29HORAS - agosto 2024 - ed. 175 - RJ

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AGOSTO/2024 distribuição gratuita no aeroporto santos dumont

RJ Alessandra Montagne

Nascida no Vidigal, a chef que hoje comanda dois restaurantes em Paris em breve vai servir suas obras de arte gastronômicas também no Museu do Louvre

AGOSTO

Dias: 21 e 22 de

Peçanha Protocolo de Segurança com Antonio Tabet
Dias: 12, 13, 14 e 15 de setembro de 2024
Alma de Brasileiro com Paul Cabannes
Dias: 17 de setembro de 2024
King Kong Fran com Rafaela Azevedo
Dias: 20 de setembro de 2024
Terapia Infernal com Rafael Infante
setembro de 2024
Tom Jobim Musical
Dias: 21 e 22 de setembro de 2024

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PUBLISHER Pedro Barbastefano Júnior

CONSELHO EDITORIAL Chantal Brissac, Clóvis Cordeiro, Didú Russo, Georges Henri Foz, Kike Martins da Costa, Leonardo Chebly, Luiz Toledo, Paula Calçade, Pedro Barbastefano Júnior e Ricardo F. Marques

REDAÇÃO Paula Calçade (editora executiva); Kike Martins da Costa (editor contribuinte); Rose Oseki (editora de arte), Vivian Monicci (repórter)

COLABORADORES André Hellmeister, Chantal Brissac, Didú Russo, Georges Henri Foz, Karen Kohatsu, Luiz Toledo, Patricia Palumbo, Yasmin Yonashiro

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JORNALISTA RESPONSÁVEL

Paula Calçade MTB 88.231/SP

29HORAS é uma publicação da MPC11 Publicidade Ltda.

A revista 29HORAS respeita a liberdade de expressão. As matérias, reportagens e artigos são de responsabilidade exclusiva de seus signatários.

Av. Nove de Julho, 5966 - cj. 12 — Jd. Paulista, São Paulo — CEP: 01406-200 TEL.: 11.3086.0088 FAX: 11.3086.0676

Vozes da cidade

Dicas para aproveitar o inverno carioca

Mostra da World Press Photo traz ao Rio imagens impactantes capturadas por fotógrafos de diferentes países

Chef Alessandra Montagne mantém jornada de sucesso com restaurantes em

Hora Rio
Foto da capa: Maki Manoukian
Capa
Paris

Delícias italianas, fotojornalismo no Centro Cultural e dicas para curtir o 'inverno' carioca

hora

O MELHOR DA CIDADE MARAVILHOSA

Memórias póstumas de Jandira

GÁVEA Em cartaz até 1° de setembro no Teatro das Artes, “JANDIRA - Em Busca do Bonde Perdido” tem texto inédito de Jandira Martini (1945-2024) e direção de Marcos Caruso. É um relato autobiográfico bem-humorado e poético sobre a tomada de consciência da finitude. No palco, Isabel Teixeira interpreta esse monólogo que passeia pelas memórias mais marcantes da autora – de sua participação nos blocos carnavalescos da cidade de Santos (sua terra natal) até suas atuações ao longo de décadas dedicadas ao teatro. As recordações se misturam a palavras e pensamentos de Molière, Machado de Assis, Oscar Wilde, Shakespeare e outros deuses da escrita, sua grande paixão.

TEATRO DAS

ARTES: Rua Marquês de São Vicente, 52 (Shopping Gávea, 2° piso), tel. 21 2540-6004. Ingressos de R$ 50 a R$ 100.

BARRA

Trattoria emula o clima de uma ‘casa da vovó italiana’

Dos mesmos sócios do Nino, de Ipanema, o Ninetto é a novidade no Rio Design Barra, com uma atmosfera acolhedora e bem-executadas receitas da tradicional gastronomia italiana

Desde 2020 fazendo sucesso em São Paulo e, mais recentemente, com filiais também em Belo Horizonte, Recife, Salvador e Fortaleza, a Ninetto Trattoria acaba de inaugurar sua primeira unidade no Rio de Janeiro, no shopping Rio Design Barra. Com uma atmosfera que remete à casa de uma legítima nonna italiana, o restaurante trabalha com um cardápio repleto de clássicos como o rigatoni al forno (com ragu de costela), o gnocchi al tartufo com fonduta de queijos e cogumelos frescos, o tonnarelli al pesto e burrata ou ainda o spaghetti carbonara. Para fomes maiores, as sugestões são o escalope de filé com molho funghi e risotto de parmesão ou o polpettone recheado de mozzarella com molho de tomate e acompanhado de bavette na manteiga.

