Revista U 2

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A REVISTA SEMANAL D´A UNIÃO

FOTO / Rui Soares

www.auniao.com

Socializar A DOENÇA MENTAL Ou como a doença não é só nossa….

edição 34.707 · 26 de março de 2012 · preço capa 1,00 € (iva incluído)


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E-mail: clipraia@gmail.com • Telefone: 295 540 910 • Fax: 295 540 919

Área Clínica Análises Clinicas Cardiologia Cirurgia Geral

Médicos Laboratório Dr. Adelino Noronha Dr. Vergílio Schneider Dr. Rui Bettencourt

Cirurgia Vascular

Dr. Fernando Oliveira

Cirurgia Pediátrica

Dr.ª Catarina Fragoso

Cirurgia Plástica Clínica Geral Clínica Geral (Doenças de Crianças)

Ginecologia/Obstetrícia

Dermatologia Endocrinologia

Dr. António Nunes Dr. Domingos Cunha Dr.ª Patrícia Galo Dr.ª Paula Bettencourt Dr. Lúcio Borges Dr.ª Helena Lima Dr.ª Ana Fonseca Dr. Rui Soares Dr.ª Lurdes Matos Dr.ª Isabel Sousa

Gastroenterologia

Dr. José Renato Pereira Dr.ª Paula Neves

Medicina Dentária

Dr.ª Ana Fanha Dr.ª Joana Ribeiro Dr.ª Rita Carvalho

Medicina Interna

Dr. Miguel Santos

Medicina do Trabalho Nefrologia Neurocirurgia Neurologia Neuropediatria Nutricionismo Otorrinolaringologia Pediatria Pneumologia

Dr.ª Cristiane Couto Dr. Eduardo Pacheco Dr. Cidálio Cruz Dr. Rui Mota Dr. Fernando Fagundes Dr.ª Andreia Aguiar Dr. João Martins Dr. Rocha Lourenço Dr.ª Paula Gonçalves Dr. Carlos Pavão

Psicologia

Dr.ª Susana Alves Dr.ª Teresa Vaz Dr.ª Dora Dias

Psiquiatria

Dr.ª Fernanda Rosa

Oftalmologia Imagiologia (TAC/ECOGRAFIA/Ressonância Magnética) Neuroradiologia (TAC/Ressonância Magnética)

Dr. Francisco Dinis Dr.ª Ana Ribeiro Dr. Miguel Lima Dr. Jorge Brito Dr.ª Rosa Cruz

Reumatologia

Dr. Luis Mauricio

Terapia da Fala

Dr.ª Ana Nunes Dr.ª Ivania Pires

Urologia

Dr. Fragoso Rebimbas


EDITORIAL / SUMÁRIO

Nota de suicídio TEXTO / Marco de Bettencourt Gomes | director@auniao.com

Quero que me digas que não vou morrer. Mesmo que me mintas. Mesmo que eu te desiluda. Mesmo se eu gostasse muito de morrer. Quero ler todos os poemas que falam e calar-me sozinho contigo. Quero esperarte mesmo que não venhas. Esta vida está a matar-me. Já não sei morrer. Até agora toda a gente tinha na família alguém que morria de cancro. Daqui a dias todos terão é alguém que se matou. Nem eu levo a sério quem escreve a carta a dizer que se vai matar, mas isso só é um mito. Eu já morri! Escrevo a dizer que sou morto. É que não contam comigo, não contas comigo, não conto comigo. Por aqui toda a gente se suicida pelo menos uma vez por semana. A conta gotas, com ansiolíticos ou antidepressivos sub-repticiamente subtraídos das prateleiras. Com anestésicos socialmente branqueados. E arrastam-se com elegância maquilhada para os psiquiatras de esquina. A Igreja até há pouco recusava exéquias aos que acometiam contra a própria vida com um intuito dissuasor. O facto é que ninguém muda de vida por ser ameaçado com as penas do inferno. Já basta de inferno. A Igreja emendou a mão. Mas os coveiros continuam a reservar nos cemitérios um canteiro à parte, pelo sim pelo não. Diz o catecismo cristão do primeiro século que não morre quem nasceu mas quem nasceu tenha cuidado para não morrer. Sigo por um caminho macio que me foi proposto por Portugal. De um momento para o outro deparo-me com um muro intransponível. Olho à volta. Não há volta a dar. Não posso voltar para trás. Que fazer? Não me consigo acomodar, não consigo adequar-me. Não tenho resposta e a única resposta é deixar de ser visto. É que todos, a médio prazo, estaremos mortos. Será que vale mesmo a pena não morrer já?

SUMÁRIO editorial

03 comer de forma saudável

empresas buscam salvação ferramentas

doença silenciosa

04 07

14

fotógrafo

23

josé júlio rocha

25

ócios

28

08 rua dos açores, porto

26

a “mamã” do isaías

11

palavras

13

cultura

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teodoro medeiros

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agenda

31

NA CAPA... RUI SOARES | pág. 16

Fritz Pampus, psicoterapeuta alemão de 62 anos, com mais de quatro décadas de experiência, esteve no Seminário Episcopal de Angra do Heroísmo para falar do tratamento de doenças mentais, especialmente da terapia sistémica que defende a abertura do tratamento às pessoas mais próximas do paciente, sejam familiares amigos ou colegas de trabalho. Além disso, pelo meio da intervenção não se esqueceu de dizer que o papel educativo dos pais é praticamente nulo. 26 Março 2012 / 03


REVISÃO

EMPRESAS BUSCAM SALVAÇÃO “Muitas empresas não estavam preparadas, de forma alguma, para um cenário económico desta natureza.” A Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH) lançou, na semana finda, um novo programa para apoiar as empresas que estão a passar por maiores dificuldades no panorama actual. O Programa de Recuperação de Empresas Açorianas será ministrado por consultores especializados em diferentes áreas de actividade e tem duas vertentes: reestruturar as empresas que ainda têm viabilidade económica, e/ou apoiar aquelas que não têm viabilidade, para que sejam reduzidos os impactos da sua insolvência. “Muitas empresas não estavam preparadas, de forma alguma, para um cenário económico desta natureza. Nesse sentido, a CCAH não poderia deixar de actuar neste nível, contratando especialistas para actuarem nessas situações de grande dificuldade”, disse o presidente da Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo em conferência de imprensa. “Estamos a falar, por exemplo, de microempresas familiares, cujos impactos da crise afectam toda uma família e que têm pouca capacidade de gestão e de resolução de alguns constrangimentos, necessitando de ajuda para resolverem algumas situações da forma mais adequada”, salientou Sandro Paim.

PROGRAMA PARA SALVAR EMPRESAS

CONSULTORIA DE GESTÃO, JURÍDICA E FINANCEIRA O programa actua nas vertentes de consultoria de gestão, jurídica e financeira, e vai decorrer em três fases. Sandro Paim especifica “A primeira é uma abordagem e avaliação com os objectivos de conhecer a realidade da empresa e principais dificuldades, avaliar a situação e efectuar um primeiro diagnóstico”. O diagnóstico é apresentado ao empresário e este pode avançar para uma segunda fase, se assim o entender. Caso pretenda continuar, será consolidada a fase de diagnóstico, definidas orientações estratégicas face à reestruturação empresarial e aplicar as medidas correctivas. “Estamos a falar de micro, pequenas ou médias empresas. Serão sugeridas uma quantidade de acções, que têm a ver

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REVISÃO

com a gestão do estabelecimento, com o aproveitamento das medidas que existem no mercado e com o fornecimento de um cronograma ao empresário para cumprir com acções muito especificas para poder recuperar a empresa”, reforça o líder da CCAH. A terceira fase consiste em acompanhar o plano de acção e avaliar o sucesso das medidas implementadas e acerca da necessidade de ajustamentos directamente com o dono e contabilista das empresas. “Tem que haver coresponsabilização do empresário para cumprir com aquelas medidas, para que no fim do período de implementação do plano, a empresa possa estar competitiva para enfrentar o mercado”, salienta. APOIO NO ENCERRAMENTO E INSOLVÊNCIA Existem também empresas que no diagnóstico não terão viabilidade e essas terão também um “tratamento especial”. Ou seja, em qualquer uma das fases a empresa pode ser encaminhada para um processo de insolvência encerramento. Segundo o presidente da CCAH, “há, ainda, uma grande dificuldade do empresário para passar para um processo de insolvência, que pode dar origem ao encerramento da empresa”. A esse nível, “ também considerámos importante haver um acompanhamento, nomeadamente nos processos de negociação com finanças, segurança social. Se não houver viabilidade, teremos consultoria no encerramento”, adianta.

