Estratégias de Baixo Impacto para o Planejamento Espacialde um Parque Tecnológico

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Estratégias de Baixo Impacto para o Planejamento Espacial de um Parque Tecnológico Pedro Augusto Alves de Inda, Universidade de Caxias do Sul, Brasil, paainda@ucs.br Tiago Holzmann da Silva, 3C Arquitetura e Urbanismo, Brasil, tiagohs@3c.arq.br Resumo: O longo período de implantação da Central Hidrelétrica de Itaipu chegou ao seu final em 2007 com a inauguração das duas últimas unidades geradoras. Itaipu Binacional atingiu assim o seu grande objetivo consolidando-se como uma das maiores usinas de geração de energia do mundo, representando a conclusão da obra e o começo simbólico de uma novo ciclo. Itaipu, desde sua criação, pautou sua ação pela integração de diversas atividades, mas o foco principal sempre foi a geração de energia. Desde 2005, com a ampliação da sua Missão, é notável o esforço de Itaipu para ampliar as ações nas áreas do meio ambiente, educação, desenvolvimento tecnológico e turismo. Neste sentido, o planejamento de cada setor torna-se fundamental para o bom funcionamento do conjunto das atividades e ações propostas. Consciente desta questão e carente de um plano integrado, Itaipu decidiu iniciar o planejamento setorial a partir do desenvolvimento do Plano Diretor do Parque Tecnológico Itaipu, tendo a 3C Arquitetura e Urbanismo como responsável pela coordenação deste processo. Este artigo apresenta e descreve o Modelo Espacial proposto para o Plano Diretor e as estratégias de baixo imacto para a elaboração e implantação do mesmo. Palavras-chave: Plano Diretor; Sustentabilidade; Modelo Espacial. Abstract: The long building work period of the Itaipu Hydroelectric Plant ended in 2007 with the conclusion of the last two generating units. Itaipu consolidated itself as one of the major power generation plants in the world, representing with it the symbolic beginning of a new cycle. The Itaipu action, since its creation, was guided by the integration of several activities, but the main focus has always been the generation of energy. Since 2005, with the enlargement of its Mission, Itaipu maked an important change to expand its actions in the areas of environment, education, technological development and tourism. In this sense, the planning of each sector is fundamental to the smooth running of all activities and funtions proposed. Aware of it, Itaipu decided to making an integrated plan and started with the development of the Master Plan of Itaipu Technological Park (PTI). The 3C Arquitetura e Urbanismo (urban planning and architectural office) was the coordinating responsible for this planning process. This article presents and describes the spatial model proposed for the Master Plan and the sustainable strategies of low-impact for the making and deployment of it. Keywords: Master Plan, Sustenability, Spatial Model. 1. INTRODUÇÃO Após ter alcançado seu objetivo fim, com a inauguração das últimas turbinas, Itaipu reforçou sua atuação em outras áreas como meio ambiente e educação ambiental, turismo e desenvolvimento de tecnologia. A ampliação da Missão da Itaipu Binacional, em 2005, aprofundou a diversidade e complexidade destas atividades no seu território. O Refúgio Biológico Bela Vista, o Ecomuseu, o circuíto turístico, o Canal da Piracema e o Parque Tecnológico Itaipu, cada um com suas características, acrescentaram exigências e condicionantes para a organização e utilização do espaço. Somando-se à isto às relações de vizinhança com a populosa Vila C e o início de implantação da UNILA – Universidade da Integração Latino-americana, em área doada por Itaipu. A principal inciativa recente foi a implantação, a partir de 2003, de um parque tecnológico na área dos antigos barracões de alojamento dos barrageiros – os operários de mais baixo escalão construtores da usina – seguindo os conceitos de reaproveitamento das estruturas existentes, transformando quase ruínas em um próspero empreendimento gerador de ciência, cultura, educação e tecnologia.