Na hora da sobremesa, a casa oferece mais uma surra de maravilhosidades, como o fogattino (pastel de massa folhada recheado com doce de leite, banana e castanha do Pará) e o tiramisù.

Ninetto Trattoria Avenida das Américas, 7.777 (Shopping Rio Design Barra), Barra da Tijuca, tel. 21 3368-6863.

25

anos de pizzas feitas no capricho

Capricciosa celebra seu primeiro quarto de século de sucesso com a inclusão de duas novas e saborosas coberturas no cardápio de suas duas unidades na cidade

Para celebrar seus 25 anos de atividades e sua inclusão no ranking das 50 melhores pizzarias da América Latina (na 19ª colocação), a Capricciosa acaba de lançar novos sabores. Entre elas, a Sorrento (elaborada com mozzarella de búfala, presunto royale, azeite extravirgem, raspas de limão siciliano e pinoli) e a Florença, feita na massa de carvão vegetal, com mozzarella de búfala, escarola e alho negro (foto). As duas novas redondas estão sendo vendidas ao preço de R$ 72 cada e estarão em cartaz no cardápio das duas unidades da pizzaria casa até o final do inverno.

Seguindo à risca os preceitos das pizzas napolitanas DOC (Denominação de Origem Controlada), elas são feitas com de farinha de trigo 00, fermentação de média a longa duração e exposição no forno à lenha com temperatura acima de 400°C.

Capricciosa Rua Maria Angélica, 37, Jardim Botânico, tel. 21 2527-2656. Rua Vinícius de Moraes, 134, Ipanema, tel. 21 2523-3394.

JARDIM BOTÂNICO E IPANEMA

À direita, “Mulher Palestina Abraça o Corpo de Sua Sobrinha”, eleita Foto do Ano. Abaixo, foto “Insurreição”, de Gabriela Biló

Caixa Cultural apresenta o melhor do fotojornalismo

Mostra da World Press Photo fica em cartaz até o dia 25, com imagens impactantes capturadas por 33 fotógrafos de 25 países. Quatro brasileiros têm seus trabalhos expostos

A Caixa Cultural Rio de Janeiro apresenta até o dia 25 de agosto a exposição World Press Photo 2024, que reúne 129 fotografias vencedoras do concurso anual. A mostra convida o visitante a sair do ciclo de notícias apresentadas em série e dedicar um olhar mais aprofundado para histórias relevantes, mas muitas vezes negligenciadas. A guerra em Gaza, a invasão russa na Ucrânia, a crise migratória e a emergência climática estão entre os temas destacados na edição 2024 da premiação. A exposição apresenta 24 projetos vencedores e seis menções honrosas, em um total de 33 fotógrafos de 25 países: Argentina, Austrália, Azerbaijão, Brasil, Canadá, China, Congo, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Irã, Japão, Myanmar, Palestina, Peru, Filipinas, África do Sul, Espanha, Tunísia, Turquia, Ucrânia, Reino Unido, Estados Unidos e Venezuela.

A Foto do Ano, ganhadora do maior prêmio do concurso, foi “Mulher Palestina Abraça o Corpo de Sua Sobrinha”, feita pelo palestino Mohammed Salem, da Agência Reuters. Na imagem, feita em outubro de 2023 no povoado de Khan Younis, a menina de apenas 5 anos havia acabado de ser declarada morta no Hospital Nasser, após ser atingida em um ataque das forças israelenses.

Quatro brasileiros se destacaram no concurso e têm suas obras expostas na mostra World Press Photo 2024. Com “Seca na Amazônia”, premiada na categoria Individual da América do Sul, o fotógrafo Lalo de Almeida retrata a realidade de Porto Praia, lar dos povos indígenas Ticuna, Kokama e Mayoruna, desesperada com o “desaparecimento” do Rio Solimões. A imagem do indígena caminhando pelo leito seco do rio é assustadora.

Agraciada com uma menção honrosa por “Insurreição”, Gabriela Biló, fotógrafa radicada em Brasília, lança luz sobre os eventos de 8 de janeiro de 2023, quando uma enfurecida turba de vândalos invadiu o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e a sede do Supremo Tribunal Federal.

