29HORAS - março 2025 - ed. 182 - RJ

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RJ

MARÇO/2025 distribuição gratuita no aeroporto santos dumont

Lázaro Ramos

Com o lançamento do livro “Na Nossa Pele”, o ator, apresentador, diretor e escritor dá sequência à conversa sobre família, racismo e construções coletivas iniciada com o best-seller “Na Minha Pele” em 2017

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29H SP

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PUBLISHER Pedro Barbastefano Júnior

CONSELHO EDITORIAL Chantal Brissac, Clóvis Cordeiro, Didú Russo, Georges Henri Foz, Kike Martins da Costa, Leonardo Chebly, Luiz Toledo, Paula Calçade, Pedro Barbastefano Júnior e Ricardo F. Marques

REDAÇÃO Paula Calçade (editora executiva); Kike Martins da Costa (editor contribuinte); Rose Oseki (editora de arte), Vivian Monicci (repórter)

COLABORADORES André Hellmeister, Chantal Brissac, Didú Russo, Georges Henri Foz, Karen Kohatsu, Luiz Toledo, Patricia Palumbo, Sissi Freeman

TRATAMENTO DE IMAGENS Karen Kohatsu, Rose Oseki

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COMERCIAL comercial@neooh.com.br

JORNALISTA RESPONSÁVEL

Paula Calçade MTB 88.231/SP

29HORAS é uma publicação da MPC11 Publicidade Ltda.

A revista 29HORAS respeita a liberdade de expressão. As matérias, reportagens e artigos são de responsabilidade exclusiva de seus signatários.

Av. Nove de Julho, 5966 - cj. 12 — Jd. Paulista, São Paulo — CEP: 01406-200 TEL.: 11.3086.0088 FAX: 11.3086.0676

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Capa

Lázaro Ramos lança nova autobiografia e estreia personagens dramáticos nos cinemas e na TV

Hora Rio

Cheesecake de morango da Dianna Bakery, na Tijuca, que também surpreende com sabores autênticos de sorvetes

Vozes da cidade 11

Passeios para curtir a natureza e praticar esportes no Rio de Janeiro

17 Economia criativa

O equilíbrio entre inovação e tradição na perfumaria

Foto da capa: Edgar Azevedo

Cachaças selecionadas, mostra de funk no museu, botecagem em Ipanema e espetáculo sobre Clarice Lispector no teatro

hora

O MELHOR DA CIDADE MARAVILHOSA

Tentáculos que dominam a vizinhança

BOTAFOGO A chef sergipana Monique Gabiatti comanda dois estabelecimentos quase vizinhos onde os frutos do mar são as estrelas. No descontraído Polvo Bar, os carros-chefes são os tacos de polvo, as manjubinhas fritas e os guiozas de camarão. Para beber, tem cerveja gelada e o Mar Vermelho, um Blood Mary incrementado com redução de ostras (foto). A um quarteirão dali, no restaurante Polvo Marisqueria, o ambiente é mais tranquilo e os pratos são mais elaborados. Tem arroz de polvo, salpicão de caranguejo, lulinhas com hommus de feijão vermelho, filé de peixe maturado preparado na brasa e servido com arroz cremoso de limão ou ainda vieiras gratinadas com creme de couve-flor e bottarga. Para beber, peça um Iracema, coquetel à base de tiquira (aguardente de mandioca), gengibre, maracujá e água tônica.

POLVO BAR: Rua General Polidoro, 156, Botafogo.

POLVO MARISQUERIA: Rua Dezenove de Fevereiro, 194, Botafogo.

Doçuras geladinhas para aplacar o calor

Sorvete de banana trufada, mousse de mel com amêndoas e cheesecake de morango são as “armas” da Dianna Bakery para fazer frente às altas temperaturas da estação

Que mistério tem Clarice?

