Humanização do Parto e Nascimento
é possível transformar essa realidade.
Mulheres
Doulas articulando vidas
Mulheres Doulas Articulando Vidas. 2017
Missão O Centro Nordestino de Medicina Popular, organização não governamental fundada em 1988, tem como missão promover a melhoria da qualidade de vida da população, com ênfase no direito humano à saúde e à alimentação.
Visão Ser referência na promoção da saúde integral da população do Nordeste brasileiro, disseminando o novo conceito de cidade e campo saudáveis.
Expediente Realização Centro Nordestino de Medicina Popular. Apoio União Europeia. Equipe Ana Lúcia Dias, Cláudia Xenofonte, Diana Mores, Eufênia Maria Gomes, Gustavo Cabrera Christiansen, Jean Pierre Tertuliano Câmara, Maiana Gomes, Marcos Mello, Maria de Jesus Rodolfo Lima, Renata de Miranda, Renata Guedes, Vania Araújo, Vera Guedes, Williames Wamberg N. da Silva. Sistematização Diana Mores e Regine Marton. Projeto Gráfico Zzui Ferreira Design & Comunicação Revisão de textos Diana Mores e Vania Araújo. Fotos 10ª Lua - págs.28,31,57,62 e 63 - Mateus Sá, e págs.64 e 69 - Vládia Lima. Esta cartilha foi realizada pelo CNMP, por meio do projeto DCI-NSAPVD/2014/337682/União Europeia. Os conteúdos expressos são, exclusivamente, de responsabilidade do CNMP e não refletem necessariamente a posição oficial da União Europeia.
Índice
Direitos Sexuais e Reprodutivos 07 PLANEJAMENTO REPRODUTIVO 09 Medidas para o Planejamento Reprodutivo Anticoncepção Métodos Naturais Outros Métodos Comportamentais Contraceptivos Hormonais Métodos Irreversíveis ou Cirúrgicos Contracepção de Emergência Considerações Especiais para a Utilização dos Métodos Contraceptivos GRAVIDEZ 23 Direitos da Gestante Acompanhamento ao Pré-Natal Desenvolvimento do Bebê Modificações do Organismo Materno Exames Laboratoriais na Gestação Alimentação na Gravidez Situação de Risco Na Gravidez Morte Materna Morte Neonatal e Morte Infantil PARTO e PÓS-PARTO 44 Tipos de Parto Parto O Bebê Nasceu, o Parto Acabou? O RECÉM-NASCIDO 58 Primeira Consulta do Bebê Anexos 70 Referências 73
Direitos Sexuais e Reprodutivos
por
Diana Mores
Segundo dados do Ministério da Saúde, o direitos reprodutivos. Infelizmente, a assistência Brasil registra uma média de 62 casos de morte hospitalar ao parto ainda deixa muito a desejar, principalmente em municípios de regiões materna a cada 100 mil nascimentos. distantes dos grandes centros urbanos. Fatores Atualmente, no país 98% dos partos são como à elevada taxa de cesáreas realizadas realizados nos hospitais e 91% das mulheres por ano, no Brasil, chega a 46,6% (no serviço grávidas têm assistência pré-natal, porém, público) e 85% (na rede privada), mais de três apesar da diminuição na taxa de mortalidade vezes acima dos 15% recomendados pela materna, o Brasil não vai cumprir a meta prevista Organização Mundial de Saúde (OMS); o excesso nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio de intervenções desnecessárias no parto; a falta (ODM), da ONU, de chegar à taxa de 35 mortes de treinamento de equipes especializadas; a por 100 mil nascidos vivos. proibição do aborto; e as doenças preexistentes como a hipertensão, o diabetes, a Aids e a Com o intuito de atuar sobre esse problema obesidade, ainda são apontados como principais que atinge milhares de mulheres no período fatores de risco que contribuem para o aumento gravídico-puerperal, o Centro Nordestino de da morbimortalidade materna no país. Medicina Popular (CNMP), com o apoio da União Europeia, estar desenvolvendo o projeto Daí a necessidade de incidir sobre essa realidade, Mulheres Doulas: Articulando Vidas para que envolve a vida de grande parte das mulheres Redução da Morbidade e Mortalidade Materna, nessa determinada fase da vida. É imprescindível cujo objetivo é contribuir para a redução do que a assistência à mulher no período gravídicoíndice de morbidade e mortalidade materna, puerperal seja segura e garanta a cada mulher, especialmente em Povos e Comunidades a partir de sua singularidade e diversidade, os Tradicionais, em municípios do sertão de benefícios de um serviço público de qualidade, Pernambuco – PE e Região Metropolitana do Rio pautado no respeito e em boas práticas obstétricas Grande do Norte – RN. que permita e estimule o exercício da cidadania das mulheres, promovendo e resgatando sua Parir no Brasil ainda representa um grande risco autonomia no momento do parto. para a maioria das mulheres, mesmo diante dos avanços obtidos no campo da promoção dos Boa Leitura. 07
PLANEJAMENTO REPRODUTIVO O planejamento reprodutivo é um tema de impacto na área de saúde da mulher. Em 1994 na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, realizada no Cairo, os direitos sexuais e reprodutivos foram reconhecidos como direitos humanos. Por isso o Estado tem o dever de implementar políticas públicas garantidoras do direito à saúde sexual e saúde reprodutiva. O respeito e o cumprimento desses direitos são fundamentais para o exercício pleno da cidadania.
Direito
sexual
É o direito das pessoas de decidir sobre o seu corpo e tudo que tem a ver com sua sexualidade, sem preconceito, discriminação, coerção ou violência. É o direito de escolher quais tipos de relações vai ter e com qual parceiro ou parceira de expressar sua sexualidade.
Direito
reprodutivo
É o direito do casal e dos indivíduos de decidir, de forma livre e com responsabilidade, se vão querer ou não ter filhos, com quem, quando, como e com que frequência. Para a mulher, em especial, é um momento bastante delicado, pois, nem sempre, ela é respeitada em sua autonomia e escolha quando precisa fazer uso dos mecanismos de atenção (políticas públicas, programas e serviços) que asseguram a legitimidade desse direito, daí a importância do acesso a serviços públicos de saúde de qualidade, com profissionais preparados para acolher as necessidades e particularidades das mulheres, além de informações de prevenção, que considerem todo o ciclo reprodutivo, que vão desde as transformações do corpo, dos cuidados com a saúde, as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) até o planejamento reprodutivo, o período de assistência a gravidez, parto e pós-parto e tratamento de fertilização quando não consegue engravidar. 09
Medidas para o Planejamento Reprodutivo Programar quantos filhos quer ter e quando os terá é um ato consciente de planejamento familiar. Permite às pessoas e aos casais a oportunidade de escolher entre ter ou não filhos de acordo com seus planos e expectativas de vida.
Anticoncepção Refere-se à prevenção da concepção por bloqueio temporário ou permanente da fertilidade. Entre os meios comuns de anticoncepção reversíveis estão métodos naturais de planejamento familiar, anticoncepcionais ou dispositivos anticoncepcionais. Com relação aos métodos contraceptivos, para um casal, uma mulher ou uma adolescente, é importante lembrar de conceitos como:
Eficácia, Aceitabilidade, Efeitos Secundários e Disponibilidade.
Tipos de métodos anticoncepcionais Métodos naturais Contraceptivos hormonais Contraceptivos mecânicos e de barreiras Métodos irreversíveis 11
Métodos Naturais Muitos desses métodos podem ser combinados para ajudar a mulher a determinar, com o máximo de precisão, o período fértil.
Tabelinha: Ogino-Knaus Este método é mais conhecido como tabelinha ou calendário. Baseia-se na abstinência sexual durante o período fértil da mulher para evitar que o óvulo seja fecundado/ fertilizado. É um método arriscado, que apresenta alto índice de falha e, geralmente é utilizado associado a outros métodos. A mulher que vai fazer uso dessa estratégia deve anotar pelo menos as seis ou as doze últimas datas da menstruação, para estimar o seu período fértil.
Método da Temperatura Basal Corporal Baseia-se na observação da alteração térmica que ocorre no corpo da mulher no período da ovulação, provocado pela ação do aumento da progesterona no organismo feminino. O método é bastante preciso, porém, a mulher precisa ter muita dedicação, porque a temperatura deve ser mensurada de manhã, com o corpo ainda em repouso, o que nem sempre é possível devido os compromissos e imprevistos que fazem parte do cotidiano das mulheres.
Método do Muco Cervical ou Billings Consiste em acompanhar as alterações do muco cervical – secreção produzida no colo do útero, provocadas pela ação hormonal. Esse método, assim como o da tabelinha, é bastante rigoroso, pois não permite que a mulher tenha relações sexuais no seu período fértil. Também exige que a mulher tenha muita atenção e certo conhecimento e intimidade com o seu próprio corpo, porque precisará introduzir os dedos na vagina para verificar a consistência do muco que, no início do ciclo menstrual é bastante espesso e gomoso, o que dificulta o acesso dos espermatozoides no canal cervical, porém, no período fértil, fica com a consistência de clara de ovo. No decorrer do processo, o muco produz na vulva uma sensação de umidade e lubrificação. 12
Método Sinto-Térmico O método baseia-se na combinação e observação nos sinais, sintomas e comportamentos relacionados com a temperatura basal corporal e o muco cervical associados a outros sintomas – físicos e ou psicológicos – como enxaqueca, variações de humor, dor nas mamas, acnes, distensão abdominal, dentre outros.
Método do Colar O colar de contas é utilizado para identificar os dias férteis e inférteis de cada ciclo. A adoção desse método requer a análise do padrão menstrual da mulher nos últimos seis meses, mas apenas para verificar se os ciclos não foram mais curtos que 27 dias nem mais longos que 31dias. As mulheres com ciclos mais curtos ou mais longos que 27 e 31 dias, respectivamente, não podem utilizar este método. O colar começa com uma conta de cor vermelha, que sinaliza o primeiro dia da menstruação. Segue-se por sete contas de cor marrom, que indicam o período infértil do início do ciclo. As contas de 9 a 19 são de cor branca, para sinalizar o período fértil. A partir da 20ª até a 30ª, as contas são novamente de cor marrom, indicando o período infértil da segunda metade do ciclo menstrual. Após a 30ª conta chega-se novamente à conta vermelha, que indica o primeiro dia da menstruação. 1
Se ainda seu período não começou no dia que você colocou o anel na última conta marrom, seu ciclo é de mais de 32 dias. Se você começar seu período antes de colocar o anel na conta marrom mais escura, seu ciclo é mais curto que 26 dias.
3
No dia em que você iniciar o seu período, mova o anel para a conta vermelha.
4 No dia das contas brancas, você pode engravidar. Evite relação sexual sem proteção para não engravidar.
Todas as manhãs, mover o anel para a próxima conta do lado estreito para o mais largo.
Quando você iniciar o próximo período, mova o anel diretamente para a conta vermelha e comece novamente.
Em dias de contas marrons, você pode ter relações sexuais com muito baixa probabilidade de gravidez.
conta de cor vermelha
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conta de cor marrom
conta de cor branca
conta de cor marrom escura
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Outros Métodos Comportamentais São métodos de abstinência sexual periódica, exige que a mulher evite ter relações sexuais no período do ciclo menstrual como meio de impedir a contracepção, mas o grau de eficácia é pequeno, cerca de 80 %, além de se constituir como um método mais ou menos frustrante para os parceiros.
Coito Interrompido É um método arriscado e exige um autocontrole do homem, ele tem que retirar o pênis da vagina antes de ejacular, não é confiável porque o pênis solta secreções durante a excitação, que podem conter espermatozoides vivos e acontecer uma gravidez não desejada, além de não proteger contra as doenças sexualmente transmissíveis. É importante que os profissionais de saúde alertem para o risco da adoção desse método.
Amenorreia Lactacional O Método de Amenorreia Lactacional tem 98% de eficácia durante os primeiros seis meses do pós-parto para as mulheres que preencham os seguintes critérios: Amamentação deve ser a única fonte de alimentação para o recém-nascido. Compostos nutritivos e todos os alimentos sólidos reduzem a eficácia do método. A criança deve ser amamentada, pelo menos, de quatro em quatro horas, durante o dia, e a cada seis horas durante a noite. A criança deve ter idade inferior a seis meses. A mulher não deve ter tido um período posterior a 56 dias pós-parto. Pode ser combinado com a camisinha para chegar a uma taxa de eficiência quase perfeita. 14
Contraceptivos Hormonais É um dos métodos mais utilizado e difundido no mundo e agem impedindo a ovulação. Também atuam dificultando a passagem dos espermatozoides para o interior do útero. É bastante eficaz e tem passado por várias transformações em termos de quantidade e qualidade.
