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EDIÇÃO 86 - AGOSTO 2014
SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA O cheiro da nostalgia
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TUDO AO MESMO TEMPO AGORA O Brasil após a Copa NOS BASTIDORES Sobre (des)amores P PENA E PINCEL A origem do mundo GORDUROSA Carta a Odair José RODA D’ÁGUA Pena de morte POPCORN TIME Seriados que você precisa conhecer LADO B Sete a um
GERAÇÃO SAÚDE ?
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EDITORIAL
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RECEITA DE CONTEÚDO SAUDÁVEL As possibilidades de criar conteúdos e dar voz a opiniões pessoais e coletivas através da internet destacam um cenário em constante mutação, que vem dividindo atitudes e opiniões.
e as finalidades desta nova tendência denominada como “Geração Saúde” que, por sua vez, está intimamente ligada à rede, pois consegue cada vez mais novos adeptos através dela.
A aprovação do Marco Civil da Internet, que ocorreu em abril deste ano, é um claro sinal de que a rede não poderá mais ser tratada como “terra de ninguém”, pois os direitos e deveres dos seus usuários já estão sendo desenhados. Mas enquanto este cenário não estiver bem claro e o imediatismo for maior que o bom senso, muita gente vai continuar criando e espalhando conteúdo de maneira indiscriminada na internet.
Dentro dessa abordagem, equilíbrio tornase sinônimo de saúde e o bom senso vem a ser a prescrição mais adequada para o momento.
Porém, o objetivo deste editorial está muito mais distante do discurso negativo sobre a internet e muito mais próximo do apelo por seu uso saudável, que vai de encontro ao tema abordado na capa desta edição e coloca em cheque as motivações
No entanto, mesmo apostando no equilíbrio, sempre esperamos reações adversas após a leitura de cada edição, pois misturamos narrativas com opiniões bastante divergentes em colunas que abordam temas que vão da política até a arte para oferecer a você, leitor, um conteúdo cada vez mais rico. Afinal, para nós, diversidade é sinônimo de conteúdo saudável. Boa leitura!
FICHA TÉCNICA Editora Chefe: Kilze Teodoro – kilze@foccusrevista.com.br Diretor Executivo: Murilo Borges – murilo@foccusrevista.com.br Projeto Gráfico: SOU Propaganda – (64) 3661-1960 Produção Gráfica: Gráfica Mineiros – (64) 3661-1862 Capa: Patricia Kaufmann
Direção de Arte: Andre Rezende Comercial: Jéssica Dias – (64) 9994-6294 Circulação: Mineiros, Goiânia, Rio Verde, Jataí, Alto Araguaia, Alto Taquari, Chapadão do Céu e Chapadão do Sul Endereço: Avenida Ino Rezende, Qd. 12, Lt. 11, Piso 02, Setor Cruvinel, Mineiros-GO, CEP 75830-000
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COLABORADORES AGOSTO/2014
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PABLO KOSSA
PEDRO LABAIG
Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG.
Pintor, formado em Filosofia pela UFG, estuda História da Arte na Universidade de Sorbonne.
GUILHERME SANTANA
MARÍLIA BILÚ
PEDRO FAUST
Coveiro por opção. Pai por paixão. Glutão por convicção. santanagui@hotmail.com santanagui.blogspot.com
Professora de inglês, graduada em História pela Universidade Federal de Goiás, colunista do site GOTOGO e da Revista Foccus.
Goianiense desde o nascimento. Jornalista pela PUC e aficionado por cinema. Redator Publicitário da Agência Casa Interativa e colunista na Revista Foccus.
ROSA FERRAZ
HUGO VAZ
MICHEL EDERE
Rosa Ferraz é uma pernambucana agridoce. Cantora, compositora e bacharel em Direito. Apaixonada em pimenta, porcos e tudo que provoca.
“Eu moro na cabeça calabouço e jogo dominó com espantalhos, guardo sete fósforos no bolso, na manga do meu truco um três de ouro e um rei na barriga do baralho.”
Nascido no dia 11 de abril de 1980, já com a profissão de ariano definida para o resto da vida, Michel Edere é original de fábrica de Goiânia. Filho de uma crente com um piauiense, estudou muita coisa, aprendeu algumas, esqueceu a maioria e não se formou em nada.
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ED. 86 - AGOSTO 2014
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ÍNDICE
Senta Que Lá Vem História |
GUILHERME SANTANA ........................................................................................... 06
PABLO KOSSA .........................................................................................................
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HUGO VAZ ...........................................................................................................................................................
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KILZE TEODORO .................................................................................................................................................................
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Tudo ao Mesmo Tempo Agora | Roda d’Água | CAPA |
Pena e Pincel |
PEDRO LABAIG ................................................................................................................................................
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Popcorn Time |
PEDRO FAUST ..................................................................................................................................................
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Nos Bastidores |
MICHEL EDERE ............................................................................................................................................
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MARÍLIA BILU ..................................................................................................................................................................
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Lado B |
GorduRosa |
ROSA FERRAZ .........................................................................................................................................................
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SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA
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MEU ARAGUAIA “Dias quentes, noites frias, coração morno. Sinto o cheiro do orvalho logo ao raiar o sol.” TEXTO POR GUILHERME SANTANA
Fecho os olhos por um instante e sinto o calor do meio da tarde surrar o ar. Quente. A sorte é que a sombra do rancho impede que o sol incida diretamente sobre minha pele. Pele já castigada pelos dias passados desafiando o astro rei. Lembro-me de Bial e seu filtro solar. Cuido-me, apesar de ser de uma geração que passava óleo de cozinha na pele para espantar os mosquitos da beira do rio. Sinto também a água morna correr entre as pernas. Metade do corpo dentro d’água e metade fora. A correnteza vai levando todas as energias negativas. Rio abaixo. Vão desembocar no mar. Diluídas. Silêncio profundo. Escuto no máximo minha respiração. Estado zen. Zen nada para fazer. Tão abstraído que me esqueci de almoçar. De propósito. Delongando ao máximo aquela sensação de contato íntimo com a natureza. Um contato entorpecente. De êxtase e de álcool. Tomei uma cervejinha. Duas. Vamos lá... várias. O calor e o suor permitem esse excesso. Aliás, o que seria da vida sem excessos, né? Chata. Preciso tomar uma decisão drástica.
