeiro

granito na areia movediça do acaso

preciso fugir dessa louca cidade!

acaso eu tô vivo ou sinto os sentidos me cortar a face?

Conexões, tubos, válvulas, ferros, chapas, fábricas, concretos, bombas, gaxetas, parafusos, porcas, arruelas, discos de corte, pistola de pintura, registros, equipamentos, máquinas,

a face me levar pra mata sozinho o infinito xinga albergues de aljôfra subteendidas

na mácula do dessabor caminho

MÁQUINAS, MÁQUINAS, MÁQUINAS, MÁQUINAS MÁQUINAS, MÁQUINAS , MÁQUINAS, MÁQUINAS

VOCÊ ESTÁ COMIGO?

me aniquilam a cara

VOCÊ ESTÁ COMIGO?

fatiam a alma

quem me move nessa terra triste num beijo amigo?

me roubam a paz.

em inúmeras máscaras que me mata

Que paz? sinto você nua como o abismo você solidão sem roupa de linho, elegânica


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Hulkabilly e os Kães-Vadius

Por: Fabio da Silva Barbosa Troquei uma idéia com Hulkabilly, o cara que garante os vocais da primeira banda de Psychobilly do Brasil. O Kães-Vadius já está caminhando para três décadas de estrada e não pretende parar por aí. Então, aumente o volume, pois isso aí é Rock mesmo. Como foi a construção do movimento Psycho no Brasil? Cara... Pesquisamos muita coisa antiga na época (Bill Halley, Chuck Berry, Trashmen, etc.), um monte de coisas que estavam aparecendo (Cramps, Meteors, Guana Batz, Batmobile e por aí vai), juntamos tudo com a nossa realidade, Terror- B, Cachaça, Neurose e coisas que curtíamos (Alice Cooper, Stoogies, MC-5, Kiss...). A soma de tudo foi o que deu Kães-Vadius na cabeça. E atualmente, a quantas anda? Regravando algumas músicas que não ficaram bem gravadas como queríamos e gravando músicas novas. No total, acho que vão rolar umas 17 novas gravações, fora um DVD de 25 anos dos Kães, com muita imagem, som e comentários da galera que viu a coisa nascer. Muita gente monta uma banda com o pensamento em arrumar grana. Como é montar uma banda pensando em divulgar uma cultura? O que move esse processo? Não é fácil. Grana é sempre a última coisa que acaba sobrando pras bandas. Mas, é muuuuito gratificante saber que seu trabalho é ouvido e curtido por pessoas que, muitas vezes, você nunca viu, em lugares onde você nem sequer esteve. Isso é muito

foda. Na verdade, o Kães-Vadius já era para ter acabado. Não acabou por que sou chato e uma galera que curte não permite. Então, é isso: pura curtição e respeito. É isso que move a parada. Mas tem que ter responsabilidade e não deixar a “peteca” cair. Isso é difícil as vezes. Mas, não impossível. E o segredo da Longevidade? Ser honesto com você e com seu público, ter pau duro, aguentar as adversidades e não se vender para ninguém. Personalidade e características próprias são fundamentais. Como divulgar um som sem nenhum tipo de apoio? Ter muitos amigos, propaganda boca-aboca, internet e cair na estrada pro que der e vier. Como está o trabalho da banda hoje? Maduro, consistente, pesado e, para alguns, ainda soa como novidade quando ouvem. Um amigo me disse uma vez que: “Vocês são como OVNIS... Todo mundo sabe que existe, mas pouca gente viu!”. Huahuahuahuahua. E o futuro? O que está por vir? Enquanto o sangue jorrar dentro da veia, o som não vai parar. Para mim, não tenho muito o que esperar do futuro, a não ser o futuro que eu mesmo possa fazer! Então, é pau na moleira e pimba na gorduchinha. Som, cerveja e mulheres (se a patroa permitir. Huahuahua) o resto vamos levando na boa. Abraços a todos e muita curtição.