Anticoncepcionais Orais São comprimidos feitos à base de hormônios sintéticos semelhantes ao produzido pelo organismo da mulher. Geralmente é o método mais aceito pelas mulheres e o casal para prevenir a gravidez. As pílulas são compostas por estrogênio e progesterona, e as minipílulas, só pela progesterona. Para que tenha eficácia, a pílula deve ser tomada todos os dias, sempre no mesmo horário, no período de 21 dias consecutivos. Não há necessidade de fazer “pausas” para descanso, porque as pílulas não ficam acumuladas, e a interrupção só deve ocorrer quando há o desejo de engravidar. A volta da fertilidade é rápida, costuma acontecer após a interrupção do uso. Quanto à eficácia, quando não há erros na ingestão das pílulas, a ocorrência de gravidez é de uma para cada 100 mulheres. Perguntas e Respostas sobre Contraceptivos Hormonais
PÍLULA + GÊNIO E S T R O T E R O NA ES PROG
1. Uma mulher precisa ter um “descanso” depois de utilizar os métodos hormonais por um tempo?
Não. Não há evidências de que ter um “descanso” seja útil. De fato, ter um “descanso” pode levar a uma gravidez não desejada. Os contraceptivos podem ser tomados com segurança por muitos anos sem que seja preciso interromper o seu uso periodicamente.
2. Se uma mulher estiver tomando contraceptivos hormonais há muito tempo, ela ainda estará protegida contra gravidez depois dela parar de tomar?
Não. Uma mulher fica protegida somente durante o tempo em que ela tomar as pílulas regularmente.
3. Quanto tempo leva para ficar grávida depois de interromper o uso de contraceptivos hormonais?
Mulheres que param de usar podem ficar grávidas com a mesma velocidade que uma mulher que pare de usar os métodos não hormonais. Os contraceptivos hormonais não retardam o retorno da fertilidade de uma mulher depois dela parar de tomá-los.
4. Os contraceptivos aborto?
Não. As pesquisas constatam que eles não interferem ou interrompem uma gravidez já existente.
provocam
15
I nfo rm aç ões I m po rtan tes P a r a A s U s uár i a s
Tome uma pílula todos os dias. Para maior eficácia, uma mulher deve tomar as pílulas diariamente e iniciar cada nova cartela no dia certo. Mudanças na menstruação são comuns, mas não são prejudiciais. Tipicamente, ocorre sangramento irregular nos primeiros meses e, depois, sangramento em menos quantidade e mais regular. Tome a pílula que esqueceu o mais rapidamente possível. Esquecer de tomar as pílulas traz riscos de engravidar e pode agravar alguns efeitos colaterais. Podem ser fornecidas a uma mulher a qualquer momento para que inicie a ingestão posteriormente.
Contraceptivos Mecânicos e de Barreiras São métodos que, por meio de obstáculos mecânicos ou químicos impedem os espermatozoides penetrarem o canal vaginal e, com isso, evitam a gravidez. Com o aumento da incidência das doenças sexualmente transmissíveis (DST), principalmente do HIV, esses métodos estão mais valorizados e popularizados, a exemplo os preservativos (camisinhas masculina e feminina). É um método muito eficaz se utilizado de forma correta, para isso, é necessário que se estabeleça uma relação de confiança, respeito e aceitação entre os parceiros. Métodos de barreira disponíveis: preservativos (condons ou camisinhas), masculinos e femininos; diafragma; e os espermicidas químicos. 16
Preservativo Masculino-Camisinha É um envoltório de látex ou membrana que recobre o pênis durante o ato sexual e retém o esperma por ocasião da ejaculação. Deve ser colocado quando o pênis estiver ereto. É um método que, além de evitar a gravidez, reduz o risco de transmissão do HIV e de outros agentes sexualmente transmissíveis. Apesar de ser bastante difundido, ainda não é muito aceito devido a fatores socioculturais, principalmente entre os adolescentes, pessoas idosas, e as que têm pouca escolaridade. É de fácil acesso, até porque, é distribuído em várias unidades de saúde, e tem o custo relativamente baixo. Importante A Mulher pode ter sempre com ela um par de camisinhas com o prazo de validade verificado.
Preservativo Feminino O preservativo feminino é um tubo de poliuretano com uma extremidade fechada e a outra aberta, acoplado a dois anéis flexíveis também de poliuretano. O primeiro, que fica solto dentro do tubo, serve para ajudar na inserção e na fixação de preservativo no interior da vagina. O segundo anel constitui o reforço externo do preservativo que, quando corretamente colocado, cobre parte da vulva. O produto já vem lubrificado e deve ser usada uma única vez. O poliuretano, por ser mais resistente do que o látex, pode ser usado com vários tipos de lubrificantes. Um novo modelo feito de nitrila foi introduzido e oferece mais conforto do que o modelo anterior. Deve ser mantido em lugar fresco, seco e de fácil acesso ao casal, afastado do calor, observando- se a integridade da embalagem, bem como o prazo de validade. Reduz o risco de transmissão do HIV e de outros agentes sexualmente transmissíveis. É importante ressaltar que, com o preservativo feminino, a mulher tem mais autonomia sobre seu corpo e não precisa negociar o uso do preservativo com o seu parceiro, caso ele seja uma pessoa que tem dificuldades em aceitar esse método preventivo, tanto em relação à gravidez quanto em relação às DST’s e o HIV.
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Trompa
Útero
Ovário
Diafragma É um método anticoncepcional de uso feminino. Consiste num anel flexível, coberto no centro com uma delgada membrana de látex ou silicone. A mulher deve colocá-lo dentro de sua vagina cobrindo completamente o colo uterino, impedindo assim a penetração dos espermatozoides no útero e trompas. Para maior segurança deve ser usado com geleia espermicida, que se coloca na parte côncava, porém o uso frequente da geleia pode causar irritação, fissuras ou microfissuras na mucosa vaginal e cervical, aumentando assim o risco de infecção pelo HIV e outras DSTs.
Vagina
DIU - Dispositivo Intra-Uterino É um pequeno dispositivo de plástico, que pode ser recoberto de cobre ou conter hormônio. É colocado no interior do útero para evitar a gravidez. Não é um método abortivo porque impede apenas a fecundação Um dos modelos mais usados é o DIU- T coberto por fios de cobre, que atua matando ou inativando os espermatozoides. Dura cerca de 10 anos, mas requer visitas periódicas ao médico por possíveis infecções. É um método eficiente e pode ser retirado a qualquer momento, caso a mulher apresente algum problema ou deseje engravidar.
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Mudanças na menstruação são comuns, tipicamente, ocorre sangramento mais longo e intenso e mais cólicas ou dor durante a menstruação, especialmente nos primeiros 3 a 6 meses.
Diafragma
Métodos Irreversíveis ou Cirúrgicos São métodos cirúrgicos considerados permanentes. Exige que o casal, ou as mulheres e os homens que decidirem por esse método, tenha as informações adequadas sobre suas vantagens e desvantagens, antes de realizar o procedimento. Geralmente tem consequências a curto, médio e longo prazo.
Laqueadura Método anticoncepcional permanente. Consiste em um procedimento cirúrgico, que corta e amarram as duas tubas uterinas impedindo o encontro do óvulo com os espermatozoides. Antes de optar por este método a mulher deve estar ciente que será muito difícil voltar a ter filhos, em especial as jovens, que ao realizarem o procedimento têm mais chances de se arrependerem. É um dos métodos mais eficazes, com pequeno risco de falha: ocorre menos de uma gravidez por 100 mulheres, no primeiro ano após a realização do procedimento de esterilização. Normalmente não produz alterações no corpo da mulher. É importante lembrar: o Brasil tem uma normativa que especifica as condições que justificam a laqueadura das tubas uterinas e a vasectomia denominada de Lei do Planejamento Familiar. As indicações de procedimentos cirúrgicos para definição da prole devem ser baseadas nessa normativa legal.
Desfazendo Mitos A esterilização feminina: Não enfraquece as mulheres. Não provoca dor duradoura nas costas, no útero ou no abdômen. Não retira o útero da mulher ou leva à necessidade de removê-lo. Não provoca desequilíbrios hormonais. Não causa menstruação mais intensa ou irregular ou de alguma forma altera os ciclos menstruais das mulheres. Não provoca alterações no peso, no apetite ou na aparência. Não altera o comportamento sexual da mulher ou seu desejo sexual. Reduz substancialmente o risco de gravidez ectópica.
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Vasectomia A opção por esse método segue os mesmos princípios da laqueadura. É um método considerado permanente, porque é muito difícil reverter à cirurgia, sendo que nesse caso, a decisão deve ser do homem. É uma cirurgia realizada nos canais deferentes do homem, que não quer ter filhos, desse modo os espermatozoides não se encontram com o óvulo. O procedimento pode ser feito em ambulatório e tem os mesmos riscos de qualquer procedimento cirúrgico. O casal precisa saber que o efeito da vasectomia não é de imediato, pois nas primeiras ejaculações ainda existe presença de espermatozoides e a mulher poderá engravidar daí a necessidade de usar algum método anticoncepcional até que o espermograma esteja negativo. Este procedimento não causa impotência no homem e é uma cirurgia mais simples que a laqueadura. É um método seguro e eficaz, mas a indicação dessa intervenção costuma provocar sentimentos de medo e insegurança tanto nos homens quanto nas mulheres. Existe a crença que o homem perde a capacidade de ereção, entretanto, a vasectomia não causa nenhum problema na vida sexual do homem, o que acontece é que ele não poderá mais engravidar uma mulher. Assim como qualquer procedimento cirúrgico, a vasectomia, apesar de ser considerada uma cirurgia simples, requer cuidados. Também há riscos e pode apresentar problemas, daí a importância de dispor às informações com cuidado e responsabilidade, e não deixar dúvidas para evitar que o fator psicológico atue como um agente que dificulte ou impeça a decisão pelo método, bem como a recuperação do paciente após a realização da cirurgia.
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Procedimento Vasectomia
Canal Deferente Cortado e Ligado Beixiga Vesícula Seminal Próstata
Canal Deferente Textículo
Pênis Uretra
Contracepção de Emergência A pílula anticoncepcional de emergência impede ou retarda a ovulação e diminui a capacidade dos espermatozoides de fecundarem o óvulo. Consiste em utilizar altas doses de hormônios para evitar a gestação. É considerada uma boa estratégia e ajuda a diminuir o número de abortos provocados, na medida em que evita a gravidez não desejada tanto com o consentimento da mulher - nesse caso, na possibilidade de falha no uso de algum método contraceptivo ou pelo fato de não fazer uso de nenhum método; quanto sem o seu consentimento, caso seja forçada a ter relações sexuais desprotegidas e ou impedida de fazer uso de qualquer método. É importante ressaltar que, a pílula anticoncepcional de emergência deve ser indicada até cinco dias após a mulher ter uma relação sexual desprotegida.
Não é considerado um método abortivo! 21
Considerações Especiais para a Utilização dos Métodos Contraceptivos Adolescentes A adolescência é uma fase peculiar do desenvolvimento, caracterizada por intenso processo de mudanças que ocorrem em âmbitos físico, psicológico e social. Marca a transição entre o período da infância e a fase adulta. Assim, os/as adolescentes que têm vida sexual ativa devem fazer uso de métodos contraceptivos, no entanto, alguns desses métodos não são adequados para serem utilizados nessa fase: a minipílula e a injeção trimestral, por exemplo, não devem ser usadas antes dos 16 anos. A dificuldade que a maioria das mães e pais tem em lidar com a sexualidade de seus filhos e filhas, aliado a falta de informação adequada, livre de preconceitos e valores pessoais e religiosos interfere no acesso dos adolescentes à anticoncepção. Isso ocorre, muitas vezes, por parte de alguns profissionais de saúde que não conseguem acolher e estabelecer vínculos de confiança e respeito com as/os adolescentes que precisam do serviço de saúde. Esses e outros fatores têm contribuído para o aumento da gravidez não desejada e o aborto clandestino, se constituindo como uma das problemáticas sociais grave quando o acesso à informação é negada aos adolescentes e jovens. Daí a importância dos/as adolescentes usarem o preservativo masculino ou o feminino (camisinha) em todas as relações sexuais. Esse recurso é o único que oferece dupla proteção tanto das infecções sexualmente transmissíveis, dentre elas o HIV/Aids quanto da gravidez indesejada. Segundo dados do Ministério da Saúde em 2015, a principal causa do aumento da infecção pelo HIV nos maiores de 13 anos é a via sexual. Nas mulheres, representa 97,1% dos casos registrados, e entre os homens, 95,6%, destes 49,9% se deram por relações heterossexuais. (Boletim Epidemiológico 2015 – Dep. de DST, Aids e Hepatites Virais/Ministério da Saúde). Questões para refletir... Quanto à sexualidade do adolescente: Quais considerações éticas em relação à atividade sexual? Temos dificuldades em aceitar a sexualidade do adolescente? Quais? 22
GRAVIDEZ Ocorre em decorrência da união do óvulo e o espermatozoide, por meio de uma relação sexual ou via inseminação artificial. Dura aproximadamente 280 dias ou 40 semanas, desde a data da última menstruação e está dividida em trimestres que compreendem de 12 a 14 semanas. As mudanças corporais e comportamentais pelos quais passa a mulher são diferentes de acordo com o trimestre. A gravidez é um período da vida da mulher com profundas implicações psicológicas, sociais, culturais e espirituais. Durante este período a presença ou ausência da família pode influenciar o bem estar da grávida; por isso é importante sempre levar em consideração esse fator quando se atua com as mulheres nesse estado. A família é responsável pela vida e pelo desenvolvimento de suas crianças, com o apoio da comunidade e do governo. Toda mulher independente de raça, religião, orientação sexual, idade deve sentir-se bem acolhida quando procura os serviços de saúde para iniciar o atendimento pré-natal. Durante este período é importante: Incentivar as gestantes a serem proativas e ter práticas de vida saudável; Conscientizar as mulheres sobre os seus Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos de acordo com a lei brasileira, e com as diretivas da Organização das Nações Unidas e Organização Mundial da Saúde; Incentivar mulheres a conhecer os direitos da Mãe e do Bebê (recomendações do Ministério da Saúde e da UNICEF); Dialogar a respeito das emoções e vivências femininas no ciclo reprodutivo da mulher e especialmente na Gravidez; Apoiar a mulher ao longo da gravidez de baixo risco; Realizar a cada atendimento a avaliação do risco obstétrico; Comunicar, ensinar, incentivar a mulher grávida a reconhecer os sinais de risco e perigo na gravidez e o que se precisa fazer neste caso; Respeitar e zelar pela privacidade da mulher mantendo sigilo sobre informações que lhe forem confiadas; Assistir a todas as mulheres de forma igualitária, independente de raça, cor, credo ou nível socioeconômico.