Ou levanto da cadeira semienterrada na água para almoçar ou para dar um novo mergulho no rio. Mergulho. Melhor. Comida para quê? Ali já tem alimento demais para alma. Congestão. Não sinto as picadas dos insetos. Naquela altura do Rio Araguaia quase não existem mosquitos. Lembro-me onde estou. Araguaia. Meu Araguaia. Lá para as bandas do Estado do Tocantins divisa com Pará e Maranhão. Longe. Pra mais de mil e duzentos quilômetros da minha casa. Mas minha casa parece ser ali. Sinto a brisa quente bater. Ameniza o calor. Lembro-me que mais tarde ela amornará. Virá o cair da noite. Na beira da fogueira com lenha crepitando e viola desfiando. Moda da boa. Alguma coisa a assar na brasa e uma bebida quente para esquentar o corpo. E a alma. Sinto o cheiro da seresta. Mais a noitinha, barraca. Ver a lua. Ver as estrelas. Ah as estrelas... parece que lá elas são mais. Na cidade elas não brilham como no céu da beirada do Araguaia. Meu Araguaia. Sinto cheiro do sereno. Friozinho da madrugada, edredom e lanterna. Dias quentes, noites frias, coração morno.
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SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA
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“Sinto o cheiro de nostalgia. Passei quase todos os meus aniversários na beira do Rio Araguaia. Meu Araguaia.”
Sinto o cheiro do orvalho logo ao raiar o sol. Não dá preguiça de levantar cedo na beira do Araguaia. Os pássaros cantam em algazarra e o sol começa a castigar as barracas de lona.
Sinto o cheiro de cidade. Ainda estou de olhos fechados. Parece que ligaram o ar-condicionado. Mas na beira do rio? A água parece que molha minha roupa, meu sapato. Abro os olhos para me certificar.
Levanta e vai em direção ao cheiro do café. Morno. Qualquer coisa de alimento para o corpo. A alma já está enfastiada. Começa tudo outra vez.
Estou sentado no meu escritório. Só. Sinto um desapontamento desabar. Sinto vontade de chorar. Sinto muito. Não estou na beira do Araguaia. Esse ano não ganhei presente de aniversário. Mas deixa estar. Enquanto viver será meu. Enquanto viver serei teu. Meu Araguaia.
Sinto o cheiro de nostalgia. Passei quase todos os meus aniversários na beira do Rio Araguaia. Meu Araguaia. Quase não ganhava presente. Quem vai lembrar-se de levar presente para beira do barranco? Não importava. O Rio era meu presente. Justo e necessário. Parecia que éramos feitos um para o outro. Separados no nascimento.
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Grupo Folha
TUDO AO MESMO TEMPO AGORA
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O BRASIL É OUTRO APÓS A COPA “Duas convicções eram quase que um senso comum em qualquer roda de conversa: o time faria bonito dentro de campo e passaríamos uma vergonha sem tamanho no tocante à organização.” TEXTO POR PABLO KOSSA
A Copa do Mundo durou 32 dias. Passado esse período, o Brasil mudou por inteiro. É elementar que não estou falando de nosso sistema público de saúde ainda precário, a violência galopante ou a qualidade sofrível de nossas escolas públicas ou particulares. Isso tudo continua igual, uma lástima. Infelizmente. Mas nossa percepção de nós mesmos foi profundamente modificada. Nossas certezas todas foram destruídas. E isso pode ter sido o grande legado da Copa do Mundo, embora ainda seja precoce afirmar qualquer coisa nesse sentido.
Falando sobre a Copa que é jogada, a Copa de junho de 2013, a das Confederações, nos foi extremamente maléfica. A categórica vitória sobre a Espanha na final daquele torneio nos iludiu. Achamos que estava tudo pronto, que estava tudo perfeito. E o pior é que estava. Pena que um ano antes da hora. Passados 365 dias, aquele time não era mais o mesmo. Só havia sobrado o hino à capela. O que, mesmo com a feição séria, quase caricata, de Júlio César e David Luiz segurando a camisa de Neymar, cá entre nós, é pouco para ganhar um jogo.
Duas convicções eram quase que um senso comum em qualquer roda de conversa: o time faria bonito dentro de campo e passaríamos uma vergonha sem tamanho no tocante à organização. Tudo ocorreu exatamente ao contrário, pois o vexame foi nas quatro linhas e tanto turistas quanto jornalistas da imprensa internacional saíram com boas impressões da logística da Copa do Mundo. Nós, sabichões por ofício, perdemos o chão. Caímos do cavalo de tal forma que até agora não encontramos um fio da meada para nos agarrarmos. Estamos mais perdidos que o Brasil ao final daquele fatídico primeiro tempo no Mineirão.
