Os macaquinhos

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Os macaquinhos

João Bosco da Encarnação



Os macaquinhos João Bosco da Encarnação



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Entrei na floresta procurando observar pássaros, e após caminhar algum tempo, comecei a ouvir gargalhadas. Fiquei assustado, e, ao mesmo tempo, curioso, e até me esqueci do propósito inicial, que era observar os pássaros, e procurei saber o que era aquilo, caminhando devagar, na ponta dos pés, até perceber, no alto de uma árvore, sentados sobre um galho, três macaquinhos. O do meio dizia aos outros alguma coisa, que


eu não entendia o que era, e eles caíam na gargalhada. Aquilo era muito curioso, e eu, tentando entender o que acontecia, aproximei-me mais ainda. O macaquinho do meio dizia alguma coisa, e caíam na gargalhada! Faziam um barulho enorme, quase perdiam o ar, de tanto rir, depois ficavam quietos. Então,

o

macaquinho

do

meio

dizia

novamente alguma coisa, e eles rolavam no galho, de tanto rir, segurando-se apenas com o rabo, fazendo acrobacias engraçadas. Paravam de rir, e de repente, caíam


novamente na gargalhada. Como é que pode?, pensei comigo. Aí, o macaquinho do meio disse assim para os outros – e eu consegui entender! “Ela de quatro, ele por trás. Ela dizia: Aí, não Roberto! É pecado... E ele: Ai, Izildinha, você me deixa louco... Ai, Roberto... Não... Não... Não para Roberto! Ai, Izildinha... Você me deixa maluco...” E riram tanto que um deles, o da direita, quase caiu do galho, apesar da perícia em se pendurar, sendo agarrado, pelo rabo, pelo colega da esquerda. Mas, não é possível!, pensei. Como é que


pode? E

as

gargalhadas

dos

macaquinhos

atravessava a floresta, ecoando pela montanha acima, e pelo vale, por onde o riacho descia. Curioso, eu quis ouvir mais, e por isso, me aproximei. Foi quando, tropecei, e fiz barulho, e os macaquinhos olharam para mim, com os olhinhos arregalados. O macaquinho do meio, então, apontando para mim, disse aos outros: “Olha só, o que seremos um dia!” E caíram de novo na mais estrondosa gargalhada. Apontavam para mim, e riam feitos loucos. Estranho que apenas o do meio falava, e os


outros dois se limitavam a rir. Mas riam tanto, que ensurdeciam a floresta. Eu, sem graça, porque riam de mim, acenei como a demonstrar simpatia, querendo fazer amizade com eles. E ao meu aceno, o do meio apontou de novo para mim, e passando a mão na barriga, voltou a rir, e os outros dois, caíram na gargalhada, de forma mais exagerada ainda. Eu mesmo não me contive, e dei uma boa gargalhada também, ao que eles – agora os três!, apontando para mim, riram tanto, que parecia que iam estourar. O macaquinho do meio, então, voltou a dizer: “Izildinha... Você me deixa doido...” E riam


tanto, que um deles mijou, e quase me acertou. Não achei graça!, disse, nervoso, para eles, o que fez com que dessem mais risada ainda. Comecei a suspeitar que estavam bêbados, porque riam à toa, e exageradamente. Talvez alguma fruta fermentada os deixassem assim, embriagados, mas eu não consegui ver qualquer vestígio que confirmasse a minha suspeita. Estava tão estupefato com a situação, que me esqueci de reparar numa coisa incrível: eu consegui entender o que o macaquinho falava, e ele contava uma piada, tinha senso de humor! Uma piada, aliás, bastante picante. No calor do meu entusiasmo, não hesitei em


perguntar: Vocês sabem falar!? Mas o macaquinho falante, invés de me dar atenção, apontou-me mais uma vez, e dizendo aos outros “olha com quem vocês vão se parecer amanhã!”, provocava uma explosão de risadas nos outros dois, e ele mesmo, não se continha de tanto rir. Eu, sem graça, querendo me enturmar, relembrei a piada, dizendo, enquanto mexia os quadris: “Izildinha...” Os macaquinhos, então, rolaram de rir, apontando para mim, sem conseguir senão rir, e riam tanto, que eu ria também com eles. Parecia que tinha conseguido fazer amizade


com eles, e fiquei Ă vontade, pronto para tambĂŠm eu contar uma piada. ParecĂ­amos todos embriagados, e eu nem notava isso.