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Direitos da Gestante Toda gestante tem direito: Um pré-natal, um parto e um pós-parto de qualidade.
Os estados e municípios devem possuir serviços de saúde capazes de acolher todas as gestantes e recém-nascidos. O gestor de saúde no município deve assegurar a vaga em hospital ou maternidade no próprio município ou em outra cidade de referência, providenciando, inclusive, o transporte adequado. A equipe da unidade de saúde que acompanha o pré-natal da gestante precisa garantir atenção com respeito e dignidade, sem discriminação de cor, raça, orientação sexual, religião, idade ou condição social. A gestante deve ser chamada pelo seu próprio nome, nada de mãezinha. A unidade de saúde tem que garantir prioridade no agendamento das consultas e sempre buscar alternativas para que a gestante evite longas esperas.
Oferecer à gestante as seguintes condições: Salas com conforto e privacidade para as consultas; Instalações sanitárias adequadas e limpas, tendo a sua disposição água potável e sabão; Equipamentos básicos como balança, sonar, fita métrica, equipamento para aferir a pressão e estetoscópio.
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Como Garantir Esses Direitos e Onde Obter Apoio Esses direitos se articulam com os direitos sexuais e direitos reprodutivos previstos na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (1994), na IV Conferência Mundial da Mulher (1995) e na Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde (Portaria MS no 675, de 30 de março de 2006).
Espaços que a grávida ou seus familiares podem acionar para garantir esses direitos: Conselho Municipal de Saúde. Conselho de Gestores Local. Conselhos de Fiscalização Profissional, CREMEPE, COREN-PE, recebem denuncias só por escrito. Defensoria Pública. Ministério Público. Ouvidorias Públicas. Disque Saúde (0800 611997). Disque 100 para criança e adolescentes: Ligação gratuita não precisa se identificar.
Disque 180 violências contra a mulher, 24h todos os dias da semana: Ligação gratuita não precisa se identificar.
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Acompanhamento ao Pré-Natal A assistência pré-natal é um importante componente da atenção à saúde das mulheres no período gravídico puerperal. As atividades realizadas rotineiramente durante essa assistência estão associadas a melhores desfechos maternos e neonatais. Tendo como objetivo assegurar o desenvolvimento da gestação, permitindo o parto de um recém -nascido saudável, sem impacto para a saúde materna, incluindo a abordagem aos aspectos psicossociais e as atividades educativas e preventivas. O pré-natal deve ser iniciado assim que a gravidez for confirmada e a primeira consulta deve ocorrer preferencialmente no primeiro trimestre de gestação. A unidade básica de saúde (UBS) deve ser a porta de entrada preferencial da gestante no sistema de saúde. As informações referentes aos dados clínicos, obstétricos e de cada consulta realizada devem ser registrados na caderneta da gestante, cartão de pré-natal e no prontuário. As gestantes devem ser orientadas para estar sempre com o cartão de pré-natal e este não deve nunca ficar retido na unidade de saúde onde o pré-natal está sendo realizado. A grávida deve ter no mínimo sete consultas, realizadas por médico/a ou enfermeira/o. O acolhimento da gestante no pré-natal implica a responsabilização pela integralidade do cuidado a partir da recepção da usuária, com escuta qualificada e favorecimento do vínculo e da avaliação de vulnerabilidades de acordo com o seu contexto social, entre outros cuidados. O pré-natal deve conter sempre:
Exames de sangue para identificar o tipo sanguíneo e doenças como sífilis, HIV, anemia, hepatite e diabetes. Exames de urina para descobrir infecções e perda de proteína. Exames físicos e ginecológicos para saber como está a saúde da mãe e o desenvolvimento do bebê. Exame de prevenção do câncer de colo do útero. Medida de peso e pressão arterial. Atendimento odontológico. Vacinação.
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Orientações sobre o risco de FUMAR durante a gestação.
O pré-natal deve conter sempre:
Alimentação. Preparo para o parto. Importância da consulta pós-parto. Preparo para a amamentação. Identificação de sinais de risco. Tratamento e/ou controle de doenças. Encaminhamento para serviços especializados. Fornecimentodo Cartão/Caderneta da Gestante. Atividades educativas individuais e/ou coletivas. Planejamento familiar, cuidados com o recém-nascido.
10 P a s s os P a r a
o
P r é -N ata l
de
Q ualidad e
na
A t e nção B ásica :
1º
• Iniciar o pré-natal na Atenção Primária à Saúde até a 12ª semana de gestação (captação precoce);
2º
• Garantir os recursos humanos, físicos, materiais e técnicos necessários à atenção pré-natal;
3º
• Toda gestante deve ter assegurado a solicitação, realização e avaliação em termo oportuno do resultado dos exames preconizados no atendimento pré-natal;
4º
• Promover a escuta ativa da gestante e acompanhantes, como “rodas de gestantes”, considerando aspectos intelectuais, emocionais, sociais e culturais e não somente um cuidado biológico;
5º
• Garantir o transporte público gratuito da gestante para o atendimento pré-natal;
6º
• É direito do(a) parceiro(a) ser cuidado (realização de consultas, exames e ter acesso a informações) antes, durante e depois da gestação: “pré-natal do(a) parceiro(a)”;
7º
• Garantir o acesso à unidade de referência especializada, caso seja necessário;
8º
• Estimular e informar sobre os benefícios do parto fisiológico, como a elaboração do “Plano de Parto”;
9º
• Toda gestante tem direito de conhecer e visitar previamente o serviço de saúde no qual irá dar à luz;
10º • As mulheres devem conhecer e exercer os direitos garantidos por lei no período gravídico puerperal.
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Desenvolvimento do Bebê
É sempre importante dar informações sobre o estado e o desenvolvimento do bebê, isso ajuda a eliminar a ansiedade que a mulher poderá ter com relação a sua gravidez.
Fases da gestação Até 4 semanas de gestação Fecundação, seguida por rápida divisões celulares. Das trompas o ovo chega ao útero no sétimo dia fixando-se na cavidade uterina do nono ao décimo dia. Início da diferenciação celular para a formação do saco amniótico, vitelino, placenta e embrião. O comprimento do feto é aproximadamente de 2 (dois) mm. 28
Dia 1
Dia 2
Dia 3-4
Útero Dia 4 Dia 5
Dia 0
Ovário Dia 6-7
Ovo Fertilizado
Dia 8-9
Ovulação
Primeiros dias da fecundação: O ovo fertilizado no seu caminho para se aninhar no útero.
“a vida se desenvolvendo.”
29
4 - 8 semanas Crescimento rápido do embrião. Começam os batimentos cardíacos. Os olhos possuem retina e visão. Peso aproximado 10g e tamanho de 2,5 cm. O cérebro esta formado e as células começam a se dividir para formar o sistema nervoso. Observação Nos primeiros três meses de gestação acontece o desenvolvimento do embrião, todos os órgãos estão sendo formados, para evitar possíveis malformações no feto. É importante orientar a gestante a evitar ingerir substâncias tóxicas, medicamentos, álcool e radiações. 8 - 20 semanas Os órgãos vitais estão formados e o feto tem aparência humana definida. Passa a ser conhecido como feto (12 sem). Aparecimento de lanugo/pelo. Placenta e cordão umbilical estão em plena atividade. Peso aproximado 250g e comprimento de 25cm. Na 16ª semana de gestação o feto já tem quase todos os órgãos desenvolvidos. 20 - 32 semanas Neste período diminui um pouco o ritmo de crescimento. Início da formação de tecido adiposo, o vérnix/pele. Reação a ruídos externos. Peso aproximado 1700g e comprimento de 40cm Com 24 semanas quase todos os órgãos estão formados, com exceção dos pulmões, que ainda estão imaturos. 32 - 40 semanas Produção de surfactante importante para a respiração do bebê, na 34ª semana; Na 32ª semana o feto suga. Na 34ª semana deglute de forma coordenada. Existe um aumento do tecido adiposo necessário para a manutenção da temperatura corporal. Queda da maior parte do lanugo/pelos. Se move de forma mais espaçada e vigorosa.
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Peso em torno de 3000g e comprimento de 50cm e já está pronto para iniciar a saída do útero materno.
Modificações do Organismo Materno Durante a gestação, o corpo da mulher sofre modificações decorrentes de fatores hormonais e mecânicos, necessários para permitir o desenvolvimento do feto e da placenta e preparar o corpo para o parto. Há um aumento dos hormônios necessários para a manutenção da gravidez, estes, produzem efeitos nos órgãos reprodutores e ocasionam reações colaterais. Por outro lado, como o volume e a circulação uterina aumentam, provocam alterações na estética da mulher grávida, alterações na circulação geral e na respiração. 31
Os seguintes desconfortos podem acontecer pela necessidade de alimentar e dar oxigênio ao feto:
Sistema cardiovascular • Edema fisiológico, aumento ou aparecimento de varizes
nas pernas e vulva. Hemo diluição (anemia fisiológica). Dor, sensação de peso, dormência e formigamento, tonturas e vertigens Orientação: Praticar exercícios como ioga, caminhada, natação e hidroginástica, fazer repouso, elevação das pernas, evitar ficar de pé ou sentada por tempo prolongado.
Sistema
• Peso do útero na bexiga aumenta a frequência urinária e predispõem as infecções urinárias. urinário
Orientação: ingerir pelo menos 8 copos de água por dia, ir ao banheiro a cada 2 horas, consultar o médico ou enfermeira/o se há muito desconforto.
Sistema respiratório • O aumento do abdômen produz o deslocamento dos pulmões e do diafragma provocando dificuldades respiratórias.
Orientação: sentar em cadeiras retas e evitar sofás profundos, realizar exercícios, em especial, natação.
Sistema
• As náuseas e vômitos podem acontecer em cerca de 75% das gestantes, na grande maioria é autolimitada. No caso de continuar após o segundo/ terceiro mês de gravidez consultar o médico. A azia acontece na maioria das mulheres, afeta dois terços (2/3) das mulheres em algum momento da gestação. digestivo
Dica: o uso de suco de limão sem açúcar ajuda a aliviar a azia. Constipação ou prisão de ventre, muito comum nas pessoas sedentárias, que não tem hábito de consumir dieta com fibras e ou ingerir líquido, os sintomas tendem a se agravar especialmente no terceiro trimestre. Orientação: Dieta evitando alimentos gordurosos ou condimentados, consumo de carboidratos e proteínas de manhã,fazer pequenas refeições a cada 2-3 horas aumentar o consumo de fibras (frutas e verduras). Não tomar líquidos entre as refeições, não deitar logo após a refeição, principalmente à noite. 32
Sistema músculo esquelético Pelo aumento dos hormônios existe maior mobilidade das articulações da pelve que produz fadiga e lordose exagerada por aumento excessivo de peso. Orientação: Correção da postura por método de fisioterapia, pilates, alongamento, yoga. Não usar sapatos de salto alto e fino. No caso de dor, aliviar com massagem e calor local.
Outros órgãos sofrem alterações em especial: Abdômen, o útero aumentado de volume exerce pressão na região pélvica e parede abdominal, há tensão dos ligamentos uterinos, relaxamento das articulações da bacia, nos intestinos aumento de gases, distensão e cólicas abdominais. As mamas ficam mais sensíveis e pesadas, o desconforto é maior no início e fim da gravidez. Orientar a gestante a usar sutiã adequado ao período.
Pele a temperatura fica mais alta, aumento do fluxo sanguíneo e da atividade das
glândulas sudoríparas. Por efeito dos hormônios há aumento da pigmentação/ coloração da pele e aparecimento de estrias, especialmente na área abdominal.
Aspectos Emocionais da Gestação: Durante a gravidez, a mulher fica mais sensível com aumento de irritabilidade, sente medo de abortar, de sofrer muito na hora do parto, ter um filho malformado, que o bebê pode afetar a relação com o marido, da mudança na forma de seu corpo, entre outros temores. A família e o profissional de saúde devem saber como lidar com estes medos, ter abertura para o diálogo, saber escutar para poder diminuir esses medos que aumentam no final da gravidez e interfere no sono, o desejo sexual e o desempenho na hora do parto.