Se formos falar de futebol, o Brasil só teve o primeiro tempo contra a Colômbia de bom jogo apresentado. No restante do tempo, venceu ou empatou mais no entusiasmo do que na bola. Quando topou com um time técnico e sem nossa principal estrela canhestramente contundida, deu no que deu. Um balaio histórico, sem precedentes. A vergonha de 1950 foi completamente apagada e substituída pela humilhante queda no Mineirão. Barbosa já pode dormir em paz, esteja onde estiver. Por outro lado, o caos previsto ficou só nas bolas de cristal apocalípticas. Tudo
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TUDO AO MESMO TEMPO AGORA
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funcionou. Aeroportos, festas da Fifa, bares, turismo, transporte… E exatamente como é o Brasil: sorridente, festivo e atabalhoado por sempre deixarmos tudo para a última hora. Um único incidente grave marcou a Copa sob o viés negativo, que foi a queda do viaduto que matou duas pessoas em Belo Horizonte. Triste. E que os culpados sejam exemplarmente punidos. Mas, não podemos deixar de reconhecer, foi pouco para o cenário de fim de mundo que esperávamos. Nesse quesito, ponto para o Brasil. O exemplo alemão - Se a CBF for inteligente (o que não é), tiver humildade (o que não tem) e instinto de sobrevivência (isso é farto), pegaria o que a Alemanha fez do ano 2000 para cá e replicaria ipsis litteris em terras tupiniquins. A seleção germânica foi eliminada na primeira fase (mas sem tomar de 7, diga-se de passagem) da Eurocopa daquele ano e percebeu que o modelo que priorizava o físico frente ao técnico e tático estava esgotado. Clubes, federação e governo uniram as forças para revelar uma nova geração de jogadores com o perfil desejado. Depois de 14 anos, o resultado está aí: levantaram a taça, venceram os que competiam em favoritismo e mostraram o melhor futebol coletivo da Copa no Brasil.
sérias, com profissionalismo na gestão financeira e fiscal, com responsabilização nas áreas cível e criminal dos cartolas que não andarem na linha. As federações precisam entender que os estaduais são deficitários, desinteressantes e não mais se justificam. Poderiam assim organizar torneios regionais dentro dos estados para que mais clubes tivessem atividade ao longo de todo ano. Por fim, a caixa preta da CBF tem que ser aberta, precisamos saber onde está sendo gasto o dinheiro dos patrocínios da Seleção Brasileira e a instituição deve investir nas categorias de base para formarmos mais atletas de qualidade. A bola e a urna - As últimas pesquisas de intenção de voto mostram que o povo é bem mais esperto do que certa intelligentsia brasileira acredita. Não tivemos qualquer interferência, nem pelo êxito na organização e nem pelo fiasco em campo, nos índices dos candidatos que possamos relacionar com a Copa do Mundo. Futebol é uma coisa, política é outra. O brasileiro sabe disso. Quem diz o contrário, ou é desinformado ou mal intencionado.
Matéria-prima para trabalharmos não falta. É impressionante que com nossa inegável vocação de jogar para frente não consigamos mais revelar meias de qualidade. Tanto que a força do meio de campo brasileiro na Seleção de Felipão era mais de pegada defensiva do que ofensiva. As escolinhas para a molecada precisam mudar, ser ampliadas para os rincões do Brasil e o governo precisa estar presente. Os clubes precisam ter gestões
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Folha de São Paulo
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RODA D’ÁGUA
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RÉU POESIA “Veio a condenação do juiz. Seria morte lenta e dolorosa, das que caem na boca e no gosto do povo, o réu seria podado.” TEXTO POR HUGO VAZ / PINTURA POR ANDRÉ MORBECK
“Meço um corpo pelo que sei sangrá-lo. Depois miro na boca querendo engolir o vazio do buraco e os dentes, o vapor do pulmão, a língua e por fim chupar garrado na úvula. Roubar o que os outros falam...”
A faca passou. O vento chega abriu caminho suspendendo a saia e fazendo um vupe de som assustado ao que viram os olhos do júri, as chagas abrindo-se aos golpes de facão amolado.
Assim assumiu o seu crime. Esteve ali sentado culpado calado esperando a sentença por eras. Cresceram-lhe várias arvoretas por sobre a pele remosa repleta de blotes de sangue ralo coagulado na derme. E por serem árvores vivas crescidas por sobre aquele seu substrato carnoso, sabia-se a seiva ser sangue. As folhas de um bege rosado eram pele fina raiada de veias e os troncos que rompiam pra fora eram feitos de osso.
Caíram os galhos e folhas todos, o homem não emitiu som, o rosto não moveu rugas, os olhos não estavam lá. Ficaram os tocos dos galhos nos caules magros ainda eretos ossudos.
Veio a condenação do juiz. Seria morte lenta e dolorosa, das que caem na boca e no gosto do povo, o réu seria podado. Teria os galhos, troncos e membros progressivamente amputados, ali mesmo na cadeira. Sangue alegria.
“...roubar o que os outros falam, tomar-lhes o rosto por meu, apaixonar-me por mim ao ser todos e cada um, vivo por esse gozo’’. E todos naquele tribunal, suspensos num tempo parado, observando o homem, esqueceram de respirar.
