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EDIÇÃO 80 - DEZEMBRO 2013
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EDITORIAL
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ENTRE UMA HASHTAG E OUTRA O celular toca. Eu respondo ao seu chamado. Já que estou com ele em mãos resolvo conferir meus e-mails. A caixa de entrada está cheia e contém desde conteúdo corporativo até propaganda de fanpage de Brechó. Aproveito para dar uma passada no meu WhatsApp e me deparo com uma discussão em um dos grupos dos quais faço parte. A briga pela data do próximo encontro da turma está acirrada. Deixo minha opinião, claro. Enquanto espero pela resposta dos queridos, dou um pulinho no Facebook para ver as novidades. A tirinha do André Dhamer e o post do Updateordie salvaram a timeline. Push! Através da notificação estou de volta ao “Whats” para ver a repercussão do meu comentário. A data nem foi escolhida, mas a confusão esquentou. Prefiro voltar mais tarde. E já que a temperatura aumentou, resolvo ir até o Twitter para ver as notícias que acabaram de sair do forno. Opa! Tem crônica nova do Prata no site da Piauí. Clico no link e reservo a leitura para depois. Enquanto leio uns tuítes e ignoro outros, dou de cara com a foto compartilhada pelo Instagram da amiga em férias na Califórnia em plena segunda-feira (#ingrata). Vou direto pra lá. Entre um post motivacional e uma foto conceito de café – início de semana pede -, tomo um susto. Eu que já cruzei o Atlântico, ainda não consegui sair da cama. #nãotáfacilpraninguém
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Depois desse relato, eu nem precisaria dizer que a edição deste mês aborda a internet como tema central. E se, entre uma hastag e outra, você conseguiu se enxergar neste texto, o mesmo irá acontecer no decorrer das colunas da revista. O conteúdo está digno de likes e comments e como nunca falta novidade no universo virtual, por aqui não poderia ser diferente. Deixe o smartphone de lado, siga até a próxima página, conheça os novos colunistas que chegaram agregando valor à Foccus e aproveite a leitura.
FICHA TÉCNICA Editora Chefe: Kilze Teodoro – kilze@foccusrevista.com.br Diretor Executivo: Murilo Borges – murilo@foccusrevista.com.br Projeto Gráfico: Juicebox Publicidade e Propaganda – (64) 3661-1960 Direção de Arte: Andre Rezende, Leonardo Martins e Tiago Batista Produção Gráfica: Gráfica Mineiros – (64) 3661-1862 Comercial: Larissa Lima – (64) 9615-4441 Circulação: Mineiros, Goiânia, Rio Verde, Jataí, Alto Araguaia, Alto Taquari, Chapadão do Céu e Chapadão do Sul Endereço: Avenida Ino Rezende, Qd. 12, Lt. 11, Piso 02, Setor Cruvinel, Mineiros-GO, CEP 75830-000
A HORA DO SHOW
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COLABORADORES:
GUILHERME SANTANA
MARÍLIA BILÚ
DANILO XIDAN
Coveiro por opção. Pai por paixão. Glutão por convicção. santanagui@hotmail.com santanagui.blogspot.com
Professora de inglês, graduanda em História pela Universidade Federal de Goiás, colunista do site GOTOGO e da Revista Foccus.
Publicitário e gourmet viajante. Um mochileiro maluco que curte Comer e Viajar. Acompanhe www.facebook. com/comereviajar2 e @comereviajar no Instagram.
GUMA
MICHEL EDERE
PABLO KOSSA
Conhecido também como João Marcelo, estuda Publicidade e Propaganda na ESPM-SP. Resolveu provar seu amor pela boa culinária abrindo um blog gastronômico e se oferecendo para almoçar na casa dos outros.
Nascimento: 11 de Abril de 1980. Original de Goiânia. Pai: Piauiense. Mãe: Crente. Escolaridade: “fui até onde deu”. Profissão: Ariano.
Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG.
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A HORA DO SHOW
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ÍNDICE
Senta Que Lá Vem História |
GUILHERME SANTANA ............................................................................................
PABLO KOSSA .........................................................................................................
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KILZE TEODORO .................................................................................................................................................................
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Tudo ao Mesmo Tempo Agora | CAPA |
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Entre Olhares |
MICHEL EDERE ...............................................................................................................................................
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Espaço Aberto |
TÂNIA MARA DE CARVALHO .................................................................................................................
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Comer e Viajar |
DANILO XIDAN ...........................................................................................................................................
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GUMA ............................................................................................................................................
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MICHEL EDERE ............................................................................................................................................
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MARÍLIA BILU ..................................................................................................................................................................