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Exames Laboratoriais na Gestação A padronização do Ministério da Saúde para a realização de exames laboratoriais apresenta exames essenciais para a garantia de uma gestação saudável, segundo as evidências científicas disponíveis:
t r i me str e
na
G e stação
Hemograma Tipagem sanguínea e fator RH Coombs indireto (se for RH negativo) Glicemia em Jejum Teste rápido de triagem para Sífilis e/ou VDRL/RPR Teste rápido diagnostico anti- HIV Anti – HIV Toxoplasmose IgM e IgG Sorologia para hepatite B (HbsAg) Urocultura + urina tipo I (sumário de urina – SU, EQU) Ultrassonografia obstétrica Citopatológico de colo de útero (se for necessário) Exame de Secreção vaginal (se houver indicação clínica) Parasitológico de fezes (se houver indicação clínica). Teste de tolerância para glicose com 75, se a glicemia estiver acima de 85mg/dl ou se houver fator de risco (realize exames preferencialmente entre a 24º e a 28º semana) Coombs Indireto (se for RH negativo).
3º
tri mest re
2º
t ri mes tre
1º
Período
E x a mes L a b or ato r iais
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Hemograma Glicemia em Jejum Coombs indireto (se for Rh negativo) VDRL Anti- HIV Sorologia para hepatite B (HbsAg) Repita o exame de toxoplasmose se o IgG não for regente Urocultura + urina tipo I (sumário de urina – SU) Bacterioscopia de secreção vaginal (a partir de 37 semanas).
Alimentação na Gravidez A gravidez é um período importante tanto na vida da mulher gestante quanto na vida do futuro bebê. Ter uma alimentação de qualidade é um dos fatores que colabora com uma gravidez saudável e o nascimento de uma criança sadia. Durante o primeiro trimestre, período de formação do bebê, evitar alterações no desenvolvimento do feto, a qualidade e quantidade de alimentos devem ser levados em consideração, assim, deve-se dar prioridade aos alimentos ricos em nutrientes (proteínas, vitaminais, sais minerais, carboidratos) priorizando os alimentos cultivados organicamente e produtos de origem animal criados organicamente, evitando todo tipo de alimentos processados e ultra-processados. Os alimentos integrais, as verduras ricas em vitaminas A e C, cálcio, ferro e ácido fólico devem ser priorizados para um bom desenvolvimento do bebê. As fontes de ferro de origem animal são mais bem aproveitadas pelo organismo que o ferro de origem vegetal, o qual é melhor absorvido na presença de vitamina C, daí a importância de temperar as saladas com limão e consumir frutas cítricas junto com estes alimentos. Leite e derivados (ricota, queijo fresco), sementes de gergelim, folhas verdes escuras (couve, brócolis e bredo), quiabo, feijão cozido, peixes (sardinha, cavalinha), são boas fontes de cálcio. Para um melhor aproveitamento do ferro não se deve consumir fontes de ferro e de cálcio na mesma refeição porque o cálcio impede uma boa absorção de ferro, pela mesma razão, é desaconselhado tomar cafezinho logo após o almoço. COMO SABER O QUE A GRÁVIDA ESTÁ COMENDO? Não basta perguntar a gestante se ela come bem. Ela simplesmente vai responder que sim. Não basta perguntar a gestante se ela come de tudo (e/ou enumerar alimentos). A melhor forma de saber o que a grávida come, e, se come de maneira adequada, é ajudá-la a manter um jornal durante 4 dias, onde deve listar o que come durante todas as refeições e lanches. É importante perguntar e listar, por exemplo, o que entra na composição do lanche ou sanduíche. 35
O aumento de peso durante a gravidez é em média de 6 a 16k. A mulher obesa tem um limite de aumento de peso em 8k. Neste período, não se deve fazer regime para emagrecer, tampouco jejum prolongado, por poder provocar efeito negativo no desenvolvimento do bebê. O número de refeições por dia é em média de 6 a 8 refeições, para atingir o aumento de calorias, vitaminas e sais minerais necessárias na gravidez. Também é recomendado o consumo moderado de alimentos ricos em açúcares, óleos, gorduras e sal. Obs.: Não se esquecer de perguntar a quantidade de líquido e o tipo de bebida que a gestante costuma ingerir, sabendo que a água e suco natural de fruta - com pouco açúcar - são os líquidos mais apropriados nesse período. Recomenda-se, cerca de oito (08) copos d’água, no mínimo, devido o clima quente do nosso país.
QUE ALIMENTOS A GRÁVIDA DEVE PRIORIZAR : Utilizar de preferência alimentos integrais, como arroz integral, arroz parbolizado, aveia, produtos de milho (que não seja transgênico). O arroz refinado pode ser enriquecido com a adição de verduras e folhas. Leguminosas como diversos tipos de feijões, grão de bico, lentilhas, ervilhas secas. Raízes: macaxeira, inhame, cará, batata-doce, etc., sem misturar com cereais. Alimentos ricos em proteína de origem animal como ovos, queijos, peixe (sardinha, cioba, em geral peixes de alto mar), galinha (de preferência de caipira), alimentos proteicos de origem vegetal como nozes, castanhas do brasil e de caju, amêndoas, sementes de gergelim, de girassol, de jerimum (abóbora), entre outras. Vegetais e frutas: utilizar em especial as da estação, pois são mais baratas e abundantes, o ideal é consumir 5 porções de vegetais e 3 a 5 de frutas. Cada refeição deve ter variedade de vegetais de cores diferentes para garantir uma ingestão adequada de nutrientes necessários neste período. Óleos como os de oliva, gergelim, coco, arroz e girassol. Devem ser de boa qualidade e mantidos em lugar fresco. Os óleos de soja, atualmente, são na sua maioria produzidos com soja transgênica (olhar pelo símbolo T). Utilizar mel de abelhas e de engenho, rapadura, rica em ferro, em vez de utilizar açúcar refinado. 36
Alimentação sugerida para gestantes
Raízes
Leguminosas
Integrais
Vegetais e frutas
proteína de origem animal
Mel
proteína de origem vegetal
Óleos
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O QUE ELIMINAR DA DIETA O consumo de embutidos, frios, muita carne vermelha, conservas, enlatados, produtos com gordura hidrogenada, como açúcar refinado, macarrão instantâneo (miojo). Comida pronta, devem ser evitados devido a quantidade de sal, conservantes, corantes, muitas vezes, proibidos, mas que continuam sendo utilizados. Não consumir alimentos muito temperados, apimentados, com muito sal ou açúcar, frituras, gorduras, café, bebidas alcoólicas e refrigerantes, que contribuem para o aumento de peso e podem prejudicar o desenvolvimento do bebê. Observações: As grávidas com diabetes que utilizam aspartame ou sacarose podem substituir pelo uso de estevia (adoçante natural) ou sucrose. Toda suplementação como ácido fólico, ferro, cálcio, ou outras vitaminas, devem ser indicadas pelo profissional que atende o controle pré-natal. Nos primeiros meses da gravidez, a mulher poderá sentir náuseas, vômitos, gazes, azias, entre outros. Algumas mudanças na dieta podem ajudar: Enjoos e vômitos: não beber líquidos junto com as refeições, dar preferência a alimentos secos, evitar alimentos gordurosos, com cheiros fortes ou muito condimentados. O uso de gengibre também pode ajudar. Caso os vômitos sejam muito frequentes e continuem depois dos primeiros meses, é necessário consultar o médico. No caso de azia e gazes: comer várias vezes ao dia em pequenas quantidades e jantar duas horas antes de deitar; não beber líquidos junto com as refeições; comer frutas e tomar líquidos entre as refeições. Dê preferência às frutas ácidas como pitomba, acerola, limão, laranja.
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Situação de Risco na Gravidez A gravidez é um processo normal na vida da mulher, porém, podem surgir problemas e situações que requerem um acompanhamento mais cuidadoso. Com o objetivo de reduzir a morbimortalidade materno-infantil se faz necessário identificar os fatores de risco gestacional o mais precocemente possível, e fazer o encaminhamento da gestante para especialistas em níveis mais complexo de atendimento, como nos casos de diabetes, anemia, sífilis, HIV, hipertensão, epilepsia, hepatite, lúpus, grandes multíparas. Gestantes que fumam, usam álcool ou outras drogas, ou estão vivendo em situação de risco como fome, abandono, maus-tratos e desamparo precisam de cuidados especiais. Essas gestantes estão mais fragilizadas, apresentam mais riscos de partos prematuros, abortos espontâneos e bebês de baixo peso. Também estão mais expostas ao risco de morte materna porque: As síndromes hipertensivas têm repercussões no organismo materno e fetal. Sífilis, HIV/AIDS e hepatite são transmitidos da mãe para o bebê. Os exames para detectar estas doenças durante os primeiros meses da gravidez, e poderem ser tratadas durante este período são de muita importância e devem estar no protocolo do pré-natal. O fumo pode causar no bebê baixo peso ao nascer, assim como o uso contínuo de álcool durante a gravidez pode provocar deficiência mental no bebê. As drogas prejudicam o desenvolvimento e podem criar dependência química no bebê.
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S i na i s
de
A l erta
S i na l
de
A l erta
na
G e s ta çã o i n te r p r e ta ç ã o
O
• Sangramento vaginal.
Anormal em qualquer época da gravidez.
Avaliação médica imediata.
• Cefaleia. • Escotomas visuais. • Epigastralgia. • Edema excessivo.
Esses sintomas, principalmente no final da gestação, podem sugerir préeclâmpsia.
Avaliação médica e avaliação da PA imediata.
• Contrações regulares. • Perda de líquido.
Sintomas indicativos de início do trabalho de parto.
Avaliação médica imediata e encaminhamento para maternidade de referência.
Diminuição da movimentação fetal.
Pode indicar sofrimento fetal.
Avaliação médica no mesmo dia, avaliação do BCF e orientação acerca do mobilograma. Considerar possibilidade de encaminhamento ao serviço de referência.
Febre.
Pode indicar infecção.
Avaliação médica no mesmo dia e encaminhamento a urgência, caso necessário.
qu e faz e r
IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS OBSTÉTRICOS: O Ministério da Saúde aponta em seu caderno de assistência ao pré-natal, os fatores de risco que permitem a realização do atendimento pela atenção básica, os fatores que determinam o encaminhamento ao serviço especializado e as situações de urgência, onde a gestante deve ser encaminhada diretamente para a maternidade.
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Morte Materna A morte materna é definida pela Organização Mundial de Saúde como a morte de uma mulher durante a gestação ou dentro de um período de 42 dias após o término da gestação, independente da duração ou da localização da gravidez, devido a qualquer causa relacionada com ou agravada pela gravidez ou por medidas em relação a ela, porém não devida a causas acidentais ou incidentais. (WorldHealth Organization. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde; 10ª Revisão). Durante longo tempo, as mortes consequentes à gravidez foram vistas pela sociedade e pelo setor saúde como fatalidades. Paulatinamente, esses eventos foram sendo entendidos como marcadores do nível de desenvolvimento social por se constituírem, em sua maioria, de mortes precoces que poderiam ser evitadas pelo acesso, em tempo oportuno, a serviços qualificados de saúde. A ç õe s M u n di a i s C o n tr a M o rte s M ate rnas E I n fantis Em setembro de 2000, na Cúpula Mundial em Dakar, Senegal, os dirigentes nacionais de 191 países membros das Nações Unidas (ONU) se comprometeram a cumprir oito metas até 2015, das quais duas delas referem-se a reduzir a mortalidade infantil e a mortalidade materna. O Brasil tem conseguido reduzir a mortalidade infantil geral, embora a morte neonatal continue alta. O Brasil tem hoje 62 casos de morte materna a cada 100 mil nascimentos, número ainda muito longe da taxa proposta pela ONU de chegar a 35 mortes por 100 mil nascidos. Estas mortes estão relacionadas a complicações durante a gravidez, parto, puerpério ou ao aborto, bem como as condições médicas preexistentes – como diabetes, AIDS, malária e obesidade. Um fator que dificulta a redução da mortalidade materna é o elevado número de partos cesáreos. A percentagem de cesarianas tem se mantido em patamares muito altos e com tendência de crescimento em todas as regiões. A taxa de mortalidade materna depende da qualidade da assistência dos serviços de saúde durante o pré-natal, o parto e o pós-parto, e do nível de desenvolvimento do país. Estas mortes são violações dos direitos humanos das mulheres, pois a maioria delas podem ser evitadas através de uma assistência completa e de qualidade. 41
Na atualidade, sabe-se que o parto e o período pós-parto imediato são períodos de especial vulnerabilidade tanto para a mãe quanto para o recém-nascido. Estimase que, durante as primeiras 24 horas após o parto, ocorrem entre 25 e 45% das mortes neonatais. P r i nc i pa i s
caus a s d e m o rt e m at e r na são :
Falta de acesso aos serviços de saúde de boa qualidade; Doenças Hipertensivas podem se evitadas e/ou controladas, para isso é necessário exames da pressão a ser realizado durante todo o pré-natal; Hemorragias – evitáveis através de transfusões e profissionais qualificados; Abortos Infectados - evitáveis através do acesso ao planejamento familiar, da humanização do atendimento às mulheres que chegam aos hospitais com um aborto incompleto; com leis mais adequadas para tratar a questão como um direito a ser respeitado; Gravidez de adolescentes; Infecções no Pós-Parto - evitáveis com acompanhamento regular e domiciliar da recém-parida.