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GERAÇÃO SAÚDE ? “Há que se analisar quão superficial é nossa maneira de agir nas redes sociais em todos os sentidos.” TEXTO POR KILZE TEODORO
Não é novidade que a internet tornou a comunicação mais democrática e deu voz para as pessoas com acesso a ela. Tanto é que, hoje em dia, qualquer um pode gerar conteúdo em rede sem a necessidade de ser especialista no assunto abordado e essa possibilidade vem transformando hobbies em negócios e anônimos em celebridades. Dentro dessa alternativa encontramos um número sem fim de pseudoespecialistas das mais diversas áreas utilizando a rede a seu favor, sendo o universo fitness um dos setores de maior pregnância do momento. Levantando sempre a bandeira da saúde, as embaixadoras desse segmento utilizam a internet para propagar seus estilos de vida, mostrando suas rotinas de treino, alimentação e objetivos com riqueza de detalhes, para que o público possa acompanhá-las de perto e ter critérios para avaliar seus desempenhos. Usando plataformas como blogs, fan pages, sites e, sobretudo o aplicativo Instagram para falar com um público cada vez maior, as representantes do movimento fitness mais conhecidas no Brasil são Gabriela Pugliesi, baiana radicada em São
Paulo, formada em desenho industrial, que abandonou o trabalho em uma joalheria de São Paulo para se dedicar ao blog Tips4life e ao seu perfil no Instagram; Carol Buffara, carioca dona da multimarcas de roupas e acessórios Nag Nag Store e blogueira da área; e Bela Falconi, mineira residente em Orlando (EUA), que aproveitou o sucesso no Instagram (que hoje conta com cerca de um milhão seguidores) para se profissionalizar no setor - ao contrário das duas primeiras, ela possui certificado de personal trainer e cursa atualmente o segundo ano de nutrição. Além das personalidades citadas existe um grande número de indivíduos apostando na vertente fitness, seja como adeptos que buscam inspiração ou como produtores de conteúdo. Porém, o que se pode notar é que grande parte dos geradores de conteúdo que vêm alcançando sucesso na área é composta por pessoas sem formação no setor, o que reproduz uma tendência muito similar ao movimento provocado pelas já conhecidas “it girls” na blogsfera. Assim como as blogueiras de moda se fortaleceram e provaram que sua influência
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vai muito além da esfera on-line, o sucesso das porta-vozes do universo fitness pode ser verificado através do poder que seus nomes e imagens geram para as marcas que buscam cada vez mais parcerias com essas webcelebridades, que são as novas garotas-propaganda do estilo de vida saudável. As semelhanças entre esses dois mundos não param por aí e se cruzam em muitos pontos, sendo bastante normal “blogueira fit” dar dicas de moda, como o contrário. Aqui vale ressaltar que muitas delas mantêm inclusive um relacionamento muito próximo, sendo não somente âncoras de marcas em comum, como amigas dentro e fora da rede. Mas um dos maiores indicativos de sucesso desses movimentos refere-se ao fato de suas representantes serem pessoas desconhecidas das mídias tradicionais, o que torna a comunicação com o público ainda mais eficiente, pois diminui a distância entre famosos e cidadãos comuns. Com uma postura bastante carismática e proativa junto aos seus seguidores, muitas blogueiras respondem perguntas e comentários com frequência e apresentam uma linguagem bastante coloquial na produção dos conteúdos que são oferecidos em formas de dicas e recomendações, o que gera um processo de comunicação informal e proporciona uma maior identificação por parte do público atingido. Ao mostrarem que é possível se vestir em consonância com a moda e ter o tipo de corpo que antes parecia ser destinado somente às estrelas da grande mídia através de um formato de comunicação
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muito mais íntimo e intuitivo, é inegável que os autores que atendem essa demanda encontraram um ótimo filão de negócios e abriram novos horizontes para a publicidade. E é justamente a partir deste ponto que conteúdo oferecido nessas plataformas de comunicação começa a pender para o lado negativo da balança, especialmente para os usuários que não possuem capacidade para filtrar as informações recebidas, pois no momento em que essas ferramentas digitais tornam-se instrumentos de trabalho, a fidelidade de boa parte dos autores com a proposta oferecida ao público diminui, visto que a publicidade é diluída entre as postagens publicadas e aparece em forma de opiniões pessoais. Portanto, dentro deste contexto o conteúdo começa a ficar tendencioso, pois parte da propaganda feita através dessas plataformas não é claramente sinalizada e, muitas vezes, os produtos sugeridos sequer são provados pelos autores antes de ser postados. No dia 03 de fevereiro deste ano, o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) abriu um processo para investigar o blog Tips4Life, da blogueira Gabriela Pugliesi, após consumidores denunciarem que o canal estaria promovendo publicidade sem anunciá-la como tal. O julgamento ainda não aconteceu, mas o Conar explicou que só haverá punição caso seja comprovado que o blog tenha realmente inserido conteúdo pago disfarçado de editorial. Caso os produtos anunciados pela blogueira sem a marcação de publipost tiverem sido sugeridos de maneira independente, o órgão não poderá censurá-la.
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Porém, com ou sem a presença da publicidade velada, que é crime previsto pelo Código de Defesa do Consumidor, esses perfis e blogs da área podem estar influenciando muito mais que a busca pela saúde e pelo bem-estar, afinal eles continuam vendendo os mesmos padrões de beleza impostos pela mídia há tempos, apenas de uma maneira diferente, pois agora estão amparados pelo discurso da vida saudável. Eu não preciso nem explicar os motivos pelos quais os padrões estéticos impostos pela mídia são capazes de estimular obsessões e transtornos de imagem e alimentação, pois essa história você já conhece, mas é necessário dizer que esses padrões unidos ao mau uso das redes sociais através do excesso de exposição e da extrema valorização da magreza travestida de hábitos saudáveis são capazes de causar danos a uma parcela da sociedade, sim. Afinal, é muito difícil controlar a audiência na internet, portanto o conteúdo que chega para um adulto capaz de filtrar o que lhe interessa e descartar o que considera desnecessário também chega para uma adolescente que toma como regra tudo que, por exemplo, uma nova webcelebridade sugere. Além de tudo isso, a influência negativa dos conteúdos postados nesses perfis pode atingir não apenas o público receptor, como também alguns autores do gênero, pois o sucesso na rede valida seus comportamentos e os impulsionam a seguir adiante, tal como aconteceu com a gaúcha Daiane Dornelles. Com milhares de fãs no Instagram e no Twitter, a garota postava diversas fotos que ressaltavam suas formas físicas para que os seus seguidores pudessem acompanhar a sua evolução na busca pelo corpo perfeito. No
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decorrer dessa trajetória, Daiane deixou claro que se alimentava somente duas vezes ao dia, enquanto postava fotos cada vez mais magra, apresentando a concorrida barriga negativa, com o uso constante da hashtag #vamoanorexia, que identificava seu grave problema de saúde. Porém, os indícios de sua doença ficaram às margens da sua forma física que, por sua vez, era cada dia mais elogiada e desejada por seus seguidores, que legitimavam suas ações através de likes e comentários de incentivo. Levando em conta essa realidade, enquanto muitas blogueiras perdem a mão tanto no excesso de exposição, quanto na hora de ganhar dinheiro com publicidade em seus blogs e perfis de redes sociais, jovens como Daiane - que veio a óbito em agosto de 2013 por complicações decorrentes de sua anorexia nervosa - perdem a linha da saúde na busca por um padrão de beleza preestabelecido. O excesso de exposição, que garante sucesso e valida comportamentos perigosos como o da jovem citada é apenas mais um reflexo da supervalorização dos estereótipos de beleza presentes em nossa sociedade. As excessivas e constantes imagens de pessoas mostrando seus corpos em biquínis e malhas (sobretudo as mulheres), assim como a grande quantidade de selfies (autorretratos compartilhados via internet) nas academias ou onde quer que as atividades estejam sendo praticadas são um claro sinal de que a busca por aceitação e status das pessoas envolvidas neste segmento é muito maior que a busca pela saúde de fato, por isso a necessidade de ficar atenta às tendências do momento é cada vez maior.