“Tem que haver coRresponsabilização do empresário para cumprir com aquelas medidas, para que no fim do período de implementação do plano, a empresa possa estar competitiva para enfrentar o mercado”

INOVAR É MESMO PRECISO TEXTO / João Rocha / jrocha@auniao.com

surgirá a necessidade de inovar, em apostar em produtos próprios

Com um cenário de crise acentuada, as empresas locais passam por manifestas dificuldades. Um novo programa de recuperação, lançado pela Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo, pode constituir a derradeira hipótese de salvação para 150 empresas das ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa. O busílis da questão consiste em saber quantas empresas estão de facto em condições de garantir a sobrevivência depois de ajudadas. Por exemplo, olhando para a actividade comercial no burgo angrense, facilmente se chegará à conclusão de que há negócios do mesmo ramo em demasia. Provavelmente, surgirá a necessidade de inovar, em apostar em produtos próprios que possam fazer a diferença ao nível da oferta. Não parece fazer sentido que um snackbar aposte na modalidade do prato do dia competindo directamente com os restaurantes, dispensando o enorme campo de possibilidades que a comida ligeira oferece em termos de inovação. A culpa não será sempre das grandes superfícies e dos chineses…

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REVISÃO / OPINIÃO

DEPUTADOS PODEM SER MAIS O número de deputados da Assembleia Legislativa dos Açores pode aumentar nas eleições regionais de Outubro dos actuais 57 para 62, devido ao crescimento do número de eleitores inscritos no arquipélago. A questão coloca-se porque, de acordo com o mapa publicado pela Direcção Geral da Administração Interna no Diário da República de 1 de Março, o número de eleitores inscritos nos Açores é actualmente de 223.804, mais cerca de 31 mil do que nas eleições regionais de 2008, quando havia 192.943 eleitores. Este aumento do número de eleitores pode representar um aumento de cinco deputados no parlamento açoriano, uma vez que o número de deputados depende do número de eleitores. A Lei Eleitoral da Assembleia Regional dos Açores determina, no artigo 13, sobre distribuição de deputados, que cada círculo eleitoral elege dois deputados e mais um por cada 6.000 eleitores ou fracção superior a 1.000. Se esta regra for aplicada a cada círculo eleitoral dos Açores, tendo por base o número actualizado de eleitores inscritos, o futuro parlamento regional terá mais cinco deputados, acrescentou a fonte. Os novos deputados seriam eleitos por S. Miguel (2), Terceira (1), Faial (1) e Pico (1), ou seja, as ilhas que têm maior número de habitantes na região. Este aumento do número de deputados no arquipélago está, no entanto, dependente da publicação pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) do mapa de distribuição de mandatos, com base nos números mais recentes dos cadernos eleitorais. A confirmar-se este cenário, o custo de funcionamento da Assembleia Legislativa dos Açores também aumentará, apesar do tempo de crise financeira.

A URGÊNCIA DO FAZER TEXTO / Sandra Costa Saldanha

Num tempo em que a optimização dos recursos se exige, em que a emergência do fazer se impõe, o número de feriados e os dias de descanso têm motivado a discussão sobre a produtividade das instituições. Mas produzir e ser fecundo passa também por ultrapassar factores internos de contraprodutividade, como a burocracia e outros hábitos instalados, que pouco se têm debatido. Num contexto organizacional excessivamente submerso em pro formas e ofícios estéreis, a que o país não se pode dar ao luxo, a ausência do preceito fere ainda susceptibilidades demais. Creio ser necessário olhar para o tema

de forma mais séria e consequente, como, aliás, o têm feito diversos outros países. O que pode parecer organizado, o mais adequado ou profissional, tantas vezes confundido com eficiência, asfixia a acção e a inovação produtiva. A burocracia e o excesso de deferência servem para muito pouco, senão mesmo para inibir a criatividade e a motivação de quem visiona e sabe concretizar. Mas que nem sempre pode, obstruído que fica numa espécie de brando compasso, na delonga dos procedimentos, na ausência de agilidade. Os novos meios de comunicação e as ferramentas digitais, quantas vezes subaproveitados, não resolvem tudo. Mas simplificar procedimentos, repensar circuitos decisórios, delegar competências em quem depende de si próprio para consumar as acções em muito beneficiaria este desígnio. Idealizar não chega, saber sem consequências também não. Agir e concretizar são palavras de ordem, mas há que incentivar o desfecho, canalizar energias, delegar competências, fomentar a inovação, promover estruturas flexíveis e, sobretudo, funcionais.

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FERRAMENTAS

Tecnologia a Lytro TEXTO / Paulo Brasil Pereira

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Normalmente quando se fala de um equipamento, fala-se do que ele é capaz de fazer. Hoje vou começar por dizer o que este não faz. Esta câmara fotográfica (sim é uma câmara, não uma arma de arremesso) não foca! E mais é de propósito. Podia ter sido um pequeno esquecimento mas os seus fabricantes quiseram deixar este pormenor para depois sim! Primeiro tirase a foto e depois preocupamo-nos em focar! Esquisito não? Isso acontece graças ao seu sensor que retém 11 milhões de raios de luz provenientes da zona fotografada, ou seja, em vez de captar uma imagem e torná-la plana, capta sim o campo de luz, o que dá margem de manobra suficiente para que com um software

próprio ou depois na própria máquina, com um simples toque, escolher o que fica desfocado ou não! Este mimo tem zoom óptico de 8X e uma lente com aberturas de f/2 e capacidade de armazenamento que vai até aos 16 Gb. O seu design aliado à novidade do equipamento irá fazer muito furor àqueles a quem a fotografia é algo muito complicado. Já se imaginou nas próximas férias fotografar sem preocupação do foco? “show di bola né?” E indo agora à parte menos boa da coisa, o preço. Está disponível em 3 cores e capacidades dos 8 aos 16Gb que variam entre os 350€ e os 450€ euros. Caso pra dizer: – Vai dar ao Lytro e bons cliques focados! … ou não!

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CIÊNCIA / OPINIÃO

PREVENÇÃO DA OSTEOPOROSE DIMINUI INCAPACIDADE

DOENÇA SILENCIOSA A Osteoporose é uma doença caracterizada pela diminuição da massa óssea e alteração da microarquitectura do osso, com o consequente aumento da fragilidade óssea e maior risco de fractura. Um em cada oito homens e duas em cada cinco mulheres, depois dos cinquenta anos, virão a sofrer de Osteoporose. Doença silenciosa – evolui sem quaisquer sintomas – as fracturas osteoporóticas, consequência mais severa da Osteoporose, são as que ocorrem na sequência de um traumatismo mínimo e em que a incidência aumenta progressivamente com a idade, sendo particularmente frequentes nas mulheres após a menopausa e nos idosos. As localizações mais frequentes das fracturas osteoporóticas são a Coluna Dorsal e Lombar, as fracturas da extremidade distal do rádio e as do Fémur proximal. Um terço dos doentes com fractura do Colo do Fémur, ficam parcial ou no todo dependentes de terceiros, relativamente ao exercício das suas actividades de vida diária e ao fim de um ano a mortalidade associada pode atingir os 20%. O objectivo primordial a atingir na prevenção e tratamento de uma Osteoporose, será o de evitar uma primeira fractura, uma vez que a sua ocorrência aumenta a probabilidade de novas fracturas em quatro vezes.