Os brasileiros Felipe Dana e Renata Brito foram premiados na categoria formato com “À Deriva”. No ensaio, eles contam a história de um barco vindo da Mauritânia, cheio de homens mortos, que foi encontrado na costa da ilha caribenha de Tobago.

Caixa Cultural: Rua do Passeio, 38, Centro, tel. 21 3980-2069. Entrada gratuita.
CENTRO

Show celebra os 30 anos de marco do mangue beat

Nação Zumbi apresenta no Circo Voador as faixas do inovador e impactante álbum“Da Lama ao Caos”, considerado um dos mais importantes da música pop brasileira

Lançado em 1994, “Da Lama ao Caos” foi o álbum de estreia da banda que, à época, ainda era conhecida como Chico Science & Nação Zumbi. A obra impactou a cena musical com uma sonoridade nova, misturando de maneira original ritmos regionais e universais, como funk, rock, maracatu, embolada, psicodelia e música africana. Produzida por Liminha, é considerada a pedra fundamental do Movimento Mangue Beat e um dos álbuns mais importantes na história da música pop brasileira.

Dia 16 de agosto, para celebrar os 30 anos desse marco, a Nação Zumbi sobe ao palco do Circo Voador para apresentar as memoráveis faixas desse álbum, como “A Cidade”, “A Praieira”, “Samba Makossa” e “Maracatu de Tiro Certo”.

Na abertura, mais um show-celebração: a banda pernambucana de hard core Devotos comemora seus 35 anos de atividades aquecendo a noite e a plateia que na sequência vai conferir a épica apresentação da Nação Zumbi.

Circo Voador: Rua dos Arcos, s/ n°, Lapa, tel. 21 2533-0354, ramal 22. Ingressos a partir de R$ 90

BARRA

Dança ao som de Milton Nascimento

Companhia norte-americana de dança contemporânea faz homenagem ao Brasil com coreografia criada a partir de músicas do genial cantor e compositor mineiro

Fundada em 1985 pelo aclamado dançarino David Parsons e pelo premiado iluminador Howell Binkley em Nova York, a Parsons Dance é considerada uma das principais companhias de dança contemporânea de todo o mundo. Depois se apresentar em 445 cidades de 30 países, a trupe retorna este ano ao Brasil, dançando no Rio de Janeiro nos dias 24 e 25 de agosto. O repertório do espetáculo encenado no palco da Cidade das Artes mistura o clássico e o moderno, com pitadas pop.

O público terá a oportunidade de ver coreografias como “Wolfgang” (tributo a Mozart), “Caught” (considerada uma das mais emblemáticas peças da companhia), “Balance of Power” (coreografia percussiva lançada em 2020) e , reconhecida como um dos solos mais intrigantes da Parsons Dance; “Juke” (concebida por Jamar Roberts, veterano do Alvin Ailey American Dance Theater, a partir de músicas de Miles Davis) e “Nascimento” – o grande destaque dessa apresentação, que faz uma homenagem ao Brasil, a partir de músicas de Milton Nascimento.

Cidade das Artes Avenida das Américas, 5.300, Barra da Tijuca, tel. 21 3328-5300. Ingressos de R$ 40 a R$ 300.

LAPA

Vozes da cidade

POR ANDRÉ BARROS*

O melhor do inverno carioca

Passeios para curtir a temperatura agradável e o belo visual da Cidade Maravilhosa durante a estação mais fria do ano

Posto 12

“Costumamos dizer que o Rio de Janeiro tem quatro verões, e o 'verão de inverno' é, talvez, o mais agradável para aproveitar a praia mais badalada da cidade: Leblon. O Posto 12 é o ponto de encontro de jovens do Brasil e do mundo. No inverno há menos caixas de som do que no verão oficial e um chope gelado no Caneco 70 sempre vale a visita.”

Avenida Delfim Moreira, Quiosque 8, Leblon

WineHAUS

“O WineHaus proporciona encontros musicais entre mais de 100 rótulos de vinhos em locais como o rooftop do Shopping Leblon, Sociedade Germania e o Planetário da Gávea. Agora, o coletivo também promove noites gratuitas de jazz e vinho na Casa França-Brasil e conta com um "popup winediscobar" em um casarão histórico no Baixo Gávea.”