Nº de óbitos maternos segundo abrangência e ano Brasil Sudeste Nordeste
60.000
Sul
50.000
Centro-Oeste
40.000
*Número de óbitos de mulheres em idade fértil notificados no ano selecionado e últimos nove anos precedentes. [1] País [2] Região
30.000 20.000 10.000
2007
42
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
Fonte SIM - dez 2016.
O u t ra s C au sa s I n c lu em : Uso inadequado de métodos anticoncepcionais; Condição étnico-racial: indígenas e mulheres negras têm maior taxa de mortalidade materna; baixa escolaridade, desnutrição, baixa renda, ausência de amparo familiar ou de companheiro e o grau de exposição à violência doméstica. A OMS declarou que as mortes maternas evitáveis são uma violação dos direitos humanos, e o Brasil foi condenado pela ONU em 2011 pela morte de uma mulher negra grávida, por falta de atendimento e negligência. P ac to N ac i ona l P e l a R e d u çã o D a M ortalidad e M at e rna E N e onatal O Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal visa promover a melhoria da atenção obstétrica e neonatal com a participação de gestores das esferas federal, estadual e municipal, da sociedade civil organizada – universidades, sociedades médicas e ONGs. O Pacto foi iniciado no ano de 2004, e a implantação dos comitês de mortalidade materna é uma das estratégias principais para incidir na redução da mortalidade materna e neonatal. Estes comitês formados por gestores/as, profissionais de saúde, sociedades cientificas, movimentos sociais e conselhos de defesa de direitos, entre outros, têm como objetivo dar visibilidade aos óbitos maternos e identificar as suas circunstâncias. A eficácia destes comitês depende do compromisso político da gestão e a participação qualificada de profissionais e representantes da sociedade civil.
Morte Neonatal e Morte Infantil Morte Infantil é a ocorrida no primeiro ano de vida. Divide-se em neonatal (primeiros 28 dias incompletos) e pós - neonatal (nos meses seguintes). É um dos indicadores mais sensíveis das condições de vida e saúde de uma população. As causas principais de morte infantis são as decorrentes do período perinatal, ou seja, de problemas que acontecem com a mulher grávida, parto e nascimento. Respondem por mais de 50% das causas de morte no primeiro ano de vida. Medidas para evitar a maioria destas mortes podem ser implementadas, como a melhoria no acesso e qualidade dos serviços de saúde, atenção adequada à mulher na gestação e parto e ao recém-nascido, além de diagnósticos precisos e tratamentos adequados.
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Nº de óbitos infantis segundo abrangência e ano Nordeste
16.000 14.000 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0
Pernambuco *Número de óbitos infantis (masculinos e femininos) notificados, no ano selecionado e últimos nove anos precedentes. Fonte: SIM – Dezembro de 2015 2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
PARTO e PÓS-PARTO A vida reprodutiva era uma questão de família e nos aspectos fundamentais da experiência reprodutiva feminina, pertencia a esfera das mulheres que transmitiam estes saberes a outras mulheres. Este processo terminou em meados do século XIX, quando o avanço das ciências médicas permitem um maior controle sobre o corpo e a saúde das pessoas, eliminando a autonomia e o conhecimento que era transmitido de geração em geração. Esses conhecimentos foram agregados ao saber médico, o que significa que a atual obstetrícia, foi iniciada com os primórdios dos tempos, e embora não se pode negar os avanços na medicina atual, com diminuição de mortalidade materno-infantil, as mulheres perderam o domínio sobre seu corpo, e o parto, ao invés de ser um processo normal na vida fértil das mulheres, transforma-se num ato médico, com a introdução de medicamentos e processos invasivos considerados muitas vezes de efeito negativo para a mulher e o recém-nascido. A humanização da assistência ao parto objetiva mudar as práticas obstétricas e devolver às mulheres o protagonismo do parto e uma maternidade segura e feliz, baseado em evidências cientificas que estão de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que eliminam uma série de procedimentos que são ainda utilizados, mais para os interesses das instituições ou profissionais, que para o bom desenvolvimento do parto. A humanização do parto se situa no marco mais geral dos direitos sexuais e reprodutivos, os quais incluem a garantia à maternidade segura, à contracepção e ao aborto seguro. 44
Tipos de Parto P a rto F i s i ol ó g i c o V ag i nal O parto antes de 37 semanas é chamado de pré-termo; das 37 semanas a 42 semanas é de termo, e o de 42 semanas para frente é considerado pós-termo. O parto normal é definido como de início espontâneo, baixo risco no início do trabalho de parto, permanecendo assim durante todo o processo até o nascimento. O bebê nasce de forma espontânea, em posição cefálica de vértice, entre 37 e 42 semanas completas de gestação. Após o nascimento, mãe e filho estão em boas condições. (Associação Brasileira de Enfermeiras Obstetras- ABENFO). MODELOS DE ATENDIMENTO DE PARTO NORMAL (FISIOLÓGICOS) A Rede Cegonha prevê: •Parto domiciliar com parteiras tradicionais ou urbanas, enfermeiras obstetras e médicos obstetras. •Centro de parto ou casas de parto com Enfermeiras Obstetras. •Maternidades de alto risco. QUEM SÃO OS ATORES ENVOLVIDOS NO PARTO? A MULHER E O BEBÊ são os atores principais do parto! Sem eles, não há parto! O parto humanizado preconiza a devolução do protagonismo da mulher! MÉDICOS OBSTETRAS: prestam assistência principalmente aos partos de alto risco, treinados para agir nas distócias (dificuldades) do trabalho de parto e realizar cirurgias. ENFERMEIRA OBSTETRA: atua em ambiente hospitalar, centros de parto normal e no domicílio prestando assistência à gestante de risco habitual. Realiza o acompanhamento da evolução e do trabalho de parto. Dá assistência à parturiente e ao parto normal. Executa os partos normais e faz o acompanhamento obstétrico da mulher e do recémnascido, da internação até a alta. 45
PARTEIRA DOMICILIAR OU TRADICIONAL: É a parteira que aprendeu seguindo a mãe, a avó ou recebeu o chamado. Ela segue o modelo fisiológico de atendimento, estuda observando e por saber empírico passado por parteiras mais velhas ou experientes. O Ministério da Saúde integrou estas profissionais a Rede Cegonha através do programa Trabalhando Com Parteiras. A DOULA é uma acompanhante que dá apoio físico e emocional para mulheres grávidas e suas famílias, durante o ciclo gravídico-puerperal. Parir sempre foi natural. As mulheres que já tiveram seus filhos podiam ajudar suas filhas, irmãs, amigas, vizinhas a passar pela gestação e parto de maneira mais segura e acolhida, oferecendo seu apoio e sua experiência. A atuação das doulas contribui, segundo pesquisas, na redução da duração do trabalho de parto, em intervenções como uso de fórceps, ocitocina e cesáreas. *PARTEIRA HOSPITALAR: De modo geral são técnicas/os de enfermagem que podem atuar como parteiras domiciliares, mas tem como modelo de atendimento o modelo médico, e podem usar intervenções de rotina. No Brasil, apesar da existência destas profissionais ainda atuando no ambiente hospitalar, o Conselho de Enfermagem não reconhece esta prática.
Parto Os primeiros sinais de início de trabalho de parto são: •Expulsão do tampão mucoso, que consiste na eliminação, pela vagina, de muco gelatinoso, rosado ou acastanhado. A sua expulsão pode ocorrer dias ou horas antes do parto e significa que o nascimento estará para breve. Às vezes, mas nem sempre, acontece a Rotura da Bolsa de Águas, que é a saída de líquido amniótico pela vagina, devido à rotura das membranas que envolvem o bebê. Pode sair lentamente ou de repente, em grande quantidade. Normalmente, é claro e transparente. •Contrações Uterinas Regulares - No início do trabalho de parto, as contrações são irregulares (isto é, os intervalos não são certos) e são pouco frequentes. Progressivamente, vão-se tornando mais regulares, mais intensas e mais próximas. Nas últimas semanas de gravidez é comum ocorrerem contrações irregulares e indolores, sem que isto signifique o início do trabalho de parto. 46
O Parto É Constituído Por Quatro Etapas: Dilatação, Expulsão, Dequitação e Greenberg. Dilatação: O colo do útero passa por alterações físicas, começando a encurtar e a dilatar até cerca de dez centímetros. As contrações tornam-se cada vez mais regulares e próximas. É o período mais demorado do trabalho de parto, podendo demorar de 12 a 16 horas, por vezes mais, no primeiro filho. E importante incentivar a mulher a mudar de posição, caminhar, fazer a ingestão de alimentos leves. Expulsão: Começa quando a dilatação do colo uterino estiver completa. Pode demorar ate 2 horas ou mais em primíparas. O bebê desce ao longo da bacia e sai para o exterior através da vagina e da vulva. É importante lembrar que às vezes se um bebê está ainda alto na pélvis, as contrações vão ajudar a descer, mas se a mãe não sente vontade de fazer força, tem que respeitar essa sensação. O bebê sai de maneira mais tranquila e saudável quando os puxos são involuntários e espontâneos. É importante que quem está atendendo o parto tenha paciência especialmente neste período, pois não é necessário tracionar, nem puxar o corpo do bebê. Dequitação: É a expulsão espontânea da placenta e das membranas após a saída do feto. Depois do nascimento do bebê, a placenta e as membranas que envolveram o feto saem por si, se deixar o tempo agir. Muitas vezes a dequitação acontece num prazo de até meia hora sem complicações, especialmente se o cordão não for cortado de maneira prematura. As contrações passam a ser mais espaçadas neste período. O Cordão umbilical deve ser cortado após dois a cinco minutos para o bebê poder receber o sangue da placenta, quando se corta sem este tempo de espera, pesquisas mostram que pode colocar a saúde do bebê em risco e eventual anemia na idade adulta. Greenberg: Primeira hora após a saída da placenta. Período de instabilidade hemodinâmica. Com risco de hemorragia. Neste momento deve ser incentivado o aleitamento materno, que além de fortalecer o vínculo entre mãe e recém-nascido, ajuda ainda a prevenir hemorragias.
LEMBRE-SE Parto não é doença, a maioria não é complicado e, as mulheres sabem parir e os bebês sabem nascer. 47
Porquê da DOR? “Parir dói e isso é fato”. A propaganda da “horrível e insuportável” dor do parto é por demais divulgada pela mídia. Recheia os dramas televisivos e os cinemas, está presente nas bocas de mulheres e homens (até dos que não passaram pela experiência) como a maior dor que o homem possa sentir na face da terra e assim assombra futuras parturientes que, seguindo o modelo dos seus astros televisivos, fogem sem pestanejar para uma medida enganosamente mais segura e menos dolorida chamada cesárea. Mas por que parir dói? Por que o parto não é indolor ou até mesmo prazeroso já que visa à procriação da espécie? A natureza seria cruel em maltratar as mulheres em momento tão sublime? A dor do parto tem funções extremamente importantes na hora do parto. Ela mostra o caminho a ser percorrido pelo corpo durante o processo. Ensina em que melhor posição ficar, qual o momento de fazer força, nos ensina instintivamente o que fazer para facilitar o processo fisiológico do nascimento do bebê. É uma dor muito sábia. Vem e vai a cada contração, como as ondas do mar, oferecendo um tempo para respirar e para descansar até o próximo mergulho. Aos poucos a maré sobe e as ondas crescem, ficam imensas e precisamos da humildade da entrega, de oferecer corpo e alma à prova máxima da natureza humana. É um processo intenso, primitivo, dolorido e às vezes difícil, mas que pode ser uma oportunidade única de intenso contato com nós mesmas, com o mistério da vida e com o pequeno ser que vem ao mundo naquele momento. É preciso apenas certo auto preparo, apoio, carinho e compreensão de quem assiste à parturiente para que a dor não se transforme em sofrimento e o corpo e a mente não se debatam em cada onda, afogando-se no meio do caminho. A dor do parto nos traz para o presente de forma intensa e, talvez, seja esta a sua principal função. Coloca corpo, alma, hormônios e sentidos opostos no momento mais sublime e mágico da vida humana. Prontos e vitoriosos, eles irmanam-se fortalecendo a recémmãe, numa forma preciosa de dar as boas vindas ao novo ser que chega ao mundo através de seus braços.” (Eleonora de Moraes Psicóloga, doula e educadora perinatal. Coordenadora do Despertar do Parto). Pesquisa complementar no artigo de Verena Schmid, disponível em: http:// bionascimento.com/index.php?option=com_content&task=view&id=225&Itemid=37)
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Direitos Da Mãe Durante O Parto No Brasil a LEI 11.108 (do acompanhante), existe desde o ano 2005, porém desde 1985 a OMS recomenda o livre acesso do/a acompanhante de escolha da mulher, no pré-parto, parto e puerpério Essa orientação esta baseada na revisão sobre o uso de tecnologias apropriadas para o parto e nascimento e para colaborar na satisfação materna com a experiência do nascimento. Mas apesar deste conhecimento a LEI DO ACOMPANHANTE É POUCO RESPEITADA! Por vários motivos, a lei não é colocada na prática como deveria ser: por falta de informação, de infraestrutura, percepção errônea do impacto da presença da doula e do acompanhante sobre a parturiente, a equipe e o parto. Desse modo, muitas vezes, a mulher se sente isolada nos momentos em que precisa de mais apoio da família e muitas mulheres passaram a associar a vivência do parto ao sentimento de isolamento e abandono. A presença de acompanhante dá segurança à gravida, aumenta a satisfação da mulher e com isso, uma redução significativa no percentual de cesáreas, na duração do parto na utilização de analgesia/anestesia e de ocitocina (para apressar o parto) e no tempo de hospitalização dos recém-nascidos. O isolamento e abandono da mulher na hora do parto são considerados uma violência institucional e uma violação do direito humano de não ser submetido/a a tortura ou a tratamentos cruéis e degradantes. Outros direitos da mulher é o de poder adotar outras posições como sentada, de cócoras, que são mais favoráveis para a boa evolução do parto; ser escutada e ter suas duvidas esclarecidas; poder expressar livremente sua emoções. Violência Obstétrica e Intervenções que Prejudicam a Mãe e o Bebê Durante o Parto Uso de Ocitocina de maneira rotineira e sem cuidado pode levar ao sofrimento fetal por intensas contrações que prejudicam o transporte de oxigênio ao feto. Fórceps e/ou vácuo de rotina sem autorização da mulher, este procedimento pode produzir traumatismos e piores escores de Apgar (nota dada ao bebê no primeiro minuto e no quinto minuto de vida, e que serve para avaliar sua vitalidade). 49
Episiotomia: Considerada Mutilação Genital, não traz benefícios para o bebê nem existem evidências científicas que justifiquem sua realização. A não realização de episiotomia de rotina esta associada à manutenção da integridade do períneo (nenhuma lesão) em aproximadamente 60% dos partos e aumento do trauma no períneo anterior (região da vulva acima da vagina), porém os traumas anteriores são menos danosos que os traumas posteriores que são ocasionados pela episiotomia. Manobra de Kristeller: é usada quando o bebê demora a sair. Procedimento PROSCRITO e proibido em diversos países. Consiste em empurrar o fundo do útero, ou seja, fazer pressão de qualquer intensidade sobre a barriga da mulher para empurrar o bebê. Dentre os riscos associados a esta manobra estão: Ruptura uterina; Trauma nos esfíncteres anais; Trauma perineal; Danos e paralisia nos nervos; Pode causar lesões graves internas, e descolamento da placenta e incontinência urinária.
