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CAPA
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EDITORIAL
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BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS Uso como título deste editorial o nome de um filme de Charlie Kaufman não por acaso, pois nesta obra o autor nos apresenta uma realidade em que é possível apagar da memória lembranças e fatos indesejados através de um tratamento experimental realizado pelos protagonistas do filme. Clementine, interpretada por Kate Winslet é a primeira a se submeter ao processo, pois deseja esquecer seu ex-namorado Joel (Jim Carrey), que ao saber do procedimento realizado por ela, se entrega à mesma experiência. Porém, no decorrer do tratamento, Joel percebe que não deseja excluir Clementine de sua vida, pois descobre que as memórias compartilhadas com ela são partes fundamentais da sua história e na tentativa de protegê-la do deletamento ao qual estava sendo submetido, começa a travar uma briga com sua própria mente, levando Clementine para lugares em sua memória que ela nunca esteve realmente. A partir deste momento o filme ganha profundidade e encontra seu clímax, pois é neste ponto que as reflexões que dão brilho e forma ao roteiro de Kaufman se desdobram. E já que entramos no assunto, é preciso dizer que a matéria de capa desta edição produz reflexões semelhantes e ainda mais profundas que as provenientes
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do filme. Deixando de lado toda ficção científica presente na obra, a matéria explora o direito ao esquecimento, sua aplicação junto aos meios de comunicação, seus benefícios para a população e consequências à liberdade de expressão e evolução da sociedade como um todo. Além disso, novos colunistas estão compondo o enredo desta edição, com opiniões, histórias e narrativas memoráveis. Boa leitura!
FICHA TÉCNICA Editora Chefe: Kilze Teodoro – kilze@foccusrevista.com.br Diretor Executivo: Murilo Borges – murilo@foccusrevista.com.br Projeto Gráfico: Juicebox Publicidade e Propaganda – (64) 3661-1960 Direção de Arte: Andre Rezende, Leonardo Martins e Tiago Batista Capa: Alexandros Plomaritis Produção Gráfica: Gráfica Mineiros – (64) 3661-1862 Comercial: Jéssica Dias – (64) 9994-6294 Circulação: Mineiros, Goiânia, Rio Verde, Jataí, Alto Araguaia, Alto Taquari, Chapadão do Céu e Chapadão do Sul Endereço: Avenida Ino Rezende, Qd. 12, Lt. 11, Piso 02, Setor Cruvinel, Mineiros-GO, CEP 75830-000
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COLABORADORES MAIO / 2014 FOCCUS
GUILHERME BORGES Advogado, professor do curso de Direito da Unifimes e colunista da Revista Foccus.
FALTA FOTO GUILHERME SANTANA Coveiro por opção. Pai por paixão. Glutão por convicção. santanagui@hotmail.com santanagui.blogspot.com
DANILO XIDAN Publicitário e gourmet viajante. Um mochileiro maluco que curte Comer e Viajar. Acompanhe www.facebook. com/comereviajar2 e @comereviajar no Instagram.
MICHEL EDERE Original de fábrica de Goiânia, é filho de uma crente com um piauiense, estudou muita coisa, aprendeu algumas, esqueceu a maioria e não se formou em nada.
MARÍLIA BILÚ Professora de inglês, graduada em História pela Universidade Federal de Goiás, colunista do site GOTOGO e da Revista Foccus.
BÁRBARA FALCÃO Devota do desassossego, ama para não enlouquecer e escreve porque acha que a arte é a única amante da solidão. www.pacificidade.blogspot.com
ROSA FERRAZ Cantora, compositora e amadora. Ama e adora tudo o que faz com muito amadorismo profissional. Apaixonada em pimenta, porcos e tudo que provoca.
PEDRO LABAIG
Pintor, formado em Filosofia pela UFG, estuda História da Arte na Universidade de Sorbonne.
PABLO KOSSA Jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG.
PEDRO FAUST Goianiense desde o nascimento. Jornalista pela PUC e aficionado por cinema. Redator publicitário na agência Casa Interativa e colunista da Revista Foccus.
ED. 83 - MAIO 2014
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ÍNDICE Senta Que Lá Vem História |
GUILHERME SANTANA ...........................................................................................
PABLO KOSSA .........................................................................................................
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ROSA FERRAZ .........................................................................................................................................................
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Tudo ao Mesmo Tempo Agora | GorduRosa |
PEDRO LABAIG ................................................................................................................................................
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GUILHERME BORGES .......................................................................................................................................................
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Pena e Pincel | CAPA |
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Para Toda Obra
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Entre Olhares |
MICHEL EDERE ...............................................................................................................................................
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BÁRBARA FALCÃO ...........................................................................................................................................
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Pacificidade |
PEDRO FAUST ..................................................................................................................................................
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MARÍLIA BILU ..................................................................................................................................................................
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Popcorn Time | Lado B |
Comer e Viajar |
DANILO XIDAN ..........................................................................................................................................
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We Never Look Up
SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA
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SEXO, DROGAS, ROCK AND ROLL E SMARTPHONE
“Será que somos seres humanos melhores com esse excesso de informações?” TEXTO POR GUILHERME SANTANA
Quinta feira como outra qualquer. Um amigo manda uma DM: vamos jogar squash? DM volta: 18hs? DM reretorna: combinado. Tudo certo. Essa modernidade é dez, né? Agora achar alguém para buscar as crianças na escola. De duas uma eu acho. Ou a mãe das crianças ou a minha mãe. Ligo para a minha. “Posso não meu filho!”. Peço para a outra mãe. “Posso não marido!”. Das duas, nenhuma. Pensa rápido. Se sair mais cedo e correr, consigo buscá-los e ainda chego para o jogo. Tudo planejado vamos à ação. Veste a roupa de jogar para não perder tempo e sai em disparada para a escola. Manda DM para o amigo: atraso 15 minutos. DM volta: ok. Estaciona e desce correndo. Carteira fica no porta luvas porque a roupa de jogo não tem bolso. O celular tem que ir. Chega na sala dos meninos. Corre meninada! Sai menino com mochila e uma infinidade de badulaques. Vale salientar que o dia que você está com pressa é o dia que eles fizeram oficina artesanal e tem um caminhão de coisinhas para carregar. O pai sai em disparada parecendo uma mula de carga. Vale salientar também que o dia que você está com pressa é o dia que
seu filho não está com pressa. Chega no carro. Coloca os badulaques no chão e o celular no teto do carro para colocar cinto de segurança nos meninos. Amarra cinto, enfia mochilas no porta malas e os badulaques joga por cima dos meninos. Entra no carro. Vamos embora. “Papai estou com fome!”. “Não vou agüentar chegar em casa de tanta fome!”. “Quando chegar em casa sua mãe resolve isso.” No meio do caminho escuto um barulho seco na lataria do carro. Olho para trás. “O que foi isso?”. “Isso o que papai?”. “Esse barulho!”. “Não fomos nós.” Então tá então. Segue o cortejo. Aí, do além, manifesta-se uma mania dos maníacos por internet. Leva a mão no celular. Cadê o celular? CADÊ O CELULAR?!?!?! Para o carro. Olha em todos os cantos. Nada. Aí vem aquele capetinha e sussurra ao seu ouvido: “sabe aquele barulho seco que você escutou? Era seu celular rolando pelo teto do carro e se esborrachando no chão, Mané!”. Volta o carro. Anda a pé. Procura. Nada. Volta ao carro. Meninos chorando de fome. Deixa os meninos em casa. Pega o celular da esposa. Volta ao local do crime. Liga no celular.