Beth Goulart remonta espetáculo que cria um diálogo entre a escritora paranaense Clarice Lispector e quatro personagens de seus livros e contos

Originalmente concebido e encenado em 2009 sob supervisão do diretor Amir Haddad e visto por mais de 1 milhão de espectadores, o espetáculo “Simplesmente Eu, Clarice” volta aos palcos. Em cartaz até o dia 30 de março no Teatro Prio, a premiada peça celebra os 50 anos de carreira da atriz Beth Goulart, que assina a adaptação e a direção, além de interpretar no palco a escritora paranaense que nos últimos meses vem sendo “descoberta” em círculos literários na Europa e nos Estados Unidos.

A encenação cria um diálogo entre Clarice Lispector (1920-1977) e quatro de suas personagens, numa conversa sobre vida e morte, criação, religião, cotidiano, silêncio, solidão, entrega, inspiração, aceitação e entendimento. O texto foi montado a partir de depoimentos, entrevistas,

A chef confeiteira Dianna Macedo acaba de introduzir novidades refrescantes no menu de sua Dianna Bakery, para fazer frente aos dias escaldantes desse início de ano no Rio de Janeiro. Entre elas, destaque para o Brisa de Verão, mousse de mel com amêndoas tostadas, envolta em uma fina camada de chocolate branco e escoltada por sorbet de frutas vermelhas.

Outras boas pedidas são o sorvete de banana trufada (servido com crumble de brownie e calda de chocolate) e a cheesecake de morango. O cardápio tem ainda mais dois clássicos da confeitaria norte-americana: a Lemon Bar (com base de massa amanteigada e cobertura de creme de limão azedinho na medida) e a verrine Red Velvet, que combina a delicada acidez das frutas vermelhas com a untuosidade do cream cheese. Para beber, as sugestões da estação são as sodas artesanais de tangerina com gengibre, de limão siciliano ou de cranberry.

Dianna Bakery

Rua Dona Delfina, 14, Tijuca, tel. 21 3129-7006.

correspondências de Clarice e trechos de obras como “Perto do Coração Selvagem”, “Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres” e os contos “Amor” e “Perdoando Deus”.

Teatro Prio

Rua Bartolomeu Mitre, 1.110, Gávea. Ingressos de R$ 60 a R$ 120.

GÁVEA

BOTAFOGO

Bar explora a diversidade das cachaças

Com dezenas de cachaças selecionadas em sua carta de bebidas, o Kalango é um lugar que faz a alegria dos fãs do mais brasileiro dos destilados

Botecagem

em ritmo de Bossa Nova

Bar Magnólia surge para resgatar a atmosfera boêmia e charmosa dos tempos em que o mundo inteirinho se enchia de graça por causa do amor

Com nome inspirado na música de Jorge Ben Jor, o Bar Magnólia resgata a velha boemia de Ipanema dos anos 50 e 60 do século passado. Com ladrilhos no piso, azulejos nas paredes, luminosos típicos de botecos e chopeiras aparentes, a ambientação cria uma atmosfera retrô. O cardápio assinado pelo chef Rodrigo Guimarães tem como destaques a tradicional feijoada completa e clássicos da baixa gastronomia, como o bobó de camarão, a carne seca acebolada, o picadinho e o arroz caldoso de polvo e brócolis. Tem também breguets e petiscos ideais para compartilhar, como pastéis, coxinhas, bolinhos de aipim, frango a passarinho e torresmos.

Para beber, além do chope geladinho e cremoso, a casa tem uma carta de drinques elaborada pelo mixologista Marcelo Emídio, com coquetéis básicos e caipirinhas incrementadas, como a Caetano (feita com com caju, limão tahiti e rapadura), a Tom Jobim (de abacaxi com maracujá, hortelã e gengibre) e a Bossa Nova (de carambola com uvas verdes).