Outras Intervenções Desnecessáriaso ou Abusivas Exames de toque abusivos: de acordo com a OMS o exame vaginal deve ser realizado com intervalo mínimo de quatro horas, com a mulher em decúbito lateral esquerdo e nunca durante as contrações. Desrespeitar o direito à privacidade: permitir a entrada de pessoas não autorizadas no local do parto, restringido a privacidade e causando constrangimento à mulher, deixar a mulher exposta fisicamente ou revelar informações confidênciais e/ou sigilosas. Realizar intervenções/procedimentos sem o conhecimento e consentimento da mulher: a mulher tem o direito de ser informada antes de sua realização, dos riscos e benefícios das intervenções, bem como de suas indicações. Toque retal, jejum forçado, tricotomia (raspagem dos pelos) e enema (lavagem Intestinal): procedimentos descritos pela OMS como “condutas claramente prejudiciais ou ineficazes” e que deveriam ser eliminadas. Restrição à liberdade de movimentos. 50
Estabelecer limites rígidos de tempo para a duração das fases do trabalho de parto. Direcionamento de “puxos”: estímulo ao “faça força agora”, “força comprida”, etc. Manobra de Valsalva: orientar a mulher a “trincar os dentes e fazer força”. Não permitir a mulher a escolha da posição/ ambiente em que quer parir, obrigar a mulher a ficar em decúbito dorsal pode interferir na duração do período expulsivo, na dor e no desconforto materno, além da adequada oxigenação do bebê. Clampeamento precoce do cordão imediatamente após o nascimento. A norma é aguardar por 3 minutos o corte do cordão umbilical que além de permitir a adequada adaptação metabólica do recém-nascido, permite um maior aporte de ferro associado a menores taxas de anemia até o sexto mês de vida. As consequências de todas essas intervenções são aumento das césareas, mal estar maternal (depressão, stress pós traumático, mal estar fetal e neonatal), causas de morbidade materna e neonatal evitáveis. O Caso da CESÁREA “salva vida” A taxa de cesariana tem sido utilizada como indicador de avaliação do modelo de atenção ao parto e, segundo a Organização Mundial da Saúde(OMS), não deve ultrapassar 15%. A alta prevalência de cesáreas no Brasil não parece estar relacionada a mudanças no risco obstétrico e sim a fatores socioeconômicos e culturais, destacandose o controverso fenômeno da “cultura da cesariana”. Em termos populacionais, a OMS informa que taxas de cesáreas maiores que 10% não estão associadas com redução da mortalidade materna e neonatal. A cesárea é uma intervenção efetiva para salvar a vida de mães e bebês, porém apenas quando indicada por motivos médicos. No Sistema Único de Saúde (SUS), os índices de cesarianas estão em torno de 34%, dados do Ministério da Saúde, números ainda muito superiores aos 15% recomendados pela OMS. O Brasil e a República Dominicana lideram o ranking de cesáreas no mundo, com 56% dos partos ocorrendo por meio de cirurgia. Depois, vêm Egito (51,8%), Turquia (47,5%) e Itália (38,1%). 51
A cesárea está sendo utilizada em situações que nada tem a haver com indicação correta, como no caso de hipertensão arterial, bacia estreita, primigesta (com mais de 35 anos), cesárea anterior, presença de HPV, mioma, cistos, verrugas genitais, obesidade materna, pós-datismo, ou seja caso a grávida tenha passado uns ou mais dias das 40 semanas, sendo que até a década de 70 se esperava até as 42 semanas para o nascimento do bebê. O uso abusivo da cesárea expõe as mulheres a riscos como contrair infecção, problemas decorrentes da analgesia, riscos de ter hemorragia, problemas com o aleitamento, e o bebê tem risco de nascer com baixo peso, problemas respiratórios e icterícia grave.
Situações em que a Cesárea pode e deve ser indicada: Prolapso de cordão – com dilatação não completa. Descolamento prematuro da placenta com feto vivo – fora do período expulsivo. Placenta prévia parcial ou total (total ou centro - parcial). Apresentação córmica (situação transversa) durante o trabalho de parto (antes pode ser tentada a versão). Ruptura de vasa praevia (vasa prévia) nesta situação existem vasos fetais que estão cruzando ou atravessando perto do orifício interno do colo uterino, eles têm risco de ruptura quando suas membranas de suporte rompem. É uma complicação rara. Herpes genital com lesão ativa no momento em que se inicia o trabalho de parto (em algumas diretrizes, somente se for a primo infecção herpética). Desproporção céfalo pélvica (DCP): o diagnóstico só é possível intraparto e não pode ser antecipado durante a gravidez. Sofrimento fetal agudo (o termo mais correto atualmente é “frequência cardíaca fetal não tranquilizadora”), exatamente para evitar diagnósticos equivocados baseados tão somente em padrões anômalos de frequência cardíaca fetal. Parada de progressão que não resolve com as medidas habituais (correção da hipoatividade uterina, amniotomia): recentemente tanto autores como diretrizes concordam que os critérios devem ser mais elásticos. O próprio uso de ocitocina e a amniotomia não têm efetividade comprovada quando comparados com a conduta expectante. HIV/AIDS (cesariana eletiva indicada se HIV + com contagem de CD4 baixa ou desconhecida e/ou carga viral acima de 1.000 cópias ou desconhecida); em franco trabalho de parto e na presença de ruptura de membranas, individualizar casos. 52
A C e s á r e a E s t á S e ndo U sada A busi vame nt e N e ss e s C asos Circular de cordão (não importam quantas); Cordão curto: impossível mensurar antes do trabalho de parto; Trabalho de parto prolongado (esse tempo é individual, não há padrões, bastando mãe e bebê estarem em boas condições); Período Expulsivo prolongado (existe apenas uma media não um tempo exato para esta fase); Pós-datismo; Síndromes Hipertensivas; Bacia “muito estreita” (não é possível medir sem prova de trabalho de parto); Bebê “muito grande” (os ossos e tecidos da mãe se movem para a passagem da criança); Bebê alto, não encaixado antes do início do trabalho de parto; Cesárea anterior (o risco de ruptura da cicatriz uterina e idêntico a de quem nunca teve cirurgias antes); Primigesta com mais de 35 anos; Primigesta adolescente; Magreza da mãe; Placenta grau III ou II ou I ou qualquer outra classificação placentária; Obesidade materna; HPV, verrugas genitais, miomas, cistos; Pouco ou muito liquido amniótico; Problema de hemorróidas, dentre outros; Uso de antidepressivos ou antipsicóticos; Sem indicação precisa, por pressa da equipe ou descrença na capacidade da mulher.
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Índice de Cesáreas por País 15-25%
1-5.9%
10-15%
25-35%
35-56% 0-0,9%
35,1-56% - Cuba, Brasil, Argentina, Itália, Egito. 25,1-35% - México, Canadá, Estados Unidos, China, Austrália, Chile, Equador, Colômbia, Venezuela, Paraguai, Uruguai, Espanha, Portugal, Reino Unido, Irlanda, Alemanha, Áustria, Bulgária.
15,1-25% - Rússia, África do Sul, Bolívia, Peru, França, Polônia, Romênia, Finlândia, Suécia, Noruegua.
10-15%* - Cazaquistão, Ucrânia, Síria, Arábia Saudita, Namíbia. 6-9.9% - Líbia, Tunísia, Algéria, República do Congo, Índia, Nigéria, Mali. 1-5.9% - Mongólia, Sudão,
Zâmbia, Tanzânia.
0-0.9% - Madagascar, Moçambique, Etiópia, Iemen.
* Índice recomendado pela OMS. 54
A Fundação Perseu Abramo em 2010 realizou uma pesquisa sobre a violência institucional durante o parto. O resultado indicou que uma em cada quatro brasileiras relatou ter sofrido algum tipo de violência durante a assistência ao parto. Trata-se de um tipo de violência bastante específica e comum nas instituições hospitalares. Segundo Wolffe Waldow (2008), a cesárea é uma violência praticada pelas equipes de saúde e consentida por mulheres em trabalho de parto, que se submetem ao procedimento, principalmente por desconhecerem o processo fisiológico do parto, por não serem informadas pelos profissionais de saúde sobre as melhores práticas de assistência, por temerem pela vida do bebê e pelo mau atendimento, pela condição de desigualdade entre médico e paciente (o médico e o detentor do conhecimento, da habilidade técnica), ou, simplesmente, por acreditarem que “é assim mesmo”. Concomitante a isso temos a agressão verbal direcionada à mulher que chora e se queixa de insultos como: “Na hora de fazer bem que gostou, não é?” “Pare de gritar senão seu filho nasce surdo!!” “Não vou te atender se você não calar a boca!!! Até o ano que vem ‘mãezinha’!!” A assistência ao parto é frequentemente vista como uma forma de violência contra as mulheres. Os preconceitos presentes na formação dos profissionais de saúde e na organização dos hospitais fazem com que as frequentes violações dos direitos humanos e reprodutivos das mulheres sejam incorporadas e passem a fazer parte da rotina “normal” da assistência. No final do século XX, a OMS definiu que, para atingir a maternidade segura, seria necessário mudar radicalmente o modo como os serviços de saúde tratam as mulheres. Foi reconhecido que, muitas vezes, os profissionais de saúde são autoritários e rudes com as mulheres grávidas e que elas se sentem humilhadas e até ameaçadas em suas interações com esses profissionais. A má qualidade dessa interação muitas vezes resulta em consequências graves para a segurança do parto e a saúde “Os objetivos da Iniciativa Maternidade Segura só serão alcançados quando as mulheres estiverem fortalecidas e os seus direitos humanos – incluindo seu direito a serviços e informação de qualidade durante e depois do parto – forem respeitados”. (WHO,1998) 55
V i o l ên c i a s S of r i da s D u r a nt e
o
A t e n di me nto
ao
P arto
Local do Parto Total
Rede Pública
Rede Privada
Em Ambas
100%
74%
17%
8%
Sofreu alguma violência no atendimento ao parto
25
27
17
31
Não sofreu violência no atendimento ao parto
75
73
83
69
Quantidade de Filhos 1
2
3
4/5
6 ou mais
25%
28%
21%
17%
9%
Sofreu alguma violência no atendimento ao parto
27
22
25
29
26
Não sofreu violência no atendimento ao parto
73
78
75
71
74
*Fonte: Entrevistadas que tem ou tiveram filhos naturais na rede pública ou privada (62%). Disponível em: http://mundodesalienado.wordpress.com/tag/ par to-normal-x-par to-cesarea/
A H u manizaçã o C o mo R e s p os ta À V i o lê n c i a S a be r R e conh ec e r A V i o lê n c i a N o P a rto É R e c o nh e ce r : A violência verbal (ameaças, xingamentos e humilhações); O abandono, a falta de privacidade, exames de toque vaginal abusivos; Episiotomia de rotina e mutiladoras, separação mãe bebê, restrições de acompanhante, o uso abusivo de medicamentos; Manobra de Kristeller, cesárea desnecessária.