TEXTO / Luís Maurício *

No sentido de se evitar uma Osteoporose dever-se-ão adoptar estilos de vida saudáveis, como a prática de exercício físico regular, o aporte adequado de Cálcio e Vitamina D na dieta, evitar o consumo excessivo de cafeína, álcool e tabaco. O diagnóstico desta doença faz-se através da realização de uma Densitometria Óssea, exame este que permite determinar o grau de perda de massa óssea e, em função dos valores obtidos, conjugados com os factores de risco identificados, determinar a melhor estratégia terapêutica. São indicações para realização de Densitometria, a todas as mulheres depois dos 65 anos e todos os homens depois dos 70 anos, que nunca a tenham efectuado previamente; mulheres pósmenopausicas com idade inferior a 65 anos e homens com idade superior a 50 anos, se forem portadores de factores de risco major para Osteoporose, como fractura vertebral prévia, fractura de fragilidade prévia, fractura da anca de algum dos progenitores, menopausa precoce, utilização de corticosteróides por período superior a três meses. Prevenir ou identificar precocemente uma Osteoporose tenderá a diminuir o número de fracturas e a diminuir a incapacidade associada a esta Doença.

A EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE TEXTO / Nuno Pereira

Desde há quatro anos que a sociedade mudou. Se olharmos à nossa volta, verificamos que está menos preconceituosa quanto a determinados assuntos. Modificámos o nosso pensamento e a forma de olhar o Mundo. Estamos a adaptar-nos à realidade e à diferença. Assim se constrói a sociedade onde nós vivemos, lutamos e aprendemos as leis da vida e que a própria vida nos ensina. A sociedade está mais livre dentro dos limites da própria liberdade. Res26 Março 2012 / 08

* Médico Reumatologia


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peitamos e convivemos bem com a felicidade dos outros embora não tenhamos hoje o mesmo pensamento que tinham na Grécia Antiga. O Mundo mudou, deu passos atrás para dar mais quatro ou cinco para a frente. O que ontem era anormal hoje é normal e aceitamos. Difícil vai ser a sociedade aceitar a adopção por casais homossexuais. Não sabemos o quanto influencia a formação da criança. A integração da mesma numa escola será, certamente, difícil pelos comportamentos que outras crianças possam ter. Mas está em primeiro lugar a felicidade que terá com casais homossexuais ou he-

terossexuais. É preferível termos uma criança feliz, numa família que lhe proporcione uma vida digna, que sabe que alguém a ama e tem por ela um instinto paternal/maternal. Não desvalorizo o papel dos orfanatos ou da família com pai e mãe! Mas uma criança que não viveu 18 anos num orfanato tem outras perspectivas de futuro. Sendo o nosso Estado laico, não devemos deixar de discutir assuntos como este que podem fazer a diferença na vida de algumas pessoas. Será que algum dia vamos compreender que uma boa sociedade constróise com a felicidade de todos e dentro dos limites da liberdade?

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CIÊNCIA

TRIPARTIÇÃO NOS AÇORES TEXTO / Cristina Viveiros

A tripartição administrativa nos Açores é uma herança oitocentista, reflexo de uma relação centro-periferia e periferia-periferia que pretendia afastar-se da tentativa centralizadora encetada pela CapitaniaGeral (1766). Uma nova forma de interação entre o centro (Reino) e as ilhas que elevaria os Açores ao estatuto de província do Reino, mas também uma nova forma de interação entre as próprias ilhas que se deixava influenciar pelos interesses das elites locais. Até 1895 as ilhas açorianas foram distritos ou províncias administrativas do Reino. A partir dessa data, e até 1940, viveriam a situação de distritos administrativos autónomos (excetuando a Horta que não requereu esse estatuto), uma separação administrativa que nem sempre contribuiu para a unificação dos interesses gerais da periferia face ao centro. O Estado Novo criaria os Distritos Autónomos de Ilhas Adjacentes (1940), encabeçados pelas Juntas Gerais, onde obrigatoriamente foi incluído o da Horta. Novamente essa autonomia administrativa dos distritos traria sedimentação de interesses locais/particulares, dificultando o estabelecimento de in-

A TRIPARTIÇÃO ADMINISTRATIVA MOLDOU OS ÚLTIMOS 200 ANOS DE RELAÇÕES ENTRE AS ILHAS E O RESTANTE TERRITÓRIO NACIONAL. teresses em comum para as nove ilhas. Os distritos autónomos desaparecem com a Constituição de 1976 e os Estatutos das Regiões Autónomas, porém, a estrutura executiva do novo governo autonómico açoriano, apesar de baseada em novos pressupostos de união interinsular, voltou a contemplar, na sua repartição horizontal, as sedes dos ex-distritos. A tripolaridade ou tripartição é, pois, um enraizamento administrativo com fundamentação histórica concreta. Estigma ou não, a tripartição administrativa moldou os últimos 200 anos de relações entre as ilhas e o restante território nacional, mas também a nossa estrutura mental enquanto cidadãos ilhéus, organizando a nossa forma de percecionar e integrar a realidade, do geral para o particular (cidadãos da Europa, de Portugal, dos Açores, da ilha, da cidade e da freguesia) e vice-versa.

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MESA

A “mamã” do Isaías Bem, eu também tenho dias… e a mamã lá do restaurante de certeza estava num daqueles dias, e não há dias sem dias.

EMENTA DE DIAS

TEXTO / Joaquim Neves

Casas de Pasto… lembram-me que estou com saudades de casa. Lembram-me minha vida de estudante há vinte anos, entre alguns empregos, livros e pensamentos da ruína económica em que nós, mundo, haveríamos de cair, depois de dias seguidos de bifanas, tremoços e cerveja ou vinho barato, pastéis de nata e cafés, cantinas, riscar de dias até ir a casa materna, que aquando jantarada, geralmente estudantil, geralmente mais tranquila, geralmente mais acompanhada, impulsiona querer abraçar a cozinheira, beijinhos e chamar-lhe mamã, grato pela refeição caseira. Fui ao “Isaías” por ser uma casa de pasto. Pressupõe o termo e o conceito, derivado de “repas” francês e do latim pastus, servir almoços e jantares num ambiente misto entre taberna, restaurante e petiscos com carácter caseiro e pressuposta cozinheira para fazer lembrar a comida de nossas mães. Funciona em todo o lado. Exemplos: mamãs do norte de Portugal com cozido, costeletas com arroz e feijão, bacalhau ou peixe frito, em frança blanquette´s, cassoulet´s ou ratatoille´s, Inglaterra não sei bem quê porque não há cozinha inglesa há séculos, na Alema-

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MESA

Mesa, sÓ se for portuguesa

Receita

Batatas Fritas

Se as batatas fritas vêm da Bélgica, como afirma ter evidências suspeito historiador Belga Jo Gerard em 1680, Espanha ou França da Madame Fritz de Liége, com a primeira casa de batatas fritas datada de 1890, as francesas “Pont Neuf” provenientes do bairro junto à ponte com o mesmo nome em Paris, são as melhores. Fazem-se com casca de preferência de batata que tiver mais amido, pergunte onde comprar. Cortadas em palitos entre os fatídicos 9mm no Larousse Culinária a 15mm estilo inglês. Mas o importante é colocálas depois de lavadas, secas para não juntar água ao óleo, no óleo frio e quando borbulhar já em fritura deixe somente 5 minutos, mal a pele começar a pelar, retire, reserve até resfriar. Depois em óleo entre 180 e 200 graus mediante a grossura dos palitos, volte a fritar até ficarem douradas, escorra em papel apropriado. Ou mais simples descascadas, cortadas, secas, polvilhe com fermento Royal e frite a 160 graus 5 minutos, retire, deixe resfriar e volte a fritar a 200 graus até ficarem douradinhas, etc. Para “gourmet’s”, mesmo processo lavar cortar, secar, colocar em água a borbulhar, desligue, deixe cinco minutos, retire, seque muito bem, num tabuleiro, lado a lado, sem se tocarem congele pelo menos 3 horas. Pode conservá-las desta forma. Só retire do congelador quando for fritar e o óleo já estiver a 200 graus e frite, etc. Tempere com sal, de preferência e pela sua saúde que não seja refinado. Afogue como os alemães em maionese, ketchup como os americanos, vinagre como os anglófonos, ou sais com especiarias (alecrim em pó, pimenta cayenne, cebola em pó, salsa em pó). Bom apetite!