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Reboco Caído

inspiração do vazio.... Por: Murilo Pereira Dias obscuro o caminho de incertezas coerentes... é preciso viver o sozinho.... esquecer as palavras trocadas em busca de carinho sombras de corpos opacos translucidos onde não há luz... onde há certeza de não estar acompanhado da própria assombra... que faz sombrio o sentimento de buscar no vazio o que não conseguem captar... necessárias são precisas as palavras preciosas descrevendo dor e solidão.... falta compreensão ser feliz é distante universo inconstante perante... paralelo cicatrizante.... tem-se como pressão depressão queda...abismo... nada de lindo nada de que??? o que é preciso??? para um sorriso??? um cigarro enquanto quanto contos de amigos...???... o exilio é a saída a chegada ao fim da escada... enquanto os enfins querem se resumir...por não mais saber contar... querendo dormir porque precisa acordar... sem pressa do fim que não diz se vem ou quando virá.........

PESTINO Ele odeia o que faz entretanto

Por: Alexandre Mendes

nisso, manda muito bem vincula bom dia e obrigado desvincula e amém Carrinho de brinquedo pequenino tentando virar trem vincula bom dia e obrigado desvincula e amém Canudinho de coca cola bem fininho querendo ser tubo de cem vincula bom dia e obrigado desvincula e amém Cidadão desconhecido uma sombra querendo se tornar alguém vincula bom dia e obrigado desvincula e amém Apagando o seu passado põe negrito o que ainda vem vincula bom dia e obrigado desvincula e amém Lutando sempre contra o pestino* procura ir pra mais além vincula bom dia e obrigado desvincula e até amanhã

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Olga Ribeiro Defavari Por: Fabio da Silva Barbosa Olga Ribeiro é pesquisadora de mídias alternativas e autora do livro “A Imprensa Alternativa no ABC”. Batemos um papo sobre seu trabalho e sobre a tal imprensa alternativa. Confiram: Como surgiu o relacionamento com a imprensa alternativa do ABC? A partir de uma pesquisa que iniciei na faculdade, em 2005, dentro no núcleo Memórias do ABC, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul. O “Memórias” é um projeto que visa levantar aspectos interessantes, mas pouco estudados da história da região. Como na época cursava jornalismo e por me interessar pelas práticas culturais, achei na imprensa alternativa um meio que une ambas as coisas. Mas foi precisamente durante um bate papo com a escritora e agitadora cultural Dalila Telles Veras, proprietária de um espaço cultural em Santo André, que descobri que a imprensa alternativa, também colecionada por ela, ainda não possuía um merecido estudo, no caso especifico, as publicações do ABC Paulista. Foi então que decidi o tema da minha iniciação científica. Logo no inicio da pesquisa, descobri que os museus e centros responsáveis pelos arquivos da região, não catalogavam ou mesmo sabiam o que era essa tal imprensa alternativa. E como chegou ao ponto de pensar: “Vou lançar um livro sobre esse assunto”? Achei que minha pesquisa podia sair do âmbito acadêmico e que merecia uma visibilidade maior, pois percebi que havia muita gente interessada no assunto. Um dos interessados, o poeta Zhô Bertolini, veterano da imprensa alternativa no ABC, sugeriu que eu inscrevesse o projeto do livro no Fundo de Cultura de Santo André. Inscrevi e fui contemplada em 2008. Para escrever o livro, ampliei a pesquisa, busquei outras publicações e tentei dar ao texto um aspecto mais literal e menos acadêmico.

O que você acrescentaria e o que você retiraria em uma nova edição. Ah, tem muita coisa para acrescentar. Desde a publicação e a posterior criação do blog (http://imprensaalternativanoabc.blogspot. com) recebi muito material. Na maioria fanzines. Eu pouco conhecia dos fanzines. Até o início da pesquisa, o foco do livro eram os jornais e revistas de caráter independente, por isso dediquei apenas um capítulo aos zines. Eles mereciam um espaço maior. São planos para uma próxima edição.... Qual a principal diferença entre os veículos alternativos e os convencionais? Como o próprio nome diz, os veículos alternativos são uma alternativa à imprensa convencional. Essa imprensa independente dá espaço para assuntos que não tem grande importância ou não são divulgados na mídia oficial. São muitas diferenças. A IA, normalmente, não obedece a regras de periodicidade, distribuição, venda, assuntos e número de páginas. Tudo é feito de forma independente. Alguns mais profissionais, outros menos... Mas sem o compromisso de alcançar um retorno financeiro. Acredito que a idéia principal de quem decide editar uma dessas publicações é poder escrever sobre o que quiser, da forma como quiser e quando quiser. É este o espírito da coisa! Qual a maior importância deste tipo de veículo? Na história do Brasil, a IA teve grande importância, principalmente na época do regime militar. Esses jornais denunciavam abusos de poder e ajudavam a manter bem informada parte da população interessada, já que a mídia oficial omitia muita coisa.


