O que as vandas não contam #02

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O QUE AS VANDAS Nテグ 02


— GRECODESIGN.COM.BR FOTOS: ZUMBERTO — Esta é a segunda edição do nosso jornal O que as vandas não contam*. Nosso objetivo é compartilhar com vocês um pouco do nosso dia a dia, apresentar-lhes alguns de nossos projetos e colocar em discussão o que andamos pensando. O tema deste exemplar é “Obstáculo”. Embora nossa trajetória venha sendo de muitas conquistas, não podemos nos esquecer dos reveses que encontramos pelo caminho. A maioria deles sempre nos exige pensar de outra maneira e, assim, nos leva a soluções inesperadas. Na entrevista, Bruno Peixoto fala da arte do deslocamento: o Parkour. Ao conversar sobre a atividade que transpõe os obstáculos urbanos, ele aborda questões como medo, limites e a transformação que a prática causou em sua vida. Em seguida, selecionamos alguns de nossos projetos que, de uma maneira ou de outra, representam o tema da edição. O primeiro foi a embalagem especial do DVD do espetáculo Ser Minas tão Gerais, do grupo de teatro Ponto de Partida. As dificuldades foram encontradas na execução do material que, feito de jornal, exigiu da equipe de produção (além de inúmeros refacimentos) a tarefa ingente de colar mais de 200 mil folhas de jornal uma sobre a outra. O segundo projeto traz no seu escopo o obstáculo de encontrar o caminho. Como todo bom projeto de sinalização, o feito para o SEBRAE-MG deveria direcionar as pessoas que não têm domínio do espaço ao lugar desejado, com precisão e clareza. Era preciso ainda deixar presente na solução formal o discurso da marca da instituição.

GUSTAVO GRECO É O PRIMEIRO MINEIRO – E QUE ATUA NO MERCADO DE MINAS GERAIS – A SER JURADO EM CANNES LIONS, O MAIOR FESTIVAL DE CRIATIVIDADE DO MUNDO. Já no selo comemorativo dos sessenta anos da Mendes Júnior, o percurso, sem se esquecer dos percalços, devia ser retratado. A escolha de uma concha com espirais áureas como símbolo representa as respostas encontradas pelo caminho, as quais não desestimulam o surgimento de novos anseios. Ao contrário, “o fim de um ciclo inspira a criação de um novo”. Na seção “Em sentidos”, nossa equipe fala um pouco das atividades físicas escolhidas para vencer os limites do próprio corpo. Seja na corrida, na bicicleta ou no Yoga, as palavras de BKS Ayengar, ao descrever um Asana (posturas do Yoga), se estendem: “Asana é uma oportunidade de olhar para os obstáculos na prática e na vida e descobrir como podemos lidar com eles”. Para terminar esta edição, o filósofo e ourives Sérgio Mestre Setembrino nos presenteia com a crônica futurista, “Paris, França, 1909”. Boa leitura.

* O título do nosso jornal foi inspirado numa espécie de orquídea (Vanda Curuleae) que fica em nosso jardim de entrada, bem em frente à nossa sala de reunião. Ali, como espectadoras silenciosas, elas observam passivamente tudo o que acontece aqui dentro.

O C G


OBSTÁCULO GRECO

editorial: gustavo greco EQUIPE ­— Adimar Ferreira dos Santos Alexandre da Fonseca Bruno Nunes Cláudio Carneiro Cristiana Braz Diego Belo Emília Junqueira Fernanda Monte Mor Flávia Siqueira Frederico Quintão Gustavo Greco Isabella Pâmella de Leles João Corsino Laura Scofield Leonardo Daniel Freitas Lorena Marinho Ludmila Hinkelmann Ricardo Donato Tidé Vanessa Nakashima Victor Fernandes Zumberto

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— PKMAXPARKOUR.COM FOTOS: ZUMBERTO E ANDY DAY —

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BRUNO PEIXOTO PKMAX l’art du déplacement

TIDÉ, GERENTE DA GRECO, ENTREVISTA BRUNO PEIXOTO, PRATICANTE DE PARKOUR.

