COLEÇÃO ABELARDO RODRIGUES DE PAPEL DO MAC-PE
Recife, 2016
A História do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco O Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco (MAC-PE) é mais que um museu. O prédio onde está instalada a sua sede é um monumento, datado de 1765, que foi tombado em 1966 pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Por isso e por se localizar no sítio histórico da cidade de Olinda, é também parte do Patrimônio da Humanidade. Com a doação, ao Estado de Pernambuco, de parte da coleção do Embaixador Assis Chateaubriand, em 1966, o Governo instalou o MAC-PE nesse edifício histórico, que é hoje um complexo cultural. Dele, fazem parte a sede do museu; a Capela de São Pedro Advíncula; e a Praça Assis Chateaubriand, com anfiteatro — estas últimas em frente à sede, que fica na Rua Treze de Maio, 157, no Varadouro.
Atualmente, os museus são compreendidos como
Ainda fazem parte do museu, duas casas construídas com
instituições dinâmicas que trabalham com o poder
influência da arquitetura do fim do século XIX e início do
da memória enquanto instâncias relevantes para
século XX, denominadas de Reserva Técnica e Galeria
o desenvolvimento das funções educativa e formativa,
Tereza Costa Rêgo, esta última destinada às exposições
com ferramentas adequadas, que respeitam
temporárias de artistas pernambucanos, nacionais e
a diversidade cultural e natural, construindo uma
internacionais. O acervo é aberto à mostra pública na sede.
nova via de acesso ao futuro com mais justiça social,
O MAC-PE tem, em sua reserva técnica, obras raras,
harmonia, solidariedade, liberdade, paz, dignidade
que contam desde o academicismo francês até a
e direitos humanos. O MAC-PE — através da promoção
contemporaneidade, compondo um dos acervos
de exposições permanentes de seu acervo, de mostras
mais importantes do País, com altíssima importância
temporárias de artistas nacionais e internacionais,
museológica e museográfica por sua consagrada
da realização de cursos, oficinas e projetos culturais —
iconografia de interesse de colecionadores e pesquisadores
tem cumprido bem o seu papel social, contemporâneo
nacionais e internacionais. Seu total é de mais de 4 mil
e de patrimônio material e imaterial do Brasil
obras das mais variadas técnicas, épocas, estilos, suportes
e da humanidade.
e autores, cumprindo, assim, um papel de relevância. Célia Labanca Hoje em dia, o MAC-PE reúne em seu acervo dezesseis
DIRETORA DO MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE PERNAMBUCO
coleções. Entre elas, está a Coleção Abelardo Rodrigues de Papel do MAC-PE considerada a melhor e uma das maiores coleções de papel do País, que inclui desenhos, pinturas, gravuras, fotografias, impressos e correspondências de renomados artistas nacionais e internacionais. Esse museu pertence ao Governo do Estado de Pernambuco e, administrativamente, está ligado à Fundação do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Pernambuco (Fundarpe). A direção do museu, que está cadastrado no Sistema Nacional de Museus, constitui-se de uma chefia com o apoio da Associação dos Amigos do MAC (Aamac).
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MARIANNE PERETTI
Paisagem de Olinda, 1959 Nanquim
acervo educativo Este caderno educativo faz parte do projeto cultural Acervo Educativo: Coleção Abelardo Rodrigues de Papel do MAC-PE, e tem como objetivo apresentar ao público obras do colecionador Abelardo Rodrigues, por meio de propostas de arte-educação. A Coleção Abelardo Rodrigues de Papel do MAC-PE é considerada uma das maiores coleções do País de obras feitas sobre papel, que inclui 923 obras de arte, 109 correspondências, 68 fotografias e 106 impressos. A coleção está formada por desenhos, pinturas, gravuras, fotografias e correspondências de nomes como Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Portinari, Alfredo Volpi, Oswaldo Goeldi, Flávio de Carvalho, Lula Cardoso Ayres, Gilvan Samico, Francisco Brennand, Marianne Peretti, entre tantos outros artistas que se destacam na História da Arte do Brasil. Com esse valioso acervo, a curadoria educativa procurou compreender o que a coleção pode ensinar sobre a História da Arte brasileira, especialmente para pensar a passagem do modernismo ao contemporâneo, a partir dos anos 1930/1960. O papel como suporte das obras foi o fio condutor para perceber a coleção através das técnicas empregadas pelos artistas em suas ações, como Desenhar, Pintar, Imprimir, Fotografar e Escrever. Tais ações artísticas compõem os cinco eixos curatoriais escolhidos para compreender a Coleção Abelardo Rodrigues de Papel do MAC-PE em seus conteúdos e expressões. Para cada linguagem artística sobre o papel, as obras foram agrupadas por temas sugeridos pela própria coleção. São temas ricos em significados estéticos e culturais e que também favorecem o olhar para esse panorama da arte nacional. Em Desenhar, quatro temas mostram diferentes modos de perceber a expressão do desenho sobre o papel: Os outros e eu mesmo, Dentro e fora da paisagem, O corpo vivo, Imagens com histórias para contar. O uso das cores e a pintura na superfície do papel sugeriram a segunda ação artística Pintar e duas maneiras de ser apreendido: Pessoas do mundo e Seres vivos e fantásticos. A terceira ação é Imprimir, que revela obras que tratam da gravura sobre o papel através de cinco temas: A vida em outro lugar, O mistério do outro, O ser político, Bichos imaginários e poéticos e A composição do espaço. A quarta ação artística é Fotografar e traz como mote principal as Memórias do cotidiano reveladas no papel fotográfico. A quinta e última ação é Escrever, que mostra os diversos textos da coleção com o tema Letras, palavras, poesias. Neste caderno, você vai encontrar informações sobre a coleção, questões para reflexões, sugestões de atividades artísticas, conhecimentos sobre a História da Arte, glossário, além de dicas de fontes de pesquisa. Você pode usar este caderno do jeito que achar mais apropriado aos seus interesses. Conhecer o valioso acervo da Coleção Abelardo Rodrigues de Papel do MAC-PE é uma rara oportunidade para ter acesso a um patrimônio artístico e cultural brasileiro muito rico. Com a intenção de contribuir com novas experiências perceptivas e cognitivas a partir das obras desta coleção, este caderno educativo foi elaborado para que você some nossas propostas aos seus conhecimentos e faça relações com o que já sabe, para tornar tudo muito mais interessante. 3
Quem foi Abelardo Rodrigues? Abelardo Borges Rodrigues (Recife, PE, 1908–1971) foi
em 1955, e o Museu de Arte Popular de Caruaru, em 1961,
pintor, desenhista, paisagista e se destacou como um dos
hoje conhecido como Museu do Barro de Caruaru.
maiores colecionadores de arte do País. Seu acervo reunia obras de arte sacra, arte popular, desenhos, pinturas, gravuras, fotografias, entre tantas outras preciosidades colecionadas ao longo de 40 anos e que formaram uma das mais extraordinárias coleções particulares do Brasil.