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Para ilustrar melhor um tipo de tendência batida na rede, posso citar a origem da febre da barriga negativa no Instagram, que começou após Candice Swanepoel (modelo da Victória’s Secret) publicar uma foto mostrando seu abdômen invertido no seu perfil em novembro de 2012, o que desencadeou uma grande busca pelo tipo de abdômen da modelo por parte de mulheres de todo o mundo, além de ter causado um bombardeio de imagens na rede com a hashtag #barriganegativa desde então. Sendo aderida em um primeiro momento no Brasil pelas formadoras de opinião da área fitness, viralizando posteriormente através da adesão de suas seguidoras e simpatizantes e tornando-se, por fim, mais um padrão inadequado ao biótipo de grande parte da população. Por esses e tantos outros motivos, há que se analisar quão superficial é nossa maneira de agir nas redes sociais em todos os sentidos. Produtores de conteúdo devem levar em consideração a máxima “todo cuidado é pouco” na hora de passar adiante dicas de “saúde” que influenciam a compra de suplementos e indicam exercícios e dietas, pois como explicou Salomão Carrijo (personal trainer desde 2006, graduado em Educação Física pela UFG, pós-graduado em Fisiologia e Prescrição do Exercício, pós-graduando em Fisiologia do Exercício Aplicada a Saúde, Reabilitação e Esporte de Alto Rendimento), “dieta e treino não são receitas de bolo, precisam ser específicas para cada pessoa em função do princípio da individualidade biológica, que afirma que a dose de genéticas adicionadas às vivências físicas do cotidiano fazem com que as pessoas apresentem diferenças físicas, antropométricas, bioquímicas, fisiológicas e funcionais, por isso elas não respondem exatamente da mesma
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forma ao tipo, carga de treinamento, como também à alimentação.” Já as pessoas que consomem esses e outros tipos de conteúdo precisam filtrar cada vez mais as informações recebidas. A publicidade está mudando e atingindo formatos cada vez mais inovadores, portanto a dica da “farinha que seca barriga” passada pela nova webcelebridade do momento pode ser tão eficaz quanto pensar que adoçante emagrece. É claro que nem só de falsas promessas publicitárias e ostentação esses blogs sobrevivem. O enorme sucesso do movimento fitness também revela que muita gente consegue encontrar incentivo para realizar mudanças positivas em suas vidas, que podem aparecer de maneira sensível, como na troca do refrigerante pelo suco, como também pode envolver profundas mudanças de hábito e alimentação. E até aí tudo bem, pois a busca pela saúde é sempre válida, o que não vale mesmo é entrar no caminho do “tudo ou nada”, que é estrada certa para neuroses e transtornos que colocam o físico acima da saúde que, por sua vez, não existe sem o equilíbrio. E por falar em equilíbrio, não se esqueça dele na hora de usar as redes sociais. Seus seguidores não precisam participar de todas as suas refeições, muito menos de seus treinos, assim como a sua barriga não precisa de likes e comments para ficar negativa.
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“Condição” Óleo sobre papel 400x400mm
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BIOS XENIKÓS O MODO DE VIDA DO ESTRANGEIRO PINTURA POR PEDRO LABAIG / TEXTO POR ADRIANO CORREIA
A de estrangeiros – esta é, ao fim e ao cabo, a nossa condição, desde o princípio. A de todos, não apenas a dos que não nos julgamos peregrinos ou em travessia para algum além-mundo. Não é outra a razão de a vida ser permanente assimilação e reconciliação – se experimentada não como mero fruir ou fluir, mas como uma disposição ativa, como obra nossa. Nascemos como recém-chegados em um mundo nem tão familiar a ponto de parecer nossa casa nem tão hostil que pareça não poder sê-lo. Acomodamonos aos poucos, sendo mais ou menos bem sucedidos em grande medida pela acolhida dos que nos recebem. Atados à Terra, como quaisquer outros viventes, experimentamos as cotidianas demandas circulares do incessante metabolismo com a natureza, que chamamos vida. Mas nessa vida, em que somos apenas viventes, também não nos sentimos muito em casa. No mais remoto movimento, no mais necessário gesto, buscamos o que nos singularize e finque nossa presença como algo distinto – quase sempre sem muito sucesso, no anonimato do cotidiano. Enquanto os outros viventes parecem aderir sem
arestas ao ciclo de nascimento, vida e morte, experimentando a própria vida como uma nota no grande movimento da vida da espécie, angustiamo-nos sabendonos mortais. É nossa condição. Das nossas tentativas de fazer da Terra um lar para mortais que se experimentam como singulares, a morrer uma morte própria, surge o mundo. Nas transfigurações que fazemos no material da natureza e nos eventos que registramos em estórias como novidade nossa – ambos que não viriam a ser se não os engendrássemos – encontramos abrigo para a fragilidade de nossa existência e a fugacidade de nossos propósitos, eles mesmos contaminados por nossa mortalidade, mas também por nossa dignidade de entes únicos. Como lembra Jorge Luís Borges em um de seus contos, diz-se que nascemos aristotélicos ou platônicos – desde antes de Aristóteles e Platão, poderíamos acrescentar, eles mesmos “aristotélico” e “platônico”. Representariam duas dimensões fundamentais: uma a aferrar-se a um mundo trágico, porque contingente, e a buscar compreendê-lo e
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PENA E PINCEL
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“Das angústias do existir, das mais agudas é a de não poder não ter sido.”