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nha o sauerkraut e “wurst´l” da Baviera, eintopf ou braten; pizza, minestrone e massas na Itália, por tudo isto casas de pasto têm mamãs na cozinha. Importante: as casas de pasto, mesmo sendo almoço, têm o tempo no jantar, luz de jantar e a calma do jantar. Caseiro, confortável, tranquilo. Da sorte dada, fui jantar à hora de jantar. Subi da “baixa” de Angra ao Corpo Santo, pela rua estreitinha do Faleiro. No percurso senti que Angra realmente inspirou a reconstrução de Lisboa, recordando um comentário afirmativo, orgulhoso, douto do meu Professor de Cultura Portuguesa. Inspirou no Brasil e além-mar, índias. Que todas as especiarias e alimentos que mudaram o mundo haviam passado por aqui. E “cad´elas”? Angra teria a obrigação histórica de ser capital mundial gastronómica. Desculpem, devaneios pessoais. Bem… o Isaías levou o termo caseiro muito a sério. Comi costeletas que foram requentadas do almoço, além do acompanhamento, o arroz oferecer um “travozinho” de fundo de tacho queimado, quanto às batatas fritas… em Angra ainda não comi nenhumas que merecessem o nome. Mas boa salada variada a acompanhar. Meu compincha engoliu mão de vaca oferecida na ementa da véspera. Faz-me lembrar a afirmação do Diácono Remédios das Hermanias: – Não havia “necececessidade”. Mesmo que a cozinheira cozinhe com toque de mamã e comidinha caseira, o conceito não estragar comida foi levado demasiado a sério. Mas, o ambiente é bom, simples, divertido, preço estudantil, serviço caseiro. Sobremesas boas, que haviam-me surpreendido da primeira vez, por oferecerem um bom cheesecake sem aquela base, gordurenta nojenta amanteigada crua que experimentara noutros lugares, pastelarias e cafés. (Sugestão: cheesecake New York Style? Alguém?). Bem eu também tenho dias… e a mamã lá do restaurante de certeza estava num daqueles dias, e não há dias sem dias. Vou voltar, porque talvez vá jantar ao almoço.


PALAVRAS

VINIL TEXTO / André Narval

A agulha infiltra-se no disco Como o meu corpo no teu E enquanto ele girar, há som Que o desejo sempre prometeu E mais uma faixa… E mais uma faixa, sem abrandar O ritmo esquecido de tempos passados Que volta nas voltas do deu corpo E cofres outrora encerrados Agora abertos. E abertos esses tesouros Revelados como uma canção Que roda no disco e agulha como um só São para mim tudo, sem ilusão De mais momentos. E sem mais momentos A agulha sai quando o disco chega ao fim Despede-se num acto banal e sublime É êxtase, e nos teus lábios carmim Há o beijo que volta.

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CONSUMO

COMER DE FORMA SAUDÁVEL TEXTO / ACRA / Angra

A alimentação das crianças deve ser saudável, visto que é uma fase essencial para os princípios dos seus hábitos nutricionais. Para isso, o papel da família, escola e jardim-de-infância é inquestionável, de modo a que o desen-

volvimento e cresc i mento da crianç a sejam eficazes, bem como a protecção de diversas doenças. Os nutrientes são vitais, sendo que permite a formação dos ossos, dentes, tecidos e músculos, mantendo-os saudáveis. É necessário “saber comer”, isto é, saber seleccionar os alimentos de forma e em quantidades adequadas às necessidades diárias. Os alimentos adequados estão divididos em cinco grupos, sendo o último “ocasional”, nomeadamente: 1) Hidratos de Carbono: pão, massas, arroz, cereais e batatas. Devem ser servidos em todas as refeições; 2) Frutas e legumes: Devem ser consumidos com frequência, cerca de 4 ou 5 vezes ao dia. Opte pelos frescos. 3) O leite e seus derivados: São fontes essenciais de cálcio. Entre 500-600 ml por dia é a dose recomendada para as crianças. 4) Carne, peixe e ovos: Devem ser consumidos duas vezes por dia. Evitar fritos. 5) Gorduras e óleos: Estes alimentos não devem ser dados em demasia à criança. Caso a alimentação das crianças se apoie nestes grupos de alimentos, obtém todos os nutrientes essenciais para as manter saudáveis.

Hortofrutícolas TEXTO / ACRA / Angra

COMA 400g/dia de hortofrutícolas

A ingestão apropriada de frutos, hortaliças e legumes é vital para a saúde, visto que previne o aparecimento de diversas doenças, nomeadamente o cancro, diabetes, doenças cardiovasculares, obesidade, carência de vitaminas, entre outras. Grande parte dos legumes, frutos e hortaliças tem logicamente um valor calórico baixo, pouca quantidade de gordura, elevada quantidade de água e vários tipos de fibras alimentares, assim sendo, é fundamental o seu consumo, de modo a manter um peso saudável. Consumo de Hortofrutícolas: Começar almoço e jantar com sopa rica em hortaliças e legumes; ingerir salada e hortícolas no prato, como acompanhamento; incluir a fruta fresca nos intervalos entre todas as refeições, pelo menos uma das peças deve ser rica em vitamina C; acrescentar alguma salada na realização de sanduíches; incluir alimentos nas suas entradas, nomeadamente frutos secos, pequenos pedaços de fruta, azeitonas, entre outros; consumir hortícolas com cores vivas, visto que são muito ricas em vitaminas, minerais, entre outros; ingerir sumos de fruta naturais. Segundo os resultados de uma investigação britânica, as frutas ricas em vitamina C e magnésio podem afastar as doenças pulmonares. A Organização Mundial da Saúde recomenda um consumo mínimo de 400g de frutos, legumes e hortaliças por dia. 26 Março 2012 / 14


OPINIÃO

Sangue do sangue venoso TEXTO / Pe. Teodoro Medeiros

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É importante pensar livremente e avaliar sem preconceitos ou imposições. É isso que pretendo fazer em relação a “Sangue do meu Sangue”, o filme português que tem causado furor em tudo o que é festival de cinema. Também eu caí nessa espécie de engodo e coloquei-o na minha lista de prioridades cinéfilas há alguns meses. O filme foi uma má surpresa e uma deceção quando o vi... por quê voltar a ele agora? Pela simples razão de que continua a ganhar prémios e passou até, em formato série, no Canal 1, na semana passada. Até o site de cinema Internet Movie Database (ou IMDB) lhe dá 8 em 10 valores (também dão 8 a Magnolia, outro filme sobrevalorizado). Mas o que deveria ser um excelente filme e um desempenho inesquecível de Rita Blanco mostra-se afinal uma obra que começa bem mas perde-se a partir de meio. Sim, reconhecem-se alguns jogos de planos e um retrato de problemas sociais e de uma família pobre. Essa até engulo, a ideia de que há aqui uma mãe sofredora e que faz tudo pelos filhos. Também admito que haja uma realidade criminosa em Lisboa que se escapa ao passeio de Domingo à tarde na Baixa. Pode ver-se na figura maternal que carrega às costas o peso do mundo a imagem redentora de um Cristo moderno: ela aniquila-se a si própria, como dizia S. Paulo, para se oferecer redenção e vida aos outros. Ela não vale nada e nada reclama para si: existe somente para os outros. Ela é a pietá de hoje que chora antes dos filhos morrerem porque os sinais que eles ostentam são de morte. Concordo e acho bem que se empurre para cima um retrato, sem palia-

tivos, dos dramas portugueses. Porque não? Só que Irreversible não foi um filme mainstream e não passa em série na televisão (Irreversible é um filme horrível, chocante para além do descritível e também já foi dvd brinde de uma revista portuguesa: vai ver é coerência de critérios!). O filme de João Canijo é brutal, é para maiores de 16, é um filme choque que, defendo eu, apresenta uma evidente dose excessiva de mau gosto. E é por isso que se pode falar de uma traição àquela mãe: ela merecia mais, mais da vida, dos filhos e sobretudo merecia um filme muito melhor. Não me refiro aos palavrões constantes e à brutalidade de muitos dos personagens (por aí até se podia dizer que este filme fala sobretudo de Deus, de tal forma se sente a sua falta). A partir de certo ponto tentei mesmo descobrir se estes personagens reais nunca O invocariam, em tantas aflições. Não. É por isso que o filme nos engana: a partir de certo ponto as personagens não apresentam nada de novo, a não ser degradação. Premissa simples esta: “– acham que não os podemos degradar mais? Vejam esta cena agora!” E nós podemos dizer que não gostamos de telenovelas venezuelanas, mesmo que não estejam dobradas em brasileiro. Até porque quem viu “Mamma Roma” (só 7,8 no IMDB, palmas!) tem uma ideia de como é que isto se faz: a figura redentora pode revoltar-se e ter dúvidas mas nunca pode tornar-se um boneco nas mãos de um argumento que depende de coincidências rebuscadas. É que este filme começa vasto mas acaba estreito como um funil e é pena. Sangue venoso porque a vida se esvaiu por completo.