O interesse de Abelardo Rodrigues pelas imagens religiosas fez com que compusesse uma das mais prestigiadas coleções de arte sacra do País. Após seu falecimento, a sua coleção de arte sacra se tornou tão valiosa que foi disputada pelos estados
Desde a infância, Abelardo demonstrou interesse pelo
de Pernambuco e da Bahia, em um episódio que ficou
colecionismo por causa do seu pai, Augusto Rodrigues
conhecido por Guerra Santa, em 1973. A polêmica durou
— dentista de profissão, poeta, membro e criador do
3 anos, e o Estado da Bahia venceu. Desde então, o
museu do Instituto Arqueológico, Geográfico e Histórico
acervo de arte sacra do colecionador integra o Museu
de Pernambuco e um dos primeiros colecionadores
Abelardo Rodrigues, ocupando o Solar do Ferrão, no
particulares do Estado. Abelardo era irmão do
Pelourinho, em Salvador.
colecionador de fotografias antigas Francisco Rodrigues e do desenhista Augusto Rodrigues, um dos responsáveis pela divulgação da obra do Mestre Vitalino e um dos fundadores da Escolinha de Arte do Recife, em 1953, junto com o próprio Abelardo. Da família Rodrigues, destacamse ainda seu tio, o famoso jornalista Mário Rodrigues, seu filho, o pintor Antônio Sérgio Rodrigues, e seu primo,
Abelardo Rodrigues fez da sua paixão como colecionador não somente uma maneira de satisfação pessoal, mas, principalmente, um modo de estabelecer relações sociais, criando museus, realizando exposições e reunindo um valioso patrimônio artístico e cultural que se perpetua até os dias atuais através das suas coleções.
o teatrólogo Nelson Rodrigues. Abelardo Rodrigues viveu no Rio de Janeiro dos 20 aos 38 anos, onde participou do movimento de renovação da década de 1930 e dos círculos modernistas da época. Conviveu com artistas que se destacavam nesse período, como Portinari, Pancetti, Goeldi, Heitor dos Prazeres e Dacosta. Nessa época, Abelardo começou a desenhar e pintar seus próprios quadros, realizando duas exposições individuais, participando de algumas mostras coletivas e dando início a uma das maiores coleções de obras de arte do País. Formou coleções de desenhos, gravuras e aquarelas de Portinari, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Lívio Abramo, Cícero Dias, entre tantos outros artistas, que foram sendo adquiridas no decorrer dos anos. Atualmente, a sua coleção de desenhos, pinturas e gravuras faz parte do acervo do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco (MAC-PE). No final da década de 1940, de volta ao Recife, iniciou uma coleção de arte popular com peças de Mestre Vitalino e outros artesãos pernambucanos. A partir de 1950, Abelardo desenvolveu uma intensa atividade cultural em Pernambuco e no exterior, realizando exposições e criando dois museus de arte popular: o Museu de Arte Popular de Pernambuco, 4
AUTOR DESCONHECIDO
Abelardo Rodrigues entre Coleções, s.d. Fotografia da Coleção Abelardo Rodrigues de Papel do MAC-PE
da arte sobre papel Estamos cercados pelo papel em nosso cotidiano: em documentos, livros, revistas, jornais, fotografias, relatórios, correspondências... São tantas as maneiras de o papel fazer parte de nossa vida que, muitas vezes, por ele ser tão comum e rotineiro, deixamos de perceber seus diversos potenciais como uma superfície que abriga infinitos conteúdos culturais. Fabricado há quase 5 mil anos, a partir de fibras vegetais, o papel é uma das tecnologias mais duradouras e essenciais para o desenvolvimento da criatividade humana. Na arte, o papel é a matéria-prima de todo artista — dos escritores que o utilizam como suporte para tecer suas palavras aos pintores que derramam cores em sua superfície. Quase sempre é no papel que a arte nasce. É o lugar das primeiras ideias, criações, esboços. Maleável, o papel é base para o desenho, a pintura, a gravura, a fotografia e tantas outras linguagens artísticas. São muitas as maneiras de utilizá-lo. Em sua superfície, podem-se construir traços, texturas, linhas, curvas; imaginar projetos; acolher pensamentos e inspirações dos artistas. Em todo o mundo, o papel acompanha a história de todas as artes. No Brasil, as artes do papel receberam mais destaque no século XX. É o que mostra a Coleção Abelardo Rodrigues de Papel do MAC-PE. Numa leitura dessa relação entre homem e papel, o projeto Acervo Educativo apresenta uma curadoria em que o foco é justamente o papel enquanto suporte na arte. Em uma seleção de cerca de duzentas obras, entre desenhos, pinturas, gravuras, fotografias e textos, esta publicação traz preciosidades do acervo do MAC-PE que há algum tempo não são mostradas. As obras revelam como o papel pode estar associado às expressões dos artistas e mostram toda a riqueza que essa matéria-prima pode oferecer à arte.
IVAN SERPA
Sem Título, s.d. Nanquim e aquarela
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desenhar Desenhar revela o movimento livre da mão ao utilizar um lápis, uma caneta, um pincel ou qualquer outro instrumento sobre uma superfície. O desenho é uma composição formada por pontos, linhas e formas que revelam uma imagem real ou imaginada pelo desenhista. Desde a Pré-história, desenhar tem sido uma maneira de expressão do ser humano, tornando-se uma linguagem universal em todas as culturas. Na Coleção Abelardo Rodrigues de Papel do MAC-PE, pode-se encontrar um valioso acervo de desenhos sobre o papel. São obras que revelam as expressões dos artistas através de seus traços e foram escolhidas de forma a mostrar significados em quatro temas: Os outros e eu mesmo, Dentro e fora da paisagem, O corpo vivo e Imagens com histórias para contar.
os outros e eu mesmo A representação artística das pessoas acompanha toda a História da Arte, desde a Antiguidade até os dias atuais, e traz como tema central o ser humano representado de forma realista ou estilizado. Os desenhos de retratos, os autorretratos e todas as demais representações figurativas de pessoas revelam os anseios de gerar reflexões sobre si mesmo e sobre o outro. Olhar para estas obras é um exercício de observação individual e coletiva, como também uma oportunidade de perceber um pouco mais sobre o desenho e suas expressões artísticas.