As condições atuais do Parque Tecnológico Itaipu são muito satisfatórias, tendo em vista seu curto período de existência. O sucesso, entretanto, provoca uma forte pressão pelo “crescimento” do PTI, seja com a ampliação das atividades existentes, seja pela incorporação de novas atividades, ambas com exigências importantes sobre a necessidade de alteração e ampliação do espaço físico. Neste sentido, Itaipu decidiu iniciar o planejamento setorial a partir do desenvolvimento do Plano Diretor do Parque Tecnológico Itaipu, tendo a 3C Arquitetura e Urbanismo como responsável pela coordenação deste processo. 2. O PLANO DIRETOR DO PARQUE TECNOLÓGICO ITAIPU O Plano Diretor do Parque Tecnológico Itaipu veio responder à esta demanda por crescimento propondo a adoção de metodologia específica com efetiva participação dos diversos agentes na elaboração de alternativas de desenvolvimento e na busca dos caminhos futuros do PTI. O Plano Diretor o Parque Tecnológico Itaipu teve o objetivo de qualificar o espaço físico do Parque Tecnológico Itaipu com a ordenação das atividades atuais e o planejamento das futuras atividades e do seu crescimento. Neste sentido o Plano envolve a elaboração de uma proposta global para organização das dimensões do espaço físico: circulações, edificações, espaços abertos e infra-estruturas e redes; além da adoção de práticas de sustentabilidade para o conjunto e a definição dos cenários futuros para o PTI: densidades, crescimento, novas atividades e população. Os dados investigados, e que fundamentaram a análise do Parque, permitem afirmar que o crescimento do PTI está condicionado por uma série de fatores objetivos como as áreas disponíveis para construção, o limite de atendimento das redes de infra-estrutura (principalmente energia elétrica e esgoto sanitário), as áreas para estacionamento e os grandes fluxos gerados pelo transporte individual, entre outros. Porém, o dado fundamental que foi elencado como condicionante fundamental para o crescimento do PTI foi a disposição e iniciativa dos seus usuários para uma real mudança de comportamento em termos de consumo de espaço, energia, geração de fluxos e conseqüentes impactos ambientais, culturais e sócio-econômicos. 3. MARCO CONCEITUAL A grande diversidade de novas atividades introduzidas com a criação do Parque Tecnológico Itaipu gerou complexidades consideráveis em um mesmo suporte físico saturando o modelo de organização espacial original que não mais oferecia soluções adequadas. O enfrentamento usual deste problema está na simples expansão física conquistando espaços e ocupando e construindo novos territórios. Porém, este modelo é ultrapassado visto que aumenta o impacto sobre o ambiente, além de inviável no caso do PTI em função da área disponível para suas atividades. A própria estrutura matricial de organização do PTI indicou o caminho para estabelecer um conceito de projeto que garantiu ao mesmo tempo a viabilidade funcional e morfológica do parque, visto que permitia que seus pontos fossem acessados de inúmeros maneiras, estando todos conectados uns aos outros através de um cruzamento quase infinito de possibilidades, permitindo uma interrelação muito mais eficaz que a estrutura hierárquica tradicional. A matriz foi trabalhada social e espacialmente como uma REDE que, por suas características, definiram o conceito de planejamento proposto permitindo a sua reprodução infinita, viabilizando o crescimento sem expansão física e, atendendo também ao imperativo da sustentabilidade e da redução dos impactos. 3.1. Rede: o conceito fundamental “O átomo é passado. O símbolo da ciência para o novo século é a rede dinâmica. A rede representa o arquétipo escolhido para representar todos os circuitos, toda a inteligência, toda a interdependência, todos os assuntos econômicos, sociais e ecológicos, todas as comunicações, toda a democracia, todos os grupos, todos os grandes sistemas”. Kevin Kelly, Out of Control.1

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KELLY, Kevin in ROGERS, Richard. Cidades para um Pequeno Planeta. Barcelona, GG, 2001. p. 146


