Jardineiro André Feliciano | Sob o Luar Fotográfico

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Jardineiro André Feliciano Sob o luar fotográfico 10 de março a 16 de abril de 2012

Rua Estados Unidos, 1494 CEP 01427 001 São Paulo - SP - Brasil +55 (11) 4306 4306 www.zippergaleria.com.br zipper@zippergaleria.com.br 2a a 6a 10:00 - 19:00 sábados 11:00 - 17:00


















“Ei, essa lata, você a está vendo porque olha para ela, pois ela, por sua vez não precisa ver você para olhá-lo.” (Jacques Lacan, Seminário 16)

O que fotografamos, o que nos fotografa _ Vaga-Lume de Arte A fotografia é uma dúvida. A fotografia é um reflexo. A fotografia é um instinto (de preservação?). O cultivo da natureza da arte por parte do Jardineiro André Feliciano culmina, na presente exposição, em um conjunto de trabalhos menos sobre o Florescimento e mais sobre a fotografia. Mais especificamente, sobre o que aconteceu com esta linguagem desde o Neo-Pós-Pós, manifesto que o Jardineiro escreveu em 2001, quando era Moderno. A fotografia espontânea deu lugar à fotografia simultânea e quase obrigatória, tirada por um ato de reflexo tão naturalizado quanto o ato de franzir as sobrancelhas em um ambiente muito iluminado. O jardim cultivado para apresentar na Zipper Galeria é diurno. Mas é uma imagem congelada de jardim também, com que o visitante se depara primeiro de longe, como a vislumbrar uma representação de natureza dentro do mais tradicional cânone de “paisagem”. De longe, estamos perante um tableau prestes a virar pintura, ou fotografia. De perto, vivenciamos a inversão lacaniana exemplificada na parábola do pescador que vê uma lata de sardinha boiando na água: não vemos algo apenas, também somos observados pelo objeto que nos devolve nosso olhar. A natureza fotográfica mudou radicalmente nestes onze anos: o Jardineiro escreveu seu manifesto seis meses antes do 11 de Setembro, evento que marca o ápice – e o começo da ruína – da política como imagem, como ficção, como espetáculo. A Al Qaeda tirou partido da linguagem espetacular de Hollywood para planejar seu ataque à cultura liberal-imperialista do Ocidente, mas fundou ali uma dúvida generalizada, em relação à política, em relação à imagem, em relação à realidade e à ficção ao mesmo tempo. Uma nova subjetividade fotográfica foi forjada naquele evento, no momento mesmo em que um segundo avião atingia o World Trade Center e as emissoras de televisão, que transmitiam ao vivo, incluíam uma legenda na qual se lia “estas imagens são reais”. A capacidade de discernir entre ficção e realidade já estava embotada àquela altura. Mas onze anos depois, com a aceleração e ubiquidade da vida mediada (hoje passamos o tempo inteiro conectados às redes digitais – internet, banco, twitters e afins), sobretudo para as gerações que já nascem imersas neste contexto, a dúvida é uma constante a nos acompanhar. Passamos a duvidar de toda e qualquer imagem fotográfica, a ponto de a artista Nan Goldin, conhecida pela radicalidade documental de suas imagens, afirmar que a revolução tecnológica deixou seu trabalho sem lugar, porque ninguém mais acredita estar diante de algo real quando vê suas fotos. Em um mundo em que toda imagem é construída ou manipulada, os frutos do cultivo do Jardineiro de Arte vêm devolver ao sujeito duvidante o olhar desconfiado que este dirige às coisas. Estas flores e estes animais também me espreitam, também me fotografam: a imagem resultante deste olhar é real? Os macacos-fotógrafos podem ser vistos como metáfora das pessoas, mimetizando o comportamento dos estranhos seres que os fotografam alucinadamente em um zoológico ou expedição turística. Mas, para pensar com Lacan, o antropomorfismo não está presente aqui como significação mimética trivial, mas como noção que visa antes um nível metapsicológico de inteligibilidade que nos aproxima do paradigma da formação do inconsciente, como nos ensina Georges Didi-Huberman. Esta árvore de bronze onde animais se equilibram para nos fotografar e este jardim fotográfico não “representam” coisa alguma; eles nos apresentam algo novo. Um novo inconsciente coletivo – e fotográfico – se anuncia.