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A POLÍTICA DIVINA Por: Evandro Santos Pinheiro e Fabio da Silva Barbosa - E que Deus acompanhe vocês. Pastor João termina o culto com sua frase habitual. Tinha de se apressar para a reunião do partido. Pastor, político e dono de uma clínica de reabilitação. O tempo estava curto. Entrou no carro e partiu rumo ao futuro político. Em uma rua próxima, Areovaldo catava comida azeda do lixo de um restaurante. Papelão, latinhas e outros recicláveis eram recolhidos para o sustento da família. Analfabeto, pai de seis filhos, seu endereço era embaixo de um viaduto. Sentia certa decepção por não poder proporcionar uma vida melhor aos filhos. Tinha quase certeza que sua prole estava fadada ao fracasso. Prédios, edifícios, condomínios de luxo, áreas cercadas por seguranças em meio ao tumulto normal da grande metrópole. Sua esposa o ajudava na complementação da renda, vendendo balas e doces no sinal. Ao atravessar a rua, avistando uma promissora pilha de lixo, Areovaldo se descuidou e foi atingido em cheio por um carro 0 km que vinha em alta velocidade. O corpo subiu, caindo no pára-brisa, que se espatifou. Pastor João socou o volante, soltando um sonoro “Puta que o pariu”. Abriu a porta e se pôs de frente para o corpo que jazia em sua última aquisição material. Olhou para os lados, percebendo a rua deserta. Pensou alguns segundos e atirou a vítima no asfalto. Entrou no carro e partiu em retirada. Foi blasfemando até a casa de um irmão de fé e companheiro de partido que morava nas redondezas. Após algumas horas de conversa séria, articulações e conchavos, os acordos políticos estavam firmados. Os recursos

financeiros viriam de várias fontes, mas uma em especial era o dinheiro sagrado, depositado pelos fieis para a obra de Cristo. Dinheiro conquistado pelo pastor, após horas de milagres, orações e profecias. Nada mais justo. Aliás, a justiça divina nunca falha. Muito menos a política divina realizada por homens de conduta ética ilibada. A questão de levantar mais grana era simples: Realizar campanhas de cura e libertação. Como sabemos, Pastor João tinha contato forte com o criador. Nada mais que um diálogo seria necessário para que as coisas se resolvessem. Todos se dariam bem. - Obrigado por mais essa, irmão. - E a reunião que você teria agora? Já obteve resposta do suplente? - Quando liguei para ele, pedindo que me substituísse, pedi que ligasse apenas se tivesse algum problema. Amanhã meu mecânico vai vir concertar o carro em sua garagem. Pode deixar que vou cuidar bem do seu carro. - Não tem problema. Tenho mais três na garagem da frente. Vá em paz, Pastor. - Que Deus o acompanhe, irmão. Amém.


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Mentiras do Mundo Cão Por: Fabio da Silva Barbosa

