Expedição Cultural

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R$ 4,90 • ANO 2 / Nº 2 / 2012

CONHEÇA VINTE IMPERDÍVEIS MONUMENTOS DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO BRASIL 1


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MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO ≠ 1 Catas Altas da Noruega/MG

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THEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO ≠ 2 Rio de Janeiro/RJ

pág. 10

IGREJA DE N. S. DA GLÓRIA DO OUTEIRO ≠ 2 Rio de Janeiro/RJ

pág. 13

MOSTEIRO DE SÃO BENTO ≠ 2 Rio de Janeiro/RJ

pág. 15

CONVENTO DE SANTO ANTÔNIO ≠ 2 Rio de Janeiro/RJ

pág. 18

MUSEU DE ARTE MODERNA ≠ 2 Rio de Janeiro/RJ

pág. 21

MASP ≠ 3 São Paulo/SP

pág. 24

MUSEU OSCAR NIEMEYER ≠ 4 Curitiba/PR

pág. 27

MUSEU NACIONAL DO MAR ≠ 5 São Francisco do Sul/SC

pág. 30

MUSEU IBERÊ CAMARGO ≠ 6 Porto Alegre/RS

pág. 33

THEATRO SÃO PEDRO ≠ 6 Porto Alegre/RS

pág. 36

MUSEU DE HISTÓRIA DO PANTANAL ≠ 7 Corumbá/MS

pág. 39

MEMORIAL DAS CAVALHADAS ≠ 8 Pirenópolis/GO

pág. 42

IGREJA DE NOSSA SENHORA DA ABADIA ≠ 9 Cidade de Goiás/GO

pág. 45

PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA ≠ 10 São Raimundo Nonato/PI

pág. 48

MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO CRISTÓVÃO ≠ 11 São Cristóvão/SE

pág. 51

CONVENTO E IGR. DE STO. ANTÔNIO DE CAIRU ≠ 12 Cairu/BA

pág. 54

ESPAÇO CULTURAL DA BARROQUINHA ≠ 13 Salvador/BA

pág. 57

CONJ. ARQUITETÔNICO DO ENG. FREGUESIA / MUSEU DO RECÔNCAVO WANDERLEY PINHO ≠ 14 Candeias/BA

pág. 60

MUSEU CASA GUIMARÃES ROSA ≠ 15 Cordisburgo/MG

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INSPIRADA POR JOÃO

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RICA EXPERIÊNCIA PELO BRASIL

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Editorial

O que os pequenos museus Casa de Guimarães Rosa, em Cordisburgo (MG), e o das Cavalhadas, em Pirenópolis (GO), têm em comum com o Museu do Mar, em São Francisco do Sul (SC)? Como as artes sacras guardadas com tanto carinho em São Cristóvão (SE), que acaba de ter a Praça de São Francisco reconhecida como Patrimônio da Humanidade, conversam com as obras do Museu de Arte de São Paulo (Masp)? Em comum, esses e outros 15 monumentos retratam trechos da história do Brasil, numa conexão que une preservação de valores, ritos e fatos que marcaram o surgimento do país e do seu povo. Eles serviram de inspiração para uma viagem singular, feita em 35 dias, percorrendo 15 mil quilômetros por lugares já famosos na rota turística nacional, mas também pontos desconhecidos de grande parte dos brasileiros. A viagem por si só seria de uma riqueza ímpar, mas se tornou mais emocionante porque contou com participação ativa no blog www.expedicaocultural.com.br de diversos leitores-internautas, ávidos por compartilhar suas experiências em um dos 20 monumentos históricos em 11 estados brasileiros visitados pela expedição, ou seu desejo em conhecê-los. Os autores de comentários concorreram a uma viagem, com acompanhante. Embora um tenha sido selecionado, todos

são vencedores, pelo reconhecimento do grande potencial turístico brasileiro. Na revista, você, leitor, pode conferir alguns dos depoimentos. O site da Expedição vai continuar no ar, para que você dê sua opinião sobre a revista e o projeto. Ao longo da publicação, você vai encontrar QRCodes (um código de barras em 2D que pode ser lido pela maioria dos aparelhos celulares e tablets com câmera fotográfica) para acessar vídeos feitos durante a Expedição Cultural. No aparelho móvel, faça o download de um leitor (i-nigma), enquadre a imagem no visor e navegue pelo conteúdo. A revista tem ainda uma versão para iPad, com conteúdo exclusivo, disponível no aplicativo do Estado de Minas. A Expedição Cultural, em sua segunda edição, é um projeto realizado pelo jornal Estado de Minas, com patrocínio da Petrobras, com o objetivo de disseminar e valorizar o patrimônio e a cultura brasileira. Essa jornada, repleta de sensações, beleza, comidas e costumes regionais, lugares pitorescos, riqueza patrimonial e gente da melhor qualidade, começou na internet com o blog, cuja partida foi dada em Minas Gerais rumo a importantes patrimônios localizados no Rio Grande do Sul, Piauí, Sergipe, Bahia, Goiás, Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. Boa viagem! 5


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memoria

Cotidiano

DO

MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO • CATAS ALTAS DA NORUEGA/MG

As serras que margeiam Catas Altas da Noruega, a 142 quilômetros de Belo Horizonte, já serviram de ponto de passagem de muitos tropeiros em tempos passados. Eles se foram, mas cavaleiros ainda são vistos na cidade mineira de pouco mais de 3 mil habitantes. Circulam vez ou outra nas ruas do núcleo urbano e na extensa área rural, onde está metade da população. O vaivém dos animais compõe o cenário bucólico da tranquila cidade. No Centro, um casarão de 1850 reúne o burburinho de hoje e de ontem. É o Museu e Arquivo Histórico de Catas Altas da Noruega que guarda um acervo precioso: a história de parte da vida da cidade. 6 6

Em lugar de tratados históricos, é possível ver pequenas moedas, pedaços de papel, baús, instrumentos antigos de trabalho, diplomas e muitos retratos que expõem a história dos fotografados e remetem a seus ancestrais. Em uma imagem que teria sido registrada nos anos 1930, o libanês Miguel Jorge está à frente de um cavalo escuro. Pela pesquisa histórica feita para instalação do museu soube-se que o cavaleiro da foto saiu do Líbano aos 12 anos e, depois de passar muitos dias embarcado em um navio, aportou no Rio de Janeiro. Por motivo ignorado, veio parar sozinho em Catas Altas da Noruega, onde prosperou como dono de terras e formou família.


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Tudo foi doado pelos próprios moradores. Até o sobrado sede, cedido por um político. O casarão é peça viva da história da cidade que, apesar de ter sido emancipada em 1962, pertence a uma região ocupada a partir de fins do século 17, época do início da corrida do ouro naquela área. A casa antiga tem janelas e piso de madeira e paredes de pau a pique revestidas com barro. Por manter as características originais, a construção constantemente precisa de reparos. Em 2009, ela foi modernizada e ganhou armários, mobiliário, alarme, climatização e equipamentos de informática e projeção. Em 2011, descobriram uma viga de sustentação deteriorada e foi preciso trocá-la. A edificação com 10 cômodos na parte de cima e uma biblioteca pública na parte inferior já foi residência, oficina mecânica, cartório e casa de baile. É a mesma casa em que Ângela Alves dos Reis Neiva, a dona Nenzinha, de 83 anos, e Francisco Gonçalves Neiva, o “seu” Chico, de 84, se casaram e passaram a noite de núpcias, em 1955. “Era um dia bem chuvoso, mas mesmo assim veio muita gente porque era festa para mim e para minha irmã, que se casou um dia antes. Fizemos almoço, doce, e à noite teve baile”, lembra ela. Dona Nenzinha morava na área rural e, como o casamento seria na cidade, chegou com os pais uma semana antes e se hospedou na casa do amigo “Parentão”, na ocasião morador solitário do sobrado. “Não tinha dinheiro para viajar naquela época e passamos a primeira noite aqui mesmo, naquele quarto”, diz “seu” Chico, apontando para um cômodo onde hoje estão

objetos e documentos do padre Luiz Gonzaga Pinheiro, pároco por 46 anos em Catas Altas da Noruega. “Seu” Chico, dona Nenzinha e toda a população conheceram bem o padre, que chegou à cidade em março de 1949. O museu foi criado inicialmente para homenagear esse homem, responsável por conseguir recursos e forças para abrir estradas, energia elétrica e água, e por construir e reformar capelas. Há no museu uma ala com três salas dedicadas ao padre. É nesse espaço que se podem buscar relatos escritos sobre o famoso caso da santa que caiu do céu. No ano de chegada do padre, a imagem de Nossa Senhora das Graças foi lançada de um avião, junto com outros pertences de tripulantes, que, desesperados com uma pane no motor, tentavam deixar a aeronave mais leve. Pois a imagem caiu intacta em Catas Altas da Noruega, justamente quando padre Luiz aguardava encomenda de outra imagem que tardava a chegar. Não veio por terra, veio do céu, acreditam todos. A santa que veio do céu está lá, atualmente na Igreja do Rosário, no Centro. Quando, em 1955, morreu o padre amado pela população, foi preciso uma ordem judicial para retirar seu corpo do município, pois os moradores não queriam que a família o levasse para sua terra natal, Senhora dos Milagres. Rota histórica e religiosa, Catas Altas da Noruega tem, entre seus atrativos, uma cultura religiosa secular. Em todos os cantos há igrejas e pequenas capelas, o que se desdobra em festividades comemorativas a vários santos durante o ano. Segundo o prefeito Giovane Luiz 7


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ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Rua Direita, 65, Centro – Catas Altas da Noruega (MG) VISITAÇÃO – De terça-feira a domingo, das 10h às 17h ENTRADA – Gratuita CONTATO – (31) 3752-1379 JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Dê uma boa volta por duas ruas que reúnem um número maior de patrimônios protegidos e restaurados: a Das Goiabeiras e a Lava Pés. Ambas têm capelinhas restauradas.

Lobo Neiva, são 18 capelas e igrejas, sendo oito dos séculos 18 ou 19. A de data mais remota é a Capela de Nossa Senhora da Conceição da Noruega, erguida em 1719. Entre as antigas, quatro estão na área rural. Uma rota religiosa e gastronômica interessante é o circuito batizado de Santo Inácio com Costela, uma caminhada de 10 quilômetros que parte do Centro com pontos de parada na Igreja de São Sebastião do Pirapetinga, na Fazenda Hotel Santo Inácio e, na sequência, em uma fábrica de açúcar mascavo. A última escala é em Santo Inácio, um pequeno povoado que guarda uma delícia da culinária local: a costelinha com canjiquinha feita por Vanise Maria da Silva Pereira, servida na cozinha da sua casa ou no quintal, à sombra de uma mangueira. Se você for em grupo, vale a pena procurar a Fazenda Hotel Santo Inácio, que aluga os seis quartos para turmas maiores – (31) 3752-1253. Com pintura nova e ambientada em uma fazenda, a hospedaria está a sete quilômetros do Centro de Catas Altas da Noruega, com estrada de terra em boas condições. Há também uma pensão bem simples na cidade, mas a oferta maior de hospedagem é nas cidades de Itaverava, Conselheiro Lafaiete e Piranga.

Dona Nenzinha e “seu” Chico se casaram e passaram a noite de núpcias no imóvel onde é o museu

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Silvana Orlandi “Morros frios e úmidos que ‘escondiam a face do sol’. Essa é Catas Altas da Noruega, que não conheço mas tenho imensa curiosidade de conhecer. Tropeiros e viajantes descobriram essa região. Hoje me imagino em uma tropa de cavalos subindo e descendo esses morros e sentindo-me como uma desbravadora dessa região maravilhosa, conhecendo a cultura local, os moradores e seus ‘causos’, comidas, costumes, cheiros. Esse é o meu sonho.”

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O Rio é PURO

patrimonio Tão procurada pelas belezas naturais e pela noite animada, a cidade do Rio de Janeiro é também um roteiro que reúne importantes monumentos do patrimônio cultural e histórico do país. Alguns são herança da época da fundação da cidade, em 1565. Pouco depois disso, ordens religiosas sediadas em Portugal enviaram representantes ao Rio, a fim de cuidar da espiritualidade da gente que ali vivia. Dessa época é o Mosteiro de São Bento, que teve suas acomodações provisórias construídas em 1590. Um século depois, os franciscanos instalaram-se na cidade, no espaço hoje ocupado pelo Convento de Santo Antônio. Poderes políticos, econômicos e culturais se expressaram por esta cidade. Em 1763, o Rio passou a ser a capital do Brasil, o que só mudou com a construção de Brasília, em 1960. Houve também a migração da família imperial de Portugal para a capital fluminense, no século 19, incentivando a manutenção de patrimônios, como a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, hoje com 272 anos. Todos procuravam estar perto do Centro, pois o restante da cidade era bairro distante ou mato. Foi assim quando os teatrólogos e atores reivindicaram a criação de um teatro de porte no início do século passado, surgindo na Cinelândia o Theatro Municipal, inaugurado em 1909. Quando, muito tempo depois, conseguiram-se recursos e área para a construção do Museu de Arte Moderna, o MAM,

Obra exposta no MAM

criado em 1948, a escolha foi o Centro também. Atualmente, o espaço é alvo de debates: há diversas propostas e especulações sobre sua revitalização, a maioria em função das Olimpíadas, em 2016, e da Copa do Mundo, em 2014. Uma das principais apostas é o Porto Maravilha, projeto de revitalização da área portuária às margens da movimentada Avenida Perimetral. Alguns armazéns antigos do porto estão, aos poucos, se transformando em espaço para eventos. Todos os monumentos visitados pela Expedição Cultural no Rio passaram ou estão em processo de restauração ou ampliação. Apesar da articulação atual pela recuperação do Centro, há muitas atrações por lá, independentemente do que virá, a começar pelos cinco monumentos que serão detalhados nas próximas páginas. Na vizinhança, há prédios históricos de vários períodos, teatros charmosos e com programação de qualidade, como o Rival Petrobras, cinemas à moda antiga, como o Odeon, centros culturais com extensa agenda, como o do Banco do Brasil, e prédios com inspiração francesa, a exemplo dos ocupados pela Câmara Municipal, o da Biblioteca Nacional e o do Museu Nacional de Belas Artes. É por ali também que está a Confeitaria Colombo, datada de 1894, onde todo dia parece festa. Se faltar programa pelo Centro, caminhe alguns minutos que você chega à efervescente Lapa.

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A Opulênciado MUNICIPAL

THEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO • RIO DE JANEIRO/RJ

De pé no centro do palco, enquanto ensaia os músicos para o espetáculo de logo mais, o maestro está de costas para as belezas do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Não deixa de notar, quando olha de relance, o brilho dos lustres e dos frisos dourados a adornar o espaço que estará cheio em menos de uma hora. A sala de espetáculos atrás de Fábio Mechetti, da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, complementa as atrações que estão no palco da principal casa de espetáculos para música clássica e ópera do país. As cadeiras com estofamento vermelho colorem a paisagem predominantemente dourada da sala, com capacidade para 2.361 pessoas. Com a grande restauração pela qual o Municipal passou até 2010, as luzes, cores, frisos, piso e detalhes estão tinindo de bonitos. “Ficou muito bom depois da reforma e os próprios músicos sentem a imponência do teatro, o que reflete na maneira de tocar”, observa o maestro Mechetti. É a primeira vez da orquestra mineira no Municipal do Rio. Acima do miolo da plateia que foi assistir ao concerto, um grande e suntuoso lustre brilha com a força de 118 lâmpadas com pingentes de cristal. Inaugurado em 1909, o Theatro Municipal passou por reparos de várias dimensões e, ainda assim, vinha há 10

algum tempo demonstrando a necessidade de uma intervenção mais radical. Em 2007, parte do teto do foyer do balcão nobre desabou, acendendo um alerta que resultou na reunião de esforços de empresas e do governo do Estado do Rio de Janeiro, ao qual o teatro está ligado, para início imediato das obras. Como expressou a presidente da Fundação Theatro Municipal, Carla Camurati, para deixar tudo em ordem, o espaço precisou ser “desmontado”. “Ele foi transformado em um grande ateliê de restauro. Na sala de espetáculo tinha andaime até o teto. Descemos a águia para reformá-la, tiramos o lustre central e desmontamos cristalzinho por cristalzinho”, conta a cineasta. Depois de mais de dois anos de trabalho, o resultado visual impressiona. De fora, o novo douramento da grande águia feita em cobre, de quase três metros de comprimento e seis metros de envergadura das asas, não deixa dúvidas de que se está diante do Theatro Municipal. A fachada expõe também seis colunas clássicas e três belos vitrais alemães onde estão representadas as musas protetoras das artes. Resultado da fusão de dois projetos arquitetônicos, do brasileiro Francisco de Oliveira Passos e do francês Albert Guilbert, o prédio é inspirado na Ópera de Paris. O estilo é o que se chama de eclético, uma mistura de pinceladas que


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flertam com o clássico, o neoclássico e o art nouveau. Há obras artísticas espalhadas por toda parte. Esculturas de Rodolpho Bernardelli, pinturas no teto ou paredes de Eliseu Visconti, Henrique Bernardelli e Rodolpho Amoedo, máscaras de deuses, detalhes de rodapés e portas. Quando o visitante quer descansar, tem à sua disposição duas rotundas laterais – charmosos cômodos com janelas grandes, pinturas nas paredes e no teto, espelhos, mármores e sofás centrais. Entre as duas rotundas está o foyer do balcão nobre. Para chegar a ele, usa-se a escada principal, uma exuberância de ônix e bronzes que dá acesso também aos camarotes, incluindo um da Presidência da República e outro do governador do Estado. Boa parte dos materiais usados na construção veio da Europa em navios. Na época em que o Theatro Municipal foi erguido, no início do século 20, o Centro da então capital do país passava por transformações. O prefeito que idealizou o Municipal, Pereira Passos, foi o mesmo que abriu avenidas, retirou moradias populares do Centro do Rio e levou adiante um plano de embelezamento da área. RICA PROGRAMAÇÃO • A cidade mudou, mas o teatro, hoje com 102 anos, foi mantido no mesmo endereço, a Praça Marechal Floriano, na Cinelândia. O palco

da centenária casa foi cedido, ao longo dos anos, para artistas importantes e para todas as grandes orquestras, como as filarmônicas de Berlim, da Inglaterra e de Israel. Nos quatro prédios que compõem o Theatro Municipal do Rio trabalham cerca de 900 pessoas, divididas entre o teatro, a central técnica de produções e a área de cursos. A programação com nomes nacionais e internacionais da música erudita, da ópera e da dança preenche o calendário semanal. Reforçam a agenda os corpos artísticos do próprio teatro, compostos pela orquestra sinfônica, coro e balé. Só óperas próprias serão quatro neste ano. Também o Restaurante Assyrio, no prédio do teatro, deve ficar mais movimentado, pois os serviços passarão por licitação e o espaço funcionará independentemente dos espetáculos. Inspirado na Babilônia antiga, ele tem cabeças de touro, leões, lâmpadas em estilo retrô e telhado baixo, tudo compondo uma atmosfera de salão de um antigo palácio persa. Para quem se interessa em conhecer detalhes do Theatro Municipal, a boa dica é fazer a visita guiada que percorre a chamada parte nobre (compreende áreas de maior valor artístico e com maior uso), a coxia do teatro e a entrada dos camarins. O visitante assiste também a um filme sobre o trabalho de restauro. 11


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“Conheço um pouquinho do Rio de Janeiro, mas gostaria de conhecer o Theatro Municipal, onde grandes espetáculos aconteceram. A arte em seu auge desde os tempos do Império. O Rio é arte, gostaria de ver o outro lado desse estado. Fugir do roteiro comum de praias... Voltar ao glamour de outras épocas. Sonhar um pouco...”

ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Praça Marechal Floriano, s/no, Cinelândia – Rio de Janeiro (RJ) VISITAÇÃO – A visitação é guiada e ocorre entre terça-feira e sábado, em diferentes horários, sempre a partir das 11h. Para grupos escolares o agendamento é na terça ou na quinta-feira. ENTRADA – R$ 10 (inteira) CONTATO – (21) 2332-9220 / 2332-9005 JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Passeie pelo quarteirão para ver outros prédios históricos à moda francesa e observe a variedade de idiomas que se falam na Praça Marechal Floriano, em frente ao Theatro Municipal, um dos pontos turísticos que atraem estrangeiros em visita ao Rio. Carla Camurati, presidente da Fundação Theatro Municipal

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Igreja DO

IMPERADOR IGREJA DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA DO OUTEIRO • RIO DE JANEIRO/RJ

É até difícil para o visitante da Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro dizer se o mais bonito é o templo religioso, de 272 anos, decorado com delicadeza e apuro, ou a vista que se tem do lado de fora do azul da Baía de Guanabara, com o morro do Pão de Açúcar ao fundo. A igreja na qual dom Pedro II foi consagrado e que a família imperial escolheu para frequentar durante o período em que permaneceu no Rio de Janeiro mantém na parede o brasão do Império. No museu e no arquivo, instalados nos fundos da igreja, estão objetos, móveis, livros, documentos e quadros pertencentes a dom Pedro e sua família ou alusivos a eles. Há também documentos de valor histórico sobre todo o tempo de existência da igreja na cidade e, especialmente no museu, objetos usados na liturgia católica ao longo dos anos. Curiosamente, permanece um pouco da pompa que provavelmente a família imperial admirava. A igreja é

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Rosa Yazigi “Rio 40 graus... cidade turística, da beleza e do legado natural. As virtudes são inúmeras nesse cenário tão quente. Rio, tu és belo e gigante, ainda perto do mar... Caminhar sobre teu chão me faz flutuar como se eu fosse um anjo, à beira-mar... Muitas vezes me engano vendo prédios parisienses e ouvindo sotaques franceses pedindo o samba no acorde mais quente.”

regida por uma irmandade formada por pessoas da sociedade carioca. Os membros, representados por uma mesa administrativa eleita, deliberam sobre os rumos, dão sua contribuição financeira, organizam festas, participam das cerimônias. O próprio dom Pedro II outorgou o título de Imperial à irmandade, que permanece ainda hoje. A igreja que encantou o imperador exibe uma “graça ingênua” como disse o poeta Manuel Bandeira – resultado da simplicidade misturada a detalhes singulares. A torre com o sino tem a base quadrada e está no alinhamento da entrada. O restante do corpo da igreja se compõe de duas formações octogonais irregulares entrelaçadas que dão um aspecto levemente arredondado à estrutura quando se olha de fora. No interior, o chão, os púlpitos e altares são de madeira. As paredes, de pedra, têm algumas pilastras à mostra. Preciosos azulejos portugueses com pinturas azuis em fundo branco estão em diferentes espaços: corredores laterais, nave, capela-mor, sacristia e coro. Com exceção dos da sacristia, com cenas de caça, os outros são inspirados no Cântico dos cânticos. Atribuídos ao mestre Valentim de Almeida, eles foram fixados ali no século 18. No altar principal, de madeira trabalhada, vê-se a imagem de Nossa Senhora da Glória. Sempre no mês de agosto, dedicado à santa, a imagem é retirada por alguns momentos do altar para ter as vestes trocadas em ritual de portas fechadas. A elevação, que hoje abriga a igreja, era conhecida como Morro do Leripe, área onde portugueses e franceses travaram batalha em 1567, cada qual desejando o controle daquela cobiçada localidade. Um século depois, já sob o domínio português, um ermitão construiu uma capela simples naquele espaço e lá deixou uma imagem de Nossa Senhora da Glória. Assim ficou até que se decidisse construir uma igreja estruturada no mesmo local, resultando na atual, inaugurada em 1739. Há três anos foi concluída uma grande restauração na estrutura do templo. Talhas de madeira, pinturas, rede elétrica, pedras, imagens, tudo foi reformado. Um tempo antes, os azulejos também passaram por uma criteriosa recuperação que durou dois anos. 14 14

VISITA • O dia mais festivo para os devotos de Nossa Senhora da Glória é 15 de agosto, dia da padroeira. Neste ano, uma segunda-feira normal de trabalho no Rio de Janeiro. Mesmo assim, muitos estiveram na igrejinha. As amigas aposentadas Hilda Pereira de Freitas, de 80 anos, e Ivete Martins, de 76, nasceram na capital fluminense e somente este ano foram pela primeira vez à Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, justamente no dia da padroeira. “Adoro festa de santinho e a gente aproveitou para conhecer a igreja, que é linda”, disse Ivete. A vista bonita da água ao fundo não esconde os prédios, os telhados extensos, as avenidas com carros. A tudo a igrejinha viu surgir. Aos pés dela, na época da construção, estava o mar, mas a população cresceu e os dirigentes quiseram aumentar a faixa de terra na área e o fizeram, criando o Aterro do Flamengo. Do Centro do Rio se alcança o templo religioso pela Ladeira da Glória, de pedra. Há ainda a opção de usar um elevador para chegar. À medida que o visitante sobe, o ar fica mais leve.

ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Praça N. S. da Glória, 135, Bairro Glória – Rio de Janeiro (RJ) VISITAÇÃO – Igreja e museu - De segunda a sexta-feira, das 9h às 17h (os dois fecham para almoço entre 12h e 13h). Sábados e domingos, das 9h às 12h. ENTRADA – Gratuita para a igreja; R$ 2 para o museu CONTATO – (21) 2557-4600 / 2225-2869 JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Aproveite para visitar o museu com peças sacras e outras alusivas ao Império, como quadros retratando a família imperial e utensílios usados por eles. Já o arquivo passa por uma reforma e não pode ser visitado.


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Refúgio NO Coração DA

metropole MOSTEIRO DE SÃO BENTO • RIO DE JANEIRO/RJ

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A subida que separa a Rua Dom Gerardo, no Centro do Rio de Janeiro, do Mosteiro de São Bento opera uma espécie de milagre. Ao completar a curta caminhada encontramos São Bento no meio de um amplo gramado, acompanhado dos dizeres: “Pai dos monges do Ocidente”. Os monges ocidentais daquele mosteiro são cerca de 30. Eles zelam pelo espaço, onde há uma igreja e o verde dos grandes fícus centenários que dão sombra para os que desejam escapar da confusão da cidade por algum tempo. Os primeiros monges beneditinos chegaram ao Rio em 1589, quando a cidade tinha apenas 24 anos. Conseguiram por doação do fidalgo Manoel de Brito o terreno, até hoje ocupado pela ordem. Ali, levantaram moradia provisória e iniciaram, em meados dos anos 1650, a construção do atual mosteiro. As peças para estruturá-lo vieram de vários países em navios, sobretudo da Europa. Com elas se compuseram suntuosos pórticos, pisos, capelas, pedras de cantaria, forros

e mobiliário. A área de clausura não é aberta à visitação. E, se o interessado em visitar for uma mulher, então, a entrada é inegociável. O próprio Colégio de São Bento, ao lado do mosteiro, aceita apenas homens entre os seus cerca de mil alunos. Já a belíssima Igreja de Nossa Senhora de Monserrate, do século 17, mantém as portas abertas a todos. Por fora a fachada é simples, com uma torre triangular e portões de ferro, no estilo chamado de maneirismo. Dentro tem-se a suntuosidade barroca com algum detalhe em rococó. A igreja foi recentemente restaurada e o dourado predominante nas paredes está resplandecendo. A talha de madeira é recoberta de ouro fino. A beleza está no conjunto, favorecido pelo jogo de sombras devido à luz discreta que ilumina o ambiente, e também nos detalhes. O tapa-vento do século 18, com duas portas, dá acesso à igreja. Os lustres imensos que pendem do teto, o telhado, o coro, tudo foi bordado por artistas criteriosos. E foram muitíssimos, com a ajuda dos escravos, que

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Lauro Soares “Há muitos anos, um amigo que visitou o Mosteiro de São Bento me falou das maravilhas da arquitetura do lugar e do ambiente de paz que se sente lá. Contou também que os monges formam um magnífico coral de canto gregoriano, ficando marcada em sua memória a apresentação que teve a oportunidade de presenciar. Disse também uma curiosidade sobre o almoço deles: ‘Eles comem ouvindo a leitura do jornal oficial do Vaticano, para desviar a atenção do sabor da comida, praticamente sem tempero’. Depois dessa conversa, sempre quis visitar o lugar, mas por diversos motivos acabei adiando. Chegou a hora!”

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GENTE DAQUI

Irmão Daniel Marques Há mais de 30 anos no Mosteiro de São Bento, irmão Daniel diz ser um dos mais velhos. A idade, conforme ele diz, já passa dos 70. Apreciador da natureza, ele é identificado como “o que sabe o nome das árvores”. Irmão Daniel já se adaptou à rotina de acordar às 4h, a fim de se preparar para as primeiras orações do dia. O café é tomado às 6h. “Depois, cada um vai para sua ocupação.” O almoço, diz, é servido pontualmente às 12h, e no início da noite é hora de novo ofício com orações. Apesar das paredes grossas do mosteiro, chega às celas dos monges o barulho da Avenida Perimetral, na parte de trás da edificação. “O movimento é dia e noite e nos incomoda, pois precisamos meditar”, diz.

ergueram as paredes de pedra. Dois deles são citados como donos de dons artísticos e responsáveis por algumas obras do mosteiro: Antônio Teles e Miguel do Loreto. Nas laterais e no forro do altar-mor, onde os monges rezam, estão 14 painéis pintados de 400 anos, simbolizando a aparição de Nossa Senhora aos santos. Nas laterais da igreja estão as capelas, que ajudam a fazer dela uma obra artística singular. São oito capelas do século 17, cada uma dedicada a uma irmandade e adornada de modo particular. A capela do Santíssimo Sacramento foi a única construída pela própria irmandade de São Bento. As outras, conforme explica Erick Vianna, condutor do visitante pela igreja, foram montadas em espaço cedido pelo mosteiro. Um mármore branco em todas as capelas, com exceção da de São Brás, indica que as irmandades foram extintas. Uma das mais belas é a de Nossa Senhora do Pilar, com chão em mármore de Carrara e pilar de ouro branco. Sob seu altar está a tampa de acesso ao ossário, um espaço para as urnas com os restos mortais de nobres. No chão da igreja é possível identificar os dizeres de uma sepultura: “Da doadora Victória de Sá, falecida em agosto de 1667”, em referência à doadora de terras em Jacarepaguá para a ordem beneditina. Há corpos enterrados ainda no pátio do convento. Antigo também é o hábito dos monges de realizarem algumas cerimônias com canto gregoriano no altar-mor da igreja. A principal é aos domingos. Nesse dia, na missa das 10h, com todos os bancos geralmente ocupados, é tocado o belo órgão da Coroa, datado de 1773, hoje com o auxílio de dois órgãos elétricos. Para ouvir o canto, há opções de missa às 7h30 todos os dias, com exceção do domingo. Ou ainda no Ofício de Laudes, às 6h45, diariamente, e às 7h15, aos domingos. Os monges cantam também no Ofício de Vésperas, às 18h todos os dias, e às 17h30 aos domingos. O mosteiro é procurado também por pesquisadores interessados na ordem beneditina e na história do Rio de Janeiro. O acervo documental tem raridades, como o Dietá-

rio da vida dos monges e a Crônica de 1646, ambos com informações detalhadas sobre mudanças no mosteiro, obras, acordos e doações. Fora do espaço de clausura funcionam o colégio e a faculdade de São Bento, o que implica movimentação constante de pessoas e carros para aquele recanto. Monges e cidade tiveram que se harmonizar, cada um buscando manter o que lhe é mais próprio. A cozinheira Madalena Ximenes, de 36 anos, trabalha à noite e costuma frequentar os jardins do mosteiro antes do expediente. “Quando consigo chegar mais cedo, venho aqui e fico sentada na grama pensando na vida, buscando tranquilidade.” O diretor de patrimônio do mosteiro, dom Mauro Fragoso, observa que a modernidade perturba o recolhimento necessário aos monges. Ao mesmo tempo, reconhece que muitas pessoas ainda têm o mosteiro como espaço para fugir da correria. “É aqui, no alto do Morro de São Bento, em meio às árvores e ao som dos pássaros, que muitas pessoas, às vezes em seu horário de almoço, encontram refúgio para recarregar as energias para continuar enfrentando o desgastante trabalho no turbilhão da cidade.”

ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Rua Dom Gerardo, 68, Centro – Rio de Janeiro (RJ) VISITAÇÃO – Igreja aberta diariamente, das 6h30 às 18h30 ENTRADA – Gratuita para visita livre; com guia, R$ 10 (inteira) e R$ 5 para idosos; gratuito para crianças de até 7 anos CONTATO – (21) 2206-8100 / 2516-2286 JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Vá até a parte de trás do mosteiro para alcançar um pequeno mirante de onde se avista o mar, parte da área da Marinha e a ponte Rio-Niterói.

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REENCONTROCOM Escondidos

TESOUROS

CONVENTO DE SANTO ANTテ年IO 窶「 RIO DE JANEIRO/RJ

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O convento tem mais de 400 anos, as duas igrejas na entrada são preciosidades barrocas, há cinco capelas do século 18 no claustro e peças de valor artístico e histórico imenso, mas a grande atração para o visitante do Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro, no momento, é a obra de restauração. O arquiteto responsável, Olínio Coelho, fez questão de não impedir o fluxo de pessoas à Igreja de Santo Antônio, datada dos idos de 1600, onde ele e sua equipe trabalham atualmente. E assim será até o término das obras, previsto para 2013. “Não quisemos fechar. As pessoas podem ver o que vai aparecendo, vão acompanhando as mudanças.” Os trabalhos são um atrativo interessante porque estão revelando, por meio de escavações e raspagens, o traçado e as cores originais de um dos conjuntos mais

importantes da arquitetura franciscana no Brasil. Durante os anos, foram feitas alterações ao gosto da época e dos dirigentes do convento. Na entrada da Igreja de Santo Antônio, um risco a lápis mostra o desenho anterior triangular que será devolvido ao frontão (parte superior da fachada do templo religioso). Ele havia sido substituído por forma quadrada “em volutas”. Dentro da igreja, uma cavidade na parede faz ver a estrutura de um confessionário do século 17, cujo piso de tijolo maciço, encontrado durante as escavações, seria da época da construção da igreja. Ele compõe um quebra-cabeças que comprova, conforme Olínio Coelho, que se trata dos confessionários mais antigos do Brasil. À esquerda do púlpito também há uma abertura grande e quadriculada na parede mostrando que ele não é o original. Os azulejos azuis

GENTE DAQUI

Ana Lúcia Pimentel, coordenadora do projeto de restauro Ex-funcionária do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Ana Lúcia só passou a ter noção maior da importância do Convento de Santo Antônio quando foi coordenar os projetos de restauro. “O conjunto já era tombado, mas estava todo camuflado. As pesquisas e trabalhos foram revelando que temos aqui um patrimônio importantíssimo para o país”, pontua. Hoje, ela dedica muitas horas do dia ao projeto. Assim que for concluída a restauração, daqui a dois anos, Ana terá nova tarefa para se empenhar: o convento vai receber adaptações para ficar mais atraente para o visitante. Haverá espaço multimídia, café cultural, área para exposição de relíquias e para a venda de produtos relacionados ao convento e à sua história.