Rua Antenor Rangel, 210, Gávea

Sunset no Morro da Urca

“Uma visita ao Parque Bondinho é espetacular em qualquer momento do dia. Recentemente, o evento Sunset com DJ Tommaz se tornou uma opção imperdível. É uma parada obrigatória que, de tempos em tempos, se torna ainda mais grandiosa.”

Avenida Pasteur, 520, Urca

Nascer do Sol

“As ciclovias da cidade estão movimentadas desde as 5h, quando o sol começa seu espetáculo. Seja no stand-up paddle no Posto 6, em uma pedalada no Aterro do Flamengo, ou em uma caminhada pela Orla de São Conrado, ver o dia nascer com a água no horizonte é transformador e proporciona fotos incríveis.”

*ANDRÉ BARROS é empresário e diretor criativo da Party Industry.

As dicas de quem adora o Rio

WINEHAUS
MORRO DA URCA
SÃO CONRADO

Onças pedem socorro de uma maneira alegre e colorida

Jaguar Parade conscientiza as pessoas sobre as ameaças ao maior felino das Américas e angaria fundos para a preservação da espécie e de seu habitat

Até o dia 11 de agosto, onças estarão à solta pelas ruas do Rio de Janeiro. É que a Jaguar Parade distribuiu 67 felinos esculturais por praças, praias, parques e pontos turísticos da Cidade Maravilhosa. As onças multicoloridas podem ser “avistadas” em locais emblemáticos como o Parque Bondinho Pão de Açúcar, o Parque Lage, o Museu do Amanhã, o Cristo Redentor, a Cinelândia, a Lapa, a zona portuária e o Mirante do Leblon, entre outros.

A Jaguar Parade é um movimento artístico que tem como propósito arrecadar fundos e conscientizar as pessoas sobre a necessidade urgente de preservar as onças-pintadas e seu habitat. As esculturas customizadas por talentosos artistas serão leiloadas e 100% da receita líquida serão doados para projetos de conservação da onça-pintada, como as ONGs parceiras Onçafari, Panthera, Ampara Silvestre e FAS.

Participam da ação, entre outros, artistas como Ticiana Parada, Alejandro Saavedra, Mel Mancini, Raphael Masi, João Incerti, Bruna Frog, Tunísio Alves, Tirry Pataxó, Anna Egreja, Samuel Eufrauso e Thaís Ribeiro.

Quenturinhas para o brunch e o café da manhã

Para as manhãs de temperaturas mais amenas deste final de inverno carioca, o Nusa Café incluiu em seu cardápio delícias quentinhas como sandubas, waffles e pães de queijo recheados

Com unidades em Ipanema e no Leblon, o Nusa Café está com mais receitas quentinhas para um gostoso café da manhã nesses dias mais fresquinhos. Das padocas de São Paulo, veio o clássico pão na chapa com requeijão tostado. Com inspiração californiana, a panelinha Avo Toast tem ovo caipira pochê, finas fatias de abacate, brioche e molho de tomate artesanal. De Minas, vêm os minipães de queijo recheados com queijo da Canastra & goiabada, cream cheese & presunto ou queijo de cabra & tomate confit. Na ala dos sanduíches, a novidade é o Queijo Quente preparado com pão sourdough, queijo da Canastra, cebola e pesto.

Outra ótima pedida do novo menu é o Combo Bukit (R$ 180 para duas pessoas), com dois minis benetidinos no brioche (um com salmão e outro com bacon), minipanquecas, waffle de pão de queijo com geleia, cream cheese ou manteiga e um miniparfait ou um potinho de mango & chia. O combo inclui ainda duas bebidas, entre café coado, espresso ou suco de laranja.

Nusa Café Brunch & Bistrô Rua Vinicius de Moraes, 129, Ipanema, tel. 21 3228-3562. Rua Rita Ludolf, 87, Leblon, tel. 21 3854-0112.

IPANEMA E LEBLON
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Economia criativa

Entre o desejo e o investimento

Joalheria impulsiona o crescimento do mercado da moda no país

Não é de hoje que a joalheria é parte percursora e motriz do segmento de luxo. Com a ascensão das redes sociais e a rápida digitalização das informações pós-pandemia, a comunicação de moda também despertou o interesse de diversos públicos sobre a joalheria, que enxergam as peças-desejo além de itens de moda, mas, principalmente, como um investimento a longo prazo.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Bain & Company, o mercado da joalheria de luxo cresceu 18% em 2022, atingindo o patamar de R$ 74 bilhões. O público feminino com maior poder aquisitivo ainda é predominante no interesse e no consumo de peças clássicas e valiosas. Porém, é notável a propensão de mais homens investindo em joias neutras e com design sofisticado nos últimos anos.