dignificá-lo em seus contornos limitados e ambíguos, empregando nossas frágeis capacidades; outra a rejeitar um mundo sem lugar para absolutos, que jamais poderia ser um lar para seres como nós, parentes dos deuses... Habitantes como se aborígenes; ou transeuntes e peregrinos... Das angústias do existir, das mais agudas é a de não poder não ter sido – e talvez a maior seja a de não pertencer ao mundo, em simétrico contraste. O maior delito humano é ter nascido, lembra Pedro Calderón de la Barca, e quanto mais únicos, mais delituosos somos, e maior tem de ser a beleza a redimir nossa aparição. Das alegrias, das mais intensas é a gratidão por tudo que é como é, e por tudo que foi como foi, como se estivéssemos em casa. Das plenitudes, notável é aquela manifesta no deixar como casa o lugar aonde chegamos como estranhos – uma vida feliz, também horizonte de nossa condição.
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Adriano é um sujeito baiano de prosa mansa, filósofo e violeiro do crepúsculo. Seu trabalho é ensinar o espanto aos seus alunos na Faculdade de Filosofia da UFG. Tendo sido um deles, na condição de emboscado no mundo, tive agora o prazer de me espantar à primeira leitura deste texto que, para além do quadro, soube refundar o próprio sentido da coluna.
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EXTRA! EXTRA! EXTRA! Seriados que você não conhece, mas que já fazem sucesso. TEXTO POR PEDRO FAUST
A cada dia surgem novas atrações no mundo dos seriados, sejam elas de ação, comédia, terror, ficção científica ou drama. Com o crescente aumento da popularidade um grande número de estrelas da área de entretenimento (atores, atrizes, diretores e outros profissionais), que antes atuavam apenas em cinema e/ou teatro, tem migrado para a telinha, que agora não é mais considerada uma “arte menor”, buscando um novo espaço de trabalho. Isso se comprova através do crescimento de mídias como o Netflix e Crackle, que cobram um preço mensal para que você tenha acesso ilimitado a seriados, alguns produzidos exclusivamente para eles. Comecemos falando do seriado Penny Dreadful, que tem uma miscelânea de personagens conhecidos da literatura e amados pelos fãs de filmes de terror como Frankenstein, Dorian Gray, Van Helsing, vampiros e bruxas. Mesmo estando na metade de sua primeira temporada, já tem garantida a 2ª, que terá 10 episódios. Eva Green (ao lado), Josh Hartnett, Timothy Dalton e Reeve Carney encabeçam o elenco, que além das criaturas do mal parece oferecer sensualidade e um enredo muito bem elaborado.
Do diretor Eli Roth (“O albergue maldito”) chega uma nova série sobrenatural e cheia de mistério baseada no livro de Brian McGreevy: Hemlock Grove, que ao contrário de Penny Dreadull, mantém o foco somente nos vampiros. A história é centrada na investigação de um crime brutal e, enquanto a cidade procura pelo monstro responsável pela tragédia, todos os residentes passam a ser vistos como suspeitos, desde a nova família de ciganos até o rico clã dos Godfrey. No mundo de Hemlock Grove, todos têm segredos obscuros. Famke Janssen, Landon Liboiron e Bill Skarsgård são os principais atores. Para continuar no gênero de seres estranhos e obscuros, nada melhor que falar um pouco sobre American Horror Story, que em outubro deve estrear sua 4ª temporada. Com o título de Freak Show, a história será situada em Jupiter, Flórida, na década de 1950. Jessica Lange será uma alemã que administra um parque onde são apresentados ao público shows de horrores e aberrações. No elenco também estão confirmados os retornos de Angela Bassett, Sarah Paulson, Gabourey Sidibe, Frances Conroy e Jamie Brewer.
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POPCORN TIME
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Agora é a vez do drama. Orange is The New Black tem tido altos índices de audiência e alcançado cada vez mais fãs, principalmente mulheres. Com certeza esse interesse das mulheres tem um grande motivo: o roteiro é baseado no livro de memórias de Piper Kerman, uma ex-presidiária que se envolve em todos os tipos de enrascadas. O seriado tem transmissão exclusiva no Netflix e, logo após lançar a segunda temporada no mês de junho, já confirmou a terceira, de acordo com o diretor Jenji Kohan. Taylor Schilling, Danielle Brooks, Taryn Manning e Jason Biggs são os nomes mais fortes no elenco. Duas séries de grande sucesso, True Blood e Two and a Half Men tiveram seus finais anunciados. A primeira já está com sua 7ª e última temporada no ar, transmitida pela HBO e deve chegar ao fim em Setembro. Desde sua estreia em 2008, “True Blood” teve grande impacto com sua mistura explosiva de sexo e sangue. Em pouco tempo, a atração virou pop, inspirando um revival do terror na televisão e indo parar até na capa da revista Rolling Stone. Já a segunda estava com seus dias contados, pois, com a saída de Charlie Sheen, seu principal astro, não conseguiu alcançar os mesmos números de audiência. Portanto, elas se juntam à lista cada vez maior de séries que vão terminar depois de sua próxima temporada, que inclui também “Glee”, “Boardwalk Empire”, “Mad Men”, “Sons of Anarchy” e “Justified”.