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ROTEIRO 4 EXPEDICAOCULTURAL.COM.BR

do interior vão ser retirados, pois são de 1987 e, segundo a equipe de restauro, não se harmonizam com as feições da igreja. Na parte dos fundos do convento foram achados restos dos aquedutos da Lapa, outrora usados para abastecimento de água naquela região. A restauração, iniciada em 2007, abrange todo o conjunto do convento: espaços internos e externos da casa que acolhe os religiosos, Igreja de Santo Antônio e a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, que estão edificadas lado a lado. Nesta última, são apenas intervenções pontuais, pois 10 anos atrás foi feita grande reforma em suas dependências. Toda dourada e em madeira trabalhada, ela é uma das belezas para se ver no conjunto. O esplendor da pintura e do tom amarelado nos altares e paredes faz com que muitos se refiram a ela como um exemplo de arte total barroca, diferente da vizinha, que é caracterizada como barroco discreto. Parte dos trabalhos na Igreja da Ordem Terceira são atribuídos a Francisco Xavier de Brito, responsável também por algumas belezas na histórica e mineira Ouro Preto. No Convento de Santo Antônio teria sido redigido o discurso do Fico e o esboço da primeira Constituição do Império brasileiro. O autor, frei Francisco Sampaio, foi conselheiro político de dom Pedro I. Em reconhecimento, ainda hoje estão no convento os restos mortais de dois filhos de dom Pedro I, dois filhos de dom Pedro II e um feto da princesa Isabel. Os antigos moradores mais famosos são os que teriam operado milagres, como frei Fabiano de Cristo, homenageado com ex-votos deixados no espaço. Na casa viveu outra personalidade ilustre, frei Antônio de Sant’ana Galvão, ou simplesmente Frei Galvão, o primeiro santo nascido no Brasil. Ele foi ordenado padre na Igreja de Santo Antônio e morou com os religiosos entre 1761 e 1762. Uma escultura de madeira, doada por um fiel anônimo, simboliza o que seria um milagre do frei. Na representação, ele entrega um pano

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a uma mulher. Conforme relatos, no pano virgem apareceu impressa, meses depois, uma oração de cura. Todo dia 25 de cada mês, o Convento de Santo Antônio faz celebração solene em homenagem a Frei Galvão, quando são distribuídas as tradicionais pílulas do frei. Ainda no chão do claustro do convento estão enterrados vários corpos, provavelmente de religiosos ou escravos que ali viveram. As histórias seculares encantam Leon Gandos, vocacionado da Ordem dos Frades Menores. Há um ano e meio no convento, ele é um dos atuais 14 moradores do local. Só em dois anos e meio, o jovem, nascido em Santiago de Compostela, na Espanha, vai receber seu primeiro hábito. “Ah, se as pessoas soubessem quantas histórias são guardadas no Centro do Rio! Dizem, por exemplo, que um único frei conseguiu pôr os holandeses para correr simulando barulhos de gente, fazendo jogo de luzes”, conta.

ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Largo da Carioca, s/no, Centro – Rio de Janeiro (RJ) VISITAÇÃO – Igreja de Santo Antônio – De segunda a sexta-feira, das 8h às 19h; sábado, das 8h às 12h; domingo, das 9h30 às 11h. Igreja da Ordem Terceira – De terça a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 16h ENTRADA – Gratuita CONTATO – (21) 2262-0129 JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – O Largo da Carioca é bem central. Vale a pena sair caminhando por perto para descobrir mais pontos culturais. O movimentado Centro Cultural do Banco do Brasil, por exemplo, na Rua Primeiro de Março, está a 10 minutos a pé.


EXPEDIÇÃO CULTURAL EXPEDICAOCULTURAL.COM.BR

O

Milagre

do mam

MUSEU DE ARTE MODERNA DO RIO DE JANEIRO • RIO DE JANEIRO/RJ 21


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Instalação em aço e cobre de José Resende

A faixa de terra sob o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) nem existia quando decidiu-se que aquele pedaço da Baía de Guanabara era um bom local para instalar o museu. O MAM, fundado em 1948, ficou 10 anos sem sede própria. Quando aterraram a área prometida, o arquiteto Affonso Eduardo Reidy teve condições de melhor vislumbrar o cenário que poderia compor com a construção. Como o natural já era deslumbrante, com uma bela esplanada e o mar à porta, o arquiteto se empenhou em dialogar com esses elementos. No prédio suspenso, finalizado lentamente a partir de 1958, quando o MAM passou a ocupá-lo, predomina o traço horizontal. O vão livre deixa passar o vento, as pessoas e a visão de um lado a outro. Reidy optou pelo uso predominante de estruturas vazadas e transparentes. De dentro do Bloco de Exposições, grandes janelas exibem a paisagem mais famosa do Rio de Janeiro – a Baía de Guanabara com o morro do Pão de Açúcar ao fundo. O que há para se admirar dentro do espaço, interliga-se ao visual externo, com a vantagem da entrada de luz natural. O interior foi projetado sem colunas e com poucas paredes para dar mais liberdade à composição das exposições. Do jardim do museu, projetado pelo paisagista Burle Marx, se vê o vaivém de barcos no mar. No sentido oposto está o Centro do Rio de Janeiro, com seu burburinho e pistas rápidas, o que torna o MAM uma espécie de oásis urbano. Com um acervo de mais de 15 mil obras, o museu está entre 22

os de maior representatividade em arte moderna na América Latina. No conjunto há peças importantes elencadas pelo presidente do MAM, Carlos Alberto Gouvêa Chateaubriand, como Vista do caminho para Mariana, de Alberto da Veiga Guignard; Lindonéia - a Gioconda do subúrbio, de Rubens Gerchman; O vendedor de frutas; Estudo para a negra e Urutu, de Tarsila do Amaral; e Homenagem à cara de cavalo, de Hélio Oiticica. Alguns artistas têm o trabalho representado com um número superior a 100 obras, como Waltércio Caldas, Carlos Vergara, Cildo Meireles, Artur Barrio e Roberto Magalhães. Muitas outras foram perdidas em um incêndio que atingiu o Bloco de Exposições há 33 anos. Doações vindas de artistas, galerias e colecionadores ajudaram a recompor o acervo. Desde 1993, o museu recebeu, em regime de comodato, 7 mil peças da Coleção Gilberto Chateaubriand. Diplomata e editor de livros de arte, o homem que dá nome à coleção reuniu, em quase 60 anos uma das mais completas coleções de arte brasileira do século 20. “Um acervo para ser formado não depende só de dinheiro, mas de acesso mesmo, de tempo para compor o conjunto. Por isso essa coleção cedida em comodato foi tão importante”, explica o presidente do MAM, Carlos Chateaubriand. Em geral, o museu apresenta cinco exposições ao mesmo tempo, o que significa espaço para uma internacional representativa, para as exposições do acervo e outras que podem ser de artistas consagrados ou com menos tempo


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Arlete Perpétua da Silva “Numa cidade maravilhosa, em que a natureza já se encarregou de mostrar em toda a sua dimensão as obras divinas, exageradas na sua poderosa exuberância de cores, formas e tamanhos, nada mais justo que o homem criasse também um ambiente, cercado de lindos jardins, harmoniosamente dispostos em torno de um edifício projetado especialmente para aconchegar e exibir tudo de belo criado por mãos humanas. Assim, com o talento, a genialidade e a cumplicidade de Burle Max e Affonso Eduardo Reidy, eis que surge, em 1948, no Rio de Janeiro, o magnífico Museu de Arte Moderna.”

de experiência, além das que vêm com projetos específicos, como o Terceira Metade, um diálogo entre produtores de países de língua portuguesa. ANEXO • Em breve, o espaço será complementado com um anexo de 7.400 metros quadrados, cuja construção já obteve do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) a autorização para início, necessária para prédios tombados. Nele será construída área para exposição permanente e outra para artistas jovens, além de auditório, biblioteca e parte da reserva técnica. No foco dos gestores do MAM estão também atividades educacionais, informa o curador Luiz Camillo Osório. “A ideia é que o público consiga interagir, que entenda os processos criativos e ganhe um pouco de fala.” Atualmente, as ações estão concentradas no Núcleo Experimental de Educação e Arte, organizador de diálogos, encontros, cursos e conversas sobre as mostras de arte em geral. Tudo é destinado a estudantes, demais grupos ou a qualquer outro interessado. Em muitas das ações, os educadores aproveitam o acervo da cinemateca do MAM, de mais de 7.500 filmes.

ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Avenida Infante Dom Henrique, 85, Parque do Flamengo (o MAM está muito próximo do Aeroporto Santos Dumont - menos de 5 minutos de carro - e pode ser uma opção enquanto se espera um voo) – Rio de Janeiro (RJ) VISITAÇÃO – De terça a sexta-feira, das 12h às 18h. Sábados, domingos e feriados, das 12h às 19h (a bilheteria sempre fecha meia hora antes) ENTRADA – R$ 8 (inteira); R$ 4 para estudantes e maiores de 60 anos; gratuita para crianças de até 12 anos e amigos do MAM. No domingo, ingresso família para até 5 pessoas por R$ 8. CONTATO – (21) 2240-4944 e www.mamrio.org.br JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Ao lado do jardim do MAM e à beira-mar há uma pista para caminhadas. Uma volta por ali, perto da Marina da Glória e do Parque do Flamengo, é uma fuga da movimentação do Centro do Rio de Janeiro.

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Obra integrante da Mostra de Arte Urbana

o NOVO FÔLEGO do Masp MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO ASSIS CHATEAUBRIAND • SÃO PAULO/SP

O museu, considerado o mais importante em arte ocidental da América Latina, está fervendo com novas ideias. Aos 64 anos e com acervo de mais de 8 mil obras, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) terá expandida sua área expositiva e vai ganhar uma nova escola de artes. As mudanças serão possíveis com a inauguração do edifício anexo ao museu na Avenida Paulista, um prédio de 14 andares, que passa por reformas. O fim das obras está previsto para o fim de 2012, mas o novo uso já está definido, conforme o diretor-secretário geral do Masp, Luiz Pereira Barretto. Seis andares serão 24

para a escola que vai ofertar formação ligada à arte, como museologia, restauração e história. Haverá cursos livres e alguns em nível de pós-graduação, que poderão ter alcance bem maior do que os já promovidos no museu. Nos outros andares do anexo funcionarão laboratórios de restauro e de certificação de obras de arte, restaurante e café. Com a mudança, o prédio atual do Masp vai ganhar mais 1.800 metros quadrados para exposições, calcula Barretto. “Acabamos de receber uma doação de 2.500 peças de arte oriental, mais um motivo para aumentar nossa área expositiva.” Os dirigentes querem fazer de um dos auditórios existentes no museu, com 400 lugares, um espaço para


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exibição constante de filmes de arte. “Na Avenida Paulista, onde estamos, passam 1 milhão de pessoas por dia e cerca de 2 mil entram no museu. Como é nossa intenção interagir com a cidade, acreditamos que esse número pode crescer”, afirma o diretor. Entre as propostas de maior interação com São Paulo está a mostra de arte urbana. Na primeira edição, em 2010, 150 mil pessoas assistiram à exposição com artistas brasileiros. Em 2011, foram chamados oito artistas estrangeiros, que mantiveram suas obras até o fim do ano no espaço. Foram grafites, colagens, montagens, instalações, vídeos, grandes fotografias nas paredes e nas áreas livres

da Galeria Clemente de Faria e mais algumas intervenções no entorno do Masp. Fora dali, as outras áreas expositivas exibem preciosidades do acervo do museu. Barretto calcula que cerca de 700 peças, entre as que o Masp guarda, sejam obras-primas. Caminhando pelas salas, o visitante se depara com quadros, gravuras e esculturas dos grandes artistas mundiais de diferentes épocas, como o valioso quadro Himeneu travestido assistindo a uma dança em honra a Príapo, de Nicolas Poussin, do século 17, restaurado há dois anos. Estão lá trabalhos de Van Gogh, Auguste Rodin, Salvador Dalí, Paul Gauguin, 25


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Auguste Renoir, Claude Monet, Botticceli, Eugène Delacroix. Por obras desse porte, o Masp é um dos membros do Clube dos 19, que reúne os museus com acervo representativo de arte europeia do século 19. O acervo começou a ser composto nos anos 1940, por iniciativa do jornalista e empresário Assis Chateaubriand, fundador dos Diários Associados, grupo de comunicação do qual o jornal Estado de Minas faz parte. Com auxílio do crítico de arte italiano Pietro Bardi, ele comprou obras, sobretudo na Europa, aproveitando boas ofertas surgidas no período do pós-guerra. Doações de políticos e empresários financiavam a compra, e o prédio dos Diários Associados acolheu o Masp no início. Em 1968, seguindo o projeto da arquiteta Lina Bo Bardi, ergueu-se a sede própria com um vão livre de quase 80 metros do nível da rua e duas colunas, hoje vermelhas, sustentando o edifício suspenso. O prédio e o acervo são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Na época, eram apenas os dois andares que se veem da Paulista. Com os anos, dois subsolos foram ocupados e um terceiro, onde hoje é a reserva técnica, escavado, totalizando cinco pavimentos. Eles são usados não só para exposições, mas também para apresentações artísticas e conferências, realizadas nos dois auditórios do Masp. O centro de documentação e a biblioteca com cerca de 60 mil volumes sobre o universo das artes são abertos a pesquisadores interessados. A cada ano, cerca de 500 mil pessoas visitam o museu. PAULISTA • A Avenida Paulista, endereço do Masp, é conhecida pela quantidade de altos edifícios residenciais e comerciais. Mas por perto há também várias opções culturais para quem quiser aproveitar o passeio. O vão livre do museu abriga, aos domingos, uma feira de antiguidades. A quatro quarteirões dali está o Conjunto Nacional, um espaço com teatro, cinema, grandes livrarias, café e lojas. Ao lado do conjunto, a Galeria Caixa Cultural apresenta exposições de artes visuais.

ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Av. Paulista, 1.578, Jardins – São Paulo (SP) VISITAÇÃO – De terça-feira a domingo e feriados, das 11h às 18h. Às quintas-feiras, das 11h às 20h (bilheteria fecha sempre meia hora antes) ENTRADA – R$ 15 (inteira); R$ 7 para estudantes; gratuita para o público em geral às terças-feiras; e em todos os dias para menores de 10 e maiores de 60 anos CONTATO – (11) 3251-5644 e www.masp.art.br JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Vale a pena ver a programação de shows, cinema, teatro e exposições do Centro Cultural da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), pertíssimo dali, no número 1.313 da Paulista.

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Nair Maria Souto “Não conheço o Masp, mas o considero uma referência para a cultura brasileira. Suas exposições procuram retratar o mundo moderno e voraz em que vivemos, sem deixar de lado a contextualização da produção cultural e o resgate de obras passadas.”

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o ousado OLHO d0 Gênio MUSEU OSCAR NIEMEYER • CURITIBA/PR

O olhar não consegue disfarçar. Mira o grande olho de Curitiba sem vergonha ou pudor. É um bonito olho de concreto e vidro no qual podem entrar imagens e pessoas. Ele é parte do Museu Oscar Niemeyer (MON) e foi desenhado em 2001 pelo arquiteto que dá nome ao espaço. Uma haste eleva-o à altura de 30 metros. Na linha do céu, cortando a paisagem predominante de prédios quadriculados da sua vizinhança no Bairro Centro Cívico, na capital paranaense, “O Olho” parece vigiar tudo por ali. Por causa do traço marcante e da dimensão da estrutura, com uma linha côncava e outra convexa se encontrando, todos chamam o museu de “O Olho”, mas esse formato é apenas a parte da frente do MON. Atrás dele há outro prédio com a maior parte das salas onde estão as exposições e o acervo. Não só “O Olho”, mas tudo é de uma amplitude incomum. O Museu Oscar Niemeyer tem 17,7 mil metros quadrados só de área expositiva. Somados à extensão construída mais o entorno com o Parque João Paulo II, estacionamento, espelho d’água, parque das esculturas, entradas e vão livre, a área total passa de 140 mil metros quadrados. Nas rampas internas de acesso cabem 10 pessoas magras caminhando lado a lado. Nove das 12 salas expositivas têm cerca de 500 metros quadrados cada e o salão principal, justamente o interior do olho, ocupa 1.619 metros quadrados, a serem usados em exposições do formato que a criatividade permitir. Curitibanos têm a felicidade de ainda contar com áreas livres, descampados, praças e gramados extensos. Por isso nasceu a estrutura do “olho”, em um pátio à frente de um prédio sede de secretarias de estado. Este prédio, projetado por Niemeyer em 1967 para ser o Instituto de Educação do Paraná, teve a função desviada por mais de

30 anos. Com a decisão de transformá-lo em museu, o famoso arquiteto foi convocado para fazer um novo projeto, desta vez de um anexo. A encomenda veio com uma ousadia grande, e no formato de olho. Acatado o projeto, em 2002 o Museu Oscar Niemeyer foi inaugurado já com “O Olho” ligado ao prédio antigo por um túnel futurista branco com luzes que fazem brilhar o chão encerado como se fosse neon refletido. Do extinto Museu de Arte do Paraná e do Banco do Estado do Paraná vieram as primeiras 1.200 obras do acervo, hoje com cerca de 3 mil peças. Visitar o MON é oportunidade para conhecer a tradição das artes visuais no Paraná devido à representativa mostra de artistas que nasceram ou viveram naquele estado. Mas esse não é o único foco, o que se comprova pelas exposições mundiais que têm passado pelo espaço, como Pablo Picasso, Rembrandt, Antoni Tàpies e Le Corbusier. Como a arquitetura do prédio é muito significativa, é interesse da direção do espaço fazer também do seu interior lugar de fruição da arquitetura, design e urbanismo. O espaço Niemeyer, no subsolo, é dedicado ao arquiteto que, inclusive, já o visitou. Fotos e maquetes de vários dos seus projetos, uma cronologia detalhada sobre sua vida e obra, entrevistas e textos estão lá expostos, muitos em painéis com formato de ondas. “A arquitetura do museu pede um respeito. É preciso pensar sempre conectado a ela e vejo aí um coisa de vanguarda, pode ter algo de futuro também”, observa a diretora Estela Sandrini, adiantando que o MON está aberto para receber projetos que envolvam multimídia e arte digital. Com uma década de vida, o museu está sendo discutido em seminários que reúnem especialistas, administradores e 27


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interessados. “Deve um museu ter um grande acervo ou ele é um espaço expositivo?”, questiona o secretário de Cultura do Paraná, Paulino Viapiana, em referência às ideias sobre ocupação e projetos no MON que estão “fervilhando”, na expressão dele mesmo. Apesar de ser administrado pela Associação de Amigos do Museu Oscar Niemeyer, ele é vinculado à Secretaria Estadual de Cultura. CÍVICO • O Bairro Centro Cívico, onde está o museu, foi planejado nos anos 1950 para agrupar órgãos públicos. Próximo dali estão a prefeitura, a Assembleia Legislativa, a sede do governo estadual, o Ministério Público, o Tribunal de Justiça e secretarias estaduais. No entorno, se não é público, é residencial. Colados ao museu estão apenas três bares simples e um restaurante. Pelas características do bairro, a área gramada e o Bosque do Papa ao lado do MON se transformaram em ponto de encontro dos moradores, o que alegra Estela Sandrini. “O pessoal usa o museu de quintal, vem aqui, deita no gramado em volta, ocupa o vão livre, entra. E isso é bom porque é um espaço para a cidade.” A 10 minutos a pé, passando pela Praça Nossa Senhora da Salette e por largas calçadas e gramados, está o Centro de Curitiba, movimentado com seu comércio, bares onde há música e restaurantes. Se para chegar ao Museu Oscar Niemeyer sua preferência for pelo ônibus, há em frente ao espaço uma estação tubo – cápsula de vidro em estilo futurista para abrigo dos passageiros. O que não falta nessa cidade de 1,7 milhão de habitantes é roteiro interessante para conhecer.