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SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA
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“Quantos órfãos de pais vivos teremos que consolar por conta da tecnologia?”
Está chamando! Ninguém atende. Liga de novo. Ninguém! Liga e anda pela rua. Nada. Depois da décima ligada não toca mais. Sabe aquele toquezinho de que a pessoa do outro lado está fazendo uma ligação? Pois é. Oh meu Deus a pessoa que achou o celular já está fazendo ligação para as Bahamas! (isso foi o capetinha que sussurrou). Andei mais de hora procurando o celular. Nada. Olhava para as pessoas paradas na calçada e no ponto de ônibus e todas tinham cara de que estavam com meu celular no bolso e que tinham ligado para as Bahamas. Desisto. Volto para casa desconsolado. Não quero falar com ninguém. Desolado. Estalo. Entro no iCloud e localizo o celular! Você é um gênio!!!. Ligo o PC. Localizar celular. Localizando... celular desconectado. Ou acabou a bateria (improvável), ou alguém achou o celular e desligou, ou ainda pior, um carro o matou! Morreu. Confesso que me senti órfão. É uma sensação esquisita. Praticamente toda sua vida está ali. Seus contatos, seus e-mails, suas músicas, suas fotos, seu twitter, seu facebook, seu tudo! A sensação de invasão de privacidade é irremediável. Diria que é quase um estupro moral. Quando começa a bater a síndrome de abstinência eletrônica, você se dá conta do pior. Sou viciado nisso. Não consigo viver sem meu smartphone. Aí é o fundo do poço. Sentime o pior dos seres humanos. Dependente de uma máquina. Mas como tudo na vida, temos que achar o lado positivo.
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O bom das fatalidades é saber analisálas e absorver ensinamentos. Até que ponto as relações humanas estão ficando distantes com a tecnologia? O que era para estreitar distâncias por muitas vezes coloca barreiras. Será que somos seres humanos melhores com esse excesso de informações que não se consolidam em conceitos? Será que temos conceitos ou somente um amontoado de pensamentos alheios? Pensava nisso tudo enquanto via o carregador de baterias do celular abandonado no canto sem ninguém para repor a vida. Quantos órfãos de pais vivos teremos que consolar por conta da tecnologia? De manhã ainda tive o reflexo de olhar o carregador na tomada com esperanças de vê-lo lá pronto para o uso. Vazio. A mesma iniciativa das pessoas que vão ao cemitério no dia após o sepultamento para ver se é verdade. É verdade. Segue o cortejo. Resolvi. Não vou me apressar em comprar outro. Passei a manhã toda sem celular. Que tranqüilidade. Ninguém me ligando, nem passando mensagens, nem twitter, nem face. Nada. Nunca me senti tão liberto. Alforriado. Isso que é vida. Pouco antes do almoço passei na porta da loja da operadora de celular. Síndrome de abstinência. Parei. Só para olhar. Tremi. Comprei. Afinal é um vício pequeno perto de alguns que vejo por aí. Até me orgulho um pouco desse vício. Só um pouquinho. Prometo usar com moderação.
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Folha RobdeCartwright S達o Paulo
TUDO AO MESMO TEMPO AGORA
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AQUI JAZ A INDÚSTRIA BRASILEIRA “Esvaziar a indústria brasileira é um erro estratégico sem tamanho para a Nação.”