DI CAVALCANTI
Sem Título, s.d. Nanquim DAREL VALENÇA
Cabeça de Menina, s.d. Carvão
DARCY PENTEADO
Sem Título, 1941 Caneta
Poema X: Modas, Almas, etc., 1961 Nanquim
ELISEU VISCONTI
MARCELO GRASSMANN
Sem Título, s.d. Sanguínea
Sem Título, 1944 Nanquim
FLÁVIO DE CARVALHO
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Por que esta obra pode ser considerada um retrato? A pessoa está representada de forma real ou estilizada? Você conhece outros retratos produzidos em diferentes culturas? Você pode comparar o tipo de personalidade de cada pessoa em retratos diferentes?
O que esta imagem nos conta sobre a pessoa retratada? Quem poderia ser o personagem que vemos nesta imagem? O que esta imagem pode dizer sobre sua vida? Quais os instrumentos usados para realizar retratos hoje em dia?
Esta obra é o autorretrato do artista Yoshiya Takaoka. Podemos observar que, mesmo com poucos traços, o artista conseguiu expressar a imagem que ele faz de si mesmo. Hoje em dia, a fotografia é o instrumento mais comum para o retrato e o autorretrato, conhecido também como selfie.
Que tal você desenhar o seu autorretrato a partir de uma fotografia sua?
AUGUSTO RODRIGUES
Sem Título, s.d. Pincel atômico TÒSSAN
Retrato de Abelardo Rodrigues, s.d. Nanquim YOSHIYA TAKAOKA
Autorretrato, s.d. Nanquim
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dentro e fora da paisagem Na arte, a representação de uma paisagem pode ser classificada como um gênero artístico em que o tema principal apresenta elementos naturais ou não de um lugar, como florestas, rios, mares e cenas urbanas — de interior ou imaginárias. A paisagem foi vista como modo de entender a vida e conhecer o mundo. Elementos como distância, perspectiva, proporção, luz natural e até mesmo a figura humana provocam identificação com o observador, que se permite experimentar as sensações e emoções representadas nas paisagens. estas obras trazem todo um conteúdo simbólico e são um convite para vivenciar a experiência desse olhar sensível para a vida e o mundo que existe ao nosso redor.
MARIANNE PERETTI ALFREDO VOLPI
Sem Título, s.d. Carvão
Paisagem de Olinda, 1959 Nanquim
ROBERTO BURLE MAX
VERA TORMENTA
Sem Título, 1956 Nanquim
Sem Título, s.d. Crayon
MARIANNE PERETTI
ABELARDO RODRIGUES
Paisagem de Olinda, 1959 Nanquim
Paisagem Praieira, s.d. Pincel atômico
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Em 1926, Tarsila do Amaral viajou com um grupo de amigos para o Oriente Médio. Com um caderno de desenhos, a artista registrou diversas paisagens dos lugares por onde passou, como vemos na obra ao lado.
Que tal você desenhar ou fotografar uma paisagem da sua cidade com olhar de estrangeiro?
Este desenho lhe faz lembrar algum tipo de paisagem? Que paisagem poderia ser esta? Há paisagens semelhantes na realidade?
TARSILA DO AMARAL
Onde encontramos paisagens semelhantes a esta imagem em nossa cidade? Que sensações e emoções ela provoca? Como o tema natureza é explorado nos meios de comunicação? Você já esteve em um lugar assim?
Constantinopla, 1926 Nanquim ROBERTO BURLE MARX
Sem Título, 1956 Pincel seco FRANCISCO BRENNAND
Paisagem e Mulher Sentada, 1951 Grafite
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o corpo vivo O corpo humano tem sido um dos temas mais comuns na História da Arte. As figuras humanas criadas pelos artistas podem retratar pessoas, personagens reais ou imaginários; representar expressões, movimentos ou repouso. O corpo proporciona prazeres e dores, tristeza e alegria e é um companheiro presente em todas as facetas da vida, com o qual o ser humano transita pelo mundo e pelo qual sente a necessidade de indagar o seu conhecimento, os seus pormenores, o seu aspecto tanto físico como recipiente do seu “eu interior”. Da sua faceta mais mundana, relacionada ao erotismo, até a mais espiritual, como ideal de beleza, o corpo foi um tema recorrente na produção artística praticamente em todas as culturas que se sucederam no mundo ao longo do tempo, como pode ser observado nos traços e nas texturas destas obras.
ABELARDO RODRIGUES
Sem Título, s.d. Nanquim e grafite colorido FRANCISCO BRENNAND
Sem Título, s.d. Carvão FLÁVIO DE CARVALHO
Mulher, 1938 Nanquim EMIL
Sem Título, s.d. Nanquim AUGUSTO RODRIGUES
Sem Título, s.d. Nanquim AUGUSTO RODRIGUES
Sem Título, s.d. Nanquim
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Os corpos representados nesta obra estão em repouso ou em movimento? Quem são estes personagens? A maneira como foram representados influencia como imaginamos as pessoas nestas obras?
Você já viu uma cena assim? O que a expressão das pessoas retratadas podem nos dizer sobre elas? Que relações você faz desta obra com suas memórias?
CARIBÉ
Sem Título, s.d. Nanquim DAREL VALENÇA
O corpo em movimento é um tema constante nas obras de arte. Na imagem ao lado, Darcy Penteado desenhou os gestos e os movimentos de uma pessoa.
Sem Título, s.d. Nanquim DARCY PENTEADO
Poema IIV: Modas, Almas, etc., 1961 Nanquim
Que tal você criar um movimento de corpo ou de dança a partir deste desenho?
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imagens com histórias para contar Existe uma expressão popular que diz: “Uma imagem vale mais que mil palavras”. Essa expressão pode ajudar a entender o que é uma ilustração. Ilustrar é uma forma de interpretar o significado de uma ideia sem utilizar a escrita. Comum em jornais impressos, livros e revistas, a ilustração é utilizada para interpretar, sintetizar ou mesmo complementar uma mensagem ou um texto. Dentre os tipos de ilustração, existem a caricatura, a charge, o cartum e as histórias em quadrinhos, conhecidas como ilustrações humorísticas e que fazem críticas ou sátiras sobre a política, os personagens conhecidos da sociedade, os eventos cotidianos e temas universais. Todo esse contexto pode ser observado nestas obras da Coleção Abelardo Rodrigues de Papel do MAC-PE.