DESTAQUE

Socializar a doenรงa mental


Fritz Pampus, terapeuta comportamental alemão, esteve recentemente em Angra do Heroísmo para uma palestra onde defendeu a importância da integração dos familiares, amigos e colegas de trabalho no processo terapêutico em casos de doenças mentais como a depressão ou psicoses. Na sua intervenção, o especialista defendeu que este tipo de patologias são produto das relações sociais e que, portanto, o seu tratamento não se deve cingir à relação paciente-terapeuta mas abrir-se àqueles que, na maioria das vezes, são os factores principais para despoletaram o problema. Congratulando-se com o facto da sociedade actual estar a dar sinais de uma melhor compreensão e aceitação da doença mental, Fritz Pampus não deixou de por em causa a metodologia usada pela comunidade médica a quem acusa de abordar estas questões numa base demasiado estatística e “quase cientifica” quando defende que as perturbações mentais são subjectivas e fruto de acordos e normas sociais de diagnóstico que vão evoluindo ao longo dos tempos. Exemplo dado pelo próprio é a homossexualidade que durante séculos foi considerada uma doença do foro mental para a qual foram tentadas uma séries de terapias, todas sem sucesso, até que nos anos 80 do século XX foi retirada do diagnóstico das doenças mentais, o que logo ai “curou milhões de pessoas que deixaram de ser consideradas doentes”, realçou. O terapeuta alemão debruçou-se ainda sobre os modelos de educação que diz terem muito pouco impacto na formação da personalidade, advogando que as crianças irão sempre imitar ou ir contra os comportamentos que vem naqueles que lhes estão mais próximos e que vêem a sua educação está fora do controlo dos pais.

TEXTO / Renato Gonçalves renato@auniao.com FOTOS / José Costa

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a

DESTAQUE


DESTAQUE

Os problemas mentais nascem das relações sociais que o ser humano estabelece ao longo da sua vida e como tal, para o seu tratamento, é fundamental a participação daqueles que fazem parte da nossa teia relacional. Esta foi a principal mensagem da palestra proferida por Fritz Pampus, psicoterapeuta alemão que esteve recente-

a depressão, por exemplo”. Fritz Pampus vai mais longe ao afirmar que a doença mental existe “porque alguém nos diz que existe, especialmente se essa pessoa for alguém creditado para o efeito.” Acrescentando que a sociedade está “lentamente” a caminhar no sentido de aceitar as doenças mentais como são

PALESTRA NO SEMINÁRIO DE ANGRA

mente no Seminário Episcopal de Angra do Heroísmo para uma conferência. O especialista, com 40 anos de experiência no ramo, trabalha num hospital psiquiátrico da cidade de Agatharied, no sul da Alemanha, que lida maioritariamente com depressões, compulsivos e pacientes com sindroma “borderline”. Utilizando uma metodologia conhecida por terapia sistémica, o terapeuta defende que é fundamental “ter em conta o meio em que os pacientes vivem e perceber as relações que estabelecem, cada um de nós vive a vida de forma subjectiva, os pacientes não são casos estanques”. Fritz Pampus advoga que todo o ser humano tem determinados temas que não fala com os outros e que ao fazêlo cria situações de difícil gestão. Como terapeuta o seu papel é descobrir que assuntos são esses e ajudá-las a falar, afirmando que “se o conseguíssemos fazer resolveríamos a maior parte dos nossos problemas sem a ajuda de um médico”. O psiquiatra refere igualmente que a doença mental “só existe” porque vivemos em sociedade. Explicando, Fritz Pampus diz que a condição mental não nasce na pessoa mas da sua relação com os outros, é necessário que o outro aponte em nós um comportamento considerado fora da norma e que depois o sistema de diagnóstico clínico entre em funcionamento. Sobre este sistema, o especialista alemão define-o de forma crua como “algo que se baseia na troca de impressões entre a comunidade médica e onde, se os sintomas forem A e B o diagnóstico terá que ser C”. “Mais não é que uma realidade concordacional, uma série de indivíduos que concorda com o mesmo diagnóstico perante sintomas que não se conseguem ver, ao abrirmos uma pessoa, se olharmos para o seu interior não vemos

encarados os problemas físicos, o terapeuta é um acérrimo defensor de que os doentes mentais “não deverão ter medo que o seu problema seja um handicap na sua interacção social” e que a participação dos outros é fundamental na sua recuperação. O subjectivo da realidade O médico alemão afirmou perante a sua plateia que embora a psicologia e a psiquiatria tendam a caminhar para um modelo científico de diagnóstico, as doenças mentais “nada têm” de científico, dando como exemplo o facto de os médicos pedirem muitas vezes aos terapeutas “para lhes fazerem testes e depois tratam os resultados do QI ou da escala de depressão como se fosse algo que vem de um laboratório”. Fritz Pampus defende que os testes psicológicos “nunca poderão ser melhores que a ideia de quem o faz, da ideia que essa pessoas tem, por exemplo, do que é a inteligência”, definindo-os como uma cascata de conceitos abstractos. Tudo isto é fruto, segundo o especialista, da realidade em que vivemos ser construída dentro de nós mesmos mas nós não termos controle sobre a criação e, especialmente, não termos controlo

PACIENTES NÃO SÃO NÚMEROS

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sobre a percepção que os outros têm de nós. Fritz Pampus refere ainda que “passamos muito tempo agarrados a experiências do passado que nos permitiram chegar ao que entendemos ser a nossa realidade presente pois essa é a única referência que temos para tomar uma decisão na base do momento e formar expectativas sobre o que vai acontecer no futuro”. O exemplo da depressão Fritz Pampus dá o exemplo da depressão, doença que tem tido um aumento significativo no mundo ocidental nas últimas décadas. O especialista diz que a maioria dos pacientes que recebe com esse problema consegue identificar com muita precisão qual é o problema na vida que deu origem a esse estado e esse problema é sempre com outras pessoas. O psicoterapeuta suporta a teoria que, na base desta perturbação, estão acontecimentos subjectivos que acontecem na vida do paciente, fruto da repressão de sentimentos, especialmente raiva e agressividade que vamos fazendo ao longo que caminhamos para a idade adulta. “Quando mostramos raiva ou agressividade temos um castigo, ou dor ou a mesma reposta da outra parte e aprendemos a suprimir esse sentimentos para não sofrermos as consequências”. Esse acumular de sensações ao longo dos anos “transforma-se” contra nós próprios, tornando-nos perfeccionistas e muito autocríticos. O especialista alemão diz que a maioria de casos que recebe são de pessoas que não se permitem divertir e tem muitos problemas em dizer que não por receio da reacção do outro. Este tipo de sintoma origina um facto curioso, em que os depressivos são habitualmente pacientes “fáceis” quando são admitidos no hospital mas quando começam a sua recuperação “tornamse muito difíceis, não estão satisfeitos e por estranho que pareça, é sinal de verdadeiro progresso”. Educar “é desnecessário” Outra questão abordada pelo psicoterapeuta na sua palestra tem a ver com a educação que considera “completamente desnecessária” pois as crianças vão sempre imitar o que vêem dos pais ou das pessoas que lhes são mais próximas. Fritz Pampus entende que os modelos educacionais tem muito pouco impacto e que os jovens tendem invariavelmente a copiar ou a tentar fazer o oposto dos comportamentos que vem nos seus pais, acrescentando que “não há uma justificação psicológica para o castigo, tirando o caso da auto-defesa.” O terapeuta diz que o contágio de emoções nas crianças até aos seis anos é muito importante na formação da sua personalidade, mas essa transmissão acontece de forma natural, “as crianças apercebem-se dos nossos comportamentos, as coisas verdadeiramente importantes na educação não estão sob o controlo dos pais”.