TEXTO POR PABLO KOSSA
A cada ano que passa, a indústria brasileira dá sinais de que não está bem das pernas. Depois da crise global de 2008 e 2009, quando tivemos várias férias coletivas e galpões parados, começamos a ensaiar uma recuperação. Era fogo de palha. A real é que 2013 foi de índices decepcionantes para esse importante setor da economia brasileira. E o pior: não há perspectivas de que 2014 será diferente. Só para ilustrar com números, o IBGE mostrou que em 2013 a indústria nacional cresceu 1,3% em relação a 2012. Segundo o instituto, o PIB brasileiro cresceu, no mesmo período, 2,3%. Quem merece estrelinha dourada no caderno é a agricultura, que cresceu 7% no ano passado. Se não dá para dizer que o setor encolheu, também não dá para dizer que foi um colosso. Como eu disse anteriormente, decepção talvez seja o termo que melhor defina o desempenho de 2013. E não podemos falar que os incentivos foram poucos para o setor. O prazo do IPI reduzido para veículos e eletrodomésticos foi estendido, os juros foram bem camaradas para quem quis investir em
maquinário ou equipamentos, a folha de pagamentos de mais de 50 atividades não foi tributada. Ou seja, a indústria brasileira teve a mão amiga do Estado que nenhum outro setor contou. E mesmo assim os números foram chochos. Vários fatores são obstáculos consideráveis para a indústria. A concorrência desleal com a China talvez seja o maior deles. A falta de regras trabalhistas duras deixa a disputa com o gigante asiático complicadíssima. Eles conseguem um preço final bem mais atraente ao consumidor final que nós. O tanto de gente importando tudo quanto é tipo de coisa de site chinês é um fato que corrobora minha tese. Esvaziar a indústria brasileira é um erro estratégico sem tamanho para a Nação. Não podemos voltar à lógica do século XIX, quando éramos especialistas unicamente na exportação dos produtos primários e importávamos tudo que tinha valor agregado. É um retrocesso depender somente do campo para mantermos nossos índices de crescimento. A agricultura e a pecuária devem ser importantes nesse processo,
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TUDO AO MESMO TEMPO AGORA
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mas estaremos dando um tiro no pé se unicamente contarmos com eles. No mundo de hoje, se dá bem quem vende produtos de alto valor tecnológico embutido. Por mais que nossa picanha ou soja sejam de primeira, não dá para dizer isso delas se compararmos ao que estão vendendo para nós. O investimento em uma educação técnica de ensino médio forte, aliado a cursos de ensino superior que incentivem o desenvolvimento tecnológico e o empreendedorismo são a chave para o Brasil do século XXI. Deixarmos nosso parque industrial morrer é um enorme tiro pé que trará sérios problemas por décadas. Por isso é que devemos lutar com todas as forças para impedir tal feito. O que mais se vende hoje são boas ideias – olhe o valor do What’s App e me diga se estou errado. Esse é o caminho que devemos trilhar. A vaquinha dos mensaleiros Qualquer um com um pingo de noção da realidade (categoria na qual estou incluso, talvez somente com meio pingo), sabe que o volume de grana arrecadado, em prazo recorde, pelos figurões do Partido dos Trabalhadores para pagar suas multas após o julgamento do mensalão é algo para ficar com a pulga atrás da orelha. Não que agora eu vá regular onde cada um gasta seu dinheiro. Eu torro o que vem do meu suor com minhas bobagens e você que faça o que bem entender com o seu. Se Chico Buarque, Nelson Jobim ou o açougueiro da esquina acharam por bem liberar um para a trinca Dirceu, Genoíno e Delúbio, beleza! Tem gente que paga
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dízimo, tem gente que vai para o boteco, outros para o prostíbulo e tem gente que ajuda político condenado. Cada um, cada um. Mas, até por que quando a esmola é demais o santo desconfia, é prudente rastrear os CPFs de todos doadores e fazer uma checagem se o valor da contribuição é compatível com a renda declarada do cidadão. A Receita Federal tem tecnologia por isso. E, até para deixar tudo em panos limpos, é recomendável tal trabalho. Vamos para Miami? É moda entre parte da elite brasileira comprar imóveis em Miami. Desde apartamentos simples de 60 mil dólares, até coisas nababescas que custam alguns milhões de verdinhas. Pode até ser um bom investimento, já que a recuperação econômica norte-americana está consistente e o setor imobiliário costuma ser um ramo de retorno certo. Só vejo risco para quem tem o sonho de se mudar para a Flórida e continuar vivendo de sua renda e trabalho no Brasil, gerenciando tudo à distância por meio da internet. O que garante que essa diferença cambial vá permanecer para sempre? E se, amanhã, um dólar estiver no patamar de, digamos, cinco reais? Para viver em um país em que a moeda é dólar, é preciso que suas entradas também sejam em dólar. Se não for assim, o risco de ver seu custo de vida quintuplicado em uma reviravolta da economia de um dia para o outro é algo a se considerar.
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GORDUROSA
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A MPB URSINHOS CARINHOSOS “A superficialidade está em alta, mas flores de plástico talvez façam mais efeito nos shows de Roberto Carlos.” TEXTO POR ROSA FERRAZ
Estamos vivendo num período “Ursinhos Carinhosos” da música brasileira. A maioria dos novos compositores vive em um mundo fantástico, em que o maior problema que eles enfrentam é uma DR - discussão de relacionamento - e choram, choram, mas depois sempre abre-se um arco íris porque a vida é bela, cremosa e limpa. A maior característica da “MPB Ursinhos Carinhosos” é a fofura. Na MPBUC todo mundo pede “mais amor por favor”, “odeiam seu ódio” e ainda conseguem cantarolar tudo isso com muita “veracidade” com suas notas fofas, figurinos fofos e discursos fofos. Aí é engraçado ver os ursinhos carinhosos na vida real, pois eles não parecem ser tão fofos assim. Mas ok. A superficialidade está em alta, flores de plástico talvez façam mais efeito nos shows de Roberto Carlos. Acredito que cada um deve expressar a sua verdade da forma que for e deve levá-la em conta, mas será mesmo que os artistas da nova MPB só chuparam coisas que são de uva? A vida deles é um doce mel? Acho que não, hein? A começar pela nacionalidade:
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brasileiros. Brasil, um país com tantos conflitos e disparidades, mas que muitos preferem chafurdar em sua bolha de egos. Daí o que vemos são músicas só falando do seu “eu” e do amor, próprio, claro, e dos affairs, que são babado. No meu mundo é proibido proibir, e “façam o que quiseres, pois é tudo da lei...” Mas deixo aqui minha colaboração gordurosa, dizendo que sinto falta, amiguinhos, de novo sangue dado ao cotidiano em forma de música. Não querendo ser saudosista, já sendo, sinto falta de novas crônicas, como Adoniran e Gonzaguinha faziam, da crítica bem-humorada de Gordurinha aos problemas que ele enfrentava por ser nordestino. Sinto falta da imperfeição de Sérgio Sampaio, do conflito de Tim Maia, do tédio de Raul Seixas, da “dor canalha” do Walter Franco... Não tem nada a ver, mas sinto falta até do Chorão, pra falar a verdade, e da irreverência de um Renato Russo, Cazuza e de uma Maysa. Nem queria ter citado essa pá de defuntos (exceto Walter Franco) e de gente da velha guarda, mas é impossível. Meus ídolos são
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meus ídolos porque tinham algo vivo que respiravam, com algo perturbador que os sufocavam, o conflito e o equilíbrio, diga-se de passagem, passageiro. Noto que antigamente quando se ia a um show era como se você fosse para uma seção de descarrego...era como se fosse em um escape da “vida real”. Mas hoje, na maioria dos shows que vou dessa nova MPB, há um mecanismo repetido, blasé e sem saída. Uma galera meio em cima do muro do politicamente correto. Não há mais
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tantas surpresas e autenticidade, tudo tem que ser limpo e perfeito. A arte, não só a música, já foi porta-voz de diversos debates, enfrentamentos políticos e sociais, conflitos e, sim, de amor, de muito amor e até de fofura, mas tudo bem contextualizado e dosado. Enfim, “os ursinhos carinhosos estão aí para ajudar. Se precisar é só...” escutar um CD em seu apartamento com canções fofas. 5,4,3,2,1.