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Vocês vão gostar!, eu disse. E preparei-me para contar uma anedota. Era

uma

vez...,

fui

contando,

e

os

macaquinhos, atônitos, pela primeira vez em silêncio, me ouviam com atenção, os olhinhos arregalados,

feito

pequenas

estátuas

de

macaquinhos. Terminei a piada e eles continuavam atônitos, paradinhos como três estatuazinhas. Eu ria sozinho, e eles não acharam graça nenhuma na minha historieta. Repeti o final, e sem graça, tentei explicar


para eles que tinha de entedenr a lógica... Aí funcionou! Os macaquinhos começaram a rir, e riram, e riram tanto, que rolavam, e davam tapas uns nos outros e assim riam mais. Fiz

sucesso!,

pensei

comigo,

bastante

satisfeito. Aí o macaquinho do meio, disse assim: “Entender a lógica!” E mal terminou a frase, caiu na gargaçhada, e os outros dois explodiam de rir. E ele repetia: “Entender a lógica!” E ria como um louco. Eu, sem entender , não esboçava mais de um sorrisinho sem graça. Por impulso, querendo ser aceito, talvez, eu


comecei a fazer gestos estranhos e a dizer “Izildinha, Izildinha!”, “E imitando toscamente voz de mulher: “Ai, Roberto!” É pecado, Roberto...” Os macaquinhos gargalharam tanto, que quase caíram do galho. Não fosse a habilidade que os macacos têm, para se segurarem pelo rabo, certamente teriam caído, tanto foi a loucura a que chegaram. E eu, por minha vez, sem entender o que acontecia, dei-me por satisfeito, porque precisava apenas da amizade daqueles bichinhos estranhos. De repente, porém, eles começaram a comer coquinhos, e a cuspir a casca em minha direção,


de forma agressiva, e eu, para me proteger, me escondi atrás de uma árvore, e eles, não me vendo mais, ficaram procurando. Notei que eles não sabiam o que tinha acontecido e, então, como se brincasse de esconde-esconde com crianças, mostrei o rosto e disse: Aqui! Eles levaram um susto grande e dispararam gargalhas

nervosas,

esperado

que

eu

me

escondesse e aparacesse novamente, o que fiz várias vezes, e todas elas, acompanhadas de exageradas gargalhadas dos macaquinhos.


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Agora eu quero silêncio, disse a eles, com ar severo. Vou contar uma coisa... Os

macaquinhos

começaram

a

jogar

coquinhos na minha cabeça, e demonstravam ter exímia pontaria. Aí, isso dói!, eu disse. E eles, como se estivessem esperando essa confirmação, atiram mais coquinhos, com mais força. Depois, o macaquinho da esquerda começou a cagar em minha direção, e, por mais incrível que possa parecer, mirava muito bem!


Escondi-me atrás de uma árvore, puto da vida, enquanto gritava: Isso fede!, mas eles nem ligvam, e continuavam a artilharia. Coloquei a cabeça para fora e eles, do nada, deram excelentes gargalhadas... Foi quando eu notei que para eles, assim como parecia ser às crianças, aquilo parecia ser mágico. Eu sumia e aparecia, sumia e aparecia. Era mágico e engraçado. Então, repeti isso algumas vezes, e assim estabeleceu-se a paz entre nós, que, na verdade, era apenas uma breve trégua. Sim, porque caí na besteira de dizer a eles; Vamos estabelecer algumas regras, correto?