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Danielle Fullan “Venha conhecer ‘O Olho’. Do convite despretensioso, um encontro inesquecível. Na Rua do Marechal, aquela estrutura que parece ter saído de um sonho, desafiando a lógica da realidade do concreto, museu que é arte desde sua fundação. A rampa sinuosa insinuando que as surpresas não param por ali. Fotos, esculturas, visitantes ajudam a compor a obra. Numa placa lê-se MON. Desculpe o trocadilho, Curitiba, mas o Museu Oscar Niemeyer é ‘notre’ também.”

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“O Olho” está a 30m do nível do solo


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ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Rua Marechal Hermes, 999, Bairro Centro Cívico – Curitiba (PR) VISITAÇÃO – De terça-feira a domingo, das 10h às 18h (ingressos vendidos até as 17h30) ENTRADA – R$ 4 (inteira). Gratuidade para menores de 12 anos e maiores de 60, e alunos de escolas públicas pré-agendados. Entrada franca para todos no 1o domingo de cada mês CONTATO – (41) 3350-4400 JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Caminhe até o Centro da cidade para ver o movimento. Se resolver esticar até mais tarde e ficar com fome, pergunte sobre o “costelão 24 horas” mais próximo – costela de boi assada vendida a preço camarada em vários pontos da cidade. Não se esqueça de dar um pulo no Jardim Botânico, na Ópera de Arame e no Bairro Santa Felicidade.

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Memórias DO MAR preservadas MUSEU NACIONAL DO MAR • SÃO FRANCISCO DO SUL/SC

São Francisco do Sul bem que poderia ser uma daquelas paisagens praianas que inspiraram o baiano Dorival Caymmi em suas canções sobre a vida desfrutada perto da praia. A cidade catarinense se articula em torno do mar: seja pela presença do porto que movimenta a economia, pela pesca que garante a fama dos restaurantes especializados ou pela força do transporte marítimo usado para chegar a outras ilhas do entorno. A Baía da Babitonga, manto espalhado de águas do mar daquela região, envolve São Francisco do Sul, ou São Chico, como é chamada, e outras 24 ilhas. Muito apropriado que lá esteja o Museu Nacional do Mar. Um antigo galpão erguido em 1903 é usado como sede do museu que conserva, há 20 anos, a memória das águas no país. À beira do mar, o casarão parece flutuar. Dos janelões é possível ver a água esverdeada da Baía da Babitonga molhar as paredes. Levantando os olhos, o porto público e a movimentação de navios e barcos. Espalhadas por 18 salas temáticas e mais de 8 mil metros quadrados estão muitas réplicas de barcos e cerca de 80 30

embarcações em tamanho natural vindas de diferentes regiões brasileiras. Salas como a das jangadas, das baleeiras, da Amazônia, do Rio São Francisco, do modelismo naval, da Bahia, do Maranhão e das plataformas da Petrobras são ambientadas com elementos e informações sobre cada região ou atividade. Entrando devagar em uma sala escura ouve-se o barulho de ondas e o visitante se depara com um marinheiro dormindo dentro do seu barco sob um céu estrelado. Perto do canto do marinheiro está a sala Amyr Klink. O próprio navegador doou ao museu uma baleeira, uma jangada e duas canoas, uma delas sua pequena canoa da infância. Em um trecho do diário de Klink reproduzido ali ele fala o que o museu parece querer expressar: “Setenta e dois dias desde a última visão de alguma terra (...) Que delícia. Há quanto tempo. O mar alisou, o vento não.” Ao caminhar livre pela imensa estrutura dedicada à navegação, vamos entendendo que por meio dos mares e rios brasileiros e da coragem de homens que se sentiram provocados a se mover sobre eles, o


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museu aborda a ousadia e a vida simples de pessoas ligadas a uma atividade importante para a definição de fronteiras, para o trânsito entre culturas. Como o museu é do mar e o mar é o cotidiano de São Chico, o mesmo espaço que expõe embarcações recebe o homem do mar, sua mulher e filhos para cursos de música, de artesanato, de remo, ou simplesmente para ouvir histórias ou ler livros escritos por navegantes e pesquisadores. A biblioteca mantida pelo museu é um baú com tesouros para apreciadores da história da navegação. Há mais de 3 mil exemplares raros de livros e documentos, como plantas, manuscritos, postais, selos de diferentes cantos do planeta e cartas. Entre eles, a primeira carta náutica da América, documento doado pelo governo espanhol. Recentemente, foi possível recuperar o acervo e mantê-lo em condições ideais de temperatura e de ambiente. Pesquisar tipologias de embarcações é uma das atividades que o museu desenvolve. Segundo a diretora Ana Lúcia Coutinho, o Brasil tem a maior quantidade de tipologias

de embarcações a vela do mundo. São cerca de 100 conhecidas. Depois de 10 anos de pesquisas, o Museu Nacional do Mar conseguiu, com o trabalho árduo de três modelistas navais, construir 87 modelos a partir das tipologias, trabalho reconhecido e incentivado pelo governo federal por meio do projeto Barcos do Brasil. Um dos modelos de embarcação expostos no espaço tem significado importante para a cidade: a nau do francês Binot de Gonneville que teria aportado em São Chico em 1504, depois de errar o caminho para as Índias. A remota data leva a afirmar que o município seria o mais antigo de Santa Catarina e terceira localidade mais velha do Brasil. Conta-se que os então índios nativos carijós foram acolhedores com os franceses e que, só 150 anos depois, os portugueses chegariam a São Chico. HISTÓRICA • A partir de um dos muitos atracadores de barco (trapiches) é possível ver um bonito recorte de casas conservadas no Centro Histórico, às margens da Baía de Babitonga. Elas não são regra na cidade, que descaracterizou 31


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ou substituiu algumas construções antigas por outras mais ao gosto dos homens de negócio que se movimentam em torno do agitado porto. Sorte que a parte preservada conta 400 imóveis tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), conforme o secretário municipal de Turismo, Augusto Kolling. Muitos recém-pintados ou com obras em andamento foram contemplados pelo programa federal Monumenta de recuperação do patrimônio cultural urbano no Brasil. Para quem não se interessa só por praia – são pelo menos 15 no entorno da cidade –, o Centro Velho é um dos lugares mais agradáveis de São Chico. Sobretudo porque às margens há vários tablados de madeira, como os do Mercado Municipal, que permitem bonita visão do horizonte. Dali se enxerga também uma massa significativa de mata atlântica e as gaivotas, albatrozes, batuíras, trinta-réis e outras aves oceânicas, que sobrevoam os tablados chegando bem próximo das pessoas.

ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Rua Manoel Lourenço de Andrade, s/no, Centro Histórico – São Francisco do Sul (SC) VISITAÇÃO – De terça-feira a domingo das 10h às 18h. No verão, diariamente, das 8h às 20h ENTRADA – R$ 5 (R$ 2 para estudantes). Gratuito para maiores de 60 anos ou alunos de escolas públicas CONTATO – (47) 3444-1868 e www.museunacionaldomar.com.br JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Um bom programa é fazer um passeio de barco pela Baía de Babitonga. Um dos destinos pode ser o antigo Bairro Vila da Glória, bom para comer peixe e camarão. A travessia a partir do Centro Histórico demora 15 minutos.

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Conny Baumgart, 84 anos, modelista naval “Aqui estamos nós, só copiando o que nossos avós fizeram.” A frase do modelista naval Conny Baumgart resume o espírito do seu ofício: reproduzir minuciosamente o que o olho, a fotografia ou a memória enxergam. As mãos de “seu” Conny e dias de trabalho dedicados ao Museu Nacional do Mar produzem belas réplicas de embarcações e de pássaros oceânicos e, aos poucos, vão formando o desenho de São Francisco do Sul em uma maquete que está sendo feita há 10 anos. Paciência e aplicação não faltaram à vida desse descendente de alemães, que chegou a ficar retido em campo de refugiados na Europa, mas soube esperar e recomeçar a vida no Brasil, descobrindo um novo ofício com suas miniaturas. “É gratificante, porque todo mundo que vê fica entusiasmado.”

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Retrato DA intensidade DE UM Artista FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO • PORTO ALEGRE/RS

Quando o artista plástico Iberê Camargo pintou Solidão, seu último quadro, era inverno em Porto Alegre. O horizonte que ele via do seu ateliê ficava avermelhado no fim daquelas tardes de 1994, lembra o coordenador de acervo da Fundação Iberê Camargo, Eduardo Haesbaert. Talvez seja esse vermelho impreciso, que se fixa apenas por alguns minutos até mudar de tom, que o inspirou na pintura do fundo de Solidão. Em primeiro plano, três figuras azuladas sobressaem-se na tela, de dois metros de altura por quatro de largura, hoje sob a guarda da fundação. A assinatura saiu trêmula, retrato da teimosia e persistência do artista, que,

mesmo sem forças, não deixou o trabalho até que ele estivesse acabado e assinado, esse último ato com a ajuda de uma amiga, que segurou o corpo frágil e doente de Iberê. Depois disso, levaram-no para o hospital e ele, então com 79 anos, continuou rabiscando folhas de papel com caneta Pilot. “Até o fim ele pedia tinta, não se desligava da arte. Os desenhos feitos com a caneta que uma amiga levou para ele no hospital saíram parecidos com os de Solidão”, diz Haesbaert. Nos últimos anos de vida do artista, o coordenador de seu acervo trabalhou lado a lado com Iberê preparando matrizes e imprimindo suas gravuras. Hoje, seu antigo 33


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auxiliar é responsável também pelo ateliê de gravura da fundação que dá oportunidade a artistas de aprenderem sobre as técnicas usando uma prensa alemã de 1960, a mesma que Iberê Camargo usava. O prédio branco de cinco andares projetado pelo português Álvaro Siza está impregnado não só da arte, mas da vida deste homem, nascido em 1914, em Restinga Seca, interior rio-grandense-do-sul. Como um carretel com sobreposições tortas, os andares são ligados por rampas que nem são inclinadas demais, nem retas. Passa-se de um pavimento a outro sem sentir. As obras de Iberê vão aparecendo nas paredes branquíssimas, intercaladas com as de artistas que dialogam com seu trabalho. O acervo tem 4 mil obras de Iberê, entre pinturas, guaches, aquarelas e desenhos – há desde as experimen-

tações e traçados de 1927 até trabalhos dos anos 1990. Estima-se que, no total, ele tenha produzido o dobro disso. Também na fundação estão cerca de 20 mil documentos que pertenciam ao artista: catálogos, cartas, livros, recortes de jornais, listas de obras e fotos. Ele, que era um apaixonado pelas formas dos carreteis e das bicicletas, produzia em ritmo compulsivo. Nos quadros, ele não gostava de apagar nada. Preferia sobrepor tintas, camadas sobre outras, até chegar a uma textura e tonalidade que lhe agradassem. Na mistura de cores vemos o processo do pintor na obra, talvez um sinal de sua compulsão por viver e produzir sem pausas, sobrepondo uma obra à outra, um fato a outro. Apesar de ter nascido no Rio Grande do Sul, sua inquietude o levou ao Rio, onde se fixou nos anos 1940.

Algo mais O arquiteto Álvaro Siza fez o projeto do prédio da Fundação Iberê Camargo de tal maneira que o recomendável é que a visita comece pelo último andar. Ao chegar, a pessoa é convidada a subir de elevador até o quarto andar e, a partir dele, ir descendo para os outros.

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Com exceção de dois anos de estudos na Europa, viveu na capital fluminense até 1982. Naquela cidade, se envolveu em um incidente que pode ter tido reflexos em sua obra: matou um homem que, conforme a maioria das versões, ele nem conhecia. O caso o levou a ficar detido dois meses e, quando saiu, foi sob a alegação de legítima defesa. De volta a Porto Alegre, havia o interesse de fazer da cidade um lugar de circulação cultural mais intensa. A fundação acaba contribuindo com isso. Os funcionários trabalham no momento na catalogação dos muitos trabalhos de Iberê Camargo que estão em outras instituições ou com particulares. A parte de gravura já foi concluída. No caso dos quadros, uma ajuda preciosa vem de um hábito adquirido pela esposa, Maria Coussirat Camargo, a partir de 1958: atrás de cada um ela anotava a data e as informações técnicas. A catalogação é importante para pesquisadores, interessados em geral e para dar suporte às ações educativas da fundação. Atividades como a formação de professores para que eles se tornem multiplicadores de conhecimento sobre arte e a Bolsa Iberê Camargo, que premia um artista com uma bolsa-auxílio para residência artística em escolas internacionais. Criar uma fundação para guardar sua obra e oferecer formação foram desejos do próprio artista, oficializado em 1995, ano seguinte à sua morte. Por 12 anos, a sede foi o ateliê de Iberê, em sua casa. Maria Camargo, hoje com mais de 90 anos, levou adiante a vontade do marido e cedeu trabalhos e documentos do artista. Há

três anos ficou pronto o prédio atual, construído especialmente para esse fim. TARDE • A sede da fundação está no início da Zona Sul de Porto Alegre, às margens do Rio Guaíba. De dentro dele, os vidros exibem a paisagem com a cidade ao fundo – uma das janelas tem a forma de gota. Um dos horários nobres para visitar esse mundo artístico é à tarde, justamente porque, depois de uma volta pelas exposições, é possível assistir a um pôr do sol privilegiado. O café da fundação mantém mesas do lado de fora, justamente no melhor ponto de observação do encontro do sol poente com o Guaíba.

ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Avenida Padre Cacique, 2.000, Bairro Cristal – Porto Alegre (RS) VISITAÇÃO – De terça-feira a domingo, das 12h às 19h. Na quinta-feira, das 12h às 21h (portaria fecha meia hora antes) ENTRADA – Gratuita CONTATO – (51) 3247-8000 e www.iberecamargo.org.br JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Caminhe na orla do Rio Guaíba. Obras de revitalização estão deixando o espaço ainda mais bonito. É possível alcançar o outro lado da movimentada Avenida Padre Cacique por um túnel que sai do estacionamento da fundação.