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PENA E PINCEL
PENA E PINCEL
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PENA E PINCEL TEXTO POR PEDRO LABAIG
Caro amigo leitor, seja muito bem-vindo ao recém-inaugurado atelier de pena e pincel do Pedro e de seus amigos. O Pedro sou eu mesmo, muito prazer. E meus amigos virão mais tarde. Não repare a bagunça e sinta-se em casa se possível, enquanto a gente toma um cafezinho e bate um papo tranquilo.
é o espaço e minha palavra é a do pincel. Aliás, essa pintura aí ao lado é de minha autoria. O título é O grito de Laocoonte, minha interpretação daquela história toda, querendo, naturalmente, fiar um bocado de referências. Escolhi começar pelo pobre Laocoonte pela relação entre as artes que ele simboliza tão bem.
Eu já disse que isso é um atelier, certo? Pois bem, é um lugar de diálogo experimental entre pintura e literatura. E, se este espaço há de ser ocupado por arte tanto de um lado quanto do outro, acredito que, por hoje, seja oportuno redigir nos moldes estéticos tradicionais da boa conversa fiada esta prosa introdutória inevitavelmente explicativa. Digo “inevitavelmente” com pesar, pois não gosto de me explicar, não vejo muita graça nisso. Deixo tal tarefa aos desfiadores profissionais de conversa alheia, bravos leitores de Hegel. Não que eu seja capaz de complicar as coisas daquele tanto. Muito pelo contrário, meu conselho ao leitor seria algo do tipo: “relaxa, se você não tá entendendo onde o cara quer chegar, ele provavelmente nem tá muito afim de sair do lugar”.
A história começa mais ou menos no século VIII a.C. na Ilíada, pela voz de Homero, passa possivelmente por uma tragédia perdida de Sófocles e pela Eneida de Virgílio, até se transformar naquela monumental escultura pelas mãos de Agesandro, Atenodoro e Polidoro, ainda por volta de 40 a.C. Sabe-se lá por que, esta obra prima desapareceu debaixo da terra até o século XVI. Sua redescoberta não foi nada menos que um terremoto estético. E não é à toa que Lessing, já lá pra mil setecentos e tanto, intitulou aquele seu ensaio crítico sobre os limites entre as artes visuais e as literárias Laocoonte.
Enfim, como eu ia dizendo, isso aqui é conversa fiada, porque eu gosto é de fiar. Não pelo maldoso prazer de dar trabalho pros outros, de modo algum. Mas acontece que eu não sou escritor, não faço questão de falar certo nem sério. Na falta de noção do tempo, minha praia
Inclusive, foi lendo isso que eu tive a ideia de convidar uns amigos meus, poetas e vagabundos reconhecidos, uns mais outros menos, a se inspirarem no sentido inverso, produzindo todo tipo de experimentos literários a partir de pinturas. Mês que vem, ao invés de você e eu, quem estará aqui conversando fiado ao lado de outra pintura minha será um deles, com algum poema, conto ou coisa parecida. Garanto que cada um vale a sua pena. Até a próxima!
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O DIREITO AO ESQUECIMENTO E O FIM DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO “A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento.” 1 TEXTO POR GUILHERME BORGES
Sim! Atualmente, é possível proteger a exposição de seu passado nos meios de comunicação judicialmente. Essa é uma nova interpretação doutrinária que vem tomando forma no meio jurídico brasileiro. Mas não há como negar que a simples leitura da instrução acima exposta causa certa perplexidade. Ora, como seria possível apagar um fato da memória social? De fato, há quem diga que a vida é feita de lembranças, que recordar é viver. Por outro lado, há quem acredite que às vezes é necessário (ou conveniente) simplesmente esquecer e seguir em frente. Com origem no Direito Penal – de acordo com a legislação brasileira, mesmo quem comete um crime, depois de determinado tempo, vê apagadas todas as consequências penais do seu ato -, o direito ao esquecimento se resume na ideia de que ninguém é obrigado a conviver eternamente com os erros ou desvios de sua vida pretérita, sendo garantida ao cidadão a possibilidade de discutir o uso que é dado aos eventos pretéritos pelos meios de comunicação.
Mas não se trata, veja bem, de atribuir a alguém o direito de apagar fatos passados ou reescrever a própria história, mas sim de garantir a possibilidade de discutir o uso que é dado aos eventos pretéritos nos meios de comunicação social, sobretudo nos meios eletrônicos. Exemplo comum de aplicação desse conceito é a propositura de ações judiciais com o intuito de proibir a propagação ou comercialização de vídeos ou fotos feitos em momentos íntimos que acabam sendo divulgados nas mais diversas redes sociais. Exemplos à parte, o direito ao esquecimento tem fundamento no artigo 5º, X, da Constituição Federal brasileira de 1988, que dispõe o seguinte: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
1 Enunciado 531, da VI Jornada de Direito
Civil, realizada em Maio de 2013.
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Realmente, trata-se de uma interpretação interessante, e que pode agradar grande parte da população. Seria muito oportuno buscar o direito ao esquecimento de uma foto tirada em momento de intimidade, que pode se propagar por meio das mídias sociais com impensada rapidez; ou de fatos praticados na juventude, e até já esquecidos, que podem ser resgatados e inseridos no mundo virtual, vindo a causar novos danos atuais, e até mais ruinosos, além daqueles já causados em época pretérita. Por outro lado, desde já surgem questionamentos acerca dos limites dessa interpretação. E a liberdade de expressão? E a proibição à censura? E a liberdade de atuação dos meios de comunicação? Todos direitos fundamentais também previstos na Constituição Federal, em seu artigo 5º, IX, o qual dispõe que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, cientifica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.”. Especialistas já apresentam críticas vorazes ao enunciado, argumentando, e com razão, que com o tempo o direito ao esquecimento pode ganhar interpretação extensiva. Imaginem, por exemplo, apagar da história os dramas do mundo, como guerras, escravidão, holocaustos, ditaduras; simplesmente porque tais eventos vitimam a consciência de pessoas e nações. Certamente, seria impossível apagar esses eventos da história da humanidade; mas, pensando em um exemplo mais realista, imaginem apagar da história o maior caso de corrupção (que veio a público) do Brasil, julgado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal, conhecido como o caso do “Mensalão” (sem adentrar aos meandros do julgamento, frise-se).