“Rede” é uma palavra de origem latina e tem o mesmo significado de teia, designando genericamente um “conjunto entrelaçado de fios, cordas, cordéis, arames, etc., com aberturas regulares, fixadas por malhas e nós, formando espécie de tecido aberto”. A rede também tem significados ancestrais que fazem referência ao “apresamento ou retenção” em ações de caça e pesca. A “rede”, por analogia, pode descrever também um conjunto de pontos ou nós interligados por relações de vários tipos, físicas ou virtuais, concretas ou abstratas. Exemplo é o uso do termo para o conceito de “rede social”, uma das formas de representação dos relacionamentos entre seres humanos, recentemente potencializadas pelas tecnologias da informação. A popularização do telefone celular, que nada mais é que um “nó” numa rede, e o uso da “rede” de computadores, a internet e sua World Wide Web, permitiram que a comunicação entre as diferentes atividades humanas, e, principalmente, entre os indivíduos, mudasse de forma radical. Se antes as pessoas se relacionavam a partir de uma localização geográfica, desde um lugar2, com as novas tecnologias de comunicação este “lugar” onde ela está se tornou irrelevante. Assim, na sociedade contemporânea, o modelo de estruturação da sociedade é em rede. O modelo hierárquico em “árvore”, vertical, está ultrapassado para atividades sociais, culturais e tecnológicas, que são potencializadas quando em rede. Porém, a rede, como metáfora de organização espacial, não é um conceito recente a organização espacial e territorial de assentamentos humanos. O Império Romano estava fundado em um amplo conjunto de cidades articuladas por uma malha de estradas e caminhos, e que fazia crível a máxima de que “todos os caminhos levam a Roma”, uma vez que numa rede todos caminhos podem levar a todos os lugares. Além de potencializar a diversidade, reforçando um conceito de sustentabilidade, a estrutura de rede permite que o sistema não entre em colapso se um ponto falha. Diferentemente de um sistema hierárquico vertical, em “árvore”, no qual se cortarmos um galho, as folhas todas morrem, se cortarmos o tronco, toda árvore morre. Porém, se uma pedra é atirada numa teia de aranha, ela arrebenta aqueles “nós”, mas a teia segue firme, aprisionando insetos para alimentar a aranha, que não ficará desprovida de alimento enquanto reconstrói a parte destruída. Assim, por exemplo, se o Plano Diretor do PTI prever vários modais de circulação, entrelaçados, a riqueza dos percursos será maior, mais “lugares” aconteceram, e se houver um colapso num modal de transporte, outros podem dar conta até que aquele se reestabeleça. “A rede é uma estrutura na qual existem duas ordens: a local e a global. Ambas de igual importância para o perfeito funcionamento do sistema. Sem nós não há rede, apenas linhas condutoras para o nada. Se não há comunicação entre os nós, estes não são parte de uma rede e sim pontos isolados em um entorno desconhecido”. Vicente Guallart.3 O modelo espacial proposto para o Plano Diretor do Parque Tecnológico Itaipu está fundamentado no conceito de “rede”. A rede entendida a partir da múltipla compreensão das suas características. A “rede” tem atributos físicos inerentes à sua estrutura e conformação e que servem para pautar as ações de organização espacial que serão detalhadas neste documento. Estes atributos são:  a REDE é flexível e adaptável;  a REDE é extensa, infinita e aescalar;  a REDE é inclusiva;  a REDE permite e estimula a identidade e diversidade;  a REDE tem uma estrutura fractal: complexa e simples. 3.2. O “imperativo da sustentabilidade” O “imperativo da sustentabilidade” é o outro conceito fundamental do Plano Diretor do Parque Tecnológico Itaipu. A compreensão dos impactos causados pelo Homem em suas atividades na Terra e, principalmente, suas conseqüências definem que ser sustentável é uma obrigação. A redução dos impactos são, portanto, uma diretriz fundamental para as decisões de projeto elaboradas para o PTI. 2

Que segundo AUGÉ deve como mínimo definir identidade, relações e história. AUGÉ, Marc. Não-Lugares. Introdução a uma antropologia da supermodernidade. São Paulo: Papirus, 1994. 3 “Rede de Cidades”, GUALLART in GAUSA, GUALLART, MÜLLER. Metápolis. Barcelona: Actar, 2001


A partir da análise de casos paradigmáticos de planejamento urbano, os conceitos fundamentais do Plano Diretor do PTI – conceito de REDE e exigência de BAIXO IMPACTO – foram aprofundados para a compreensão das suas implicações sobre o território e atividades do Parque.

FIGURA 1 – Diagramas que ilustram as ações de redução dos impactos a partir da análise de caso de planos diretores paradigmáticos: Porto Alegre, Curitiba e São Paulo (da esquerda para a direita respectivamente). Fonte: 3C Arquitetura e Urbanismo.