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Refogando as Mágoas | Nos Bastidores | Lado B |
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SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA
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SER OU APARECER? EIS A QUESTÃO “Num átimo de segundo a notícia se espalhou pela internet. Viral. Uns acharam um absurdo. Outros acharam divertido. Outros acharam fantástico. Todos acharam alguma coisa.” TEXTO POR GUILHERME SANTANA
Era uma vez um garoto de classe média nascido no estado de Ontário no longínquo Canadá. Os pais, precocemente, notaram no pequeno menino uma aptidão musical. Aos três anos já dominava a bateria e aos seis, o violão. Tudo girando ali no círculo familiar, pois a mãe, cristã fervorosa, tinha medo de incentivar a veia artística do filho temendo os vícios e perdições do meio artístico. Melhor seria tocar na igreja. Mais seguro. Fora alguns concursos locais de talentos, o garoto seguia sua vida corriqueira canadense.
se. Procurou o jovem talento e com ele celebrou um contrato. Sua fama se espalhava. Viral. Contratos milionários e contatos com famosos. Todos queriam conhecer o fenômeno. Tudo muito rápido. Foi indicado a vários prêmios musicais e sua fortuna pessoal não parava de crescer. Tudo na mesma proporção que seus vídeos foram assistidos no YouTube. Como um rastilho de pólvora.
Quando tinha por volta de treze anos, sua mãe resolveu gravar suas atuações na voz e violão e postar no YouTube, visando que seus parentes próximos escutassem o jovem mancebo. Assim feito e assim postado. Foi aí que um fenômeno começou a mudar a vida do jovem préadolescente. A internet.
Diziam alguns meios de comunicação que sua influência nas redes sociais era maior que a do Presidente dos Estados Unidos e do Dalai Lama. Tinha um séquito de milhares e milhares de fãs ardorosas e sedentas por qualquer coisa que se referisse a sua figura. Brigavam, batiam e matavam por ele. Não desmerecendo seu talento musical (nem merecendo), mas tudo imensamente impulsionado pela internet. O catalisador que pode potencializar.
Pessoas do mundo todo começaram a acessar os vídeos. Mamãe já estava preocupada, mas continuou com as postagens. Foi então que, por acaso, um empresário do mundo da música se deparou com um dos vídeos. Encantou-
Era uma vez o mesmo cantor. Rico e famoso. Fenômeno de popularidade na internet. Resolveu fazer uma turnê em um país latino. Foi recepcionado pelo orbe de fãs enlouquecidos. Todas o queriam. Todos o queriam. Mas como a maioria
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SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA
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“Acometido de um senso de imputabilidade comum às celebridades, resolveu pichar um muro em zona nobre da cidade onde fazia show. Olha a ideia de jerico.”
dos adolescentes resolveu se divertir um pouco. Afinal essa vida de pop star cansa de vez em quando. Acometido de um senso de imputabilidade comum às celebridades, resolveu pichar um muro em zona nobre da cidade onde fazia show. Olha a ideia de jerico. Foi flagrado pelas câmeras de um fotógrafo que talvez tenha feito a vida somente com essa foto. Num átimo de segundo a notícia se espalhou pela internet. Viral. Uns acharam um absurdo. Outros acharam divertido. Outros acharam fantástico. Todos acharam alguma coisa. Comentários pipocaram nas redes sociais. Trend Topics. Não satisfeito, o pop star foi flagrado saindo de uma “casa de massagem” com duas “amigas”. Não sei se o mesmo fotógrafo, mas também irrelevante o fato. Fotos e vídeos pipocaram novamente pela internet. Mais uma vez o cantor tornou-se pivô dos comentários do mundo virtual. Bateram recordes e recordes de acesso as notícias bombásticas. Assim como a vendagem de seus discos. Tudo numa proporção geométrica até que surgisse outro viral que iria desbancar seu trono.
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Até que surgisse outro artista coletado nas vias do YouTube ou Facebook ou Twitter ou Instagram ou qualquer coisa que venha sucedê-los. E quem sabe, um dia, o jovem fenômeno voltasse ao Canadá ou acabasse sua vida afundado nas drogas e na ilusão de retorno da fama outrora conquistada. Tudo culpa da internet. O vírus que pode destruir. Era uma vez a mãe de um menino. Que pensava em criar seu filho como toda boa mãe cristã. Amá-lo, protegê-lo e educá-lo. Mas a criança conheceu o mundo virtual. Foi amor à primeira vista. E ele sucumbiu. E ela perdeu. Nesse momento não consigo deixar de me colocar no seu lugar. Pai. Guardadas as devidas proporções. Travando dia a dia uma luta insana contra a internet. O catalisador que pode potencializar. O vírus que pode destruir. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência. Ou não.