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O Bebê Nasceu, o Parto Acabou? Até a placenta sair e a mãe não estar estável o parto não acabou, porém pode ter ainda mais abusos e violência, como realizar tração do cordão e massagens para agilizar o parto da placenta; esta manobra é associada a dores, riscos de hemorragia e infecção puerperal. Outro procedimento realizado como rotina de revisar manualmente a cavidade uterina é descrita pela OMS como uma “conduta frequentemente utilizada de modo inadequado”.
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O Recém-Nascido A Mãe e o recém-nascido devem ser considerados como uma única entidade. O bebê passa nove meses em contato estreito com a da mãe e demorará pelo menos uns três meses para se adaptar ao novo ambiente, ele não nasce completamente desenvolvido e precisa continuar a sua maturação emocional e física. Daí a importância do primeiro cheiro, a primeira mamada, a interação não verbal frente à frente que estimula a confiança e dependência na mãe, colaborando para o desenvolvimento sadio do bebê. O período pós-parto é um período de adaptação e reconhecimento mútuo, onde instinto e hábitos culturais vão ter um papel importante. Essa interação pode ser vivenciada com outra pessoa, além da mãe, mas, essa pessoa deverá ser sempre a mesma. Assim como os bebês cangurus que continuam a crescer e se fortalecer na bolsa da mãe, ou os bebês macacos que ficam agarrados nas costas da mãe, o bebê humano também precisa ficar em contato estreito com a sua mãe, ou com outra pessoa que cumpra a mesma função. Período Pós-Parto Imediato Logo ao nascer, o bebê deve ser colocado sobre o corpo da mãe para sentir seu cheiro, calor e contato com a mama. Esse contato “pele a pele” é muito importante para a relação mãe-filho e ajuda na amamentação, que deve começar na primeira hora de vida. O Ministério da Saúde e a Academia Brasileira de Pediatria recomendam o clampeamento tardio do cordão umbilical, ou seja, esperar o cordão parar de pulsar antes de cortar. Assim o recém-nascido (RN) recebe o volume de sangue e o oxigênio necessário para poder efetuar uma transição tranquila e saudável para a vida externa. Somente após esse período, deve ser feita uma cuidadosa avaliação da saúde do bebê. Se o bebê for prematuro, não se mover normalmente ou respirar com dificuldade poucos minutos depois do parto, deve ser atendido imediatamente pelo pediatra. 58
O QUE ACONTECE COM A MÃE? Quando o cordão não é cortado imediatamente após o parto, a saída da placenta pode demorar até 15 minutos. É importante observar se a mãe não perde muito sangue durante esse período. É bom lembrar que se a mãe segura o próprio bebê assim que nasce, produzirá ocitocina que vai ajudar o útero e se contrair e ajudar na saída da placenta e com isso evitar a tão temida hemorragia pós-parto. Acompanhamento Do Recém-Nascido Após O Nascimento Estudos apontam que bebês que foram colocados em contato pele a pele com suas mães nas primeiras horas de vida, choram menos nos primeiros meses de vida, mamaram mais, e foi constatada maior interação entre mãe e filho/a. Ao mamar com mais frequência, os bebês também estão sendo beneficiados pela colonização das bactérias benéficas da mãe, que faz parte de um processo natural e desejado para aumentar a imunidade do recém-nascido. O vérnix ou verniz caseoso (substância sebosa que recobre a pele do bebê ao nascer) também é uma fonte de proteção importante para a pele sensível do bebê. É importante não dar banho, mas enxugar as secreções e o sangue com toalhas limpas e secas. Bebês que nasceram de parto normal e estejam bem não precisam ser aspirados e nem de sondas para avaliar as cavidades nasais e bucais. A presença de mecônio logo após o parto prova a presença de ânus. Ao passar pelo canal de parto, os pulmões do bebê são massageados, provocando a expulsão natural do líquido amniótico e outras secreções. Um bebê saudável deve permanecer com a mãe, desde o nascimento, sem ter que passar por manipulações estressantes, banhos frios. Todos os procedimentos como peso, medidas, podem ser realizados no quarto com a mãe e 2h depois do parto para facilitar o entrosamento mãe-filho. Apesar de o nitrato de prata ainda esta incluído nas recomendações do Ministério da Saúde, pesquisas estão demonstrando a eficiência da Iodopolvidona na prevenção de possíveis infecções oculares e sem os efeitos colaterais do nitrato. Deixe o bebê tranquilo! Observação: Não fazer qualquer procedimento com o recém-nascido sem conhecimento/ consentimento dos pais é um direito do bebê, mas é pouco considerado e respeitado pela maioria das/os profissionais de saúde. É importante lembrar que pais informados de maneira adequada são menos ansiosos e mais capazes de lidar com o recém-nascido.
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O QUE DEVE SER EVITADO NO MOMENTO DO NASCIMENTO Interferir com o nascimento espontâneo do bebê: realizar fórceps e vácuo de rotina sem a autorização da mãe, estes procedimentos podem causar traumas e piorar o Apgar (nota dada ao bebê, no primeiro minuto e no quinto minuto de vida. Serve para avaliar sua vitalidade). Clampeamento precoce do cordão umbilical – procedimento realizado imediatamente após o nascimento do bebê, sem aguardar ao menos 3 minutos interfere na adaptação metabólica do recém-nascido contribui na diminuição do aporte de ferro, fator associado à anemia em crianças de até seis meses de vida; Afastar o bebê saudável imediatamente do corpo da mãe - estudos comprovam que a temperatura corporal no recém-nascido fica em média um grau mais elevada no colo de sua mãe que no berço aquecido; que colocar o bebê para mamar na primeira hora de vida favorece a pega correta do mamilo, com isso, mais probabilidade de sucesso na amamentação; que bebês alimentados com o leite materno são colonizados com as bactérias-defesas da mãe, ajudando-o a desenvolver a própria resistência; Manter bebê saudável em berçário nas primeiras horas de vida ou durante todo o período de internação – induz a separação precoce entre a mãe e bebê. A RDC 36/2008, que dispõe sobre o Regulamento Técnico para Funcionamento dos Serviços de Atenção Obstétrica e Neonatal, e outros documentos científicos orientam “o serviço deve garantir a adoção de alojamento conjunto desde o nascimento, bem como que o atendimento imediato ao recém-nascido seja realizado no mesmo ambiente do parto, sem interferir na relação mãe e filho, exceto em casos de impedimento clínico”, ou seja, sem separação desnecessária para a observação do contato íntimo, pele-a-pele, da mãe com o bebê após o nascimento (momento em que o recém-nascido está em estado de vigília). A adoção dessa simples medida diminui o estresse do bebê, facilita o vínculo entre mãe e filho e aumenta as chances de sucesso na amamentação. Não obstante, muitos bebês quando nascem apenas são mostrados a suas mães e levados para o berçário onde permanecem durante as primeiras horas de vida contrariando as orientações do MS. Aspirar às vias aéreas do recém-nascido, ou passar sonda no ânus como rotina para pesquisar atresia de coanas, atresia de esôfago e ânus imperfurado: um diagnóstico observacional para recém-nascidos normais, saudáveis é suficiente, evitando, dentre outras complicações, perfurações e edemas de mucosa; 60
Fazer qualquer procedimento com o recém-nascido sem conhecimento/consentimento dos pais – ou seja, oferecer bicos, chupetas, mamadeiras com leite artificial para o bebê; dar banho, aplicar vacinas e vitaminas, nitrato de prata ou antissépticos nos olhos do bebê rotineiramente (este protocolo precisa ser revisado, pois seu objetivo é à redução das infecções oftálmicas incluso em filhos de mães infectadas). A avaliação do bebê deve ocorrer no quarto na presença dos familiares.
Atitudes e Comportamentos do Recém-Nascido O QUE O RECÉM-NASCIDO FAZ PARA DIZER QUE ELE ESTÁ COM FOME, FRIO CALOR, MOLHADO, SUJO? Quando a comunicação não verbal do bebê não é reconhecida pela mãe ou pela pessoa que estar tomando conta dele, o choro é o ultimo meio que tem para se comunicar, assim, é importante que a mãe reconheça a diferença e o significado do choro. Esse choro pode ser também um diálogo se o bebê sente-se sozinho e quer colo. É importante saber reconhecer para poder atender às necessidades do recém-nascido, que vai aprender a confiar no mundo. O bebê não vai ficar dependente, pelo contrário, ele vai desenvolver mais segurança e autonomia afetiva no futuro.
Bebê com sono • Normalmente, nas primeiras horas/dias de vida, o bebê dorme muito; os olhos
estão semiabertos, não se move muito e “sorria nos anjos”. Desperta quando tem fome ou alguma coisa o incomoda. Sendo atendido nas suas necessidades se acalma e volta a dormir.
Bebê
sem sono • O bebê sem sono nem sempre significa desconforto ou fome. Ele pode querer interagir com a mãe e demonstra isso seguindo os olhos da mãe, fica atento na voz ou nos carinhos dela. Como o vocabulário é muito limitado ainda, demonstra interesse no que se passa por movimentos mais ativos, grunhidos, etc.
Lembrar que o choro de um recém-nascido é a última maneira de expressar necessidades como fome, carinho, atenção, desconforto, entre outros. Cada recém-nascido demonstra, desde os primeiros dias, comportamentos individualizados e personalidade diferente, que pouco a pouco vai se desenhar de maneira mais nítida na medida em que vai se desenvolvendo. Os hábitos de um recém-nascido mudam depois de algumas semanas: a cabeça fica mais firme, o sorriso aparece, ele parece estar mais atento no que se passa ao seu redor, responde mais quando a mãe interage com ele. Tudo isso é fruto de uma aprendizagem, do ambiente e interação das pessoas que estão cuidando dele.
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DIREITOS DO BEBÊ NO HOSPITAL A orientação do Ministério da Saúde “é ter uma postura menos invasiva e mais cuidadosa com o recém-nascido.” O parto normal é fisiologicamente melhor para a mãe e o bebê, pois os bebês nascidos por cesárea são menos amamentados ou em menor tempo, também são mais propensos à obesidade, têm mais risco de morrer, tem aumentadas as chances de ter problemas respiratórios, são mais alérgicos e podem ter o vínculo com suas mães prejudicado. ALOJAMENTO CONJUNTO Outro direito muito importante é após o parto. Mãe, filho e acompanhante podem ficar juntos em alojamento conjunto, seja em quarto ou enfermaria. Se o bebê tem boa vitalidade não há necessidade de deixá-lo em observação no berçário, como ainda frequentemente é feito. Desse modo o aleitamento continua em livre demanda, a adaptação familiar é respeitada, e o recém- nascido descansa melhor perto da mãe do que no berço. 62
Todos os bebês, independente de sua raça e clase social, têm outros direitos como: Ser registrado gratuitamente; Receber a Caderneta de Saúde da Criança; Realizar de forma gratuita o teste do pezinho e o da orelhinha ainda na maternidade; Ter acesso a serviços de saúde de qualidade; Receber gratuitamente as vacinas indicadas no calendário básico de vacinação; Mamar exclusivamente no peito durante os primeiros seis meses de vida; Ser acompanhado pela família e pelos profissionais de saúde em seu crescimento e desenvolvimento; Ser acompanhado pelos pais durante a internação em hospitais; Ter uma família e convivência com a comunidade; Viver num lugar limpo, ensolarado e arejado; Viver em ambiente afetuoso e sem violência.
Quem deve ser responsável pelo cumprimento desses direitos do bebê são os gestores da saúde, tanto no governo federal quanto nos estados e nos municípios, essa responsabilidade está claramente definidas pelo Sistema Único de Saúde(SUS). 63
VOLTA PARA CASA DA MÃE E SEU BEBÊ O agente comunitário de saúde tem um papel importante nos primeiros dias após o parto, pois sendo o profissional de saúde que esta com maior contato com as famílias podem e deve: •Avaliar a condição de moradia, higiene, relações familiares, presença do companheiro, dificuldades financeiras e situação de violência; •Observar sinais de risco; •Avaliar e incentivar a amamentação, observar sinais de infecção no umbigo do bebê, além de outros riscos e vulnerabilidades; •Esclarecer as dúvidas da mãe sobre o cuidado com o bebê, mesmo que ela tenha outros filhos/as;
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•Estimular a família que faça o Registro Civil de Nascimento, caso o bebê ainda não possua a Certidão de Nascimento, e reforçar a importância da primeira consulta do bebê (entre o quinto e o sétimo dia de vida).