AUGUSTO RODRIGUES AUGUSTO RODRIGUES
Sem Título, 1945 Nanquim
Sem Título, 1942 Técnica mista LEE BLAIR
EQUIPE WALT DISNEY
Esboços, s.d. Grafite
There’s Nothing Quite Like a Good Cigar, s.d. Grafite
NÁSSARA
NÁSSARA
Sem Título, 1941 Nanquim
Sem Título, 1941 Nanquim
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Que história esta ilustração nos conta? Que sensações e emoções ela provoca? Você já esteve em um evento assim?
O desenho de Augusto Rodrigues ilustra duas pessoas
Que relação pode haver entre esta obra e seu título? Em quais lugares as pessoas são submetidas a essa situação? Que relações você faz desta obra com seu cotidiano?
olhando para um quadro e comentando sobre ele.
Que tal você imaginar o que estes dois personagens comentam e criar perguntas e respostas sobre a imagem do quadro?
PÉRICLES DE ANDRADE MARANHÃO
Sem Título, 1940 Nanquim AUGUSTO RODRIGUES
Sem Título, 1944 Nanquim J. CARLOS
Fila de Ônibus, s.d. Nanquim
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pintar Pintar é encher de cores uma superfície, seja o papel, a tela ou uma parede. Diferentemente do desenho, a pintura torna possível perceber as qualidades simbólicas e expressivas das cores, que oferecem matizes, tons e texturas, como também podem provocar sensações como calor, frio, alegria, serenidade, profundidade, sombra, entre tantas outras. Por toda a História, a pintura acompanha o ser humano, desde a arte rupestre até os dias atuais, através de temas figurativos ou abstratos que revelam a natureza, as pessoas ou mesmo as criações reais e imaginárias dos artistas. A Coleção Abelardo Rodrigues de Papel do MAC-PE é rica em obras que trazem a pintura sobre papel como assunto. Com a intenção de revelar um panorama dessa linguagem artística nas suas mais diversas expressões, foram escolhidas obras que tratam de dois temas que provocam olhares para a pintura sobre papel nessa coleção: Pessoas do mundo e Seres vivos e fantásticos.
pessoas do mundo Muitas vezes, as pessoas representadas nas obras de arte são como personagens encontrados na vida real ou em mundos imaginários. Inseridos em cenas e temas cotidianos, tais personagens costumam trazer conteúdos simbólicos e narrativas diversas que permitem reflexões sobre o mundo que nos cerca. As paisagens, as cenas e os ornamentos que compõem a obra são recursos utilizados pelos artistas para contextualizar e dar significado ao personagem. Estas obras são um convite para refletir sobre os personagens presentes na formação de nossas identidades e da cultura do mundo em que vivemos.
ALOISIO MAGALHÃES
Sem Título, s.d. Aquarela DJANIRA
Sem Título, 1949 Nanquim e têmpera MARIO CRAVO JÚNIOR
Sem Título, 1947 Nanquim e guache ABELARDO RODRIGUES
Sem Título, s.d. Nanquim e aquarela CARLOS BASTOS
Sem Título, s.d. Nanquim e aquarela MARCELO GRASSMANN
Sem Título, 1944 Nanquim e guache
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Como as pessoas estão representadas nestas obras: de forma realista ou estilizada? Todas as pessoas representadas aqui são da cultura brasileira? Você saberia identificar os lugares onde estas pessoas estão? Você imagina as músicas que estão sendo tocadas?
A aquarela de Mary Blair mostra uma cena urbana cotidiana de nossas cidades: pessoas em transportes coletivos e pessoas em praças e espaços públicos.
Que tal você observar a sua cidade e registrar, com desenho, pintura ou fotografia, uma cena cotidiana na qual diferentes pessoas possam ser representadas?
Quais são os elementos da pintura presentes nesta obra? Que sensações e emoções as cores utilizadas lhe provocam? Esta obra faz você se lembrar de algo?
GUSTAVO EPSTEM
Sem Título, s.d. Nanquim e aquarela AUGUSTO RODRIGUES
Sem Título, s.d. Lápis Conté e guache PIROSHA
Sem Título, s.d. Guache MARY BLAIR
Sem Título, s.d. Aquarela
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seres vivos e fantásticos
As figuras de animais aparecem nas representações artísticas desde a arte rupestre até os dias atuais. São maneiras de o ser humano entender a vida e a natureza por meio das representações do reino animal, como cavalos, carneiros, aves, peixes, ou de seres fantásticos criados pela imaginação. Nestas obras, os animais estão representados das duas formas: realistas e imaginados, e simbolizam, acima de tudo, o olhar para a natureza e a fantasia que completam a vida humana.
CHICO DA SILVA
Sem Título, s.d. Guache IVAN SERPA
Sem Título, 1948 Nanquim MARIO CRAVO JÚNIOR
Sem Título, s.d. Nanquim e aguada
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Esses animais são reais ou imaginários? Você saberia dizer onde esses animais vivem? Que cores e formas o artista utilizou para produzir essa imagem?
O desenho de Yoshia takaoka ilustra o encontro de duas aves. Observe que o artista utilizou poucos traços, porém não usou nenhuma cor.
Que tal você escolher um bicho de seu cotidiano e representá-lo através de um desenho colorido?
CHICO DA SILVA
Sem Título, s.d. Guache YOSHIYA TAKAOKA
Sem Título, s.d. Bico de pena IVAN SERPA
Sem Título, 1948 Nanquim
Você já viu um ser como este? Que nome você daria para esta criatura? Por quê? Você saberia dizer em que o artista se inspirou para criar essa obra?