As conclusões foram transformadas em estratégias físicas que nortearam as decisões de implantação, são elas: a) Cidade Multifocal: baseado no conceito do PDDUA de Porto Alegre, determinou a criação e/ou fortalecimento de inúmeras centralidades com identidade própria, eqüidistantes entre si e que se caracterizam como pontos atratores de atividades e de distribuição de fluxos. O PTI, na escala macro de Itaipu, configura-se como uma destas centralidades. Aproximando a escala de análise, o próprio PTI tem 4 centralidades definidas (setores): Barrageiro, Estádio, Refeitório e Alojamentos. Sendo que cada um destes setores tem suas centralidades locais e assim por diante (extensa, infinita, aescalar, fractal); b) Densidade Axial: baseado no Plano Diretor de Curitiba, determinou a distribuição da densidade em função da acessibilidade, ao longo das vias de grande fluxo, garantindo mais acesso a um público maior e melhor utilização da infraestrutura instalada. O PTI será densificado ao longo do anel viário e não no interior deste. As linhas de maior fluxo serão coincidentes com as áreas de maior densidade construída e de maior densidade de atividades, tais como as salas de aula, condomínio de empresas e serviços em geral; c) Gestão de Recursos: baseado no Plano Diretor de São Paulo, determina a densificação em função da infraestrutura instalada e existente qualificando a relação custo/benefício e evitando a ociosidade da capacidade instalada. Seguindo este conceito o Plano opta por não densificar o setor bem ao sul, ainda sem infra-estrutura instalada, usando o potencial que teria para aumentar a densidade em setores que já possuem redes e capacidade instalada. 4. MODELO ESPACIAL 4.1. Análise e Estruturação Espacial Proposta A organização espacial proposta foi fundamentada na análise do ambiente existente e projetado para o Parque Tecnológico Itaipu, a partir do cruzamento de diversas variáveis. Os três esquemas (Figura 2) demonstram a estratégia para definição das áreas mais adequadas para densificação. O primeiro define que zonas são mais privadas e públicas em relação ao acesso atual principal. O seguinte define quais áreas se prestam a novas edificações de acordo com o critério de densificação axial ao longo das principais vias. O último é a síntese dos dois primeiros, onde se identifica os pontos de maior e menor acessibilidade, definindo que tipo de usos e atividades se encaixam melhor em cada setor. A partir desta análise definiu-se que o Condomínio Empresarial, sendo a atividade com mais relação externa do PTI, deverá localizar-se no ponto de maior acessibilidade, enquanto que os Laboratórios, que necessitam de uma privacidade maior, com uso mais específico e prolongado, ficarão nas áreas mais reservadas e menos acessíveis. Ao longo das vias posiciona-se os espaços e atividades de maior


densidade, como as salas de aula, que recebem uma grande quantidade de estudantes e professores, permitindo o fácil acesso, e facilitando a maior rotatividade no uso.

FIGURA 2 – Diagramas que ilustram as análises espaciais da área do PTI para definição das estratégias de acesso, ocupação e densificação. Fonte: 3C Arquitetura e Urbanismo.

No primeiro diagrama abaixo (Figura 3), o esquema de intensidade procura atender ao conceito de multifocalidade, polarizando as duas extremidades do Parque (norte e sul) com atividades de uso intenso e contínuo. As atividades consideradas perenes, rotineiras concentram-se nestes extremos (incubadora e condomínio) e estão conectadas por espaços de caráter transitório e reforçando a animação destes com eventos e lazer, além do fluxo que haverá entre os dois pólos. O segundo diagrama, identifica a interface principal entre o ambiente natural e urbano é dado pelo anel viário existente. Este corresponde ao limite entre a área urbanizada ou urbanizável e o meio natural a preservar. O terceiro diagrama apresenta o zoneamento por setores que foram identificados por suas características morfológicas e atividades comuns. Estes setores corresponderão, com base na história e característica dos ambientes existentes, em lugares concretos, e não em espaços genéricos. A estes “lugares” é possível atribuir uma identidade histórica e real na “rede” do PTI, sendo reconhecíveis e permanentes para o imaginário dos usuários e, ao mesmo tempo, garantindo flexibilidade de usos a adaptabilidade sem perder seu sentido de espaço e localização.

FIGURA 3 – Diagramas que ilustram as estratégias de ocupação da área do PTI definindo intensidades de uso, interfaces e zoneamento de atividades. Fonte: 3C Arquitetura e Urbanismo.