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Os primeiros termos a descreverem a prática criada por David Belle, no fim da década de 1990, foram l’art du déplacement, a arte do deslocamento, e le parcours, o percurso. O termo parkour tem origem no parcours du combattant, o percurso do combatente. Nada mais pertinente ao tema desta edição. Tidé entrevistou Bruno Peixoto sobre a “arte do deslocamento”. Bruno trabalha com cinema, mora em São Paulo, tem 32 anos e é praticante de parkour há oito. Ele contou que fez uma imersão de dois anos na Europa com os caras que inventaram a “coisa”, mais especificamente em Londres e na França, onde o parkour nasceu. A conversa descontraída faz um paralelo dessa ativida-

de, cujo princípio é deslocar-se de um ponto a outro o mais rápida e eficientemente possível, como o dia a dia em um escritório de design, em que o percurso entre as primeiras ideias até chegar à produção é recheado de percalços. T: O que é o parkour pra você? Arte, esporte, disciplina? B: Bom, primeiro vou falar o que ele não é. A comunidade mundial praticante de parkour não o classifica como esporte. Pois não tem time adversário, nem pontos, nem regras, nem juiz, nem espaço determinado para a prática, nem infração e, principalmente, não existe competição. Existe um espírito competitivo no sentido de superar seus limites, mas nunca a ideia de competir, até

porque isso pode oferecer um risco de acidentes aos praticantes. Eu acredito que o parkour seja muito mais uma manifestação, uma expressão cultural forte. Um estilo de vida pode parecer um pouco piegas, mas realmente define bem o que é. Você acaba se cuidando mais, não fuma, não bebe. T: Fale um pouco sobre como funciona. B: O parkour já tem seus vinte e tantos anos e tudo começou meio que de brincadeira. Os moleques querendo ver quem pulava mais longe e depois mais longe e sobre tal coisa, até que chegou um momento em que eles tinham um repertório de movimentos. Daí essa galera evoluiu ao ponto de criar uma metodologia própria para os treinamen-

tos. Eu fiz uma imersão de dois anos com esses caras que inventaram a coisa toda e passei a utilizar essa metodologia. Os treinos são divididos em força, para o cara conseguir aguentar as pancadas; a parte técnica, treinamento dos movimentos por repetição; e a parte psicológica, que é conhecer seus limites pra conseguir expandi-los. T: Falando em técnica, como você vê a relação técnica X talento? B: Eu trabalho com cinema e leio muito a galera que escreve sobre design. É muito comum você ver o pessoal dizendo o quanto a parte técnica é subestimada. Só se enaltece o talento. No parkour, por mais que o talento seja importante, os melhores, os considera-


7 Bruno fotografado por Andy Day na Tailândia.

dos mais talentosos são os que mais treinam, os que mais dominam as técnicas. É claro que existem os que têm um talento nato, mas, se não treinar, vai ficar parado no tempo. T: Qual é a maior dificuldade? B: Socialmente falando, a atividade ainda é muito marginalizada. De tempos em tempos aparece alguma coisa na televisão e aí a galera passa a procurar muito o parkour. Os treinos ficam cheios, o movimento cresce e acaba sendo reconhecido na rua. A moda passa e o pessoal some outra vez. Aí vêm a polícia e a Guarda Municipal, que sempre abordam e mandam parar, descer, dão sermão. Na Biblioteca Municipal e no Viaduto Santa Tereza, por exemplo,

ao mesmo tempo que ocupamos o espaço com os treinamentos, acabamos inibindo ações de vandalismo e violência no local. T: Para finalizar, como o parkour influencia o seu cotidiano? B: Cara, tem um lance muito forte de autoconhecimento. Você começa a perceber mais claramente seus limites, seus medos. O que mais faz diferença na minha vida é nunca estar satisfeito com a zona de conforto e isso exige muita disciplina, perseverança. É isso que eu mais transfiro dos treinos para minha vida. A prática acaba se transformando em estilo de vida. — Saiba mais: pkmaxparkour.com

COLABORADOR: ANDY DAY — Fotógrafo do ambiente urbano e da interação social que foca principalmente o parkour, um método de movimentação em ambientes urbanos que utiliza novos e eficientes meios. Seus praticantes desafiam mentes e corpos ao criar a liberdade de movimento, ao mesmo tempo que reinventam os caminhos designados pelo planejamento urbano e constituem um playground que parece inspirado nos desenhos do artista gráfico holandês Escher, apresentando e reapresentando formas singulares de utilização dos espaços sociais, comerciais e de convivência. — KIELL.COM