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imprimir Fazer gravura é imprimir uma imagem em uma superfície a partir de uma matriz. Ao contrário do desenho, em que a imagem é única, os procedimentos técnicos empregados na gravura permitem a reprodução da imagem. Na maioria das vezes, para se fazer uma gravura, desenha-se em superfícies duras — como madeira, pedra e metal — com incisões, corrosões e talhos realizados com instrumentos e materiais especiais. Uma gravura é considerada original quando é resultado direto da matriz criada pelo artista. Com essa matriz, ele imprime a imagem em exemplares iguais, numerados e assinados. De acordo com a técnica e o material empregado, a gravura recebe uma nomenclatura específica, como: litogravura, gravura em metal, xilogravura, serigrafia, monotipia, entre outras. Na Coleção Abelardo Rodrigues de Papel do MAC-PE, pode-se encontrar um valioso acervo de gravuras, obras de grandes artistas, que permite o conhecimento do universo das técnicas e dos materiais para a impressão de obras de arte e suas variantes sobre o papel. As obras foram escolhidas de forma a mostrar cinco modos de apreciar a gravura e descobrir significados impressos: A vida em outro lugar, O mistério do outro, O ser político, Bichos imaginários e poéticos e A composição do espaço.
a vida em outro lugar A palavra lugar está relacionada aos espaços e aos ambientes vivenciados pelas pessoas em suas atividades cotidianas, como o trabalho, o lazer, a convivência familiar, as viagens. As representações dos lugares em obras artísticas datam da Préhistória e chegam até a nossa contemporaneidade, expressando uma forma de experiência humana em vivenciar o espaço. Essas obras são um convite para conhecer novos lugares e aguçar olhares sensíveis para o mundo que existe ao nosso redor, representado através das linhas, dos pontos e das texturas traçadas pelos artistas.
Desenho VAN DER BURCH gravado
por CHOLLET Passeio de Barco no Rio Doce, 1838 Gravura em metal LIVIO ABRAMO
Roupas Dependuradas, 1949 Nanquim DOROTÉA
Sem Título, 1950 Xilogravura DORIAN GRAY CALDAS
Motivo com Igreja de São Pedro, 1970 Xilogravura POTY
Do álbum O Recife – 10 gravuras de Poty, s.d. Gravura em metal
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Que lugar é este? Quem são as pessoas que vivem nesse lugar? Você conhece alguém que vive num lugar semelhante a este?
Que relação pode haver entre esta obra e seu título? Que sensações e emoções ela provoca? Você conhece lugares como este?
A gravura ao lado mostra a paisagem de duas cidades — Recife e Olinda — sob o olhar de Franz Carls, no século XIX. Como você acha que está este lugar hoje?
Que tal escolher um lugar da sua cidade e pesquisar as transformações ao longo do tempo através de imagens?
OSWALDO GOELDI
Mulher, Cães e Casa, s.d. Xilogravura GASTÃO HOFSTETER
Construção, 1952 Linoleogravura FRANZ HEINRICH CARLS
Panorama de Recife e Olinda, 1873 Litogravura ou cromolitogravura
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o mistério do outro Na História da Arte, muitas obras fazem referência às representações de personagens reais ou imaginários inseridos em cenas e temas cotidianos que contextualizam e dão significados às pessoas representadas. As cenas e os adereços utilizados pelo artista sugerem narrativas e simbolismos que provocam a imaginação do contexto daquele personagem. Estas obras nos convidam a refletir sobre o mistério do outro, que também participa da formação do imaginário coletivo e da construção de nossa cultura.
JOSÉ ALTINO
A Filha Terceira da Rainha do Miramar, 1970 Xilogravura MISABEL PEDROSA
Sem Título, 1947 Gravura em metal
MISABEL PEDROSA
Sem Título, s.d. Gravura em metal
INALDA XAVIER
ALDEMIR MARTINS
Pescador, 1964 Xilogravura
Sem Título, s.d. Gravura em metal
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Estes desenhos de Almada Negreiros ilustram a publicação Tricórnios, uma antologia de autores portugueses que escreveram sobre o “conceito do homem revoltado”.
Quais são os sentimentos que os personagens transmitem nas imagens? Qual é o significado dos movimentos que eles fazem?
Quais elementos desta obra podem nos dizer algo sobre o personagem e o lugar onde está? O que fala para você a expressão do personagem? Qual foi a intenção do artista ao realizar esta obra?
Nesta gravura, Djanira representou um músico através de seus adereços. De que maneira este personagem está presente na nossa cultura?
Que tal você escolher um personagem que represente a cultura da qual você faz parte e contar a sua história por meio de texto, desenho, fotografia ou vídeo?
ALMADA NEGREIROS
Sem Título, 1948 Gravura em metal CANDIDO PORTINARI
Sem Título, s.d. Gravura em metal DJANIRA
Sem Título, s.d. Gravura em metal
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o ser político
LADJANE BANDEIRA
Do álbum Tricentenário da Restauração Pernambucana, 1954 Gravura em gesso WILTON DE SOUZA
Arte e política fazem parte da vida e se enredam, constantemente, retratando a sociedade e ampliando a compreensão do mundo. A arte é a expressão cultural de um povo e muitas vezes traduz um conjunto de valores sociais,
Cena de Morro, s.d. Xilogravura
situações comuns do cotidiano, relações de poder
DORIAN GRAY CALDAS
organização política. São incontáveis os exemplos
Trabalhando no Canavial, 1970 Xilogravura LULA CARDOSO AYRES
Do álbum Assombrações do Recife Velho, 1955 Impressão tipográfica WELLINGTON VIRGOLINO
Construção, s.d. Xilogravura
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e dominação, ideologias, ideias e formas de de manifestação política por meio das artes visuais, do teatro, da música, da literatura, do cinema e da poesia. Estas obras são um convite para adentrar nas cenas gravadas pelos artistas em relevos e ranhuras e que retratam a sociedade e realçam as relações entre arte e política.
Quem são estas pessoas? A maneira como foram representadas influencia como imaginamos as pessoas neste lugar? Que relações você faz desta obra com a sociedade atual?
O que esta imagem nos conta sobre as pessoas retratadas? Você saberia identificar o lugar onde elas estão? Você acha que este tipo de trabalho acontece dessa mesma maneira hoje em dia?
CORBINIANO LINS
Interior de Mocambo, s.d. Xilogravura WELLINGTON VIRGOLINO
A gravura de Carlos Scliar mostra um personagem que faz um apelo pela paz.
Horticultores, s.d. Xilogravura CARLOS SCLIAR
Assine o Apelo, 1952 Linoleogravura e pochoir
Que tal você escolher um tema da atualidade e criar o seu abaixo-assinado?
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bichos imaginários e poéticos Muitas vezes, a temática animal costuma atuar como um símbolo da natureza primitiva e instintiva do homem. Desde a arte rupestre até os dias atuais, as imagens de animais são abundantes nas representações artísticas do ser humano e da natureza que o cerca. Algumas obras de arte apresentam animais reais, tais como são na natureza, outras os mostram como símbolos sagrados ou bichos imaginários e poéticos. Independentemente da natureza das representações na arte, o enorme interesse do ser humano pelas espécies não humanas fez com que os animais fossem tema de inúmeras obras de arte ao longo da história da humanidade, como pode ser percebido nestas obras.