Instalado em um ponto estratégico da boemia botafoguense, o Bar Kalango, da chef Kátia Barbosa, é um endereço perfeito para quem curte uma boa cachaça. A carta de destilados da casa foi criada em parceria com o jornalista Juarez Becoza, especialista em botequins e membro da Academia Brasileira da Cachaça. Entre os rótulos vindos do Nordeste, destaque para a paraibana Princesa do Brejo, com seu sabor abaunilhado e floral graças ao envelhecimento em barris de amburana. De Quissamã (no norte fluminense), vem a Sete Engenhos, produzida em um dos alambiques mais antigos do Brasil. Armazenada em tonéis de amendoim-bravo, ela possui um aroma doce de cana, com suave picância.

Para acompanhar esses goles tão especiais, prove as porções de pipoca de queijo coalho, de jilós empanados, de bolinhos de vaca atolada ou de costelinhas de porco. Se a forme for maior, não hesite: peça então o sanduba de peixe empanado (Kalango Fish) ou o caprichadérrimo baião de dois com carne de sol da Katita.

Kalango Bar Rua Arnaldo Quintela, 44, Botafogo, tel. 21 3178-0811.

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DIVULGAÇÃO
Bar Magnólia
Rua Garcia D’Ávila, 151, Ipanema, tel. 21 3042-0886.

Anexo do Copa fecha para grande reforma

Obras que devem durar até meados de 2027 vão ocasionar o fechamento temporário de dois dos restaurantes do hotel e a redução do total de quartos à disposição dos hóspedes

O hotel Belmond Copacabana Palace inicia este mês, depois do Carnaval, uma ampla reforma no prédio conhecido como “Anexo”, inaugurado em 1948. As obras devem durar cerca de dois anos e, por causa delas, o funcionamento dos restaurantes Cipriani e Mee será interrompido durante todo período. Durante a reforma, o número de quartos será reduzido a apenas 74, o que pode ser especialmente problemático nos Réveillons de 2025/2026 e 2026/2027 e na semana do show que a popstar

Crepúsculo das deusas

Susana Vieira volta aos palcos com a comédia metalinguística “Lady”, em que uma veterana atriz reflete sobre sua vida, seus amores e seu trabalho no teatro

Em cartaz no Teatro Casa Grande a partir do dia 13 de março, a comédia “Lady” é um monólogo escrito especialmente para a diva Susana Vieira. No palco, a atriz de 82 anos interpreta uma grande dama do teatro que se põe a repensar sua vida momentos antes de entrar em cena para mais uma vez interpretar Lady Macbeth, uma das personagens mais clássicas e emblemáticas criadas pelo dramaturgo inglês William Shakespeare.

“O que há de Susana Vieira na personagem que interpreto? Aí o público vai ter que assistir e descobrir”, diverte-se a atriz. Ao longo da peça, são abordados temas como envelhecimento, sexo, amor, família e etarismo, de forma poética e bem-humorada. O texto é de autoria de Vana Medeiros, e a direção é de Leona Cavalli. A curta temporada de “Lady” está prevista para terminar no dia 28 de março.

Teatro Casa Grande Avenida Afrânio de Melo Franco, 290 (Shopping Leblon). Ingressos de R$ 60 a R$ 180.

Lady Gaga vai apresentar na Orla em maio deste ano.

Inicialmente, essa modernização seria feita para marcar o centenário do hotel, celebrado no ano passado, mas o cronograma foi postergado para 2025. O projeto prevê a construção de um rooftop no alto do “Anexo”. A conclusão dessa remodelação do prédio está

prevista para ocorrer em 2027, deixando o hotel ainda mais luxuoso, confortável e moderno.

Belmond Copacabana Palace Hotel Avenida Atlântica, 1.702, Copacabana, tel. 21 2548-7070.

Diárias a partir de R$ 3.450.

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DIVULGAÇÃO COPACABANA
8 HORA RIO POR KIKE MARTINS DA COSTA

Ao lado, obra "Radiola de Promessa Finalizada", da Gê Viana, e abaixo, obra de Hebert Amorim

SAÚDE

Funk encerra 'ocupação’ em museu de arte

Mostra “Funk: Um Grito de Ousadia e Liberdade” fica em cartaz no MAR somente até o final do mês, exibindo a trajetória e os desdobramentos estéticos e sociais desse movimento cultural periférico

Em cartaz desde setembro de 2023 no MAR (Museu de Arte do Rio), a mostra “Funk: Um Grito de Ousadia e Liberdade” chega ao fim no dia 30 de março. A exposição perpassa os contextos do funk carioca através da história, extrapolando a música e evidenciando a sua matriz cultural urbana e periférica, a sua dimensão coreográfica, o seu imaginário, as suas comunidades e os seus desdobramentos estéticos, políticos e econômicos.

