101 Belas Ilustrações

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Capテュtulo 1

A MOR A MIZADE P ERDテグ


1. O IMPERADOR CHINÊS

Conta-se que certo imperador chinês, quando foi avisado a

respeito de uma insurreição que estava se desenvolvendo em um das províncias do seu império, disse aos ministros do seu governo e aos chefes militares que o cercavam: — Vamos. Sigam-me. Destruirei os meus inimigos imediatamente. Quando o imperador e suas tropas chegaram ao lugar onde se encontravam os rebeldes, ele os tratou com tanta brandura e amabilidade que, em gratidão, todos se submeteram a ele voluntariamente. Aqueles que compunham a comitiva do imperador pensaram que ele ordenaria a imediata execução de todos os que haviam se rebelado contra o seu domínio, mas ficaram grandemente surpreendidos ao vê-lo tratando-os com tanto carinho e afeto. Intrigado com a humilhante atitude do soberano e julgando-o um quase covarde, o primeiro-ministro, um tanto agastado, perguntou: — É desta forma que Vossa Excelência cumpre sempre a sua ameaça? Não nos disse no início da caminhada que viríamos aqui para vê-lo destruir os seus inimigos? E prosseguiu: — Ora, a única atitude que tomou foi a de anistiá-los com um gesto humanitário... Estamos todos verdadeiramente estarrecidos com o perdão indiscriminado e, sobretudo, com o carinho extremado que premiou a cada um dos revoltosos. Depois de ouvir atenciosamente a censura do seu ministro e ainda outras tantas críticas feitas pelos demais auxiliares, o imperador, tomado de um sereno ar de generosidade, disselhes: 2 ¶


— Sim, lembro-me que prometi solene e decididamente destruir todos os meus inimigos. E agora eu lhes pergunto, vocês estão vendo algum inimigo meu? Certamente que não, pois a todos tenho feito amigos. Essa é uma verdade sem contestação. Podemos destruir os inimigos pela força, pela violência, pela soberania. Entretanto, feito isto, não há dúvidas, muitos outros inimigos nascerão em face da atitude prepotente. Todavia, quando se procura ganhar um inimigo com gestos de amor, de compreensão e bondade, fatalmente surgirão muitos outros amigos que, atraídos pela experiência vivida pelo semelhante, também se deixam transformar, seguindo o exemplo de amor e perdão em relação aos inimigos.

2. UMA JORNADA DE CURA

Elisabeth tinha apenas 16 anos quando seu professor de inglês

a sequestrou e lhe tirou a vida. Sua mãe, Carolyn, ficou tão deprimida com o acontecido que todas as noites bebia até dormir. Passou a negligenciar seus outros quatro filhos. Dia após dia ela amaldiçoava o assassino. Ele lhe retirou o hálito de vida. Ele destroçou a vida de uma adolescente risonha que tecia planos para o futuro. Nada diminuía a dor de Carolyn, nem a ausência de qualquer motivo evidente para aquele crime terrível. Nem a condenação do professor à prisão perpétua. O ódio a consumia. Começou a ter dores de cabeça constantes, dor nas costas. Depois de algum tempo, mal conseguia ficar de pé. Seis anos se passaram assim, lentos, doloridos, sofridos. Até que, certo dia sua irmã morreu. Durante o funeral, alguma ¶ 3


coisa a impressionou. Foi um trecho do Pai Nosso, a respeito do qual nunca, até então, ela meditara: “assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido.” Ela procurou literatura a respeito do perdão. Talvez encontrasse uma resposta para sua vida. Foi visitar o túmulo de Elisabeth. Pela primeira vez leu com atenção o que estava gravado na lápide: “o mundo precisa agora é de amor.” Logo, Carolyn estava repetindo em voz alta, como se fosse um mantra, as palavras: “quero perdoar Ray.” Meses depois, resolveu escrever ao assassino: “cansei de sentir raiva de você. Posso visitá-lo?” Onze anos depois da morte de sua adorada filha, Carolyn visitou o assassino na prisão. Ela disse a ele o que Elisabeth significava para ela. O quanto ela sofria. Ambos acabaram chorando. Quando ela saiu da prisão, naquele dia, sentia-se uma pessoa diferente. Seu coração estava leve. Ela havia lançado algo fora: a mágoa, a raiva que tanto a haviam consumido naqueles longos e arrastados onze anos de ausência de sua Elisabeth. Os amigos, espantados, não conseguiam entender a sua atitude. A sua resposta era: — O perdão foi o maior presente que dei a mim e aos meus filhos. Atualmente Carolyn trabalha como mediadora num programa para vítimas de crimes violentos. Em paz consigo mesma, ela afirma que foi uma incrível jornada de cura que salvou a sua vida. E a jornada se chama perdão. Na Irlanda do Norte foi realizado interessante estudo com 17 adultos que haviam perdido parentes por causa da violência terrorista. Com uma semana de treinamento para o perdão, seu sofrimento mental caiu cerca de 40%. Também foi constatado 35% de redução das dores de cabeça, dor nas costas e 4 ¶