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TUDO AO MESMO TEMPO AGORA
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GERAÇÃO SUPERFICIAL “Aponte-me um jovem de tendência esquerdista, desses que ficam compartilhando coisas, digamos, engajadas nas redes sociais, que já tenha lido algum livro de Karl Marx.” TEXTO POR PABLO KOSSA
Os gregos já falavam da temperança. Aquela história do equilíbrio, de escolher o caminho do meio, de não deixar que os extremos lhe atraiam. Quando estamos falando de comportamento médio da população brasileira na internet, nunca foi tão urgente clamar por temperança. As pessoas estão se esquecendo que existe vida fora da tela. O excesso de informação a dois cliques de qualquer um transformou por completo uma geração. Para pior. Pelo que observo, a superficialidade virou regra aos que estão conectados à grande rede. A reflexão ficou mais pobre, rasa, fragmentada. O cara não consegue ouvir uma música inteira, o cara não consegue ler um texto inteiro, o cara não consegue assistir a um vídeo de cinco minutos inteiro no Youtube. Imagine ouvir um disco inteiro da primeira à última música, ler um livro de mais de 300 páginas ou assistir a um filme de mais de duas horas. Impossível. É entristecedor perceber que existe uma geração completa que nunca teve esse tipo de contato mais íntimo com uma obra de arte. Não se trata de saudosismo, de papo de tiozão. Em qualquer comparação
boba, é perceptível que essa geração é intelectualmente mais pobre, com um diagnóstico claro de déficit de atenção. Aponte-me um jovem de tendência esquerdista, desses que ficam compartilhando coisas, digamos, engajadas nas redes sociais, que já tenha lido algum livro de Karl Marx. Caso consiga, retiro o que disse. Viu só como eu não estou falando bobagem? Efemeridade das redes sociais Não sei se estou sendo apocalíptico, mas penso que o Facebook está com os dias contados. Os usuários da maior rede social da atualidade não têm mais o mesmo engajamento de alguns meses. Assim como o Twitter não reverbera mais como anos atrás e o Orkut é peça de museu, o Facebook está vendo seu ocaso aos poucos. O crescimento do Instagram engole o Facebook lento como uma sucuri e tão mortal quanto. São coisas da vida. Única coisa que não muda As opções aumentaram demais com a popularização da internet. O cardápio é cada vez mais farto. Contudo, tem algo
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TUDO AO MESMO TEMPO AGORA
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“Com muito mais atividades no mesmo período de tempo, parece que o ano anda mais rápido, parece que o último feriado foi há décadas, parece que estamos sempre atrasados, sempre por fora da última novidade.”
Meu profundo respeito que não mudou: o dia insiste em continuar com 24 horas enquanto temos o mundo inteiro no nosso smartphone. E ainda precisamos fazer coisas como há milênios, tipo tomar banho, usar o banheiro e nos locomover pela cidade para as mais variadas necessidades. Com muito mais atividades no mesmo período de tempo, parece que o ano anda mais rápido, parece que o último feriado foi há décadas, parece que estamos sempre atrasados, sempre por fora da última novidade. Discorda? Atire o primeiro mouse. Ops, alguém aí ainda usa essa coisa jurássica chamada mouse?
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Tenho um amigo que é um conceituado jornalista em São Paulo. Editor de revistas, requisitado para inúmeros freelas, convidado para diversos eventos sociais. Ele não tem celular. Não quer ser incomodado fora do horário de expediente por questões de trabalho. Outro amigo é responsável de contas corporativas de um importante banco multinacional. Só tem seu e-mail de trabalho, não tem conta no Facebook. Sabe que a tentação é cruel e não quer ser seduzido pelo oceano de mulheres graciosas na rede social. Meu profundo respeito por esses heróis da resistência de um mundo que não existe mais.
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CAPA
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A HORA DO SHOW “Aquela história de que a gente é o que a gente ouve, come ou lê, nunca foi tão verdadeira” TEXTO POR KILZE TEODORO
Respeitável público, o espetáculo já começou e nós somos a atração principal. Com o enredo marcado pelo avanço vertiginoso das tecnologias da comunicação e pelas maravilhas do universo 2.0, estamos envolvidos de ponta a ponta neste show, no qual atuamos como protagonistas, mantendo também lugar cativo na plateia. O papel de produtor de conteúdo nos cai tão bem como o de receptor e o fato de estarmos presentes em um cenário no qual podemos desempenhar mais de um papel ao mesmo tempo torna natural que o avanço deste meio aconteça mais rápido, com uma velocidade que pode ser confirmada através de informações coletadas no livro A Nova Era Digital, de Eric Schmidt, presidente do conselho administrativo do Google e Jared Cohen, diretor de ideias da empresa, que afirmam que na primeira década do século XXI, o número de pessoas conectadas à internet aumentou de 350 milhões para mais de 2 bilhões, ao passo que a quantidade de usuários de telefones celulares subiu de 750 milhões para 5 bilhões, atingido atualmente uma marca superior a seis bilhões, o que indica que, se o ritmo de
inovação tecnológica for mantido, quase toda a população mundial, estimada em 8 bilhões, estará on-line até 2025. Os dados citados podem parecer exagerados, porém se fizermos um comparativo entre a relação que tínhamos com a internet há cerca de 5 anos com a que temos atualmente, estas informações tornam-se redundantes. Estamos conectados em tempo integral em quase todos os lugares. Habitantes de aldeias da China têm o mesmo acesso à internet que temos por aqui e, com a chegada da internet móvel 4G ao Brasil, cada vez mais áreas rurais terão o mesmo tipo de cobertura dos grandes centros. A mobilidade que os Smartphones e demais gadgets eletrônicos nos oferecem acentuam esse quadro ainda mais, pois com esses aparelhos a internet fica, literalmente, ao alcance das nossas mãos, sem limite de tempo e espaço. Dentro deste contexto, cabe a reflexão de que, como tudo na vida, a internet é aquilo que fazemos dela. Tanto é, que Conrado Adolpho, autor do livro Google Marketing, relatou que sempre começa suas palestras com a frase: “A internet não é uma rede