Em uma era de tendências virais de moda que vão e vêm a

todo tempo na internet, a geração Z, por exemplo, é influenciada a buscar por joias permanentes e personalizadas, sendo em maioria colares e pulseiras criadas de acordo com cada preferência. Singulares e práticas, essas pedras podem ser coringas para dar match com todos os estilos e momentos, transitando entre as tendências que já foram e as que estão por vir.

E o Brasil é um dos maiores fornecedores de pedras naturais do mundo. A grande quantidade de gemas preciosas e semipreciosas em território brasileiro se deve à geografia e geologia vasta e privilegiada. Toda essa diversidade e extensão territorial atrai olhares do mundo para a nossa riqueza nacional. Por aqui, as pedras mais trabalhadas são as de diamantes ou esmeraldas, que lideram o ranking de vendas e preferência nessa categoria premium. Dentre as joias com um design mais exclusivo e maximalista, turmalina, topázio e quartzo estão entre as principais escolhas.

Com essa realidade à vista, o mercado de luxo vive o seu melhor momento e prevê um futuro ainda mais próspero, graças à internet. Apesar do efeito fluído das tendências de moda, fica evidente que as joias exclusivas e com design único permanecerão como um acessório que atravessa gerações e são o melhor investimento para os próximos anos.

AUTENTICITÊ, CRIATIVITÊ E MARAVILHAS PRÁ CUMÊ!

COM UMA TRAJETÓRIA QUE JÁ RENDEU UM LIVRO E VAI VIRAR

FILME, ALESSANDRA MONTAGNE SUPERA AS ADVERSIDADES DE UMA INFÂNCIA DIFÍCIL ENTRE RIO E MINAS E HOJE BRILHA NA CENA GASTRONÔMICA DE PARIS, COM AS DELÍCIAS

FRANCO-BRASILEIRAS SERVIDAS NOS DOIS RESTAURANTES

QUE COMANDA — E TEM UM TERCEIRO A CAMINHO!

POR KIKE MARTINS DA COSTA

Ela nasceu no morro do Vidigal, foi abandonada pela mãe com dois dias de vida, cresceu no interior de Minas vendo sua avó cozinhar, sofreu nas mãos de um marido violento antes mesmo de atingir a maioridade, mudou-se para a França, trabalhou como babá para pagar seus estudos em uma conceituada escola de gastronomia e hoje, aos 46 anos, comanda dois restaurantes de sucesso em Paris: o Nosso e o Tempero. Já preparou banquetes para celebridades e até para o presidente Emmanuel Macron.

Seu talento com as caçarolas lhe rendeu inúmeros prêmios, condecorações e convites. O mais recente veio de Alain Ducasse — chef cujos restaurantes pelo mundo somam mais de 20 estrelas Michelin. Ele a chamou para comandar um dos restaurantes que sua empresa vai inaugurar nos próximos meses dentro do Museu do Louvre!

Mesmo radicada na França há 25 anos, ela preservou sua brasilidade. O morro segue em seu DNA, está até no nome (Montagne) que herdou de seu segundo marido, um francês com ascendência vietnamita. Suas criações misturam de maneira harmoniosa e criativa referências brasileiras

e francesas. Ela reformulou a frase famosa de Antonietta: “Se os franceses estão fartos de brioches, que comam pães de queijo!”

Na entrevista que concedeu à 29HORAS, Alessandra fala de seus pratos com sotaque franco-brasileiro, de sua passagem pelo Brasil neste mês, de seus projetos para o futuro e de seu trabalho social com refugiados, presidiárias e imigrantes. Confira a seguir os principais trechos dessa conversa. ***

Como foi o convite do Alain Ducasse? Você já o conhecia?

Já havia feito uns trabalhos para ele, em eventos. E ele já comeu no Nosso. É uma pessoa muito educada, muito afável e muito direta. Quando me ligou para fazer o convite, eu estava na rua, caminhando. Atendi e fui pega totalmente de surpresa. Ele me disse que eu teria tempo para analisar melhor a proposta, mas eu aceitei na hora! Ele é um querido e disse que a França tem muita sorte por eu ter escolhido este país para viver. Dá para imaginar um elogio melhor do que este para uma profissional da gastronomia?