A exposição exibe mais de 900 itens, de mais de 100 artistas brasileiros e estrangeiros. Entre eles, destaque para Vincent Rosenblatt, Blecaute, Gê Viana, Manuela Navas, Maxwell Alexandre, Hebert Amorim, Emerson Rocha e Panmela Castro, entre outros. O público poderá interagir com algumas instalações, ouvir músicas, dançar e ler textos que contam a história do ritmo musical, ou melhor, do movimento cultural.

M.A.R. (Museu de Arte do Rio) Praça Mauá, 5, Saúde, tel. 21 3031-2741. Ingressos a R$ 20.

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Personalização à beira-mar

Marcas de bem-estar, esporte, alimentação e lifestyle transformam quiosques em ativações e completam experiência do público nas famosas praias da zona sul

Maior rede de academias da América Latina, a Smart Fit personalizou o quiosque Força e Saúde na orla de Copacabana, aliando lazer com práticas esportivas, música e alimentação saudável. O local, em frente ao número 2.441 da Avenida Atlântica, já se tornou um ambiente de descompressão para moradores e turistas. Por lá, as opções fitness são apresentadas de forma divertida no cardápio, que destaca lanches, saladas, açaí e snacks vegetarianos, como falafel, abobrinha e chips de batata doce e mandioca. Também há música ao vivo e eventos, sempre anunciados nas redes sociais. O quiosque fica aberto 24 horas.

Consolidando marcas nas praias, a concessionária Orla Rio, que administra o quiosque, trouxe nos últimos anos outras ativações que unem saúde, esporte, cultura e boa gastronomia à beira-mar. O carrinho da Bacio di Latte,

Em sentido horário, quiosque da Espaço Laser, carrinho da Australian Gold, e quiosque da Smart Fit, em Copacabana, da Orla Rio

inaugurado em Ipanema em julho de 2023, agora conta com uma nova operação na Barra da Tijuca; e o Clássico Beach Club inaugura o seu quinto quiosque assinado pela Orla Rio, desta vez no Leblon.

Outro destaque da atuação da Orla Rio na zona sul é a recente instalação de três caixas eletrônicos ATM em Copacabana e no Leme. As Automated Teller Machines (ATMs) são máquinas com funções de saque, depósito e

consulta de saldo, que atendem não somente ao público local, mas também estão disponíveis para os turistas. No Leme, o terminal está localizado no quiosque Estrela de Luz, e em Copacabana, no quiosque Enchendo Linguiça e no Posto 5.

Quiosque Força & Saúde + Smart Fit Avenida Atlântica, 2241, Copacabana.

COPACABANA
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DIVULGAÇÃO

Vozes da cidade

Lado B

Depois de saborosas colheradas, dicas do chef para curtir a natureza e ter dias mais ativos no Rio de Janeiro

Parque da Floresta da Tijuca

“Gosto de passear no Parque da Floresta da Tijuca, com trilhas maravilhosas no meio da natureza e muitas cachoeiras. Esse lugar mostra realmente um Rio de Janeiro verde, de montanhas, ar puro e água cristalina.”

Estrada da Cascatinha, 850, Alto da Boa Vista

Grumari

“Adoro pegar uma praia em Grumari, passando pela Prainha que é boa para quem gosta de surfe. Grumari é linda, praticamente deserta durante a semana (final de semana é o contrário, muito cheia) e, além da vista para o mar, tem também a vista para a Serra da Grota Funda, que é impressionante.”