Associando a este lugar suas características físicas e culturais pode-se reconstruir o quebra-cabeça da história de Itaipu e do PTI. Os barrageiros vieram construir, e aqui sonharam mudar de vida. Seu ambiente era descontraído e mesclado, como é o acadêmico, jovens que sonham em ganhar o mundo. No estádio estes trabalhadores respiravam, se divertiam e tinham seu lazer. Enquanto que no refeitório, reunidos, confraternizavam e faziam as trocas sociais que os transformavam. Os alojamentos mais ao norte, próximos do local onde a usina de energia foi concebida e projetada, temos um caráter mais seletivo, com profissionais mais especializados, como no mundo empresarial.

FIGURA 4 – Diagramas que ilustram a ocupação e edificação, os fluxos e modos de circulação e uma síntese da ocupação proposta no Plano Diretor do PTI. Fonte: 3C Arquitetura e Urbanismo.

A proposta de uma rede complexa de conexões urbanas será possível a partir da conexão de modo atrativo de todos os “lugares”. A adoção de um sistema em camadas permite que isso seja feito de modo simples, onde na base estão as edificações existentes, na seguinte as vias, depois os espaços abertos, a novas edificações, o sistema de transporte e sobre todas, priorizando o ser humano, ciclovias e caminhos de pedestres. Deste modo, ficam definidas quatro estações principais de transbordo de grande fluxo, conectando verticalmente o sistema terrestre, de pedestres, bicicletas e veicular com o aéreo, no teleférico. Essas estações marcam os acessos dos setores principais propostos, que levam o nome do seu lugar: Estação BARRAGEIROS, Estação ESTÁDIO, Estação REFEITÓRIO e Estação TELEPORTO, associando suas características conceituais: onde se SONHA, onde se RESPIRA, onde se ALIMENTA, para enfim, onde se REALIZA. Desse modo, as diversas camadas sobrepostas definem um sistema complexo nas suas conexões, arranjos e usos possíveis, mas simples na sua concretização. Ainda, por ser disposto numa rede, permite uma flexibilidade e adaptação para atender as mudanças de demandas que o PTI venha a ter, sem perder a identidade de cada “lugar” determinado. 4.2. Setorização: os Nós da Rede A área do PTI é extensa e está apenas parcialmente ocupada. A parte mais ao sul, e que corresponde aos blocos H dos Barrageiros, abriga quase a totalidade das atividades atuais do Parque e encontra-se reformada. A área mais ao norte, próxima aos escritórios administrativos de Itaipu, tem boa densidade construída (4 blocos H), mas não está ocupada por atividades do PTI estando em grande parte ociosos e abandonados. O Refeitório é uma grande edificação que abrigou esta atividade durante os anos de construção da Usina, mas que hoje está sem uso, deteriorando-se. A área central do PTI corresponde às canchas esportivas e outras edificações com usos diversos e externos ao PTI (Treinamento, Arquivo). O Plano Diretor define quatro SETORES para o Parque. Cada um destes setores assumem, conceitualmente, características de NÓS da REDE, representando os pontos atratores de atividades e direção dos fluxos principais. Estes setores apresentam igualmente forte identidade local fundada na sua