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Construção Coletiva THEATRO SÃO PEDRO • PORTO ALEGRE/RS

A missão de Eva Sopher, de 88 anos, naquela noite era contar por que o Theatro São Pedro, em Porto Alegre, permanece de pé e bonito aos 153 anos. Eva, que dirige o espaço, sai andando à frente da equipe da Expedição Cultural buscando o elevador de carga na lateral da sala de espetáculos. Ela some no escuro e só quando encontra o interruptor voltamos a ver nítida essa mulher enérgica e delicada, que anda pelo teatro como se estivesse em casa. Conhece os lustres, os cantos, a grossura das paredes e as fotos. Eva Sopher ama o Theatro São Pedro. Por isso ela reuniu forças e recursos para reabri-lo depois de 12 anos fechado. Desde a reinauguração, em 1984, os artistas gaúchos e os visitantes sempre encontram as portas abertas. Eva nasceu na Alemanha e veio para o Brasil no período de perseguição nazista em seu país. Quando recebeu a proposta de assumir o teatro, ela já era produtora de eventos em Porto Alegre. Pensou em não aceitar ao ver os camarins 36

mofados, as janelas quebradas, o abandono. “Só os cupins estavam trabalhando. Era impossível permitir qualquer apresentação.” Uma vez assumida a tarefa, ela se empenhou para conseguir patrocinadores para a reforma e aprendeu a negociar com políticos e empresários. Em 36 anos à frente do teatro, levou para Porto Alegre e ainda leva espetáculos de dança, música e teatro nacionais e internacionais. A sala de espetáculos tem cadeiras vermelhas aveludadas para receber 700 pessoas. O palco é incomum, com cinco janelas grandes nos fundos, muitas vezes usadas como elemento cênico. O lustre principal foi montado com cristais da Bohemia. Há três anos, todo o espaço passou por uma reforma que cuidou de repintar e lixar gradis, paredes, detalhes. Ao longo dos anos, muitas das madeiras e outros materiais originais se perderam. Mas a equipe do teatro conseguiu refazer parte com fidelidade ao original, como as bonitas e pesadas portas e os gradis espalhados pela estrutura. Algumas


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paredes do porão, hoje transformado em memorial, medem 2,5 metros. Elas foram erguidas com a função de sustentar o prédio. O foyer, que abriga um café, é um dos espaços mais nobres, com belos pisos e lustres. Dali se vê a movimentação na Praça Marechal Deodoro a partir de grandes janelas. Antes e depois da reabertura, quando houve dificuldade para manter o espaço, foram as pessoas da própria cidade que responderam ao chamado da direção do São Pedro. Em campanhas feitas por artistas, como Paulo Autran, Belchior, Fernanda Montenegro e José Wilker, Eva Sopher e seus companheiros conseguiram reunir em torno do teatro 1.300 pessoas. São os membros da Associação Amigos do Theatro São Pedro, criada em 1985. A generosidade deles é responsável por custear parte dos gastos fixos, já que a ajuda do governo estadual só alcança o pagamento de três dos mais de 50 funcionários, como explica o coordenador da associação, José Roberto Diniz Moraes. “Pode-se dizer que,

sem a associação, o Theatro São Pedro não existiria.” O caminho natural do teatro parece ser o de se manter por esforço espontâneo de pessoas físicas. A decisão de construir o espaço foi tomada nos anos 1830, depois de uma subscrição pública que pedia sua instalação. Naquela mesma década foi concebido o projeto para iniciar as obras mais de 20 anos depois. Na comemorada inauguração,Villa-Lobos e Cacilda Becker estavam entre os convidados. É mais uma vez o esforço de muitas pessoas que está dando corpo ao multipalco, o ousado projeto dos gestores do Theatro São Pedro. Com insistência, eles conseguiram que estado e prefeitura desapropriassem um terreno anexo, onde está sendo estruturado prédio de oito andares que vai ter área para aulas, apresentações de diferentes portes e espaço adaptado para a orquestra sinfônica do teatro e para o corpo de baile, que ainda será criado. A labuta para conseguir a liberação da área começou há 26 anos. Na parte externa foi 37


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Eva Sopher, presidente do Theatro São Pedro Eva Sopher nasceu em Frankfurt, na Alemanha. Aos 13 anos, chegou ao Brasil com a família: primeiro foi para São Paulo. Morou no Rio de Janeiro e depois de casada transferiu-se para Porto Alegre. Antes de assumir a direção do Theatro São Pedro, em 1975, ela e o marido fizeram uma viagem longa para conhecer vários teatros pelo Brasil. “Minha dificuldade maior era a questão política. Não estava acostumada a pessoas que prometiam e não cumpriam.” Logo ela venceu o desafio. Nas muitas fotos nas paredes do teatro, Eva aparece ao lado de artistas importantes no país. Ela ficou amiga de muitos que, inclusive, a ajudaram nas várias campanhas para manter o teatro. O piano que ganhou do marido foi tocado muitas vezes pelo músico Nelson Freire na sala da casa dela.

instalada uma concha acústica para espetáculos ao ar livre. A previsão é concluir o prédio em dois anos. Três andares de estacionamento já estão sendo usados como fonte de renda para tocar o restante do projeto. Também foi inaugurado um restaurante e um espaço para a administração do teatro. As obras começaram em 2003 e caminham no ritmo das captações. “A obra não tem um centavo de verba pública. Fomos atrás de patrocínios de empresas e, devagar, vamos conseguindo”, comemora José Roberto Moraes. NOS ARREDORES • Localizado no Centro de Porto Alegre, o Theatro São Pedro está na Praça Marechal Deodoro, ou Praça da Matriz, onde está a grande catedral com abóbada redonda. É uma praça arborizada e bem cuidada, com muitos prédios históricos ao redor. Próximo ao teatro está outra praça interessante, a da Alfândega. Nela estão o Museu de Arte do Rio Grande do Sul em um casarão histórico, e o Santander Cultural com espaço para exposições, música, cinema e café. 38

LOCALIZAÇÃO – Praça Marechal Deodoro, s/no, Centro – Porto Alegre (RS) VISITAÇÃO – De terça a sexta-feira, das 13h às 18h, e sábados e domingos, das 16h às 18h RESTAURANTE – De segunda-feira a sábado, das 11h30 às 15h ENTRADA – Gratuita para visitar o espaço. Valor variável para os espetáculos CONTATO – (51) 3227-5300 e www.teatrosaopedro.com.br JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – A cinco minutos a pé do São Pedro está a bonita Casa de Cultura Mário Quintana. É um espaço grande com programação variada e exposições.


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pantaneira MUSEU DE HISTÓRIA DO PANTANAL • CORUMBÁ/MS 39


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Conhecer o Pantanal brasileiro, com sua extensão de mais de 140 mil quilômetros quadrados, não é possível em uma única visita. Mesmo que você tenha muitos dias disponíveis, a imensidão ali só se revela aos poucos, com a vivência. E o Pantanal, apesar de ser uma área delimitada, não é homogênea, como se aprende no Museu de História do Pantanal, em Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Os 10 pantanais, referência à divisão geográfica que tenta dar conta das variações de peixes, árvores, borboletas, solos e modos de vida, é uma das primeiras exposições apresentadas ao visitante. Às margens do Rio Paraguai, embrenhada na cultura de águas, pescaria e culto aos animais pantaneiros, está Corumbá, com quase 70% do território ocupado pelo Pantanal. Na área urbana estão casas remanescentes de épocas áureas do porto, sobretudo do fim do século 19 e início do 20, quando europeus se estabeleceram na região trazendo sua arquitetura e materiais de construção em troca de riquezas naturais do Pantanal. O porto de Corumbá era o ponto de confluência das trocas, que influenciavam outras cidades da região. Naquele trecho movimentado, o atual prédio do museu, datado de 1876, fervia com a Casa Wanderley & Baís, do ramo de exportação e importação. A nova ocupação há três anos apresenta essa história e outras valiosas. Uma das mais instigantes é a que reúne pistas sobre o povoamento do Pantanal, saga contada com apoio das pesquisas realizadas pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. No Museu de História do Pantanal há peças importantes, como 40

a vértebra de uma preguiça de 11 mil anos e a pata fossilizada da emblemática Corumbella, fóssil metazoário marinho dos mais antigos da América Latina, com estimados 550 milhões de anos. Seria uma espécie de alga marinha encontrada no Pantanal. Já os levantamentos sobre a presença humana na região falam em registros de caçadores-coletores nômades há cerca de 8 mil anos. Os índios, que já ocuparam grande parte do Pantanal, sofreram baixas enormes ali. De 12 povos indígenas catalogados, seis já estariam extintos. Uma das alas do museu retrata a Guerra do Paraguai, ocorrida em parte em Corumbá, nos idos de 1864. É a preferida do estudante de história Marcel Giordano Jeffery, de 21 anos, um dos educadores do museu. “Corumbá e o Pantanal têm muita riqueza histórica, não é só animal bonito e pesca.” O país vizinho invadiu a cidade, levando muitos moradores a abandoná-la. Depois, o Brasil, com apoio internacional, revidou, matando paraguaios com violência e extensão criticadas por muitos. Em Corumbá, ainda se pode ver o Forte Coimbra, construído para proteger a área de invasões espanholas no século 18 e cenário, algum tempo depois, da Guerra do Paraguai. Na capela do Forte está a imagem de Nossa Senhora do Carmo, que teria feito os soldados paraguaios pararem de atirar em devoção à santa. Como outros prédios na cidade, sobretudo no porto de Corumbá, a casa sede do Museu de História do Pantanal herdou um charme arquitetônico europeu para seus três pavimentos, que têm escada inglesa e ladrilhos


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hidráulicos italianos. A chegada das ferrovias e depois a priorização do transporte rodoviário no Brasil fizeram a economia de Corumbá perder forças no século 20. Como resultado, muitos casarões ficaram abandonados, inclusive o que hoje é ocupado pelo museu. Na década de 1990, foram feitas algumas intervenções para recuperar a casa e, com a decisão de transformá-la em museu, outra grande restauração veio a partir de 2006. ITINERÂNCIA • Os novos equipamentos e a disposição das informações em fotos, vídeos e som deixaram o museu muito atraente. Ainda assim, os responsáveis lutam contra a falta de hábito dos moradores da cidade em frequentar espaços culturais. Há dias em que aparecem apenas duas ou três pessoas, o que levou a turma a se mobilizar em torno de uma proposta para disponibilizar parte do acervo a povoados distantes do Centro de Corumbá, a partir de 2012. De kombi ou de barco, eles percorrerão diversas comunidades sul-mato-grossenses levando o acervo que conta a história dessa gente até os rincões pantaneiros. A diretora da Fundação de Cultura e Turismo do Pantanal, Heloisa Helena da Costa, observa que, mesmo entre os turistas, seria interessante que a cidade recebesse pessoas mais interessadas em história e em outros aspectos do Pantanal, como os sítios arqueológicos, a diversidade da fauna e da flora. Somente a pesca, hoje o principal chamariz, não se mostra sustentável para o ecossistema. “De agosto a novembro é a época nobre do Pantanal, quando os animais estão acasalando. E é a temporada de ipês também. O Pantanal fica como um grande jardim, primeiro rosa, depois amarelo e branco”, conta.

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Sueli Santos “Gostaria muito de conhecer Corumbá e o Museu de História do Pantanal. A fachada principal e o piso em ladrilho hidráulico (adoro!) são marcos da preservação desse edifício e um chamariz para o visitante. A localização do museu, às margens do Rio Paraguai, torna o passeio ainda mais atraente. Além de tudo, seu acervo é uma amostra do que a região tem de mais bonito: sua geografia, sua fauna, sua flora e sua gente. Esta parte da Expedição Cultural não vou perder por nada!”

ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Rua Manoel Cavassa, 275, Porto Geral – Corumbá (MS) VISITAÇÃO – De terça-feira a sábado, das 13h às 17h30

ENTRADA – Gratuita

CONTATO – (67) 3232-0303 JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Ande pelo porto de Corumbá para ver casarões seculares. Nem todos estão em bom estado de conservação, mas alguns foram restaurados pelo programa federal Monumenta e transformados em lojas, cooperativas de artesãos e pontos culturais.

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Dama ENTRE OS cavaleiros MOUROS E Cristãos

UMA

MUSEU E CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO MEMORIAL DAS CAVALHADAS • PIRENÓPOLIS/GO

A simpática guia que recebe os visitantes na porta não precisa consultar nenhum manual para responder às questões que lhe são feitas. Cada peça exposta no Museu e Centro de Documentação Memorial das Cavalhadas, em Pirenópolis (GO), foi deixada em seu lugar com o testemunho de Célia Fátima de Pina, de 57 anos. Além de guiar o visitante, ela é a dona da casa, mantenedora da ordem do espaço e única e fiel funcionária. Célia assumiu a tarefa há seis anos, depois da morte da fundadora do museu, sua mãe, Maria Eunice Pereira e Pina. As cavalhadas, realizadas em Pirenópolis desde 1826, são representações de batalhas medievais ocorridas na Europa entre mouros e cristãos. Uma vez por ano, as atenções da cidade se voltam para a encenação das lutas feita por cavaleiros em trajes pomposos e coloridos montando animais 42 42

igualmente enfeitados e garbosos. A representação é restrita aos homens. Mas a pirenopolina Maria Eunice Pereira e Pina, apaixonada pelas cavalhadas, inventou um modo de participar delas. Criou na própria casa o Museu das Cavalhadas, na sala de entrada. Foi em 1976, seis anos depois da morte do marido, que também era um dos cavaleiros enfeitados. Dois dos filhos de Maria Eunice ainda participavam da festividade e, para dar início ao acervo, ela aproveitou os adereços que os homens da casa usavam e pediu a amigos que doassem o que pudessem desde que estivesse relacionado à festa. “Minha mãe adorava a casa cheia e movimentada”, lembra Célia. Maria Eunice era resolvida. Com a ideia firme de criar o museu, escreveu cartas a embaixadores e até ao empresário Roberto Marinho, fundador das Organizações Globo,


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pedindo apoio para estruturá-lo. Não veio resposta, mas o museu foi aberto assim mesmo, com o entusiasmo e a criatividade de Maria Eunice. O chamativo cavalo vestido com trajes em tons avermelhados e adornado com flores de papel era a mesa de passar roupa da casa. Ela coordenou o museu durante 29 anos, mas não chegou a ver implantado o Centro de Documentação Memorial das Cavalhadas, planejado há muito tempo. Só em 2008 veio o dinheiro para digitalizar todas as fotos do acervo, organizar documentos, confeccionar materiais de divulgação e de informação ao público e montar um catálogo bilíngue com o acervo documental e bibliográfico – há livros e trabalhos acadêmicos sobre cavalhadas e festas populares. Os cômodos da casa usados atualmente para o museu são quatro. “Só fiquei com o meu quarto, e para o futuro gostaria de ver toda a casa se transformar em museu”, afirma Célia, que se movimenta na cozinha e na copa da casa, colada aos quartos-salas de exposição. Ela abriu o quarto da mãe à visitação. A intimidade revelada pela presença da máquina de escrever, da penteadeira com flores artesanais, do chapéu de palhinha e dos manuscritos de poesia mostram uma mulher sensível e apaixonada pela sua cidade, como no trecho de um poema: “Velha cidade/Do amor e bondade/Onde tudo é saudade/E religiosidade...” Os portões da casa-museu das cavalhadas ficam abertos. Ao entrar e encarar a porta de vidro com o emblema do Divino Espírito Santo, um cartaz convida a tocar a campainha. Nos cômodos pequenos, adornados com muitas roupas e detalhes coloridos, descobrimos que as cavalhadas de Pirenópolis, apesar de durarem três dias, se ligam a um calendário maior da festa do Divino Espírito Santo, desde 2010 Patrimônio Cultural do Brasil. Juntando novena (cantada em latim), missas, folias de reis, alvoradas e apresentação das pastorinhas dá mais de um mês de festa.

Célia de Pina mantém museu fundado pela mãe

As cavalhadas têm início no domingo de Pentecostes. Doze homens vestidos de azul são os cristãos e o número correspondente trajando vermelho representa os mouros. Quando o último dos cavaleiros cristãos em fila descobre um espião dos mouros escondido embaixo de uma árvore, mata-o e dá início à peleja. O primeiro dia é de luta, o segundo da prisão e batismo dos mouros, convertidos à doutrina cristã. No terceiro, azuis e vermelhos ficam amigos e fazem brincadeiras. Os cavaleiros demonstram habilidades com lança, revólver e espada, além da própria maestria de dominar o cavalo durante toda a ação. Em dias separados, as crianças têm sua cavalhadinha também, com cavalinhos de pau.

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Marina Razuk “Todos os anos, logo depois do Natal, era realizada a Festa das Cavalhadas. Era em Passos, Minas Gerais. Eu tinha 5 ou 6 anos, e ficava olhando o desfile: guerreiros armados, o rei e a rainha, coroas na cabeça, dançarinos enfeitados de fitas, latinhas vermelhas de massa de tomate amarradas aos pés, que iam retinindo, da Igreja do Rosário, no Centro, em direção à Igreja de São Benedito. Eu achava deslumbrante, apesar do medo dos cavalos, também cheios de cores, que passavam juntinho da calçada da minha casa. Ao ver o roteiro da Expedição Cultural Estado de Minas, meus olhos brilharam quando li sobre o Museu das Cavalhadas. Volta à infância, e ampliada. Desejo conhecer e apreciar uma parte do Brasil para mim ainda desconhecida, o estado de Goiás, com sua cultura, suas histórias, seu povo.”

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Chico Pedruca, 73 anos, cavaleiro O nome de batismo é Cirilo, mas todos o conhecem como Chico Pedruca. Há 39 anos na cavalhada, ele é o cavaleiro mais velho da turma. “Desde que comecei não faltei nem um dia.” Não basta gostar de festa para participar da representação. “Tem que ter postura: não andar com perna encolhida, nem dobrar o corpo. É preciso manter posição bem em pé e dominar o cavalo com uma mão”. Como foi criado na área rural, Chico sempre teve habilidade com o animal. Porém, passou por um desafio que não pensava enfrentar. Em 2005, ano do Brasil na França, Chico Pedruca e seus 23 companheiros de cavalhada foram mostrar o que sabiam para os estrangeiros. “Houve companheiro que começou a apelar porque os animais de lá são muito diferentes. Os franceses domam na calma, na paciência, não pode bater.” Foram oito dias suados para controlar os cavalos. “Na hora mesmo da apresentação deu tudo certo”, lembra ele, rindo.

Célia Pina acredita na perenidade da festa devido ao entusiasmo das pessoas. Neste ano, por exemplo, houve revolta entre a população, que foi proibida de usar máscaras tradicionais durante os dois primeiros dias da cavalhada. São máscaras de papel coloridas, a maioria com chifres de boi, que as pessoas usam espontaneamente. Em 2010, um dos mascarados atirou em uma mulher, o que resultou na proibição. A reclamação foi tamanha que o uso foi autorizado no último dia da festa deste ano. PASSEIO • Pirenópolis, ocupada desde o século 18 e caracterizada pela arquitetura colonial, é bem turística e por isso tem bom serviço de hotel, receptivos, muitas lojas de artesanato e restaurantes com comida farta e saborosa. É muito procurada também para quem busca relaxar em passeios naturais. A Serra dos Pirineus, com vegetação típica do cerrado, circunda o lugar. Há trilhas para caminhadas ou passeios de bicicleta ou moto e oferta grande de água, com formação de muitas cachoeiras. Em 2012, as cavalhadas de Pirenópolis serão realizadas de 27 a 29 de maio. 44

ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Rua Direita, 39, Centro – Pirenópolis (GO) VISITAÇÃO – Diariamente, das 10h às 17h (com exceção dos dias em que a dona da casa tiver compromisso externo) ENTRADA – R$ 2 (adulto), R$ 1 (criança ou por pessoa em caso de grupo acima de 10 pessoas) CONTATO – (62) 3331-1166 JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Conheça prédios importantes do entorno, entre eles o Theatro Pyrenópolis, construído no fim do século 19, e a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, que compõe um bonito cenário natural: lá dentro, as paredes são brancas e o telhado em madeira simples, porque a riqueza barroca foi destruída em um incêndio.