— GRECODESIGN.COM.BR FOTOS: RAFA MOTTA E RODRIGO DAI/DIVULGAÇÃO —

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PONTO DE PARTIDA EMBALAGEM DO DVD “SER MINAS TÃO GERAIS” PARA O GRUPO DE TEATRO PONTO DE PARTIDA.

portfólio: promocional

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O Grupo Ponto de Partida é uma das principais companhias brasileiras de teatro. Entre seus principais trabalhos está o espetáculo Ser Minas Tão Gerais, dirigido por Regina Bertola, com o coral Meninos de Araçuaí e Milton Nascimento. Habitantes de uma cidade do interior mineiro, os personagens contam e cantam histórias e fantasias do seu universo, sempre à espera “dele” – um mito capaz de comprovar nosso parentesco com Deus e a crença de que o ser humano nasceu para realizar grandes feitos.



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O espetáculo foi registrado e lançado em DVD e ganhou uma edição especial em 2012, para comemorar os 10 anos de estreia de Ser Minas tão Gerais e os 50 anos de carreira de Milton Nascimento. A pesquisa para o projeto gráfico identificou o elemento cênico que permeia todo o espetáculo: o jornal. A partir dele, foram desenvolvidos uma embalagem para o DVD, o encarte e as peças de divulgação do projeto.


A técnica manual do “papier collé” (papel colado – em tradução livre para o português) foi utilizada para a produção das embalagens do DVD do espetáculo. Para 1.000 unidades estimava-se a colagem de mais de 200 mil folhas de jornal impresso, uma sobre a outra. Ao longo do processo de execução do material, a equipe de produção gráfica notou diversas falhas, como, por exemplo, o tempo estimado para a secagem do papel, ondulações e irregularidades na forma. Como solução, optamos pelo uso de lâminas de papel Paraná revestidas com folhas de papel jornal, tanto na forma bruta (sem impressão) como impressa.


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— GRECODESIGN.COM.BR FOTOS: ZUMBERTO E RAFA MOTTA —

S M P


SEBRAE MG PENTA-

SISTEMA DE SINALIZAÇÃO DA CENTRAL DE ATENDIMENTO SEBRAE – MG.

portfólio: sinalização

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O SEBRAE-MG (Agência de Apoio ao Empreendedor e Pequeno Empresário) oferece um conjunto de ferramentas que podem ser combinadas de maneira a gerar múltiplas e diferentes soluções para o desenvolvimento de micro e pequenas empresas. O sistema de sinalização criado para a instituição tomou como ponto de partida o jogo pentaminó. Assim como no SEBRAE-MG, peças diferentes combinadas entre si geram múltiplos resultados. A família de pictogramas e números que foi criada é resultado dessas combinações.




Os equipamentos de sinalização foram produzidos com chapas de MDF de 6mm (certificadas) que receberam pintura e corte a laser. Sua fixação foi feita com colagem a frio.

Assista ao vídeo: vimeo.com/60258455


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— GRECODESIGN.COM.BR FOTOS: RAFA MOTTA —

S A M


SESSENTA ANOS MENDES portfólio: marca

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SELO COMEMORATIVO DE 60 ANOS DA MENDES JÚNIOR.



Para marcar os 60 anos da Mendes Júnior no mercado de engenharia foi criado um selo de comemoração para uso nas peças institucionais da empresa. Um estudo sobre o número seis foi a base do desenvolvimento do projeto: integrante do número sessenta, inspirado nas espirais logarítmicas de proporções áureas que refletem o que ficou conhecido como o padrão de crescimento perfeito. Esse padrão é frequentemente visto no crescimento de seres vivos, como plantas e animais, além de ter feito parte do reestudo da marca da empresa – realizado pela Greco em 2009.

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O resultado pretendido foi celebrar os 60 anos da Mendes J煤nior, demonstrando o conhecimento e a sabedoria acumulados em sua hist贸ria e projetando um futuro que mantenha sua trajet贸ria de crescimento.