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Esse é o grande risco do direito ao esquecimento, ser buscado por pessoas de notoriedade pública como subterfúgio para continuar enganando a “população comum”. Ao lado dessa inovação teórica do direito ao esquecimento, recentemente ainda está sendo discutida no Congresso Nacional a aprovação do “Marco Civil da Internet”, conjunto de normas que tem por objetivo regular o meio digital. Dentre os assuntos disciplinados por esse conjunto de normas, está a possibilidade de indisponibilização de conteúdo que ofenda a honra ou prejudique a imagem de qualquer pessoa. Desse modo, além de impedir que os fatos passados sejam publicados em meios de comunicação, também seria possível impedir a publicação de fatos novos que denigram a imagem de alguma pessoa. Essas inovações jurídicas aparecem em um momento importante, onde o compartilhamento de informações atinge níveis astronômicos e alcance global, demonstrando que os aplicadores do direito estão atualizados e preocupados com os perigos desse compartilhamento sem limites. Outrossim, também surgem em um momento muito conveniente: época de eleições para os altos cargos do executivo e legislativo. Imaginem só como seria oportuno aos corruptos de plantão buscar o “esquecimento” de todos esses escândalos governamentais divulgados recentemente? Passar uma borracha no passado, com arrimo no direito ao esquecimento, e também impedir que novos fatos danosos sejam divulgados, com fundamento na
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É certo que toda norma ou interpretação tem sua utilidade prática. Mas desde que aplicada com prudência e respeito aos princípios fundamentais que norteiam o mundo jurídico e social. Caso contrário, corremos o risco de caminhar para um novo regime de censura. Mas não como aquele vivenciado há 50 anos, no regime militar. Com efeito, caso essa evolução teórico jurídica e legislativa se torne algo banal, aos poucos será instalada no Brasil uma forma de ditadura da informação travestida de democracia, onde os próprios concidadãos passarão a se vigiar, deixando de lado os acontecimentos que realmente importam. Hoje mesmo já é temerário deixar sua opinião em alguma rede social, com o receio real e consciente de que uma simples postagem pode gerar uma tremenda represália da própria sociedade. Portanto, o maior objetivo dessas inovações jurídicas deve ser coibir o excesso e buscar o respeito à memória dos cidadãos de bem. Ninguém deve ser obrigado a conviver eternamente com os erros ou desvios de sua vida pretérita, mas é importante lembrar que não há inovação jurídica que garanta que esses erros e desvios nunca mais serão lembrados, pois ainda é impossível apagar memórias e, independentemente de decisão judicial, a história nunca se esquece.
à conclusão de que a ofensa à honra e à dignidade de seus pares não é uma conduta louvável. O direito ao esquecimento e a possibilidade de indisponibilização de conteúdo (prevista na redação original do Marco Civil da Internet) não devem ser tratadas como regra, mas sim exceção, pois mais vale o direito à informação e à liberdade de expressão do que o incentivo à censura.
Kurt Stallaert
indisponibilização de conteúdo prevista no marco civil da internet?
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Basta fazer um breve passeio pela história da humanidade para observar que a sociedade não evolui a partir do esquecimento, mas sim a partir do estudo daquilo que já se passou. Também é simples constatar que a preocupação exacerbada com a imagem futura não leva a nada, a não ser ao fracasso da vida presente. Assim como ensinou Sêneca, em seus estudos sobre a brevidade da vida: “É extremamente breve e agitada a vida dos que esquecem o passado, negligenciam o presente e receiam o futuro; quando chegam ao termo de suas exigências, os pobres coitados compreendem tardiamente que estiveram por longo tempo ocupados em nada fazer.”
Da mesma forma, não é a indisponibilização de conteúdo que vai garantir o fim dos excessos nos meios de comunicação. Solução muito mais eficaz seria o investimento em educação para que o próprio cidadão possa chegar
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PARA TODA OBRA PARA VER
PARA LER
MEDIANEIRAS: BUENOS AIRES NA ERA DO AMOR DIGITAL
LIVRO DO DESASSOSSEGO
Tanto o título, quanto o subtítulo dizem muito sobre o filme. Enquanto o subtítulo faz uma alusão ao modo como as pessoas se relacionam na era digital, o título se encarrega de indicar a arquitetura da cidade como um ponto relevante do filme, que no decorrer da trama revela-se como um agente que contribui para a solidão de seus personagens. O filme coloca em paralelo as vidas de Martin (Javier Drolas), um web designer cheio de fobias que nunca sai de casa, e Mariana (Pilar Lopez Ayala), uma arquiteta recém-formada, depressiva e com dificuldades de relacionamento. Apesar das diversas semelhanças apresentadas pelos protagonistas e do fato de residirem em prédios vizinhos, eles não se conhecem e é neste ponto que o diretor ganha o público, pois coloca os telespectadores na torcida pelo encontro de ambos, pois dadas as evidências, fica certo que eles foram feitos um para o outro.
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É para ler, mas também rouba a cena do espaço “Para Apreciar”. O conteúdo é de Fernando Pessoa, mas ele publicou apenas doze, dos mais de 500 fragmentos presentes neste livro. A obra não apresenta uma narrativa linear, mas possui trechos que conversam entre si, sendo a obra de Pessoa mais próxima do gênero romance. Quem gosta do autor e deseja captar a sua essência, precisa conhecer este livro, pois ele revela o gênio do autor em sua melhor fase.
PARA TODA OBRA
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PARA OUVIR
PARA DAR UM UP
SHARON JONES AND THE DAP-KINGS
MUZEI
Quem já gostava de Sharon Jones não precisa se preocupar, pois seu novo álbum, Give The People What They Want, não traz mudanças estruturais no seu som, que está cada vez mais retrô.
O Muzei irá mudar o wallpaper da sua home screen todos os dias com obras de arte famosas.