história, nas suas atividades originais e nas suas características físicas e morfológicas. Cada setor é a materialização de um LUGAR concreto, com identidade morfológica e funcional e relacionado com a história do espaço original. Estes setores são: TELEPORTO - setor norte do PTI, entre a rótula e os escritórios de Itaipu. Este é o setor mais acessível do PTI, podendo ser considerado a “porta de entrada” para o Parque. Em virtude desta acessibilidade, neste setor serão localizadas as atividades mais exteriores do PTI: a incubadora empresarial, as sedes das instituições e empresas parceiras, os serviços e equipamentos relacionados às novas tecnologias e à comunicação. O ambiente proposto tem o caráter mais institucional com uma forte característica profissional, de ambiente empresarial e de negócios, voltados para a inovação. REFEITÓRIO - setor do antigo Refeitório dos operários. Espaço com fortíssima identidade histórica e afetiva para Itaipu, local de uso diário intensivo e de convivência durante a construção da Usina. O edifício existente tem altíssima qualidade espacial e simbólica (além da histórica) e deve ser objeto de requalificação. O setor abrigará as atividades de intercâmbio do PTI em diversas escalas e níveis de abrangência. Será o espaço da cultura, da interação com a comunidade local, da divulgação do conhecimento produzido no PTI, com um uso intensivo de públicos externos ao PTI. Terá também um grande apelo turístico em virtude da programação das atividades e eventos e da qualidade arquitetônica do espaço, único na região. ESTÁDIO - corresponde às áreas abertas originalmente destinadas ao lazer dos barrageiros. A baixa densidade construída e de usos será mantida recuperando a área como uma interface “natural” de baixa densidade entre os nós de atividades principais, e mais densas, nos extremos do Parque. O setor buscará recuperar as atividades ao ar livre como no tempo da construção da Usina, mas agora voltado para os usuários do PTI, principalmente os estudantes. BARRAGEIROS - setor sul do PTI, consolidado. O conjunto das edificações originais dos alojamentos dos barrageiros foram reformadas e representam a “cara” do PTI e sua identidade atual. Este conjunto tem forte identidade tanto formal e morfológica como histórica, visto que são os pavilhões que abrigaram milhares de operários construtores da Usina. A reforma e adequação destes blocos para as atividades do PTI aproveitaram a estrutura existente e infraestrutura instalada recuperando um espaço importante para a história de Itaipu. O setor Barrageiros seguirá abrigando atividades de uso intensivo e alta densidade de ocupação espacial e populacional, permanecendo com o tipo de população atuais, ou seja, prrofessores, estudantes, pesquisadores, funcionários. 4.3. Circulação: as Conexões da Rede O modelo de circulação proposto para o Parque Tecnológico (Figura 5) atende às diretrizes e exigências de Itaipu constantes no Plano de Zoneamento e Fluxos. O acesso ao PTI será exclusivo em transporte coletivo eliminando-se, a curto/médio prazo, a possibilidade de acesso de veículos particulares. O modelo proposto no Plano prevê a multi-modalidade, ou seja, a convivência de várias maneiras de circular e de vários modais de transporte. O sistema de mobilidade no Parque Tecnológico Itaipu prevê uma sobreposição de diversas malhas de caminhos, com diversas possibilidades de circulação: em veículos diversos, a pé, de bicicleta, sempre respeitando as diretrizes do Plano para a redução do impacto, sendo que para os diversos modais de veículos devemos considerar as diretrizes e exigências de Itaipu que, à longo prazo, prevêm a emissão zero de carbono dentro dos seus limites. As conexões propostas entre os setores são: VEÍCULOS - os veículos coletivos de alta capacidade (ônibus) serão o principal modo de acesso chegando ao PTI pelo norte, circularão no anel viário existente em sentido horário, parando nos pontos definidos para subida e descida de passageiros. Estes pontos fazem conexão com os caminhos de pedestres e bicicletas. No longo prazo, os veículos coletivos de média capacidade (teleférico) atravessarão o Parque no sentido sul/norte. Seus pontos de parada serão coincidentes com os outros


modos. Os veículos coletivos de baixa capacidade (carrinhos elétricos) e as bicicletas circularão em uma via exclusiva no sentido norte/sul permitindo a conexão entre o setor Barrageiros e o Teleporto passando pelas áreas intermediárias. PEDESTRES - terão condições de circular em caminhos pavimentados e cobertos por todo o PTI acessando a todas as edificações, atividades e espaços do mesmo. SERVIÇOS E REDES – a infraestrutura seguirá as diretrizes gerais do plano sendo que as linhas de alta capacidade estarão posicionadas no sentido norte/sul e a distribuição no sentido leste/oeste. 4.4. Densidades: a Intensidade da Rede O regime previsto para o PTI definiu os quatro setores morfológicos principais e o zoneamento de atividades, com a definição de áreas para cada uma de acordo com uma projeção de crescimento a partir do momento atual. A tabela a seguir apresenta as densidades construídas e propostas para a área do PTI. A primeira coluna apresenta a área total de cada setor, com a área total do PTI (35,6ha no interior do anel viário) na linha inferior. A área edificada existente correspondente às edificações com seu índice de construção/ocupação atual no setor correspondente. A coluna das novas áreas edificadas propostas apresenta a metragem prevista a ser construída quando da implantação final do Plano Diretor. E as duas colunas finais representam o total proposta para cada setor e a simulação dos seus máximos calculados com um índice de 0,2, que é o previsto pelo Plano Integrado de Zoneamento e Fluxos.