Avenida Estado da Guanabara, Grumari

Rota de bike

“Amo passear de bicicleta pelo Rio de Janeiro. Saindo do Leblon, dá para ir até São Conrado e Barra da Tijuca. Ou, dá para fazer também uma rota realmente carioca, partindo do Leblon para chegar até o aeroporto Santos Dumont. É um passeio lindo! Às vezes pego um barco para Niterói e continuo o roteiro de bike por lá — o programa dura um dia inteiro, eu adoro.”

Esportes em São Conrado

“Para quem gosta de esportes radicais, combinar um voo duplo de asa delta ou de parapente, em São Conrado, é sempre uma lembrança incrível do Rio de Janeiro. Se você tira um dia de sorte e o vento está forte para o leste, é possível passar a Pedra da Gávea e ter uma vista de 360° da cidade.”

As dicas de quem adora o Rio

*CLAUDE TROISGROS é chef dos restaurantes Cantina do Claude e Chez Claude, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

ESPORTES EM SÃO CONRADO
GRUMARI
PARQUE DA FLORESTA DA TIJUCA

Pensamentos UTÓPICOS para tempos DISTÓPICOS

EM SEU NOVO LIVRO, LÁZARO RAMOS DÁ SEQUÊNCIA À CONVERSA

INICIADA EM 2017 COM “NA MINHA PELE” E REFORÇA QUE, NESTE MUNDO REPLETO DE NEGACIONISMO, ÓDIO E DESINFORMAÇÃO, SONHAR É MUITO IMPORTANTE – MAS NÃO ADIANTA FICAR APENAS

ESPERANDO AS COISAS ACONTECEREM, É PRECISO IMAGINAR NOVAS FÓRMULAS DE RESISTÊNCIA E COMBATE A ESSAS TÁTICAS DESONESTAS

APOR KIKE MARTINS DA COSTA

OS 46 ANOS DE IDADE, Lázaro Ramos é muito mais do que um dos maiores atores em atividade do Brasil na TV, no cinema e no teatro.

A cada dia ele se consagra também como diretor, produtor e escritor.

É por causa de seu trabalho com as letras que ele volta a ocupar a capa da 29HORAS. Chega às livrarias de todo país este mês “Na Nossa Pele”, continuação do best-seller “Na Minha Pele”, lançado em 2017 com reflexões sobre ações afirmativas, gênero, família, empoderamento, afetividade e discriminação. A obra teve mais de 300 mil exemplares vendidos em um país onde o livro que consegue ultrapassar os 30 mil já é considerado um grande sucesso editorial.

Na nova obra, ele dá continuidade à conversa iniciada há oito anos, com a introdução de novos temas e a recuperação de memórias inéditas, como o aprofundamento na história de sua mãe, Célia Maria do Sacramento.

No livro, o autor mostra que sua pele é coletiva, forjada em experiências e aprendizados comuns. O lançamento oficial é no dia 17 de março, mas antes disso a obra pode ser adquirida na pré-venda promovida por lojas digitais.

Na entrevista que concedeu à 29HORAS, Lázaro fala não só do livro, mas também do papel fundamental da arte em sua vida, de outros trabalhos que ele vai lançar ainda em 2025 e de sua parceria profissional e pessoal com a diva Taís Araújo. A propósito de “Na Nossa Pele”, ele volta a refletir sobre a importância de sonhar e sobre a necessidade urgente de imaginarmos e construirmos novas soluções e caminhos para encarar os desafios desse mundo distópico em que vivemos, cheio de ódio, retrocessos, guerras, mentiras e algoritmos perniciosos. Confira nas páginas a seguir os principais trechos dessa conversa.

O que despertou em você a vontade de escrever uma continuação de “Na Minha Pele”?

Não foi nada planejado, da mesma forma que aconteceu com a primeira parte dessa “conversa”. Por volta de 2015, encontrei um assunto que me mobilizou, e eu saí escrevendo. Depois vieram outros temas, sem nenhum planejamento, de forma meio caótica, e de repente todos os textos juntos deram origem ao livro lançado em 2017. A partir de 2018, percebi que as questões sobre os quais eu escrevi em “Na Minha Pele” haviam evoluído, notei que havia novas temáticas a abordar e me toquei também que o primeiro livro tinha algumas ausências importantes...