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E, para terminar, vamos quebrar esse clima triste e sentir um gostinho do que está por vir, vamos falar das boas promessas para o segundo semestre, que são: Constantine, que acompanha o enigmático John Constantine que, ao se tornar detetive das forças ocultas tem que lutar para defender o nosso mundo das representações malignas do além; Dominion se passa em um futuro pós-apocalíptico, no qual um exército de anjos de hierarquias mais baixas, reunidos pelo arcanjo Gabriel, travam uma guerra de poder contra a humanidade; em iZombie, Liv é uma estudante de medicina que virou zumbi e agora trabalha como legista, um emprego que é uma boa solução para a sua fome insaciável de cérebros - a cada um que ela consome, as memórias daquela pessoa são incorporadas a ela. Liv também trabalha ao lado das autoridades para resolver casos de homicídio (a série é baseada nas HQs de mesmo nome da Vertigo). Na próxima edição falaremos somente sobre “Guerra dos Tronos” para te contar tudo o que você precisa saber sobre esse fenômeno.
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NOS BASTIDORES
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Nina Moghimi
NOS BASTIDORES
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TUA HISTÓRIA DE DESAMOR “Assim é a mulher. Deste tipo que orienta a gente, que escuta o vento e a temperatura é sempre quente.” TEXTO POR MICHEL EDERE
Saiu aos 7 anos de casa. Foi culpa do amor. O amor que acabou, entre pai e mãe. O pai que amava outras mulheres, que amava o Botafogo, que amava os filhos, alguns mais, outros se sentiam menos. E do Piauí pela vida ingressou. Por conta do famigerado desamor, esqueceu da mãe. À família nunca se apegou. Também pudera, o desejo se tornou o mundo. E por ele embarcou. Em 1980 foi pai. Mudaria o destino de antes? Novamente ganhou o desamor. Três anos depois havia largado o exército. Não amava, não tinha como. Havia largado a morena, disse que sim, mas não era. Havia largado o filho, era teu, que seja. Assim é o homem. Deste tipo que não se orienta por gente, se orienta por vento e temperatura. Não cabe fixar-se, mas cabe solidão, mesmo que o bar lhe festeje, mesmo que outros amigos o sorriam por qualquer ocasião. Mais tarde, agora mais próximo do centro, tem a fronte branca e ele deve se perguntar: Meu filho, sumido, pouco liga, desamor? Um irmão, que indo por ti, atrás, se perdeu,
morreu. Irmãs se espalharam, o êxodo do desamor. A mãe ficou, hoje doente, é claro, não tem como, é grande amor. Assim é a mulher. Deste tipo que orienta a gente, que escuta o vento e a temperatura é sempre quente. Mas se ela também quisesse, não se fixaria. Assim como não se fixam tantas que vagam sorrindo se perdendo em tudo, se achando em todos, mudando e desmistificando. É lindo. É lindo a procura, o atrito, o gozo, a libido, choro, o pouco tempo, não ter que ceder, não ter que ficar, ela cantando pra mim desde cedo “Porque brigamos”, a menina que me lembrou, um dia no Parque Mutirama, quando está no começo, quando está no meio, quando chega ao fim, a contradição, aos 34, Carlos da Fé cantando “Tudo era lindo”. E ele deve se perguntar: Meu filho, sumido, pouco liga, desamor? Não. Não senhor. Pelo menos não só. Na barca em que navegam os sonhos, pode escolher âncora, brisa, tempestade ou vela aberta. E como não sabes, escolhe todos até que um signifique amor.
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Jon Downs
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Grupo Folha
LADO B
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7A1 “Quem sabe não estamos vivendo o início de uma fase mais pacífica e humana dos alemães.” TEXTO POR MARÍLIA BILU
Copa do Mundo, 2014. O Brasil entra em campo no dia 8 de Julho para jogar contra a Alemanha. Eu estava no meio do mato, com uma turma de amigos, descendo o Rio Cristalino de canoa. Não tinha sinal. Não tinha rádio. Não tinha Internet. Não tinha TV. Não existiam acampamentos próximos para que pudéssemos pedir uma “beirinha” da TV para assistirmos ao jogo. Alguns meninos falaram: “ah, deixemos disso, se quiséssemos assistir a Copa não teríamos vindo pescar”. Fiquei assustada com isso, afinal não esperava que uma pescaria fizesse com que meus amigos homens deixassem de assistir ao tão aclamado futebol. No dia do jogo a coisa mudou. Remamos, descemos mais rápido, tudo para ver se conseguíamos alguma fazenda, alguma alma viva que pudesse nos ajudar. Em vão. Ficamos todos sentados, pescando, fazendo bolões e imaginando de quanto teríamos ganhado. Não escutamos foguetes... “Estamos longe, deve ser isso”. No dia seguinte ao jogo, na remada, minha amiga e eu estávamos na segunda canoa. Vimos um acampamento de longe, e escutamos uma conversa entre o pessoal e
os dois colegas da canoa da frente. Dentre tantas palavras indiscerníveis, a única coisa que escutamos foi “7 a 1”. Ficamos boquiabertas, remamos mais rápido rumo ao acampamento para chegarmos a tempo de escutar a conversa... Brasil tinha goleado, não era possível. Não mesmo. Brasil levou uma “taca” dos alemães. Ficamos incrédulas. Descemos o rio e chegamos ao ponto em que acoplamos todas as canoas e começamos a falar do 7 a 1. De repente alguns amigos começaram a xingar: “Bem feito pro brasileiro largar de ser otário”. E quer saber? Concordo. Somos patriotas só com o futebol, e ainda assim temos uma torcida chinfrim. Não fazemos nosso papel cívico, e muitos nem sabem como definir esse conceito. Nós sabemos que somos enganados pelos políticos, e de tanto pensar “não adianta, não vai mudar”, nos deixamos ser enganados e fazemos papel de bobo mesmo. Mas calma, tem festa hoje, paremos de pensar nisso, afinal, o brasileiro dá um jeito pra tudo. Pois deixemos que o jeitinho alemão vença o jeitinho brasileiro dessa vez. Os alemães deram um show de bola e, principalmente,
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LADO B
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“Perdemos no futebol, e, mesmo que a alegria do brasileiro tenha sido inigualável, perdemos em vários outros aspectos.”