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CAPA
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de computadores, é uma rede de pessoas”. Na minha opinião, ele não poderia ter se expressado melhor, afinal nossas individualidades e particularidades estão presentes em todos os aspectos do modo como nos relacionamos com a rede e através dela, envolvendo desde os e-mails que trocamos até a clássica pergunta “você tem WhatsApp?” para a paquera em potencial ou qualquer pessoa com quem desejamos manter contato. Pode até parecer papo batido de teoria da conspiração, mas cada postagem publicada ou compartilhada na internet diz muito sobre cada um de nós. Os sites que visitamos, as músicas que baixamos, as plataformas digitais que utilizamos e a maneira como nos comportamos virtualmente constituem informações preciosas para as mais diversas curadorias digitais, pois destacam nossas preferências e interesses, tornando mais fácil traçar o nosso perfil. Diferente do que acontece no plano físico, os caminhos que percorremos na rede ficam registrados, quer queiramos ou não. Consequentemente, nossa identidade virtual é criada a partir do conteúdo que geramos e consumimos nesse ambiente, por isso é fundamental que se tenha critério na navegação. Aquela história de que a gente é o que a gente ouve, come ou lê, nunca foi tão verdadeira, pois a internet nos oferece a possibilidade de ter múltiplas personalidades no mundo virtual. Neste sentido, o ciberespaço pode ser uma extensão da nossa realidade física, com muito mais oportunidades de conhecimento e relacionamento, como também pode ser arena fértil para as nossas vaidades e desejos mais sórdidos. As redes sociais configuram uma amostra
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clara do nosso comportamento neste ambiente. Com a promessa de manter pessoas conectadas em torno de valores e objetivos comuns, as redes sociais cumprem muito bem o seu papel frente aos mais variados tipos de público aos quais se destina. Com elas podemos reforçar nossa personalidade ou a que gostaríamos de ter, estreitar relacionamentos, conhecer a intimidade dos nossos ídolos, dar vazão às nossas pretensões e às nossas mágoas, como também podemos tornar público o que faz parte da nossa rotina. Não existem limites. O nerd retraído da escola pode ser o criador da fanpage mais popular do momento, a garota tímida pode passar uma imagem descolada no WhatsApp, assim como chicleteiros de carteirinha podem destacar o blues como preferência musical nos perfis sociais. No mundo 2.0, nós comandamos o espetáculo, mas ainda não conhecemos as regras. Aqueles que já tiveram conteúdo indevido viralizado nas redes sociais já entenderam que, neste meio, não dá pra contar com a sorte, assim como muitos que ficaram famosos por conta de vídeos publicados no YouTube descobriram que o sucesso chega com um curto prazo de validade. Basta lembrar que a família do “Para Nossa Alegria” caiu no esquecimento, a Luíza voltou do Canadá, enquanto o Alexander de Almeida está abrindo espaço para outras pessoas agregarem valor ao camarote. Esses e muitos outros exemplos deixam claro que a maior parte do sucesso obtido através da internet não consegue escapar do popular conceito de 15 minutos de fama e, muito provavelmente, aquelas pessoas que despontaram através da rede
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e conseguiram manter a fama fora dela, teriam se destacado de qualquer maneira, afinal já existiam artistas, profissionais e personalidades de destaque antes do universo virtual fazer parte da nossa realidade. E já que falamos em regras, por ser o maior espaço sem governo do mundo, a internet tem se tornado palco de uma guerra velada pelo poder, em que países e grandes empresas de comunicação disputam pelo controle deste meio. No Brasil, por exemplo, o projeto chamado Marco Civil da Internet, que defende a liberdade de expressão, privacidade e neutralidade da rede, continua sem data para votação, fornecendo assim, mais poder às organizações de telecomunicações do país, que pretendem controlar ainda mais o tráfego virtual, formatando a nossa maneira de navegar na internet. Se nada for feito, em um futuro breve, ao invés de pagarmos por velocidade de acesso, poderemos pagar por pacotes com conteúdos específicos, de modo bastante semelhante a programação oferecida pelas TVs a cabo. Hipoteticamente, ou não, um pacote que ofereça acesso ao YouTube e ao Instagram (ou a rede social popular do momento) poderá ser o dobro do preço. Para aumentar ainda mais o clímax dessa história, vale ressaltar que o objetivo dessas empresas vai além de uma nova formatação para o acesso à internet. Elas querem o pacote completo e quem afirmou isso em claro em bom tom foi o representante do SindiTeles Brasil, na Campus Party 2013 (um dos maiores eventos de tecnologia do mundo). Ele explicou que o conceito de neutralidade
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do grupo compreende oferecer uma gama de serviços e comercializar prioridade de tráfego, com direito de acesso aos nossos dados de navegação. Afirmar que o modelo de neutralidade preconizado pelas gigantes da telecomunicação do país está muito distante do que a grande maioria dos usuários deseja é até pleonasmo, contudo acreditar que aprovação do projeto Marco Civil da Internet irá resolver todos os problemas dos internautas é ingenuidade, pois sabemos muito bem que boa parte dos assuntos que envolvem a esfera jurídica no país acarreta burocracia e morosidade. Como exemplo, temos o próprio projeto que está em pauta desde outubro de 2009 e, ao que tudo indica, sua votação será adiada para 2014. Assim sendo, não restam dúvidas que as discussões sobre internet, no Brasil e no mundo, estão apenas começando e que milhares de capítulos dessa história ainda estão por vir. Porém, vale evidenciar que se o cenário citado se confirmar, podemos nos preparar para tirar do roteiro as pautas que envolvam a promessa de inclusão digital e democratização do conhecimento, pois só continuarão sendo protagonistas desse show aqueles que conseguirem bancar o espetáculo.