insônia. Vale a pena perdoar! É uma questão de desejar o bem para si mesmo.

3. POR QUE AS PESSOAS GRITAM?

Um dia, um mestre indiano, preocupado com o comporta-

mento dos seus discípulos, que viviam aos berros uns com os outros, fez a seguinte pergunta: — Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas ou quando não se entendem? — Gritamos porque perdemos a calma — disse um deles. — Mas por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado? — questionou novamente o pensador. — Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça retrucou outro discípulo. O mestre volta a perguntar: — Não é possível falar com a outra pessoa em voz baixa? Os alunos deram várias respostas, mas nenhuma delas convenceu o velho pensador, que esclareceu: — O fato é que quando duas pessoas gritam é porque, quando estão aborrecidas, seus corações estão muito afastados. E, para cobrir esta distância, precisam gritar para que possam escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão de gritar, para que possam ouvir umas às outras, por causa da grande distância. E continuou o sábio: — Por outro lado, quando duas pessoas estão enamoradas, não gritam; falam suavemente. Por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. As vezes, seus corações estão tão próximos que nem falam, somente sus¶ 5


surram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham o que basta. Seus corações se entendem. E justamente isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas. Por fim, o pensador conclui, dizendo: — Quando vocês discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará o dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta.

4. CADA UM DÁ O QUE TEM DE MELHOR

Uma família de missionários acabara de se mudar para um

novo campo. Cidade pequena, pacata, muita coisa para fazer em termos pastorais. Depois de alguns dias, após arrumarem toda a mobília, conhecer os mercados da cidade, panificadoras, etc., estavam radiantes de alegria e esperançosos pelos novos desafios a enfrentar. Numa tarde, alguém bate à porta. A missionária vai atender. É alguém segurando um pacote de presente em suas mãos. A pessoa entrega o presente e vai embora. Há um cartão assinado pela mulher do prefeito. A missionária está extremamente feliz: recebendo um presente de boas-vindas da primeira dama da cidade. Ao abrir o pacote, a missionária começa a chorar de tristeza pelo que havia dentro. Era um composto de estrume de cavalo, vaca e porco. A mulher quase vomita ao sentir o odor do esterco animal. Por vários meses não conseguia dormir e a bela impressão inicial tinha ido embora com o acontecido.

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Meses depois, soube-se que a esposa do prefeito estaria fazendo aniversário. A missionária resolve mandar-lhe um presente. Compra lindas flores e com um belo arranjo manda entregar-lhe. Ao receber o presente, a mulher fica estupefata. São flores lindas, maravilhosas. Percebe, também, que há um lindo cartão acompanhando o buquê. Ao abri-lo, lê a seguinte mensagem: — Cada um dá o que tem de melhor.

5. AMOR PELOS INIMIGOS

Quando Abraão Lincoln estava em campanha para a presi-

dência dos Estados Unidos, um de seus ferrenhos adversários era Edwin McMasters Stanton. Ele odiava Lincoln e usava cada oportunidade para denegrir Lincoln perante a população, frequentemente usando discussões amargas e duras na tentativa de embaraçá-lo. No processo de escolha de seus ministros após ganhar a eleição, ele escolheu vários ministros e estava muito preocupado sobre a importantíssima escolha para a pasta do Ministério da Guerra. Ele escolheu Stanton! O presidente do partido de Lincoln levantou um tumulto quando soube da escolha do presidente. Inúmeros conselheiros vieram até Lincoln para dizer-lhe que ele estava cometendo um grande equívoco: — Senhor Presidente, isso é um erro extremamente grave! Já se esqueceu de todas as coisas horríveis que ele disse sobre o senhor? Ele é nosso inimigo. Ele vai sabotar seus programas. O presidente respondeu que sabia de tudo isso, mas ele achava que Stanton era o melhor nome para esse trabalho.