A propósito disso, aliás, eu vi recentemente você dizer que no primeiro livro “sonegou algumas de suas dores” para o leitor. Por que resolveu trazer à luz essas questões agora?

Eu falei muito pouco sobre minha mãe, ela era uma “presença ausente”. Foi citada várias vezes, mas eu não me aprofundei em contar a trajetória dessa mulher, em falar da nossa relação de mãe e filho. Ela morreu muito cedo e acredito que eu vivenciei um luto de vinte anos, guardando dentro de mim muitas memórias, mas sem pensar sobre ela e sem entendê-la como parte de um coletivo de mulheres com histórias semelhantes. Aí, no ano passado eu tive uma estafa muito severa, fui parar no hospital e – parece chavão, mas é real — comecei a rever e avaliar a minha vida. Foi então que eu comecei a escrever para e sobre a minha mãe. E comecei a enxergar que, por meio dessa mistura de memórias biográficas com reflexões sobre o momento em que vivemos, os meus textos poderiam indicar caminhos, possibilidades para quem está sem alternativas e sem perspectivas, nesses tempos de desesperança e de falta de conexão e de empatia.

Como sua mãe, eu li o começo do livro e depois, logo após ler o primeiro trecho em que você fala dela, fui direto para o final, para ver se tudo acabava

Lázaro Ramos em cena em "Elas por Elas" e "Feito Pipa", abaixo, junto ao elenco do filme "Velhos Bandidos", que estreia no segundo semestre. Na outra página, com seu primeiro livro autobiográfico em mãos, traduzido para o espanhol

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bem. O capítulo final intitulado “Conto do Juízo Inicial” traz uma mensagem de esperança, mas deixa também um gostinho amargo de que “o otimismo é uma utopia”. Você acredita de verdade em novos modelos de liderança e poder ou esse epílogo é só um sonho mesmo?

Eu acredito que eu preciso acreditar. Em tempos distópicos, temos que ser utópicos! No livro anterior, eu falo muito de sonhos e publiquei uma frase que depois me deixou incomodado, principalmente por ela ter virado tatuagens e posts motivacionais nas redes sociais: “O seu lugar é onde você sonha estar”. A verdade é que só sonhar não basta. Na grande maioria dos casos, é preciso sair da passividade, é necessário lutar pelo que a gente deseja, almeja. Muitas vezes, o caminho é longo e o aprendizado é doloroso, mas só assim as coisas

acontecem. Por outro lado, ser utópico nos ajuda a fazer um exercício de pensar novos formatos de sociedade, novas formas de relacionamento. É saudável nos imaginarmos além do que somos.

Por falar em tempos distópicos, como você enxerga esse retrocesso nas políticas identitárias e o retorno do negacionismo em questões ambientais e científicas apregoado por Trumps, Mileis e outros répteis?

É um retrato do nosso tempo, e devemos encarar isso de frente. É preciso fazer uma autocrítica para entender como chegamos a isso. Esse livro traz um pouco disso. Desde os meus 15 anos, me envolvi com o ativismo — no teatro popular e em questões como a habitação e a luta antirracista —, mas hoje acho que a cartilha que seguíamos naquela

época ficou ultrapassada. Para enfrentar pessoas que ficam absolutamente à vontade para espalhar mentiras, ódio e desinformação, temos que buscar novas estratégias, novas formas de resistência e de combate a todas essas práticas desonestas. O único alento que temos é o retrospecto da história, que alterna movimentos de avanço e de retrocesso. Isso nos traz uma fé em dias melhores. Quem sabe depois desses passos todos para trás daremos em breve um salto para a frente, chegando a um lugar mais justo e igualitário?