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ENTRE OLHARES
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PARA A SUA FOTO TEXTO POR MICHEL EDERE
Um porta-palavras Uma foto cheia delas Cheia de histórias Dentro destas Outras antes daquela tatuagem. E poderíamos dizer que o cabelo Daquele jeito penteado Deve ter mais Lá na frente Algum significado. O perfil nos entrega O rosto que vem de “cara” Nos impõe E quem de costas se vai Quer descoberta.
Vida Sorriso Andar E desejo Mas se recortada Vai logo parar no Facebook. E se alguém curte São outras palavras Ela se distrai E vira vaidade. Perde a graça E pode cair em redes Desgraça.
E fotografia tem vida? Passa o tempo, ela muda? Muda diz mais Seja colorida Ferida na lateral Reduzida na carteira Preto e branco para artista. Ela tem querida...
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ESPAÇO ABERTO
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TECNOLOGIA, SIM. PROFESSOR, TAMBÉM. TEXTO POR TÂNIA MARA DE CARVALHO
Tecnologia e educação sempre caminharam paralelas na história da humanidade. Para entendermos como isso se deu, precisamos compreender o conceito de tecnologia. O termo “tecnologia” vem do grego “tekhne” que signfica “técnica, arte, ofício” juntamente com o sufixo “logia” que significa “estudo”. Tecnologia é um produto da ciência e da engenharia que envolve um conjunto de instrumentos, métodos e técnicas que visam a resolução de problemas. É uma aplicação prática do conhecimento científico cujo objetivo é tornar o trabalho do homem mais leve, facilitar sua comunicação e locomoção, proporcionando melhor qualidade de vida para o ser humano. Na busca pela sobrevivência, o homem pré-histórico utilizou da técnica para construir artefatos que, com o tempo, levou ao aperfeiçoamento das armas e utensílios. Mais tarde, na Grécia, cada técnica passa a ter um propósito em si, um significado consciente e objetivo, em oposição às atitudes subjetivas de tomada de opinião. Com a Revolução Industrial, do século XIX, a mecanização acabou
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sistematizando o conhecimento e a técnica se aliou ao uso da razão, ao saber científico e a utilização de instrumentos e materiais. Podemos afirmar então, que a tecnologia é tão antiga quanto o próprio homem. Afinal, os machados de mão e as lascas de pedra foram instrumentos tecnológicos inventados e desenvolvidos pelo homem pré-histórico com o objetivo de superar dificuldades. Da pré-história à modernidade, as tecnologias evoluíram junto com o homem. Nos tempos mais remotos, o homem utilizava suas ferramentas para satisfazer suas necessidades no instante em que as dificuldades apareciam e não havia grandes preocupações com o futuro. Com o advento das cidades, ele cada vez mais foi se aprimorando em seus conhecimentos e, com o tempo, passou a também “criar necessidades”. Assim, já no período moderno houve uma sofisticação tecnológica, pois as ferramentas criadas já não visavam a busca pela sobrevivência, mas sim a preocupação com o futuro, criando a necessidade de consumo. Sendo assim, o homem avançou para modernidade procurando melhorar sua capacidade de encurtar deslocamentos,
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acumular informações, facilitar e agilizar a comunicação. Enfim, da necessidade de subjugar a natureza para sobreviver surgiu o interesse de vencer os próprios desafios em busca de uma tecnologia avançada que facilitasse a vida das pessoas em todos os sentidos. E a educação? Podemos aplicar tecnologia à educação? A linguagem permitiu que o homem se apropriasse do conhecimento facilitando as relações e interações socioculturais. Para estabelecer essas relações sociais e subjugar a natureza, o homem fez uso de tecnologias, das mais rudimentares às mais modernas. Por meio da tecnologia, tornou-se possível transmitir e aperfeiçoar o conhecimento. No espaço educacional, passamos pela fase do quadro negro, giz, mimeógrafo, caleidoscópio e retroprojetor para a era digital. Nessa era da tecnologia digital, tem-se a impressão de que o professor é figura decorativa, dispensável e substituível pelos recursos tecnológicos. Houve um tempo em que o professor era responsável por intermediar o conhecimento e o aluno. Com o avanço da informática, a situação mudou. Hoje, qualquer pessoa possui acesso a diversas fontes de pesquisa, oriundas da Internet. A questão é que nem todas as fontes virtuais são confiáveis, cabendo ao professor a tarefa de orientar e desenvolver no aluno um senso crítico capaz de selecionar o que lhe for relevante.