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E, ele como presidente, tinha a responsabilidade de escolher o melhor. Como Ministro da Guerra, Stanton prestou incontáveis serviços ao presidente e à nação. Depois do assassinato de Lincoln, muitas belas declarações e maravilhosos discursos foram feitos sobre ele, mas as palavras de Stanton permanecem entre as melhores. Estando em pé ao lado do sarcófago do presidente, ele afirmou que Lincoln foi um dos maiores homens que já viveram sobre a face da Terra e que seu nome ficará vivo por incontáveis gerações.

6. AMOR AOS INIMIGOS

C

erto pai tinha três filhos. Ele tinha medo que seus filhos brigassem por causa da herança que ele iria deixar. Então, resolveu distribuir os bens antes de morrer. Na hora de entregar um diamante que possuía, e que representava uma relíquia da família, ele propôs uma empreitada para os três filhos para ver quem iria ficar com o diamante, pois não podia dividi-lo. — Empreendei uma viagem. Correi o mundo e voltai dentro de um ano. Aquele que tiver praticado a mais bela ação receberá o diamante. No devido tempo os três filhos regressaram para casa. O mais velho dirigiu-se ao pai, dizendo: — Encontrei na minha viagem um estrangeiro moribundo que me confiou um saco cheio de moedas de ouro, sem exigir recibo algum. Seria fácil reter o dinheiro, mas devolvi-o intacto à viúva do estrangeiro. O pai respondeu:

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— Meu filho, fizeste o que um homem honrado deve fazer. Era teu dever devolver o dinheiro. Aquele que retém bens alheios não é um homem digno. O segundo filho declarou: — Eu caminhava à beira de um lago, quando uma criança escorregou e caiu nele. Se eu não a tivesse socorrido, ela teria morrido afogada. Tive o prazer de salvá-la. — Tua coragem, filho meu, merece elogios e eu não os regateio. Tu verdadeiramente seguiste a lição de Cristo aos apóstolos quando disse que era para os cristãos socorrerem uns aos outros. O terceiro tomou a palavra: — Uma noite encontrei meu inimigo dormindo à beira de um abismo. Ao menor movimento, despenhar-se-ia nele. Tomei-o em meus braços e conduzi-o a um lugar seguro. — Abraça-me, meu filho. Dou-te o diamante. Retribuir o mal com o bem, ser o benfeitor do próprio inimigo é a mais alta das virtudes.

7. APARÊNCIAS ENGANAM

Num orfanato igual a tantos outros que existem por toda

parte, havia uma pobre órfã, de sete anos de idade. Era uma criança lamentavelmente sem atrativos, de maneiras grotescas, evitada pelas outras, e abertamente malquista pelos professores. Por essa razão, a pobrezinha vivia no maior isolamento. Ninguém para brincar, ninguém para conversar... Sem carinho, sem afeto, sem esperança... Sua única companheira era a solidão.

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A supervisora do orfanato aguardava intrigada uma desculpa legítima para livrar-se dela. E um dia surgiu, visivelmente, um bom pretexto. A companheira de quarto da menina informou que ela estava mantendo correspondência com alguém de fora do orfanato, o que era categoricamente impedido. Agora mesmo, disse a informante, ela escondeu um papel num cedro. A supervisora e seu auxiliar mal puderam encobrir a alegria que a revelação lhes ocasionara. Foram tirar isso a limpo o mais rápido possível. E, somando-se ao auxiliar, pediu para que a testemunha os acompanhasse a fim de lhes mostrar a prova do delito. Dirigiram-se os três, a passos rápidos, em direção à árvore na qual estava posta a carta. De fato, lá estava um papel suavemente colocado entre os ramos. A supervisora abriu irrequieta, o bilhete, esperando encontrar ali a prova de que precisava para livrar-se daquela menina tão desagradável aos seus olhos. Todavia, para sua decepção e contrição, na porção de papel um tanto socado, pôde ler a seguinte mensagem: — A qualquer pessoa que encontrar este papel: eu gosto de você. Os três investigadores ficaram tão decepcionados quanto impressionados com o que leram. Decepcionados porque perderam a oportunidade de desembaraçar-se da menina indesejável e deslumbrados porque notaram que ela era menos perversa do que eles próprios.