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A simplicidade DE UMPatrimônio da HUMANIDADE IGREJA DE NOSSA SENHORA DA ABADIA • CIDADE DE GOIÁS/GO 45


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Ao caminhar pela Rua da Abadia, no Centro Histórico da Cidade de Goiás, o visitante se surpreende com a fachada da Igreja Nossa Senhora da Abadia. Partindo do Largo do Rosário, vê-se primeiro a torre com quatro sinos, depois uma porta e duas janelas da sacristia e só então identifica-se a entrada da igreja. Uma vez que é comum na cidade, conhecida como Goiás Velho, construções grudadas umas nas outras, pode-se pensar, no primeiro momento, que se trata de estruturas diferentes. Nada disso. É apenas uma peculiaridade da igreja, edificada em 1790 com esmolas do povo religioso que vivia no local. No seu interior, elementos do barroco são valorizados pelo tamanho pequeno da igreja e mais ainda pela restauração pela qual o prédio passou a partir de 2002. “Gosto muito do estilo barroco aconchegante, me inspira paz. Sempre que estou aflita, venho aqui”, diz Antolinda Baia Borges, a Tia Tó, de 79 anos, responsável pelo templo. Piso,

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pinturas, capela-mor, madeiras e teto estão vibrando em suas cores recém-realçadas. Todas as instalações elétricas foram trocadas; a alvenaria e os pisos, reparados. O restauro se estendeu às imagens sacras e à contenção de trincas e rachaduras nas madeiras. A pequena igreja é singularizada pelos detalhes, como o altar-mor com contornos em ouro e frisos trabalhados. O arco do cruzeiro seria o único em Goiás chanfrado, um corte inclinado que resulta em um trabalho com quinas na madeira. A pintura que ocupa todo o teto até pedia uma esteira para que o visitante pudesse admirar suas minúcias deitado no chão. No centro da representação do teto está Nossa Senhora com uma criança no colo e em meio a um grupo de anjos. São trabalhos sem autoria conhecida, como era comum para a arte sacra. A igreja tem paredes internas de adobe e pau a pique e as externas de taipa de pilão.


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Antolinda Borges: “Sempre que estou aflita, venho aqui”

Atualmente, o templo está aberto quase exclusivamente para visitação. Ofícios religiosos só no dia da padroeira, 15 de agosto, ou na primeira quinta-feira de cada mês, informa a enérgica Tia Tó, que corta a cidade várias vezes por dia cuidando de igrejas e do Museu de Arte Sacra da Boa Morte, do qual é uma das diretoras. A antiga sacristia da Igreja de Nossa Senhora da Abadia é um braço desse museu e expõe paramentos usados por padres de Goiás no século 18: vestes solenes e panos nobres bordados, alguns com ouro.

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Sóstenes Reis Siqueira “Goiás Velho para nós, mas para quem vive lá o nome certo é Cidade de Goiás. Para quem é mineiro, a comparação mais direta é com nossa linda Ouro Preto, mas essa lindeza de Goiás tem seus diferenciais. Fui a um festival de cinema lá, Festival de Cinema Ambiental, por isso a cidade estava mais agitada do que o normal. Estava com uma amiga, conhecemos um pessoal na Praça do Coreto, que nos apresentou a cidade, uns bares, um mirante na parte mais afastada. Aos filmes do festival assistimos muito poucos, pois o encanto maior era a cidade em si.”

A Igreja de Nossa Senhora da Abadia compõe o conjunto de sete igrejas do século 18 tombadas há 60 anos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na Cidade de Goiás. Tia Tó lembra que a prosperidade e a construção de igrejas foram freadas com o fim do ouro e a transferência da capital de Goiás Velho para Goiânia, em 1933. “Na época o povo não aceitou a mudança, mas hoje vejo que foi nossa joia porque, como capital, a cidade teria que crescer, destruindo o patrimônio ambiental e cultural.” PORTAS ABERTAS • Pela riqueza e conservação da arquitetura original, em 2001 a Unesco concedeu à Cidade de Goiás o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. O Centro Histórico extenso e preservado é cortado pelo Rio Vermelho, de onde se extraiu ouro em tempos idos. Predominam na paisagem urbana as ruas com grandes e irregulares pedras e construções cobertas por telhas de barro cozido e sustentadas por paredes de pedra e cal. Habitualmente, moradores deixam abertas as portas e janelas durante o dia. Muito do que há para ver na cidade são igrejas. A de Nossa Senhora da Boa Morte, transformada no Museu de Arte Sacra, tem em seu acervo importante conjunto de mais de 50 obras do reconhecido escultor goiano José Joaquim da Veiga Valle. O local aprecia ainda tradições e mostra riqueza também na habilidade dos moradores, fazedores de doces e artesanato de barro, vendidos em pequenas lojas e no mercado municipal.

ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Rua da Abadia, s/no, esquina com Travessa dos Bancários, Centro – Cidade de Goiás (GO) VISITAÇÃO – De terça-feira a domingo, das 9h às 17h ENTRADA – Gratuita CONTATO – (62) 3371-1207 (Museu de Arte Sacra) JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Saia caminhando a pé pelo Centro Histórico. Uma das praças mais bonitas é a do Coreto, ao lado da Catedral de Santana, mas um dos melhores roteiros é o Museu Casa de Cora Coralina, às margens do Rio Vermelho. Cora e seus ancestrais viveram naquele sobrado, construído há mais de 200 anos e ainda hoje em bom estado de conservação. Dá para ver parte do universo da doceira, que só publicou o primeiro livro aos 75 anos.

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rastro DO Homem PRÉ-Histórico NO

PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA • SÃO RAIMUNDO NONATO/PI

Não chove para valer há mais de 100 dias no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Sudeste do Piauí, mas as grandes pedras brilham com muita força, tendo a caatinga seca e branca a seus pés. No Variante das Andorinhas, um dos muitos cânions do parque, um grupo espera sentado em silêncio. É o fim de uma tarde de céu azul sem nuvens. Um canto distante anuncia os pontinhos pretos que vão aparecendo no horizonte. Muito rapidamente, um grupo de seres voadores se aproxima e faz um mergulho na direção da grande fenda à frente. É tão rápido que mal se pode acreditar que o olho tenha realmente visto aquilo. O ruído parece o de um míssil em alta velocidade. Eles estão em grupo e, atrás dos primeiros, outros vêm, baixam em velocidade incalculável, como que atraídos pela pedra. São andorinhas que fazem das fendas das 48

pedras suas camas. Dali só vão sair quando o sol renascer. O espetáculo do mergulho das andorinhas na paisagem de pedras redondas e imensas é um dos mais bonitos para se ver no Parque Nacional da Serra da Capivara. Não se sabe há quanto tempo elas fazem esse ritual coletivo do sono. E tempo naquele recorte de semiárido pode significar muitos milhares de anos. Na área de 130 mil hectares delimitada como parque foram descobertos os vestígios de ocupação humana mais antigos das Américas. Pela beleza natural e importância científica, em 1991, o parque recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que achou por bem preservar a região, que tem a maior concentração de sítios arqueológicos do mundo, com


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Niède Guidon, 78 anos, arqueóloga A arqueóloga participou da primeira missão de pesquisa na Serra da Capivara em 1973 e logo percebeu a riqueza que tinha à sua frente. Seus argumentos e luta foram responsáveis pela criação do parque em 1979. Ela nasceu no Brasil, fez faculdade na França, voltou ao Brasil, mas uma suspeita na época da ditadura levou-a de novo ao país europeu. A partir de 1973, já como pesquisadora francesa, Niède visitava o Piauí uma vez por ano com seus alunos, onde ficavam por três meses. Em 1992, mudou-se para São Raimundo Nonato para acompanhar de perto as pesquisas. Ainda hoje ela vai a campo todas as manhãs. “Estamos escavando uma lagoa cheia de fósseis, procurando descobrir por que essa quantidade, o que poderia ter por perto”, diz com os olhos brilhantes. Respeitada pelo trabalho e dedicação, Niède lamenta que algumas cobranças precisem ser repetidas por anos, como o pedido de uma verba federal fixa para o parque.

1.304 catalogados. Descobertas arqueológicas em um desses sítios sustentam a presença de humanos no Piauí há 100 mil anos, daí a importância ainda maior do parque. Conforme explica a arqueóloga Niède Guidon, o tempo se refere à datação obtida para pedras descobertas na Toca do Boqueirão da Pedra Furada, onde também havia fogueira estruturada com carvão. Algumas pedras são artefatos, ou seja, tiveram a mão do homem para polir, lixar. O trabalho científico a partir dos achados fica a cargo da Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), dirigida por Niède. As pesquisas da equipe dela se sobrepõem aos estudos norte-americanos que afirmavam que o homem esta-

va nas Américas há 15 mil anos e, na América do Sul, há 11 mil anos. “Na arqueologia, tudo pode mudar a qualquer momento. E a escola francesa, que seguimos, exige que se vá até a base da rocha, justamente onde encontramos os vestígios mais antigos”, afirma Niède. Também os tipos humanos descobertos no parque são mais próximos ao africano ou ao aborígene australiano do que ao ameríndio. O esqueleto de Zuzu, o segundo fóssil mais antigo localizado nas Américas (o primeiro foi achado entre Pedro Leopoldo e Lagoa Santa, em Minas Gerais), teria entre 9 mil e 10 mil anos. Para os especialistas da Fumdham, é possível que tenha havido mais de uma rota de migração 49


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do homem para as Américas e em mais de um período, diferente de versões que acreditam que o Estreito de Bering foi a única porta. O solo de todas as descobertas, o Parque Nacional da Serra da Capivara, é um conjunto de quatro serras: a da Capivara, a Serra Talhada, a Serra Vermelha e a Serra Branca. As capivaras mesmo só aparecem nas pinturas rupestres, pois o clima seco atual do Piauí não é propício a elas. As pinturas abundantes podem ajudar a compreender a saga de muitos povos que passaram pela região em diferentes períodos. A maior concentração é na importante Toca do Boqueirão da Pedra Furada, a mesma dos vestígios de 100 mil anos. Apenas ali foram contabilizados cerca de 1.100 pinturas. É o único local que oferece boa iluminação e acesso para visitas noturnas, desde que o visitante já se encontre no parque. As pinturas mais antigas foram datadas de 30 mil anos. Pelos desenhos deixados nas rochas, vemos a valorização de animais como a ema, o tatu e o veado. Estão representadas também correntes humanas, cenas de sexo e de caça. Há figuras misteriosas espalhadas nas muitas trilhas, como a apelidada de “Costa-Costa”, uma recorrente pintura de duas pessoas, uma de costas para a outra, os corpos levemente inclinados. Pesquisadores circulam pela área em trabalho constante. Para o visitante, há 172 sítios arqueológicos abertos à visitação. O parque é bem estruturado com portarias, trilhas sinalizadas, escadas, rampas de acesso, algumas com possibilidade de receber cadeirantes.

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Maria Aparecida Ribeiro “Conhecer o Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, é um dos meus sonhos. Sou professora de história, atuo na educação básica, e ainda não pude concretizá-lo. Nesse parque encontra-se o sítio arqueológico Boqueirão da Pedra, e segundo pesquisadores, objetos encontrados datam de mais de 50 mil anos. E essas pesquisas são importantes porque passaram a ser a prova mais antiga da presença humana na América. Imaginem o prazer de fazer uma expedição como esta para um professor de história. Relatar as experiências e despertar no aluno a vontade de conhecer a nossa história.”

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ONDE ESTÁ O MONUMENTO Parque – são várias entradas a partir de quatro cidades, sendo São Raimundo Nonato a melhor estruturada; Museu do Homem Americano – Centro Cultural Sérgio Motta, s/no, Bairro Campestre – São Raimundo Nonato (PI) VISITAÇÃO – Parque – Diariamente, das 6h às 17h; Museu – De terça-feira a domingo, das 9h às 17h ENTRADA Parque – R$ 10 (inteira) e R$ 5 (estudante); gratuito para menores de 10 anos e maiores de 60. Entrada permitida apenas com guia – R$ 75 para até 8 pessoas; Museu – R$ 8 (inteira); R$ 4 para estudantes e grupos com mais de 10 pessoas CONTATO – (89) 3582-1612 e www.fumdham.org.br JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – É imprescindível ir ao Museu do Homem Americano para compreender a importância arqueológica do parque, para ver alguns achados, assistir a vídeos e ler a respeito da ocupação humana no continente americano e sobre os animais gigantes que já habitaram o Piauí. Quando voltar das visitas e quiser comer, prepare-se para uma culinária forte, mas saborosa, à base de carne de sol, carne de bode e de carneiro.


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Riquezas DA ARTE Religiosa MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO CRISTÓVÃO • SÃO CRISTÓVÃO/SE

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A poeira da festa em comemoração ao título recebido ainda não assentou em São Cristóvão (SE). Em 8 de julho, dia da emancipação política de Sergipe da Bahia, a Praça São Francisco, no Centro da cidade, se tornou oficialmente o 18o Patrimônio Cultural da Humanidade no Brasil pela beleza do conjunto colonial e preservação da originalidade. O título é concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O Museu de Arte Sacra de São Cristóvão ocupa um dos extremos da praça, anexo ao convento franciscano de Santa Cruz e à sua igreja. O círculo se completa com o Museu Histórico de Sergipe, a Casa do Folclore, a Biblioteca Pública Municipal, a antiga Santa Casa de Misericórdia e a Igreja de Santa Izabel, as duas últimas em reforma. São Cristóvão, fundada em 1590, foi, anos depois, a primeira capital de Sergipe, até que a sede fosse transferida para Aracaju, em 1855. Apesar dos controversos registros e nomenclaturas de povoações, os moradores referem-se à cidade como a quarta mais antiga do país. Há mais de 300 anos foi edificado um dos prédios mais emblemáticos da praça, o do convento. É nele, mais especificamente nas dependências da Ordem Terceira de São Francisco, que está o acervo do Museu de Arte Sacra de São Cristóvão, instalado ali em 1974. A edificação de dois pavimentos, com a Capela da Ordem Terceira ao centro, abriga tesouros da arte religiosa produzida do século 17 ao início do 20. O acervo com cerca de 500 peças veio de igrejas de diferentes regiões de Sergipe e de doações de famílias. Há preciosidades, como uma pia batismal de 1725 em pedra de cantaria com duas torneiras, que têm a forma de um peixe

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com um pelicano no bico. Na sala dos túmulos, onde eram enterrados padres e nobres, está o Cristo crucificado, que compunha a primeira igreja e moradia provisória construídas pelos franciscanos que chegaram a Sergipe nos anos 1650. A imagem, com mais de dois metros de altura, é de cedro, adornada com um resplendor de prata. O Cristo está com os pés separados, um tipo de representação incomum. Com um interior riquíssimo em detalhes, pinturas e talhas em madeira, a Capela da Ordem Terceira já é, em si, uma peça importante do museu. Todas as portas são originais de cedro, o altar tem três oratórios e seis colunas em estilo grego. O forro simbolizando a subida de São Francisco aos céus teria sido pintado por um discípulo de José Teófilo de Jesus, considerado um dos maiores pintores sacros do Nordeste. Grades de ferro em duas janelas baixas da capela são interpretadas como herança da passagem de soldados do Exército brasileiro pela cidade. Em 1897, eles ficaram aquartelados no convento aguardando o momento de seguir para Canudos, no sertão baiano, a fim de lutar contra os homens de Antônio Conselheiro. A estadia foi curta, alguns falam em apenas um dia, mas foi movimentada, pois o convento sofreu um incêndio, não se sabendo ao certo o motivo. Em mais de uma ocasião, o convento ficou abandonado, sem investimentos. Em 2004, a parte ocupada pelo museu ganhou restauração. Foram recuperadas portas, paredes, telhados, iluminação, pinturas e esculturas, que estavam descaracterizadas. As imagens receberam proteções de vidro e foi feito um trabalho de museologia que resultou em painéis, fi-


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ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Praça São Francisco, s/no, Centro – São Cristóvão (SE) VISITAÇÃO – De terça-feira a domingo, das 10h às 16h (fechado nos feriados nacionais) ENTRADA – R$ 5 (com direito a guia) / R$ 2,50 para estudantes e maiores de 60 anos CONTATO – (79) 3261-1435 JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Na Praça São Francisco, uma das visitas mais interessantes a fazer é ao Museu Histórico de Sergipe. O casarão bem conservado foi construído para ser sede do governo estadual. Hoje, expõe móveis antigos e telas de artistas sergipanos. São Cristóvão está a 25 minutos de Aracaju.