um espetáculo de cidadania. Esse show entrou em contraposição com a dívida histórica dos alemães que existe desde a Segunda Guerra Mundial e que permaneceu com a divisão do território pelo Muro de Berlim. Em ambas as situações a matança foi brusca, fome, frio, isolamento, o que acabou por aumentar o ressentimento dos alemães em relação ao seu passado. A historia alemã é marcada por rupturas... A brasileira também, mas o alemão sempre será conhecido como o “nazista”, e quem sabe não estamos vivendo o início de uma fase mais pacífica e humana dos alemães. Perdemos no futebol, e, mesmo que a alegria do brasileiro tenha sido inigualável, perdemos em vários outros aspectos. Os alemães foram humildes, simpáticos, alegres, humanos, abraçaram os brasileiros, ouviram e dançaram o axé, ajudaram instituições e o melhor: ao vencerem a copa, não dançaram volkstanz, fizeram uma dança inspirada nos rituais dos índios pataxós ao redor da taça.
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“Oi, eu sou a Marilia, tenho 25 anos, e nunca vi a Seleção Brasileira de Futebol homenagear os seus indígenas”. Para finalizar, vos exponho a maior satisfação por tê-los campeões em nosso país: não são argentinos. Salve, salve América Latina, mas o estômago até doeu de medo dos argentinos vencerem. Alemanha deu show de cidadania, e claro, de futebol. Palmas e viva ao eterno 7 a 1!
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Ania Koslowska
Grupo Folha
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CARTA A ODAIR JOSÉ E DE BÔNUS CARTA À SOCIEDADE CARETA “Como não amar quem se opôs à censura e à esculhambação de um Estado, uma sociedade massa de manobra e de uma Igreja regada por falsos moralismos?” TEXTO POR ROSA FERRAZ
Lamentável constatar que boa parte da nossa cultura, arte, tradição e comportamento social foi regida por um engodo estatal recheado de princípios religiosos. Sermos regidos por um Estado com resquícios ditatoriais, acrescentado a doutrinas religiosas segregacionistas, burguesas e intolerantes é tão constrangedor e trágico a ponto de formarem cidadãos assim também. Se ainda hoje convivemos com esse pessoal ‘’Marcha Família de ser’’, imagina em outras épocas em que a indigesta ditadura estava em ascensão? E a pergunta agora é: Como não amar quem se opôs à censura e à esculhambação de um Estado, uma sociedade massa de manobra e de uma Igreja regada por falsos moralismos? Como o grande Oiticica sintetizou: ‘’Seja marginal, seja herói.’’ Odair José foi um desses, marginal e herói. Em plena ditadura militar, o compositor estava no auge do sucesso na década de 70. Vendia milhares de discos com o gênero ‘’brega
romântico’’, sendo até chamado de ‘’ o terror das empregadas’’ por escrever letras tão cruas e diretas que caíram indiscutivelmente no gosto popular; e mesmo assim Odair abriu mão do time que estava ganhando e decidiu se arriscar em um disco totalmente controverso ao que já fazia, lançando assim no ano de 77, O Filho de José e Maria, intitulado como o primeiro disco de ‘’ópera rock’’ brasileiro. Além de certa forma ‘’romper’’ com o gênero que o consagrou, o brega romântico, Odair rompeu também com o seu selo até então, Polygram, e transferiuse para o selo RCA Victor. A Polygram achou uma ideia muito arriscada sair do comodismo do estilo que ele já fazia, ainda mais gravar um disco duplo repleto de canções polêmicas, pois a pretensão de Odair era falar sobre um único protagonista no disco inteiro que remetia a um Jesus Cristo contemporâneo. Mediante isso, o compositor procurou o selo RCA Victor, que aceitou que ele lançasse o disco, mas com o número de faixas reduzidas.
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“A ditadura já passou, em tese, e ainda assim sofremos com a caretice que assola essa humanidade de riso travado e vida travada.”
O LP O Filho de José e Maria ‘’nasceu’’ em maio de 1977 e, claro, deu o que falar. E deu o que falar de forma bem pejorativa, pois apesar de não ter um cunho político, as canções do disco eram totalmente despudoradas para aquela época. De acordo com a Igreja e o Estado, as letras feriam a moral e os bons costumes ao narrar basicamente a história de um Jesus cheio de questões existenciais, sexuais e com o agravante da insinuação de que Jesus era filho de pais que não eram casados. Odair foi hostilizado pela Igreja, que o ameaçou de excomunhão, pelos militares, pela grande mídia e até mesmo pelo próprio público e o seu disco tornou-se um fracasso de vendas. A ditadura já passou, em tese, e ainda assim sofremos com a caretice que assola essa humanidade de riso travado e vida travada, devido aos resquícios de um Estado catastrófico ainda existente. Apesar desse catupiry socioestatal, posso me dar o luxo na minha humilde qualidade de ser humano comemorar alguns avanços de formiga dessa sociedade
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como, por exemplo, este: Após 36 anos do lançamento deste disco subversivo, Odair José subiu ao palco do Teatro Municipal e lá cantou ‘’ O Filho de José e Maria’’ todinho e ainda rendeu dois filhos, que tão pouco importa se são de pais separados... Os filhos se chamam CD e DVD, resultados desse show maravilhoso que deixou de tomar a ‘’pílula ditatorial’’ e assim, finalmente, os filhos nasceram sem censura. Já que escrevo esse texto no mês de agosto, mês do dia dos pais, não podia deixar de homenagear esse pai genial e marginal que mais uma vez veio parir dois filhos maravilhosos, por nunca ter se autocensurado apesar da censura alheia, das críticas e dos maus bocados que todo artista que se preze passa. Odair José, tu merece ser o pai musical mais feliz desse mundo.
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