FRITZ PAMPUS, PSIQUIATRA ALEMÃO TRATA PSICÓTICOS E DEPRESSIVOS


LOJAS

LEGENDA \\\ 01// a zona de desconforto 02// dvd: johnny english 03// capa de cortiça portuguesa para ipad

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04// consola de videojogos wii - nintendo 05// álbum de angel-o 06// nova canon 600d 07// espumante vintage bruto

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Revista U Rua da Rosa, 19 9700-144 Angra do Heroísmo tel. 295 216 222 fax. 295 214 030 email. u@auniao.com Director Marco Bettencourt Gomes Editor João Rocha Redacção Sónia Bettencourt, Humberta Augusto, Renato Gonçalves Design gráfico Frederica Lourenço Paginação Elvino Lourenço, Ildeberto Brito

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Colaboradores desta edição Adriana Ávila, André Narval, Cláudia Ferreira, Cristina Viveiros, Frederica Lourenço, Joaquim Neves, José Costa, José Júlio Rocha, Luís Maurício, Mike Maciel, Nuno Pereira, Paulo Homem, Paulo Brasil Pereira, Rui Soares, Sandra Costa Saldanha, Teodoro Medeiros, Teresa Silva Ribeiro contribuinte nº 512 066 981 nº registo 100438 assinatura mensal: 9,00€ preço avulso: 1€ (IVA incluído) Tiragem desta edição 1600 exemplares média referente ao mês anterior: 1600 exemplares


ENSAIO

Trabalho e criatividade

Trabalho e criatividade é o tema da mais recente revista “Communio”, publicação que chegou a Portugal em 1984 e que tem como objectivo «estimular o diálogo entre a fé e a cultura» e no seu mais recente volume enquadra «a dimensão criativa da actividade laboral» e sintetiza o conteúdo dos artigos. Se atendermos à etimologia latina da palavra trabalho verificamos que na sua origem está o termo “tripalium”, um instrumento de tortura. O carácter pejorativo que durante séculos se associou ao trabalho prende-se com a ideia de punição e de constrangimento, uma associação reforçada pela narrativa do paraíso terrestre no livro do Génesis. Se na antiguidade o trabalho é um estigma, opondo um pequeno número de cidadãos livres a uma maioria de escravos, pobres, mulheres e crianças, com o aparecimento da sociedade burguesa ele torna-se factor de valorização e de criatividade, afirmando-se como valor moral e como instrumento de realização. Perspectivando este tema na actualidade, verificamos que a partir de 1980 até aos dias de hoje o desemprego é cinco vezes maior do que nos vinte anos do pós-guerra – actualmente contam-se 205 milhões de desempregados e cerca de metade dos que têm emprego são mais ou menos vulneráveis ou precários. Consequentemente, o trabalho surge como um bem relativamente escasso e, sem dúvida, precioso, sobretudo para os jovens ou, mais grave ainda, para os denominados NEETS – sem emprego, nem ensino, nem formação profissional – que, por exemplo, na OCDE atingem 12,5% na faixa dos quinze aos vinte e quatro anos. É uma situação agravada pela crise financeira e económica em que estamos mergulhados. Mas a verdade é que já antes dela se desenhava essa tendência, por força tanto da globalização como das inovações tecnológicas que alteraram radicalmente a economia mundial e o próprio traba-

FOTO / Ruben Tavares

TEXTO / M. Luísa Ribeiro Ferreira, Teresa Monteiro Fernandes, José Patrício

Produzir paisagens

lho. Este, em breves traços, analisa-se hoje em três grandes tipos: o «transformacional», com recurso à força física – é o caso da construção civil; o «transacional», envolvendo operações de rotina e que por isso pode ser automatizado (bancos e call-centres) e o «interaccional», ligado ao conhecimento, à perícia e à colaboração com outras pessoas, como por exemplo a consultoria de gestão e a banca de investimento. A abrir este número da Revista temos o texto de Rudolf Hoppe, “Se alguém não quer trabalhar também não coma (2Ts 3,10b)”. Aqui a noção de trabalho é enquadrada no Novo Testamento. Informando-nos sobre a geografia sócio-económica da Galileia e relevando

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ENSAIO

o trabalho exercido por S. Paulo, o texto inspira-se em parábolas como a dos trabalhadores da vinha (Mt 20,1-15), dos talentos (Mt 25,14-30/Lc 19,12-27) ou do cultivador de cereais (Lc 12,16-21) que ilustram o sentido da pregação de Jesus. No artigo “Parábola dos vinhateiros – que justiça?”, Joaquim Carreira das Neves analisa a questão do salário justo, tal como aparece a uma primeira leitura na conhecida parábola, exclusiva do evangelho de Mateus. Realçando uma perspectiva cristã do trabalho, temos os textos de Ivica Raguz e Manuela Silva. Raguz centra-se na noção de “ócio” em contraponto com a de “tempo livre”, analisando os que se inserem no mundo do trabalho, muitos deles vítimas do delírio workaholic que conduz à privação da relação com os outros e consigo mesmos. Manuela Silva lembra-nos que numa perspectiva cristã o trabalho não é, nem deve ser, encarado como mero factor de produção, salientando as consequências negativas decorrentes do actual modelo de «capitalismo financeirizado». No artigo cujo título «O trabalho, chave da questão social» reproduz a epígrafe de um dos capítulos da “Laborem exercens”, Simona Beretta coloca em paralelo a evolução do pensamento económico e a da doutrina social da Igreja. Em “O trabalho e a lei”, temos a perspectiva de um jurisconsulto, António Monteiro Fernandes. Pela análise empreendida percebemos a degradação de que tem sido objecto o trabalho no direito legislado e na respectiva execução, mormente quando se «flexibilizam» quer o acesso quer a cessação (despedimento) do vínculo de emprego. Olivier Boulnois analisa a criatividade na arte, algo que pensávamos indiscutível mas que na realidade diz respeito a um período histórico situado entre os séculos XV e XX.

Escrito em pedra

Thomas Prügl em «Ora e labora. Uma teologia do trabalho no monaquismo antigo e medieval?» reflecte sobre o monaquismo pré-moderno. Em «No prato certo da balança» comenta Luísa Falcão o desafio feito pelo poeta Seamus Heaney a trinta autores (irlandeses) por ocasião do 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008. Ao comentar o filme “24 City” do realizador chinês Jia Zhang-Ke, Vasco Batista Marques chama a atenção para o papel central que o tema do trabalho desempenha na filmografia deste cineasta. A obra em causa é significativa das alterações decorrentes da passagem do maoísmo para o capitalismo, mostrando-nos uma China contemporânea que procura situar-se entre dois universos aparentemente incompatíveis.

workaholic

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FOTÓGRAFO

SAGRADOR DO MÍSTICO TEXTO / Paulo Homem FOTO / Mike Maciel

Do espírito do mundo ao espírito de Deus. Da vida breve à vida eterna. A memória dos homens é feita de imagens: momentos, instantâneos irrepetíveis que se perpetuam num olhar fixado pela objectiva que imortaliza o tempo. O olhar debruça-se sobre o sagrado convidando ao místico contemplativo. O sagrado nota-se nas cores e nos motivos presentes no místico revelado. Não basta captar, é sobretudo necessário que a captação seja coerente, uma espécie de simbiose entre

quem vê e quem transmite a emoção. Não há imagem sem emoção. A intensidade e o momento dão o privilégio de um momento único no cosmos que se fixa intemporalmente. Conhecer os tempos, conhecendo o tempo é tarefa da técnica que não é nada sem o homem. A objectiva do fotógrafo faz isso mesmo: transmuta o tempo e o espaço em imagem que, como um e outro, se transfigura em realidade. Aqui é captada a tendência do movimento místico: a forma de abóbada e o brilho multicolor convidam ao transcendente. Há uma luminosidade que ultrapassa o real – sendo real reinventado –, ultrapassando o caos do tempo e a necessidade do momento. A inclinação da foto ao côncavo, sobretudo as naves, aponta ao infinito: uma porta que se abre na imaginação do homem; um convite de caminhada com um ponto de partida e um destino bem definido. Do real ao transcendental. Do espírito do mundo ao espírito de Deus. Da vida breve à vida eterna. É este o eterno que se funde: o eterno imaginado e o eterno criado.