Os macaquinhos continuavam rindo, mas voltaram a jogar coquinhos em mim. E eu tive de brincar de “esconde aparece”, de novo. Não gostam de regras? Tudo bem, eu disse, pensando quem pegar alguma coisa no chão e jogar contra eles. Aí os macaquinhos, como se fosse ensaiado, faziam carinhas de coitadinhos, e eu me comovi. Tudo bem!, exclamei. Somos todos criaturas do mesmo criador... Eles me olharam assustados, como se não entendessem, e não entendiam mesmo, porque isso era uma questão complexa, que nem eu entendia bem.


O macaquinho da direita se virou no galho, de uma forma tão espetacular, que eu fiquei admirado. E mostrou-me a bundinha pelada! Ah! Desaforado!, gritei. Mas os outros dois repetiram o gesto do primeiro, e deram uma enorme gargalhada. Macaquinhos fanfarrões, eu disse. Acho que o criador estava de gozação, quando criou vocês! A isso eles responderam aumentando as gargalhadas, confirmando o que eu pensava deles. O animalzinho do meio, apontando-me, disse aos outros (pelo menos era o que parecia): Olha como seremos um dia! E os outros faziam “não”, balançando as


cabecinhas. Por quê, não? Eu perguntei, irritado. Em resposta, eles começaram a fazer acrobacias extraordinárias, como quem dissesse: Olha o que nós sabemos fazer? E você, sabe fazer isso? Eu não sei fazer isso, mas sei fazer coisas muito interessantes também!, respondi, com firmeza. Eles pararam e ficaram me olhando. Sim, sei mesmo!, disse percebendo que eles queriam que eu dissesse quais eram essas coisas. Então, continuei: Eu sei andar de bicicleta... Eles olharam com desdém, e eu até


concordo, porque eles fazem acrobacias muito mais interessantes. Sei fazer comida... Um deles esticou o bracinho e pegou uma frutinha, como se dissesse: E daí? Então, apelei para a tecnologia mais recente: Chego do trabalho... É verdade que é um estafante dia de trabalho! Chego do trabalho, e deito-me no sofá para ver televisão! Eles me olharam com olhar malvado. Estão com inveja, não é?, disse a eles. E recebi um olhar triplo de reprovação. Depois, disse me gabando, falo ao telefone com meus amigos, e marco uma reunião para


tomarmos uma cervejinha... Os macaquinhos me olham com tédio. Mas, que bosta! Vocês não se impressionam com nada?, eu disse, nervoso. Eles começaram a balançar com o rabo entrelaçando o galho, demonstrando enorme desprezo por mim.



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Pois vejam bem!, continuei falando. Os homens se casam, ouvem boa música, leem livros... Eles me olhavam como quem diz: E daí? Pois é... Essa história da Izildinha... e do Roberto... (Eles não podem ouvir esses nomes que dão enormes risadas!) Sabem, não é só o que parece, não! Pode ser a cena de um casamento. Uma união natural, mas abençoada... Agora eles riam assim: Re, re... Re, re... E confesso que eu mesmo, ao ver aquilo, também caí na risada, sem poder me controlar.


E eles riam de mim e eu deles! Todos agora rolando e segurando a barriga, eles a barriguinha, e eu o barrigão... Até que me sujei todo no chão. Assim que passou o ataque de risos, levantei-me, procurei me limpar, e continuei o discurso: Pois bem. Como eu dizia, A Izildinha... E começava a risada de novo. Eu já estava com dor no peito, de tanto rir, acho que a pressão havia baixado, e me sentia tão relaxado, que não conseguia falar. Vou mudar de assunto, pensei, porque se falar de novo esses nomes... Ah! A música!, falei alto. A boa música, é um demonstrativo de um espírito superior...