SETORES

Barrageiros

ÁREA TOTAL DO SETOR (m²)

ÁREA EDIFICADA EXISTENTE (m²)

143.377

ÍNDICE DE OCUPAÇÃO DO SOLO EXISTENTE

NOVAS ÁREAS EDIFICADAS PROPOSTAS (m²)

25.802

0,18

13.247

ÍNDICE DE OCUPAÇÃO O SOLO PROPOSTO

0,27

ÁREA TOTAL EDIFICADA PREVISTA (m²)

ÁREA MÁXIMA PERMITIDA PELO ÍNDICE (m²)

39.049

28.675

Estádio

82.327

2.705

0,03

3.479

0,08

6.184

16.465

Refeitório

79.358

10.420

0,13

363

0,14

10.783

15.872

51.623

7.352

0,14

5.818

0,26

13.170

10.325

356.685

46.279

0,13

22.907

0,19

69.186

71.337

Teleporto TOTAL PTI

TABELA 1 – Densidades, Áreas Construídas Existentes e Propostas. Fonte: 3C Arquitetura e Urbanismo.

A análise da tabela determina conclusões importantes que vão ao encontro das diretrizes traçadas nas etapas anteriores:  Os setores Barrageiros e Teleporto são os mais densos e construídos. Configuram-se como os pólos atratores e abrigam as principais atividades fins do PTI;  O setor do Estádiopode ampliar a sua área construída, sem chegar a atingir o índice de 0,1;  O setor do Refeitório praticamente mantém a mesma área construída;  Mesmo com a completa construção das áreas propostas não será atingido o índice de 0,2 global para o PTI, previsto no Plano de Zoneamento e Fluxos de Itaipu. 4.5. Edificações: a Identidade A utilização dos barracões dos barrageiros para as atividades do PTI é adequado mas carece de algumas adaptações e reformulações para a sua melhor utilização. As edificações originalmente dedicadas ao lazer dos operários – ginásio, cinema, instalações esportivas – necessitam de reforma para devolver os usos originais para o lazer dos estudantes e colaboradores do PTI, em número crescente e com exigências semelhantes. O Refeitório deve ser objeto de intervenção aproveitando seu enorme potencial espacial, arquitetônico e histórico para transformá-lo em um “gerador de energia” para a cultura da região. Os alojamentos ao norte da área localizam-se no ponto de acesso do PTI e devem ser valorizados com uma requalificação física.


As edificações novas propostas (Figura 5) servem ao objetivo de crescimento sustentado do PTI: o Aulário – um edifício para abrigar as atividades de formação universitária; um edifício novo para a biblioteca do PTI; um edifício para abrigar um pequeno conjunto comercial que servirá também de arquibancada para o campo de futebol; e um novo edifício para abrigar o Condomínio Empresarial. Estas novas edificações cumprirão também o papel de estruturadoras do conjunto, desenvolvendo-se ao longo, e junto, ao anel viário, servindo como portas de entrada para o interior da área. 4.6. Espaços Abertos: o Lugar no Vazio A urbanização de espaços abertos é fundamental para a qualificação do Parque (Figura 5). Apenas o cuidado com as edificações não será suficiente para garantir que as atividades do PTI atinjam seus máximos objetivos. Os espaços abertos são muito importantes para a mobilidade (circulação de pessoas), para as atividades de ócio e lazer e para os momentos de intervalo de trabalho. O caráter dos espaços abertos pode ser variado e contempla as seguintes possibilidades: espaços dinâmicos (lúdico, esportivo, recreativo); espaços contemplativos; espaços simbólicos; espaços referenciais (marcos, paisagem); e recantos e jardins para o descanso.

FIGURA 5 – Diagramas que ilustram as propostas de Circulação, Edificação e Espaços Abertos do Plano Diretor do PTI. À esquerda o modelo de mobilidade proposta, prevendo a integração dos diversos modais: ônibus circulando pelo anel viário existente e requalificado; eixo norte/sul em ciclovia para bicicletas e veículos elétricos de pequeno porte; passarelas e calçadas cobertas para a circulação abrigada (principalmente da insolação direta) entre as principais edificações; e a integração prevista com o teleférico de Itaipu (longo prazo). As estações, paradas e bicicletários estão integrados e localizados junto à outros equipamentos e serviços. No centro o diagrama que apresenta as edificações existentes já reformadas e em utilização; as edificações existentes e a recuperar; e as novas edificações propostas, entre elas a Biblioteca Paulo Freire sobre a ruína de um dos barracões remanescentes; o Aulário, edifício de salas de aula e laboratórios; o Estádio e centro de conveniência com equipamentos culturais, esportivos e comerciais. No diagrama da direita o sistema de espaços abertos urbanizados previstos no Plano Diretor do PTI, divididos em praças de descanso, espaços esportivos e espaços urbanizados de uso intensivo. Fonte: 3C Arquitetura e Urbanismo.