Juliana Monachesi




“Hey, see that can, you can see it because you’re looking at it, but it doesn’t need to see you to look at you.” (Jacques Lacan, Seminar 16)

What we photograph, what photographs us _ Art Glow Worm Photography is a doubt. Photography is a reflex. Photography is an instinct (of preservation?). The cultivation of the nature of art by the Gardener André Feliciano culminates, in this exhibition, in a set of works less about florescence and more about photography. More specifically, it’s about what has happened to that language since Neo-Post-Post, a manifesto written by the Gardener in 2001, when he was considered a Modern artist. Spontaneous photography has given way to simultaneous and almost obligatory photography, taken by an act of reflex as naturalized as the act of squinting when in a very bright room. The garden cultivated for presentation at Zipper Galeria is a day garden. But it is a frozen image, also of a garden, that first meets the visitor from afar, as if offering a glimpse of a representation of nature within the most traditional “landscape” standard. From a distance, we are faced with a tableau on the verge of becoming a painting, or photography. Close up, we experience the Lacanian inversion exemplified in the allegory about the fisherman who sees a can of sardines floating in the water: we do not just see something, we are also observed by the object that returns our gaze. The photographic nature has also radically changed over the last eleven years: the Gardener wrote in his manifesto six months before September 11, the event that resembles the apex – and the beginning of the decline – of politics as image, as fiction, as spectacle. Al Qaeda adopted spectacular Hollywood language to plan its attack on the liberal-imperialist culture of the west, whereupon it established a generalized doubt in relation to politics, to image, to reality and fiction at the same time. A new photographic subjectivity was forged in that event, in the instant when the second plane hit the World Trade Center and the television broadcasters, screening events live, inserted a subtitle reading “these images are real”. The capacity to distinguish between fiction and reality was blunted by that point. But eleven years later, with the acceleration and ubiquity of mediated life (today we spend all our time connected to digital networks - internet, banks, twitter and the like), particularly for generations that were already born immersed in this context, doubt is a constant in our lives. We start to doubt every and any photographic image, to the point that artist Nan Goldin, known for the radical nature of her pictures, asserts that the technological revolution has left her work in limbo, as people no longer believe they are looking at something real when they see her photos. In a world where every image is constructed or manipulated, the fruits cultivated by the Gardener of Art return to the doubting subject the suspicious gaze with which he regards things. These flowers and these animals are watching and photographing me too: is the resultant image of this gaze real? The monkey-photographers can be seen as a metaphor for people, mimicking the behavior of the strange beings who frenetically take pictures of them in the zoo or on safari. But, thinking like Lacan, anthropomorphism is not included here for trivial mimetic meaning, but rather as a notion aimed firstly at a metapsychological level of intelligibility that draws us closer to the paradigm of the formation of unconscious, as Georges Didi-Huberman instructs us. This bronze tree where animals steady themselves to photograph us and this photographic garden do not “represent” anything at all; they present us with something new. A new collective – and photographic – unconscious is announced. Juliana Monachesi translation by Ben Kohn


Jardineiro André Feliciano São Paulo, Brasil [Brazil], 1984 Vive e trabalha em [lives and works in] São Paulo, Brasil [Brazil] Formação [Education] 2011-2013 •Mestrado em Poéticas Visuais [Master’s Degree in Visual Poetics]. Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, Brasil [Brazil] 2008-2009 •Licenciatura em Artes Plásticas [Licentiate in Fine Arts]. Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, Brasil [Brazil] 2002-2006 •Bacharelado em Artes Plásticas [Bachelor’s Degree in Fine Arts]. Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, Brasil [Brazil] Exposições Coletivas [Group Exhibitions] 2011 •Producing Censorship. The Invisible Dog, Brooklyn, EUA [USA] •30º Arte Pará. Fundação Romulo Maiorana, Belém, Brasil [Brazil] •Natureza da/na Arte. Instituto Meyer Filho, Florianópolis, Brasil [Brazil] •Projecto Multiplo #1. Espacio G, Valparaíso, Chile [Chile] •Convivendo com Arte: Pintura Além dos Pinceis. Centro de Exposições da Torre Santander, São Paulo, Brasil [Brazil] •42º Chapel Art Show. Chapel School, São Paulo, Brasil [Brazil] •Seminário Internacional Arte e Natureza. Instituto Goethe, São Paulo, Brasil [Brazil]