SANDRA SANTOS
Sem Título, 1971 Xilogravura SAMICO
A Traição, 1964 Xilogravura LIVIO ABRAMO
Tatu, s.d. Xilogravura JOSÉ ALTINO
Pasto e Repasto – O Lanche, 1970 Xilogravura GUITA CHARIFKER
Bichos, 1947 Litografia POTY LAZAROTO
Sem Título, s.d. Água-forte
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Você saberia identificar quais são os bichos nesta obra? Onde os personagens estão? De que maneira estes bichos estão presentes na nossa cultura?
O que o artista quis representar com este bicho? Que sentimento estes animais expressam? Você saberia contar uma história a partir desse animal? Carlos Scliar mostra o bumba meu boi, um personagem popular da cultura brasileira que fala da luta do bem contra o mal nas relações de desigualdade social.
Você poderia criar um personagem que também utilize a imagem de um animal? Qual a mensagem que este personagem daria ao mundo?
SAMICO
A Queda do Anjo, 1965 Xilogravura MARCELO GRASSMANN
Sem Título, 1949 Xilogravura CARLOS SCLIAR
Bumba Meu Boi, 1950 Linoleogravura
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a composição do espaço A arte abstrata, ou abstracionismo, é geralmente entendida como uma forma de arte não figurativa e que se recusa a imitar as coisas da natureza e do mundo. Ela utiliza as relações formais entre cores, linhas e superfícies para compor o espaço da obra de uma maneira “não representacional”. A simplificação da forma, os novos usos da cor, a decomposição da figura e a não representação ilusionista da natureza são características da arte abstrata surgida no início do século XX. É possível notar duas tendências na arte abstrata: o abstracionismo lírico e o abstracionismo geométrico. A arte abstrata como um todo, desde o modernismo, tem a intenção de encontrar uma nova maneira de expressão plástica, livre das representações figurativas, como pode ser percebido nestas obras.
EDITH BEHRING
Sem Título, s.d. Gravura em metal ANNA BELLA GEIGER
Abstração, 1961 Gravura em metal
SÉRVULO ESMERALDO
Sem Título, s.d. Gravura em metal
LÍVIO ABRAMO
Campos do Jordão, s.d. Gravura em metal
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MÁRIO GRUBER
Sem Título, s.d. Gravura em metal
Quais são as formas encontradas no mundo real que poderiam ter inspirado a artista nesta obra? Que outro título você daria a esta obra? Que sensação esta obra lhe desperta?
Quantas camadas de cores você pode perceber nesta obra? Quais são as emoções que esta obra lhe desperta? Existe algo que você lembre ao ver esta obra?
Na gravura ao lado, Iberê Camargo compõe o espaço através de formas e texturas.
Que tal você criar a sua própria composição abstrata utilizando lápis de cor sobre um papel?
DORA BASÍLIO
Abstração, 1962 Gravura em metal FAYGA OSTROWER
Sem Título, 1968 Gravura em metal IBERÊ CAMARGO
Sem Título, 1962 Água-forte
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fotografar Fotografar é gravar imagens com a luz, pois é a partir da luz que os objetos refletem que e se podem perceber suas texturas, suas cores e seu movimento. Basicamente, a fotografia é a técnica de criar imagens através da exposição luminosa e fixá-las em uma superfície sensível como o papel. A fotografia existe desde os anos 1800 e até hoje não se vive sem ela ou sem o hábito de fotografar. As imagens fotografadas nos contam histórias e fatos de importância social ou pessoal, e é a linguagem artística que permite gravar fielmente aquilo que vemos. Muitos fotógrafos, com suas máquinas, lentes, técnicas de iluminação e enquadramento, elegem como tema objetos e elementos da vida cotidiana, estimulando o espectador a ver o mundo de maneiras diferentes. As fotografias da Coleção Abelardo Rodrigues de Papel do MAC-PE são documentais e registram pessoas, lugares e acontecimentos da vida do colecionador Abelardo Rodrigues e de quem lhe era próximo. As imagens da coleção permitem conhecer mais sobre a trajetória do artista e colecionador, assim como perceber o meio artístico pelo qual ele transitava através do tema Memórias do cotidiano. 35
memórias do cotidiano
AUTOR DESCONHECIDO
Moça e Prensa de Gravura, s.d. Fotografia AUTOR DESCONHECIDO
Exposição. Entre as Pessoas, Wellington Virgolino, Wilton de Souza, Marco Aurélio, s.d. Fotografia
Fotografar é congelar lembranças, reconstruir
AUTOR DESCONHECIDO
por fotógrafos anônimos. A arte de fotografar o
Augusto Rodrigues e Abelardo Rodrigues, s.d. Fotografia AUTOR DESCONHECIDO
Abelardo Rodrigues entre Álbuns, 1956 Fotografia AUTOR DESCONHECIDO
Goeldi, Abelardo Rodrigues, Santa Rosa e Outros, s.d. Fotografia
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memórias. Os hábitos e a cultura ficam sempre evidenciados nas fotos, e o cotidiano das pessoas é retratado com desenvoltura, muitas vezes cotidiano continua sendo instigante e fascinante para muitas pessoas. Na Coleção Abelardo Rodrigues de Papel do MAC-PE, é possível revisitar as memórias e o cotidiano do colecionar e da sua época a partir destas imagens.
A fotografia ao lado mostra o ateliê de um artista e alguns quadros. Fotografar lugares, espaços abertos ou ambientes internos sempre foi tema da fotografia.
Você já esteve em um lugar como este? O que este lugar lhe faz lembrar? Que tal você escolher um ambiente interno para fotografar seus elementos?
Na foto ao lado, vemos um grupo de pessoas. São alunos de Portinari, quando este era professor de Arte. Fotografar pessoas sempre foi tema da fotografia.
Você já participou de um grupo de pessoas como este? O que esta foto lhe traz à memória? E se você reunisse um grupo de pessoas que tenham algo em comum para fotografar?