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8. O AMOR NUNCA SE PERDE

Certo rapaz de 17 anos acabara de levar o fora da namorada.

Durante três anos, eles tinham compartilhado muitos amigos e diversos lugares favoritos. Agora, no último ano do segundo grau ele estava só. Ela conhecera, durante as férias, um outro garoto pelo qual se apaixonara. André se sentia como a última das criaturas na face da terra. No treino de futebol, ele errou vários passes e, pela primeira vez, fez várias faltas. Mal acabou o treino, lhe disseram que o treinador queria falar com ele. — E então, filho? Garota, família ou escola, qual dessas coisas está lhe incomodando? — Garota. Mas como o senhor adivinhou? — André, eu sou treinador de futebol desde antes de você nascer e todas as vezes que vejo um craque jogar como um novato do time reserva, o motivo é um desses três. André lhe falou que estava com muita raiva. Havia confiado na menina, dera a ela tudo o que tinha para dar e o que é que ganhou com isso? O treinador, então, lhe disse: — Boa pergunta. O que foi que você ganhou com isso? O treinador pegou várias folhas de papel e pediu a André que pensasse sobre o tempo que passou ao lado da moça. Ele deveria listar todas as experiências boas e ruins que conseguisse lembrar. E saiu, dizendo que voltaria dentro de uma hora. André começou a lembrar. Recordou do dia que a convidou para sair pela primeira vez e ela aceitou. Lembrou também que, se não fosse pelo incentivo dela, ele jamais teria tentado uma vaga no time de futebol. Pensou nas brigas que tiveram. ¶ 11


Não lembrou todos os motivos pelos quais brigavam, mas lembrou-se de como se sentia feliz quando conseguiam conversar e resolver os problemas. Foi assim que ele aprendeu a se comunicar com os outros e a buscar acordos. Lembrou-se também de quando faziam as pazes. Era sempre a melhor parte. Lembrou-se de todas as vezes que ela o fez sentir-se forte, necessário e especial. Encheu o papel com a história dos dois, das férias, das viagens feitas com a família, brincadeiras na escola e tranquilos piqueniques a dois. E, na medida em que as folhas iam ficando escritas, ele se deu conta do quanto ela o ajudara a crescer e a se conhecer melhor. Ele teria sido uma pessoa diferente sem ela. Ele era muito melhor agora. Quando uma hora mais tarde, o treinador retornou, André se fora. Deixou um bilhete sobre a mesa do treinador que dizia o seguinte: — Treinador, obrigado pela lição. Acho que é verdade quando dizem que é melhor amar e perder do que jamais ter amado. A gente se vê no treino.

9. ESCREVA NA AREIA

Diz uma lenda que dois amigos viajavam pelo deserto e, em

um determinado ponto da viagem discutiram. Na discussão um deles esbofeteou o outro. O outro, agredido e ofendido, sem nada dizer, escreveu na areia: — Hoje, meu melhor amigo, me bateu no rosto. Seguiram a caminhada e chegaram a um oásis onde resolveram banhar-se. O que havia sido esbofeteado começou a afogar-se, sendo salvo pelo amigo que antes o havia agredido. Ao recuperar-se pegou um estilete e escreveu numa pedra: 12 ¶


— Hoje, meu melhor amigo, salvou-me a vida. Intrigado, o amigo lhe perguntou: — Por que depois que lhe bati, você escreveu na areia e agora escreveu na pedra? Sorrindo, o outro amigo lhe respondeu: — Quando alguém nos ofende, devemos escrever na areia, onde o vento do esquecimento e do perdão se encarrega de apagar. Porém, quando nos faz algo de bom, deveremos gravar na pedra da memória do coração, onde vento nenhum do mundo poderá apagar.

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