•Projecto Multiplo #2. Universidad Nacional de Córdoba, Argentina [Argentina] •Small Photographic Garden. Bonni Benrubi Gallery, Nova York [New York], EUA [USA] 2010 •Ecológica. Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil [Brazil] •42º Salão de Arte de Piracicaba. Pinacoteca de Piracicaba, Brasil [Brazil] •41º Chapel Art Show. Chapel School, São Paulo, Brasil [Brazil] 2009 •Projeto Tripé. SESC Pompéia, São Paulo, Brasil [Brazil] •Prêmio Energias da Arte. Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil [Brazil] •Visumix. Festival Satyrianas. Praça Roosevelt, São Paulo, Brasil [Brazil] •40º Anual da FAAP. Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, Brasil [Brazil] 2008 •Cultivando a Natureza-da-Arte. Espaço Cultural BARCO, São Paulo, Brasil [Brazil] 2007 •Fotografe Para Ver. Verbo. Galeria Vermelho, São Paulo, Brasil [Brazil] •Nós. Museu de Arte Brasileira, São Paulo, Brasil [Brazil] •10 a Mil. Escola São Paulo, Brasil [Brazil] 2006 •A Natureza Fotográfica. Departamento de Artes da Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, Brasil [Brazil] 2005 •36ª anual da FAAP. Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, Brasil [Brazil] Prêmios [Awards] 2010 •Prêmio Mostras de Artistas no Exterior. Fundação Bienal de São Paulo, Brasil [Brazil]


Jardim com Macaco Fotográfico, 2012 bronze e materiais sintéticos variados [bronze and varied synthetic materials] 128 x 600 x 152 cm [50.3 x 236.2 x 59.8 in]

Fruto Fotográfico (Safra 2012), 2012 impressão com pigmentos minerais sobre papel de algodão [mineral pigments on cotton paper] 85 x 110 cm [33.4 x 43.3 in]

Fruto Fotográfico (Safra 2012), 2012 impressão com pigmentos minerais sobre papel de algodão [mineral pigments on cotton paper] 100 x 133 cm [39.3 x 52.3 in]

Árvore com Macacos Fotográficos, 2012 bronze [bronze] 280 x 140 x 110 cm [110.2 x 55.1 x 43.3 in]

Fruto Fotográfico (Safra 2012), 2012 impressão com pigmentos minerais sobre papel de algodão [mineral pigments on cotton paper] 85 x 110 cm [33.4 x 43.3 in]

Macaco Fotográfico, 2012 bronze [bronze] 105 x 45 x 60 cm [41.3 x 17.7 x 23.6 in]

Fruto Fotográfico (Safra 2012), 2012 impressão com pigmentos minerais sobre papel de algodão [mineral pigments on cotton paper] 85 x 110 cm [33.4 x 43.3 in]

Ema Fotográfica, 2011 bronze [bronze] 142 x 69 x 80 cm [55.9 x 27.1 x 31.5 in]

Fruto Fotográfico (Safra 2012), 2012 impressão com pigmentos minerais sobre papel de algodão [mineral pigments on cotton paper] 85 x 110 cm [33.4 x 43.3 in]

Girafa Fotográfica, 2011 bronze [bronze] 150 x 125 x 52 cm [59 x 49.2 x 20.4 in]


Colmeia Fotográfica, 2012 cera de abelha [beeswax] 25 x 25 x 1 cm [9.8 x 9.8 x 0.4 in]

Caixa de Girassóis Fotográficos Transplantadas da Exposição do Prêmio Energias na Art e, 2009 madeira e materiais sintéticos variados [wood and varied synthetic materials] 57 x 50 x 32 cm [22.4 x 19.6 x 12.8 in]

Fruto Fotográfico (Safra 2012), 2012 impressão com pigmentos minerais sobre papel de algodão [mineral pigments on cotton paper] 100 x 133 cm [39.3 x 52.3 in]

Realização I Accomplished by

Impressão I Printed by

Fruto Fotográfico (Safra 2012), 2012 impressão com pigmentos minerais sobre papel de algodão [mineral pigments on cotton paper] 100 x 133 cm [39.3 x 52.3 in]

Projeto Gráfico l Graphic Design

Fotos | Photos by Guilherme Gomes

Fruto Fotográfico (Safra 2010/2011), 2010/2011 impressão com pigmentos minerais sobre papel de algodão [mineral pigments on cotton paper] 60 x 38 cm [23.6 x 14.9 in]

© março 2012



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