Agora eles me olhavam com curiosidade, e eu continuo: Chego em casa, coloco uma boa música, e deito-me no sofá... Minha esposa prepara o jantar... O

macaquinho

do

meio

esfrega

as

mãozinhas... Vocês não sabem o que é uma música, eu disse. Eles me olharam consternados. Ou um poema... Coisas que demonstram o espírito sublime do ser humano... Notei que o macaquinho do meio fez cara de desprezo, e os outros dois fingiam estar distraídos, comendo coquinhos, cujas cascas cuspiam, de


propósito, em minha direção. Ei!, eu gritei. Você querem parar com isso? Que inconveniência! Os

macaquinhos

fizeram

carinha

de

assustados. Ah! Tudo bem, eu disse. Desculpem... Eu fiquei nervoso... Falava do sublime e... (Aí eu notei a minha própria contradição!) Bem... Eu dizia... Não interessa a vocês, não é? Não acreditam nessas cosas, não entendem, sei lá... Tudo bem... Resignado, mas sentindo necessidade de quebrar aquela situação chata, caí no mesmo, e falei novamente da Izildinha e do Roberto, ao que


eles responderam com enormes gargalhadas, embora eu, jĂĄ cansado de tanto rir, nĂŁo me entusiasmei.



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Repentinamente, talvez por perceberem que eu não achava mais graça, os macaquinhos começaram a jogar coquinho em mim, e eu, muito bravo, gritei: Capturados e domesticados, esses selvagenzinhos dariam boa atração de circo! E levantei-me. Eles pularam para um galho mais alto, e subiram no coqueiro, fazendo grunhidos raivosos, que me assustaram. Tudo bem!, eu disse. Não vou capturar vocês. Eles continuaram os grunhidos.


Não vou domesticar vocês... Foi apenas um momento de raiva... Aí eles se acalmaram e desceram para o galho onde antes estavam, na árvore ao lado do coqueiro. Mas

vocês,

continuei,

são

muito

malvadinhos! Então, eles me olharam com carinha de coitadinhos, e eu fiquei com pena deles. Ah! Podemos ser amigos, está bem?, disse eu, arrependido. Eles me olhavam sem entender. Amigos... entendem!

Amizade,

entendem?

Não


A amizade é uma coisa muito bonita, onde as pessoas se amam... Não como a Izildinha e o Roberto.... Ai, começou a gargalhada de novo. Por quê vocês riem tanto, toda vez que eu falo Izildinha e... Gargalharam mais ainda! O macaquinho do meio, sempre o mesmo, me parecia, disse: “Aí não, Roberto! É pecado...” E os outros dois davam gargalhadas. Ele continuava: “Ai, Izildinha... Você me deixa louco!” Os outros dois rolavam de rir, mas eu já não achava graça...


Queria falar da amizade, repeti. Eles nem me davam bola, de tanto que riam. Porra!, gritei. Vocês são uns bobos alegres... Que riem à toa e sem motivo... Não posso falar sério, não? Os macaquinhos pararam de rir e começaram a fazer um som mais ou menos assim: “Ro, rro, ro, rro...” Achei que estavam gozando de mim, então peguei um pedaço de galho, que estava no chão, talvez derrubado pelo vento, e joguei neles. Eles começaram a mijar em mim, e eu me escondi atrás da árvore. Pararam, e eu coloquei a cabeça para ver, e


eles riram. Escondi a cabeça e paravam. Não dava para ver, mas suponho que, quando eu escondia a cabeça, eles ficaram interrogativos, como se eu sumisse por mágica. E quando eu mostrava a cara de novo, eles se espantavam e riam de susto. Acho que não conseguiam imaginar o que não viam.



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Eles começaram a se coçar, e o do meio começou a pegar algo no pelo do da esquerda, enquanto o da direita pega no pelo do do meio, e eu acho que era piolho. Pegavam e comiam. Aí, eu gritei: Ei, saguis! Eles me olharam como quem diz: “Está falando comigo?” “Ou seria com o meu colega, aqui do lado?” Sim, é com vocês três que eu estou falando, completei. Com vocês três! Eles se olharam, como a perguntarem uns aos outros o que significava isso, “com vocês