“A PREDILEÇÃO PELA SEÇÃO ÁUREA NÃO SE RESTRINGE AO SENSO ESTÉTICO DOS SERES HUMANOS; ELA TAMBÉM FAZ PARTE DAS NOTÁVEIS RELAÇÕES ENTRE AS PROPORÇÕES NOS PADRÕES DE CRESCIMENTO DE SERES VIVOS COMO PLANTAS E ANIMAIS.”

Kimberly Elam, em Geometria do Design

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— GRECODESIGN.COM.BR FOTOS: ZUMBERTO —

Y C B


YOGA CORRIDA BICIgreco design em sentidos

CORRIDA — O gerente de projetos da Greco Design, Victor Fernandes, escolheu a corrida como esporte em 2008 a partir de uma indicação médica. Com a prática, percebeu que poderia ultrapassar os limites do seu corpo, participando de importantes maratonas: Rio de Janeiro (2011) e Buenos Aires (2012). Acordar cedo no inverno e reservar um tempo pra correr - literalmente - no dia a dia são as maiores dificuldades para Victor. Ele acredita que o segredo da atividade física é encontrar um esporte que proporcione bem-estar, desenvolvendo a concentração, a disciplina e o autoconhecimento. E o mais importante: que se torne um hábito, nunca uma obrigação.

YOGA — Muitos são os benefícios proporcionados pela Yoga, filosofia que trabalha a união entre a mente, o corpo e o espiríto. Joca Corsino é designer da Greco Design e começou a praticar Yoga Ashtanga há pouco tempo, na turma formada com outros colegas (Gustavo, Cláudio, Lorena, Ludmila e Zumberto). Como nunca tinha feito Yoga antes, sua falta de flexibilidade inicial foi tornando muitos dos movimentos difíceis e doloridos. Certo de que não haja barreiras para quem não desiste, Joca aposta: se o corpo aguenta superar os seus limites, consequentemente, a mente também pode aguentar.

O CORPO FALA E A MENTE RESPONDE.

BICICLETA — Zumberto, designer da Greco, instalou uma caixinha de som em sua bicicleta e a transformou no seu meio de transporte diário para o trabalho. Os 2,6 km que separam sua residência da empresa se tornaram 15 minutos de uma prazerosa atividade física que traz bem-estar para o seu dia. Vale lembrar que a bicicleta é um veículo significativo no transporte em importantes cidades pelo mundo e tem prioridade sobre os veículos automotores na circulação pelas vias. Em Belo Horizonte, recentemente, começamos a ver o início desse reconhecimento com a implantação de um projeto de ciclovia que, infelizmente, ainda é precário.

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— GOO.GL/MAPS/9UQ5V 1909 —

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PARIS, FRANÇA 19 GOO.GL/MAPS/9UQ5V 19 0 9

1 › scrEEEch um cão de pernas tortas e saudáveis atravessou a rua do lado onde encostavam-se senhores aparentemente cansados cLIck PRAAA para o lado onde havia uma fábrica ou melhor uma antiga fábrica de tecidos que agora produzia motores e possuía uma gráfica nos fundos 2 › nessa mesma ocasião outro fato puramente estético hOOOnk tocou-me brUM › um estranho pedaço de plástico que dançava no vento era zoop zoop zoozoop sugado para debaixo dos carros agarrava-se aos pneus e logo era arremessado VAvoOM por seguidos giros de intensa força e velocidade provindos do atrito entre o solo e os pneus › o que me tocou nesse episódio foi a oposição entre os momentos do saco plástico no solo e no ar e a rapidez com que esse intervalo se desenrolara transformando em segundos aquele movimento embrutecido em poesia-das-máquinas na #velocidadedonovomundo BURp 3 › vinha-nos uma luz opaca pelas frestas da fumaça e estávamos eu e meus amigos eeeki indo de encontro a cérbero no reino de hades › teríamos de enfrentar aquele cão de três cabeças BLAST † nossa própria sobrevivência diante da revolução ‡ já embriagados e fartos resolvemos que um manifesto resolveria nosso momento Sérgio Mestre Setembrino

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EDIÇÃO #02 OBSTÁCULO 2013


RUA RIO VERDE Nº 150 ANCHIETA BH/MG

+55 (31) 3287–5835


O V N GRECODESIGN.COM.BR — FB.COM/GRECODESIGN


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