AUTOR DESCONHECIDO
Atelier com Quadros e Dois Personagens, s.d. Fotografia AUTOR DESCONHECIDO
Portinari e seus Discípulos na Universidade, 1934 Fotografia
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escrever Escrever consiste na utilização de símbolos para expressar o conhecimento humano. A escrita surgiu há mais de 5 mil anos e trata-se de uma representação de códigos que permitem registrar com precisão a linguagem falada através de sinais visuais, transmitindo mensagens ao longo dos anos em todo o planeta. As ciências, as memórias, as notícias e os sentimentos são amplamente divulgados pelas palavras escritas, e com elas pode-se comunicar, com mais ou menos objetividade, o que se deseja. A Coleção Abelardo Rodrigues de Papel do MAC-PE possui um grande número de cartas, bilhetes e outros documentos escritos, através dos quais se pode perceber o tipo de linguagem de uma época e os assuntos tratados com o colecionador Abelardo Rodrigues no âmbito da arte e de seus produtores. São obras da coleção que trazem a escrita sobre o papel a partir do tema Letras, palavras, poesias. 39
letras, palavras, poesias Letras, palavras e poesias traduzem mensagens em todos os sentidos, sentimentos, emoções, recordações, através da escrita sobre o papel, e acompanham a humanidade desde a Antiguidade. Cartas, bilhetes, telegramas, poemas e autobiografias de artistas que fizeram parte da vida do colecionador Abelardo Rodrigues podem ser conferidas nestas imagens.
JOSÉ PANCETTI
Aerograma, 1960 Manuscrito a caneta CÍCERO DIAS
Carta, 1955 Manuscrito a caneta LULA CARDOSO AYRES
Bilhete, s.d. Manuscrito a caneta FRANCISCO BRENNAND
Bilhete, 1954 Manuscrito a caneta AUGUSTO RODRIGUES
Poema, 1936 Nanquim ABELARDO DA HORA
Carta, 1946 Manuscrito a caneta ABELARDO DA HORA
Carta, 1946 Manuscrito a caneta
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Carlos Pena Filho escreveu o poema ao lado e Reynaldo Fonseca o ilustrou. Muitas vezes, a poesia e o desenho se unem para compor uma obra de arte única.
Você já viu algum poema ilustrado como este? O que este poema lhe faz lembrar? Que tal você escolher um texto ou um poema para ilustrar com desenho, fotografia ou colagem?
No texto ao lado, Volpi escreveu sobre si próprio. Em sua autobiografia, o artista descreve em poucas palavras sua trajetória no mundo da arte.
CARLOS PENA FILHO (POEMA) E REYNALDO FONSECA (DESENHO)
Retrato do Pintor Reynaldo Fonseca, 1960 Técnica desconhecida VOLPI
Autobiografia, s.d. Manuscrito a caneta
O que o artista quis destacar em sua autobiografia? Que relações você faz deste texto com sua vida cotidiana? Que tal você escrever sua autobiografia?
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Os álbuns de gravura A gravura moderna no Brasil teve início na década
de Gilberto Freyre, de 1955; o álbum Gravuras
de 1920. A partir dessa época, surgem muitos
gaúchas: 1950–1952, do Clube de Gravura de Porto
artistas gravadores, como também os clubes
Alegre e Bagé, com obras que tratam de temas
de gravura, onde os artistas trabalhavam em
políticos e que tem prefácio de Jorge Amado; o
coletividade e tinham como um dos temas mais
álbum Gravuras, da Sociedade de Arte Moderna
explorados as relações com a política e com a
do Recife e do Clube de Gravura do Recife, de 1957,
literatura. Ao contrário dos pintores, os artistas
com obras de Corbiniano Lins, Wellington Virgolino
gravadores não abandonaram suas relações com
e Wilton de Souza, que trazem temas de ordem
a ilustração, trabalhando a gravura como uma
social e tem prefácio de Abelardo da Hora; e o
síntese entre a palavra e a imagem.
álbum de Dorian Gray Caldas, com xilogravuras
Por meio da gravura, podia-se atingir um grande
figurativas e abstratas, de 1970.
número de pessoas por conta da sua facilidade de
Nas próximas páginas, você irá encontrar imagens
reprodução, e, dessa maneira, os artistas poderiam
desses álbuns. Nossa proposta é que você as utilize
ter seu trabalho e sua mensagem mais presente
tanto para criar jogos educativos como também
na sociedade com obras que não eram únicas, pois
nas atividades propostas. Você poderá imaginar
eram reproduzidas em série. Na década de 1950,
diversos jogos que envolvam narrativas, desenhos,
tornou-se comum a prática dos álbuns de gravura,
peças de teatro, músicas, histórias em quadrinhos,
que eram formados por obras de um único artista
novelas e mais uma infinidade de possibilidades
ou de um coletivo de artistas.
que provoquem novas experiências perceptivas e
Na Coleção Abelardo Rodrigues de Papel do MACPE, podem-se encontrar quatro preciosos álbuns de gravuras que trazem as inspirações dessa época: o álbum com os desenhos de Lula Cardoso Ayres para ilustrar o livro Assombrações do Recife velho,
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cognitivas. Que estas imagens gerem boas ideias e que você as utilize como a sua imaginação achar mais interessante!