três!” Não sabem números?, perguntei, zombando deles. Não têm noção abstrata?, zombei de novo. Os macaquinhos, porém, ignorando minhas observações, começaram a fazer algazarra, dando cambalhotas, como se fossem cair, e, no último momento, segurando-se pelo comprido rabo, um no outro, ficando os três pendurados, exatamente o da direita segundo com o rabo no galho, o do meio segurando, também com o rabo, neste, e, finalmente, o da esquerda, segurando, com o rabo, o do meio. Depois, gritavam, gritavam e voltavam ao galho, várias vezes, como que me dissessem algo,


mas eu não entendi. Um deles acertou um coquinho na minha testa, e eu fiquei zangado: Detesto macaquinhos assim, malvadinhos, eu disse. Não tenho mais vontade de falar com vocês, seus bobocas!, completei, ainda muito zangado. Os macaquinhos faziam carinha de que não entendiam, mas eu achei que eles fingiam, para me encher. Então, eu disse: Não venham com essa carinha de coitadinhos, não! Estou de mal. Estou de mal, e pronto! Emburrei, fechei a cara, cruzei os braços. Foi quando os bichinhos começaram a fazer palhaçadas, eu diria, macacadas! E eu acabei


rindo. Eles faziam caretas, riam uns dos outros, e olhavam pra mim, talvez para ver se eu achava graça. Animei-me e comecei a falar “Izildinha”, mas eles os macaquinhos pararam de brincar, olharam seriamente para mim, sem o menor esboço de riso, e eu também, cansado disso, murchei atrás de uma árvore. Que graça tinha tudo isso?, perguntei em voz alta, sem esperar resposta. Que

loucura

é

essa,

de

falar

com

macaquinhos... Os macaquinhos, porém, talvez percebendo


que eu estava chateado, começaram a fazer um som estranho: “Uu, uu”, eles faziam, e eu me levantei para ver o que estava acontecendo.



7

Pois bem, eu disse. Se querem conhecer e fazer gozação das características humanas, eis uma

de

que

me

acometo

agora:

estou

profundamente chateado! Os

bichinhos

fizeram

carinha

de

consternação, o que me deu certeza de que entendiam o que eu falava. Chateado, sim!, continuei. E nem me perguntem o porquê... É por tudo, e por nada... Eles me olharam sem entender, e eu observei: sim, eu sei. Nem eu mesmo entendo... É que, de repente, vem tantas coisas...


Eles viravam as carinhas, interrogativos. Faziam todos os gestos igualmente, como se fossem muito bem ensaiados. Continuei: Mas acho que não posso mudar nada. Sinto-me totalmente impotente diante do mundo... Senti que eles já estavam ficando enjoados dessa conversa, então, mudei repentinamente e os surpreendi: Sabem, macaquinhos, eu gosto de vocês!, eu disse. E continuei: Podemos até brigar, não nos entender de vez em quando, mas vocês me ouvem, se interessam por mim... Os

macaquinhos,

nesse

momento,


começaram a fazer caretinhas e biquinhos, e eu: Vocês estão me gozando? Então eles começaram a bailar, segurando um no rabo do outro, e eu percebi que queria me agradar. Desculpem-me, eu disse, arrependido. E comecei a dançar também, enquanto dizia: Ah! Somos todos macaquinhos, lembrando-me do texto de Kafka. E eu fazia gestos imitando os animaizinhos, e eles davam gritinhos: Uuuuu... Eramos

todos

macaquinhos,

e

nos

deixávamos levar pelo instinto. Eu, esquecendo minhas preocupações, dizendo aos pequenos micos: Olhai os lírios do campo... Não preciso me


preocupar... H達... Olhai os coqueiros cheios de coquinhos... N達o precisam se preocupar... Mas eles n達o se preocupavam mesmo. O 炭nico preocupado ali era eu...