A força de sua de sua voz unida ao poder dos Dap-Kings - grupo que comandou e reestruturou o new soul da última década - apresenta um repertório dançante, com faixas de qualidade comparável ao som de mitos como James Brown e Prince, que são referências do gênero e de Sharon.
O aplicativo é grátis e está disponível através da App Store e do Google Play.
Valeu a pena esperar pelo álbum que teve seu lançamento atrasado por conta do tratamento contra um câncer que acometeu a cantora nos últimos meses, pois o seu retorno aos palcos e o resultado do seu novo disco provam que ela está mais viva do que nunca.
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ENTRE OLHARES
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ENTRE OLHARES
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RECEITA TEXTO POR MICHEL EDERE
Não existe maturidade Ou experiência que a idade traga Quando o assunto é sofrer Não existe faculdade Ou método que nos ensine Perda Desamor Tristeza Finais abruptos Ou trocas inesperadas. O que se pode fazer É torcer. Torcer o pescoço Não o alheio, Mas o teu.
Torça também por gentilezas Das pequenas às grandes Todas que não saem no jornal Todas que desconsertam Consertam E concertam... Tomado por notas Seja maestro quando as águas passarem Deixe de certo Atestado O desejo de sorrir propositalmente E quando for sem querer Não banque o distraído Lembre a razão E faça disto receita.
Torço-o para chegar Onde a torcicolo Que te acomodou Não deixou Abra bem a sua nuca E deixe chegar outros cheiros Beijos e novas brisas
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PACIFICIDADE
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ACIDENTE DE PERCURSO “Muitas vezes o percurso é mais importante do que o destino final.”
TEXTO POR BÁRBARA FALCÃO
“Tem uma borboleta gigante atrás da porta!” Alertei para o dono do hotel, que tratou logo de resolver o problema e retirar o tal inseto. Era a última noite que dormiríamos na estrada, paramos na primeira cidade depois de sair da Bahia e entrar novamente em solo goiano. Posse fica a 512 km de Goiânia, pouco para quem percorreu quase 4.000, e embora o ar condicionado do quarto fizesse muito barulho e não esfriasse nada, e a entrada mal feita da cidade induzisse os motoristas a errarem o caminho, estávamos ainda no percurso e por isso eu deveria me manter atenta aos detalhes, como por exemplo a igreja amarela no centro com duas cruzes e um coqueiro do lado direito que enfeitava a paisagem ao combinar o verde de suas folhas com o azul do céu. Passei os últimos cinco meses da minha vida morando em Salvador, e muitos discordarão de mim, mas de tudo, o que há de mais belo na capital baiana é a Ribeira. Bairro tradicional, sua beleza não está no pôr do sol, nem nos barquinhos que ali ficam ancorados, muito menos no fato de abrigar uma das sorveterias mais antigas da cidade. A Ribeira é linda porque fica na cidade baixa e para chegar lá é preciso
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atravessar Salvador, passar por lugares onde nunca passaríamos em outra ocasião. Até hoje me lembro, eu, turista, dentro do ônibus há mais de meia hora, perguntando ao meu “amigo-guia” de cinco em cinco minutos o quanto ainda andaríamos. Até que a demora me fez esquecer a ansiedade e por fim me entregar à paisagem, que, devo dizer, não é assim tão bela, e é justamente nisso que está a reflexão, no choque de realidade, na pobreza, na sujeira e é claro, na alegria que apesar de tudo insiste em estampar o rosto dos soteropolitanos. O percurso das férias não durou cinco meses, mas foram cinco longos dias dentro do carro observando o movimento do verde pela janela, árvores indo e vindo e o barulho do vento e dos pneus se desgastando conosco e com o tempo. No meio disso tudo, pequenas rupturas, casinhas isoladas aparentemente frágeis e pequenas demais perto da natureza imensa, mas ao mesmo tempo poderosas por sobreviverem a seu modo. A população residente rural brasileira representa hoje cerca de 15% do total, e ao passar por aquelas casas era inevitável me perguntar o que haveria dentro de cada uma delas,
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qual o mistério por trás das estatísticas, quantas famílias, histórias, sentimentos abrigavam aquelas casas? Sobreviveriam elas às tempestades e ao tempo? O carro estragou e fomos acolhidos por uma família que morava no meio da estrada - pai, mãe e cinco filhos nos ofereceram água e lugar para sentar. Um deles era doente, e como era bonita a forma com que os outros o protegiam de sua fragilidade. Tijolos e cimento à mostra, a paredes eram pintadas da simplicidade dos sorrisos e eu descobri o que havia nas casinhas que interrompiam o verde do caminho: a vida em sua essência mais pura. Sem rodeios, sem opções, apenas o
esforço para sobreviver, e no meio dessa busca por satisfazer os anseios humanos mais básicos, o amor, tão palpável como deveria ser para todos. Agradeci pelo carro estragado, agradeci por ainda não ter chegado ao destino e sem querer me lembrei de um trecho de Rainer Maria Rilke em uma de suas “Cartas a um Jovem Poeta”, quando ele fala que devemos viver as perguntas com calma, e aos poucos, sem notar, viveremos a resposta. O importante é não atropelarmos a vida, pois a pressa é como um véu nos olhos que não nos deixa perceber que muitas vezes o percurso é mais importante do que o destino final.