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Elenaldo dos Santos, o Galego, 29 anos, guia turístico Entre os passantes da Praça São Francisco lá está o guia Galego. Há 15 anos, ele apresenta a cidade aos de fora. Com 12 irmãos em casa, foi preciso se virar para ajudar o pai. “Comecei como guardador de carros e fui vendo os outros guias, aprendi e gostei daquilo.” A parte da cidade que mais encanta os turistas, diz ele, é o conjunto do convento. Se Galego pudesse mudar algo para movimentar mais sua cidade já sabe o que faria: “Ia manter os lugares abertos até mais tarde, porque as igrejas e museus fecham às 16h. E ia montar um bom restaurante aqui”, conta. Enquanto as mudanças são apenas sonhos, no dia a dia ele diz aprender cada vez mais a manter a postura para ser um bom guia. “Outro dia, a Ana Hickmann (apresentadora de TV e modelo) esteve aqui. Sou fã dela, mas não tirei nenhuma foto. Tento tratar bem qualquer turista, independentemente de ser famoso ou não.”

chas e estandartes com informações. Do museu é possível ver a Igreja de Santa Cruz, mas ela está fechada para visitação, assim como o convento. Conforme a diretora do Museu de Arte Sacra, Izabel Paiva, de 10 anos para cá as visitas são mais constantes. “A maioria dos visitantes são alunos trazidos pelos professores. Acho bonito. Se eu tivesse uma professora que me levasse a museus, teria chegado mais longe.” QUITUTES • Com o título de Patrimônio da Humanidade concedido à Praça São Francisco, a expectativa é que mais pessoas descubram a cidade, que hoje não é tão turística. A oferta quase inexistente de hospedagem no município vai ganhar um incremento com um hotel que será aberto na antiga Santa Casa, que também já foi orfanato. O prédio é de propriedade das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. À mesma ordem pertenceu Irmã Dulce, que viveu em São Cristóvão por dois anos, a partir de 1933. As irmãs da antiga Santa Casa fazem quitutes delicados para vender no prédio na Praça São Francisco. Dois são especialíssimos – um biscoito fino e doce com raspas de limão e a bala de banana recheada com creme branco. A parte alta da cidade conserva casas históricas e ruas de pedra. A parte baixa é descaracterizada e predominantemente comercial. As casas da parte alta que preservam beleza histórica estão próximas à Praça São Francisco. É tudo acessível, como as sete igrejas do Centro Histórico. Mas é difícil superar a beleza da praça. Por exigência da comissão que concedeu o título de Patrimônio da Humanidade, a fiação de energia elétrica e de telefone passou a ser subterrânea, o que deixou o visual ainda mais bonito. A qualquer hora do dia, sentar em um banco grande da praça ampla e simplesmente ficar olhando o vaivém das pessoas é atração que já vale a viagem. 53


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Barroco NA costa DODendê CONVENTO E IGREJA DE SANTO ANTÔNIO DE CAIRU • CAIRU/BA

A cidade é um agrupamento de mais de 25 ilhas, duas delas conhecidas internacionalmente pelas belas praias: a Ilha de Tinharé, onde está o povoado de Morro de São Paulo, e a Ilha de Boipeba. Do total de ilhas do município-arquipélago localizado na Costa do Dendê, apenas três são habitadas. E apesar da fama das duas localidades citadas, há um bom motivo para conhecer a terceira, a de Cairu, onde está a sede da cidade. É lá que fica o Convento de Santo Antônio de Cairu e sua igreja, que seria a primeira edificação com elementos barrocos no país. Igreja e convento começaram a ser construídos em 1654 e, ainda hoje, arquitetura, peças e muitos elementos decorativos são originais. Chegando a Cairu de barco, como é mais comum, avista-se de longe a frontaria da igreja em forma de pirâmide com contornos arredondados. Ao desembarcar e alcan54

çar o convento franciscano no alto de uma ladeira, esbarramos primeiro na cruz vermelha de madeira sustentada em base de pedra. Igreja e convento estão atrás, interligados. Completa o conjunto a ruína da Capela da Ordem Terceira, à esquerda da entrada principal do convento. A construção, iniciada há 300 anos, nunca foi concluída. O interior da igreja e as partes nobres do convento têm detalhes preciosos. Pinturas nos forros, imagens sacras, móveis antigos, madeiras bordadas em altares, ouro, muitos azulejos portugueses azuis e brancos do século 18. Na sacristia, impressionam a pintura ilusionista no teto e dois arcazes de três séculos com cenas da vida de Cristo pintadas pelo baiano José Joaquim da Rocha. A riqueza e a qualidade dos materiais e trabalhos no convento intrigam sobre a capacidade de erguer e compor um espaço que dependia de


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doações e esmolas. O coordenador do convento, frei Hilton Francisco da Cruz Botelho, de 69 anos, conta que as primeiras obras para construção da clausura de religiosos e da igreja levaram mais de 100 anos para ser finalizadas. “E era habitual ter pinturas e belezas na igreja para atrair os fiéis. Eles ficavam admirados.” Somente a parte destinada à moradia é mais simples e sóbria, como prega a ordem franciscana. Hoje, o convento não é mais espaço de clausura. Recebe diariamente turistas para conhecerem suas dependências, e, nos dormitórios, missionários ligados à Igreja Católica. Fora da área restrita, um dos maiores encantos é mesmo o interior da igreja. Com muitos detalhes dourados, ela reúne um conjunto de obras importantes, como as pinturas na entrada e no forro principal, o púlpito com teto seme-

lhante ao de uma carruagem glamourosa, o altar lateral de Santa Rosa de Viterbo entalhado em cedro e folheado a ouro, e o coro, onde está um belo frontal dourado que se deixa ver do centro da igreja. Muitas das cores originais e até das pinturas sob camadas de tintas só foram conhecidas a partir do trabalho de restauração que está sendo feito na igreja e em parte do convento desde 2007. Grosseiras pinturas ou a ação de fungos e cupins camuflavam as belezas. O tapa-vento de madeira pintado em detalhes, que hoje enfeita a entrada da igreja, estava coberto de papel e danificado com furos de pregos. “Com a restauração, apareceram mais nítidas muitas pinturas com cores raras. Acredita-se que na época os artistas tenham usado resina de cajueiro, barro e outras fontes naturais para chegar às tonalidades”, explica frei Botelho. 55


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Segundo o professor Alberto Sousa, da Universidade Federal da Paraíba, a importância arquitetônica da Igreja de Cairu ainda não foi devidamente reconhecida. A fachada, resultante de projeto do frei português Daniel de São Francisco, é, conforme Sousa, a primeira do Brasil que se pode chamar de barroca. Ela teria sido erguida antes mesmo das igrejas barrocas portuguesas: “Sua frontaria foi a primeira construída no Brasil que se afiliava ao barroco – em razão do seu caráter cenográfico, da agitação dos seus contornos, de sua dramaticidade, do papel que a decoração nela desempenha”. No período de construção, o mais comum, diz o professor, eram igrejas filiadas ao estilo “chão”, uma espécie de classicismo geométrico com desenho mais conservador. A Igreja de Cairu historicamente se adiantou ao período de efervescência do barroco. ATRATIVOS • Cairu está em uma das mais primeiras regiões ocupadas e povoadas pelos colonizadores no país – pelo que se tem notícia, a partir do século 16. No século seguinte chegaram os frades, que se empenharam na construção do convento. Hoje, parte do casario antigo pode ser visto na cidade, alguns imóveis do século 18 e outros do 19. Mas a maioria dos visitantes aporta no município procurando as praias famosas, sendo Morro de São Paulo a mais movimentada e estruturada. De herança dos séculos passados conservaram-se também festas populares: congos, bois, reinados, fanfarras. A mais tradicional é a de São Benedito, sempre no início de dezembro até a primeira semana de janeiro. A engenheira mineira Sueli Santos visitou a cidade e teve a chance de participar de uma das festas. “Quando chegamos de barco, nós, turistas, encontramos banda de música e foguetes. Pessoas fantasiadas com enormes roupas de chitão, luvas e botas, máscaras estranhas com chifrinhos, e chapéus coloridos surgiam em cada esquina, pelas ladeiras da cidade.” 56

ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Praça Marechal Deodoro da Fonseca, 1, Centro – Cairu (BA) VISITAÇÃO – Diariamente, das 8h às 17h (se for grupo maior, é bom agendar antes) ENTRADA – R$ 2 CONTATO – (75) 3653-2118 JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Passeie pelas ruas próximas ao convento, observando algumas casas bem pintadas no Centro Histórico e o verde da mata atlântica em parte ainda preservada. Vá até a Matriz de Nossa Senhora do Rosário, a 200 metros do convento. Ela foi construída a partir de 1610. Do lado de fora da matriz há um mirante para as águas que circundam a vila e para os manguezais abundantes por ali.

Algo mais Para chegar a Cairu há mais de uma opção. A mais usada, partindo de Salvador, costuma ser o ferryboat até Bom Despacho, na Ilha de Itaparica. Dali, segue-se de ônibus ou carro até Valença, o que completaria cerca de 100 quilômetros; e de Valença, de barco ou lancha para Cairu. Muitas pessoas preferem se hospedar em Morro de São Paulo e, a partir de lá, fazer um passeio de barco para a Ilha de Cairu. Há ainda voos regulares de táxi aéreo de Salvador para Morro de São Paulo e Boipeba.


Apresentação da Orquestra Afro Sinfônica de Salvador

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Conf luências artIsticas ESPAÇO CULTURAL DA BARROQUINHA • SALVADOR/BA 57


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Waldir Pereira “Ah, como gostaria de conhecer a Bahia de Todos os Santos e dos grandes homens: Castro Alves, Ruy Barbosa, Jorge Amado, e de artistas como Caetano Veloso, Ivete Sangalo, Luiz Caldas, entre outros que souberam descrevê-la e amá-la! Conhecer suas riquezas históricas, sua culinária, nadar em suas praias, conhecer sua gente bonita e alegre, ouvir ao vivo sua música, o batuque que pulsa e não deixa ninguém indiferente.”

É possível que a arte nos fale, por diferentes caminhos, que nada é fixo. Nomes, sentidos, usos e percepções escapam da convenção apresentada como único caminho. Pensando assim, poderíamos dizer que o Espaço Cultural da Barroquinha, em Salvador, incorporou de verdade o espírito da arte. Por fora, é uma igreja com fachada t radicional, cruz e duas torres. Lá dentro, um teatro para 120 pessoas, com programação de peças, espetáculos de música, dança e poesia. As paredes cruas de pedra e adobe sem reboco também contrastam com a parafernália de aço e com as madeiras instaladas no teto para dar suporte às montagens. Os responsáveis pelo espaço não quiseram cobrir nem as grossas paredes, nem o metal. As estruturas de pedra são o que restou de um incêndio devastador em 1984. Atrás do palco, a parede em parte destruída foi deixada assim, como um muro bombardeado. A ruína ali não é resto, é início ou parte da composição. A orquestra Afro Sinfônica de Salvador, em apresentação na Barroquinha quando a Expedição Cultural passou pelo local, iluminou de vermelho os fundos do palco. Da plateia, a impressão que se tinha era de que o pedaço de parede transportava os músicos como que para tempos passados. As muitas janelas herdadas da igreja, que ali funcionou antes de o fogo tomar conta de tudo, também se transformaram em elementos cênicos. Construída no início do século 18, a antiga Igreja de Nossa Senhora da Barroquinha foi abandonada depois do incêndio. O espaço que antes era religioso foi reinaugurado em 2009 com fim exclusivamente cultural, sob a administração da Fundação Gregório de Mattos, ligada à Prefeitura de Salvador. Foi preciso fazer uma grande recuperação 58

e adaptação. A proposta para o novo uso, acertado com a Arquidiocese de Salvador, estava pronta desde 1991, mas o estado em que se encontrava a igreja em ruínas exigiu tempo para alcançar soluções e recursos. Em boa parte da estrutura, a alvenaria original se perdeu. Nesses casos, foi feito um calçamento das ruínas ou sua reconstrução usando pedras e soleiras que restaram do incêndio. Os dois espaços laterais foram aproveitados como foyer de entrada e galeria para exposições, e o pátio ganhou um café, usado apenas durante as apresentações. No centro está o salão principal onde rezavam os fiéis de Nossa Senhora da Barroquinha. As vozes que se fazem ouvir hoje naquele retângulo podem vir de vários locais da sala. É que os assentos são móveis e o espaço cênico e o da plateia podem ser montados segundo as intenções e necessidades de cada espetáculo. CANDOMBLÉ • Na cidade que é referência em manifestações culturais e religiosas de origem africana, a Barroquinha tem importância histórica. Ao lado da igreja, no mesmo terreno, escravas africanas, provavelmente princesas de nações subjugadas pelos escravocratas, fizeram seu espaço de culto a Oxóssi. Ali teria ocorrido, há três séculos, o primeiro movimento de candomblé do Brasil, o que alguns chamam de acampamento, pois ainda não eram os terreiros que se conhecem hoje. De acordo com informações da Fundação Gregório de Mattos, daquele possível encontro surgiu a Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte e terreiros centenários da Bahia, como o Gantois, Casa Branca e Ilê Axé Opô Afonjá. Não se sabe precisar por quanto tempo o sincretismo religioso foi regra na Barroquinha.


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São essas marcas da história e de entrelaçamentos que os responsáveis pelo espaço querem deixar visíveis. A proposta vem agradando ao público e aos artistas, o que se mostra pela agenda do teatro, fechada até o fim de 2012. O espaço cultural é um exemplo de resistência também pela localização, a Praça Castro Alves, no Centro da capital baiana, área considerada perigosa à noite. Enquanto não se efetivam as propostas de revitalização cultural nessa região da cidade, a Barroquinha persiste. Junto com os vizinhos Espaço Unibanco de Cinema Glauber Rocha e o Teatro Gregório de Mattos, que está sendo reformado, vai atraindo público interessado em cultura. Os dois locais são ligados à Barroquinha por uma grande escada, suportada por um paredão com a placa indicativa de que a estrutura foi construída em setembro de

Algo mais Essa dica vale para as visitas diurnas e noturnas à Barroquinha. Um dos espaços mais bonitos ali perto é o Solar do Unhão, onde está o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). É um conjunto histórico às margens da Baía de Todos os Santos com o museu, café, restaurante, galpões e um parque aberto de esculturas. O MAM-BA está a 15 minutos a pé do Espaço Cultural da Barroquinha. À noite recomenda-se ir de táxi.

1878 a mando de dom Pedro II. O gerente do Espaço Cultural da Barroquinha, Alexinaldo Costa Lobo, aposta que o público já se acostumou à área. “Sabemos da violência no Centro, apesar de nunca termos tido problema. Temos que nos ajudar, fortalecer os espaços. Se a Barroquinha tem um perfil interessante um pouco é por estar no Centro mesmo, onde sabemos que há carência de espaços de difusão da cultura.”

ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Praça Castro Alves, Centro – Salvador (BA) VISITAÇÃO – De segunda a sexta-feira, das 8h às 22h, para exposições temporárias. À noite, praticamente todos os dias, para os espetáculos nos horários marcados pelas produções ENTRADA – Gratuita para as exposições. Variável para os espetáculos CONTATO – (71) 3322-2646 JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Se a visita for durante o dia, vale a pena esticar até o Largo Dois de Julho (10 minutos a pé), subindo a Avenida Sete de Setembro. É um espaço com muitas árvores e bares na rua. Há também bancas de frutas e verduras. Um dos restaurantes mais procurados é o tradicional Caxixi, onde se come o prato chamado mal-assado: carne de boi assada com tempero baiano.

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REMANESCENTE

DO

brasilColテエnia CONJUNTO ARQUITETテ年ICO DO ENGENHO FREGUESIA MUSEU DO RECテ年CAVO WANDERLEY PINHO 窶「 CANDEIAS/BA

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GENTE DAQUI Por mais de 300 anos, a casa-grande do Engenho Freguesia acolheu senhores membros de uma elite responsável pelos rumos de parte importante da economia brasileira. Do casarão saíam ordens para dimensionar a produção de açúcar, controlar as exportações para a Europa, e para contratação e exploração da mão de obra dos escravos, que sustentaram com sua força mais essa atividade do Brasil colônia. A primeira casa foi instalada junto com o engenho no século 16, mas foi substituída pela atual, erguida dois séculos depois. O prédio de quatro pavimentos acoplado a uma capela e ladeado pelas ruínas da usina de moagem de cana formam o conjunto arquitetônico que hoje sedia o Museu do Recôncavo Wanderley Pinho em Candeias, distante cerca de 50 quilômetros de Salvador. Por ora, o museu não recebe visitantes, pois passa por reformulações, mas a meta do governo da Bahia, responsável pelo espaço, é animadora: transformar o local em um movimentado centro para exposições, conferências, eventos e cursos para comunidades próximas. Segundo a diretora do museu, Maria de Fátima Santos, o projeto para ocupação prevê reabrir as portas com boa infraestrutura ao visitante, o que contempla um restaurante e um café. A capela do século 18, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, deve passar a receber formaturas, casamentos e outras celebrações. No que hoje são as ruínas da usina ficaria um auditório. “Toda a ocupação vai levar em conta a sustentabilidade, a relação com a história do engenho e atividades que possam auxiliar as comunidades”, informa a diretora.

José Adriano da Silva, 87 anos, aposentado A família do aposentado José Adriano da Silva, de 87 anos, testemunhou a cultura de engenhos no Recôncavo Baiano. Ele nasceu e mora no distrito de Caboto, vizinho ao museu. Seus quatro avós foram escravos das lavouras e engenhos de cana. “Naquele tempo, todo mundo tinha que trabalhar com cana. Não sei como aguentavam. Minha avó Bastiana morreu com 127 anos.” Trabalhando desde os 10 anos no campo, José Adriano chegou a prestar serviço no casarão antigo do Engenho Freguesia – só transformado em museu em 1971. Ele e a mulher limpavam a casa, arrumavam cercas, cortavam o mato. “Lá dentro da casa é só fantasia. Espingarda velha, cadeiras de jacarandá, uma cama que precisava de cinco homens para pegar, um espelho que dava pra ver a gente todinho.” Mesmo historicamente fora do período da escravidão, ele conta que trabalhava sem dias de folga. “A gente ouvia o foguete de alguma festa e, se comentava, o patrão falava que era pra continuar o serviço.”