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Portanto, o professor é figura indispensável no uso da tecnologia em favor da educação, afinal é ele a pessoa adequada para orientar onde buscar informação, como tratá-la e como utilizá-la. Mas, “Quem educará os educadores?” (MORIN, 2005 p.23). O questionamento do filósofo francês Edgar Morin nos remete à necessidade de incluir o estudo das novas tecnologias nos cursos de formação de professores. Recebendo formação adequada, o professor estará apto a perceber como a tecnologia pode ser útil a ele. Neste século XXI, esperamos que o professor seja o profissional que ajude a entrelaçar a trama do desenvolvimento individual e coletivo e que saiba manejar os instrumentos que a cultura irá indicar como representativos dos modos de viver e de pensar civilizados. Esses novos tempos trazem ferramentas diferentes e desafiadoras. Portanto, o campo educacional desafia esse novo docente. Ele deverá buscar permanente formação crítica e um repensar constante sobre sua prática, para se tornar capaz de manusear os novos aparatos tecnológicos, produzir ideias interessantes e disseminá-las entre a comunidade estudantil, incentivando e orientando os educandos em suas buscas, necessidades e aspirações.
TÂNIA MARA DE CARVALHO é pedagoga, especialista em psicopedagogia da educação e interdisciplinaridade educacional. Professora e coordenadora do Colégio Ágape há 16 anos.
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COMER E VIAJAR
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E COMEÇA A VIAGEM “Foram dias deliciosos, de sabor intenso, que harmonizei: reencontros + aventuras turísticas + avental na cozinha.” TEXTO POR DANILO XIDAN
“Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão.” Aposto que a maioria, principalmente os mais novos, nunca cantarolou esse ditado da forma correta. E olha que só fui descobrir que não é “esparrama”, pouco agora, com um agrônomo de Paraguaçu Paulista, que depois de 16 anos voando alto decidiu aterrissar a barriga no fogão.
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principal. Daí pra frente foram momentos de risadas com as histórias de cozinha, diversos pratos à base de peixe e muita louça para lavar. Ái, minhas costas.
Acabo de começar a espalhar o Comer e Viajar pela cidade onde a ideia do projeto nasceu. Mineiros. (Para os já perdidos, Comer e Viajar é um mochilão culinário que estou fazendo pelo Brasil. Acesse www.facebook.com/comereviajar2 e fique por dentro). A ideia me brotou quando morava na cidade, em agosto de 2013. Em novembro, já um viajante, regressei para trabalhar no Cais Restaurante. Foram dias deliciosos, de sabor intenso, que harmonizei: reencontros + aventuras turísticas + avental na cozinha.
Durante o dia, dava um tempo na saudade junto com as pessoas que gosto. Entre bons cafés e outros melhores, abracei amigos, visitei os lugares que me sentia bem em frequentar, e aproveitei para contemplar as belezas naturais que aqui existem. Cachoeiras únicas que, se pudesse, Pirenópolis sonharia em ter. Pinguela e Dois Saltos. Monumentos que se para embasbacado ao olhar. Sempre quando sento em frente a uma cachoeira, começo a pensar a quanto tempo aquela imensa quantidade de água já corre por ali. Quanto já não se passou e ela está lá, a centenas de anos, desabando em beleza. Deve ser por isso que depois que voltamos para cidade, a sensação que fica é de que lavamos a alma.
Chegando à cidade, fui logo ao restaurante começar os trabalhos, o Alexandre, o dono, que é ex-piloto, já foi me deixando a par de tudo na cozinha. E, o agrônomo que virou peixe, começou a preparar a especialidade da casa, que vai Pintado como ingrediente
Nos 9 dias que passei em Mineiros, posso dizer que vivi um resumo dos 5 anos que já havia vivido. Angústia. Alegria. Confraria. Trabalho. Suor. Música. Musa. Relógio da Rotatória da Índia quebrado. Apagão. Teve sim, e teve não. Teve vida, teve morte.
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“Confesso que Mineiros ainda é um mistério para mim. Daqueles que acho que nunca vou entender. Por isso a acho tão intrigante.”
Mineiros é uma cidade que já dá pra ser vista lá do posto 71, quase 30 km, é muito longe. É uma cidade que todos desdenham, mas vocês conhecem o ditado. É uma cidade que poucos moradores conhecem a sua história, mas é uma cidade de muitas histórias. Confesso que Mineiros ainda é um mistério para mim. Daqueles que acho que nunca vou entender. Por isso a acho tão intrigante.
Daqui, meu destino é Goiânia. O Comer e Viajar sai de onde nasceu e espalha a rama para minha terra natal. Lá continuo minha jornada, em busca de novos sabores e de novas vivências. Comei e viajai!