Em um mundo dominado por falsos conceitos, é natural que a mentira seja colocada no altar e todos se ajoelhem perante ela. Vamos separar alguns exemplos que fariam o próprio Pinóquio sentir vergonha de sair repetindo por aí. Ler jornais diariamente nos deixa bem informados – Se os jornais a que se refere este dito faz parte da mídia convencional, essa mentira tem de estar no primeiro lugar. Dizer “bem informado” é determinar que aquela informação recebida é de boa qualidade. Já olhou a primeira página dos jornais hoje? Eu também não, mas pode correr até a banca mais próxima para conferir: Bunda, fofoca (Artistas separando, casando, namorando, cagando... Opa... Desculpe... Artistas não cagam!) e assassinato (Pobre matando pobre e pobre matando rico... Só quando o rico mata o pobre não se comenta. Vê se a matança de indígenas e o constante estado de opressão em que vivem pequenos agricultores são primeira página. Latifundiário só entra nesse rolo quando o pobre se revolta. Aí sai como pobre mata rico, pobre invade, pobre rouba... Mas a notícia fica incompleta, já que não se noticiou antes que rico mata, rico invade, rico rouba...) A imprensa é imparcial – Continuando o assunto “mídia convencional”, temos mais um exemplo de Mentiras do Mundo Cão. Se existe uma coisa chamada linha editorial, a imparcialidade já fica de lado. Simples assim. O usuário é quem sustenta o tráfico – Os usuários das chamadas drogas sempre estiveram por aí, mas a proibição criou e sustenta o tráfico até os dias de hoje. Isso, sem falar no grande esquema para a chegada de mercadorias nos varejistas. Como no morro não tem plantação de maconha, nem fábrica de armas, é fácil chegar a conclusão que existe muito mais gente envolvida nisso do que o cara que está com uma bolsa recheada dos tais produtos ilícitos e uma pistola na cintura e o usuário. Mas fica fácil manter tudo na conta deles, já que não têm espaço para se exporem livremente, sem o julgamento de uma sociedade frustrada e hipócrita. Trabalhar dignifica – Esse aí pegou pesado. Hahahahaha... Como sabemos bem que esse jargão se refere ao tipo de trabalho assalariado e submisso ao patrão, só gostaria de entender como se associa exploração a dignidade. Nem o explorador, nem o explorado são portadores da tal dignidade. Para o trabalho ser digno, ele tem de ser livre de qualquer pressão ou coação. Isso, só para início de conversa.


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Law Tissot e a Fanzinoteca Mutação Por: Fabio da Silva Barbosa Law Tissot montou uma fanzinoteca no Rio Grande do Sul, onde acontecem oficinas e cursos, além de abrir espaço para os amantes dos fanzines conhecerem muito material legal. A Fanzinoteca Mutação é o tipo de iniciativa que vale a pena divulgar. Como se deu a iniciativa de criar uma fanzinoteca? Creio que desde os anos 80 eu já manifestava o desejo de criar um espaço público para preservação e promoção dos fanzines. Sabia que um projeto deste tipo necessitaria de uma infraestrutura adequada e não tinha os recursos para tal. O tempo passava e acumulava uma coleção de muitos zines na mesma medida em que editava os meus próprios títulos ou ainda colaborava em outros tantos espalhados pelo Brasil e no exterior. Somente em 2009, com o apoio do Ponto de Cultura ArtEstação (Rio Grande, RS) é que pude começar a criação da tão desejada fanzinoteca. Observei que você conseguiu apoio até do Governo Federal para seu projeto. Qual o caminho a seguir para se obter este tipo de apoio? Como disse, o início foi o Ponto de Cultura ArtEstação, com sua equipe coordenada por Miguel Isoldi, Célia Pereira e Celso Santos, que sempre incentivaram minha produção artística e promoveram algumas ações a partir da minha relação com os fanzines, como exposições, lançamentos, palestras... Depois, a partir do edital da Funarte “Interações Estéticas 2009 Residências Artísticas em Pontos de Cultura”, escrevi o projeto “Resgate das múltiplas linguagens dos fanzines e suas relações com as poéticas visuais da arte-