Na contracapa do livro, Elisa Lucinda diz que o seu texto tem como fio condutor a filosofia Ubuntu, que valoriza as relações humanas, a solidariedade, o respeito e a interdependência das pessoas. Como você “aplicou” esses ensinamentos e preceitos ancestrais na organização das ideias apresentadas nessa sua nova obra literária?

Eu achei muito bonito ela revelar isso para mim mesmo. Foi algo que eu, confesso, não havia me ligado. É que isso aparece no livro de uma forma intuitiva, não foi nada intencional ou calculado. E, inevitavelmente, a explicação para isso é a minha origem: a minha família seguia esses preceitos Ubuntu. Eu fui criado num ecossistema onde a interdependência, o respeito e a solidariedade eram “leis” inquestionáveis. Eu só fiquei mais individualista depois que saí desse ambiente seguro, desse ninho familiar...

Retomando um dos temas do livro, você consegue imaginar o que seria de você se não fosse a arte?

Nossa, eu ia ser uma pessoa muito infeliz, porque os meus momentos de maior alegria e satisfação são quando eu estou fazendo arte ou consumindo arte. Quando eu tô no palco eu tô pleno, eu tô me conectando com as outras pessoas! E, refletindo sobre o meu piripaque do ano passado, eu posso te dizer que arte para mim é também saúde, é uma coisa terapêutica. A arte é um alimento e uma vacina para a minha saúde física e mental. Se não fosse a arte, eu certamente seria uma pessoa incompleta.

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DEBORA MILICIO

Mudando um pouco de assunto, você sabe quando estreia “Velhos Bandidos” nos cinemas? Como foi atuar com a Fernanda Montenegro?

A estreia está prevista para o segundo semestre deste ano. Eu chamo Fernanda de “mamãe”. Ela sempre manda áudios lindos no meu Zap, com mensagens muito carinhosas. Criamos uma relação de amizade desde “Pastores da Noite”, minha estreia na TV, em 2002. Eu participei de “Amor de Mãe”, ela participou de “Mister Brau” — com certeza é uma das minhas mães! Quando o Claudio Torres [filho de Fernanda e diretor do filme] me convidou e disse que a produção teria a participação dela, eu automaticamente aceitei, antes mesmo dele me dizer do que se tratava a história. Foi muito gostoso voltar a atuar ao lado dessa atriz gigante e dos meus queridos Vladimir Brichta e Ary Fontoura — sem falar da Bruna Marquezine.

E para “Feito Pipa”, qual a previsão?

Nesse filme, você interpreta um pai intolerante que rejeita seu filho afeminado. Como se sentiu estando na pele de uma pessoa tão diferente de tudo o que você prega?

Também deve estrear no segundo semestre. Olha, eu não construí o meu personagem pela diferença, mas sim pela semelhança, pela aproximação. Afinal, o que acontece com ele pode acontecer com a gente também. Ele não é cruel e mau porque gosta. É uma falta de informação, é ignorância. Na verdade, esse homem é uma pessoa presa, travada e que, no fundo, tem inveja de seu filho tão livre, que sabe que pode rir quando e como quiser, que sente ter direito ao afeto e a não ser maltratado. O “problema” não é o filho, é o pai! Esse é um filme cheio de significados, que tem muito a dizer. O público gosta de ser surpreendido e esse filme traz isso. Ele é quente, não é morno como tanta coisa que vem sendo feita por aí, que parece ter sido criada por um algoritmo, só para agradar ao público médio.

Você vai atuar este ano na 3ª temporada da série “Os Outros”, da Globoplay. O que você pode nos adiantar sobre o seu personagem?

Você sabe que na televisão eu nunca fiz drama? Vai ser a primeira vez em 20 anos! Só fiz heróis românticos e

cômicos. Estou com uma expectativa muito grande para esse trabalho. “Os Outros” é uma série que tem muita qualidade técnica e estética, além de um texto excelente. Mas, infelizmente, não posso te adiantar nada sobre o meu personagem...

E sobre “O Topo da Montanha”, a peça vai voltar aos teatros?