Em sentido horário, Alessandra em seu programa de TV; com o premiado chef Alain Ducasse; ao lado do presidente Emmanuel Macron; e a capa de seu livro

O que você pode adiantar para a gente sobre esse restaurante que você vai comandar no Louvre?

Eu não posso revelar muita coisa, nem o nome. Tudo ainda está sendo mantido em sigilo. Apenas posso dizer que será grande, com algo entre 200 e 300 lugares, acessíveis apenas a quem já pagou ingresso e está dentro do museu. A inauguração estava prevista para o final deste ano, mas como o Louvre proibiu obras durante o período dos Jogos Olímpicos, eu imagino que a abertura só deva acontecer no primeiro trimestre de 2025.

E sobre o cardápio, não dá para revelar nada? Vai ter toques brasileiros?

Bem, eu fui escolhida para ser a chef, então dá para deduzir bastante coisa, né? O que posso dizer é que a minha personalidade, o meu coração e a minha história estarão na comida que será servida ali.

E você ainda tem outro projeto em andamento aqui na Europa, não é?

Sim, a partir de meados de 2025 vou comandar um restaurante em Valência, na costa mediterrânea da Espanha. O espaço vai funcionar dentro de um hotel que ainda está em obras. Não vai ser uma “filial” do Nosso. Vai ser algo diferente, vamos brincar com as receitas e ingredientes locais, criando uma mistura ibero-brasileira, com a potência espanhola, um ou outro toque francês aqui e ali e o tempero que somente o Brasil tem.

França, Espanha… E quando você vai ter um restaurante no Brasil?

Ainda não sei. Em agosto cozinho para o time de equitação da França, que vai ter o Palácio de Versalhes como sede, e depois, lá pelo dia 10, vamos fechar o Nosso para as férias da minha equipe, como fazemos em todo verão francês.

Nos dias 14 e 15, faço jantares em São Paulo, no restaurante Vista Ibirapuera, e depois vou para Itacaré, no litoral da Bahia, para comandar um jantar no Barracuda Hotel, no dia 24. Eu adoraria abrir um restaurante no Rio — a cidade onde eu nasci — ou em São Paulo, que me acolheu em momento muito difícil e onde tenho muitos amigos. Só posso te dizer que não vai ser este ano ou em 2025, pois a minha cabeça está focada em colocar em pé esses novos empreendimentos no Louvre e em Valência. Mas estou aberta a propostas e convites para ter um endereço no meu país. Seria uma glória para mim!

A propósito, alguma editora brasileira já te procurou para lançar uma versão em português do seu livro? Infelizmente, não. Ainda não. Mas, assim como falei sobre a possibilidade de abrir um restaurante no Brasil, vou ouvir com muita atenção a eventual proposta de alguma editora brasileira

que se interessar em lançar o meu livro. Foi doloroso relembrar tantas coisas do meu passado, mas foi um processo de certa forma “terapêutico”. O resultado foi elogiado por quem teve a oportunidade de ler e a obra até ganhou um prêmio aqui na França. Modéstia à parte, a história é tão boa que virará filme. O diretor Daniel Lieff está pilotando esse projeto, e o roteiro está sendo escrito pela Patrícia Andrade, a autora do script de filmes como “Os 2 Filhos de Francisco” e “Gonzaga – De Pai para Filho”.

Voltando a falar de comida, qual é a fórmula do sucesso do Nosso e do Tempero?

O Nosso é um restaurante contemporâneo onde apresento as minhas criações mais autorais. O menu-degustação (€ 98 por pessoa) inclui clássicos franceses com um toque tropical e receitas tradicionais do Brasil com um charme francês. Exemplos disso são o pão de queijo com caviar, o robalo com molho

de moqueca e a lagosta da Bretanha com chuchu e mucilagem de cacau — uma releitura do camarão ensopadinho com chuchu cantado por Carmen Miranda. Entre as sobremesas, temos um baba au rum que, no lugar do rum, leva cachaça. Já o Tempero, que funciona praticamente ao lado do Nosso, é um bistrô com receitas descomplicadas, como as que eu fazia quando ele abriu e foi o meu primeiro restaurante aqui em Paris, em 2012. O cardápio também muda constantemente, mas já tem seus “clássicos”, como o porco confitado com purê de cenouras, o mole de frango com creme de ervilhas e, eventualmente, até feijoada. O Tempero também é uma épicerie (mercearia de produtos como massas, molhos e condimentos) e uma loja de vinhos.