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O casarão colonial tem janelas de madeira na frente e nas laterais, algumas com charmosos gradis. Tanto o conjunto arquitetônico quanto o acervo são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Por segurança, o mobiliário da casa, a maioria peças de madeira do século 19, foi transferido provisoriamente para o Palácio da Aclamação, em Salvador. Já as peças sacras do século 18 estão no Centro Cultural Solar Ferrão, também na capital baiana. Em 1991, assaltantes levaram porcelanas, imagens e armas antigas que eram colecionadas, mas, segundo a diretora, boa parte já foi recuperada. Conforme o historiador de Candeias Jair Cardoso, poucos museus com perfil parecido conseguiram conservar com fidelidade a estrutura original, como é o caso do Wanderley Pinho. “Mesmo sem o acervo, o casarão por si já é uma aula de história.” Maria de Fátima acrescenta, dizendo que o que existe de resquício de arquitetura do período do engenho no Brasil está em propriedades particulares, o que faz do Museu do Recôncavo uma exceção preciosa. Antes de efetivar os planos de ocupação, será preciso restaurar a estrutura, que fechou as portas definitivamente para visitações em 2000, segundo a diretora. Há quatro anos eles conseguiram R$ 490 mil para estabilizar a estrutura do imóvel. Recuperou-se parte do telhado, o entorno foi drenado e pisos e janelas de dois pavimentos trocados. Um alento para o casarão. Porém, devido ao tempo sem grandes investimentos, será preciso conseguir ainda mais recursos. “Já estivemos em condições muito ruins e, comparando, hoje podemos dizer que a estrutura está bem”, avalia a diretora. Falta restaurar a capela, tanto a parte arquitetônica quanto a artística, tendo em vista os balcões trabalhados e as pinturas no forro. Será necessário também substituir mais pisos e janelas da grande edificação, revisar estruturas, dar novo ar às fachadas da casa e da igreja, desgastadas pelo tempo, e reconstruir o que for possível a partir das ruínas da fábrica – na verdade, só restaram grandes pilastras que vão até a beira da praia em frente, tomadas por musgos. 62

SAFRA AÇUCAREIRA • A última safra de açúcar beneficiada no Engenho Freguesia foi a de 1898/1899. Os engenhos da região já haviam entrado em declínio e, sem mão de obra escrava, viriam os custos do trabalho que aqueles senhores não conheciam. Nas proximidades de Candeias é possível ver restos de antigos casarões e usinas de açúcar. Com o enfraquecimento dos engenhos, só a partir dos anos 1940 a economia da região voltou a se desenvolver com a descoberta e exploração de petróleo. Hoje, há dois portos movimentados na cidade, mas percebe-se uma herança negativa na desorganização das moradias, poluição visual e favelização. O projeto de ocupação do Museu do Recôncavo Wanderley Pinho pode significar outro tipo de renda para as pessoas da região, além da oportunidade de fazer cursos e aprender mais sobre a história da própria cidade. Para os visitantes, seria uma opção a mais próxima à capital, Salvador. O espaço privilegiado está na Enseada de Aratu, às margens da Baía de Todos os Santos. É uma paisagem exuberante, cercada por muito verde: coqueiros altos, mangueiras, goiabeiras. As águas abundantes ali permitem que se chegue até o museu de barco.

ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Distrito de Caboto – Candeias (BA) VISITAÇÃO – Suspensa, sem data para reabertura CONTATO – (71) 3117-6472, na Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – Interessados em saber mais sobre a história de Candeias e dos engenhos de açúcar específicos dessa área na Bahia podem ler o livro Candeias, história da terra do petróleo, do historiador da cidade Jair Cardoso dos Santos, que pode ser contatado pelo telefone (71) 3601-1696.


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Devoテァテ」o A Rosa

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MUSEU CASA GUIMARテウS ROSA 窶「 CORDISBURGO/MG 63


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Grace Camargos “Uma rosa no caminho. Assim começa minha viagem imaginária até Cordisburgo, terra de Guimarães Rosa e de meu pai. Fecho os olhos. Estrada de terra, porteiras, tropeiros, igrejas e cavalos passam por mim. O tempo, mais devagar. Cordisburgo: o tempo sem pressa, o badalar do sino e pequenas mãos a nos guiar por um universo mágico. Meninos declamam Rosa como quem faz uma reza. No centro de tudo, o museu, como um Sol. Madeira maciça, máquina de escrever, canetas-tinteiro, cadernos antigos, páginas amareladas, estante repleta de livros. Conheço esse lugar, mesmo sem nunca ter estado lá.”

A menina tem 12 anos. É magra, usa o cabelo preso. Diz: “Boa-tarde, meu nome é Monique”. E, no seu tempo, devagar, vai mostrando a casa em que o escritor João Guimarães Rosa nasceu em 1908, seus instrumentos de trabalho, livros, fotos, condecorações, peças de roupa. Discreta, mas firme, ela parece nos entender bem nas curiosidades comuns sobre uma maleta marrom surrada ou sobre a máquina de datilografia usada para redigir Grande sertão: veredas. Até aí somos visitantes escutando informações que muitos ouviram e que ainda vão despertar o interesse de mais gente sobre um dos maiores escritores do país. Tudo muda quando Monique oferta ao visitante uma história. Ela retrata, na verdade, a história de Miguilim, o menino sensível e diferente que era míope.

ONDE ESTÁ O MONUMENTO – Rua Padre João, 744, Centro – Cordisburgo (MG) VISITAÇÃO – De terça-feira a domingo, das 9h às 17h ENTRADA – R$ 2 para o público geral e gratuito para alunos de escolas públicas (grupos de estudantes precisam agendar a visita) CONTATO – (31) 3715-1425 JÁ QUE VOCÊ ESTÁ LÁ – A Gruta do Maquiné fica a cinco quilômetros do Centro de Cordisburgo. Na cidade, há também o Zoológico de Pedra Peter Lund, praça com esculturas ao ar livre de grandes animais pré-históricos encontrados na região pelo paleontologista dinamarquês, muitos na área da gruta.

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Todo o corpo, passado e coração de Monique presentificam-se, íntegros, quando ela se põe a narrar histórias escritas por Rosa. Ficamos sem saber o que fazer. Nada há para perguntar, nem para julgar. Queremos que a menina continue contando histórias até anoitecer, até que venha o dia novo, o sol de Cordisburgo avisando que já é hora de encerrar a sessão. Ela e os 31 colegas do grupo de contadores de histórias Miguilins honram a memória do conterrâneo Guimarães Rosa. Criado em 1994 pela médica aposentada Calina Guimarães, prima do escritor, o grupo é composto por jovens com idade entre 9 e 18 anos, moradores de Cordisburgo, distante 114 quilômetros de Belo Horizonte. Antes de se tornarem guias do Museu Casa Guimarães Rosa, eles passam dois anos sendo preparados. Todos são voluntários, descobridores do universo de Rosa e multiplicadores da sua literatura. Conduzido pelos ‘miguilins’, o visitante conhece um pouco da intimidade do escritor. O museu foi criado em 1974, sete anos depois de sua morte. “Foi um curto tempo para a criação do museu, muito pela importância e reconhecimento do Guimarães Rosa. A casa já não era da família, mas o governo do estado a comprou e adaptou”, revela o diretor do museu, Ronaldo Alves de Oliveira. Ainda hoje, o espaço é gerido pela Superintendência de Museus e Artes Visuais de Minas, ligada à Secretaria de Estado de Cultura. A casa com telhado colonial foi construída no fim do século 19 e conserva o teto de bambu trançado e o piso de assoalho. João Guimarães Rosa passou ali os primeiros anos da infância. Uma das portas que dão para a rua é da venda do “seu” Fulô, pai do escritor. A maioria dos móveis da casa é reconstituição da época, inclusive a cozinha, com fogão a lenha e uma mesa generosa. No quarto dos pais de Rosa, a caixa transparente repleta de gravatas-borboletas lembra o homem que não gostava de dar nós nas gravatas comuns.


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O sertão, universo inspirador de Guimarães Rosa e que não se restringe a um recorte geográfico, estará mais presente no espaço a partir de meados de 2012. Um grupo de pesquisadores está em campo levantando dados sobre construções históricas, festas populares, tradições e bens imateriais da região, caracterizada como sertaneja. Na segunda etapa do trabalho, eles vão atrás da memória viva do sertão. Depoimentos, imagens, vídeos e fotos de personagens vão compor um panorama que ficará exposto no museu, informa Ronaldo Oliveira. Entre os moradores de Cordisburgo, o sertão captado na obra do autor ganha formas artísticas, estimuladas pela direção do museu. O grupo de senhoras Estrelas do Sertão borda trechos das obras em bonitos trabalhos e as crianças das escolas da cidade participam de cursos de literatura, desenho e mostras de cinema.

ENTORNO • Próximo ao Museu Casa Guimarães Rosa há bonitas construções para ver, como a estação ferroviária, recém-pintada, e a Capela de São José. Desde o ano passado, quem visita Cordisburgo pode admirar o Portal Grande Sertão, de autoria do artista plástico Leo Santana, instalado no fim da rua do museu. Seis homens com chapéus montados em seus cavalos têm à frente um cachorro. Um pouco atrás, no chão, está o escritor Guimarães Rosa com uma caneta na mão direita e um caderno na esquerda. O portal, com esculturas em bronze, em tamanho real, representa a viagem dele com vaqueiros pelo sertão mineiro, em 1952. Na segunda semana de julho é realizada a semana roseana no museu, nas ruas de Cordisburgo e em outros espaços. Amantes ou interessados na obra de João Guimarães Rosa assistem às mesas-redondas e aos espetáculos relacionados aos livros e podem participar de caminhada pelo sertão. 65


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Jackson Romanelli/EM/D.A Press

Um desejo que acompanha a artista plástica e publicitária Grace Camargos, de 42 anos, desde menina foi a inspiração para o comentário vencedor do concurso promovido pela Expedição Cultural. Ela e outros apreciadores de viagens postaram no blog do concurso impressões sobre os lugares visitados pela equipe. Foram comentários de pessoas que já tinham estado naquele local ou que tinham vontade de conhecê-lo. Grace quer conhecer Cordisburgo, na Região Central de Minas, onde está o Museu Casa João Guimarães Rosa. Ela é admiradora do escritor mineiro, que nasceu na cidade, a mesma do pai dela. Apesar de nunca ter estado lá, Grace sente uma familiaridade com Cordisburgo e traça um retrato afetivo do lugar por meio do que ouve o pai contar e pelo que lê nas obras de Rosa. “Não sei por qual descaminho não conheço Cordisburgo. Fica como aquele desejo não realizado”, diz. O pai de Grace se mudou para Sete Lagoas e depois para Belo Horizonte, onde a filha nasceu. Ela acredita que a vida corrida muitas vezes nos desvia de desejos verdadeiros. “Guimarães Rosa foi um exemplo de alguém que seguiu o que queria, abraçou a literatura, mesmo deixando um pouco de lado suas outras tarefas, a medicina e a diplomacia.” Antes de postar seu comentário sobre uma cidade saudosa e ainda desconhecida, ela escreveu um texto maior e, devido ao limite de tamanho do comentário, foi cortando. “Era um recado até para mim mesma. É difícil ter a coragem de seguir a vocação, abandonar algumas coisas, e Guimarães Rosa parece nos dizer que flor, quando precisa nascer, nasce com a força de uma explosão.”

MENSAGEM VENCEDORA

“Uma rosa no caminho. Assim começa minha viagem imaginária até Cordisburgo, terra de Guimarães Rosa e de meu pai. Fecho os olhos. Estrada de terra, porteiras, tropeiros, igrejas e cavalos passam por mim. O tempo, mais devagar. Cordisburgo: o tempo sem pressa, o badalar do sino e pequenas mãos a nos guiar por um universo mágico. Meninos declamam Rosa como quem faz uma reza. No centro de tudo, o museu, como um Sol. Madeira maciça, máquina de escrever, canetas-tinteiro, cadernos antigos, páginas amareladas, estante repleta de livros. Conheço esse lugar, mesmo sem nunca ter estado lá.”

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A artista enviou um único comentário para o blog na tarde do último dia de postagens. Encantada por viagens, acompanhou a Expedição Cultural para conhecer mais belezas do Brasil. “Todo ano procuro viajar pelo menos duas semanas. Gosto muito de praia, de cidade histórica.” O prazer de viajar é uma das lições que ela repassou ao filho de 7 anos. “Se não dá para ir longe, vamos por aqui mesmo, mas saímos sempre que há oportunidade.” Assim como Grace, outros viajantes ou aspirantes relataram no blog sobre o desejo de conhecer um dos 20 roteiros visitados pela Expedição Cultural, e também contaram sobre experiências vividas nos locais. Foram quase 150 comentários em um período de 71 dias para as postagens no blog. As dicas dos leitores auxiliaram e inspiraram a equipe de reportagem da expedição em sua passagem por cidades de 11 estados diferentes. Todos os comentários foram lidos e analisados por uma comissão que decidiu por premiar a singela mensagem de Grace.

A comissão foi formada pelo secretário de Estado de Turismo de Minas Gerais, Agostinho Patrus; pelo presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), Fernando Viana Cabral; Vera Menezes, doutora em linguística e professora do programa de pós-graduação em estudos linguísticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais; Alfredo Durães, jornalista do caderno Turismo do Estado de Minas; Bianca Magela Melo, repórter da Expedição Cultural; e Cristiana Andrade, jornalista responsável pela edição da revista Expedição Cultural. Conforme o edital do concurso, o autor do comentário campeão receberá como prêmio uma viagem com um acompanhante, com duração de até cinco dias. O vencedor escolherá uma rota entre três predeterminadas pelos organizadores da Expedição Cultural. A premiação inclui as passagens aéreas, estadias, traslados, três refeições diárias e guias turísticos. 67


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Experiência pelo brasil

RICA

O viajante tem a terra a seus pés e às vezes parece que é ela que se move. Ele está ali, como que à procura do seu centro, surfando seguro em ondas formadas por blocos de terras. E como é bom estar em movimento, sentir-se aberto a novas idas e vindas. A terra em movimento que acolheu a Expedição Cultural é diversa. Seca como a caatinga do Piauí, farta como as mesas de Goiás, coberta de verde como a de parte da Bahia, úmida como a região de Corumbá. A viagem durou 35 dias desde a partida, de Catas Altas da Noruega, até a última parada, em Cordisburgo, cumprindo um ciclo que começou e terminou em Minas Gerais, passando por outros 10 estados. Com malas grandes, fotógrafo e repórter partiram para visitar patrimônios históricos e culturais Brasil afora. De avião, táxi, carro e barco fomos chegando aos lugares predeterminados. Nessa caminhada, muitos demonstram um carinho especial pelos que são de Minas Gerais. Um giro grande assim pelo Brasil escancara as variações culturais de uma região para outra. Dá para perceber que a diferença de clima acaba determinando ou influenciando o modo de vida, a culinária. Na mesma época do ano, enquanto em São Francisco do Sul (SC), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS) a temperatura estava abaixo dos 10 graus, menos de um dia de viagem depois, em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, os termômetros quase encostavam nos 40 graus, com uma sufocante sensação térmica. Mas a equipe da Expedição Cultural resistiu bem às mudanças climáticas. E soube aproveitar a escalada no mapa, que significou sol mais generoso e culinária mais marcada com temperos fortes e pratos com mais personalidade, diferentes dos habituais servidos no Sudeste. O novo menu tinha tapioca, peixes locais com farofa, feijão-verde, muita carne de carneiro e a maniçoba – prato próximo da feijoada, mas feita com folha de mandioca-brava no lugar de feijão, servida em parte da Bahia. 68

Em muitos lugares, o desejo era ficar mais tempo. Para compreender um pouco a imensidão do local, como o Parque Nacional da Serra da Capivara, no Sudeste do Piauí, com extensão de 130 mil hectares e uma história arqueológica riquíssima. Também para as fotos, o Piauí foi um lugar especial, sobretudo pela impressionante beleza natural, com rochas imensas e pela cor do sol ao entardecer. Como conta o fotógrafo Alexandre Baxter, nem sempre encontra-se tão pronto o cenário para uma boa foto, o que demanda horas de vigília e muitas tentativas. “Em Cordisburgo, por exemplo, foi um pouco mais difícil por causa do tempo fechado. E o museu é uma casa sem muita entrada de luz natural, apesar de aconchegante. Tive que esperar o fim do dia e fotografar ao entardecer, usando luz artificial. Em Goiás Velho, também foi um pouco mais complicado. Por estar muito quente no dia, a luz do sol é muito forte, o que deixa o contraste muito alto. Precisei também fotografar nos melhores horários, manhã e entardecer, para poder ter uma luz mais suave.” Como o tempo em geral era curto em cada pouso, o jeito foi aproveitar o dia para apurações, entrevistas, fotos, filmagens, visitas e andanças. Já as noites eram para escrever posts para o blog, adiantar textos da revista, editar fotos, montar vídeos, ler ou repassar o material sobre o destino do outro dia. E, se havia algum cansaço ou saudade, tudo sumia nos novos encontros, nas descobertas de pessoas que abriam suas histórias, deixando a alma da gente mais leve e esperançosa. Os patrimônios visitados quase sempre têm um anjo protetor, alguém que dedica tempo e energia para cuidar e pensar o teatro, os museus, as igrejas, parques e fundações. Elas é que valem a pena encontrar por aí. Por essas pessoas é que se deve viajar. Para se fortalecer no amor delas pelo patrimônio cultural e histórico brasileiro e aproveitar o que elas nos entregam com tanta dedicação.


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Em São Paulo, equipe se depara com manifestação contra o novo Código Florestal, na Av. Paulista

Guia Eliete (E) mostra pinturas rupestres à repórter Bianca Melo, no Parque Nacional da Serra da Capivara

O famoso empadão goiano

Casario da Cidade de Goiás (GO)

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E x p e d i e n t e

Diretor-presidente: Álvaro Teixeira da Costa Diretor-geral: Édison Zenóbio Diretor-executivo: Geraldo Teixeira da Costa Neto Diretor de redação: Josemar Gimenez Diretor de finanças: Hélio Amoni Diretor de publicidade: Mário Neves Diretor jurídico: Joaquim de Freitas Editor-geral: João Bosco Martins Salles Editor-chefe: Carlos Marcelo Carvalho Superintendente de circulação: Caio Braga Netto Conselho editorial: Cyro Siqueira e Fábio Proença Doyle

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Revista Especial Expedição Cultural Estado de Minas Ger. Exec. MKT e Comunicação: Andréia Zuqui Ger. Produto: Vanessa Maia Editor de Artes Gráficas: Álvaro Duarte Edição: Cristiana Andrade Textos: Bianca Magela Melo Fotografias: Luiz Felipe Fernandes e Alexandre Baxter/Agência Nitro Revisão: Ademar Fulgêncio Projeto gráfico e diagramação: Greco Design Impressão: Ediouro Distribuição: EM Log Tiragem: 115.000 exemplares Assinaturas: BH, Contagem e outros estados: (31) 3263-5800 Outras localidades de MG: 0800 031 5005 Capa: Museu Casa Guimarães Rosa


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Reconstitui巽達o da sala de trabalho do escritor Jo達o Guimar達es Rosa

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