5. CONCLUSÃO “Planejar é não improvisar”. O planejamento é a tomada antecipada de decisões a partir da análise das condições presentes para a construção de uma condição futura desejada e adequada. “Até onde pode crescer o PTI?”. Este foi o questionamento inicial elaborado pelos dirigentes do Parque. A busca desta resposta pautou a pesquisa desenvolvida para determinação do marco teórico estabelecendo as bases conceituais fundamentais para a elaboração das propostas para o Parque Tecnológico Itaipu. Assim, o desafio que se propôs para o PTI foi o de “crescer sem ficar grande”. “(...) E que é inútil querer apressar o passo do outro, a não ser que ele deseje isso. Cada qual vê o que quer, pode ou consegue enxergar. Porque eu sou do tamanho do que vejo. E não do tamanho da minha altura”. “Maneiras de ver”. Fernando Pessoa 4 A metodologia construída para a elaboração do Plano Diretor do Parque Tecnológico Itaipu pautou-se pela contínua participação da comunidade do Parque, principalmente dos agentes de esferas de decisão. Esta metodologia participativa foi fundamental na sensibilização dos dirigentes do PTI para os aspectos de baixo impacto determinados como premissa inicial. A questão da sustentabilidade, em suas diversas escalas, foi enfrentada não retoricamente, mas esteve presente nos eventos e atividades coletivas de maneira efetiva, configurando-se em um processo educativo efetivo, através de oficinas e workshops. A sensibilização dos dirigentes foi construída ao longo dos trabalhos de elaboração do Plano sempre pautado pela busca da resposta à pergunta inicial. Até onde o PTI pode crescer? Até onde seus atores mudarem seus paradigmas culturais e diminuírem seu impacto no ambiente, respeitando os padrões das dimensões de análise e performance propostas. O Plano Diretor do Parque Tecnológico Itaipu foi concluído e está vigente com grande participação dos seus diversos atores. A elaboração de diversos projetos derivados é a continuidade natural do Plano Diretor. Alguns destes projetos estão em efetiva implantação, tais como o Aulário, a Biblioteca Paulo Freire e o paisagismo de alguns espaços abertos, permitindo ao PTI qualificar suas atividades baseado nos conceitos que nortearam o planejamento e que revelaram o acerto da iniciativa de planejar para não improvisar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUGÉ, Marc. Não-Lugares. Introdução a uma antropologia da supermodernidade. São Paulo: Papirus, 1994. GARCÍA ESPUCHE, Albert; RUEDA, Salvador. La ciutat sostenible. Barcelona: CCCB, 1999 GARCÍA VÁZQUEZ, Carlos. Ciudad Hojaldre. Barcelona: GG, 2004 GAUSA, M; GUALLART, V; MÜLLER, W. Metápolis. Barcelona: Actar, 2001 HOUGH, Michael. Cities and Natual process. Londres: Routledge1995 LEI COMPLEMENTAR Nº 434/1999. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental de Porto Alegre. http://www.portoalegre.rs.gov.br/planeja/pddua.htm - acesso em setembro de 2010. LEI Nº 11266/2004. Plano Diretor de Curitiba. http://www.ippuc.org.br/ippucweb/sasi/home/ - acesso em setembro de 2010. LEI Nº 13.430/2002. Prefeitura Municipal de São Paulo. Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. http://www.prefeitura.sp.gov.br/ - acesso em setembro de 2010. ROGERS, Richard. Cidades para um Pequeno Planeta. Barcelona: GG, 2001. SACHS, Ignacy. Desenvolvimento sustentável, bioindustrialização descentralizada e novas configurações rural-urbanas. Os casos da Índia e do Brasil. In: VIEIRA, P. F.; WEBER, J. (Orgs.). Gestão de recursos naturais renováveis e desenvolvimento: novos desafios paa a pesquisa ambiental. São Paulo: Cortez, 1997. 4

Fonte: http://www.aindamelhor.com/poesia/poesias03-fernando-pessoa.php - acesso em setembro de 2010.


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