Eu e a Taís estamos pensando em retomar as apresentações da peça, ainda que seja simultaneamente às gravações de “Vale Tudo”. Vai ser uma maluquice, mas estamos trabalhando para viabilizar isso. Sinto muita saudade desse espetáculo. Ainda não temos nada fechado, mas em breve espero que tenhamos tudo certinho.

Ao seu lado em “O Topo da Montanha”, “Medida Provisória”, “Mister Brau” e tantos outros trabalhos, a Taís é a sua grande parceira nas artes? O que há de melhor e de pior nesse “casamento artístico”?

O que tem de melhor são as qualidades que ela possui com atriz. Mesmo se eu não fosse casado com a Taís, eu ia querer muito trabalhar com ela. O que tem de mais desafiante — eu não diria “pior” de maneira alguma — é que o processo criativo dela é radicalmente oposto ao meu. Eu sou mais racional, ela é muito intuitiva. Eu tenho um pensamento que faz curvas, eu penso em várias coisas até chegar a uma conclusão, e ela é mais direta e objetiva. Somos diferentes, mas nós nos encontramos nisso, num lugar de muito respeito. Nossa parceria é muito boa, nós nos complementamos.

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"Na Nossa PeleContinuando a Conversa" Editora Objetiva
páginas
O ator com Taís Araújo, sua parceira de vida e na peça "O Topo da Montanha"

Economia criativa

Equilíbrio entre tradição e inovação

Combinando legado, sustentabilidade e renovação, a Granado fortalece sua presença global e conquista novas gerações

Na economia criativa nacional, poucas marcas equilibram história e inovação como a Granado. Fundada há mais de 150 anos, transformamos a tradição em diferencial competitivo. A recente aquisição da Care Natural Beauty reforça também a visão de futuro, apostando em um segmento crescente e alinhado às novas demandas do consumidor. O setor de cosméticos naturais reflete essa mudança: segundo a Research and Markets, deve atingir US$ 54,5 bilhões até 2027.

Para acompanhar essa transformação, marcas líderes investem em pesquisa e inovação. A biotecnologia, a reutilização de subprodutos da indústria e as embalagens recarregáveis ganham força. A chegada da Care Natural Beauty enfatiza ainda o compromisso da Granado com inovação e sustentabilidade. Reconhecida por produtos 100% naturais e veganos, a marca representa o conceito de clean beauty no Brasil.

Com essa união, ampliamos o portfólio e reforçamos nossa imagem global. O investimento em uma marca jovem renova nossa base de consumidores e expande nossa influência junto às novas gerações. A economia circular é também um pilar essencial,

Perfume Citrus Brasilis, lançamento da Granado

promovendo a reutilização de materiais e a redução do desperdício. Investimos em embalagens recicláveis e refis para minimizar o impacto ambiental. E nosso sucesso no Brasil abriu portas para mercados exigentes como Europa e Estados Unidos. Contamos com mais de 100 lojas próprias no Brasil e presença internacional em Paris, Londres, Nova York e Lisboa, além de pontos de venda na Bélgica e na Espanha. Na era digital, conectamos gerações por meio das redes sociais. Produtos clássicos, como o sabonete de enxofre, viralizaram no TikTok, conquistando o público jovem e impulsionando as vendas de 100 mil para mais de 1 milhão de unidades por mês. Nosso branding vai

SISSI FREEMAN é diretora de Marketing e Vendas da Granado

além da estética: traduz-se em experiência, valores, excelência na qualidade e conexão emocional. Criamos desejo e fidelidade genuína em torno de nossos produtos. Investir no mercado nacional significa reconhecer seu potencial e contribuir para um futuro mais sustentável e inovador.

Olhar para a inovação e investir em marcas alinhadas aos nossos valores garante que a tradição da Granado siga viva, conectada a novas audiências e impulsionando a beleza nacional para o mundo. Seguimos promissores, provando que a interseção entre história e modernidade é o caminho para crescer e se diferenciar.

POR
Sissi Freeman
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