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Exposição

Centro de Ciência de Angra do Heroísmo Estrada Gaspar Corte-Real Antiga Casa do Peixe SÓ ATÉ JUNHO | 2012

Terça a Sexta 9h | 18h Segunda e Sábado 9h | 16h


OPINIÃO

UM MUNDO MELHOR TEXTO / Pe. José Júlio Rocha

Disse o eminente filósofo José Gil, numa conferência, que – e cito – «Portugal é um país entrópico por excelência». Percebi que ele queria dizer que o nosso era um país que tende inexoravelmente (e esta palavra está fatalmente ligada à entropia) para um lento, apático aniquilamento. Perda de energia económica, financeira, competitiva, cultural que seja. Aprendi em ciências que a inexorável lei da entropia, universal e todopoderosa é o lento apagamento dos corpos que tende –, como na humana lei do menos esforço, - à perda constante de energia, assim como um braseiro que vai arrefecendo até se transformar em cinzas. O Universo sofre magnanimamente esse processo transformação de energia para matéria, de movimento para inércia, de luz para trevas, de calor para frio, até chegar àquilo que é conhecido como o zero absoluto, algures perto de 270 graus celsius negativos. Brrrrr. José Gil foi voluntariamente provocador e pessimista. Por mais que eu queira, não vejo Portugal reduzido a nada, sem mar que seja, um buraco negro no extremo da velha Europa; nem a nossa terra dada em pasto a animais selvagens, e, abominação da desolação, os nossos estádios destruídos, o que resta do povo deportado, como Israel para a Babilónia, aonde, nos salgueiros marginais, havemos de depositar as guitarras e as violas da terra; nem os portugueses obrigados a organizarem bandos e gangs que se matam e se comem, como algures em Hollywood alguém imagina um mundo pós-apocalíptico. Nada disso. Mas vejo um Portugal triste, desimportado, cabisbaixo. 1989 foi a primeira vez que arribei a Lisboa. Vi pela primeira vez uma estação de caminhosde-ferro, Santa Apolónia, com aquelas chegadas e partidas de comboios, com o peso e a solenidade que só uma estação terminal se permite ter. Impressionou-me a sujidade e o desleixo. Garrafas de plástico inundavam o fundo da estação onde corriam os trilhos. Garrafas de cerveja e papéis, sacos de plástico e sujidades. Daí para cá, Lisboa só tem melhorado. Em quase todos os aspectos, desde a limpeza até ao trânsito, à reabilitação urbana, ao crescimento, à luminosidade, à alegria das pessoas. Uma cidade europeia como deve ser. Mas ultimamente voltaram algumas garrafas de plástico e papéis de jornal a invadir, inexoravelmente, os fundos das estações. O trânsito parece-me mais desesperado e os edifícios estão mais escuros outra vez. Pararam construções a meio e as pessoas parece que vão, lentamente, baixando os ombros, as costas e a vida. Os fazedores de opinião babam-se por colorir o drama português com as cores da tragédia. Quando toda a gente diz que está tudo mal, o que é que se pode pensar? Acho que a tristeza que grassa por todas as latitudes do nosso Portugal é muito pior do que a crise ou, se quisermos, é o mais perturbante ângulo da crise. Pairam nuvens escuras quando o futuro é uma incógnita sem o sabor agridoce da aventura, mas com o amargo travor do medo. Crises, já as tivemos aos magotes nestes quase 900 anos. Saímos de todas elas de muitos modos. A inexorável lei da entropia que volte para o espaço, que nos havemos de safar. Começando por não pensar que Portugal é sempre a mesma desgraça e é sempre pior que os outros... acho que isto é genético. 26 Março 2012 / 25


PARTIDAS

RUA DOS AÇORES, PORTO TEXTO / Teresa Silva Ribeiro

A Rua dos Açores, no Porto, fica a 800 metros do meu apartamento, mas nas minhas saídas rotineiras nada me obriga a passar por ela. Filo, porém, há dias, levada por um crescente nó na garganta, um aflitivo aperto no estômago, um angustiante peso no peito. Por aquilo a que só os falantes do português chamam saudade. Atrás de um sonho, parti de Angra, a minha cidade património pessoal, e troquei-a por outra que amei desde logo, pela beleza do tal “casario que se estende até ao mar”, mas também pela costela portuense legada por meu pai. Nos quase 17 anos que entretanto passaram a voar, voei eu também diversas vezes de volta à ilha. E agora que alcancei o

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tal sonho e até dei ao Porto, saído das minhas entranhas, mais um cidadão, sinto cada vez mais a dor dessa partida. Falta-me a família chegada, os amigos íntimos e a própria terra, o verde e o azul, a meu ver únicos e que, a cada chegada, me enchem os olhos da alma e me sussurram: “Estás em casa.” E há dias percorri os tais 800 metros até à Rua dos Açores, na esperança de me deparar com Sta. Luzia, Rua da Sé, Fanal, S. Mateus, Biscoitos, Praia da Vitória, ali, todos juntinhos nos 170 metros de rua estreita. Ou por achar que haveria um talho com a linguiça que só na Terceira me sabe bem e que alguma confeitaria vendesse Donas Amélias, Queijadas da Graciosa e Espécies de São Jorge. Mas não. Uma rua, como muitas outras. Percorrida em dois minutos. Uma estação de serviço numa das pontas, uma dezena de prédios rasos ou de dois andares, no máximo, num dos lados. No outro, nem tanto. Um muro alto, que esconde algo (mas palpita-me que não os Açores), umas quantas árvores (nenhuma endémica do arquipélago) e algumas casas. Só na outra extremidade tive a certeza de me encontrar, de facto, onde desejava. Lá estava a placa toponímica. A da outra ponta desapa-


PARTIDAS

recera. Pensei, romanticamente, que fora levada por igual açoriana saudosa, que agora a expunha na parede da sala, rodeada de hortênsias artificiais. Mas lá estava a placa. Verde e com céu azul como pano de fundo. Mas até isso me desiludiu. O verde e o azul que ali, todos os dias, recordam os Açores, ficam muito aquém dos originais. Por isso, partirei novamente e, em vez de 800 metros percorrerei mais de 1600 quilómetros para matar, aos poucos e mais uma vez, a saudade, na esperança de que um dia a mate definitivamente. Há partidas muito boas.

Atrás de um sonho, parti de Angra, a minha cidade património pessoal, e troquei-a por outra que amei desde logo, pela beleza do tal “casario que se estende até ao mar”.

AÇORES NAS RUAS DO PORTO


ÓCIOS / OPINIÃO

“A ironia é a expressão mais perfeita do pensamento.” Florbela Espanca

CARTOON

F.S.

QUESTIONÁRIO

O Sporting de Braga será campeão nacional?

ONLINE

AS MAIS VISTAS

Diz Carlos César GOVERNO DA MADEIRA “NÃO PRESTA”

Sim Diz Sandra Fernandes “PORTUGAL PRECISA DE SANGUE NOVO” NA POESIA

Não

LETS RIDE! TEXTO / Frederica Lourenço ilustração / Mike Lowery para Tatty.com

Já não as encontramos apenas em Amesterdão ou Bruxelas. Ao jeito de tudo o que vira moda, estão agora em toda a parte, numa espécie de demonstração de consciência ambiental + “cool living” e transformaram-se no último acessório de moda a ter. O objectivo destes “pedaladores” urbanos é simples: ir e vir para o trabalho sem estar tolhido por chapa, trânsito e stresse. Mas desenganem-se aqueles que

pensam que é uma modalidade acessível a todos: para além de ter de ser capaz de subir uma rua como a do Galo sem desistir a meio, os requisitos mínimos para fazer parte do grupo é ter imenso estilo e dinheiro na carteira. No entanto, garantem, a modalidade tem como alvo quem pedala a vida sem pressas, e gosta de o fazer com saltos altos de marca. Há-as para os mais diversos gostos: as icónicas bicicletas dinamarquesas Velorbis www.velorbis.com, bicicletas de luxo e estupidamente giras, marcam o topo da lista, seguidas pelas irresistíveis “shopping bicycles” londrinas Wren http:// revisitadas wrenbicycles.co.uk/, num design contemporâneo. E, como seria de esperar, os chineses não quiseram ficar atrás, e viram também aqui uma possibilidade de negócio: as Flying Pigeon www.theflyingpigeon. com andam já em alta velocidade pelas ruas de cidades como Porto, Barcelona ou Nova Iorque. Tudo isto “quitado” com os acessórios fantásticos da sueca Bookman http:// bookman.se, à venda em tudo o que são museus de arte espalhados por este mundo fora. Por cá resta-nos esperar, mudarmonos para uma cidade muitíssimo cool ou, para os mais impacientes, procurar as lojas online das marcas.