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REFOGANDO AS MÁGOAS
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HOJE EU TÔ POLÊMICO “É, galeroso, o paraíso provavelmente tem uma pamonharia goiana que vende coca-cola KS (a boa e velha garrafinha de vidro).” TEXTO POR GUMA
Quem sai de Goiânia para desbravar os limites deste louco mundão vive um drama recorrente que é nada mais, nada menos que: encontrar uma pamonha boa, ou seja, a pamonha goiana! Em São Paulo as pessoas que saem de Goiânia sofrem, pois a pamonha existente aqui é a famosa pamonha de Piracicaba. Pamonha que comi poucas vezes e vou dizer (porque eu não só “tô”, como eu sou polêmico) que a pamonha de Piracicaba tem sabor de derrota. Pamonheiro_Piracicabano_18cm diz: - Por que você não gosta da nossa pamonha? Vou te esfaquiar. Att. - Calma, leske! Nem é tão ruim, é só pra causar um frisson. A receita da pamonha de Piracicaba leva açúcar e eu vi algumas receitas na internet em que coloca-se até leite. É uma pamonha mais consistente, com elementos que me incomodam bastante, mas tenho de confessar que os detalhes da palha do milho que servem para embalar as pamonhas são mais caprichados, mais bonitos e bem feitos.
E daí? A goiana, além do queijo minas que a recheia de forma divina com variedade de sabores como: sal, doce, à moda, frango com guariroba (“gueróba”), todas elas com queijo, só paga cinquenta centavos, a massa do milho é só milho com molecagem e malemolência. É, galeroso, o paraíso provavelmente tem uma pamonharia goiana que vende cocacola KS (a boa e velha garrafinha de vidro). Tem dias que eu acordo pensando que se eu fosse um mulher grávida meu filho(a), com certeza, iria nascer com uma cara de pamonha à moda. Solução para criança chata seria uma colherzinha de manteiga, pimenta na cabeça e depois terminar de castigá-la com garfadas. Mal posso esperar para voltar a cidade de Leandro & Leonardo e Star Chic para desfrutar deste prato feito com o ouro dos cereais.
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IMAGEM
NOS BASTIDORES
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DE 15 EM 15, UM CURTIR “Temos um talento nato para nos pintarmos muito bem no mundo virtual. Mas cá como lá, deixamos escapar algumas verdades.” TEXTO POR MICHEL EDERE
Quem antes queria alguns minutos de fama, hoje só deseja “likes” e “comments”. Quem precisa de 15 minutos de fama se pode ter o glamour da popularidade nas suas famigeradas redes sociais? Para revistas de socialites, agora temos álbuns infinitos no Facebook. Temos Instagram para mostrar o que você come, quem você come e até o que você vomita. Por vezes, tudo isso literalmente. Esqueça os xvideos (se você não sabe o que são xvídeos, ainda tem muito o que aprender sobre o mundo virtual e suas maravilhas). Para algo mais picante, contundente e pornográfico, temos o WhatsApp. E por aí vai, meus amigos. Novas formas de agir como sempre. É assim que agimos nos meios virtuais. Como sempre agimos na vida. Lá como cá, somos arrogantes, vaidosos, gostamos de falar da vida alheia e somos vertiginosamente hipócritas.
- Tenho espaço. E como todo bom menino que tem espaço neste país, eu falo. E falo muito. E posto muito também. Reflete um pouco da minha personalidade. Mas como estava dizendo antes: “Somos vertiginosamente hipócritas”. Temos um talento nato para nos pintarmos muito bem no mundo virtual. Mas cá como lá, deixamos escapar algumas verdades. Deixamos escapar alguns vídeos ou fotos por vingança. Deixamos a libido nos fotografar. Deixamos um ou uma ex, a cada curtir, saber com quem iremos transar. E temos sim, sempre, uma “velha opinião formada sobre tudo”. Como esta daqui.
E o que me interessa a sua opinião? Quem é você para me dizer alguma “verdade”? Você deve estar se perguntando. Eu respondo:
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LARA “Preferia a fala, a fala alta, preferia o contato, preferia o abraço e o aperto de mão. Trocava, facilmente, os emoticons pelas caretas da vida real.” TEXTO POR MARÍLIA BILU
- Lara, como te acho no Facebook? - Eu não tenho Facebook. - Como assim você não tem Facebook? Você não vive então, né? - Muito pelo contrário, vivo muito. Lara nunca entendera toda essa necessidade de Facebook. Para ela, Facebook era apenas uma ferramenta moderna que tirava a vida das pessoas. Nunca entendera pra que ficar na frente do computador e mais ainda de um celular vendo aquelas coisas sem sentido que algumas pessoas postavam. Saber da vida alheia pra quê? E falar da sua vida pra alheios mais “pra quê?” ainda. Ver comentários desnecessários e criar inimizades e ódio de pessoas que você mal conhece, à toa. Não conseguia entender como todo o programa de um tal de Mark Zuckernãoseidasquantas tinha tomado conta da vida de quase toda a humanidade. Não entendia como suas amigas faziam vários comentários da vida de uma pessoa e como elas tiravam conclusões das vidas de outras meninas por causa de uma “curtida” ou por causa de um “compartilhamento”.