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POPCORN TIME
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INVASÃO DA SÉTIMA ARTE Os filmes estão migrando para o mundo dos seriados
TEXTO POR PEDRO FAUST
O universo dos seriados está cada vez mais disputado e com os mais variados temas. Seja de terror, comédia, ação e até fantasia, o que permite que o programa tenha mais de uma temporada é o seu alcance e a audiência que consegue ter. No site TorrentFrak, há uma lista com os seriados que tiveram os melhores números em 2013 e The Big Bang Theory, The Walking Dead e Breaking Bad foram os mais assistidos nos Estados Unidos, enquanto que Guerra dos Tronos só ficou em 4º lugar. E algo que parece estar tomando conta do mundo do entretenimento é a transição dos filmes e famosos livros em séries de sucesso. Essa mania começou com Buffy, a Caça Vampiros em 1997 e agora está voltando com força total com nomes como Hannibal, Bates Motel e Marvel - Agentes da Shield. E o bom disso é que se consegue ver novas aventuras e novas histórias dos personagens que você gosta sem ter que esperar tanto tempo. Hannibal é um dos mais comentados ultimamente por suas cenas fortes e pelo enredo de suspense. O foco maior está nos personagens Hannibal Lecter interpretado por Mads Mikkelsen e Will Graham (Hug Dancy). O primeiro é um psicopata frio e que faz de tudo
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para controlar tudo a sua volta, inclusive os investigadores do FBI que investigam seus crimes. O outro é um inconstante investigador que não consegue distinguir o que é real e o que é sonho naquilo que ele enxerga. O suspense e a tensão sobre o que pode acontecer são as peças chave para prender a atenção do público, lembrando que a segunda temporada já estreou no Brasil no canal pago AXN. Agora falemos de outro clássico, Psicose (1960) de Alfred Hitchcock que originou o seriado Bates Motel (o lugar que acontece um dos assassinatos mais famosos do cinema). Essa história é focada em Norman Bates interpretado aqui por Freddie Highmore, uma criança aparentemente normal que acaba desenvolvendo um lado sombrio e psicótico em sua transição para a adolescência. Vera Farmiga vive a mãe de Norman e tem um papel muito importante nessa transformação do seu filho. A segunda temporada já está no ar. Outro nome que está na moda é o de Marvel: Agentes da S.H.I.E.L.D, série originada do filme Vingadores (2012), um time de super-heróis. Clark Gregg está novamente no papel do agente Coulson
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que lidera uma equipe para proteger o mundo de ameaças e resolver casos que os policiais normais não conseguem. Alguns heróis e vilões não muito conhecidos do público como Lady Sif, Deathlok e Graviton dão suas caras para dar mais suspense e boas doses de ação, que são peças importantes para esse tipo de programa. A primeira temporada ainda está em curso pelo canal Sony e já foi renovada para a segunda. Lembra da atriz Kristin Kreuk (Lana Lang no seriado Smallville)? Então, desde o ano passado ela está em um novo seriado que chama The Beauty and the Beast, baseado no conto de fada da Bela e a Fera. Ela vive o papel de Catherine, uma jovem detetive de homicídios que passou por um acontecimento trágico em seu passado. Jay Ryan vive Vincent Keller, um ser metade humano e metade fera, que vai ajudar Catherine a solucionar seus casos e o mais importante que é a tragédia que aconteceu em sua adolescência. Está na segunda temporada e tem bastante chances de ser renovada para a terceira. Falando agora de livros famosos, Os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas
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virou seriado pelas mãos de Adrian Hodges e está sendo exibido no canal BBC. A história é passada no século XVII e mostra as aventuras dos mosqueteiros que são guarda-costas do rei Louis XIII. Mesmo ainda na primeira temporada, a segunda já foi garantida e só os atores que interpretaram os personagens principais já tem sua volta garantida. Por outro lado, Peter Capaldi, o ator que vive o Cardeal (vilão do seriado) não participará da segunda temporada, pois foi escolhido para viver o papel do Doctor Who, outro seriado que falaremos em uma nova oportunidade. A série conseguiu alcançar uma audiência média de mais de 6 milhões. A tendência é que o número de seriados desse tipo cresça cada vez mais, tendo em vista que o número de suas audiências só aumentam e criam um grupo de fãs que os seguem quase como se fosse uma religião. Para quem gosta bastante de cinema como eu e também de seriado, essa é uma ótima notícia. Bem que filmes como TRON, Hellboy ou O Poderoso Chefão poderiam virar séries. Para acalmar os fãs loucos de Guerra dos Tronos, já aviso que falaremos desta mega série em uma matéria especial, só deles.
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LADO B
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CARNAVAL POLÍTICO “Pode vir o Big Brother, pode vir o Campeonato Brasileiro, pode vir o Carnaval, mas o povo não vai dispersar.” TEXTO POR MARÍLIA BILU
Em meio as manifestações populares que percorreram o Brasil no último ano, o canal Porta dos Fundos lançou um vídeo na Internet, parodiando toda a situação política que ocorria no país. No dia 27 de junho de 2013 era lançado o vídeo, no qual os dirigentes do país, conversavam entre si numa “Reunião de Emergência” para tentarem impedir o prosseguimento das manifestações. De todas as falas que satirizam (verdadeiramente) a situação, a que mais me chamou a atenção, foi “Gente, é só o tempo do povo dispersar: em um mês tudo volta a ser igual ao que era antes, vai voltar campeonato brasileiro, vai voltar Big Brother (...).” Não deixa de ser verdade. Fiquei aflita e ao mesmo tempo sem esperança, esperando que, realmente, logo logo todo esse fogo popular acabasse e que as reivindicações fossem abafadas pela vinda da Copa do Mundo, pelo futebol e principalmente pelo Carnaval. Não só que as solicitações do povo fossem abafadas, mas que o próprio povo se cansasse ou se esquecesse de tanta coisa importante, como de costume no país.
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Em Goiânia, acabou. Depois da manifestação “pacífica”, na qual pessoas vestidas de branco pediam por paz, pelo fim da corrupção, pelo fim da Pec 37 (o que é Pec 37?), pela educação, pelo transporte, pelo passe livre e por tantos outros infinitos clamores, a onda manifestante na capital goiana acabou. Digo “pacífica” entre aspas porque foi lindo de se ver os policias militares entregando rosas brancas no jornal e ao mesmo tempo horrível presenciar a tropa de choque atirando balas de borracha no final, a Deus dará, a ponto de eu ter que me esconder atrás de uma árvore. Claro, não preciso falar, essas balas de borracha foram acobertadas pela imprensa, assim como a tropa de choque escondida na escuridão da noite nos parques da cidade. Devo ressaltar que essa manifestação “pacÍfica-do-pau-oco” teve fim, mas que a verdadeira manifestação popular goiana permaneceu e ainda permanece nos terminais, pelo passe livre, pelos professores, pela diminuição da tarifa, por melhorias e assim vai. Assim vai - sem a classe média vestida de branco. E aí chegou o carnaval. E lá fui eu pro Rio de Janeiro.