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CULTURA

É HORA DE . “Na Hora de Ir Para A Cama” é uma comédia de origem irlandesa, onde se narra os apuros em que se meteu John Jo Mulligan, rapaz solteiro e respeitável,

PedraMó que acidentalmente passa a noite com uma divertida “moça” chamada Ângela, situação que, apesar de aparentemente não lhe desagradar, vem chocar

31 Março, Angra com as condicionantes impostas pela sociedade, por isso, quando se apercebeu da alhada em que se meteu, tenta salvar-se, evitando o conhecimento desta indiscrição pelo seu amigo Daniel, da senhoria Miss Mossie, do patrão e do pároco. Dia 31 de Março no Teatro Angrense, a cargo do Pedra Mó Grupo de Teatro.

AGENDAR, a cultura “Agenda cultural independente, inovadora e gratuita da Ilha de São Miguel”, assim sem falsas modéstias se apresenta a Yuzin, projecto da Silêncio Sonoro Associação Cultural, criada há dois anos com base num projecto surgido em Espanha. Esta agenda mensal promove todo o tipo de actividades, eventos e projectos relacionados com a cultura desde as artes plásticas e cénicas, música, dança, literatura, cinema, fotografia mas também informações sobre bares, restaurantes e espaços de animação nocturna. Com uma imagem que se pretende “jovem, forte e de fácil compreensão” a Yuzin está organizada como um calendário tendo em cada dia informações sobre o que vai acontecer, onde, a que horas e por que preço. Os responsáveis do projecto pretendem incentivar o hábito de participar em eventos culturais e ao mesmo tempo ser “um ponto de encontro” das diferentes entidades que trabalham e promovem a cultura.

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O Bolamente/Balamente/Belamente conforme as diferentes pronúncias de cada ilha do Arquipélago é um jogo original e tradicional dos Açores, que hoje em dia praticamente se perdeu. O jogo começava na Quaresma e terminava na Páscoa e as regras eram muito simples, podendo ser jogado por apenas duas pessoas. Para tal, tinham que combinar previamente, geralmente duas a três semanas antes da Páscoa, dizerem “balamento” logo que se vissem. O primeiro que dissesse a palavra ganhava um ponto, sendo que, normalmente, só se podia dizer duas vezes durante o dia: de manhã e ao final da tarde. O segredo do jogo passava por apanhar o outro desprevenido e assim conseguir ser o primeiro a dar o “balamento”, tudo servindo como esconderijo enquanto seesperavapeloalvo. Chegando à Páscoa, contavam-se os pontos e quem tivesse dito um maior número de vezes “balamente” recebia o prémio, que era sempre um saco de amêndoas dado pelo perdedor.


CULTURA

M83/ Hurry Up TEXTO / Adriana Ávila

Com um nome inspirado numa galáxia espiral barrada, os M83 são um coletivo de música eletrónica nascida nos Antibes , França. Nicholas Fromageau e Anthony Gonzalez formaram os M83 em 2001 com o seu primeiro álbum homónimo, apesar de mais tarde Nicholas Fromageau se ter afastado da banda. No ano transato lançaram o «Hurry Up, We’re Dreaming.» pela editora independente Naïve, estiveram em terras lusas nos passados dias 11 e 12 de Março, no Porto e em Lisboa respetivamente, com o propósito de apresentar o seu mais recente trabalho.

M83 NO PRIMAVERA SOUND EM BARCELONA E NO PORTO De regresso à península, o projeto francês fará parte dos cartazes dos festivais San Miguel Primavera Sound em Barcelona e Optimus Primavera Sound no Verão de 2012.

Novo Van Gogh Vincent Van Gogh “tem” um novo quadro, depois de dez anos de investigações terem chegado à conclusão que “Com flores e rosas” foi mesmo pintado pelo mestre holandês. O quadro inédito está agora exposto no museu Kroller-Muller, na cidade de Arnhem.

Ruben em Coimbra Ruben Bettencourt inaugurará a semana cultural de Coimbra, no dia 28 de Março de 2012, pelas 21h30, com um concerto na prestigiada Biblioteca Joanina. Em parceria com a Associação António Fragoso e a Universidade de Coimbra, este concerto marca a segunda vez que o artista angrense actua neste local depois de já ter actuado no Festival de Música de Coimbra, em Outubro de 2010, sendo o mais jovem de sempre em 16 edições efectuadas.

A viagem de Abel Sonata para um Viajante é o primeiro livro de Dimas Simas Lopes. A obra conta o percurso de Abel, personagem principal e narrador da história, na sua viagem pelo mundo dos homens do mar e da terra, dos artistas das imagens e das palavras e dos sons, que ouve baleeiros na casa dos botes, ouve música nas salas de concertos e teatros de ópera, abre os olhos nas salas de exposições, conhece a desgraça, a morte, infernos e restos de paraísos.

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OPINIÃO / AGENDA

Num mundo estranho, ganancioso e por vezes sombrio, escondem-se as melhores histórias com um enorme leque de personagens distintas. Escrever, é modificar o mundo a cada linha, pintá-lo consoante a criatividade. Ser jovem significa não ter medo de voar, viver com ousadia, projetar caminhos e criar um mundo encantado. Morar numa pequena ilha, no meio do oceano Atlântico, contém uma essência mágica. Sentir o sabor das ondas e ser envolvida no abraço do vento. Se as folhas caem quando chega a sua altura, se as flores despertam no seu repetivo ciclo, morar numa ilha é viver envolta no encanto do seu mistério, é poder tirar proveito de todos os segredos que se escondem na natureza Na minha história, dou o protagonismo àqueles que sofrem, mas superam a dor e aos que sonham e bus-

A brisa DAS PALAVRAS TEXTO / Cláudia Ferreira

cam. Assim, no processo de criação, seguro numa caneta de tinta verde e começo a reinventar o meu próprio mundo. Porém, percebo que perdi a minha caneta, e no meio da sua busca, passeio pelas cidades inventadas por mim e observo os meus personagens. Ao longe, uma criança acenou, e dirigindo-me ao seu encontro, observo a minha caneta nas suas mãos sujas. - Aqui tens a tua esperança – falou, continuando em seguida. – Não basta sonhar, mas sim viver.

SIZA em Angra Angra do Heroísmo será a sede oficial das comemorações do Dia Nacional dos Centros Históricos, ocasião marcada pela visita do arquitecto Álvaro Siza Vieira.

Dia 28, 11h00 Naquela que será a sua primeira visita aos Açores, Siza Viera irá participar numa conferência intitulada “Arquitectura e a Cidade”, pelas 11h00 da manhã, no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

Passos do Concelho Siza Vieira irá ainda receber o 1.º Prémio Nacional “Memória e Identidade”, atribuído em resultado de parceria entre a Associação Portuguesa de Municípios com Centro Histórico e a Câmara de Angra do Heroísmo. No âmbito deste evento, Angra do Heroísmo receberá representantes dos 108 municípios com Centro Histórico.

26 Março 2012 / 31

A Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo promove um Workshop de Apreciação de Vinhos para restauração e apreciadores em geral, nos próximos dias 10, 11 e 12 de Abril. O orador será o jornalista profissional da imprensa vinícola, João Paulo Martins. O primeiro dia do workshop de iniciação à prova de vinhos trata sobretudo de vinhos brancos. O segundo dia será dedicado aos vinhos tintos e o terceiro trata, sobretudo, de espumantes e generosos.



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