LULA CARDOSO AYRES
LULA CARDOSO AYRES
LULA CARDOSO AYRES
Série Assombrações do Recife Velho, 1955 Impressão tipográfica
Série Assombrações do Recife Velho, 1955 Impressão tipográfica
Série Assombrações do Recife Velho, 1955 Impressão tipográfica
LULA CARDOSO AYRES
LULA CARDOSO AYRES
LULA CARDOSO AYRES
Série Assombrações do Recife Velho, 1955 Impressão tipográfica
Série Assombrações do Recife Velho, 1955 Impressão tipográfica
Série Assombrações do Recife Velho, 1955 Impressão tipográfica
LULA CARDOSO AYRES
LULA CARDOSO AYRES
LULA CARDOSO AYRES
Série Assombrações do Recife Velho, 1955 Impressão tipográfica
Série Assombrações do Recife Velho, 1955 Impressão tipográfica
Série Assombrações do Recife Velho, 1955 Impressão tipográfica
GLÊNIO BIANCHETTI A Paz no Campo, 1951 Linoleogravura
GASTÃO HOFSTETTER Construção, 1952 Linoleogravura
AILEMA BIANCHETTI Sapateiro, 1952 Linoleogravura
DANÚBIO GONÇALVES Assine o Apelo, 1951 Linoleogravura
DANÚBIO GONÇALVES Fiesta en el Mundo, 1952 Linoleogravura
GLAUCO RODRIGUES Conferência Continental Americana pela Paz, 1952 Linoleogravura
GLAUCO RODRIGUES No Campo de Futebol, 1951 Linoleogravura
CARLOS SCLIAR Bumba Meu Boi, 1950 Linoleogravura
CARLOS SCLIAR Assine o Apelo, 1952 Linoleogravura e pochoir
CORBINIANO LINS
CORBINIANO LINS
CORBINIANO LINS
Morte do operário, 1957 Xilogravura
Lavadeiras, 1957 Xilogravura
Menina com boneca, 1957 Xilogravura
WILTON DE SOUZA
WELLINGTON VIRGOLINO
WILTON DE SOUZA
Cena de Feira, 1957 Xilogravura
Horticultores, 1957 Xilogravura
Cena de Morro, 1957 Xilogravura
WELLINGTON VIRGOLINO
WELLINGTON VIRGOLINO
WELLINGTON VIRGOLINO
Construção, 1957 Xilogravura
Cortador de Cana, 1957 Xilogravura
Barqueiros, 1957 Xilogravura
DORIAN GRAY CALDAS
DORIAN GRAY CALDAS
DORIAN GRAY CALDAS
Tocadores de Bambelô, 1970 Xilogravura
Engenho, 1970 Xilogravura
Rua dos Prazeres do Canto do Mangue, 1970 Xilogravura
DORIAN GRAY CALDAS
DORIAN GRAY CALDAS
DORIAN GRAY CALDAS
Um Motivo de Congos, 1970 Xilogravura
Fruto, Folha e Flor, 1970 Xilogravura
Motivo com Igreja de São Pedro, 1970 Xilogravura
DORIAN GRAY CALDAS
DORIAN GRAY CALDAS
DORIAN GRAY CALDAS
Motivo com Igreja de Santo Antônio, 1970 Xilogravura
Canto do Mangue, 1970 Xilogravura
Vendedores de Abacaxi, 1970 Xilogravura
Augusto Rodrigues e a fundação da Escolinha de Arte do Recife Augusto Rodrigues (Recife, PE, 1913 – Resende,
Além de artista e arte-educador, Augusto Rodrigues,
RJ, 1993), irmão do colecionador Abelardo
junto com seu irmão Abelardo Rodrigues, divulgou a
Rodrigues, foi desenhista, pintor, fotógrafo, poeta
obra do Mestre Vitalino e incentivou a arte popular
e arte-educador. Ao lado do seu irmão, foi figura
brasileira. Como caricaturista e ilustrador, tinha
importante na divulgação e no fortalecimento da
predileção por ironizar a sociedade e os poderosos.
arte pernambucana e brasileira.
Em seus trabalhos artísticos, integram pintura e
Em 1930, com dezesseis anos de idade, junto com os artistas Hélio Feijó, Percy Lau, Carlos de Holanda e Nestor Silva, criou o Grupo dos Independentes
desenho, e, entre seus temas, a mulher é personagem constante, além dos elementos da cultura popular pernambucana, como o frevo e as danças de roda.
e organizou o I Salão de Arte Moderna no Estado de Pernambuco. Em 1933, estreou como chargista no Diario de Pernambuco e realizou sua primeira exposição individual no Recife. Em 1935, foi morar no Rio de Janeiro e logo se tornou colaborador de jornais e de revistas como O Estado de S. Paulo e O Cruzeiro, além de participar de várias exposições coletivas e individuais como artista. Augusto Rodrigues foi um dos pioneiros da arteeducação no Brasil. Em 1948, criou a Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro, pioneira na América Latina, com a participação da professora de arte Lúcia Alencastro Valentim e da escultora Margareth Spencer. Essa iniciativa torna-se importante referência para o desenvolvimento da arte-educação no Brasil e deu início ao Movimento Escolinhas de Arte em vários estados brasileiros, que incluía pesquisas poéticas no processo de ensino para estimular a criança a desenvolver sua própria singularidade. Em 1953, Augusto Rodrigues juntamente com Noêmia Varela, Ulisses Pernambucano, Abelardo Rodrigues e um grupo de intelectuais, artistas e educadores fundaram a Escolinha de Arte do Recife, uma referência no ensino da arte nacional, com uma metodologia de ensino focada nas distintas expressões artísticas — dança, pintura, teatro, desenho e poesia. Desde a sua fundação até os dias atuais, com 62 anos, a Escolinha de Arte do Recife já recebeu mais de 8 mil alunos e
AUTOR DESCONHECIDO
livros, além de uma coleção de cerâmica doada por
Augusto Rodrigues no Ateliê, s.d. Fotografia
Abelardo Rodrigues. Por lá passaram nomes que se
AUGUSTO RODRIGUES
possui um acervo de cerca de 6 mil desenhos e 3 mil
destacam nas artes plásticas, como Gil Vicente, Eudes Mota e a arte-educadora Ana Mae Barbosa.
Bailarina, 1941 Nanquim e lápis de cera
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glossário Acervo É o conteúdo de uma coleção privada
Gêneros da pintura São cada uma das categorias
ou pública, podendo ser de caráter bibliográfico,
que classificam as obras de arte, segundo os temas
artístico, fotográfico, científico, histórico, documental,
representados: retrato, natureza-morta, paisagem,
misto ou qualquer outro.
pintura histórica, nu artístico, entre outros.
Caricatura É o desenho que acentua ou revela certos
Gênero textual é o nome que se dá às diferentes
aspectos caricatos — ridículo, burlesco, grotesco —
formas de linguagem empregadas nos textos, formais ou
de uma pessoa ou fato.
informais. É a maneira como a língua se organiza para se
Charge É uma ilustração em que se satiriza um fato específico, em geral de caráter político e que é do conhecimento público.
Coleção Reunião de objetos da mesma natureza, que tenham uma ou mais características em comum, escolhidos por sua beleza, raridade, valor documentário ou preço, por exemplo: coleção de selos, coleção de quadros.
para saber mais projetoacervoeducativo@gmail.com facebook.com/projetoacervoeducativo instagram.com/acervoeducativo #acervoeducativo
manifestar nas mais diversas situações de comunicação do cotidiano, como nos bilhetes anotados em post-its, nas mensagens eletrônicas, cartas, cartões postais, biografias, poemas, romances, piadas, etc.
Patrimônio cultural É o conjunto de manifestações, realizações e representações de um povo ou de uma comunidade que faz parte do cotidiano e estabelece as identidades que determinam os valores de um povo.