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- Então me dá seu WhatsApp. - Também não tenho. - Não é possível. Pois ela achava muito possível. Não via sentido em como uma coisa que, por mais que facilite o contato com uma pessoa que está longe, afaste tanto as que estão perto. Não suportava estar conversando com uma pessoa, e de repente essa parar tudo o que está fazendo ou falando, para poder digitar, incrivelmente rápido, uma mensagem para uma que nem perto está. E depois disso, voltar pro planeta Terra e dizer “o que eu estava falando mesmo?”. Nunca entendera o porquê que, dentre tantas conversas incríveis e legais ao seu redor, sua amiga parava para mostrar um vídeo engraçado que acabara de receber no tal do WhatsApp. Pra ela, “What’s Up?” era só para cumprimentar pessoas ao vivo. Sempre dizia que quem quisesse falar com ela, ligaria. Ou melhor ainda, a encontraria num bar para botar o papo em dia acompanhado por uma cerveja gelada. Como antigamente.
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E ao perguntarem se ela vive bem, ela responde que sim. Que vive incrivelmente bem e muito mais vivamente que muitos que têm todas as redes sociais do momento. Não via lógica naquele aparelho miserável que, por mais que facilitasse a vida das pessoas, ao mesmo tempo deixava as coisas tão mortas. Preferia a fala, a fala alta, preferia o contato, preferia o abraço e o aperto de mão. Trocava, facilmente, os emoticons pelas caretas da vida real. Achava o cúmulo ver pessoas que não eram nem um pouco legais se tornarem personagens incríveis na rede social. E achava muito engraçado essa personagem arranjar tantos “seguidores”. Seguidores. Ria toda vez que parava pra pensar no novo sentido dessa palavra. Pessoas que deixaram de seguir pessoas pelo que realmente são, por personagens que só existiam no mundo virtual. E sempre perguntava: que mundo virtual e que mundo é esse? Fotos bonitas, frases mais ainda para esconder as tristezas e as feiuras da vida.
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Porém, tinha uma coisa que gostava. Gostava do tal do Skype. Achava o Skype incrível. O Skype, por mais que tenha todos os ademais e pormenores, aproximava, de fato, as pessoas que se encontravam longe. Não era uma mensagem desnecessária pra encher o tempo naquele momento tedioso. Era a pessoa, a própria pessoa, recheada de saudade, conversando com ela. E dava pra vê-la, sorrindo, chorando, contando casos. Lara adora a proximidade. E por isso se pergunta sempre como que as pessoas de antigamente viviam sem o Skype. Como os pais de antigamente deixavam seus filhos irem embora para outro canto sem verem seus rostos praticamente todos os dias. Como as amigas próximas moravam longe e mantinham a amizade sem verem as rugas da outra aparecendo e ainda rir disso. O Skype pra ela era o melhor da tal da Internet, uma vez que, segundo ela, fazia o amor que tá longe ficar perto. E mesmo sendo a única das amigas que não tinha nenhum tipo das novas ferramentas do mercado tecnológico, era uma das poucas que eram indispensáveis.
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“...Lara era quem sabia o verdadeiro sentido dos velhos conceitos de curtir e compartilhar. Curtia a vida como ninguém e compartilhava os momentos ao vivo e a cores...”
Por mais que não participasse dos grupos insuportáveis do WhatsApp, ou das marcações intermináveis do Facebook, era sempre chamada e lembrada. Lara recebia provas de amor e de amizade todos os dias. Os amigos gastavam seus preciosos créditos para poderem saber como ela estava, fosse via o velho SMS ou por meio de uma rápida ligação. Lara sabia dos benefícios da internet, mas também sabia dos seus malefícios. E sabia mais ainda como a vida era bela sem toda essa tecnologia envolvendo a vida das pessoas. E a pergunta que nunca saía da sua cabeça era: “Será que as pessoas se lembram que há alguns anos todos nós vivíamos sem tudo isso e era bom também?” E ria horrores toda hora que alguma amiga dizia “Não sei como você vive sem Face”, sempre respondendo “Não sei como você vive com.” Lara vivia leve, leve. Não tinha picuinhas do tipo “a Madalena curtiu a foto do meu namorado”. “O meu namorado posta fotos desnecessárias e ainda curtiu a foto da biscate da vizinha”. “João iniciou uma amizade com Maria - mas como? Por quê?
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Onde se conheceram? Quem adicionou quem?” Ela tinha preguiça disso tudo. Ficava tranquila, tranquila hora que as amigas vinham com esse tipo de papo pra ela. E ó que esse papo rolava sempre. Lara, sem os 1000 amigos do Facebook e os 500 contatos do WhatsApp era muito mais feliz e mais amada. Recebia ligações em todos os aniversários sem que o grande mestre da internet lembrasse os amigos do seu dia. Ela sabia o que era amigo de verdade e tinha vários. Pra ser sincera, Lara era quem sabia o verdadeiro sentido dos velhos conceitos de “curtir” e de “compartilhar”. Curtia a vida como ninguém e compartilhava os momentos bons e ruins ao vivo e a cores sem a necessidade daquele brilho que, pra ela, fazia mal para os olhos e para a cabeça. Lara torce pra que um dia tudo isso acabe, ou que, como todo o resto, saia de moda, sem deixar de se perguntar, porém, qual será a próxima amarra tecnológica da sociedade que encherá os bolsos de algum nerd de dinheiro.
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