xerox”, que possibilitou por completo a viabilização da Fanzinoteca Mutação numa sala do ArtEstação, com a infraestrutura e os recursos necessários para a manutenção de um acervo, além de oficinas livres e espaço de exposição e discussão para ações que tenham relações com os zines e a arte urbana contemporânea. A Fanzinoteca é aberta ao público? Sim, a Fanzinoteca Mutação é aberta ao público. Abrimos aos sábados à tarde, das 14H as 20H, onde realizamos oficinas livres e gratuitas de fanzines e outras ações de arte urbana como graffiti e lambe-lambe, em parceria com o grafiteiro Diego “N3” Franz. Como disse, estamos localizados numa sala do ArtEstação, na Avenida Rio Grande, balneário Cassino, em Rio Grande, RS. Os contatos podem ser feitos através do meu e-mail tissot_law@yahoo.com.br, pelo fone 53 9953-9646 ou ainda pelo blog www.fanzinotecamutacao.blogspot.com. Hoje, contamos com um acervo de mais de 3000 títulos de todos os gêneros, estilos, épocas e origens (tanto nacionais quanto de outros países). Você continua atuando na produção de fanzines? Desde 1984, quando criei o fanzine Mutação ao lado de Marco Muller e Rodnério Rosa, tenho mantido intima relação com a produção de zines e com a cena. Seja como editor ou colaborador em zines de companheiros espalhados pelo underground mundial. Atualmente, lancei o zine Charlotte # 03, em parceria com o amigo Fabiano Costa, que pode ser baixado aqui: fanzinotecamutacao.blogspot.com/2011/01/fanzinecharlotte.html . Também participei do Circuito Interações Estéticas 2010, da Funarte, onde pude realizar zines durante o


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evento, nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Rio de Janeiro. Com essa retomada e fortalecimento da cultura do fanzine, você acredita que este tipo de veículo será mais valorizado e aumentará o número de leitores? Não tenho muita certeza disso. Acredito, que em certa medida, os zines ainda circulam nas trocas entre os editores. Talvez, em certos eventos, como exposições, shows, bares ou ações urbanas, eles possam atingir um outro público. Mas os fanzines têm mesmo essa característica de serem efêmeros, com pouca tiragem e destinados a ser como garrafas jogadas ao mar. Sabe-se lá em que mãos poderão chegar. Essa magia do leitor do acaso é muito fascinante. Um fanzine inesquecível: Pergunta difícil. Cada fanzine representa um momento, uma fase de criação e de relação com amigos e idéias. Mas, se for para citar apenas um, que seja o Mutação. Este zine foi criado ao lado dos amigos que já citei anteriormente, no distante ano de 1984, de uma forma um tanto inocente, mas repleto de sonhos que desde sempre trouxeram grandes resultados, sejam em termos artísticos ou nas amizades que ainda mantenho desde aquela época. O destaque atual: Tenho recebido muitos zines de novos companheiros que contribuem com a ampliação do nosso acervo. Não gostaria de ser injusto com nenhum editor, pois tenho uma relação passional e de respeito por toda e qualquer iniciativa zineira. A mim não importa a qualidade da impressão ou a proposta editorial, mas sim que existam sujeitos entusiasmados com a manutenção do espírito zineiro, seja pela sua poética ou pela sua importância para a mídia livre.

Poderia citar, para não deixar a pergunta incompleta, o La Permura, do companheiro Rodrigo Okuyama, como um zine que foi realizado com muita criatividade e competência. O que é indispensável? Ter um milhão de amigos zineiros trocando seus zines repletos de artes, idéias, ações e paixões. O que é dispensável? A nicotina. Malditos cigarros!

------------------xx-----------------Por: Eduardo Galeano As pulgas sonham com comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico a sorte chova de repente, que chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chove ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura. Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada. Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos: Que não são, embora sejam. Que não falam idiomas, falam dialetos. Que não praticam religiões, praticam supertições. Que não fazem arte, fazem artesanato. Que não são seres humanos, são recursos humanos. Que não têm cultura, têm folclore. Que não têm cara, têm braços. Que não têm nome, têm número. Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local. Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.


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SOS botequins Fabio da Silva Barbosa Não sei se isso está ocorrendo em todo Brasil, mas aqui em Niterói eu posso lamentar, sem medo de estar enganado: Os botequins estão acabando. Esses locais onde a nata da cultura e da contracultura de nosso País sempre se reuniu para animadas conversas em um ambiente descontraído, sem o moralismo dos “bons costumes”, estão sendo substituídos por locais repletos da frieza que a arrogância do requinte consegue oferecer melhor que ninguém. A primeira grande mudança observada é a televisão prendendo a atenção das pessoas que costumavam estar ali em uma extravagante troca de idéias. Depois, podemos observar os petiscos que antes ficavam expostos na vitrine e que agora vem em cardápios trazidos por garçons. Chouriço, moela, batatinha a calabresa, cu de galinha frito... Tudo isso é substituído por uma pálida porção de batatas fritas (daquelas congeladas, que vem num saquinho) ou vá lá saber o que. Os que ainda ostentam esse nome, não lembram em nada aquele balcão super confortável, onde nos debruçávamos e muitas vezes conversávamos com pessoas que estávamos acabando de conhecer. Um enriquecedor papo de balcão, ou conversa de botequim, como muitos gostam de chamar.