Além de conhecida por seu livro e por seu trabalho como chef, você também comanda uma atração na TV francesa. Como é esse programa?

O “Le Goût des Rencontres” é uma atração exibida semanalmente pelo canal France 3. A cada programa, eu visito um pequeno produtor rural francês e apresento suas joias gastronômicas ao espectador. Já estive em criações de patos e gansos em Périgord, em queijarias da Normandia, em vinícolas de Bordeaux, em fazendas de azeite na Provence… Esses produtores são verdadeiros artistas e merecem ser valorizados. Alguns já conhecia antes, outros são descobertas para mim também, não apenas para quem assiste.

Com o sucesso do seu restaurante, do seu livro e do seu programa de TV, você se considera uma referência para outras mulheres?

Todo mês, eu dedico um dia inteiro só para trabalhos sociais. Cozinho para as detentas de um presídio feminino, para moradores de rua e para refugiados acolhidos por uma ONG. Outro dia, a mãe de uma ex-presidiária veio aqui no Nosso e me disse que sua filha tem a minha trajetória como referência e que agora ela vai estudar para

ser cozinheira. Disse que ninguém se importava com ela e que eu fui a única pessoa que lhe ofereceu algum carinho e atenção nos meses em que ela ficou na prisão. Saber que consegui tocar o coração de garotas como essa é algo que me enche de realização e orgulho.

Nunca quis ser exemplo para ninguém, durante muito tempo o meu único objetivo era sobreviver. Sei bem como é viver com privações, senti na pele como é mudar para um outro país sem ter uma rede de apoio. Fico feliz ao ver que a minha história inspira outras pessoas.

u As delícias franco-brasileiras do u

restaurante Nosso

Pão de Queijo com CaviarRobalo com Molho de Moqueca
Lagosta com Chuchu e Mucilagem de Cacau
Baba au Cachaça

Brasileiros brilham em Paris mesmo sem Olimpíada

ASSIM COMO ALESSANDRA MONTAGNE, OUTROS DOIS CHEFS E UMA ESPECIALISTA EM VINHOS – TODOS MADE IN BRAZIL – VÊM GANHANDO DESTAQUE NA AGITADA CENA GASTRONÔMICA DA CAPITAL FRANCESA

ANTES MESMO DAS OLIMPÍADAS começarem em Paris, três brasileiros já haviam conquistado “medalhas” na capital francesa. Na modalidade restaurantes, os “atletas” premiados foram o carioca Raphael Rego e o gaúcho Lucas Baur de Campos; na raia dos vinhos, o destaque ficou com a capixaba Marina Giuberti. Raphael é quem comanda o Oka, o único restaurante de cozinha brasileira no exterior a ostentar uma estrela do Guia Michelin. Vivendo no exterior

desde os 17 anos, ele trabalhou em cozinhas da Austrália e da França (inclusive a do prestigioso L’Atelier de Joël Robuchon) até, em 2014, abrir seu próprio restaurante no 5° arrondissement de Paris, a primeira e despretensiosa encarnação do Oka. Rapidamente, a casa chamou a atenção de gourmands e críticos até que, em 2019, o conceituado guia lhe concedeu uma estrela.

Em janeiro deste ano, o Oka se mudou para uma área mais elegante da cidade, próxima ao Arco do Triunfo. Em anexo, funciona o Fogo, um restaurante mais informal de Raphael, com receitas preparadas na brasa. No salão do Oka, com apenas 14 assentos, são servidos menus fechados com cinco (€ 195) ou nove tempos (€ 245). As receitas que compõem essas sequências têm sagazes toques brasileiros. Abrindo os trabalhos, vem à mesa uma delicada tartelette de feijoada; em seguida, um canapé de caviar que tem como base um mil-folhas de mandioca; depois, vem uma lagosta servida com um delicioso caramelo de cachaça. A experiência vale cada centavo!