LADO B
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E no meio de tanta gente, de tanta bebida, de tanta baderna, de tanta alegria e de tanta gritaria, o que mais me chamou a atenção não foi a quantidade de músicas e batuques, mas sim a presença do povo gritando por melhorias em meio a tanta fanfarra. Batuque. Eduardo Paes era xingado. Música. Eduardo Paes, na forma de um boneco gigante, apanhava dos foliões. Batuque. Dilma era mandada pra ir tomar naquele lugar. Gritos. A bandeira do Uruguai batia no boneco gigante do Eduardo Paes. Risos. Pessoas se enfileiravam para baterem no boneco gigante. De repente um “SEN” (violência, que nada) “SUALISMO”... Braços no ar e,
“NÃO VAI TER COPA!”
E todo mundo gritava, em uma só voz, esse coro que acompanhou a maioria dos
blocos que participei e imagino que a maioria dos que aconteciam no Rio. E eu amei. Amei ver que, mesmo com tanto álcool na cabeça dos jovens, com tanta alegria, com tanta música, os manifestantes ainda se encontravam lá, mostrando que o Circo Político já não é mais tão satisfatório. Mostrando que pode vir o Big Brother, pode vir o Campeonato Brasileiro, pode vir o Carnaval, mas o povo não vai dispersar. O povo não vai esquecer como o Brasil é novo nesse assunto e como será necessário lutar para mudar alguma coisa. Como será necessário persistir nos gritos para que alguma coisa seja ouvida. Persistir na união para que alguma coisa seja vista e notada. O carnaval acabou, a gritaria continua. O Big Brother acabou, e a gritaria vai continuar. A copa vai chegar, e se vai ser um fiasco ou não (e eu estou torcendo muito para que não seja), a gritaria vai continuar. E eu quero ver até onde a juventude brasileira vai, porque se todo carnaval tem seu fim (já que adoramos clichês), quero saber cadê o fim da estupidez do brasileiro. Jovens, uni-vos: ainda temos a idade da esperança.
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COMER E VIAJAR
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ALTO NO PARAÍSO “Aqui, uma simples caminhada até o mercado da esquina, ou até a rodoviária - que toca música eletrônica, cheira a incenso e tem um Cartola grafitado, só de branco, na pilastra gasta e mofada - é uma contemplação.” TEXTO POR DANILO XIDAN
Coloquei o Wish You Were Here, do Pink Floyd, para tocar. Não sei por que, mas a energia deste álbum esteve comigo durante todos os meus dias em Alto Paraíso-GO. Quem sabe pelos sons espaciais nos primeiros segundos quando colocamos o disco para tocar. Como se naves chegassem em câmera lenta à Terra e toda a população olhasse estupefata para tal acontecimento. Uns aterrorizados pelas crenças destruídas, outros em prantos pelo fim dos tempos. Alguns sorridentes, como se um órgão celestial orquestrasse a chegada já profetizada. Na entrada da cidade tem um disco voador. No céu, também. Muitos já viram uma bola amarela subindo e descendo, com vontade própria. Estrelas maiores que Vênus que surgem e desaparecem. O céu pode ser roxo às vezes. Ou extremamente azul com nuvens pintadas a óleo. Não são aquelas nuvens bonitinhas de algodão doce. E elas mudam mais rápido de forma, de local. O céu está em movimento, ou será o chão abaixo dele?
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Essa impressão, possivelmente, possa ser pelas…acabo de ouvir uma risada sussurrando no meu ouvido. Consegui até sentir um peso, como se uma mão amiga estivesse se apoiando achando graça do que escrevo. Não era ninguém… Essa impressão, possivelmente, possa ser pelas serras. Por isso percebo as nuvens que passam. Aqui, uma simples caminhada até o mercado da esquina, ou até a rodoviária - que toca música eletrônica, cheira a incenso e tem um Cartola grafitado, só de branco, na pilastra gasta e mofada - é uma contemplação. Há algumas noites, dormi dentro de um disco voador. Durante a noite, o teto tinha luzes amarelas, como um grande planetário. Luas e estrelas. Ao amanhecer, elas mudavam de cor. Azul, verde, vermelho. Estava extremamente relaxado. Uma pessoa chegou para falar comigo. Queria saber melhor o que fazia. Ele não era daqui. “Sou de outro planeta”. Começou, então, a me mostrar alguns desenhos. Arquitetura futurista, naves sobrevoando a paisagem. Havia natureza. Campos, vegetações. “Em breve, eu e todos
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os habitantes do meu planeta vamos ter que voltar. E muita gente nem sabe que é de lá.” Quando voltei a mim, estava sentado numa casa italiana que vende pizzas, risottos. Estava com o “Eram os deuses astronautas?” aberto. O livro fora um presente do Renan, viajante que me recebeu nos primeiros dias em Brasília. Pedi uma cerveja Aracê para tomar (a Aracê é uma cerveja artesanal feita em Cavalcante-GO, a poucos quilômetros de Alto Paraíso). Ah, la vitta é bela. Meia luz, algumas velas, ambiente ideal para uma tarantela? Começou a tocar Wish You Were Here. Comecei a chorar. Pigarro. Realmente, não consigo distinguir o Paraíso do Inferno. Um vento, ainda estranho, começou a soprar. Soa como vozes e traz um clima frio, denso. Algo está para mudar. O céu escurece, a paisagem fica mais sinistra, apesar de bela. A Taiane, que conheci em Pirenópolis (primeira cidade por onde passei) veio a meu encontro. “Você conhece São Jorge?” Fomos para beira da estrada pegar uma
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carona. No ponto de ônibus tinha um alienígena deitado em uma poeira cósmica rosa, azul, amarela e laranja. Ele tem um terceiro olho. Sentamos um pouco com ele, mas logo preferimos andar. Alguns carros passaram, um parou. Entramos na Caverna. Dentro havia um rio que corria manso. Lá conheci a Arca da Aliança e o povo das estrelas, o mesmo que construiu as pirâmides do Egito. Chegamos boiando até o vilarejo de São Jorge, como duas almas perdidas nadando dentro de um aquário. Nessa hora, não dá pra saber a origem de tudo. E nem pra onde se vai.
Danilo Xidan já está há 2 meses na estrada e passou por Pirenópolis, Brasília, Alto Paraíso, abdução e São Jorge. Acompanhe tudo em www.facebook.com/comereviajar2 e pelo Instagram @comereviajar.
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