Desde moleque, sempre freqüentei os botecos de Niterói. Outro dia, fui caminhar com meu parceiro de elucubrações, Alexandre Mendes, e fizemos uma verdadeira peregrinação por Santa Rosa em busca de um botequim onde pudéssemos encostar e colaborar com o burburinho de vozes que fazem a sinfonia desses lugares. De vez enquanto uma gargalhada corta o ar. AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA... Estávamos precisando de algo assim para reorganizar as idéias. Mas, para nossa surpresa, todos os botequins de verdade foram reformados. Agora eles têm toalhas sobre as mesas e substituíram o copo americano por tulipas finas. Coitadas das pessoas. Vão perder um reduto onde a interação com a diversidade característica do ser humano está dando lugar à uniformidade das ilhas mesas. E a conversa que começava com um e terminava com outro? Essa está sendo travada apenas com a televisão. Este texto faz parte do Livro Um Ano de Berro: Para pedir o seu: www.editoraindependente.com.br


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Uma obra inteligente e instigante Por: Winter Bastos

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Quem cala consente... Grite! Por: Winter Bastos Hoje em dia as pessoas em geral encontramse muito apáticas. Poucas se interessam em lutar por uma transformação social. O problema não é tanto a falta de boas idéias, mais sim não se ter ideia ou ação nenhuma. Ou seja: o pior não são atitudes inadequadas, mas a absoluta inação dos indivíduos.

. O provocativo diretor americano Michael Moore continua em ótima forma - cinematograficamente, claro. Sua vitalidade como cineasta pode ser, mais uma vez, constatada no excelente documentário “Capitalismo: uma história de amor” (Capitalism: a love story) lançado em 2009. São 127 minutos de análise da sociedade americana contemporânea a partir da história de seu desenvolvimento econômico. O sistema capitalista é prescrito pela Constituição estadunidense? Lucro condiz com Cristianismo? Capitalismo se coaduna mesmo com democracia? Essas são algumas das perguntas feitas pelo filme. O documentarista deixa a cargo dos espectadores respondê-las com base nas informações, depoimentos e relatos, deixando entrever, contudo, sua visão de mundo também. Vale a pena alugar o DVD, que já está disponível em locadoras brasileiras. Além de bastante crítico e instrutivo, o filme é muito engraçado, cheio de ironias e piadas acerca dos contrassensos dum regime financeiro que, dogmaticamente, quer se afirmar grande arauto das liberdades individuais

Os meios de cominucação de massa (TV principalmente) não estimulam a reflexão. Eles manipulam a opinião pública, fomentam o consumismo e promovem a alienação. Em vez de simplesmente aceitar o que a televisão mostra, devemos pensar, refletir. Devemos ler mais e assistir menos à TV. E principalmente nunca acreditar em algo antes sem antes questionar e repensar. Criar seu próprio meio de comunicação livre é um bom modo de propagar ideias e quebrar o atual monopólio da mídia alienante. Para fazer um fanzine (revista alternativa) basta um computador com uma impressora (pode ser uma antiga matricial), ou mesmo uma máquina de escrever. Depois de se imprimir o origial é só tirar cópias e grampear cada uma delas (caso o fanzine tenha mais de uma folha). Em seguida vendem-se as cópias e se utiliza o dinheiro para xeroxar mais. E então? Vai ficar aí sem fazer nada? Vai permitir que o autoritário Sílvio Santos, a família Marinho, defensora da ditadura, e outros burguesões continuem monopolizando os meios de comunicação no Brasil? Que tal dizer não à apatia e começar agora mesmo seu próprio jornal alternativo, rádio livre ou fanzine?


Argumento: Fabio da Silva Barbosa / Ilustração: Eduardo Marinho


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