8

Aí começaram a brigar entre si, não sei por qual razão. O s dois macaquinhos das pontas se estapeavam, o do meio apartava, e depois também dava socos nos outros. Parecia que iam cair, a cada soco, mas ficavam pendurados pelo rabo, davam a volta no galho, e voltavam para cima, estapeando-se os três. Alma!, eu gritei. O que está acontecendo? Mas eles não me davam atenção. Apenas gritavam, como se de um soco estivessem


morrendo, e depois mordiam, e gritavam mais, e aquilo me atordoava. Eram gritinhos estridentes, altos, que doíam no ouvido. Tive uma ideia, eu disse. Vou contar a história da Izildinha... Eles pararam como que hipnotizados, o que me deu coragem de começar: Então..., eu dizia. Mas não sabia o que falar. Os olhinhos deles fixados em mim, e eu me sentia amedrontado, sem jeito, sem inspiração alguma... Como eu os tivesse enganado, então, eles se uniram

para

me

escorraçar

dali,

coquinhos com força, na minha cabeça.

jogando


Ai! Doeu, seus macaquinhos diabólicos!, eu gritei. E eles, segurando um no rabo do outro, de maneira que um ficava firme com o rabo no galho, segurando o rabo do segundo, que se segurava ao terceiro, que, por fim, veio com toda força e me deu um tremendo bofetão na cara! Ah! Querem guerra!, respondi decidido. E peguei um galho caído, e procurei acertá-los, mas eles desviavam com facilidade. Se os pego, eu disse, faço de vocês pedacinhos. Eles desviavam e faziam caretas. Sou mico de circo, eu disse, se não os pego!


Ao dizer isso, eles pararam. Será porque eu disse “mico de circo”? Começaram a fazer gracejos e riam. Incrível como, de repente, esqueciam que estavam brigando... É uma lição para mim, pensei. Não guardam rancor, pois nem eu guardarei rancor deles. Sabem, amiguinhos..., eu disse, enquanto me olhavam com curiosidade. Devemos nos perdoar uns aos outros. Vocês têm razão! Eles olhavam virando a carinha, como se não entendessem. Pois vou lhes contar algo que torna os seres


humanos superiores, continuei.



9

Percebi, finalmente, que o que fazia cócegas nas cabecinhas daquelas criaturinhas estranhas eram as palavras que caracterizavam tipicamente o humano. Eles caçoavam disso, com enorme prazer. Então, pensei comigo, vou lhes dar a mais cara das características humanas: o amor! Resolvi perdoá-los, disse, com voz firme e soberba (porque perdoar é um modo de ser superior!), e isso porque, o que nós humanos temos, e que vocês não entenderão, é o amor. Os macaquinhos arregalaram os olhinhos e


os fixaram em mim de tal forma, que quase desisti. Mas, segui em frente, com meu plano, e lhes disse: Sim, o amor! “Amor”, repeti, bem devagar, mas percebi que eles não entenderam mesmo do que se tratava. Por exemplo, eu disse, a Izildinha e o Roberto... O macaquinho do meio fez uma carinha safada, e os outros dois continuaram olhando fixamente para mim. Eles se amam, eu disse. O

macaquinho

do

meio

esboçou

um

sorrisinho. Dão a vida um pelo outro, renunciam a tudo


para ficarem juntos... O macaquinho do meio pôs o dedo indicador sobre a cabeça, como se não entendesse, no que foi imitado pelos outros dois. É o amor! As pessoas se querem bem... É o que torna o ser humano superior a tudo na natureza... Então,

os

três

macaquinhos

juntos,

explodiram em gargalhada, mas riram tanto, e tão afoitamente, que perdiam o fôlego, e de repente, riam mais ainda. Eu mesmo quase fiquei sem fôlego, porque ria com eles, ou melhor, ria deles, daquele quadro grotesco, que eram os três monstrinhos rindo, e


me parecia que riam de mim! Mas eles riram tanto, muito mais que das outras vezes, que realizaram aquilo que sempre se diz figuradamente: morreram de rir! E cada um deles caiu, seguidamente um ao outro, e nĂŁo havia mais gargalhada. SerĂĄ que morreram por causa do amor humano de que lhes falei? Ou simplesmente morreram de rir de mim? Seguiu-se um profundo silĂŞncio na floresta, interrompido apenas pelos pios sinistros de algum jacu, anunciando que a noite estava chegado.



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