O QUE ACONTECE COM A MÃE No puerpério, a mulher necessita de repouso, colaboração e amor da família, e de uma alimentação adequada e saudável para uma plena amamentação do bebê. Oscilações de humor e choros são frequentes nessa fase sensível da mulher proveniente dos ajustes e mudanças familiares. Em tal circunstância é aconselhável à prática de atividades físicas moderadas, manter-se ativa e a família deve estar atenta para essas alterações. O estado emocional é importante, pois, o baby blue (estado melancólico pós-parto) é mais devido ao fator situacional que hormonal. A mãe deve ser informada que precisa ir à unidade de saúde a qualquer momento, caso apresente um quadro de febre, sangramento excessivo ou corrimento com mau cheiro, pressão alta e dor de cabeça. Em até 10 dias após o parto, a mulher deve apresentar-se numa unidade de saúde para avaliação clínica, exame das mamas e receber orientações sobre amamentação. Cerca de 40 dias após o parto, a mãe e seu companheiro/marido devem ir ao posto de saúde para receber informações sobre os métodos anticoncepcionais, caso deseje fazer planejamento familiar. ATENÇÃO Depressão pós-parto não é incomum, especialmente nas famílias que têm dificuldades emocionais, financeiras, nos casos de mães adolescentes, mães solteiras, mães com experiência prévia de distúrbios psiquiátricos. Se os choros ocasionais do pós-parto não param, e são acompanhados de insônia e falta de apetite, deve ser imediatamente encaminhada para consulta; Na ocorrência de depressão pós-parto essas mães precisam de maior cuidado e acompanhamento mais frequente; No caso de perda de sangue mais abundante do que uma menstruação e com mau cheiro, dor de barriga, febre, calafrios, pode se tratar de infecção puerperal e/ou hemorragia pós- parto, uma das maiores razões de morte materna. Nessa situação a mulher deve ser imediatamente encaminhada a unidade de saúde; Se há dores de cabeça, acompanhada de pressão alta, a mulher deve ser encaminhada imediatamente para consulta. A pré-eclâmpsia pós-parto não é tão comum quanto a préeclâmpsia pré-natal, mas é importante lembrar que o perigo é o mesmo. 65
Primeira Consulta do Bebê Deve ser realizada na primeira semana de vida, em especial para realizar o teste do pezinho (obrigatório por lei), importante para o diagnóstico precoce de algumas doenças; Ministrar as primeiras doses das vacinas para hepatite B e BCG e aproveitar para vacinar a mãe contra a rubéola, bem como orientá-la sobre as demais vacinas que o bebê deverá receber; Avaliar a amamentação, o estado geral do bebê, a higiene e reforçar as informações sobre os cuidados com o corte do cordão umbilical. Estas atividades fazem parte do acompanhamento da criança que deverá ser realizado nos primeiros anos da vida do bebê e de acordo com o esquema definido pelo ministério da saúde. CUIDADOS E ALIMENTAÇÃO DO BEBÊ O bebê precisa de água limpa, lugar arejado e calmo, carinho, afeto, companhia e peito. Água limpa filtrada é indispensável para dar banhos frequentes no bebê. O cuidado do umbigo deve ser feito com água filtrada para evitar infecções. O uso de álcool e outros produtos não está mais recomendado pela OMS. Ambiente ventilado sem poeira, sujeira e fumaça colabora para evitar problemas respiratórios e outras enfermidades. A família deve estar consciente que não pode fumar numa casa onde tem um recém-nascido. Estudos apontam a exposição indireta do recém-nascido (RN) ao tabaco como sendo um fator importante de risco a morte súbita do RN. Apesar de o RN poder dormir em ambientes barulhentos, é preferível ter um nível sonoro razoável. Ruídos ou música acima do normal podem prejudicar a audição e ocasionar lesões internas auditivas irrecuperáveis. 66
CARINHO, AFETO, COMPANHIA O hábito de deixar o bebê sempre no berço não é aconselhável por várias razões: Desenvolvimento Psicomotor: O cérebro não está maduro ainda e precisa de muitas estimulações auditivas e visuais, e interações com a mãe e outros membros da família. Desenvolvimento emocional e físico: nos anos 90, depois da abertura dos países da Europa Oriental, organizações humanitárias descobriram situações dramáticas na Romênia, onde, órfãos abandonados em asilos, e sem quase contatos humanos, demonstravam comportamentos autistas avançados e retardamento mental profundo. Nesses estudos, foi provado que a falta de carinho e cuidado desses bebês e crianças provocaram essas patologias dramáticas. Outro exemplo foi durante a segunda guerra mundial na Inglaterra onde se verificou que os bebês órfãos, que residiam em instituições, mesmo sendo alimentados, mas que não tinham afeto e estímulos, morriam em maior número que os bebês que tinham famílias. Desenvolvimento social: O bebê humano aprende logo se exposto a outras pessoas que interajam com ele. A educação começa no berço e comportamentos positivos ou negativos influenciam de maneira significativa e duradoura na vida dos pequenos humanos.
E o Peito? Os principais cuidados para facilitar o aleitamento e evitar o desmame precoce são: Colocar o bebê no peito na primeira hora depois do parto, isto favorece a saída da placenta, a limpeza do mecônio e estabelece o aleitamento mais cedo. É importante dar somente leite materno e não oferecer nada mais (nem água ou chá) durante os seis primeiros meses; O aleitamento deve ser por demanda do bebê, ou seja, sempre que ele pedir e não em horários determinados; Para facilitar o aleitamento, deve-se dar o peito de forma correta: o bebê precisa abocanhar toda a aréola (parte escura do seio) e não só o bico do peito; não dar chupeta ou mamadeira para o bebê. Dica do dentista: uso da chupeta deforma a mandíbula e dentes. O leite materno é o alimento ideal para o bebê, além de proteger contra as infecções e estreitar o vínculo entre mãe e filho. O desmame precoce contribui para a desnutrição, para a mortalidade infantil e pode prejudicar o vínculo da mãe com o bebê. A amamentação garante a saúde da criança e pode se estender depois dos seis meses até os dois anos de idade ou mais, junto com outros alimentos. 67
A mãe e a família precisam saber reconhecer os sinais de perigo para o recém-nascido, pois muitas vezes os recémnascidos morrem pelas seguintes causas: Sinais de Perigo para o Bebê • Atraso no reconhecimento dos sinais de perigo; • Atraso em decidir procurar cuidados médicos; • Atraso em chegar até um profissional de saúde ou centro de saúde;
O QUE OBSERVAR? Os sinais mais comuns de doença em um bebê são: •O bebê deixa de mamar bem e está frio; •Tem dificuldade para respirar; •Dificuldade para mamar ou incapacidade de chupar; •Está frio ou muito quente (com febre); •Pálpebras vermelhas e inchadas, com secreção de pus nos olhos; •Pele avermelhada, inchaço, pus ou mal odor. •Pele pálida e azul; •Dificuldades de cicatrização do cordão umbilical ou umbigo; •Convulsões/desmaios; •Icterícia/pele amarelada após os primeiros dias de vida; •Vômito abundante e frequente em jato; •Diarreia com mau cheiro. 68
CASOS ESPECIAIS E PREMATUROS Bebês doentes precisam de mais cuidados e podem até ficar naUTI, como nos casos de HIV ou hepatites. O bebê de baixo peso e/ou prematuro precisa ser alimentado com frequência e observado de maneira cuidadosa. Ele não pode ficar com frio e necessita de mais aquecimento do que um RN saudável e a termo. O frio gera estresse e maior fragilidade, podendo provocar doenças respiratórias dentre outras. O método Canguru foi criado na Bolívia há 30 anos, para ajudar os bebês prematuros em hospitais que não tinha incubadoras. É utilizado para garantir que os bebês mantenham contato pele a pele com a mãe ou com o seu cuidador/a. Nesse método, o bebê permanece com o mínimo de roupa junto ao corpo da mãe ou do cuidador/a, na posição vertical, o máximo de tempo possível. Estudos mostram que os Bebês Cangurus ganham mais peso e se fortalecem de maneira mais rápida, que os bebês mantidos em incubadoras, dessa forma ele sente-se mais seguro e protegido; gasta menos energia para se manter aquecido, aprende mais rapidamente a mamar no peito e vai para casa mais cedo. O método também fortalece o vínculo afetivo entre o adulto e o bebê. Deve ser feitos por profissionais capacitados (Direitos do Bebê). 69
Anexos Rede Cegonha O plano do Governo Federal é garantir pelo SUS (Sistema Único de Saúde) atendimento seguro e humanizado desde a confirmação da gravidez até os dois primeiros anos de vida do bebê. Isso significa que a medida abrange a assistência obstétrica (às mulheres) – com foco na gravidez, no parto e pós-parto como também a assistência infantil (às crianças). Introduzido pelo Governo da presidenta Dilma Roussef em 2011, a Rede Cegonha contou com R$ 9,397 bilhões do orçamento do Ministério da Saúde, para investimentos até 2014, que foram aplicados na construção de uma rede de cuidados primários a mulher e a criança. Estimativas divulgadas pelo Ministério da Saúde apontam que o Brasil tem cerca de três milhões de gestantes, sendo que mais de dois milhões são assistidas exclusivamente pelo SUS. Metas da Rede Cegonha: O objetivo é que ações sejam aplicadas em todo o Brasil. Porém, a prioridade do cronograma está sobre as regiões da Amazônia Legal e Nordeste – que têm os mais altos índices de mortalidade materna e infantil – e as regiões metropolitanas, envolvendo a maior concentração de gestantes. Porém, qualquer município pode aderir a Rede. Objetivos: Fomentar a implementação de um novo modelo de atenção ao parto, nascimento e à saúde da criança. Organizar rede de atenção que garanta acesso, acolhimento e resolutividade. Reduzir a mortalidade materna e infantil com ênfase no componente neonatal. 70
Gestantes e atenção hospitalar A Rede Cegonha tem atuação integrada com as demais iniciativas para a saúde da mulher no SUS, com foco nas cerca de 61 milhões de brasileiras em idade fértil. Nos postos de saúde, é introduzido o teste rápido de gravidez. Confirmado o resultado positivo, será garantido um mínimo de seis consultas durante o pré-natal, além de uma série de exames clínicos e laboratoriais. A introdução do teste rápido, inclusive para detectar HIV e sífilis, permite o diagnóstico precoce e a adesão ao tratamento. Desde a descoberta da gravidez até o parto, as gestantes devem ter acompanhamento e saber, com antecedência, onde vai dar à luz. As grávidas receberão auxílio para se deslocar até os postos de saúde para realizar o pré-natal e a maternidade na hora do parto, com vale-transporte e vale-taxi. Nas unidades hospitalares haverá a criação de novas estruturas afim de proporcionar a garantia de sempre haver vaga para gestantes e recém-nascidos nas unidades de saúde. A Rede Cegonha também prevê a qualificação dos profissionais de saúde que darão a assistência adequada as gestantes e aos bebês. Entre as novas estruturas estarão as Casas da Gestante e do Bebê, que dará acolhimento e assistência às gestantes de risco, e os Centros de Parto Normal, que funcionarão em conjunto com a maternidade para humanizar o nascimento. 71
Programa Mãe Coruja Criado em 2007, por meio do decreto de n°30.859, o Programa Mãe Coruja Pernambucana está presente em 103 municípios do estado. O objetivo é garantir uma boa gestação e um bom período posterior ao parto às mulheres, e às crianças o direito a um nascimento e desenvolvimento saudável. A ação busca reduzir a morbimortalidade materna e infantil, assim como estimular o fortalecimento dos vínculos afetivos entre mãe, filho e família. Em 2009, o governador do estado transformou o Programa em Lei, por meio da Lei de n°13.959, de 15 de dezembro de 2009. Com uma rede de ações intersetoriais que inclui o trabalho de sete secretarias de estado, o Programa atua nas áreas de saúde, educação, desenvolvimento social e assistência. As ações são desenvolvidas por meio dos Cantos Mãe Coruja, espaços físicos que estão presentes em todos os municípios com mortalidade acima de 25 para cada1000 nascidos vivos. Cada canto Mãe Coruja conta com dois profissionais para cadastrar e acompanhar as gestantes e seus filhos, articulando as ações das diversas secretarias estaduais, municipais, sociedade civil organizada e parceiros, criando assim uma rede solidária para o cuidado integral da gestante, filho e família. No sentido de monitorar, visualizar necessidades e encaminhamentos, foi criado um sistema de informação por onde se faz o monitoramento das ações. O Programa tem como objetivo cuidar da gestante e da criança, através da articulação com a rede de saúde existente no município e, após o nascimento, a criança também passa a ser acompanhada pelos profissionais dos Cantos Mãe Coruja até completar cinco anos de idade. Além da implantação e equipagem dos Cantos Mãe Coruja, o programa investe também na estruturação de equipamentos para utilização nas maternidades por meio de convênios com os municípios. Dentro das ações desenvolvidas pelo Programa, mantém um calendário de capacitações para profissionais de saúde dos municípios onde o Programa atua, nas áreas de saúde da mulher, parto humanizado, imunização, aleitamento materno, segurança alimentar e nutricional, monitoramento da criança de risco, entre outros. Há, também o incentivo à investigação do óbito materno, fetal e infantil. (Linha de base: Programa porto das crianças – projeto sobrevivência (rb) - “Salvando as vidas de crianças no Nordeste do Brasil, Petrolina, agosto de 2013). 72
Referências
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- Plano de ação para acelerar a redução da mortalidade materna e morbidade materna grave PAHOOMS. Washington DC 2011 bvs.minsa.gob.pe/local/ MINSA/2417.pdf. - Resolução Cofen nº 477/2015 (Conselho Federal de enfermagem) – Dispõe sobre a atuação de Enfermeiros/as na assistência às gestantes, parturientes e puérperas. - SANTOS, Amara; CARRICONDE, Celerino; MORES, Diana. Terra Viva: Terapias Complementares e Integrativas. Olinda. Editora Babeco, 2011. - SZWARCWALD, Celia L. Estimação da razão de mortalidade materna no Brasil, 2008- 2011. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 30, supl.1, p. S71-S83, 2014 Disponível em: <http://www.scielo.br> - Violência no parto e violência contra a mulher Dossiê, Denúncia à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais Belo Horizonte, 2012. Disponível em: http://www.abenfomg.com.br>
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