“O Oka é uma vitrine para muitos ingredientes e produtos brasileiros na França. Apresentá-los em

RACLETTE COM BANANA

alto nível ajuda o cliente a entender seu potencial gastronômico”, avalia Rapha, que tem boa parte dos legumes e verduras que usa (como chuchus, quiabos e pimentas biquinho) oriundos de uma horta orgânica que ele mesmo ajudou a implantar nos arredores de Paris.

FRANGO CAMPEÃO

No Brutos, o ambiente é mais descontraído e relax. Enquanto Lucas pilota o fogão, sua esposa — a simpática Ninon — cuida do salão. Aberto em 2017, o restaurante fica no descolado 11° arrondissement, em uma rua exclusiva para pedestres. Nos últimos dois anos, a casa figurou no ranking dos 50 melhores restaurantes de Paris, elaborado pela revista “Time Out”. A instalação da parrilla, que é o centro de quase todos os processos na cozinha, precisou de uma licença especial para ser colocada em um edifício do século 18. É lá que é feito o já famoso frango assado de Lucas, uma tradição dominical e uma verdadeira obsessão dos parisienses. Assado lentamente na brasa, ele é servido com molho supreme e batatas fritas bem crocantes. Para garantir o seu, é preciso reservar ou chegar cedo!

Da parrilla também saem legumes

da estação, frutos do mar e peixes, assim como carnes maturadas por 30 a 40 dias sob a supervisão do chef. “Em 2025, se tudo der certo, vamos inaugurar mais um restaurante em Paris, na Rive Gauche. Mas não vai ser uma réplica do Brutos, vai ter uma pegada mais fine dining”, avisa Lucas.

Vizinho ao Brutos, Lucas e Ninon abriram em 2021 o Principal, um bar com boas comidinhas e deliciosos drinques, como o perfumado Bendito, à base de saquê e pisco infusionado em Palo Santo. “O Principal é despojado, mas tem bebidas e petiscos de qualidade, um bar como sempre procurávamos sem sucesso em Paris”, explica Ninon. Os bolinhos de bacalhau e os croquetes de carne com ketchup de goiaba estão entre os hits do cardápio.

A TAÇA É DELA

À frente da Divvino desde 2013, Marina Giuberti é a primeira brasileira a receber o Brevet Professionnel de l’Etat de Sommelerie, um certificado que atesta seu profundo conhecimento e experiência em vinicultura francesa. Ela foi também incluída na lista das 100 melhores cavistas da França pela revista “Le Point”. Cavista é o nome que se dá a quem comanda uma loja de vinhos, e a Divvino é referência em

Na página ao lado, a capixaba Marina Giuberti, cavista da Divvino, e o gaúcho Lucas Baur, chef do restaurante Brutos.

À esquerda, o carioca Raphael Rego, chef do estrelado Oka

Paris quando se fala em champagnes raros, vinhos premium, artesanais e orgânicos. Com mais de 1.200 rótulos, a Divvino tem dois endereços na capital francesa: uma no vibrante e já citado 11° arrondissement e outra no charmoso Marais.

A unidade do Marais tem no subsolo uma sala para degustações montada em um espaço que data do século 16, com paredes de pedra e protegido pelo patrimônio histórico. As experiências (com preços que vão de € 40 a € 490) são conduzidas pela própria Marina, que apresenta vinhos de diferentes regiões francesas, acompanhados de queijos, tapas e até canapés de caviar.

Antes de realizar o sonho de ter a própria loja de vinhos, Marina estudou no Piemonte, na Itália, onde formou-se como mestre em Food & Wine, e trabalhou em restaurantes estrelados da Itália e da França.

E, mesmo vivendo na bolha do vinho, um universo muito masculino e conservador, Marina diz que nunca sofreu preconceito ou descriminação. “O fato de eu ser mulher e brasileira não me ajudou e nem atrapalhou. Sou respeitada como profissional porque as pessoas sabem da minha capacidade, conhecem a minha formação e o meu trabalho. Dou aulas de vinhos em duas faculdades. Isso é muito valorizado aqui”, avalia Marina.

Divvino

16 Rue Elzevir, Marais, Paris 3, tel. +33 98374-2504.

163 Boulevard Voltaire, Bastilha, Paris 11, tel. +33 7 6150-4845.

Oka

8 Rue Meissonier, Plaine-Monceau, Paris 17, tel. +33 1 5679-8188.

Brutos

5 Rue du Général Renault, Saint Ambroise, Paris 11, tel. +33 1 4806-9897.

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